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Área 4: Economia industrial e mudança estrutural

Financeirização, Cadeias Globais de Valor e Desindustrialização no Brasil: traçando conexões entre três debates atuais.

Érica Patente Nascimento1

Ana Lúcia Gonçalves da Silva2

Resumo

Assumindo-se a existência de um processo de desindustrialização no Brasil, o presente trabalho visa agregar à essa discussão outros dois importantes temas: a financeirização e formação das Cadeias Globais de Valor (CGVs). A partir da reflexão desses pontos em conjunto, refere-se à desindustrialização brasileira como parte de um todo, que não pode ser entendida ou solucionada através de análises que considerem apenas os fatores internos para esse movimento, embora se reconheça a contribuição dessas análises para que se chegue à construção de uma investigação mais ampla. Compreender o lugar ocupado pela economia brasileira no cenário global e o tamanho da autonomia nacional para se mover dentro do mesmo, é parte fundamental do exercício. Para tanto, a mundialização do capital e o seu desdobramento num processo de financeirização, bem como a reestruturação produtiva das economias desenvolvidas que resulta numa descentralização produtiva contraposta pela concentração e centralização do capital que configura a dinâmica das CGVs, devem ser entendidas como causas externas do processo de desindustrialização. Longe de pretender cobrir todo o debate, o que seria impossível para os limites do presente trabalho, intenta-se apresentar os principais elos entre os elementos internos e externos que se combinam e põem em movimento o processo de desindustrialização.

Palavras-chave: financeirização, Cadeias Globais de Valor e desindustrialização.

Financialization, Global Value Chains and Deindustrialization in Brazil: delineating connections between three current debates

AbstractAssuming the existence of a deindustrialization process in Brazil, this paper aims to add other important topics to the discussion: the finalization and the formation of Global Value Chains (GVCs). The reflection of these points together, referring to the Brazilian deindustrialization as part of a whole, that cannot be understood or solved through an analysis that considers only the internal factors for this movement, while we can recognize a contribution for analysis to a construction of a broader investigation. However, we need to understand the position occupied by the Brazilian economy without a global scenario and the size of the national autonomy to move within it as a fundamental part of the exercise. Furthermore, the globalization of capital and its unfolding of the finance process, as well the productive restructuring of the developed economies resulting in productive decentralization, opposed by concentration and

1 Professora do curso de Ciências Econômicas na UENP e Doutoranda do Programa de Teoria econômica - IE Unicamp. Email: [email protected]

2 Professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico IE-Unicamp. Email: [email protected]

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centralization of capital that is the dynamic of the CGVs, must be understood as external causes of deindustrialization process. This work does not intend to cover the whole debate, that would be impossible based only on the factors analyzed here, instead of that the proposal is to introduce the main connection links between the internal and external elements that combine and set in motion the deindustrialization process.

Key-words: financialization, Global Value Chains and deindustrialisation.

1. Introdução

Tendo como pontos de partida três questões frequentemente debatidas, a mundialização financeira, a configuração das Cadeias Globais de Valor (CGVs) e a desindustrialização no Brasil, o presente trabalho visa criar um diálogo entre as três discussões, partindo-se do entendimento de que o último item, que se refere diretamente à economia brasileira, pode ser melhor compreendido a partir do entendimento de que a economia brasileira se encontra imersa e subordinada à lógica da financeirização e da organização das CGVs. Isso posto, o trabalho visa identificar como se desenvolve a conexão entre a financeirização e o desenvolvimento das CGVs e, ademais, desvendar como aspectos que permeiam ambos desdobram-se na desindustrialização de uma economia em desenvolvimento, mais especificamente, na desindustrialização da economia brasileira.

Para construir as conexões entre os três pontos, acredita-se que é preciso passar por algumas questões fundamentais relativas às mudanças na economia mundial: as conseqüências do fim de Bretton Woods, a desregulamentação financeira e a hierarquia monetária; a mundialização do capital e o papel das ETNs; o protagonismo das instituições financeiras que passaram a centralizar o controle da riqueza líquida; o papel dos organismos multilaterais e a perda da autonomia dos Estados nacionais para implantar e comandar um processo de crescimento e desenvolvimento econômico autônomo. Além disso, para ligar os pontos mais amplos aos aspectos específicos a desindustrialização brasileira, também é preciso identificar os canais de transmissão – ao menos os principais, dado os limites deste trabalho – pelos quais as transformações globais referentes à financeirização e estruturação das CGVs afetam a estrutura produtiva brasileira.

Para tanto, o trabalho está estruturado em 6 seções, incluindo essa introdução e as considerações finais. A seção a seguir trata do processo de transição entre os “Anos Dourados” do capitalismo fordista e o regime de dominância financeira construído a partir do desfazimento da estrutura de Bretton Woods a partir da década de 1970. A financeirização, tendo como pano de fundo a mundialização do capital, e a intensa concorrência global entre os grandes capitais, estabelecem a lógica que passa a governar a dinâmica econômica, tanto de países desenvolvidos como também de países em desenvolvimento, exacerbando contradições e assimetrias entre economias ricas e emergentes. A terceira seção visa aprofundar a percepção dos efeitos da financeirização sobre as estratégias das grandes corporações.

A quarta seção trata da nova natureza da internacionalização produtiva, destacando o papel das ETNs, guiadas pelo objetivo de maximização do valor para o acionista e organizadas através das CGVs. A fragmentação do processo produtivo e de comercialização entre países de diferentes regiões, tanto por meio de IDE quanto pelo movimento de terceirização, estão no cerne do entendimento das CGVs e da compreensão da sua influência para a estrutura produtiva mundial. A quinta seção, utilizando como base trabalhos empíricos que demonstram a existência da desindustrialização no Brasil, tem como objetivo acrescentar ao debate a conjuntura internacional construída a partir da lógica da financeirização e da constituição das CGVs como acesso a novos espaços de valorização do capital. Tem-se por objetivo

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compreender de que forma essas tranformações interagem com a estrutura produtiva brasileira e influenciam as estratégias de desenvolvimento nacional. Por fim, tem-se as considerações finais.

2. Mundialização do capital e financeirização: padrão de acumulação a partir do final do capitalismo regulado de Bretton Woods

A década de 1970 marca a transição entre regimes de acumulação capitalista: o fordismo e a mundialização do capital. Isso significou a mudança na forma de gerar e capturar valor. O fordismo, como padrão de acumulação e forma organizacional, racionalizou a produção através da implantação de uma minuciosa e fixa divisão do trabalho que foi capaz de aumentar em muito a produtividade.

