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MESTRADO EM TURISMO ESPECIALIZAÇÃO EM PLANEAMENTO E GESTÃO EM TURISMO DE NATUREZA E AVENTURA AGROTURISMO E TURISMO NA NATUREZA NOS AÇORES: ESTUDO APLICADO À QUINTA DA GROTINHA VITÓRIO EMANUEL DE ALMEIDA E SOUSA DIAS FIDALGO Junho de 2014

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Page 1: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

MESTRADO EM TURISMO

ESPECIALIZAÇÃO EM PLANEAMENTO E GESTÃO

EM TURISMO DE NATUREZA E AVENTURA

AGROTURISMO E TURISMO NA NATUREZA NOS AÇORES:

ESTUDO APLICADO À QUINTA DA GROTINHA

VITÓRIO EMANUEL DE ALMEIDA E SOUSA DIAS FIDALGO

Junho de 2014

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Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril Vitório Emanuel de Almeida e Sousa Dias Fidalgo

Dissertação apresentada à Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril para a obtenção do grau de Mestre em Turismo, Especialização em Planeamento e Gestão em Turismo de Natureza e Aventura.

Orientação Professor Doutor Francisco António dos Santos da Silva Coorientação Professora Doutora Maria do Céu de Sousa Teixeira de Almeida

Junho de 2014

Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores:

Estudo aplicado à Quinta da Grotinha

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Ser homem é ser responsável. É sentir que se colabora na construção do mundo.

Antoine de Saint-Exupéry

Dedico esta dissertação,

ao Eduardo Augusto de Sousa Dias Fidalgo - meu Pai,

à Sandra Cláudia Matias Rodrigues

e à Ana Catarina Ribeiro.

Sem vocês este projeto nunca teria sido concretizado e serve esta dedicatória para vos demonstrar

o Respeito, Amor e Dedicação que existitrá sempre em mim perante Vós.

Vocês foram e serão sempre uma inspiração para mim, pela Força, Inteligência e Resiliência que

sempre demonstram ter.

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-V-

Agradecimentos

Agora que finalmente estou prestes a concluir mais uma grande etapa na minha vida não poderia

deixar para trás o agradecimento sentido que aqui deixo a todas as pessoas que me possibilitaram

ser quem sou.

O meu primeiro agradecimento vai para quem comigo levou este projeto em frente e que

passando horas, dias a ler e corrigir todos os textos, que desde o início comecei a escrever nunca

se negou e sempre me entusiasmou e ajudou a ir em frente… Ao meu Pai o meu mais sincero

agradecimento pois sem as tuas orientações no mundo das letras, sei que os textos não teriam o

mesmo colorido e fluidez de discurso. Sei que estás sempre pronto para me ajudar, ensinar e

contigo aprendi a acreditar que, sejam quais forem as dificuldades, com trabalho, esforço e

verdade os resultados acabarão por aparecer.

Agradeço ainda, aos meus professores, em especial aos meus orientadores - Prof. Francisco Silva

e Profª. Maria do Céu Almeida - que me orientaram neste caminho que decidi trilhar e que

mesmo depois de um ano parado e sem dar novidades não hesitaram em me estender a mão e

orientar para chegar com a presente tese a bom porto.

Outro agradecimento deixo aqui também para outras duas pessoas que foram outros tantos

pilares importantes para esta presente dissertação.

À Sandra Rodrigues, quero garantir que jamais me esquecerei das palavras que me deixaste

escritas num pequeno papel, que guardo com muito carinho, e que diziam assim: “Uma parte de

ti será sempre minha”. Agora te digo também que uma parte desta tese é também tua. Por toda a

tua Dedicação, Sentimento e desejo íntimo em Acreditar em mim, hoje aqui te deixo, também a

ti, o fim desta viagem com sentido de missão cumprida. Agradeço-te do mais profundo e íntimo

do meu ser o privilégio que foi ter vivido, aprendido e crescido ao teu lado durante quase cinco

anos das nossas vidas.

À Ana Catarina Ribeiro, o meu agradecimento e a minha homenagem também não poderiam

deixar de ficar publicamente expressas porque, apesar de todo este mar de encontros e

desencontros que aconteceu nas nossas vidas, foste tu quem mesmo assim me acolheu, me

incentivou a seguir em frente, foste tu também quem me apresentou a Quinta da Grotinha e me

mostrou o potencial e a magia daquele espaço. Foi contigo que partilhei também as minhas

angústias e tristezas quando as respostas não vinham e quando os ventos da incerteza assolavam

a minha costa.Jamais te esquecerei, e sei que mesmo como amigo serei para ti uma prioridade,

assim como tu para mim.

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-VI-

Agradeço do mesmo modo à minha Mãe pelo constante acreditar nas minhas capacidades, pelos

muitos conselhos que me foi dando ao longo da minha vida, e como minha eterna confidente e

amiga: Obrigado por me teres passado a vontade e energia de não baixar os braços mesmo

quando se tem de empurrar o mundo. Os teus beijinhos, os teus abraços e a tua mão na minha

cabeça continuam a ser a garantia de que nada nem ninguém me poderão fazer mal. Obrigado,

Muito Obrigado.

À minha Irmã, mesmo vendo o mundo de uma forma bem diferente, sei e sinto que estarás

sempre aí pronta para me ajudar e que nunca me deixarias ficar à deriva. A vida é um verdadeiro

oceano de projetos e a ti te agradeço e dedico grande parte desta tese como forma de te dar a

mesma energia e vontade de lutar, por criar algo que sonhei e acreditei com vocês e contigo. A

tua pessoa foi e é muito importante para aquilo em que me transformei e hoje posso dizer anda!

Vamos! O caminho é por aqui!

À minha segunda mãe Rita Bens que apareceu na minha vida e que até então me adotou, guiou,

ouviu e me ajudou em todos os momentos, as tuas sábias palavras e a tua experiência de vida

serão sempre uma inspiração de como se deve viver e aproveitar a vida. Obrigado Ritinha por

seres assim e por estares sempre aí comigo.

Sem dúvida que os nossos amigos são a nossa segunda família e posso por isso dizer que sou uma

pessoa cheia de sorte por os ter e que, com a sua determinação e apoio, me ajudaram a tornar

esta tese numa realidade.

O Paulo Morais que, além de um irmão, é para mim uma verdadeira inspiração de energia,

vitalidade e um verdadeiro complemento à minha pessoa. A ti só posso dizer obrigado por

estares sempre na minha vida e por acreditares e estares sempre disposto a apostar em mim. Foi

também graças ao teu apoio constante que consegui concretizar esta tese.

O Tiago Mateus aquele amigo e irmão que eu também nunca esqueço e nunca esquecerei. Sei que

partilharemos sempre do mesmo sentido de entreajuda. Não esquecerei também como me

ajudaste em momentos conturbados por que passei na minha vida. Obrigado amigo.

Henrique Lebre, como me poderia esquecer de ti? Não só sei que me abres a porta de tua casa e

me ajudas a encontrar harmonia na minha vida quando mar se agita e produz ondas maiores do

que as que uma prancha consegue surfar, como me ensinas a ver a vida de um ponto de vista

menos romântico e mais prático. Foi também graças ao teu companheirismo que hoje consigo

apresentar um resultado concreto deste meu projeto.

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-VII-

Rui Cabral, o amigo que me ensinou a ser marinheiro e um melhor profissional. A ti amigo e

confidente Cabral só te posso dizer que é porque quero aprender mais e pela nossa amizade

fraterna que te quero sempre também como amigo na minha vida. Foi também graças ao teu

constante apoio e preocupação que hoje chego ao fim de mais esta etapa. Obrigado.

À família das caminhadas Ana Almeida, Mário Chan e Tatiana Ribeiro. A vocês também devo

muito porque me estimularam a continuar a avançar, porque souberam ajudar a criar tudo o que

temos falado e projetado nas nossas iniciativas e por serem também os meus conselheiros e

amigos de sempre.

Não poderia terminar a referência a esta segunda Família sem agradecer ao Miguel Wallenstein e

à Ana Teresa (família dos Açores) que me disponibilizaram o seu projeto para ser a minha área de

estudo. A vossa atenção em facultar a vossa base de dados foi fundamental para que eu

conseguisse levar este projeto até ao fim, projeto este que foi pensado para vocês e para que a

Quinta da Grotinha seja um verdadeiro polo de desenvolvimento. Ela é sem sombra de dúvidas o

projeto com mais energia limpa que conheci. Como tal o meu muito obrigado por me receberem

em vossa casa e por me deixarem apresentar o que hoje aqui deixo.

Sem dúvida que não poderia deixar de agradecer o valioso apoio dos professores Jorge Umbelino,

João Reis, assim como do Sr. José Toste da Associação Regional de Turismo e do meu colega e

amigo Tiago Lopes, pelo precioso apoio que me deram na revisão e estruturação dos

questionários que serviram de base à investigação empírica.

Para terminar não me poderia esquecer dos meus amigos e colegas de mestrado que têm vindo ao

longo do tempo a relembrar a importância de fechar este ciclo, a vocês e em especial à Maria

Xavier pela tua amizade e prontidão em me ajudar; Joana Coimbra pelo teu sorriso, energia de

vida e por aquela ligação que ainda hoje não sei explicar mas que sinto; João Bexiga pela tua

preocupação constante de como as coisas estão a correr; Cristina Lebre pela tua disponibilidade e

enorme vontade em me ajudares e pelas inúmeras horas em que trabalhámos juntos na faculdade,

o meu Muito Obrigado!!!

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-VIII-

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-IX-

AGROTURISMO E TURISMO NA NATUREZA NOS AÇORES: ESTUDO

APLICADO À QUINTA DA GROTINHA

RESUMO

O turismo é um setor estratégico para cada vez maior número de destinos e em particular para

economias periféricas de reduzida escala, como é o caso de muitos territórios insulares e dos

Açores em particular.

Os Açores apresentam-se como um território com um importante potencial de crescimento e de

valorização, com caraterísticas indispensáveis para se constituir como um espaço de promoção do

turismo na natureza.

A presente dissertação tem como foco de estudo o turismo nos Açores, em particular com base

na realidade do turismo rural e agroturismo, desenvolvida na Quinta da Grotinha (ilha de São

Miguel – Arrifes) e que se encontra presentemente numa fase de mudança.

Considerando uma abordagem holística ao turismo de Espaço Rural, pretende-se analisar as

valências atuais da Quinta da Grotinha e chegar a proposta de melhoria da oferta deste espaço,

nomeadamente, de quais os produtos turísticos a desenvolver, baseados em desportos de

natureza e aventura, saúde e bem-estar, não esquecendo outros associados a um cariz mais

cultural, mas tudo convergindo para um denominador de inovação fundamental à sua afirmação

na Quinta que polariza a nossa atenção.

Para alcançar estes objetivos recorreu-se a uma revisão do estado da arte e a um trabalho de

investigação empírica com base na aplicação de questionários aos clientes da Quinta da Grotinha.

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-X-

AGROTURISMO E TURISMO NA NATUREZA NOS AÇORES: ESTUDO

APLICADO À QUINTA DA GROTINHA

ABSTRACT

Tourism is a strategical sector for an increasing number of destinations and, in particular, for

reduced-scale peripheric economies, as it happens with many insular territories, such as the

Azores.

The Azores present itself as a territory with and enormous potential of improvement and increase

in value, with prime characteristics to be transformed into a promotional space of tourism in

nature.

The goal of this paper is to study tourism in the Azores, looking in particular into the reality of

rural tourism and agrotourism, developed at Quinta da Grotinha (São Miguel – Arrifes), which is

currently undergoing a changing phase.

Considering and holistic approach to tourism in rural space, the purpose is to analyse the current

features of Quinta da Grotinha and to come to a proposal to improve the offer of this space,

such as what kind of products may be developed in terms of sports of nature and adventure,

health and wellness, not overlooking the cultural offer. All of these contribute to a common

denominator for innovation, which is fundamental to the affirmation of Quinta da Grotinha.

In order to achieve these targets, we have resorted to a state-of-the-art revision and to a work of

empirical investigation based on surveys made to the Quinta da Grotinha’s guests.

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-V-

LISTA DE SIGLAS, ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS

ART Associação Regional de Turismo

ATA Associação de Turismo dos Açores

UNCED Comissão Mundial sobre o Ambiente

DL Decreto Lei

INE Instituto Nacional de Estatística

IOS International Organization for Standardization

OMT Organização Mundial de Turismo

ORT Observatório Regional de Turismo

OTA Observatório Turismo dos Açores

PENT Plano Estratégico Nacional de Turismo

PIB Produto Interno Bruto

POTRAA Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores

PReDSA Plano Regional de Desenvolvimento Sustentável da Região Autónoma

dos Açores

PROTA Plano Regional de Ordenamento do Território dos Açores

RAA Região Autónoma dos Açores

SREA Serviço Regional de Estatística dos Açores

TP Turismo de Portugal, I.P.

UNWTO United Nations World Tourism Organization

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-VI-

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-VII-

ÍNDICE GERAL

Agradecimentos ................................................................................................................... V

Resumo ............................................................................................................................... IX

Abstract ................................................................................................................................ X

Lista de siglas, acrónimos e abreviaturas ........................................................................... V

Índice Geral ...................................................................................................................... VII

Índice de Figuras................................................................................................................ IX

Índice de Quadros ............................................................................................................... X

1. Introdução ..................................................................................................................... 1

1.1 Enquadramento geral.................................................................................................................. 1

1.2 Objetivos ......................................................................................................................................... 6

1.3 Problemática da investigação ........................................................................................................ 7

1.4 Abordagem metodológica ........................................................................................................... 11

1.5 Estrutura da dissertação .............................................................................................................. 13

2 Turismo em Espaço Rural ........................................................................................... 15

2.1 TER: princípios de um bom desenvolvimento ........................................................................ 15

2.2 Agroturismo .................................................................................................................................. 22

2.3 Qualidade ....................................................................................................................................... 26

2.3.1 Definição e âmbito do conceito ...................................................................................... 26

2.3.2 Motivação para aplicação da qualidade .......................................................................... 29

2.3.3 Qualidade no turismo ....................................................................................................... 31

2.3.4 Qualidade no TER ............................................................................................................ 32

2.4 Sustentabilidade no turismo ........................................................................................................ 33

2.5 Turismo na natureza .................................................................................................................... 37

2.6 Animação turística ........................................................................................................................ 41

2.7 Mercados e tendências da procura no turismo ........................................................................ 46

2.7.1 Tendências e procura no turismo ................................................................................... 46

2.8 O novo turista ............................................................................................................................... 49

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-VIII-

3 Marketing e Mercados................................................................................................. 55

3.1 A importância do marketing ....................................................................................................... 55

3.2 Construção de uma imagem ....................................................................................................... 58

3.3 Construção de produtos turísticos ............................................................................................. 60

3.4 Canais de comunicação ............................................................................................................... 62

4 Metodologia para investigação em turismo enquanto objeto social .......................... 65

4.1 Modelo de investigação ............................................................................................................... 65

4.2 Construção dos questionários .................................................................................................... 66

4.3 Metodologia adotada para o questionário ................................................................................ 68

4.4 Caraterização da amostra ............................................................................................................ 68

5 Turismo em Espaço Rural na RAA .............................................................................. 71

5.1 Caraterização e importância do TER na RAA ......................................................................... 71

5.2 Contextualização geográfica, ambiental e sociocultural ......................................................... 74

5.3 Quinta da Grotinha ...................................................................................................................... 77

5.3.1 Caraterização ..................................................................................................................... 77

5.3.2 Limitações e potencialidades ........................................................................................... 79

5.3.3 Imagem de marca .............................................................................................................. 80

5.3.4 Principais mercados emissores ....................................................................................... 80

6 Apresentação e discussão de resultados ..................................................................... 83

6.1 Apresentação de resultados do questionário ............................................................................ 83

6.2 Discussão dos resultados ............................................................................................................ 89

7 Conclusões e considerações finais .............................................................................. 97

Referências Bibliográficas ................................................................................................. 101

Anexos ............................................................................................................................... 112

Anexo I - Legislação e regulamentação do TER ............................................................................ 112

Anexo II - Legislação e regulamentação do setor das atividades de turismo na natureza ........ 114

Anexo III – A Quinta da Grotinha ................................................................................................... 116

Anexo IV – Inquérito ......................................................................................................................... 122

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-IX-

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1| Nova Lógica de pensar o turismo (Brito, 1999) .................................................................... 3

Figura 2| Princípio da Sustentabilidade - adaptado de Swarbrooke (1999) ..................................... 16

Figura 3| Paisagem como elemento central de todos os vetores (Cardoso, 2010) .......................... 18

Figura 4| Previsões do turismo para 2020 (UNWTO, 2014c)............................................................ 47

Figura 5| Intervalo de idades dos clientes da Quinta da Grotinha .................................................... 85

Figura 6| Qual o principal motivo da visita ........................................................................................... 85

Figura 7| Os aspetos que o levaram a escolher um TER em detrimento da hotelaria tradicional 86

Figura 9| O que mais gostou na habitação ............................................................................................ 87

Figura 10 | Frente da Quinta da Grotinha .......................................................................................... 116

Figura 11 | Sala de estar comum ........................................................................................................... 116

Figura 12 | Casa Azul ............................................................................................................................. 117

Figura 13 | Quarto Casa Azul ................................................................................................................ 117

Figura 14 | Casa Grande ........................................................................................................................ 118

Figura 15 | Casa Grande - Vista ............................................................................................................ 118

Figura 16 | Casa Grande – Sala de Estar ............................................................................................. 118

Figura 17 | Primeiro Quarto Casa Grande .......................................................................................... 119

Figura 18 | Quarto do Meio - Casa Grande ........................................................................................ 119

Figura 19 | Casa Grande - Terceiro Quarto ........................................................................................ 120

Figura 20 | Casa Grande - Quarto da Ponta ....................................................................................... 120

Figura 21 | Casa Grande - Casa Banho ................................................................................................ 121

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-X-

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1| Definição do conceito qualidade ......................................................................................... 28

Quadro 5| Estimativa de dormidas para o ano 2008 (Turismo de Portugal, 2008: 6) .................... 72

Quadro 6| Estabelecimentos do Universo TER / TN, por modalidade e NUT II (IESE, 2008) 73

Quadro 7| Distribuição da População dos Açores (INE, 2011) ........................................................ 76

Quadro 8| Limitações e potencialidades da Quinta da Grotinha ...................................................... 79

Quadro 9| Produtos turísticos a desenvolver ....................................................................................... 88

Quadro 10| Produtos turísticos para fora de época ............................................................................. 88

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Introdução

-1-

1. INTRODUÇÃO

1.1 Enquadramento geral

Sendo o turismo um setor económico cada vez mais estruturante da economia global

(Albuquerque e Godinho, 2001; Brito, 1999; Stabler et al., 2009; WEF, 2013), resultante da

enorme evolução e desenvolvimento da componente serviços, é importante desde já procurar

analisar os dados económicos que nos permitam fundamentar esta observação e isto para que, a

partir dela, possa refletir-se sobre os melhores caminhos a empreender para o desenvolvimento

de um negócio de agroturismo.

Perante os dados desta atividade económica, apresentados pela Organização Mundial do Turismo

(OMT), é possível verificar que o turismo tem vindo a crescer de forma significativa,

especialmente desde a segunda metade do século XX.

O número de chegadas internacionais passou de 25 milhões em 1950 para 657 milhões em 1999, o que corresponde a

uma taxa de crescimento médio anual de 7%. No mesmo período, as receitas do turismo internacional registaram um

crescimento médio de 12% ao ano. Até 2020, a OMT prevê uma taxa de crescimento médio anual das chegadas

internacionais de turistas na ordem dos 4% e das receitas do turismo entre 6% e 7% (Albuquerque e Godinho, 2001:

7).

A resultante destes números é só possível graças a uma rede complexa de atividades económicas

que o turismo estimula e faz crescer no seu interior de forma a satisfazer os seus clientes. Como

resultante dos serviços prestados aos viajantes podemos dizer que os serviços de alojamento,

restauração, transportes, agências de viagens, animação turística, culturais, recreação e lazer são

os mais utilizados e desenvolvidos, para os clientes, pela atividade turística.

Esses serviços irão gerar uma influência muito grande a nível da componente sociocultural, visto

que, se o objetivo principal do turismo é movimentar pessoas e proporcionar-lhes experiências

únicas, a influência dos seus clientes junto das populações tenderá a criar também resultados

globalizantes.

Alguns exemplos extraídos entre investigadores apontam exatamente para a questão do efeito

globalizador que está agregado ao turismo como refere Brito (1999: 2), o que: “pressupõe, no

viajante, a descoberta de elementos socioculturais diversos do seu quadro de referência de

origem, podendo verificar-se processos de aculturação e traduz-se na relação entre o visitante e o

meio ambiente natural”.

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-2--2-

Não obstante, esta ação globalizadora também pode acarretar consequências menos positivas,

desde que influenciada por vetores que redundem no prejuízo ou destruição de um destino

turístico, pelo facto da sua massificação poder afetar a singularidade do local nas suas

componentes paisagística e ambiental. Desta forma, para o evitar, torna-se necessária uma boa

gestão e planeamento do território, de maneira a acautelar essas circunstâncias que possam afetar

a identidade do local.

O turismo de massas teve o grande apogeu em meados do século XX (Brito, 1999; Lopes, 2013;

Silva, 2013; UNEP, 2011), mas hoje não é visto como o mais adequado face a questões

ambientais e socioculturais que, ao verificarem-se, o possam prejudicar na sua essência.

Como evidencia Turismo de Portugal (2010: 10), “chegou ao fim a era do turismo standard, não

diferenciado, em que é difícil a cada visitante fugir à massificação. Hoje há que propor

flexibilidade, diferença, inovação, conhecimento, originalidade, enriquecimento cultural”.

O aparecimento de destinos emergentes alternativos não massificados, capazes de dar ao turista a

sensação de que estão perante um destino reservado a pensar nele e que é ainda detentor das suas

verdadeiras jóias, tem ganho cada vez mais adeptos, pelo que este movimento levou a que o

turismo alternativo surgisse e que ganhasse cada vez mais força nesta sociedade que quer ser

mobilizada para novos desafios de férias, o que pressupõe essa alteração de comportamentos e

estratégias (Neto, 2013).

É assim que o aparecimento de destinos emergentes permite preencher e dar aos turistas aquilo

que os outros já perderam pela massificação de que foram sendo vítimas. Daí que Albuquerque

(2001: 8) defenda que este surgimento deve ser feito de forma controlada, afirmando que “outros

países constituem destinos emergentes com fluxo turístico modesto mas crescente. O seu sucesso

dependerá crucialmente da sua capacidade de gerir e controlar o crescimento. Em simultâneo,

destinos potenciais com atividade turística pouco significativa ou esporádica estão a procurar

desenvolver a sua atratividade.”.

Com o aparecimento destes mercados emergentes novos nichos foram criados, onde o turismo

na natureza se apresenta como o mais promissor a nível global (Balmford, 2009; Wells, 1997).

Para que as suas potencialidades não se percam em relação a outros tipos turísticos é necessário

que seja palavra de ordem do seu desenvolvimento, o estabelecimento de uma base de

sustentabilidade a nível económico, ambiental e sociocultural (Moniz, 2006).

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Introdução

-3-

O caminho mais adequado é certamente o do turismo sustentável, já que é graças às suas

caraterísticas inclusivas, baseadas em três pilares fundamentais (económico, sociocultural e

ambiental), que se poderá verificar um continuado crescimento do turismo, a nível mundial,

levando também ao entendimento da população das referidas sociedades recetoras, que o turismo

não só não tem impactos negativos, como adiciona valor e qualidade de vida às zonas que o

recebem (Albuquerque e Godinho, 2001).

Já Brito (1999: 2) orienta a sua reflexão sobre o tema, sublinhando que:

o novo conceito de turismo equaciona um conjunto de princípios que não sendo novos, para a maioria dos estudos que

abordam a matéria, são hoje entendidos como fundamentais para o sucesso das práticas turísticas com consequente

desenvolvimento: a localidade, o respeito pelas diferenças, a identidade, a autenticidade das comunidades de acolhimento e a

preservação ambiental. No fundo, trata-se da sustentabilidade ecológica, económica e sociocultural.

A resultante destas novas filosofias sociais proporcionou que novos segmentos e nichos de

mercado surgissem, à semelhança dos destinos, e que estes se tornassem também emergentes.

No relatório efetuado por Albuquerque (2001), os segmentos que apresentam mais elevadas taxas

de expansão e crescimento são os nichos de mercado relacionados com a interação do turista

com a natureza e a sua proteção. Daí o turismo aventura e o ecoturismo serem colocados como

plano de referência.

Figura 1| Nova Lógica de pensar o turismo (Brito, 1999)

Esta nova maneira de encarar o turismo, que surge no fundo de um conjunto de análises feitas ao

longo dos anos pela UNWTO, WTTC e OMT, torna-se possível porque diferentes governos e

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-4--4-

organismos espalhados pelos cinco continentes veem e sentem que o turismo é uma mais-valia

para as suas economias.

Os Açores, arquipélago estratégico do território nacional, apresentam particularidades especiais

como natureza geológica e biodiversidade, capazes de lhes garantirem um conjunto de mais-valias

fundamentais para a sua colocação privilegiada entre os destinos turísticos preferidos.

O sucesso dos Açores na disputa desses mercados dependerá da qualidade dos produtos e

serviços que forem colocados ao dispor de quem visita o seu território. Especialistas e

bibliografia na área apontam alguns caminhos a seguir para o sucesso destas ilhas como podemos

perceber nas palavras de Moniz (2006: 3): “(…) num cenário de concorrência global, essas ilhas

têm de competir com um leque muito variado de destinos, pelo que precisam de oferecer

experiências turísticas singulares, que as diferenciem desses destinos” e do Observatório Regional

do Turismo (2008: 7): “Não basta ter paisagem e património edificado para vingar nesse

mercado. A concorrência internacional é grande, sendo que quase todos os anos surgem novos

destinos turísticos. Assim sendo, importa criar e promover competências que nos permitam

satisfazer os melhores padrões de qualidade a nível mundial.”

A procura de um destino por um número crescente de turistas depende das qualidades que o

território tem para oferecer, conseguindo assim dar resposta aos vários gostos, de modo a que a

sua procura resulte da necessidade sentida pelos turistas em quererem encontrar uma paisagem

única associada a uma experiência ímpar. Para tal é necessário alcançarem-se cada vez mais níveis

de excelência, tanto nos serviços como na manutenção do território.

Para dar corpo a essa realidade foram criados alguns instrumentos que permitem guiar o

desenvolvimento de forma competitiva e sustentada do turismo nos Açores (Moniz, 2006), tais

como o PENT, a nível macro, pelo Governo de Portugal e Plano de Ordenamento Turístico da

Região Autónoma dos Açores (POTRAA), que pretendem extrair as elevadas capacidades que

este território possui. Foi a pensar nisso que o Governo dos Açores decidiu elaborar um plano

setorial para a área do turismo.

O POTRAA tem como principal objetivo “o desenvolvimento e afirmação de um sector turístico

sustentável, que garanta o desenvolvimento económico, a preservação do ambiente natural e

humano e que contribua para o ordenamento do território e para a atenuação da disparidade

entre os diversos espaços constitutivos da Região” (Observatório Regional de Turismo, 2008: 8).

Contudo, de uma forma que tende para um assinalável consenso, a maior parte dos especialistas

da área defende que os Açores deveriam ter como principal enfoque o desenvolvimento de

Page 23: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Introdução

-5-

produtos para o turismo de natureza e touring, especialmente na modalidade soft, de acordo com

os dados extraídos do PENT.

No Observatório Regional de Turismo (2008: 14) reforça-se a ideia ao lembrar que “as

abundantes dotações ambientais do arquipélago permitem-lhe especializar-se num turismo

ecológico, que valorize a natureza, transformando-o, aliás, na região portuguesa que melhor

poderá contribuir para a estratégia nacional de promover um turismo ambientalmente

sustentável.”

Neste mesmo plano estão expressas algumas preocupações que deverão nortear a criação dos

referidos produtos. Por tratar-se de um destino emergente é fundamental garantirem-se formação

e ferramentas adequadas para que esses produtos sejam adquiridos, numa lógica sustentável,

como podemos observar na proposta governamental:

“Por ser uma região com pouca tradição turística, grande parte das empresas foram criadas recentemente,

existindo uma escassa oferta de experiências inovadoras relacionadas com o turismo de natureza. Neste

sentido, seria necessário atuar no sentido de colaborar com as empresas fazendo chegar informação de

mercado, tecnologia e ideias para a criação de experiências que valorizem os valores autênticos da região”

(Turismo de Portugal, 2006: 55).

Só numa lógica sustentável é possível limitar as consequências dos grandes afluxos de pessoas

nestes ambientes sensíveis, aquando do planeamento dos espaços, dos equipamentos e das

atividades de forma a minimizarem-se os danos sobre os meios visitados, mantendo a atratividade

dos recursos para as gerações futuras (Ruschmanm, 2008).

Considera-se por isso desenvolvimento sustentável, segundo a World Comission of Environment and

Development (1987: 43), “aquele que atende às necessidades dos turistas atuais, sem comprometer a

possibilidade do usufruo dos recursos pelas gerações futuras”.

Segundo Ruschmann (2008), o interesse de um destino turístico é determinado pela quantidade e

intensidade de construções feitas pelo homem: as cidades, os monumentos históricos, os locais

arqueológicos, assim como os padrões e comportamentos culturais, tais como o folclore, o

vestuário, a gastronomia e o próprio modo de vida local.

Importantes e decisivos são também o legado deixado pela mão do homem, fatores naturais

como as paisagens, a vida animal e vegetal, os ecossistemas e os próprios monumentos esculpidos

e desenhados pela natureza, que de igual forma vão ajudar a intensificar, em quantidade e afluxo,

o número elevado de potenciais turistas.

Em conclusão, os Açores são uma região com todas as caraterísticas indispensáveis para se

constituirem como um espaço de promoção do turismo na natureza, enquadrado por toda uma

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-6--6-

realidade arquitetónica que intensifica a sua beleza e é capaz, por via disso, de aumentar o

deslumbramento dos turistas e a sua curiosidade, que conduzem à familiaridade por

permanecerem no meio e a ele poderem retornar muitas e mais vezes.

O presente estudo pretende refletir sobre o turismo nos Açores, em particular com base na

realidade do turismo rural e agroturismo, desenvolvido na Quinta da Grotinha (ilha de São

Miguel – Arrifes, a pouca distância de Ponta Delgada) e que se encontra presentemente numa

fase de mudança para atingir horizontes mais largos.

