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Processo de Comunicação e Formas Relacionais e Pedagógicas da Criança – Manual de Formação – Diogo Veríssimo Guerreiro Beja, Junho de 2009

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Processo de Comunicação e Formas Relacionais e Pedagógicas da Criança

– Manual de Formação –

Diogo Veríssimo Guerreiro

Beja, Junho de 2009

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PROGRAMA OPERACIONAL POTENCIAL HUMANO

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Índice Introdução .............................................................................................................................................................31. Processo de Comunicação.....................................................................................................................4

1.1. Conceito ............................................................................................................... 41.2. Componentes Psicológicas.................................................................................... 51.3. Elementos do Processo de Comunicação............................................................... 51.4. Barreiras à Comunicação....................................................................................... 6

2. Comportamentos comunicacionais...................................................................................................82.1. Atitudes ineficazes ............................................................................................... 82.2. Comunicação Assertiva ......................................................................................... 9

3. Relacionamento Interpessoal ........................................................................................................... 113.1. Complexidade e riqueza da personalidade.......................................................... 113.2. Dinâmica, Tensões e Importância das primeiras impressões no relacionamento humano....................................................................................................................... 14

4. Comunicação e relação pedagógica............................................................................................... 154.1. Regras como elemento estruturante da comunicação e relação pedagógica ........ 154.2. Rotinas como elemento estruturante na organização espácio-temporal.............. 15

5. Relacionamento e educação na infância...................................................................................... 175.1. Relação da criança-criança, criança-adulto e, impacto das relações entre adultos, na criança.................................................................................................................... 17

6. Importância do envolvimento parental ........................................................................................ 186.1. Abordagem sistémica da família ......................................................................... 186.2. Modelo ecológico do desenvolvimento humano (Urie Bronfenbrenner) ................ 186.3. Participação da família no projecto educativo e na vida da instituição educativa . 21

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Introdução

Os caminhos que se escolhem durante o processo de socialização de novos aprendentes, ditam as ferramentas que se utilizam neste mesmo processo. As relações que se desenvolvem ditam igualmente o produto desta mesma relação.

Este manual1 pretende abordar o Processo de Comunicação e Formas Relacionais e Pedagógicas da Criança. O estudo deste tema tem como objectivos fundamentais:

o Conhecer o processo de comunicação o Compreender a dinâmica relacional da criança o Reforçar a atitude pedagógica do adulto

Através da exploração desta ferramenta, pretende-se que o seu utilizador apreenda novos conceitos e conceptualize a sua atitude pedagógica e relacional, por forma a complementar a sua prática profissional com o suporte teórico necessário.

1 Baseado em MILHINHOS, Isabel (2008), Processos de Comunicação e Formas Relacionais e Pedagógicas da Criança [Consult. 2009-06-02] Disponível na www: http://www.forma-te.com/mediateca/view-document-details/3796-processo-de-comunicacao.html;

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1. Processo de Comunicação Objectivos: o Conhecer o conceito de comunicação o Compreender as componentes psicológicas do processo de comunicação o Conhecer os elementos do processo de comunicação o Identificar barreiras de comunicação

1.1. Conceito

Comunicar é...

A palavra comunicação2 deriva do latim communicare, que significa "tornar comum", "partilhar", "conferenciar". A comunicação pressupõe, deste modo, que algo passe do individual ao colectivo, embora não se esgote nesta noção, uma vez que é possível a um ser humano comunicar consigo mesmo. Geralmente, o conceito de comunicação aplica-se à troca de informações sob a forma de uma mensagem. Porém, também se pode aplicar à troca de bens e serviços ou até à troca de uma namorada por outra. A partilha de experiências, sensações e emoções é, igualmente, acto comunicativo. Uma série de pessoas caladas e imóveis, à noite, à volta de uma fogueira, estão a comunicar, porque estão a partilhar, a tornar comum uma experiência. Vê-se, assim, que informação e comunicação são conceitos diferentes. A comunicação suporta a informação, mas o inverso não é verdadeiro. Isto é, pode haver comunicação sem troca de informação, mas a troca de informação pressupõe a comunicação. A comunicação é um processo. Como tal, é dinâmica, evolutiva. (...) Este conceito é, todavia, tão amplo, que não só admite imensas submodalidades (por exemplo, a comunicação gestual), como também se revela inadequado. Prosseguindo, poderíamos falar da comunicação verbal, da comunicação anti-social, etc., mas estaríamos apenas a referir um conjunto infinito de modalidades através das quais partilhamos e trocamos informações, experiências, conhecimentos, ideias, valores, bens, serviços, sensações, emoções, etc.

