comunicação dilma presidenta
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Comunicação Dilma PresidentaTRANSCRIPT
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MARGARETE SALLES IWANIKOW
DILMA PRESIDENTA
A REPERCUSSO DA COMUNICAO POLTICA PARA VIABILIZAR A
ELEIO DA PRIMEIRA MULHER A GOVERNAR O BRASIL PELA PTICA
DAS REVISTAS VEJA E CARTACAPITAL
Universidade Metodista de So Paulo
Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social
So Bernardo do Campo SP, 2013
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MARGARETE SALLES IWANIKOW
DILMA PRESIDENTA
AS AES DA COMUNICAO POLTICA PARA VIABILIZAR A ELEIO DA
PRIMEIRA MULHER A GOVERNAR O BRASIL PELA PTICA DAS REVISTAS
VEJA E CARTACAPITAL
Dissertao apresentada em cumprimento parcial s
exigncias do Programa de Ps-Graduao em
Comunicao Social, da Universidade Metodista de So
Paulo (UMESP), para obteno do grau de Mestre.
Orientadora: Professora Dra. Marli dos Santos
Universidade Metodista de So Paulo
Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social
So Bernardo do Campo SP, 2013
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Folha de aprovao
A dissertao DILMA PRESIDENTA: AS AES DA COMUNICAO
POLTICA PARA VIABILIZAR A ELEIO DA PRIMEIRA MULHER A
GOVERNAR O BRASIL PELA PTICA DAS REVISTAS VEJA E
CARTACAPITAL, elaborada por Margarete Salles Iwanikow, foi defendida no dia 08
de abril de 2013, tendo sido:
( ) Reprovada
( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificaes
sugeridas pela banca examinadora, at 60 (sessenta) dias a contar da data da defesa.
( X ) Aprovada
( ) Aprovada com louvor
Banca examinadora:
Professora Dra. Marli dos Santos Presidente / UMESP
Professora Dra. Magali do Nascimento Cunha Titular / UMESP
Professor Dr. Adolpho Carlos Franoso de Queiroz Titular / Mackenzie
rea de Concentrao: Processos comunicacionais
Linha de Pesquisa: Comunicao Miditica nas interaes sociais
Projeto Temtico: Comunicao poltica
rea de Concentrao: Processos comunicacionais
Linha de Pesquisa: Comunicao Miditica nas interaes sociais
Projeto Temtico: Comunicao poltica
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Aos meus queridos pais, Antnio e Margarida, por todo
amor, carinho, apoio e principalmente, por me educarem
no caminho do bem. minha amada filha, Larissa, por ser
quem me d foras para sempre seguir adiante.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo em primeiro lugar a Deus por me possibilitar concluir mais esse sonho, pois
s ele sabe das minhas dificuldades e do caminho que percorri para chegar at aqui.
Ao meu pai e minha av, onde estiverem, pois sei que sempre estaro ao meu lado.
Agradeo minha me por todo o carinho e confiana, que foram muito importantes
para que eu chegasse at aqui.
Aos meus irmos, s minhas tias, tios, primas, primos e sogros pela torcida e carinho.
Um agradecimento especial minha filha Larissa e ao meu marido Rafael, por todo o
apoio, dedicao, pacincia e companheirismo: sem o apoio deles esse sonho no seria
possvel.
A todos os meus amigos e amigas que souberam entender a minha correria e distncia
durante esse perodo.
A todos os professores que tive em minha vida escolar. Um agradecimento especial
Fabola de Oliveira, que sempre me incentivou e apoiou, Letcia Costa pela amizade e
apoio, ao Adolpho Queiroz pela amizade e por me trazer a essa casa onde sou muito
feliz e Marli dos Santos que me acolheu como filha: sua amizade foi e muito
importante pra mim.
Agradeo imensamente a oportunidade de conhecer pessoas especiais que faro parte da
minha vida pra sempre: meus amigos, meus Professores queridos, minhas amigas da
Secretaria, Vanete e suas meninas e minha amiga Ktia do POSCOM. Todos vocs so
muito especiais em minha vida e eu os levarei pra sempre comigo.
Agradeo CAPES que me proporcionou viver e realizar esse sonho.
Aos amigos, que foram irmos quando eu mais precisei. Ao Jorge Tarquini e ao
Rodolfo Bonventi, por me ajudarem a trilhar meu caminho dentro da Metodista. Dedico
a vocs meu eterno carinho e agradecimento.
amiga Aline Farias, uma irm que conheci dentro da Metodista, amiga para todas as
horas.
Aos amigos pela amizade: Padre Edivaldo pelas conversas e conselhos, Julio Fernandes
pelas parcerias em artigos, Patrcia Garcia pela reviso dessa dissertao.
Seria impossvel nomear todos os amigos que fiz nesta casa que me acolheu com muito
carinho, ento por meio dessa dissertao agradeo a todos vocs, presentes que Deus
me deu e que levarei comigo para sempre.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Candidatos ao cargo de prefeito .................................................................... 51
Tabela 2 - Candidatos ao cargo de vereador................................................................... 52
Tabela 3 Cargo: Prefeito Eleies de 2008 .............................................................. 53
Tabela 4 Cargo: Vereador o Eleies de 2008 ......................................................... 53
Tabela 5 Candidatos nas Eleies 2010 Brasil ......................................................... 54
Tabela 6 Candidatos registrados at 18/07/2012 para as eleies municipais de 2012 -
Abrangncia: Brasil .................................................................................................... 55
Tabela 7 Resultado das eleies 2012 - Cargo Prefeito - Abrangncia: Brasil ........... 55
Tabela 8 Resultado das eleies 2012 - Cargo Vereador - Abrangncia: Brasil ......... 56
Tabela 9 - Perfil do leitor da Revista Veja ..................................................................... 74
Tabela 10 - Perfil do leitor da Revista CartaCapital ....................................................... 76
Tabela 11 Dados da amostra ........................................................................................ 83
Tabela 12 - Detalhamento das capas .............................................................................. 87
Tabela 13 - Detalhamento dos ndices ............................................................................ 89
Tabela 14 Detalhamento das matrias selecionadas ................................................... 91
Tabela 15 - Outros itens observados nas matrias da amostra ....................................... 94
Tabela 16 -Outros temas trabalhados nas matrias da amostra ...................................... 96
Tabela 17 Revista Veja ................................................................................................ 97
Tabela 18 Edies da Veja selecionadas pela capa ................................................... 100
Tabela 19 Edies da Veja selecionadas pelo ndice ................................................ 104
Tabela 20 - Detalhamento das matrias selecionadas .................................................. 107
Tabela 21 Revista CartaCapital ................................................................................. 110
Tabela 22 Edies da CartaCapital selecionadas pela capa ...................................... 113
Tabela 23 Edies da CartaCapital selecionadas pelo ndice .................................... 116
Tabela 24 Detalhamento das matrias selecionadas .................................................. 119
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Edies selecionadas .................................................................................... 84
Grfico 2 - Percentuais da amostra ................................................................................. 85
Grfico 3 - Matrias selecionadas .................................................................................. 85
Grfico 4 - Critrio de seleo das matrias ................................................................... 85
Grfico 5 - N pginas analisadas Grfico 6 - Mdia de pginas por matria ............... 86
Grfico 7 - Capas Selecionadas ...................................................................................... 88
Grfico 8 - Matria Principal .......................................................................................... 88
Grfico 9 - Chamada....................................................................................................... 88
Grfico 10 - Critrio de seleo ...................................................................................... 89
Grfico 11 - Uso de foto e citao nominal .................................................................... 90
Grfico 12 - Uso de citao nominal .............................................................................. 90
Grfico 13 - Matrias selecionadas ................................................................................ 91
Grfico 14 - Gneros jornalsticos .................................................................................. 92
Grfico 15 - Temticas das matrias .............................................................................. 93
Grfico 16 - Outros itens considerados nas matrias ..................................................... 95
Grfico 17 - Seleo dos exemplares de Veja ................................................................ 98
Grfico 18 - Critrio de seleo das matrias ................................................................. 98
Grfico 19 - Seo .......................................................................................................... 99
Grfico 20 - Critrio de seleo da edio .................................................................. 101
Grfico 21 - Critrio de seleo .................................................................................... 101
Grfico 22 - Destaque recebido na capa ....................................................................... 102
Grfico 23 - Temtica das matrias selecionadas pela capa ......................................... 102
Grfico 24 - Critrio de seleo da edio ................................................................... 105
Grfico 25 - Critrio de seleo .................................................................................... 105
Grfico 26 - Seo alocada no ndice ........................................................................... 106
Grfico 27 - Temtica das matrias selecionadas pelo ndice ...................................... 106
Grfico 28 - Gnero jornalistico das matrias de Veja ................................................. 108
Grfico 29 - Temtica das matrias de Veja................................................................. 108
Grfico 30 - Outros itens considerados nas matrias ................................................... 110
Grfico 31 - Seleo das edies de CartaCapital ........................................................ 111
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Grfico 32 - Critrio de seleo das matrias ............................................................... 112
Grfico 33 - Critrio de seleo edio ....................................................................... 114
Grfico 34 - Critrio de seleo .................................................................................... 114
Grfico 35 - Destaque recebido na capa ....................................................................... 115
Grfico 36 - Temtica das matrias selecionadas pela capa ......................................... 115
Grfico 37 - Critrio de seleo da edio ................................................................... 117
Grfico 38 - Critrio de seleo .................................................................................... 117
Grfico 39 - Temtica das matrias selecionadas pelo ndice ...................................... 118
Grfico 40 - Gnero jornalstico das matrias de CartaCapital .................................... 120
Grfico 41 - Temtica das matrias de CartaCapital .................................................... 120
Grfico 42 - Outros itens considerados nas matrias ................................................... 122
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Edio: 2103 11 de maro de 2009 ........................................................... 123
Figura 2 - Edio 2111 06 de maio de 2009 .............................................................. 124
Figura 3 - Edio 2126 19 de agosto de 2009 ........................................................... 125
Figura 4 - Edio 2129 9 de setembro de 2009 ......................................................... 126
Figura 5 - Edio: 2137 04 de novembro de 2009 .................................................... 127
Figura 6 - Edio: 2153 24 de fevereiro de 2010 ...................................................... 128
Figura 7 - Edio: 2155 10 de maro de 2010 ........................................................... 129
Figura 8 - Edio: 544 06 de maio de 2009 ............................................................... 131
Figura 9 - Edio: 546 20 de maio de 2009 ............................................................... 131
