coopetiÇÃo em redes interpessoais: relacionamentos coopetitivos na rede de pesquisadores...

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A sociedade se organiza em redes. A perspectiva das redes, então, é algo que deveser considerado como inerente à vida social, especialmente quando se observa ofato de que não é viável viver de forma completamente independente e isolada.Esses arranjos ou estruturas em rede normalmente são abordados na literatura deAdministração sob uma perspectiva organizacional e, nesse sentido, podem serformados em contextos que variam entre a competição, a colaboração e um tipo derelação mista. Nesta última, atores que normalmente competem entre si resolvemcolaborar de alguma forma para atingir algum objetivo que seja comum, ou seja,tem-se a colaboração entre atores que interagem em um ambiente competitivo. Aesse tipo de relação entre as organizações dá-se o nome de coopetição. Estetrabalho trata do tema dos relacionamentos de coopetição no nível interpessoal.Embora a literatura sobre coopetição não trate do tema no aspecto micro (dasrelações interpessoais), não há registro de pressupostos teóricos que limitem suaaplicação ao âmbito meso.

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  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS

    Programa de Ps-Graduao em Administrao

    Caio Cesar Giannini Oliveira

    COOPETIO EM REDES INTERPESSOAIS:

    relacionamentos coopetitivos na rede de

    pesquisadores brasileiros em Administrao

    Belo Horizonte

    2013

  • Caio Cesar Giannini Oliveira

    COOPETIO EM REDES INTERPESSOAIS:

    relacionamentos coopetitivos na rede de

    pesquisadores brasileiros em Administrao

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais como requisito parcial para obteno do ttulo de Doutor em Administrao. Orientador: Humberto Elias Garcia Lopes.

    Belo Horizonte

    2013

  • FICHA CATALOGRFICA

    Elaborada pela Biblioteca da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais

    Oliveira, Caio Cesar Giannini

    O48c Coopetio em redes interpessoais: relacionamentos coopetitivos na rede de

    pesquisadores brasileiros em administrao/ Caio Cesar Giannini Oliveira.

    Belo Horizonte, 2013.

    132f.: il.

    Orientador: Humberto Elias Garcia Lopes

    Tese (Doutorado) Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Programa de Ps-Graduao em Administrao.

    1. Cooperao. 2. Competio. 3. Redes de relaes sociais. 4. Administrao

    - Pesquisa. I. Lopes, Humberto Elias Garcia. II. Pontifcia Universidade Catlica

    de Minas Gerais. Programa de Ps-Graduao em Administrao. III. Ttulo.

    CDU: 658.012.6

  • Caio Cesar Giannini Oliveira

    COOPETIO EM REDES INTERPESSOAIS:

    relacionamentos coopetitivos na rede de pesquisadores brasileiros em

    Administrao

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais como requisito parcial para obteno do ttulo de Doutor em Administrao. rea de concentrao: Gesto estratgica de organizaes.

    Prof. Dr. Humberto Elias Garcia Lopes (Orientador) PUC Minas

    Prof. Dr. Antnio Carvalho Neto (PUC Minas)

    Prof. Dr. Julio Ferreira de Oliveira (PUC Minas)

    Prof. Dr. Charles Kirschbaum (INSPER-SP)

    Prof. Dr. Jorge Renato de Souza Verschoore Filho (UNISINOS-RS)

    Prof. Dr. Jean Max Tavares (PUC Minas)

    Belo Horizonte

    2013

  • Para Ana Luiza, Vincius e Letcia. Em tudo o que fao, tenho vocs em pensamento.

  • AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar, agradeo ao meu orientador, Prof. Dr. Humberto Elias

    Garcia Lopes, que desde o momento da seleo para o doutorado acreditou em mim

    e me apoiou em todas as etapas desta jornada.

    Ao Prof. Dr. Dalton Jorge Teixeira, por me incentivar a continuar buscando

    qualificar-me em minha carreira acadmica.

    Aos colegas de GESTOR, pela ajuda em todos os nossos encontros, debates

    e seminrios. Aos demais professores, funcionrios e colegas do Programa de Ps-

    Graduao em Administrao (PPGA). Em diversos momentos fui apoiado,

    aconselhado e ajudado por vocs.

    A minha mulher, Ana Luiza. Seu apoio, presena, companheirismo e confiana

    em meu trabalho fizeram toda a diferena. Tambm aos meus filhos, Vincius e

    Letcia. Vocs trs me motivam a ser uma pessoa melhor a cada dia. Ao meu

    cunhado e amigo, Guilherme, que me aconselhou e me ajudou a manter a cabea

    no lugar. A toda a famlia, pelo apoio, disponibilidade, suporte e, principalmente,

    pacincia.

    Aos meus colegas de colegiado e curso na Faculdade de Comunicao e

    Artes, pelo apoio e pelos infinitos galhos quebrados durante estes anos em que

    estive imerso nesta empreitada.

    Aos meus alunos, Lucas Almeida, Robson Neves e Tiago Aguiar, pela ajuda

    no processo de coleta de dados.

    Aos colegas Humberto Massa e Narclio Filho, pela intensa colaborao na

    preparao dos dados. Sem a sua ajuda com expresses regulares no teria

    conseguido terminar de limpar a enorme e confusa lista de autores em s

    conscincia.

    Aos pesquisadores que me auxiliaram respondendo meus e-mails e

    participando desta pesquisa concedendo entrevistas. Sou-lhes muito grato pela

    ateno e tempo que a mim dispensaram, atendendo e colaborando com meu

    trabalho.

    A todos os que colaboraram, de forma direta ou indireta, para a execuo

    deste trabalho, mesmo que no os tenha citado nominalmente nesta pgina, meus

    sinceros agradecimentos.

  • Bust the lock off the front door Once you're outside you won't want to hide anymore Like the light on the front porch Once it's on you'll never wanna turn it off anymore And now it's on now it's on (Gandaddy Sumday).

  • RESUMO

    A sociedade se organiza em redes. A perspectiva das redes, ento, algo que deve

    ser considerado como inerente vida social, especialmente quando se observa o

    fato de que no vivel viver de forma completamente independente e isolada.

    Esses arranjos ou estruturas em rede normalmente so abordados na literatura de

    Administrao sob uma perspectiva organizacional e, nesse sentido, podem ser

    formados em contextos que variam entre a competio, a colaborao e um tipo de

    relao mista. Nesta ltima, atores que normalmente competem entre si resolvem

    colaborar de alguma forma para atingir algum objetivo que seja comum, ou seja,

    tem-se a colaborao entre atores que interagem em um ambiente competitivo. A

    esse tipo de relao entre as organizaes d-se o nome de coopetio. Este

    trabalho trata do tema dos relacionamentos de coopetio no nvel interpessoal.

    Embora a literatura sobre coopetio no trate do tema no aspecto micro (das

    relaes interpessoais), no h registro de pressupostos tericos que limitem sua

    aplicao ao mbito meso. Prope-se aqui que seja abandonada a exclusividade da

    adoo do termo e dessa modalidade de relao no contexto meso. Nesse sentido,

    coopetitivos n Para demonstrar que no h

    argumentao terica suficientemente organizada que leve a crer que essa

    abordagem deva ser associada exclusivamente a um cenrio meso, lana-se mo

    de um estudo bibliogrfico sobre o conceito em questo. Em seguida, so

    apresentadas as diretrizes para uma investigao emprica acerca da plausibilidade

    dessa premissa a partir da investigao da(s) eventual(ais) rede(s) de coautoria

    formada(s) por pesquisadores em Administrao no Brasil. So identificadas e

    apresentadas as caractersticas sociais das atividades de pesquisa e trabalho

    cientfico, bem como listados os antecedentes tericos que buscam estabelecer

    relaes entre a necessidade de colaborao entre os atores e a qualidade de seus

    trabalhos, alm de apresentado o ambiente de atuao do pesquisador brasileiro e

    contextualizado um cenrio para investigao. Feito isso, conduzido o

    mapeamento de redes sociais aplicado ao ambiente em que atuam os

    pesquisadores em Administrao no Brasil, com a finalidade de demonstrar que o

    conceito de coopetio pode ser aplicado no nvel micro. As descobertas obtidas

    com a realizao do mapeamento permitiram descobrir atores centrais da rede, bem

  • como detectaram um exemplo de programa em que as relaes internas de seus

    pesquisadores indicam comportamentos de colaborao e competio

    concomitantes que permitem avanar na demonstrao da aplicao do conceito de

    coopetio micro. Por fim, foi conduzida investigao qualitativa por meio de

    entrevistas com 10 pesquisadores centrais da rede, com a finalidade de se identificar

    quem so os colaboradores desses pesquisadores, como se formam as alianas de

    colaborao, como esses pesquisadores avaliam essas relaes e se os

    pesquisadores brasileiros que atuam em Administrao enxergam o cenrio em que

    atuam como um espao de competio. Os resultados mostraram que o cenrio de

    competio e as relaes estabelecidas entre os pesquisadores podem ser

    encaradas como coopetitivas. Dessa forma, a pergunta que norteia este trabalho foi

    plenamente respondida.

    Palavras-chave: Coopetio. Fronteiras mesomicro. Redes sociais. Pesquisa

    cientfica. Redes de coautoria.

  • ABSTRACT

    Social life is organized in networks. The networks perspective, then, is something

    that should be regarded as inherent in social life, especially when considered that it is

    not feasible to live completely independently and isolated. These arrangements or

    network structures are usually addressed in the literature on management under an

    organizational perspective and, accordingly, may be formed in contexts ranging from

    the competition, collaboration and a mixed type of relationship. In the latter, players

    who normally compete resolve somehow collaborate to achieve any goal that is

    common, ie, has the collaboration between actors interacting in a competitive

    environment. This type of relationship between organizations is called coopetition.

    This work addresses the issue of coopetition relationships at the interpersonal level.

    Although the literature on coopetition does not treat the subject in the micro level

    (interpersonal relationships), there are no assumptions in the literature on the subject

    that limit its application to the meso level. It is proposed here that the exclusive

    adoption of the term and this type of relationship in the context meso should be

    abandoned. Therefore, the question that guides this study is: "Is it possible to

    observe coopetitive relationships in the context of interpersonal networks?". To

    demonstrate that there is no theoretical argument organized enough to make a

    researcher believe that this approach should be linked exclusively to a meso context,

    a bibliographic study on the concept is organized. Then the guidelines for an

    empirical investigation about the plausibility of the premise from the investigation are

    presented. The scenario chosen for this investigation is the networks formed by

    researchers in management in brazil. The characteristics of social research and

    scientific work are identified and presented, as well as listed the theoretical

    background that seek to establish relationships between the need for collaboration

    between the actors and the quality of their work. It is also presented and

    contextualized the brazilian researcher environmenta as a scenario for investigation.

