Universidade Federal do Espírito SantoDepartamento de Economia

Vânia GomesOrganização Industrial I

DESCRIÇÃO DO SETOR FARMACÊUTICO

Emprego, participação no PIB, distribuição geográfica

Desde a década 1970 o Brasil é o maior mercado latino – americano e o 7º maior do

mundo em consumo de medicamentos, supridos, na época, pela própria oferta

interna, mas dependentes das importações fármacos e intermediários. Hoje, mesmo

com a produção de medicamentos genéricos e o aumento dos gastos públicos com

saúde, estima-se que a produção nacional de fármacos seja apenas de 17% da

demanda (VARGAS, 2009, p. 6, 23 e 24). Apesar das dificuldades temos empresas

de capital nacional que são grandes atuantes no mercado como a EMS Sigma

Pharma, a Eurofarma, e a Aché (EXAME, 2011), além dos investimentos de capital

estrangeiro, como a fábrica de vacinas que a empresa suíça Novartis irá construir

em Pernambuco, um investimento de US$ 300 milhões de dólares (Estado de SP,

2011).

O setor farmacêutico no Brasil ainda tem pouca representatividade na economia.

Observando os dados da Tabela 1, a participação do setor no PIB no período de

2000 a 2009, não alcança nem 1%.

TABELA 1 – VALOR ADICIONADO A PREÇOS BÁSICOS, TOTAL E PARTICIPAÇÃO

PERCENTUAL NO SETOR FARMACEÚTICO, 2000-2009

Valor adicionado a preços básicos (1 000 000 R$)

  2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Total das

atividades 1021648 1118613 1273129 1470614 1666258 1842253 2034421 2287858 2580449 2794379

Fabricação de

Produtos

Farmacêuticos 7737 7416 7985 9049 9826 12973 15148 15594 16553 19088

Participação

percentual 0,76% 0,66% 0,63% 0,62% 0,59% 0,70% 0,74% 0,68% 0,64% 0,68%

Fonte: Dados extraídos do IBGE/ Sistema de Contas Nacionais, Tabelas sinóticas, Tabelas 9 e 10 (2000-2009).

Nota: O código para o setor farmacêutico é o número 0313.

Porém quando analisamos a fabricação de produtos farmacêuticos pelo crescimento

em volume de produção (Tabela 2), observamos que apesar da participação no PIB

ser muito pequena, o setor vem tendo um bom crescimento, inclusive nos anos de

crise em 2008 e 2009, com crescimentos de 12% e 6%, respectivamente.

TABELA 2 - VARIAÇÃO EM VOLUME DO VALOR ADICIONADO BRUTO A PREÇOS BÁSICOS NO

SETOR FARMACÊUTICO, 2001 - 2009

Variação em volume do valor adicionado bruto a preços básicos (%)

  2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Total das atividades 1,4 3,1 1,2 5,6 3 3,7 5,8 4,8 (-) 0,3

Fabricação de Produtos

Farmacêuticos (-) 0,6 (-) 0,2 (-) 2,2 3,5 12,6 2,8 1,6 12,2 6,4

Fonte: Dados extraídos IBGE/ Sistema de Contas Nacionais, Tabelas sinóticas, Tabela 11 (2000-2009).Nota: O código para o setor farmacêutico é o número 0313.

Se observamos a comparação (Gráfico 1) do crescimento do setor com o

crescimento do PIB, teremos uma noção ainda melhor desse significativo

crescimento, com altos picos.

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Total das atividades

1.4365025918

9075

3.1087605811

8402

1.2361669555

8738

5.6063657764

716

2.9623863771

3967

3.6760966056

2366

5.8187071407

5405

4.7686088909

3641

-0.343002322464036

Setor Farmacêutico

-0.607470595838181

-0.242718446601943

-2.2417031934

8779

3.5142004641

3968

12.568695298

1885

2.7827025360

3638

1.6371798257

1957

12.164935231

4993

6.4399202561

469

-3

-1

1

3

5

7

9

11

13

GRÁFICO 1 - VARIAÇÃO EM VOLUME DO VALOR ADICIONADO BRUTO A PREÇOS BÁSICOS NO SETOR FARMACÊUTICO 2001 - 2009

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Fonte: Dados extraídos do IBGE/ Sistema de Contas Nacionais, Tabelas sinóticas, Tabela 11, (2000-2009).Nota: O código para o setor farmacêutico é o número 0313.