Figura 10 - Edio: 554 15 de junho de 2009 ........................................................... 132
Figura 11 - Edio: 560 26 de outubro de 2009 ........................................................ 133
Figura 12 - Edio: 577 23 de dezembro de 2009 ..................................................... 135
Figura 13 - Edio: 578 13 de janeiro de 2010.......................................................... 135
Figura 14 - Edio: 582 10 de fevereiro de 2010 ...................................................... 136
Figura 15 - Edio: 585 03 de maro de 2010 ........................................................... 137
Figura 16 - Edio: 592 21 de abril de 2010 ............................................................. 138
Figura 17 - ndice e matria da edio 2050 05/03/08 .............................................. 139
Figura 18 - ndice e matria da edio 2054 02/04/2008 .......................................... 140
Figura 19- ndice e matria da edio 2060 - 14/05/08 ................................................ 140
Figura 20- ndice e charge da edio 2082 - 15/10/08 ................................................. 141
Figura 21- ndice e matria da edio 2096 de 21/01/09 ............................................. 141
Figura 22- ndice e matria da edio 2099 de 11/02/09 ............................................. 142
Figura 23- ndice e matria da edio 2100 de 18/02/09 ............................................. 143
Figura 24- Capa , ndice e matria da edio 2103 de 11/03/09 .................................. 143
Figura 25 - ndice e charge da edio 2108 de 15/04/09 .............................................. 144
Figura 26 - Capa e matria da edio 2111 de 06/05/09 .............................................. 144
Figura 27 - Capa e a 2 matria da edio 2111 de 06/05/09 ....................................... 145
Figura 28 - ndice e matria da edio 2114 de 27/05/09 ............................................. 145
Figura 29 - ndice e matria da edio 2116 de 10/05/09 ............................................ 146
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Figura 30 - ndice e matria da edio 2126 de 19/08/09 ............................................ 147
Figura 31 - Capa e matria da edio 2129 de 09/09/09 .............................................. 147
Figura 32 - ndice e matria da edio 2130 de 16/09/09 ............................................ 148
Figura 33 - ndice e matria da edio 2134 de 14/10/09 ............................................ 149
Figura 34 - ndice e matria da edio 2137 de 04/11/09 ............................................ 149
Figura 35 - ndice e matria da edio 2143 de 16/12/09 ............................................ 150
Figura 36 - ndice e matria da edio 2149 de 27/01/10 ............................................ 150
Figura 37 - ndice e matria da edio 2150 de 03/02/10 ............................................ 151
Figura 38 - ndice e matria da edio 2151 de 10/02/10 ............................................ 151
Figura 39 - Capa e matria da edio 2153 de 24/02/10 .............................................. 152
Figura 40 - Capa e matria da edio 2155 de 10/03/10 .............................................. 153
Figura 41 - ndice e matria da edio 2158 de 31/03/10 ............................................ 153
Figura 42 - ndice e matria da edio 2158 de 31/03/10 ............................................ 154
Figura 43 - ndice e matria da edio 2159 de 07/04/10 ............................................ 154
Figura 44 - Capa e matria da edio 544 de 06/05/09 ................................................ 155
Figura 45 - Capa e matria da edio 546 de 20/05/09 ................................................ 156
Figura 46 - ndice e matria da edio 550 de 17/06/09 .............................................. 156
Figura 47 - Capa e matria da edio 554 de 15/07/09 ................................................ 157
Figura 48 Capa, ndice e matria da edio 588 de 12/08/09 .................................... 157
Figura 49 - Capa e matria da edio 560 de 26/08/09 ................................................ 158
Figura 50 - Capa e matria da edio577 de 23/12/09 ................................................. 158
Figura 51 - Capa e matria da edio577 de 23/12/09 ................................................. 159
Figura 52 - Capa e matria da edio 582 de 10/02/10 ................................................ 159
Figura 53 - Capa e matria da edio 585 de 03/03/10 ................................................ 160
Figura 54 Capa, ndice e matria da edio 586 de 10/03/10 .................................... 161
Figura 55 Capa e matria da edio 592 de 21/04/10 ............................................... 161
Figura 56 Capa, ndice e a 2 matria selecionada da edio 592 de 21/04/10 ......... 162
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SUMRIO
INTRODUO .......................................................................................................................... 16
CAPTULO I - COMUNICAO E MARKETING POLTICO:
DA TEORIA PRTICA......................................................................................................... 22
1.1 Conceitos e interfaces .................................................................................................. 22
1.2 Comunicao Poltica e Marketing Poltico ................................................................ 23
1.3 O estudo do Marketing Poltico no Brasil ................................................................... 27
1.4 A prtica do Marketing Poltico Eleitoral ................................................................... 31
1.5 Publicidade e Propaganda Poltica .............................................................................. 33
1.6 Relacionamento com a mdia ...................................................................................... 37
CAPTULO II - IMAGINRIO E GNERO NA COMUNICAO PARA ELEGER A
PRIMEIRA PRESIDENTA DO BRASIL .................................................................................. 39
2.1 O imaginrio ................................................................................................................ 39
2.2 A participao da mulher na poltica brasileira ........................................................... 42
2.3 A reconstruo da democracia brasileira Presidentes eleitos ps-ditadura militar .. 56
2.4 Dilma Rousseff: a reconstruo de um imaginrio ..................................................... 60
CAPTULO III A IMPRENSA POLTICA E A COBERTURA POLTICA ......................... 67
3.1 Mdia, Poltica e Sociedade ......................................................................................... 67
3.2 Jornalismo poltico e a cobertura poltica.................................................................... 68
3.3 As revistas Veja e CartaCapital ................................................................................... 73
3.3.1 A Revista Veja ........................................................................................................ 74
Captulo IV A repercusso da comunicao poltica para o lanamento de Dilma como
sucessora de Lula na mdia.......................................................................................................... 77
4.1 Categorias de anlise ................................................................................................... 79
4.1.1 Capa ............................................................................................................................ 79
4.1.2 Temtica da matria de capa ...................................................................................... 79
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4.1.3 ndice .......................................................................................................................... 80
4.1.4 Gneros Jornalsticos das matrias ............................................................................. 80
4.1.5 Temticas das matrias ............................................................................................... 80
4.1.6 Outros itens analisados nas matrias .......................................................................... 81
4.1.7 Gnero ........................................................................................................................ 82
4.2 Anlise geral da amostra ............................................................................................. 82
4.2.1 Capas .......................................................................................................................... 86
4.2.2 ndices ........................................................................................................................ 89
4.2.3 Matrias ...................................................................................................................... 90
4.2.4 Outros itens analisados nas matrias .......................................................................... 93
4.2.5 A questo do gnero na anlise da amostra ................................................................ 95
4.3 Anlise de contedo da revista Veja ........................................................................... 97
4.3.1 Capas ........................................................................................................................ 100
4.3.2 ndices ...................................................................................................................... 104
4.3.3 Matrias .................................................................................................................... 107
4.3.4 Outros itens considerados nas matrias .................................................................... 109
4.4 Anlise de contedo da CartaCapital ........................................................................ 110
4.4.1 Capas ........................................................................................................................ 113
4.4.2 ndices ...................................................................................................................... 116
4.4.3 Matrias .................................................................................................................... 118
4.4.4 Outros itens considerados nas matrias .................................................................... 121
4.5 Descrio das capas da Revista Veja ........................................................................ 122
4.6 Descrio das capas da revista CartaCapital ............................................................. 130
4.7 Descrio das matrias Revista Veja...................................................................... 139
4.8 Descries das matrias Revista CartaCapital ....................................................... 155
CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................... 163
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................................... 168
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RESUMO
A presente dissertao tem como tema o impacto da comunicao poltica na cobertura
da grande imprensa durante a pr-candidatura de Dilma Vana Rousseff presidncia da
Repblica. O objetivo verificar quais estratgias de marketing poltico utilizadas para
viabilizar o nome da pr-candidata foram retratadas nas revistas Veja e CartaCapital
entre maro de 2008 e abril de 2010, perodo que antecedeu a indicao oficial da
sucessora do ento presidente Luiz Incio Lula da Silva. Para desenvolver a dissertao
foram discutidos conceitos de comunicao poltica, marketing poltico e eleitoral, bem
como as questes de gnero na poltica e na sociedade brasileira e o percurso feminino
na luta pela igualdade de direitos, que transformaram o imaginrio social em relao ao
papel da mulher. Tambm foram tratados temas como jornalismo e cobertura poltica no
Brasil e um breve panorama sobre a trajetria poltica do Brasil ps-ditadura, alm do
perfil biogrfico de Dilma Rousseff. A importncia desta pesquisa est justamente em
verificar como repercutiu na imprensa a pr-candidatura de uma mulher ao cargo
pblico mais elevado no pas, considerando as dificuldades e os desafios da luta
feminina na poltica brasileira. Trata-se de um estudo quantitativo e qualitativo, com
uso de tcnica de anlise de contedo que de acordo com Laurence Bardin inclui
perspectivas quantitativas e qualitativas. Com a pesquisa foi possvel verificar que a
questo do gnero foi um dos fatores que influenciaram positivamente as eleies e,
principalmente que a repercusso obtida nas revistas foi positiva s intenes de
marketing poltico para viabilizar a candidatura de Dilma Rousseff sucesso
presidencial.
