danÇa na educaÇÃo fÍsica escolar: trato … · aperfeiçoar o trato pedagógico no cotidiano...
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DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: TRATO
PEDAGÓGICO E INTERVENÇÃO JUNTO A PROFESSORES DE UMA REALIDADE LOCAL 1
Marisa Lemos Dantas Gimenes*
Larissa Michelle Lara**
RESUMO
O presente trabalho é parte integrante do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), resultado da Implementação Pedagógica em forma de
Grupo de Estudos, aplicada aos professores de uma escola da rede pública
estadual na cidade de Maringá - PR. Teve como objetivo tematizar a dança no
sentido de propor encaminhamentos que venham a contribuir para a melhoria
das condições de ensino da dança, reconhecendo-a como elemento facilitador
da emancipação, liberdade e autonomia dos alunos. A proposta, que incluiu
sete professores de educação física, preocupou-se em abordar questões
relativas à concretização da dança na escola, buscando problematizar e
aperfeiçoar o trato pedagógico no cotidiano escolar. Por meio de grupo de
estudos formado por professores, foram buscadas bases que subsidiassem
encaminhamentos na escola junto aos alunos. Pôde-se verificar por meio desta
proposta, que momentos de reflexão devem acontecer com frequência para
levantar possíveis dificuldades no trato com a dança e, a partir desta análise,
estudos e discussões que levem à solução de problemas recorrentes na
escola, efetivando ações que contribuam com a prática pedagógica no contexto
da educação física escolar.
Palavras-chave: Educação física. Escola. Alunos.
1 Artigo elaborado como exigência parcial para a conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética nº 0351/08. Os participantes assinaram termo de consentimento, autorizando, inclusive a publicação de imagens. * Professora da rede pública estadual do Paraná, lotada no Instituto Estadual de Educação de Maringá, PR, participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). ** Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP. Professora do Departamento de Educação Física da UEM e do Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM-UEL. Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).
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ABSTRACT
The present study is an essential part of the Educational Development Program
(Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE - in Portuguese), resulted
from the Pedagogical Implementation in the form of Groups of Studies, applied
to the teachers of a school from the educational public system in the city of
Maringá-PR. This study aimed at putting the topic of dance in evidence and
proposing directions that might contribute to improve the conditions in the dance
teaching, acknowledging it as a facilitator element for the emancipation,
freedom and autonomy of students. The proposal, which included 7 Physical
Education teachers, sought to address issues related to making dance in school
a reality, trying to problematize and refine the pedagogical dealing in the school
daily routine. Through the group of studies formed by teachers, bases which
could assist directions in schools for the students were researched. It was able
to be verified through this proposal that moments of reflections must happen
frequently in order to raise possible difficulties when dealing with dance and,
from this analysis on, studies and discussions that lead to the solution of
recurrent problems in school, putting into effect action that contribute to the
pedagogical practice in the context of physical education in schools.
Key words: Physical education. School. Students.
1. INTRODUÇÃO
A dança, como conteúdo escolar do currículo de educação física,
passa em muitos casos despercebida na prática pedagógica, sendo o
desenvolvimento desse conteúdo não concretizado nas aulas de forma
sistematizada.
A desarticulação desta prática ocorre justificada, entre outros, pela falta
de preparo do professor, falta de recursos, falta de orientação. A forma como
ela deve ser ofertada aos alunos se efetiva num doloroso “cumprimento de
obrigações”. A dança, no planejamento, entra para garantir seu espaço e
cumprir o que propõe as Diretrizes Curriculares da Educação Básica para a
Educação Física do Estado do Paraná, buscando ressignificar valores,
sentidos, e códigos sociais. Nas aulas, ela permeia espaços reduzidos, onde
alguns alunos, por afinidade, se propõem à prática com interesses
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espetaculares da escola, nas situações em que se faz necessário uma
apresentação festiva.
O professor que é estimulado a trabalhar dança, não consegue levar
adiante tal objetivo por falta de conhecimento em relação ao “como” da prática
pedagógica. Quando apresenta a dança aos alunos, para simplificar o trabalho
e/ou por falta de sistematização/contextualização, já a leva formalizada,
utilizando-a como modelo para reprodução. Dessa forma, os alunos se opõem
a praticá-la por acharem que estão se expondo. O trabalho, que poderia ser
menos penoso, tanto para professor como para o aluno, acaba se tornando um
fardo. Como em alguns momentos no decorrer do ano se vê pressionado a
mostrar resultados, apresentando algum número artístico em situações com
fins espetaculares, acaba por formalizar a dança em apresentações festivas
(festas juninas, abertura de jogos,etc), dando-se por cumprida sua tarefa de
trabalhar a dança, sem dar conta, porém, que a participação é reduzida a meia
dúzia de alunos, não atingindo, portanto, a totalidade de uma turma.
A ideia de implementar a proposta em forma de Grupo de Estudos,
envolvendo os professores do Instituto de Educação Estadual, na cidade de
Maringá-PR, surge no momento que a dança começa a ganhar espaço nas
conversas e nos planejamentos de ensino nessa realidade. Daí a necessidade
de compartilhar também o trabalho com outros professores, haja vista que,
mesmo dentro de uma única instituição, a forma de trabalhar a dança, muitas
vezes, é desconectada. A intenção não é de imposição de uma metodologia,
mas, de buscar juntos, soluções para minimizar as dificuldades encontradas no
trabalho com dança.
A proposta em questão é parte do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE), o qual ofereceu estudos em cada área do Currículo Escolar
na intenção da melhoria da qualidade de ensino, capacitando os professores
com embasamento teórico. Esta etapa teve duração de um ano. Após esta
primeira ação do programa, no segundo ano, com projeto organizado, o
participante deveria implementar seus estudos e pesquisas na escola. A
aplicação da proposta deveria contribuir para a prática pedagógica, tendo como
público alvo professores ou alunos.
