Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005 Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005

VIVIAN, J. A. C.; FARIAS, A. F.; HOPPE, J. M. Avaliação da Germinação de Sementes de Cinamomo - Gigante... 59 60

AVALIAÇÃO DA GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CINAMOMO ­ GIGANTE (MELIA AZEDARACH) EM FUNÇÃO DE

DIFERENTES MÉTODOS DE BENEFICIAMENTO DE SEMENTES

João Ângelo C. Vivian 1 Jorge Antonio de Farias 2 Juarez Martins Hoppe 3

RESUMO

O cinamomo­gigante (Melia azedarach), é uma árvore exótica perfeitamente adaptada às condições edafo­climáticas da região sul do Brasil. A sua madeira é considerada nobre em virtude de suas excelentes propriedades físico­mecânicas, aliada a sua beleza estética, sendo dessa forma muito apreciada pela indústria moveleira e por pequenos marceneiros. Em relevância ao seu potencial madeireiro, a existência de dúvidas sobre aspectos silviculturais entre viveiristas e a falta a de informações na bibliografia, o presente trabalho teve por objetivo avaliar o melhor método de beneficiamento de sementes de cinamomo­ gigante para a produção de mudas. A pesquisa foi realizada na casa de vegetação da Estação Experimental da Afubra, local em que foram testados dois diferentes métodos de beneficiamento de sementes. O 1º método consiste no despolpamento manual por esmagamento do fruto e o 2º método por desidratação da polpa. O delineamento estatístico utilizado foi totalmente casualizado com 2 tratamentos e 4 repetições, totalizando assim 8 parcelas das quais foram avaliadas as 50

mudas mais centrais. Após 101 dias da semeadura, observou­se que as sementes despolpadas apresentaram maior velocidade e percentagem de germinação de plântulas normais, diferenciando­se significativamente das sementes que sofreram apenas desidratação da polpa. Desta forma, recomenda­se à retirada da polpa no processo de beneficiamento de sementes de cinamomo­gigante (Melia azedarach).

Palavras­chave: produção de mudas, semente, beneficiamento e germinação.

ABSTRACT

Giant China Tree (Melia azedarach), is an exotic species perfectly adapted to the edaphoclimatic conditions in South Brazil. Its timber is considered hardwood by virtue of its excellent physical­mechanical properties, along with its esthetic beauty, and therefore very appreciated by the furniture industry and carpenters. Focused on its timber potential, along with the many doubts about its silvicultural traits persisting among nurserymen, and the lack of bibliographic information, the objective of the present paper is to evaluate the best giant china tree seed processing method for the production of seedlings. All research work was conducted at the forestry greenhouse of Afubra’s Experimental Station, where two different seed processing methods were tested. The first method consisted in manual seed pulp removal by crushing the fruit, and the second consisted in pulp dehydration. Scientific delineation utilized was totally casual with 2 treatments and 4 repetitions, totaling 8 parts, of which the 50 most central seedlings were evaluated. 101 days after seeding, it was observed that the pulpless seeds showed higher speed and higher germination rate of normal seedlings, significantly differing from the seeds only submitted to the pulp dehydration process. Therefore, pulp removal is recommended when giant china tree (Melia azedarach) seeds are processed.

Keywords: Seedling production, seed, processing and germination.

________________ 1 Eng. Florestal, Gerente de Implantação da Reserva Biológica da Mata Paludosa SEMA/DEFAP/ DUC. Rua Dr. Paulo da Silva e Souza, 264, Santa Maria/RS, CEP: 97035­250, fone: (55) 99182111, joao.vivian@bol.com.br

2 Eng. Florestal, Economista, Mestrando em Engenharia Florestal, CCR/UFSM e Gerente de Produção Agroflorestal da AFUBRA. Rua Carlos Henrique Hautth, 915, Santa Cruz do Sul/RS, CEP: 96122­040, fone: (51) 99971597, farias@afubra.com.br

3 Eng. Florestal, Dr. Prof. Adjunto do Curso de Engenharia Florestal, CCR/UFSM, Faixa de Camobi, Km9, Campus Universitário, Santa Maria/RS, CEP:97105­900, fone: (55) 32208276, hoppe@ccr.ufsm.br

Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005 Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005

VIVIAN, J. A. C.; FARIAS, A. F.; HOPPE, J. M. Avaliação da Germinação de Sementes de Cinamomo - Gigante... 61 62

INTRODUÇÃO

Apesar do Brasil ser um centro de referência de pesquisas sobre o cultivo de espécies do gênero Pinus e Eucalyptus, e, por conseqüência exercer importante papel na pauta de exportações de papel, celulose, cavacos de madeira e madeira tropical no mercado mundial, observa­se ha falta de informações silviculturais a respeito de diversas outras espécies de grande potencial madei­ reiro.