Palavras-chave: Comunicao poltica, marketing poltico, Gnero na poltica, Dilma
Rousseff, revistas Veja e CartaCapital.
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ABSTRACT
This dissertation focuses on the impact of political communication in the press coverage
during the pre-candidature of Dilma Vana Rousseff for president of Brazil. The
objective is to verify the political marketing strategies used to promote the name of the
pre-candidate, as depicted by the magazines Veja and CartaCapital between March of
2008 and April of 2010, period that preceded the official nomination of the president
Luiz Incio Lula da Silvas successor. To develop the dissertation some concepts have
been discussed, such as: political communication, electoral and political marketing,
gender issues in politics and in the Brazilian society, and the female journey in the fight
for equal rights that transformed the social imagery in relation to the womens role.
Subjects such journalism and political cover in Brazil and a concise overview about
political trajectory post-dictatorship in Brazil have also been considered besides the
biographic profile of Dilma Rousseff. The importance of this research is in verifying
how the pre-candidature of a woman to the highest public position in Brazil has echoed
in the press, considering the difficulties and challenges of the female fight in the
Brazilian politics. It is a quantitative and qualitative analysis with the use of content
analysis, according to Laurence Bardin, that includes quantitative and qualitative
perspectives. Through on the research it has been verified that the gender issue was one
of the factors that positively influenced the election and, mainly, that the repercussion
was positive to the political marketing intentions to promote the candidature of Dilma
Rousseff to presidential succession.
Key words: political communication, political marketing, gender in politics, Dilma
Rousseff, magazines Veja and CartaCapital.
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RESUMEN
Esta disertacin tiene como tema el impacto de la comunicacin poltica en la cobertura
de la grande prensa durante la pre-candidatura de Dilma Vana Rousseff a la presidencia
de la Repblica. El objetivo es verificar cuales estrategias de marketing poltico
utilizadas para viabilizar el nombre de la pre candidata fueron retratadas en las revistas
Veja y CartaCapital entre marzo de 2008 y abril de 2010, perodo que antecedi la
indicacin oficial de la sucesora del entonces presidente Luiz Incio Lula da Silva. Para
desarrollar la disertacin fueron discutidos los conceptos de comunicacin poltica,
marketing poltico y electoral, as como las cuestiones de gnero en la poltica y en la
sociedad brasilea y el recorrido femenino en la lucha por la igualdad de derechos, que
transformaran el imaginario social en relacin al papel de la mujer. Tambin fueron
tratados temas como el periodismo y cobertura poltica en Brasil y un breve panorama
sobre el recorrido poltico de Brasil pos-dictadura, adems del perfil biogrfico de
Dilma Rousseff. La importancia de esta investigacin est justamente en verificar como
repercuti en la prensa a la pre-candidatura de una mujer al cargo pblico ms elevado
en el pas, considerando las dificultades y los desafos de la lucha femenina en la
poltica brasilea. Se trata de un estudio cuantitativo y cualitativo con uso de tcnica de
anlisis de contenido que de acuerdo con Laurence Bardin incluye perspectivas
cuantitativas y cualitativas. Con la investigacin fue posible verificar que la cuestin
del gnero fue uno de los factores que influyeron positivamente a las intenciones de
marketing poltico para viabilizar la candidatura de Dilma Rousseff a la sucesin
presidencial.
Palabras-clave: Comunicacin poltica, marketing poltico, Gnero en la poltica,
Dilma Rousseff, revistas, Veja y CartaCapital.
-
16
INTRODUO
A presente dissertao tem como objetivo principal identificar e analisar, na
cobertura das revistas Veja e CartaCapital (que possuem perfis editoriais diferentes) a
repercusso obtida nesses veculos de comunicao por conta das estratgias de
marketing poltico utilizadas pelo governo de Luiz Incio Lula da Silva1 para viabilizar
a futura candidatura presidncia da ento ministra da Casa Civil, Dilma Vana
Rousseff2.
Entre os objetivos especficos, mostra-se a importncia das eleies
presidenciais de 2010 e seu momento histrico e a importncia do marketing e da
comunicao poltica como estratgia para atingir a opinio pblica por meio dos
veculos de comunicao. Alm disso, objetiva-se refletir sobre o momento poltico
brasileiro e o papel da imprensa nesse processo.
O estudo, pautado pela corrente terica do funcionalismo e do estruturalismo,
abrangeu tambm as questes de gnero e do imaginrio coletivo sobre o feminino
(outro dos objetivos especficos, que foi contemplado na dissertao), para compreender
melhor como esse aspecto influenciou na arquitetura da pr-candidatura e do
lanamento oficial da candidata, no contexto poltico vivenciado pelo pas. Para essa
anlise foi necessrio mostrar a trajetria do Brasil ps-redemocratizao e a histria de
vida, pessoal e poltica, de Dilma Rousseff, personagem desta dissertao. Desta
maneira cumpriram-se outros dois objetivos especficos da dissertao.
Esta investigao surge em um momento importante para a histria do pas. A
eleio da primeira mulher presidncia do Brasil ocorre logo em seguida aos dois
mandatos de um presidente de origem operria, ou seja, no ligado s elites intelectuais
e econmicas. Espera-se contribuir para questes e futuras pesquisas sobre eleies
presidenciais e a participao feminina na poltica do pas.
Para responder ao problema de pesquisa, Como as revistas Veja e CartaCapital
divulgaram as aes de comunicao poltica do governo Lula, no perodo que
antecedeu a oficializao do nome da candidata Dilma Rousseff, de modo a vincul-las
1 No decorrer da dissertao ser referenciado apenas por Lula e seu governo por Governo Lula.
2 No decorrer da dissertao ser referenciada apenas por Dilma ou Dilma Rousseff.
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17
ao nome da ento ministra da Casa Civil?, definiu-se uma pesquisa de carter
quantitativo e qualitativo. Trata-se de uma pesquisa descritiva. Esse tipo de estudo
seguiu as orientaes de Marconi, Lakatos (2007, p.20) ao citar as classificaes
sugeridas por Best (1972:12-13) Delineia o que aborda tambm quatro aspectos:
descrio, registro, anlise e interpretao de fenmenos atuais, objetivando o seu
funcionamento no presente.
Para analisar as revistas, utilizou-se a tcnica de anlise de contedo. De acordo
com Laurence Bardin (1977), a anlise de contedo um conjunto de tcnicas
referentes comunicao:
A anlise de contedo um conjunto de tcnicas de anlise das
comunicaes. No se trata de um instrumento, mas de um leque de
apetrechos; ou, com maior rigor, ser um nico instrumento, mas
marcado por uma grande disparidade de formas e adaptvel a um
campo de aplicao muito vasto: as comunicaes (BARDIN, 1977,
p.31).
A anlise de contedo nas comunicaes realizada por meio de categorias pr-
determinadas e a tcnica pode ser aplicada a livros, jornais, revistas, entre outros. Essa
tcnica permite analisar o contedo de livros, revistas, jornais, discursos, pelculas
cinematogrficas, propaganda de rdio e televiso, slogans, etc. Ela pode ser aplicada a
documentos pessoais como discursos, dirios, textos, etc. (MARCONI, LAKATOS,
2007, p.129).
O veculo escolhido para realizar a anlise a revista, por se tratar de um meio
de comunicao o qual pode-se apurar com maior detalhamento as informaes
publicadas em virtude de sua periodicidade. As publicaes escolhidas so as revistas
Veja e CartaCapital, que so semanais. Essa escolha se deu principalmente por se
tratarem de revistas que tm um cunho poltico forte, com perfis editoriais, a princpio,
opostos.
O perodo escolhido para anlise abrange de 07 de maro de 2008 data em que,
durante evento de lanamento de obras em favelas cariocas, o ex-presidente Lula
declara que a ento Ministra da Casa Civil a me do PAC (Programa de Acelerao do
Crescimento), fazendo com que os olhares da populao se voltem para Dilma Rousseff
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18
at o dia 04 de abril de 2010, quando Dilma Rousseff se afasta do ministrio para
concorrer s eleies presidenciais.
No dia 07 de maro de 2008, o ento Presidente da Repblica Luiz Incio Lula
da Silva chama a ateno para Dilma Rousseff, conforme mostra Ricardo Batista
Amaral:
No meio do discurso, Lula chamou a ateno para aquela mulher de
culos, blusa azul de mangas curtas, sentada na segunda fila atrs da
primeira-dama, Marisa Letcia, e do governador Srgio Cabral. Pediu
que ela viesse para a frente do palco, onde podia ser vista pelos
moradores, e falou: Eu queria agradecer nossa companheira Dilma Rousseff. A Dilma uma espcie de me do PAC. (AMARAL, 2010, pp.175-176)
O material analisado foi composto pelas capas e ndices dos exemplares
selecionados e pelas matrias integrais, referenciadas nas capas e nos ndices. Para
selecionar os exemplares e as matrias que formariam a amostra desta dissertao
considerou-se para as capas e ndices, as citaes nominais ou insero de fotos ou
imagens e para as matrias, as que foram referenciadas nas capas ou ndices das
publicaes.