É inspirado nas campanhas publicitárias relativas aos Açores, sob o lema “Açores Natureza

Pura”. Pretende partir-se do exemplo deste projeto já existente, que teve em conta as

caraterísticas do território, e dotá-lo dos canais favoráveis à sua publicitação nacional e

internacional.

Do mesmo modo, é intenção orientá-lo para produtos turísticos marcados por desportos de

natureza e aventura, saúde e bem-estar e associados a outros de cariz mais cultural, pois que

ambiente e história são uma simbiose perfeita, capaz, em suma, de garantir uma resposta clara,

genuína e inovadora aos diferentes nichos de mercado e assim ajudando a criar uma atividade

para todo o ano e não tão só para alguns meses específicos, o que ajudaria também a gerar

empregos e a combater a sazonalidade, indo de encontro às prioridades definidas nas políticas de

turismo regional:

Queremos, ainda, aumentar os resultados desta atividade pela atenuação da sazonalidade. Por conseguinte, temos procurado

alargar o período da procura pela parte dos mercados prioritários, como é o caso do continente português, da Alemanha e do

Reino Unido. Pela mesma razão, temos apoiado o desenvolvimento de produtos, tais como, e em particular, o turismo de bem-

estar, o golfe, os congressos e incentivos. (Observatório Regional de Turismo, 2008: 6) (Presidente do Governo

RAA. Carlos César, 2008)

Existem ainda fatores pessoais que justificam este estudo, pelo meu envolvimento à Quinta da

Grotinha, que considero como um projeto de futuro e de vida, daí que o objetivo do presente

estudo seja também o de repensar este negócio de agroturismo, no sentido de o relançar no

mercado com vista a criar uma oferta singular, inovadora, dinâmica e típica, de forma a que esta

se estabeleça fortemente no mercado nacional e internacional de agroturismo e TER nos Açores.

1.2 Objetivos

A presente dissertação visa, de uma forma abrangente, analisar e apresentar propostas para

melhorar a oferta, garantindo a sustentabilidade de um projeto como o da Quinta da Grotinha,

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Introdução

-7-

tendo como base o agroturismo e o turismo de habitação suportado por fatores diferenciadores e

associados à complementaridade de produtos e serviços, nomeadamente de turismo na natureza e

bem-estar.

Este objetivo é complementado por outros mais específicos:

Realizar uma revisão bibliográfica sobre agroturismo, turismo em espaço rural e turismo

de natureza;

Desenvolvimento de produtos de turismo na natureza e de saúde e bem-estar com uma

forte componente criativa e capaz de proporcionar uma experiência única a quem os

pratica;

Encontrar os melhores mercados para inserir a Quinta da Grotinha na rota dessa massa

crítica de turismo;

Apresentar propostas que permitam desenvolver pacotes turísticos capazes de combater a

sazonalidade do turismo dos Açores;

Estabelecer uma análise de benchmarking, de forma a potenciar a oferta, a promoção e as

vendas dos produtos de turismo na natureza e agroturismo, nos Açores e em particular na

Quinta da Grotinha;

Analisar a opinião dos clientes que já utilizaram as instalações e serviços da Quinta através

de um questionário avaliador do grau de satisfação suscitado;

Contribuir para o desenvolvimento de um projeto capaz de fundir as atividades de

turismo na natureza e agroturismo de forma sustentável para um futuro a médio e longo

prazo.

1.3 Problemática da investigação

Como Portugal é um país de caraterísticas fortemente rurais, deve olhar-se, como destino, para as

raízes estruturantes da sua oferta e respeitando as influências e tendências internacionais.

O turismo, pela sua extrema complexidade e mudança permanente, exige que, quem pretender

investir nele, seja na dimensão TER, ou numa dimensão mais clássica de hotéis e de praias, tenha

sempre presente uma visão alargada e integrada pelas várias dimensões que o constituem, assim

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-8--8-

como da complexa rede de ligações, comunicações e da projeção que esta atividade exige para

que o negócio seja bem-sucedido.

É através desta visão abrangente e baseada na qualidade e na singularidade da oferta, tanto a nível

de produtos como da própria região, que iremos refletir sobre os Açores.

Dado que os Açores representam uma região caraterizada pelos seus traços rurais e que, ao longo

dos séculos, passaram por vários ciclos produtivos, a sua paisagem é por isso também

marcadamente rural. Cenário perfeito para onde a natureza e a biodiversidade apelam ao

desenvolvimento do turismo na natureza.

O turismo é uma atividade em expansão, na Região Autónoma dos Açores, levando a que os

sucessivos governos regionais tenham vindo a apostar no turismo, mediante políticas turísticas

destinadas à captação de um mercado emergente fortemente apoiado na comunhão com a

natureza e na proteção dos ecossistemas (Observatório Regional Turismo, 2008).

Em virtude de se tratar de uma região insular, as fragilidades estruturais inerentes à sua condição,

isolamento e pequena dimensão dos diferentes territórios, obrigaram a que os seus governantes

adotassem modelos de desenvolvimento capazes de dinamizar o turismo de forma sustentável, a

nível económico, ambiental e sociocultural (Barbieri, 1998; Malheiro et al., 2008; Moniz, 2006;

Observatório Regional de Turismo, 2008).

Convém, no entanto, notar que o desenvolvimento dos produtos turísticos estratégicos definidos no Plano Estratégico Nacional do

Turismo exige a implementação, em paralelo, de um conjunto de políticas e acções transversais, relacionadas com acessibilidades,

infra-estruturação, qualidade e ambiente, capazes de reforçar a competitividade do destino turístico Açores (Observatório

Regional de Turismo, 2008: 15)

O destino Açores deve assim encontrar na sua cultura, identidade e natureza, produtos e ofertas

turísticos capazes de serem competitivos e sustentáveis (Moniz, 2006), de forma a mostrarem-se

como uma alternativa genuína perante os mercados emergentes de turismo alternativo, a nível

nacional e internacional.

Deste modo, e sendo a envolvente das diferentes ilhas do arquipélago dos Açores a paisagem

rural, pensamos que essa imagem deve ser o nosso maior enfoque na produção de alojamento

turístico, já que é essa a imagem que pretendemos vender (Cabral e Scheib, 2004).

Ao olharmos para o panorama regional, verificamos que a maior oferta a nível de alojamento

encontra-se ainda fundamentalmente apoiada na hotelaria tradicional como podemos observar

nos dados apresentados por ORT (2008: 13): ”(…) entre 2000 e 2007 a procura cresceu de modo

significativo, passando de cerca de 680.000 dormidas na hotelaria tradicional no ano 2000, para

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Introdução

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cerca de 1.190.000 no ano 2007”, registando-se uma ligeira quebra em 2012 que resultou numa

diminuição de cerca de 230 635 dormidas. (SREA, 2012)

Em termos de dormidas no alojamento TER, em 2007 os resultados alcançados foram de cerca

de 19.679 dormidas, enquanto em 2012 esse valor subiu para 30.000 dormidas. (SREA, 2007,

2012)

É com base nestes dados e na emergência de vários nichos de turismo frequentemente

designados por alternativos, que o agroturismo será a base para lançarmos um conjunto de

propostas com vista ao desenvolvimento sustentável dos Açores e da Quinta da Grotinha (São

Miguel – Arrifes), em particular.

É pretensão desta dissertação avaliar as diferentes dimensões e compreender a dinâmica do

turismo em espaço rural, com enfoque no agroturismo como caminho para o desenvolvimento

sustentado.

Visto que o turismo de “massas” não é um caminho para a sustentabilidade das diferentes

dimensões que abrangem o conceito, a nossa aposta de estudo é a criação de um novo produto

de agroturismo capaz de gerar desenvolvimento social e económico e colaborar na conservação e

preservação das áreas naturais, das tradições e da cultura rural dos Açores, em geral, e da ilha de

São Miguel em particular, (Almeida e Silva, 1989; Brito, 1999; Ruschmanm, 2008).

Silva (2013: 7) reforça esta ideia ao afirmar que “a oportunidade de desenvolvimento associada ao

turismo nessas regiões encerra um conjunto de desafios, dos quais se destacam a necessidade de

constituição de um destino turístico competitivo à escala global, com aportes que se traduzam

essencialmente na melhoria da qualidade de vida das populações e na valorização do património.”

Pensando nesta ideia de valorização Guzzatti (2010), afirma que “(…) neste cenário, e de forma

geral, o agroturismo é apontado como uma ferramenta importante na construção de um

desenvolvimento sustentável do espaço rural.”

Primeiramente iremos tentar compreender o que levou a Quinta da Grotinha a não ter

conseguido o crescimento esperado, em 15 anos de existência, como produto de turismo em

espaço rural e analisaremos ainda o grau de oferta, a nível de produtos e serviços, assim como

dos preços praticados pela concorrência.

Em paralelo, estudaremos a oferta turística de alojamento de agroturismo nos Açores e sua

repercussão internacional.

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-10--10-

Este estudo será consubstanciado na compreensão e nas mais-valias da aplicação separada ou

conjugada de oferta de produtos turísticos na área do turismo na natureza, aliados às suas

componentes de saúde e de bem-estar.

O primeiro destes aspetos assume-se como fundamental e estratégico, a nível regional, como

elemento principal para o desenvolvimento do destino Açores, como fonte de captação de

segmentos e nichos de mercado que lhe são diretamente associados (Albuquerque e Godinho,

2001; Silva, 2013).

Para tal teremos de compreender como é que a Quinta da Grotinha necessita de se organizar e

que infraestruturas terá ou não de construir para conseguir acolher estes dois setores de mercado

tão importantes mas tão diferentes.

Setores que estão associados a idênticos propósitos identificados com a natureza – cortarem com

a rotina e com o stress das sociedades modernas e possibilitarem o descanso através de formas

bem diversificadas e muitas vezes diametralmente opostas, mas fortemente baseadas na proteção

e respeito pelas questões ambientais (Barbieri, 1998), assim como ao conhecimento da cultura de

destinos ainda com genuinidade (Observatório Regional de Turismo, 2008).

Outro fator relevante em estudo nesta dissertação é o de se compreender que canais de

divulgação dos referidos produtos terão de ser utilizados para podermos chegar a potenciais

clientes, visto que as novas tecnologias de informação e comunicação passaram a ser a nova

forma de intermediação comercial do novo turismo e dos novos turistas. Desta forma pensamos

que é extremamente importante e crucial para o futuro de qualquer destino e negócio o domínio

e o saber utilizar todas essas ferramentas à nossa disposição (Neto, 2013).

Para isso iremos ter de analisar os diferentes mercados emissores como forma de os compreender

e de podermos criar produtos que estejam de acordo, em primeiro lugar, com os Açores e em

segundo com as motivações associadas a esses clientes.

Os Açores devem estar sempre em primeiro lugar, visto que se trata do garante do nosso futuro e

como tal devem ser protegidos a todo o custo para que os turistas os continuem a procurar.

Para isso, importa que não entremos em campos mais complexos, onde já não estaremos a

trabalhar no sentido do desenvolvimento, mas sim na destruição do ambiente e do destino, como

é alertado por Almeida e Silva (1989: 11), “então já se deixou o campo do desenvolvimento local

para cair-se novamente na depredação e comprometimento do futuro.”

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Introdução

-11-

A escolha do tema da presente dissertação prende-se sobretudo com a necessidade de

compreender o turismo em espaço rural e principalmente do agroturismo, como base do turismo

de alojamento dos Açores, para uma defesa da sua identidade e genuinidade do território.

Pretende-se também alicerçar esta tese com o estudo da criação de produtos de turismo de

natureza, saúde e bem-estar, identificando os mercados interessados nesta oferta, assim como os

canais importantes para a divulgação do conjunto de produtos turísticos desenvolvidos.

A partir deste estudo apresentaremos uma solução para o reposicionamento da Quinta da

Grotinha e para a aplicação de pacotes turísticos de seu interesse, assim como para a projeção da

referida Quinta no espaço turístico nacional e internacional.

Com efeito, a Quinta da Grotinha é um espaço que tem vindo a ser transmitido de geração em

geração e que pela mão de Miguel Wallenstein e Ana Teresa se transformou num local único,

capaz de levar a quem o visita uma energia soberba e descontraída, onde podem saborear-se os

pequenos, tornados grandes, prazeres da vida e onde o tempo sobra para se poder viver com a

necessária tranquilidade a que um relaxe completo aconselha.

Aliada a esta magia – o saber receber – logo nos primeiros instantes de contato percebe-se que

estamos entre amigos e que certamente férias, ali passadas, tenderão a ficar na nossa memória

porque as fabulosas ideias do Miguel, misturadas com uma “pitada de loucura”, vão possibilitar

estar nos Açores e sentir a Quinta da Grotinha em toda a sua plenitude natural.

Foi por tudo isto que resolvi então interrogar-me sobre como poderia dar o meu contributo a

este projeto, para que ele nunca se perca e assim seja capaz de perdurar no tempo que o futuro

ajuda a marcar, como legado alicerçado em raízes fortes e dinâmicas, fundamentais para a

afirmação crescente da Quinta da Grotinha.

1.4 Abordagem metodológica

A presente dissertação irá ser desenvolvida com o propósito de reestruturar o alojamento local –

Quinta da Grotinha situada na ilha de São Miguel nos Açores – numa lógica de agroturismo,

capaz de desenvolver produtos de turismo na natureza e de saúde e bem-estar, seguindo a lógica

defendida pelo POTRAA e pelo PENT.

Para conseguirmos obter toda a fundamentação da proposta, que queremos que seja o resultado

final deste estudo, iremos adotar uma metodologia de investigação estruturada em quatro fases

bem distintas:

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-12--12-

A primeira parte irá consistir na análise do estado da arte das principais temáticas

inerentes ao estudo aqui apresentado, onde teremos como temas principais: novas

tendências e estado atual do turismo em Portugal, turismo em espaço rural, agroturismo,

turismo sustentável, turismo na natureza, turismo de saúde e bem-estar, animação

turística. Por último exploraremos o tema de marketing e mercados e seus produtos

preferenciais;

Na segunda parte irá fazer-se uma caraterização dos Açores e da história e território do

caso particular em estudo, a Quinta da Grotinha, para, de seguida, podermos criar uma

imagem do setor do turismo rural e de agroturismo nos Açores, assim como do setor da

animação turística e mercados emergentes na procura deste destino;

A terceira parte contará com uma investigação empírica, suportada pela elaboração e

aplicação de um questionário aos clientes que já pernoitaram na Quinta da Grotinha, com

o objetivo de percecionar a sua opinião sobre a sua experiência turística e os fatores que

estes valorizam para melhoramento do serviço e rentabilização do espaço;

Inerente a todos estes estudos estará ainda uma análise da oferta em TER destinada a

analisar o que o mercado está a oferecer e que preços estão a ser praticados, para que

consigamos compreender que caminho devemos seguir para potenciar a promoção e as

vendas dos produtos de turismo na natureza e agroturismo, nos Açores e em particular os

da Quinta da Grotinha;

Finalmente, a quarta parte contará com a análise de todos os dados resultantes dos

questionários e da avaliação da oferta em TER de forma a poder apresentar-se um

conjunto de propostas concretas de melhoria deste projeto, através de uma abordagem

integrada da oferta da quinta (alojamento, animação turística e agropecuária), com

destaque também para a melhoria do grau de sustentabilidade do seu desenvolvimento e

competitividade em mercados regionais, nacionais e internacionais.

Pretende-se que as propostas, que aqui serão desenvolvidas, não se esgotem apenas na Quinta da

Grotinha, mas que possam também aplicar-se em outros projetos de agroturismo.

Trata-se, enfim, de uma dissertação que tem por intenção estudar os diferentes conceitos

inerentes a esta vertente de negócio, mas que pretende também criar um conjunto de propostas

aplicáveis e exequíveis para garantir uma rentabilidade ao longo de vários anos, tentando assim

constituir uma solução inovadora para o mercado do agroturismo nos Açores.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Introdução

-13-

1.5 Estrutura da dissertação

O presente trabalho encontra-se estruturado em oito capítulos, os quais ajudem a compreender a

relevância e justificação do estudo aqui apresentado, assim como os produtos e estratégias a

seguir no setor do turismo em espaço rural e na sua derivação em agroturismo.

A constituição do primeiro capítulo encontra-se assente em temas que nos façam compreender e

enquadrar a problemática da investigação, assim como os seus objetivos e as metodologias

encontradas e aplicadas para trabalhar os diferentes temas que serão tratados. Para além disso

será descrita a estrutura da dissertação.

No segundo capítulo exploram-se e aprofundam-se as diferentes abordagens teóricas aos diversos

conceitos de turismo, que irá ser necessário aflorar para encontrar os melhores caminhos de

desenvolvimento. Desta forma iremos compreender a diferença entre turismo em espaço rural e

agroturismo e da sua simbiose com o turismo na natureza, saúde e bem-estar.

O terceiro capítulo contempla uma abordagem ao marketing e a sua dinâmica neste setor

económico.

Esta abordagem será importante para estudarmos os mercados e as melhores formas que

podemos encontrar para, de uma forma consistente, encontrar caminhos e soluções que nos

facilitem a implementação dos produtos e ofertas turísticas que forem produzidos.

No quarto capítulo, é apresentada a metodologia da investigação empírica que é a base estrutural

da presente dissertação.

O quinto capítulo incide sobre o caso de estudo da dissertação, na primeira fase numa dimensão

mais macro “Açores”, seguido pela contextualização do território da Quinta da Grotinha em

diferentes aspetos (imagem de marca, oferta, qualidade, potencialidades e limitações).

No capítulo seis são apresentados, analisados e discutidos os resultados obtidos através dos

questionários aplicados aos utilizadores da Quinta da Grotinha. Seguidamente a esta análise e

discussão surgirão as melhores propostas que são o resultado do estudo feito através da análise

do estado da arte e da investigação empírica da dissertação.

No último capítulo são apresentadas as considerações finais, acompanhadas pela referência às

limitações e fragilidades do trabalho das propostas e perguntas que se foram levantando ao longo

do trabalho e que servirão para estudos futuros.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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2 TURISMO EM ESPAÇO RURAL

2.1 TER: princípios de um bom desenvolvimento

Dado que o turismo se afirma cada vez mais como um setor estruturante da economia global

(Brito, 1999; Frías, 2010; Hall, 2006; Luís, 2002; Neto, 2013; WTTR, 2012), resultante da enorme

evolução e desenvolvimento da componente serviços, é possível observá-lo, ao longo de décadas,

a acompanhar as mudanças registadas na sociedade e nas motivações e gostos dos turistas da

modernidade.

De certa forma, um turismo clássico assente ainda nos conceitos que deram início ao turismo a

nível mundial “3 S’s” (Sun, Sea and Sand) está aos poucos a dar lugar a um modelo de procura

apoiado pelos “3 E’s” (Excitement, Entertainment and Education), que resulta da afirmação de novos

valores que a sociedade moderna procura no momento de escolher o seu destino de férias

(Klimek, 2013: 31).

Não se pretende afirmar que o turismo baseado em produtos e destinos massificados venha a

desaparecer, nem mesmo que deixe de ser predominante, mas que há uma tendência para uma

maior seletividade nas escolhas, isso é inegável (Fonseca e Ramos, 2007; Menezes, 2000).

As novas dinâmicas do turismo refletem-se no perfil do turista, na oferta e em múltiplos outros

aspetos como é o caso de uma maior preocupação com a sustentabilidade. Esse conceito tem

sido, nas últimas décadas, amplamente debatido, a nível mundial, devido à sua grande

importância para o setor do turismo. O apogeu da sua discussão foi na Cimeira do Rio em 1992.

Como tal considerou-se que a utilização mais racional dos recursos e do ambiente, com o intuito

de preservar as espécies e os habitats, estaria fortemente associada a esta nova forma de turismo.

Como se destaca na figura 2, para além desta vertente ambiental, o desenvolvimento sustentável

seria a solução para o desenvolvimento deste setor, para o que é fundamental que abranja três

dimensões fundamentais: económica, social e ambiental, na exata medida em que a satisfação das

necessidades das gerações atuais não causassem uma delapidação dos recursos e não pusessem

em causa os anseios e os níveis de desenvolvimento das gerações futuras (Fonseca e Ramos,

2007; Silva et al., 2013).

Page 34: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Figura 2| Princípio da Sustentabilidade - adaptado de Swarbrooke (1999)

Seguindo essa perspetiva, o TER deve desenvolver-se segundo os parâmetros do turismo

sustentável em que a componente sociocultural, económica e ambiental seja sempre tida em

conta, de modo a que possa acontecer um desenvolvimento corretamente planeado do tecido

rural. Através dele rapidamente poderemos compreender o porquê do turismo rural estar de

mãos dadas com o turismo sustentável.

Ao longo das décadas este tipo de turismo em espaços rurais foi sendo explorado em pequena

escala em todo o mundo. Particularmente em Portugal os dados apontam para que a sua primeira

utilização experimental tenha ocorrido na década de 1970, sob a forma de turismo de habitação,

estruturado em quatro áreas piloto - Ponte de Lima, Vouzela, Castelo de Vide e Vila Viçosa, que

depois veio resultar num alargamento generalizado por todo o território nacional (Ribeiro et al.,

2001; Ribeiro e Vareiro, 2007).

A partir do momento em que a sua aplicação é posta em prática começa a ser necessário

encontrar um quadro legislativo que ajude, tanto as autoridades como os empresários, a balizarem

a sua forma de atuação. Para tal, ao longo dos anos, foram sendo criados e recriados sucessivos

enquadramentos legislativos, de forma a poder aprimorar-se, cada vez mais, o próprio conceito

de TER.

Ao mesmo tempo foram lançadas as bases que dariam lugar à definição do TER, como sendo o

conjunto de atividades e serviços realizados e prestados em espaços rurais, segundo diferentes

modalidades de alojamento, de atividades e serviços complementares de animação e diversão

turísticas, tendo em vista a oferta de um produto turístico completo e diversificado no espaço

rural (Fonseca e Ramos, 2007).

Assim, encontramos esse conceito inserido no decreto-lei n.º 54/2002, onde se define TER como

“conjunto de atividades, serviços de alojamento e animação a turistas, em empreendimentos de

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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natureza familiar, realizados e prestados (...) em zonas rurais” (Decreto-Lei n.o 54/2002 de 11 de

Março: 2068).

A aposta no TER permite atenuar a tendência para a desertificação de muitas das regiões do

interior e valorizar a economia local (Cardoso, 2010; Costa, 1993).

Assim, o TER surge como uma forma não só de gerar dinheiro e algum desenvolvimento, mas

aparece igualmente como um revitalizador que está baseado num desenvolvimento do tecido

económico rural, contribuindo para o aumento do rendimento das populações locais e criando

condições para o crescimento da oferta de emprego e fixação das populações, tais como a

inversão do fluxo de partida.

Para além disso fomenta ainda a recuperação de edifícios de traça antiga, o que leva a que esse

património imobiliário seja recuperado, e força a que as novas construções sejam feitas,

mantendo a traça original para que as caraterísticas do local não se percam (Cardoso, 2010; G.,

1998; Jesus, 2007).

Esta revalorização do espaço rural motivou que se gere uma proteção e melhoramento dos

elementos patrimoniais (culturais, naturais e paisagísticos), numa lógica de multifuncionalidade do

mundo rural, criando-se alternativas às atividades tradicionais em declínio, gerando-se emprego

que assim valorize a população local (Candiotto, 2010; Fonseca e Ramos, 2007; Luís, 2002).

Esta foi também uma grande preocupação da União Europeia, a reabilitação dos espaços rurais.

Para esse efeito lançou, em 2001, um conjunto de iniciativas LEADER I (Ligação Entre Ações

de Desenvolvimento da Economia Rural), esta desenvolvida entre 1991 e 1994; LEADER II em

1995-1999; LEADER+ (2000-2006). No período 2007-2013 a abordagem LEADER passou a

desenvolver os Programas de Desenvolvimento Rural, Continente (PRODER), Açores

(PRORURAL) e Madeira (PRODERAM), o que é encarado como um verdadeiro estímulo para

promover e diversificar as economias rurais (FPADL, 2012; SRAF, 2007).

Com esta nova filosofia de repensar o espaço rural a União Europeia passa a direcionar recursos

para atividades agrícolas e não agrícolas, pondo a ênfase em aspetos que apontam para as

múltiplas funções do espaço rural: produção agropecuária e agroindustrial; segurança alimentar;

conservação ambiental, paisagística e cultural; manutenção do tecido social rural.

O enfoque multidisciplinar do território deixa de estar unicamente focado no setor agrícola e

passa a ter uma visão mais abrangente e eclética, valorizando o uso integrado dos recursos e das

diferentes áreas do saber, possibilitando uma diversificação das economias locais e a participação

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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da população no seu planeamento e gestão. Estes elementos passam a fundamentar as políticas

públicas de desenvolvimento rural na Europa, a partir da década de 1990 (Candiotto, 2010).

Para que tal aconteça não se pode nunca perder de vista a lógica de um crescimento e

desenvolvimento bem planeados, para que os aspetos fundamentais que trazem os turistas para

estes espaços não sejam perdidos.

O planeamento será uma das armas mais importantes para todas as atividades que irão utilizar os

recursos naturais, visto que estes são fundamentais para a imagem e paisagem da zona e para a

captação de mercados que irão abastecer este produto. Quando se fala em planeamento e

recursos naturais há que olhar para eles e reconhecer as suas verdadeiras potencialidades de uso,

sendo necessário definir zonas sensíveis que devem ser valorizadas e protegidas.

Este planeamento possibilitará a definição da capacidade de carga máxima de determinados

destinos ou zonas, valor esse que permitirá desenvolver o turismo de forma sustentável e

respeitando o património cultural e natural da região que está a visitar-se (G., 1998: 39).

A paisagem surge portanto como um elemento fundamental a proteger para que a economia do

país ou do destino que se pretende explorar não seja afetada, daí que tenha sido consagrado no

decreto-lei n.º 4/2005 da Convenção Europeia da Paisagem, “que a paisagem desempenha

importantes funções de interesse público nos campos cultural, ecológico, ambiental e social e que

constitui um recurso favorável à atividade económica, cuja proteção, gestão e ordenamento

adequados podem contribuir para a criação de emprego;”

Figura 3| Paisagem como elemento central de todos os vetores (Cardoso, 2010)

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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A paisagem é por isso o eixo central do destino (Figura 3) e será por isso a imagem de marca que

define a região e a tornam única, ou até, por vezes, semelhante a outra, mas são essas

semelhanças ou esses traços únicos, que são os elementos característicos dessa mesma paisagem,

servindo para a definir e dar potencial para emancipar as regiões que a possam envolver. Por este

motivo este vetor paisagem, bem cuidado e preservado, é valorizado por tudo aquilo que tem de

diferente, daí que a sua singela qualidade seja o tesouro a proteger, já que esta é a base da escolha

do destino selecionado, para onde se pretenda viajar.

O TER deve por isso apoiar o seu desenvolvimento num conjunto de princípios que

possibilitem, a quem o desenvolve, não cometer os mesmos erros praticados em destinos já

descaraterizados e sobrecarregados, que ao longo dos anos acabaram por ir alterando não só a

sua paisagem, mas também importantes vetores de qualidade, que os transformaram em tempos

num destino turístico procurado e apetecível.

Segundo Fonseca e Ramos (2007: 14/15) os princípios que devem reger o TER são:

Planificação;

Integração;

Abertura;

Definição de capacidade de carga;

Participação;

Sustentabilidade.

Podemos então afirmar que o TER apresenta o seguinte leque de vantagens (Fonseca e Ramos,

2007; Santos e Cabral, 2005):

Contribui para a sustentabilidade não apenas do setor, como do próprio desenvolvimento

local/regional, devido ao conjunto de atividades que lhe são tributárias;

Não sendo um turismo de massas, e sendo uma atividade onde a maioria das pessoas que

a procura, tenta encontrar uma solução para as férias de forma mais ecológica, a sua

exploração irá provocar uma menor pressão sobre os recursos do território;

Motiva a que as entidades públicas e privadas estejam envolvidas e preocupadas com a

preservação da autenticidade e dos valores patrimoniais em que se alicerça o TER, como

a arquitetura encarada como expressão da cultura nacional. Estes cuidados a ter com o

património exigem uma gestão adequada em termos de conservação e de reabilitação dos

recursos (ambientais ou culturais). A perda deste valor acrescentado faria com que o

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-20-

território perdesse todas as suas aspirações em captar os segmentos de mercado que se

reveem neste tipo de imaginário;

A sustentabilidade do TER manifesta-se por um conjunto de medidas e ações que passam

pela recuperação do património arquitetónico, pela revitalização do património cultural

(artesanato, gastronomia e tradições), encaradas como verdadeiro depósito de virtudes e onde se

crê que nasceram as verdadeiras civilizações, pela preocupação em preservar a qualidade

ambiental e a unidade paisagística, sendo que esta última será vista cada vez mais como o marco

identitário nacional do país, gerando a elevação do sentimento de pertença nas sociedades

contemporâneas (Fonseca e Ramos, 2007; Silva, 2007).

Entendemos por isso que o TER é uma realidade para o turismo porque se apresenta como um

produto capaz de ser uma mais-valia para os mercados, já que o seu principal objetivo é o de

romper com a globalização imposta no mundo e trazer para junto de si os valores do mundo

rural, gastronomia, tranquilidade física, mental e espiritual e a possibilidade de ter tempo para

contemplar a vida e a natureza, atividades essas há muito perdidas nesta sociedade sedenta de

stress e de rapidez desordenada de decisão (Frías, 2010).

A procura das unidades de TER é fundamentalmente composta por população oriunda dos

espaços urbanos, caraterizada por um bom nível de formação académica, culta, relativamente

jovem, a maior parte da qual com uma idade compreendida entre 31 e 45 anos, que busca nos

meios rurais o sossego e a tranquilidade que não encontra nos locais de residência. Essa procura é

oriunda principalmente dos grandes centros urbanos, quer nacionais quer mundiais, tais como

Lisboa, Porto, Amesterdão, Berlim, Londres, Paris e Washington (Fonseca e Ramos, 2007;

Menezes, 2000; Silva, 2007).

Os turistas que procuram este tipo de conceito, têm inerentes a si motivações que derivam de

fatores de ordem social e psicológica intimamente associados à necessidade real ou imaginária de

um indivíduo sair da sua bolha quotidiana e ir em busca de algo genuíno capaz de o trazer para

fora do mundo onde vive e assim reviver e experienciar estórias vividas ou ouvidas na sua

infância ou imaginário.

O interesse pelo TER vem por isso associado ao desejo de distanciamento temporário das

pressões quotidianas e de uma atmosfera de inautenticidade do ambiente citadino sentido pelas

pessoas, que desse modo podem desfrutar de locais onde o descanso, relaxamento, tranquilidade,

reencontro com a sua própria autenticidade e contato com a natureza possibilitam o tão ansiado

“recarregar de baterias” (Silva, 2007).