Concordamos ao afirmar que comunicar é entregarmos algo a alguém sem que deixe de ser de nosso.

2 comunicação. In Infopédia [online]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-06-02]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$comunicacao>;

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1.2. Componentes Psicológicas

A comunicação é imprescindível á socialização, ao desenvolvimento da cultura e do conhecimento, da formação e da educação do indivíduo.é a comunicar que nós adquirimos consciência da nossa pessoa, de quem somos, do que fazemos, do que sabemos, do que queremos saber, dos valores de das normas da sociedade e da cultura em que desempenhamos os nossos papéis (sociais, profissionais, familiares e particulares). Aquilo que somos e aquilo que queremos que os nossos sejam depende da comunicação.

Este processo depende sempre da nossa capacidade de realização, da nossa predisposição, aptidão, vontade de darmos aos outros aquilo que é nosso.

1.3. Elementos do Processo de Comunicação

O processo de comunicação, pode ser representado da seguinte forma3:

3 esquema adaptado de SHANNON, Claude E. A Mathematical Theory of Communication. Bell System Technical Journal, vol. 27, jul. 1948. p. 379‚423. out. 1948. p. 623‚656. [Consult. 2009-06-02] Disponível na www: http://cm.bell-labs.com/cm/ms/what/shannonday/ paper.html;

E Mensagem

Código

Canal

Contexto

R

Esquema 1 – Processo de Comunicação adaptado da Teoria da Informação (Claude Shannon, 1949)

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Devemos não esquecer que os modelos não podem ser confundir-se com a realidade, nem mesmo com a imagem espelhada desta. Os modelos servem para facilitar o estudo e a compreensão dos fenómenos e, assim, também o modelo do processo de comunicação serve para facilitar o estudo e a compreensão dos actos comunicativos. Mas os modelos do processo de comunicação representam, artificialmente, um instante de um acto comunicativo onde se engloba um conjunto de elementos (como o emissor, a mensagem, etc.). Aqui descritos estão os elementos fundamentais ao processo de comunicação. A saber: EMISSOR, RECEPTOR, MENSAGEM, CÓDIGO, CANAL E CONTEXTO.

1.4. Barreiras à Comunicação

Algumas vezes, o EMISSOR envia uma MENSAGEM, o RECEPTOR recebe-a, mas a comunicação não ocorre como foi pensada pelo emissor. São vários os factores que interferem na comunicação; vamos abordar um dos mais conhecidos4, as Barreiras de Comunicação:

São obstáculos que dificultam ou impedem a comunicação, provocados por razões psicológicas. O emissor e o receptor assumem entre si e em relação à mensagem uma conduta emocional inadequada. Alguns exemplos:

Enquanto EMISSOR, se se verificar: Dificuldade de expressão

Timidez, medo de expressar opinião Escolha inadequada do receptor

Escolha inadequada do momento/local 4 um outro factor é o Ruído – são os obstáculos que se verificam ao nível do CANAL, dificultando uma clara interpretação das mensagens. Por exemplo, um telefone com defeito (que dificulta a tarefa de o receptor receber a mensagem), ou quando outras pessoas falam ao mesmo tempo, enquanto estamos a tentar dizer alguma coisa a alguém, etc.;

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Escolha inadequada do meio Suposições

Excesso de intermediários

Enquanto RECEPTOR, se se verificar:

Atitude de pouco interesse pelo outro Falta de incentivo para o outro expressar suas ideias

Preocupação Distracção

Comportamento defensivo Competição de mensagens Atribuições de propósitos

Numa organização (empresa, escola, etc.) por exemplo, é frequente os colaboradores terem formações académicas diferentes e, consequentemente, diferentes padrões de linguagem. É importante ressaltar, então, que as palavras significam coisas diferentes para pessoas diferentes. A idade, o nível de educação e/ou de formação cultural são variáveis que influenciam a linguagem que determinada pessoa usa e os significados que esta dá às palavras. A comunicação cara-a-cara, franca e aberta com as pessoas – tanto no ambiente de trabalho, como nos relacionamentos interpessoais, em geral – faz com que o EMISSOR seja visto como uma pessoa viva, que respeita e compreende as necessidades e preocupações dos outros.

