christian boltanski. o independente, 25.05.1990

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  • 8/3/2019 Christian Boltanski. O Independente, 25.05.1990.

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    EXPOSiES Archives de I'anne 1987du journal "EICaso (1987),300 fotografias, 161mpadas elctricas

    FICOES DO HOLOCAUSTOVinte anos de instalaes do parisiense Christian Boltansky, numa retrospectivaitinerante. A arte, a memria, a morte e o colectivo sentimento de culpa e de horror.

    O Independente 25 Maio, 1990

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    o INDEPENDENTE 25 DE MAIO DE 1990 ...................................................................................................

    : RECONsnTUnON, de: Chrlatlan Bolt8nsklj: Whltechapel Art Gellery,: Lonclre8. At 3 de Junho;: MgU8 pera o Vanabbe: MUMUm de Elndhoven. pera: oMuMede GrenabIe.:Aetrospectiva da obra do: artista francs Christian

    Boltanski p r e s e ~ t e m e n t e: exposta na Whitechapel: Gallery rene trabalhos realiza: dos durante um perodo de: aproximadamente 20 anos.: A obrade Boltanski c ria uma: ponte entre os conceitos de: monumento e arquivo, de p: blico e de privado, de espec: fico e de geral. Nascido em1Paris em 1944, o artista no: teve nenhuma experincia: directa da n Guerra Mundial,: mas as marcas deixadas por: este conflito nos anos da sua: infncia foram profundas, con: duzindo-o a uma preocupao: com a fragilidade da vida e aum fascnio com a morte. A

    : memria como mecanismo que: l iga os mortos aos vivos uma: constante inerente aos seus tra: balhos. Arquivo e me: mria representam respectiva: mente as faces privada e pbli: ca dessa memria.I11-52

    o tema central das instalaes dos anos 70 o prprioartista. Nos Essais de reconstitution d'objects ayant appartenu Christian Boltanslci entre 1948 et 1954, e le tentareconstruir a sua prpria infncia fazendo cpias em plastic ina de objectos domsticos(garrafa-termos, chinelos, brinquedos). Estes objectos so expostos em mesas-vitrina quetambm lembram o mobiliriode um abrigo anti -areo hmuito abandonado. Nas Vitrines, roupas, brinquedos e velhas fotografias de famlia soexpostas em caixas de aspectoforense fixadas parede, comose se tratasse de uma recolhasistemtica de informao. Asroupas infantis esto assombradas com a proximidade ambgua dos corposque no mais aspreenchem. Estas roupas sovestgios de um passado irrecupervel. Alis, o passar dainfncia -nos apresentadocomo a primeira insinuao damortalidade (

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    dos de revistas sensacionalistas. Enquanto o trabalho sobreEI Caso mais directo nassuas aluses aos horrores cometidos. Rserve-dtective

    Retratos fotogrficosde tipo policial

    evocam aburocratizao dohorror e da morte, asua converso num

    documento frio, numaestatstica

    menos frontal. Retratos fotogrficos de tipo policial soafixados a caixas de cartomarcadas com um nmero dereferncia, evocando a burocratizao do horror e damorte, a sua converso numdocumento frio, numa estatstica. O contedo de tais arquivos no acessvel ao espectador, situando-se, por conseguinte, no limiar da memriapblica e da privada. As fotografias no nos do qualquer

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    Estas obras manipulam-nosde forma teatral. So, na reali-dade, fices. Ser que importaque as roupas tenham sidocompradas na Feira da Ladra,ou que os retratos sejam decrianas francesas dos anos 80?Penso que no. Christian Boltanski no tem quaisquer pre-tenses de documentao deuma histria real; pelo contrrio, ele usa a forma dodocumento, do arquivo, domonumento para nos forar aresponder, tal como Beuys,que punha gordura dentro devitrinas querendo que acreditssemos que era gordura humana. As obras de Bolstanskitocam num nervo vivo, o sentimento colectivo de culpa ehorror. Tratando do tpicomais sensvel de todos a morteelas habitam de forma vagamente anrquica um universomoral. Demonstram que o conceito de monumento - associado com formas de arte hmuito esvaziadas - pode aindaencontrar uma expresso significante, e que o conceito deinstalao no necessita deser reduzido a um formalismoelegante.

    Ruth Rosengarten,em Londres