O cinamomo­gigante (Melia azedarach) é uma destas espécies que apresentam ótimas qualidades em sua madeira e excelente grau de adaptação edafo­climáticas na região sul do Brasil, o que justificariam a realização de investimentos com intuito de produzir toras tanto para a industria moveleira, como para o consumo doméstico de famílias do meio rural, além de pequenos marceneiros. Outra vantagem do cinamomo­gigante é o fato da espécie ser exótica, sendo assim liberado para o corte.

Originária da Ásia o cinamomo­gigante apresenta crescimento rápido, podendo atingir mais de 15 m de altura e 40 cm de diâmetro à altura do peito. Sua casca é grossa e a madeira é considerada nobre sendo muito utilizada em marcenarias. Prefere solos férteis, profundos e bem drenados. Considerando todas essas características o cinamomo­gigante é uma espécie indicada para o uso em (re)florestamentos (KOTHE, 1992).

As espécies arbóreas apresentam uma grande diversidade de sementes, variando bastante seus aspectos morfológicos e fisiológicos, o que vai determinar as atividades de coleta, beneficiamento e produtividade de mudas. Em virtude, da grande carência de conhecimentos na área e da necessidade de informações específicas para cada tipo de semente, os estudos básicos para produção de mudas são de extrema importância para o desenvolvimento da atividade florestal e de programas de conservação (MONTEIRO et al., 1997).

Beneficiamento de sementes é um conjunto de operações que se estendem desde a colheita até o armazenamento e que visam retirar as impurezas das sementes, deixando as puras para a semeadura e/ou comercialização (SCHUMACHER et al, 2002).

Para Silva et al. (1993), beneficiamento consiste num conjunto de técnicas empregadas para retirar impurezas, sementes de outras espécies promovendo a homogeneização do lote em relação às características de tamanho, peso e forma de suas sementes. Segundo o mesmo autor, o processo de beneficiamento é importante, pois confere ao lote de sementes os dados e a qualidade exigida pelo serviço de Fiscalização do Comércio, para que este lote possa ser comercializado.

Segundo Nogueira (2002), o beneficiamento de sementes é feito baseando­ se em diferenças de características físicas entre a semente e o material indesejável, ou seja, o beneficiamento consiste na retirada de sementes chochas, imaturas, quebradas, sementes de outras espécies, pedaços de frutos, resíduos da colheita, insetos, dentre outras impurezas. Assim o lote de sementes vai apresentar maior pureza física e, consequentemente, melhor qualidade. Quanto menor for a quantidade de impurezas, maior será a quantidade de sementes por kilograma (HOPPE & WITSCHORECK, 2004).

Para o beneficiamento de sementes de espécies florestais que produzem frutos carnosos a separação das sementes dos frutos se faz friccionando os mesmos dentro de um recipiente com água. Com a maceração, ocorre a separação e os resíduos dos frutos flutuarão, enquanto as sementes irão se depositar no fundo do recipiente. Através do escorrimento da água e repetição do processo, vai­se obtendo a limpeza. Após a separação, as sementes deverão ser expostas ao sol ou à sombra, conforme já descrito, para que ocorra a perda da umidade até o ponto de armazenamento.

Apesar desses conhecimentos, informações silviculturais sobre o melhor processo de beneficiamento de sementes de cinamomo­gigante são muito conflitantes não havendo registros que comprovem a necessidade, ou não, do despolpamento das sementes desta espécie.

Desta forma, o presente trabalho teve por objetivo definir a melhor forma de beneficiamento de sementes de cinamomo­gigante (Melia azedarach) através do comportamento germinativo das sementes no viveiro.

