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Ciências Contábeis a distância Curso de Graduação em Auditoria Contábil Ernesto Fernando Rodrigues Vicente Universidade Federal de Santa Catarina Centro Sócio-Econômico Departamento de Ciências Contábeis

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  • Cincias Contbeisa distncia

    Curso de Graduao em

    a

    Auditoria Contbil

    Ernesto Fernando Rodrigues Vicente

    Universidade Federal de Santa CatarinaCentro Scio-Econmico

    Departamento de Cincias Contbeis

  • V632a Vicente, Ernesto Fernando Rodrigues

    Auditoria Contbil / Ernesto Fernandes Rodrigues. Vicente - Florianpolis : UFSC /CSE / Departamento de Cincias Contbeis, 2011.

    98p. : il., grficos, tabelas Inclui bibliografia ISBN: 978-85-62894-44-2

    1. Contabilidade. 2. Auditoria. I. Ttulo

    CDU: 657.63

    Universidade Federal de Santa Catarina, Sistema UAB. Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, dos autores.

  • GOVERNO FEDERAL Presidente da Repblica Dilma Vana Rousseff Ministro da Educao Fernando Haddad Secretrio de Educao a Distncia Carlos Eduardo Bielschowsky Coodenador Nacional da Universidade Aberta do Brasil Celso Costa

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    CENtRO sCiO-ECONMiCO Diretor Ricardo Jos Arajo Oliveira Vice-Diretor Alexandre Marino Costa

    DEPARtAMENtO DE CiNCiAs CONtBEis Chefe do Departamento Maria Denize Henrique Casagrande Subchefe do Departamento Flvio da Cruz Coorda. Geral do Curso de Graduao na modalidade a distncia Maria Denize Henrique Casagrande Coordenadora de Educao a Distncia Eleonora Milano Falco Vieira Coordenador de Tutoria e de Pesquisa e TCC Altair Borgert Coordenador de Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem Irineu Afonso Frey Coordenador Financeiro Erves Ducati Coordenadora Pedaggica Elisete Dahmer Pfitscher

    EqUiPE DE PRODUO DE MAtERiAL Coordenao de Design Instrucional Suelen Haidar Ronchi Design Instrucional Eleonora Schlemper Mendona Reviso Textual Maria Geralda Soprana Dias Reviso de Material Patrcia Cella Azzolini Coordenao de Design Grfico Giovana Schuelter Design Grfico Maraysa Alves Ilustraes Maraysa Alves Design de Capa Guilherme Dias Simes Felipe Augusto Franke Steven Nicols Franz Pea Projeto Editorial Andr Rodrigues da Silva Felipe Augusto Franke Guilherme Dias Simes Steven Nicols Franz Pea

  • sumrio

    Unidade 1 - Introduo Auditoria1.1 Histrico da Auditoria ...................................................................... 12 Acontecimentos que marcaram a evoluo da auditoria ..........................................14 Origem e evoluo do conceito de auditoria ............................................................16

    1.2 Formas de Auditoria ......................................................................... 19 De acordo com a extenso dos trabalhos ................................................................. 20 De acordo com a profundidade dos exames .............................................................21

    De acordo com sua tempestividade ......................................................................... 22

    De acordo com os fins a que se destina .................................................................... 23

    De acordo com a relao do auditor com a entidade auditada ................................ 24

    Unidade 2 - Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    2.1 Atividades preliminares do trabalho de auditoria ............................322.2 Definio: natureza, poca e extenso dos recursos

    necessrios.........................................................................................322.3 Documentao do planejamento .....................................................332.4 Atividades preliminares do trabalho de auditoria ............................342.5 Entendimento necessrio da entidade e do seu ambiente ...............34 Controle interno da entidade ................................................................................... 37 Auditoria interna: utilizao do trabalho de auditoria interna ................................ 38

    Relaes entre auditoria interna e o auditor independente ..................................... 39

    Utilizao de trabalho especfico dos auditores internos ......................................... 40

    Outros fatores externos ............................................................................................ 40

    2.6 Materialidade no planejamento e na execuo da auditoria ............402.7 Identificao e avaliao dos riscos de distoro ............................. 412.8 Amostragem em auditoria. ..............................................................422.9 Cronograma de planejamento ...........................................................43

    Unidade 3 - Evidncias de Auditoria3.1 Fontes da evidncia de auditoria ......................................................473.2 Procedimentos de auditoria para obteno

    de evidncia de auditoria ..................................................................47 Inspeo .................................................................................................................... 48 Observao ............................................................................................................... 48

    Confirmao externa ................................................................................................ 48

    Reclculo .................................................................................................................. 50

  • Reexecuo ............................................................................................................... 50 Procedimentos analticos .......................................................................................... 50

    Indagao .................................................................................................................. 50

    3.3 Informaes a serem utilizadas como evidncia de auditoria .......... 51 Relevncia ..................................................................................................................51 Confiabilidade ........................................................................................................... 52

    Seleo dos itens para testes para obteno da evidncia de auditoria .................... 52

    Seleo de todos os itens .......................................................................................... 53

    Seleo de itens especficos ....................................................................................... 53

    3.4 Testes de superavaliao e de subavaliao ......................................543.5 Testes em contas do ativo e despesas ...............................................57 Testes em disponibilidades ....................................................................................... 59 Testes em estoques ................................................................................................... 59

    Testes em contas a receber/clientes ..........................................................................61

    Testes em outras contas do ativo circulante ............................................................. 62

    Testes em contas do ativo no circulante ................................................................. 62

    Testes em contas de despesas ................................................................................... 64

    3.6 Testes em contas do passivo, patrimnio lquido e receitas .............65 Testes em contas a pagar fornecedores .................................................................... 66 Testes em contas de emprstimos e financiamentos ................................................ 66

    Testes em outras contas do passivo circulante e no circulante............................... 67

    Testes em contas do patrimnio lquido .................................................................. 67

    Testes em contas de receitas ..................................................................................... 68

    3.7 Documentao da auditoria papis de trabalho ............................693.8 Confidencialidade, Custdia e Propriedade

    dos Papis de Trabalho ......................................................................71

    Unidade 4 - Emisso do Relatrio do Auditor Independente sobre as Demonstraes Contbeis

    4.1 Concluso do auditor .......................................................................874.2 Relatrio do auditor independente ..................................................88 Ttulo ........................................................................................................................ 88 Destinatrio .............................................................................................................. 88

    Pargrafo introdutrio ............................................................................................. 89

    Responsabilidade da administrao .......................................................................... 89

    Responsabilidade do auditor .................................................................................... 89

    Opinio do auditor padro .................................................................................... 90

    Opinio do auditor modificaes em relao ao padro ....................................... 90

    Assinatura do auditor ............................................................................................... 92

  • Data do relatrio do auditor independente .............................................................. 92 Endereo do auditor independente .......................................................................... 92

    4.3 Complementos ao relatrio do auditor independente (outros assuntos) .......................................................92

    Demonstraes contbeis do perodo anterior auditadas por auditor independente antecessor ................................................................................................................ 92

    Demonstraes contbeis do perodo anterior no auditadas ................................ 93

    Demonstraes contbeis comparativas ................................................................. 93

    Normas de auditoria de jurisdio especfica ........................................................... 93

    Referncias ............................................................................................95

  • Caro(a) aluno(a),

    A auditoria contbil reconhecida como uma atividade de fundamental importncia para a confiana dos usurios da informao contbil.

    Ao longo do desenvolvimento econmico das naes e principalmente aps as crises de 1929 e 2001, a importncia da auditoria mostrou-se ainda mais relevante e impactante, pois os grupos de interesse nas empresas tm no processo de auditoria a confiana necessria para poder tomar decises com base no relatrio da auditoria.

    Esperamos que os alunos do curso de graduao em Cincias Contbeis da UFSC discutam e pratiquem os procedimentos e testes desenvolvidos neste texto.

    Prof Ernesto Fernando Rodrigues Vicente

  • Anotaes amd

  • Unidade 1

    Introduo AuditoriaNa unidade 1, voc vai conhecer a histria da auditoria, os conceitos bsi-

    cos e as principais formas de auditoria.

    Unidade 1

    11

  • 11

    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    Auditoria pode ser conceituada como a atividade de levantamento e de avaliao sistemtica de procedimentos e tarefas de uma determinada rea. Essa atividade de levantamento e avaliao est geralmente associada a um conjunto de normas internas e/ou externas, legais ou no que devem ser verificadas, ou auditadas, por um profissional especializado.

    Sem esgotar o assunto, diversos tipos de auditoria podem ser listados.

    TIPO DE AUDITORIA ATIVIDADES DE LEVANTAMENTO E AVALIAO

    Auditoria internaObservncia de normas e procedimentos implantados pela empresa

    ou pelos rgos reguladores de determinadas atividades.

    Auditoria operacionalProcessos administrativos e operacionais em busca do aprimoramento

    contnuo dos processos.

    Auditoria de cumprimento normativo ou compliance audit

    Com a mesma abordagem da auditoria interna, esta auditoria mais utilizada em reas com um maior conjunto de regras, como, por

    exemplo, os bancos fiscalizados pelo Banco Central.

    Auditoria de gesto Da eficincia e da eficcia do corpo diretivo e gerencial.

    Auditoria de sistemasDa qualidade do sistema de computao de dados e dos controles

    existentes no ambiente de tecnologia de informaes, com o objetivo de garantir a gerao de informaes e dados confiveis.

    Auditoria fiscal e tributriaAnlise dos procedimentos adotados para a apurao, controle e paga-mentos dos tributos que incidem nas atividades comerciais e operacio-

    nais da empresa. Avaliao do planejamento tributrio.

    Auditoria ambiental (1)Avaliao dos processos operacionais e produtivos das empresas

    visando identificao de danos ao meio ambiente e quantificao de contingncias.

    Auditoria ambiental (2) Preparao da empresa para receber o Certificado ISO 14.000 International Organization for Standardization meio ambiente.

    Auditoria das demonstraes contbeis

    Ou auditoria independente, onde feita a anlise da conformidade dos procedimentos de evidenciao contbil.

    Quadro 1 Tipos de auditoria Fonte: Elaborao do autor.