Forte centralização do capital, economias de escala, estrutura verticalizada e competição multidoméstica – nos termos de Porter (1986) – davam o tom desse processo de produção e consumo em massa que se configurou como modo de vida. O fordismo amadureceu no pós-Segunda Guerra sob a tutela do poder econômico e financeiro dos Estados Unidos, fundados em seu poderio militar e laureados pelo Acordo de Bretton Woods. Esse país recebeu o privilégio de emitir a moeda mundial, ancorando à sua política fiscal e monetária o desenvolvimento econômico mundial. Neste cenário foram erigidos os “Anos Dourados” do capitalismo, com duração até aproximadamente 1973, quando um quadro de aguda recessão engendrou uma rápida transformação nas suas estruturas culminando em um novo regime de acumulação (HARVEY, 2014).

Porém, esse padrão de acumulação chegou dando lugar a uma concorrência internacional dinâmica com acelerada mudança tecnológica. Novas formas de organização produtiva passaram a ditar o ritmo. Como exemplo pode-se citar o Japão (reconstruído pós-Segunda Guerra) apoiado ao sistema Toyota de produção ante o fordismo americano que, engessado por queda de produtividade e baixo comprometimento dos trabalhadores, passou a enfrentar seus próprios limites e contradições, como também os do welfare state. A indústria japonesa, com seu processo de produção flexível em massa, baixo estoque, alto controle de qualidade e racionalização do trabalho (exigência de alta produtividade do trabalho), passou a deter condições mais favoráveis para enfrentar o novo cenário de taxas cambiais voláteis, juros altos, demanda variável e aumento de preço dos insumos, sobretudo o alto custo de energia.

Nas palavras de Harvey (2014, p. 148) “as economias de escopo derrotaram as economias de escala”. A tradicional indústria fordista precisava se readaptar num quadro de recessão e altas pressões competitivas. Porém, isso acabava por expô-la a formas de organização industrial inteiramente diferentes, à terceirização e à fragmentação de sua linha de produção. A revolução das tecnologias de informação (TICs), as inovações financeiras, o aumento dos riscos, todos estes elementos convergiam para a flexibilidade produtiva vis-à-vis o controle do trabalho.

Diante disso, as grandes empresas transnacionais, bem como o comércio mundial de mercadorias, passaram por profundas modificações no bojo do processo denominado por Porter (1986) de competição global. Além da ampliação geográfica dos mercados, observou-se a expansão das estruturas internas das Empresas Transnacionais (ETNs), fundamentalmente através de investimento direto externo (IDE) e do comércio intraempresas. A nova configuração das ETNs permitiu que, tanto o processo produtivo de uma mercadoria como as fases de comercialização da mesma, pudessem ser espacialmente fragmentados entre países de diferentes regiões, incluindo países até então distantes da rede de comércio global. Agrega-se a isso a solidificação das Cadeias Globais de Valor, as quais trazem consigo a terceirização global de atividades antes desempenhadas internamente às firmas (matrizes e filiais). Mas este é apenas um dos aspectos de uma conjuntura com muitos fatores interdependentes.

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Não somente o setor produtivo se modificava, mas também o mercado financeiro e de capitais passava por transformações importantes, como nos apontam Lazzonick e O’Sullivan (2000) ao destacarem que os agentes financeiros passaram a estigmatizar a grande corporação chandleriana, que começa a ser vista como contraproducente por sua lógica de reter e reinvestir. Ganha espaço uma visão financeira que considera a organização como um conjunto de subunidades líquidas voltadas para a maximização do valor das ações – guiando-se pela teoria do shareholder value como sistema de governança corporativa – e atendendo à premissa de encolher e distribuir.

De fato, novas e estreitas articulações entre capital financeiro e produtivo foram se erguendo nesse período. Articulações tão importantes a ponto de darem sentido a uma nova Divisão Internacional do Trabalho (DIT) comandada por cerca de trezentas a quinhentas grandes empresas transnacionais cujas estratégias atendiam agora à dominância da lógica financeira sobre a produtiva, num processo tratado por autores como Chesnais e Braga como financierização. Esse processo seria resultado da globalização, ou melhor, da “mundialização do capital”.

O termo mundialização é uma tradução aproximada para “globalização”, palavra inglesa recorrentemente utilizada, porém rasa para designar o novo regime de acumulação que envolve a intensificação da internacionalização produtiva e financeira aliadas à liberalização comercial e desregulamentação financeira. A mundialização do capital seria bem mais do que uma nova etapa do processo de internacionalização. Seria, de acordo com Chesnais, um novo estilo de acumulação de capital expresso em novas formas de centralização de vultosos capitais financeiros (fundos mútuos, fundos de pensão) que se reproduzem no interior da esfera financeira buscando sempre o máximo de rentabilidade aliada à liquidez. Além disso, esse novo modo de acumulação se personaliza num administrador anônimo (não tão anônimo assim) de fundos de ativos. É no setor financeiro que se encontra a maior e mais flexível circulação de riqueza, de modo que, a mundialização financeira é a ponta de lança da mundialização do capital. Porém, é a mundialização do capital a protagonista do processo, que tem como um de seus desdobramentos a financeirização (CHESNAIS, 1996).

A mundialização do capital como padrão de acumulação vigente, tem a característica de conseguir envolver em sua dinâmica, países em desenvolvimento que se encontravam à margem dos principais fluxos de capitais mundiais até a década de 1990. Esses países que até então tinham papel menor, passaram a cumprir papel estratégico para o investimento dos principais agentes econômicos mundiais. Mesmo já havendo aqueles que se encontravam na rota do capital internacional, o volume aumentou consideravelmente, principalmente após as mudanças institucionais dentro do novo padrão de acumulação.

A nova dinâmica de concorrência e acumulação capitalista vem acompanhada do envolvimento das esferas produtiva e financeira, sem que isso signifique que há a redução desta questão a um conflito entre o setor financeiro e o setor produtivo, ou algo como capital bancário versus capital industrial. O fato é que ambos estão estreitamente integrados. O grande capital industrial passou a desenvolver “braços financeiros” (GONÇALVES, 1999) e a depender deles. Expressiva quantidade de empresas transnacionais, tais como General Electric e General Motors, tem suas próprias instituições financeiras com capacidade de agir internacionalmente.

Ao afirmar-se que há uma estreita relação entre capital financeiro e produtivo, tem-se em mente que o capital financeiro, apesar de mais livre e veloz para se valorizar, não pode abrir mão completamente da valorização na esfera produtiva, tendo como elemento fundamental o progresso técnico e a concorrência internacional industrial. Porém, essa interdependência não significa que ambas as formas de capital exerçam a mesma influência na dinâmica do capitalismo desenvolvido. Braga (1993, p.26) nos chama atenção para o que ele nomeou como dominância financeira, assim explicada:

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“A dominância financeira – a financeirização – é expressão geral das formas contemporâneas de definir, gerir e realizar riqueza no capitalismo. Por dominância financeira apreende-se, inclusive conceitualmente, o fato de que todas as corporações – mesmo as tipicamente industriais, como as do complexo metal mecânico e eletroeletrônico – têm em suas aplicações financeiras, de lucros retidos ou de caixa, um elemento central do processo de acumulação global de riqueza. Assim, seus departamentos financeiros vêm adquirindo maior importância estratégica que os de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), ao ponto de assumirem o perfil de bancos-não-bancos, internos às empresas”.