Trata-se de amostra no-probabilstica intencional, definida por Rea e Parker
(2000, p149) da seguinte maneira: A caracterstica essencial da amostragem no-
probabilstica que o pesquisador no conhece a probabilidade de determinado
indivduo vir a ser selecionado como parte da amostra, quanto ao fato de ser
intencional, ainda segundo Rea e Parker (2000), porque nela o pesquisador usa seu
critrio profissional, ao invs do acaso, na seleo.... Aps a leitura flutuante de todas
as edies do perodo, definiu-se ento os critrios de seleo das edies de ambas as
publicaes, levando em considerao a referncia direta Dilma Rousseff nas capas ou
nos ndices da Veja e CartaCapital, seja por citao nominal ou foto da ento ministra.
A escolha dessas edies permitiu verificar de que forma ocorreu a cobertura desses
veculos miditicos para cumprir a principal estratgia elaborada pela equipe de governo
sobre a sucesso presidencial, que era tornar o nome de Dilma conhecido e relacionado
ao presidente Lula e seu governo.
Em seguida, houve a definio das categorias de anlise, mencionadas a seguir:
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19
Capa (Fotografia e citao nominal); temtica da matria de capa (Perfil da ministra,
Doena da ministra, Escndalos e denncias, Ao governamental e Pr-campanha);
ndice (Foto, Imagem, Citao nominal, Seo); Matrias (Gnero jornalstico, temtica,
gnero e outros).
Aps a categorizao do contedo, os dados foram tabulados e apresentados em
grficos, para se ter uma viso de cada tpico criado para anlise do contedo das
edies selecionadas, de acordo com os objetivos da pesquisa.
Outra estratgia metodolgica prevista na dissertao eram as entrevistas
semiestruturadas especialmente com os editores das revistas e com um dos integrantes
da SECOM Secretaria de Comunicao da Presidncia da Repblica, com o intuito de,
por meio da coleta informaes, aprofundar a interpretao dos dados obtidos na anlise
de contedo.
Entretanto, no houve respostas dos editores das revistas, apesar das solicitaes.
A entrevista concedida pelo ex-funcionrio da SECOM (Secretaria de Comunicao da
Presidncia da Repblica) no pode ser gravada. Desse modo, optou-se por realizar as
anlises com o material coletado das revistas, embasadas nos conceitos tericos, na
biografia de Dilma Rousseff e nos perfis das publicaes, apresentados nos captulos da
dissertao.
Para melhor compreenso e visualizao dos dados coletados pelas anlises
realizadas foi feita a tabulao e elaborao de diversos grficos para apresentao do
material, pois, segundo Hair,Babin, Money, Samouel (2005, p.261) Os grficos e as
tabelas ajudam a compreender mais facilmente os dados. Eles tambm comunicam de
modo mais eficiente os assuntos complexos e tornam seu relatrio de pesquisa
visualmente mais atraente.
Outra metodologia utilizada foi a descrio, realizada nas matrias selecionadas
e nas capas que continham foto e/ou citao nominal de Dilma Rousseff, com o objetivo
de facilitar a viso do leitor.
Considerando o problema de pesquisa assim como os objetivos e procedimentos
metodolgicos j expostos, foram elencadas as seguintes hipteses:
As revistas Veja e CartaCapital realizaram uma cobertura que refletiu suas
linhas editoriais, sendo uma de posicionamento poltico mais progressista
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20
(CartaCapital) e outra mais conservadora (Veja), ignorando o esforo de
marketing e comunicao poltica do Governo Federal;
Apesar das linhas editoriais das revistas estudadas, ambas foram decisivas
para as estratgias de insero da ministra Dilma na mdia, justamente por
causa dessas diferenas ideolgicas;
A vinculao da imagem da candidata Dilma do presidente Lula foi o
principal componente das estratgias adotadas para viabilizar sua
candidatura e garantiu a ampla repercusso na imprensa, como nas revistas
Veja e CartaCapita;
Com isso a dissertao foi estruturada em quatro captulos, sendo que o primeiro
se dedica aos conceitos de marketing poltico, comunicao poltica, publicidade,
propaganda e relacionamento com a mdia, de maneira a diferenciar e articular as ideias
complementares dos autores sobre essas reas de atuao em uma campanha poltica.
Traz tambm uma viso prtica, por meio da descrio das tcnicas e ferramentas, do
uso da comunicao poltica e do marketing poltico.
O segundo captulo trata do imaginrio poltico e coletivo da populao
brasileira, com nfase s questes de gnero, um dos aspectos mais relevantes presentes
na nova candidatura presidncia. Nesse captulo, os aspectos tericos esto
entrelaados com a histria poltica recente do pas e com as questes de gnero. Ao
traar a participao feminina na poltica nacional mostra quais foram os desafios
encontrados para a conquista desta eleio, desde a luta por direito ao voto feminino at
a eleio da primeira presidenta do pas.
No terceiro captulo mostra-se a importncia do jornalismo poltico e suas
fontes. Aborda-se o impacto das duas revistas, Veja e CartaCapital, como veculos que
tm foco editorial na poltica. Por fim, apresenta-se um breve histrico das revistas
estudadas para melhor contextualizar o estudo.
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O quarto captulo apresenta, detalhadamente, as categorias de anlise, bem como
as anlises e interpretaes dos resultados das revistas estudadas, feitas por meio de
grficos, tabelas e as descries das capas e matrias da amostra.
Por fim, so apresentadas as concluses, tendo em vista os objetivos, as
hipteses e a pergunta-problema que deram incio a este estudo.
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CAPTULO I - COMUNICAO E MARKETING POLTICO:
DA TEORIA PRTICA
1.1 Conceitos e interfaces
Para entender mais sobre a comunicao poltica no mundo e no Brasil
necessrio recorrer a alguns autores-chave e entender o que eles dizem a respeito de
comunicao poltica. Alm disso, preciso observar quais as diferenas e semelhanas
entre a comunicao poltica e o marketing poltico. Para isso, esta dissertao recorreu
a autores nacionais e internacionais.
Antes, porm, importante ressaltar que no se pode falar de comunicao
poltica no Brasil e no mundo sem democracia. A liberdade de expresso e de imprensa
essencial para a manuteno do Estado democrtico. Essa realidade molda as aes
governamentais e as campanhas eleitorais.
Um pas democrtico, segundo Rosenfield (2003), aquele em que o sistema
poltico formado por vrias formas de liberdades.
O Estado democrtico , por assim dizer, um sistema poltico
composto de mltiplas dimenses que se desenvolvem em diferentes
nveis de profundidade. O seu ser processual. Isto significa que a
realidade produzida por um regime democrtico constitui-se de vrias
formas de liberdades. A democracia engendra-se neste cruzamento de
liberdades que, assim, a concretizam. (ROSENFIELD, 2003, p.33).
Na histria do Brasil, a democracia aparece em alguns momentos como algo
frgil e sujeito a mudanas e interrupes, como percebido no incio da repblica com
o fechamento do congresso pelo primeiro presidente eleito, Marechal Deodoro da
Fonseca, e nos perodos de regimes de exceo ocorridos no ltimo sculo com o
Estado Novo institudo por Getlio Vargas de 1937 a 1945 e a Ditadura Militar com o
Golpe Militar de 1964. Atualmente vive-se, talvez, o mais longo perodo democrtico
de toda a existncia do pas.
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Mas, apesar dos avanos, especialmente da estabilizao da moeda e da
diminuio da pobreza por meio dos programas sociais realizados pelos ltimos
governos, ainda h muitos desafios a serem superados, como a desigualdade social e a
corrupo, entre outros.
Viver em uma democracia exige que os direitos sejam respeitados. Porm, h
que se cumprir deveres tambm, o que implica no exerccio da cidadania. Para
Rosenfield (2003), a poltica de amanh o que cada um planta hoje.
O individuo antes de tudo cidado, ou seja, membro de uma cidade.
No se trata, pois de uma preocupao estritamente individual, mas
diz respeito ao valor e a perenidade da coletividade. A comunidade
poltica que legada s prximas geraes provm da
responsabilidade que cada um assume, hoje, em relao a assuntos
coletivos (ROSENFIELD, 2003, p.10).
Partindo da democracia, e do princpio de que cada cidado possui o direito
informao, chega-se ao objetivo deste captulo que a comunicao poltica e suas
relaes e interfaces com o marketing poltico.
1.2 Comunicao Poltica e Marketing Poltico
comum a confuso entre comunicao poltica e marketing poltico. Apesar do
senso comum apontar que ambos so a mesma coisa, o marketing poltico no
comunicao poltica. Conforme citado por Bobbio(1983):
A Comunicao poltica pode ser definida como o conjunto das
mensagens que circulam dentro de um sistema poltico,
condicionando-lhe toda a atividade, desde a formao das demandas e
dos processos de converso s prprias respostas do sistema
(BOBBIO, 1983, p.200).
Assim, a comunicao poltica, segundo o terico, est no universo das
mensagens. J com relao ao conceito de marketing poltico, Rego (2006) assim
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menciona logo no prefcio do livro Na arena do marketing poltico, organizado por
Queiroz (2006):
Marketing um sistema-meio, com regras e mtodos prprios de
produo, e, como tal, se prope servir esfera maior, o prprio
sistema poltico. Ainda: o marketing no se restringe ao eixo da
comunicao, como se tem feito entender no pas. Abriga, alm de
vasta rede de comunicao, outros vetores como a pesquisa, o
discurso, a articulao social e poltica e a mobilizao das massas.
Com esse escopo, o marketing poltico expressa um conjunto de
formas e meios de operar a poltica, mudando seu modus operandi no
tempo e no espao (REGO In: QUEIROZ, 2006, p.7).
Pode-se observar que os dois conceitos remetem ao sistema poltico, entretanto
enquanto a comunicao poltica se encerra no contexto desse sistema, o marketing
poltico vai alm ao agregar diversas tcnicas de outras reas do saber, alm das
prprias tcnicas da rea de comunicao, conseguindo assim se destacar como um
sistema com caractersticas prprias.
