comunicação dilma presidenta

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MARGARETE SALLES IWANIKOW DILMA PRESIDENTA A REPERCUSSÃO DA COMUNICAÇÃO POLÍTICA PARA VIABILIZAR A ELEIÇÃO DA PRIMEIRA MULHER A GOVERNAR O BRASIL PELA ÓPTICA DAS REVISTAS VEJA E CARTACAPITAL Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo SP, 2013

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Comunicação Dilma Presidenta

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  • MARGARETE SALLES IWANIKOW

    DILMA PRESIDENTA

    A REPERCUSSO DA COMUNICAO POLTICA PARA VIABILIZAR A

    ELEIO DA PRIMEIRA MULHER A GOVERNAR O BRASIL PELA PTICA

    DAS REVISTAS VEJA E CARTACAPITAL

    Universidade Metodista de So Paulo

    Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social

    So Bernardo do Campo SP, 2013

  • MARGARETE SALLES IWANIKOW

    DILMA PRESIDENTA

    AS AES DA COMUNICAO POLTICA PARA VIABILIZAR A ELEIO DA

    PRIMEIRA MULHER A GOVERNAR O BRASIL PELA PTICA DAS REVISTAS

    VEJA E CARTACAPITAL

    Dissertao apresentada em cumprimento parcial s

    exigncias do Programa de Ps-Graduao em

    Comunicao Social, da Universidade Metodista de So

    Paulo (UMESP), para obteno do grau de Mestre.

    Orientadora: Professora Dra. Marli dos Santos

    Universidade Metodista de So Paulo

    Programa de Ps-Graduao em Comunicao Social

    So Bernardo do Campo SP, 2013

  • Folha de aprovao

    A dissertao DILMA PRESIDENTA: AS AES DA COMUNICAO

    POLTICA PARA VIABILIZAR A ELEIO DA PRIMEIRA MULHER A

    GOVERNAR O BRASIL PELA PTICA DAS REVISTAS VEJA E

    CARTACAPITAL, elaborada por Margarete Salles Iwanikow, foi defendida no dia 08

    de abril de 2013, tendo sido:

    ( ) Reprovada

    ( ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos modificaes

    sugeridas pela banca examinadora, at 60 (sessenta) dias a contar da data da defesa.

    ( X ) Aprovada

    ( ) Aprovada com louvor

    Banca examinadora:

    Professora Dra. Marli dos Santos Presidente / UMESP

    Professora Dra. Magali do Nascimento Cunha Titular / UMESP

    Professor Dr. Adolpho Carlos Franoso de Queiroz Titular / Mackenzie

    rea de Concentrao: Processos comunicacionais

    Linha de Pesquisa: Comunicao Miditica nas interaes sociais

    Projeto Temtico: Comunicao poltica

    rea de Concentrao: Processos comunicacionais

    Linha de Pesquisa: Comunicao Miditica nas interaes sociais

    Projeto Temtico: Comunicao poltica

  • Aos meus queridos pais, Antnio e Margarida, por todo

    amor, carinho, apoio e principalmente, por me educarem

    no caminho do bem. minha amada filha, Larissa, por ser

    quem me d foras para sempre seguir adiante.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo em primeiro lugar a Deus por me possibilitar concluir mais esse sonho, pois

    s ele sabe das minhas dificuldades e do caminho que percorri para chegar at aqui.

    Ao meu pai e minha av, onde estiverem, pois sei que sempre estaro ao meu lado.

    Agradeo minha me por todo o carinho e confiana, que foram muito importantes

    para que eu chegasse at aqui.

    Aos meus irmos, s minhas tias, tios, primas, primos e sogros pela torcida e carinho.

    Um agradecimento especial minha filha Larissa e ao meu marido Rafael, por todo o

    apoio, dedicao, pacincia e companheirismo: sem o apoio deles esse sonho no seria

    possvel.

    A todos os meus amigos e amigas que souberam entender a minha correria e distncia

    durante esse perodo.

    A todos os professores que tive em minha vida escolar. Um agradecimento especial

    Fabola de Oliveira, que sempre me incentivou e apoiou, Letcia Costa pela amizade e

    apoio, ao Adolpho Queiroz pela amizade e por me trazer a essa casa onde sou muito

    feliz e Marli dos Santos que me acolheu como filha: sua amizade foi e muito

    importante pra mim.

    Agradeo imensamente a oportunidade de conhecer pessoas especiais que faro parte da

    minha vida pra sempre: meus amigos, meus Professores queridos, minhas amigas da

    Secretaria, Vanete e suas meninas e minha amiga Ktia do POSCOM. Todos vocs so

    muito especiais em minha vida e eu os levarei pra sempre comigo.

    Agradeo CAPES que me proporcionou viver e realizar esse sonho.

    Aos amigos, que foram irmos quando eu mais precisei. Ao Jorge Tarquini e ao

    Rodolfo Bonventi, por me ajudarem a trilhar meu caminho dentro da Metodista. Dedico

    a vocs meu eterno carinho e agradecimento.

    amiga Aline Farias, uma irm que conheci dentro da Metodista, amiga para todas as

    horas.

    Aos amigos pela amizade: Padre Edivaldo pelas conversas e conselhos, Julio Fernandes

    pelas parcerias em artigos, Patrcia Garcia pela reviso dessa dissertao.

    Seria impossvel nomear todos os amigos que fiz nesta casa que me acolheu com muito

    carinho, ento por meio dessa dissertao agradeo a todos vocs, presentes que Deus

    me deu e que levarei comigo para sempre.

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Candidatos ao cargo de prefeito .................................................................... 51

    Tabela 2 - Candidatos ao cargo de vereador................................................................... 52

    Tabela 3 Cargo: Prefeito Eleies de 2008 .............................................................. 53

    Tabela 4 Cargo: Vereador o Eleies de 2008 ......................................................... 53

    Tabela 5 Candidatos nas Eleies 2010 Brasil ......................................................... 54

    Tabela 6 Candidatos registrados at 18/07/2012 para as eleies municipais de 2012 -

    Abrangncia: Brasil .................................................................................................... 55

    Tabela 7 Resultado das eleies 2012 - Cargo Prefeito - Abrangncia: Brasil ........... 55

    Tabela 8 Resultado das eleies 2012 - Cargo Vereador - Abrangncia: Brasil ......... 56

    Tabela 9 - Perfil do leitor da Revista Veja ..................................................................... 74

    Tabela 10 - Perfil do leitor da Revista CartaCapital ....................................................... 76

    Tabela 11 Dados da amostra ........................................................................................ 83

    Tabela 12 - Detalhamento das capas .............................................................................. 87

    Tabela 13 - Detalhamento dos ndices ............................................................................ 89

    Tabela 14 Detalhamento das matrias selecionadas ................................................... 91

    Tabela 15 - Outros itens observados nas matrias da amostra ....................................... 94

    Tabela 16 -Outros temas trabalhados nas matrias da amostra ...................................... 96

    Tabela 17 Revista Veja ................................................................................................ 97

    Tabela 18 Edies da Veja selecionadas pela capa ................................................... 100

    Tabela 19 Edies da Veja selecionadas pelo ndice ................................................ 104

    Tabela 20 - Detalhamento das matrias selecionadas .................................................. 107

    Tabela 21 Revista CartaCapital ................................................................................. 110

    Tabela 22 Edies da CartaCapital selecionadas pela capa ...................................... 113

    Tabela 23 Edies da CartaCapital selecionadas pelo ndice .................................... 116

    Tabela 24 Detalhamento das matrias selecionadas .................................................. 119

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Edies selecionadas .................................................................................... 84

    Grfico 2 - Percentuais da amostra ................................................................................. 85

    Grfico 3 - Matrias selecionadas .................................................................................. 85

    Grfico 4 - Critrio de seleo das matrias ................................................................... 85

    Grfico 5 - N pginas analisadas Grfico 6 - Mdia de pginas por matria ............... 86

    Grfico 7 - Capas Selecionadas ...................................................................................... 88

    Grfico 8 - Matria Principal .......................................................................................... 88

    Grfico 9 - Chamada....................................................................................................... 88

    Grfico 10 - Critrio de seleo ...................................................................................... 89

    Grfico 11 - Uso de foto e citao nominal .................................................................... 90

    Grfico 12 - Uso de citao nominal .............................................................................. 90

    Grfico 13 - Matrias selecionadas ................................................................................ 91

    Grfico 14 - Gneros jornalsticos .................................................................................. 92

    Grfico 15 - Temticas das matrias .............................................................................. 93

    Grfico 16 - Outros itens considerados nas matrias ..................................................... 95

    Grfico 17 - Seleo dos exemplares de Veja ................................................................ 98

    Grfico 18 - Critrio de seleo das matrias ................................................................. 98

    Grfico 19 - Seo .......................................................................................................... 99

    Grfico 20 - Critrio de seleo da edio .................................................................. 101

    Grfico 21 - Critrio de seleo .................................................................................... 101

    Grfico 22 - Destaque recebido na capa ....................................................................... 102

    Grfico 23 - Temtica das matrias selecionadas pela capa ......................................... 102

    Grfico 24 - Critrio de seleo da edio ................................................................... 105

    Grfico 25 - Critrio de seleo .................................................................................... 105

    Grfico 26 - Seo alocada no ndice ........................................................................... 106

    Grfico 27 - Temtica das matrias selecionadas pelo ndice ...................................... 106

    Grfico 28 - Gnero jornalistico das matrias de Veja ................................................. 108

    Grfico 29 - Temtica das matrias de Veja................................................................. 108

    Grfico 30 - Outros itens considerados nas matrias ................................................... 110

    Grfico 31 - Seleo das edies de CartaCapital ........................................................ 111

  • Grfico 32 - Critrio de seleo das matrias ............................................................... 112

    Grfico 33 - Critrio de seleo edio ....................................................................... 114

    Grfico 34 - Critrio de seleo .................................................................................... 114

    Grfico 35 - Destaque recebido na capa ....................................................................... 115

    Grfico 36 - Temtica das matrias selecionadas pela capa ......................................... 115

    Grfico 37 - Critrio de seleo da edio ................................................................... 117

    Grfico 38 - Critrio de seleo .................................................................................... 117