    Em complemento, a auditoria contbil, que pode ser conceituada como sendo o o levantamento, estudo e avaliao sistemtica das transaes, proce-dimentos, operaes, rotinas, e das demonstraes financeiras de uma entida-de, conforme Crepaldi (2004, p. 23), uma atividade necessria e fundamen-tal para a confiana dos usurios da informao contbil.

    Uma abordagem mais completa do conceito de Auditoria Contbil associa o processo de auditoria Teoria da agncia ( JENSEN, 1976), ou mais par-

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    ticularmente ao surgimento de conflitos de interesse (problema de agncia) entre o proprietrio do capital e os agentes contratados para a gesto do ne-gcio. Nesse contexto, surge o conceito de governana nas organizaes, que minimiza o problema de agncia, com a adoo e a evidenciao dos contro-les internos, maior transparncia e equidade na divulgao das informaes financeiras. A auditoria contbil garante, por meio de tcnicas e testes, que as demonstraes financeiras reflitam a situao econmico-financeira da enti-dade. Nesse sentido, Almeida (2001) defende que:

    Para encontrarmos as bases da auditoria e os seus fundamentos, no a

    podemos conceber numa perspectiva de auditado, mas, sim, enquadrando-a

    como elemento de uma sociedade que contribui para o seu bem-estar.

    Diferentemente das outras auditorias, a auditoria contbil orientada para empresas que publicam obrigatoriamente suas demonstraes contbeis. No caso de companhias abertas:

    Art. 177... 3o As demonstraes financeiras das companhias abertas obser-

    varo, ainda, as normas expedidas pela Comisso de Valores Mobilirios e

    sero obrigatoriamente submetidas auditoria por auditores independentes

    nela registrados. (BRASIL, 2009).

    Para se conhecer a auditoria, deve-se analisar o seu processo histrico, a sua origem e o motivo pelo qual ela se tornou uma atividade necessria ao bom andamento dos diversos negcios a que ela se aplicava.

    1.1 HistRiCO DA AUDitORiA

    A histria mostra que a auditoria e a contabilidade caminham juntas desde o seu incio. A partir do momento em que a contabilidade foi sendo criada para mensurar e controlar o patrimnio e os resultados das trocas de merca-dorias, o processo de auditoria foi sendo desenvolvido e cada vez mais forte-mente associado histria da contabilidade. S (1995 apud ALBERTON, 2008) aborda a histria da contabilidade dividindo-a nas seguintes idades:

    a. Idade antiga da contabilidade: compreende a escriturao dos fatos pa-trimoniais pelos sumrios, babilnios, egpcios, assrios, cretenses, gregos,

  • 13

    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    romanos e outras civilizaes, no perodo compreendido entre 6.000 a.C. e 1.202 d.C.

    b. Idade mdia da contabilidade: marcada pelo aparecimento do mtodo do registro contbil pelas partidas dobradas, no perodo de 1.202 a 1.494.

    c. Idade moderna da contabilidade: marcada pela divulgao das primei-ras obras sobre a tcnica dos registros patrimoniais, com destaque para a obra Tractatus, de Luca Pacioli em 1.494, e, em 1.840, pelos estudos cientficos de Francesco Villa.

    d. Idade cientfica ou contempornea da contabilidade: marcada pela sis-tematizao do conhecimento contbil, no perodo de 1840 at os dias atuais.

    De acordo com Attie (1998 apud ALBERTON, 2008), de 1840 at 1920, a Escola Italiana iniciou o processo de desenvolvimento da teoria da contabi-lidade. A partir de 1920, passou a predominar a Escola Anglo-Americana de Contabilidade, desenvolvendo a Contabilidade de Custos, Gerencial, Anlise de Balanos, Auditoria e outras ramificaes tcnicas.

    Alm dessas escolas, Schmidt (2000) cita outras: a Escola Alem no final do sculo XIX e incio do sculo XX, tendo como principal contribuio o desenvolvimento doutrinrio da contabilidade, e a Escola Francesa ou Neo-contista, tambm no final do sculo XIX, que estabeleceu procedimentos para a elaborao dos balanos das empresas; em 1880, foi realizado na Frana um congresso de contadores, no qual houve um consenso sobre a padronizao dos balanos patrimoniais.

    Portanto, a partir de 1840, a contabilidade passou a fazer parte dos princ-pios cientficos, acompanhando a evoluo do sistema empresarial e das eco-nomias de mercado. O conceito de sociedade foi sendo aprimorado e tornou-se possvel distinguir a entidade empresarial e os seus proprietrios.

    O incio do sistema capitalista foi marcado pelas empresas de capital fe-chado, principalmente as pertencentes a grupos familiares. A expanso do mercado e o aumento da concorrncia fizeram com que essas organizaes ampliassem suas instalaes, investissem em busca de novas tecnologias no desenvolvimento de pessoal, no aperfeioamento de seus controles internos e nos procedimentos de forma geral.

  • 14

    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    Para a realizao de tais investimentos, as organizaes precisaram de re-cursos financeiros; foram em busca de novos acionistas, abrindo seus capitais, ou em busca de dinheiro junto a instituies financeiras.

    Esses novos parceiros, seja a ttulo de emprstimos ou participaes per-manentes, precisavam analisar a situao econmico-financeira das empresas. Para isso, fizeram uso das demonstraes contbeis, para situarem-se acerca da segurana, liquidez e rentabilidade dessas organizaes. Por conseguinte, surgiu a figura do auditor contbil, profissional capacitado para dar confiabili-dade aos dados contidos nessas demonstraes.

    Como cincia social, a contabilidade tem por objetivo o controle patrimo-nial das entidades, utilizando-se de tcnicas contbeis para atingir suas metas. Uma dessas tcnicas a auditoria contbil.

    Na realizao da auditoria contbil, uma das funes do auditor verificar se a entidade auditada segue os princpios contbeis emanados pelo Conselho Federal de Contabilidade e demais rgos ligados a ele (CFC n 1.121 de 2008).

    1.1.1 Acontecimentos que marcaram a evoluo da auditoria

    Principais acontecimentos que marcaram a histria da auditoria no mundo esto demonstrados no Quadro 2, em ordem cronolgica.

    ANO MUNDO

    1310 Criao do Conselho de Londres Inglaterra.

    1314 Criao do cargo de auditor do Tesouro da Inglaterra.

    1559Sistematizao e estabelecimento da auditoria dos pagamentos a servidores pblicos pela Rainha Elizabeth

    I Inglaterra.

    1581 Criao do Colgio de Contadores de Veneza Itlia.

    1640 Criao do Tribunal de Contas em Paris Frana.

    1658 Criao da Academia Dei Ragionieri, nas cidades de Milo e Bolonha Itlia.

    1786 Criao do Guia profissional de Nova York Estados Unidos.

    1786 Criao do Guia Comercial ingls Inglaterra.

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    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    1845 O Railway Consolidation Act passou a obrigar a verificao dos balanos por auditores Inglaterra.

    1880 Criao da Associao dos Contadores Pblicos Certificados Inglaterra.

    1886Criao da Associao dos Contadores Pblicos Certificados (AICPA American Institute of Certified

    Public Accountants) Estados Unidos.

    1894 Criao do Instituto Holands de Contadores Pblicos Holanda.

    1916 Criao da American Accounting Association (AAA) Estados Unidos.

    1934 Criao do Security and Exchange Comission (SEC) Estados Unidos.

    1972 Criao do International Accounting Standard Board IASB.

    Quadro 2 - Acontecimentos que marcaram a histria da auditoria no mundo Fonte: Adaptado e compilado de Alberton (2008).

    O Brasil, com o aumento da sua participao na economia mundial, comea, em 1909, a adotar padres importados de outros pases, conforme Quadro 3.

    ANO BRASIL

    1909Mc-Auliffe Davis Vell & Co, a primeira empresa de auditoria instalada no Brasil, atualmente

    com o nome Arthur Andersen.

    1915 Chegada da Price Waterhouse no Rio de Janeiro.

    1946 Fundado pelo Decreto-lei n 9.295 o Conselho Federal de Contabilidade CFC.

    1960 Fundado o Instituto dos Auditores Internos do Brasil AUDIBRA.

    1965Criao da Lei n 4.728, para disciplinar o mercado de capitais, que citou pela primeira vez a

    expresso auditores independentes.

    1971 Fundado o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil IBRACON.

    1972 Criao das normas de auditoria promulgadas pelo Banco Central do Brasil.

    1972Resoluo CFC n 321/72 aprova as normas e os procedimentos de auditoria elaborados pelo

    IBRACON.

    1976 Lei n 6.385 cria a Comisso de Valores Mobilirios para fiscalizar o mercado de capitais.

    1976 Criao da Lei n 6.404 das Sociedades por Aes.

    1977 Criao da Ordem dos Auditores Independentes do Brasil.

    1990Instruo Normativa n202/93 Art.16, item VIII da CVM exige que as companhias abertas

    sejam auditadas trimestralmente.

    2001 Alterao da Lei n 6.404/76 das Sociedades por Aes.

    Quadro 3 Acontecimentos que marcaram a histria da auditoria no Brasil Fonte: Adaptado e compilado de Alberton (2008).

    Alm dos itens relatados, diversas instituies foram criadas no mundo e no Brasil para auxiliar no desenvolvimento e na evoluo da auditoria.

  • 16

    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    1.1.2 Origem e evoluo do conceito de auditoria

    Segundo S (1998 apud ALBERTON, 2008), a palavra auditoria tem a ori-gem latina audire: o ouvinte, aquele que ouve; e foi rotulada pelos ingleses por auditing, no sentido de reviso. Attie (1998) corrobora quanto ao fato de a origem da palavra auditoria (que tem como finalidade examinar, corrigir, ajustar, certificar) ser oriunda da cultura inglesa.

    As primeiras auditorias eram denominadas auditorias corretivas, que obje-tivavam detectar desfalques e fraudes, e verificar a honestidade dos adminis-tradores. O objetivo era assegurar aos proprietrios que os empregados con-tratados controlavam corretamente as contas, que no faltava nenhum bem e que as cifras eram exatas. Essas auditorias atingiam todas as operaes e registros contbeis.