Outra questão importante de ser colocada é a localização do setor farmacêutico. A

maioria das empresas e de suas receitas está concentrada em São Paulo, pelos

recursos disponíveis nesse estado, grandes universidades e centros de pesquisa e

inovação são competências de extrema importância para o desenvolvimento em

inovação em P&D, do qual as empresas do setor farmacêutico necessitam

(VARGAS, 2009, p.38; SELAN; KANNEBLEY JR; PORTO, 2007, p. 18-19). Em

segundo e terceiros lugares aparecem, o Rio de Janeiro e Minas Gerais, outros dois

grandes centros de pesquisa, apesar de que em 2009, Minas Gerais tenha perdido

uma parte das empresas e de suas receitas. Nota – se aqui uma concentração do

setor em toda a região sudeste, tirando o Espírito Santo, que segundo a pesquisa

PIA do IBGE (SIDRA, 2009, Tabela 1849) no período só tinha três empresas do

setor (SELAN; KANNEBLEY JR; PORTO, 2007, p. 18). Logo abaixo do grupo da

região sudeste se encontra, por surpresa, Goiás. Isso acontece, porque um dos

componentes do setor farmacêutico é a fabricação de medicamentos para uso

veterinário que é muito utilizado na região (VARGAS, 2009, p.49-50). Abaixo vem

dois estados do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul.

TABELA 3 - NÚMERO UNIDADES LOCAIS, PESSOAL OCUPADO E TOTAL DE RECEITA LÍQUIDA

DE VENDAS POR ESTADO EM 2007 E 2009

  2007 2009

Estado

Número de

unidades

locais

Pessoal

ocupado

Total de Receita

Líquida de

Vendas (R$

1000)

Número de

unidades

locais

Pessoal

ocupado

Total de Receita

Líquida de

Vendas (R$

1000)

Total 878 89 866 25 842 034 787 93920 32 859 088

São Paulo 354 49 420 19 163 010 332 49 524 22 224 830

Rio de Janeiro 129 10 286 3 669 274 108 9 925 5 378 800

Minas Gerais 84 8 227 2 377 157 79 8 452 1 318 797

Goiás 53 8 199 855 729 49 8 747 1 297 471

Paraná 60 4 028 469 910 47 4 437 659 380

Rio Grande Sul 54 2 373 239 460 54 2 563 642 243

Fonte: Dados extraídos IBGE /Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), Tabelas 1848 e 1849 (2007 e 2009).Nota:(1) O código para o setor farmacêutico é o número 21.(2) Foram pesquisadas empresas industriais com cinco ou mais pessoas ocupadas.

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Uma observação que é importante ser feita, é que a receita líquida de vendas em

2009 aumentou, mas o número de empresas diminuiu em quase 100. Essa diferença

se dá pelos maiores esforços em P&D e pela tendência do setor, não só no Brasil

como no Mundo, devido às aquisições e associações de empresas (EXAME, 2012).

Como no caso brasileiro da associação da Hypermarcas, que tem a Neo Química,

com a Aché Laboratórios Farmacêuticos, EMS Participações e União Química

Farmacêutica Nacional formando uma joint venture denominada Bionovis (Estado de

SP, 2012). Nos Gráficos 2 e 3 podemos ver essa diferença entre número de

empresas e receita líquida de vendas.

Total São Paulo

Rio de Janeiro

Minas Gerais

Goiás Paraná Rio Grande

Sul

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

Número de unidades locais em 2007Número de unidades locais em 2009

GRÁFICO 2 – NÚMEROS DE UNIDADES LOCAIS DA INDÚSTRIA FARMACEÚTICA POR ESTADO EM 2007 E 2009

Fonte: Dados extraídos IBGE/Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), Tabelas 1848 e 1849 (2007 e 2009).Nota: (1) O código para o setor farmacêutico é o número 21.(2) Foram pesquisadas empresas industriais com cinco ou mais pessoas ocupadas.

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Total São Paulo

Rio de Janeiro

Minas Gerais

Goiás Paraná Rio Grande

Sul

0

5000000

10000000

15000000

20000000

25000000

30000000

35000000

Total da Receita Líquida de Vendas (R$ 1000) em 2007Total Receita Líquida de Vendas (R$ 1000) em 2009

GRÁFICO 3 – TOTAL DA RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS DA INDÚSTRIA FARMACEÚTICA POR ESTADO EM 2007 E 2009

Fonte: Dados extraídos IBGE/Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA), Tabelas 1848 e 1849 (2007 e 2009).Nota: (1) O código para o setor farmacêutico é o número 21.(2) Foram pesquisadas empresas industriais com cinco ou mais pessoas ocupadas.

Com relação ao emprego, o setor farmacêutico não tem uma grande participação e

nem apresenta um grande crescimento no nível de emprego ao longo dos anos,

conforme os dados (Tabela 4) esse manteve praticamente estável entre 95500 a

117500.

TABELA 04 - TOTAL DE OCUPAÇÕES NO SETOR FARMACÊUTICO, 2000 - 2009

Total de ocupações

  2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Total da

economia 78972347 79544412 82629067 84034981 88252473 90905673 93246963 94713909 96232609 96647139

Fabricação de

produtos

farmacêuticos 99735 101303 95853 102910 109304 111774 110102 115578 116320 117460

Fonte: Dados extraídos IBGE/ Sistema de Contas Nacionais, Tabelas sinóticas, Tabela 13 (2000-2009).Nota: O código para o setor farmacêutico é o número 0313.