    After that a mapping is conducted to identify the social networks in which they

    operate in order to demonstrate that the concept of coopetition can be applied at the

    micro level.

    The findings obtained with the completion of the mapping procedures allowed to

    uncover key players in a network and detect a sample program in which the internal

    relations of its researchers indicate behaviors of collaboration and competition that

  • allow simultaneous advance in demonstrating the application of the concept of

    coopetition in a micro context. Finally, we conducted a qualitative research through

    interviews with ten researchers identified as central to network for the purpose of

    identifying who are the research partners of these researchers, how they form

    collaboration alliances, discover how these researchers evaluate these relationships

    and see if the Brazilian researchers who work in management see the scene where

    they act as a venue for competition. The findings show that the environment is

    remarkably competitive and the relationships established between researchers can

    be seen as coopetitive. Thus, the question that guides this work is fully answered.

    Key words: Coopetition. Meso-micro boundaries. Social networks. Scientific

    research. Coauthorship.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Viso geral da rede ampla de pesquisadores brasileiros em

    Administrao..............................................................................

    64

    Figura 2 - A rede formada pelos pesquisadores vinculados ao Programa

    de Ps-Graduao em Administrao e Desenvolvimento Rural

    (PADR) Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)

    67

    Figura 3 - Os 20 pesquisadores com melhores ndices de centralidade de

    intermediao..............................................................................

    76

    Figura 4 - Os 20 pesquisadores com mais quantidades de conexes........ 81

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Os 20 mais bem-conectados pesquisadores brasileiros em

    Administrao...........................................................................

    71

    Quadro 2 - Notas da CAPES para os programas de filiao dos

    pesquisadores mais bem conectados.......................................

    74

    Quadro 3 - Os 20 pesquisadores brasileiros em Administrao com mais

    conexes...................................................................................

    77

    Quadro 4 - Notas da CAPES para os programas de filiao dos

    pesquisadores mais conectados.................................................

    79

    Quadro 5 - Os pesquisadores mais conectados e os melhores

    conectados ordenados pela quantidade de publicaes.............

    83

    Quadro 6 - Os pesquisadores convidados para entrevista.......................... 93

    Quadro 7 - Os principais parceiros dos pesquisadores entrevistados......... 96

    Quadro 8 - Como so formadas as associaes entre os pesquisadores... 105

  • LISTA DE SIGLAS

    ANPAD Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao

    ARS Anlise de Redes Sociais

    CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    CEPEAD Centro de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao

    CNPq Centro Nacional de desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    DAE Departamento de Administrao e Economia

    EIASM European Institute for Advanced Studies in Management

    EnANPAD Encontro da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em

    Administrao

    ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing

    EURAM European Academy of Management

    FAPEMIG Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais

    FEA Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade

    FEARP Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade de Ribeiro Preto

    FECAP Fundao Escola de Comrcio lvares Penteado

    FGV Fundao Getlio Vargas

    FINEP Financiadora de Estudos e Projetos

    FUMEC Fundao Mineira de Educao e Cultura

    PADR Programa de Ps-Graduao em Administrao e Desenvolvimento Rural

    PPGA Programa de Ps-Graduao em Administrao

    UCS Universidade de Caxias do Sul

    UEL Universidade Estadual de Londrina

    UFLA Universidade Federal de Lavras

    UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

    UFMS Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

    UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco

    UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

    UFSM Universidade Federal de Santa Maria

    UFV Universidade Federal de Viosa

    UNB Universidade de Braslia

  • UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba

    UNINOVE Universidade Nove de Julho

    USP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO1

    1 INTRODUO......................................................................................... 17

    2 REDES SO REDES............................................................................... 22

    2.1 Introduo............................................................................................ 23

    2.2 Competio, colaborao e coopetio............................................ 26

    2.3 Coopetio em redes interpessoais: uma alternativa possvel?.... 31

    2.4 Consideraes sobre a aplicao do conceito................................ 36

    3 PROPONDO UMA INVESTIGAO PARA IDENTIFICAR

    RELACIONAMENTOS COOPETITIVOS EM REDES

    INTERPESSOAIS........................................................................................

    38

    3.1 Introduo............................................................................................ 39

    3.2 Colaborao, coautoria e o carter social da atividade do

    pesquisador em cincia...........................................................................

    40

    3.3 Capital social....................................................................................... 46

    3.4 O cenrio brasileiro: objeto de investigao.................................... 49

    3.5 Mtodos propostos............................................................................. 53

    3.6 Consideraes sobre a proposta....................................................... 57

    4 AS RELAES ENTRE OS PESQUISADORES BRASILEIROS EM

    ADMINISTRAO.......................................................................................

    58

    4.1 Introduo............................................................................................. 59

    4.2 Identificando a grande rede ampla e os seus ns............................ 60

    4.3 Consideraes sobre a rede e os procedimentos de anlise

    executados..................................................................................................

    85

    5 A REDE DE PESQUISADORES EM ADMINISTRAO NO BRASIL:

    PERCEPES SOBRE OS RELACIONAMENTOS COOPETITIVOS.......

    87

    1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortogrficas aprovadas pelo Acordo Ortogrfico assinado entre os pases que integram a Comunidade de Pases de Lngua Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com o Padro PUC-MINAS de Normalizao, de 2011.

  • 5.1 Introduo............................................................................................. 88

    5.2 Capital social como fator de influncia e motor da produo

    cientfica.....................................................................................................

    90

    5.3 Metodologia.......................................................................................... 92

    5.4 As percepes dos pesquisadores.................................................... 94

    5.4.1 Os principais parceiros................................................................... 95

    5.4.2 Como se estabelecem e so avaliadas as relaes de

    colaborao................................................................................................

    98

    5.4.3 Competio na rede de pesquisadores.......................................... 106

    5.5 Consideraes sobre as entrevistas com os pesquisadores......... 110

    6 CONCLUSO.......................................................................................... 114

    REFERNCIAS........................................................................................... 120

    APNDICE A............................................................................................... 132

  • 17

    1 INTRODUO

    bastante oportuno e relevante tratar do tema das redes interpessoais. Em

    um momento em que se vive a proliferao das tecnologias digitais interativas, tm-

    se as redes sociais como tema emergente. No entanto, os relacionamentos entre os

    indivduos antecedem e no se restringem ao ambiente digital. Da mesma forma, a

    relevncia e alcance do tema no se restringem aos servios encontrados na

    Internet. Podem-se perceber arranjos em rede desde o primeiro momento em que as

    pessoas comeam a viver em grupos. A vida em sociedade implica relaes em rede

    por parte dos indivduos em diferentes nveis.

    Apesar da relevncia do tema, a literatura sobre redes bastante

    fragmentada, no sendo homognea nem pertencente a uma rea especfica. So

    diversos os campos da cincia que se debruam sobre este tema de forma a tentar

    compreend-lo sob diferentes abordagens. Em alguns momentos, esses diferentes

    campos se relacionam e, nessas relaes, as descobertas feitas em um determinado

    campo proporcionam as bases para que aconteam avanos em outras frentes. Por

    exemplo, neste trabalho esse tipo de relao entre diferentes reas pode ser

    percebida ao serem tomadas referncias das cincias exatas para auxiliar na

    compreenso do conceito de redes, no relato das bases dos estudos sobre redes

    sociais e na construo da estratgia metodolgica executada.

    Essas referncias externas se mostram muito importantes, visto que nas

    cincias sociais aplicadas, em especial na Administrao, o tema das redes

    normalmente estudado tendo-se como foco as instituies, ou seja, o nvel meso.

    Nesse sentido, as redes, na maior parte dos estudos de Administrao, so

    observadas como arranjos entre instituies. No entanto, as fronteiras entre micro e

    meso mostram-se difusas (Blau, 1987; Braga, Gomes, & Ruediger, 2008; Lopes,

    2004; Peng & Luo, 2000; Schillo, Fischer, & Klein, 2001). As referncias de

    diferentes campos da cincia podem permitir ao pesquisador observar relaes e

    fazer descobertas que possibilitem verdadeiro avano no trabalho cientfico. No caso

    deste trabalho, a dificuldade de definio das fronteiras entre o micro e o meso,

    somada ao crescente interesse pela abordagem focada nos indivduos em estudos

    que abordam o tema das redes na Administrao, motivou o pesquisador a buscar

    referencial complementar externo, disponibilizando um importante complemento em

    sua sustentao terica.

  • 18

    Como dito, a pesquisa sobre redes em Administrao est focada de forma

    preponderante, porm no exclusiva, na compreenso dos meandros das relaes

    entre as instituies. Esse foco proporcionou a identificao de trs tipos principais

    de relacionamentos que envolvem os arranjos em redes: a competio, a

    colaborao e um terceiro tipo, hbrido, composto simultaneamente por traos de

    competio e colaborao entre os envolvidos. A esse tipo hbrido de relao d-se

    o nome de coopetio.

    Embora a primeira apario do termo coopetio em um livro tenha ocorrido

    em uma publicao de 1913 (Cherington, 1913), apenas no final do sculo XX

    (Brandenburger & Nalebuff, 1996) o assunto passou a ser discutido da forma em que

    trabalhado atualmente (Stein, 2010). Foi Kirk S. Pickett que, em 1911, cunhou o

    termo coopetio, quando se referia relao existente entre os diferentes agentes

    de venda de ostras nos Estados Unidos ao argumentar para um vendedor:

    [ ] voc apenas um de vrios vendedores de ostras em sua cidade. Mas vocs no esto competindo entre si. Vocs esto cooperando um com o outro no desenvolvimento de um negcio amplo. Vocs esto coopetindo, no competindo. A competio existente entre vocs do tipo em que todos vocs podem lutar para obter vantagens comuns (Cherington, 1913, p. 144).

    A expresso coopetio foi, portanto, a modalidade de relao que deveria ser

    enxergada entre competidores no mercado de venda de ostras dos Estados Unidos,

    como Kirk S. Pickett salientou na edio de 19 de janeiro de 1911 da revista Printer's

    Ink (Cherington, 1913). Para ele, os diferentes vendedores deveriam trabalhar,

    embora competindo entre si, para o desenvolvimento do mercado como um todo.