A proposta apresentada neste artigo foi dirigida aos professores
interessados em discutir o trato da dança na escola, num Grupo de Estudos. A
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organização deste grupo se deu por convite geral a todos os professores do
Instituto de Educação Estadual de Maringá, e, em especial, aos professores de
educação física, na primeira Reunião Pedagógica em fevereiro do ano letivo de
2009. Formado o grupo, os estudos aconteceram em 8 sábados seguidos,
durante os meses de abril e maio.
Esta proposta buscou identificar o que leva alguns professores a se
angustiarem quando discutem a dança como conteúdo, visando contribuir com
a ação docente no trato dessa manifestação cultural. Esta afirmação é
percebida quando da elaboração do planejamento, durante encontros, nas
conversas informais e quando se discute o trabalho desenvolvido nas aulas. Aí,
então, a ansiedade em repensar, no conjunto de professores, formas de
minimizar as preocupações em trabalhar a dança, justifica a elaboração desta
proposta, socializando no Grupo de Estudos as mesmas ansiedades e
levantando, a partir daí, meios que viabilizem a dança nas aulas.
Refletir a dança como componente curricular presente nas Diretrizes
Curriculares da Educação Básica para a Educação Pública do Estado do
Paraná (2006) fez-se necessário, haja vista dificuldades que alguns
professores têm encontrado no trato dessa prática corporal em suas aulas.
Para levantar dados sobre essa afirmação, foi necessária uma investigação por
meio de conversas e entrevistas, verificando como se dá o trato da dança na
escola, nas aulas de educação física. Esta verificação deu-se com professores
de educação física do Instituto de Educação Estadual de Maringá. A princípio,
pensou-se numa entrevista individual utilizando um instrumento investigativo
com questões relativas ao trabalho do professor nas aulas. Devido ao horário
indisponível dos professores e a falta de entendimento e colaboração na
proposta, somente três professores do referido colégio foram entrevistados.
Eles preferiram registrar suas respostas em questionário escrito ao invés de
entrevista oral.
De um total de oito professores que foram convidados pessoalmente e,
com avisos na sala dos professores para participarem da entrevista e do grupo
de estudos, somente quatro prontificaram-se e, destes, três participaram do
grupo. Os professores que não entregaram o questionário ou não se
dispuseram a fazer parte do grupo de estudos justificaram de diferentes
formas: “não trabalho com a dança porque não levo jeito... sou homem... não
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tive preparo na graduação”; “já trabalho com a dança e não tenho dificuldades”;
“até gostaria de participar, mas não tenho tempo... a propósito você poderia vir
falar sobre dança nas minhas aulas? Você leva mais jeito”. Os demais não
conseguiram enquadrar-se no horário e dia estipulados para os encontros por
terem aulas em outro estabelecimento.
O objetivo inicial era de que todos os professores de educação física
do Instituto de Educação pudessem discutir juntos. Pela impossibilidade de
horário e tempo, o trabalho que envolvera inicialmente três professores (que
responderam ao questionário inicial) estendeu-se a mais quatro professoras de
outra escola da rede estadual. Elas, por interesse e afinidade com a dança,
propuseram-se a formar o grupo, uma vez que estudos referentes à dança são
pouco ofertados nos cursos que são apresentados em Formação Continuada e
em Encontros de Área. À dança é sempre atribuído um tempo/espaço mínimo.
Ainda, a visão tecnicista do esporte paira nas discussões, encontros, e
elaboração de planejamentos coletivos. E, isso vai se refletir na prática diária
do professor. Dessa forma, mesmo não atingindo todos os professores que
haviam sidos pensados nesta proposta, o Grupo de Estudos se inicia contando
com professores de outra escola. O objetivo dos encontros para estudos,
reflexões e discussões reforçaria o reconhecimento da dança como facilitadora
da aprendizagem, como possibilidade a mais para favorecer o trabalho na
escola.
Levantando-se um panorama do trato da dança na escola, pretendia-se
entender como a dança figura entre as práticas escolares para, posteriormente,
buscar fundamentação teórica que subsidiasse o professor para o
entendimento da dança como prática corporal legítima. Ainda, buscava-se
ressignificar o processo de ensino aprendizagem, exercendo a dança seu papel
de facilitadora na construção dessa área de conhecimento, oferecendo, por
meio dela, a linguagem e comunicação presentes e necessárias ao processo
de escolarização. A inserção por literatura sobre dança, discutindo sua
aplicabilidade, pode ser um recurso valioso e necessário neste momento em
que se percebe a importância da dança como cultura corporal.
Sendo uma ação em que todos os professores se envolvem e
trabalham com a mesma intencionalidade, os resultados tendem a ser
positivos. O professor, com meios que orientem no encaminhamento da
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dança, poderá entender que esta prática não deve ser efetivada na simples
elaboração de coreografias para fins espetaculares ou reprodução de ritmos
embalados pelo modismo consequente da sociedade moderna. Dotados de
aprofundamento teórico para subsidiar suas aulas, os professores poderão
perceber, na dança, a superação de preconceitos, as inquietações que
surgirem entre os alunos e, mesmo entre eles, levando-os a desenvolver a
dança com domínio de conhecimento, aceitação e relativa facilidade,
potencializando a participação ativa e, entendendo-a como arte e não como
espetáculo em que são meros repetidores.