    Grfico 39 - Temtica das matrias selecionadas pelo ndice ...................................... 118

    Grfico 40 - Gnero jornalstico das matrias de CartaCapital .................................... 120

    Grfico 41 - Temtica das matrias de CartaCapital .................................................... 120

    Grfico 42 - Outros itens considerados nas matrias ................................................... 122

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Edio: 2103 11 de maro de 2009 ........................................................... 123

    Figura 2 - Edio 2111 06 de maio de 2009 .............................................................. 124

    Figura 3 - Edio 2126 19 de agosto de 2009 ........................................................... 125

    Figura 4 - Edio 2129 9 de setembro de 2009 ......................................................... 126

    Figura 5 - Edio: 2137 04 de novembro de 2009 .................................................... 127

    Figura 6 - Edio: 2153 24 de fevereiro de 2010 ...................................................... 128

    Figura 7 - Edio: 2155 10 de maro de 2010 ........................................................... 129

    Figura 8 - Edio: 544 06 de maio de 2009 ............................................................... 131

    Figura 9 - Edio: 546 20 de maio de 2009 ............................................................... 131

    Figura 10 - Edio: 554 15 de junho de 2009 ........................................................... 132

    Figura 11 - Edio: 560 26 de outubro de 2009 ........................................................ 133

    Figura 12 - Edio: 577 23 de dezembro de 2009 ..................................................... 135

    Figura 13 - Edio: 578 13 de janeiro de 2010.......................................................... 135

    Figura 14 - Edio: 582 10 de fevereiro de 2010 ...................................................... 136

    Figura 15 - Edio: 585 03 de maro de 2010 ........................................................... 137

    Figura 16 - Edio: 592 21 de abril de 2010 ............................................................. 138

    Figura 17 - ndice e matria da edio 2050 05/03/08 .............................................. 139

    Figura 18 - ndice e matria da edio 2054 02/04/2008 .......................................... 140

    Figura 19- ndice e matria da edio 2060 - 14/05/08 ................................................ 140

    Figura 20- ndice e charge da edio 2082 - 15/10/08 ................................................. 141

    Figura 21- ndice e matria da edio 2096 de 21/01/09 ............................................. 141

    Figura 22- ndice e matria da edio 2099 de 11/02/09 ............................................. 142

    Figura 23- ndice e matria da edio 2100 de 18/02/09 ............................................. 143

    Figura 24- Capa , ndice e matria da edio 2103 de 11/03/09 .................................. 143

    Figura 25 - ndice e charge da edio 2108 de 15/04/09 .............................................. 144

    Figura 26 - Capa e matria da edio 2111 de 06/05/09 .............................................. 144

    Figura 27 - Capa e a 2 matria da edio 2111 de 06/05/09 ....................................... 145

    Figura 28 - ndice e matria da edio 2114 de 27/05/09 ............................................. 145

    Figura 29 - ndice e matria da edio 2116 de 10/05/09 ............................................ 146

  • Figura 30 - ndice e matria da edio 2126 de 19/08/09 ............................................ 147

    Figura 31 - Capa e matria da edio 2129 de 09/09/09 .............................................. 147

    Figura 32 - ndice e matria da edio 2130 de 16/09/09 ............................................ 148

    Figura 33 - ndice e matria da edio 2134 de 14/10/09 ............................................ 149

    Figura 34 - ndice e matria da edio 2137 de 04/11/09 ............................................ 149

    Figura 35 - ndice e matria da edio 2143 de 16/12/09 ............................................ 150

    Figura 36 - ndice e matria da edio 2149 de 27/01/10 ............................................ 150

    Figura 37 - ndice e matria da edio 2150 de 03/02/10 ............................................ 151

    Figura 38 - ndice e matria da edio 2151 de 10/02/10 ............................................ 151

    Figura 39 - Capa e matria da edio 2153 de 24/02/10 .............................................. 152

    Figura 40 - Capa e matria da edio 2155 de 10/03/10 .............................................. 153

    Figura 41 - ndice e matria da edio 2158 de 31/03/10 ............................................ 153

    Figura 42 - ndice e matria da edio 2158 de 31/03/10 ............................................ 154

    Figura 43 - ndice e matria da edio 2159 de 07/04/10 ............................................ 154

    Figura 44 - Capa e matria da edio 544 de 06/05/09 ................................................ 155

    Figura 45 - Capa e matria da edio 546 de 20/05/09 ................................................ 156

    Figura 46 - ndice e matria da edio 550 de 17/06/09 .............................................. 156

    Figura 47 - Capa e matria da edio 554 de 15/07/09 ................................................ 157

    Figura 48 Capa, ndice e matria da edio 588 de 12/08/09 .................................... 157

    Figura 49 - Capa e matria da edio 560 de 26/08/09 ................................................ 158

    Figura 50 - Capa e matria da edio577 de 23/12/09 ................................................. 158

    Figura 51 - Capa e matria da edio577 de 23/12/09 ................................................. 159

    Figura 52 - Capa e matria da edio 582 de 10/02/10 ................................................ 159

    Figura 53 - Capa e matria da edio 585 de 03/03/10 ................................................ 160

    Figura 54 Capa, ndice e matria da edio 586 de 10/03/10 .................................... 161

    Figura 55 Capa e matria da edio 592 de 21/04/10 ............................................... 161

    Figura 56 Capa, ndice e a 2 matria selecionada da edio 592 de 21/04/10 ......... 162

  • SUMRIO

    INTRODUO .......................................................................................................................... 16

    CAPTULO I - COMUNICAO E MARKETING POLTICO:

    DA TEORIA PRTICA......................................................................................................... 22

    1.1 Conceitos e interfaces .................................................................................................. 22

    1.2 Comunicao Poltica e Marketing Poltico ................................................................ 23

    1.3 O estudo do Marketing Poltico no Brasil ................................................................... 27

    1.4 A prtica do Marketing Poltico Eleitoral ................................................................... 31

    1.5 Publicidade e Propaganda Poltica .............................................................................. 33

    1.6 Relacionamento com a mdia ...................................................................................... 37

    CAPTULO II - IMAGINRIO E GNERO NA COMUNICAO PARA ELEGER A

    PRIMEIRA PRESIDENTA DO BRASIL .................................................................................. 39

    2.1 O imaginrio ................................................................................................................ 39

    2.2 A participao da mulher na poltica brasileira ........................................................... 42

    2.3 A reconstruo da democracia brasileira Presidentes eleitos ps-ditadura militar .. 56

    2.4 Dilma Rousseff: a reconstruo de um imaginrio ..................................................... 60

    CAPTULO III A IMPRENSA POLTICA E A COBERTURA POLTICA ......................... 67

    3.1 Mdia, Poltica e Sociedade ......................................................................................... 67

    3.2 Jornalismo poltico e a cobertura poltica.................................................................... 68

    3.3 As revistas Veja e CartaCapital ................................................................................... 73

    3.3.1 A Revista Veja ........................................................................................................ 74

    Captulo IV A repercusso da comunicao poltica para o lanamento de Dilma como

    sucessora de Lula na mdia.......................................................................................................... 77

    4.1 Categorias de anlise ................................................................................................... 79

    4.1.1 Capa ............................................................................................................................ 79

    4.1.2 Temtica da matria de capa ...................................................................................... 79

  • 4.1.3 ndice .......................................................................................................................... 80

    4.1.4 Gneros Jornalsticos das matrias ............................................................................. 80

    4.1.5 Temticas das matrias ............................................................................................... 80

    4.1.6 Outros itens analisados nas matrias .......................................................................... 81

    4.1.7 Gnero ........................................................................................................................ 82

    4.2 Anlise geral da amostra ............................................................................................. 82

    4.2.1 Capas .......................................................................................................................... 86

    4.2.2 ndices ........................................................................................................................ 89

    4.2.3 Matrias ...................................................................................................................... 90

    4.2.4 Outros itens analisados nas matrias .......................................................................... 93

    4.2.5 A questo do gnero na anlise da amostra ................................................................ 95

    4.3 Anlise de contedo da revista Veja ........................................................................... 97

    4.3.1 Capas ........................................................................................................................ 100

    4.3.2 ndices ...................................................................................................................... 104

    4.3.3 Matrias .................................................................................................................... 107

    4.3.4 Outros itens considerados nas matrias .................................................................... 109

    4.4 Anlise de contedo da CartaCapital ........................................................................ 110

    4.4.1 Capas ........................................................................................................................ 113

    4.4.2 ndices ...................................................................................................................... 116

    4.4.3 Matrias .................................................................................................................... 118

    4.4.4 Outros itens considerados nas matrias .................................................................... 121

    4.5 Descrio das capas da Revista Veja ........................................................................ 122

    4.6 Descrio das capas da revista CartaCapital ............................................................. 130

    4.7 Descrio das matrias Revista Veja...................................................................... 139

    4.8 Descries das matrias Revista CartaCapital ....................................................... 155

    CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................... 163

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...................................................................................... 168

  • RESUMO

    A presente dissertao tem como tema o impacto da comunicao poltica na cobertura

    da grande imprensa durante a pr-candidatura de Dilma Vana Rousseff presidncia da

    Repblica. O objetivo verificar quais estratgias de marketing poltico utilizadas para

    viabilizar o nome da pr-candidata foram retratadas nas revistas Veja e CartaCapital

    entre maro de 2008 e abril de 2010, perodo que antecedeu a indicao oficial da

    sucessora do ento presidente Luiz Incio Lula da Silva. Para desenvolver a dissertao

    foram discutidos conceitos de comunicao poltica, marketing poltico e eleitoral, bem

    como as questes de gnero na poltica e na sociedade brasileira e o percurso feminino

    na luta pela igualdade de direitos, que transformaram o imaginrio social em relao ao

    papel da mulher. Tambm foram tratados temas como jornalismo e cobertura poltica no

    Brasil e um breve panorama sobre a trajetria poltica do Brasil ps-ditadura, alm do

    perfil biogrfico de Dilma Rousseff. A importncia desta pesquisa est justamente em

    verificar como repercutiu na imprensa a pr-candidatura de uma mulher ao cargo

    pblico mais elevado no pas, considerando as dificuldades e os desafios da luta

    feminina na poltica brasileira. Trata-se de um estudo quantitativo e qualitativo, com

    uso de tcnica de anlise de contedo que de acordo com Laurence Bardin inclui

    perspectivas quantitativas e qualitativas. Com a pesquisa foi possvel verificar que a

    questo do gnero foi um dos fatores que influenciaram positivamente as eleies e,

    principalmente que a repercusso obtida nas revistas foi positiva s intenes de

    marketing poltico para viabilizar a candidatura de Dilma Rousseff sucesso

    presidencial.

