cot54_medidas_de_eficiencia_da_ativ_leiteira_indices_zootecnicos.pdf

8
Medidas de eficiência da atividade leiteira: índices zootécnicos para rebanhos leiteiros Ademir de Moraes Ferreira 1 João Eustáquio Cabral de Miranda 2 54 ISSN 1678-3123 Juiz de Fora, MG Dezembro, 2007 Técnico 1 Médico-veterinário, D.Sc. – Pesquisador aposentado da Embrapa Gado de Leite – [email protected] 2 Engenheiro Agrônomo, D.Sc. – Pesquisador da Embrapa Gado de Leite – [email protected] Comunicado Apesar da produção de leite no Brasil ter passado de 5 bilhões de litros/ano em 1960 para cerca de 25 bilhões de litros em 2005 e, de que a produti- vidade média ter sido elevada de 789 kg/vaca/ano para mais de 1.200 kg/vaca/ano, há ainda amplas possibilidades de aumento de produção e de produ- tividade no rebanho leiteiro nacional por melhorias nos índices produtivos e especialmente reproduti- vos, aumentando o retorno econômico da atividade leiteira. Este acréscimo de 20 bilhões de litros em 45 anos ocorreu nos primeiros 30 anos (de 1960 a 1990), principalmente, pelo aumento do número de vacas ordenhadas, enquanto nos últimos 15 anos observou-se uma melhoria significativa na produti- vidade. Também, a partir do ano 2000 ocorreu uma melhoria na qualidade do leite pela adoção dos tan- ques de resfriamento de leite e pela grande expan- são da ordenha mecânica. Realidade é que a maioria dos produtores de leite ainda são pequenos e mé- dios, muitos deles de base familiar, com produção diária inferior a 200 litros, mas significando 80% do número total de produtores, com sistemas de produ- ção a pasto, os quais podem ser caracterizados pelo conservadorismo e extrativismo marcantes. A baixa produtividade dos rebanhos bovinos leitei- ros no Brasil (litros de leite por vaca/ano, por ha/ano ou por dia de intervalo de partos) deve-se essencial- mente a dois fatores: mau desempenho reprodutivo, representado pela idade avançada ao primeiro parto e o longo intervalo de partos, conseqüência principalmente da má nutri- ção e problemas sanitários; qualidade genética inferior dos animais, resultando em baixa produção por lactação, lactações curtas e/ou baixa persistência na produção. Para que a atividade leiteira seja mais econômica e competitiva, o melhor caminho é o aumento da produtividade da terra e dos animais, sem perder de vista a lucratividade. Isso exige uma reformula- ção de conceitos e um novo enfoque na assistência técnica, que deve direcionar seus esforços espe- cialmente para programas preventivos, modificando a prática ainda predominante mais voltada para o aspecto curativo. É necessário que o trabalho de assistência técnica efetuado em cada propriedade, ou pelo menos naquelas com condições, englobe as funções referentes ao Planejamento, Organização,

Upload: fabiano-tavares-de-moura

Post on 16-Sep-2015

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Medidas de eficincia da atividade leiteira: ndices zootcnicos para rebanhos leiteiros

    Ademir de Moraes Ferreira1

    Joo Eustquio Cabral de Miranda2

    54ISSN 1678-3123Juiz de Fora, MGDezembro, 2007Tcnico

    1 Mdico-veterinrio, D.Sc. Pesquisador aposentado da Embrapa Gado de Leite [email protected] Engenheiro Agrnomo, D.Sc. Pesquisador da Embrapa Gado de Leite [email protected]