Page 39: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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Neste cenário que temos vindo a traçar podemos identificar claramente as motivações dos

diferentes setores de turistas, segundo (Fonseca e Ramos, 2007; Silva, 2007).

O setor senior é um público-alvo do TER pela sua disponibilidade de tempo, aliada a condições

de suporte financeiro de que possa auferir, para o que não é também menos importante um

reconhecido aumento da esperança média de vida, a que se junta um sentimento marcado pela

incessante necessidade que o ser humano tem de conhecer, viajar e aprender.

O turista senior encontra aqui um palco favorável ao reviver de memórias passadas, de reavivar

as tradições da infância, apreciar a calma e a beleza do meio natural e apreciar a gastronomia

autóctone. Eventos naturais ou de caráter cultural (festas, recriações históricas, folclore) são

elementos chave para que o chamamento a esta franja de mercado seja mais efetivo. Para tal será

necessário alicerçar esta oferta a um touring (dominado pela opção de viajar) cultural e paisagístico,

de qualidade superior, capaz de deixar uma marca clara e inequívoca de originalidade e qualidade.

Sendo os jovens um setor de mercado muitas vezes apenas associado a ambientes noturnos e de

fragilidade social, encontramos também no TER boas soluções a pensar neles, quer para jovens

em idade escolar quer para adolescentes, através de produtos que os cativem, motivem a sua

prática e também para um melhor conhecimento.

Desta forma a vertente mais lúdica, sem esquecer a cultural, associada sempre à qualidade dos

serviços prestados em cada um dos produtos turísticos apresentados, será um garante de

potencial sucesso.

O TER só pode funcionar em espaços onde exista uma ligação muito forte com a agricultura em

moldes tradicionais, onde as caraterísticas ambientais e paisagísticas sejam marcadamente rurais,

onde a preservação da cultura e património seja uma constante, em que as casas, por um lado,

proporcionem um ambiente familiar e doméstico e, por outro, sejam representativas da

ruralidade, tanto no caso das casas rústicas como no dos solares e casas apalaçadas.

A sua arquitetura deve garantir a capacidade de, respeitando a cultura e traça local, dar

comodidades atuais e de proporcionar equipamentos e atividades de animação extra, como

piscinas e courts de ténis, e inclusivamente observar e participar na execução de tarefas agrícolas e

pecuárias (G., 1998; Silva, 2007).

Outros elementos adicionais podem ainda robustecer a atratividade destes espaços rurais,

nomeadamente como o touring a locais de interesse histórico, a biodiversidade aliada à existência

de áreas protegidas, as condições para a prática de desportos e de atividades recreativas.

Page 40: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-22-

A chave de todas as ofertas de turismo em espaço rural será sempre a capacidade de apresentar o

produto mais autêntico e com maior grau de qualidade possível para que desta forma não só o

mercado mas também os agentes locais (públicos e privados) sintam o valor do produto

apresentado e sejam por isso os principais polos de divulgação e afirmação do produto TER no

mercado (Fonseca e Ramos, 2007; MacCannell, 1999; Silva, 2007).

Em síntese, para além da atração exercida pelo campo e pelas componentes do imaginário rural e

ancestral, a procura do TER deve estar sempre assente numa proposta de qualidade, ao mais alto

nível, conjugada com requinte e conforto, alicerçada numa estratégia de preservação do meio

ambiente e com cuidados na construção de atividades e animações que consigam chegar a todo o

tipo de públicos.

2.2 Agroturismo

Para compreendermos melhor o conceito de turismo demasiado abrangente e globalizante,

tornou-se importante classificar e catalogar os seus diferentes conceitos para que fosse mais fácil

a sua compreensão e estudo.

Seguindo esta filosofia de pensamento, o turismo apresentou-se primeiramente diferenciado em

turismo de massas e turismo alternativo. Como o estudo em apreço está diretamente relacionado

com os conceitos emergentes do turismo alternativo, nele é possível destacar o ecoturismo e o

turismo rural, onde ambos pressupõem, teoricamente, que haja uma valorização dos espaços

“naturais” e ruralizados.

Iremos por isso olhar para o turismo rural, em particular, como ponto de partida para chegarmos

ao agroturismo. Este conceito parece ter um potencial apreciável no quadro atual em que

emergem novas preferências.

Ele insere-se no designado turismo dos três “L” – Lore, Landscape and Leisure (tradições, paisagens,

lazer) – como alternativa ao massificado turismo dos três “S” – Sun, Sea and Sand (sol, mar e areia)

(Luís, 2002).

Sendo o agroturismo uma sub-modalidade do TER, por se tratar de uma abordagem turística em

espaço rural, os conceitos por ele apresentados apresentam uma crescente popularidade junto de

toda a população residente nas zonas urbanas e suburbanas que pretendem encontrar

experiências de ambiente rural, associadas à nostalgia de memórias passadas ou contadas por

familiares mais velhos e que com as suas histórias fizeram crescer, dentro dos diferentes

indivíduos, a nostalgia do campo e do viver num ambiente mais rural. Como tal a população que

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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se identifica com este tipo de espaço procura nele todo o conjunto de atividades que fazem parte

do seu imaginário de estar e trabalhar numa quinta (Bernardo et al., 2004).

Como tal torna-se também importante definir o conceito aqui tratado. O agroturismo é

geralmente definido, segundo (Santos e Cabral, 2005: 17), como uma:

modalidade extremamente interessante na perspetiva de possibilitar um acréscimo de rendimentos às explorações agrícolas,

consiste num serviço de hospedagem, de natureza familiar, prestado em casas particulares integradas em explorações

agrícolas que permitam aos hóspedes o acompanhamento e conhecimento da atividade agrícola ou participação nos trabalhos

aí desenvolvidos, de acordo com as regras estabelecidas pelo seu responsável. Deve apostar claramente na animação turística

tornando as suas quintas apelativas pelas suas atividades lúdicas.

Como este conceito está inserido na abrangência do conceito de TER definido no decreto-lei n.º

54/2002 como sendo o “conjunto de atividades, serviços de alojamento e animação a turistas, em

empreendimentos de natureza familiar, realizados e prestados (...) em zonas rurais”, define assim

claramente o seu âmbito quando direciona e limita o seu campo de atuação para a quinta

(Decreto-Lei n.o 54/2002 de 11 de Março: 2068).

A partir da década de 60, o turismo encontra na valorização do espaço rural e do seu

desenvolvimento, um argumento extremamente forte e desejado por quem o procura, para

entender a relevância da discussão cada vez mais urgente e necessária sobre desenvolvimento

rural (Candiotto, 2010).

Especialmente desde a revolução industrial que o espaço rural tem vindo a sofrer constantes

transformações graças ao desenvolvimento das novas tecnologias que procuram satisfazer a cada

vez maior necessidade de produção em massa de produtos agrícolas.

Como refere M. Silva (1982), a revolução industrial em Portugal não funcionou, como era

esperado e indicado pelos setores da economia, que identificam o desenvolvimento da indústria,

acompanhado paralelamente com o desenvolvimento da agricultura. Para M. Lipton (1977 cit.

por Silva, 1982), lamentavelmente não foi tomada em conta essa regra de desenvolvimento:

“…Em Portugal, porém, ao longo de todo o processo de crescimento económico, a agricultura

foi drasticamente marginalizada e duramente sacrificada a população que trabalhava a terra ou

vivia da agricultura.”(Silva, 1982: 13)

A aplicação deste modelo económico desequilibrado levou a que o espaço rural se tornasse cada

vez mais pobre, o que promoveu um agravamento crescente das desigualdades e levou a que

muitas pessoas abandonassem o ambiente rural.

Para agravar ainda mais o cenário, as condições de acesso ao crédito, aos regimes de segurança

social, a localização do equipamento e as condições de acessibilidade dos serviços sociais foram

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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dificultadas, o que provocou o aumento das desigualdades entre os setores agrícola e industrial

(Silva, 1982).

Estas políticas nefastas para o setor agrícola levaram a que, entre 1950 e 1990, a percentagem de

trabalhadores na agricultura diminuisse de 48% para 10% e que a contribuição da agricultura para

a produção do país baixasse de 28% para 5%.

Enquanto, no início da década de 90, se verificava um significativo êxodo rural em Portugal, a

Europa já começava a olhar para o mundo rural e para os agricultores, de uma perspetiva mais

holística e de longo prazo, fazendo emergir o fenómeno da pluriatividade no espaço rural.

Nessa perspetiva, a conceção de multifuncionalidade de um agricultor deve estar assente numa

visão mais abrangente, não unicamente direcionada para a agricultura mas capaz de englobar

conceitos tão díspares como próximos, como é o caso do turismo, da agricultura e da proteção

do ambiente. O mesmo se exige ao próprio espaço em si, que necessita de encontrar na sua

arquitetura, paisagem, imagem, atividades, pessoas, predicados a explorar para servirem de

complemento à multifuncionalidade que um agricultor deve possuir.

Esta mudança de pensamento que se tem multiplicado, provocou um acentuado interesse dos

agentes turísticos e da população urbana pelo espaço rural e pelas ruralidades, de maneira que,

através da natureza e da sua proteção correspondente, surgisse e se tornasse realidade um

mercado cada vez mais sedutor para ser explorado, capaz de produzir dividendos importantes

para ajudarem os negócios agrícolas em apostas interessantes e estimulantes, a explorar por todos

os que possuam quintas e terrenos de pequenas e médias dimensões (Cabral e Scheib, 2004;

Candiotto, 2010).

O sentido de multifuncionalidade que se torna importante desenvolver, no âmbito das atividades

agroturísticas, vai no sentido da valorização estética e utilitária do espaço da propriedade, daí a

importância da perspetiva da “propriedade e do ambiente envolvente como paisagem” (Cabral e

Scheib, 2004).

É notório que os agricultores, ao verem este cenário interessante e lucrativo para os seus

negócios, têm vindo a ser estimulados para reorganizar o espaço das suas propriedades

privilegiando a dimensão estética e utilitária das instalações (Cabral e Scheib, 2004).

Com efeito, os principais atrativos do TER prendem-se com a tranquilidade do território, com a

singularidade do património cultural e natural, com a perpetuação de heranças ancestrais

(Fonseca e Ramos, 2007). Cabe assim ao agricultor construir e preservar estes atrativos para que

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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possa encontrar, de forma alternativa, uma boa oportunidade de encaixe financeiro para o seu

negócio.

Alguns agricultores veem o agroturismo como um suplemento financeiro para as suas

explorações, outros encontram nesta atividade uma oportunidade para elucidar o público nas

questões relacionadas com a atividade de uma quinta e também na componente de respeito pela

natureza (Geisler, 2013).

Para além das atividades diretamente relacionadas com a quinta, o agricultor deve olhar para o

espaço envolvente como fazendo parte do potencial da oferta que propõe aos seus clientes, tais

como (Bernardo et al., 2004):

Atividades de “outdoor” (pesca, caça, observação da vida selvagem, passeios a cavalo);

Experiências educativas (visitas a fábricas tradicionais, aulas de culinária, provas de vinhos

e aprendizagem de algumas técnicas de artesanato);

Entretenimento (festivais de colheitas ou vindimas ou festivais de danças e cantares

tradicionais);

Serviços baseados na hospitalidade e hospedagem (estadias na quinta ou visitas guiadas)

ou ainda uma pequena loja de venda direta representativa de produtos tradicionais da

região e produzidos pela própria quinta.

Para realmente se investir e desenvolver esta área de negócio é necessário compreender-se quais

são as reais vantagens de desenvolvimento do agroturismo numa perspetiva agroindustrial e

agroturística, que podem surgir tanto para a quinta como para a comunidade local.

Segundo Santos (2005) e Bernardo (2004), as vantagens apontadas são as seguintes:

Operacionalizam a expansão agrícola;

Trazem novas formas de receitas;

Garantem, a longo prazo, a sustentabilidade do negócio da quinta;

Promovem os produtos agrícolas que são localmente produzidos;

Criam novas fontes de trabalho para familiares que tenham de trabalhar fora dela;

São um adicional de negócio para as empresas locais;

Representam estímulo ao melhoramento de acessibilidades e serviços;

Ajudam a diversificar e estabilizar a economia local;

Melhoram os níveis de instrução da população;

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Orientam capacidades e interesses no sentido da importância e preservação do

património;

Mostram maior sensibilidade para as questões da natureza e da ecologia.

Recapitulando:

Primeiro é importante reafirmar que se não forem tidas em conta as bases de atuação definidas

pelo TER podemos colocar em risco a sustentabilidade do negócio e da região, visto que se trata

de uma atividade onde existe uma necessidade clara de um investimento elevado de capital e de

tempo.

Em segundo lugar, de notar que a taxa de sucesso, a quatro anos, para pequenos negócios

administrativos é de cerca de 49%, enquanto os relacionados com áreas de serviço é de 56%.

Terceiro, o mais importante para que uma empresa de agroturismo seja realmente uma mais-valia

para o negócio da quinta está relacionado com a forma como ela irá ser gerida.

Para tal é necessário que o gestor de agroturismo apresente um conjunto importante de atributos

e conhecimentos. Este elemento torna-se o ponto charneira entre o sucesso e o insucesso do

negócio.

Será importante apostar na formação de um gestor qualificado capaz de simultaneamente gerir a

relação dos turistas com as atividades agrícolas da quinta, como também de garantir elevados

padrões de hospitalidade, qualidades de hospedagem e na alimentação, conjugados com produtos

turísticos inovadores de diferentes tipos de atividades, que acabem por dar resposta aos diversos

tipos possíveis de clientes.

2.3 Qualidade

2.3.1 Definição e âmbito do conceito

A qualidade é algo que neste momento se encontra enraízada no nosso vocabulário e que faz

parte da nossa vivência diária, mas apesar de ser quase uma palavra banal a definição do seu

conceito é difícil de atingir e definir, visto tratar-se de um conceito multidimensional onde estão

inseridas variáveis de ordem extremamente subjetiva.

Como afirma (Silva, 2013), a“ abordagem à qualidade passou a colocar no centro os clientes e a

combinar a tangibilidade com intangibilidade, deixando de estar apenas ligada às características

objetivas do produto final”.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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Como afirma Delgado (1996), as pessoas adquiriram uma nova cultura, uma nova mentalidade e

tornaram-se mais exigentes e sensíveis para a observância de todos os pormenores.

Hoje, fala-se em qualidade de um produto, qualidade de um serviço, qualidade de ensino,

qualidade de vida, turismo de qualidade, mas também podemos interrogar-nos sobre o que isso

tudo significa.

Desta forma podemos dizer que o próprio cliente não avalia um produto ou serviço pelo preço

que este tem indicado ou por determinada caraterística. Pelo contrário, a qualidade é determinada

quando o produto ou serviço atingem a expetativa do cliente.

Se anteriormente víamos o conceito qualidade centrado no produto, à medida que houve um

aumento da capacidade da oferta e da concorrência o foco da qualidade deixou de ser o produto

para passar a ser o cliente (Delgado, 1996; Silva, 2013).

Antes de tentarmos compreender o conjunto de estratégias que as diferentes organizações

seguiram para alcançar a meta da qualidade, torna-se imperioso desde já observar o que os

diferentes autores apontaram como definição de qualidade.

Assim, Barbalhol (1997) considera que, apesar da variedade de significados que serão apontados

abaixo, todos eles devem estar baseados no conhecimento do que o cliente deseja e exige, para

encontrar respostas para as suas expetativas de qualidade, como sublinha o autor:

Consiste nas caraterísticas que o produto deve possuir para satisfazer as necessidades do

consumidor;

Consiste na inexistência de não conformidade;

A sua adequação ao uso;

Está relacionada com a capacidade da organização de satisfazer requisitos

predeterminados e pressupostos.

Este autor realça que “a qualidade pode ser definida como o conjunto de procedimentos que se

iniciam com o conhecimento das necessidades e expectativas do cliente, influenciando na

confeção original (projeto) de um produto ou serviço, bem como na sua confeção final, com o

objetivo de cativar, manter e satisfazer o consumidor” (Barbalhol e Simol1etti, 1997).”

Já a UNWTO (2014b: 1) define qualidade como:

resultado de um processo que implica a satisfação de todas as necessidades legítimas do produto e do serviço, requisitos e

expetativas do consumidor, a um preço aceitável, em conformidade com as condições contratuais mutuamente aceites e as

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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determinantes qualitativas subjacentes, como a segurança, a higiene, a acessibilidade, a transparência, a autenticidade e a

harmonia da atividade turística com o ambiente humano e natural.

De acordo com a fonte (Paim et al., 1996), foi possível apresentar as seguintes definições feitas

pelos diferentes autores que aqui apresentamos (Quadro 1):

Quadro 1| Definição do conceito qualidade

CROSBY Qualidade significa ir de encontro às necessidades do cliente.

JURAN Qualidade é adequação ao uso.

TOWSEND Qualidade é aquilo que o cliente percebe quando sente que o produto ou serviço vai de encontro às suas necessidades e corresponde às suas expetativas.

TEBOUL

Qualidade é a capacidade de satisfazer as necessidades, tanto na hora da compra

quanto durante a utilização, ao menor custo possível, minimizando as perdas, e melhor do que os nossos concorrentes.

TAGUGHI Qualidade consiste em minimizar, a longo prazo, as perdas causadas pelo produto não apenas ao

cliente, mas à sociedade.

SMITH

Qualidade indica o valor relativo de produtos e serviços, a eficiência e a eficácia

de processos para gerar produtos e suprir serviços. Do ponto de vista prático,

qualidade é uma arma estratégica e competitiva.

Norma ISO 8402 - Vocabulário da

Qualidade

Qualidade é a totalidade das propriedades e caraterísticas de um produto ou

serviço que lhe conferem habilidade para satisfazer necessidades explícitas do

cliente.

A análise destas definições permite verificar que existe algo comum a todas elas, nomeadamente a

satisfação das necessidades dos clientes, que é o eixo basilar da qualidade. Desta forma podemos

afirmar que a qualidade está fortemente relacionada com a satisfação dos clientes e que esta só

está conseguida quando as expetativas dos clientes são atingidas ou superadas.

A promoção da qualidade é um dos grandes desafios de qualquer organização, apostada em

descobrir mecanismos que lhe permitam encontrar as soluções mais acertadas, para que de tal

forma estas consigam sobreviver neste mundo extremamente competitivo de busca de clientes.

Para isso os objetivos reais de qualquer organização passam primeiramente por – segundo

Delgado (1996):

Satisfazer as necessidades dos clientes- A procura da perfeição no que se vai oferecer

exige por parte da empresa um estudo constante das tendências do mercado e dos seus

clientes sempre sob o aspeto da qualidade e esta corresponde à total sintonia entre o

produto que estamos a preparar e as reais necessidades do cliente;

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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Aumento da produtividade - Só é conseguido através da supressão de todas as falhas

internas inerentes à criação e produção do produto ou serviço, assim se conseguindo

aumentar a qualidade e reduzindo os custos de produção;

Promover a realização socioprofissional dos trabalhadores - Para isso é preciso que

estes se encontrem motivados e profissionalmente realizados para o desempenho das suas

funções.

Para que o cliente seja o eixo da qualidade, o verdadeiro critério de certificação de qualidade é a

preferência do consumidor em relação à concorrência, sendo que esta escolha pressupõe que a

organização esteja a trabalhar no sentido certo de garantir a sua sobrevivência a médio e longo

prazo (Barbalhol e Simol1etti, 1997).

A preferência indica a adequação do produto ou serviço às necessidades, expetativas e ambições

do consumidor. Concomitantemente podemos dizer que a estratégia para o alcance da qualidade

foi conseguida e com esta otimização conseguiu-se não só ganhar um cliente com um produto

produzido a menor custo.

2.3.2 Motivação para aplicação da qualidade

Se o objetivo de qualquer tipo de organização é conseguir arranjar clientes que se fidelizem aos

seus produtos e sabendo que a qualidade é um meio para alcançar esse objetivo principal, será

necessário que a implementação de medidas ou sistemas de gestão da qualidade seja estudada de

forma a poderem transformar-se em formas capazes de fazer com que a empresa se posicione no

mercado de forma sólida e inovadora.

Se por um lado a qualidade nos permite melhorar o número de clientes, por outro consegue-se

um aumento da produtividade com a diminuição do desperdício e a otimização dos processos,

diminuindo os custos de produção e aumentando a possibilidade de margem de lucro. Achamos

por isso a qualidade não só fundamental como necessária para o futuro de qualquer organização.

Em seguida realça-se a lógica de pensamento que qualquer organização deve ter no sentido de

compreender se o que está a oferecer vai de encontro às necessidades dos clientes (Delgado,

1997):

Qualidade quanto ao desempenho do produto- Capacidade deste conseguir gerar

satisfação quanto às expetativas, interesses e motivações do cliente. Aqui podemos dizer

que o produto é gerado e testado na ótica do cliente e para conseguir-se este

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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desempenho regista-se um aumento da qualidade geralmente através de um aumento de

custos;

Qualidade quanto à existência de deficiências – Aqui o objetivo é aperfeiçoar

permanentemente todas as fases da produção ou criação. A eficácia e eficiência são as

metas a alcançar tanto na fase de produção como na de venda, criação e melhoria da

imagem. Esta ótica é vista do lado do produtor. A qualidade é trabalhada através da

otimização dos processos visando sempre a redução de custos;

Qualidade na ótica da excelência – Este será o conceito onde se vê a gestão da qualidade

de uma forma completa e que visa a satisfação total do cliente. Para tal todos os setores

da empresa têm como objetivo o aperfeiçoamento, que não fica por isso estagnado no

tempo e no espaço, antes é constante e dinâmico, sendo por isso atualizado quase

diariamente.

É ainda importante realçar um conjunto de fatores que contribuem para uma maior qualidade a

nível dos serviços:

A amabilidade/simpatia;

A prontidão/disponibilidade;

O sentido básico de que as suas necessidades foram satisfeitas;

A atitude de quem presta o serviço.

Desta forma podemos concluir que as motivações que qualquer organização deve encontrar para

a implementação e aplicação de sistemas de qualidade são:

A qualidade é o principal argumento de compra;

A qualidade leva-nos a reduzir os custos de produção;

A qualidade é um dos principais meios de implementar a flexibilidade/capacidade de

resposta;

A qualidade é um dos principais meios de redução do tempo dando à organização mais

capacidade para antecipar novos aspetos.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

-31-

2.3.3 Qualidade no turismo

Numa sociedade onde o fluxo de informação e de negócios processa-se praticamente em tempo

real, e onde o acesso à informação é globalizante, a nossa capacidade para estar sempre um passo

à frente da nossa concorrência é fundamental, pelo que devemos dispor de canais de informação

bem abertos e a nossa organização bem blindada face a eventuais ataques do mundo

concorrencial exterior (Longhini e Borges, 2005).

Essa blindagem só será possível graças à utilização de serviços aplicados sempre com qualidade e

sujeitos a avaliações e reavaliações para se poderem ir eliminando as falhas. Agindo desta forma

estaremos a trabalhar para a sustentabilidade da organização e também para a consolidação da sua

posição no mercado.

Dado que a sustentabilidade de qualquer negócio só se consegue através da qualidade e que os

pensamentos mais profundos devem sempre surgir de organismos com um estatuto mais elevado

na hierarquia social, a Comissão Europeia lançou recentemente um modelo de implementação de

gestão de qualidade para os destinos turísticos, onde aponta a necessidade para o respeito dos

seguintes elementos chave (Silva, 2013):

Satisfação dos turistas, em relação às suas expetativas, à qualidade dos serviços prestados

e oferecidos e a todos os fatores que contribuem para a boa qualidade de serviços

durante a sua estadia;

Satisfação do próprio setor do turismo, no que diz respeito à qualidade e sucesso das

empresas pelo grau de qualidade assegurada;

Satisfação da comunidade local face ao turismo e em que medida encontra nele o

aumento da sua rentabilidade;

Qualidade ambiental, medidas de impacte positivo ou negativo do turismo sobre o

ambiente.

Um dos sistemas que nos permite compreender em que medida os nossos serviços estão assentes

e respeitam as bases de qualidade exigida é o SERVQUAL. Foi talvez um dos primeiros modelos

que nos permitiram medir e aferir a perceção do consumidor sobre a qualidade do serviço

prestado (Parasuraman et al., 1988).

Através da aplicação deste modelo a organização consegue obter respostas a 22 das declarações

que são efetuadas, o que permite identificar:

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-32-

As expetativas gerais dos clientes;

As perceções do serviço prestado aos clientes.

Parasuranam (1988) consideram, por isso, fundamental para a qualidade de qualquer serviço, que

as cinco dimensões aqui apresentadas sejam respeitadas: fiabilidade, capacidade de resposta,

empatia, garantia/segurança e tangibilidade.

Sendo este um dos primeiros sistemas de implementação e gestão da qualidade, foi considerado

uma referência de base de estudo e como tal influenciado o desenvolvimento de muitos outros

sistemas.

Com o passar dos anos, Cronin e Taylor (1992 cit. por Botelho, 2010: 9) apresentaram um

conjunto de críticas que indicavam que a escala utilizada SERVQUAL era parca em conteúdo e

suporte teórico e diminuta na sua evidência empírica.

Deste modo, Cronin e Taylor (1992 cit. por Adil et al., 2013: 67) propõem um novo sistema que

se chama SERVPERF, que apesar de não abandonar as mesmas 22 declarações do SERVQUAL,

apresenta-as agora com um novo foco - o desempenho do serviço prestado em detrimento das

expetativas e perceções dos clientes.

Atualmente e seguindo a linha de investigação de F. Silva (2013), pensamos que o sistema ITQT

(Integrated Total Quality Tourism) será o modelo mais adequado para aplicação nos dias de hoje,

visto que já inclui a componente da sustentabilidade dos destinos turísticos como uma premissa a

ter em conta e procura demonstrar como é que o turismo pode contribuir para desenvolver e

beneficiar a componente sociocultural e ambiental com a sua preservação e por último a sua

componente económica.

De igual modo, F. Silva (2013) indica que “ os autores deste modelo consideram que a adoção do

ITQT por todos os stakeholders do turismo garantirá múltiplos benefícios sinergéticos e um

desenvolvimento turístico sustentável”.

2.3.4 Qualidade no TER

A qualidade tornou-se numa “bandeira” importante para cativar clientes.. Contudo, como

evidencia (Moreira e Dias, 2010), existem ainda algumas limitações como é o caso de não

existirem “estudos que ajudem a compreender como é avaliada a qualidade nos alojamentos em

zonas rurais, nas suas vertentes mais comuns: casas apalaçadas, solares, casas rústicas, quintas

com atividades agrícolas e hotéis rurais.”

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

-33-

Apesar destas dificuldades, a aposta da qualidade pelo TER é essencial refletindo-se na vontade

da empresa em direcionar-se para o cliente. A qualidade será também uma garantia para trazer

mais pessoas a descobrirem o destino e procurarem as organizações que melhores feedbacks

oferecerem.

Moreira (2010) e Avena (2001) defendem que as duas dimensões mais importantes para que o

cliente percecione a qualidade estão na dimensão da atitude institucional e do pessoal de

atendimento. Por sua vez, as dimensões de menor peso para a perceção do cliente são as

referentes a conteúdos informativos e promocionais, bem como a correspondente evidência física

do serviço (Moreira e Dias, 2010).

Devido a um número relativamente diminuto de funcionários, que um negócio de TER tem, o

controlo das duas componentes técnica e funcional é certamente mais fácil, visto que a

complexidade da orgânica do TER é mais simples, pelo que resulta daí que a aposta na qualidade

será mais fácil.

Incrementar uma política de qualidade, definir os passos a seguir para a implementação do

sistema de qualidade e a logística necessária para a sua implementação, verificar a implementação

do sistema, tomar as decisões necessárias ao correto funcionamento dos sistema de qualidade, são

as dimensões necessárias a implementar, sendo que na lógica de uma micro ou média empresa

será rápida a sua aplicação.

Em termos de conclusão e parafraseando (Moreira e Dias, 2010: 59), o TER “depende em grande

medida das características do pessoal que presta o serviço. Assim, é recomendável prestar uma

grande atenção aos recursos humanos, que são essenciais na qualidade percecionada deste tipo de

atividade.”

A competitividade e qualidade dos serviços de TER está igualmente dependente de outros

fatores, como são os casos de legislação e regulamentação do setor (Anexo I).

2.4 Sustentabilidade no turismo

O conceito sustentabilidade aparece associado, no início dos anos 70 do século XX, ao

estabelecimento de limites ao crescimento. As primeiras noções desse conceito surgem em

resposta aos impactos negativos associados ao crescimento económico, daí que tenham surgido

movimentos ecologistas que começaram a lançar para a opinião pública temas como eco-

desenvolvimento, crescimento orgânico, crescimento zero, etc.

Page 52: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-34-

As Nações Unidas definiram sustentabilidade como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades

atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”

(WCED, 1987: 37). Como tal desenvolveram e lançaram um conjunto de problemáticas para que

o desenvolvimento mundial fosse repensado, tendo sempre em vista o não comprometimento

das gerações futuras (D.R.E., 2000).

Uma das primeiras referências mais divulgadas sobre o conceito de desenvolvimento sustentável

ocorreu num documento cujo título é “Our Common Future” (O Nosso Futuro Comum). Este

documento foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Ambiente (UNCED), em 1987, e onde

foram desenvolvidos os temas ambiente e desenvolvimento.

Este documento apresentou também uma reflexão sobre modelos de desenvolvimento à escala

global e um conjunto de reparos face a políticas em curso e que não iriam precaver de forma

coerente o futuro das próximas gerações, já que apontavam para uma utilização e consumo

excessivos de recursos naturais, sem ter em linha de conta as verdadeiras capacidades dos

ecossistemas.

Este relatório, cujo nome ficou conhecido por relatório Brundtland, teve como objetivo principal

fazer uma chamada de atenção ao mundo para a importância de desenvolver políticas apoiadas

num desenvolvimento sustentável, que tivessem em linha de conta o desenvolvimento

económico, social e onde a preservação da natureza fosse uma constante (Oliveira, 2013).

O elevado crescimento e os seus impactos nefastos excessivos e insustentáveis levaram à tomada

de consciência da necessidade de agir à escala global e local e de refletir para compreender qual

deveria ser o caminho a seguir para se tentarem colmatar algumas marcas menos positivas, que

então predominavam.