    Palavras-chave: Comunicao poltica, marketing poltico, Gnero na poltica, Dilma

    Rousseff, revistas Veja e CartaCapital.

  • ABSTRACT

    This dissertation focuses on the impact of political communication in the press coverage

    during the pre-candidature of Dilma Vana Rousseff for president of Brazil. The

    objective is to verify the political marketing strategies used to promote the name of the

    pre-candidate, as depicted by the magazines Veja and CartaCapital between March of

    2008 and April of 2010, period that preceded the official nomination of the president

    Luiz Incio Lula da Silvas successor. To develop the dissertation some concepts have

    been discussed, such as: political communication, electoral and political marketing,

    gender issues in politics and in the Brazilian society, and the female journey in the fight

    for equal rights that transformed the social imagery in relation to the womens role.

    Subjects such journalism and political cover in Brazil and a concise overview about

    political trajectory post-dictatorship in Brazil have also been considered besides the

    biographic profile of Dilma Rousseff. The importance of this research is in verifying

    how the pre-candidature of a woman to the highest public position in Brazil has echoed

    in the press, considering the difficulties and challenges of the female fight in the

    Brazilian politics. It is a quantitative and qualitative analysis with the use of content

    analysis, according to Laurence Bardin, that includes quantitative and qualitative

    perspectives. Through on the research it has been verified that the gender issue was one

    of the factors that positively influenced the election and, mainly, that the repercussion

    was positive to the political marketing intentions to promote the candidature of Dilma

    Rousseff to presidential succession.

    Key words: political communication, political marketing, gender in politics, Dilma

    Rousseff, magazines Veja and CartaCapital.

  • RESUMEN

    Esta disertacin tiene como tema el impacto de la comunicacin poltica en la cobertura

    de la grande prensa durante la pre-candidatura de Dilma Vana Rousseff a la presidencia

    de la Repblica. El objetivo es verificar cuales estrategias de marketing poltico

    utilizadas para viabilizar el nombre de la pre candidata fueron retratadas en las revistas

    Veja y CartaCapital entre marzo de 2008 y abril de 2010, perodo que antecedi la

    indicacin oficial de la sucesora del entonces presidente Luiz Incio Lula da Silva. Para

    desarrollar la disertacin fueron discutidos los conceptos de comunicacin poltica,

    marketing poltico y electoral, as como las cuestiones de gnero en la poltica y en la

    sociedad brasilea y el recorrido femenino en la lucha por la igualdad de derechos, que

    transformaran el imaginario social en relacin al papel de la mujer. Tambin fueron

    tratados temas como el periodismo y cobertura poltica en Brasil y un breve panorama

    sobre el recorrido poltico de Brasil pos-dictadura, adems del perfil biogrfico de

    Dilma Rousseff. La importancia de esta investigacin est justamente en verificar como

    repercuti en la prensa a la pre-candidatura de una mujer al cargo pblico ms elevado

    en el pas, considerando las dificultades y los desafos de la lucha femenina en la

    poltica brasilea. Se trata de un estudio cuantitativo y cualitativo con uso de tcnica de

    anlisis de contenido que de acuerdo con Laurence Bardin incluye perspectivas

    cuantitativas y cualitativas. Con la investigacin fue posible verificar que la cuestin

    del gnero fue uno de los factores que influyeron positivamente a las intenciones de

    marketing poltico para viabilizar la candidatura de Dilma Rousseff a la sucesin

    presidencial.

    Palabras-clave: Comunicacin poltica, marketing poltico, Gnero en la poltica,

    Dilma Rousseff, revistas, Veja y CartaCapital.

  • 16

    INTRODUO

    A presente dissertao tem como objetivo principal identificar e analisar, na

    cobertura das revistas Veja e CartaCapital (que possuem perfis editoriais diferentes) a

    repercusso obtida nesses veculos de comunicao por conta das estratgias de

    marketing poltico utilizadas pelo governo de Luiz Incio Lula da Silva1 para viabilizar

    a futura candidatura presidncia da ento ministra da Casa Civil, Dilma Vana

    Rousseff2.

    Entre os objetivos especficos, mostra-se a importncia das eleies

    presidenciais de 2010 e seu momento histrico e a importncia do marketing e da

    comunicao poltica como estratgia para atingir a opinio pblica por meio dos

    veculos de comunicao. Alm disso, objetiva-se refletir sobre o momento poltico

    brasileiro e o papel da imprensa nesse processo.

    O estudo, pautado pela corrente terica do funcionalismo e do estruturalismo,

    abrangeu tambm as questes de gnero e do imaginrio coletivo sobre o feminino

    (outro dos objetivos especficos, que foi contemplado na dissertao), para compreender

    melhor como esse aspecto influenciou na arquitetura da pr-candidatura e do

    lanamento oficial da candidata, no contexto poltico vivenciado pelo pas. Para essa

    anlise foi necessrio mostrar a trajetria do Brasil ps-redemocratizao e a histria de

    vida, pessoal e poltica, de Dilma Rousseff, personagem desta dissertao. Desta

    maneira cumpriram-se outros dois objetivos especficos da dissertao.

    Esta investigao surge em um momento importante para a histria do pas. A

    eleio da primeira mulher presidncia do Brasil ocorre logo em seguida aos dois

    mandatos de um presidente de origem operria, ou seja, no ligado s elites intelectuais

    e econmicas. Espera-se contribuir para questes e futuras pesquisas sobre eleies

    presidenciais e a participao feminina na poltica do pas.

    Para responder ao problema de pesquisa, Como as revistas Veja e CartaCapital

    divulgaram as aes de comunicao poltica do governo Lula, no perodo que

    antecedeu a oficializao do nome da candidata Dilma Rousseff, de modo a vincul-las

    1 No decorrer da dissertao ser referenciado apenas por Lula e seu governo por Governo Lula.

    2 No decorrer da dissertao ser referenciada apenas por Dilma ou Dilma Rousseff.

  • 17

    ao nome da ento ministra da Casa Civil?, definiu-se uma pesquisa de carter

    quantitativo e qualitativo. Trata-se de uma pesquisa descritiva. Esse tipo de estudo

    seguiu as orientaes de Marconi, Lakatos (2007, p.20) ao citar as classificaes

    sugeridas por Best (1972:12-13) Delineia o que aborda tambm quatro aspectos:

    descrio, registro, anlise e interpretao de fenmenos atuais, objetivando o seu

    funcionamento no presente.

    Para analisar as revistas, utilizou-se a tcnica de anlise de contedo. De acordo

    com Laurence Bardin (1977), a anlise de contedo um conjunto de tcnicas

    referentes comunicao:

    A anlise de contedo um conjunto de tcnicas de anlise das

    comunicaes. No se trata de um instrumento, mas de um leque de

    apetrechos; ou, com maior rigor, ser um nico instrumento, mas

    marcado por uma grande disparidade de formas e adaptvel a um

    campo de aplicao muito vasto: as comunicaes (BARDIN, 1977,

    p.31).

    A anlise de contedo nas comunicaes realizada por meio de categorias pr-

    determinadas e a tcnica pode ser aplicada a livros, jornais, revistas, entre outros. Essa

    tcnica permite analisar o contedo de livros, revistas, jornais, discursos, pelculas

    cinematogrficas, propaganda de rdio e televiso, slogans, etc. Ela pode ser aplicada a

    documentos pessoais como discursos, dirios, textos, etc. (MARCONI, LAKATOS,

    2007, p.129).

    O veculo escolhido para realizar a anlise a revista, por se tratar de um meio

    de comunicao o qual pode-se apurar com maior detalhamento as informaes

    publicadas em virtude de sua periodicidade. As publicaes escolhidas so as revistas

    Veja e CartaCapital, que so semanais. Essa escolha se deu principalmente por se

    tratarem de revistas que tm um cunho poltico forte, com perfis editoriais, a princpio,

    opostos.

    O perodo escolhido para anlise abrange de 07 de maro de 2008 data em que,

    durante evento de lanamento de obras em favelas cariocas, o ex-presidente Lula

    declara que a ento Ministra da Casa Civil a me do PAC (Programa de Acelerao do

    Crescimento), fazendo com que os olhares da populao se voltem para Dilma Rousseff

  • 18

    at o dia 04 de abril de 2010, quando Dilma Rousseff se afasta do ministrio para

    concorrer s eleies presidenciais.

    No dia 07 de maro de 2008, o ento Presidente da Repblica Luiz Incio Lula

    da Silva chama a ateno para Dilma Rousseff, conforme mostra Ricardo Batista

    Amaral:

    No meio do discurso, Lula chamou a ateno para aquela mulher de

    culos, blusa azul de mangas curtas, sentada na segunda fila atrs da

    primeira-dama, Marisa Letcia, e do governador Srgio Cabral. Pediu

    que ela viesse para a frente do palco, onde podia ser vista pelos

    moradores, e falou: Eu queria agradecer nossa companheira Dilma Rousseff. A Dilma uma espcie de me do PAC. (AMARAL, 2010, pp.175-176)

    O material analisado foi composto pelas capas e ndices dos exemplares

    selecionados e pelas matrias integrais, referenciadas nas capas e nos ndices. Para

    selecionar os exemplares e as matrias que formariam a amostra desta dissertao

    considerou-se para as capas e ndices, as citaes nominais ou insero de fotos ou

    imagens e para as matrias, as que foram referenciadas nas capas ou ndices das

    publicaes.