Com isso, pode-se dizer so diferentes e que em muito se assemelham e se
complementam, sem se aventurar na qualificao de um como melhor que o outro.
Feita essa diferenciao devem ser considerados outros conceitos e vises sobre
comunicao poltica e marketing poltico que abrangem as complexidades de cada um
deles, alm de possibilitar a viso de todas as suas nuances.
Inicialmente, o conceito de comunicao poltica parece simples, afinal
poderamos dizer que a comunicao realizada pelos membros e instituies polticas,
voltada para a sociedade como um todo, mas, principalmente, para os eleitores.
Entretanto, atualmente este conceito est muito mais desenvolvido, abrangendo
diversas outras situaes e outros atores, sendo estudado por vrias reas do saber,
como a sociologia, cincias polticas, economia, filosofia, alm da comunicao social.
Em comunicao poltica, alm do processo comunicacional das instituies e
membros polticos so abarcados outros itens, como a relao desses atores com as
mdias, todo e qualquer ato de manifestao poltica, a opinio pblica e a influncia
que esta sofre pela atuao dos meios de comunicao.
Em sua tese de doutorado, Medina (2006, p.67) nos mostra a seguinte definio:
Podemos, actualmente, entender por comunicao poltica o cenrio onde polticos,
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jornalistas e opinio pblica tentam, cada um por si, alcanar o papel principal da
interminvel novela poltica".
Essa mesma ideia est presente no conceito da professora da USP (Universidade
de So Paulo), Helosa Helena Matos (2006), que v a comunicao poltica como um
processo complexo e interativo.
Comunicao Poltica entendida como processo interativo, incluindo a
troca de informaes entre atores polticos, a mdia e o pblico. Configura-se
muito prxima de uma representao sistmica, caracterstica do
funcionalismo (MATOS. 2006, p.68).
Disso advm a percepo da interao necessria entre o poltico, a mdia e a
sociedade para ser possvel a realizao do processo de comunicao poltica.
Ao considerarmos que a comunicao poltica tem por objetivo mster a
continuidade, manuteno e ampliao do poder, podemos afirmar que ela precisa ser
dinmica e adaptvel s realidades na qual inserida.
Sobre as caractersticas da comunicao poltica, Medina (2006) destaca que
algumas so essenciais sua execuo, culminando nos resultados desejados.
Continuidade: considerado como a caracterstica principal, tem relao
com manter um canal permanente de comunicao com o eleitorado,
ajustando-se somente a quantidade de informao e interao de acordo
com o momento vivenciado;
Fluxo de informaes: com o nome de Intensidade Temporal, esta
caracterstica relacionada quantidade de informaes apresentadas a
cada momento, destacando que essa dosagem no pode nunca ser
excessiva ou muito escassa;
Abrangncia: deve ser avaliado todo o contexto social no qual ser
veiculada a comunicao, considerando-se todas as caractersticas da
sociedade que podem ou no ser afetadas pela informao;
Credibilidade: pode ou no estar na mensagem. Entretanto, despertar
um sentimento de falta de credibilidade nas informaes transmitidas
pode ser complicado para o poltico.
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26
Essas caractersticas da comunicao poltica tambm so utilizadas pelo
marketing poltico para atingir seus objetivos. Para Matos (2006), que trabalha com a
abordagem de Gerstl3, na qual a comunicao poltica vista por trs concepes, que
no so excludentes e podem ou no se complementarem, o marketing poltico se inclui
em uma delas.
Gerstl (2005) prope uma abordagem do processo de Comunicao Poltica
partindo de trs concepes: a instrumental, a ecumnica e a competitiva; s
quais acrescento a deliberativa, como possibilidade de indicar o lugar e as
finalidades que envolvem os agentes sociais na Comunicao Pblica. Essas
abordagens no so excludentes e nem so pensadas de modo evolutivo
(MATOS, 2006, p.67).
Segundo essa abordagem, a comunicao poltica no mbito instrumental
realizada a fim de seduzir e manipular a opinio pblica e tambm pode ser vista como
educativa e cultural. Na ecumnica, a comunicao concebida como processo
interativo, por trocas de informaes, entre polticos, mdia e sociedade. J a abordagem
competitiva est ligada disputa, como afirma Matos (2006, p.69) [...]se apoia no
embate para influenciar e controlar, pela mdia, as percepes pblicas dos
acontecimentos polticos que esto em jogo. J na deliberativa, que inclusa pela
autora, o debate coletivo entra em jogo como importante condio da democracia.
Desta maneira, para Matos (2006), o marketing poltico est contido na
comunicao poltica e segue mais a abordagem da comunicao no mbito
instrumental, principalmente pelo seu carter persuasivo.
No entanto, o marketing poltico emerge com suas estratgias de
buscar, no consumidor real e/ou potencial do mercado poltico-
eleitoral, as expectativas e desejos, imprimindo, assim, na viso
instrumental, os atributos e potencialidades esperados nos candidatos
aos cargos eletivos e nos governantes em atuao (MATOS, 2006,
p.68).
3 Jacques Gerstl, francs autor de obras como La Communication Politique (2008) e Les Effets
D'Information En Politique (2001)
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Para ponderar sobre o conceito de marketing poltico h outros autores que
discorrem sobre o tema, cada qual de perspectivas diferentes ou, s vezes,
complementares. De acordo com Rego (2006) marketing poltico :
[...] cincia, arte e tcnica que se alimentam dos climas sociais, das
identidades de atores principais e secundrios, da geografia ambiental,
do clima das circunstncias, do sistema normativo, e, por
consequncia, um espelho que projeta a imagem da prpria cultura
poltica (REGO in: QUEIROZ, 2006, p.7).
Em contraponto a essa definio mais funcional de marketing poltico, pode-se
citar a opinio de Santos (2010) que carrega uma perspectiva mais idealista.
Em sntese, configura-se como um agregado de programas e aes
voltados para o ambiente poltico, visando estreitar relaes de
interesse coletivo entre os cidados e o governo, a fim de promover o
atendimento dos anseios e das necessidades de governados e
governantes, para alcanar uma sociedade melhor e mais justa para
todos (SANTOS, 2010, p.39).
Para essa dissertao foi considerado o conceito de que a Comunicao Poltica
diferente do marketing poltico, como vimos pelas definies. Entretanto, o marketing
poltico faz uso da Comunicao Poltica para se realizar, pois a comunicao poltica
deve ser realizada de maneira mais ampla e desinteressada (funcionando muitas vezes
como prestao de contas e explicaes das aes do governo ou entidade poltica,
sociedade), enquanto que o marketing poltico corre na direo personalista, tentando
agregar adeptos seja ao governo, aos polticos ou outras entidade polticas.
1.3 O estudo do Marketing Poltico no Brasil
Apesar do sentido pejorativo adquirido pelo marketing poltico atravs do tempo
e da recente popularizao do termo, pode-se perceber que, na realidade, os
profissionais de marketing poltico buscam conciliar os desejos e as necessidades da
sociedade e dos polticos por meio da promoo da democracia e da livre expresso.
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Para a definio do uso das estratgias de marketing poltico no cenrio poltico
Rego (1985) nos mostra que:
A utilizao das tcnicas do marketing na poltica decorrncia da
prpria evoluo social, O conflito de interesses, as presses sociais, a
quantidade de candidatos, a segmentao do mercado, as exigncias
de novos agrupamentos de eleitores, o fortalecimento dos grupos de
presso, a competio desmesurada, a industrializao, os novos
valores ditados pela indstria cultural e o crescimento vegetativo da
populao constituem, entre outros, os elementos determinantes da
necessidade de utilizao dos princpios de marketing aplicados
poltica (REGO, 1985, p.14).
Assim, percebe-se que o marketing poltico utilizou-se de diferentes reas e de
diversas tcnicas e ferramentas para se desenvolver, tendo com isso criado um
verdadeiro sistema tcnico e conceitual sobre sua atuao.
Sendo muito recente no Brasil, desenvolveu-se principalmente a partir da
redemocratizao do pas.
A abertura poltica dos anos 80 trouxe consigo uma vida
pluripartidria, liberdade de imprensa e expresso em todos os
veculos, bem como a necessidade de profissionalizao neste campo
de atuao, fazendo surgir uma srie de espaos para a pesquisa, para
o desenvolvimento profissional de jornalistas, publicitrios, relaes
pblicas, cineastas, escritores e planejadores que trouxeram para a
interface comunicao e poltica um nvel de interesse acentuado.
(QUEIROZ, 2008, p.198)
Ainda, segundo Queiroz, a expresso marketing poltico surge nos Estados
Unidos, como uma forma de definir as aes estratgicas da comunicao no mbito
poltico.
O Brasil tem experimentado, ao longo de sua histria, impactos
diferentes para as aes comunicacionais no campo da propaganda
poltica e do marketing poltico. Esta ltima expresso comeou a ser
utilizada por profissionais dos Estados Unidos para definir aes
estratgicas de comunicao aplicada em eleies democrticas de
todos os nveis, que propiciaram a militantes e pesquisadores do
campo um perfil tcnico muito desenvolvido e uma produo
cientifica bastante respeitada (QUEIROZ, 2011, p.47)
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29
Para o pesquisador existem algumas obras que so relevantes para a
compreenso do marketing poltico. No Brasil, essas obras chegaram por meio de
tradues. Queiroz cita algumas dessas obras, dentre elas: o livro de Jean Marie
Domenach, A Propaganda Poltica, e de Serge Tchakhotine, A mistificao das massas
pela propaganda poltica. Depois dessas tradues, alguns especialistas comearam a
escrever suas prprias contribuies como profissionais.