Para tal, em 1995, e a partir das recomendações do capítulo 40 da Agenda 21 Global, foi lançado

e criado um projeto que possibilitasse a construção, no prazo de cinco anos (1995-2000), de um

conjunto de indicadores de desenvolvimento sustentável. Neste processo estiveram presentes,

após terem sido convocadas, organizações do sistema das Nações Unidas, organizações

governamentais e não-governamentais.

Guiadas pelos relatórios produzidos pelos diferentes países, iniciou-se o processo de verificação

de quais os indicadores principais. O resultado deste processo resultou na criação de uma

estrutura constituída por quatro componentes – ambiental, social, económica e institucional –

organizada em 15 temas e 38 sub-temas passíveis de cobrir questões comuns a todas as regiões e

países do mundo, num total de 57 (Malheiro et al., 2008; Unidas, 2001).

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

-35-

O paradigma da sustentabilidade passou a ser transversal a todos os setores económicos,

refletindo-se de forma expressiva no turismo, pelo facto deste ser dos setores que mais tem

crescido desde a segunda metade do século XX e ter uma expressão global e local significativas.

Em consequência, o planeamento e desenvolvimento turístico passou a incorporar cada vez mais

preocupações de sustentabilidade, respondendo tanto às necessidades dos destinos, como às dos

“novos turistas” que procuram formas e espaços diferentes dos até então procurados pelo

turismo de massas. Neste sentido, a autenticidade, a descoberta e a aventura, e em simultâneo a

proliferação de nichos, passaram a ganhar relevância.

Esta mudança de mentalidades surge exatamente com a necessidade que foi encontrada de gerar

no turismo atual preocupações como a necessidade de desenvolver e aplicar modelos de

desenvolvimento sustentável, compatíveis com o desenvolvimento económico, conjugados com a

conservação dos recursos naturais e dando também ênfase aos aspetos de ordem social (D.R.E.,

2000; García, 2011).

A OMT, desde a década de 1980 ocupada em desenvolver políticas de sustentabilidade, lançou

um conjunto de propostas para implementação deste novo conceito em que o turismo e o

desenvolvimento deviam basear-se, para serem debatidas na Cimeira do Rio, Agenda 21 em 1992

(Malheiro et al., 2008).

Nesse mesmo ano, a União Europeia, através do Tratado de Maastricht, definiu o conceito de

sustentabilidade, associado aos seguintes objetivos: (i) “a promoção de um progresso económico

e social equilibrado e sustentável; (ii) um crescimento sustentável e não inflacionista; (iii) um alto

grau de competitividade e de convergência dos comportamentos das economias; (iv) um elevado

nível de proteção e de melhoria da qualidade do ambiente e da qualidade de vida”(García, 2011:

5).

Graças a este alcance de notoriedade na discussão lançaram-se as primeiras e mais importantes

pedras para o delinear do verdadeiro caminho a construir e a seguir, de modo a que, num futuro

hoje mais alcançável, se pudesse ter cada vez mais presente, não em teoria mas na prática, um

desenvolvimento apoiado na preservação de valores morais e de bem-estar baseados na utilização

racional dos recursos e dos direitos, em que assentam a liberdade, a justiça, a solidariedade e a

equidade social.

Estas preocupações levaram a que também fossem revistas as políticas de gestão ambiental,

populacional e administrativas, de forma a conseguir-se garantir uma relação harmoniosa entre a

dinâmica da sociedade e a ambiental.

Page 54: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-36-

Motivado pela tão profunda alteração de mentalidades conseguida através do debate sobre

sustentabilidade, o turismo passa a funcionar com base em princípios com ela relacionados e que

são diferenciados por García (2011) da seguinte forma:

A nível social, visam dar às populações as condições essenciais para a melhoria da

qualidade de vida;

A nível económico, contribuem para ser uma solução alternativa destinada a resolver

questões de ordem económica, possibilitando uma maior dinâmica na atividade

económica global;

A nível do território, contribuem para uma melhor ocupação e distribuição das atividades,

a nível regional;

A nível do património, fomentam a proteção do ambiente e valorizam o património

cultural através da intervenção em monumentos muitas vezes degradados pelo tempo e

pela dinâmica social e também pelo estudo da pegada ecológica associado ao

desenvolvimento da capacidade de carga de um destino ou local turístico;

A nível cultural, a sua contribuição é na promoção e divulgação de uma herança imaterial

que acarreta consigo conhecimentos, atitudes e experiências.

Se o turismo e os turistas mudaram, como acima referimos, a emergência do ecoturismo lançado

segundo as bases do turismo sustentável surge acompanhada de uma nova consciência trazida

por parte dos turistas, onde a procura por paisagens, locais, povos, animais e culturas em estado

virgem é uma constante (Cater e Lowman, 1994; García, 2011).

Esta nova forma de turismo define-se como sendo baseada na proteção da natureza, onde a

experiência de viajar para zonas relativamente virgens, não contaminadas e intactas, com o

objetivo específico de as estudar, viver, observar ou simplesmente desfrutar da paisagem, servem

de pretexto para poderem participar ativamente na preservação das áreas protegidas e do

ambiente, em geral (Cater e Lowman, 1994; Honey, n.d; Irving et al., 2005).

A nível económico, o setor do turismo apresenta-se como um elemento diversificador, visto que

gera fluxos de capital para novos locais turísticos e principalmente para locais e áreas mais

isolados. A sua sustentabilidade económica acaba por funcionar de forma muito eficiente e de

grande relevância, pois os recursos presentes em cada destino turístico surgem da criação de

fundos, aumentando a rentabilidade de cada local, ao mesmo tempo que são melhoradas as

possibilidades de preservação e conservação.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

-37-

Deste modo aponta-se esta vertente de turismo – o turismo sustentável – como um elemento que

aumenta os benefícios deste setor, vital para a economia, através da utilização de boas práticas

assentes em normas e sistemas de gestão e na introdução de qualidade nas atividades turísticas. É

também marcado pela diminuição, ao máximo, dos efeitos negativos produzidos por turistas e

pelo turismo (García, 2011; Irving et al., 2005).

2.5 Turismo na natureza

Como já aqui foi referido, o turismo define-se como um movimento temporário das pessoas para

destinos fora do seu espaço habitual, onde realizam atividades que satisfaçam as suas

necessidades (Newsome et al., 2002).

Estes movimentos de diferentes tipos de pessoas levam a que as suas motivações e gostos

contribuam para dois tipos de turismo, onde os turistas procuram experiências de caraterísticas

diferentes.

Se por um lado temos o turismo convencional, representado e caraterizado por uma

movimentação massiva de grande número de pessoas, que ambicionam ir ao encontro da cultura

em locais com pouca interação com cenários naturais, por outro temos o turismo alternativo,

onde o que realmente motiva o turista a sair e a conhecer é a possibilidade de um maior contato e

compreensão das culturas que visita, assim como da possibilidade de conhecer, ver e viver o

ambiente envolvente, o que lhe permite comungar com ele as energias e sensações do espaço

natural (Newsome et al., 2002).

O turismo na natureza surge como associado ao turismo alternativo, visto que ambos partilham

das mesmas filosofias e interesses, como é a sustentabilidade, a proteção e a preservação do meio

ambiente (Priskin, 2001).

O turismo na natureza encontra a sua base de desenvolvimento no turismo responsável, que

ocorre em ambientes naturais previamente selecionados e onde a conservação do ambiente e o

bem-estar das populações locais, sustentáveis a longo prazo, são fundamentais para a

minimização dos impactos por ele provocados nas zonas onde se desenvolve (Lopes, 2013;

TPWD, 2011).

São diversos os fatores que levam a considerar que o turismo na natureza é uma aposta com

grande potencial de crescimento, tornando-se um produto cada vez mais relevante e a ter em

conta no desenvolvimento do turismo a nível mundial, nomeadamente:

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-38-

O turismo na natureza apresenta-se como um dos setores em franco crescimento

(Fredman e Tyrväinen, 2010) como podemos observar nos dados que a OMT apresenta;

O fluxo de ecoturistas no universo global aumenta 20% ao ano. Já em contrapartida o

turismo convencional apenas tem crescido 7,5% no mesmo período de tempo. As

previsões da OMT apontam para que o ecoturismo nesta década chegue aos 10% em vez

dos atuais 5% do turismo mundial (Ventura, 2011).

Um dos maiores problemas do turismo na natureza prende-se com a sua própria definição, já que

até à data ainda não houve nenhuma estabilização em relação ao conceito (Hall, 2006; Lang e

O'leary, 1997; Lopes, 2013; Silva, 2013; Valentine, 1992). No levantamento das principais

referências sobre o turismo na natureza, Silva (2013) chega à conclusão que existem diversas

definições deste produto, com níveis de abrangência distintas (Quadro 2).

Quadro 2| Definições de turismo na natureza (F. Silva, 2013)

Graburn (1983) O turismo na natureza é o turismo praticado em áreas predominantemente naturais, podendo ser dividido em turismo ecológico e ambiental.

Lucas (1984 op. cit. Valentine, 1992: 108)

Turismo na natureza é o turismo que é baseado na apreciação de áreas naturais e na observação da natureza e tem um baixo impacte ambiental.

Laarman e Durst (1987 op. cit. Mehmetoglu, 2007: 651)

Turismo na natureza é um tipo de atividade turística que contém três elementos específicos: educação, animação e aventura.

Valentine (1992: 108) Turismo na natureza está principalmente associado à fruição direta de algum fenómeno da natureza relativamente intacto

Lang e O’Leary (1997) Os turistas com base na natureza são os que viajam para áreas ou destinos naturais

Turismo de Portugal e ICNF (Decreto-lei n.º 47/99, de 16 de

fevereiro; Decreto-lei n.º 108/2009, de 15 de maio)

Turismo de natureza é o produto turístico composto por estabelecimentos, atividades e serviços de alojamento e animação turística e ambiental realizados e prestados em zonas integradas na rede nacional de áreas protegidas, ou noutras áreas com valores naturais, desde que sejam reconhecidas como tal pelo ICNB [atual ICNF].

Mckercher (2002: 17) O turismo na natureza engloba o ecoturismo, turismo de aventura, turismo educacional e uma profusão de outros tipos de experiências proporcionadas pelo turismo ao ar livre e alternativo.

Macouin e Pierre (2003: 1) Turismo de natureza é a forma de turismo em que a motivação principal é a observação e interpretação da natureza.

Tourism Victoria (2008: 10) Turismo na natureza é qualquer tipo de turismo que se baseie em experiências diretamente relacionadas com atrativos naturais.

Fredman et al. (2009, pp. 24-25) Turismo na natureza são as atividades humanas decorrentes da visitação de áreas naturais em lugares diferentes do ambiente habitual dos visitantes.

Bryden et al. (2010: 2) Turismo na natureza na Escócia é considerado todo aquele que implica pernoita relacionada, no todo ou em parte, ao património natural da Escócia.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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O desenvolvimento deste setor do turismo pressupõe a contínua perceção e cuidado no

desenvolvimento de ferramentas que potenciem a melhoria das atividades, para que estas se

apresentem harmoniosamente desenvolvidas em todas as dimensões que as constituem.

As dimensões que este setor do turismo responsável apoia e desenvolve são por isso as mesmas

do turismo sustentável, visto que não pode haver um correto desenvolvimento se este não tiver

presente a dimensão económica, sociocultural e ambiental.

Assim todos os agentes envolvidos e que utilizam e desenvolvem esta franja de turismo devem

ter bem presente, inerentes a si e aos seus negócios, quais as medidas operacionais e as ações a

desenvolver para que este tipo de turismo seja respeitado e defendido, de forma a que a sua

sustentabilidade, a longo prazo, não seja comprometida. Desta forma estaremos a estimular

aspetos relacionados com os benefícios da atividade, seguindo uma lógica de escolha dos

melhores locais para as pessoas que os visitam, mas também para as que lá residem próximo

(DEAT, 2002; ICRT & GTA, 2006; TRTP, 2002).

A filosofia deste turismo carateriza-se pelo desenvolvimento de uma atividade que visa mitigar o

impacto dos aspetos negativos e maximizar os positivos, a nível ambiental, social, cultural e

económico, através do envolvimento da população local (Lopes, 2013).

Esta, ao ser envolvida e estimulada para os benefícios de um desenvolvimento multidimensional

nas suas comunidades, contribuirá de forma motivada para a conservação da natureza e para o

seu melhoramento no acesso a todo o tipo de pessoas, com maior ou menor dinâmica de

mobilidade, através de uma componente operacional. Sem este envolvimento da comunidade

local não poderá existir sustentabilidade do turismo e das zonas que se pretendem proteger.

Graças a este benéfico caminho para o desenvolvimento que foi gerado pelo turismo sustentável,

onde se insere o turismo alternativo e a sua componente turismo na natureza agora em estudo,

acreditamos que o caminho para o sucesso está descoberto, visto que nenhuma das dimensões é

posta em causa (sociais, culturais, económicas, tecnológicas, ambientais e institucionais) como

referem vários autores (Balmford, 2009; Buhalis e Costa, 2006; Lopes, 2013; Rantala, 2011; Silva,

2013), que apresentam também o que levou a que o produto turístico tenda a evidenciar cada vez

mais:

Difusão e divulgação através dos novos sistemas de informação;

Desenvolvimento da indústria dos transportes;

Consciencialização e aposta na preservação ambiental;

As alterações dos padrões de trabalho e dos paradigmas do lazer;

Page 58: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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A aproximação da natureza;

Aumento da importância da prática da atividade física na natureza;

Proteção e valorização do património e dos destinos.

Estas sinergias geradas contribuíram também para o desenvolvimento de um movimento

ambientalista que realça a importância da preservação de recursos naturais e culturais tão

importantes para a oferta turística como a água, praias, neve, florestas, paisagens, grutas, fauna,

geologia e flora, assim como as atividades socioculturais representativas das populações dos locais

visitados.

Desta forma, devemos olhar para o turismo na natureza como um produto estratégico no

contexto do desenvolvimento sustentável, visto que ele, por si só, motiva o setor privado a

financiar e injetar recursos que irão contribuir para o desenvolvimento económico nacional e

local, ao mesmo tempo que promove uma utilização mais sustentável do uso do solo, ajudando e

criando iniciativas de conservação da biodiversidade como são exemplos os diferentes projetos

que têm vindo a ser lançados, como o Project Aware da PADI e Clean up the World, entre

outros (Lopes, 2013; PADI, 1993; Wells, 1997; World, 1993).

Esta nova mentalidade permite-nos sentir a criação de riqueza associada à produção humana de

um bem ou serviço, mas também assente na natureza como um meio para o seu

desenvolvimento.

O turismo na natureza encontra-se no meio deste mundo natural e olha para ele como uma

ferramenta com capacidade para gerar muitos serviços, tornando as áreas “selvagens” do planeta

num dos últimos refúgios para fugir ao stress civilizacional.

Propostas como o prazer de estar na natureza, conjugadas com atividades de observação externa

como a observação de aves, escalada, pesca, caça, BTT, e o surf, certamente encontrarão clientes

que estejam dispostos a pagar um bom preço para experienciar estas sensações e emoções num

dos seus possíveis santuários naturais (Ventura, 2011; Wells, 1997).

Para que esta forma de turismo resulte é necessário que a dimensão institucional funcione, de

forma a que consigam criar-se mecanismos e dinâmicas que promovam adequada coordenação a

vários níveis, desde local, regional, nacional e internacional, bem como acorrer às necessidades

que são sentidas no terreno relacionadas com quem está a trabalhar na prática e a nível legislativo

e de equipamentos (Lopes, 2013).

A maioria das empresas de turismo na natureza são estruturas localizadas em pequenas regiões

rurais ou naturais, onde se encontram os verdadeiros elos de ligação entre os turistas que

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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procuram a natureza e os territórios e onde irão ser desenvolvidos os produtos turísticos que irão

consistir na sua oferta.(Fredman e Tyrväinen, 2010; Silva, 2013)

Normalmente estas empresas encontram-se desenvolvidas a uma pequena escala, muitas vezes

sujeita a acentuada sazonalidade da procura, para além da necessidade de criação de relações com

os proprietários de terrenos, com as entidades gestoras das áreas protegidas, com outros

utilizadores dos recursos ou com organizações de proteção ambiental.

Caso a ligação deste turismo seja voltada à comunidade, certamente que muitas das ligações e

autorizações aqui levantadas serão certamente mais fáceis de conseguir. Para isso existe a

necessidade de haver um envolvimento da empresa na comunidade local e provavelmente o

desenvolvimento de comportamentos simbióticos com o poder local da zona em que se insere,

para que, tendo em consideração as tradições e culturas locais, seja possível potenciar a criação de

um projeto privado construído com base numa iniciativa local acarinhada por toda a população.

Daqui podemos concluir que o turismo e, em particular, a sua vertente turismo na natureza,

representa uma atividade extremamente complexa, que envolve inúmeras áreas de atuação,

levando a que muitas vezes a imprecisão do termo não ajude sobremaneira à tarefa de definição

deste segmento turístico.

No entender de Deng, Turismo de Portugal e Ventura(2002; 2006; 2011), o mais importante a

reter é que não existe forma de turismo na natureza apta a tornar-se sustentável se houver

ausência de um planeamento forte e de envolvência local, acompanhado de uma monitorização

consistente, com avaliação e gestão adequadas.

O turismo na natureza só poderá ser sustentável se os comportamentos dos gestores dos

destinos, stakeholders e turistas for responsável, em termos éticos, ambientais e económicos, por

aquilo que se pretende vender, desenvolver e aplicar no terreno. Só a partir dai poderá consumar-

se o investimento de um país neste setor de turismo (Lopes, 2013).

2.6 Animação turística

O espaço natural é considerado por muitos como o cenário ideal para a prática de desportos de

natureza. Estando na maioria das vezes ligado a turismo na natureza podemos dizer que as zonas,

onde estes irão ter lugar, serão de tipo rural ou em áreas protegidas (Cale, 2012). Estas atividades

hoje consideradas de lazer assumem-se como um setor potencial no desenvolvimento do turismo

(Melo, 2009).

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-42-

Desta forma, encaramos a animação turística como o veículo e suporte para a sustentabilidade do

mesmo, caraterizando a sua atividade pelos seguintes aspetos(Santos e Cabral, 2005):

Ocupação dos tempos livres dos turistas;

Integração dessas atividades com outros recursos das áreas protegidas;

Contribuição para a divulgação e proteção dos recursos locais;

Recurso às infraestruturas e aos serviços existentes no âmbito do turismo

na natureza.

As alterações na forma de ver o turismo e o lazer contribuíram para que a criação de novos

produtos turísticos tivesse lugar em diferentes destinos. Dessa forma foi imperioso que estes se

organizassem e estruturassem, com o objetivo de oferecer serviços mais direcionados para as

expetativas e necessidades desta nova corrente de turistas.

Já que a valorização destes produtos a nível de mercado mundial tem vindo a crescer, aspetos

relacionados com a animação e experiência ambiental, desportiva ou cultural dos visitantes,

seriam um vetor importante para a angariação e fidelização de clientes (Almeida e Silva, 2009:

309).

Encarando estes novos territórios e produtos como as novas atrações turísticas deve haver por

isso um grande investimento neles, sem nunca descurar o futuro da criação de novos produtos

turísticos, visto que é este constante alimentar de novas atrações que vai possibilitar a

sustentabilidade deste setor de negócios (Naidoo et al., 2011: 88). Como evidencia Lopes (2013) a

criação e desenvolvimento destas novas atrações turísticas são observados como fundamentais na

angariação de turistas e de visitantes. Estas lufadas de ar fresco funcionam com catalisadores do

turismo para as diferentes regiões. A ausência destas novas atrações colocaria o turismo face a

uma sua irremediável extinção.

Desta forma e, apesar das marcas identitárias de um destino e a sua singularidade serem uma

mais-valia para captar turistas e recursos, não devemos nunca olhar para elas com estruturas

estagnadas a nível da oferta. Os agentes e organizações que lá estão inseridos devem construir

novas atrações sem que nenhum dos parâmetros da sustentabilidade seja posto em causa. Caso

isso não aconteça certamente iremos assistir a uma diminuição progressiva da procura e como

consequência também a um esvaziamento desse destino (Lopes, 2013; Oliveira, 2013).

Daí que tenha que existir um constante investimento por parte das entidades prestadoras de

serviços de animação turística e dos setores público e privado em infraestruturas, de forma a

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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marcarem a diferença a nível do mercado da oferta turística, apresentando-se com um elevado

nível de atratividade perante regiões em que a oferta se encontra já bem cimentada.

Este equilíbrio é por isso essencial no desenvolvimento turístico, visto que irá obrigar áreas com

produtos já bastante amadurecidos a desenvolverem mecanismos de renovação e

desenvolvimento de novos tipos de produtos turísticos, bem como na introdução de produtos

que tragam novos públicos e que sejam capazes de combater a sazonalidade típica deste setor

(Cale, 2012).

A aposta em equipamentos específicos para o turismo na natureza é essencial para o

desenvolvimento do setor, evitando “o erro de confiar quase exclusivamente no valor intrínseco

da atração dos seus recursos naturais, baseado na sua beleza, singularidade, etc., para atrair

visitantes, descurando a criação de condições necessárias para que, nesses recursos naturais, o

visitante possa viver experiências inesquecíveis”(THR, 2006: 37).

Como temos tido a oportunidade de constatar o setor da animação turística apresenta-se como

um dos elementos fundamentais e essenciais para a criação e valorização das experiências

turísticas, sendo o elemento que complementa e apoia a correta implementação da oferta turística

(Cale, 2012; Lopes, 2013).

Em Portugal, segundo o decreto-lei n.º 108/2009, de 15 de maio, alterado pelo decreto-lei n.º

95/2013, de 19 de julho, consideram-se “atividades próprias das empresas de animação turística,

a organização e a venda de atividades recreativas, desportivas ou culturais, em meio natural ou em

instalações fixas destinadas ao efeito, de carácter lúdico e com interesse turístico para a região em

que se desenvolvam”, onde podem ser praticadas algumas atividades, serviços e instalações de

animação.

Respeitando-se as disposições legais e regulamentares em matéria de ambiente, previstas na lei, irá

também contribuir-se para a preservação do ambiente, tendo sempre em vista a maximização da

utilização dos recursos, de forma a minimizar a produção de ruído, resíduos, emissões para a água

e para a atmosfera, assim como dos impactos no património natural.

Tendo em linha de conta o que foi referido anteriormente, a obtenção de certificação para se

poderem desenvolver atividades na rede de áreas protegidas ficará certamente mais simplificada.

Desta forma, e reforçando o que foi dito, ao abrigo do decreto-lei n.º 95/2013, de 19 de julho,

para que se possam desenvolver atividades em áreas protegidas ou que detenham um estatuto

especial devido à existência de valores naturais, as entidades interessadas deverão requerer, junto

do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), a atribuição de certificação que lhes

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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permita desenvolver neste tipo de territórios as referidas atividades, como podemos constatar

pela presente afirmação encontrada junto do próprio ICNF: “o reconhecimento das atividades de

animação turística e/ou marítimo-turísticas como Turismo de Natureza é obrigatório no

território abrangido pela Rede Nacional de Áreas Protegidas e opcional fora deste espaço.”

O setor da animação turística está assim fortemente associado ao turismo na natureza, que

encontra no desporto de aventura o seu maior suporte para a sua colocação em prática (Burnay,

2006).

O acesso às áreas protegidas é que continua por definir em concreto, o que gera graves

preocupações. Essa dificuldade, aparentemente difícil de transpor, não se prende com a falta de

legislação, antes com a ausência de fiscalização e de capacidade de resposta de que os setores

públicos dão mostras para definirem, com exatidão, a capacidade de carga dessa rede nacional de

áreas protegidas.

Mais do que o respeito pelo código de conduta expresso na Portaria n.º 651/2009, de 12 de

junho, que obriga a um cumprimento integral de um conjunto de normativos assentes na

responsabilidade empresarial e com boas práticas ambientais no âmbito do exercício da sua

atividade, a definição da capacidade de carga turística revela-se primordial.

Segundo a OMT a capacidade de carga turística pode ser entendida como “o número máximo de

pessoas que uma determinada área pode suportar, sem que haja alteração no meio físico, sem

reduzir a satisfação dos visitantes e sem que se produzam efeitos adversos sobre a comunidade

recetora, a economia ou cultura local.”(UNWTO, 2014a). Por sua vez, Oliveira (2013: 25) reforça

a ideia ao afirmar que

o desenvolvimento turístico deverá comprometer-se a utilizar os recursos naturais disponíveis de forma cuidada e

equilibrada e deverá ter em conta a sensibilidade dos mesmos. A partir do momento em que as características dos

recursos naturais são afetadas e a capacidade de carga do local for atingida, irá verificar-se uma degradação dos

recursos utilizados e uma perda da qualidade do produto turístico e da sua experiência turística. Como consequência

da perda de qualidade, irá existir uma diminuição dos níveis de satisfação dos turistas e um declínio nos mercados

turísticos.

Só serão possíveis de antecipar os níveis de saturação dos locais turísticos, se forem

desenvolvidas e aplicadas estratégias de gestão apropriadas (Oliveira, 2013; UNWTO, 2005). O

turismo na natureza, animação turística e o turismo de aventura, são assim três segmentos

extremamente exigentes, tanto a nível das competências técnicas, associadas à prática das

diferentes modalidades e ao socorro, como na inúmera diversidade de saberes teóricos e teórico-

práticos em áreas tão díspares como turismo, ambiente, gestão e dinâmica de grupos,

planeamento, línguas, etc. (Silva, 2013).

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

-45-

Para que todos estes saberes se juntem para a constituição de uma empresa que pretenda

dinamizar estas atividades, torna-se necessário que exista uma reformulação da regulamentação

no setor, visto que a formação e qualificação destes técnicos de animação turística continuam a

ser ignoradas pelas entidades legisladoras, como podemos verificar na nova legislação que vem

substituir o decreto-lei n.º 108/2009, de 15 de maio: 3035. Não se encontra qualquer referência

aos técnicos deste setor.

Enquanto este reconhecimento e importância não forem assumidos, pelo organismo legislador,

não conseguirá assegurar-se um modelo de formação adequado e eficaz.Silva (2013) indica ainda

que “importa atuar no imediato, definindo padrões de prática e competências mínimas dos

técnicos, incentivando mecanismos de formação voluntária, o respeito e a difusão das boas

práticas”.

Caso Portugal não venha a encarar, em concreto, esta lacuna como primordial pensamos que

falar em turismo sustentável será apenas um mero chavão utilizado para vender mais, visto que a

formação de técnicos capazes de desenvolver todo um conjunto de práticas, de que já aqui

falámos no capítulo referente a turismo sustentável, estará posta em causa.

Silva (2013) evidencia ainda na sua tese de doutoramento um conjunto de documentos técnicos e

estudos como “O turismo em Portugal – evolução das qualificações e diagnóstico das

necessidades de formação” (IQF, 2005) e o “Plano Estratégico Nacional do Turismo” (MEE,

2013), onde é referida a falta de experiência e de know-how como uma das principais lacunas na

área do turismo na natureza e de aventura. Paradoxalmente, como refere o autor, o próprio

governo português, apesar de não desenvolver trabalho significativo nesta área, que venha dar

resposta às necessidades identificadas, reconhece como prioridade para o desenvolvimento do

produto turismo de natureza em Portugal, para o horizonte 2015, “melhorar as condições de

visitação dos recursos e a formação dos recursos humanos (MEE, 2013: 50; Ministério da

Economia e do Emprego, 2013)”.

As incongruências em torno da identificação das necessidades versus ação são também patentes na

gestão turística de diversas regiões, como é o caso da Região Autónoma dos Açores, onde, a

propósito do turismo na natureza, a maior parte dos especialistas da área fala dela como sendo a

região onde o principal enfoque deveria centrar-se no desenvolvimento de produtos com ele

relacionados.

Acontece que depois a aposta tem sido essencialmente direcionada para o touring, o turismo na

natureza especialmente na modalidade soft, assim como para produtos de turismo de saúde e

Page 64: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-46-

bem-estar, sem dar a atenção devida a muitos outros nichos e segmentos do turismo na natureza

(Silva, 2013).

No entanto, apesar de ter sido grande, nos últimos anos, o crescimento do número de empresas

de animação turística, ainda se encontra fora da sua alçada uma grande parte dos praticantes de

desportos na natureza que não recorreram aos serviços disponibilizados por elas. Como

resultado, estes veem-se forçados a atuar de forma autónoma ou através de atividades

organizadas por clubes e associações (Silva, 2008). Contudo, como estamos perante um setor de

eleição, é de acreditar que a situação possa alterar-se, no futuro, pois existem ainda muitos

possíveis clientes para captar, o que permitirá ainda retirar muitos dividendos, que sejam

apelativos para empresas e praticantes (Melo, 2009).

O desenvolvimento e aplicação da atividade de turismo na natureza, que se encontra diretamente

relacionada com a área da animação turística, está igualmente dependente de outros fatores, casos

da legislação e regulamentação do setor (Anexo II).

2.7 Mercados e tendências da procura no turismo

2.7.1 Tendências e procura no turismo

No seu relatório de 2012, o panorama apresentado para o turismo pela UNWTO é algo de

excecional, visto que nesse ano as economias emergentes revelaram um crescimento de 5%,

quando comparadas com as economias mais avançadas, que, por sua vez, apenas registaram um

crescimento de 4% (UNWTO, 2012). Além disso, a Europa continuou a apresentar-se como o

destino mais visitado no mundo, deixando os seus mais fortes concorrentes a cerca de três

pontos percentuais.

Outros indicadores positivos deste panorama geral estão nas receitas do turismo internacional,

que batem um novo recorde, em 2012, ao atingirem o montante de um bilião de dólares

(aumento de 4% em relação a 2011) e apresentando um crescimento estimado de 3 a 4% em

2013.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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Figura 4| Previsões do turismo para 2020 (UNWTO, 2014c)

A UNWTO (2014c), tendo sempre o futuro do turismo em mira, apresenta as seguintes previsões

de crescimento, a longo prazo, com 2030 como meta em vista:

Estima que o turismo internacional chegue a 1,4 biliões de dólares, em 2020, e 1,8 biliões

em 2030;

Mais de 5 milhões de pessoas atravessarão as fronteiras internacionais para realizarem

uma viagem de lazer, negócios ou com outras propostas;

Em 2015 espera-se que as economias emergentes recebam mais turistas internacionais do

que as economias avançadas;

Viagens com a intenção de visitar a família, por motivos de saúde ou envolvendo

propósitos de crença ou de religião, entre outros, terão um crescimento mais rápido do

que as viagens, onde o objetivo principal serão o lazer ou os negócios.