Ou seja, a lógica financeira passou a ser mais relevante, determinando a lógica do setor produtivo, mas não se desarticulando ou se descolando desta última. Todo esse processo encontrou justificativa na ideologia neoliberal, que passou a ditar regras através de instituições internacionais como FMI e Banco Mundial para que os países, nos mais diversos graus de desenvolvimento econômico, pudessem se integrar à nova ordem mundial3.

De formas e ritmos diferentes entre países, o processo de globalização financeira iniciado nas últimas décadas do século XX segue continuamente num processo de integração e homogeneização mundial dos mercados de capitais encabeçado pelas principais economias mundiais, mas fundamentalmente pelos Estados Unidos, país cuja moeda figura como uma reserva mundial de valor e cujo mercado de capitais se apresenta como o maior e mais inovador espaço para aplicações financeiras do mundo4.

A questão é que a capitalização financeira e fictícia, ou ainda, a financeirização como definidora da dinâmica econômica, impõe seu ritmo e coloca cada agente envolvido no lugar que melhor lhe convém. Para seu pleno funcionamento, empresas, trabalhadores, instituições públicas, instituições privadas e economias nacionais, dependendo de onde se inserem e do que oferecem, têm seu grau de importância e papel definidos dentro da engrenagem dessa nova dinâmica.

As economias emergentes, por exemplo, têm a perda de sua autonomia para definir políticas macroeconômicas, sendo a formação de seus preços-chave, como taxa de juros e taxa de câmbio, subordinada a definições de política monetária dos EUA e a movimentos de capitais internacionais. Para atrair o capital internacional, as economias emergentes oferecem altas taxas de juros que precisam compensar o alto risco que os investidores atribuem a esses mercados. A regra é considerar a taxa de juros do dólar e o risco país. Segundo Prates (2005), essa regra resulta em diferentes graus de autonomia política por parte das economias nacionais. Essa autonomia é maior para o país emissor da moeda-chave e decrescente à medida que as moedas se apresentam como mais ou menos conversíveis, demonstrando que “a assimetria monetária implica assimetria macroeconômica” (p. 275).

À análise apresentada acima podemos incluir as conclusões de Furtado (1978) ao observar a força da globalização econômica na década de 1970. O autor destaca duas ordens de problemas. O primeiro refere-se ao comportamento conjunto da economia internacional, 3 Dentre várias recomendações de política neoliberais, para o escopo deste trabalho cabe frisar a recomendação de liberalização comercial, desregulamentação financeira e restrição do papel do Estado, o qual deveria minimizar sua atuação e intervenção na esfera econômica (CANO, 1993). 4 Mesmo sendo questionado em alguns momentos e com a recente crise do subprime que ainda faz sentir seus efeitos, o poderio financeiro estadunidense permanece. Ainda nos momentos de crise aguda, de maior aversão ao risco, a divisa chave continua sendo o dólar americano, que segue exercendo seu papel de reserva de valor, meio de troca e unidade de conta com total liquidez. Para uma leitura pormenorizada sobre este ponto ver: Belluzzo (2016), Prates (2005), Tavares e Fiori (1997).

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personificado em órgãos coordenadores, não tão precisos quanto se propõem, diante dos desequilíbrios das economias nacionais e submetidos ao poder dos agentes que se apropriam do excedente originado no comércio internacional de bens e serviços. O segundo diz respeito à posição das economias nacionais na DIT bem como às complexas relações internacionais criadas por efeito da mesma.

Para Furtado (pp. 115, 116) a ordem econômica internacional apoia-se nos seguintes recursos de poder: o controle dos mercados; o controle do acesso a fontes de recursos renováveis; o controle do acesso à mão de obra barata; o controle da tecnologia; e o controle das finanças. À combinação destes, segue-se a posição dos Estados nacionais e grupos econômicos na DIT, o que, por sua vez, determina a parcela de apropriação do excedente gerado pela economia mundial. Porém, o grau de influência de um ou de outro elemento não é igual. O controle da tecnologia e das finanças são as chaves mestras da estrutura de poder mundial vigente. Países que exploram intensivamente recursos não renováveis, através da exploração de mão de obra barata, podem alcançar altos níveis de acumulação e serem grandes ofertantes de commodities estratégicas, porém, aliado a isso, é possível que experimentem uma total dependência tecnológica e fragilidade financeira.

Ter o controle de grandes empresas nacionais – comandadas pelo capital privado interno ou pelo Estado – não é condição suficiente para modificar por si mesmo o quadro de dependência, ainda mais quando estas empresas, para sobreviverem, dependem de redes comerciais e tecnológicas sobre as quais não têm influência. Isso se agrava quando o motor do crescimento econômico dos países em desenvolvimento deixa de ser o Estado, passando para as mãos dos grandes conglomerados internacionais, como nas últimas décadas. Os grandes sistemas nacionais competitivos cederam o controle da inovação e da acumulação para grupos empresariais transnacionais, sob a batuta dos EUA, de seu poderio militar, do dólar como moeda mundial e de suas grandes empresas, “já maduras técnica e financeiramente para estruturar-se em escala planetária” (FURTADO, p. 95). Mesmo nos países do centro percebe-se a perda da autonomia para regular o sistema econômico, enquanto o mercado financeiro internacional se hipertrofia, mantendo grande soma de recursos líquidos fora do controle dos Estados nacionais. A estes últimos, resta a busca por credibilidade, seguindo recomendações ditadas através dos organismos multilaterais, que mais não fazem do que guiá-los pelos objetivos do mercado.

3. Financeirização e seu impacto sobre as estratégias corporativas

As grandes corporações internacionais – para além do privilegiado acesso às novidades tecnológicas e organizacionais – contam também e principalmente com a ampliação das oportunidades de valorização do capital na dimensão financeira. Orientadas pela lógica do share holder value, o empenho pela maximização de receitas financeiras no curto prazo a fim de responder aos acionistas com a geração de altos dividendos, faz do mercado financeiro o lócus preferencial para a busca por ganhos operacionais em detrimento ao investimento em nova capacidade produtiva e postos de trabalho (greenfield) (LAZZONICK e O’SULLIVAN, 2000).