    Trata-se de amostra no-probabilstica intencional, definida por Rea e Parker

    (2000, p149) da seguinte maneira: A caracterstica essencial da amostragem no-

    probabilstica que o pesquisador no conhece a probabilidade de determinado

    indivduo vir a ser selecionado como parte da amostra, quanto ao fato de ser

    intencional, ainda segundo Rea e Parker (2000), porque nela o pesquisador usa seu

    critrio profissional, ao invs do acaso, na seleo.... Aps a leitura flutuante de todas

    as edies do perodo, definiu-se ento os critrios de seleo das edies de ambas as

    publicaes, levando em considerao a referncia direta Dilma Rousseff nas capas ou

    nos ndices da Veja e CartaCapital, seja por citao nominal ou foto da ento ministra.

    A escolha dessas edies permitiu verificar de que forma ocorreu a cobertura desses

    veculos miditicos para cumprir a principal estratgia elaborada pela equipe de governo

    sobre a sucesso presidencial, que era tornar o nome de Dilma conhecido e relacionado

    ao presidente Lula e seu governo.

    Em seguida, houve a definio das categorias de anlise, mencionadas a seguir:

  • 19

    Capa (Fotografia e citao nominal); temtica da matria de capa (Perfil da ministra,

    Doena da ministra, Escndalos e denncias, Ao governamental e Pr-campanha);

    ndice (Foto, Imagem, Citao nominal, Seo); Matrias (Gnero jornalstico, temtica,

    gnero e outros).

    Aps a categorizao do contedo, os dados foram tabulados e apresentados em

    grficos, para se ter uma viso de cada tpico criado para anlise do contedo das

    edies selecionadas, de acordo com os objetivos da pesquisa.

    Outra estratgia metodolgica prevista na dissertao eram as entrevistas

    semiestruturadas especialmente com os editores das revistas e com um dos integrantes

    da SECOM Secretaria de Comunicao da Presidncia da Repblica, com o intuito de,

    por meio da coleta informaes, aprofundar a interpretao dos dados obtidos na anlise

    de contedo.

    Entretanto, no houve respostas dos editores das revistas, apesar das solicitaes.

    A entrevista concedida pelo ex-funcionrio da SECOM (Secretaria de Comunicao da

    Presidncia da Repblica) no pode ser gravada. Desse modo, optou-se por realizar as

    anlises com o material coletado das revistas, embasadas nos conceitos tericos, na

    biografia de Dilma Rousseff e nos perfis das publicaes, apresentados nos captulos da

    dissertao.

    Para melhor compreenso e visualizao dos dados coletados pelas anlises

    realizadas foi feita a tabulao e elaborao de diversos grficos para apresentao do

    material, pois, segundo Hair,Babin, Money, Samouel (2005, p.261) Os grficos e as

    tabelas ajudam a compreender mais facilmente os dados. Eles tambm comunicam de

    modo mais eficiente os assuntos complexos e tornam seu relatrio de pesquisa

    visualmente mais atraente.

    Outra metodologia utilizada foi a descrio, realizada nas matrias selecionadas

    e nas capas que continham foto e/ou citao nominal de Dilma Rousseff, com o objetivo

    de facilitar a viso do leitor.

    Considerando o problema de pesquisa assim como os objetivos e procedimentos

    metodolgicos j expostos, foram elencadas as seguintes hipteses:

    As revistas Veja e CartaCapital realizaram uma cobertura que refletiu suas

    linhas editoriais, sendo uma de posicionamento poltico mais progressista

  • 20

    (CartaCapital) e outra mais conservadora (Veja), ignorando o esforo de

    marketing e comunicao poltica do Governo Federal;

    Apesar das linhas editoriais das revistas estudadas, ambas foram decisivas

    para as estratgias de insero da ministra Dilma na mdia, justamente por

    causa dessas diferenas ideolgicas;

    A vinculao da imagem da candidata Dilma do presidente Lula foi o

    principal componente das estratgias adotadas para viabilizar sua

    candidatura e garantiu a ampla repercusso na imprensa, como nas revistas

    Veja e CartaCapita;

    Com isso a dissertao foi estruturada em quatro captulos, sendo que o primeiro

    se dedica aos conceitos de marketing poltico, comunicao poltica, publicidade,

    propaganda e relacionamento com a mdia, de maneira a diferenciar e articular as ideias

    complementares dos autores sobre essas reas de atuao em uma campanha poltica.

    Traz tambm uma viso prtica, por meio da descrio das tcnicas e ferramentas, do

    uso da comunicao poltica e do marketing poltico.

    O segundo captulo trata do imaginrio poltico e coletivo da populao

    brasileira, com nfase s questes de gnero, um dos aspectos mais relevantes presentes

    na nova candidatura presidncia. Nesse captulo, os aspectos tericos esto

    entrelaados com a histria poltica recente do pas e com as questes de gnero. Ao

    traar a participao feminina na poltica nacional mostra quais foram os desafios

    encontrados para a conquista desta eleio, desde a luta por direito ao voto feminino at

    a eleio da primeira presidenta do pas.

    No terceiro captulo mostra-se a importncia do jornalismo poltico e suas

    fontes. Aborda-se o impacto das duas revistas, Veja e CartaCapital, como veculos que

    tm foco editorial na poltica. Por fim, apresenta-se um breve histrico das revistas

    estudadas para melhor contextualizar o estudo.

  • 21

    O quarto captulo apresenta, detalhadamente, as categorias de anlise, bem como

    as anlises e interpretaes dos resultados das revistas estudadas, feitas por meio de

    grficos, tabelas e as descries das capas e matrias da amostra.

    Por fim, so apresentadas as concluses, tendo em vista os objetivos, as

    hipteses e a pergunta-problema que deram incio a este estudo.

  • 22

    CAPTULO I - COMUNICAO E MARKETING POLTICO:

    DA TEORIA PRTICA

    1.1 Conceitos e interfaces

    Para entender mais sobre a comunicao poltica no mundo e no Brasil

    necessrio recorrer a alguns autores-chave e entender o que eles dizem a respeito de

    comunicao poltica. Alm disso, preciso observar quais as diferenas e semelhanas

    entre a comunicao poltica e o marketing poltico. Para isso, esta dissertao recorreu

    a autores nacionais e internacionais.

    Antes, porm, importante ressaltar que no se pode falar de comunicao

    poltica no Brasil e no mundo sem democracia. A liberdade de expresso e de imprensa

    essencial para a manuteno do Estado democrtico. Essa realidade molda as aes

    governamentais e as campanhas eleitorais.

    Um pas democrtico, segundo Rosenfield (2003), aquele em que o sistema

    poltico formado por vrias formas de liberdades.

    O Estado democrtico , por assim dizer, um sistema poltico

    composto de mltiplas dimenses que se desenvolvem em diferentes

    nveis de profundidade. O seu ser processual. Isto significa que a

    realidade produzida por um regime democrtico constitui-se de vrias

    formas de liberdades. A democracia engendra-se neste cruzamento de

    liberdades que, assim, a concretizam. (ROSENFIELD, 2003, p.33).

    Na histria do Brasil, a democracia aparece em alguns momentos como algo

    frgil e sujeito a mudanas e interrupes, como percebido no incio da repblica com

    o fechamento do congresso pelo primeiro presidente eleito, Marechal Deodoro da

    Fonseca, e nos perodos de regimes de exceo ocorridos no ltimo sculo com o

    Estado Novo institudo por Getlio Vargas de 1937 a 1945 e a Ditadura Militar com o

    Golpe Militar de 1964. Atualmente vive-se, talvez, o mais longo perodo democrtico

    de toda a existncia do pas.

  • 23

    Mas, apesar dos avanos, especialmente da estabilizao da moeda e da

    diminuio da pobreza por meio dos programas sociais realizados pelos ltimos

    governos, ainda h muitos desafios a serem superados, como a desigualdade social e a

    corrupo, entre outros.

    Viver em uma democracia exige que os direitos sejam respeitados. Porm, h

    que se cumprir deveres tambm, o que implica no exerccio da cidadania. Para

    Rosenfield (2003), a poltica de amanh o que cada um planta hoje.

    O individuo antes de tudo cidado, ou seja, membro de uma cidade.

    No se trata, pois de uma preocupao estritamente individual, mas

    diz respeito ao valor e a perenidade da coletividade. A comunidade

    poltica que legada s prximas geraes provm da

    responsabilidade que cada um assume, hoje, em relao a assuntos

    coletivos (ROSENFIELD, 2003, p.10).

    Partindo da democracia, e do princpio de que cada cidado possui o direito

    informao, chega-se ao objetivo deste captulo que a comunicao poltica e suas

    relaes e interfaces com o marketing poltico.

    1.2 Comunicao Poltica e Marketing Poltico

    comum a confuso entre comunicao poltica e marketing poltico. Apesar do

    senso comum apontar que ambos so a mesma coisa, o marketing poltico no

    comunicao poltica. Conforme citado por Bobbio(1983):

    A Comunicao poltica pode ser definida como o conjunto das

    mensagens que circulam dentro de um sistema poltico,

    condicionando-lhe toda a atividade, desde a formao das demandas e

    dos processos de converso s prprias respostas do sistema

    (BOBBIO, 1983, p.200).

    Assim, a comunicao poltica, segundo o terico, est no universo das

    mensagens. J com relao ao conceito de marketing poltico, Rego (2006) assim

  • 24

    menciona logo no prefcio do livro Na arena do marketing poltico, organizado por

    Queiroz (2006):

    Marketing um sistema-meio, com regras e mtodos prprios de

    produo, e, como tal, se prope servir esfera maior, o prprio

    sistema poltico. Ainda: o marketing no se restringe ao eixo da

    comunicao, como se tem feito entender no pas. Abriga, alm de

    vasta rede de comunicao, outros vetores como a pesquisa, o

    discurso, a articulao social e poltica e a mobilizao das massas.

    Com esse escopo, o marketing poltico expressa um conjunto de

    formas e meios de operar a poltica, mudando seu modus operandi no

    tempo e no espao (REGO In: QUEIROZ, 2006, p.7).

    Pode-se observar que os dois conceitos remetem ao sistema poltico, entretanto

    enquanto a comunicao poltica se encerra no contexto desse sistema, o marketing

    poltico vai alm ao agregar diversas tcnicas de outras reas do saber, alm das

    prprias tcnicas da rea de comunicao, conseguindo assim se destacar como um

    sistema com caractersticas prprias.