Aliás, uma das principais preocupações da UNWTO aponta para o turismo sustentável como

caminho para o desenvolvimento a longo prazo. Ora, tendo em conta que a resolução de

Milestone reconhece o ecoturismo como a chave e o instrumento para o desenvolvimento e

crescimento em diferentes áreas, a UNWTO apresenta algumas recomendações, tais como:

Planos Nacionais de Turismo de acordo com as necessidades de mercado e como forma

de apresentar vantagens competitivas;

Os incentivos governamentais como forma de promoção do ecoturismo.

Visto que o caminho a escolher deve ser o do turismo sustentável, iremos portanto excluir uma

abordagem direcionada para o turismo de massas, demasiado economicista e que deixa para trás

questões tão importantes como os impactos ambientais e socioculturais sobre o destino.

Page 66: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-48-

Como temos afirmado, ao longo deste trabalho, o mundo do turismo tem vindo a registar

constantes mutações, daí que o turismo de massas não corresponda aos objetivos do seu

crescimento presente, face aos aspetos negativos que encerra, pelo que tende a cair em desuso,

em detrimento de um turismo alternativo emergente.

Mendonça (2002: 4) reforça a ideia ao dizer que: “no princípio, a indústria oferecia apenas o

turismo em massa. Em função de vários problemas decorrentes dessa modalidade, como custos

de congestionamentos, limites sociais e destruição ambiental, surgiu um turismo alternativo em

contraposição ao primeiro.”

Desta forma, o turismo alternativo carateriza-se por possibilitar experiências pessoais, sociais e

culturais autênticas, num território virgem e preservado, capaz de mostrar e ao mesmo tempo

acautelar as suas verdadeiras marcas identitárias como caminho para o seu sucesso, a longo prazo.

Esta nova tendência vai ao encontro do que é referenciado no relatório (WTTR, 2012), onde o

consumidor pretende beneficiar de mais e melhores experiências, sentidas como autênticas e

únicas nas suas viagens, numa palavra, é isto que o novo turista procura nestes novos destinos.

No seu relatório sobre Green Economy (Economia Verde) para o turismo, publicado em 2011, a

(UNEP, 2011) destaca exatamente esta preocupação, apontando como garantia de futuro que o

investimento no turismo sustentável tenha a capacidade de funcionar como catalisador, potencie

o crescimento e fortalecimento das estruturas locais, faça com que a economia se fortifique,

gerando com isso a capacidade de criação de mais emprego.

Todos estes propósitos têm sempre, como linha de horizonte a atingir, a proteção e preservação

cultural e ambiental, com enfoque na sustentabilidade do turismo apoiada nas três vertentes base

do turismo sustentável em que o desenvolvimento é visto, ou seja, apoiando as estruturas

económicas, sócio-culturais e ambientais.

É assim que estas mudanças de paradigma, estas novas tendências, dão lugar à criação de novos

produtos que visam abranger este novo mercado, que se fortifica a cada dia que passa e que,

alicerçado no turismo alternativo, encontra no ecoturismo, turismo em espaço rural, agroturismo

e na parceria com o turismo na natureza, o caminho favorável para a sua implementação e

crescimento. A preparação destes novos produtos/oferta pressupõe obrigatoriamente

componentes materiais (produtos, serviços e eventos) e imateriais (a imagem e a marca).

Estes novos destinos emergentes, para atraírem recursos externos, irão precisar de oferecer

condições que se adequem aos desejos e particularidades específicas de cada um e de tratar da sua

própria imagem de marca.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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Este aspeto é talvez umas das peças mais decisivas do sucesso de qualquer destino, visto que as

informações, impressões, ideias e crenças, que formos criando em seu redor, serão o alimento

para o seu fortalecimento no futuro.

Neste momento torna-se necessário compreender a tendência do mercado para a procura do

turismo na natureza, nos planos nacional e mundial. De acordo com o que é referido pelo

relatório (TP, 2006) este setor do turismo apresenta-se como uma aposta que vale cerca de 22

milhões de viagens, de uma ou mais noites de duração, na Europa, o que constitui

aproximadamente 9% do total das viagens de lazer realizadas pelos europeus.

De referir também que, através da análise de dados apresentados no mesmo relatório, mas

utilizando como fonte de informação o ATHR, as viagens de turismo na natureza apresentaram

um crescimento situado em 7% ao ano, entre 1997 e 2004.

Podemos assim dizer que este setor de aventura apresenta um crescimento rápido (Balmford,

2009) através dos dados anteriormente apresentados, em que os turistas veem nas novas

experiências uma forma de ajudar e proteger as comunidades locais e o ambiente.

É assim que Chris Doyle, Diretor Executivo da Europe US-Based Global Adventure Travel

Trade Association afirma no relatório da (WTTR, 2012: 21) que “ o mercado da aventura é maior

do que muitas pessoas acreditam, apresenta um volume de negócios estimado em 89 biliões de

dólares, o que representa uma taxa de crescimento de 17% .”

Desta forma, dando expressão a estas novas tendências do turismo, que o fazem evoluir de um

turismo de massas para um turismo alternativo, assente na valorização fundamental da

componente natureza, no turismo sustentável, pensamos que a aposta em ofertas inovadoras e

capazes de motivarem a circulação de turistas, ao longo de todo o ano, constituirá a chave e o

segredo para o sucesso deste mercado tão promissor.

2.8 O novo turista

A questão aqui proposta como área de reflexão prende-se com a emergência de um novo

mercado de procura turística, que se pretende afastar das conexões com o rotulado turismo de

massas.

Antes de enveredarmos pela descoberta do que é que estes novos turistas procuram, acreditam e

o que os motiva, torna-se imperioso levantarmos aqui um conjunto de perguntas que nos

permitam analisar melhor os conceitos até aqui abordados.

Page 68: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-50-

Assim, será que se poderá afirmar que o turismo de massas é sustentável? Ou será possível que o

turismo sustentável possa ser massificado?

São duas perguntas que apesar de simples envolvem conceitos que hoje se querem distantes, mas

que acabam por necessitar de adequada convergência para que a sustentabilidade de ambos possa

existir.

Se por um lado os operadores necessitam de uma estrutura económica que os alimente, por outro

lado não querem deixar de fornecer um produto genuíno, personalizado e respeitador das três

dimensões principais para o garante da sustentabilidade, sendo elas a dimensão económica,

sócio/cultural e ambiental, caraterísticas essas do turismo sustentável.

Já da parte do turismo de massas a quantidade de turistas é o que interessa, mas por outro a perda

da sua singularidade como local e como região leva a que, a curto/médio prazo, os turistas

percam interesse pelo destino em causa e deixem de o visitar tantas vezes.

Desta forma, afigura-se fundamental o respeito pelos principais padrões de qualidade ambiental e

cultural, o reconhecimento e promoção da identidade cultural dos destinos, a preservação das

estruturas ecológicas fundamentais, a infraestruturação adequada e eficiente, a disponibilização de

serviços eficazes. É aqui que o turismo sustentável se afasta do turismo de massas.

Perante duas visões diferentes de como fazer turismo importa criar regulamentação adequada,

que não os destrua, antes os complete, ou seja, respeitando embora os seguidores do turismo de

massas, que se garanta ao turismo sustentável condições para se afirmar com as suas caraterísticas

próprias.

Se para cada destino e para cada local for definida uma correspondente capacidade de carga,

certamente que se conseguirá ir ao encontro dessa oferta sem comprometer a integridade da sua

dimensão sócio/cultural, ambiental e económica. É para isso que devemos trabalhar, ao mesmo

tempo que importa legislar, como se disse, para que esse anseio se torne em realidade.

É assim que esta noção de turismo sustentável conduz ao aparecimento de uma nova classe de

turistas, que assim procura novos mercados, abandonando os atualmente banalizados por todos,

em busca de outras experiências que lhes possibilitem um contato mais direto com as realidades e

vivências dos locais que visitam, associadas ao respeito por uma conduta de proteção e

preservação do meio ambiente.

É esta a relação que existe entre estes novos turistas e o conceito de turismo sustentável, que tem

sido alvo de aturada análise por diversos especialistas à procura da forma de como os designar

melhor e que os afastam do chamado turismo de massas.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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Alguns apontam-nos como “consumidores verdes”, mas, em geral, os dois nomes mais utilizados

são os de “novo turista” ou “turista verde” (Lima e Partidário, 2002).

Esta discussão remonta já aos princípios da década de 90, já que as suas referências começaram a

aparecer, desde então, através de alguns autores como (Batista, 2010; Boniface e Cooper, 2001;

Swarbrooke, 1999; Webster, 2000).

Como resultado da crescente tomada de consciência dos consumidores pelas questões

relacionadas com a importância e preservação ambientais e da alteração do paradigma social

apoiado em ideologias “verdes”, o chamado “novo turista” encontra na criação de pequenos

grupos de viagem uma solução para a satisfação das suas motivações, desse modo conseguindo

distanciação face aos “turistas de massas”.

O seu grau de influência sobre os mercados que procuram incessantemente turistas, leva a que

estes modifiquem o sentido das suas apostas, criando novos produtos, de forma a captarem os

turistas pertencentes a este novo segmento de mercado, que se mostra altamente promissor para

as próximas décadas e alternativo ao turismo de massas (WTTR, 2012).

Esta revolução turística põe em marcha a necessidade de se compreenderem as caraterísticas

desta nova procura turística. Desta forma torna-se necessário diferenciar os diferentes tipos de

turistas quanto ao seu perfil psicográfico, para o que irei basear-me em Gazoni (2006) e em Plog

(1998):

Quadro 3| Perfil Psicográfico dos turistas (Gazoni, 2006; Plog, 1998)

Perfil Psicográfico Caraterísticas

Alocêntricos

Procuram contextos diferentes do seu ambiente e cultura;

Procuram destinos exóticos;

Têm maior poder económico;

São denominados de aventureiros;

Requerem poucas infraestruturas turísticas;

São autoconfiantes;

Preferem grupos pequenos;

São intelectualmente curiosos;

Procuram lugares únicos;

São incansáveis na procura de novos destinos.

Mesocêntricos

Procuram os locais da moda;

Procuram satisfação;

Diversão é a sua maior motivação;

Os locais para onde se deslocam são caraterizados pelo elevado número de pessoas;

Não dispensam boas infraestruturas turísticas;

Viajam em grandes grupos;

A sua capacidade monetária é média;

São eles os responsáveis pela massificação do turismo nos diferentes destinos.

Psicocêntricos Procura de ambientes familiares;

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-52-

Elevada necessidade de infraestruturas turísticas;

Procuram sempre os mesmos locais.

A partir dos perfis apresentados no quadro acima, o “novo turista” – segundo Weaver &

Oppermann (2000 cit. por Lima e Partidário, 2002: 9) – coincide com o turista alocêntrico.

Boniface (2001: 20) enfatiza que as suas caraterísticas de flexibilidade, como conhecedor e

pesquisador de qualidade nos destinos, fazem dele um reflexo da mudança do estilo de vida

operado pela sociedade.

O comportamento dos consumidores mudou o mercado, que assim está, por assim dizer, mais

verde, mais consciente dos limites do nosso planeta e em que o turismo faz parte de uma

dinâmica social, que – como ele – se torna um reflexo dessa mudança.

Como defendem os diferentes autores aqui apresentados, esta máquina global mostra-se em todo

o lado a partir do momento em que é aplicada a política dos 3R’s (Reduzir, Reutilizar e Reciclar)

em toda a máquina turística. A adoção destas práticas ambientalmente responsáveis, a introdução

de códigos de conduta e a implementação de programas como o Green Globe, Projet Awar,

Clean Up the World, colocam estes turistas mais em sintonia com os movimentos ambientalistas.

Assim, segundo (Webster, 2000: 176), este tipo de turista tenderá a não procurar produtos que:

Ponham em risco a saúde do consumidor ou de outros;

Degradem o ambiente;

Sejam despesistas em relação à quantidade de energia que utilizam;

Utilizem materiais não sustentáveis e desrespeitadores dos Direitos dos Animais e

Humanos;

Onde não se vejam meios para atingir os fins, mesmo que isso implique prejudicar outros

países ou mercados.

Se olharmos para os diferentes mercados, através de Lima (2002), verificamos que os alemães,

estando ou não dispostos a pagar mais pelo ambiente, são exemplos dos que pugnam por

requisitos de qualidade ambiental no desenvolvimento da atividade turística.

Já Swarbrooke (1999: 205) indica que os turistas britânicos, de uma forma geral, são menos

sensíveis às questões relacionadas com o ambiente.

Parafraseando Maison de la France (1998 cit. por Lima e Partidário, 2002) existe uma diferença

clara entre povos escandinavos e germânicos (Dinamarca, Suécia, Alemanha, Suiça, Áustria,…), e

anglófonos (Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Austrália, ...).

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural

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Os primeiros povos – escandinavos e germânicos – revelam preocupações ambientais muitas

vezes determinantes para a sua mudança de hábitos, já que reconhecem que existe uma

necessidade de preservação e proteção ambientais.

Em contraponto, a sensibilidade ambiental é menos efetiva nos povos anglófonos, o que os

coloca num patamar mais abaixo do grupo dos países do sul da Europa, para quem essas

preocupações são prioridades a cumprir (Lima e Partidário, 2002).

Se queremos então captar o “novo turista” devemos ter em consideração, e de acordo com

Batista (2010: 53), os seguintes fatores:

Diversidade dos recursos naturais - ecossistemas, flora e fauna;

Existência de Áreas Protegidas;

Respeito pelas condutas de proteção e preservação da natureza;

Boas acessibilidades;

Limpeza e conservação das zonas envolventes.

Estas modificações nas estruturas turísticas revestem-se de grande importância, dado que,

segundo Weaver & Oppermann (2000 cit. por Lima e Partidário, 2002: 23), o crescimento deste

novo mercado apresenta-se com enorme rentabilidade e sustentabilidade, a longo prazo, mas que

antecipadamente pode começar a ser trabalhado, no curto prazo, desde que tudo se faça para o

aprofundar no sentido de mais e melhor turismo (WTTR, 2012).

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Marketing e Mercados

-55-

3 MARKETING E MERCADOS

Já não basta simplesmente satisfazer clientes. É preciso encantá-los.

Kotler (2000 cit. por Kotler, 2006)

3.1 A importância do marketing

O mundo do turismo, cada vez mais global em oferta e em procura, exige que todas as empresas

turísticas, independentemente da sua dimensão, devam estar estruturadas e concebidas a partir

das novas realidades existentes neste mercado, onde os consumidores têm uma visão

crescentemente pluridimensional e onde são eles também que ditam as regras e as necessidades

sentidas nos diferentes mercados (Abreu e Costa, 2000; Pimentel, 2013; Santos, 2011).

Assim, as empresas de turismo olham para as férias, short breaks, eventos, turismo de negócios,

religioso, saúde e bem-estar, como tendências que lhes permitem criar ofertas de acordo com os

interesses dos turistas e tentando cada vez mais personalizar o produto oferecido. Estas

exigências obrigam a uma planificação mais inovadora e cuidada, assim como a uma nova atitude

no marketing turístico com vista ao alcance das expetativas deste novo turista.

O mercado hoje é extremamente competitivo levando a que as empresas encontrem no

marketing a base que lhes irá permitir assumir e ter uma atitude competitiva, que não é mais do

que a afirmação dessa empresa ou organização pela sua capacidade de gerar produtos

internamente, que tenham a capacidade de competir com outros similares, desenvolvidos no

exterior e pela concorrência (Kotler, 2006).

Por isso, torna-se importante definir o conceito de marketing como elemento chave que irá

ajudar as empresas a assumirem e a demonstrarem o seu papel competitivo. Kotler e Armstrong

(1998 cit. por Pimentel, 2013) apresentam o conceito de marketing como um processo social

através do qual indivíduos ou grupos sociais encontram ou produzem ofertas, ao ponto de

satisfazerem os seus desejos ou irem ao encontro dos desejos de outros. Para Kotler o conceito

de marketing permite o alcance dos objetivos organizacionais, através do estudo das expetativas,

determinações, necessidades e desejos dos mercados-alvo, conseguindo proporcionar-lhes a

satisfação desejada de uma maneira efetiva, eficiente e eficaz.

Já para Cobra (1993 cit. por Abreu e Costa, 2000) o marketing não é só publicidade ou

simplesmente venda. O marketing tem a capacidade de agregar todas as forças e de as colocar no

produto que aparecerá no momento certo e à hora exata. Ele não é só um exercício de

Page 74: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-56-

negociação entre produtores e distribuidores, é uma filosofia de trabalho, uma forma diferente de

estar nos mercados e que obriga a que todos os que trabalham nessa empresa ou organização

partilhem da mesma filosofia e que pensem e ajam de acordo com os valores de marketing.

Por sua vez, para El-Check (1991 cit. por Abreu e Costa, 2000) o marketing é a ciência que

estuda em primeira instância as necessidades, desejos e objetivos dos diferentes consumidores e

que daí apresenta um produto cuidado que irá dar uma resposta clara ao que foi estudado. Assim,

o marketing apresenta-se como uma forma empregue pelas empresas para desenvolverem

estratégias de condução de negócios, que lhes venham a assegurar sucessos no futuro.

Em suma, o marketing tem como principal objetivo descobrir os desejos e motivações dos

clientes, ou seja, apresentar ofertas capazes de os satisfazerem, desse modo criando-lhes valor

acrescentado, transformando-se numa forma de ganhar vantagem competitiva e por

consequência maior rentabilidade com o objetivo final de obter mais e melhor lucro (Abreu e

Costa, 2000).

Como refere Pimentel (2013: 5), “o enfoque da gestão deve ser na satisfação das necessidades dos

clientes e para isso é fundamental conhecer de forma aprofundada o mercado e criar propostas

de valor”.

Nesta filosofia trabalha-se em primeiro lugar para as necessidades e gostos do consumidor e não

para aquilo que o empresário gostaria de fabricar. Assim podemos dizer que o marketing é de

extrema importância para os mercados industriais e para os de consumo final; para os mercados

de indústrias de serviços e para os de indústrias de bens; para as pequenas, médias e grandes

empresas; para organizações sem fins lucrativos e para as que trabalham com base neles; para

compradores e para vendedores (Abreu e Costa, 2000; Santos, 2011).

Daí que tenha surgido a necessidade de lançar um plano de orientação que apresenta lógicas de

trabalho que, embora diferentes, acabam por ser subjacentes à evolução do marketing (Abreu e

Costa, 2000):

Orientação para a produção – Falamos aqui numa produção em massa onde a oferta é

maximizada com vista à redução de custos. Assim, quanto maior for o número de

turistas, mais lucros se conseguirão como resultado dos gastos de produção aparecerem

minimizados. Este tipo de oferta leva a que, a médio prazo, surja uma deterioração física

e cultural do destino, o que leva a que, progressivamente, esse excesso de oferta

descaraterize o destino;

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Marketing e Mercados

-57-

Orientação para a venda – Quando surge a descaraterização do destino, as organizações

apostam em soluções de incremento de ações promocionais. Aqui o marketing funciona

como elemento causador de pressão sobre o mercado, tentando aliciar o turista a voltar

ou a vir conhecer o destino. O que podemos ver aqui é um produto que a empresa

constrói no seu seio para o mercado, independentemente das suas necessidades e

motivações;

Orientação para o cliente – Esta é a filosofia atual da maior parte das organizações, visto

que o enfoque está no turista, que é o centro de tudo. É ele quem determina as tendências

de mercado e, a partir delas, cabe ao marketing identificar as suas necessidades, desejos e

objetivos para os satisfazer. Para tal, utiliza-se a ferramenta marketing mix que se baseia

nos 4 Ps (product, price, place e promotion), que são apresentados - segundo Buhalis (2000) -

como ferramenta que “depende das características de cada destino/produto, assim como

das características dos mercados-alvo” e que irá desempenhar um papel fundamental em

informar sobre produtos e serviços prestados; promover a experimentação, estimulando a

compra; preparando a venda e efetivando-a; promover a fidelização; combater a

sazonalidade; promover a imagem e a sua implantação no mercado; transmitir confiança;

envolver e integrar os colaboradores como forma de garantir uma imagem forte e

mostrando as mais-valias em relação a destinos concorrentes (Pimentel, 2013);

Orientação do marketing social – Este é o elemento que vem reforçar o anterior e

permite assegurar, a cada turista, condições de bem-estar junto da comunidade local.

Através do marketing social trabalha-se também, através de um modelo de

desenvolvimento assente nas premissas da sustentabilidade, para que exista uma melhoria

da qualidade de vida dos turistas e da população recetora.

A mensagem a que Kotler (2006), entre outros autores aqui abordados, dá expressão é que, de

facto, o cliente é o centro e a razão de existir de uma empresa deste tipo. A tarefa do marketing

vai no sentido de pensar a realidade do consumidor e alinhar a empresa com vista ao

desenvolvimento de ofertas inovadoras que sejam relevantes e atraentes para os clientes, ou seja,

garante às suas necessidades e desejos a capacidade de funcionarem como os motores do

negócio.

Page 76: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-58-

3.2 Construção de uma imagem

O turismo, como qualquer outra área que esteja implementada no mercado, vive essencialmente

da imagem que consegue transmitir para o seu público-alvo. Cada atividade terá assim

necessariamente de criar as suas imagens que sejam suficientemente apelativas junto dos agentes e

dos mercados que pretendam influenciar.

O processo de criação de imagens irá proporcionar um juízo de valor por parte do potencial

turista. O desafio não fica apenas restrito ao momento da criação, pois o que se pretende é que

essa imagem criada seja capaz de refletir, a longo prazo, a qualidade e a confiabilidade dos

produtos que representa, ao assegurar um selo de prestígio à marca que ostenta essa imagem

(Pimentel, 2013; Pimentel et al., 2006).

Qualquer marca vive do produto que apresenta e também da imagem que tem agregada a si. Se

por um lado as marcas têm como principal função a identificação e diferenciação do fabricante

perante os seus concorrentes, por outro facilitam ao consumidor a tarefa de efetuar a sua escolha,

já que a imagem de qualquer marca é única e reservada, servindo para a proteger, o que ajuda a

evitar que o consumidor, de forma inadvertida, adquira imitações (Santos, 2011).

Torna-se por isso importante apresentar o conceito de imagem em turismo, que surge construída

através da representação mental cognitiva e afetiva, que o turista produz na sua mente sobre o

destino turístico da sua preferência (Baloglu e McCleary, 1999). Como se trata de uma construção

individual, essa imagem irá exercer uma forte influência na forma como o turista procederá às

suas escolhas (O'Leary & Deegan, 2003 cit. por Matos et al., 2012: 1).

A reflexão leva-nos a perceber que a imagem condiciona o comportamento do turista e a sua

capacidade de decisão no momento em que a escolha dos destinos tem de ser feita, afetando por

isso o consumo efetivo (Beerli e Martın, 2004).

Como a perceção da imagem corresponde a algo de muito pessoal, envolve um conjunto de

diversas informações, que terão fundamentalmente a ver com história, motivações, experiências,

gostos, etc. O marketing, como forma de a promover e impor, surge através do elemento que seja

capaz de medir e de estabelecer o perfil mais difundido no mercado.

A partir do momento em que a imagem seja definida torna-se importante que, ao longo dos

tempos, ela se torne um elemento estável e caraterístico da marca ou produto que a ela estiverem

associados, o que implica que a imagem deva ser vista como “a expressão dos conhecimentos e

atitudes dos consumidores relativamente à marca” (Lindon e Freitas, 2004: 181). Sem a

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Marketing e Mercados

-59-

estabilização dessa imagem o cliente ou os mercados não conseguirão criar laços de empatia

capazes de os fidelizar ao que lhes está a ser apresentado.

Assim, se a empresa conseguir compreender como é que essa marca é vista pelo mercado e pelos

potenciais consumidores, esta será detentora de elementos essenciais que lhe irão permitir

desenvolver, adaptar ou fazer evoluir o seu posicionamento estratégico (Serra e Gonzalez, 1998

cit por Pimentel (2006).

Segundo Echtner & Ritchie (1991 cit. por Kastenholz, 2002), a imagem de um destino pode ser

vista segundo três dimensões:

Cognitiva, com padrões, atributos e perceções derivados do conhecimento que se tem do

destino e através das caraterísticas palpáveis que este oferece (Smith, 2006);

Afetiva ou avaliativa, associada às suas caraterísticas, vistas como um todo, e aos seus

aspetos psicológicos e emocionais como sentimentos e emoções associados ao destino;

A ideia de imagem comum como a que está envolta na sua singularidade e unicidade.

Pimentel (2006) e outros pesquisadores defendem que a imagem de marca pode estar relacionada

com aspetos ambientais, a satisfação do consumidor e a sua tomada de decisão. Daí que a maioria

das imagens seja estudada na ótica de como o visitante as perceciona e das sensações que o

destino lhes transmite.

Hoje em dia a maior parte das marcas de destinos turísticos aponta as suas imagens para

conceitos, entre outros, como clima, hospitalidade, natureza, relaxamento, preço ou valor

acrescido, atributos esses colocados perante os potenciais clientes, que as investigam, inseridos no

processo de gerar uma expetativa do local, que torne assim possível, a quem nunca lá tenha

estado, poder imaginar e ganhar interesse pela vivência do destino, meio caminho andado para o

querer ir visitar (Kastenholz, 2002).

Em conclusão, a imagem de marca de um destino ou de uma empresa turística corresponde à

forma como o cliente ou consumidor a perceciona de uma forma global, assim como a representa

mentalmente através do que ele sabe, conhece ou sente sobre o destino a escolher.

Esta é sem dúvida uma ferramenta para o sucesso de qualquer destino, já que é a partir dele que

se faz a diferenciação de acordo com a concorrência. Por isso, as políticas de criação desta

ferramenta de marketing devem estar assentes em propostas inovadoras e criativas, que serão

pontos decisivos para garantir a afirmação do destino ou empresa num mercado cada vez mais

competitivo (Gândara, 2007).

Page 78: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-60-

3.3 Construção de produtos turísticos

A grande questão deste terceiro capítulo está centrada no marketing como conceito

extremamente importante para qualquer empresa ou organismo.

O marketing é a ferramenta essencial para a compreensão do mercado, para que daí possamos

escolher qual o segmento de negócio a dar preferência e que mais-valias importam captar para

conseguir a atenção dos potenciais clientes. Para isso torna-se imperioso abordar o tema da

imagem de marketing para se compreender qual o seu papel fundamental e forçosamente

orientado para o mercado onde pretendemos entrar.

Mediante esta estratégia ficaremos aptos a saber para onde queremos ir e onde deveremos

investir para fazer face à concorrência. Ficaremos também na posse de informação valiosa, que

nos permitirá criar aquilo que a nossa empresa ou organização quer colocar no mercado para

venda.

Posto isto, importa aprofundar o conceito de produto, já que sem este nada existe que nos

permita entrar em relação com o cliente. Silva et al (2001 cit. por Ladeiro, 2012) indica que os

produtos turísticos devem ser divididos em dois grandes grupos:

O produto global - Este produto é constituído por tudo o que o destino turístico oferece

e acaba por ser experimentado pelo turista. Esta oferta resulta da combinação de

elementos tangíveis e intangíveis, no todo ou isolados, captados pela imagem global do

turista;

O produto específico – Corresponde a bens ou serviços não integrados, que podem ser

comercializados separadamente. Na realidade, acabam por ser todos os bens e serviços

que giram em torno de um destino e que sendo a base estrutural da oferta turística são os

elementos potenciadores da cadeia de valor que o turista vivencia.

As grandes diferenças que existem entre os produtos turísticos e os produtos apresentados fora

do panorama turístico são as seguintes, segundo Cooper (2008):

No primeiro caso, são bens de consumo abstrato, uma vez que comprados a priori e

consumidos a posteriori;

No segundo, o produto só pode ser consumido no local onde se encontra

geograficamente localizado.

Segundo Kotler (2006), o produto é definido como algo que pode ser um serviço, um carro, um

apartamento, uma pastilha elástica, uma ideia. No fundo, segundo estudos feitos em

Page 79: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Marketing e Mercados

-61-

conformidade, qualquer coisa que a nossa empresa queira colocar num mercado visando a

satisfação de um desejo ou de uma necessidade encontrada.

Ao mesmo tempo que criamos um produto temos de ter uma ideia concreta que, para que este

vingue no mercado, deverá estar associada a uma estratégia que permita à empresa, de forma

simples e clara, vender cada uma das suas caraterísticas.

Nesta estratégia devem estar bem expressas as necessidades e desejos dos consumidores que

estudamos no momento da criação do produto. Para se viabilizar toda essa estratégia de venda de

um produto torna-se imperioso criar uma imagem e uma marca que o suporte.

Esta tarefa ficará a cargo de designers postos ao serviço de criatividade e inovação suficientes para

lançarem no mercado o referido produto, apresentado de forma diferenciada e capaz de ser

valorizado e aceite perante a concorrência (Costa, 2010). Nada pode ser deixado ao acaso, pois o

mercado de hoje, fortemente globalizado e competitivo, nunca perdoará falhas na conceção da

qualidade dos produtos.

Por isso é que Cooper (2001) apresenta treze pontos fundamentais para que não possam existir

essas falhas no processo de desenvolvimento de um produto:

Monitorização inicial;

Análise preliminar do mercado;

Análise tecnológica preliminar;

Estudos de mercado;

Análise de negócio e da atividade da empresa;

Desenvolvimento de produto;

Testes internos;

Testes em clientes chave;

Testes de marketing e de vendas;

Pré-produção;

Análise de pré-vendas;

Lançamento da produção;

Lançamento no mercado.

Dessa maneira, a criação de novos produtos terá em conta o real valor que o consumidor lhes

atribuirá, assim como o seu grau de qualidade e eficiência. É assim que, quando pensamos em

mercados, devemos avaliar cuidadosamente todos os fatores que os podem influenciar como a

Page 80: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-62-

competitividade, a concorrência e a sua taxa de crescimento, para que daí se possa elaborar um

bom plano de marketing.

Em conclusão, o verdadeiro segredo de qualquer produto, que seja apresentado ao mercado e aos

clientes, reside na sua conceção e desenvolvimento, capazes de lhe assegurar um grau aceitável de

novidade, de autenticidade e de um tal sentido de inovação, que o diferencie dos demais (Alves,

2004; Costa, 2010).

3.4 Canais de comunicação

Não poderia terminar este capítulo sem dar ênfase ao verdadeiro colosso de vendas, por todo o

mundo, de produtos turísticos via internet. Cruz (2003) mostra, através de dados concretos, que

esta janela para o mundo não se trata de um mito, antes mesmo de uma realidade, pois o

consumo mundial com turismo apresentou um crescimento, em média 5% ao ano, enquanto o

consumo de produtos turísticos através da internet aumenta em 47%, quando nos reportamos ao

ano de 2004, o que conduz a um resultado global de 20%, tendo em conta o consumo total de

produtos e serviços.