    Comunicado

    Apesar da produo de leite no Brasil ter passado de 5 bilhes de litros/ano em 1960 para cerca de 25 bilhes de litros em 2005 e, de que a produti-vidade mdia ter sido elevada de 789 kg/vaca/ano para mais de 1.200 kg/vaca/ano, h ainda amplas possibilidades de aumento de produo e de produ-tividade no rebanho leiteiro nacional por melhorias nos ndices produtivos e especialmente reproduti-vos, aumentando o retorno econmico da atividade leiteira. Este acrscimo de 20 bilhes de litros em 45 anos ocorreu nos primeiros 30 anos (de 1960 a 1990), principalmente, pelo aumento do nmero de vacas ordenhadas, enquanto nos ltimos 15 anos observou-se uma melhoria significativa na produti-vidade. Tambm, a partir do ano 2000 ocorreu uma melhoria na qualidade do leite pela adoo dos tan-ques de resfriamento de leite e pela grande expan-so da ordenha mecnica. Realidade que a maioria dos produtores de leite ainda so pequenos e m-dios, muitos deles de base familiar, com produo diria inferior a 200 litros, mas significando 80% do nmero total de produtores, com sistemas de produ-o a pasto, os quais podem ser caracterizados pelo conservadorismo e extrativismo marcantes.

    A baixa produtividade dos rebanhos bovinos leitei-ros no Brasil (litros de leite por vaca/ano, por ha/ano ou por dia de intervalo de partos) deve-se essencial-mente a dois fatores:

    mau desempenho reprodutivo, representado pela idade avanada ao primeiro parto e o longo intervalo de partos, conseqncia principalmente da m nutri-o e problemas sanitrios;

    qualidade gentica inferior dos animais, resultando em baixa produo por lactao, lactaes curtas e/ou baixa persistncia na produo.

    Para que a atividade leiteira seja mais econmica e competitiva, o melhor caminho o aumento da produtividade da terra e dos animais, sem perder de vista a lucratividade. Isso exige uma reformula-o de conceitos e um novo enfoque na assistncia tcnica, que deve direcionar seus esforos espe-cialmente para programas preventivos, modificando a prtica ainda predominante mais voltada para o aspecto curativo. necessrio que o trabalho de assistncia tcnica efetuado em cada propriedade, ou pelo menos naquelas com condies, englobe as funes referentes ao Planejamento, Organizao,

  • 2 Medidas de eficincia da atividade leiteira: ndices zootcnicos para rebanhos leiteiros

    Execuo e Controles (Zootcnico e Econmico),que so fatores primordiais para o sucesso do empreendi-mento. Sabe-se que poucos produtores anotam o dia em que a vaca pariu, sem o que impossvel calcular o intervalo de partos. Tambm, muito pequeno o nmero de produtores que faz controle leiteiro do rebanho, pelo menos uma vez por ms, sabendo-se que essa informao imprescindvel para um efi-ciente programa de melhoramento gentico.

    A grande maioria dos produtores desconhece a impor-tncia e a maneira de se efetuar um efetivo controle zootcnico (leiteiro, reprodutivo e sanitrio), bem como no tem conhecimento de vrias tcnicas de manejo e de cuidados com a alimentao, disponveis e indis-pensveis melhoria da eficincia na atividade leitei-ra. Cabe aos tcnicos a grande responsabilidade de reverter a situao atual, levando ao conhecimento dos produtores modernas tcnicas e/ou informaes ca-pazes de melhorar os ndices zootcnicos do rebanho. Cientes das novas tecnologias, mas impossibilitados ou no dispostos a adot-las, a manuteno dos baixos ndices zootcnicos passaria ento a ser responsabili-dade dos prprios produtores.

    Novas pesquisas sempre sero necessrias, mas im-portante ressaltar que j existem inmeras informaes ou tecnologias geradas pelos resultados de pesquisas disponveis para aplicao imediata pelos produtores, capazes de reduzir seus custos de produo de leite, desde que corretamente utilizadas. A avaliao zootc-nica dos resultados de pesquisas sempre deveria ser acompanhada de uma rigorosa anlise econmica, de maneira que o produtor pudesse ter uma certa garantia de retorno do capital investido, evitando-se assim uma ocorrncia no-rara da adoo e posterior abandono de determinadas tecnologias, em razo da no-obteno dos resultados econmicos esperados. Tambm, as freqentes oscilaes no preo do leite tm contribudo para o desestmulo ao uso de muitas tecnologias.

