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A FORMAÇÃO DO LEITOR E O ENSINO DA LITERATURA Jônathas Augusto de SOUZA ( PG-UEL ) A literatura é pois um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a. (Antonio Candido, O escritor e o Público) 1 As definições de “literatura” e “teoria da literatura” tornam-se no decorrer dos séculos XIX e XX campos de estudos com polêmicas que não mantém essas disciplinas sem divergências intelectuais no campo sócio-econômico- cultural. Os críticos literários com vários conhecimentos nas áreas científicas e artísticas, com posturas tradicionais e contemporâneas buscam um denominador comum para a pergunta que norteará o trabalho de muitos críticos futuros: o que é literatura? Algumas considerações poderão ser argumentadas junto a essa problemática. A literatura é definida através de juízos de valor de determinados grupos sociais que exercem e mantêm o poder sobre outros, tendo sua definição uma estreita relação com as ideologias sociais impostas. Se os juízos de valor não são permanentes, permanente não será a definição do que seja literatura. Cairemos então no campo do “relativismo”, mas uma advertência a fazer é que não devemos utilizar a crítica literária para empreender um cepticismo literário; o diálogo permanente com obras e críticas do passado formulam as idéias e posturas das teorias presentes que poderão ser ajustadas no futuro de acordo com o corpus literário analisado, pensamentos ideológicos, grupos de leitores a que se destinam as obras e a postura crítica adotada no período da análise. Assim sendo, não devemos falar de erros e acertos e, sim, de uma visão que conduza os estudos literários aos aspectos sociais de sua época sem prejuízo da arte do autor e do entendimento e prazer do leitor. Para uma concepção de leitura devemos relacioná-la ao contexto sócio- econômico-cultural de uma sociedade e analisar o indivíduo como uma personalidade comunicativa que se utiliza de sua percepção para identificar, separar e analisar os diversos tipos de textos (verbal e não-verbal) que lhe são oferecidos em um determinado contexto. Essa percepção utilizada na leitura está ligada a aspectos emocionais, racionais e sensoriais. Cada um desses três níveis corresponde a um modo de aproximação ao objeto lido. Como a leitura é dinâmica e circunstanciada, esses três níveis são inter- relacionados, senão simultâneos, mesmo sendo um ou outro privilegiado, segundo a experiência, expectativas, necessidades e interesses do leitor e das condições do contexto geral em que se insere. 2 Observamos que a leitura não está totalmente vinculada ao texto escrito e, sim, ligada às possibilidades de interpretações que cada indivíduo faz. Nesse sentido, a proposta desse artigo é proporcionar uma reflexão, em três 1 CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. 3.ed. rev. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973. 2 MARTINS, Maria Helena. O que é leitura.19.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.p.37.

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A FORMAÇÃO DO LEITOR E O ENSINO DA LITERATURA

Jônathas Augusto de SOUZA ( PG-UEL )

A literatura é pois um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a. (Antonio Candido, O escritor e o Público) 1

As definições de “literatura” e “teoria da literatura” tornam-se no decorrer dos séculos XIX e XX campos de estudos com polêmicas que não mantém essas disciplinas sem divergências intelectuais no campo sócio-econômico-cultural. Os críticos literários com vários conhecimentos nas áreas científicas e artísticas, com posturas tradicionais e contemporâneas buscam um denominador comum para a pergunta que norteará o trabalho de muitos críticos futuros: o que é literatura?

Algumas considerações poderão ser argumentadas junto a essa problemática. A literatura é definida através de juízos de valor de determinados grupos sociais que exercem e mantêm o poder sobre outros, tendo sua definição uma estreita relação com as ideologias sociais impostas. Se os juízos de valor não são permanentes, permanente não será a definição do que seja literatura. Cairemos então no campo do “relativismo”, mas uma advertência a fazer é que não devemos utilizar a crítica literária para empreender um cepticismo literário; o diálogo permanente com obras e críticas do passado formulam as idéias e posturas das teorias presentes que poderão ser ajustadas no futuro de acordo com o corpus literário analisado, pensamentos ideológicos, grupos de leitores a que se destinam as obras e a postura crítica adotada no período da análise. Assim sendo, não devemos falar de erros e acertos e, sim, de uma visão que conduza os estudos literários aos aspectos sociais de sua época sem prejuízo da arte do autor e do entendimento e prazer do leitor.