    Como consequncia disso, todos se beneficiariam.

    A ideia de coopetio, ento, no nova. Apesar disso, a aplicao ao

    universo dos negcios relativamente recente. Mesmo assim, o tema da coopetio

    tem sido reconhecido e trabalhado em pesquisas acadmicas ao redor do mundo de

    forma crescente. O European Institute for Advanced Studies in Management

    (EIASM) realizou, em setembro de 2012, na cidade de Katowice, Polnia, a quinta

    edio do Workshop on Coopetition Strategy. Os melhores trabalhos apresentados e

    discutidos nesse evento sero publicados em edies especiais dos peridicos

    International Studies of Management and Organization e International Journal of

    Business Environment, fazendo crescer a lista de trabalhos sobre o assunto

  • 19

    publicados na ltima dcada, que j ultrapassa os 160 textos. Os encontros da

    EIASM so realizados a cada dois anos desde 2004 e, somados aos eventos sobre

    o tema realizados pela European Academy of Management (EURAM) como parte de

    seus encontros anuais em 2002 e 2007, ao workshop realizado pela Academy of

    Management, em 2009, aos painis realizados em 2010 e ao simpsio organizado

    em 2011 pela Strategic Management Society, totalizam ao menos 11 eventos

    internacionais sobre o tema coopetio nos ltimos 10 anos (EIASM, 2012).

    Alm dos trabalhos que apresentam o conceito de coopetio (Bengtsson &

    Kock, 2000; Brandenburger & Nalebuff, 1996), aqueles que versam sobre a criao

    de valor em arranjos de coopetio entre atores que se complementam (Tsai, 2002)

    e interdependncia entre os atores (Dagnino & Padula, 2002) e buscam trazer um

    panorama geral do estado da pesquisa sobre coopetio (Stein, 2010; Walley, 2007)

    esto entre as publicaes mais representativas sobre o assunto.

    Ainda assim, apesar do esforo de pesquisadores, das publicaes e eventos

    dedicados ao assunto, o tema da coopetio, no entanto, ainda carece de bases

    tericas e estruturao prpria (Stein, 2010). O presente trabalho representa um

    esforo na busca por essa consolidao ao proporcionar literatura respectiva a

    proposio terica e a comprovao emprica de que esse tipo de relacionamento

    pode ser identificado e, portanto, trabalhado tambm nos relacionamentos

    interpessoais. A colaborao efetiva para a busca de consolidao terica para o

    tema subsequente concluso deste trabalho e refere-se possibilidade de se

    aplicar s redes de empresas conceitos que esto consolidados na teoria sobre

    redes sociais. Afinal, como prope o ttulo do segundo captulo deste trabalho: redes

    so redes. Nesse sentido, redes de indivduos ou instituies devem ser

    trabalhadas de forma semelhante.

    Reforando, a colaborao e a importncia da realizao deste trabalho se

    do em funo da observao de uma lacuna na literatura sobre o assunto, que

    considera coopetio como algo que apenas ocorre nas relaes entre as

    instituies. Como ser apresentado adiante, no possvel detectar argumentao

    que limite a aplicao do conceito e, em consequncia disso, a aplicao desse tipo

    de relacionamentos apenas a um aspecto meso.

    A observao dessa lacuna nas publicaes ajuda a compor a justificativa

    para a realizao deste trabalho, que teve como objetivo responder a seguinte

  • 20

    questo norteadora: possvel observar relacionamentos coopetitivos nas relaes

    interpessoais?

    Para tanto, foi necessrio construir, em primeiro lugar, as bases tericas que

    justificam afirmar que existe uma falha de informaes sobre coopetio. O segundo

    captulo reporta esse esforo terico, que busca, a partir da compreenso das

    diferentes descries conceituais feitas sobre redes e, em especial a coopetio,

    apresentar que no h na teoria argumentos que impeam que esse tipo de

    relacionamento possa ser identificado em relaes interpessoais. Nesse ponto a

    colaborao do presente trabalho para a literatura sobre o tema comea a emergir.

    Na sequncia, apresentado o plano de investigao emprica executado

    para demonstrar que esse tipo de relacionamento pode ser detectado em mbito

    micro. As discusses iniciadas em diferentes momentos e situaes sobre o

    desempenho dos pesquisadores em Administrao no Brasil (Machado-da-Silva,

    2003; Mattos, 2008; Mello, Crubellate, & Rossoni, 2010; Rodrigues, 2004; Roesch,

    2003; Rosa, 2008) motivaram a seleo do cenrio em questo como o mais

    adequado para a conduo da investigao emprica proposta.

    O cenrio em questo, em que os pesquisadores e os programas de ps-

    graduao que os empregam so avaliados periodicamente pela Coordenao de

    Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), mostra-se um ambiente

    em que h competio em diferentes nveis. Primeiramente, no nvel institucional,

    um programa com avaliao mais detalhado da Capes tem mais relevncia do que

    outro com avaliao mais superficial. A busca pela melhor avaliao institucional ,

    ento, estratgica para os programas.

    Em segundo lugar, no nvel individual particular a este trabalho e bastante

    importante na classificao das instituies pela Capes , os pesquisadores so

    avaliados periodicamente levando-se em conta a sua produo cientfica. Como

    essa produo reportada basicamente por meio de publicao de trabalhos em

    peridicos de carter cientfico, a Capes usa o ndice Qualis como forma de valorar a

    produo do pesquisador de acordo com o impacto, alcance, carter e relevncia do

    peridico em que seu trabalho publicado. Essa deciso implica um incentivo extra

    na busca por parte dos pesquisadores pela publicao em peridicos com mais

    relevncia, pois na contabilizao dos pontos referentes sua produtividade, esses

    peridicos possibilitam melhor avaliao ao pesquisador (Mattos, 2008).

  • 21

    Como consequncia disso, publicar em peridicos de mais alcance e

    relevncia torna-se quase um imperativo para os pesquisadores. No entanto, os

    espaos para publicao so limitados. A quantidade de peridicos com as melhores

    classificaes no sistema Qualis restrita, o que demonstra a escassez de um

    recurso disputado pelos indivduos pesquisadores. Estes, portanto, atuam como

    competidores, buscando os pontos representados pelas publicaes. Entretanto, sua

    atividade a pesquisa cientfica algo que demanda a colaborao em sua

    natureza (Merton, 1979; Newman, 2004a, 2004b; Roebken, 2008; Roesch, 2003;

    Rossoni & Filho, 2009; Silva, 2002).

    Nesse sentido, observar as redes sociais numa perspectiva da atuao

    profissional dos atores mostra-se relevante para estabelecer um recorte apropriado

    no enquadramento adotado e contribui de forma preponderante para desenhar o

    cenrio da presente pesquisa.

    No terceiro captulo deste trabalho, alm da proposta de estratgia emprica

    para busca pela resposta da pergunta norteadora, tem-se tambm a descrio e

    contextualizao mais detalhadas do cenrio em que os pesquisadores brasileiros

    atuam.

    O quarto captulo trata dos procedimentos executados para identificao das

    redes de pesquisadores em Administrao no Brasil e reporta os procedimentos de

    anlise de redes sociais (ARS) executados com a finalidade de se conhecer a

    topologia dessa ampla rede e detectar indivduos-chave. Alm disso, os

    procedimentos de ARS executados possibilitaram descobrir caractersticas dos

    arranjos entre os pesquisadores que auxiliam a responder a pergunta norteadora

    estabelecida.

    Na sequncia, o quinto captulo descreve a etapa qualitativa, que buscou, por

    meio de entrevistas com atores-chave da rede mapeada, informaes que os

    procedimentos de ARS no conseguem fornecer e que so importantes para a

    consolidao das argumentaes que so usadas para responder a pergunta

    proposta.

    Por fim, o sexto e ltimo captulo consolida as argumentaes necessrias

    para responder a pergunta norteadora desta pesquisa. Alm disso, indicam-se

    direcionamentos para possveis estudos que possam vir a contribuir para o

    aprofundamento do tema e colaborar para a viabilizao de estudos sobre

    coopetio em relacionamentos interpessoais.

  • 22

    2 REDES SO REDES

    Resumo: a sociedade se organiza em redes. A perspectiva das redes, ento, algo

    que deve ser considerado inerente vida social, especialmente quando se observa

    o fato de que no vivel (ou mesmo possvel) para um dado ator seja ele uma

    pessoa ou uma organizao viver de forma completamente independente e isolada

    de outros e em mltiplas instncias. Esses arranjos ou estruturas em rede

    normalmente so abordados na literatura de Administrao sob uma perspectiva

    organizacional e, nesse sentido, podem ser formados em cenrios que variam entre

    a competio, a colaborao e um tipo de relao mista. Nesta ltima, atores que

    normalmente competem entre si resolvem colaborar de alguma forma para atingir

    algum objetivo que seja comum, ou seja, tem-se a colaborao entre atores que

    interagem em um ambiente competitivo. A este tipo de relao entre as organizaes

    d-se o nome de coopetio. O presente trabalho prope que seja abandonada a

    exclusividade da adoo do termo e dessa modalidade de relao no contexto

    meso. Para demonstrar que no h argumentao terica suficientemente

    organizada que leve o pesquisador a acreditar que essa abordagem deva ser

    associada exclusivamente a um panorama meso, o presente trabalho lana mo de

    um estudo bibliogrfico sobre o conceito em questo. Como previamente

    apresentado, o objetivo evidenciar que o conceito de coopetio tambm pode ser

    aplicado s relaes individuais.

    Palavras-chave: Redes sociais. Coopetio. Fronteiras meso-micro.

    Abstract: Society is organized in networks. The perspective of networks, then, is

    something that should be regarded as inherent in social life, especially when looking

    at the fact that it is not feasible (or even possible) for a given actor - whether a

    person or an organization - to live completely independently and isolated from others

    and in multiple instances. These arrangements or network structures are usually

    addressed in the literature of Administration under an organizational perspective and,

    accordingly, may be formed in contexts ranging from the competition, collaboration

    and a mixed type of relationship. In the latter, players who normally compete,

    collaborate to achieve any goal that is common. This type of relationship between

  • 23

    organizations is denominated coopetition. This paper proposes abandonning the

    exclusive adoption of the term and this type of relationship in the meso context. To

    demonstrate that there is no theoretical argument sufficiently organized that leads

    researchers to believe that this approach should be linked exclusively to a meso

    context, this paper makes use of a bibliographic study. As presented, the goal is to

    show that the concept of coopetition can also be applied to the context of individual

    relationships (micro).