As discussões potencializadas por meio desse estudo encontram-se
organizadas em três momentos. No primeiro, será discutida a dança na
educação física escolar, com relatos pessoais dos professores acerca de suas
práticas na escola, levantando um panorama do trato dessa manifestação
cultural. O segundo momento é formado pelo aprofundamento em estudos, por
meio de leitura e discussões que permitissem aos professores tratarem dança
sem imposições, possibilitando a apropriação desta cultura de forma que os
alunos pudessem ser construtores do seu próprio conhecimento. E, por fim,
serão descritas as experiências práticas com os professores participantes da
pesquisa.
2. A DANÇA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O QUE TEM A ENSINAR?
A escola deve ter papel fundamental na formação da criança, buscando
despertar, por meio de atividades pedagógicas, a interação com o mundo,
numa relação dialógica e favorável ao aprendizado. Para isso, é importante que
sejam oferecidas possibilidades para estimular esta ação. A educação física,
como disciplina que trata do conhecimento de uma área denominada cultura
corporal e que visa desenvolver manifestações culturais, tem como recurso os
conteúdos diversificados.
Como parte do projeto geral de educação física, a escola terá na dança
uma colaboradora para concretização deste processo. Como discute
Strazzacapa (2008, p.2),
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[...] as atividades de dança se diferenciam daquelas normalmente propostas pela educação física, pois não caracterizam o corpo da criança como um apanhado de alavancas e articulações do tecnicismo desportivo, nem apresentam um caráter competitivo, comumente presente nos jogos desportivos.
Analisando por esta forma, as práticas corporais trabalhadas na
educação física não devem se resumir a jogos e competições em que o aluno
se realiza ou compreende-se marcando gols ou cruzando a linha de chegada.
O papel da educação física deve derrubar os conceitos de superação como
forma de crescimento individual; compreender que não é preciso uma
finalização por meio de situações que envolvam vitórias e derrotas para
“emancipar-se” diante das práticas corporais.
Nesta defesa, Barreto (2007, p.117) ainda completa, colocando o
trabalho da dança na escola como forma de:
[...] contribuir para a área da educação física, na medida em que através de experiência artística e da apreciação, estimula nos indivíduos os exercícios de imaginação e da criação de formas expressivas, despertando a consciência estética, como um conjunto de atitudes mais equilibradas do mundo.
A aceitação da dança na escola deve partir de atitudes, discutindo,
compreendendo e modificando-a quando houver necessidade. Se o objetivo é
fazer que a dança faça parte de um momento educacional, devemos
proporcionar a contextualização capaz de levar ao entendimento dessa prática,
e sua contribuição na formação, podendo mudar a concepção que os alunos
têm, possibilitando a interação e participação sem constrangimentos. Dessa
forma, ela poderá figurar entre as práticas corporais, com compromisso e
seriedade, não sendo apenas a “arte do espetáculo” (FERRARI, 2008).
Buscando ampliar seu papel de trabalhar o movimento pelo movimento,
podem ser descobertas outras formas de experiências corporais. A dança entra
aqui como uma das possibilidades. Entendendo que o corpo se comunica
também por uma linguagem corporal e, que esta forma de comunicação se faz
presente em nosso vocabulário, embora muitas vezes, sem decodificação para
melhor relação sujeito-mundo, as práticas pedagógicas do professor
comprometido com esta mudança devem conter um repertório de vivências que
concretize esta ação. Trabalhando com o corpo em movimento, deve-se partir
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do pressuposto que este e sua expressão, é que levarão o aluno a se
relacionar com o mundo. Baseado nessa afirmação é que se propõe que a
dança tenha um trato pedagógico repensado. A educação física, na escola,
deve ter como prioridade despertar no aluno a consciência do seu corpo e a
partir disso, aspectos que levem-no a se situar a se orientar em relação aos
objetos, pessoas e a si próprio. Criando condições para que se estabeleçam
estas relações, ele terá oportunidades maiores no desenvolvimento intelectual,
biológico e no conhecimento do seu corpo, adquirindo autocontrole sobre sua
ação e compreensão do mundo.
A educação física tem a função social de contribuir para que os
alunos se tornem sujeitos capazes de reconhecer o próprio corpo,
adquirir uma expressividade corporal consciente e refletir
criticamente sobre as práticas corporais (DCEs, 2008).
Quando o professor organiza seu planejamento diversificando os
conteúdos listados nas Diretrizes Curriculares, dando à dança o mesmo trato
dos demais conteúdos, estará buscando proporcionar ao aluno o entendimento
de corpo e movimento, criados em cada tempo histórico e culturas diferentes,
para compreender o seu próprio tempo, cultura e sua inserção nela. Quando a
dança é trabalhada pelo viés educacional não se pretende buscar a perfeição
artística ou a representação de danças formalmente construídas. O objetivo
deve ir além da reprodução descontextualizada e mecanicista em que o aluno,
sem compreender sua prática, será um mero repetidor. O conhecimento de
dança nas aulas de educação física, partindo de atividades simplificadas e
movimentos espontâneos, pode levar o aluno a um diálogo com seu corpo,
permitindo que ele crie por si próprio. Ao oferecer a dança na educação física,
o professor estará oportunizando a seus alunos a ampliação do conhecimento
e uma nova dimensão da área. Buscando ser um processo reflexivo, deverá
proporcionar um ambiente crítico, com uma prática capaz de atender às
necessidades dos alunos, longe do adestramento físico e prática como
espetáculo.
Na visão de Scarpato (2007, p. 47), “ao professor cabe assumir o papel
de facilitador e/ou orientador das atividades, criando um clima de atenção e
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concentração [...] sem inibir a expressão do aluno”. Dessa forma, poderão
vivenciar situações de liberdade e autonomia, sendo autores reais de suas
produções, estando preparados para organizar também outras formas de
dançar.
3. PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO: O TRATO COM A DANÇA JUNT O
AOS PROFESSORES DA REDE PÚBLICA
O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) como programa
de formação continuada oferecido pelo Governo do Estado do Paraná,
oportuniza professores a aprofundar estudos em diferentes áreas do
conhecimento do currículo escolar. Este programa tem como objetivo viabilizar
possibilidades de melhoria do trabalho pedagógico por meio de
aprofundamento teórico e produção de material didático para consecutiva
implementação na escola. Esta, realizada em tempo determinado, busca, por
meio dos profissionais de diferentes disciplinas, uma dimensão qualificada aos
conteúdos presentes nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica para
Educação Publica do Estado do Paraná.
A proposta de implementação analisada no presente trabalho deu-se
no formato de curso de extensão, com estudos e discussões acerca do tema
escolhido. Perfazendo um total de 32 horas, o curso foi ofertado aos
professores da disciplina de educação física que se propuseram a estudar,
discutir e analisar a real situação da dança em suas aulas e nas diferentes
escolas em que trabalham.
A análise da dança por meio desse instrumento surgiu da preocupação
em entender como esse conteúdo se desenvolvia no cotidiano escolar, uma
vez que temos algumas situações com dificuldades para que o trabalho seja
concretizado na mesma qualidade dos demais conteúdos (jogos, esportes,
ginástica) presentes na referida Diretriz. Pensar a dança em grupo, constituído
por professores da rede pública de ensino, será uma conquista, uma vez que
não há encontros contínuos para troca de experiências, estudos e discussão
entre os professores de área de uma mesma escola. Esses encontros só
acontecem no início e meio do ano para organização do plano anual de
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trabalho e estudos de temas gerais relativos à educação. A hora atividade,
espaço reservado no horário semanal do professor, destinado a organizar suas
aulas, não dá conta de promover encontros entre profissionais em um mesmo
horário.
Sendo a dança um conteúdo que requer planejamento elaborado e
sistematizado, como outros conteúdos pedagógicos, exige do professor tempo e
espaço para pesquisar, organizar e criar meios que viabilizem seu trabalho. A
implementação foi o espaço que buscou suscitar interesse maior pelo conteúdo
dança. Os encontros se deram partindo, primeiramente, de uma entrevista
individual, percebendo se haveria interesse em participar do grupo de estudos. O
momento inicial seria destinado aos relatos individuais que proporcionariam a
cada professora compartilhar de sua prática diária. O quadro 1 apresenta a
sistematização proposta para os encontros:
1º Encontro
Diagnóstico inicial - Entrevista coletiva
2º Encontro
Leitura - Estudo e discussão das Diretrizes Curriculares da Educação Básica para Educação Pública – Educação Física
3º Encontro Análise dos dados do questionário aplicado nas escolas
4º Encontro Estudo de Texto - "Dançando na escola” - Isabel Marques 5º Encontro
Estudo de Texto - "A dança é o corpo transfigurando-se em formas" - Mônica Dantas
6º Encontro
Estudo de Texto - "O movimento em expressão e ritmo" - Larissa M. Lara
7º Encontro Oficina de dança - Vivências práticas de dança na escola 8º Encontro Avaliação do Grupo de Estudos
Quadro 1 – Sistematização dos encontros do Grupo de Estudos
Nos encontros em que se previa leitura de textos, os professores
receberam o material para fazerem leitura antecipada. Os textos indicados para
estudos foram escolhidos juntamente com a professora orientadora deste
programa (PDE), quando se percebeu que poderiam oferecer reflexão profunda
acerca do tema escolhido. Haveria, ainda, momentos em que os professores
vivenciassem movimentos de dança possíveis na escola.
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No primeiro encontro, os professores relataram como a dança se dá em
suas escolas, com dificuldades e desafios. Segue um dos relatos:
A dança na minha escola já é trabalhada há algum tempo, tendo como opção a dança folclórica. Os alunos propuseram uma mudança, uma dança diferente, que fosse em pares. A partir daí, pesquisas utilizando multimídia levaram-nos a escolher o tango. O conhecimento desse ritmo se deu primeiramente com conceitos, origem, passos, até a apreciação do filme “Perfume de mulher”. 2
Neste caso, a professora proporcionou interação e participação de
todos os alunos de uma referida série do ensino fundamental da escola da rede
estadual de ensino de porte médio, uma vez que a apropriação da dança
passou pelo criterioso trabalho em sala de aula, oferecendo meios que a escola
dispunha (filmes, documentários) e material multimídia; levando os alunos a
construírem eles próprios, sua prática.
Outra professora contribui com a discussão, afirmando:
Com surdos, o trabalho da dança também encontra dificuldades e preconceitos. Por meio de projetos, consegui colocar a dança em contraturno. Mais tarde, ela se efetivou no planejamento regular. Como o trabalho com deficientes auditivos é feito com exploração de batidas, toques, reflexos que sejam perceptíveis a eles, o ritmo mais apropriado, no meu entendimento, foi o maculelê, por apresentar marcações mais sensíveis. Os alunos tiveram o conhecimento da dança por meio de filme e a partir daí houve a interação e a vivência de movimentos e batidas feitas num tablado para que eles pudessem entender.3
A professora, nesse caso, também sente restrição no trato da dança,
mas percebe que ela pode conduzir à leitura de mundo por alunos que são
limitados em alguns dos sentidos. Seu trabalho está voltado aos deficientes
auditivos, mas está iniciando com alunos que têm outras deficiências. Foi na
dança que encontrou a forma para fazê-los entender a importância de superar
as dificuldades.
A princípio, quando planejou trabalhar dança com seus alunos, não
conseguia repassar o que pretendia pela dificuldade de comunicação com eles.