Ladeiro (2012) indica ainda que o crescimento incomparável desta ferramenta representa milhões

de pessoas e organizações, a diferentes níveis e com diversos propósitos, que passaram a

encontrar na sua utilização uma importância extrema para estarem atualizados e conectados ao

mundo.

As novas tecnologias de informação e comunicação possibilitam novas oportunidades e

revolucionaram os modos tradicionais de atuação, o que se tornou num fator determinante para

um posicionamento competitivo num mercado complexo e em constante evolução (Ladeiro,

2012).

A internet apresenta-se associada a um conjunto de vantagens ímpares no mundo atual, que

Lavaredas (2010) enuncia da seguinte forma:

Entrada facilitada em novos mercados;

Conquista de novos clientes;

Estabelecimento de relações com novos fornecedores;

Estabelecimento de novas alianças e parcerias;

Implementação e exploração de novos produtos e serviços;

Ausência de limites materiais, geográficos ou temporais;

Redução do tempo de resposta.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Marketing e Mercados

-63-

Com estas vantagens colocadas à disposição de toda uma atividade, sedenta de rapidez na

informação, a indústria do turismo, ao implementar esta nova ferramenta, modifica a forma

como até então este setor se processava, bem como as vendas dos seus produtos e destinos,

transformando-se, a curto prazo, num fator determinante de competitividade (Longhini e Borges,

2005; Marujo, 2008).

A internet, sendo uma ferramenta desenvolvida através das novas tecnologias, segundo Bachel

(2000) e Marujo (2008), não se substitui a cada empresa na definição da sua estratégia, pois o

planeamento compete à organização da própria, mas pode sim estar associada a ela como

elemento diferenciador junto da concorrência. É assim que Carrillo e Fernández (s/d cit. por

Ladeiro, 2012) apontam as principais vantagens da internet para o setor do turismo:

Alcance de um grande número de clientes e de potenciais outros a relativo baixo custo;

Difusão de informação mais completa e com mais qualidade;

Capacidade de gerar reservas de forma instantânea e rápida;

Melhoria na comunicação e nas relações entre a empresa, destino ou organização, com o

seu mercado ou clientes;

Reduzidos custos na produção e distribuição de informação;

Rápida modificação e atualização de conteúdos a um baixo custo.

Dentro da internet um dos meios mais utilizados por todas as empresas para a divulgação dos

seus produtos e serviços é o site, que surge como o verdadeiro veículo de comunicação com o

mundo cibernauta. É através dele que o marketing deve evoluir e produzir o seu trabalho, já que

atualmente a imagem da empresa ou organização fica espelhada nessa página, à qual recorremos

sempre que desejamos obter informações sobre uma dada organização e de quais as suas ofertas e

produtos. Assim, o site não só é a imagem virtual da empresa como é através dele que o

consumidor produz o seu julgamento em relação a ela.

O site é obrigatoriamente uma das bases da estratégia do marketing, pois é ele que tem o poder de

influenciar, persuadir ou despertar o desejo de aquisição de um destino, produto ou serviço. O

tipo de informação que fornecemos, e a forma como o fazemos, tem de ir ao encontro da

estratégia de comunicação definida por cada uma das empresas.

Se com a internet tudo fica mais próximo, mais fácil e mais rápido, a nossa capacidade e dinâmica

também têm de acompanhar essa mudança constante.

Page 82: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-64-

Por isso, a importância da criação de um site assente numa boa estratégia de marketing, que se

afirme por uma imagem credível e uma inovadora apresentação dos produtos da empresa ou

organização, é imperativo de exigência para uma sua constante atualização. Se isso não acontecer

o público-alvo tende a perder o interesse em visitá-lo, dada a ausência de novidades que o

estimulem a lá ir.

Em conclusão, o site é uma ferramenta que, desde que bem conduzida pela empresa apoiada na

indústria do marketing, permite-nos ter o mundo como meta final e sempre à mão (Arruda e

Pimenta, 2005).

Já na otica do TER, e estando este associado ao turismo, irá necessitar que os mecanismos do

marketing o ajudem a expandir-se para outros mercados, permitindo de forma mais eficiente

reforçar a sua importância como alternativa ao turismo dito normal.

Para tal todas as etapas, estratégias, ferramentas e filosofias são também fundamentais para que o

crescimento e desenvolvimento do TER possa suceder naturalmente graças a uma imagem,

filosofia, interesses e objetivos, que sejam bem compreendidos pelo público, permitindo assim

chegar a mais mercados e conseguindo captar mais clientes através de uma imagem e mensagem

mais acertivas e criadas pela indústria do marketing.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Metodologia

-65-

4 METODOLOGIA PARA INVESTIGAÇÃO EM TURISMO

ENQUANTO OBJETO SOCIAL

4.1 Modelo de investigação

São principais temas da presente dissertação, que pretendeu aflorar as novas dinâmicas do

turismo: (i) a importância do TER e do Agroturismo como elemento potenciador de

desenvolvimento das regiões rurais (Cabral e Scheib, 2004; Candiotto, 2010; Fleischer e Pizamt,

1997; Schelle et al., 2010); (ii) a crescente relevância do turismo na natureza, da animação turística

e dos paradigmas da sustentabilidade; (iii) a responsabilidade e qualidade no setor, como eixos

transversais ao desenvolvimento de um turismo de qualidade nos Açores.

Para conseguir reunir as opiniões e indicações dos clientes que têm visitado a Quinta da

Grotinha, optou-se pela aplicação do questionário eletrónico como instrumento de consulta. Este

instrumento permite a recolha de informação de forma mais rápida, ao mesmo tempo que não

compromete a eficácia e a veracidade das respostas recebidas.

Os inquéritos servirão para avaliar expetativas e tendências dos turistas e de quem os trabalha e

estuda. Iremos aplicar um estudo de análise da oferta em TER, definido como um processo de

comparação de produtos, serviços e práticas empresariais, que funciona como um

importante instrumento de gestão dessas empresas. Em concreto, trata-se de um instrumento

essencial para melhorar as funções e processos da Quinta da Grotinha.

Para além disso, iremos usá-lo como um importante aliado para melhorar a concorrência, uma

vez que iremos olhar para esse mercado concorrencial, ao mesmo tempo procurando desenhar e

criar novas ideias.

É através desta aprendizagem com outras empresas que a análise de oferta em TER consegue

transformar-se num instrumento capaz de contribuir para melhorar o desempenho da Quinta da

Grotinha.

Assim, com a ajuda deste estudo de análise da oferta em TER poderemos avaliar o panorama real

existente na ilha de São Miguel, o que permitirá verificar o que já existe e o que falta, através do

cruzamento de informações extraídas dos questionários.

Neste capítulo serão descritas as fases relativas ao desenvolvimento da investigação empírica

realizada com vista à auscultação dos clientes da Quinta da Grotinha, no sentido de se

compreender quais as mais-valias das atuais instalações e serviços e também quais os aspetos a

melhorar, a curto e médio prazo, tendo em conta as especificidades territoriais e setoriais.

Page 84: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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O TER, Agroturismo, serviços de turismo na natureza e de aventura, são maioritariamente

desenvolvidos na região por micro-empresas ou empresas familiares de âmbito local, “pautadas

por uma atuação a tempo parcial e com equipas com qualificações e competências de gestão

turística reduzidas” (Lopes, 2013: 67).

Este tipo de condicionantes leva a que muitas vezes questões críticas relacionadas com os planos

de marketing, imagem, divulgação, inovação e planeamento, sejam encaradas como atividades de

tal forma desafiantes que acabam, muitas vezes, por serem postas de lado, tal a complexidade

sentida para as levar a cabo.

As exigências deste tipo de turismo e serviços impõem que, quem compra estas experiências, saia

delas com um sentimento inesquecível de satisfação, que sejam memoráveis e únicas tanto do

ponto de vista do alojamento como das atividades desenvolvidas.

Se os Açores se apresentam e se reconhecem como um destino relativamente jovem que pretende

desenvolver-se sobre a bandeira da qualidade, defendendo a imagem que até então tem levado

aos quatro cantos do mundo (Observatório Regional de Turismo, 2008), torna-se por isso

importante compreender as necessidades de o desenvolver sem perder a identidade, garantindo,

em simultâneo, as necessidades de formação exigidas ao turismo na natureza.

4.2 Construção dos questionários

A elaboração de um questionário, com perguntas precisas, é fundamental para se compreender o

grau de satisfação suscitado pela Quinta da Grotinha e quanto à necessidade de possíveis

melhorias no seu funcionamento.

A elaboração do questionário a ser aplicado exigiu fazer uma análise do estado da arte sobre o

assunto, não descurando aspetos como de quais os cuidados que devemos ter em atenção,

aquando da elaboração das perguntas, quanto ao vocabulário usado e de tipos de resposta

possíveis.

Para Parasuraman, (1991 cit. por Chagas, 2000: 1) um questionário é simplesmente um conjunto

de perguntas construídas tendo em atenção: (i) o problema e os objetivos da pesquisa; (ii) as

hipóteses da pesquisa; (iii) a população-alvo; iv) os métodos de análise de dados escolhidos e que

nos permitam determinar aqueles que são necessários com vista ao alcance dos objetivos do

projeto.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Metodologia

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Sendo este um instrumento complexo e que exige muito tempo e trabalho para a sua construção,

o questionário permite medir a opinião dos inquiridos sobre os seus interesses e aspetos da

personalidade, acompanhados dos respetivos dados pessoais (Yaremko et al., 1986: 186).

Para que os objetivos deste questionário sejam claramente alcançados teremos de diferenciar

claramente a parte referente à avaliação da quinta para suscitar respostas quanto às necessidades

sentidas e que devam ser acauteladas (Günther, 2003).

Segundo Dillman (1978: 12), “o processo de enviar questionários aos inquiridos, conseguir

recebê-los, pode ser visto como um caso especial de troca social”, pelo que, nem sempre sendo

fácil de conseguir, torna-se necessário considerar que “há três coisas que precisam ser feitas para

maximizar as respostas do questionário, minimizar o custo para quem responde, maximizar as

recompensas para fazê-lo e estabelecer confiança”.

Por sua vez, Rodeghier (1996 cit. por Günther, 2003: 9) afirma que, para se conseguir ter sucesso

com a receção dos questionários, estes terão de ter as seguintes nuances aquando da construção

das suas perguntas para que os inquiridos possam facilmente aderir a elas: (i) sentir nas perguntas

do questionário facilidade de resposta; (ii) gerar um nível de interesse que leve o inquirido a

responder ao máximo possível de questões; (iii) capacidade para captar a atenção de modo a que

esta permaneça num nível elevado durante o maior tempo possível.

Para além deste caminho a percorrer para a substância das respostas, será necessário também

juntar a tudo isto o que Dillman (1978) acrescenta e reforça do autor anteriormente citado:

Reduzindo o esforço físico e mental requerido;

A não existência de possibilidade de perguntas embaraçosas;

A eliminação de qualquer implicação de subordinação;

Não existência de custos financeiros.

Terminada essa reflexão há que produzir as questões, segundo Fowler, (1998 cit. por Günther,

2003: 7), que sejam breves, claras, específicas e em vocabulário apropriado. Daí que, a par dos

cuidados apresentados acima, o questionário deva ser criado e construído, de forma a que, na sua

fase inicial, possa abordar perguntas que comecem pelos conceitos mais gerais e terminem nos

dados mais específicos que se pretendam obter.

Autores como (Gunther e Junior, 1990; Schuman e Presser, 1981) apontam para dois tipos

essenciais de perguntas:

Perguntas abertas utilizam-se numa fase inicial da investigação, onde ainda não existe uma

abrangência quanto às respostas possíveis, pelo que importa estabelecer um clima

Page 86: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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recetivo, que implique que as pessoas possam dar as suas opiniões, dessa forma

cooperando com quem as questiona;

As perguntas fechadas irão por isso ser utilizadas para aumentar a rapidez do questionário

e também com vista a facilitar o tratamento dos dados obtidos nessas mesmas questões.

4.3 Metodologia adotada para o questionário

Optou-se por um questionário com um instrumento semi-novo constituído por perguntas novas

e um conjunto de perguntas já existentes no RURALQUAL relacionadas com as perceções, sobre

a qualidade dos serviços dos diferentes alojamentos rurais da Quinta da Grotinha (Casielles e

Martín, 1996; Fernandes, 2008; Loureiro e Gonzaléz, 2006).

Não sendo por isso um questionário já testado, foi elaborada uma proposta inicial, verificada por

um conjunto de especialistas (n = 8) na área do turismo, TER e turismo na natureza, sendo que

um deles foi dos Açores e dois foram os orientadores da dissertação.

Através das sugestões obtidas foi melhorado o questionário que serviu de pré-teste, seguindo por

isso a lógica de pensamento de Goode & Hatt (1972 cit. por Chagas, 2000).

O resultado do pré-teste, que foi efetuado a cinco clientes da amostra total, levou-nos a efetuar

algumas pequenas alterações nas perguntas e chegar à versão final do questionário (Anexo xx), a

aplicar aos clientes da Quinta da Grotinha, recorrendo-se à plataforma Qualtrics que possibilitou

colocar o inquérito numa página acessível a todos os que receberam o endereço de internet a partir

de um email enviado para o endereço pessoal dos clientes que visitaram a Quinta.

A estrutura do questionário foi dividida em três partes:

Caraterização anónima dos clientes;

Pontos fortes e o que pode ser melhorado na Quinta da Grotinha e nos alojamentos;

Que atividades deve a Quinta desenvolver para garantir um serviço 100% completo no

Verão, assim como os produtos a desenvolver que a ajudem a quebrar o grau de

sazonalidade tão sentida nos Açores.

4.4 Caraterização da amostra

O presente estudo abrange um universo composto por todos aqueles que já usufruíram de

alojamento na Quinta da Grotinha ao longo destes quase 13 anos da sua existência.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Metodologia

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Apesar de, em alguns dos casos, podermos estar a avaliar condições bem diferentes, em virtude

da estrutura da Quinta e dos alojamentos ir passando por constantes melhoramentos, é

importante, para este estudo, saber como clientes da Quina da Grotinha vivenciaram essa

experiência comparativamente ao conhecimento de outros alojamentos turísticos, por eles

frequentados ao longo dos anos.

Será também esta experiência que lhes possibilitará dar um contributo mais criativo e assertivo

aos objetivos da presente dissertação, visto que a descoberta de novos produtos e melhoramentos

na categoria de serviços só será uma realidade se houver também uma resposta por parte dos

inquiridos de forma criativa e inovadora.

É assim que existem, no inquérito que lhes é feito, espaços onde todos poderão vir a deixar

sugestões potencialmente importantes para a criação de um agroturismo em comunhão com

ofertas turísticas em turismo na natureza, forte e bastante inovador no panorama do turismo nos

Açores.

Apesar do universo em estudo abranger a generalidade dos turistas que já passaram pela Quinta

da Grotinha, o seu universo operacional foi condicionado aos registos efetuados e ao detalhe e

atualização dessa informação, tendo sido considerados os hóspedes para os quais foi possível

aceder e validar o email.

Após o levantamento dos dados referentes aos clientes da Quinta da Grotinha verificamos

existirem 410 hóspedes registados, dos quais 228 hóspedes com email pessoal, distribuidos da

seguinte forma em termos de nacionalidades: 3 alemães; 1 holandês; 14 espanhóis; 1 suíço; 1

americano; 1 checo; 1 inglês; 5 franceses; 1 grego e 200 portugueses.

Estes clientes foram contatados para responderem ao questionário via email. Contudo dos 228 e-

mails enviados verificou-se que 49 desses contatos estavam inoperativos ou desatualizados, pelo

que de facto o universo operacional resultou em 179 casos. Por sua vez a amostra foi de 65 casos,

correspondendo aos questionários recebidos e validados, ou seja 28,5% do total de registos e

36,3% do universo operacional.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural na RAA

-71-

5 TURISMO EM ESPAÇO RURAL NA RAA

5.1 Caraterização e importância do TER na RAA

São internacionalmente reconhecidas as caraterísticas e potencialidades naturais que o território

dos Açores possui para o desenvolvimento e prática do turismo na natureza e turismo em espaço

rural.

A identidade rural dos Açores, interligada com um permanente “respirar a natureza”, é também a

sua imagem de marca presente nos dias de hoje, que lhes confere um terreno fértil para o

lançamento de produtos na área do turismo em espaço rural, cujo papel fundamental e crucial de

promoção e divulgação cabe aos agentes turísticos privados e estatais desenvolver.

O secretário regional do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, reiterou a importância deste setor,

nos Açores, ao afirmar que "mais importante do que oferecer apenas alojamento, a grande mais-

valia a explorar é oferecer a quem chega uma possibilidade de experiências. Experiências únicas.

E o turismo rural é uma das áreas por excelência onde podemos oferecer essas experiências

únicas porque os nossos destinos rurais são únicos, são só nossos" (PRIVETUR, 2013).

Como o setor está identificado como um dos grandes pilares económicos da região, o governo

regional decidiu lançar um conjunto de estratégias com vista a salvaguardar a sustentabilidade

ambiental e o ordenamento do território, conseguindo assim estruturar o desenvolvimento

turístico, mediante uma tentativa de equilibrar o desenvolvimento económico e social da região

(Governo Regional dos Açores, 2008b).

Desta forma, a estratégia lançada foi a de apoiar e fomentar o aumento da oferta de alojamento

alternativo como é o caso do turismo de habitação em espaço rural em paralelo ao da hotelaria

convencional (Governo Regional dos Açores, 2008b).

Estas medidas não foram assentes em argumentos vagos, antes apoiadas por um conjunto de

vantagens detetadas neste tipo de turismo como Moreira (2009) identifica:

Incrementa valor acrescentado às explorações agrícolas viabilizando a manutenção;

Cria emprego local;

Combate a desertificação rural;

Estimula o aparecimento de novos serviços;

Viabiliza e incrementa a produção artesanal;

Estimula o empreendedorismo, a criatividade e a inovação;

Promove a recuperação e manutenção do património histórico e típico;

Page 90: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-72-

Revaloriza, protegendo e mantendo, o património natural e cultural;

Reforça a preservação da identidade cultural da região;

Estimula a produção artística e cultural;

Promove a autoestima dos residentes;

Garante a sustentabilidade, conferindo-lhe competitividade com outros destinos.

Foi também por este conjunto de vantagens aqui enumeradas que o governo regional orientou a

sua estratégia para o fomento do turismo na natureza e do turismo em espaço rural no

arquipélago.

O turismo em espaço rural tem vindo por isso a ganhar terreno e a certificar-se como uma aposta

ganha, visto que o seu crescimento tem-se vindo a notar ao longo dos anos, já que a oferta em

termos do número de camas passou de 404, em 2004, para 612 camas, em 2007, o que representa

aumento expressivo de 34%. Este aumento deu resposta e estimulou a procura, registando-se,

entre 2000 e 2007, um espetacular aumento no número de dormidas no TER, de 9.500, em 2000,

para quase 20.000 dormidas em 2007 (Observatório Regional de Turismo, 2008).

Não obstante todo o interesse pelo acesso dos Açores a mercados externos competitivos, a

realidade é que 55,9% da procura e ocupação deste tipo de turismo está ainda a cargo de turistas

vindos do mercado interno (Quadro 1).

Desta forma reitera-se o que Neto (2013) havia defendido, ao acentuar que, apesar da promoção

turística feita no estrangeiro, o nosso mercado interno tem de continuar a ser acarinhado e

estimulado, visto que se trata de uma aposta estruturante e estratégica para a economia turística

nacional.

Apesar da aposta ganha nos anos de 2001 a 2007, verificamos que este setor ainda tem margem

de crescimento (Candiotto, 2011; CCAH, 2009). Para tal torna-se necessário investir para que o

conjunto das caraterísticas até agora apontadas seja totalmente maximizado e rentabilizado. O

quadro 5 apresenta as estimativas de dormidas para o ano de 2008 em empreendimentos de

turismo de habitação e turismo no espaço rural.

Quadro 2| Estimativa de dormidas para o ano 2008 (Turismo de Portugal, 2008: 6)

2008 (milhares)

∆08/07 Quota

País de residência % Abs. % ∆p.p

Portugal 292,4 -20,4 -74,9 55,9 0,6

Estrangeiro 231,1 -22,2 -66,1 44,1 -0,6

Total 523,5 -21,2 -141,0 100,0

Page 91: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural na RAA

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Desta forma, e quando olhamos para o panorama nacional, e para as diferentes caraterísticas dos

diferentes territórios de Portugal verificamos que embora a essência dos Açores seja de um

ambiente rural, ainda existe uma fraca expressão no número de estabelecimentos TER/TN,

comparativamente com a Madeira que tem apenas um território com uma área de 801 km² ao

contrário dos Açores que compreende uma área de 2325 Km². Contudo, mais do que a dimensão

do território, é necessário ter em conta o peso da procura turística que é substancialmente

superior na Madeira. Quando comparamos estes dois territórios verificamos que, embora a área

do território dos Açores seja quase três vezes maior que a da Madeira, o número de

estabelecimentos não é três vezes maior, como podemos observar no quadro apresentado:

Quadro 3| Estabelecimentos do Universo TER / TN, por modalidade e NUT II (IESE, 2008)

Por sua vez, em 2013, o número de turistas estrangeiros que visitaram os Açores foram

responsáveis por 79,3% do total de dormidas do turismo rural na região. O crescimento

extraordinário, de 23,2% no número de dormidas, no período de janeiro a setembro, fez

ultrapassar uma meta nunca até então alcançada, pois pela primeira vez foi ultrapassado o milhão

de euros de receita (1,177 milhões), a que correspondeu um crescimento de 19,14%

comparativamente ao ano de 2012 (SREA, 2013).

Para que este setor se torne mais estável, visto que a taxa maior de ocupação foi registada, entre

julho e agosto, com 49% da procura, é essencial reduzir a elevada sazonalidade, o que não está a

ser assegurado, conforme provam os dados de setembro que registaram uma descida para 20%,

enquanto o valor mais baixo se verificou em janeiro e fevereiro com menos de 3% (SREA, 2013).

Page 92: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-74-

Estes resultados preocupam todo o setor, visto que a margem temporal para rentabilizar os

investimentos feitos torna-se diminuta. Assim, o governo da RAA pretende apoiar iniciativas de

operadores para trazer turistas aos Açores fora da época alta.

Em síntese, o turismo no espaço rural possui efetivas qualidades ímpares para apoiar dinâmicas

de desenvolvimento a nível regional. Deve ser por isso utilizado como um instrumento de

gestação de alternativas para as economias locais e regionais, que valorize os recursos endógenos

e potencie o seu desenvolvimento, ao mesmo tempo que torne imperiosos, à margem do

crescimento registado no setor do turismo em espaço rural nos Açores, novos investimentos

futuros assentes em parcerias entre o setor público e privado, para que sejam encontradas

estratégias conjuntas de quebra da sazonalidade tão sentida e refletida em números acima

apresentados.

Deste modo será possível que este tecido económico encontre um caminho mais sustentado para

o desenvolvimento e qualificação do turismo em espaço rural nos Açores.

5.2 Contextualização geográfica, ambiental e sociocultural

O arquipélago dos Açores fica localizado em pleno oceano Atlântico, entre a Europa e a América

do Norte, a 760 milhas marítimas de Lisboa e 2110 milhas marítimas de Nova Iorque,

apresentando uma posição estratégica.

Este arquipélago é constituído por três grupos: Oriental - Santa Maria e São Miguel; Central –

Terceira, Pico, Graciosa, São Jorge e Faial; Ocidental – Flores e Corvo. Estas nove ilhas de

pequena dimensão têm uma área total de 2.323 km2, sendo São Miguel a maior com 745km2 e o

Corvo a mais pequena com 17Km2.

Os Açores são um arquipélago em que as diferentes ilhas estão distribuídas ao longo de uma área

que se estende por 600Km2. Devido ao seu isolamento acentuado, as ilhas tiveram que encontrar

mecanismos e soluções para se ligarem, com o transporte marítimo e o aéreo regular a serem as

principais soluções para que essa ligação seja uma realidade.

Para isso o governo regional criou ligações inter-ilhas via mar e ligações aéreas entre as diferentes

ilhas dos Açores, Madeira, Continente e diversos países. Como o turismo é um setor com forte

peso na economia regional, existem também outras ligações em determinadas épocas do ano,

para vários destinos europeus e norte-americanos como forma de alimentar o mercado do

turismo (Lopes, 2013).

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural na RAA

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O arquipélago é caraterizado por uma paisagem vulcânica, com cerca de 1750 vulcões, em

resultado da sua localização se situar na tripla junção das placas litosféricas Euroasiática, Norte-

Americana e Africana (ou Núbia). Destes vulcões, apenas 16 são de grandes dimensões e estão na

sua maioria silenciosos e truncados por uma caldeira no topo (Nunes et al., 2010).

As ilhas dos Açores, em resultado da sua dimensão, dispersão, distanciamento aos continentes

europeu e americano e clima, gerem condições ecológicas únicas no mundo. Os Açores estão

localizados no percurso migratório de algumas aves, que acabam por utilizar as ilhas como

importante poiso de descanso, nidificação e reprodução. De destacar também a Floresta

Laurissilva, verdadeira relíquia da vegetação típica da Era Terciária, que há muito que

desapareceu, devido às glaciações, de quase todo o continente europeu.

Quando decidimos “sair” da terra e “saltamos” para dentro de água, esse mar revela-nos uma

imensidão gigante de espécies, desde grandes cetáceos, até a organismos microscópicos, para

além de habitats singulares de fontes hidrotermais de grande profundidade, que suportam

comunidades únicas e cheias de grande riqueza a nível de ecossistemas e de raridade (Açores,

2014).

De uma forma geral, os Açores apresentam um clima caraterizado por elevados índices de

humidade no ar, amenidade térmica, taxas de insolação pouco elevadas, chuvas regulares e

abundantes e por um regime de ventos vigorosos (Açores, 2014; Grimm et al., 2012).

Mesmo sendo a sua localização especial e trazendo com isso condições específicas de clima,

conseguem-se identificar nas ilhas dos Açores quatro estações do ano, típicas dos climas

temperados. Entre elas, o inverno carateriza-se como uma estação não excessivamente rigorosa,

com precipitação e a ocorrência de queda de neve nas zonas mais elevadas. Os verões são

tipicamente amenos.

Mas o clima açoriano tem outras peculiaridades. Como referem muitos habitantes locais, num só

dia pode deparar-se com “quatro estações”, tal a variação que o estado do tempo pode atingir.

Contudo, e apesar do céu limpo não ser uma constante, mesmo nos dias de verão, as

temperaturas médias são geralmente de 13°C no inverno e 24°C no verão.

Para além disso, é de notar que as diferentes ilhas açorianas apresentam caraterísticas climáticas

distintas, resultantes da sua própria localização, relevo e vegetação (Açores, 2014).

Como já foi referido, desde a sua descoberta que os Açores têm vindo a ser conhecidos pelas

suas ligações associadas à lendária Atlântida, que ainda hoje desperta lendas e suspeitas, como

será o caso da suposta pirâmide descoberta no mar dos Açores (Firmino, 2013), cuja descoberta

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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ocorreu quando da grande epopeia marítima portuguesa, que levou, em 1431, ao início do

processo da sua colonização. Ao longo de muitos séculos, os Açores resistiram a erupções

vulcânicas, terramotos, isolamento, invasões de piratas, guerras políticas e doenças.

Os Açores foram também a capital de Portugal durante o domínio espanhol e o grande apoio à

causa liberal na guerra civil (1828-1834). Destes valorosos tempos as gentes destas terras

marcaram um país e o mundo.

Hoje a população é de cerca de 246.000 habitantes segundo os censos 2011 (INE, 2011), com a

seguinte distribuição : São Miguel 55,9%; Terceira 22,9%; Faial 6.1%; Pico 5.7%; Santa Maria

2.2%; Graciosa 1.8%; São Jorge 3.7%; Flores 1.5% e Corvo 0.5% (Quadro 7).

Quadro 4| Distribuição da População dos Açores (INE, 2011)

Com o processo de globalização e de uma dispersão cada vez maior de informação, o arquipélago

tem assistido a uma procura cada vez mais intensa por parte de turistas, que veem nos Açores

algo que não encontram em outras partes do mundo. Estas ilhas são territórios de grande valor

natural e cultural, o que levou ao reconhecimento internacional com a classificação de algumas

das ilhas de Reservas da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e

Cultura (UNESCO), nomeadamente a Graciosa (2007), o Corvo (2007) e as Flores (2009)

(UNESCO, 2012).

Estando este território voltado para a natureza, a biodiversidade tanto no mar como em terra, a

nível de fauna e flora, a geodiversidade e o património histórico, fizeram com que o turismo

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural na RAA

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surgisse como uma alternativa económica estratégica para o desenvolvimento do arquipélago

(Açores, 2014).

Contudo, os elevados custos de transporte para as ilhas são responsáveis por algumas fragilidades

económicas nos Açores, que se revelam especialmente críticas na área do turismo (Silva, 2013).

Acresce que a pequena dimensão das diferentes ilhas traz consigo uma população reduzida, com

a existência de frequentes carências de recursos humanos qualificados no setor do turismo –

Cooper (1995 cit. por Moniz, 2006: 159). Este aspeto repercurte-se também na dimensão do

turismo interno, o que promove uma maior dependência da chegada de turistas do exterior.

Este isolamento geográfico, leva a que a economia das ilhas se encontre muito sujeita às

flutuações nos mercados emissores (Moniz, 2006), pelo que as ofertas apresentadas ao mercado

do turismo devem ser revestidas de experiências distintas, atrativas e competitivas, capazes de se

tornarem diferenciadoras de outros destinos (Neto, 2013).

5.3 Quinta da Grotinha

“Um lugar desconhecido, pequeno e cosy, onde nos sentimos em casa. É assim a Quinta da Grotinha, uma casa

que gostávamos que fosse a nossa e onde passamos bons momentos na ilha de São Miguel.” (Grotinha, 2011)

5.3.1 Caraterização

A Quinta da Grotinha está localizada na ilha de São Miguel, umas das nove ilhas do arquipélago

dos Açores, mais precisamente nos Arrifes, uma freguesia a 4 Km de Ponta Delgada, e que está

posicionada na cota de 150 metros de altitude (Grotinha, 2011).

Este espaço, que originariamente se dedicava à produção de laranjas e à criação de aves, ocupa

mais de 5 hectares e é propriedade da família Wallenstein há já algumas décadas.

Os registos desta atividade estão bem presentes na arquitetura das casas, em tempos grandes

aviários, que albergaram centenas de perus e frangos, e que hoje, após as transformações que

foram sofrendo, não passam de uma memória histórica.