MATERIAL E MÉTODOS

A presente pesquisa foi montada e conduzida na Estação Experimental da Associação dos fumicultores do Brasil (AFUBRA), localizada no município de Rio Pardo/RS mais precisamente no Distrito de Rincão Del Rey. O clima segundo classificação de Kopenn é subtropical tipo cfa, caracterizado por temperatura média anual entre 17,9 e 19,2 o C, com precipitação média anual de 1.500 mm (MORENO, 1961).

As sementes utilizadas no experimento foram coletadas de duas árvores matrizes presentes na própria Estação Experimental da Afubra. Logo após a coleta dos frutos, as sementes passaram por dois diferentes métodos de beneficiamento.

Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005 Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005

VIVIAN, J. A. C.; FARIAS, A. F.; HOPPE, J. M. Avaliação da Germinação de Sementes de Cinamomo - Gigante... 63 64

O 1º método de beneficiamento consiste no despolpamento manual por esmagamento dos frutos com a extração das sementes. Os frutos ficaram de molho em água por aproximadamente 6 horas, e logo após o seu amolecimento foram esmagados manualmente. Após esta operação as mesmas foram levadas a outro recipiente a fim de separar o material inerte, as impurezas e as sementes ruins pelo processo de flutuação.

No 2º método as sementes foram beneficiadas por desidratação da polpa, ou seja, os frutos foram secados ao sol por três dias e, em seguida, foram diretamente semeadas nos recipientes.

A pesquisa foi conduzida em estufa de plástico em um arranjo estatístico totalmente casualizado com 2 tratamentos e 4 repetições (Tab. 1), totalizando 8 parcelas, sendo que em cada parcela foram avaliadas 65 sementes as quais foram semeadas individualmente em tubetes de polipropileno com capacidade de armazenar 53 cm³ de substrato. O substrato utilizado foi à base de turfa.

Tabela 1 ­ Descrição dos tratamentos empregados no benefiamento de sementes de cinamomo­gigante (Melia azedarach).

desidratação da polpa, inclusive diferenciando­se estatisticamente em nível de 5% de probabilidade de erro pelo teste de Tukey.

Tratamento Método de beneficiamento de sementes 1 Despolpamento manual 2 Desidratação da polpa

Os parâmetros avaliados foram percentagem e velocidade de germinação de plântulas normais, ao final de 101 dias após a semeadura. A contagem da germinação foi realizada diariamente a partir do instante em que as primeiras sementes começaram a germinar e foram até o momento em que a germinação começou a parar.

Consideram­se plântulas normais àquelas que apresentavam todas as estruturas essenciais (sistema radicular, estrutura aérea [hipocótilo e epicótilo], cotilédones, folhas primárias e gema terminal), bem desenvolvidas, completas, proporcionais e sadias de forma a garantir o desenvolvimento de plantas normais (Brasil, 1992).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com a Fig. 1, as sementes que foram despolpadas manualmente apresentaram melhor desempenho germinativo do que as sementes que sofreram

Figura 1 ­ Percentagem de germinação de sementes de cinamomo­ gigante (Melia azedarach) em função de diferentes métodos de beneficiamento de semente, 101 dias após a semeadura.

* Médias seguidas pela mesma letra não diferiram significativamente pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade de erro. Coeficiente de variação = 8,0%

Os resultados demonstram, ainda, que o despolpe da semente reduziu o tempo de inicialização da germinação, além de aumentar significativamente a produtividade final de plântulas normais, principalmente quando comparadas com as sementes que passaram pelo processo de desidratação da polpa, ou seja, que não foram despolpadas (Fig. 2).

Figura 2 ­ Desempenho dos diferentes métodos de beneficiamento de

Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005 Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005

VIVIAN, J. A. C.; FARIAS, A. F.; HOPPE, J. M. Avaliação da Germinação de Sementes de Cinamomo - Gigante... 65 66

semente no transcorrer do período de avaliação da germinação das sementes de cinamomo­gigante (Melia azedarach).

A velocidade de germinação foi maior para as sementes despolpadas manualmente, diferenciando­se significativamente das sementes que sofreram apenas desidratação da polpa (Fig. 3).

realizadas, de modo particular para cada espécie, de maneira a conferir aos lotes de sementes boa qualidade e características apropriadas para a sua melhor germinação. O uso de sementes de boa qualidade constitui fator determinante no êxito do empreendimento florestal. O principal atributo da qualidade a ser considerado é a capacidade germinativa das sementes, pois sem ela a semente não tem valor para semeadura (FIGLIOLIA et al., 1993).