    Key words: Social networks; coopetition; Meso-micro boundaries.

    2.1 Introduo

    A sociedade se organiza em redes. Desde os arranjos sociais mais simples

    at as estruturas mais complexas, as pessoas interagem entre si em matrizes de

    relacionamentos de redes (Nohria & Eccles, 1992) em diferentes dimenses. Essas

    redes podem ser compostas de pessoas ou organizaes; ambos os casos so

    considerados ns de redes de interao social que se ligam por meio de

    relacionamentos (Castilla, Hwang, Granovetter, & Granovetter, 2000). A perspectiva

    das redes, ento, algo que deve ser considerado inerente vida social,

    especialmente quando se observa o fato de que no vivel (ou mesmo possvel)

    para um dado ator seja ele uma pessoa ou uma organizao viver de forma

    completamente independente e isolada de outros e em mltiplas instncias. Tudo e

    todos esto interligados de alguma forma (Barabasi, 2003).

    Em cada um dos diferentes aspectos da vida h uma ou vrias redes nas

    quais as pessoas se encontram inseridas em relacionamentos sociais interativos de

    mltiplos nveis (Kilduff, Tsai, & Hanke, 2006). Essas relaes sociais se mostram

    dinmicas em termos principalmente estruturais, em que os laos que se

    estabelecem entre as pessoas podem apresentar diferentes pesos ou foras

    (Granovetter, 1973) e tambm direes, indicando poder ou influncia.

    Tanto no nvel meso quanto no micro (Blau, 1977) de anlise de redes as

    relaes que se estabelecem entre os atores configuram campo importante para a

    Administrao, uma vez que seus desdobramentos moldam as alteraes que

    acontecem tanto dentro das organizaes quanto no prprio ambiente em que essas

  • 24

    organizaes se inserem. Da mesma forma, as relaes entre indivduos so

    afetadas e moldadas pela dinmica relao de rede.

    Esses arranjos ou estruturas em rede normalmente so abordados na

    literatura de Administrao sob uma perspectiva organizacional e, nesse sentido,

    podem ser formados em situaes que variam entre a competio, a colaborao e

    um tipo de relao mista. Nesta ltima, atores que normalmente competem entre si

    resolvem colaborar de alguma forma para atingir algum objetivo que seja comum, ou

    melhor, tem-se a colaborao entre atores que interagem em um ambiente

    competitivo. A esse tipo de relao entre as organizaes d-se o nome de

    coopetio (Bengtsson & Kock, 2000; Brandenburger & Nalebuff, 1996; Dagnino &

    Padula, 2002; Garcia & Velasco, 2002; Kotzab & Teller, 2003; Padula & Dagnino,

    2007; Tsai, 2002).

    A coopetio chama a ateno porque comum e esperado que se

    enxerguem em relacionamentos interpessoais as relaes puras de competio ou

    de colaborao. Isso porque, afinal, os grupos e, numa escala mais ampla, as

    organizaes tm origem em associaes entre indivduos (Boissevain, 1968). No

    entanto, o terceiro tipo de relacionamento coopetio no explorado quando se

    observam as redes entre os indivduos. O presente trabalho tem como objetivo

    questionar a exclusividade da aplicao e do estudo do conceito de coopetio nas

    organizaes, propondo que sua utilizao seja tambm estendida ao micro, ou seja,

    s relaes individuais.

    Levando-se em considerao a dificuldade de se identificar os limites que

    separam o que de nvel micro, meso ou macro (Blau, 1987; Lopes, 2004; Peng &

    Luo, 2000; Schillo et al., 2001) e tendo-se em conta ainda que o entendimento de

    estruturas em rede uma espcie de resposta para essa dicotomia entre os nveis

    (Granovetter, 1973, 1992), encarar as relaes entre instituies de forma diferente

    daquelas que se estabelecem entre indivduos pode representar uma barreira para o

    avano no entendimento pleno da maneira pela qual as estruturas sociais

    funcionam.

    A crescente importncia das redes de indivduos que se relacionam de forma

    independente, rompendo as fronteiras das organizaes (Castilla et al., 2000), ajuda

    a reforar a importncia da necessidade de que se inverta o foco de anlise das

    relaes sociais, partindo agora das relaes entre os indivduos, e - dentro de um

  • 25

    continuum - chegar aos grupos (Boissevain, 1968). Observar as relaes entre as

    pessoas, atribuindo a esse grau de anlise o dos relacionamentos interpessoais, a

    sua devida importncia, ser possvel inferir que, em determinada indstria ou setor,

    mesmo que as organizaes no se relacionem de forma direta, a existncia de

    laos entre os indivduos a elas pertencentes pode fornecer indicadores importantes

    referentes a influncia e alinhamento.

    A importncia da mudana do foco do nvel meso para o micro se d tambm

    em funo da j relatada dificuldade de se estabelecer as fronteiras das relaes

    entre as organizaes e as relaes entre os indivduos que fazem parte dessas

    organizaes. Enquanto as redes formadas por organizaes formam grupos s

    vezes independentes e que no se ligam entre si, as redes de indivduos que

    pertencem a essas organizaes mostram-se uniformemente distribudas,

    desmontando a estrutura atomizada das redes de organizaes (Castilla et al.,

    2000).

    Encarar as relaes em rede de forma a separar os relacionamentos

    interpessoais dos relacionamentos interorganizacionais pode, portanto, ocasionar

    problemas para a pesquisa sobre redes especialmente no que se refere aos

    relacionamentos de coopetio. Nesse sentido, a finalidade deste trabalho

    demonstrar que o conceito de coopetio pode ser aplicado aos relacionamentos

    interpessoais. Para tanto, buscou-se a desconstruo do conceito de coopetio

    para demonstrar que no h justificativa conceitual para que sua aplicao se

    restrinja a relaes entre organizaes.

    O ponto central da argumentao que defende o conceito de coopetio a

    de que, aps avaliadas as possibilidades de atuao por parte de uma organizao,

    haver momentos em que se aliar s organizaes concorrentes poder ser mais

    vantajoso - em diferentes aspectos - do que simplesmente atuar competindo

    diretamente com elas (Bengtsson, Hinttu, & Kock, 2003; Bengtsson & Kock, 2000;

    Brandenburger & Nalebuff, 1996; Dagnino & Padula, 2002; Das & Teng, 2000; Gee,

    2000; Ketchen, Snow, & Hoover, 2004; Kotzab & Teller, 2003; Loebecke, Fenema, &

    Para demonstrar que no h argumentao terica suficientemente

    organizada para afirmar que essa abordagem deva ser associada exclusivamente a

    um contexto meso, o presente trabalho lana mo de um estudo bibliogrfico sobre

  • 26

    o conceito em questo. Como previamente apresentado, o objetivo evidenciar que

    o conceito de coopetio tambm pode ser aplicado s relaes individuais.

    Foi realizada pesquisa bibliogrfica tendo como ponto de partida o conceito de

    coopetio. Para auxiliar na reunio de material terico publicado sobre o tema,

    utilizou-se a ferramenta de pesquisa Google Acadmico. Foram reunidas as

    publicaes com mais quantidade de citaes e, a partir delas, outras publicaes

    sobre o tema foram localizadas e devidamente estudadas, a fim de se obter um

    panorama consistente do que se publica e se afirma acerca do tema e das

    definies atribudas pelos diferentes autores acerca do que vem a ser coopetio e

    suas caractersticas.

    O intuito de se conduzir este formato de investigao para o presente trabalho

    foi levantar as definies de coopetio a fim de se descobrir as eventuais

    peculiaridades conceituais do construto terico e reforar a argumentao inicial de

    que o que se afirma sobre essa modalidade de relacionamento, embora inicialmente

    associado a relaes interorganizacionais, pode ser aplicado num nvel micro das

    relaes interpessoais.

    2.2 Competio, colaborao e coopetio

    As organizaes podem se relacionar de trs formas: competindo entre si por

    um recurso escasso, colaborando em conjunto para a obteno de benefcios e

    numa perspectiva mista em que competidores cooperam entre si em algum aspecto

    de sua atuao. A competio uma relao de rivalidade direta entre atores, que

    se estabelece devido necessidade, ou dependncia, de condies estruturais

    ambientais (Bengtsson & Kock, 2000).

    Os relacionamentos entre atores que competem so, ento, processos

    interativos em que as aes de um ator afetam os outros componentes da estrutura.

    Trata-se de um processo em que diferentes atores detm interesses divergentes que

    os fazem atuar em um comportamento orientado para atender s suas necessidades

    individuais (Padula & Dagnino, 2007). Dessa forma, como os atores que competem

    em busca de um recurso que no pode ser obtido em sua plenitude por todos os

    atores do ambiente, a conquista desses recursos por um dado ator se d custa da

    perda por parte de outros atores.

  • 27

    Normalmente, portanto, relacionamentos de competio so enxergados

    como sendo caractersticos de um recorte horizontal de um dado ambiente, quando

    os atores presentes no ambiente no se relacionam em uma estrutura hierrquica,

    disputando os mesmos recursos e objetivos (Achrol, 1997; Chandler, 1969;

    Rindfleisch, 2000; Sheth & Sisodia, 1999).

    Em se tratando das relaes de cooperao, embora seja mais fcil entend-

    las quando observado um recorte vertical, ou seja, nas situaes em que as funes

    dos atores so complementares entre si, possvel estabelecer relaes de

    cooperao tambm no recorte horizontal. Ampla definio de cooperao (Franco,

    2007), apresenta essa modalidade como sendo uma deciso estratgica que pode

    ser formalizada ou no entre duas ou mais partes que tem como objetivo a troca

    ou compartilhamento de recursos a fim de obterem benefcios mtuos.

    Tendo em vista que as redes de cooperao proporcionam ambiente favorvel

    aprendizagem e s inovaes, de se esperar que esse tipo de relao acontea

    independentemente de relao hierrquica entre os atores envolvidos, sendo

    relevantes para sua formao os seguintes fatores: acesso a solues; escala e

    poder de mercado; aprendizagem e inovao; relaes sociais; e reduo de custos

    (Verschoore & Balestrin, 2008).