Por meio da linguagem de sinais, (que domina por lidar com deficientes
auditivos), trabalhava a teoria da dança para que eles pudessem, de alguma 2 Depoimento dado por M.C.S. F, professora de Educação Física da rede estadual, participante do Grupo de Estudos. Maringá, 28 mar 2009. 3 Depoimento dado por M.E. D, professora de Educação Física de Escola Especial, participante do Grupo de Estudos. Maringá, 28 mar 2009.
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forma, se interessar por experimentar na prática. Percebeu que entendiam,
pela batida de palmas, e pelo chão, a sequência rítmica. A partir daí deu início
ao seu trabalho, percebendo que poderia avançar para além das palmas.
Em uma escola de periferia, que comporta grande número de alunos e,
muitos, de nível sócio econômico baixo, outra professora encontrava algumas
dificuldades para trabalhar a dança, uma vez que todos os alunos detinham o
conhecimento apenas dos ritmos do movimento hip-hop por serem
frequentadores de bailes onde o funk e o rap estão mais presentes. Surge,
ainda, neste meio, os alunos que apresentam resistência por respeito à sua fé.
A religião entra aí para mostrar que a dança e, mais especificamente, as
citadas acima, não são bem aceitas. Alguns alunos dispuseram-se, portanto, a
fazer movimentos e ritmos próprios de suas religiões, para realizar as tarefas
propostas dentro do que conheciam. Vendo a forma vulgarizada como eles
entendiam a dança, a professora buscou significar o que é o movimento hip-
hop. Surge, então, um novo olhar sobre o funk.
Levantando dados de como a dança é entendida nas escolas, vemos,
nos relatos, que, muitas vezes, ela é desenvolvida sob imposição da escola
para se cumprir calendários de apresentações ou situações comemorativas.
Não se considera, no entanto, a contextualização que deve haver e o objetivo
pedagógico da dança, sem contar a falta de recursos necessários para
concretizar o trabalho: espaço físico, tempo e áudio. Existe, ainda, de acordo
com os professores, insuficiência no domínio dos ritmos e na variação das
danças por parte deles. Manifestam-se sobre a falta de atualização em dança,
tendo que buscar, por meio de outros recursos, formas diferentes de trabalhar
para estimular o aluno, para que as aulas não sejam entediantes.
No segundo encontro do Grupo de Estudos, a leitura das Diretrizes
Curriculares da Educação Básica para Educação Pública - Educação Física
serviu para o entendimento da forma como foi elaborada e quais as tendências
e abordagens que ali se configuram. Como complemento, foi utilizado material
de apoio para discussão acerca de sua construção. Este material veio
contribuir já que, tendo feito uma leitura sobre a forma como foi construída as
Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008), os professores queriam
entender melhor sobre essas linhas e abordagens. Os estudos permitiram
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compreender a dança sob o enfoque das DCNs, uma vez que os Planos de
Trabalho Docente são organizados seguindo estes encaminhamentos
Neste encontro, professores também elaboram um questionário para
levantar o conhecimento dos alunos em relação à dança, uma vez que as
respostas poderiam contribuir para as discussões. O quadro abaixo apresenta
as questões feitas aos alunos sobre dança na escola. Participaram,
aproximadamente, 100 alunos do ensino fundamental, médio e especiais, de
sete escolas da rede estadual de diferentes realidades.
QUESTIONÁRIO
1. O que é ritmo?
2. Existe ritmo no seu corpo?
3. Quando você se comunica com as pessoas seu corpo participa?
4. O que você sabe sobre dança?
5. Você gosta de dançar? Quais os locais que você dança ou gostaria de dançar?
6. Você dança na escola? Justifique.
7. Se na escola tivesse um local adequado para dançar como seria?
8. Que estilo de música você gostaria de dançar na escola?
Quadro 2 – Questionário aplicado a alunos de escolas estaduais de Maringá No terceiro encontro, com os resultados dos questionários de cada
escola e a síntese elaborada pelos professores, vários aspectos foram
esboçados com algumas considerações. Quando se trata de definir o ritmo, os
alunos questionados conceituam associando-o à música, aos passos, à
organização sequenciada dentro de certo estilo musical. Quando questionados
sobre ritmo, alguns conseguem perceber que há ritmo em certas atividades
realizadas que necessitam de organização temporal. Na comunicação com
outras pessoas, entendem que há interação total do corpo. Definem a dança
como uma sincronização de movimentos do corpo com música e passos
organizados. E, quanto aos tipos de dança, conseguem listar algumas delas,
mas, sem definir como são os passos e qual a origem. Percebe-se também que
há erro de interpretação dos movimentos populares e ritmos de dança. De
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forma geral, todos relatam o gosto pela dança e, praticam-na, porém, fora dos
muros da escola (muitos em festas e baladas). Alguns só praticam na escola e,
ainda, tem aqueles que, por vergonha e preconceito, fazem-na somente no
“banho”.
Os alunos que informam que a dança deve ser parte integrante da
escola são aqueles que participam de projetos extracurriculares. Dançar, para
muitos, é motivo de constrangimento. Quando questionados sobre os tipos de
dança que fariam na escola, relatam que até praticariam a dança, mas as que
fazem parte do seu contexto, que são praticadas nos locais em que frequentam
como lazer.
Os encontros que se seguiram com estudos de textos (ver quadro 1),
proporcionaram momentos em que os professores fizeram leituras e
discussões, sustentando a necessidade de aprofundamento cada vez maior da
dança na escola. Uma vez que a palavra “dança” causa, num primeiro
momento, impacto negativo quando é apresentada nas aulas, seria correto
dispor apenas de movimentos com ritmos musicais diferentes sem entrar,
porém, na dança formalizada?
