cajuína: o líquido que gera renda no semiárido piauiense

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A Cajuína é uma bebida típica do Nordeste preparada de maneira artesanal, ela é feita a partir do suco do caju e não possui álcool. Símbolo da cultura piauiense é ela que ajuda a garantir o pão de cada dia de muitas famílias no Piauí. É o caso da família de Dona Maria Soares de Sousa de 35 anos e João Jurandir Almeida Fernandes de 42 anos. Moradores da comunidade Picos em Castelo do Piauí, o casal possui um quintal onde se concentra uma grande quantidade de cajueiros, todos os anos na época de produção do caju a família não sabia o que fazer com tantos frutos, mas o casal soube aproveitar as oportunidades que a vida lhe apresentou e hoje os cajus garantem um dinheiro extra no orçamento da família. Dona Maria Soares e Seu João Jurandir são casados há 18 anos, o casal tem quatro filhos, dois homens e duas mulheres e são eles que ajudam na fabricação da cajuína. Foi em 2004 que surgiu a grande oportunidade, o casal participou de um curso de produção da bebida ministrado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, SEBRAE para todas às famílias da comunidade Picos. Porém, de todas que passaram pela capacitação, apenas a família de Dona Maria e Seu João Jurandir colocaram em prática o que aprenderam e desde então produzem a cajuína para a comercialização. Dona Maria afirma que antes ela não tinha idéia de como era produzida a bebida, mas o casal pensava na possibilidade já que produziam muito cajus. No curso as famílias aprenderam técnicas para a produção da cajuína, informações sobre o tempo de filtragem, quantidade de gelatina necessária, higiene, instalações adequadas, entre outros aspectos que agregassem valor à produção. Eles aprenderam também formas corretas de seleção e corte do caju, de filtragem e cozimento, o objetivo era que as famílias produzissem cajuína de qualidade para vender e aumentar a renda das famílias. A idéia inicial era que as famílias da comunidade criassem uma cooperativa, se organizassem para fabricar e vender o produto, mas hoje na comunidade somente a família do casal produz a Piauí Ano 4 | nº 69 | fevereiro| 2010 Castelo do Piauí - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Cajuína: o líquido que gera renda no semiárido piauiense 1 ”Cajuina do Piauí” produzida pela família de Dona Maria e Seu Jurandir. Dona Maria colocando os rótulos nas garrafas para serem comercializadas.

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Page 1: Cajuína: o líquido que gera renda no semiárido piauiense

A Cajuína é uma bebida típica do Nordeste preparada de maneira artesanal, ela é feita a partir do suco do caju e não possui álcool. Símbolo da cultura piauiense é ela que ajuda a garantir o pão de cada dia de muitas famílias no Piauí. É o caso da família de Dona Maria Soares de Sousa de 35 anos e João Jurandir Almeida Fernandes de 42 anos. Moradores da comunidade Picos em Castelo do Piauí, o casal possui um quintal onde se concentra uma grande quantidade de cajueiros, todos os anos na época de produção do caju a família não sabia o que fazer com tantos frutos, mas o casal soube aproveitar as oportunidades que a vida lhe apresentou e hoje os cajus garantem um dinheiro extra no orçamento da família.

Dona Maria Soares e Seu João Jurandir são casados há 18 anos, o casal tem quatro filhos, dois homens e duas mulheres e são eles que ajudam na fabricação da cajuína. Foi em 2004 que surgiu a grande oportunidade, o casal participou de um curso de produção da bebida ministrado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, SEBRAE para todas às famílias da comunidade Picos. Porém, de todas que passaram pela capacitação, apenas a família de Dona Maria e Seu João Jurandir colocaram em prática o que aprenderam e desde então produzem a cajuína para a comercialização.

Dona Maria afirma que antes ela não tinha idéia de como era produzida a bebida, mas o casal pensava na possibilidade já que produziam muito cajus. No curso as famílias aprenderam técnicas para a produção da cajuína, informações sobre o tempo de filtragem, quantidade de gelatina necessária, higiene, instalações adequadas, entre outros aspectos que agregassem valor à produção. Eles aprenderam também formas corretas de seleção e corte do caju, de filtragem e cozimento, o objetivo era que as famílias produzissem cajuína de qualidade para vender e aumentar a renda das famílias.