    A reunio de caractersticas que permitem adaptao a um ambiente de

    competio em uma estrutura unificada e que padronizam aes de atores que

    competem entre si, mas que permitam, a estes, ganhos competitivos a ideia

    central para o estabelecimento de redes de cooperao (Verschoore & Balestrin,

    2008). Essa ideia reforada quando se leva em considerao o fato de que atores

    que agem cooperativamente no significa a ausncia de concorrncia entre eles

    (Leite, Lopes, & Silva, 2009).

    A mais importante caracterstica da cooperao a sua circunscrio a

    projetos e objetivos bem delimitados pelos envolvidos e compartilhados por eles.

    Nesse aspecto, ela pode acontecer entre rivais diretos (Guimares, 2002). A lgica

    predominante no estabelecimento de redes de cooperao fundamenta-se, seguindo

    esse princpio, na possibilidade de ganhos para as partes envolvidas que se

    associam (Verschoore & Balestrin, 2008). Do contrrio, esses atores no

    cooperariam.

    Sistemas de cooperao so projetados para que todos os envolvidos se

    beneficiem na construo e sustentao de vantagem competitiva, combinando seus

  • 28

    recursos e competncias para a criao de valor ( sando a

    emerso de conhecimento (Balestrin, Vargas, & Fayard, 2005). mais comum que

    organizaes se aproximem em relacionamentos de rede com o intuito de

    colaborarem em arranjos construdos para servir a diferentes propsitos que vo

    desde a colaborao para a busca de um recurso comum, o compartilhamento de

    capacidades para benefcio mtuo ou a regulamentao de uma dinmica de ao

    conjunta entre os envolvidos. No entanto, o surgimento ou formao desse tipo de

    arranjo entre atores no necessariamente acontece de forma planejada, podendo se

    desenvolver e se manter de maneira espontnea, enquanto houver um

    relacionamento entre os envolvidos (Axelrod & Hamilton, 1981; Axelrod, 1988).

    Esses extremos de relacionamento competio e colaborao foram

    muitas vezes tratados como as nicas formas possveis de interao em uma rede.

    Contudo, nas ltimas dcadas, no entanto, tem sido notado que muitos atores

    organizacionais competem e cooperam de forma simultnea (Walley, 2007). As

    relaes que emergem entre atores que competem e cooperam entre si num mesmo

    relacionamento so paradoxais e fazem transparecer uma terceira abordagem

    relacional que constitui uma maneira diferente de enxergar esses relacionamentos

    (Bengtsson & Kock, 2000).

    O nome dado a essa terceira modalidade de relacionamentos coopetio e

    seu conceito oriundo de um trabalho (Brandenburger & Nalebuff, 1996) que

    abordava a teoria dos jogos e suas relaes com as estratgias de organizaes.

    Um dos pontos-chave da argumentao deste trabalho que uma abordagem de

    conduo das atividades de uma organizao baseando-se apenas na competio

    com outros atores leva a inmeras perdas (Brandenburger & Nalebuff, 1996; Walley,

    2007).

    Ao serem analisados sob a perspectiva da teoria dos jogos, os cenrios

    caracterizados pela ao competitiva predadora dos atores eram considerados

    perda-e-ganho. Nesse sentido, para obter certo ganho em determinado aspecto de

    sua ao, um ator abria mo de ganhos potenciais que seriam obtidos se, em

    alguma esfera, cooperassem com aqueles com quem competem. A partir de meados

    da dcada de 1990, essa viso passou a dar lugar a uma concepo de relaes de

    cooperao que produzem um cenrio de ganho-e-ganho (Walley, 2007), mesmo

    sendo observadas as relaes entre competidores.

  • 29

    Sobre essas relaes entre atores, h trabalhos que defendem a

    possibilidade da existncia de relacionamentos de colaborao entre competidores

    de forma indireta (Axelrod, 1987, 1988; Axelrod & Dion, 1988; Axelrod & Hamilton,

    1981; Khanna, Gulati, & Nohria, 1998; Lado, Boyd, & Hanlon, 1997; Sauaia & Kalls,

    2007) no se referindo exatamente ao termo coopetio e de forma direta

    (Bengtsson & Kock, 2000; Brandenburger & Nalebuff, 1996; Dagnino & Padula,

    2002; Garcia & Velasco, 2002; Garraffo, 2002; Kotzab & Teller, 2003; Leite et al.,

    2002; Walley, 2007), ainda afirmando que esta seja, na verdade, uma modalidade de

    colaborao em que os envolvidos atuam de forma a perpetuar a relao, uma vez

    que percebem que, se assim procederem, obtero ao mesmo passo que

    proporcionaro benefcios.

    Os benefcios obtidos a partir da formao de arranjos de colaborao ou

    cooperao entre competidores podem ser da ordem de ganho em fora competitiva

    (Ahuja, 2000; Jarillo, 1988; Leite et al., 2009; Verschoore & Balestrin, 2008), acesso

    e compartilhamento de informaes, mercados, recursos e tecnologias (Ahuja, 2000;

    Biermann, 2007; Gulati, Nohria, & Zaheer, 2000; Vanhaverbeke, Gilsing, Beerkens, &

    Duysters, 2009), criao de conhecimento (Balestrin et al., 2005), valor

    (Brandenburger & Nalebuff, 1996), aprendizado (Cowan, 2006), transferncia de

    conhecimento (Loebecke et al., 1999), desenvolvimento conjunto de tecnologias e

    inovao (Ahuja, 2000; Guimares, 2002; Gulati et al., 2000; Vanhaverbeke et al.,

    2009), sucesso no alcance de objetivos (Balestrin, Verschoore, & Reyes Junior,

    2010; Oliver & Ebers, 1998; Zineldin, 2004), aumento nos lucros (Sauaia & Kalls,

    2007; Silva, Motta, & Costa, 2007), desenvolvimento colaborativo de vantagens

    individuais dos atores envolvidos (Das & Teng, 2000) e tambm do poder de

    negociao (Bertolin, Santos, Lima, & Braga, 2008).

    As relaes de coopetio so formadas com a finalidade de trazer benefcios

    para os envolvidos e so consideradas uma maneira eficiente de lidar com a

    cooperao e a competio entre competidores (Bengtsson & Kock, 2000) que

    compartilhem caractersticas semelhantes e sejam, portanto, similares (Das & Teng,

    2000) alm de terem viso e objetivos concomitantes (Zineldin, 2004).

    Percebe-se, em funo disso, que as argumentaes que auxiliam na

    construo de um conceito de coopetio se confundem com aquelas presentes na

    literatura sobre colaborao e cooperao, especificamente quando se argumenta

  • 30

    acerca dos benefcios dos arranjos de colaborao e cooperao

    interorganizacional.

    Tem-se, dessa forma, que o conceito de coopetio refere-se s relaes de

    colaborao e cooperao concomitantemente estabelecidas entre dois atores que

    competem entre si. No entanto, as relaes coopetitivas extrapolam as definies de

    colaborao, uma vez que se referem a questes mltiplas fundamentais para os

    atores envolvidos, enquanto as relaes de colaborao so direcionadas a

    questes especficas (Gee, 2000). Trata-se de uma abordagem - com crescente

    adeso por parte de pesquisadores (Ketchen et al., 2004) - de arranjos que mescla

    as definies de competio e da cooperao (Dagnino & Padula, 2002), sendo

    possvel notar a ocorrncia, de forma concomitante, de competio e cooperao

    entre atores de um mesmo setor ou indstria, mesmo em um ambiente altamente

    competitivo (Kotzab & Teller, 2003).

    Embora disputem numa instncia de suas relaes um ou mais recursos que

    podem ser limitados, esses atores se arranjam em grupos de cooperao que visam

    a minimizar a competio e unir foras na disputa pelos eventuais recursos limitados

    ou mesmo ganhos que podem no vir a ser mensurveis (Balestrin et al., 2010; A.

    Guimares, 2002; Oliver & Ebers, 1998).

    Numa abordagem coopetitiva, os atores envolvidos consideram que, para seu

    sucesso individual, no necessrio que outros atores falhem na disputa pelo

    objetivo que tm em comum (Zineldin, 2004). Para tanto, os relacionamentos entre

    os atores so construdos de forma que a capacidade competitiva individual de cada

    ator - e tambm do conjunto - seja aumentada sem que outros elementos

    estratgicos individuais sejam minados (Ketchen et al., 2004). Ao trabalharem em

    conjunto para que sejam obtidos benefcios mtuos, os atores envolvidos - mesmo

    que competidores - colaboram para que o sistema no qual esto envolvidos se

    beneficie (Gee, 2000).

    Esses tipos de relacionamento de coopetio podem envolver diferentes

    graus de colaborao e competio (Luo, 2004). Nesse sentido, pode ser possvel

    observar que em determinadas associaes exista mais competio do que

    colaborao e, em virtude disso, as relaes entre os envolvidos demandam mais

    cautela. J em outras associaes, o comprometimento e a parceria so superiores

    competio em si.

  • 31

    Ao reunir elementos descritivos tanto de relacionamentos competitivos quanto

    de relaes de colaborao e cooperao, os arranjos coopetitivos demandam dos

    atores envolvidos a habilidade de lidar com os ganhos referentes poro

    cooperativa e colaborativa da relao, como acesso a fontes externas de

    conhecimento e know-how (Loebecke et al., 1999). Isso de d ao mesmo tempo em

    que se veem forados a se diferenciarem e gerarem vantagens competitivas

    distintas das dos atores com os quais esto se relacionando (Bengtsson et al.,

    2003). Nesse sentido, a poro cooperativa da relao assegura o bom

    funcionamento do relacionamento (Das & Teng, 2000).

    2.3 Coopetio em redes interpessoais: uma alternativa possvel?

    As relaes de coopetio envolvem dois tipos de lgica de interao

    diferentes, porm de ocorrncia simultnea: competio e cooperao. De um lado,

    h a hostilidade motivada pelo conflito de interesses e, de outro, a necessidade de

    se estabelecer comprometimento e confiana mtua para que o objetivo comum a

    dois atores seja atingido (Garcia & Velasco, 2002).

    Na literatura sobre coopetio possvel observar ao menos trs perspectivas

    tericas principais que possibilitam a construo de um entendimento dos

    relacionamentos coopetitivos: economia de custos de transao (Dagnino & Padula,

    viso baseada em recursos (Garcia

    & Ve

    1996; Dagnino & Padula, 2002; Garcia & Velasco, 2002; Leite et al., 2009; Levy,

    Loebbecke, & Powell, 2003; Loebecke et al., 1999).