Por outro lado, conforme destacado por Loural (2011), isso não significa que a realização de investimentos passa a ser dispensável, já que, num contexto de intensa competição global, o valor das ações de uma empresa também depende do tamanho do seu mercado. Isso leva as empresas a um “dilema entre obter valorização de curto-prazo e se manterem competitivas com a realização de investimento” (ibidem, p. 6). Segundo o autor, a solução se encontra em três bases: redução de custos, flexibilidade e liquidez. Essas bases direcionam as corporações a resolverem seu dilema, no contexto da financeirização em que os ganhos financeiros tornam-se meio e fim, buscando a conquista de novos espaços no mercado

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através de processos de fusão e aquisição, o que nem sempre resulta na construção de novas plantas produtivas e geração de emprego.

A compra e venda de corporações tornam-se um fim em si mesmo. Isso se torna patente quando se observa que boa parte da expansão das grandes organizações empresariais nas últimas três décadas se deu sob a forma de IDE através de fusões e aquisições com predominância de operações no sistema bancário e financeiro. É, sobretudo, nas bolsas de valores, com a profusão das inovações financeiras pós-liberalização e desregulamentação econômica, que são criados e implementados os mecanismos de financiamento que possibilitam o crescimento das grandes empresas (CASSIOLATO, ZUCOLOTO e TAVARES, 2014).

Essa interação entre capital produtivo e capital financeiro tem efeitos importantes sobre as estratégias das transnacionais e condução dos seus investimentos, com destaque para aquelas que envolvem desenvolvimento tecnológico e inovação. Dentro do regime da mundialização, isso significa uma agenda única e global por parte das ETNs, que voltam suas atenções menos para as atividades produtivas e mais para atividades financeiras e ativos intangíveis. A busca por flexibilidade e liquidez moldam as estratégias das empresas, as quais organizam as CGVs sob suas lideranças fragmentando o processo de produção e terceirizando atividades, de forma a minimizar os custos de trabalho. Por outro lado, as ETNs mantêm sob seu domínio as atividades estratégicas e com maiores margens de lucro, por exemplo: P&D, marketing, design, integração final do produto (ibidem).

A estratégia central passa a ser a financeira. Mas o horizonte temporal da lógica financeira é diferente do horizonte da lógica produtiva. Enquanto essa última prevê seus ganhos no longo prazo, a primeira obedece a impulsos “curtoprazistas”, ou seja, importa o retorno rápido em detrimento aos esforços que podem ter custos irrecuperáveis e retorno sem data marcada, tais como os esforços em P&D. Dentro das atividades industriais das ETNs, as áreas de P&D foram reduzidas e tiveram o foco redirecionado à melhoria incremental de produtos e processos, cujas chances de gerar retornos a curto prazo é maior. Além disso, existe um crescente movimento de “apropriação e internalização nas grandes corporações dos esforços públicos de pesquisa”, principalmente no setor farmacêutico e em biotecnologia. Tal movimento é patente no SNI norte-americano, com chances de ser imitado pelos demais sistemas num cenário globalizado.

Essa lógica de curto prazo, por ser repassada às empresas subsidiárias, acaba impactando as estratégias nacionais dos países em que essas se situam, desmentindo o argumento de que a entrada das ETNs gera spillovers para a indústria nacional capazes de atenuar as desigualdades tecnológicas. Cassiolato, Zucoloto e Tavares (2014, pp. 188, 189) argumentam que, quando as grandes corporações se apropriam e mantêm laboratórios em diversos espaços nacionais, têm maior acesso às capacitações e rotas tecnológicas específicas de diferentes SNIs, o que estabelece uma direção inversa de difusão do avanço tecnológico, ou seja, são as ETNs que absorvem as diferentes matrizes de conhecimentos presentes em vários sistemas, mantendo um laboratório central que coordena o trabalho das outras unidades, “dado que a tecnologia é uma dimensão central da competitividade”.

No entanto, muitos são os casos em que os laboratórios de empresas adquiridas, fundamentalmente países em desenvolvimento, são fechados. Brasil e os outros países latino-americanos são exemplos claros de que os tão esperados investimentos tecnológicos, como conseqüência do fluxo de IDE, não se confirmaram. O objetivo é ocupar os mercados da periferia adquirindo empresas já existentes e, ao mesmo tempo, captar crédito barato internamente, repassando-os para as matrizes por meio de empréstimos intercompanhia, como denuncia Belluzzo (2016).

Ao invés disso, a atuação das empresas transnacionais em países emergentes (a exceção de China e Coréia do Sul), pautada pela financeirização, possui caráter especulativo, especialmente quando o seu principal canal de entrada é o IDE destinado a fusões e aquisições.

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De acordo com Prates (2005), as operações de fusão e aquisição são inerentemente mais voláteis que a implantação de novas plantas produtivas, porém, nem mesmo o investimento em novas plantas está isento da lógica especulativa. Os fluxos de IDE, de modo geral, exercem pressões sobre as taxas de câmbio dos países receptores ao incluírem operações de hedge como forma de proteção às empresas transnacionais em suas transações em países que apresentam risco cambial, o qual é, por sua vez, gerado pela assimetria monetária.

As assimetrias macro e microeconômicas se acentuam na medida em que aumenta o perfil especulativo da circulação de capitais e, consequentemente, a volatilidade dos fluxos de capitais internacionais, os quais estão ligados às expectativas e às decisões de investimento dos agentes. De acordo com Prates (2005), essa volatilidade não se resume a algumas modalidades de fluxos. Investimento de portfólio, empréstimos de curto prazo e investimento direto externo (IDE) têm se inserido na mesma lógica especulativa. A percepção da vulnerabilidade externa afugenta os mesmos agentes responsáveis por agravá-la, os quais aceleram a remessa de lucros, dividendos e “tudo no propósito de voltar às posições e à liquidez em moeda forte” (BELLUZZO, 2016, p. 69).

4. As ETNs e a nova natureza da internacionalização produtiva

As Empresas Transnacionais (ETNs), basicamente aquelas cujas matrizes se situam em países desenvolvidos, conduzem o processo de internacionalização da produção, buscando estratégias concorrenciais que as mantenham como líderes do processo de inovação tecnológica e organizacional. De acordo com Hirst e Thompson (1998), a internacionalização produtiva se dá por dois canais principais: comércio e Investimento Direto Externo (IDE). O canal dominante entre 1945 e 1973 foi o comércio. Daí em diante, como consequência da lógica concorrencial que passou a vigorar, destacou-se o crescimento do IDE, acrescentando aos problemas de governabilidade econômica dos Estados Nacionais as estratégias dessas organizações que tendem a manter a riqueza e a geração de valor distribuídas de forma desigual.