    No presente documento, sero feitas algumas con-sideraes com respeito ao Controle Zootcnico dos rebanhos leiteiros, possibilitando um melhor geren-ciamento da atividade leiteira.

    Escriturao zootcnica - metas para alguns ndices reprodutivos

    Ao se implantar a assistncia tcnica na fazenda leiteira, algumas metas devem ser determinadas, de acordo com os objetivos principais definidos pelo

    proprietrio. Com base nestas metas devero ser in-dicadas ou priorizadas as atividades a serem desen-volvidas dentro de um planejamento proposto.

    Uma vez discutidas e estabelecidas as metas gerais, ou seja, o que (leite), com que (tipo de gado), como (manejo a ser utilizado) e quanto (litros/dia) se dese-ja produzir em um perodo fixado, deve-se definir o nmero de animais no rebanho, o que depender di-retamente do potencial de produo de alimentos da propriedade (pastagens, capineira para corte, cana, feno, silagem de milho ou de sorgo, etc.) e das con-dies de manejo possveis de serem adotadas.

    Para se conhecer a situao reprodutiva inicial do re-banho, todos os animais aptos para reproduo devem ser submetidos a exame ginecolgico para o diagnsti-co da situao reprodutiva de cada animal. Com base nos resultados, os animais podem ser separados em grupos, de acordo com a condio reprodutiva e pro-dutiva de cada um, como mostrado na Tabela 1.

    Embora todos os animais do rebanho devam ser adequadamente alimentados e manejados, a priorida-de em termos de uma melhor nutrio quantitativa e qualitativa seria para o grupo 1 (Tabela 1), visando atender produo de leite (vacas em lactao) e reproduo (vacas no-gestantes). Em rebanhos bem manejados no deveria existir o grupo 4 (vacas secas e no-gestantes), mas quando se faz o levantamento reprodutivo inicial de qualquer rebanho, quase sem-pre so encontrados animais nesta condio.

    Em seguida, as informaes obtidas so colocadas em fichas ou programas de computador apropriados para o controle reprodutivo, o qual dever estar associa-do aos controles leiteiro e econmico. Em funo da situao atual do rebanho, devero ser definidos os ndices possveis de serem obtidos a curto, mdio ou longo prazo: intervalo de partos, taxa de prenhez, percentagem de vacas em lactao e taxa de natalida-de, etc. A constatao da situao inicial importante

  • 3Medidas de eficincia da atividade leiteira: ndices zootcnicos para rebanhos leiteiros

    tambm para comparaes futuras, visando analisar a eficcia do atendimento tcnico posto em prtica.

    Ao se estabelecer as metas a serem alcanadas em um determinado perodo, deve-se levar em conside-rao os seguintes aspectos:

    situao atual da propriedade (condies nutricio-nais, de manejo e instalaes);

    situao produtiva, reprodutiva e sanitria do rebanho; interesse e participao efetiva do proprietrio; eficincia e colaborao da mo-de-obra envolvida; necessidade e capacidade de investimento.

    importante estabelecer metas no muito audaciosas no incio dos trabalhos, pois tais metas no so est-ticas. Deve-se, ao final de determinado perodo, fazer uma nova avaliao, estabelecendo novas metas de acordo com os resultados obtidos e as melhorias j al-canadas, e tendo em vista a nova situao da proprie-dade. Sabe-se que os ganhos iniciais em performance so sempre maiores, ou seja, mais fcil a reduo de

    um intervalo de partos mdio de 17 meses de determi-nado rebanho, do que de 13 meses em outro rebanho.

    Na Tabela 2 so mostrados alguns ndices de desempenho produtivo e reprodutivo considerados ideal, bom ou regular, bem como a mdia desses ndices verificados nos rebanhos bovinos leiteiros do Brasil. Com base nessas informaes, pode-se definir algumas metas realistas.