Para uma concepção de leitura devemos relacioná-la ao contexto sócio-econômico-cultural de uma sociedade e analisar o indivíduo como uma personalidade comunicativa que se utiliza de sua percepção para identificar, separar e analisar os diversos tipos de textos (verbal e não-verbal) que lhe são oferecidos em um determinado contexto. Essa percepção utilizada na leitura está ligada a aspectos emocionais, racionais e sensoriais.

Cada um desses três níveis corresponde a um modo de aproximação ao objeto lido. Como a leitura é dinâmica e circunstanciada, esses três níveis são inter-relacionados, senão simultâneos, mesmo sendo um ou outro privilegiado, segundo a experiência, expectativas, necessidades e interesses do leitor e das condições do contexto geral em que se insere.2

Observamos que a leitura não está totalmente vinculada ao texto escrito e, sim, ligada às

possibilidades de interpretações que cada indivíduo faz. Nesse sentido, a proposta desse artigo é proporcionar uma reflexão, em três momentos distintos, sobre a interação do leitor com o texto literário, observando os paradigmas culturais atuais referente a literatura e seu ensino. No primeiro momento teremos uma avaliação do conceito de literatura e aspectos referente a função humanizadora da literatura; em um segundo momento iremos abordar sobre características iniciais da formação do leitor, no ensino escolar, relatando e comentando alguns aspectos do livro Parâmetros curriculares e literatura: as personagens de que os alunos realmente gostam, de Maria Alice Faria. Finalizando teremos uma reflexão crítica política do atual momento nacional e a influência do poder econômico na formação do leitor competente.

Definição e função da literatura: um momento de discussão

1 CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. 3.ed. rev. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973.2 MARTINS, Maria Helena. O que é leitura.19.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.p.37.

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Quando nos referimos ao estudo da Literatura como uma disciplina a ser analisada, a crítica literária tem o importante dever de formular um corpus literário, ter em mente uma definição para “literatura”, objetivando a formação de um cânone literário com as obras e autores mais significativos para a sociedade em diferentes épocas e escolas literárias.

Para o escritor britânico Anthony Burgess, n’A literatura inglesa3, a definição de “O que é literatura?” tema de início do seu livro, foi feita através de analogias, começando pelo aprendizado escolar, dividindo os assuntos que estudamos em dois grupos – as ciências e as artes – com o objetivo de esclarecer ao leitor sobre as diversas formas que o homem observa o mundo em que vive. E ele diz que “é oficio do homem ser curioso; é oficio do homem tentar descobrir a verdade sobre o mundo em que vivemos, responder à grande pergunta ‘Como é mesmo o mundo?’ ”. O autor trabalha os valores verdade e beleza com o intuito de se chegar à um valor absoluto e preparar o leitor para o “mundo das artes”, sempre exemplificando e comparando por analogia os seguimentos das artes, como: a pintura, música, escultura, arquitetura, cinema e teatro, até chegar, na análise principal que define o que é literatura. “Conotações dirigem-se aos sentimentos, denotações, à razão.” Existe uma grande preocupação do autor em forçar o leitor a aceitar que literatura são somente textos ligados a arte e que tenham um valor conotativo.

Se verificarmos a origem da palavra literatura – tomaremos por base os estudos de Massaud Moisés em “A criação literária” (1973) – veremos que a palavra literatura deriva do latim litteratura, que por sua vez se origina de littera,ae e significa o ensino das primeiras letras, o ensino primário, da escrita e das letras. É também importante ressaltar que só podemos falar de literatura quando possuímos documentos escritos ou impressos, o que equivale dizer que a chamada literatura oral não corresponde a nada, pois seu estudo somente é aprofundado no momento em que ela se faz presente no texto escrito. Portanto, se a origem da palavra literatura era uma, e modificou-se devido a um conceito, observo que esse conceito deve ser acrescido e não substituir o anterior. No início do artigo definimos o leitor como sendo uma personalidade comunicativa que utiliza uma determinada linguagem em seu dia-a-dia. Para Roman Jakobson a literatura é a escrita que representa uma “violência organizada contra a fala comum”.

“Os formalistas, portanto, consideram a linguagem literária como um conjunto de desvios da norma, uma espécie de violência lingüística: a literatura é uma forma especial de linguagem, em contraste com a linguagem comum, que usamos habitualmente”.4

Em uma definição objetiva, podemos destacar a essência da literatura como sendo as palavras trabalhando no máximo de seus significados; a linguagem conotativa, a ambigüidade, podem nortear essa definição, mas para alguns críticos e teóricos como Terry Eagleton essa definição pode ser “relativa”, pois a “estética da recepção” examina o papel do leitor na literatura, existindo a necessidade de observar o contexto da leitura para se poder definir a linguagem de um texto. Nesse aspecto, a interação do leitor com o texto literário torna-se objeto primordial de estudo e devemos destacar que o leitor ao usufruir de um texto literário o faz com uma determinada função. Qual a função da literatura para o leitor?