Partindo de questões como essas, os estudo embasados em Dantas
(1999), Marques (2005) e Lara (2003) trouxeram alguns esclarecimentos para o
grupo, uma vez que os professores também buscam formas de responder
como a dança deve ser interpretada na escola. A dúvida surge pelo fato de
que, inicialmente, ela não se enquadrava no Currículo de Educação Física.
Esse conteúdo, por algum tempo, figurou nos planejamentos de Artes e
Educação Física (PCNs), sem, portanto, garantir-se em nenhuma das
disciplinas.
Marques (2005) diz que, embora tenha havido este desentendimento, a
dança tem garantido espaços cada vez maiores na sociedade, como, também,
na escola. Desta forma, como está inserida, deve ser repensada, uma vez que
a educação deve primar pela qualidade do ensino e, reafirmando Marques
(2005, p.17), “a escola é hoje sem dúvida um lugar privilegiado para que isto
aconteça”.
Com uma visão recreativa e descontraída, a inserção da dança
encontra formas simples de sair da rotina do esporte. Como prática relaxante,
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ela torna-se recurso para garantir outras formas de praticar atividade física.
Mas, seria essa função da dança na escola?
O movimento presente em nossas aulas nas práticas corporais
constantes do currículo não dá suporte que garante a apreensão do
conhecimento que abarca também a criatividade, a espontaneidade e a
liberdade de expressão. A dança livre, descomprometida, sem interesses
pedagógicos, pode até proporcionar momentos de alegria. Mas, se houver
intencionalidade, buscando entender porque desta prática, é possível obtermos
grandes respostas dos alunos.
Segundo Marques (2005), a dança não deve servir apenas com
propósito de trabalhar a coordenação motora. Esta função pode ser atribuída a
outras atividades. A dança, aqui, deve ser garantida no seu aspecto mais
eminente, o corpo como expressão e comunicação. Afinal, é esse o grande
diferencial das demais disciplinas e, precisamente, dos demais conteúdos da
educação física.
Se não há o entendimento da dança como atividade rica em gestos e
movimentos, torna-se difícil apresentá-la aos alunos, recaindo, assim, sobre a
facilidade de trabalhar outras práticas para cumprir o rol de conteúdos.
Organizar um trabalho de movimento, inserindo um ritmo musical, não
formalizará a dança, mas permitirá a exploração da gestualidade. No grupo de
estudos, esta foi uma das questões pontuadas pelos professores. Como diz
Miranda (1997), o movimento deverá ser conduzido muito mais numa
perspectiva de expressão e vivência do que via padronização e
predeterminação dos gestos.
Assim, ao oferecer a dança numa perspectiva informal, estaremos
dando oportunidade às experiências individuais e coletivas, sem determinar
modelos e padrões. Mas, caberá ao professor significar os movimentos e
gestos produzidos em aula para que não se tornem vazios. Gestos e
movimentos, em cada momento, são diferentes.
Existem várias formas de trabalhar com a dança na escola sem
comprometer a criatividade e a gestualidade de nossos alunos. Bregolato
(2000, p.145) cita alguns tipos de dança com encaminhamentos que não levam
necessariamente à dança formalizada. “Com liberdade de expressão, cada
aluno é motivado a buscar dentro de si próprio a fonte inspiradora de sua
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movimentação [...] os movimentos são realizados espontaneamente movidos
pelo sentimento que a musica proporciona”.
Dessa forma, os alunos vivenciarão uma variedade de passos e
movimentos que resultarão numa combinação. O professor poderá também
lançar mão de movimentos pré determinados pelo esporte, pelo dia-a-dia
enfim, utilizar-se de temas para encaminhar o trabalho, de modo que o aluno
se sinta familiarizado com ações que pratica normalmente. Mas é preciso
entender, porém, que o movimento rotineiro não se caracteriza como gesto
expressivo se ele não estiver carregado de sentidos e significados. Segundo
Dantas (1999), o gesto se diferencia do movimento por ter um caráter
expressivo. O movimento pode até ser transformado em figuras de dança, mas
a ela devem se incorporar novas posturas e atitudes corporais.
Para finalizar o Grupo de Estudos, como atividade complementar, foram
realizadas algumas vivências com os professores. Nesse espaço destinado às
experiências vividas em sala de aula, professores compartilham formas
diversificadas de trabalhar o ritmo e a expressão corporal e, ainda, alguns
elementos da dança popular. Cada professora desenvolve dinâmicas que
podem favorecer às demais.
Figura 01 – Grupo de Estudos - Vivências.
17
Uma avaliação também foi realizada verificando, a partir de cada
professor, como foram conduzidos os estudos, bem como um breve relatório
sobre o que eles puderam acrescentar à visão inicial sobre o trato com a dança
nas aulas de educação física. Nessa, a constatação de que, momentos como
esses devem ser contínuos entre os profissionais, para buscar cada vez mais
formas diferenciadas e atualizadas de trabalhar os conteúdos da educação
física.
4. LIMITES E POSSIBILIDADES DE AÇÃO COM VISTAS AO E NSINO DE
DANÇA NA ESCOLA
A partir do momento em que a dança teve sua inclusão como área de
conhecimento na escola, desafios foram lançados, levando professores a
repensar metodologias consistentes para o trato dessa manifestação em sala
de aula. Para cumprir efetivamente seu papel de prática corporal, há ainda
ações a serem desenvolvidas.
Formar grupos com professores interessados em aprofundar estudos
em cada área de conhecimento na escola serve como ponto de partida para
viabilizar estas ações. A implementação do PDE (Programa de
Desenvolvimento Educacional) oportunizou que professores de educação
física, formassem um grupo, para, num determinado tempo, discutir a dança,
analisando como se dá seu trato na escola, buscando melhorias à qualidade de
ensino.