    A evoluo da auditoria contbil comeou no final do sculo XIX, na Ingla-terra, Holanda e Estados Unidos, impulsionada pelo crescimento das empre-sas e pelo interesse da economia popular nas grandes organizaes. Para Fran-co e Marra (2000 apud ALBERTON, 2008), os principais fatos que marcaram a evoluo da auditoria contbil foram:

    a. o controle dos gastos pblicos;

    b. o aparecimento das grandes organizaes transnacionais;

    c. a taxao do imposto de renda baseado nos resultados apurados em ba-lanos;

    d. a participao acionria na formao de capital das empresas;

    e. a complexidade dos negcios;

    f. a prtica financeira impulsionadora do desenvolvimento da economia de mercado;

    g. a necessidade de informaes contbeis verdicas;

    h. a complexidade dos sistemas contbeis; e

    i. o desenvolvimento e a implementao de sistemas de controles internos.

  • 17

    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    Em funo desses fatos ocorridos e do envolvimento de um nmero maior de pessoas nas organizaes, foi possvel dividir o trabalho, foram segregadas as funes de custdia dos bens e dos registros contbeis, criando-se, assim, novos controles internos para proteger os bens, detectar e evitar fraudes. A partir desse momento, a verificao de todas as operaes e de todos os regis-tros tornou-se invivel, em funo de seu alto custo.

    Consequentemente, a funo do auditor contbil foi alterada, o qual pas-sou a examinar o sistema de controles internos e o sistema contbil, com a finalidade de verificar se a forma como so projetados permite manter regis-tros exatos, proteger os ativos e elaborar relatrios merecedores de confiana. Entram em cena os testes das transaes das evidncias, para verificar se o sistema contbil e os testes das evidncias funcionam de acordo com o plane-jamento, para comprovar os dados apresentados nas demonstraes contbeis.

    Desse modo, o conceito de auditoria contbil foi se modificando ao longo dos anos. O conceito mais antigo enfocava a auditoria de registros contbeis. Posteriormente, passou a enfocar a auditoria das demonstraes contbeis. O Quadro 4 destaca alguns conceitos de auditoria contbil que evidenciam essa evoluo.

    AUTORES/OBRAS CONCEITO

    William H. Bell e Ralph S. Johns (1942)

    Auditoria a verificao geral das contas de uma empresa para determinar sua posio financeira, o resultado de suas operaes e a probidade de seus

    administradores, com o fim de comunicar o resultado do exame aos pro-prietrios, acionistas, gerentes, conselheiros, s bolsas de fomento e outros

    rgos oficiais, sndicos atuais ou provveis arrendatrios, futuros intervento-res ou compradores, juntas de credores, agncias mercantis, hipotecrios ou quaisquer outros interessados. Objetiva verificar se houve prestao justa de contas de um patrimnio e se os negcios foram convenientemente adminis-trados, para satisfao ao pblico, aos doadores etc.; verificar custos, lucros

    ou prejuzos de um negcio; e descobrir e impedir fraudes.

    Pedro A. Vidal Rivera (1955)

    Auditoria o exame de todas as anotaes contbeis, a fim de comprovar sua exatido e a veracidade dos estados ou situaes que as ditas anotaes

    produzem.

    Arthur Warren Holmes (1956)

    A auditoria o exame de demonstraes e registros administrativos. O au-ditor observa a exatido, integridade e autenticidade de tais demonstraes,

    registros e documentos.

    Jos Alvarez Lopez(1987)

    As palavras auditoria ou censura de contas se relacionam com a reviso e verificao de documentos contbeis, registros, livros e listagens de contas, utilizadas no processo de captao, representao e interpretao da realida-

    de econmico-financeira da empresa.

  • 18

    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    Enciclopdia BritnicaAuditoria o exame das contas feitas pelos funcionrios financeiros de um estado, companhias e departamentos pblicos, ou pessoas fsicas, e a certifi-

    cao de sua exatido.

    Dicionrio americano de Funk & Wagnalls

    Auditoria a funo de examinar, ajustar e certificar contas. o exame de um documento contbil e da prova de sua exatido; chamada para contas;

    ajuste de contas; um balano; uma audincia.

    Dicionrio de Caldas Aulete

    Auditoria o emprego do auditor. Tribunal onde o auditor exerce as suas funes.

    Hilrio Franco e Ernesto Marra (2000)

    uma tcnica contbil que compreende o exame de documentos, livros e registros, inspees e obteno de informaes e confirmaes, internas e

    externas, relacionadas com o controle do patrimnio, objetivando mensurar a exatido desses registros e das demonstraes contbeis deles decorrentes.

    Antnio Lopes de S(1998)

    Auditoria uma tecnologia contbil aplicada ao sistemtico exame dos regis-tros, demonstraes e de quaisquer informes ou elementos de considerao

    contbil, visando a apresentar opinies, concluses, crticas e orientaes sobre situaes ou fenmenos patrimoniais da riqueza aziendal, pblica ou privada, quer ocorridos, quer por ocorrer ou prospectados e diagnosticados.

    NBC TA 200 (2009)

    A auditoria das demonstraes contbeis constitui o conjunto de proce-dimentos tcnicos que tem por objetivo a emisso de parecer sobre a sua adequao de acordo com os Princpios Fundamentais de Contabilidade e

    as Normas Brasileiras de Contabilidade; e, no que for pertinente, de acordo com a legislao especfica.

    Quadro 4 Evoluo dos conceitos de auditoriaFonte: Adaptado de Alberton (2008) e NBC TA 200 (2009).

    Os conceitos enfatizam a verificao da veracidade e fidedignidade dos da-dos e das informaes contidas nas demonstraes contbeis e passam, tam-bm, a criticar e orientar em situaes que j ocorreram ou que ainda podero ocorrer na entidade auditada, visando a resguardar e proteger seu pblico.

    Para que os pressupostos dessas definies possam realmente ocorrer, fo-ram criados diversos rgos que normatizam a realizao da auditoria, a saber:

    a. Comisso de Valores Mobilirios (CVM) para as sociedades annimas de capital aberto.

    b. Banco Central do Brasil (BACEN) para bancos comerciais e de investi-mentos, instituies financeiras, distribuidoras de ttulos e valores mo-bilirios, corretoras de cmbio, sociedade de arrendamento mercantil e sociedade de crdito imobilirio.

  • 19

    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    c. Superintendncia de Seguros Privados (SUSEP) para as companhias e sociedades seguradoras.

    H outras entidades, alm das citadas, que obrigam a realizao de audito-rias, tais como as responsveis pela fiscalizao de tributos federais, estaduais e municipais.

    Alm da obrigao legal, outras razes levam as empresas a utilizar-se de servios de auditoria. Almeida (1996) cita diversos motivos que levam uma entidade a contratar um auditor contbil independente, quais sejam:

    a. Para controle interno de acionistas, proprietrios ou administradores da empresa;

    b. concesso de emprstimo por uma instituio financeira;

    c. por imposio de um fornecedor para financiar a compra de matria-prima;

    d. para atender s exigncias do estatuto ou contrato social da companhia ou empresa;

    e. para efeito de incorporao, fuso e ciso de empresa.

    Em funo dessas razes que levam as empresas a realizarem auditorias, bem como os seus respectivos rgos reguladores, diversas formas de executar os trabalhos foram desenvolvidas por profissionais e estudiosos do assunto.

    1.2 FORMAs DE AUDitORiA

    A realizao de auditorias nas empresas importante sob a perspectiva da riqueza patrimonial, dando maior segurana aos administradores, propriet-rios, fisco, financiadores etc., no sentido da integridade do valor. O Quadro 5 apresenta os reflexos e as vantagens da utilizao dos servios de auditoria.

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    ASPECTOS REFLEXOS/VANTAGENS

    Administrativo

    Ajuda na fiscalizao da eficincia dos controles internos, na correo dos registros cont-beis, na adequao das demonstraes contbeis, na reduo de desvios de bens patrimo-niais e pagamentos indevidos, na apurao de informaes confiveis da situao patrimo-

    nial e econmico/financeira da empresa.

    Fiscal Resguarda o patrimnio contra multas e penalidades sobre a sonegao de impostos.

    TcnicoContribui para que as demonstraes contbeis sejam elaboradas de acordo com os princ-

    pios e normas da contabilidade.

    Financeiro Resguarda crditos de terceiros.

    Econmico Assegura maior exatido dos custos e veracidade dos resultados operacionais.

    tico Examina a moralidade do ato praticado.

    SocialAssegura a veracidade das informaes das demonstraes contbeis

    para a sociedade em geral.

    Quadro 5 Reflexos e vantagens na utilizao dos servios de auditoria.Fonte: Adaptado de Jund (2001 apud ALBERTON, 2008).

    Em decorrncia das diferentes necessidades de verificao de processos, dos seus reflexos e vantagens, a auditoria pode apresentar-se sob diferentes formas. S (1998) divide a auditoria em duas classes fundamentais, quais sejam: a audi-toria geral, sinttica ou de balano; e a auditoria detalhada ou analtica.

    Por sua vez, Crepaldi (2000) classifica a auditoria em dois tipos: o primeiro a auditoria de demonstraes contbeis; e o segundo a auditoria operacio-nal ou de gesto.

    Franco e Marra (2000) e Magalhes et al. (2001) abordam essas categorias de auditoria por formas, visando a atender necessidades especficas. Explicam que as auditorias podem assumir as seguintes formas: de acordo com a exten-so dos trabalhos; de acordo com a profundidade dos exames; de acordo com sua tempestividade; de acordo com os fins a que se destina; e de acordo com as relaes do auditor com a entidade auditada.

    1.2.1 De acordo com a extenso dos trabalhos

    A abordagem da auditoria quanto extenso dos trabalhos pode ser apre-sentada nas perspectivas: geral, parcial ou especfica, e limitada.

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    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    a. Auditoria geral

    Quando abrange todas as unidades operacionais chamada de auditoria geral. Pode variar em profundidade, exigindo exame integral ou por amostra-gens, conforme o juzo do auditor em relao confiana obtida nos controles internos da entidade.

    Essa forma de auditoria a mais completa em extenso, podendo destinar-se a atender a vrias finalidades, tais como: acautelar interesses de investidores e acionistas; controle administrativo; exigncias legais; e avaliar a confiabilida-de das demonstraes contbeis.

    b. Auditoria parcial ou especfica

    Abrange, especificamente, apenas uma ou algumas demonstraes cont-beis ou determinadas reas operacionais. Esta forma de reviso pode ser re-alizada para atender interesses de acionistas e investidores ou para controle administrativo, visando a apurar a situao econmica e/ou financeira da entidade, conferir os custos, confirmar a existncia de determinados valores patrimoniais, confirmar saldos de contas de terceiros, verificar o cumprimen-to de obrigaes fiscais, verificar o atendimento dos preceitos da legislao societria, apurar erros, fraudes, desvios e malversaes do patrimnio e de-terminar o valor real do patrimnio lquido da entidade.