Se adotarmos a postura crítica de Antonio Candido e analisarmos a literatura como um sistema formado de “autor-obra-público”5, podemos, dentro dessas vertentes, direcionar o ensino da literatura para cada componente desse sistema, mas o impacto que a obra literária produz será melhor observado quando centramos o estudo no elemento do leitor. O leitor é um ser social e a literatura é um produto de uma determinada sociedade; os estudos sobre as literaturas nos remetem a função dessa na formação do Homem, na qual temos algumas variações sobre a função humanizadora da literatura. Antonio Candido, em uma palestra sobre “A literatura e a formação do Homem”6, mostra-nos que a literatura

3 BURGESS, Anthony. A literatura inglesa. Trad. Duda Machado. São Paulo: Ática, 1996. p.8-16

4 EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. 2.ed. Trad. Waltesir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p.5.5 CANDIDO, Antonio. “Introdução”. In: Formação da literatura brasileira. São Paulo: Martins, 1971, v. 1, p. 23-39.

6 CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do Homem. In: Ciência e Cultura. São Paulo,v.24, n.9,p.803-9.

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humaniza em sentido profundo, pois satisfaz à necessidade universal de fantasia e contribui para formação da personalidade, utilizando-se desses aspectos, a sociedade através do Estado, organizou e instituiu esses recursos para impor regras sociais de boa conduta e civismo, atribuindo à Escola - que tem a função de educar – o dever de aplicar a arte literária com a função formativa do tipo educacional. Fundamentada nesses pilares a literatura sendo uma arte, recebe um repúdio das disciplinas científicas quando se deparam com a função literária de conhecimento do mundo e do ser.

Ao mesmo tempo em que a literatura em sua função social pode se tornar humanizadora, o Estado, manipulando aspectos e sentidos do texto literário e agindo diretamente na formação educacional do indivíduo, poderá essa literatura ter a função alienadora.

O que aplicar: literatura erudita ou infanto-juvenil

No livro Parâmetros curriculares e literatura: as personagens de que os alunos realmente gostam, de Maria Alice Faria, são feitas algumas críticas referente aos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs – tendo como destaque o ensino de língua portuguesa e a aplicação da Literatura no Ensino Fundamental. São abordados os pontos dos PCNs de língua portuguesa no que se referem ao texto literário, aos conceitos de literatura, à literatura infanto-juvenil à importância da leitura da imagem nos livros para crianças e adolescentes, ao planejamento pedagógico da leitura, à escolha do livro, as avaliações das leituras e as aplicações coerentes dos temas transversais.

O objetivo foi elaborar um material pedagógico sobre o ensino da literatura, para uso nos cursos de formação de professores e pelos profissionais em exercício. Esse livro descreve os resultados de entrevistas com oito turmas de 7ª e 8ª séries de uma escola pública de Assis, a partir das quais são feitas conclusões e geradas algumas propostas para o professor de 5ª a 8ª série.

Observou-se que estabelecer de forma obrigatória a literatura erudita porque é a literatura de prestígio a alunos que não empreendem a leitura como forma de cultura e lazer, não acrescenta em nada o estímulo do educando para adquirir senso crítico e conteúdos, proporcionando debates em sala de aula, um dos temas geradores englobados pelos PCNs.

Faria, afirma que a Academia Brasileira de Letras ignora ou ataca a literatura infanto-juvenil, tachando-a de subliteratura ou paraliteratura, assim recusada, ela se torna excluída “através dos canais convencionais da crítica, da universidade e da escola” (Zilberman & Lajolo, 1982, p.11). Destaca que a proposta curricular de língua portuguesa nos PCNs são restritas no aspecto “texto literário” no qual são dedicados apenas pouco mais de uma página e culpa os lingüistas pelo fato. É preponderante a necessidade de um maior planejamento pedagógico para indicação de livros de literatura infanto-juvenil.