Em grande número de casos, ETNs ingressam em setores estratégicos para o desenvolvimento dos países periféricos, impondo à configuração produtiva dessas economias os resultados das decisões globais de grandes grupos de agentes privados, que por sua vez, são alheios à realidade local. Nesse período, a entrada das ETNs nos países em desenvolvimento tem se dado, destacadamente, através dos processos de fusões e aquisições e formação de redes e estruturas de cooperação mundialmente integradas em que essas empresas se mantêm como detentoras das tecnologias chave, distribuindo entre os países as etapas de produção e montagem do produto final, atividades que geralmente representam uma parcela menor no total do valor agregado. Essa distribuição não é aleatória, pois, tem como objetivo aproveitar especificidades locais capazes de reduzir os custos de produção e comercialização.

De acordo com Hirst e Thompson (1998), no início da década de 1990, cerca 37.000 multinacionais controlavam aproximadamente 170 mil filiais. Dessas 37 mil, havia 24 mil cujas matrizes se situavam nos 14 países mais desenvolvidos da OCDE. Do estoque de IDE, de cerca de 2 trilhões de dólares em 1992, aos quais as 100 maiores ETNs correspondiam a um terço do total, apenas 5% eram procedentes de países em desenvolvimento. Em torno de 60% do estoque de IDE correspondiam ao setor industrial, 37% ao de serviços e 3% ao setor primário.

Cassiolato, Zucoloto e Tavares (2014) apresentam dados atualizados. Os autores identificam que nos últimos 30 anos a taxa de crescimento de IDE foi duas vezes maior que a taxa de investimento mundial. As ETNs continuam como as principais responsáveis por esta conjuntura e, no final de 2007, somavam 79 mil, contando com 790 mil filiais estrangeiras. Em 2010 as ETNs como um todo (matrizes e filiais) geraram um valor adicionado que significou algo em torno de um quarto do PIB global, ou cerca de US$16 trilhões. As exportações das

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filiais significaram um terço do total verificado no mundo em 2010, sendo que o comércio entre matrizes e filiais representou 60% das trocas.

Outros dados importantes sobre produção de tecnologia e gastos em P&D, chamam atenção pelo predomínio das ETNs. As 1.500 maiores ETNs encarregaram-se de 90% do total global despendido em P&D em 2012. Porém, as evidências de concentração também estão presentes aqui, pois, das 700 ETNs que mais investem em P&D, 80% pertencem a apenas cinco países, todos do mundo desenvolvido: EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França. Além disso, suas atividades tecnológicas circunscrevem-se geralmente aos países-sede (ibidem).

O caráter internacional e globalizado dos processos produtivos conduzidos pelas grandes empresas se organiza num tipo de rede empresarial que pode ser definida como Cadeias Globais de Valor (CGVs). Segundo Prochnik (2010), as CGVs incluem as etapas e atividades desenvolvidas para a produção e distribuição de um produto, desde a sua criação, design, passando pela produção, distribuição, até o suporte pós-venda, sendo que em cada etapa há a adição de uma parte do valor do produto. Estes sistemas são dirigidos por empresas líderes, geralmente situadas em países desenvolvidos, embora haja um número crescente de CGVs coordenadas por firmas de países em desenvolvimento.

As CGVs são possíveis devido a mudanças históricas no modelo de organização da produção com crescente conexão da integração comercial entre os países e a progressiva desintegração da produção. Os incentivos ao uso desse modelo de governança assimétrica, em que uma firma líder organiza a cadeia, verificam-se a partir de fins dos anos 1970, mas, sobretudo, a partir dos anos 1980, com a intensificação do processo de outsource offshoring (PROCHNIK, 2010).

De acordo com Sarti e Hiratuka (2011, p.22), o processo de descentralização da atividade manufatureira não significou redução da concentração e centralização do capital. Ao contrário, o poder de comando das matrizes situadas nos países centrais sobre o valor gerado em outras regiões "foi potencializado, ao mesmo tempo em que grande parte do comprometimento de recursos com atividades intensivas em mão de obra foi externalizado”. O pano de fundo desse cenário é a transição da governança corporativa das estratégias do tipo “reter e reinvestir” para as estratégias do tipo “racionalizar e distribuir”, tendo como objetivo claro a maximização do shareholder value.

Conforme Sarti e Hiratuka (2010), as ETNs buscavam, para além de novos espaços de acumulação, a exploração de ativos capazes de oferecer vantagens competitivas coerente com a racionalização de recursos, a diminuição de custos irrecuperáveis e aumento da flexibilidade produtiva e comercial. Para tal propósito, as grandes empresas partiram para um intenso movimento de fusões e aquisições, ampla utilização de acordos de colaboração tecnológica e de P&D entre concorrentes, maior interatividade com clientes e fornecedores, concentração de esforços nas áreas essenciais com vendas de áreas não estratégicas e a externalização de atividades produtivas antes integradas verticalmente.

A essas mudanças de estratégia competitiva somou-se um intenso movimento de liberalização comercial e financeira e desregulamentação dos mercados. O resultado foi uma transformação fundamental na forma de operação internacional das ETNs. As grandes corporações, ao invés de reproduzirem em cada local a cadeia de valor na sua totalidade (ou quase toda ela), passaram a fragmentar as cadeias de valor através da especialização das atividades realizadas em cada país ou região de modo a aproveitar economias de escala e escopo. Isto se dá com a realocação de atividades produtivas pela firma líder, que procura reter as competências chave e repassar as demais para outras firmas, subsidiárias ou não, situadas no exterior.

Essa fragmentação internacional da produção tem como efeito uma nova forma de divisão internacional do trabalho, à qual foram acrescentadas duas novas dimensões: a distância entre as firmas envolvidas e a quantidade destas no processo produtivo (CARNEIRO, 2015).

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Não se trata mais apenas da separação geográfica entre produção e consumo, mas também da separação geográfica das etapas que compreendem toda a cadeia, de atividades produtivas à prestação de serviços. Como consequência, tem-se um aumento da complexidade da coordenação da produção, o que só se faz possível com a redução drástica dos custos de transporte a partir da segunda metade do século XX e com o avanço nas tecnologias de informação e comunicação que facilitou a modularização do desenho e da produção (VEIGA e RIOS, 2014). Soma-se a isso os diferenciais de salário entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento e a acumulação nestes últimos de uma base industrial durante o século XX.

A desconcentração produtiva foi acompanhada de forte concentração e centralização do comando sobre ativos financeiros, recursos produtivos e conhecimento. No topo de uma CGV está a empresa líder que, através de seu poder de compra e domínio de atividades estratégicas (P&D, design, logística, marketing, marcas, capacitações tecnológicas e organizacionais, definição do padrão dominante e controle do mercado, etc.), mantém a sua coordenação, definindo e impondo parâmetros de contratos e subcontratos na cadeia de fornecimento (SARTI e HIRATUKA, 2010; VEIGA e RIOS, 2014). Como, geralmente, as vantagens competitivas das líderes são difíceis de copiar, isso lhes proporciona taxas de lucro acima da média. Às firmas subordinadas na cadeia resta uma posição negociadora mais ou menos fraca a depender das barreiras à entrada de novos concorrentes em sua área de atuação, o que pode torná-las vulneráveis à substituição por outras fornecedoras.