Desta forma, fica evidente o efeito positivo da remoção da polpa no processo germinativo de sementes de cinamomo­gigante (Melia azedarach).

CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos, recomenda­se a retirada da polpa no processo de beneficiamento de sementes de cinamomo­gigante (Melia azedarach), visto que o método permitiu maior eficácia no desenvolvimento germinativo das sementes.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura – MA. Regras para Análise de Sementes. Brasília. Secretária de Defesa Agropecuária. Laboratório Vegetal, 1992, 365p.

FIGLIOLIA, M. B.; OLIVEIRA, E. C.; PIÑA RODRIGUES, F. C. M. Analise de Sementes. In: AGUIAR, I. B.; PIÑA RODRIGUES, F. C. M.; FIGLIOLIA, M. B. (Org.). Sementes Florestais Tropicais. Brasília: Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes, 1993, p. 137­174.

HOPPE, J. M.; WITSCHORECK, R. Sementes e Mudas Florestais. In: Aspectos silviculturais e ecológicos dos plantios florestais. Santa Maria: UFSM, p. 27­40, 2004.

KOTHE, J. Reflorestar é preservar. Florianópolis: Souza Cruz, 1992, 46p. MONTEIRO, P. P. M.; RAMOS, F. A. Beneficiamento e quebra de dormência em 5 espécies florestais do cerrado. Revista Árvore, Viçosa, v. 21, n. 2, p. 169­ 174, 1997.

MORENO, J. A. Clima do RS.Porto Alegre, Secretaria da Agricultura, RS, p.41, 1961

Figura 3 ­ Velocidade de germinação das sementes de cinamomo­gigante (Melia azedarach) em função de diferentes métodos de beneficiamento de sementes, 101 dias após a semeadura.

* Médias seguidas pela mesma letra não diferiram significativamente pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade de erro. Coeficiente de variação = 2,8%

Isto comprova a eficácia do método de despolpe, que apesar de gerar maior mão de obra na sua execução, reduz os riscos de danificação das sementes pela ação de agentes bio­degradores (fungos, bactérias, insetos,...), diminui o tempo de viveiro das mudas e por conseqüência, demais gasto relativos à produção e a manutenção das plantas no viveiro.

Acredita­se também, que no fruto do cinamomo­gigante, mais especificamente na sua polpa, possa haver a presença de substâncias inibidoras a germinação.

Em estudo realizado por Monteiro (1997), observou­se que os frutos despolpados de Siphoeneugina densiflora (murta) apresentaram o dobro de germinação quando comparados aos frutos semeados diretamente.

A qualidade das sementes produzidas é também resultante dos processos de colheita, extração e beneficiamento. Essas etapas devem ser cuidadosamente

Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005 Caderno de Pesquisa Sér. Bio., Santa Cruz do Sul, v. 17, n. 2, p. 59-67, jul./dez . 2005

VIVIAN, J. A. C.; FARIAS, A. F.; HOPPE, J. M. Avaliação da Germinação de Sementes de Cinamomo - Gigante... 67 68

NOGUEIRA, A. C. Coleta, Manejo, Armazenamento e Dormência de Semen­ tes. In: Restauração da Mata Atlântica em áreas de sua Ocorrência Natural. Colombo: Embrapa Florestas, p. 45­52, 2002.

SCHUMACHER, M. V.; HOPPE, J. M.; FARIAS, J. A. Manual de instruções para a coleta e beneficiamento, armazenamento e análise de sementes florestais. Projeto Bolsa de Sementes de Espécies Florestais – AFUBRA/ UFSM, v.1, 2002, 28p.

SILVA, A.; FIGLIOLIA, M. B; AGUIAR, I. B. Secagem, Extração e Beneficiamento de Sementes. In: AGUIAR, I. B.; PIÑA RODRIGUES, F. C. M.; FIGLIOLIA, M. B. (Org.). Sementes Florestais Tropicais. Brasília: Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes, p. 303­332, 1993.