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2. Comportamentos comunicacionais Objectivos: o Identificar atitudes comunicacionais ineficazes o Conhecer o conceito de Comunicação Assertiva

2.1. Atitudes ineficazes

Em comunicação, consideram-se atitudes ineficazes aquelas que prejudicam o entendimento da MENSAGEM, ou causam constrangimento no processo de comunicação. Por exemplo:

Monopolizar o diálogo Ser muito insistente e teimoso Fazer observações irreflectidas

Contradizer-se nas suas intervenções Interromper o interlocutor

Não dizer a verdade Corrigir o interlocutor perante outras pessoas Usar frases feitas, lugares comuns, “chavões”

Falar na primeira pessoa do singular Mentir

Ser confuso na expressão das ideias Utilizar linguagem muito técnica

Falar com “segundo sentido” Tentar encurralar os outros

Exagerar nas afirmações que faz Responder a uma pergunta com outra pergunta

Generalizar demasiadamente Falar sem conhecimento de causa

Tirar conclusões precipitadas Queixar-se constantemente

Levantar constantes dificuldades Falar com mau-humor

Mudar constantemente de tema Dar respostas evasivas

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2.2. Comunicação Assertiva

É o comportamento que torna a pessoa capaz de agir em seu próprio interesse, de se afirmar sem ansiedade indevida, respeitando sempre os seus direitos sem detrimento dos alheios. É uma atitude equilibrada em que é emitida uma MENSAGEM com um objectivo específico em coerência de sentimentos, pensamentos e atitudes. Assim, o comunicador assertivo:

Privilegia a responsabilidade individual Pratica a auto-afirmação

Fala sempre na primeira pessoa Enfrenta o interlocutor olhos nos olhos

É breve e directo Elogia actividades e resultados concretos

Evita comparações com os outros ou com o passado Elogia de forma imediata

Varia a forma de elogiar consoante o grau de agrado Aceita o elogio, quando o considera merecido5

Não pensa que é presunção concordar com os elogios Não se desculpa nem se auto-justifica enquanto pede

É discreto e breve Não explora a boa vontade do outro

Dá razões para o pedido (poucas mas autênticas)

Analisando relações: ASSERTIVIDADE vs PASSIVIDADE – o silêncio, a concordância e a aceitação, enquanto comportamentos comunicativos, podem ser entendidos erradamente como atitudes passivas. Entendemos que não, porque como veremos, o comunicador de personalidade passiva tem receio de se afirmar, comunica sem objectivos definidos, é inseguro.

5 No caso de considerar o elogio não merecido, agradece e exprime a sua opinião;

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ASSERTIVIDADE ≠ AGRESSIVIDADE – o comportamento assertivo pode ser

confundido com uma atitude agressiva porque existe uma carga emocional muito forte associada á comunicação assertiva que pode ser mal interpretada.

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3. Relacionamento Interpessoal Objectivos: o Conceptualizar tipos de personalidade o Identificar dinâmicas e tensões do relacionamento humano

Entendemos que o relacionamento interpessoal é a capacidade de tirar partido de cada encontro todo potencial de criar, mudar e desenvolver pessoas. O relacionamento interpessoal é uma estratégia de longo prazo para melhorar a qualidade, os serviços e as relações. Um ser humano equilibrado nas suas relações pode desenvolver o sentido de propriedade orgulhando-se do seu trabalho e buscando incessantemente, formas de fazê-lo cada vez melhor6.

3.1. Complexidade e riqueza da personalidade

Concordamos com a expressão Todos Diferentes, Todos Iguais ? Reparamos com frequência que certas pessoas têm conflitos quase todos os dias, enquanto que outras são mais conciliadoras, diplomatas e amadas pela maioria... existem outras pessoas ainda que são acessíveis, enquanto que outras são frias e distantes? Isto acontece porque somos todos diferentes, ou seja, temos traços de personalidade diferentes.