No exterior ainda resta um conjunto alto e denso de abrigos que outrora protegeram laranjeiras

dos ventos fortes vindos do Atlântico, que produziam laranjas consideradas das melhores do

mundo. Acontece que, a partir da década de cinquenta do século dezoito, elas começaram a

definhar com a moléstia que as atacou e dessa maneira uma das principais indústrias do

arquipélago entrou em colapso (Dias, 1995).

Page 96: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Hoje podemos ver o resultado do esforço conjunto de um casal - Miguel Wallenstein (Biólogo

Marinho) e Ana Teresa (Arquiteta) – os atuais donos da propriedade que, no início dos anos

1990, optaram por deixar Lisboa e rumar às suas origens (Açores - São Miguel), pegando na

Quinta da Grotinha e iniciando a sua recuperação (Grotinha, 2011).

Com o passar do tempo os antigos aviários foram sendo transformados e decorados nas

acolhedoras casas rurais que hoje lá encontramos e que, para além de todos os seus atributos

exteriores, maximizaram uma atmosfera simpática e descontraída.

Essas casas rurais, com fachadas azuis e amarelas, portadas vermelhas e um amplo jardim, dão as

boas-vindas aos hóspedes, que aqui vêm passar uns dias de completa descontração (Grotinha,

2011). Quem chega à Quinta da Grotinha e olha em seu redor é invadido pela imensidão do azul

do mar, quando voltado para sul, e pelo refrescante verde a norte. Este espaço é constituído por

três zonas de alojamentos e três áreas interiores para uso comum, uma das quais em fase de

finalização. Os alojamentos caraterizam-se da seguinte forma (Grotinha, 2011):

Casa Grande – É composta por três quartos com cama de casal, um quarto com duas

camas simples e mezanine, que permite receber ainda mais clientes. Todos os quartos estão

equipados com lareira e dispoem ainda de duas casas de banho (uma com jacuzzi), cozinha

com forno a lenha e uma sala comum.

Casa Azul – Dispõe de uma pequena sala com lareira e kitchnet, um quarto com cama de

casal e uma casa de banho com banheira.

Casa Branca - Tem uma ampla sala com salamandra e kitchnet, um quarto com cama de

casal e uma casa de banho com banheira.

Espaços para uso comum – Uma sala grande de jantar com cozinha e um grande forno a

lenha, uma lavandaria equipada com máquinas de lavar e secar e, em fase de conclusão,

uma sala de reuniões e para workshops.

Atualmente a Quinta da Grotinha tem uma capacidade máxima para acolher até 16 pessoas e

projeta-se já a sua ampliação futura, a médio e longo prazo, com a construção de mais duas casas,

que permitirão o acolhimento de mais dois casais.

Para além da habitação rural, o restante espaço da Quinta é utilizado para produção agrícola. Até

meio do ano passado praticou-se nela a plantação de beterraba para produção de açúcar e este

ano já dispõe de pasto para utilização por produtores de gado, que estejam interessados em

investir para que os seus animais façam uso dele.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural na RAA

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A Quinta da Grotinha conta ainda com um terreno de 1000 m2 para produção de morangos e de

outros 2000 m2 (espaço inserido dentro dos antigos abrigos das laranjeiras) destinados a horta

comunitária e pomar, onde se podem observar araçaleiros, anoneiras, mangueiras, figueiras e

ameixoeiras.

No anexo III apresentam-se diversas imagens da quinta para melhor se compreender como é esse

espaço do Agroturismo.

5.3.2 Limitações e potencialidades

Para podermos olhar para a Quinta da Grotinha como um TER com potencialidades, torna-se

importante analisar as limitações que lhe são inerentes, assim como das suas potencialidades

(Quadro 8). Esta capacidade de percecionar a Quinta da Grotinha irá permitir em primeiro lugar

tentar transformar as limitações possíveis em potencialidade e maximizar as potencialidades

como elementos cada vez mais marcantes da imagem de marca da quinta.

Quadro 5| Limitações e potencialidades da Quinta da Grotinha

Limitações

Forte sazonalidade do destino (Governo Regional dos Açores, 2008a);

Elevados preços das passagens aéreas (Governo Regional dos Açores, 2008a);

Baixo número de trabalhadores da Quinta (só o Miguel Wallenstein );

Imprevisibilidade do mercado;

Fraca capacidade de comunicação da Quinta da Grotinha;

Insuficiente utilização das TIC;

Oferta limitada do alojamento.

Potencialidades

O sistema de incentivos do Governo Regional, está orientado, para investimentos em unidades de quatro

e de cinco estrelas, resorts e turismo em espaço rural (Governo Regional dos Açores, 2008a);

Não há encargos com dívidas ou empréstimos;

A Quinta transmite uma imagem aprazível junto de quem a visita;

Proximidade a Ponta Delgada;

Fácil acesso às diferentes vias rápidas;

Localizado na ilha que concentra grande parte dos visitantes dos Açores;

Page 98: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Localização da quinta está, junto de áreas onde é possível implementar caminhadas.

5.3.3 Imagem de marca

A Quinta da Grotinha apresenta uma imagem de local calmo, descontraído, regenerador, capaz

de se afirmar como uma ilha dentro da própria ilha açoriana, no seu global, e de permitir, a quem

a visita, desfrutar de alguns dias marcados pela magia e pela capacidade de potenciar um

relaxamento completo de toda a vida intensa e stressante que ocorre nos locais de residência. Ali

o tempo passa a outra velocidade e para finalizar esta junção de ingredientes lá está o

“cozinheiro” que finaliza o prato com os seus gestos suaves de feiticeiro - o Miguel.

Com efeito, a Quinta da Grotinha – para além da sua capacidade única de deixar marca em quem

a visita – não seria certamente a mesma coisa sem essa personagem tão carismática como é o

Miguel Wallenstein. Exemplo disso é a referência no blog de Laurinda Alves, onde Paula Seixas

revela a sua perceção sobre o Miguel ao sublinhar: “O Miguel merece o céu pois é paz,

disponibilidade e amor que irradia aos seus convidados/hóspedes.”

Marcolino Osório reforça também essa ideia: “Tive uns dias cheios, com amigos de sempre,

momentos mágicos, que ficam para sempre, num sítio incrível - na Quinta da Grotinha, com uma

pessoa marcante - o Miguel, que sabe tão bem acolher. (Alves, 2009)”.

Em relação à Quinta as opiniões vão no mesmo sentido que foi acima expresso relativamente ao

seu mentor:

Paula Seixas transmite o que sentiu: “… É realmente um lugar mágico porque é

partilhado por um ser mágico chamado Miguel (…) um lugar de partilhas, almoços e

jantares especiais, que ele invariavelmente apanha no mar (no seu deep blue ocean) e prepara

em gestos suaves de feiticeiro.”(Alves, 2009)

Filipe Tavares sublinha: “Fui muito feliz na Grotinha, e sou muito feliz sempre que lá

ponho os pés!!! O local, a companhia das pessoas, dos animais, são altamente

convidativos. Come-se, relaxa-se e passa muito bem o tempo na Quinta da

Grotinha…”(Grotinha, 2008)

5.3.4 Principais mercados emissores

A estratégia adotada por Miguel Wallenstein para a divulgação da Quinta da Grotinha assentou

preferencialmente no “boca em boca”.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Turismo em Espaço Rural na RAA

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Segundo Cafferky (1999, cit. por Bentivegna, 2002: 80), mais de 80% das pessoas seguem as

recomendações de familiares, amigos ou profissionais, quando pensam em adquirir um produto

ou serviço. Como arma de comunicação bastante forte, a organização passa a ser divulgada por

diferentes pessoas, conseguindo-se assim conquistar novos clientes através de uma campanha

publicitária de baixo custo (Arena et al., 2002).

Desta forma, os consumidores acabam por ser inevitavelmente vindos do mercado interno, já

que, tendo a Quinta da Grotinha uma ainda fraca divulgação na internet e junto dos agentes de

turismo, o seu alcance fica limitado. Daí que seja fácil encontrar lá amigos de amigos, conhecidos

de conhecidos.

Contudo, um negócio deste género não deve limitar-se só a este tipo de comunicação, sob o

perigo de estar à mercê, de modo crescente, de todas as limitações existentes no destino Açores.

Diferentes mercados pressupõem turistas com preferências diferentes quanto a épocas de férias,

para que o negócio de alojamento encontre aí também uma solução para a sua ocupação ao longo

do ano.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Apresentação de resultados

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6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

6.1 Apresentação de resultados do questionário

Para a elaboração da presente dissertação foram utilizados dois tipos de metodologias:

A primeira baseou-se numa análise de mercado, onde foram tidos em linha de conta os

diferentes graus de oferta assumidos pelos clientes da Quinta da Grotinha, na Ilha de São

Miguel - Arrifes.

A segunda metodologia foi desenvolvida sob a forma de questionário aplicado aos turistas

que passaram e pernoitaram na Quinta da Grotinha (Anexo IV).

Por sua vez, este questionário permitiu efetuar:

Primeiro, uma caraterização geral dos inquiridos (total de 5 questões na sua maioria

fechadas ou mistas), seguido de uma outra parte onde foi feita uma caraterização da

última viagem em que o cliente permaneceu na Quinta da Grotinha (total de 7 questões

na sua maioria fechadas ou mistas);

Por último foi pedido, através de um conjunto de 16 perguntas, que o turista explicitasse,

mediante respostas na sua maioria fechadas ou mistas, qual o seu grau de satisfação em

relação às expetativas existentes, assim como o que deveria ser desenvolvido, de acordo

com a sua opinião, a nível de atividades de turismo na natureza, de saúde e bem-estar

com vista a garantir um serviço 100% completo no verão, assim como os produtos a

desenvolver que ajudem a Quinta, através de um melhor serviço, a ser um exemplo de

como quebrar o grau de sazonalidade tão sentido nos Açores.

A análise da oferta em TER, no arquipélago dos Açores, e mais especificamente na Ilha de São

Miguel, permite-nos verificar que a Quinta da Grotinha apresenta preços abaixo da média de

mercado para a tipologia de alojamento de T1 e T2 – o valor médio está em 89.9€ e 113.3€ na

época alta e 76€ e 91.7€ na época baixa. Ora, a Quinta da Grotinha pratica, para a mesma

tipologia de alojamentos, respetivamente, 74€ na época alta e 64€ na época baixa, portanto entre

2€ e à volta de 27€ menos.

Já contrariamente, na categoria de T4 ou superior, a Quinta da Grotinha pratica preços mais

elevados comparativamente aos da concorrência, o que se justifica por os seus alojamentos

incluídos nessa categoria terem capacidade para acolher até 10 pessoas, enquanto a restante

concorrência não apresenta alojamentos de tão grande envergadura, o que naturalmente faz a sua

diferença.

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Assim, o valor praticado pela Quinta da Grotinha, para a época alta, neste tipo de alojamentos

(T4 ou superior), é de 174€ (a média de mercado cifra-se nos 132€) e para a época baixa de 164€,

quando o restante mercado não ultrapassa os 120€. Tendo em conta um espaço de alojamento

bem mais espaçoso, uma diferença à volta de mais 40€ não parece muito significativa, tendo em

conta o tipo de turismo em questão.

Por isso, não há dúvida, pela análise generalizada destes valores, que a Quinta da Grotinha pratica

preços bastante concorrenciais, quando comparados com o restante mercado, razão pela qual não

estará nos valores praticados a justificação para a sua não tão significativa afluência de clientes no

conjunto de outros espaços turísticos de natureza idêntica.

Se a nível de preços a Quinta da Grotinha pode considerar-se competitiva, quando comparamos

a oferta deste negócio, a nível de disponibilização de equipamentos de saúde e bem-estar,

serviços de animação turística e outros, os resultados não são tão animadores, dado que a sua

carência é muito sentida.

Acresce também que não proliferam meios de informação e consulta na quinta, pois existe

apenas um aparelho de televisão na Casa Grande que, por sua vez, não dispõe de internet,

existindo apenas ligação nas Casas Azul e Branca.

A oferta também é baixa, ou mesmo inexistente, a nível de equipamentos e atividades, quando

comparada com os TER da Casa da Igreja Velha, Quinta Nossa Srª. de Lurdes, Quinta da Mó,

Ninhos da Terra, Pico do Refúgio, Casa dos Afectos, Quinta Atlantis, Casa da Abelheira e

Moinho do Passal, igualmente situados em S. Miguel.

A propósito, importa ter em conta a análise efetuada ao mercado do Agroturismo, possível

através das respostas apresentadas pelos turistas ao inquérito de satisfação.

Na Quinta da Grotinha, estamos a falar de um tipo de cliente que apresenta uma média de idade

de 39 anos, com especial incidência nos intervalos [33-38 anos – 40%] e [39-44 – 21%], como

pode ser visto no gráfico apresentado (Figura 5). No que se refere ao género as percentagens são

aproximadas: Clientes do sexo masculino – 51%, ligeiramente superior aos do sexo feminino –

49%. Quanto à nacionalidade dos clientes, predominam os portugueses, oriundos principalmente

de Portugal Continental – 81%.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Apresentação de resultados

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Figura 5| Intervalo de idades dos clientes da Quinta da Grotinha

É de sublinhar que o cliente tipo da Quinta não tem raízes nos Açores: 86% afirma não ter

qualquer ligação ao território pelo que a sua viagem visa única e exclusivamente conhecer a ilha e

aproveitar os seus encantos, o que se conclui pela análise generalizada às respostas dadas à

questão suscitada sobre essa matéria (questão 12), com 85% dos clientes a indicar vir fazer férias

e lazer (Figura 6).

Figura 6| Qual o principal motivo da visita

Quanto às habilitações da generalidade dos clientes, conclui-se maioritariamente que são pessoas

com grau académico médio/superior – 73%.

No capítulo de caraterização da última viagem feita aos Açores e em que ficaram na Quinta da

Grotinha, as principais conclusões reveladas pelo inquérito são:

Na sua maioria (53%) os casais, sejam casados ou simplesmente namorados, não trazem

outros acompanhantes, nomeadamente filhos;

Quantos acompanhantes com idade inferior a 18 anos o acompanharam na viagem? –

75% afirmam vir sem qualquer acompanhante com idade inferior a 18 anos;

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Quando ponderamos a avaliação do número de dias que os clientes indicam preferir ficar,

constatamos que maioritariamente os 5 dias são apontados por 23% como os mais escolhidos,

seguidos pela opção de 7 dias – 20%. Por último, uma permanência de 10 dias recolhe uma

percentagem de 15%.

Interessa também compreender se o regresso aos Açores é uma constante. Aí o conjunto das

respostas indica que 30% dos clientes apenas aponta ter vindo aos Açores uma vez, enquanto

22% identifica estar já pela segunda vez.

Por fim, neste segundo capítulo do questionário, quando analisamos as respostas à questão:

“Assinale os aspetos que o levaram a escolher um Turismo em Espaço Rural em detrimento da

Hotelaria Tradicional?”, verifica-se que 82% dos clientes prefere o TER por preponderar em

locais marcados pela sua tranquilidade ou serenidade; 52% destacam também o privilégio causado

pelo contato com a natureza; 38% indica a ruralidade e o afastamento do ambiente citadino como

as caraterísticas que os levam a optar por escolher estes locais (Figura 7).

Figura 7| Os aspetos que o levaram a escolher um TER em detrimento da hotelaria tradicional

Entrando agora na análise do grau de conhecimento que conduziu os clientes para a Quinta da

Grotinha, de um modo geral, 83% justificam ter tido conhecimento dela através de amigos; 11%

indicam saber da sua existência pela internet; uma maior percentagem de pessoas afirma ter feito

a sua reserva via telefone e 46% por email.

Para conseguirmos compreender os motivos que levaram os clientes a escolher a Quinta da

Grotinha, utilizou-se a escala de Likert, ou seja, 1 - Nada importante; 2 - Pouco importante; 3 -

Média importância; 4 - Muito importante; 5 – Fundamental. As médias apuradas foram:

hospitalidade – 4,49; ambiente e imagem – 4,31; qualidade do serviço – 4,3; qualidade do

alojamento – 4,03 e relação preço/qualidade -3,91%.

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Apresentação de resultados

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Por tudo isto, quando questionados se – “Numa próxima viagem à ilha de São Miguel, optava

por ficar na Quinta da Grotinha?” – as respostas são unânimes, o que corresponde a 100% dos

clientes, que se pronunciam peremtoriamente pela afirmativa – sim.

As habitações mais utilizadas na Quinta da Grotinha: Casa Azul (43%) e Casa Grande (51%), que

recebem comentários muito favoráveis dos clientes, que nelas destacam: A decoração (78%), a

área da habitação (63%); a paisagem (57%) e a luminosidade (51%). Para além destes motivos

existem ainda outros que são referenciados no gráfico da figura 9. Apenas 18% dos clientes

indica que as habitações carecem de um ou outro melhoramento.

Figura 8| O que mais gostou na habitação

O grau alargado de satisfação com a estadia na Quinta da Grotinha é identificado pelos

clientes quando convidados a pronunciar-se às perguntas 22, 23 e 24 do questionário:

“Grau de satisfação global com a estadia na Quinta”, 57% indica estar Totalmente

Satisfeito e 37% Muito Satisfeito;

À pergunta “Grau de satisfação global em relação a Quinta da Grotinha como Turismo

em Espaço Rural?”, 57% afirmam estar Totalmente Satisfeitos e 34% Muito

Satisfeitos;

“Em conclusão, as expetativas foram superadas?”, 44% afirmam que sim e 30% vão

mesmo ao ponto de julgarem que o foram em muito.

Importa nesta análise verificar também que tipo de oferta de atividade de turismo de natureza

será necessário criar ou aperfeiçoar no futuro, com vista a dar resposta ao mercado de exploração

de natureza que é o lema dos Açores “Açores! Natureza pura!”, de forma a poder dar-se resposta

aos inúmeros turistas que vêm em busca dessa mesma descoberta.

Perante um conjunto de opções bastante vasto, apresentadas no questionário, e que deram

também a possibilidade aos clientes de indicarem as suas próprias sugestões, foi possível reunir

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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qual a tendência de atividades com maior importância, a privilegiar no contexto da oferta de

serviços prestados pela Quinta da Grotinha, como sendo da preferência dos clientes. De novo

recurso à escala de Likert em que 1 - Nada importante; 2 - Pouco importante; 3 - Média

importância; 4 - Muito importante; 5 – Fundamental. As médias apuradas foram as seguintes,

conforme se pode verificar pela análise do quadro 9.

Quadro 6| Produtos turísticos a desenvolver

Produtos Média Produtos Média

Percursos pedestres interpretativos 3,36 Workshops de doçaria 2,54

Caminhadas na natureza com meditação 2,74 Workshops de agricultura biológica 3,10

Caminhadas para observação de aves 2,76 Workshops de artesanato 2,6

Observação de cetáceos 3,30 Aulas de yoga 2,65

Passeios de barco 3,46 Aulas de meditação 2,51

Atividades de caça submarina 2,93 Visitas guiadas a locais de interesse da ilha 3,75

Atividades de mergulho 3,34 Massagens e acupunctura 2,72

Workshops de cozinha vegetariana 2,77

Existência de equipamentos como sauna e jacuzzi

2,09 Workshops de cozinha regional 3,07

Workshops de doçaria 2,54

Escala: Likert em que 1 - Nada importante; 2 - Pouco importante; 3 - Média importância; 4 - Muito importante; 5

Outra questão que merece ser refletida: Se durante a época alta o turismo e a afluência de turistas

não constitui problema, quando se sai desta época mais estival, os números caem para valores

preocupantes como os já abordados em anteriores capítulos, o que representa uma grande

preocupação.

Contudo, a satisfação sentida pelos clientes da Quinta da Grotinha é tal que, quando

questionados se viriam à Quinta fora da época alta, 97% responderam afirmativamente e apenas

3% entenderam optar pela negativa.

Havendo potencial mercado fora da época alta, e perguntados a propósito da oferta que então

deveria prevalecer, as respostas acabaram por tender, no geral, no mesmo sentido (Quadro 10), o

que ajuda a caraterizar estas atividades como de eleição para turismo na natureza, em especial

praticado na Quinta da Grotinha. Com recurso à mesma escala da pergunta nº 25, apresentamos

na tabela abaixo as médias encontradas.

Quadro 7| Produtos turísticos para fora de época

Produtos Média Produtos Média

Percursos pedestres interpretativos 3,16 Workshops de doçaria 2,5

Caminhadas na natureza com meditação 2,54 Workshops de agricultura biológica 2,15

Caminhadas para observação de aves 2,7 Workshops de artesanato 1,91

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Apresentação de resultados

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Observação de cetáceos 3,05 Aulas de yoga 1,8

Passeios de barco 3,57 Aulas de meditação 2,16

Atividades de caça submarina 2,92 Visitas guiadas a locais de interesse da ilha 3,5

Atividades de mergulho 3,21 Massagens e acupunctura 2,2

Workshops de cozinha vegetariana 2,37

Existência de equipamentos como sauna e jacuzzi

1,88 Workshops de cozinha regional 2,69

Workshops de doçaria 2,17

Escala: Likert em que 1 - Nada importante; 2 - Pouco importante; 3 - Média importância; 4 - Muito importante; 5

Procurámos compreender também, através do questionário, em que medida os turistas achavam

importante, na Quinta, a existência de uma loja de artesanato regional com trabalhos

desenvolvidos por artesãos locais, e aí as respostas não foram tão afirmativas porque apenas 24%

considerou essa necessidade como muito importante, enquanto claros 48% não foram além de

uma preferência caraterizada de média importância.

Por último, sugestões: “Quais as situações que merecem maior atenção dos clientes?” A

existência de uma rede WiFi extensível a toda a Quinta (Extrema Importância); Maior e mais

eficaz referência, no momento do check in, às regras de limpeza a ter em conta em cada habitação

(Muito Importante); maior cobertura televisiva no espaço da Quinta – Importante a

curto/médio prazo.

6.2 Discussão dos resultados

Após o estudo aqui apresentado sobre as ofertas em TER, na ilha de São Miguel, e do

levantamento e correspondente interpretação dos dados dos questionários de satisfação aos

clientes que passaram pela Quinta da Grotinha, há condições para pensar que um tipo de turismo

deste género, voltado para a natureza e para todas as valências que dela sejam possíveis extrair,

tem de facto condições de progressão, assim se consigam aliar os gostos dos clientes à oferta

turística que se lhes possa apresentar.

Não é assim por acaso que o panorama apresentado para o turismo, pela UNWTO, no seu

relatório de 2012, tenda a confirmar o essencial das virtualidades do turismo na natureza, que só

necessitam ser aprofundadas em função de cada uma das situações específicas das áreas a

desenvolver na captação e difusão desta vertente.

Este turismo alternativo, que se identifica muito com o turismo na natureza, pode vir a afirmar-se

como um mercado de futuro. Para que isso aconteça importa que as ofertas já propostas, e as que

futuramente venham a ser criadas, disponham de produtos genuínos, dinâmicos e inovadores.

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-90-

Quando interrogados no inquérito sobre o que mais gostaram na Quinta da Grotinha os turistas

disseram preferi-la, numa escala percentual variável entre os 38% e os 82%, por inserir-se num

local tranquilo e sereno, que possibilita o contato com a natureza e a libertação de ambientes

citadinos.

Outras caraterísticas identificadas pelos clientes turistas como importantes para a escolha da

Quinta da Grotinha e do TER em detrimento da hotelaria tradicional são o ambiente acolhedor e

genuíno e a fraternidade hospitaleira que todo o bucólico envolvente possibilita no

relacionamento entre as diversas pessoas que usufruem desses espaços.

Poderemos então considerar que estes são resultados que confirmam as teses de (Fonseca e

Ramos, 2007; Menezes, 2000; Silva, 2007), quando indicam que quem procura estes espaços

busca acima de tudo o sossego e a tranquilidade que não encontra nos locais de residência. Aliás,

a grande maioria dos autores aqui referenciados, caminha no mesmo sentido quanto às mais-

valias necessárias para a afirmação deste tipo de turismo, razões pelas quais a Quinta da Grotinha,

que só por si se integra num ambiente ideal para a afirmação deste tipo de turismo, poderá

beneficiar de uma posição bastante interessante neste mercado, se conseguir dar a volta às suas

fragilidades, mediante uma atenta reestruturação, que inverta as carências sentidas e, em seu lugar,

faça transformar o seu negócio em verdadeiros pilares de estratégia empresarial.

De uma forma geral, os dados que caraterizam os clientes da Quinta da Grotinha seguem em

tudo o que autores como Fonseca, Menezes (2000) e Silva (2007), apontaram como sendo o

perfil do cliente que procura unidades de TER. Indicam, por exemplo, que a grande maioria é

oriunda dos espaços urbanos, caraterizada por um bom nível de formação académica, como foi

possível concluir pelas respostas dadas, com 73% a indicarem ter formação superior.

Por sua vez, a faixa etária situa-se entre os 33 e os 44 anos, o que representa cerca de 61% da

amostra, o que vai ao encontro do indicado nas referências bibliográficas, onde o intervalo

referido foi dos 31 aos 45 anos.

Contudo, esses dados indicam também que apenas 22% dos inquiridos regressaram aos Açores

pela segunda vez, o que põe um problema sobre que importa refletir e compreender se, de

alguma forma, o não regresso terá a haver com expetativas não totalmente satisfeitas pelo

território ou então por outros constrangimentos como o elevado custo das ligações aéreas.

Apesar de os Açores se encontrarem a cerca de duas horas de avião de Portugal Continental

verificamos que maioritariamente as pessoas que procuram a Quinta da Grotinha não vêm para

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Apresentação de resultados

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passar um fim de semana. O seu propósito é ficar mais tempo: 5 dias para cerca de 23%; a opção

de 7 dias para 20% e, por último, 10 dias como a escolha preferencial para apenas 15%.

Será importante analisar que a relativa longa estadia dá espaço para que produtos de atividades de

natureza e aventura, assim como de saúde e bem-estar sejam comercializados, pelo que importa

melhorar toda essa informação pelos diferentes alojamentos e na página da internet.

A somar a este baixo nível de oferta é de referenciar que a Quinta da Grotinha representa um

exemplo de agroturismo, que lamentavelmente ainda não se encontra difundido em qualquer dos

grandes sites especializados. Dessa forma o mercado, tanto nacional como o internacional, ficam

sem a possibilidade de ter um conhecimento adequado do espaço.

Como refere Kotler (2000 cit. por Kotler, 2006: 7), “já não basta simplesmente satisfazer clientes.

É preciso encantá-los.”. Ora, esse encantamento deve começar logo pelo endereço de um site,

que normalmente serve de primeiro contato com o cliente, daí que tenha de haver uma forte

aposta neste canal de comunicação.

Com efeito, quando olhamos para os dados recolhidos no questionário, constatamos que mais de

83% dos clientes da Quinta da Grotinha tiveram conhecimento deste Agroturismo através de

amigos e que apenas 11% indicam saber da sua existência pela internet, o que preocupa, na

projeção de uma maior divulgação a potenciais turistas, e prova que o meio internet está muito

mal explorado na Quinta.

Também pelo facto deste nicho de mercado ser extremamente competitivo, a Quinta da

Grotinha não pode dar-se ao luxo de “perder o barco” por falta de investimento na componente

do marketing, visto que esta é a base que lhe irá permitir assumir-se perante esse mercado e

marcar a sua presença nele, independentemente da sua capacidade de gerar produtos

internamente, que tenham condições de competitividade com outros similares, desenvolvidos no

exterior e pela concorrência (Kotler 2000 cit. por Kotler, 2006).

Os autores Cruz (2003) e Ladeiro (2012) afirmam que existe uma necessidade de fazer com que o

mundo saiba desse tipo de oferta. Por isso, toda e qualquer empresa na área do turismo, que

pretenda realmente vingar, deve aproveitar a janela de oportunidade que é aberta pelo correto

aproveitamento da ferramenta internet. Segundo o primeiro destes autores, ela é responsável pelo

aumento, em 47%, do consumo de produtos turísticos, segundo dados referentes ao ano de 2004,

o que corresponde a um resultado global de 20% do total de produtos e serviços vendidos.

Page 110: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-92-

Segundo Cobra (1993 cit. por Abreu e Costa, 2000) e El-Check (1991 cit. por Abreu e Costa,

2000) não há outro caminho para a afirmação do turismo na natureza que não passe pelo

investimento em formas de marketing, até porque ele não é só publicidade ou simplesmente

venda. Ele será o elemento agregador das necessidades sentidas pelos clientes, que

posteriormente será trabalhado para que visualmente os cative e chame a aderir. Interfere na

forma como seja possível vender os produtos e serviços e na postura apresentada para tal efeito.

Trata-se de uma ferramenta que a Quinta da Grotinha terá de seguir também, afirmando-se desse

modo, o mais a curto prazo possível, como um TER competitivo em relação à concorrência já

existente, metodologia essa já aconselhada pelos autores (Longhini e Borges, 2005; Marujo, 2008).

Ao conciliarmos estas duas ferramentas (marketing e internet) estaremos a criar algo fundamental

visto que, se por um lado o marketing trabalha a empresa e os produtos para que o público os

veja de outra forma, por outro a internet permite chegar a um maior número de potenciais

clientes a um custo relativamente mais baixo.

A internet permite também uma difusão de informação mais completa e com maior qualidade, a

possibilidade de gerar reservas de forma instantânea e rápida, reduzindo o número de reservas

efetuadas por telefone que é atualmente de 46%. Esta ferramenta ajudará igualmente a melhorar a

comunicação com o mercado, a reduzir custos na produção e na distribuição de informação.

Mesmo havendo esta grande lacuna na comunicação com o exterior, a Quinta da Grotinha

continua a demonstrar qualidades fundamentais para se posicionar no mercado, já que

hospitalidade, ambiente e imagem, qualidade do serviço, qualidade do alojamento, relação

preço/qualidade, foram identificadas, no inquérito, pelos turistas que já a visitaram como

caraterísticas muito importantes.

De acordo com Moreira (2010) e Avena (2001) esta perceção muito satisfatória da atitude

institucional e do pessoal de atendimento, refletidos nas categorias de hospitalidade, qualidade de

serviço, qualidade do alojamento, representam dimensões que todos os que trabalham em TER

devem privilegiar.

Quando associamos a isso o sentimento de aprovação que sentimos nas respostas quando

inquirimos os clientes sobre o que mais gostaram nos alojamentos, verificamos que a decoração

(78%), a área da habitação (63%); a paisagem (57%); e a luminosidade (51%) foram considerados

os pontos fortes. Apenas um valor residual de 18% dos clientes não foi tão afirmativo, indicando

a necessidade de melhoramentos.