    1.2.2 De acordo com a profundidade dos exames

    Em se tratando da auditoria quanto profundidade dos exames, a reviso pode ser: integral; por amostragem ou testes; e analtica.

    a. Integral

    Consiste na realizao de exames de todos os registros contbeis, de todos os documentos e de todo o sistema de controles internos da entidade audita-da; equivale a uma percia. Nas grandes organizaes, essa forma de auditoria economicamente invivel, em funo de seu elevado custo.

    b. Auditoria por amostragem ou testes

    A partir da anlise do sistema de controles internos da entidade auditada, esta forma de auditoria consiste em examinar determinada porcentagem dos

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    registros e dos documentos, que o auditor considere suficiente para fazer seu juzo sobre a exatido e a legitimidade dos fatos examinados.

    O auditor identifica as reas de risco, utilizando-se de modelos matemti-cos e estatsticos nos quais fixar a quantidade de testes que julgar necessria e suficiente para formar sua opinio sobre os elementos examinados. Tambm far uma anlise do custo-benefcio para determinar a profundidade e a ex-tenso (realizao dos testes de auditoria) das transaes dos ativos e passivos.

    c. Reviso analtica

    Esta forma de auditoria compreende o exame minucioso e a profundidade de todo o fluxo dos controles internos (verificar a eficincia e sua aplicao), bem como o exame analtico das operaes de determinada natureza ou de determinado perodo do ano. A reviso analtica pode ser confundida com a auditoria integral. A diferena que, no exame analtico, busca-se conferir flutuaes significativas e itens incomuns, atravs de anlise e comparao de quocientes, coeficientes e ndices.

    Para Magalhes et al. (2001), a auditoria por reviso analtica uma meto-dologia na qual empregado o conceito de auditoria prenunciativa, em que auditar administrar o risco.

    Portanto, a reviso da auditoria pode ser geral, parcial ou limitada, com profundidade de verificao integral, por amostragem ou analtica, e poder ser realizada eventualmente ou de forma permanente.

    1.2.3 De acordo com sua tempestividade

    A realizao da auditoria, no que diz respeito tempestividade, pode ser permanente, especial ou eventual.

    a. Auditoria permanente

    Forma de reviso realizada habitualmente em todos os exerccios sociais, podendo ser continuada ou peridica (sazonal). A reviso permanente exe-cutada por auditores internos ou por auditores independentes.

    A auditoria permanente continuada ocorre quando o programa de traba-lho visa ao exame constante das operaes registradas e dos controles internos. Esta forma de reviso tem como vantagem a presena permanente do auditor,

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    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    auxiliando a administrao da organizao na soluo de problemas cont-beis. Normalmente, executada por auditores internos, mas pode tambm ser realizada por auditores independentes (terceirizados). Outra vantagem a possibilidade de descobrir erros e irregularidades logo aps sua ocorrncia, evitando sua repetio. Quando os erros so de natureza fiscal, a realizao desta forma de auditoria evita penalidades empresa. Franco e Marra (2000) apontam como desvantagem da execuo da auditoria interna por auditores independentes, o alto custo para a organizao.

    A auditoria permanente peridica ou sazonal ocorre quando o auditor vi-sita a empresa trimestralmente, semestralmente, anualmente ou em outro perodo. Esta forma de auditoria, normalmente, executada por auditores independentes, e menos onerosa que a auditoria continuada.

    b. Auditoria especial ou eventual

    No possui carter habitual; por essa razo, no realizada todos os anos. Normalmente, esta forma de auditoria objetiva atender fins especficos, tais como concesso de crdito, atender exigncias legais, apurar o valor real do patrimnio lquido da entidade, controle administrativo.

    Essas formas de auditoria visam a atender as diversas necessidades infor-mativas dos usurios das demonstraes contbeis e podem ter diversas fina-lidades.

    1.2.4 De acordo com os fins a que se destina

    A auditoria contbil pode ser realizada para diversas finalidades, objetivan-do sempre suprir as necessidades dos seus usurios, sejam eles internos ou externos. Os usurios internos so os diretores e demais colaboradores da en-tidade auditada. J os usurios externos so os fornecedores, clientes, bancos, corretoras de valores, governos, acionistas minoritrios e outros. Essa forma de auditoria pode ter as seguintes finalidades:

    confirmar a exatido das demonstraes contbeis;

    acautelar interesses de acionistas preferenciais e demais investidores que no fazem parte da administrao da empresa auditada;

    concesso de crdito (financiadores e debenturistas);

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    apurar o valor real do patrimnio lquido da empresa (para efeito de retirada ou admisso de scio ou acionista, colocao de aes no mercado, venda da empresa ou de seu controle acionrio, fuso, incorporao, ciso com outra empresa, liquidao de sociedade);

    cumprimento de obrigaes fiscais (interesse do estado);

    controle administrativo; e

    apurar erros e fraudes.

    Geralmente, essas formas de auditoria apresentadas so realizadas por audi-tores independentes, mas algumas delas tambm o so por outros tipos de auditores. Assim, torna-se relevante conhecer a relao entre auditor e enti-dade auditada.

    1.2.5 De acordo com a relao do auditor com a entidade auditada

    A auditoria, com relao entidade auditada, divide-se em: auditoria inter-na, que executada geralmente por auditores internos; e auditoria externa, que executada por auditores independentes.

    a. Auditoria externa

    A auditoria externa, segundo Franco e Marra (2000, p. 216), aquela rea-lizada por profissional liberal, auditor independente, sem vnculo de emprego com a entidade auditada e que poder ser contratada para auditoria perma-nente ou eventual.

    Na execuo da auditoria externa, os auditores independentes tm, geral-mente, como objetivo principal, revisar as demonstraes contbeis, o sistema de controles internos e o sistema contbil da empresa auditada. Magalhes et al. (2001) apontam as seguintes finalidades:

    proteger os investidores;

    analisar e testar o sistema de controles internos e o sistema contbil, em busca da razovel fidedignidade das demonstraes contbeis;

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    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    emitir o parecer sobre as demonstraes contbeis;

    executar os trabalhos com independncia segundo as normas de au-ditoria; e

    reprimir erros e fraudes.

    O que vai diferenciar a auditoria externa de outras auditorias o grau de independncia que os auditores podem e devem manter em relao entidade auditada.

    b. Auditoria interna

    Jund conceitua auditoria interna como:

    [...] uma atividade de avaliao independente e de assessoramento da

    administrao, voltada para o exame e avaliao da adequao, eficincia e

    eficcia dos sistemas de controle, bem como da qualidade do desempenho

    das reas em relao s atribuies e aos planos, s metas, aos objetivos e

    s polticas definidas para as mesmas. ( JUND, 2001, p. 26 apud ALBERTON,

    2008).

    As tarefas da auditoria interna so executadas, geralmente, por auditores internos, funcionrios da prpria empresa auditada e tm como objetivo revi-sar e analisar documentos, registros, polticas e normas. A empresa auditada para executar os servios de auditoria interna pode, tambm, utilizar-se dos trabalhos de auditores independentes (terceirizao da auditoria interna).

    A auditoria interna, conforme Magalhes et al. (2001 apud ALBERTON, 2008), tem as seguintes finalidades:

    proteger a organizao;

    acompanhar o cumprimento de normas tcnicas e a poltica de admi-nistrao da empresa na consecuo de seus objetivos;

    emitir o relatrio;

    executar os trabalhos com independncia limitada seguindo as nor-mas e procedimentos de auditoria;

    prevenir erros e fraudes, sugerindo aos detentores do poder de deciso os ajustes necessrios.

  • 26

    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    O auditor interno, como agente de transformao, tem a funo de asses-sorar os gestores das entidades para evitar a omisso, o erro e a fraude.

    Mesmo sendo a auditoria interna diferenciada da auditoria externa, os pro-fissionais que as executam devem manter contatos frequentes com os audito-res independentes. Assim, torna-se importante conhecer a relao existente entre a auditoria interna e a externa, as caractersticas dos trabalhos do auditor interno, do auditor externo e as peculiaridades do auditor independente.

    c. Relacionamento entre auditoria interna e externa

    Os auditores externos e internos, na rea contbil, utilizam, normalmen-te, os mesmos mtodos, diferindo apenas na profundidade e na extenso dos trabalhos. Ambos efetuam os exames, objetivando verificar a existncia de um sistema de controle interno eficiente e eficaz, que salvaguarde o patrimnio da empresa, e a existncia de um sistema contbil que produza demonstraes adequadas da posio financeira e do resultado das operaes.

    Os auditores internos devem manter contatos frequentes com os auditores independentes para que possam adotar procedimentos idnticos na realizao das revises. A NBC P 3 Normas Profissionais do Auditor Interno, aprovada pela Resoluo n 781 do CFC, dispe que o auditor interno deve apresentar os seus papis de trabalho ao auditor independente e entregar-lhe cpias quan-do esse entender necessrio; isto quando previamente acordado com a admi-nistrao da entidade em que atua e no mbito de planejamento conjunto de trabalhos a realizar.

    Quando ocorre essa situao, os auditores independentes podem utilizar-se dos resultados dos trabalhos efetuados pelos auditores internos. Mas isso no isenta o auditor externo da responsabilidade da utilizao dos trabalhos do auditor interno, se esses contiverem erros e irregularidades. Segundo a NBC P 1 Normas Profissionais de Auditor Independente, a responsabilida-de do auditor independente no ser modificada quando utilizar os traba-lhos do auditor interno para realizar suas atividades na empresa auditada.

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    Unidade 1 - Introduo Auditoria

    Saiba maisPara saber mais sobre o assunto estudado, recomendo para consulta e leitura: Resoluo n 1.121/08. NBC T 1 Estrutura Conceitual para a Elaborao e Apre-sentao das Demonstraes Contbeis, disponvel no seguinte endereo ele-trnico: www.cfc.org.br.