A idéia inicial era que as famílias da comunidade criassem uma cooperativa, se organizassem para fabricar e vender o produto, mas hoje na comunidade somente a família do casal produz a

Piauí

Ano 4 | nº 69 | fevereiro| 2010

Castelo do Piauí - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Cajuína: o líquido que gera renda no semiárido piauiense

1

”Cajuina do Piauí” produzida pela família de Dona Maria e Seu Jurandir.

Dona Maria colocando os rótulos nas garrafas para serem comercializadas.

Page 2: Cajuína: o líquido que gera renda no semiárido piauiense

cajuína. De acordo com Dona Maria a produção é feita em pouca quantidade porque o casal teme não conseguir vender uma quantidade maior devido à concorrência que é grande, “a gente faz pouca porque não tem a fábrica, não é registrada, não tem um selo bonito, se tivesse seria mais fácil vender, mas a cajuína feita dessa forma artesanal fica mais difícil de concorrer”, diz.

O casal afirma que a vontade da família é grande em ter uma fábrica onde pudesse produzir uma quantidade maior de cajuína, mas não possuem capital para isso. Trabalham na produção Dona Maria, seu João, os quatros filhos e a sogra, a família fabrica cerca de 2 mil garrafinhas de cajuínas por ano e vende a R$ 1,20 centavos para alguns centros comerciais em Castelo do Piauí, vendidas em casa o preço sobe para R$ 1,50, “a gente até tem vontade de juntar um dinheirinho, mas não dá o pouco que se produz, a gente vende tudo aqui e a gente vai precisando do dinheiro e gastando”, conta.

A família de Seu Jurandir e Dona Maria gastam cerca de R$ 40 reais por 1 kg de gelatina para a produção da cajuína. O material para embalagem é reciclado, as garrafas eles compram em bares e as tampas em comércios, a arte do rótulo foi produzido no computador por um amigo que também ajudou na escolha do nome para o produto “Cajuína do Piauí”. Depois dos gastos com o material, Dona Maria afirma que o que sobra é pouco, mas ajuda muito nas despesas da casa e dos meninos que já estão adolescentes. Ela conta ainda que no começo foi difícil, Seu Jurandir teve que ir a Castelo do Piauí para oferecer de comércio em comercio o produto, as vezes oferecia de porta em porta, “no mesmo ano do curso a gente começou a fazer a cajuína, ele levava para Castelo e procurava saber quem queria comprar e assim de porta em porta, ele foi vendendo”, lembra.

Seu Jurandir sempre trabalhou na lavoura e é dela que tira o feijão, o milho e a mandioca para o consumo da família e para vender o que sobra da produção. Na comunidade quase todas as casas possuem água encanada, mas Dona Maria conta que os moradores sofriam muito porque a água não era boa para beber, “em algumas casas até tem água encanada, mas a água é salgada e não presta para beber só para lavar as coisas e roupas isso quando não falta, porque na maioria das casas falta mais água que tem”, afirma.

As famílias da comunidade foram beneficiada com o Programa Um Milhão de Cisternas Rurais, o P1MC, que resolveu o problema da água de beber. As cisternas, que tem capacidade de receber 16 mil

litros, são abastecidas com a água das chuvas que, através de uma calha de zinco colocada no telhado das residências, escorre para dentro da cisterna. Com o problema da água de beber resolvida a família de Seu Juarez e Dona Maria tem esperança que as coisas melhorem cada vez mais. O sonho de ter sua fábrica de cajuína ainda engatinha, mas como afirma a dona de casa, o começo do sonho a família já conquistou que foi a coragem de iniciar e a determinação de continuar, “a gente sonhar até que sonha, mas o que já temos apesar de querermos mais é um começo, do jeito que produzimos não dá para competir com essas grandes fábricas, o que a gente vende e o que ganhamos ajuda muito aqui em casa, isso já é suficiente para continuar produzindo, se vamos chegar a ter nossa fabrica só Deus sabe, mas como sonhar não custa nada”, comenta Dona Maria.

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Boletim Informativo

do Programa Uma Terra

e Duas Águas Piauí

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

Apoio:

www.asabrasil.org.br

A cisterna de 16 mil litros, mudança na qualidade da água consumida pelas famílias da comunidade.