No nível mediano da cadeia encontram-se empresas responsáveis por capacitações intermediárias “que, além das atividades típicas de serviços de manufatura, possuem capacitação para o desenvolvimento de design próprio de produtos inteiros ou componentes” (SARTI e HIRATUKA, 2010). Na base da cadeia encontram-se empresas responsáveis por etapas padronizadas e menos complexas, lhes dotando de menor capacidade de apropriação do total do valor criado. É a posição de uma empresa na rede de produção que estabelece os ganhos que a mesma obterá de sua participação na cadeia. Deve-se destacar que, enquanto as etapas fundamentais da cadeia encontram-se geralmente nos países desenvolvidos, as outras etapas são cada vez mais deslocadas para os países em desenvolvimento (PED), interagindo com as diversas estratégias nacionais e condicionando o padrão de especialização produtiva e inserção comercial destas economias, o que resulta em diferentes oportunidades de desenvolvimento industrial e econômico.

Esse ponto levanta o debate sobre a forma de inserção em redes de produção fragmentadas como elemento dinamizador do desenvolvimento econômico. Os PED experimentaram, de modo geral, um aumento de participação no produto industrial global, refletido na mudança qualitativa de suas pautas exportadoras, compostas cada vez mais por produtos de maior intensidade tecnológica. Porém, esse movimento foi bastante assimétrico. Enquanto o Leste Asiático puxa os índices de desempenho produtivo e exportador dos PED, a América Latina viu a perda de participação industrial na composição de seu produto e suas exportações apresentarem leve melhoria de desempenho (ibidem).

Observando a variação do produto industrial mundial por região e grau de desenvolvimento para o período 1980-2000 para países industrializados e em desenvolvimento, Sarti e Hiratuka (2010) percebem que a participação dos países industrializados caiu de 77,2% para 71,8%, enquanto a participação dos países em desenvolvimento cresceu de 14,2% para 24,1%. Observando-se os PED por região, destaca-se o Leste Asiático com crescimento de 2,7% para 6,8% e a China, saindo de 1,5% para 7,1%. Enquanto isso, América Latina e Caribe retraíram de 6,7% para 5,2% e o Brasil de 2,9% para 1,9%. Ou seja, a performance dos PED se deveu basicamente a um fenômeno asiático.

Como possíveis benefícios das CGVs aos países em desenvolvimento, a literatura aponta a aceleração e redução dos custos de industrialização, pois, permite que um país participe do funcionamento de uma cadeia já estabelecida e que desenvolva vantagens

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comparativas específicas, não precisando construir sua própria cadeia. Isso pode proporcionar a alteração do padrão de especialização, movendo a indústria tradicional em direção a setores mais intensivos em tecnologia, resultando em ganhos de produtividade – com o contato e a cooperação de empresas estrangeiras, o que aumentaria o nível de conhecimento e capacitação – e aumento das exportações, por proporcionar maior exposição das empresas ao mercado externo. Consequentemente, promove condições de ampliação de emprego em setores mais sofisticados, os quais, geralmente, oferecem salários mais altos (CARNEIRO, 2015; OECD, 2013).

Entretanto, a integração às CGVs não deve ser encarada como uma panaceia capaz de revolucionar a indústria de todo e qualquer país em desenvolvimento, pois, há a chance de que as empresas do país se insiram em posição inferior em dada cadeia, ficando presas nesta posição. Por mais que o objetivo de um PED seja o de galgar posições numa CGV, inserindo-se em atividades mais complexas em que se tem maior valor agregado, a estratégia da firma líder pode ser diferente. Segundo Prochnik (2010), o suporte que as firmas líderes podem oferecer para o aprimoramento das firmas dos países em desenvolvimento depende de seus próprios interesses, sendo que, tendem a apoiar inovações incrementais nas subcontratadas, em detrimento de inovações radicais, podendo eventualmente dificultar esse aprimoramento e, alguns casos, mudar para fornecedores de países mais pobres e que lhe oferecem menor custo.

Cabe ressaltar o papel fundamental das políticas públicas para orientar o processo e minimizar os danos, de modo que a integração traga mais benefícios que problemas, como uma especialização regressiva, por exemplo. Como nos afirma Carneiro (2015, p. 37): “Ou seja, para que a inserção em cadeias de valor se traduza efetivamente em benefícios para uma economia, não basta simplesmente se associar às cadeias: é fundamental ter a capacidade de evoluir dentro destas, em direção a funções mais valorizadas e menos vulneráveis, produtos de maior valor e processos mais eficientes”.

5. O debate sobre a desindustrialização no Brasil

Muitos estudiosos tem se debruçado sobre a questão da desindustrialização no Brasil. As diferentes visões sobre o assunto resultou na classificação elaborada por Sampaio (2015) que organiza o debate entre os autores que concordam e os que discordam da ocorrência da desindustrialização no Brasil. Do lado dos que concordam, o autor os separou entre ortodoxos, aqueles que enxergam que há um caso de doença holandesa no Brasil e demais heterodoxos, dentre eles os estruturalistas e neoschumpeterianos, diferenciados pelos pontos que apontam como causa da desindustrialização e recomendações de política econômica para mitigar ou eliminar o problema5.

Em recente trabalho, Hiratuka e Sarti (2017) separam os autores em grupos de acordo com a visão geral sobre o papel da indústria no desenvolvimento econômico e a maneira como qualificam os processos dinâmicos de mudança estrutural e especialização produtiva. O primeiro grupo seria aquele cuja interpretação se aproxima da perspectiva tradicional do mainstream, para os quais o perfil da especialização setorial não teria influência sobre o crescimento econômico. Dentre os autores desse grupo, Hiratuka e Sarti (op. cit.) destacam Bonelli et al. (2013), Bacha (2013) e Pastore et al. (2013).

O segundo grupo se refere aos autores que adotam uma visão kaldoriana do crescimento e da especialização produtiva, sendo que, para estes, o crescimento industrial deve ser uma prioridade “por envolver economia estáticas e dinâmicas de escala, concentrar o progresso técnico, apresentar maiores efeitos de encadeamentos sobre os setores a montante e a jusante e apresentar maiores elasticidades-renda da demanda” (ibidem, p. 193). Mais

5 Para maiores detalhes ver Sampaio (2015) p. 69.

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especificamente, este grupo trata dos novo-desenvolvimentistas, cujas análises apontam para a importância das medidas de política macroeconômica, especialmente as relacionadas à política cambial, como essencial para a promoção de uma estrutura industrial competitiva. Para estes haveria uma “taxa de câmbio de equilíbrio industrial” que é diferente da taxa de câmbio equilíbrio corrente. Essa diferença daria ensejo à doença holandesa. Neste grupo destacam-se Bresser-Pereira e Marconi (2008), Bresser-Pereira (2012) e Oreiro e Feijó (2010).