Em defesa da utilização na escola de livros escritos para crianças e jovens ( o que não exclui livros para adultos, se acessíveis ao estágio em que se encontra o leitor em formação) não podemos nos esquecer que a literatura erudita é produzida para adultos cultos; para o leitor formado e habilitado para esse nível, tanto pela sua história de leitura como pelo seu gosto pessoal (e sabemos que é reduzido o número de pessoas que lêem literatura erudita, mesmo entre aqueles com escolaridade superior). São textos escritos para elite culta, sempre minoritária em qualquer época e país – e sobretudo no Brasil cuja maioria da população tem escolaridade mínima.7

Tendo a escola a função formadora, a educação terá de adaptar-se às mudanças econômicas e sociais pelas quais passa o Brasil e principalmente a sociedade ocidental. Perante essa problematização, os professores em sua maioria, são mal formados, mal remunerados, sobrecarregados de trabalho, e portanto, despreparados para enfrentar essa situação do cotidiano da educação nacional. Para exemplificar o despreparo dos docentes, verificou-se a respeito das razões que

7 FARIA, Maria Alice. Parâmetros curriculares e literatura: as personagens de que os alunos realmente gostam. São Paulo: Contexto, 1999. p. 91-2

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levaram os alunos a escolherem os livros para leitura, na qual, predomina o que comumente classifica-se de literatura trivial, e foram apontados como causas: o comodismo dos alunos e o pouco interesse pela leitura; o desconhecimento de outros títulos que poderiam interessar os alunos; a formação deficiente dos professores, fator este, primordial na orientação e esclarecimentos dos alunos.

Os professores, em sua formação acadêmica no curso de letras ou nos cursos de magistério, não recebem orientação devida sobre planejamento pedagógico e como devem ser avaliados os livros para a juventude. Nas melhores Universidades do país, conceituadas pelo MEC, são raros os professores que desenvolvem trabalhos nesta área, analisando a produção existente para jovens, ou pesquisando metodologias de leitura, ou ainda a pedagogia da literatura. O despreparo provoca a acomodação intrínseca do corpo docente, fazendo com que não ocorra a motivação para atualização pedagógica, e como conseqüência o total desconhecimento do mercado atual, restando a opção de limitar-se a indicar apenas os livros que lhe chegam às mãos por meio de propaganda das editoras ou que são distribuídos nas escolas pelo governo. Atualmente o programa de literatura do “Provão” para o curso de letras reforçou esse tipo de currículo, que exclui a literatura para crianças e jovens e a literatura popular.

Portanto, é preciso mudar as práticas pedagógicas e seus paradigmas, rompendo as barreiras do ensino passado, enquadrando a escola à sociedade em que vivemos hoje, pluralista, multicultural. Uma escola aberta à todas as classes sociais, com um corpo docente especializado e atualizado, buscando desenvolver no educando a perspectiva de igualdade social diminuindo as diferenças entre classes sociais , proporcionando, assim, oportunidades de sobrevivência econômica. Devemos enfatizar a importância formadora da literatura em geral, neste sentido, o texto literário de qualquer padrão, mesmo não seguindo regras de normatização preestabelecidas, devem, através de um trabalho pedagógico, serem expostos aos discentes para uma análise crítica, social, oferecendo temas geradores para se trabalhar os temas transversais, ligados: à ética (em todos os seus seguimentos da sociedade, principalmente na vida escolar ); aos conceitos de pluralidade cultural; à preservação do meio ambiente; à saúde, à orientação sexual; às relações familiares.

Verificado esses pressupostos teóricos, teria a literatura a função humanizadora?

A influência do poder econômico na formação do leitor competente

No atual momento histórico em que vivemos, quando se respira ares de liberdade de expressão e de democracia, a discussão sobre os direitos e deveres individuais e coletivos é de fundamental importância, porque referem-se à cidadania. Sabemos que a humanidade precisou de séculos para reconhecer os direitos fundamentais da pessoa humana. Ainda hoje, há lugares no mundo em que muitos não são reconhecidos, a começar pelo direito à liberdade. Esses elementos políticos estão estreitamente ligados a influência do poder econômico e a formação educacional da sociedade. E são essas influências que em maior ou menor peso, dependendo da situação em que se aplicam, moldam as opções políticas do mundo ocidental e principalmente de países de economia subdesenvolvida como o Brasil.

Se fizermos um breve retrospecto as origens políticas, poderemos afirmar que discutir política é referir-se ao poder.

Embora haja inúmeras definições e interpretações a respeito do conceito de poder, vamos considerá-lo aqui, genericamente, como sendo a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivíduos ou grupos humanos. Portanto, o poder supõe dois pólos: o de quem exerce o poder e o daquele sobre o qual o poder é exercido. Ele é uma relação, ou conjunto de relações pelas quais indivíduos ou grupos interferem na atividade de outros indivíduos ou grupos. 8

No final da introdução desse artigo, afirmamos que a literatura também poderá ter a função alienadora quando mal empregada na formação educacional, sendo que, a Escola é o veículo de formação do leitor e para formarmos leitores competentes precisamos verificar se existem interferências do poder constituído.

8 ARANHA, Maria Lucia de A., MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando; introdução à filosofia.p.179.

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E no caso do Brasil, quem ou qual grupo interfere em qual grupo?Tal questão em tempos passados – época da ditadura militar – poderia nos levar a sermos

questionados ou até mesmo presos. Mas neste caso seremos diretos e objetivos, podemos definir o mundo de hoje como sendo de países de primeiro mundo (que travam uma batalha desde o início do século passado para monopolizar o poder global, tendo levado a população mundial a participarem de duas guerras mundiais) e os chamados países de terceiro mundo (que fornecem a mão-de-obra barata necessária para que a engrenagem do capitalismo ocidental funcione na forma de uma democracia).

Quais eram as opções políticas dos europeus antes das revoluções francesa e industrial? Marx configurava o caráter de exploração do sistema capitalista com a descrição da mais-valia. Que nos mostrava que operário vivia num quadro social que tornava o indivíduo alienado sem nenhuma opção política e cultural.

Chegamos ao ponto da ferida nacional brasileira; seremos nós, o povo brasileiro, totalmente ou parcialmente alienados? O povo brasileiro sofre a influência do poder econômico atual e se tornou um ser socialmente apolítico?

Para responder essas questões devemos nos aprofundar na atualidade e chegaremos a tendência mundial do poder econômico que quer expandir o capitalismo de forma acelerada, manter o poder atual e alienar os países de mão de obra escrava, no qual se enquadra o Brasil. Essa tendência chama-se Globalização. A globalização abre espaço para a formação do leitor competente? Ela abre espaço para a função humanizadora da literatura?

O que queremos mostrar com uma postura reflexiva é que se por um lado as tecnologias se abrem para países de terceiro mundo, por outro a exploração trabalhista aumenta. Um povo alienado, certamente, estará mais preocupado em manter seu emprego, sujeitando-se as explorações, do que estar estudando seus direitos e deveres como cidadão, ou cobrando do Estado uma postura mais nacionalista referente a globalização, ou ainda discutindo o Brasil no Mercosul e a taxação de impostos nas importações e exportações para países europeus. E, por fim, não estará preocupada com a formação de leitores competentes que através da literatura poderão se humanizar e terem posturas diferenciadas, tornando-se cidadães críticos e participativos na sociedade.

Desta forma, poderemos analisar friamente que o cidadão brasileiro está sendo influenciado negativamente pelo poder econômico estabelecido pelo capitalismo mundial. E, como tudo na vida tem um lado negativo. A primeira denúncia é de que a globalização econômica ( que trataremos aqui, como sendo a influência do poder econômico atual ) está decepando os empregos também em escala global e num ritmo igualmente veloz. No fim da linha, dizem os críticos, haverá uma crise social de proporções nunca vistas...O apocalipse está se alastrando pelo continente da América do Sul, não em forma de guerras entre nações, mas em forma de guerras civis. No Brasil a violência chegou a um estado alarmante: assaltos; roubos; seqüestros, estão fora de controle e o Estado se vê totalmente ineficiente para proteger o cidadão e o cidadão se vê inerte para reagir contra o Estado. Precisamos urgente de leitores competentes para que a luz no fim do túnel ( que é a literatura ) não se apague.

Estaremos nós alienados?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de A. e MARTINS, Maria Helena P. Martins. Filosofando; introdução à filosofia. 2. ed. rev. São Paulo: Moderna, 1993. BURGESS, Anthony. A literatura inglesa. Trad. Duda Machado. São Paulo: Ática, 1996.CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do Homem. In: Ciência e Cultura. São Paulo,v.24, n.9,p.803-9, 1972. _________. “Introdução”. In: Formação da literatura brasileira. São Paulo: Martins, 1971, v. 1, p. 23-39._________. Literatura e sociedade. 3.ed. rev. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1973.EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. 2.ed. Trad. Waltesir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 1994. FARIA, Maria Alice. Parâmetros curriculares e literatura: as personagens de que os alunos realmente gostam. São Paulo: Contexto, 1999.LAJOLO, Marisa & ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história e histórias. São Paulo: Ática, 1984.

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MARTINS, Maria Helena. O que é leitura.19.ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.MOISÉS, Massaud. A Criação Literária: introdução à problemática da literatura. 5. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1973.