    RESUMO DA UNIDADE

    Nesta unidade, foram apresentados e vistos os principais acontecimentos que marcaram a origem e evoluo da auditoria, assim como as formas de auditoria associadas sua extenso, profundidade, tempestividade e aos fins a que se destinam os exames, e relao entre o auditor e a entidade auditada.

    Atividades de Aprendizagem 1

    1) Leitura de textos.

    Texto: O Brasil no um pas corrupto. um pas pouco auditado.

    Autora: Luiza Machado

    Disponvel no seguinte endereo eletrnico: http://www.webartigos.com/articles/29542/1/O-Brasil-nao-e-um-pais-corrupto/pagina1.html

    2) Resenha crtica: Preparar uma resenha com dados atualizados sobre o texto citado.

  • Anotaes amd

  • Unidade 2

    Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    Na Unidade 2, voc vai conhecer os aspectos que so tratados no planeja-mento do trabalho de auditoria: levantamentos preliminares; conhecimento dos principais aspectos que afetam a continuidade da entidade auditada; co-nhecimento dos controles internos e da qualidade da auditoria interna; avalia-o dos riscos de se auditar uma determinada entidade; definies de amostra-gem e estruturao de um cronograma das atividades.

    Unidade 2

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    Unidade 2 - Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    Todo e qualquer trabalho deve ser planejado antes de ser iniciado. Planejar pode ser resumido em um ato de preparao de um trabalho, de uma tarefa, com o estabelecimento de mtodos adequados para se atingirem os objetivos.

    O planejamento da auditoria envolve a estruturao de uma estratgia glo-bal para todo o processo. Ele auxilia o auditor no desenvolvimento do plano de trabalho; a dedicar a ateno apropriada s reas mais importantes da audi-toria; a identificar e resolver tempestivamente problemas potenciais para que o trabalho seja realizado de forma eficaz e eficiente; na seleo dos membros da equipe de trabalho com nveis apropriados de capacidade e competncia para responderem aos riscos esperados; na alocao apropriada de tarefas e a facilitar na direo; na superviso dos membros da equipe de trabalho e na reviso do trabalho.

    Nas situaes em que haja o envolvimento de outros auditores e especialis-tas, o planejamento um importante auxlio na coordenao desse trabalho.

    A natureza e a extenso das atividades de planejamento variam conforme o porte e a complexidade da entidade, a experincia anterior dos membros da equipe de trabalho e eventuais mudanas nas circunstncias que ocorrem durante o trabalho de auditoria.

    O planejamento parte do processo de auditoria, que muitas vezes se inicia logo aps a concluso da auditoria anterior, continuando at a concluso do trabalho de auditoria atual, e deve considerar, antes da identificao e avalia-o pelo auditor dos riscos de distores relevantes, aspectos como:

    a. os procedimentos analticos a serem aplicados como procedimentos de avaliao de risco;

    b. a obteno de entendimento global da estrutura jurdica e o ambiente regulatrio aplicvel entidade, e como a entidade cumpre com os reque-rimentos dessa estrutura;

    c. a determinao da materialidade;

    d. o envolvimento de especialistas;

    e. a aplicao de outros procedimentos de avaliao de risco.

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    2.1 AtiViDADEs PRELiMiNAREs DO tRABALHO DE AUDitORiA

    Antes do incio das atividades, o auditor deve seguir alguns procedimentos bsicos, sendo o planejamento essencial para o conhecimento das atividades da entidade auditada.

    O planejamento deve ser iniciado com o estabelecimento, por parte do au-ditor, de uma estratgia global para o processo de auditoria que determine o alcance, a poca e a direo dos trabalhos de auditoria, para possibilitar o desenvolvimento do plano de auditoria, o qual deve:

    a. definir o alcance do trabalho com a identificao das caractersticas asso-ciadas entidade;

    b. definir os objetivos do relatrio do trabalho de forma a planejar a poca da auditoria e a natureza das comunicaes requeridas;

    c. considerar os fatores que, no julgamento profissional do auditor, so sig-nificativos para orientar os esforos da equipe de trabalho;

    d. considerar os resultados das atividades preliminares do trabalho de audi-toria e, quando aplicvel, verificar se relevante o conhecimento obtido em outros trabalhos realizados pelo scio do trabalho para a entidade.

    2.2 DEFiNiO: NAtUREzA, POCA E ExtENsO DOs RECURsOs NECEssRiOs

    Um primeiro passo da etapa de planejamento a definio da estratgia global, que deve auxiliar o auditor na determinao:

    a. de como os membros da equipe, com experincia para as reas de alto risco, so alocados;

    b. de como ser a alocao dos membros da equipe para reas de auditoria especficas;

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    Unidade 2 - Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    c. das datas em que esses recursos sero utilizados;

    d. do cronograma com as previses de uso dos recursos, de reunies prepa-ratrias, de atualizao e das revises.

    Aps a definio da estratgia global, deve ser proposto o plano de audi-toria para detalhar os itens identificados na estratgia global. O primeiro ele-mento a ser considerado deve tratar da natureza, da poca e da extenso dos trabalhos e deve incluir:

    a. o porte e a complexidade da entidade;

    b. a rea da auditoria;

    c. os riscos de distores relevantes (por exemplo, um aumento no risco de distores relevantes para uma dada rea de auditoria cos-tuma exigir um correspondente aumento na extenso e no direcio-namento e superviso tempestiva por parte dos membros da equipe e uma reviso mais detalhada do seu trabalho);

    d. a capacidade e a competncia dos membros individuais da equipe que realiza o trabalho de auditoria.

    2.3 DOCUMENtAO DO PLANEjAMENtO

    Como em todo processo de auditoria ver item 3.7 Documentao da au-ditoria: PAPIS DE TRABALHO , todos os passos devem ser documentados, e o planejamento no foge regra. Dessa forma, o auditor deve documentar j no incio do planejamento:

    a. a estratgia global de auditoria;

    b. o plano de auditoria; e

    c. eventuais alteraes significativas ocorridas na estratgia global de audi-toria ou no plano de auditoria durante o trabalho de auditoria, e as razes dessas alteraes.

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    2.4 AtiViDADEs PRELiMiNAREs DO tRABALHO DE AUDitORiA

    As atividades preliminares do trabalho de auditoria, no incio do trabalho de auditoria corrente, auxiliam o auditor na identificao e avaliao de even-tos ou situaes que possam afetar adversamente a capacidade do auditor de planejar e realizar o trabalho de auditoria, e permite ao auditor planejar o trabalho de auditoria, para o qual, por exemplo:

    a. o auditor mantm a necessria independncia e capacidade para realizar o trabalho;

    b. no h problemas de integridade da administrao que possam afetar a disposio do auditor de continuar o trabalho;

    c. no h desentendimentos com o cliente em relao aos termos do trabalho.

    A aplicao de procedimentos iniciais sobre a continuidade do cliente e a avaliao de requisitos ticos (inclusive independncia) no incio do traba-lho de auditoria corrente significam que esses devem estar concludos antes da realizao de outras atividades importantes para o trabalho. No caso de trabalhos de auditoria recorrentes, esses procedimentos iniciais devem ser aplicados logo aps (ou em conexo com) a concluso da auditoria anterior.

    2.5 ENtENDiMENtO NECEssRiO DA ENtiDADE E DO sEU AMBiENtE

    Um dos fatores mais importantes no processo de auditoria o entendimen-to das atividades operacionais e financeiras da entidade auditada, assim como do ambiente onde opera notadamente dos seus controles internos. Para que o planejamento possa ser bem definido, necessrio que determinados fatores sejam considerados, tais como:

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    Unidade 2 - Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    a. conhecimento do mercado e da concorrncia, com dados sobre demanda, capacidade e concorrncia de preos;

    b. anlise da atividade cclica ou sazonal;

    c. anlise da tecnologia de produtos relacionada com os produtos da enti-dade;

    d. dependncia, fornecimento e custo de energia utilizada;

    e. anlise do risco operacional da atividade da entidade.

    Entidades que atuam em ambiente regulado so submetidas a fatores regula-trios especficos, e, normalmente, a estrutura do relatrio financeiro, o am-biente poltico e jurdico podem apresentar diferenas relevantes em relao s entidades do mercado. As principais agncias reguladoras do Brasil so:

    Agncia Nacional de guas (ANA)

    Agncia Nacional de Aviao Civil (ANAC)

    Agncia Nacional de Telecomunicaes (ANATEL)

    Agncia Nacional do Cinema (ANCINE)

    Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL)

    Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis (ANP)

    Agncia Nacional de Sade Suplementar (ANS)

    Agncia Nacional de Transportes Aquavirios (ANTAQ)

    Agncia Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)

    Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA).

    Nessas situaes, alguns procedimentos especficos devem ser considera-dos, tais como:

    a. princpios e prticas contbeis especficas do setor de atividade;

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    b. estrutura regulatria para uma indstria ou setor de atividades regula-mentadas;

    c. legislao e regulamentao que afetem significativamente as operaes da entidade, inclusive atividades de superviso direta;

    d. tributao (corporativa e outras);

    e. polticas governamentais que afetem no presente a conduo do negcio da entidade, como polticas monetrias, inclusive controles de cmbio, fiscais, de incentivos financeiros (por exemplo, programas de subvenes governamentais) e polticas de tarifas ou de restries comerciais;

    f. exigncias ambientais que afetem o setor de atividade e o negcio da entidade.

    No caso especfico da auditoria em entidades do setor pblico, o conheci-mento das leis e regulamentos especficos essencial na obteno do entendi-mento sobre a entidade e o seu ambiente.

    A compreenso da natureza da entidade fundamentalmente importante para permitir ao auditor o entendimento da estrutura organizacional e socie-tria, assim como das operaes do negcio (fontes de receita, produtos ou servios e mercados, inclusive envolvimento em comrcio eletrnico, como vendas pela internet e atividades de marketing), como so conduzidas as ope-raes, a disperso geogrfica, a localizao das instalaes, a dependncia a clientes e fornecedores, os gastos em pesquisa e desenvolvimento de produtos, dentre outros.