O terceiro grupo compartilha a interpretação kaldoriana sobre a importância da indústria e acrescenta à mesma, elementos estruturalistas e neoschumpeterianos, valorizando a importância da evolução do perfil setorial da indústria. Segundo Hiratuka e Sarti (2017, p. 194), “parte-se do reconhecimento de que existem padrões setoriais de mudança técnica, que, por sua vez, dependem não apenas da base técnica, mas também das formas de aprendizado e dos diferentes graus de cumulatividade e apropriabilidade das trajetórias tecnológicas”. Dentro desse grupo destacam-se, entre outros, IEDI (2007), Nassif (2008) e Morceiro (2012). Estes trabalhos, resguardadas as diferenças, expõem as dificuldades enfrentadas pela indústria a partir da década de 1990. Enquanto o trabalho do IEDI aponta para a redução da relação entre Valor da Transformação Industrial e Valor Bruto da Produção (VTI/PIB), Nassif indica que entre 1991 e 2005 os setores industriais intensivos em escala e baseados em ciência mantiveram-se estáveis, setores intensivos em recursos naturais elevaram sua participação em prejuízo aos setores intensivos em trabalho. Morceiro (2012), por sua vez, observou uma tendência significativa de desadensamento produtivo industrial e a consequente perda de seu potencial dinamizador ao concluir que houve um crescimento do coeficiente importado de bens comercializáveis dos setores classificados como de alta e média-alta intensidade tecnológica. Essa terceira visão é considerada por Hiratuka e Sarti (op. cit., p. 196) como “a mais profícua por incorporar avanços relacionados à análise da mudança técnica e ao papel das inovações no processo de desenvolvimento industrial, assim como por permitir incorporar as diferentes dinâmicas setoriais”.

Porém, os autores (ibidem), embora reconheçam o importante papel do debate sobre a desindustrialização no Brasil para recolocar a indústria como ator importante para o desenvolvimento econômico, declaram que o debate não tem considerado satisfatoriamente a relação entre as transformações no processo de concorrência global e de reorganização das grandes empresas e os limites e possibilidades que essas mudanças colocam ao desenvolvimento industrial do país. Independente do viés adotado, os trabalhos que discorrem sobre o assunto incorrem na ausência de elementos associados à reestruturação produtiva mundial para explicar o assunto e, consequentemente, para apontar soluções.

Correspondendo a este argumento e assumindo o ponto de vista de que há sim um processo de desindustrialização no Brasil, entende-se que as relações entre as mudanças na estrutura produtiva mundial e o abandono da industrialização em países periféricos, mais especificamente no Brasil, são devidamente esclarecidas quando exploradas as relações entre as dimensões microeconômicas da internacionalização produtiva e a dimensão macroeconômica – abrangendo desde as relações comerciais externas às políticas monetárias adotadas por uma economia como a brasileira – sob o regime de acumulação de dominância financeira e diante da reorganização produtiva das grandes ETNs através da dispersão geográfica e flexibilização possibilitadas pelas CGVs.

Nessa mesma linha, Espósito (2017) destaca a importância de se ter em vista, para investigar o processo de desindustrialização, a perspectiva da formação nacional, evidenciando questões como a manutenção da dependência externa e a necessidade da afirmação nacional para a superação dos problemas crônicos da sociedade brasileira, nos moldes dos pensadores da formação econômica brasileira, como Caio Prado Jr e Celso Furtado. O autor propõe que, para o entendimento completo do que significa desindustrialização é preciso entender, a princípio, o significado de industrialização.

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O processo de industrialização, nos termos furtadianos, é fundamental para o processo de superação do subdesenvolvimento, não se restringindo apenas ao crescimento industrial, dado que este pode se dar de forma desarticulada e fragmentada, não gerando encadeamentos significativos para a superação da condição de dependência externa. Para Furtado (1992, p. 28, apud Espósito, 2017) a industrialização se processa como a construção de uma estrutura produtiva cujos elementos interagem entre si, criando um eixo dinâmico interiorizado e orientado para o mercado interno, pautado nas possibilidades materiais da nação. Trata-se de um processo alicerçado internamente, sob liderança nacional. O rompimento de uma dessas bases leva ao processo de desindustrialização.

Nos termos de Espósito (ibidem, p. 125) a desindustrialização pode ser caracterizada por:

“um processo de desarticulação das bases que sustentam a industrialização, o qual pode ser caracterizado: por um movimento de ruptura dos elos fundamentais do sistema produtivo nacional, cuja existência depende da presença do departamento de bens de produção; por um deslocamento do dinamismo de crescimento para fora do mercado interno; e por uma erosão dos mecanismos de decisão do Estado. Em síntese, por um abandono de um projeto nacional.”

Analisando a evolução da estrutura setorial da indústria brasileira, Espósito (op. cit.) observa uma tendência de queda da participação do setor manufatureiro no PIB. Essa queda é puxada pela indústria de transformação6 e expõe uma conjuntura de reprimarização da estrutura produtiva e da pauta exportadora e a elevação da participação de insumos importados na produção interna, o que o autor verificou a partir da evolução da distribuição do PIB sob a ótica da despesa, o qual aponta para o aumento do peso das importações no sistema industrial brasileiro. Este último ponto é corroborado pelo coeficiente de penetração, que se refere à parte do consumo aparente que é suprida por importações. Esse coeficiente passou de pouco menos de 16% em 1996 para 21,7% em 2014. Tal conjuntura aponta para uma fragilização do setor manufatureiro e para rompimento de elos fundamentais ao funcionamento do indústria como um todo articulado, o que indica o deslocamento do eixo dinâmico da economia para o exterior.

Soma-se a isso a percepção do aumento da vulnerabilidade externa da economia nacional num cenário pós abertura comercial e financeira a partir dos anos 1990, cujo um dos efeitos imediatos foi o rápido crescimento do passivo externo, devido fundamentalmente aos fluxos de capital internacional de maior volatilidade. Em 2014, o passivo externo líquido era de, aproximadamente, US$ 650 bilhões (ESPÓSITO, 2017). Carneiro (2002) já apontava para tal fato e destacava o aumento do fluxo de IDE destinado, fundamentalmente, para processos de privatização, fusões e aquisições.