    Com isso, pode-se dizer so diferentes e que em muito se assemelham e se

    complementam, sem se aventurar na qualificao de um como melhor que o outro.

    Feita essa diferenciao devem ser considerados outros conceitos e vises sobre

    comunicao poltica e marketing poltico que abrangem as complexidades de cada um

    deles, alm de possibilitar a viso de todas as suas nuances.

    Inicialmente, o conceito de comunicao poltica parece simples, afinal

    poderamos dizer que a comunicao realizada pelos membros e instituies polticas,

    voltada para a sociedade como um todo, mas, principalmente, para os eleitores.

    Entretanto, atualmente este conceito est muito mais desenvolvido, abrangendo

    diversas outras situaes e outros atores, sendo estudado por vrias reas do saber,

    como a sociologia, cincias polticas, economia, filosofia, alm da comunicao social.

    Em comunicao poltica, alm do processo comunicacional das instituies e

    membros polticos so abarcados outros itens, como a relao desses atores com as

    mdias, todo e qualquer ato de manifestao poltica, a opinio pblica e a influncia

    que esta sofre pela atuao dos meios de comunicao.

    Em sua tese de doutorado, Medina (2006, p.67) nos mostra a seguinte definio:

    Podemos, actualmente, entender por comunicao poltica o cenrio onde polticos,

  • 25

    jornalistas e opinio pblica tentam, cada um por si, alcanar o papel principal da

    interminvel novela poltica".

    Essa mesma ideia est presente no conceito da professora da USP (Universidade

    de So Paulo), Helosa Helena Matos (2006), que v a comunicao poltica como um

    processo complexo e interativo.

    Comunicao Poltica entendida como processo interativo, incluindo a

    troca de informaes entre atores polticos, a mdia e o pblico. Configura-se

    muito prxima de uma representao sistmica, caracterstica do

    funcionalismo (MATOS. 2006, p.68).

    Disso advm a percepo da interao necessria entre o poltico, a mdia e a

    sociedade para ser possvel a realizao do processo de comunicao poltica.

    Ao considerarmos que a comunicao poltica tem por objetivo mster a

    continuidade, manuteno e ampliao do poder, podemos afirmar que ela precisa ser

    dinmica e adaptvel s realidades na qual inserida.

    Sobre as caractersticas da comunicao poltica, Medina (2006) destaca que

    algumas so essenciais sua execuo, culminando nos resultados desejados.

    Continuidade: considerado como a caracterstica principal, tem relao

    com manter um canal permanente de comunicao com o eleitorado,

    ajustando-se somente a quantidade de informao e interao de acordo

    com o momento vivenciado;

    Fluxo de informaes: com o nome de Intensidade Temporal, esta

    caracterstica relacionada quantidade de informaes apresentadas a

    cada momento, destacando que essa dosagem no pode nunca ser

    excessiva ou muito escassa;

    Abrangncia: deve ser avaliado todo o contexto social no qual ser

    veiculada a comunicao, considerando-se todas as caractersticas da

    sociedade que podem ou no ser afetadas pela informao;

    Credibilidade: pode ou no estar na mensagem. Entretanto, despertar

    um sentimento de falta de credibilidade nas informaes transmitidas

    pode ser complicado para o poltico.

  • 26

    Essas caractersticas da comunicao poltica tambm so utilizadas pelo

    marketing poltico para atingir seus objetivos. Para Matos (2006), que trabalha com a

    abordagem de Gerstl3, na qual a comunicao poltica vista por trs concepes, que

    no so excludentes e podem ou no se complementarem, o marketing poltico se inclui

    em uma delas.

    Gerstl (2005) prope uma abordagem do processo de Comunicao Poltica

    partindo de trs concepes: a instrumental, a ecumnica e a competitiva; s

    quais acrescento a deliberativa, como possibilidade de indicar o lugar e as

    finalidades que envolvem os agentes sociais na Comunicao Pblica. Essas

    abordagens no so excludentes e nem so pensadas de modo evolutivo

    (MATOS, 2006, p.67).

    Segundo essa abordagem, a comunicao poltica no mbito instrumental

    realizada a fim de seduzir e manipular a opinio pblica e tambm pode ser vista como

    educativa e cultural. Na ecumnica, a comunicao concebida como processo

    interativo, por trocas de informaes, entre polticos, mdia e sociedade. J a abordagem

    competitiva est ligada disputa, como afirma Matos (2006, p.69) [...]se apoia no

    embate para influenciar e controlar, pela mdia, as percepes pblicas dos

    acontecimentos polticos que esto em jogo. J na deliberativa, que inclusa pela

    autora, o debate coletivo entra em jogo como importante condio da democracia.

    Desta maneira, para Matos (2006), o marketing poltico est contido na

    comunicao poltica e segue mais a abordagem da comunicao no mbito

    instrumental, principalmente pelo seu carter persuasivo.

    No entanto, o marketing poltico emerge com suas estratgias de

    buscar, no consumidor real e/ou potencial do mercado poltico-

    eleitoral, as expectativas e desejos, imprimindo, assim, na viso

    instrumental, os atributos e potencialidades esperados nos candidatos

    aos cargos eletivos e nos governantes em atuao (MATOS, 2006,

    p.68).

    3 Jacques Gerstl, francs autor de obras como La Communication Politique (2008) e Les Effets

    D'Information En Politique (2001)

  • 27

    Para ponderar sobre o conceito de marketing poltico h outros autores que

    discorrem sobre o tema, cada qual de perspectivas diferentes ou, s vezes,

    complementares. De acordo com Rego (2006) marketing poltico :

    [...] cincia, arte e tcnica que se alimentam dos climas sociais, das

    identidades de atores principais e secundrios, da geografia ambiental,

    do clima das circunstncias, do sistema normativo, e, por

    consequncia, um espelho que projeta a imagem da prpria cultura

    poltica (REGO in: QUEIROZ, 2006, p.7).

    Em contraponto a essa definio mais funcional de marketing poltico, pode-se

    citar a opinio de Santos (2010) que carrega uma perspectiva mais idealista.

    Em sntese, configura-se como um agregado de programas e aes

    voltados para o ambiente poltico, visando estreitar relaes de

    interesse coletivo entre os cidados e o governo, a fim de promover o

    atendimento dos anseios e das necessidades de governados e

    governantes, para alcanar uma sociedade melhor e mais justa para

    todos (SANTOS, 2010, p.39).

    Para essa dissertao foi considerado o conceito de que a Comunicao Poltica

    diferente do marketing poltico, como vimos pelas definies. Entretanto, o marketing

    poltico faz uso da Comunicao Poltica para se realizar, pois a comunicao poltica

    deve ser realizada de maneira mais ampla e desinteressada (funcionando muitas vezes

    como prestao de contas e explicaes das aes do governo ou entidade poltica,

    sociedade), enquanto que o marketing poltico corre na direo personalista, tentando

    agregar adeptos seja ao governo, aos polticos ou outras entidade polticas.

    1.3 O estudo do Marketing Poltico no Brasil

    Apesar do sentido pejorativo adquirido pelo marketing poltico atravs do tempo

    e da recente popularizao do termo, pode-se perceber que, na realidade, os

    profissionais de marketing poltico buscam conciliar os desejos e as necessidades da

    sociedade e dos polticos por meio da promoo da democracia e da livre expresso.

  • 28

    Para a definio do uso das estratgias de marketing poltico no cenrio poltico

    Rego (1985) nos mostra que:

    A utilizao das tcnicas do marketing na poltica decorrncia da

    prpria evoluo social, O conflito de interesses, as presses sociais, a

    quantidade de candidatos, a segmentao do mercado, as exigncias

    de novos agrupamentos de eleitores, o fortalecimento dos grupos de

    presso, a competio desmesurada, a industrializao, os novos

    valores ditados pela indstria cultural e o crescimento vegetativo da

    populao constituem, entre outros, os elementos determinantes da

    necessidade de utilizao dos princpios de marketing aplicados

    poltica (REGO, 1985, p.14).

    Assim, percebe-se que o marketing poltico utilizou-se de diferentes reas e de

    diversas tcnicas e ferramentas para se desenvolver, tendo com isso criado um

    verdadeiro sistema tcnico e conceitual sobre sua atuao.

    Sendo muito recente no Brasil, desenvolveu-se principalmente a partir da

    redemocratizao do pas.

    A abertura poltica dos anos 80 trouxe consigo uma vida

    pluripartidria, liberdade de imprensa e expresso em todos os

    veculos, bem como a necessidade de profissionalizao neste campo

    de atuao, fazendo surgir uma srie de espaos para a pesquisa, para

    o desenvolvimento profissional de jornalistas, publicitrios, relaes

    pblicas, cineastas, escritores e planejadores que trouxeram para a

    interface comunicao e poltica um nvel de interesse acentuado.

    (QUEIROZ, 2008, p.198)

    Ainda, segundo Queiroz, a expresso marketing poltico surge nos Estados

    Unidos, como uma forma de definir as aes estratgicas da comunicao no mbito

    poltico.

    O Brasil tem experimentado, ao longo de sua histria, impactos

    diferentes para as aes comunicacionais no campo da propaganda

    poltica e do marketing poltico. Esta ltima expresso comeou a ser

    utilizada por profissionais dos Estados Unidos para definir aes

    estratgicas de comunicao aplicada em eleies democrticas de

    todos os nveis, que propiciaram a militantes e pesquisadores do

    campo um perfil tcnico muito desenvolvido e uma produo

    cientifica bastante respeitada (QUEIROZ, 2011, p.47)

  • 29

    Para o pesquisador existem algumas obras que so relevantes para a

    compreenso do marketing poltico. No Brasil, essas obras chegaram por meio de

    tradues. Queiroz cita algumas dessas obras, dentre elas: o livro de Jean Marie

    Domenach, A Propaganda Poltica, e de Serge Tchakhotine, A mistificao das massas

    pela propaganda poltica. Depois dessas tradues, alguns especialistas comearam a

    escrever suas prprias contribuies como profissionais.