    Faz parte tambm desse entendimento saber como a entidade planeja, or-ganiza, administra e controla:

    a. suas atividades de investimentos: aquisies, desinvestimentos, compra e venda de ttulos mobilirios, e emprstimos, obteno de capital, partici-pao em entidades no consolidadas;

    b. suas atividades de financiamento: estrutura de dvidas, contratos de fi-nanciamento e contratos de arrendamento no registrados no balano e com evidenciado o uso de instrumentos financeiros derivativos;

    c. suas informaes financeiras: identificao dos princpios e prticas con-tbeis especficas do setor de atividade, reconhecimento de receita, se h

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    Unidade 2 - Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    e como feita a contabilizao a valor justo, critrio para evidenciao de ativos, passivos e transaes em moeda estrangeira.

    2.5.1 Controle interno da entidade

    O entendimento do controle interno outro fator de peso no auxlio ao auditor na identificao de distores potenciais e de fatores que possam au-mentar os riscos de distoro relevante, e no planejamento da natureza, poca e extenso de procedimentos adicionais de auditoria.

    O auditor deve, na etapa de planejamento, identificar, um mnimo de ele-mentos associados ao controle interno, considerando que a maneira como o controle interno planejado, implementado e mantido varia com o tamanho e a complexidade da entidade auditada. Nesse sentido, deve-se identificar a natureza e as caractersticas gerais dos controles internos, sua relevncia para a auditoria, a natureza e a extenso do entendimento dos controles relevantes, assim como os componentes do controle interno.

    No planejamento e na implementao, o controle interno mantido para enfrentar os riscos de negcio que ameacem o cumprimento de qualquer um dos objetivos da entidade, com relao confiabilidade das informaes e das demonstraes contbeis da entidade, eficcia e eficincia de suas opera-es, e ao nivel de conformidade com leis e regulamentos internos (compliance).

    De forma resumida, cada conta evidenciada pelos demonstrativos deve es-tar associada a, pelo menos, um controle interno. Por exemplo:

    Disponibilidades sistema de controle de tesouraria

    Contas a receber clientes controle do conta-corrente clientes, inclu-do risco de crdito

    Estoques controle de estoques

    Investimentos controle de investimentos

    Ativo imobilizado controle do ativo fixo

    Contas a pagar fornecedores controle do conta-corrente fornece-dores, includo risco operacional

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    Emprstimos e Financiamentos controle de contratos, pagamento de juros e de amortizao

    Dividendos e capital social controle de acionistas

    Receitas controle de vendas

    Custos e despesas centros de custos, centros de resultados.

    Mesmo com a importncia dos controles internos, existem limitaes sua avaliao e exames, pois podem fornecer apenas segurana razovel quanto correta mensurao e evidenciao das demonstraes contbeis. Eventu-ais erros na concepo e operao de determinado controle podem causar efeitos posteriores ao trabalho da auditoria, assim como podem ser burlados por duas ou mais pessoas ou podem ser indevidamente fraudados pela ad-ministrao.

    2.5.2 Auditoria interna: utilizao do trabalho de auditoria interna

    As funes da auditoria interna podem variar conforme o tamanho e a estrutura da empresa auditada, assim como variam os requerimentos da ad-ministrao em relao auditoria interna. De forma geral, apresentam seis grandes funes:

    1. Acompanhamento do controle interno, em que a auditoria interna pode ter responsabilidades especficas em relao ao controle interno, assim como deve apresentar recomendaes de melhorias.

    2. Exame e reviso das informaes contbeis e operacionais, relacionados identificao, mensurao, classificao e evidenciao das informa-es contbeis e operacionais.

    3. Reviso das atividades operacionais, em relao economia, eficincia e eficcia das atividades operacionais e financeiras.

    4. Compliance, pois cabe auditoria interna a responsabilidade na reviso da conformidade dos processos operacionais e financeiros, com leis, re-gulamentos e outros requerimentos internos e externos.

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    Unidade 2 - Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    5. Gesto de risco, situao na qual a auditoria interna pode apoiar a or-ganizao mediante identificao, avaliao e gesto das exposies a riscos.

    6. Governana nas organizaes, situao na qual a auditoria interna pode avaliar o processo de prestao de contas, evidenciao, aspectos ticos da administrao.

    2.5.3 Relaes entre auditoria interna e o auditor independente

    A forma de atuao da auditoria interna determinada pela administrao; mesmo havendo diferenas fundamentais entre os objetivos da auditoria in-terna e o do auditor independente, os meios utilizados por ambos podem ser semelhantes e convergentes; mas, independentemente do grau de autonomia e de independncia do auditor interno, toda a responsabilidade pelos traba-lhos do auditor independente. No Quadro 6, so apresentadas as principais diferenas entre a auditoria interna e a auditoria externa, ou independente.

    ITEM AUDITOR INTERNO AUDITOR EXTERNO

    Controles internos Fornece informaes ao Auditor Externo e garante a eficincia e a

    qualidade

    Avalia a qualidade dos controles internos e os efeitos relevantes nas

    demonstraes contbeis

    Dependncia profissional Dependncia do empregoIndependncia profissional

    Forma de relatrios No padronizados Padronizados

    Parmetros para a execuo do trabalho

    Normas de controle interno, polti-cas e procedimentos da empresa

    Princpios fundamentais de conta-bilidade

    Principais usurios Gestores da empresaTodos os grupos de interesse

    (stakeholders), assim como acionistas (stockholders)

    Propsito do trabalho Anlise da atividade operacionalEmisso de opinio sobre demons-

    traes contbeis

    Tipo de auditoria Auditoria contbil e operacional Auditoria contbil

    Volume de dadosTrabalha com grande volume de

    testes (populao)Trabalha com pequeno volume de

    testes (amostragem)

    Quadro 6 - Auditoria interna x auditoria externaFonte: Adaptado de Alberton (2008), Almeida (2010) e Boynton, Johnson e Kell (2002).

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    2.5.4 Utilizao de trabalho especfico dos auditores internos

    O auditor independente deve, nas situaes de existncia da auditoria inter-na, determinar e examinar a extenso do uso e para quais trabalhos a auditoria interna deve ser alocada. Por exemplo:

    a. determinar e avaliar se os trabalhos dos auditores internos so adequados para os objetivos do auditor independente e os efeitos desse trabalho em relao poca e extenso do processo de auditoria; e

    b. avaliar a objetividade, a competncia tcnica e o zelo profissional no tra-balho desenvolvido.

    2.5.5 Outros fatores externos

    Diversos fatores que afetam a entidade tm sua origem externa. Nesse sen-tido, o auditor pode considerar que essas condies afetam a continuidade das operaes da entidade:

    situao econmica geral;

    taxas de juros;

    disponibilidade de financiamento;

    inflao;

    flutuaes da moeda (risco cambial).

    2.6 MAtERiALiDADE NO PLANEjAMENtO E NA ExECUO DA AUDitORiA

    A estrutura conceitual para a Elaborao e Apresentao das Demonstra-es Contbeis (CFC n 1.121/2008) define e discute o conceito de materiali-dade no contexto da elaborao e apresentao de demonstraes contbeis,

  • 41

    Unidade 2 - Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    e em geral trata das distores e omisses consideradas relevantes quando for esperado que possam influenciar nas decises econmicas de usurios toma-das com base nas demonstraes contbeis.

    Os julgamentos sobre materialidade so afetados pela magnitude e nature-za das distores, ou pela combinao de ambos. Se, nas circunstncias espec-ficas da entidade, houver uma ou mais classes especficas de transaes, de sal-dos contbeis ou divulgao para as quais se poderia, razoavelmente, esperar que distores de valores menores que a materialidade para as demonstraes contbeis como um todo influenciem nas decises econmicas dos usurios tomadas com base nas demonstraes contbeis , o auditor deve determinar, tambm, o nvel ou nveis de materialidade a serem aplicados a essas classes especficas de transaes, saldos contbeis e divulgaes (CFC n 1.213/2009).

    A determinao, por parte do auditor, da materialidade para a execuo da auditoria tem como principal objetivo avaliar os riscos de distores relevan-tes, assim como a natureza, a poca e a extenso de procedimentos adicionais de auditoria.

    2.7 iDENtiFiCAO E AVALiAO DOs RisCOs DE DistORO

    A aplicao de procedimentos de avaliao de riscos fornece base para a identificao e avaliao de riscos de distoro relevante nas demonstraes contbeis, mesmo que por si s no forneam evidncias suficientes para fun-damentar a opinio da auditoria.

    Os procedimentos de avaliao de riscos devem incluir indagaes admi-nistrao para obter informaes que auxiliem na identificao de riscos de distoro em decorrncia de fraude ou erro.

    De forma complementar, a adoo de procedimentos analticos e de ob-servao e inspeo pode ajudar o auditor independente a identificar aspectos que no haviam sido percebidos anteriormente. Esses procedimentos podem incluir informaes financeiras e no financeiras. A identificao de transa-es ou eventos, valores, ndices e tendncias fora da normalidade pode indi-car reas de interesse para a auditoria, e podem receber procedimentos anal-ticos complementares.

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    2.8 AMOstRAGEM EM AUDitORiA

    A utilizao de uma amostragem a melhor recomendao que se deve fazer no sentido de se garantir a representatividade da amostra em relao populao, pois o acaso ser o nico responsvel por eventuais discrepncias entre populao e amostra.

    Na definio da amostragem, o auditor espera obter evidncias em relao a algumas caractersticas dos itens selecionados, de modo a concluir ou apoiar suas concluses sobre a populao da qual a amostra retirada. A amostra-gem em auditoria pode ser aplicada, usando-se tanto a abordagem de amos-tragem no estatstica como a estatstica. importante que, na definio da amostra, o auditor considere a finalidade do procedimento de auditoria e as caractersticas da populao da qual ser retirada a amostra.

    Na definio da amostra de auditoria, devem-se considerar os fins espec-ficos a serem alcanados e a combinao de procedimentos de auditoria, que devem alcanar esses fins. A considerao da natureza da evidncia de audito-ria desejada e as eventuais condies de desvio ou distoro, ou outras caracte-rsticas relacionadas com essa evidncia de auditoria ajudam o auditor a definir o que constitui desvio ou distoro e qual populao usar para a amostragem.

    Para testes de controles, ao considerar as caractersticas de uma populao, o auditor deve avaliar a taxa esperada de desvio com base no entendimento do auditor acerca dos controles relevantes ou no exame de pequena quantidade de itens da populao para estabelecer a amostra de auditoria e determinar o tamanho dessa amostra.