Carcanholo (2010) indica os principais motivos de aumento da vulnerabilidade externa. O primeiro motivo seria o fato de que a liberalização e abertura financeiras aumentaram a facilidade com que os residentes podem adquirir ativos e passivos em moeda estrangeira e não residentes podem atuar no mercado financeiro doméstico. Um dos efeitos seria o aumento da desnacionalização do mercado financeiro, com forte participação de instituições financeiras internacionais e o crescimento do mercado de títulos, se comparado com o de crédito bancário.

Outro motivo importante seria que a reestruturação produtiva, consequente da abertura comercial, tornou a dinâmica da economia brasileira mais dependente do mercado externo, fundamentalmente no que tange às importações como forma de garantir boa parte dos suprimentos de bens de capital necessários para a produção interna e à exportação como forma de escoamento da produção nacional. A hipótese defendida por Carcanholo (2010) é a de que 6 “A indústria de transformação é caracterizada por conter a maior parte dos ramos industriais, além de apresentar a maior capacidade de agregação de valor e desenvolvimento tecnológico” (ESPÓSITO, 2017, p. 125).

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um dos desdobramentos da abertura comercial foi a acentuação do processo de reprimarização das exportações brasileiras, a qual, junto à liberalização financeira, tem implicado em uma elevação estrutural da necessidade de financiamento externo, aumentando a dependência dos fluxos externos de capital para o equilíbrio do Balanço de Pagamentos, e um aumento da vulnerabilidade externa.

Moreira (2004) examina como a lógica da financeirização envolve o funcionamento das políticas econômicas de países periféricos. Esses países, excessivamente dependentes do financiamento externo, para manterem-se nos circuitos de valorização patrimonial e financeiro, implementam políticas de estabilização e manutenção de taxas de juros elevadas, além de desenvolverem mecanismos que permitem o movimento fluido do capital internacional, muitas vezes em operações de fusão e aquisição do patrimônio nacional. Essas operações, frequentemente, não significam um posterior aumento da capacidade produtiva. Ao contrário, vêm acompanhadas de um processo de racionalização da produção, gerando a perda de postos de trabalho e aumento das importações de bens de capital a fim de modernizar as firmas adquiridas. O seguimento dessas ações coloca em curso a dissolução das políticas de industrialização dos mercados emergentes, especialmente na América Latina, cujos países constituem-se, para o capital internacional, em lócus alternativos de especulação. Engendra-se assim um ciclo – que se retroalimenta – de aumento da dependência e vulnerabilidade externa e perda de autonomia para a elaboração de uma estratégia de desenvolvimento nacional.

6. Considerações finais

A década de 1970 marca um importante processo de transformação da economia capitalista. A revolução das TICs, o afrouxamento do padrão construído em Bretton Woods e sua progressiva dissolução, a enxurrada de inovações financeiras e a flexibilização produtiva modificaram o cenário da competição global. No que tange às grandes empresas, essas se transnacionalizaram, fundamentalmente com a fragmentação do processo produtivo e de comercialização entre países de diferentes regiões, tanto por meio de IDE quanto pelo movimento de terceirização, construindo assim as CGVs.

Caracterizando o período que se iniciava, novas e estreitas articulações entre capital financeiro e produtivo foram se erguendo, criando articulações tão importantes a ponto de darem sentido a uma nova Divisão Internacional do Trabalho (DIT) comandada por algumas centenas de empresas, num claro movimento de concentração de capital. As estratégias dessas empresas atendiam agora à dominância da lógica financeira sobre a produtiva, num processo tratado por autores como Chesnais e Braga como financierização, em que as instituições financeiras passaram a centralizar o controle da riqueza líquida.

Diante do desempenho inferior do modelo que até então moldava as grandes empresas norte-americanas, a teoria dos mercados racionais ganhou força entre teóricos e empresários, fundamentando a ideia de que o objetivo da firma deveria ser a maximização de seu valor de mercado. Os acionistas passaram a ter grande influência nos rumos das empresas.

São, sobretudo, as ETNs sediadas nos países desenvolvidos que conduzem processo de internacionalização da produção, e inserem-se nos países subdesenvolvidos essencialmente por meio de fusões e aquisições, formando redes e estruturas de cooperação mundialmente integradas em que as matrizes das ETNs se mantêm como detentoras das tecnologias chave, distribuindo entre os países as etapas de produção e montagem do produto final.

As ETNs acabam ingressando em setores estratégicos para o desenvolvimento dos países periféricos, o que impõe, à configuração produtiva das economias em desenvolvimento, os resultados das decisões globais de grandes grupos de agentes privados, que por sua vez, são alheios à realidade local. Acrescenta-se aos problemas de governabilidade econômica dos

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Estados Nacionais as estratégias dessas organizações que tendem a manter a riqueza e a geração de valor distribuídas de forma desigual.

A nova interação entre capital produtivo e capital financeiro tem efeitos importantes sobre as estratégias das transnacionais e condução dos seus investimentos, com destaque para aquelas que envolvem desenvolvimento tecnológico e inovação, pois, como a estratégia central passa a ser a financeira, isso impõe uma temporalidade de curto prazo às atividades industriais. Privilegia-se o retorno rápido em detrimento do investimento de longo prazo, o que aguça o ímpeto especulativo do capital.

Esse elementos apresentados ajudam a pensar o processo de desindustrialização no Brasil para além de fatores internos. Utilizando-se trabalhos que demonstram a existência da desindustrialização, procurou-se expor que as relações entre as mudanças na estrutura produtiva mundial e o abandono da industrialização em países periféricos, mais especificamente no Brasil, estão relacionados e ocorrem sob o mesmo pano de fundo, qual seja, a financeirização e a reorganização produtiva das grandes ETNs, ambos componentes do processo de mundialização do capital.

É da natureza do capital a busca por desvencilhar-se das amarras da produção material para se valorizar. Sua performance, em busca desse propósito, ganha alta performance com o avanço da mundialização e a evolução do processo de financeirização, que lhe capacitam para especular globalmente e com grande engenhosidade. Por conseqüência, a variável investimento sofre, embora seja crucial para a geração de emprego e renda. De outro lado, há o crescimento dos pagamentos aos investidores sob a forma de dividendos e recompras de ações, além da acumulação líquida elevada de ativos financeiros. Vultosa parte do capital financeiro é fictícia, guardando pouquíssima relação com sua origem. Esse capital segue em busca de alta rentabilidade com flexibilidade, o que vulnerabiliza as economias, sobretudo as periféricas, que possuem moeda inconversível e estão à mercê de movimentos repentinos de instabilidade na economia mundial. Esse movimento se faz sentir no Brasil de várias formas, inclusive sob a forma da desindustrialização, configurando-se em uma incapacidade de retomada de um projeto nacional de desenvolvimento.

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