Podemos definir personalidade7 como o conjunto de padrões comportamentais - incluindo pensamentos e emoções - que caracterizam a maneira de cada indivíduo se adaptar às situações da sua vida. Por sua vez,

6 O relacionamento interpessoal é compreendido quando pensamos em gestão participativa, em que cada colaborador é parte e proprietário do negócio institucional, usa a sua capacidade de tomar decisões e de implementá-las para que esse negócio funcione. 7 personalidade nome feminino 1. unidade integrativa de uma pessoa, compreendendo o conjunto das suas características essenciais (inteligência, carácter, temperamento, constituição) e as suas modalidades próprias de comportamento 2. consciência da unidade e da identidade do eu 3. carácter daquele que é uma pessoa, quer física, quer moral (personalidade juridical). personalidade. In Infopédia [online]. Porto: Porto Editora, 2003-2009. [Consult. 2009-07-05]. Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/pesquisa-global/personalidade>;

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chama-se traço de personalidade a todo o aspecto particular de um indivíduo que o distingue dos outros.

Assim, podemos tentar conhecer os principais tipos de personalidade8:

Personalidade Passiva

Caracteriza-se pela incapacidade de exprimir os seus pensamentos e emoções. Estas pessoas têm tendência a não manifestar claramente os seus desejos nem comunicar as suas necessidades, optando por ficar à espera que os outros façam as coisas por eles. Por exemplo, um funcionário em vez de pedir um aumento ao patrão fica à espera que o patrão lhe ofereça um aumento. Quando ocorre um conflito, tendem a ignorar ou a fingir que nada aconteceu. Assim sendo manter-se na expectativa e a falta de iniciativa são características da personalidade passiva. Em suma, Comunica uma mensagem de inferioridade: ao sermos passivos permitimos que os desejos, necessidades e direitos dos outros sejam mais importantes que os nossos. Alguém que se comporte de forma passiva perde, ao mesmo tempo que permite aos outros ganhar. Seguir este caminho leva a ser-se uma vítima e não um vencedor.

Personalidade Agressiva

É oposta à personalidade passiva. As suas reacções são extremas e a sua maneira de chegar aos seus fins é o afrontamento, a agressão directa, a cólera e a humilhação. São pessoas de uma intransigência excessiva e de uma rigidez desarmante. Em suma, Comunica sempre um impressão de superioridade e de falta de respeito.

8 Tipos de Personalidade. In Processo de Comunicação e Formas relacionais e Pedagógicas da Criança [online]. [Consult. 2009-07-05]. Disponível na www: <URL: http://www.forma-te.com/mediateca/view-document-details/3796-processo-de-comunicacao.html>;

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Ao sermos agressivos colocámos sempre os nossos desejos e direito acima dos outros, violando os direitos dos outros. As pessoas agressivas podem ganhar, ao assegurar-se que os outros perdem.

Personalidade Manipulativa

Este tipo de personalidade organiza-se para satisfazer as suas necessidades de forma muito indirecta e mal dirigida. Utilizam uma comunicação pouco clara e com segundas intenções. A arte de manipular o outro pode ser exercida de múltiplas maneiras. Assim sendo descreverei as principais formas de comportamento manipulativo.

Personalidade Afirmativa ou de Assertividade

Exprime claramente e sem equívocos as suas necessidades, os seus pensamentos e as suas emoções. Sem fazer um juízo de valor e sem atentar contra a integridade do outro, ela exprime aquilo que se pretende e a sua visão das coisas. Como diz o que pensa e não faz jogos onde muitos se divertem a enganar os outros, têm geralmente muito boa auto-estima. Dizer o que pensa sem que o outro reaja mal à sua atitude, Trata-se de um tipo de personalidade que permite um desenvolvimento sócio-grupal eficaz, que se irá repercutir em grande escala ao nível das aquisições individuais. Em suma, Comunica uma impressão de respeito próprio e respeito pelos outros. Ao sermos assertivos encaramos os nossos desejos, necessidades e direitos como iguais aos dos outros. Uma pessoa assertiva ganha influenciando, ouvindo e negociando de tal forma que os outros escolhem cooperar de livre vontade. Este comportamento leva ao sucesso e encoraja relacionamentos honestos e abertos.