    Ao considerar as caractersticas da populao da qual a amostra ser extra-da, o auditor pode determinar que a estratificao ou a seleo com base em valores apropriada.

    A deciso quanto ao uso de abordagem de amostragem estatstica ou no estatstica uma questo de julgamento do auditor. Entretanto, o tamanho da amostra no um critrio vlido para distinguir entre as abordagens estats-ticas e no estatsticas, pois o auditor deve determinar o tamanho de amostra suficiente para reduzir o risco de amostragem a um nvel mnimo aceitvel; em outras palavras, quanto menor o risco que o auditor estiver disposto a aceitar, maior deve ser o tamanho da amostra.

  • 43

    Unidade 2 - Planejamento da Auditoria de Demonstraes Contbeis

    O tamanho da amostra pode ser determinado mediante aplicao de frmu-la com base em estatstica ou por meio do exerccio do julgamento profissional.

    O auditor deve selecionar itens para a amostragem de forma que cada uni-dade de amostragem da populao tenha a mesma chance de ser selecionada. Na utilizao da amostragem estatstica, os itens da amostra devem ser selecio-nados de maneira que cada unidade de amostragem tenha uma probabilidade conhecida de ser selecionada. Pela amostragem no estatstica, o julgamento usado para selecionar os itens da amostra. Como a finalidade da amostragem fornecer base razovel para o auditor concluir quanto populao da qual a amostra selecionada, importante que o auditor selecione uma amostra representativa, de modo a evitar tendncias mediante a escolha de itens da amostra que tenham caractersticas tpicas da populao.

    2.9 CRONOGRAMA DE PLANEjAMENtO

    O planejamento deve evidenciar as etapas e as pocas em que sero execu-tados os trabalhos, de acordo com o teor da proposta de prestao de servios e sua aceitao pela entidade auditada.

    No cronograma de trabalho devem ficar evidenciadas as reas, unidades e par-tes relacionadas que sero atingidas pela auditoria, para comprovar que todos os compromissos assumidos com a entidade auditada tenham sido cumpridos.

    Saiba maisPara saber mais sobre o assunto estudado, consulte exemplos de amostragem na Resoluo n 1.222/09, NBC TA 530, disponvel em www.cfc.org.br.

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    RESUMO DA UNIDADE

    Nesta unidade, foram apresentadas as atividades preliminares, a definio da natureza, a poca, a extenso, a documentao bsica e necessria ao registro dos trabalhos de auditoria. Tambm foi visto como importante o conhecimento e o entendimento, por parte do auditor, do ambiente e do funcionamento da entidade a ser auditada. A unidade foi finalizada com a abordagem dos fatores essenciais ao planejamento das atividades e do risco envolvido no processo de auditoria.

    Atividades de Aprendizagem 2

    1) Escolha uma empresa de capital aberto em www.cvm.gov.br e identifi-que as variveis externas que afetam o negcio da entidade.

    2) Prepare um relatrio com as principais variveis encontradas.

  • Unidade 3

    Evidncias de AuditoriaA Unidade 3 trata das principais evidncias a serem obtidas no processo de

    auditoria, como os principais procedimentos e testes a serem efetuados para a fundamentao da opinio final da auditoria.

    Unidade 3

    33

  • 47

    Unidade 3 - Evidncias de Auditoria

    Dentre os objetivos do auditor, um dos mais importantes a definio e a execuo de procedimentos que permitam ao auditor conseguir evidncia de auditoria apropriada e suficiente, que lhe possibilitem obter concluses razo-veis para fundamentar a sua opinio no processo de auditoria. Esses procedi-mentos devem estar de acordo com as circunstncias dos trabalhos de audito-ria e devem fornecer evidncias apropriadas e suficientes para o embasamento da opinio do auditor.

    Os principais procedimentos para a obteno das evidncias podem incluir a inspeo, observao, confirmao, reclculo, reexecuo e procedimentos analticos, muitas vezes em combinao, alm da indagao.

    3.1 FONtEs DA EViDNCiA DE AUDitORiA

    As evidncias de auditoria so obtidas, principalmente, pela execuo de procedimentos de testes dos registros contbeis, por meio de anlises e revi-ses dos procedimentos seguidos no processo de elaborao das demonstra-es contbeis e conciliao de tipos e aplicaes relacionadas das mesmas informaes. Pela execuo desses procedimentos, o auditor pode determinar que os registros contbeis sejam internamente consistentes e estejam de acor-do com as demonstraes contbeis.

    Pode-se obter muito maior segurana com evidncias obtidas de fontes di-ferentes ou de naturezas diferentes do que a partir de itens individualmente, tais como informaes obtidas de fontes independentes da entidade. Entre as informaes de fontes independentes, podem ser captadas confirmaes de terceiros, relatrios de analistas e dados comparveis sobre concorrentes.

    3.2 PROCEDiMENtOs DE AUDitORiA PARA OBtENO DE EViDNCiA DE AUDitORiA

    Os procedimentos podem ser estruturados em avaliao de riscos e proce-dimentos adicionais de auditoria, que incluem testes dos controles e procedi-mentos substantivos, inclusive testes de detalhes e procedimentos analticos substantivos, como inspeo, observao, confirmao externa e indagao.

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    3.2.1 inspeo

    A inspeo que envolve o exame de registros e/ou documentos internos ou externos em qualquer forma (papel, eletrnica ou qualquer outra mdia), ou o exame fsico de um ativo , fornece evidncias auditoria. No caso de registros internos e documentos, fornece evidncias da eficcia dos controles sobre a sua produo.

    Alguns documentos representam evidncia da existncia de um ativo. A inspeo de tais documentos pode no fornecer necessariamente evidncia de auditoria sobre propriedade ou valor. Alm disso, a inspeo de um contrato executado pode fornecer evidncia de auditoria relevante para a aplicao de polticas contbeis da entidade, tal como o reconhecimento de receita.

    A inspeo de ativos tangveis pode fornecer evidncia confivel quanto sua existncia, mas no necessariamente quanto aos direitos e obrigaes da entidade ou avaliao dos ativos. A inspeo de itens individuais do estoque pode acompanhar a observao da contagem do estoque.

    3.2.2 Observao

    A observao consiste no exame dos procedimentos executados por outros em situaes nas quais o auditor acompanha os trabalhos de contagem de estoques ou na observao da qualidade dos controles internos da entidade.

    Este procedimento fornece evidncias importantes a respeito da execuo de processos e de procedimentos, mas limitado pelo tempo em que a obser-vao ocorre e pelo fato de que o ato de ser observado pode afetar a maneira como o processo ou o procedimento executado.

    3.2.3 Confirmao externa

    A confirmao externa representa a evidncia obtida pelo auditor como resposta escrita de terceiro, e frequentemente relevante no tratamento de afirmaes associadas a certos saldos contbeis e seus elementos, notadamen-te quando relacionados aos saldos bancrios, valores a receber e contas a pa-gar; e proporciona auditoria:

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    Unidade 3 - Evidncias de Auditoria

    maior confiabilidade quando obtida de fontes independentes externas entidade;

    maior confiabilidade em relao s evidncias obtidas indiretamente ou por inferncia;

    maior confiabilidade quando est na forma de documento, seja em papel, seja no formato eletrnico ou por outro meio.

    A confirmao externa no deve se restringir apenas a saldos contbeis, mas pode ser utilizada sempre que o auditor assim o considerar. Exemplos: na confirmao de termos de contratos ou transaes da entidade com tercei-ros, na propriedade de ttulos, etc.

    Confirmao positiva

    A confirmao externa positiva solicita que a parte consultada confirme, em todos os casos, ao auditor, a sua concordncia com as informaes envia-das ou obtidas por meio do fornecimento de informaes. Porm, existe o risco de a parte que confirma responder solicitao de confirmao sem que verifique antes se as informaes esto corretas.

    Para minimizar esse risco, o auditor pode utilizar confirmao positiva onde no haja a especificao de valores, solicitando parte consultada que preencha o valor ou fornea qualquer outra informao.

    Confirmao negativa

    A confirmao negativa pode fornecer evidncia de auditoria com menos qualidade quando comparada com a confirmao positiva, pois no existem garantias de que os valores estejam corretos.

    provvel que as partes que confirmam tambm respondam indicando seu desacordo com uma solicitao de confirmao quando as informaes na solicitao no estiverem a seu favor, sendo menos usual que respondam de outra forma. Em casos de contas bancrias, h uma maior probabilidade de resposta, se acreditarem que o saldo de sua conta esteja subavaliado na so-licitao de confirmao; e menor a probabilidade de responderem quando acreditam que o saldo esteja superavaliado. Portanto, o envio de solicitaes

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    de confirmao negativa a correntistas de contas bancrias pode ser um pro-cedimento til para verificar se esses saldos esto subavaliados, mas impro-vvel que seja eficaz caso o auditor esteja procurando evidncias relativas superavaliao.

    O uso de confirmao negativa no deve ser utilizado como o nico procedi-mento de auditoria, mas complementarmente a outros procedimentos.

    3.2.4 Reclculo

    O reclculo consiste na verificao da exatido matemtica de documentos ou registros, e pode ser aplicado, principalmente, em impostos, encargos so-bre folhas de pagamento, provises, etc.

    3.2.5 Reexecuo

    A reexecuo envolve a execuo independente, pelo auditor, de procedi-mentos ou controles que foram originalmente realizados como parte do con-trole interno da entidade.

    3.2.6 Procedimentos analticos

    Os procedimentos analticos avaliam as informaes feitas por meio do es-tudo das relaes entre dados financeiros e no financeiros e incluem a investi-gao de flutuaes e relaes identificadas, que sejam inconsistentes com ou-tras informaes relevantes ou que se desviem significativamente dos valores previstos (CFC n 1.221, 2009).

    3.2.7 indagao

    A indagao a busca de informaes junto a pessoas com conhecimento financeiro e no financeiro, dentro ou fora da entidade; utilizada extensa-mente em toda a auditoria, alm de outros procedimentos de auditoria, po-dendo incluir desde indagaes escritas formais at indagaes orais informais.

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    Unidade 3 - Evidncias de Auditoria

    As respostas s indagaes podem fornecer ao auditor informaes no obtidas anteriormente ou evidncia de auditoria comprobatria. Alternativa-mente, as respostas podem fornecer informaes significativamente divergen-tes das informaes que o auditor tenha obtido; por exemplo, informaes referentes possibilidade de a administrao burlar os controles. Em alguns casos, as respostas s indagaes fornecem uma base para que o auditor modi-fique ou realize procedimentos de auditoria adicionais.