    So poucas as propriedades leiteiras em que se efetua a identificao dos animais e uma adequada escriturao zootcnica. Apenas cerca de 5% dos produtores que utilizam a inseminao artificial (IA) fazem controle leiteiro. Por ser a IA uma excelente ferramenta de melhoramento gentico, e o controle leiteiro o principal parmetro para avaliao e sele-o gentica dos animais, injustificvel um ndice to baixo. A data de parto anotada por menos de 3% dos produtores. Com isso, no h possibilidade de se calcular o intervalo de partos e nem a produ-o de leite por dia de intervalo de partos (IP).

  • 4 Medidas de eficincia da atividade leiteira: ndices zootcnicos para rebanhos leiteiros

    Com relao s anotaes de campo, existe um mnimo necessrio de informaes a serem coleta-das, independente do sistema de controle (fichas individuais e/ou coletivas ou sistemas informatiza-dos). As anotaes mais importantes encontram-se na Tabela 3.

    ndices zootcnicos mais utilizados em rebanhos leiteiros

    A idade avanada ao primeiro parto, acima de 40 me-ses (o ideal para fmeas mestias de 30 a 32 me-ses) e o longo intervalo de partos (IP) que ultrapassa os18 meses (CARNEIRO, 1992; FERREIRA et al., 1997), quando o ideal prximo de 12 meses, signi-ficam baixa eficincia reprodutiva. Perda decorrente do longo IP mostrada na Fig. 1 (Ferreira, 1991). Observa-se, na parte superior da Fig. 1, que em um perodo de 36 meses, uma vaca deu duas lactaes com um IP de 18 meses; e na parte inferior da mes-ma fig., uma vaca com trs lactaes, no perodo de 36 meses, com IP de 12 meses. Considerando vacas com a mesma produo por lactao, a vaca com IP de 12 meses produziu 50% de leite (e de bezerros) a mais do que a vaca com IP de 18 meses. Estima-se que o Brasil esteja deixando de produzir cerca de 10 bilhes de litros de leite/ano, com o rebanho existen-te, devido ao longo intervalo de partos.

    Com o acompanhamento e as devidas anotaes zootcnicas do rebanho bovino leiteiro, possvel se evitar a ocorrncia de casos comumente encontra-dos, como o do criador ficar espera de uma vaca supostamente gestante encher o bere (amojar), e a mesma no estar gestante, ou de supor que a vaca no venha apresentando cio, e a mesma estar gestante.

    Os ndices mais usados para medir a eficincia na pecuria leiteira, so:

    ndices produtivos Percentagem de vacas em lactao (%VL): obtida

    dividindo-se o nmero de vacas em lactao pelo nmero total de vacas do rebanho, multiplicado por 100. Depende basicamente do Intervalo de Partos (IP), mas tambm da durao de lactao. A % VL ideal de 83%, o que somente pode ser obtido com IP de 12 meses e durao da lactao de 305 dias. Em condies de produo de leite a pasto, e mes-mo nos sistemas onde se usa o semi- confinamento, acima de 75% de VL pode ser considerado um bom ndice. Deve-se anotar mensalmente o nmero de vacas secas e em lactao, e depois fazer a mdia anual. Com este ndice pode-se estimar o Intervalo de partos, embora este no seja to preciso (somen-te seria importante se todas as vacas tivessem 10 meses de lactao).

    Durao da lactao (DL): o tempo em dias decorridos do parto at o final da lactao (seca-gem da vaca). O esforo para se obter um menor IP pode ser anulado se a vaca tiver lactao curta. Esta caracterstica depende da gentica da vaca. O ideal uma lactao de 10 meses ou 305 dias. Para gado mestio meio sangue (F1 HZ), a DL deve ser acima de 290 dias, enquanto para vacas mais azebuadas deve ser superior a 270 dias. O mais indicado fazer o controle leiteiro (semanal, quinzenal ou mesmo mensal), e depois estabelecer a durao e a curva de lactao de cada vaca. Este procedimento muito til para a escolha das vacas

  • 5Medidas de eficincia da atividade leiteira: ndices zootcnicos para rebanhos leiteiros

    que devero ser descartadas. A durao da lactao e o IP afetam o nmero de vacas em lactao, e, portanto, a eficincia da atividade leiteira.