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3.2. Dinâmica, Tensões e Importância das primeiras impressões no relacionamento humano

Por sabermos que somos todos diferentes, o relacionamento humano também ocorre em torno de conflitos. Assim, existem partes em confronto. Poderá haver uma atitude hostil. Se as relações humanas que desenvolvemos forem verdadeiras, num problema, somos um grupo de pessoas a trabalhar em conjunto. Há uma atitude de aproximação. Normalmente, existe conflito quando os factos são menos bem interpretados – ou quando são interpretados de forma diferente - quando existe desacordo em relação às causas que estão na origem de determinado fenómeno, quando existe desacordo em relação a determinados objectivos.

As relações entre as pessoas são muito dependentes da forma como estas são encaradas: se uma das partes não se mostrar interessada em determinada relação, esta pode ficar comprometida. Por outro lado, se se verificar o contrário o retorno pode ser muito positivo.

As relações interpessoais têm maior capacidade de vingar se houver no primeiro encontro uma empatia entre os intervenientes. Caso essa empatia não exista pode dar lugar à existência de divergências e posteriormente a tensões.

Um paralelismo simples:

Entendamos a dinâmica relacional como um INVESTIMENTO – como em qualquer outro, existe uma relação proporcional de dependência entre os CUSTOS e os BENEFÍCIOS; quanto maior o custo, maior o benefício! Ressalvamos sempre a dinâmica do investimento financeiro: ao INVESTIMENTO está sempre associado o RISCO. No entanto, ao pretendermos investir em relações humanas verdadeiras, o CUSTO do empenhamento é verdadeiro mas, o BENEFÍCIO do empenhamento do outro também o é.

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4. Comunicação e relação pedagógica Objectivos: o Conceptualizar a Regra na relação pedagógica o Compreender a importância da rotina na organização do ambiente educativo

4.1. Regras como elemento estruturante da comunicação e relação pedagógica

Numa relação pedagógica é necessário que hajam regras. Regras para que haja RESPEITO:

RESPEITO próprio RESPEITO entre pares RESPEITO hierárquico

RESPEITO pelo sentimento RESPEITO pelo pensamento

RESPEITO pela acção RESPEITO pela palavra

A este propósito, diz-se9:

As razões que decorrem da vida em grupo – por exemplo, esperar pela sua vez, arrumar o que desarrumou, etc. – terão de ser explicitadas e compreendidas pelas crianças. Estas normas e outras regras indispensáveis à vida em comum adquirem maior força e sentido se todo o grupo participar na sua elaboração, bem como na distribuição de tarefas necessárias à vida colectiva (...).

4.2. Rotinas como elemento estruturante na organização espácio-temporal

A distribuição do tempo relaciona-se com a organização do espaço pois a utilização do tempo depende das experiências e oportunidades educativas proporcionadas pelos espaços. O

9 Participação das crianças na elaboração de normas e regras. In Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar [online]. [Consult. 2009-07-05]. Disponível na www: <URL: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/ Attachments/25/Orientacoes_curriculares.pdf>;

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tempo, o espaço e a sua articulação deverão adequar-se às características do grupo e necessidades de cada criança. Porque a organização do grupo, do espaço e do tempo constituem o suporte do desenvolvimento curricular, importa que o educador reflicta sobre as potencialidades educativas que oferece, ou seja, que planeie esta organização e avalie o modo como contribui para a educação das crianças, introduzindo os ajustamentos e correcções necessárias.10

Esta articulação resulta na existência de rotinas que possibilitam às crianças prever todos os passos do seu dia-a-dia e, assim, desenvolver-se de forma mais segura. As rotinas comunicativas permitem à criança saber como deve dirigir-se aos colegas, aos adultos, usando sempre de boas regras de comunicação.

10 adequação espaço/tempo. In Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar [online]. [Consult. 2009-07-05]. Disponível na www: <URL: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/25/Orientacoes_curriculares.pdf>;

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5. Relacionamento e educação na infância Objectivos: o Identificar o impacto das relações sociais na criança

5.1. Relação da criança-criança, criança-adulto e, impacto das relações entre adultos, na criança

O relacionamento entre as crianças varia consoante a idade dos pares, consoante o sexo das crianças e consoante a personalidade das mesmas. A relação das crianças com os adultos tende a variar consoante a empatia que se desenvolve entre a criança e o adulto, que varia consoante a personalidade de ambos.