    A colaborao da perspectiva da economia de custos de transao para a

    formao do conceito de coopetio est no entendimento da necessidade de um

    ator estabelecer aes coordenadas com seus competidores em arranjos de

    colaborao em que cada um fornece ao grupo aquele recurso que apenas ele

    detm e que importante ou necessrio para todos (Dagnino & Padula, 2002;

    er considerado que essa

    perspectiva leva em conta risco e confiana. Os atores vo escolher aliar-se aseus

    competidores num esquema em que a possibilidade de ganho maior mesmo que

    pouco do que o risco de ser vtima de uma ao oportunista de seu parceiro.

  • 32

    Economia de custos de transao parte da teoria da firma (Coase, 1937;

    Williamson, 1973, 1985). De acordo com esta teoria, os custos de transao definem

    se um recurso ser produzido externamente ou internalizado. Voltando questo da

    coopetio, valer a pena para um ator aliar-se a outro que detm um recurso

    especfico se o risco de sofrer uma ao oportunista desse ator for neutralizado pelo

    custo de internalizar a produo

    2005).

    A viso baseada em recursos levanta a necessidade de se desenvolver

    vantagens competitivas distintas para que um ator institucional seja escolhido para

    fornecer determinado bem ou servio num mercado. Para tanto, o ator em questo

    deve identificar seus recursos-chave e avaliar se estes tm valor nas relaes em

    que ele se envolve, se so raros, no facilmente copiveis e insubstituveis. Se

    esses recursos internos so trabalhados corretamente, esse ator ocupar uma

    posio de vantagem em relao a seus pares. Essa vertente terica d sustentao

    e colabora na construo do conceito de coopetio, uma vez que a oferta desses

    recursos nicos que lhe fornece o fator de atrao para que outros atores se

    associem a ele em busca do desenvolvimento de algo comum (Garcia & Velasco,

    ).

    A compreenso de que os indivduos no so sempre bem-intencionados e

    tendem a olhar primeiro para si e suas necessidades antes da coletividade e,

    antagonicamente, a percepo de que a cooperao ocorre mesmo assim e que a

    civilizao baseada nessa cooperao (Axelrod, 1988) formam um bom ponto

    inicial para que se entenda a colaborao dos conceitos da teoria dos jogos para a

    construo do conceito de coopetio. A abordagem dos jogos trabalha as escolhas

    dos atores e representa outra fonte de sustentao para a construo do conceito de

    coopetio. Ela aplicada no estudo de relaes em que um equilbrio cooperativo

    emerge de aes dos atores (Axelrod, 1987, 1988; Axelrod & Hamilton, 1981; Nowak

    & Sigmund, 2000).

    A principal maneira usada para explicar a teoria dos jogos a partir da

    ilustrao do paradigma da escolha por meio do dilema do prisioneiro. Esse jogo

    ilustra que em relaes humanas a escolha pela cooperao suplanta o risco de

    adotar uma postura de competio predadora. Apesar de a recompensa ser maior na

    situao em que um dos suspeitos delata o outro que fica em silncio, a escolha

  • 33

    mais recorrente (Axelrod, 1987, 1988; Axelrod & Hamilton, 1981) a de minimizar os

    prejuzos em vez de tentar a sorte grande e ambos escolhem ficar em silncio.

    O dilema utilizado como uma forte argumentao em prol de uma

    associao de colaborao entre instituies que competem entre si (Brandenburger

    & Nalebuff, 1996) e, como visto, aplica-se a relaes entre competidores tanto em

    nvel meso quanto micro.

    Alm dessas trs bases tericas principais, h as questes estruturais da

    rede (Bengtsson & Kock, 2000), as cap

    2005; Teece & Pisano, 1994) e os fatores relacionados sua imerso na estrutura

    (Tsai, 2002) como outros elementos que ajudam a consolidar a construo do

    conceito de coopetio na literatura.

    A dependncia entre competidores pode ocorrer em funo das

    caractersticas da rede, uma vez que as aes dos atores moldam a rede e esta

    molda as aes dos atores que dela fazem parte (Bengtsson & Kock, 2000). Essas

    questes que envolvem a formao e a dinmica da rede evidenciam a inclinao de

    atores para a adoo de posturas de colaborao com outros agentes presentes na

    rede com os quais competem por um recurso escasso. Alm disso, a compreenso

    dessa dinmica e influncia estrutural permite compreender que em alguns aspectos

    das relaes entre os atores a competio ser maior do que a colaborao; e em

    outros a situao se inverte. No entanto, em virtude da necessidade da manuteno

    da rede os atores tendem a adotar uma postura que minimize a postura unicamente

    predadora.

    As capacidades dinmicas dos atores referenciam-se aprendizagem de

    novos conhecimentos que se transformam em vantagens competitivas. Os atores,

    nessa perspectiva, aprendem tanto interna quanto externamente para

    desenvolverem suas vantagens competitivas. O aprendizado externo encorajado,

    pois a partir dele se obtm know-how dos outros atores envolvidos em arranjos de

    cooperao - mesmo que estes sejam seus competidores diretos (

    Teece & Pisano, 1994). Nesse sentido, atores escolhem estabelecer relaes de

    cooperao que proporcionem aprendizado com base no compartilhamento de

    conhecimento (Tsai, 2002).

    As relaes que se estabelecem entre os atores, como dito, influenciam e so

    influenciadas pela rede. Uma vez que uma rede est estabelecida, as relaes entre

    os atores envolvidos tendem a ser gerenciadas pelos prprios atores imersos nessa

  • 34

    estrutura por meio de aes de colaborao com a finalidade de perpetuar os

    benefcios obtidos pelos atores na rede (Tsai, 2002). A manuteno da rede passa a

    ser tarefa de todos os atores envolvidos, uma vez que o bem-estar de todos mais

    importante do que a maximizao dos resultados obtidos por um ator apenas

    (Bengtsson & Kock, 2000).

    Um exemplo que ilustra a aplicao das bases conceituais descritas s

    relaes interpessoais o de um relacionamento que pode ser estabelecido entre

    um cozinheiro, um caador e um carpinteiro que vivem numa pequena vila. Todos

    disputam alimento e abrigo e cada um detm um conjunto especfico de habilidades

    que importante para o grupo, mas no exatamente distintivo, visto que o

    carpinteiro pode aprender a cozinhar, o caador pode aprender a lidar com a

    madeira e o cozinheiro pode aprender a caar, por exemplo. No entanto, os custos

    envolvidos nos processos de aprendizado para cada um desses indivduos podem

    representar prejuzos em suas atividades principais. Cada um deles precisar de

    tempo para aprender este novo ofcio sozinho e esse tempo dedicado ao

    aprendizado-solo um tempo em que cada um no estar realizando a tarefa que

    sua especialidade.

    Ento, decidindo cooperar, cada um colabora com o grupo fornecendo o

    resultado de seu trabalho e obtendo o benefcio do resultado do trabalho dos outros

    envolvidos. Caso um dos indivduos julga que vale a pena correr o risco de produzir

    menos aquilo que sua especialidade para aprender um novo ofcio, podendo ser

    abalada a relao de cooperao com um de seus pares ou mesmo com o grupo.

    nesse ponto de equilbrio das relaes entre esses indivduos que se percebe a

    analogia com o cenrio meso. Nele so levados em conta os custos envolvidos em

    produzir internamente um recurso ou obter esse recurso de fontes externas, em que

    se encaixa a colaborao das teorias dos custos de transao e da viso baseada

    em recursos para o entendimento das relaes coopetitivas.

    Alm disso, a escolha de cada um dos indivduos, por no cooperar com seu

    par, pode lhe trazer consequncias no desejadas. Por exemplo, se o cozinheiro no

    colaborar com o carpinteiro, poder ter comida, mas no o abrigo necessrio para se

    proteger das intempries. Assim sendo, minimizar seus ganhos tendo que dividir o

    fruto de seu trabalho pode proporcionar o benefcio de um abrigo. A perpetuao das

    relaes entre o cozinheiro, o carpinteiro e o caador consolida uma rede de

  • 35

    benefcios mtuos que se fortalece com o tempo. Romper com esses

    relacionamentos pode ser desconfortvel para os atores. Assim, pode-se concluir

    que colaborar com seu competidor um negcio arriscado, uma vez que as chances

    de ser vtima de uma ao oportunista do adversrio alta (Garcia & Velasco, 2002).

    Por outro lado, a frequncia de interaes entre os atores pode diminuir o

    risco de uma ao oportunista, uma vez que os atores tendem a aprender sobre

    seus pares e uma rotina criada ( Ainda assim, o risco no

    totalmente eliminado, pois proteger um recurso especfico como conhecimento

    tcito, por exemplo, difcil. Isso estimula cada um dos envolvidos a desenvolver

    novas capacidades nicas que fazem com que sua presena nesse esquema de

    benefcio de grupo seja primordial. Ademais, mesmo sabendo que h a chance de

    maximizao dos ganhos individuais, o risco alto e os atores tendem a agir com o

    objetivo de perpetuar a relao e no eliminar a concorrncia.

    No obstante os princpios tericos listados fazerem referncia a um contexto

    meso, possvel compreender que esses princpios se aplicam s relaes

    interpessoais.

    Observar os tipos de relacionamentos de coopetio que podem ser

    estabelecidos entre atores proporciona outra forma de verificar a aplicao desses

    relacionamentos a um mbito micro. Embora no existam muitos trabalhos que

    proponham uma tipologia dos relacionamentos coopetitivos (Walley, 2007), o esforo

    vlido e ajuda a corroborar a proposta deste trabalho.

    Ao serem observados os tipos de relacionamentos coopetitivos de acordo

    com a carga de competio e colaborao existente na relao cooperao

    dominante, relacionamento igualitrio e competio prevalente (Bengtsson & Kock,

    2000; Luo, 2004) , a analogia referente aplicao em meso e micro permanece

    vlida. Num aspecto micro, as relaes entre cada par de atores pode ser deslocada

    para a colaborao ou para a competio; mesmo quando a atuao desses atores

    no a de competir diretamente em suas especialidades.

    Outra classificao de relacionamentos coopetitivos, desta vez de acordo com

    a sua finalidade (Garraffo, 2002), tambm se mostra aplicvel a relacionamentos

    interpessoais, uma vez que estes podem se estabelecer para a troca de

    conhecimento, colaborao mtua em atividade de pesquisa e desenvolvimento,

    estabelecimento de padres e integrao de atividades.