Perante tais indicadores, autores como Cabral (2004) entendem que os proprietários de um

espaço turístico como este, ao aperceberem-se de que se trata mesmo de um negócio lucrativo,

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Apresentação de resultados

-93-

devem sentir-se estimulados para reorganizarem as suas propriedades, onde tão bem pode

desenvolver-se este negócio, privilegiando a dimensão estética e utilitária das suas instalações.

Dessa forma, uma maior fidelização de clientes poderá assumir circunstâncias mais propícias,

juntando-se muitos mais a todos os que, já agora, quando questionados se – “Numa próxima

viagem à ilha de São Miguel, optava por ficar na Quinta da Grotinha?” – dão-lhe a unanimidade

do seu aval, pronunciando-se peremtoriamente pela afirmativa – sim.

Daí que seja expectável ter elevados horizontes quando tentamos compreender o grau de

satisfação dos clientes com a estadia na Quinta da Grotinha: 57% indica estar Totalmente

Satisfeito e 37% Muito Satisfeito.

Quando abrimos o leque para a satisfação em relação à Quinta da Grotinha como Turismo em

Espaço Rural – as respostas encontradas reforçam as da pergunta anterior, já que 57% afirmam

estar Totalmente Satisfeitos e 34% Muito Satisfeitos.

Ao fechar este ciclo de avaliação de satisfação, procurámos saber se as expetativas foram

superadas: 44% afirmam que sim e 30% vão mesmo ao ponto de julgarem que o foram em

muito. Segundo Delgado (1996), esta satisfação encontrada reflete a total sintonia entre o

produto e as reais necessidades do cliente.

Estas respostas são a chave mestra para identificar que o produto oferecido tem qualidade, tem

condições para afirmar a sua autenticidade no mercado turístico alternativo e que por isso urge

contar também com apoios de agentes locais (públicos e privados), que assim se afirmarão

também como polos fundamentais de divulgação e afirmação do produto TER (Fonseca e

Ramos, 2007; MacCannell, 1999; Silva, 2007).

Resta-nos falar sobre o que falta ainda desenvolver a nível de atividades de natureza e aventura,

que são apontadas por Balmford (2009), Fredman (2010), Melo (2009)e Wells (1997), como um

dos setores em franco crescimento, sendo o principal produto estratégico da região (Silva, 2013 e

eventualmente outros) e ao qual a Quinta da Grotinha não pode, nem deve “virar a cara”, visto

que o desenvolvimento deste tipo de oferta possibilitará satisfazer ainda mais os clientes, com a

correspondente melhoria dos seus níveis de angariação e fidelização (Almeida e Silva, 2009: 309).

Note-se que o turista que procura este tipo de produtos está identificado como “novo turista” –

segundo Weaver & Oppermann (2000 cit. por Lima e Partidário, 2002: 9). Boniface (2001: 20)

enfatiza que as suas caraterísticas de flexibilidade, como conhecedor e pesquisador de qualidade

nos destinos, fazem dele um reflexo da mudança do estilo de vida operado pela sociedade e que

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-94-

se insere dentro do setor do turismo alternativo e de nichos, onde este encontra resposta às suas

carateristicas.

Para além disso, este tipo de turismo foi identificado por um conjunto de autores como a

atividade que, não colocando de modo algum em causa os caminhos para uma atividade

sustentável, melhor servirá os interesses da ilha (Balmford, 2009; Buhalis e Costa, 2006; Lopes,

2013; Moniz, 2006; Newsome et al., 2002; Rantala, 2011; Silva, 2013).

Assim, e tendo em consideração as carateristicas apresentadas, foram elaboradas propostas de

atividades das quais foram considerados os produtos que apresentavam médias mais altas de

acordo com a citada escala Likert de 1 a 5: visitas guiadas a locais de interesse da ilha (3,75);

percursos pedestres interpretativos (3,36); passeios de barco (3,46); observação de cetáceos (3,3);

e atividades de mergulho (3,34%).

Sendo os Açores um arquipélago no meio do oceano a sazonalidade da atividade turística é

fortemente sentida, levando a que as taxas de ocupação desçam a níveis quase impossíveis de

conseguir fazer com que um negócio do tipo subsista (SREA, 2013).

Assim, é urgente colmatar um entrave grave como esse, o que nos levou a questionar os clientes

se estariam dispostos a voltar na época baixa, fora portanto do período estival, e o resultado foi

bastante positivo, já que 97% respondeu afirmativamente e apenas 3% entendeu optar pela

negativa. Portanto, a disponibilidade existe em larga escala, importando então criarem-se as

condições para que isso aconteça. Que atividades os estimulariam então a vir fora de época e que

a Quinta deveria aproveitar e oferecer?

Surpreendentemente as respostas caminharam no sentido do mesmo modelo, ou seja,

independentemente da época do ano as atividades de preferência são do mesmo tipo, não

obstante quaisquer aperfeiçoamentos de circunstância que se justifiquem pontualmente, o que

ajuda a caraterizar as atividades que de seguida se indicam como genericamente de eleição para

turismo na natureza, em especial praticado na Quinta da Grotinha.

Assim, classificaram-se com as médias mais altas,de acordo com a escala de Likert, as seguintes

preferências: Passeios de barco (3,57); atividades de mergulho (3,21); percursos pedestres

interpretativos (3,16); observação de cetáceos (3,05); visitas guiadas a locais de interesse da ilha

(3,5%).

Por fim, a apreciação dos questionários suscita algumas sugestões mais referenciadas pelos

clientes. A temática envolvendo a oferta de serviços de internet, rede WiFi, extensível a toda a

Quinta (Extrema Importância) mostra-se decisiva para muitos dos potenciais frequentadores da

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Apresentação de resultados

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Quinta, que muitas vezes, devido aos cargos que ocupam, não se podem sentir privados de

manterem contato com o mundo cibernauta durante o seu tempo de férias. Um handicap que

importa ser ultrapassado.

Olhando para o estudo de mercado a cobertura televisiva é algo que está presente em todos os

TER e no espaço da Quinta mais uma vez esse ponto não deve ser descurado, visto que mesmo

que se tente fomentar mais a relação entre as pessoas, a TV deve existir e ser satisfatória para o

cliente na escolha desta sua solução TER – Ela é sentida como Importante a curto/médio prazo.

Também as regras relacionadas com a limpeza, a ter em conta em cada habitação, poderiam

constar do pacote, para o que bastaria que essa opção fosse passível de ser clarificada logo no

momento da reserva. Se houvesse um formulário de reserva na internet essa opção deveria facilitar

esse pormenor, assim como a existência da opção de camas extra (Muito Importante).

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Conclusões e considerações finais

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7 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

No resumo com que a princípio indicámos a que nos propunhamos neste trabalho, foi acentuado

que o turismo é um setor deveras importante para a economia e isso será tanto ou mais

significativo quanto for a capacidade para desenvolver a sua componente serviços mediante

medidas suficientemente atrativas e inovadoras.

Nessa perspetiva, como a Quinta da Grotinha insere-se num negócio que visa produzir serviços,

quer de alojamento, quer de atividades de natureza e aventura para os diferentes clientes no setor

do turismo, podemos então inferir que o futuro deste produto será promissor desde que esta

componente respeite, como serviço, o lema da qualidade tão exigida nos dias de hoje.

Como setor estruturante da economia global é de extrema importância que todo o tipo de

atividades que se desenvolvam em seu redor aconteça tendo sempre em atenção os mais elevados

conceitos de desenvolvimento sustentável.

Podemos assim concluir que:

Para que esse desenvolvimento decorra no caminho certo, e nesse caso a Quinta da

Grotinha deve ser vista como um exemplo entre muitos, terão de ter-se em linha de conta

as três dimensões fundamentais a cada sociedade: económica, social e ambiental, de que

dependerá uma correta abordagem das necessidades das gerações atuais, o que será uma

garantia de que os recursos ao dispor serão devidamente orientados e assim não porão em

causa as aspirações das gerações futuras (Fonseca e Ramos, 2007; Silva et al., 2013);

Neste processo toda a criação e desenvolvimento de novos produtos e oferta turística

deverão assentar num forte planeamento, já que será a partir deste que alguns pontos

fundamentais como a definição da capacidade de carga máxima de determinados destinos

ou zonas, possibilitará desenvolver o turismo no caminho da sustentabilidade(G., 1998:

39);

A Quinta da Grotinha, exemplo de turismo no espaço rural, possui qualidades ímpares

para apoiar dinâmicas de desenvolvimento a nível regional e afirma-se como veículo que

valoriza os recursos endógenos e que potenciem o seu desenvolvimento como tal;

Devido às suas caraterísticas, o tipo de turistas da Quinta da Grotinha é preferencialmente

aquele que, devido a fatores de ordem social e psicológica, procura algo de genuíno e

associado ao desejo de distanciamento temporário das pressões quotidianas e de uma

atmosfera no oposto ao ambiente citadino, que desse modo possa desfrutar de locais

Page 116: Dissertação_VITFID_2014_Vitório Fidalgo

Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-98--98-

onde o descanso, relaxamento, tranquilidade, reencontro com a sua própria autenticidade

e contato com a natureza possibilitem o tão ansiado “recarregar de baterias”

(PRIVETUR, 2013; Silva, 2007);

Devido às carateristicas da nossa sociedade o turismo em espaço rural apresenta-se assim

como uma aposta com tendência para ser ganha, dados os sinais de crescimento, que tem

vindo a manifestar ao longo dos últimos anos (Observatório Regional de Turismo, 2008);

Em relação aos Açores torna-se urgente estabilizar mais as taxas de ocupação, já que

mesmo havendo sempre uma forte sazonalidade (SREA, 2013), torna-se imperioso

conseguir arranjar soluções para essa diminuição da procura através da criação de novos

produtos e da redução do preço das ligações aéreas;

Segundo Cafferky (1999, cit. por Bentivegna, 2002: 80), mais de 80% das pessoas seguem

as recomendações de familiares, amigos ou profissionais, mas o recurso a este turismo de

lazer não se esgota nesses meios. O recurso à internet para uma mais ampla divulgação é

assim fundamental, o que a Quinta da Grotinha não pode também descurar;

É assim que uma ampla divulgação pelas novas tecnologias determinará que a Quinta da

Grotinha deva dispor de um site com mais valências do que aquele de que presentemente

dispõe e que surja em outros tipos de páginas tais como Booking, Airbub e Tripadvisor, entre

outros;

A Quinta da Grotinha deverá apostar na renovação das suas instalações, acompanhada

pelo aumento da capacidade de alcance da rede WiFi e a disponibilização de informação,

para todos os hóspedes, via internet, com as receitas mais interessantes e possíveis de

serem experimentadas nas cozinhas de cada um dos diferentes alojamentos;

Se as ofertas em turismo de natureza e saúde e bem-estar envolvem atividades que são

apontadas por muitos autores (Balmford, 2009; Fredman e Tyrväinen, 2010; Melo, 2009;

Wells, 1997), como em franco crescimento e ao qual é exigida uma resposta, a Quinta da

Grotinha deve procurar investir nelas para o seu efetivo desenvolvimento;

Alguns exemplos dessas ações: atividades de mergulho; passeios de barco e observação de

cetáceos; visitas guiadas a locais de interesse da ilha; percursos pedestres interpretativos;

ações a culminar com refeições em zonas emblemáticas da ilha. Para isso a Quinta da

Grotinha deveria associar-se em parceria a outras empresas, cujos meios humanos e

materiais a ajudem na sua concretização;

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Conclusões e considerações finais

-99-

Destas atividades deverá ser dado prévio conhecimento, para além de outros meios de

difusão propostos, à chegada dos clientes no ato do seu check in;

Dado que a Quinta da Grotinha é um espaço com capacidade para transmitir calma,

descontração, capacidade regeneradora e relaxamento completo seria interessante que

pudesse vir a envolver a sua atividade através da existência de um gabinete de terapias

alternativas, que funcionasse interna ou exteriormente a ela, num dos recantos mágicos da

ilha de São Miguel, que merecesse o aval dos seus responsáveis;

Esta nova visão, que se pretende atribuir à Quinta da Grotinha, pressupõe investimento

na justa medida das ambições pretendidas, mas o seu resultado, no curto/médio prazo,

será convertido em mais dias de ocupação e em consequente encaixe financeiro;

Desta maneira, a Quinta da Grotinha passará a fornecer um serviço de maior qualidade e

diversificado, o que lhe dará maior relevância turística, de que poderão resultar mais

ganhos pelo facto de um maior conhecimento à sua volta a poder projetar ao encontro

das principais revistas internacionais da especialidade.

Como apontámos no resumo inicial com vista à presente dissertação o principal objetivo

subjacente consistiu em, analisar e apresentar, de uma forma abrangente, propostas para melhorar

a oferta, garantindo a sustentabilidade de um projeto como o da Quinta da Grotinha.

A investigação desenvolvida permitiu aferir que o valor da Quinta da Grotinha é inegável no

panorama do agroturismo, que ultrapassa em muito o mero âmbito regional, embora as

potencialidades, que torna vísiveis, se mostrem ainda muito aquém das suas reais capacidades,

devido à estagnação sentida a nível da ocupação dos diferentes alojamentos como resultado da

reduzida e inadequada utilização das novas tecnologias de comunicação, em especial a internet, e

da pouca criação e implementação de novos produtos turísticos.

A análise do estado da arte sobre turismo, em particular o TER, agroturismo e turismo na

natureza, conjuntamente com a aplicação de inquéritos aos clientes da Quinta da Grotinha e uma

análise de estudo de mercado, permitiram que se chegasse a um conjunto de conclusões que

confirmaram as premissas da presente dissertação, a saber:

Que existe um conjunto de produtos de turismo na natureza e de saúde e bem-estar com

uma forte componente criativa e capaz de proporcionar uma experiência única a quem os

realiza, que devem ser desenvolvidos como complemento da oferta de alojamento;

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Apesar de terem sido encontradas algumas respostas sobre o desenvolvimento de pacotes

turísticos capazes de combater a sazonalidade do turismo nos Açores este ponto carece

de maior dedicação e uma análise mais aprofundada;

A partir da análise de estudo de mercado, foi possível identificar quais as soluções que a

concorrência tinha e que a Quinta da Grotinha não poderia deixar de ter;

A análise à opinião dos clientes revelou que, na sua quase totalidade, os clientes da Quinta

da Grotinha sentiram a sua estadia com um grau de satisfação muito elevado e mostram

vontade de regressar;

Foram apresentadas um conjunto de medidas que sugerem atualizar e melhorar a Quinta

da Grotinha para que, de uma forma mais sustentável, ela consiga estabelecer-se de uma

forma sólida, confiante e determinada para um futuro a médio e longo prazo.

A Quinta da Grotinha é vista pelos que responderam como um espaço turístico de referência,

que só precisará de se lançar mais para o exterior através de uma promoção mais

internacionalizada, criativa e moderna.

Assim, se a Quinta da Grotinha quiser apostar numa atividade turística mais ampla e inovadora,

poderá vir a ser no futuro um exemplo de agroturismo que prime por qualidade redobrada e

reconhecida além-fronteiras.

Pensamos ter assim respondido ao propósito aqui primeiramente formulado, partindo do

exemplo da Quinta da Grotinha. Há todas as condições para o agroturismo, o turismo na

natureza, se afirmar, mas importa avançar para apostas inovadoras que ajudem a captar um maior

número de turistas. Para isso há que investir, trabalhar no sentido de ir ao encontro dos seus

anseios, de como se sintam cada vez melhor em contato com a tranquilidade que a natureza

suscita. Essa predisposição existe. Bastará apenas que os operadores traduzam mais e mais ideias

em atos inovadores, para que esta vertente turística alcance maior sucesso no futuro.

Potencialidades existem e se esta dissertação serviu para despertar consciências, como nos

propusemos de início, tanto melhor!

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Referências Bibliográficas

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-112--112-

ANEXOS

Anexo I - Legislação e regulamentação do TER

O processo criador dessa legislação (Ribeiro et al., 2001; Santos e Cabral, 2005) é assim

fundamental, tendo em consideração a franca ascensão registada nos serviços de hospedagem,

para que paralelamente se ajude a promover este tipo de espaço turístico localizado em zonas

com inúmeras fragilidades nos planos económico e produtivo.

Graças ao início da recuperação das casas senhoriais, houve a necessidade de criar o conceito

legal de TER, surgido em 1986, e que abrange as seguintes componentes: Turismo de Habitação;

Turismo Rural e Agro-Turismo (D.L. 256/86). Em 1989 aparece mais uma novidade no leque de

possibilidades do TER, o “Hotel Rural”, e só em 1997 surge o Turismo de Aldeia e as Casas de

Campo com o decreto lei 169/97.

No quadro da longa evolução que o TER já regista, há atualmente a considerar sete modalidades

distintas (Santos e Cabral, 2005):

Turismo de Habitação - Serviço de hospedagem de natureza familiar prestado a turistas

em casas antigas particulares, cujo valor arquitetónico, marca e representa claramente uma

determinada época;

Turismo Rural - Serviço de hospedagem de natureza familiar prestado a turistas em casas

rústicas particulares, onde a sua traça e demais características conservam a arquitetura

típica local.

Agroturismo – Esta modalidade, como já foi anteriormente referida, representa a

possibilidade de acréscimo de rendimento para os agricultores, onde estes fornecem um

serviço de hospedagem, de natureza familiar, prestado em casas particulares integradas

em explorações agrícolas onde os hóspedes podem participar na vida de uma exploração

agrícola;

Turismo de Aldeia – Serviço de hospedagem prestado em casas particulares onde estas

estão localizadas em aldeias e têm de ter um conjunto de, no mínimo, cinco casas;

Casas de Campo – São casas particulares localizadas em zonas rurais onde a traça e os

materiais têm necessariamente de estar integrados na arquitetura e ambiente rústico da

zona envolvente:

Hotéis Rurais – São estabelecimentos hoteleiros situados em zonas rurais onde quem lá

trabalha apresenta um serviço remunerado e profissionalizado;

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Anexos

-113-

Parques de Campismo Rurais – São terrenos destinados à instalação de acampamentos,

que podem ou não estar localizados em explorações agrícolas.

Para o conjunto das possíveis modalidades de turismo rural apresenta-se agora, de uma forma

explicativa muito resumida, a legislação existente:

Decreto-Regulamentar nº 13/02 de 12 de Março – Estipula os requisitos mínimos que

uma instalação deve possuir e como esta deve funcionar a nível de empreendimentos de

turismo no espaço rural;

Decreto-Regulamentar nº 14/2002 de 12 de Março – Estabelece as normas a que estão

sujeitos os parques de campismo públicos e privados;

Decreto-Lei nº 54/2002 de 11 de Março - Estabelece o novo regime jurídico da instalação

e do funcionamento dos empreendimentos de turismo no espaço rural;

Decreto-Regulamentar n.º13/2002 de 12 de Março - Estipula os requisitos mínimos para

o funcionamento dos empreendimentos de turismo no espaço rural;

Decreto-Lei nº 55/2002 de 11 de Março – Indica o novo regime jurídico da instalação e

funcionamento dos empreendimentos turísticos (e Hotéis Rurais);

Decreto-Lei nº 336/93 de 29 de Setembro - Estabelece normas de higiene e saúde

públicas;

Decreto-Lei nº 192/82 de 19 de Maio – Cria os Parques de Campismo Rurais.

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-114--114-

Anexo II - Legislação e regulamentação do setor das atividades de

turismo na natureza

O tema que aqui se pretende desenvolver é o de apresentar o conjunto de legislação existente e

pertinente para o desenvolvimento, criação e aplicação da atividade de turismo na natureza,

diretamente relacionada com a área da animação turística.

Para compreendermos as disposições legais em torno do turismo na natureza, tenhamos em

conta o seguinte enquadramento legislativo:

A Resolução do Conselho de Ministros nº 112/98, de 25 de agosto, clarifica e estabelece a

criação do Programa Nacional de Turismo na Natureza (PNTN), onde se prevê uma

prática integrada de atividades de animação ambiental, aplicável na Rede Nacional de

Áreas Protegidas;

O Decreto-Lei n.º 56/2002, de 11 de março, que substitui o Decreto-Lei nº 47/99, de 16

de fevereiro, onde é estabelecido o regime jurídico regulador do turismo na natureza;

Para regular a animação ambiental nas modalidades de interpretação ambiental e desporto

na natureza, a nível do seu processo de licenciamento, importará consultar o Decreto

Regulamentar nº 18/99, de 27 de agosto;

Decreto Regulamentar nº 17/03, de 10 de outubro, que veio alterar o Decreto-

Regulamentar nº 18/99, de 27 de agosto, e que regulamenta cada uma das modalidades de

animação ambiental nas áreas protegidas;

A Portaria nº 164/2005, de 11 de fevereiro, e a Declaração de Retificação nº 12/2005, de

13 de março, estabelecem as taxas devidas pela concessão e renovação das licenças

emitidas pelo ICN;

O Decreto-Lei nº 19/93, de 23 de janeiro, indica o normativo que regulamenta a rede de

áreas protegidas que foi posteriormente alterado pelo Decreto-Lei nº 136/2007, de 27 de

abril.

A legislação que se aplica ao turismo na natureza e à gestão da Rede Nacional de Áreas

Protegidas (RNAP), irá regular os Desportos de Natureza. Esta legislação não poderá sobrepor-

se à que é específica de cada modalidade, à legislação relativa ao turismo na natureza e à animação

ambiental.

Para além disso, para podermos desenvolver atividades desportivas em áreas protegidas, teremos

de ter ainda em consideração a seguinte legislação geral:

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Anexos

-115-

Decreto-Lei nº 218/95, de 26 de agosto, que regula a circulação de veículos motorizados

nas praias, dunas, falésias e reservas integrais;

O Decreto-Lei nº 407/99, de 15 de outubro, regula o regime jurídico da formação

desportiva no quadro da formação profissional;

O Decreto-Lei n.º 95/2013, de 19 de julho, veio alterar o Decreto-lei n.º 108/2009, de 15

de maio, e estabelece as atividades próprias e as acessórias das empresas de animação

turística;

Conduta Expresso na Portaria n.º 651/2009, de 12 de junho, que deve ser adotada para a

rede de áreas protegidas;

A Portaria n.º 651/2009, de 12 de junho, regulamenta o código de conduta a adotar pelas

empresas de animação turística e operadores marítimo-turísticos, que exerçam atividades

reconhecidas como turismo na natureza;

O Decreto-Lei n.º 21/2002, de 31 de janeiro, alterado pelos Decretos-Lei n.º 269/2003,

de 28 de outubro, e n.º 108/2009, de 15 de maio, que regulamenta a atividade marítimo-

turística.

Algumas modalidades obedecem a uma legislação em comum, como no caso dos vários

desportos náuticos e da náutica de recreio. Alguns desportos são ainda regulados por

legislação específica ou regulamentos das respetivas federações.

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Anexo III – A Quinta da Grotinha

Figura 9 | Frente da Quinta da Grotinha

Figura 10 | Sala de estar comum

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Anexos

-117-

Figura 11 | Casa Azul

Figura 12 | Quarto Casa Azul

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-118--118-

Figura 13 | Casa Grande

Figura 14 | Casa Grande - Vista

Figura 15 | Casa Grande – Sala de Estar

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Anexos

-119-

Figura 16 | Primeiro Quarto Casa Grande

Figura 17 | Quarto do Meio - Casa Grande

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Figura 18 | Casa Grande - Terceiro Quarto

Figura 19 | Casa Grande - Quarto da Ponta

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Anexos

-121-

Figura 20 | Casa Grande - Casa Banho

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-122--122-

Anexo IV – Inquérito

Este questionário tem por objetivo auscultar os clientes da Quinta da Grotinha em relação à sua perceção quanto à

qualidade dos alojamentos, do serviço prestado e do grau de satisfação experimentado.

Para além disso, é de interesse identificar quais são as atividades que os clientes gostariam de ter disponíveis.

Adicionalmente, agradecem-se sugestões de melhoria que permitam qualificar e valorizar os alojamentos e serviços

da Quinta.

Este inquérito está a ser desenvolvido no âmbito do Mestrado em Turismo, da Escola Superior de Hotelaria e

Turismo do Estoril. A confidencialidade dos dados obtidos é garantida, não sendo divulgadas informações

individualizadas.

Agradecemos a sua atenção e colaboração, confiantes de que as opiniões expressas contribuirão para o aumento da

qualidade da oferta da Quinta da Grotinha.

Informação geral sobre quem preenche o inquérito

1) Idade

2) Sexo

Masculino

Feminino

3) País ou região de residência

Alemanha

Canadá

Dinamarca

Espanha

Estados Unidos

Finlândia

Holanda

Noruega

Portugal Continental

Região Autónoma dos Açores

Região Autónoma da Madeira

Reino Unido

Suécia

Outro, Qual?_______

4) Ligação aos Açores?

Reside

Tem familiares nas ilhas

Tem ascendência Açoriana

Nenhum dos casos

5) Escolaridade

Ensino básico

Ensino secundário

Ensino superior

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Anexos

-123-

Informação sobre a sua última viagem em que ficou alojado na Quinta

6) Quantos adultos o acompanharam na viagem?

7) Quantos acompanhantes com idade inferior a 18 anos o acompanharam na viagem?

8) Duração da última viagem aos Açores (número de dias)?

9) Quantas vezes já visitou os Açores (incluindo esta)?

10) Que sites costuma utilizar para pesquisar alojamentos nas suas viagens?

11) Assinale os aspetos que o levaram a escolher um Turismo em Espaço Rural em detrimento da Hotelaria Tradicional?

Ruralidade e afastamento do ambiente citadino

Contato com a natureza

Pegada ecológica mais reduzida

Local tranquilo e sereno

Lugar com história e genuinidade

Maior proximidade com a comunidade local

Outro, qual?

12) Principal motivo da visita (selecione apenas uma opção)?

Férias ou lazer;

Visita a amigos ou familiares;

Negócios e outros motivos profissionais;

Eventos culturais ou desportivos;

Outro, Qual?______________

Informação sobre a estada na Quinta da Grotinha

13) Quantas noites permaneceu alojado na Quinta da Grotinha?

14) Quantas vezes (número de viagens) ficou alojado na Quinta da Grotinha (incluindo esta)?

15) Como teve conhecimento da Quinta da Grotinha?

Amigos / Familiares

Internet

Folhetos

Outros, Qual?

16) Como efetuou a reserva do alojamento na Quinta da Grotinha?

Telefone

Email

Online

17) Quais os motivos que levaram à escolha da Quinta da Grotinha?

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

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Utilize a seguinte escala: 1 - Nada importante; 2 - Pouco importante; 3 - Média importância; 4 - Muito importante; 5 – Fundamental.

1 2 3 4 5

Preço

Proximidade a Ponta Delgada

Ambiente/Imagem

Qualidade do Serviço

Hospitalidade

Qualidade do alojamento

Relação qualidade/preço

Tipologia de alojamento

Outra, qual:_________________

Outra, qual:_________________

18) Numa próxima viagem à ilha de São Miguel, optava por ficar na Quinta da Grotinha?

Não

Se não, porquê?

Sim

Se sim, com que regularidade?

19) Em que habitação esteve alojado na Quinta da Grotinha?

Azul

Branca

Grande

20) O que mais gostou na habitação?

Decoração

Limpeza

Área da Habitação

Luz

Paisagem

Outras, Quais?______

21) Algum aspeto deve ser melhorado na habitação onde esteve?

Não

Sim, o quê?_______

22) Grau de satisfação global em relação a Quinta da Grotinha como turismo em espaço rural?

Muito insatisfeito

Insatisfeito

Satisfeito

Muito satisfeito

Totalmente satisfeito

23) Grau de satisfação global com a sua estada na Quinta da Grotinha?

Muito insatisfeito

Insatisfeito

Satisfeito

Muito satisfeito

Totalmente satisfeito

24) Relação entre a satisfação e as expetativas de oferta do local?

Muito inferior às expetativas

Inferior às expetativas

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Agroturismo e Turismo na Natureza nos Açores: Estudo aplicado à Quinta da Grotinha | Anexos

-125-

Ao encontro com as expetativas

Superou as expetativas

Superou muito as expetativas

25) Indique a importância das seguintes atividades no contexto da oferta de serviços a disponibilizar pela Quinta da Grotinha?

Considerando a seguinte escala: 1 - Nada importante; 2 - Pouco importante; 3 - Média importância; 4 - Muito importante; 5 –

Fundamental.

26) Voltaria à Quinta da Grotinha fora da época alta?

Não

Sim

27) Se respondeu sim à resposta anterior, quais destas atividades contribuiriam para o motivar a regressar à Quinta da Grotinha fora de época alta? Considerando a seguinte escala: 1 - Nada importante; 2 - Pouco importante; 3 - Média importância; 4 - Muito importante; 5 –

Fundamental.

1 2 3 4 5

Percursos pedestres interpretativos

Caminhadas na natureza com meditação

Caminhadas para observação de aves

Observação de golfinhos e baleias

Passeios de barco

Atividades de caça submarina

Atividades de mergulho

Workshops de cozinha vegetariana

Workshops de cozinha regional

Workshops de doçaria

Workshops de agricultura biológica

Workshops artesanato

Aulas de yoga

Aulas de meditação

Aulas de pilates

Visitas guiadas a locais de interesse da ilha

1 2 3 4 5

Percursos pedestres interpretativos

Caminhadas na natureza com meditação

Caminhadas para observação de aves

Observação de cetáceos

Passeios de barco

Atividades de caça submarina

Atividades de mergulho

Workshops de cozinha vegetariana

Workshops de cozinha regional

Workshops de doçaria

Workshops de agricultura biológica

Workshops de artesanato

Aulas de yoga

Aulas de meditação

Aula de pilates

Visitas guiadas a locais de interesse da ilha

Massagens e acupunctura

Existência de equipamentos como sauna e jacúzi

Outra, qual:_________________

Outra, qual:_________________

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Vitório Fidalgo | ESHTE – Mestrado em Turismo

-126--126-

Massagens e acupunctura

Existência de equipamentos como sauna e jacúzi

Outra, qual:_________________

Outra, qual:_________________

28) Indique o interesse de existir uma loja de artesanato regional na Quinta da Grotinha, com trabalhos

desenvolvidos por artesãos locais? Considerando a seguinte escala: 1 - Nada importante; 2 - Pouco importante; 3 - Média importância; 4 - Muito importante; 5 –

Fundamental.

1 2 3 4 5

29) Agradecemos as suas sugestões para complementar a oferta de serviços e melhorar a qualidade da oferta da

Quinta da Grotinha.

Muito obrigado pela sua colaboração! Para quaisquer esclarecimentos adicionais, poderá contatar Vitório Fidalgo via email:

[email protected] |Março 2014