    3.3 iNFORMAEs A sEREM UtiLizADAs COMO EViDNCiA DE AUDitORiA

    Ao executar procedimentos de auditoria, o auditor deve considerar a rele-vncia e confiabilidade das informaes a serem utilizadas como evidncia de auditoria. Embora as evidncias de auditoria sejam obtidas principalmente a partir de procedimentos de auditoria realizados durante o curso do trabalho, tambm pode haver informaes obtidas de outras fontes, como, por exemplo, de auditorias anteriores.

    3.3.1 Relevncia

    A relevncia trata da ligao entre a finalidade da auditoria e da evidncia que se est observando, tanto qualitativamente como quantitativamente.

    A relevncia das informaes a serem utilizadas como evidncia de audito-ria pode ser afetada pela direo do teste. Por exemplo, se a finalidade de um procedimento de auditoria testar para verificar se h superavaliao na exis-tncia ou valorizao das contas a pagar, testar as contas a pagar registradas pode ser um procedimento de auditoria relevante. Por outro lado, no seria relevante para testar se h subavaliao na existncia ou valorizao das con-tas a pagar, testar as contas a pagar registvante, mas sim testar informaes, como desembolsos subsequentes, faturas no pagas, faturas de fornecedores e excees apontadas nos relatrios de recebimento de mercadorias.

  • 52

    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    3.3.2 Confiabilidade

    A confiabilidade das informaes a serem utilizadas pela auditoria influen-ciada pela sua fonte sua natureza, e pelas circunstncias nas quais so obtidas; e grande parte oriunda dos controles internos da organizao.

    Mesmo em situaes em que as informaes so obtidas de fontes externas entidade, podem existir circunstncias que afetam a sua confiabilidade. Por exemplo, informaes obtidas de fonte externa independente podem no ser confiveis se a fonte no dispor de conhecimento ou se especialista da admi-nistrao no apresentar objetividade.

    De forma geral, pode-se esperar que parte dos itens abaixo relacionados seja til em termos de confiabilidade de evidncias de auditoria. Nesse sentido, a confiabilidade das evidncias de auditoria:

    maior quando otida de fontes independentes externas entidade;

    maior quando apresentada em forma de documentos, em papel, m-dia eletrnica, em comparao informao obtida verbalmente;

    maior quando apresentada por documentos originais comparando-se com fotocpias ou fac-smiles ou por documentos que foram fil-mados, digitalizados ou transpostos de outra maneira para a forma eletrnica;

    maior quando obtida diretamente pelo auditor em relao s evidn-cias obtidas de forma indireta.

    3.3.3 seleo dos itens para testes para obteno da evidncia de auditoria

    Ao definir os testes de controles e os testes de detalhes, o auditor deve de-terminar meios para selecionar os itens a serem testados que sejam eficazes para o cumprimento dos procedimentos de auditoria. Um teste eficaz deve fornecer evidncia apropriada na medida em que ser suficiente para as fina-lidades do auditor.

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    Unidade 3 - Evidncias de Auditoria

    Ao selecionar itens a testar, o auditor deve determinar a relevncia e a con-fiabilidade das informaes a serem utilizadas como evidncia de auditoria; complementarmente, existem outros meios disposio do auditor para a seleo de itens a serem testados, como por exemplo:

    a. seleo de todos os itens (exame de 100);

    b. seleo de itens especficos;

    c. amostragem de auditoria.

    A aplicao de qualquer um desses meios ou de uma combinao deles pode ser apropriada, dependendo das circunstncias especfcas;, por exemplo, os riscos de distoro relevante relacionados afirmao que est sendo tetada, e a praticidade e eficincia dos diferentes meios.

    3.3.4 seleo de todos os itens

    Situao na qual o auditor pode decidir que seja mais apropriado examinar toda a populao de itens que constituem uma classe de transaes ou saldo contbil. improvvel um exame de 100% no caso de testes de controles; contudo, mais comum para testes de detalhes. Um exame de 100% pode ser apropriado quado:

    a. a populao constitui um nmero pequeno de itens de grande valor;

    b. h um risco significativo, e outros meios no fornecem evidncia de audi-toria apropriada e suficiente;

    c. a natureza repetitiva de um clculo ou outro processo executado automa-ticamente por sistema de informao torna um exame de 100% eficiente quanto aos custos.

    3.3.5 seleo de itens especficos

    O auditor pode decidir selecionar itens especficos de uma populao em funo de fatores considerados relevantes pelo auditor, em funo dos riscos

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    avaliados de distoro e das caractersticas da populao que est sendo testa-da. A seleo com base em julgamento de itens especficos est sujeita ao risco de no amostragem. Itens especficos selecionados podem incluir:

    Valor alto ou itens-chave. O auditor pode decidir selecionar itens especficos dentro de uma populao por apresentarem valor elevado ou exibirem alguma caracterstica; por exemplo, itens suspeitos, no usuais, particularmente propensos a risco ou que tenham histrico de erro.

    Todos os itens acima de certo valor. O auditor pode decidir examinar itens cujos valores registrados excedam certo valor, de modo a verifi-car uma grande proporo do valor total de uma classe de transaes ou saldo contbil.

    Itens para obteno de informao. O auditor pode examinar itens para obter informaes sobre assuntos como a natureza da entidade ou a natureza de transaes.

    3.4 tEstEs DE sUPERAVALiAO E DE sUBAVALiAO

    Uma forma de averiguar se os valores refletem adequadamente a situao econmico-financeira consiste nos testes de superavaliao e de subavaliao. Como consequncia do princpio da partida-dobrada, todo e qualquer registro contbil feito de forma incorreta afeta uma ou mais contas. Com o objetivo de garantir a correta adoo dos princpios contbeis, os testes de superavaliao so normalmente orientados s contas do Ativo e de Despesas, e testes de su-bavaliao so orientados s contas do Passivo e de Receitas.

    De forma estrutural, esse conjunto de testes pode ser resumido conforme o Quadro 7.

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    Unidade 3 - Evidncias de Auditoria

    TESTE PRINCIPAL (1, 2, 3, 4) TESTE SECUNDRIO (A, B, C, D)

    Superavaliao do Ativo

    Subavaliao do AtivoSubavaliao das DespesasSuperavaliao do PassivoSuperavaliao de Receitas

    Superavaliao das Despesas

    Subavaliao do AtivoSubavaliao das DespesasSuperavaliao do PassivoSuperavaliao de Receitas

    Subavaliao do Passivo

    Subavaliao do AtivoSubavaliao das DespesasSuperavaliao do PassivoSuperavaliao de Receitas

    Subavaliao das Receitas

    Subavaliao do AtivoSubavaliao das DespesasSuperavaliao do PassivoSuperavaliao de Receitas

    Quadro 7 Estrutura dos testes de super e subavaliaoFonte: Adaptado de Almeida (2010).

    TESTE PRINCIPALTESTE

    SECUNDRIOEXEMPLO DE ERRO

    1. Superavaliao do Ativo

    A. Subavaliao do Ativo

    Aplicaes financeiras contabilizadas como imobilizado. Venda a prazo contabilizadas como vista. Ativo circulante contabilizado como no circulante. Aquisio de um imvel, contabilizada como diferido. Terreno adquirido para fbrica, contabilizado como investimento. Lanamento no caixa, quando o correto seria lanar em bancos.

    1. Superavaliao do Ativo

    B. Subavaliao das Despesas

    Despesas com honorrios contabilizadas como investimento. Juros de financiamento contabilizados como imobilizado. Despesas com materiais contabilizadas como ativo diferido. Despesas com combustveis contabilizadas como imobilizado.

    1. Superavaliao do Ativo

    C. Superavaliao do Passivo

    Compra de MP em X1 contabilizada em X0. Emprstimo obtido em X1 contabilizado em X0. Ativo imobilizado, adquirido em X1, contabilizado em X0. Contabilizao de emprstimos no ocorridos. Aquisio de mquina, a prazo, em X1, contabilizada em X0.

    1. Superavaliao do Ativo

    D. Superavaliao de Receitas

    Receitas com juros em X1, contabilizadas em X0. Vendas a prazo, realizadas em X1, contabilizadas em X0.

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    Curso de Graduao em Cincias Contbeis

    TESTE PRINCIPALTESTE

    SECUNDRIOEXEMPLO DE ERRO

    2. Superavaliao das Despesas

    A. Subavaliao do Ativo

    Compra de computadores, contabilizada como despesa. Frete da compra de produtos para revenda, contabilizado como despesas.

    Clientes a receber, contabilizados como despesa de vendas. Gastos com pesquisa, contabilizados como despesas. Gasto com instalao de equipamento, contabilizado como despesa.

    Compra de um computador, debitada como despesa. Aquisio de computador contabilizada como despesa.

    2. Superavaliao das Despesas

    B. Subavaliao das Despesas

    Multas contratuais contabilizadas como despesa de juros. Comisso de vendas, contabilizadas como despesas com salrios. Despesas com honorrios, contabilizadas como despesas de marketing.

    Comisso com vendas, contabilizada como despesa no operacional.

    Comisso de vendas, contabilizada como despesa de salrios.

    2. Superavaliao das Despesas

    C. Superavaliao do Passivo

    Despesas com percia, incorridas e no pagas, provisionadas a maior.

    Proviso de IR a pagar, feita a maior. Aluguis incorridos e no pagos contabilizados a maior. Proviso de frias, contabilizada a maior. Despesas de frias, provisionadas a maior. Manuteno de veculos provisionada a maior.

    2. Superavaliao das Despesas

    D. Superavaliao de Receitas

    Devoluo de vendas, contabilizada como despesa financeira. Desconto sobre vendas, contabilizado como despesa de vendas. Imposto sobre vendas, contabilizado como despesa de vendas. Impostos sobre a receita, contabilizados como despesas financeiras.

    3. Subavaliao do Passivo

    A. Subavaliao do Ativo

    Compra de mquinas e equipamentos, a prazo, em X0, contabili-zada em X1.

    Emprstimo obtido em X0, contabilizado em X1. Compra de estoques, a prazo, no contabilizada. Aquisio de imobil