  • 36

    Uma terceira tipologia de coopetio (Dowling, Roering, Carlin, & Wisnieski,

    1996) prope que esse tipo de relacionamento pode acontecer de forma direta ou

    indireta entre compradores e fornecedores e entre parceiros que competem

    diretamente. O exemplo usado neste trabalho insere os indivduos claramente em

    trs tipos de coopetio propostos por essa tipologia.

    Cozinheiro, carpinteiro e caador competem diretamente, disputando o

    recurso escasso do abrigo e alimentao. Competem indiretamente em relao aos

    insumos necessrios para o desempenho de suas funes, uma vez que todos

    precisam de madeira para a fabricao de suas ferramentas de trabalho, mas esse

    recurso parte principal da atividade do carpinteiro apenas. Caso ampliada a rede

    do exemplo proposto, poder ser observado o terceiro tipo de relao de coopetio

    dessa tipologia. Um novo grupo pode se ligar a esses trs primeiros indivduos e

    outro carpinteiro pode se associar ao primeiro para fornecer um novo tipo de

    construo de abrigo mais elaborado que demande trabalho especializado de mais

    profissionais.

    2.4 Consideraes sobre a aplicao do conceito

    Embora o conceito de cooperao num quadro de competio seja bastante

    claro e importante para a compreenso das relaes entre os indivduos (Axelrod,

    1987, 1988; Axelrod & Dion, 1988; Axelrod & Hamilton, 1981) e tambm na teoria

    dos jogos (Armstrong, 2002; Brandenburger & Nalebuff, 1996; Zhong, Zheng, Zheng,

    Xu, & Hui, 2007), na literatura de Administrao as relaes de cooperao e

    competio concomitantes apenas relatam relacionamentos em uma esfera meso

    (Schillo et al., 2001), ou seja, no nvel das organizaes.

    Apesar dos estudos dedicados a estes assuntos predominantemente terem

    como foco as organizaes (Schillo et al., 2001), possvel perceber que parte da

    base conceitual sobre esse tipo de relacionamento tem seu cerne baseado numa

    abordagem micro, relacionada aos indivduos (Boissevain, 1968; Borgatti & Foster,

    2003; Castilla et al., 2000; Fombrun, 1982; Granovetter, 1985; Newman & Park,

    2003).

    Alm disso, a aplicao dos conceitos que servem como base para explicar

    os relacionamentos coopetitivos se d, como visto, tanto no nvel meso quanto

  • 37

    micro. Auxilia esta argumentao a meno de que os atores individuais ou

    organizacionais , para desenvolverem relacionamentos coopetitivos, devem reunir

    interaes, relaes, atitudes, motivos, necessidades objetivos e aes em comum

    (Zineldin, 2004).

    Com base nas caractersticas e componentes que proporcionam a

    sustentao da coopetio, no possvel restringir esse conceito apenas s

    relaes interorganizacionais. Mesmo nas relaes interpessoais, possvel

    identificar os mesmos componentes que estimulam as relaes de colaborao com

    competidores.

    A partir da anlise do conceito de coopetio e da relao ntima deste com

    os conceitos evidenciados e descritos de colaborao e cooperao, podem-se tecer

    argumentaes que permitem concluir que nada existe na apresentao conceitual

    sobre relacionamentos coopetitivos que prenda esse conceito ao espao meso. As

    mesmas premissas que regem as relaes das empresas podem ser aplicadas s

    relaes entre pessoas.

    Quando o tema das redes tratado nos estudos de Administrao ou

    Economia, normalmente h uma espcie de tendncia a se abordar os agentes

    organizacionais e trat-los como indivduos racionais numa rede de relacionamentos

    puramente econmicos. Entretanto, os conceitos trabalhados, como j referenciado,

    podem tambm referir-se a relacionamentos sociais em configurao micro, ou seja,

    das relaes interpessoais.

    Deve-se deixar claro, no entanto, que no se trata de negar que relaes

    entre pessoas podem ser encaradas de maneira diferente das relaes entre

    instituies. O que se prope aqui que sejam adotados os mesmos princpios

    usados num nvel quando analisadas as relaes formadas em outro nvel; afinal,

    redes so redes.

  • 38

    3 PROPONDO UMA INVESTIGAO PARA IDENTIFICAR RELACIONAMENTOS

    COOPETITIVOS EM REDES INTERPESSOAIS

    Resumo: este trabalho parte da premissa de que possvel observar

    relacionamentos interpessoais que se encaixem na descrio atribuda coopetio

    (Oliveira, 2012a). O objetivo propor diretrizes para uma investigao emprica

    acerca da plausibilidade dessa premissa a partir da investigao da(s) eventual(ais)

    rede(s) de coautoria formada(s) por pesquisadores em Administrao no Brasil. Na

    primeira parte do texto so identificadas e apresentadas as caractersticas sociais

    das atividades de pesquisa e trabalho cientfico, bem como listados os antecedentes

    tericos que buscam estabelecer relaes entre a necessidade de colaborao entre

    os atores e a qualidade de seus trabalhos, alm de apresentado o ambiente de

    atuao do pesquisador brasileiro e contextualizado um cenrio para investigao.

    Na segunda parte do texto apresentada a proposta de investigao pra conduo

    de uma pesquisa emprica a fim de comprovar a premissa que sustenta a ideia

    central do trabalho.

    Palavras-chave: Coopetio. Redes interpessoais. Pesquisa cientfica. Redes de

    Coautoria.

    Abstract: This work starts from the premise that it is possible to observe

    interpersonal relationships that fit the description given to coopetition (Oliveira,

    2012a). The goal is to propose guidelines for an empirical investigation about the

    plausibility of this assumption by investigating the possible networks formed by co-

    authoring researchers in the field of Administration in Brazil. In the first part of the text

    are identified and presented the characteristics of social research and scientific work,

    as well as listed the theoretical background that seek to establish relationships

    between the need for collaboration between the authors and the quality of their work,

    then we present the work environment faced by the Brazilian researcher and

    contextualize the scenario for investigation. In the second part of the text we present

    a research proposal of an empirical research to prove the premise that supports the

    central idea of the work.

  • 39

    Key words: Coopetition. Interpersonal networks. Scientific research. Networks of co-

    authorship.

    3.1 Introduo

    O termo coopetio (Bengtsson & Kock, 2000; Brandenburger & Nalebuff,

    1996; Dagnino & Padula, 2002; Garcia & Velasco, 2002; Kotzab & Teller, 2003; Tsai,

    2002) refere-se s relaes simultneas de competio e cooperao entre dois

    atores que competem entre si. Esse tipo de relao pode ser vantajoso, uma vez

    que proporciona menos perdas para as partes envolvidas na disputa por algum

    recurso escasso, mas necessrio, para ambos (Axelrod, 1988). A premissa para

    esse tipo de relacionamento simples: para atores que competem em um

    determinado segmento mais vantajoso aliar-se aos concorrentes em momentos

    especficos para que ambos possam trabalhar conjuntamente na gerao de

    resultados que possam ser compartilhados. Consequentemente, ao final do

    processo, ambos podem ter individualmente acumulado mais recursos do que se

    tivessem mantido apenas a competio entre si.

    As relaes coopetitivas extrapolam as definies estabelecidas tanto para a

    competio quanto para a colaborao (Dagnino & Padula, 2002), apesar de terem

    mais proximidade conceitual com a ltima. Considerando que essas relaes

    referem-se a mltiplos elementos fundamentais para os atores envolvidos, essa

    extrapolao de definies ocorre porque tais relaes renem caractersticas que

    vo alm das questes especficas de um acordo de colaborao, por exemplo

    (Gee, 2000). Numa abordagem coopetitiva, os atores envolvidos consideram que

    seu sucesso individual no demanda que outros atores falhem na disputa pelo

    objetivo que tm em comum (Zineldin, 2004).

    As modalidades de relaes concomitantes que so compreendidas pelo

    termo coopetio competio e colaborao so familiares aos que estudam os

    relacionamentos entre atores tanto no nvel meso (interorganizacional) quanto micro

    (interpessoal). No entanto, o conceito no tem sido utilizado para se referir s

    relaes interpessoais, permanecendo sua aplicao restrita aos trabalhos que se

    referenciam ao nvel meso. Isso se constitui em uma visvel lacuna terica, uma vez

    que a literatura especfica sobre o tema no contm qualquer justificativa para que o

  • 40

    termo coopetio entendido como uma nova abordagem de relacionamento entre

    atores tenha seu uso restrito ao nvel meso.

    Isto posto, este trabalho parte da premissa de que possvel observar

    relacionamentos interpessoais que se encaixem na descrio atribuda coopetio

    e classific-los como tal. Desta forma, o objetivo central deste trabalho propor

    diretrizes para uma investigao emprica acerca da plausibilidade dessa premissa.

    Para tanto, o objeto de estudo a(s) eventual(ais) rede(s) de coautoria formada(s)

    por pesquisadores em Administrao no Brasil. Este objeto foi escolhido porque

    conforme ser descrito neste texto acredita-se que o ambiente em que atuam os

    pesquisadores brasileiros dos programas de ps-graduao stricto sensu em

    Administrao proporciona o cenrio ideal para a investigao aqui proposta.

    Este texto est dividido em duas grandes partes. Na primeira so identificadas

    e apresentadas as caractersticas sociais das atividades de pesquisa e trabalho

    cientfico, bem como listados os antecedentes tericos que buscam estabelecer

    relaes entre a necessidade de colaborao entre os atores e a qualidade de seus

    trabalhos. Esta parte finalizada ao ser apresentado o cenrio de atuao do

    pesquisador brasileiro, tendo-se como foco a rea de pesquisa em Administrao,

    suas peculiaridades e a apresentao de um cenrio para investigao.

    Na segunda parte do texto apresentada a proposta de investigao para

    que seja conduzida uma pesquisa emprica a fim de comprovar a premissa que

    sustenta a ideia inicial e central deste trabalho.