    Persistncia da lactao: corresponde queda mais ou menos rpida na produo de leite durante a lactao. A vaca deve apresentar alta persistncia de lactao, produzindo leite durante 10 meses, e a produo no caindo mais do que 5% a 10% de um ms para o outro. Esta caracterstica pode ser bem estabelecida quando se faz o controle leiteiro e se estabelece a curva e durao da lactao de cada vaca do rebanho.

    Produo de leite por vaca ordenhada (PVO) e pelo total de vacas (PTV): so medidas simples que per-mitem uma boa avaliao da eficincia da fazenda. Basta dividir a produo de leite diria pelo nmero de vacas ordenhadas (PVO) ou pelo nmero total de vacas do rebanho (PTV). Quanto maior, melhor, desde que obtida de maneira econmica.

    Cada produtor deve conhecer o nvel de produtivi-dade (mdia de produo/ vaca/ dia) mxima que as condies de manejo da propriedade permitem, nunca se esquecendo de que um maior nvel de produtividade deve sempre ser almejado, mas desde que no se perca de vista a lucratividade.

    Produo por lactao: deve ser a maior possvel em funo do tipo de gado e das condies de manejo adotadas. No caso de sistema de produo de leite a pasto, acima de 3.000 litros por vaca em 305 dias de lactao, considerada boa. Vacas da raa Holandesa confinadas ou semi-confinadas devero produzir acima de 7.000 litros por lactao de 10 meses. Lembre-se que o importante nem sempre a vaca que d mais leite, mas sim a que d mais lucro.

    Perodo seco: o ideal a secagem da vaca 60 dias (dois meses) antes da data prevista para o parto. Existem pesquisas nos Estados Unidos com resulta-dos mostrando que um perodo seco de 45 dias no afetou a produo na lactao seguinte e a reprodu-o, mas esta informao tem ainda de ser confir-mada por mais pesquisas, para ento se tornar uma recomendao. Um perodo seco de 90 dias ainda pode ser aceito, mas se ficar acima de 120 dias ruim.

    ndices reprodutivosSo vrios os mtodos para se avaliar a eficincia reprodutiva do rebanho leiteiro:

    Porcentagem de prenhez: representa o nmero de vacas prenhes dividido pelo nmero total de vacas do rebanho (vacas prenhes mais vacas vazias), multiplicado por 100. Este ndice dever ser medido todo ms, para depois se tirar a mdia anual. Se ficar entre 75% e 80%, indica boa eficincia reprodutiva.

    Taxa de natalidade: o nmero de bezerros nasci-dos vivos durante o ano dividido pelo nmero mdio mensal de vacas (anotar o total de vacas a cada ms e no final de 12 meses calcular a mdia), mul-tiplicado por 100. O ideal ter 100% de bezerros nascidos vivos no perodo de um ano.

    Intervalo de partos (IP): o tempo decorrido entre dois partos consecutivos de uma mesma vaca, e corresponde ao perodo de servio mais o perodo de gestao. um ndice muito objetivo e exato para se determinar a fertilidade individual de uma vaca, embora no seja to preciso para se saber a exata eficincia reprodutiva do rebanho, pelo fato de no considerar animais infrteis, estreis e aqueles eliminados do rebanho, alm de no incluir novilhas e exigir pelo menos dois partos para ser medido.