A compreenso terica da propaganda poltica inicia-se no Brasil a
partir da traduo de obras. Depois viriam os estudos de especialistas,
jornalistas e publicitrios que comearam a colocar no papel
experincias profissionais vivenciadas, como Jos Marques de Melo,
Nelson Jahr Garcia, Nei Figueiredo, Joseph Luyten, Ronald Kuntz,
Carlos Brickmann e Gaudncio Torquato (QUEIROZ, 2011, p48)
Sobre o incio de uma carreira poltica, Gaudncio Torquato do Rego (1985,
p.14) diz: O marketing poltico, entendido como o esforo planejado para se cultivar a
ateno, o interesse e a preferncia de um mercado de eleitores, o caminho indicado e
seguro para o sucesso de quem deseja entrar na poltica.
Para Santos (2012, p.39) o marketing poltico envolve todas as estratgias de
ao relacionadas poltica. Sendo assim o marketing poltico est inserido em todas
as aes polticas e, principalmente, sempre remete ao.
Com seu estudo e desenvolvimento, o marketing poltico se tornou um grande
aliado de polticos e candidatos, sendo visto de duas formas distintas quanto sua
prtica, objetivos, estratgias e ferramentas utilizadas: uma com objetivos de longo
prazo, o marketing poltico propriamente dito, e outra de curto prazo, que se denomina
marketing poltico eleitoral, ou simplesmente marketing eleitoral.
O esforo de marketing poltico nos governos, especialmente queles que
desejam indicar sucessores, tem endereo certo: a opinio pblica. Logo, os futuros
eleitores. Nesse contexto, os grandes veculos de comunicao, assim como todos os
tipos de mdia, tornam-se alvos do marketing poltico, de maneira que as aes do
governo possam ser acompanhadas e divulgadas pelos veculos, mantendo a imagem
que a instituio governamental pretende perante a nao.
Investigar como essas estratgias de marketing poltico reverberam na grande
mdia, considerando que a comunicao entre governo, pr-candidata Dilma Rousseff e
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30
mdia dinmica, considerar tambm que a imagem do governo interfere
sobremaneira na candidatura eleitoral sucessria.
Para Serra (2001), embora grande parte da mdia esteja sob o controle dos
poderes j estabelecidos, ela ainda assim interage de maneira dinmica com o processo
poltico, sendo que tanto a imprensa influencia o processo poltico quanto este
influencia a mdia.
O modelo de disputa poltica, political contest model (Wolsfeld,
1997), por outro lado, embora reconhea o papel central da mdia
como arena poltica, tambm parte do suposto de que o processo
poltico mais provvel de influenciar a mdia do que o contrrio,
sugerindo que o ciclo de influncia comea na poltica e o papel da
imprensa depende maior ou menor nvel de controle das autoridades
sobre o ambiente. (SERRA, 2001, p.94).
No caso do pr-lanamento da candidatura de Dilma Rousseff como sucessora
do governo Lula, a repercusso da imagem do governo e da ento ministra-chefe da
Casa Civil foi essencial, uma vez que a ministra estava ligada diretamente aos projetos
do governo e era pouco conhecida pela populao brasileira.
Nesse sentido, o autor Cervi (2010) nos mostra que, muitas vezes, o
comportamento poltico pode influenciar a opinio pblica. O comportamento poltico
como um todo, e em especial o comportamento eleitoral, pode ser considerado como
forma de institucionalizao da opinio pblica a respeito de determinado tema ou
conjunto de temas, e em dado momento histrico (CERVI, 2010, p.10).
Aps as eleies de 2010, com a vitria, em segundo turno da candidata Dilma
Rousseff, pode-se averiguar que a opinio pblica aprovou a gesto do governo Lula,
votando pela sua continuidade. Pelas dificuldades naturais de se realizar uma campanha
com uma candidata pouco conhecida do grande pblico e praticamente nenhuma
experincia eleitoral anterior, as estratgias de marketing poltico utilizadas durante o
governo em favor da futura candidata propiciaram aos profissionais envolvidos na
campanha um terreno preparado para a execuo do marketing eleitoral durante a
campanha e, principalmente, antes do perodo eleitoral, sendo assim decisivo para o
sucesso nas urnas.
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1.4 A prtica do Marketing Poltico Eleitoral
Como foi visto o marketing poltico essencial a todo poltico que pretenda
organizar e planejar sua trajetria poltica esteja o poltico no governo, na oposio, em
cargo eletivo ou no. Tambm importante ressaltar que em perodos eletivos o
marketing poltico adquire novos contornos, que exigem resultados imediatos: votos em
determinada eleio.
Sendo assim as estratgias de longo prazo do lugar s estratgias e ferramentas
de curto prazo, que objetivam o resultado da eleio. importante apresentar as
caractersticas do marketing poltico eleitoral, tambm conhecido simplesmente como
marketing eleitoral. Segundo Ronald Kuntz (2006, pp.19-20), O marketing eleitoral o
marketing da conquista, que rene a fora e a convico obstinada da paixo com a
astcia, o planejamento e a estratgia da guerra. Portanto, h uma maneira diferente de
atuar no marketing poltico quando se trata de perodos de campanha e de governos
eleitos.
Para o pesquisador, consultor poltico e presidente da ABCOP (Associao
Brasileira de Consultores Polticos), Carlos Manhanelli, marketing eleitoral muito
diferente de marketing poltico, embora um complemente o outro. Manhanelli (2009,
p.24) afirma: O marketing eleitoral somente uma parte do trabalho subordinado a um
contexto maior que o marketing para uso poltico.
Com isso pode-se observar que o marketing poltico bem mais amplo que o
marketing eleitoral, uma vez que o marketing poltico essencial para a concretizao
de uma trajetria poltica de longo prazo, enquanto que o marketing eleitoral utilizado
para objetivos imediatistas, sendo em geral utilizado em estratgias mais agressivas para
obter o sucesso nos pleitos disputados.
Entretanto, em perodos de disputas eleitorais sempre se pratica o marketing
eleitoral, pois como cita Barel (2007) apud Ronald Kuntz (2006, p.19-20) o marketing
eleitoral o marketing da conquista, que rene a fora e a convico obstinada da
paixo com a astcia, o planejamento e a estratgia de guerra.
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O momento mximo do marketing eleitoral se concretiza durante uma campanha
poltica, e, segundo Manhanelli, em seu livro Eleio guerra: marketing para
campanhas eleitorais (2009), para conseguir definir estratgias eficientes deve se
considerar, entre diversas outras situaes e aes, as leis bsicas do marketing eleitoral:
1- Lei da indiferena: nesta lei esto inseridos os indecisos e os indiferentes
que no notam o que se passa ao redor;
2- Lei da procrastinao: nesta lei inclumos o hbito de deixar tudo para
ltima hora, fato caracterstico do brasileiro. Com o voto da mesma
maneira; a deciso pelo candidato muitas vezes ocorre no ltimo momento;
3- Lei da efemeridade: tem relao com o valor que os eleitores do ao seu
voto e sua ligao com os candidatos.
Manhanelli (2006) tambm cita que necessrio para o desenvolvimento de uma
campanha a organizao de um mix de comunicao integrada disposto da seguinte
maneira:
Marketing: inclui pesquisas, sondagens, avaliaes tticas, estratgias,
criao e novas aes;
Propaganda e publicidade: inclui estudo de mdia, veiculaes, criao
artstica, fornecimentos de layouts, outdoors, indoors e peas publicitrias;
Aes segmentadas de comunicaes: inclui malas diretas, vdeo-
releases, documentrios especiais, eventos restritos e eventos especiais;
Radiocomunicao: inclui rdio-releases, matrias jornalsticas e pautas
para rdio;
Mdia Eletrnica: inclui filmagens, produo, ps-produo, formatao
de vdeos, spots, mdia training e tcnicas de abordagens;
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Mdia impressa: inclui assessoria de imprensa, orientao de pautas,
acabamento jornalstico, forma de abordagem, alocao de notcias,
atendimento imprensa e orientao para coletivas.
Obviamente uma campanha extremamente dinmica e cada uma tem suas
prprias caractersticas. As aes apresentadas acima por Manhanelli (2009) servem
apenas como um referencial de como deve ser fundamentado um mix de aes de
comunicao integrada.
Outro fator imprescindvel montar a estrutura da campanha de maneira slida,
para dar aporte para a campanha e permitir o fluxo da mesma, tambm importante a
elaborao de um Plano de Marketing. Para Manhanelli (2009) em seu livro Marketing
Eleitoral O passo a passo do nascimento de um candidato, este plano de marketing
deve ser elaborado aps a realizao de algumas aes de anlise do ambiente poltico,
como:
Executar pesquisas de marketing, qualitativas e quantitativas;
Considerar os pontos fortes e fracos da campanha, incluindo todos os
envolvidos no pleito, desde aliados at os adversrios;
Estabelecer objetivo macro;
Executar pesquisas internas e externas;
Estabelecer objetivos de marketing eleitoral;
Realizar anlise estratgica do pleito.
Estabelecer pressupostos;
Definir organograma e cronograma;
Definir oramento e aporte financeiro;
Analisar e atualizar.
1.5 Publicidade e Propaganda Poltica
Do mix de comunicao integrada citado por Manhanelli (2006), destacamos a
propaganda e a publicidade neste tpico, em razo de muitas vezes estas serem
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confundidas com o prprio marketing poltico. Essa viso tem motivos histricos, que
sero apresentados; porm, antes preciso definir a diferena entre os termos
publicidade e propaganda.
Entre propaganda e publicidade existem tantas semelhanas que, muitas vezes,
os dois conceitos ficam erroneamente caracterizados como sinnimos.
Para auxiliar a diferenciao entre os dois pode-se recorrer etimologia das
palavras. Propaganda tem origem no latim do termo propagare, que em portugus
significa propagar; j publicidade vem do termo publicus, que significa pblico.