    A compreenso terica da propaganda poltica inicia-se no Brasil a

    partir da traduo de obras. Depois viriam os estudos de especialistas,

    jornalistas e publicitrios que comearam a colocar no papel

    experincias profissionais vivenciadas, como Jos Marques de Melo,

    Nelson Jahr Garcia, Nei Figueiredo, Joseph Luyten, Ronald Kuntz,

    Carlos Brickmann e Gaudncio Torquato (QUEIROZ, 2011, p48)

    Sobre o incio de uma carreira poltica, Gaudncio Torquato do Rego (1985,

    p.14) diz: O marketing poltico, entendido como o esforo planejado para se cultivar a

    ateno, o interesse e a preferncia de um mercado de eleitores, o caminho indicado e

    seguro para o sucesso de quem deseja entrar na poltica.

    Para Santos (2012, p.39) o marketing poltico envolve todas as estratgias de

    ao relacionadas poltica. Sendo assim o marketing poltico est inserido em todas

    as aes polticas e, principalmente, sempre remete ao.

    Com seu estudo e desenvolvimento, o marketing poltico se tornou um grande

    aliado de polticos e candidatos, sendo visto de duas formas distintas quanto sua

    prtica, objetivos, estratgias e ferramentas utilizadas: uma com objetivos de longo

    prazo, o marketing poltico propriamente dito, e outra de curto prazo, que se denomina

    marketing poltico eleitoral, ou simplesmente marketing eleitoral.

    O esforo de marketing poltico nos governos, especialmente queles que

    desejam indicar sucessores, tem endereo certo: a opinio pblica. Logo, os futuros

    eleitores. Nesse contexto, os grandes veculos de comunicao, assim como todos os

    tipos de mdia, tornam-se alvos do marketing poltico, de maneira que as aes do

    governo possam ser acompanhadas e divulgadas pelos veculos, mantendo a imagem

    que a instituio governamental pretende perante a nao.

    Investigar como essas estratgias de marketing poltico reverberam na grande

    mdia, considerando que a comunicao entre governo, pr-candidata Dilma Rousseff e

  • 30

    mdia dinmica, considerar tambm que a imagem do governo interfere

    sobremaneira na candidatura eleitoral sucessria.

    Para Serra (2001), embora grande parte da mdia esteja sob o controle dos

    poderes j estabelecidos, ela ainda assim interage de maneira dinmica com o processo

    poltico, sendo que tanto a imprensa influencia o processo poltico quanto este

    influencia a mdia.

    O modelo de disputa poltica, political contest model (Wolsfeld,

    1997), por outro lado, embora reconhea o papel central da mdia

    como arena poltica, tambm parte do suposto de que o processo

    poltico mais provvel de influenciar a mdia do que o contrrio,

    sugerindo que o ciclo de influncia comea na poltica e o papel da

    imprensa depende maior ou menor nvel de controle das autoridades

    sobre o ambiente. (SERRA, 2001, p.94).

    No caso do pr-lanamento da candidatura de Dilma Rousseff como sucessora

    do governo Lula, a repercusso da imagem do governo e da ento ministra-chefe da

    Casa Civil foi essencial, uma vez que a ministra estava ligada diretamente aos projetos

    do governo e era pouco conhecida pela populao brasileira.

    Nesse sentido, o autor Cervi (2010) nos mostra que, muitas vezes, o

    comportamento poltico pode influenciar a opinio pblica. O comportamento poltico

    como um todo, e em especial o comportamento eleitoral, pode ser considerado como

    forma de institucionalizao da opinio pblica a respeito de determinado tema ou

    conjunto de temas, e em dado momento histrico (CERVI, 2010, p.10).

    Aps as eleies de 2010, com a vitria, em segundo turno da candidata Dilma

    Rousseff, pode-se averiguar que a opinio pblica aprovou a gesto do governo Lula,

    votando pela sua continuidade. Pelas dificuldades naturais de se realizar uma campanha

    com uma candidata pouco conhecida do grande pblico e praticamente nenhuma

    experincia eleitoral anterior, as estratgias de marketing poltico utilizadas durante o

    governo em favor da futura candidata propiciaram aos profissionais envolvidos na

    campanha um terreno preparado para a execuo do marketing eleitoral durante a

    campanha e, principalmente, antes do perodo eleitoral, sendo assim decisivo para o

    sucesso nas urnas.

  • 31

    1.4 A prtica do Marketing Poltico Eleitoral

    Como foi visto o marketing poltico essencial a todo poltico que pretenda

    organizar e planejar sua trajetria poltica esteja o poltico no governo, na oposio, em

    cargo eletivo ou no. Tambm importante ressaltar que em perodos eletivos o

    marketing poltico adquire novos contornos, que exigem resultados imediatos: votos em

    determinada eleio.

    Sendo assim as estratgias de longo prazo do lugar s estratgias e ferramentas

    de curto prazo, que objetivam o resultado da eleio. importante apresentar as

    caractersticas do marketing poltico eleitoral, tambm conhecido simplesmente como

    marketing eleitoral. Segundo Ronald Kuntz (2006, pp.19-20), O marketing eleitoral o

    marketing da conquista, que rene a fora e a convico obstinada da paixo com a

    astcia, o planejamento e a estratgia da guerra. Portanto, h uma maneira diferente de

    atuar no marketing poltico quando se trata de perodos de campanha e de governos

    eleitos.

    Para o pesquisador, consultor poltico e presidente da ABCOP (Associao

    Brasileira de Consultores Polticos), Carlos Manhanelli, marketing eleitoral muito

    diferente de marketing poltico, embora um complemente o outro. Manhanelli (2009,

    p.24) afirma: O marketing eleitoral somente uma parte do trabalho subordinado a um

    contexto maior que o marketing para uso poltico.

    Com isso pode-se observar que o marketing poltico bem mais amplo que o

    marketing eleitoral, uma vez que o marketing poltico essencial para a concretizao

    de uma trajetria poltica de longo prazo, enquanto que o marketing eleitoral utilizado

    para objetivos imediatistas, sendo em geral utilizado em estratgias mais agressivas para

    obter o sucesso nos pleitos disputados.

    Entretanto, em perodos de disputas eleitorais sempre se pratica o marketing

    eleitoral, pois como cita Barel (2007) apud Ronald Kuntz (2006, p.19-20) o marketing

    eleitoral o marketing da conquista, que rene a fora e a convico obstinada da

    paixo com a astcia, o planejamento e a estratgia de guerra.

  • 32

    O momento mximo do marketing eleitoral se concretiza durante uma campanha

    poltica, e, segundo Manhanelli, em seu livro Eleio guerra: marketing para

    campanhas eleitorais (2009), para conseguir definir estratgias eficientes deve se

    considerar, entre diversas outras situaes e aes, as leis bsicas do marketing eleitoral:

    1- Lei da indiferena: nesta lei esto inseridos os indecisos e os indiferentes

    que no notam o que se passa ao redor;

    2- Lei da procrastinao: nesta lei inclumos o hbito de deixar tudo para

    ltima hora, fato caracterstico do brasileiro. Com o voto da mesma

    maneira; a deciso pelo candidato muitas vezes ocorre no ltimo momento;

    3- Lei da efemeridade: tem relao com o valor que os eleitores do ao seu

    voto e sua ligao com os candidatos.

    Manhanelli (2006) tambm cita que necessrio para o desenvolvimento de uma

    campanha a organizao de um mix de comunicao integrada disposto da seguinte

    maneira:

    Marketing: inclui pesquisas, sondagens, avaliaes tticas, estratgias,

    criao e novas aes;

    Propaganda e publicidade: inclui estudo de mdia, veiculaes, criao

    artstica, fornecimentos de layouts, outdoors, indoors e peas publicitrias;

    Aes segmentadas de comunicaes: inclui malas diretas, vdeo-

    releases, documentrios especiais, eventos restritos e eventos especiais;

    Radiocomunicao: inclui rdio-releases, matrias jornalsticas e pautas

    para rdio;

    Mdia Eletrnica: inclui filmagens, produo, ps-produo, formatao

    de vdeos, spots, mdia training e tcnicas de abordagens;

  • 33

    Mdia impressa: inclui assessoria de imprensa, orientao de pautas,

    acabamento jornalstico, forma de abordagem, alocao de notcias,

    atendimento imprensa e orientao para coletivas.

    Obviamente uma campanha extremamente dinmica e cada uma tem suas

    prprias caractersticas. As aes apresentadas acima por Manhanelli (2009) servem

    apenas como um referencial de como deve ser fundamentado um mix de aes de

    comunicao integrada.

    Outro fator imprescindvel montar a estrutura da campanha de maneira slida,

    para dar aporte para a campanha e permitir o fluxo da mesma, tambm importante a

    elaborao de um Plano de Marketing. Para Manhanelli (2009) em seu livro Marketing

    Eleitoral O passo a passo do nascimento de um candidato, este plano de marketing

    deve ser elaborado aps a realizao de algumas aes de anlise do ambiente poltico,

    como:

    Executar pesquisas de marketing, qualitativas e quantitativas;

    Considerar os pontos fortes e fracos da campanha, incluindo todos os

    envolvidos no pleito, desde aliados at os adversrios;

    Estabelecer objetivo macro;

    Executar pesquisas internas e externas;

    Estabelecer objetivos de marketing eleitoral;

    Realizar anlise estratgica do pleito.

    Estabelecer pressupostos;

    Definir organograma e cronograma;

    Definir oramento e aporte financeiro;

    Analisar e atualizar.

    1.5 Publicidade e Propaganda Poltica

    Do mix de comunicao integrada citado por Manhanelli (2006), destacamos a

    propaganda e a publicidade neste tpico, em razo de muitas vezes estas serem

  • 34

    confundidas com o prprio marketing poltico. Essa viso tem motivos histricos, que

    sero apresentados; porm, antes preciso definir a diferena entre os termos

    publicidade e propaganda.

    Entre propaganda e publicidade existem tantas semelhanas que, muitas vezes,

    os dois conceitos ficam erroneamente caracterizados como sinnimos.

    Para auxiliar a diferenciao entre os dois pode-se recorrer etimologia das

    palavras. Propaganda tem origem no latim do termo propagare, que em portugus

    significa propagar; j publicidade vem do termo publicus, que significa pblico.