Quando se busca inovar, incrementar a ação do professor no seu fazer
pedagógico com vistas a essa melhoria, deve-se pensar na oferta de recursos
que viabilizem esse processo. Não há, ainda, de forma consistente e contínua,
oferta formalizada dentro das políticas públicas que regem a educação,
espaços e momentos de estudo na escola que atendam aos anseios dos
professores. Referimo-nos a recursos capazes de viabilizar possibilidades
amplas de trabalho sistematizado e coletivo, voltado a uma ação teórico-prática
a partir de uma concepção histórica de mundo, para compreensão e
intervenção no processo educativo.
18
Não basta querer mudar apenas numa visão funcional-prática. Mudar
não significa implementar o currículo a deixá-lo mais encorpado. O
entendimento deve partir da análise de estudos referentes à organização do
trabalho pedagógico, de conhecimento amplo de Planos de Trabalho e
Propostas que regem a escola, estudos que levem o professor a ter
conhecimento de tudo que envolve o “fazer pedagógico” da escola. Ter
conhecimento das Diretrizes Curriculares da Educação Básica para Educação
Pública do Estado Paraná - Educação Física (2008), em processo de
construção, é imprescindível num primeiro momento.
A educação como um todo (professores, alunos, comunidade escolar),
deve estar preparada para acompanhar as mudanças sociais, uma vez que seu
objetivo é oferecer meios capazes de levar o aluno ao entendimento dessas
mudanças. A compreensão de que é preciso modificar também a linha de
trabalho não se faz apenas em novas atitudes, mas no conhecimento adquirido
pelo aprofundamento teórico que deve ser constante no trabalho do professor.
Para transformação qualitativa da educação física, deve-se buscar uma prática
transformadora que supere as velhas concepções, possibilitando ao aluno
compreender-se como agente da história. Lançar um olhar sobre o trabalho
pedagógico pode ser o ponto de partida. O aprofundamento teórico dará
suporte para entender como e onde devemos mudar. O interesse do professor,
da escola e das políticas públicas que regem a educação, deve caminhar pari
passo para reverter ações rotineiras e mecanicistas que admitam o
adestramento físico em detrimento de uma prática que reforce a compreensão
do uso do corpo sem imposição e repetição, possibilitando o autodomínio e a
formação de caráter.
A visão da educação física nos caminhos da história percorre
enfrentando desafios. Professores sentem necessidade de mudar suas aulas
voltadas ao tecnicismo, mas não vêem possibilidades e formas para que isso
aconteça. A educação física, concebida apenas na visão de esporte, facilita o
trabalho do professor, mas não permite ao aluno descortinar uma visão mais
significativa da área. Entender o movimento humano em toda sua dimensão
facilitará a mudança de concepção na organização dos conteúdos no
planejamento do professor. Kunz (2001, p.165) cita que:
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Na prática da educação física nas escolas, a padronização do movimento no sentido da concepção do esporte de rendimento se estabilizou a tal ponto que a realização destes movimentos esportivos é recebida e aceita como uma solução quase que natural de toda problemática do movimento humano.
Reconhecer as bases do movimento humano é a primeira etapa para
buscar, na dança, uma possibilidade a mais de trabalho. O esporte compõe
uma faceta no planejamento, mas não deve se sobrepor ao demais conteúdos.
Nessa visão, o autor ainda coloca que:
Uma aula de educação física [...] é permeada por múltiplas perspectivas para o desenvolvimento e a interpretação do movimento, onde o movimento dos esportes normatizados compõe apenas uma parte deste Mundo do Movimento Humano (KUNZ, 2001, p.167).
Vê se que a dança tem mais a contribuir do que simplesmente ser
ignorada pelas recusas dos alunos ou pela falta de recursos, conhecimento,
espaços que venham interferir nos encaminhamentos. Não se quer dizer que
não haverá enfrentamentos em caminhar em direção a esta meta. Além de
inúmeros entraves, temos que contar com a falta de domínio e aceitação do
próprio corpo que leva os alunos a desanimarem. Por isso é necessário cautela
para entender os rumos que deverão ser seguidos para não causar ainda mais
bloqueios. Deve-se possibilitar ao aluno o entendimento da dança como
fenômeno expressivo, artístico, comunicativo, como também um meio de
resgatar a cultura brasileira. A dança, como conteúdo das práticas corporais na
escola, deve levar à apropriação de várias formas de linguagem ou expressões
que favorecerão as relações sociais. Ela poderá abarcar uma significação da
educação física que ultrapasse o conceito da área pela esportivização,
alcançando sua dimensão cultural, social e histórica.
Para se efetivar este trabalho na escola, o professor poderá criar
condições preliminares com improvisações, atividades lúdicas e cooperativas
para que, posteriormente, os alunos sintam-se à vontade para realizar danças
mais elaboradas.
Em geral, eles possuem conhecimento restrito a respeito das
possibilidades de movimento corporal. Talvez seja essa a razão porque alguns
professores sentem dificuldades em trabalhar a dança, sem contar, ainda, a
falta de recursos, espaços e preparação prévia das aulas, sem assessoria,
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orientação e acompanhamento. Alguns professores não se sentem bem em
trabalhar os movimentos da dança por não dominar esse conteúdo. Outros
obstáculos, como a diversidade de gênero, raça e credo, são empecilhos para
desenvolver um bom trabalho. Há grande preocupação quando se trabalha
dança afro de cunho religioso, pela visão errônea de doutrinação pelos
movimentos realizados nessas danças. Cabe ressaltar, ainda, os desafios de
trabalhar uma dança originária na classe marginalizada, como o funk. Embora
seja uma manifestação popular, ainda não é aceita por todos devido aos
grupos que a aderiram, vistos como rebeldes, exprimindo nas letras de suas
músicas o caráter de protesto. Mas, como a dança apresenta universo
diversificado, o professor poderá oferecer outras manifestações dançantes em
que os alunos possam se identificar.