A propaganda mais ampla e tem objetivos mais profundos do que a
publicidade. A publicidade objetiva-se tornar algo conhecido, pblico, alm de ter sua
aplicao mais voltada para a obteno de resultados imediatistas, como venda de um
produto, promoo de uma marca ou conquista de votos em eleies; enquanto que a
propaganda visa mudana de hbitos e comportamento, objetivando uma verdadeira e
profunda mudana de opinies.
Ao falar sobre propaganda ideolgica, Garcia (1999, p.10) nos diz que sua
funo a de formar a maior parte das ideias e convices dos indivduos e, com isso,
orientar todo o seu comportamento social. Obviamente, para atingir este grau de
influncia necessrio mudar profundamente a ideologia do indivduo.
Em seu livro A Propaganda Poltica, Jean Marie Domenach (1963) nos mostra a
comparao entre propaganda poltica e publicidade, traando um paralelo entre esses
dois termos, alm de demonstrar como uma se apropriou de tcnicas e termos da outra.
Para Domenach (1963) a publicidade moderna tem o seguinte objetivo:
[...] ela procura de preferncia impressionar mais que convencer,
sugestionar antes que explicar. O estribilho, a repetio, as imagens
atraentes derrotam, progressivamente, os anncios srios e
demonstrativos: de informativa, torna-se a publicidade sugestiva
(DOMENACH, 1963, p.23).
Quando o assunto poltica, necessrio chamar a ateno do pblico, pois,
como citado por Rosenfield (2003, p.75), a apatia poltica e a inrcia dos cidados
diante dos assuntos polticos tornam-se um problema estrutural da democracia
moderna.
Como o comportamento da sociedade em relao poltica o de apatia, a
publicidade poltica vem atuar como forma de despertar o desejo e o interesse nas
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pessoas nos momentos em que se exige sua participao ativa: nos processos e perodos
eleitorais.
Desta maneira possvel vincular a publicidade aos perodos eleitorais, durante
os quais temos personagens tpicos e processos bem conhecidos e ntimos dos cenrios
polticos.
Limita-se a propaganda de tipo publicitrio a campanhas mais ou
menos espaadas cujo padro a campanha eleitoral; a valorizao
de certas ideias e de certos homens mediante processos bem
delimitados, expresso normal da atividade poltica (DOMENACH,
1963, p.24).
A propaganda poltica em muito se confunde e, principalmente, se utiliza das
tcnicas da publicidade no seu desenvolver. Entretanto, ela tem carter diferenciado,
pois seu principal objetivo no o sucesso em um perodo de tempo delimitado por uma
ao poltica, como uma eleio, mas uma mudana de comportamento. Com esse
objetivo a propaganda pretende angariar adeptos de novas ideias e propostas mais que
simplesmente votos durante o perodo eleitoral. Domenach (1963) exemplifica com a
propaganda ideolgica:
Outro tipo de propaganda, de tendncia totalitria, decorre da fuso da
ideologia com a poltica; intimamente ligada progresso ttica, joga
com todas as molas humanas. No se trata mais de uma atividade parcial e passageira, mas da expresso concreta da poltica em
movimento, como vontade de converso, de conquista e de explorao
(DOMENACH, 1963, p.25).
Essa viso de ideologia com propaganda poltica foi e muito utilizada nas
guerras, tendo sua primeira grande aplicao durante a Revoluo Francesa.
Depois de 1791 a ideologia alia-se aos exrcitos para a conduo das
guerras, tornando-se a propaganda a auxiliar da estratgia. Visa-se
criar, internamente, a coeso e o entusiasmo e instaurar, no campo
inimigo, a desordem e o medo. Ao abolir, cada vez mais, a distino
entre a frente e a retaguarda, a guerra total oferece propaganda,
como campo de ao, no s os exrcitos, mas as populaes civis,
pois, visando as segundas, atinge-se talvez mais seguramente as
primeiras; consegue-se mesmo sublevar essas populaes, suscitando
o aparecimento de novos tipos de soldados, homens, mulheres,
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crianas, na retaguarda do inimigo: espies, sabotadores ou
guerrilheiros. (DOMENACH, 1963, p.26)
Essa unio serviu como base para a disseminao de algumas ideologias e foi
utilizada por polticos em suas reformas ou revolues, como a revoluo bolchevista na
Rssia, em 1917.
Ao falar da propaganda do marxismo-leninismo, Domenach (1963) cita:
A propaganda triunfa ao ponto de dissolver-se no conjunto das
atividades polticas, econmicas e intelectuais de um Estado. Cada
uma dessas atividades apresenta um aspecto propagandstico. A
obsesso dela resultante, certos processos de encenao coletiva, a
direo centralizada dos instrumentos de difuso, a censura, a
explorao dos novos acontecimentos, tudo isso no se origina
absolutamente do marxismo-leninismo, mas da utilizao totalitria da
propaganda (DOMENACH, 1963, pp.44-45).
Durante a segunda grande guerra, a propaganda atinge novo pice em sua
aplicabilidade por meio da propaganda nazista. Foi no governo de Hitler que Joseph
Goebbels, ministro da Conscientizao Pblica e Propaganda, realizou uma verdadeira
revoluo na propaganda, criando tcnicas utilizadas at os dias atuais, apesar dos
nefastos objetivos originais.
O grande nmero de tcnicas e processos introduzidos pelo nazismo
em matria de propaganda, todavia, subsiste mesmo fora do clima de
dio e delrio em que desabrocharam e nada pode impedir que,
doravante, faam parte do arsenal da propaganda poltica
(DOMENACH, 1963, p.46).
A propaganda poltica uma das principais aliadas na comunicao poltica, mas
como foi mencionada anteriormente, a relao com a imprensa tambm um dos
vetores essenciais para os governos, tanto em processos eleitorais quanto durante os
mandatos, para atingir a opinio pblica.
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1.6 Relacionamento com a mdia
Observa-se que o marketing poltico imprescindvel para os governos, mas
tambm uma assessoria de imprensa bem estruturada leva a uma comunicao poltica
eficaz. Essa eficincia de fundamental importncia para o relacionamento com a
mdia, uma vez que a imprensa depende do processo poltico e vice-versa.
No so muitos os atores polticos (polticos e partidos) que entendem a
montagem de uma assessoria de imprensa qualificada como ferramenta essencial para
obteno e manuteno do poder.
Uma assessoria eficiente tem como objetivo dar visibilidade ao seu assessorado,
fazer com que este seja bem visto e mais conhecido pela sociedade. Os polticos mais
preparados entendem que uma assessoria qualificada pode ser fundamental para o
prximo degrau na carreira, como afirma o professor e pesquisador Roberto Gondo
Macedo (2007).
Casos de polticos que compreendem que o planejamento ps eleitoral necessrio para que os prximos degraus sejam alcanados,
certamente investem na assessoria de imprensa para suprir e
enriquecer o seu contato com os canais de comunicao regional e se
possvel nacional. (MACEDO, 2007, p.91).
Obviamente que alm de bons atos a serem divulgados e propagados
necessrio ter profissionais em sua equipe de assessoria de imprensa que tenham, alm
de competncia tcnica, bom relacionamento com a mdia, pois uma notcia por si s
no tem carter definido, como diz Serra (2001):
Nenhuma notcia pura no sentido de que esteja livre de influncias
ou isenta de enfoques ou de retoques que revelem, em primeira ou
ltima instncia, o sistema editorial (ideolgico) que dela se apropria e
transforma num objeto noticioso impregnado de outros tantos sentidos
que no se restringem apenas ao fato ou ao evento no qual uma notcia
se origina, mas a todo um complexo de informaes concorrentes,
paralelas e coadjuvantes que criam os status de notcia que mobiliza o
sistema de comunicao como um todo. Serra (2001, p.94)
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Pelo descrito acima torna-se imprescindvel, na comunicao com a mdia,
conhecer os veculos e ter bons relacionamentos, para que suas tentativas de promoo
do assessorado no se convertam em notcia corrompida ou deturpada.
A opinio pblica formada pela quantidade e qualidade das informaes a que tem
acesso. Por isso, se um ator poltico no consegue estar na mdia no conseguir sucesso
no sistema poltico.
Um grande entrave no conceito de Marketing Poltico de que se o
poltico no comunicar com a imprensa, seja atravs de seu
departamento ou empresas especializadas, nada conseguir mostrar a
sociedade, mesmo que tenha realizado fatos significativos.
(MACEDO, 2007, p.92).
Pode-se perceber a necessidade de, alm de bons atos a comunicar, obter meios
para realizar uma comunicao eficiente e que promova os atores polticos, pois a mdia
e a opinio pblica esto em constante movimento. Conforme cita Sissors (2001, p.75)
O relacionamento entre o pblico e a mdia passa por toda a gama entre o casual e o
intenso.
Ao considerar a relao com a mdia, temos que pensar que ela est interligada,
sob a viso do sistema poltico, em dois polos: o do pblico, que converge para a
opinio pblica, e o dos atores polticos, que esto interessados em obter a aprovao da
opinio pblica.
Veremos mais sobre o relacionamento com a mdia no capitulo trs. Antes,
importante observar que a efetivao da comunicao poltica e do marketing poltico
exige diversos conhecimentos para se elaborar uma estratgia poltica slida. Por isso,
no prximo captulo aborda-se a questo do imaginrio e do gnero, fatores que so
extremamente ligados estratgia de comunicao adotada pelo governo Lula para
viabilizar a candidatura de Dilma Rousseff.