    A propaganda mais ampla e tem objetivos mais profundos do que a

    publicidade. A publicidade objetiva-se tornar algo conhecido, pblico, alm de ter sua

    aplicao mais voltada para a obteno de resultados imediatistas, como venda de um

    produto, promoo de uma marca ou conquista de votos em eleies; enquanto que a

    propaganda visa mudana de hbitos e comportamento, objetivando uma verdadeira e

    profunda mudana de opinies.

    Ao falar sobre propaganda ideolgica, Garcia (1999, p.10) nos diz que sua

    funo a de formar a maior parte das ideias e convices dos indivduos e, com isso,

    orientar todo o seu comportamento social. Obviamente, para atingir este grau de

    influncia necessrio mudar profundamente a ideologia do indivduo.

    Em seu livro A Propaganda Poltica, Jean Marie Domenach (1963) nos mostra a

    comparao entre propaganda poltica e publicidade, traando um paralelo entre esses

    dois termos, alm de demonstrar como uma se apropriou de tcnicas e termos da outra.

    Para Domenach (1963) a publicidade moderna tem o seguinte objetivo:

    [...] ela procura de preferncia impressionar mais que convencer,

    sugestionar antes que explicar. O estribilho, a repetio, as imagens

    atraentes derrotam, progressivamente, os anncios srios e

    demonstrativos: de informativa, torna-se a publicidade sugestiva

    (DOMENACH, 1963, p.23).

    Quando o assunto poltica, necessrio chamar a ateno do pblico, pois,

    como citado por Rosenfield (2003, p.75), a apatia poltica e a inrcia dos cidados

    diante dos assuntos polticos tornam-se um problema estrutural da democracia

    moderna.

    Como o comportamento da sociedade em relao poltica o de apatia, a

    publicidade poltica vem atuar como forma de despertar o desejo e o interesse nas

  • 35

    pessoas nos momentos em que se exige sua participao ativa: nos processos e perodos

    eleitorais.

    Desta maneira possvel vincular a publicidade aos perodos eleitorais, durante

    os quais temos personagens tpicos e processos bem conhecidos e ntimos dos cenrios

    polticos.

    Limita-se a propaganda de tipo publicitrio a campanhas mais ou

    menos espaadas cujo padro a campanha eleitoral; a valorizao

    de certas ideias e de certos homens mediante processos bem

    delimitados, expresso normal da atividade poltica (DOMENACH,

    1963, p.24).

    A propaganda poltica em muito se confunde e, principalmente, se utiliza das

    tcnicas da publicidade no seu desenvolver. Entretanto, ela tem carter diferenciado,

    pois seu principal objetivo no o sucesso em um perodo de tempo delimitado por uma

    ao poltica, como uma eleio, mas uma mudana de comportamento. Com esse

    objetivo a propaganda pretende angariar adeptos de novas ideias e propostas mais que

    simplesmente votos durante o perodo eleitoral. Domenach (1963) exemplifica com a

    propaganda ideolgica:

    Outro tipo de propaganda, de tendncia totalitria, decorre da fuso da

    ideologia com a poltica; intimamente ligada progresso ttica, joga

    com todas as molas humanas. No se trata mais de uma atividade parcial e passageira, mas da expresso concreta da poltica em

    movimento, como vontade de converso, de conquista e de explorao

    (DOMENACH, 1963, p.25).

    Essa viso de ideologia com propaganda poltica foi e muito utilizada nas

    guerras, tendo sua primeira grande aplicao durante a Revoluo Francesa.

    Depois de 1791 a ideologia alia-se aos exrcitos para a conduo das

    guerras, tornando-se a propaganda a auxiliar da estratgia. Visa-se

    criar, internamente, a coeso e o entusiasmo e instaurar, no campo

    inimigo, a desordem e o medo. Ao abolir, cada vez mais, a distino

    entre a frente e a retaguarda, a guerra total oferece propaganda,

    como campo de ao, no s os exrcitos, mas as populaes civis,

    pois, visando as segundas, atinge-se talvez mais seguramente as

    primeiras; consegue-se mesmo sublevar essas populaes, suscitando

    o aparecimento de novos tipos de soldados, homens, mulheres,

  • 36

    crianas, na retaguarda do inimigo: espies, sabotadores ou

    guerrilheiros. (DOMENACH, 1963, p.26)

    Essa unio serviu como base para a disseminao de algumas ideologias e foi

    utilizada por polticos em suas reformas ou revolues, como a revoluo bolchevista na

    Rssia, em 1917.

    Ao falar da propaganda do marxismo-leninismo, Domenach (1963) cita:

    A propaganda triunfa ao ponto de dissolver-se no conjunto das

    atividades polticas, econmicas e intelectuais de um Estado. Cada

    uma dessas atividades apresenta um aspecto propagandstico. A

    obsesso dela resultante, certos processos de encenao coletiva, a

    direo centralizada dos instrumentos de difuso, a censura, a

    explorao dos novos acontecimentos, tudo isso no se origina

    absolutamente do marxismo-leninismo, mas da utilizao totalitria da

    propaganda (DOMENACH, 1963, pp.44-45).

    Durante a segunda grande guerra, a propaganda atinge novo pice em sua

    aplicabilidade por meio da propaganda nazista. Foi no governo de Hitler que Joseph

    Goebbels, ministro da Conscientizao Pblica e Propaganda, realizou uma verdadeira

    revoluo na propaganda, criando tcnicas utilizadas at os dias atuais, apesar dos

    nefastos objetivos originais.

    O grande nmero de tcnicas e processos introduzidos pelo nazismo

    em matria de propaganda, todavia, subsiste mesmo fora do clima de

    dio e delrio em que desabrocharam e nada pode impedir que,

    doravante, faam parte do arsenal da propaganda poltica

    (DOMENACH, 1963, p.46).

    A propaganda poltica uma das principais aliadas na comunicao poltica, mas

    como foi mencionada anteriormente, a relao com a imprensa tambm um dos

    vetores essenciais para os governos, tanto em processos eleitorais quanto durante os

    mandatos, para atingir a opinio pblica.

  • 37

    1.6 Relacionamento com a mdia

    Observa-se que o marketing poltico imprescindvel para os governos, mas

    tambm uma assessoria de imprensa bem estruturada leva a uma comunicao poltica

    eficaz. Essa eficincia de fundamental importncia para o relacionamento com a

    mdia, uma vez que a imprensa depende do processo poltico e vice-versa.

    No so muitos os atores polticos (polticos e partidos) que entendem a

    montagem de uma assessoria de imprensa qualificada como ferramenta essencial para

    obteno e manuteno do poder.

    Uma assessoria eficiente tem como objetivo dar visibilidade ao seu assessorado,

    fazer com que este seja bem visto e mais conhecido pela sociedade. Os polticos mais

    preparados entendem que uma assessoria qualificada pode ser fundamental para o

    prximo degrau na carreira, como afirma o professor e pesquisador Roberto Gondo

    Macedo (2007).

    Casos de polticos que compreendem que o planejamento ps eleitoral necessrio para que os prximos degraus sejam alcanados,

    certamente investem na assessoria de imprensa para suprir e

    enriquecer o seu contato com os canais de comunicao regional e se

    possvel nacional. (MACEDO, 2007, p.91).

    Obviamente que alm de bons atos a serem divulgados e propagados

    necessrio ter profissionais em sua equipe de assessoria de imprensa que tenham, alm

    de competncia tcnica, bom relacionamento com a mdia, pois uma notcia por si s

    no tem carter definido, como diz Serra (2001):

    Nenhuma notcia pura no sentido de que esteja livre de influncias

    ou isenta de enfoques ou de retoques que revelem, em primeira ou

    ltima instncia, o sistema editorial (ideolgico) que dela se apropria e

    transforma num objeto noticioso impregnado de outros tantos sentidos

    que no se restringem apenas ao fato ou ao evento no qual uma notcia

    se origina, mas a todo um complexo de informaes concorrentes,

    paralelas e coadjuvantes que criam os status de notcia que mobiliza o

    sistema de comunicao como um todo. Serra (2001, p.94)

  • 38

    Pelo descrito acima torna-se imprescindvel, na comunicao com a mdia,

    conhecer os veculos e ter bons relacionamentos, para que suas tentativas de promoo

    do assessorado no se convertam em notcia corrompida ou deturpada.

    A opinio pblica formada pela quantidade e qualidade das informaes a que tem

    acesso. Por isso, se um ator poltico no consegue estar na mdia no conseguir sucesso

    no sistema poltico.

    Um grande entrave no conceito de Marketing Poltico de que se o

    poltico no comunicar com a imprensa, seja atravs de seu

    departamento ou empresas especializadas, nada conseguir mostrar a

    sociedade, mesmo que tenha realizado fatos significativos.

    (MACEDO, 2007, p.92).

    Pode-se perceber a necessidade de, alm de bons atos a comunicar, obter meios

    para realizar uma comunicao eficiente e que promova os atores polticos, pois a mdia

    e a opinio pblica esto em constante movimento. Conforme cita Sissors (2001, p.75)

    O relacionamento entre o pblico e a mdia passa por toda a gama entre o casual e o

    intenso.

    Ao considerar a relao com a mdia, temos que pensar que ela est interligada,

    sob a viso do sistema poltico, em dois polos: o do pblico, que converge para a

    opinio pblica, e o dos atores polticos, que esto interessados em obter a aprovao da

    opinio pblica.

    Veremos mais sobre o relacionamento com a mdia no capitulo trs. Antes,

    importante observar que a efetivao da comunicao poltica e do marketing poltico

    exige diversos conhecimentos para se elaborar uma estratgia poltica slida. Por isso,

    no prximo captulo aborda-se a questo do imaginrio e do gnero, fatores que so

    extremamente ligados estratgia de comunicao adotada pelo governo Lula para

    viabilizar a candidatura de Dilma Rousseff.