    Embora tenha suas limitaes, o IP ainda o ndice mais utilizado para medir a eficincia reprodutiva, e com ele se pode estimar o potencial de produ-o leiteira. A reduo do IP garante o aumento na produo de leite e no nmero de bezerros nascidos no rebanho. Cada ms de reduo no IP, tendo como base o ideal de 12 meses de IP (um parto por ano), representa 8,3% a mais na produo de leite e 8,3% a mais no nmero de bezerros produzidos. Maior taxa de pario reduz o nmero de vacas se-cas no rebanho e eleva o nmero de vacas em lacta-o. Em produo de leite a pasto, um IP prximo de 14 meses pode ser considerado satisfatrio. Com IP de 18 meses, apenas 55% das vacas do rebanho devero estar em lactao.

    Perodo de servio (PS): o tempo decorrido entre o parto e a nova concepo, medido em dias. Este mtodo no considera as novilhas, mas apenas as vacas que j pariram pelo menos uma vez. O perodo de servio no deve ultrapassar os 90 dias para que se possa obter um IP de 12 meses e dispor de 83% de vacas em lactao. Mas isto depende de vrios fa-tores como sanidade, escore corporal, raa, manejo. Em produo de leite com vacas mestias a pasto, um perodo de servio de at 120 dias aceitvel. O PS no to preciso pelo fato de aps ter sido diagnosticada gestante, a vaca pode abortar, e assim ter um curto perodo de servio, mas um longo inter-valo de partos, j que uma nova gestao dever se estabelecer para que ocorra um novo parto.

    Eficincia reprodutiva: uma boa eficincia repro-dutiva caracteriza-se por um Perodo de Servio variando de 65 a 87 dias e, por conseguinte, um IP de 345 a 365 dias. Isto permite que a vaca obtenha o mximo de produo durante a sua vida til. A idade avanada ao primeiro parto associada com o longo IP, mdia nacional de 36 meses e acima de 18 meses respectivamente, so responsveis pela baixa eficincia reprodutiva e produtiva dos reba-nhos leiteiros brasileiros.

  • 6 Medidas de eficincia da atividade leiteira: ndices zootcnicos para rebanhos leiteiros

    Percentagem de prenhez ao primeiro servio: cor-responde ao nmero de vacas que ficaram prenhes aps a primeira IA ou aps a primeira monta con-trolada, dividido pelo total de vacas inseminadas ou cobertas, multiplicado por 100. Quanto maior este ndice, melhor.

    Taxa de concepo: ndice no usado a campo, mas somente em pesquisas, porque no se tem como ava-liar a concepo, mas to somente a gestao. Pode ter havido concepo com morte embrionria poste-rior. Por este motivo usa - se a Taxa de Gestao.

    Taxa de gestao: o nmero de vacas gestantes dividido pelo nmero de vacas inseminadas, multi-plicado por 100. Deve ser o maior possvel, e acima de 80% pode ser considerado muito bom.

    Idade ao primeiro parto (IPP): um ndice indicativo da eficincia dos sistemas de cria e recria de fmeas leiteiras. Depende, essencialmente, do sistema de criao, da sanidade, do controle de ecto e endo-parasitas, da raa, da alimentao, do manejo e da reproduo. Se gado mestio a pasto, novilhas parindo aos 30-32 meses, com 480 at 500 quilos de peso vivo ao parto, est bom. Se gado Holands no sistema confinado, semiconfinado, ou adequa-damente criado a pasto, dever parir aos 24 ou 25 meses, com peso vivo acima de 580 quilos ao parto.

    Taxa de abortos e natimortos: deve ser zero ou a menor possvel.

    * Observao: muito importante para a reproduo do rebanho bovino : a) alimentao e escore corpo-ral, pois o cio entra pela boca; b) identificar o cio nos sistemas que adotam a inseminao artificial ou a monta controlada (touro preso); c) boa taxa de con-cepo; d) evitar abortos e ou problemas no parto.

    ndices produtivos e reprodutivos asso-ciadosNem sempre a vaca de maior produo por lacta-o a mais econmica. Isto porque uma vaca de alta produo com desempenho reprodutivo infe-rior (longo intervalo de partos), pode no ser mais econmica que outra de produo inferior, mas com excelente desempenho reprodutivo. Dai a importn-cia de se associar produo e reproduo.