Enfim, não se pode mais pensar em educação física com vista apenas
aos conteúdos que reproduzem a função do capitalismo vigente, com cópia de
modelos prontos, com visão de corpo instrumento, de interesses da moda, da
mídia, da vulgarização, copiando ou praticando sem entendimento.
A prática educacional deve partir do princípio de que as Diretrizes
Curriculares foram organizadas levando-se em consideração os requisitos
necessários para a formação do aluno, e deve ser tomada como ponto principal
na organização do trabalho docente nas escolas do Estado do Paraná.
Espaços e momentos de reflexão devem ser comuns, tomando como base as
Diretrizes, e a partir desse documento, viabilizar estudos aprofundados durante
o decorrer do trabalho letivo, contribuindo para o desenvolvimento das aulas de
forma contextualizada, dando condições ao aluno e professor superarem a
prática educativa como atividade voltada à reprodução de modelos pré
existentes e ao tecnicismo.
Que propostas, como a realizada nesta implementação, sejam
constantes para definir metas e adotar posturas necessárias e viáveis para o
entendimento da dança como prática que interfere no processo educacional.
Dotados de fundamentação, os professores poderão organizar seus
planejamentos, contemplando todos os conteúdos listados nas DCEs,
acompanhado de atitudes reflexivas para uma prática contextualizada.
Que possamos tornar acessível ao aluno uma prática comprometida
com sua formação de cidadão consciente. Que a prática da educação física
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encontre fórmulas ricas e capazes de utilizar o trabalho corporal e o movimento
como recursos para promoção humana.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho realizado com professores de educação física atenta para o
fato de que, embora a dança se apresente no planejamento como prática
corporal, juntamente com os esportes, ginástica e jogos, ela não se faz
presente legitimamente. Partindo desta constatação na escola, houve, portanto,
o interesse em identificar como se dá o trato da dança com os demais
professores, discutindo possíveis dificuldades e, como seguem os
encaminhamentos ao longo do trabalho. Assim, numa ação coletiva, buscamos
meios que contribuíssem para a prática pedagógica no contexto da escola,
agrupando professores de educação física para discutir o trabalho com a
dança.
Estudos relativos à dança levaram os professores a refletir essa
manifestação e seu trato na escola. Por meio de encontros, professores
discutiram a dança como conteúdo que emerge do currículo, para garantir seu
espaço entre as práticas pedagógicas. A preocupação, os temores e a
insegurança foram compartilhados entre eles, que pretendem dar um novo
rumo às suas aulas. Partindo dessa constatação, perceberam que é necessário
buscar, por meio de encontros, estudos e discussões, formas viáveis de
envolver seus alunos na prática efetiva da dança.
Considera-se que os encontros realizados no Grupo de Estudos
contribuíram, segundo os relatos da avaliação final, para reflexão e
reconhecimento da dança como prática possível de ser trabalhada em qualquer
série ou nível de ensino, caminhando, então, para derrubar conceitos
tecnicistas que ainda permeiam a área de educação física. Como outros
conteúdos desta disciplina que, provavelmente, tiveram contratempos na sua
inclusão, a dança também passa por esse processo. Entendemos que ela deve
acontecer em outras realidades com relativa facilidade e, espera-se que esse
primeiro passo dado por meio dessa implementação desperte atitudes de
inovação dessa prática e de todas as outras que compõem o currículo escolar.
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Investir em cursos que proporcionem trocas de experiências, reflexão
teórica e vivências práticas, foram reivindicações dos professores para dar
continuidade a esse trabalho realizado na implementação, assegurando a
prática permanente de dança nas aulas de educação física. Finalmente,
espera-se ter contribuído para o despertar de outra visão e concepção da
dança, a ser continuamente construída e implementada com aperfeiçoamento
sistemático e coletivo.
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6. REFERÊNCIAS
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� BARRETO, Débora. Dança...: ensino, sentidos e possibilidades na escola.
2 ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. � BREGOLATO, Roseli Aparecida. Cultura corporal da dança. São Paulo:
Ícone, 2000. Coleção educação física escolar: no princípio de totalidade e na concepção histórico-crítica-social; v.l.
� DANTAS, Mônica. Dança: o enigma do movimento. Porto Alegre: Ed.
Universidade/ UFRGS, 1999. � KUNZ, Elenor. Educação física: ensino & mudanças. 2 ed. Ijuí: Unijuí,
2001. � LARA, Larissa Michelle. O movimento em expressão e ritmo:
encaminhamentos metodológicos para a educação física escolar. In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE. 2003, Caxambu. Anais... Caxambu, 2003.
� MELO, Vitor Andrade. Masculinidade dança e esporte. Revista Brasileira
de Ciências do Esporte. Campinas, SP, v.30, n. 3, p.45-62, mai/2009. � MIRANDA, Regina. O movimento expressivo . R.J: Funarte,1979. � NANNI, Dionísia. Dança - educação: pré escola à universidade. 3ed. Rio
de Janeiro: Sprint, 2001. � PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica para a E ducação
Pública do Estado do Paraná. Educação Física. Secretaria de Estado da Educação: Superintendência da Educação. Curitiba, 2008.
� RANGEL, Nilda Barbosa Cavalcante. Dança, educação, educação física:
propostas de ensino da dança e o universo da educação física. Jundiaí, SP: Fontoura, 2002.
� SCARPATO, Marta. Educação física: como planejar as aulas na educação
básica. São Paulo: Avercamp, 2007. � STRAZZACAPA, Márcia. A educação e a fábrica de corpos: a dança na
escola. Caderno CEDES , Campinas, SP, v.21, n.53, abr. 2001.