As relações entre os adultos tendem a influenciar as crianças, os adultos são os modelos que as crianças seguem, dai que acabem por ser imitados. Se as relações entre os adultos for uma relação harmoniosa, as crianças tornam-se normalmente meigas, carinhosas e afáveis. Se as relações entre os adultos for conflituosa, as crianças tendem a sentir-se ansiosas, revoltadas ou até mesmo violentas.

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6. Importância do envolvimento parental Objectivos: o Compreender a família como um sistema o Compreender um modelo de desenvolvimento humano o Compreender o envolvimento familiar na dinâmica institucional escolar

6.1. Abordagem sistémica da família

Encarando a família como um sistema, é permitido aos elementos que a constituem, através do processo de socialização, interiorizar os valores e as normas sociais para a sua formação e desenvolvimento, mas também estabelecer uma ligação entre eles e a sociedade, contribuindo desta forma para o equilíbrio social.

O processo de comunicação é o mecanismo social básico sem o qual não é possível haver relação, congruência, e aceitação positiva e incondicional e, a compreensão empática. Se esta relação for verdadeira, mais possibilidades haverão de um desenvolvimento pessoal e de relações familiares equilibradas.

6.2. Modelo ecológico do desenvolvimento humano (Urie Bronfenbrenner)

O comportamento humano não pode ser interpretado à margem do contesto em que surge. A interacção entre pessoa e ambiente constitui o foco principal de atenção da psicologia da educação baseado no conceito interaccionista. A perspectiva ecológica exige a análise dos contextos e das relações estabelecidas entre eles. Só assim é possível chegar a uma compreensão do funcionamento e desenvolvimento dos seres humanos. Bronfenbrenner é o representante mais reconhecido da psicologia ecológica e, segundo ele, o contexto no qual as pessoas se desenvolvem é constituído por uma série de sistemas funcionais ou estruturas concêntricas e encaixadas umas nas outras. Com base na perspectiva ecológica, o conceito de contexto transcende a sua descrição. O que interessa é o contexto compreendido: a forma como o indivíduo compreende o contexto em que actua. Assim, podem distinguir-se as seguintes estruturas:

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Microssistema: padrão de actividades, papéis e relações que a pessoa em desenvolvimento experimenta num determinado meio, com características físicas, materiais e particulares (ex.: a escola); Mesossistema: compreende as inter-relações de dois ou mais meios nos quais a pessoa em desenvolvimento participa activamente (ex.: para uma criança são as relações entre a família, a escola e os amigos do bairro; para um adulto, seriam as relações entre a família, o trabalho e a vida social); Exossistema: refere-se a um ou mais meios que não incluem a pessoa em desenvolvimento como participante activo, mas nos quais se produzem acontecimentos que afectam o que acontece à sua volta (ex.: o sistema económico e político relativamente à escola); Macrossistema: refere-se às correspondências em forma e conteúdo dos sistemas de ordem menor que existam ou poderiam existir, ao nível da subcultura ou da cultura na sua totalidade, juntamente com qualquer sistema de crenças ou ideologia que sustente estas correspondências.

Da mesma forma, existem mudanças que se produzem nas pessoas como consequência de qualquer tipo de educação, a partir das quais é possível estabelecer três categorias:

1. educação formal ou educação regulamentada ou escolarização;

2. educação não formal é constituída por processos educativos específicos e diferenciados com uma finalidade clara e objectiva, mas situa-se “à margem” do sistema educativo (educação de adultos, formação ocupacional não regulamentada…);

3. educação informal é baseada em processos educativos indiferenciados, subordinados a outros objectivos e processos sociais, nos quais a função educativa não é a dominante (ex.: mass media)

Do ponto de vista educativo, o indivíduo, ao longo do ciclo vital, pode passar por uma série de contextos educativos: família, escolarização formal em todos os seus níveis, formação profissional e formação continuada, etc. Assim, analisar um contexto significa fixar-se nas actividades, nos papéis e nas relações em que uma pessoa intervém. Os “padrões de actividade” no sistema educativo incluem o comportamento verbal e não-verbal dos professores e dos alunos. As actividades escolares são planificadas, intencionais e são direccionadas para provocar mudanças no comportamento dos alunos. Podem variar quanto aos objectivos, complexidade estrutural, adequação às características, etc. Segundo o modelo ecológico, a aquisição de novas capacidades depende, principalmente, do significado ou intenção que tenham para o sujeito as actividades nas quais está implicado, assim como a variedade e a complexidade estrutural de tais actividades.