    Produo por dia de intervalo de partos (PDIP): o melhor ndice para se medir a eficincia da atividade leiteira, porque envolve os desempenhos produtivo e reprodutivo.

    O ideal de 10 kg de leite por dia de intervalo de partos para vacas mestias (variando de 8 a 12), o

    que representa em mdia 3.650 kg na lactao e IP de 12 meses (365 dias). Para vacas puras da raa Holands, o ideal para este ndice de 15 kg/dia (variando de 13 a 17 kg/dia), o que representa em mdia 6.000 kg na lactao e 400 dias de IP.

    Produo de leite por vaca/ano (PLVA): um ndice que tambm associa produo e reproduo.

    -Exemplo: uma vaca produziu 4.000 kg de leite na lactao e teve um Intervalo de Partos de 15 meses (465 dias). Qual sua produo anual?

    ndices diversos Taxa de lotao das pastagens: ndice que depende

    do sistema de manejo, da fertilidade natural do solo, da adubao, da topografia do terreno, do clima, dos cuidados na formao da pastagem, etc. A mdia brasileira inferior a uma unidade animal por hectare (UA/ha). Utilizando-se braquiria, deve ser superior a 1,5 vacas por ha; e no caso de pastejo rotativo em braquiria, deve ser acima de 3 va-cas/ha no vero. Com o uso de pastejo rotativo em capim-elefante, pode-se obter at 8 a 10 vacas por hectare no vero e 4 vacas/ha na poca da seca.

    Relao litros de leite por quilo de concentrado: deve ser de 1 para 3,0 ou at mesmo superior a isto, caso se trate de produo a pasto, e depen-dendo da qualidade do volumoso.

    Produtividade da mo-de-obra: obtida dividindo-se a produo mdia diria pelo nmero mdio de trabalhadores na atividade leiteira. Deve ser superior a 150 litros/dia/empregado, para produo de leite a pasto. Para sistemas mais tecnificados precisa ser superior a 300 litros/dia/empregado.

    Produtividade da terra: para se obter este ndice, bas-ta dividir a produo mdia diria pela rea da fazenda (medida em hectares) efetivamente usada na produ-o de leite, considerando as reas de pastagens, capineiras, silagem, cana e mais a rea destinada s instalaes. Fazer medies mensais e depois tirar a mdia anual. Deve ser superior a 20 litros por hecta-re/dia, com taxa de lotao das pastagens de 2 vacas por ha em pasto de braquiria e rebanhos mestios produzindo de 10 a 12 litros por vaca/dia.

    Taxa de mortalidade de animais adultos: deve ser a menor possvel, ou seja, abaixo de 1%. Em condi-es de produo de leite a pasto, com rebanhos acima de 100 cabeas adultas, pode-se aceitar at 2,0% de mortalidade destes animais.

  • 7Medidas de eficincia da atividade leiteira: ndices zootcnicos para rebanhos leiteiros

    Taxa de mortalidade at um ano: deve ser a menor possvel ou menos que 3%, mas em geral, ficando abaixo de 5% considerada satisfatria, embo-ra alguns tcnicos considerem abaixo de 10% de mortalidade como um bom ndice, dependendo da regio e das condies de manejo.

    Taxa de descarte: em sistemas bem administrados, desejvel que as vacas sejam descartadas aps a quarta cria ou lactao, pois com tal idade elas so vendidas no mercado como vacas leiteiras. Assim, deve-se descartar cerca de 20 a 25% das vacas ao ano, o que representa a taxa de reposio do rebanho. Se o produtor usar corretamente a insemi-nao artificial escolhendo os touros para fazer os acasalamentos, a probabilidade de que as filhas sejam melhores do que as mes, o que permite um melhoramento gentico constante do rebanho.