    3.2 Colaborao, coautoria e o carter social da atividade do pesquisador em

    cincia

    O processo de produo cientfica, independentemente de qualquer outro

    aspecto, j denota e demanda a necessidade de associaes (Silva, 2002). Esse

    aspecto reflete o carter social da cincia (Rossoni & Filho, 2009), sendo uma das

    questes que acabam por proporcionar sua qualidade (Roesch, 2003). Essas

    associaes esto na ordem do dia para os que trabalham com pesquisa cientfica

    (Merton, 1979), representando as manifestaes mais vvidas e formais da

    colaborao entre pesquisadores (Newman, 2004b), bem como construindo um dos

  • 41

    cenrios mais indicados para a investigao de redes sociais de produo cientfica

    (Roebken, 2008).

    A questo social da atividade do pesquisador praticamente mandatria.

    Chega-se a avaliar negativamente o autor que produz sozinho, publicando apenas

    trabalhos individuais. Aqueles que adotam essa postura no raramente so

    considerados pesquisadores solitrios, sendo classificados como pouco capazes de

    cooperar com seus pares ou de proporcionar orientao eficiente para seus alunos

    (Bayer & Smart, 1991). No entanto, embora o apelo por colaborar seja forte,

    trabalhar de forma colaborativa no uma obrigao; mesmo porque, no outro

    extremo, autores que apenas produzem em conjunto por vezes tambm recebem

    avaliaes negativas, sendo classificados como incapazes de produzir de forma

    independente (Bayer & Smart, 1991). Neste ponto importante destacar o aparente

    dilema que se impe aos pesquisadores: se sua produo concentra-se em

    esforos-solo, mais identificados com uma postura relacional competitiva, eles

    podem ser avaliados como individualistas. Se essa produo basicamente

    resultado de trabalho conjunto, ou seja, fundada em relacionamentos

    colaborativos, o pesquisador pode ser considerado dependente do grupo.

    Essas avaliaes so extremadas, contendo vises limitadas que pouco

    contribuem para o avano dos estudos em determinada rea. Afinal, a postura mais

    competitiva e individualista pode ser importante para que um pesquisador produza

    conhecimento inovador e relevante. Ao mesmo tempo, a troca de ideias e o debate

    conjunto, tpicos da produo colaborativa em grupo, pode igualmente resultar em

    trabalhos inovadores e relevantes. Na verdade, a posio adotada neste trabalho a

    de que essas posies extremas so importantes apenas para reforar a ideia de

    que devem ser consideradas as associaes entre os pesquisadores e seu impacto

    na produo cientfica.

    Deve-se reiterar aqui que as redes formadas para a colaborao cientfica so

    especialmente caras para este trabalho. Em se tratando, portanto, de redes sociais,

    deve-se entend-las como sendo o conjunto de atores que atuam num determinado

    cenrio e, obviamente, as relaes entre eles (Wasserman & Faust, 1994). Tanto

    que, ao observar as redes nas quais os atores so os docentes e/ou pesquisadores

    e as conexes entre eles so evidenciadas pela partilha de autoria de trabalhos de

    pesquisa (Barabasi, Jeong, & Neda, 2002; Newman, 2001a; Silva, Matheus,

  • 42

    Parreiras, & Parreiras, 2006), percebe-se que o progresso da cincia depende de

    forma preponderante dessas associaes (Autry & Griffis, 2005).

    Nesse sentido, as redes de coautoria entre autores e pesquisadores

    cientficos consistem em uma importante classe de redes sociais que tm sido

    usadas de forma extensiva para se compreender a dinmica das relaes entre

    esses indivduos (Liu, Bollen, Nelson, & Sompel, 2005). Como j argumentado, as

    relaes de coautoria se mostram como representaes fiis do trabalho de

    colaborao intelectual em pesquisa cientfica (Acedo, Barroso, Casanueva, &

    Galan, 2006) tendo sua produo s vezes mais bem-avaliadas do que as

    produes individuais (Nudelman & Landers, 1972) e reforando a ideia de que as

    revolues na cincia no acontecem do dia para a noite nem so fruto de esforos

    solitrios (Kuhn, 1970). Pelo contrrio, as revolues so resultados dos trabalhos

    de indivduos que atuam em comunidades formando redes que revelam muitas

    informaes de grande importncia para quem estuda e trabalha determinado tema

    (Newman, 2004b).

    A colaborao cientfica mostra-se um empreendimento social, de carter

    cooperativo que envolve metas comuns, esforos coordenados e seus resultados

    tm responsabilidade e mrito compartilhados (Balancieri, Bovo, Kern, Pacheco, &

    Barcia, 2005). Esse empreendimento se traduz em relaes que podem ocorrer em

    nvel micro: orientador-orientando, entre colegas, supervisor-assistente e

    pesquisador-consultor; e em nvel meso entre organizaes (Subramanyam, 1983),

    assumindo diferentes formas que variam desde o simples aconselhamento e

    contribuio com ideias at a participao ativa no trabalho conjunto de pesquisa e a

    responsabilidade por um procedimento especfico (Katz & Martin, 1997).

    Alm de representarem o trabalho de colaborao entre os pesquisadores, as

    relaes de coautoria podem refletir uma busca por parte dos envolvidos em

    aumentar sua produtividade e a qualidade de seu trabalho (Acedo et al., 2006;

    Laband & Tollison, 2000), o que refora as argumentaes que defendem que o bom

    desempenho da produo cientfica reflexo de uma comunidade densamente

    conectada de autores (Silva et al., 2006).

    Complementa esta descrio a questo da homofilia como um dos

    impulsionadores do trabalho cientfico colaborativo (Roebken, 2008). O conceito de

  • 43

    homofilia refere-se tendncia observada de indivduos a se associarem a pares

    que compartilham caractersticas sociodemogrficas semelhantes s suas.

    A homofilia uma caracterstica de grupos que responde de forma a

    influenciar mais do que qualquer outro fator na formao de grupos coesos (Cohen,

    1977; Roebken, 2008). Observando por este prisma, espera-se embora este no

    seja um quesito obrigatrio para tanto (Laband & Tollison, 2000) que redes de

    colaboradores evidenciadas por suas publicaes evidenciem que esses atores

    compartilham caractersticas semelhantes (Brass, 2011). Afinal, muitas redes so

    homogneas no que diz respeito s caractersticas sociodemogrficas de seus

    componentes (Roebken, 2008).

    Essas similaridades entre os coautores so preponderantes para que as

    relaes se estabeleam com base em confiana e reciprocidade (Katz, Lazer,

    Arrow, & Contractor, 2004), reduzindo a tenso e a possibilidade de que se

    desenvolvam conflitos nas relaes entre os envolvidos (Sherif, 1958). Afinal,

    reforando o que j fora exposto, tem-se que as redes se formam porque os

    indivduos tendem a replicar em seus relacionamentos a construo de seus valores

    pessoais (Bourdieu, 1980; Coleman, 1988). Dessa forma, os indivduos acabam se

    relacionando com outros que compartilham os mesmos valores e interpretam o

    mundo de forma semelhante (Granovetter, 1973).

    A busca por capacidades complementares tanto para garantir o

    enriquecimento em qualidade do trabalho quanto para proporcionar mais

    aprofundamento em determinado assunto abordado tendo em vista o alto grau de

    especializao, a crescente complexidade do trabalho do cientista e,

    consequentemente, de suas pesquisas, demandando esforo conjunto para a

    conduo de trabalhos tambm representa motivao para que se estabeleam

    associaes (Barnett, Ault, & Kaserman, 1988; Smith, 1958). Alm disso, deve ser

    ressaltado que a busca por conhecimento e a demanda por gerao de novo

    referencial exercem importante papel nesse sentido (Acedo et al., 2006), bem como

    a destacada funo que as relaes de colaborao entre autores, refletidas em

    coautoria de trabalhos de pesquisa, tm no processo de formao de

    relacionamentos de nvel meso, entre as instituies que abrigam os pesquisadores

    (Roebken, 2008).

    No podem deixar de ser consideradas questes que adicionalmente

    funcionam como motivadoras de associaes entre pesquisadores para a produo

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    de trabalhos em coautoria, como a necessidade de aumentar a sua rede e,

    possivelmente produzir com novos colaboradores no futuro (Newman, 2001b).

    Somam-se a esses motivadores: a necessidade de aportes financiadores cada vez

    mais altos para que seja conduzido o trabalho de pesquisa; o reconhecimento

    financeiro (Sauer, 1988; Stephan, 1996); e a relevncia - obtidos por um dado autor

    ou grupo em virtude de ser o primeiro a publicar sobre determinado tema ou a relatar

    determinado achado. E, com isso, traduzindo a questo da prioridade de seu

    trabalho (Merton, 1979) bem como o desejo de aumentar a visibilidade do autor ou

    grupo (Lawani, 1986).

    Fora da esfera acadmica, deve-se reconhecer que coautoria no

    necessariamente implica resultado de trabalho colaborativo, mas sim de reflexos de

    relaes sociais (Hagstrom, 1965 as cited in Smith & Katz, 2000). No entanto, como

    praticamente impossvel detectar essa nuana em procedimentos bibliomtricos,

    bem como entender de forma completa o que cada indivduo listado na relao de

    autores efetivamente fez no trabalho e qual foi o tamanho do esforo em grupo

    necessrio para sua realizao (Smith, 1958), a identificao de coautores

    representa (ao menos em tese) que houve trabalho de colaborao.

    De qualquer forma, tem-se que a produo cientfica se d de forma a

    considerar as associaes entre os atores envolvidos (neste caso, os

    pesquisadores). Observar os trabalhos produzidos em coautoria e identificar a partir

    disso o resultado da colaborao apresenta-se como um procedimento vlido e que

    traz consigo algumas vantagens (Subramanyam, 1983), entre elas a possibilidade de

    verificao e replicao de procedimentos bem como a adoo de amostras

    significativamente grandes, uma vez que essas relaes de nomes e publicaes

    so facilmente acessadas em bases de dados de peridicos. Tem-se em vista que

    os dados coletados para investigao de relaes de colaborao observando-se os

    trabalhos produzidos em coautoria algo barato e relativamente simples.

    No obstante a questo motivadora da formao de associaes de

    colaborao entre autores para a publicao de trabalhos cientficos, as redes de

    coautoria proporcionam verdadeiro mapa j desenhado e pronto para ser estudado

    das relaes tanto pessoais quanto profissionais dos autores (Newman, 2004b). A

    observao e anlise dessas relaes de colaborao cientfica entre autores nas

    redes de coautoria cientfica mostram que um autor produtivo predominantemente

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    colaborativo (Laband & Tollison, 2000; Maia & Caregnato, 2008). Como ser

    ressaltado mais a