Segundo Vargas (2009, 57) dados na RAIS, do Ministério do Trabalho, indicam que

em 2005, quase 70% das empresas do setor farmoquímico no Brasil tinham, em

média, até 19 funcionários, e 25% tinham entre 20 a 99 funcionários. Os dados

indicam que grande parte das empresas do setor tem pequeno ou médio porte, e

operam em escala reduzida (VARGAS, 2009, p.56). Já com relação à qualificação

da mão – de – obra do setor, há um maior número de emprego para níveis maiores

de instrução. A maioria dos trabalhadores no setor tem ao menos o 2º grau 5

completo, o setor farmacêutico por ter sua produção focada em P&D, inovações

realmente exige um grau de conhecimento maior de seus trabalhadores.

Tabela 05 - Emprego no setor farmacêutico por nível de instrução no país, 2005

Ano Emprego %

Analfabeto 10 0,2

4ª série incompleta 83 1,4

4ª série completa 172 2,9

8ª série incompleta 294 5

8ª série completa 639 10,8

2º grau incompleto 514 8,7

2º grau completo 2748 46,5

Superior incompleto 292 4,9

Superior completo 1158 19,6

Total 5910 100

Fonte: VARGAS (2009, p.57)

REFERÊNCIAS

AS 15 maiores empresas do setor farmacêutico. EXAME, São Paulo, 23 set. 2011. Notícias de Maiores e Melhores. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/negocios/noticias-melhores-e-maiores/noticias/as-15-maiores-empresas-do-setor-farmaceutico >. Acesso em: 13 abril 2012.

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FECHADO acordo que cria a Bionovis. Estado de São Paulo, São Paulo, 29 mar. 2012. Negócios. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios+geral,fechado-acordo-que-cria-a-bionovis,107124,0.htm>. Acesso em: 15 abril 2012.

IBGE. Sistema de Contas Nacionais. Tabela 9 - Valor adicionado bruto constante e corrente, segundo as classes e atividades - 2000-2009. Disponível na Internet via FTP: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Sistema_de_Contas_Nacionais/2009/>. Arquivo: sinóticas.zip. Acesso em: 15 de abril 2012.

6

_____. Sistema de Contas Nacionais. Tabela 10 - Participação no valor adicionado bruto a preços básicos, segundo as classes e atividades - 2000-2009. Disponível na Internet via FTP: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Sistema_de_Contas_Nacionais/2009/>. Arquivo: sinóticas.zip. Acesso em: 15 de abril 2012.

_____. Sistema de Contas Nacionais. Tabela 11 - Variação em volume do valor adicionado bruto a preços básicos, segundo as classes e atividades - 2001-2009. Disponível na Internet via FTP: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Sistema_de_Contas_Nacionais/2009/>. Arquivo: sinóticas.zip. Acesso em: 15 abril 2012.

_____. Sistema de Contas Nacionais. Tabela 13 - Total de ocupações, segundo as classes e atividades - 2000-2009. Disponível na Internet via FTP: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Sistema_de_Contas_Nacionais/2009/>. Arquivo: sinóticas.zip. Acesso em: 15 abril 2012.

_____. Banco de Dados Agregados. Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA). Tabela 1848 - Dados gerais das unidades locais industriais de empresas industriais com 5 ou mais pessoas ocupadas, por Unidade da Federação, segundo as divisões e os grupos de atividades (CNAE 2.0) - Brasil, Sul e Sudeste (exceto Espírito Santo). 2007 e 2009. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1848&z=p&o=22>. Acesso em: 16 abril 2012.

_____. Banco de Dados Agregados. Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA). Tabela 1849 - Dados gerais das unidades locais industriais de empresas industriais com 5 ou mais pessoas ocupadas, por Unidade da Federação, segundo as divisões e os grupos de atividades (CNAE 2.0) - Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e Unidade da Federação Espírito Santo. 2007 e 2009. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?c=1849&z=p&o=22>. Acesso em: 16 abril 2012.

NOVARTIS vai investir US$ 300 milhões em fábrica em Pernambuco. Estado de São Paulo, São Paulo, 18 outubro de 2011. Negócios. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,novartis-vai-investir-us-300milhoes-em-fabrica-em-pernambuco,88739,0.htm>. Acesso em: 15 abril 2012.

SELAN, B.; KANNEBLEY JR, S.; PORTO, G. S. Relatório setorial sobre inovação tecnológica na indústria farmacêutica brasileira: uma análise a partir dos indicadores de inovação. Ribeirão Preto: FIPASE, 2007. Disponível em: <http://www.fipase.org.br/imagens/RelatSetFarmaceuticaBrasileira.pdf>. Acesso em: 03 abril 2012

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VARGAS, M.A. Perspectivas do investimento em saúde – base química e biotecnológica. Rio de Janeiro: UFRJ, Instituto de Economia, 2009. Disponível em: <http://www.projetopib.org/index.php?p=documentos>. Acesso em: 03 abril 2012.

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