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CAPTULO II - IMAGINRIO E GNERO NA COMUNICAO
PARA ELEGER A PRIMEIRA PRESIDENTA DO BRASIL
2.1 O imaginrio
Pode-se dizer que o primeiro ato poltico de uma pessoa o seu nascimento,
como conclui o filsofo Aristteles parafraseado pela professora Lcia Santaella (1996,
p.320), ao afirmar que tudo o que humano poltico. Considerando esta afirmao,
tem-se que toda e qualquer ao realizada por um indivduo um ato poltico. No
necessrio dizer tambm que nossa histria se desenvolve em sociedade, conforme diz
Cornelius Castoriadis (1981, p.230): o homem s existe na e pela sociedade e a
sociedade sempre histrica. Sendo assim, a nossa histria se desenvolve de maneira
poltica em sociedade, em constante transformao. Essa transformao da sociedade,
em todos os quesitos, considerando do racional at o emocional, compe o que
chamamos de imaginrio e este vive em construo o tempo todo.
Para falar sobre a construo do imaginrio necessrio explicar primeiro o que
o termo significa e como ele formado, por isso buscamos algumas definies, sem,
contudo, termos a pretenso de nos aprofundarmos a respeito. O intuito aqui tentar
entender a relao entre as aes de comunicao da pr-candidata Dilma Rousseff e o
imaginrio da mulher no cenrio poltico brasileiro.
Assim, alguns autores que estudam o assunto so mencionados neste tpico para
uma melhor compreenso do termo, cujo conceito amplo e controverso. Isso nos
permitir entender como o imaginrio est diretamente ligado s nossas vidas.
Partimos ento da pergunta: Afinal, o que vem a ser o imaginrio? Na
contemporaneidade, um estudioso que tem desenvolvido amplas reflexes acerca do
termo Michel Maffesoli (2001), que aborda a dimenso diversa do imaginrio:
O imaginrio permanece uma dimenso ambiental, uma matriz, uma
atmosfera, aquilo que Walter Benjamin chama de aura. O imaginrio
uma fora social de ordem espiritual, uma construo mental, que se
mantm ambgua, perceptvel, mas no quantificvel (MAFFESOLI,
2001, p.75).
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Ao tentar desenvolver um conceito sobre o termo, Maffesoli (2001) ressalta o
carter racional e emocional do imaginrio e suas motivaes:
J o imaginrio, mesmo que seja difcil defini-lo, apresenta, claro, um
elemento racional, ou razovel, mas tambm outros parmetros, como
o onrico, o ldico, a fantasia, o imaginativo, o no-racional, o
irracional, os sonhos, enfim, as construes mentais potencializadoras
das chamadas prticas (MAFFESOLI, 2001, p.76).
Em entrevista revista Famecos4, o socilogo francs destaca a relao entre
comunidades e imaginrio, reforando a ideia de construo social. O imaginrio o
estado de esprito de um grupo, de um pas, de um estado-nao, de uma comunidade,
etc.. O imaginrio estabelece vnculo. cimento social. Logo, se o imaginrio liga, une
numa mesma atmosfera, no pode ser individual (FAMECOS, 2001, p.76).
A dimenso social do imaginrio tambm est clara para outros autores. Porm,
alguns revelam uma viso menos abrangente sobre o termo, como Dnis Moraes (1994)
pois, para o autor, o imaginrio social entendido numa perspectiva mais afetiva:
O imaginrio social composto por um conjunto de relaes
imagticas que atuam como memria afetivo-social de uma cultura,
um substrato ideolgico mantido pela comunidade. Trata-se de uma
produo coletiva, j que o depositrio da memria que a famlia e
os grupos recolhem de seus contatos com o cotidiano. (MORAES,
1994, p.01)
O comum entre os autores a afirmao que o imaginrio coletivo, vindo de
apreenses de cada indivduo e compreendido no coletivo por um grupo. A
pesquisadora Magali do Nascimento Cunha ressalta os aspectos culturais, mas tambm
um olhar interessado do indivduo:
A noo de imaginrio surge em relao a tudo que se apreende
visualmente do mundo e elaborado coletivamente. Deste modo o
imaginrio diz respeito s expresses culturais e se modifica na
configurao da identidade que cada cultura produz e sustenta como
sua.[...]
4 Revista Famecos Mdia, Cultura e Tecnologia, uma publicao cientfica quadrimestral da Ps
Graduao em Comunicao Social da PUC do Rio Grande do Sul.
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Compreendido no coletivo, imaginrio, no entanto, est condicionado
ao olhar do sujeito, um olhar interessado no objeto e alimentado pelo desejo. (CUNHA, 2011, p.38)
Portanto, apesar de construdo coletivamente, h um vis individual, porque
preciso um interesse do sujeito pelo objeto. Barros (2010), em consonncia com Cunha,
enfatiza o aspecto cultural e, portanto, antropolgico, ressaltando a importncia do
imaginrio para a comunicao:
No campo da Comunicao, a discusso sobre o imaginrio torna-se
estratgica, posto que a relao com o real fundante dos fenmenos
comunicacionais. Assumindo-se a perspectiva simblica (do
imaginrio), entende-se que o ato comunicacional no se firma
puramente em dados histricos, sociolgicos, culturais; tampouco em
pulses inconscientes. Na verdade, esses dois polos definem a
trajetria simblica, tambm chamada de trajeto antropolgico e,
ainda, de trajeto do sentido. (BARROS, 2010, p.129)
A comunicao ento o que viabiliza a construo coletiva do imaginrio,
sendo ele fundante das interaes humanas, calcadas nas apreenses do cotidiano e
moldadas pela cultura.
Apesar da existncia de diversas formas de se analisar o imaginrio, seja atravs
das noes fundadoras de Carl Jung (1875-1961) que utilizam as noes de arqutipos5,
imagens e smbolos, ou atravs da sistematizao proposta por Gastn Bachelar (1884-
1962) que implica no devaneamento espontneo ao invs da procura de imagens prontas
para se possvel o estudo do imaginrio analisando forma e contedo, ou ainda na
reflexologia proposta por Gilbert Durant (1921-2012), um fato recorrente: a mudana
da realidade por meio da criao de novos imaginrios.
Como o objetivo deste trabalho est no mbito da poltica partidria, e do
exerccio democrtico da escolha de representantes da sociedade para prezar pelo
interesse pblico na cidade, no estado ou no pas, interessa-nos destacar tambm como o
imaginrio poltico formado. De acordo com Maffesoli (2001) o imaginrio poltico
trabalha com a argumentao e com o emocional, esses so apelos recorrentes na
publicidade, propaganda e marketing.
5 Arqutipo um conjunto de imagens psquicas presentes no inconsciente coletivo, que surgem atravs
das vivncias de um povo e retransmitidas geneticamente aos seus descendentes.
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O imaginrio poltico trabalha com a argumentao atravs de um
arsenal de mecanismos emocionais, como os smbolos de um partido,
as datas que devem ser comemoradas, os heris e mitos que devem ser
lembrados, os ritos que precisam ser atualizados. O marketing, em
poltica, resume o cruzamento da razo - o planejamento publicitrio
racional - com a valorizao do emocional. (MAFFESOLI, 2001,
p.78)
Sintetizando, entendemos, ento, que o imaginrio coletivo e se forma por
meio das apreenses do cotidiano de um grupo, pas ou comunidade. E que o imaginrio
poltico trabalha basicamente com a argumentao por meio de um arsenal de
mecanismos emocionais, tais como smbolos de um partido, cores, entre outros
aspectos, ou seja, trabalha com arqutipos. Pode ser construdo e reconstrudo conforme
os acontecimentos e as vises de cada cultura, esta reconstruo no acontece de uma
hora para outra, vai se modelando ao longo do tempo.
Tendo essa noo mais fcil entender como foi se moldando o imaginrio do
povo brasileiro, at os dias de hoje, quando uma mulher governa o pas. possvel
cogitar, tendo em vista os resultados eleitorais de 2010, que as diferenas inatas ao
gnero foram trabalhadas positivamente no lanamento da pr-candidata Dilma. Para
entender melhor como se chegou at aqui, preciso entender a evoluo histrica da
mulher na poltica, especialmente a brasileira.
2.2 A participao da mulher na poltica brasileira
Falar do gnero feminino nos dias atuais mais fcil que h alguns anos, quando
as mulheres eram vistas como seres desqualificados perante a sociedade. No imaginrio
coletivo o gnero feminino estava associado somente ao ambiente domstico: servia
para cuidar da casa, do marido e dos filhos, era inadmissvel uma mulher que pensasse e
ousasse expor seus pensamentos e sentimentos. A mulher tampouco tinha o direito de
estudar; para ela era reservado o ensino bsico e, muitas vezes, nem isso.
Durante sculos o papel da mulher na sociedade foi de coadjuvante, quando
menos, de mera progenitora. Cansadas da opresso masculina e das condies
desfavorveis, as mulheres iniciaram uma mudana que tambm afetou o imaginrio
coletivo. Expuseram-se e lutaram para que seus direitos fossem alcanados.
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Alguns fatos mais recentes podem ajudar a compreender melhor como o papel
social da mulher e o imaginrio do gnero feminino foram se transformando. O pai do
positivismo, o filsofo francs August Comte (1798-1857), mesmo que de maneira
errnea (pois essa defesa dos direitos femininos visava melhorar o desempenho da
mulher no papel de me e educadora dos filhos, e no tinha o objetivo de trat-la com
igualdade perante os homens), defendia o direito de estudo para as mulheres. Ele
acreditava que se fossem bem educadas transmitiriam bons ensinamentos aos filhos e,
consequentemente, teramos uma sociedade mais intelectualizada. Conforme Prado e
Franco (2012):
O idealizador do positivismo acreditava que, sendo as mulheres quem
primeiro educavam os homens, elas deviam ser muito bem formadas.
Sabendo criar os meninos como bons cidados e empenhadas
lideranas polticas das naes, as mulheres fariam um bem, no s
para a famlia, mas tambm para a ptria e, enfim, para a humanidade.