    Consideraes finais

    No Brasil, possvel obter o intervalo de partos (IP) desejvel de 12 meses nos estados ou regies sob influncia de clima tropical utilizando-se as tecno-logias disponveis. Entretanto, o intervalo de partos mdio nos rebanhos bovinos brasileiros continua longo, devido em grande parte a no utilizao das tecnologias existentes, ao nmero insuficiente de tcnicos em relao ao nmero excessivo de produ-tores e/ou impossibilidade de pagamento de assis-tncia tcnica em funo da rentabilidade do setor.

    A incerteza quanto ao retorno do capital investido, em razo das freqentes oscilaes no preo do leite pago ao produtor, contribui tambm para o de-sestmulo ao uso de algumas tecnologias. H ainda o fato, que vem se tornando comum, da adoo e posterior abandono de determinadas tecnologias, pela no obteno dos resultados econmicos esperados. Isto pode ocorrer em funo de adoo errada ou parcial das tecnologias. Este fato mostra que as pesquisas sempre deveriam ser acompanha-das de uma rigorosa anlise econmica, antes de sua divulgao para o setor produtivo.

    Acrescente-se aos fatores citados como respons-veis pela baixa eficincia produtiva e reprodutiva dos rebanhos bovinos nacional, a falta de anotaes das ocorrncias produtivas e reprodutivas no reba-nho, o que no permite a obteno e avaliao peri-dica dos ndices zootcnicos, dificultando tomadas rpidas de decises para modificao do problema, de maneira a amenizar os possveis gargalos que prejudicam a atividade leiteira.

    Referncias bibliogrficas

    CARNEIRO, J. M. Principais problemas da bovino-cultura de leite: o caso de Minas gerais. Belo Hori-zonte: Fundao Joo Pinheiro, 1992. 219 p.

    FERREIRA, A. de M. Manejo reprodutivo e eficincia da atividade leiteira. Juiz de Fora : Embrapa Gado de Leite, 1991. 47 p. (Embrapa Gado de Leite. Do-cumentos, 46).

    FERREIRA, A. de M.; TEIXEIRA; S. R; SANTOS; P. C. B; VERNEQUE; R. S. Taxa de natalidade em reba-nhos leiteiros no estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Reproduo Animal, v. 21, n. 12, p. 122-124, 1997.

    FERREIRA, A. de M.; S, W. F. de; CAMARGO, L. S. de A.; VIANA, J. H. M. Manejo reproductivo de rebanos lecheros. In: MARTINS, C. E.; BRESSAN, M.; CSER, A. C.; ZOCCAL, R.; ESPNDOLA, H. D. (Ed.). Tecnologias para la produccin de leche en los trpicos. Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2002. p. 99-114.

  • 8 Medidas de eficincia da atividade leiteira: ndices zootcnicos para rebanhos leiteiros

    Exemplares desta edio podem ser adquiridos na:Embrapa Gado de LeiteRua Eugnio do Nascimento, 610 Bairro Dom Bosco 36038-330 Juiz de Fora/MGFone: (32) 3249-4700Fax: (32) 3249-4751E-mail: [email protected]

    1a edio1a impresso (2007): 1.000 exemplares2a impresso (2008): 5.000 exemplares

    Presidente: Pedro Braga Arcuri Secretria-Executiva: Ins Maria RodriguesMembros: Alexandre Magno Brighenti dos Santos, Alosio Torres de Campos, Carlos Eugnio Martins, Carlos Renato Tavares de Castro, Edna Froeder Arcuri, Francisco Jos da Silva Ldo, Jackson Silva e Oliveira, Juliana de Almeida Leite, Luiz Srgio Almeida Camargo, Marcelo Dias Muller, Marcelo Henrique Otnio, Maria Gabriela Campolina Diniz Peixoto, Marlice Teixeira Ribeiro, Wadson Sebastio Duarte da Rocha

    Superviso editorial: Joo Eustquio C. de MirandaTratamento das ilustraes: Leonardo Fonseca Editorao eletrnica: Leonardo Fonseca

    Comit de publicaes

    Expediente

    Comunicado Tcnico, 54