  • 39

    CAPTULO II - IMAGINRIO E GNERO NA COMUNICAO

    PARA ELEGER A PRIMEIRA PRESIDENTA DO BRASIL

    2.1 O imaginrio

    Pode-se dizer que o primeiro ato poltico de uma pessoa o seu nascimento,

    como conclui o filsofo Aristteles parafraseado pela professora Lcia Santaella (1996,

    p.320), ao afirmar que tudo o que humano poltico. Considerando esta afirmao,

    tem-se que toda e qualquer ao realizada por um indivduo um ato poltico. No

    necessrio dizer tambm que nossa histria se desenvolve em sociedade, conforme diz

    Cornelius Castoriadis (1981, p.230): o homem s existe na e pela sociedade e a

    sociedade sempre histrica. Sendo assim, a nossa histria se desenvolve de maneira

    poltica em sociedade, em constante transformao. Essa transformao da sociedade,

    em todos os quesitos, considerando do racional at o emocional, compe o que

    chamamos de imaginrio e este vive em construo o tempo todo.

    Para falar sobre a construo do imaginrio necessrio explicar primeiro o que

    o termo significa e como ele formado, por isso buscamos algumas definies, sem,

    contudo, termos a pretenso de nos aprofundarmos a respeito. O intuito aqui tentar

    entender a relao entre as aes de comunicao da pr-candidata Dilma Rousseff e o

    imaginrio da mulher no cenrio poltico brasileiro.

    Assim, alguns autores que estudam o assunto so mencionados neste tpico para

    uma melhor compreenso do termo, cujo conceito amplo e controverso. Isso nos

    permitir entender como o imaginrio est diretamente ligado s nossas vidas.

    Partimos ento da pergunta: Afinal, o que vem a ser o imaginrio? Na

    contemporaneidade, um estudioso que tem desenvolvido amplas reflexes acerca do

    termo Michel Maffesoli (2001), que aborda a dimenso diversa do imaginrio:

    O imaginrio permanece uma dimenso ambiental, uma matriz, uma

    atmosfera, aquilo que Walter Benjamin chama de aura. O imaginrio

    uma fora social de ordem espiritual, uma construo mental, que se

    mantm ambgua, perceptvel, mas no quantificvel (MAFFESOLI,

    2001, p.75).

  • 40

    Ao tentar desenvolver um conceito sobre o termo, Maffesoli (2001) ressalta o

    carter racional e emocional do imaginrio e suas motivaes:

    J o imaginrio, mesmo que seja difcil defini-lo, apresenta, claro, um

    elemento racional, ou razovel, mas tambm outros parmetros, como

    o onrico, o ldico, a fantasia, o imaginativo, o no-racional, o

    irracional, os sonhos, enfim, as construes mentais potencializadoras

    das chamadas prticas (MAFFESOLI, 2001, p.76).

    Em entrevista revista Famecos4, o socilogo francs destaca a relao entre

    comunidades e imaginrio, reforando a ideia de construo social. O imaginrio o

    estado de esprito de um grupo, de um pas, de um estado-nao, de uma comunidade,

    etc.. O imaginrio estabelece vnculo. cimento social. Logo, se o imaginrio liga, une

    numa mesma atmosfera, no pode ser individual (FAMECOS, 2001, p.76).

    A dimenso social do imaginrio tambm est clara para outros autores. Porm,

    alguns revelam uma viso menos abrangente sobre o termo, como Dnis Moraes (1994)

    pois, para o autor, o imaginrio social entendido numa perspectiva mais afetiva:

    O imaginrio social composto por um conjunto de relaes

    imagticas que atuam como memria afetivo-social de uma cultura,

    um substrato ideolgico mantido pela comunidade. Trata-se de uma

    produo coletiva, j que o depositrio da memria que a famlia e

    os grupos recolhem de seus contatos com o cotidiano. (MORAES,

    1994, p.01)

    O comum entre os autores a afirmao que o imaginrio coletivo, vindo de

    apreenses de cada indivduo e compreendido no coletivo por um grupo. A

    pesquisadora Magali do Nascimento Cunha ressalta os aspectos culturais, mas tambm

    um olhar interessado do indivduo:

    A noo de imaginrio surge em relao a tudo que se apreende

    visualmente do mundo e elaborado coletivamente. Deste modo o

    imaginrio diz respeito s expresses culturais e se modifica na

    configurao da identidade que cada cultura produz e sustenta como

    sua.[...]

    4 Revista Famecos Mdia, Cultura e Tecnologia, uma publicao cientfica quadrimestral da Ps

    Graduao em Comunicao Social da PUC do Rio Grande do Sul.

  • 41

    Compreendido no coletivo, imaginrio, no entanto, est condicionado

    ao olhar do sujeito, um olhar interessado no objeto e alimentado pelo desejo. (CUNHA, 2011, p.38)

    Portanto, apesar de construdo coletivamente, h um vis individual, porque

    preciso um interesse do sujeito pelo objeto. Barros (2010), em consonncia com Cunha,

    enfatiza o aspecto cultural e, portanto, antropolgico, ressaltando a importncia do

    imaginrio para a comunicao:

    No campo da Comunicao, a discusso sobre o imaginrio torna-se

    estratgica, posto que a relao com o real fundante dos fenmenos

    comunicacionais. Assumindo-se a perspectiva simblica (do

    imaginrio), entende-se que o ato comunicacional no se firma

    puramente em dados histricos, sociolgicos, culturais; tampouco em

    pulses inconscientes. Na verdade, esses dois polos definem a

    trajetria simblica, tambm chamada de trajeto antropolgico e,

    ainda, de trajeto do sentido. (BARROS, 2010, p.129)

    A comunicao ento o que viabiliza a construo coletiva do imaginrio,

    sendo ele fundante das interaes humanas, calcadas nas apreenses do cotidiano e

    moldadas pela cultura.

    Apesar da existncia de diversas formas de se analisar o imaginrio, seja atravs

    das noes fundadoras de Carl Jung (1875-1961) que utilizam as noes de arqutipos5,

    imagens e smbolos, ou atravs da sistematizao proposta por Gastn Bachelar (1884-

    1962) que implica no devaneamento espontneo ao invs da procura de imagens prontas

    para se possvel o estudo do imaginrio analisando forma e contedo, ou ainda na

    reflexologia proposta por Gilbert Durant (1921-2012), um fato recorrente: a mudana

    da realidade por meio da criao de novos imaginrios.

    Como o objetivo deste trabalho est no mbito da poltica partidria, e do

    exerccio democrtico da escolha de representantes da sociedade para prezar pelo

    interesse pblico na cidade, no estado ou no pas, interessa-nos destacar tambm como o

    imaginrio poltico formado. De acordo com Maffesoli (2001) o imaginrio poltico

    trabalha com a argumentao e com o emocional, esses so apelos recorrentes na

    publicidade, propaganda e marketing.

    5 Arqutipo um conjunto de imagens psquicas presentes no inconsciente coletivo, que surgem atravs

    das vivncias de um povo e retransmitidas geneticamente aos seus descendentes.

  • 42

    O imaginrio poltico trabalha com a argumentao atravs de um

    arsenal de mecanismos emocionais, como os smbolos de um partido,

    as datas que devem ser comemoradas, os heris e mitos que devem ser

    lembrados, os ritos que precisam ser atualizados. O marketing, em

    poltica, resume o cruzamento da razo - o planejamento publicitrio

    racional - com a valorizao do emocional. (MAFFESOLI, 2001,

    p.78)

    Sintetizando, entendemos, ento, que o imaginrio coletivo e se forma por

    meio das apreenses do cotidiano de um grupo, pas ou comunidade. E que o imaginrio

    poltico trabalha basicamente com a argumentao por meio de um arsenal de

    mecanismos emocionais, tais como smbolos de um partido, cores, entre outros

    aspectos, ou seja, trabalha com arqutipos. Pode ser construdo e reconstrudo conforme

    os acontecimentos e as vises de cada cultura, esta reconstruo no acontece de uma

    hora para outra, vai se modelando ao longo do tempo.

    Tendo essa noo mais fcil entender como foi se moldando o imaginrio do

    povo brasileiro, at os dias de hoje, quando uma mulher governa o pas. possvel

    cogitar, tendo em vista os resultados eleitorais de 2010, que as diferenas inatas ao

    gnero foram trabalhadas positivamente no lanamento da pr-candidata Dilma. Para

    entender melhor como se chegou at aqui, preciso entender a evoluo histrica da

    mulher na poltica, especialmente a brasileira.

    2.2 A participao da mulher na poltica brasileira

    Falar do gnero feminino nos dias atuais mais fcil que h alguns anos, quando

    as mulheres eram vistas como seres desqualificados perante a sociedade. No imaginrio

    coletivo o gnero feminino estava associado somente ao ambiente domstico: servia

    para cuidar da casa, do marido e dos filhos, era inadmissvel uma mulher que pensasse e

    ousasse expor seus pensamentos e sentimentos. A mulher tampouco tinha o direito de

    estudar; para ela era reservado o ensino bsico e, muitas vezes, nem isso.

    Durante sculos o papel da mulher na sociedade foi de coadjuvante, quando

    menos, de mera progenitora. Cansadas da opresso masculina e das condies

    desfavorveis, as mulheres iniciaram uma mudana que tambm afetou o imaginrio

    coletivo. Expuseram-se e lutaram para que seus direitos fossem alcanados.

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    Alguns fatos mais recentes podem ajudar a compreender melhor como o papel

    social da mulher e o imaginrio do gnero feminino foram se transformando. O pai do

    positivismo, o filsofo francs August Comte (1798-1857), mesmo que de maneira

    errnea (pois essa defesa dos direitos femininos visava melhorar o desempenho da

    mulher no papel de me e educadora dos filhos, e no tinha o objetivo de trat-la com

    igualdade perante os homens), defendia o direito de estudo para as mulheres. Ele

    acreditava que se fossem bem educadas transmitiriam bons ensinamentos aos filhos e,

    consequentemente, teramos uma sociedade mais intelectualizada. Conforme Prado e

    Franco (2012):

    O idealizador do positivismo acreditava que, sendo as mulheres quem

    primeiro educavam os homens, elas deviam ser muito bem formadas.

    Sabendo criar os meninos como bons cidados e empenhadas

    lideranas polticas das naes, as mulheres fariam um bem, no s

    para a famlia, mas tambm para a ptria e, enfim, para a humanidade.