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No que diz respeito aos papéis, são vistos como expectativas de comportamento associadas à posição que uma pessoa ocupa. Isto implica certas previsões de comportamento. A sociedade tem distribuídos os comportamentos esperados do papel de aluno, de educador, de pai, etc. Uma mesma pessoa pode desempenhar diferentes papéis: pai, profissional, irmão, filho. O conceito de desempenho de papel implica que cada pessoa tem uma forma especial de o desempenhar. As relações interpessoais são um ingrediente especial de qualquer microssistema. No sistema educativo destacam-se três relações básicas: a interacção educador-aluno, a relação entre colegas e as relações família-escola.11

O Esquema 212 ajuda-nos a compreender a dinâmica deste modelo.

11 MARTINS, R. (2009) Modelo ecológico do desenvolvimento humano (Bronenfrenner). [Consult. 2009-07-15] Disponível na www: http://educacaodeinfancia.com/modelo-ecologico-do-desenvolvimento-humano-bronfenbrenner/; 12 RUA, F. (2009) O Modelo Bioecológico de Bronenfrenner. [Consult. 2009-07-15] Disponível na www: http://bancodameditacao.com.sapo.pt/psy_novo/aulas/72_ CONTEXTOS_contextosdomodeloecologico.pdf;

Esquema 2 - Modelo Ecológico do Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner

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6.3. Participação da família no projecto educativo e na vida da instituição educativa

A família – e, consequentemente, a comunidade - por serem participantes activos no processo educativo das crianças, devem ter uma participação activa na instituição escolar, devem interessar-se pelas actividade escolares, devem querer saber o que se passa na escola.

Os pais ou encarregados de educação são os responsáveis pela criança e também os seus primeiros e principais educadores. Estando hoje, de certo modo ultrapassada a tónica colocada numa função compensatória, pensa-se que os efeitos da educação pré-escolar estão intimamente relacionados com a articulação com as famílias. Já não se procura compensar o meio familiar, mas partir dele e ter em conta a(s) cultura(s) de que as crianças são oriundas, para que a educação pré-escolar se possa tornar mediadora entre as culturas de origem das crianças e a cultura de que terão de se apropriar para terem uma aprendizagem com sucesso. Sendo a educação pré-escolar complementar da acção educativa da família, haverá que assegurar a articulação entre o estabelecimento educativo e as famílias, no sentido de encontrar, num determinado contexto social, as respostas mais adequadas para as crianças e famílias, cabendo aos pais participar na elaboração do projecto educativo do estabelecimento.13 Mas, não só a família, como também o meio social em que a criança vive influencia a sua educação, beneficiando a escola da conjugação de esforços e da potencialização de recursos da comunidade para a educação das crianças e dos jovens. Assim, tanto os pais, como outros membros da comunidade poderão colaborar no desenvolvimento do projecto educativo do estabelecimento.14 O processo de colaboração com os pais e com a comunidade tem efeitos na educação das crianças e, ainda, consequências no desenvolvimento e na aprendizagem dos adultos que desempenham funções na sua educação.15

13 Participação da família. In Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar [online]. [Consult. 2009-07-05]. Disponível na www: <URL: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/ Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/25/Orientacoes_curriculares.pdf>; 14 Projecto educativo do estabelecimento. In Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar [online]. [Consult. 2009-07-05]. Disponível na www: <URL: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/Attachments/25/ Orientacoes_curriculares.pdf>; 15 Participação da comunidade. In Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar [online]. [Consult. 2009-07-05]. Disponível na www: <URL: http://sitio.dgidc.min-edu.pt/recursos/Lists/Repositrio%20Recursos2/ Attachments/25/Orientacoes_curriculares.pdf>;

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Notas: