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AVALIAÇÃO: CONSELHO DE CLASSE, PROCESSO DEMOCRÁTICO DE
REFLEXÃO E AÇÃO COLETIVA.
Isabela Maria Ponciano Pupulin1
Hilda Alberton de Carvalho – Orientadora2
Resumo
O conselho de classe como tema norteador deste artigo aborda por meio da revisão teórica e pesquisa, a releitura da função social da escola e suas articulações. Fundamentando o desenvolvimento do trabalho pedagógico, de forma que ratificasse o acompanhamento continuo, interativo e processual do Conselho de Classe na Instituição de Ensino Colégio Estadual Pe. Arnaldo Jansen – Ensino Fundamental e Médio. Contemplou-se conceituações a operacionalizações dos Conselhos de Classes durante a fase da implementação do projeto de pesquisa na unidade escolar já citada. Buscou-se por meio da pesquisa-ação³ ampliar possibilidades de reflexões da avaliação escolar, propiciando uma visão totalitária da participação dos sujeitos comprometidos com processo de construção do ensino e da aprendizagem. A participação dos sujeitos comprometidos com o conselho de classe promoveu a construção da prática por meio da reflexão e ação coletiva, continua e processual, estruturando as tomadas de decisões a partir da reconfiguração da qualidade de desenvolvimento e aproveitamento escolar, rompendo com visões unilaterais e decisões isoladas, priorizando olhares diferenciados e sensibilização para a prática propriamente dita, conferindo a ação do conselho de classe à possibilidade de ultrapassar as barreiras dos aspectos burocráticos, autoritários e verticalizados presentes ainda no contexto escolar.
Palavras-chave: Conselho de Classe; Avaliação escolar; Pesquisa-ação
Introdução
1 Professora Pedagoga da Rede de Ensino Público do Estado do Paraná; Graduada em Pedagogia pela
Universidade Estadual de Maringá; Especialização em Metodologias Inovadoras Aplicadas à Educação na área especifica de Psicopedagogia pela Faculdade Internacional de Curitiba. Professora PDE em 2010.
2 Graduada em Administração pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (1992), graduação em Curso
Especial Para a Formação de Professores Esqu pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1996) e mestrado em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2002). Atualmente é professora efetiva da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
³ A definição de pesquisa-ação para Michel Thiollent apresenta-se como um tipo de pesquisa social com base empírica, realizada em estreita associação com uma ação em busca da ação coletiva e no qual o pesquisador e os participantes interagem de maneira colaborativa e compromissada em busca da resolução dos problemas (2007, p.16).
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Este artigo é o resultado de um trabalho reflexivo e interativo realizado no
Colégio Estadual Pe. Arnaldo Jansen, durante a implementação do projeto de
pesquisa, advindo do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Esta
produção tem por objetivo apresentar as considerações realizadas, assim como os
resultados obtidos por meio dos estudos, reflexões e diálogos com professores,
pedagogos, diretores, alunos e pais dentro de uma perspectiva crítica,
comprometida e consciente vinculada à realidade escolar e a re-estruturação dos
Conselhos de Classes.
O tema da pesquisa surgiu das observações empíricas onde constatou-se a
insatisfação dos resultados nos Conselhos de Classes, quanto ao compromisso
coletivo, como também da escassa participação dos sujeitos envolvidos no processo
de avaliação.
Entendendo que o Conselho de Classe compõe o processo de avaliação do
pedagógico escolar, sua estrutura operacional deve estar respaldada pelo
fortalecimento dialógico marcado por um processo contínuo, onde possam tecer no
dia-a-dia escolar, pontos de partidas e caminhos que levem a resultados
satisfatórios.
O conselho de classe, baseando-se nos estudos de Dalben (2004), tem sua
importância assegurada na operacionalização da avaliação do projeto político
pedagógico, realizado no cotidiano das práticas escolares, em busca de um ensino e
aprendizagem de qualidade, desafiando a desconstrução de uma cultura autoritária
e essencialmente burocrática, onde os novos rumores pedagógicos direcionam à
uma construção de um processo democrático e participativo.
No sentido de não limitar a pesquisa realizada somente aos aspectos
institucionais e burocráticos, a pesquisa-ação, como proposta de pesquisa social,
oportunizou desempenho qualitativo, salientando a importância da participação
daqueles sujeitos que teriam algo a refletir, a dizer e a agir.
O foco da pesquisa-ação não está no resultado, mas, sim na oportunidade de
participação entre os sujeitos envolvidos, professores, pedagogos, alunos, pais,
funcionários e diretores. Para tanto, dentro de uma proposta de estudos e reflexões,
buscou-se na teoria conhecimentos que direcionassem a prática pedagógica,
indicando estratégias que oportunizassem uma estruturação diferenciada nos
conselhos de classes, a partir das interações e ações coletivas dos sujeitos
envolvidos.
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Sendo assim, como ponto de partida da pesquisa, a reflexão inicial
contemplava o conselho de classe como parte do processo da avaliação
educacional e como este processo contribuiria para o redirecionamento e mudanças
em busca de melhores resultados.
Partiu-se da hipótese de que o conselho de classe, como processo coletivo da
escola, contribuiria enquanto espaço, a possibilidade de avaliação pedagógica
continua. Com a participação dos professores, alunos, pais, pedagogos e Direção,
nos conselhos de Classes, socializando conhecimentos, reflexões críticas e
avaliativas do processo de ensino e processo de aprendizagem, reconfigurou-se
dentro desta ação processual e plural tomadas de decisões estruturadas e
significativas que somassem a qualidade de desenvolvimento e aproveitamento
escolar.
A intenção foi discutir alguns aspectos presentes no conselho de classe a
partir dos resultados da pesquisa-ação e possíveis contribuições para a
democratização das relações no espaço escolar, uma vez que o conselho de classe
desenvolve um processo de reflexão crítica, com percepção das influências de seu
contexto sócio-cultural e questionar as visões tácitas do mundo (GUERRA, 2006).
A investigação acionada na pesquisa procurava responder se a escola que
contemplava a participação e compromisso de todos os elementos da comunidade
escolar nas tomadas de decisões alcançaria melhores resultados?
As propostas pedagógicas, principalmente, no que se referem à prática
escolar, só poderiam transformar-se em ações históricas se fossem aceitas por
todos os segmentos envolvidos com a educação e sensíveis a uma vontade de
mudança de atitude. “A concepção ampla de hábito envolve a formação de atitudes
tanto emocionais, quanto intelectuais; envolve toda nossa sensibilidade e modos de
receber e responder a todas as condições que defrontamos na vida” (DEWEY, 1979
apud MOTA, 2006).
A partir de reflexões teóricas e interativas sobre as práticas comuns e
cotidianas da escola, o estudo priorizou o conselho de classe como espaço
privilegiado e coletivo. Tratando-se de “um dos espaços mais ricos de transformação
da prática pedagógica e, talvez dos mais mal aproveitados...” (Cruz, 2005. p.11),
este foi revisto por meio da pesquisa-ação, de maneira valorosa como espaço
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pedagógico na busca de alternativas que superem problemas pedagógicos da
Escola (VASCONCELLOS, 2008, p.92).
Dessa forma, os dados coletados por meio da pesquisa-ação serviriam como
base de conhecimento para estruturação de uma futura proposta coletiva e
emancipadora, adaptado à realidade, considerando a sua aplicação a suporte
organizacional (THIOLLENT, 2006 apud CAZZOLATO, 2008).
O contexto de pesquisa apresentou-se favorável, a este método, tendo
objetivos potencialmente alcançáveis como: coletar informações acerca da
questão/problema, concretizar os conhecimentos teóricos que precedem a prática,
comparar as diversas teorias relacionadas ao tema em questão e, finalmente,
descrever os processos e as generalizações da investigação, de modo a ofertar
possíveis condições para reestruturar práticas que resolvessem os problemas
pertinentes à pesquisa (THIOLLENT, 2007, p. 45).
Segundo Thiollent a pesquisa não deve ser tratada como simples
levantamento de dados ou de relatórios a serem arquivados. A pesquisa-ação e sua
interação somariam ao desempenho ativo na própria realidade dos fatos
observados. (2007, p.18).
O desenvolvimento metodológico da pesquisa-ação iniciou-se a partir do
conhecimento da realidade e contextualização da pesquisa, contemplando uma
organização prévia conferindo-lhe a importância ao dinamizar sua intervenção.
Baseado em Thiollent, definirmos um ponto de partida e um ponto de
chegada, considerando a flexibilidade da pesquisa participativa de maneira a
sinalizar o caminho a ser percorrido. (2007, p.51).
No primeiro momento, contemplou-se o re-conhecimento da realidade da
Escola e o perfil da turma, situação escolar dos alunos e grupo de professores,
componentes da equipe docente, regentes das turmas escolhidas.
No segundo momento delinearam-se os problemas pedagógicos existentes
frente ao desenvolvimento dos Conselhos de Classes trimestrais, sistematizando as
informações por meio de questionário, oferecendo ao grupo de professores e alunos
reflexão sobre o tema norteador do projeto.
No terceiro momento, a proposição de estudos, socialização de informações e
experiências entre professores, alunos, pais e pedagogos e definição das ações
coletivas. Contemplou-se a reflexão e avaliação crítica da “Práxis”, observou-se o
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caminhar da prática, sendo esta, respaldada por uma teoria significativa e
condizente à realidade.
A socialização do conhecimento obtido por meio da pesquisa-ação ocupou o
quarto momento trazendo a contribuição que cada segmento pedagógico exerceu no
processo avaliativo, buscou-se conhecimentos pedagógicos que substituíssem as
lacunas, preenchidas por tarefas meramente burocráticas e autoritárias.
Nas considerações finais, apresento as reflexões desta pesquisa com objetivo
de apoiar a continuidade de estudos dentro da mesma linha e contribuindo para o
desenvolvimento pedagógico, após um período de estudos e sensibilização ás
práticas dos conselhos de classes.
1 Conselho de classe: Avaliação das ações pedagógicas em uma perspectiva
coletiva e democrática.
Definindo a função social da Escola, como instituição responsável pela
transmissão-assimilação do saber sistematizado a fim de emancipar o aluno por
meio do conhecimento científico e histórico. Enfatizou-se na articulação pedagógica,
a responsabilidade e o compromisso pedagógico e político no processo de ensino e
aprendizagem praticados nas unidades de ensino, buscando a superação de
conflitos provenientes das forças sociais encontradas no seu interior: professores,
alunos, pais, direção, equipe pedagógica, Estado (SAVIANI, 1983; HELLER, 2008).
Historicamente a Escola encontra-se inserida em uma estrutura social
marcada por relações antagônicas de classes, onde a presença de diferentes formas
de e pensar e agir, tomam caminhos opostos dentro da mesma realidade escolar.
Saviani (1983) e Heller (2008) apresentam a educação como contribuinte
social. Contribuição esta, dada por meio de uma prática docente, coerente com as
necessidades das camadas que encontram-se à margem do processo de construção
social, visando possibilidades de percepção às mudanças da sociedade e sua
realidade por meio da ação-compreensão-ação, rompendo com relações de poder,
de forma a almejar a construção de práticas democráticas, onde cada segmento
assumiria sua responsabilidade diante do processo pedagógico.
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Ao desenvolver a implementação do projeto de pesquisa, contemplou-se
alunos que de alguma maneira tinham ficado à margem do processo regular de
escolarização. Coincidentemente ao buscar a definição do núcleo da pesquisa, o
gestor da unidade escolar da época, com a anuência do colegiado, optou por
remanejar os alunos, adequando-os idade-série, ou seja, formaram-se duas turmas
de alunos, com idade avançada, sendo uma de sexto ano (quinta série) e outra,
oitavo ano (sétima série) do ensino fundamental.
A idéia inicial era fazer algo diferenciado, pedagogicamente falando. A
proposta era investimentos significativos, metodologia diferenciada e fartura de
material didático, ambos, favoráveis ao processo de ensino e aprendizagem que se
desenvolveria no ano letivo de dois mil e onze.
Tornou-se pertinente refletir sobre as práticas escolares, esclarecer a
movimentação da escola, entender, que, ora a escola abraça a responsabilidade de
transformação social, ora reforça as relações de exclusão, tendo com realidade
instituída, os baixos índices de aprendizagem (SAVIANI, 1983).
A Escola enquanto grupo, retomou o fazer pedagógico, priorizando no
processo a participação de todos os sujeitos, pois, todos fazem a diferença, o
coletivo tornou-se forte. Foi no entendimento da importância da ação coletiva, na
sensibilização por meio da ação-reflexão-ação, a definição dos caminhos
pedagógicos coerentes com as necessidades de todos os sujeitos do processo de
ensino e processo de aprendizagem (DEWEY, 1979 apud MOTA, 2006).
Entretanto, a participação dos diversos atores dentro do âmbito escolar,
direção, equipe pedagógica, professores, pais e alunos ainda apresentam-se de
maneira desarticulada no contexto institucional, mesmo sabendo que este coletivo
atuando juntos, seja o caminho mais responsável de alcançar os objetivos propostos
em busca da qualidade de ensino, ainda na prática existe a diferença entre o dito e o
feito. (VASCONCELLOS, 2008).
Paro (1997) apud Paro (2010) referiu-se à prática cotidiana das escolas
públicas, analisando que no dia a dia, professores ainda permanecem com práticas
pedagógicas influenciadas pela ideologia liberal, reportando-se as oportunidades
escolares como sendo igualmente ofertadas a todos, atribuindo os resultados pelo
esforço pessoal do aluno, obtendo uma visão reducionista do processo.
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Luckesi apud Dalben (2004) reforça a afirmação de Paro (2010), chamando a
atenção dos educadores à “concepção de avaliação impregnada pelo modelo social-
liberal-conservador, fundamentado pelo discurso de equidade social com bases
formais”. O contexto apresentado, atribui o resultado do processo ao aluno,
reforçando que o grau de sua capacidade é medido periodicamente, ajustando-se ao
modelo pré estabelecido por meio da meritocracia (DALBEN, 2004).
A proposta da pesquisa-ação era justamente atingir este ponto nevrálgico,
demonstrando que o grande desafio escolar, seria o rompimento com esses
paradigmas educacionais que trazem o isolamento de decisões e a exclusão dos
desiguais (VASCONCELLOS, 2008).
Baseando-se nas reflexões de Vasconcellos (2008), dificilmente aconteceriam
mudanças se não oportunizarmos na prática, reflexões e avaliações aos segmentos
da Comunidade Escolar. Favorável a este pressuposto teórico, contemplou-se que o
conselho de classe, poderia ser o espaço pedagógico que unificasse objetivos
quanto à busca de desenvolvimento do aluno.
Compreendendo o conselho de classe como processo avaliativo do cotidiano
pedagógico, para Luckesi (1990), a avaliação proposta nesta prática pedagógica,
não teria finalidade em si, sua finalidade estaria relacionada ao desenvolvimento
qualitativo da construção do processo de aprendizagem.
Sendo assim, neste processo de ajustes pedagógicos pelo qual a escola
caminhou, o conselho de classe como roteiro de pesquisa-ação, contribuiu com a
constituição de instrumentos de função reflexiva, diagnóstica e mediadora,
necessários a avaliação do processo de construção da qualidade de ensino e
aprendizagem. (HOFFMANN, 2010).
Esta prática pedagógica ainda exige mudanças de conceitos avaliativos e
posturas metodológicas diante do contexto escolar. Embora o conselho de classe,
seja uma instância coletiva e processual, ainda vivenciamos a expressão da
construção do resultado final da aprendizagem do aluno. A implementação de um
novo olhar e sensibilização em avaliar democraticamente, todo o processo de ensino
e aprendizagem levando a contribuição dos segmentos ativos e participativos das
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unidades de Ensino, no caso Estado, direção, pedagogos, professores e pais, foi
plantado enquanto reflexão será preciso, realimentar diariamente as ações, para
futuramente colher os resultados na prática ((LUCKESI, 1990; HOFFMANN, 2010).
2 O contexto escolar e o Conselho de Classe.
O Conselho de Classe, como proposta de trabalho pedagógico, teve em seu
desenvolvimento, o fortalecimento por meio da gestão democrática assegurada
legalmente em decorrência de um desenvolvimento político e histórico. (PARO,
2009). No que se refere aos estudos formalizados sobre os Conselhos de Classes,
percebeu-se que em seus aspectos históricos havia intima relação entre sua
implantação e a concepção de avaliação no decorrer da história das práticas
pedagógicas, assim como, da própria sociedade (DALBEN, 2004).
Dalben aponta para o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” em 1932,
idéias embrionárias, que revelam na história da educação brasileira uma leitura que
contemplava organização coletiva de avaliação e construção da prática (2004).
“A escola que tem sido um aparelho formal e rígido, sem diferenciação regional, inteiramente desintegrado em relação ao meio social, passará a ser um organismo vivo, com uma estrutura social, organizada à maneira de uma comunidade palpitante pelas soluções de seus problemas” (MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA, 1932, p.50 apud DALBEN, 2004, p.23).
Políticas pedagógicas foram se desenvolvendo em meio de tantas
contradições, bandeiras pedagógicas e estudos científicos evidenciavam a
necessidade de reorganização da Escola, criando princípios e propondo mudanças
que contemplassem um ensino significativo, democrático e participativo com
condições igualitárias de estudo á todos que necessitassem do ensino público
(VARGAS, 2008).
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Ao implantar-se a LDB. 9394/96 instaurou-se a revisão das práticas
pedagógicas por meio de organizações coletivas. A importância desta conquista dos
anos 90 promoveu a construção do Projeto Político Pedagógico enquanto
documento legítimo, de caráter democrático, desenvolvido a partir da realidade da
Escola, garantindo a participação de vários segmentos da comunidade Escolar
(VASCONCELLOS, 2008).
A leitura que Vasconcellos fez desta projeção de ações, demonstrou que,
“cada escola é uma organização social, inserida num contexto local, com identidade
e cultura próprias, um espaço de autonomia a construir e descobrir, susceptível de
se materializar num projeto educativo” (CANÁRIO, 1992; p.166 apud
VASCONCELLOS, 2008; p.197).
Logo, como instrumento resultante de construção coletiva, o Projeto Político
Pedagógico da Instituição Escolar do Colégio Estadual Padre Arnaldo Jansen –
Ensino Fundamental e Médio, contempla em sua conceituação, o Conselho de
Classe como oportunidade do aperfeiçoamento do processo da avaliação quanto
aos seus resultados (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO – CEPe.AJ, 2010).
Por meio da construção do projeto político pedagógico, o colegiado da
referida unidade de ensino, concebe o conselho de classe, momento de
acompanhamento de todo o processo da avaliação, analisando e debatendo todos
os componentes da aprendizagem dos alunos” (DELIBERAÇÃO nº007/99 apud
PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO - CEPe.AJ, 2010).
As inquietações demonstradas empiricamente pelo grupo de professores
revelaram a necessidade de uma prática pedagógica significativa frente estruturação
desta ação pedagógica. Diante das necessidades apresentadas pelo grupo operante
da pesquisa-ação, projetar a Escola não pode ser tarefa burocrática, nem tarefa
isolada distante de seu chão, projetar a escola é oportunizar “voz e vez aos seus
agentes” definindo princípios e ações relevantes para coletividade escolar
(VASCONCELLOS, 2008; p.199).
Diante das referidas inquietações, a pesquisa-ação tornou-se ferramenta
pedagógica, para compreender o contexto e prática, de maneira que a reflexão e a
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avaliação crítica sobre a ação vinculassem uma tomada consciente de decisões em
busca da qualidade de ensino e aprendizagem (THIOLLENT, 2007).
Atualmente a estruturação dos conselhos de classes na unidade de ensino já
citada, divide-se em dois momentos. O primeiro momento é o pré-conselho realizado
com os professores representantes de turma e com os pedagogos do período na
hora atividade do professor. O segundo momento trata-se da operacionalização
oficial do conselho de classe. Previsto em calendário escolar, homologado pela
Secretaria do Estado da Educação do Paraná por meio da resolução 3979/2010,
onde são contemplados quatro conselhos de classes durante o ano letivo.
Figura 01 – Organização dos conselhos de classes do Colégio Estadual Pe. Arnaldo Jansen.
Fonte: O autor
Mediante as instruções encaminhadas pela SEED 009/2010, quanto à
organização do calendário escolar, faz-se necessário durante o ano de
implementação do projeto, 2011, a otimização do dia designado ao conselho de
classe, podendo somente ser analisados os casos mais graves de alunos, a fim de
que a atividade principal reunião seja a discussão dos encaminhamentos
pedagógicos.
Observou-se de um ano para outro, isto é de 2011 para 2012, alterações de
instruções no calendário escolar. Para 2012, a instrução vigente é de nº 015/2011 –
SUED/SEED, segundo a instrução, no item dezessete, ficou determinado quatro dias
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para Conselho de Classe, em contraturno ou aos sábados (não sendo considerados
como dias letivos).
Dados importantes deste processo interativo, como estes, por exemplo,
tornaram-se imprescindíveis às coordenadas pedagógicas e encaminhamentos a fim
de alcançar os objetivos propostos na avaliação coletiva. Manobras pedagógicas
foram realizadas na escola a fim de assegurar o mínimo da legitimidade avaliativa
garantida na LDB. A Lei 9394/96 no que se refere à avaliação valoriza a qualidade,
onde deve ser analisado o desenvolvimento do aluno em sua totalidade, levando em
conta suas potencialidades, interesses, atitudes, e necessidades de maneira a
ofertar ao professor subsídios importantes para garantir uma prática pedagógica
significativa.
A transformação da prática pedagógica ligou-se estruturalmente á alteração da
concepção avaliação, entendimento do Conselho de Classe como espaço coletivo e
dinamizador do trabalho avaliativo, buscou no coletivo, caminhos à consecução dos
objetivos propostos tanto na LDB quanto no Projeto Político Pedagógico (CRUZ,
2005, p.18).
Importante ressaltar o investimento na sensibilização dos protagonistas do
enredo, a comunidade escolar, em ações colaborativas, mobilizou-se para que fosse
garantido a realização do conselho de classe.
Estes pressupostos teóricos e conceituações atribuídas aos conselhos de
classes sinalizaram positivamente o desenvolvimento do processo, porém, na
prática entraves, contradições ainda apresentam impactos, dificultando o alcance de
resultados satisfatórios. A atenção dos profissionais da educação voltou-se para a
seguinte reflexão, quanto à possibilidade da prática docente resultar no equivoco de
pensar estar fazendo uma prática transformadora e na verdade estar reproduzindo o
modelo já imposto, colaborando assim, com a construção de uma sociedade injusta,
alienada e excludente (2008).
O grupo de professores em meio a participação da pesquisa social, analisou
que, a mudança não acontece da noite para o dia, e nem individualmente e
mediante a afirmação de Hoffmann, percebeu-se que “é necessário à tomada de
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consciência gradual e coletiva em nível de Escola de tal forma que ultrapasse os
seus muros e transforme-se numa força que influencie a revisão dos significados
social e políticos das exigências burocráticas da avaliação” ( 2010, p.94).
Constatou-se que há um distanciamento concreto entre o dito e o feito.
Vasconcellos alerta que é preciso mudar a concepção e a prática dos processos
avaliativos. Não adianta ter uma prática nova com uma concepção antiga, e vice-
versa (2009).
O conselho de classe proposto, enquanto processo de avaliação de ensino e
aprendizagem, avaliou não somente a do desempenho do aluno, como também dos
demais segmentos, como, pais, professores, pedagogos, diretores e mantenedora,
contribuiu ao sinalizar as dificuldades e as necessidades, e comprometendo-se com
o desafio da superação e a qualidade de resultados.
3 A Práxis do conselho de classe e sua contribuição no processo pedagógico.
Reestruturar um processo escolar consistente, como é o caso do Conselho de
Classe, requer planejamento e avaliação, é preciso unir diretrizes legais, teoria e
necessidades, entendendo que ações assumidas com responsabilidade coletiva,
oportunizam maiores condições de estruturação sólida dos encaminhamentos a fim
de alcançar os objetivos (DALBEN, 2004).
Dinamizando o trabalho coletivo a partir dos encontros pedagógicos
contínuos, propiciou uma avaliação perceptível e consciente das ações e das
contradições entre aquilo que se pensa e aquilo que se faz, de maneira que este
movimento contribua para elevação do Ensino Público (PARO, 2009).
O destaque dado com a afirmação acima seria o rompimento com as relações
de poder reforçadas no âmbito escolar por meio das ações pedagógicas
historicamente institucionalizadas, entre elas a avaliação e o conselho de classe
(HALL, 2006).
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Neste sentido, articulou-se uma re-conceituação do conselho de classe
contemplando gradualmente as mudanças necessárias a partir da reorganização
coletiva da comunidade escolar de acordo com a oferta das bases legais,
direcionadas pela mantenedora.
Com base na teoria estudada, atribuiu-se destaque em Saviani (1983), na
formalização de uma proposta pedagógica vinculada a uma prática democrática,
minimizando as pressões e/ou rompendo com as relações de poder herdadas
historicamente de uma cultura social autocrata. Porém, tendo os olhares voltados à
prática escolar, constatou-se que as reuniões de conselho de classe estavam sendo
cumpridas como meras ações burocráticas, deixando-se de lado a sua real
importância. Diagnosticar problemas e apontar soluções isoladas, já não atende
mais as necessidades emergenciais da escola.
Nesta perspectiva de pesquisa social a concepção de mudança ficou
vinculada a concepção de participação dos envolvidos no processo escolar. Coube
neste ponto do trabalho, a articulação e o confronto da estrutura existente do
conselho de classe na Escola com as necessidades elencadas no cotidiano escolar.
A problematização questionou sobre a prática dos conselhos de classes e a
contribuição que este segmento pedagógico exerceria no processo avaliativo,
redirecionando e reestruturando mudanças em busca de melhores resultados.
Situações problemas diagnosticadas, que rondam o conselho de classe
justificam-se por meio de práticas meramente “tarefeiras”, obtidas a partir de uma
visão reducionista do processo, legitimado pelas notas e conceitos disciplinares que
os alunos obtiveram no período de estudos (CRUZ, 2008).
Necessário foi esclarecimento do estudo em questão, pois, proporcionou a
abertura de possibilidades reflexivas no contexto escolar no que diz respeito à
estrutura do conselho de classe. A mudança organizacional almejada no estudo
realizado teve respaldo na consciência do fazer pedagógico.
A percepção da existência de uma escolha apresentou-se como o diferencial
a decisão coletiva, atendendo melhor a necessidade do grupo. Lembrando que toda
decisão são atos políticos e pedagógicos que direcionam a escola, e se, realizadas
com a participação coletiva as chances de alcançar melhores resultados aumentam
(DALBEN, 2004).
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A obtenção das informações durante a pesquisa-ação realizou-se em
momentos coletivos, a principio, o estudo abordado na semana de capacitação
pedagógica do segundo semestre de dois mil e onze, sinalizou para a pesquisa,
quais disciplinas e em quais anos/séries que prioritariamente são necessárias
intervenções pedagógicas devido ao resultado insatisfatório apresentado, isto é, no
sexto ano e nono ano do ensino fundamental e primeiro ano do ensino médio.
Segundo o colegiado, a fragmentação do processo do quinto ano para o sexto
ano do ensino fundamental, apresenta a falta de integração e continuidade do
processo escolar e estrutura para atendimento especializado inexistente quanto às
escolas estaduais, favorecendo a concentração de dificuldade nesta etapa de
escolarização.
Os conselhos de classes utilizados como espaço de proposição de
encaminhamentos para a promoção da aprendizagem deveriam então, contribuir
enquanto espaço coletivo de reflexão e ação para resoluções de problemas
pertinentes ao trabalho pedagógico (DALBEN, 2010).
Demonstrando uma acentuada preocupação quanto às ações que todos os
segmentos do coletivo escolar, ao mobilizar-se, o colegiado buscou a avaliação da
prática e a sua aplicabilidade para concretizar o sucesso da aprendizagem dos
alunos.
Ao re-conceituar a função social da escola, no que se refere à transmissão do
saber histórico constatou por meios dos resultados apresentados, situações que
requisitavam olhares cuidadosos ao cotidiano da escola, como a evasão escolar,
pais ausentes, professores desmotivados e resultados insatisfatórios quanto à
aprendizagem escolar (HALL, 2006).
Relacionando observações empíricas no cotidiano escolar aos estudos de
Hall (2006), a reflexão proposta indagou porque a educação pública, em pleno
século XXI, ainda não superou o elementar: atendimento adequado ao princípio
constitucional do direito à educação qualitativa para todos.
Logo, ao concebermos o conselho de classe como processo, esta ação
pedagógica necessita ser revisto tanto na conceituação do Projeto Político
Pedagógico, com também na real operacionalização do mesmo na Escola.
Tratando-se de prática avaliativa, construída a partir das experiências vividas
no cotidiano da sala de aula, este processo avaliativo oportunizou a revisão da
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prática pedagógica. Professores juntamente com a equipe pedagógica e equipe
diretiva refletiram coletivamente sobre os acontecimentos escolares, analisando e
comprometendo-se com posicionamentos atitudinais (DALBEN, 2004; CRUZ, 2005).
Percebeu-se durante a implementação do projeto que a relação dos sujeitos
com os conselhos de classe ao longo dos tempos, transformou-se em relação de
poder, Essa relação institucionalizada nas Escolas, segundo Dalben revela-se como
um dos grandes problemas dos conselhos de classes e até mesmo do cotidiano
escolar. Segundo a autora esse paradigma pedagógico confirma que professores e
alunos não caminham na mesma direção, reforçando uma relação conflituosa e
oponente ao alcance dos objetivos. (2004, p.64).
No entanto, ao conhecer os mecanismos que reforçam as estruturas do
Conselho de Classe, promoveu-se continuidade de um conselho para o outro,
enfatizando a característica de ser um processo orgânico, configurando uma
dimensão totalitária da avaliação da escola e dos sujeitos que dela fazem parte
(CRUZ, 2008).
O conselho de classe como organização coletiva e reflexiva e processual
possibilitou encaminhamentos coerentes às reais necessidades dos alunos e
professores, assim como, redirecionamento do conceito e a operacionalização do
conselho de classe burocrático para o conselho de classe participativo e significativo
(VASCONCELLOS, 2008).
Partindo do referencial teórico de uma pedagogia crítica e progressista foi
fundamental para implementação do projeto, a participação da comunidade escolar,
pois, repensando a prática escolar, onde cada um verifica na sua singularidade
como melhor contribuir com o coletivo, tornou-se o coletivo da escola o responsável
pelas ações e resultados onde a valorização dos aspectos qualitativos servirá como
alavanca para transformação da cultura escolar (PARO, 2009).
Pensando na concretização deste pressuposto e como etapa no processo da
pesquisa-ação, o seminário como proposição de estudos e socialização de
informações e experiências entre pais e pedagogos, contemplou definições
colaborativa das ações em que os pais poderiam participar, acompanhando o
caminhar da prática.
Visto a necessidade da concretização do caminho traçado, formalizou uma
reunião com pais e pedagogos, onde compareceram aproximadamente 20% dos
pais convocados. Em um contexto de sessenta pais, compareceram doze pais
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16
somente. Mediante planejamento realizado, consulta prévia sobre o melhor horário,
esperávamos uma participação efetiva, porém, valorizou-se a importância dos
presentes.
Luckesi explica, acalentando a frustração, que a prática educacional deve
estar voltada para a transformação compassada e consciente, marcado por decisão
clara e significativa, caminhando os resultados de sua ação coletiva. (2005, pág. 46).
Tratando-se de uma reflexão e comprometimento sobre o fazer pedagógico
por meio da participação coletiva dos sujeitos do processo, no caso, os pais,
vislumbrou-se nesse momento, a abertura simbólica das portas da Escola de
maneira responsável para promover a entrada daqueles que deveriam comprometer-
se com a qualidade do processo por direito e por dever.
O Conselho de Classe como proposta de trabalho integrado e democrático
subsidiou reflexões sobre o processo escolar, oportunizando não somente a
avaliação do aluno, mas, também do processo de ensino, incluindo a entidade
mantenedora professores, equipe pedagógica e diretiva, assim como a participação
colaborativa dos pais quanto o acompanhamento da vida escolar dos seus filhos,
Diante de tais questões e por meio das organizações pedagógicas para
Dalben o Conselho de classe requer:
(...) a necessidade da construção de relações pedagógicas de interestruturação do conhecimento; nesse, sentido, delimitam uma nova concepção de avaliação escolar, baseada na análise e na reflexão de toda a prática pedagógica, o que pressupõe a construção de uma nova identidade das instâncias colegiadas e, consequentemente, de uma nova identidade da escola( DALBEN, 2004, p.73).
Tendo como objetivo diagnosticar no conselho de classe o favorecimento de
uma avaliação mais completa e contínua sobre o desempenho da turma e do aluno,
de maneira que todos os segmentos envolvidos intensificassem suas
responsabilidades mediante o resultado atingido (CRUZ, 2008; PARO, 2009).
Acreditando que a educação independente se recebida na família, na escola
ou na sociedade de modo geral, deve cumprir um papel primordial na formação do
sujeito completo. A pesquisa-ação, ao dar voz aos profissionais participantes do
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contexto escolar, confirmou a necessidade de uma participação mais frequente dos
pais dos alunos na escola.
Almejou-se em planos, qualidade de acompanhamento contínuo diminuindo a
distância entre os objetivos da escola e os da família, lembrando que a participação
da escolarização dos filhos não decidiria os rumos da escola, muito menos assumiria
o papel do professor quanto à função pedagógica, mas, redefiniria a qualidade de
participação deste segmento no processo escolar (HOFFMANN, p.44, 2010).
Traçar caminhos para conhecer a realidade foi possível, porém, deslocar
formatos, acontece somente, com ações que considerem o tempo a favor, em ações
concretas de colaboração mútua, em atendimento as expectativas da força coletiva
(THIOLLENT, 2007).
Ao entrelaçar conhecimentos empíricos e científicos, a pesquisa-ação
permitiu rupturas com as práticas excludentes e autoritárias, fortalecendo ações
coletivas condizentes a uma proposta de trabalho pedagógico, público, inclusivo e
democrático.
O conselho de classe tradicional, estruturado em procedimentos burocráticos
e engessados, ao distanciar-se do alcance dos objetivos qualitativos frente ao
desenvolvimento pedagógico, favoreceu uma aliança interativa entre teoria e prática,
que ao realizar análises dos resultados, contemplaram-se propostas pedagógicas
intencionalmente planejadas a fim de alcançar qualidade de aprendizagem
(DALBEN, 2004).
A participação no conselho de classe do terceiro trimestre, das turmas de
referência da implementação do projeto, principalmente o oitavo ano/ sétima série,
turma E, consistiu na tomada de consciência dos alunos frente ao processo de
aprendizagem. A importância dada ao momento foi que diante deste procedimento
elencou-se dificuldades, erros e limitações que estariam comprometendo a
realização do processo pedagógico.
Privilegiando este espaço de construção coletiva e interativa, o conselho de
classe, como núcleo de pesquisa, permitiu uma compreensão e uma análise
avaliativa, a partir do contexto de sua operacionalização (THIOLLENT, 2007).
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4 As articulações dos conselhos de classe: Qualidade da aprendizagem ou
ação burocratizada?
A possibilidade a participação dos segmentos na sua realização processual
dos conselhos de classes, na prática, ainda apresenta uma visão reducionista,
baseada em informações desarticuladas do contexto, não contemplando as
necessidades individuais das unidades escolares, registradas no projeto político
pedagógico de cada escola (VEIGA, 1995).
Diante dos estudos e reflexões realizadas no decorrer do período de
implementação do projeto de pesquisa, constatou-se em relatos e em pesquisa as
angústias e rigidez dos professores, ao tratar da realização dos conselhos de
classes. Faz-se necessário explicar que em momento algum questionou-se neste
trabalho a importância dos conselhos de classes como processo pedagógico nas
unidades escolares, estendendo-se ao colégio de implementação, a intenção é a
reflexão a quê este processo pedagógico se propõe, podendo identificar sua
contribuição ou não.
Problematizar esta prática caracterizou na percepção teórica o inicio para
busca de uma prática diferenciada.
Foi preciso identificar a produção dos conselhos de classes. Confirmaram-se
pressupostos teóricos de que este momento que deveria ser rico em prática e
estimulante para busca de soluções e superações das situações problemas,
favorecia a um ritualismo vazio e fragmentado, cujo protocolo de ações, respalda
apenas o registro e cumprimento de burocracias, conservando uma prática
descompromissada com a aprendizagem (DALBEN, 2004).
Veiculou-se a importância de articular o Conselho de Classe como
construção da autonomia da prática escolar, rompendo com a violência simbólica,
subentendida nas práticas pedagógicas da escola, engessadas pelas
representatividades das políticas educacionais, caso o contrário, correríamos o risco
de não conseguirmos responder, para quê serve o conselho de classe?
(GONÇALVES, 2010).
A reflexão oportunizada por meio dos estudos referentes ao conselho de
classe contribuiu na compreensão do papel do educador em todo este contexto,
sensibilizando pedagogicamente, para que a prática exercida na escola seja para
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emancipação do sujeito e sua formação e não apenas para manutenção da
diferenças, reforçadas pelas avaliações dos sistemas ( SAVIANI, 1983).
Entende-se a partir da leitura de Saviani (1983), que a educação deveria
então contribuir com uma prática docente coerente com as necessidades das
camadas que estão á margem do processo de construção social, visando à
transformação da sociedade por meio da ação-compreensão-ação. Desvelando
contribuições camufladas que, segundo a análise de Gonçalves, Bourdieu afirma
que legitimam diferenças de origem social, cultural e econômica, por meio de
classificações de desempenho (p.69, 2010).
“Partindo do princípio da igualdade (de atendimento), e tratando os alunos desiguais em suas origens e propriedades (capitais) da mesma forma, a escola acaba por reforçar as diferenças preexistentes, por meio do discurso pedagógico, na medida em que é avaliado nem sempre se relaciona com a aprendizagem, mas com posturas e atitudes derivadas do capital social e cultural dos estudantes e suas famílias” (GONÇALVES, p. 69, 2010).
Enquanto fórum dialógico, o conselho de classe contemplou possibilidades de
mudanças significativas na busca de um resultado qualitativo e propostas
diferenciadas do que está posto. Estes indicadores tornaram-se imprescindíveis para
repensar a organização da escola como também na proposição de estudos para
uma atuação efetiva do Conselho de Classe, a fim de aprimorar o desenvolvimento
pedagógico, a participação coletiva e resultados mais positivos.
Por meio da pesquisa social, formalizou-se a continuidade de
acompanhamento dos resultados apresentados nos conselhos de classes do ano
letivo de 2011 analisando os resultados encaminhados à Secretária do Estado de
Educação do Paraná por meio de um relatório final. Em tempo, para melhor
compreensão do contexto pesquisado e a fim de promover uma reflexão e avaliação
frente à atuação dos conselhos de classes na escola de referência, apresentam-se
os resultados por meio de números transformados em percentuais, demonstrados na
tabela 01:
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Referência de análise Números de
alunos
Percentual
01 Alunos matriculados 918 100%
02 Alunos desistentes 81 8,82%
03 Alunos transferidos 94 10,24%
04 Alunos aprovados 295 32,13%
05 Alunos aprovados por conselho de
classe
275 29,96%
06 Alunos reprovados 173 18,85%
Tabela 01: Relatório final do C.E. Pe. Arnaldo Jansen – EFM apresentado à Secretaria de Educação do Estado do Paraná, ano base 2011.
Fonte: O autor
Refletindo sobre os resultados apresentados, percebe-se a importância da
realização do conselho de classe no contexto pesquisado. A pesquisa-ação, como
metodologia interativa, foi fundamental no diagnóstico ao propor a revisão da
atuação dos conselhos de classes enquanto prática pedagógica.
Ratificou-se com os dados obtidos, apresentados no relatório final, a
necessidade da escola e dos grupos atuantes (professores, alunos, pedagogos,
diretores, pais e outros), que fizeram parte do núcleo da pesquisa, um olhar
diferenciado quanto ao potencial pedagógico existente na realização dos conselhos
de classes.
Comparando o número de alunos aprovados por nota/média em relação ao
número de alunos aprovados pelo conselho de classe, inevitavelmente esta análise
nos remete a observação o quanto tornou-se importante na escola a realização
desse processo avaliativo contínuo e coletivo.
Constatou-se que o processo dos conselhos de classe é rodeado de
contradições e mecanismos, que indiretamente, reforça uma condição institucional
de “avaliação de mérito – classificação, desclassificação e reclassificação” –
confirmou-se por meio dos resultados que, estas práticas escolares são vivenciadas
nas escolas, como também por seus agentes (GONÇALVES, p. 76, 2010).
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Observa-se a dimensão que os conselhos de classes têm em projetar
possibilidades e avaliações a cada trimestre. Considerando a atuação dessa
instância colegiada em uma perspectiva processual, sendo imprescindível o
feedback desta avaliação à reflexão e a re-orientação das práticas realizadas em
sala de aula, não em um sentido seletivo, classificatório, mas, em um sentido
dinâmico e flexível, sobre os procedimentos utilizados, sobre os instrumentos que
estão sendo trabalhados, como também, sobretudo, aos valores psicossociais e
culturais que orientam a proposição desse processo pedagógico, que vão se
relacionando nos diversos segmentos educacionais, ou seja, equipe pedagógica,
equipe diretiva, pais, projeto político pedagógico, como também o próprio sistema
vigente nas políticas educacionais.
Com esses dados tabulados e a proposta de análise reflexiva, à medida que
as relações dos resultados do ano letivo foram se desvelando, observou-se as
consequências e os impactos dessas interações no desenvolvimento da prática
educacional. Observa-se que, contando apenas com os alunos frequentes,
destacados na tabela 02, revelar-se-á um percentual impactante se considerarmos
os reais sem o deslocamento de interações frente a prática pedagógica dos
conselhos de classes.
Referência de análise Números de alunos Percentual
01 Alunos freqüentes 743 100%
02 Alunos aprovados 295 39,7%
03 Alunos aprovados por conselho de classe 275 37,0%
04 Alunos reprovados 173 23.3%
Tabela 02: Levantamento de dados, apenas com o número de alunos frequentes, desconsiderando desistentes e transferidos.
Fonte: O autor
Neste sentido, a análise apresenta a interação da ação do conselho de classe
sistematizando ações construtivas como mediadoras para superar as limitações do
paradigma da avaliação escolar propriamente dita. O colegiado ao conceituar este o
processo de construção da aprendizagem, considerou a importância da escola na
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22
formação do sujeito completo, como também no cumprimento da função social da
escola, secundarizando a preocupação com o conhecimento por meio da absorção
de informações verificadas na provas e apresentadas nos boletins.
.
Referência de análise Números de alunos Percentual
01 Alunos freqüentes 743 100%
02 Alunos aprovados e aprovados por conselho
de classe
570 76.7%
03 Alunos reprovados 173 23.3%
Tabela 03: Levantamento de dados, apenas com o número de alunos freqüentes, considerando a atuação do conselho de classe.
Fonte: O autor
.
Referência de análise Números de alunos Percentual
01 Alunos frequentes 743 100%
02 Alunos aprovados 295 39.7%
03 Alunos aprovados por conselho de classe e
alunos reprovados
448 60,3%
Tabela 04 Análise dos dados, desconsiderando o conselho de classe e sua atuação.
Fonte: O autor
Mediante a apresentação das tabelas 03 e 04 comparando os percentuais
apresentados, pode-se avaliar que o conselho de classe, enquanto instância
colegiada e deliberativa avançou quanto aos encaminhamentos pedagógicos e
coletivos em busca de uma decisão que se compromete com a formação do
educando. Isto se deve a conceituação que o colegiado atribui à avaliação, ou seja,
a avaliação sendo um diagnóstico da qualidade dos resultados processuais, ele se
define dinâmica e não estática. Sendo assim, avaliação coletiva, ela esta sujeita a
mudanças (LUCKESI, 2010).
Por meio da atuação do conselho de classe em 2012, a escola cumpriu sua
função social quando em análise não considerou apenas os elementos estáticos
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(notas), na tomada de decisão, considerou na decisão, o que melhor contribuiria na
formação dos alunos, levando em conta todo o contexto da realidade trabalhada.
Nesta perspectiva, o colegiado investiu na função social de escola pública,
enquanto agente transformador, considerando não somente a verificação das
informações repassadas e conteúdos ensinados, mas, o resultado que esta
interação vivenciada na sala de aula contribuiu na vida do aluno em diversos
aspectos, ou seja, cognitivo, cultural, social, afetivo e histórico.
Visto que a escola expressa uma preocupação social, ela não se esgota ao
apresentar o resultado, ela caminha em busca de aspirações e condições reais de
se realizar um trabalho pedagógico direcionado democraticamente.
Apresentam-se aqui por meio da tabela 05, subsídios focados na turma da
pesquisa-ação, que de algum modo revelam a insuficiência do processo pedagógico,
no sentido de se construir uma cultura participativa, que acompanhe o aluno e suas
necessidades.
Referência de análise Números de alunos Percentual
01 Alunos matriculados 37 100%
02 Alunos transferidos 01 2.7%
01 Alunos frequentes 36 97.3%
02 Alunos aprovados 04 10.8%
03 Alunos aprovados por conselho de classe 24 64.9%
04 Alunos reprovados 08 21.6%
Tabela 05: Análise de dados da turma, objeto de estudo do projeto de implementação, 7ª série/8º ano, turma E do Colégio Pe. Arnaldo Jansen - EFM.
Fonte: O autor
É nesta perspectiva inclusiva, que podemos contemplar os avanços da
comunidade escolar (professores, pedagogos, diretores), quanto à compreensão da
função social da escola pública, lembrando, evidentemente, que o conselho de
classe foi o palco, para que se realizasse a concretização de processo de
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acompanhamento continuo, a fim de avaliar periodicamente os resultados
pedagógicos obtidos.
Considerando o resultado do desenvolvimento pedagógico dos alunos que em
2011 eram da 7ªsérie/8º ano, turma B (turma de referência do projeto de
implementação pedagógica do referido artigo) e atualmente encontram-se cursando
o 9º ano, turma B, percebeu-se a importância do acompanhamento do
desenvolvimento pedagógico e humano, pois, na medida em que conceito
operacional do Conselho de Classe foi se ampliando, a sua importância enquanto
organização coletiva e de caráter avaliativo do processo pedagógico, favoreceu a
decisão mais adequada.
Como resultado de acompanhamento trimestral, a turma de referência, 9º
ano, turma B, encontra-se com 36 alunos matriculados, apresentando em
percentual, 50% com comprometimento de aprendizagem, os demais subdividem
em 5,6% de alunos transferidos, 16,7% de alunos com bom desenvolvimento de
aprendizagem e 27,7% com desenvolvimento regular.
Projetando este desenvolvimento ao longo do ano letivo vigente, contemplar-
se-á no decorrer do processo pedagógico, um acompanhamento que favoreça a
superação das dificuldades anteriores, unindo vários fatores, sensibilização do grupo
de professores em relação à elaboração das atividades planejadas, melhor interação
quanto as possíveis contribuições da equipe pedagógica, comprometimento da
gestão escolar, participação dos pais na vida escolar dos estudantes e até o fato da
turma apresentar-se mais focada à aprendizagem do que no ano da implementação
da pesquisa-ação.
Vivenciando este equilíbrio pedagógico, a legitimidade do processo configura-
se com uma movimentação colaborativa, porém, com as transformações sociais,
porém, é preciso cuidar com o que se produz. A cultura escolar gerada pode
construir como também pode desconstruir o papel ativo da educação escolar na vida
do individuo, isto é, cumprir ou não sua função social, emancipar o homem por meio
do patrimônio mais rico da humanidade, o conhecimento, ou deixá-lo fadado a sua
própria sorte (SAVIANI, 1983).
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Considerações finais
No sentido de dinamizar as propostas pedagógicas advindas das
necessidades apresentadas pelo coletivo da Escola, o Conselho de Classe como
proposta de estudo deste artigo, desenvolvido por meio do Programa de
Desenvolvimento Educacional, PDE, contempla o favorecimento desta organização
colegiada a possibilidade de se efetivar na escola o exercício da coletividade.
Procurou-se discutir pedagogicamente como tornar significativa a atuação dos
Conselhos de Classes sob a luz de uma teoria que justificasse a prática,
contribuindo diretamente na construção de um ensino e de uma aprendizagem de
qualidade.
A Escola enquanto instituição contribuinte ao desenvolvimento humano,
mesmo, com entraves e dificuldades, ainda acredita no compromisso e na
organização coletiva dos conselhos de classes como gerador de encaminhamentos,
enfrentando problemas, diversidades e superações.
A ênfase dada nos conselhos de classes, como objeto de estudo, possibilitou,
aos participantes da pesquisa interativa um olhar diferenciado à prática propriamente
dita. Observou-se o quanto a Escola pode perder se não concretizarmos estes
encontros coletivos. Sendo assim, conferiu aos conselhos de classes, a
oportunidade de ultrapassar as barreiras dos aspectos burocráticos, para vivenciar a
prática de várias realidades e pontos de vistas diferentes, desarticulando as relações
de poder que impregnam as práticas pedagógicas existentes nas escolas, inclusive
as dos Conselhos de Classes.
Entretanto ratificou-se a distância quanto ao alcance do “pensar e fazer” na
Escola, ao almejar uma prática significativa e autônoma com interação entre o
conteúdo histórico e a realidade concreta. Durante o estudo desenvolvido
relevâncias pedagógicas, foram se acentuando e com isso esclarecendo, os
entraves pedagógicos desenvolvidos pelo próprio sistema de política educacional.
Identificou-se, na própria instrução governamental, dificuldades de organização dos
conselhos de classes, pois, engessados pelas orientações apresentadas na
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26
construção do calendário escolar, este, compromete parcialmente a autonomia
contemplada no Projeto Político Pedagógico.
Com a proposta de se construir práticas reflexivas e democráticas,
pertinentes ao contexto escolar, a partir das necessidades apresentadas no
cotidiano escolar, cada segmento da escola ao assumir sua responsabilidade diante
do processo pedagógico, efetiva a busca de uma qualidade de ensino e qualidade
de aprendizagem, se aplicando a uma forma de se avaliar coletivamente a prática
realizada nos dias considerados letivos. Neste momento, questiona-se o demérito
apresentado aos conselhos de classes, quando estes, embora necessários,
perderam ao longo do tempo, espaços pedagógicos, caracterizados como dias
letivos.
Tratando-se de um espaço de avaliação pedagógica, o conselho de classe,
ao abranger vários componentes da escola, pode ser considerado, o único momento
de se realizar uma avaliação coletiva, onde cada segmento, ao participar da
avaliação, assume também, sua responsabilidade e comprometimento diante do
processo e do resultado que se queira transformar em qualidade.
Nos seus aspectos estruturais pouco se avançou na realização processual de
um conselho de classe diferenciado, porém, a idéia desta busca foi semeada,
cabendo agora a continuidade do estudo socializado, até formalizarmos a
concretização de uma estrutura pedagógica sobre os conselhos de classes que
atendam as necessidades escolares refletidas e acionadas coletivamente, rompendo
com ações burocráticas e isoladas onde verticalidade é extinta, promovendo uma
organização horizontal e circular.
A sensibilidade em busca de um desenvolvimento contínuo dos conselhos de
classes rompe com conceitos reducionistas do qual as práticas pedagógicas
encontravam-se isoladas e amarradas.
Sob esta perspectiva, ao redefinir encaminhamentos e objetivos,
desenvolveu-se identidades colaborativa e participativa entre os segmentos
escolares, situando-os responsavelmente na prática do contexto institucional, como
também no Projeto Político Pedagógico, fortalecendo assim, princípios democráticos
e coletivos, que postos em ação, diminuem distâncias entre o dito e o feito.
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Figura 02 – Proposta de organização processual e continua dos conselhos de classes.
Fonte: O autor
Em tempo, pode-se perceber que não há pretensão de buscarmos um novo
conselho de classe, mas, torna-se fundamental que ao colocarmos em ação esta
prática pedagógica, possamos ir além, de cumpri-lo como mero ritual tarefeiro e
burocrático. Será preciso esgotar todas as possibilidades que o conselho de classe
oferece principalmente se tivermos nesta instância colegiada, os segmentos
escolares reunidos, que possam traçar o melhor caminho que a Escola deve seguir.
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