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ASSENTAMENTOS RURAIS E MEIO AMBIENTE: UMA ANÁLISE SOB A
PERSPECTIVA DE REDES SÓCIO-TÉCNICAS
Filho, Luiz Carlos B.1 (Universidade de São Paulo, Brasil)
1- Introdução
O artigo tem por objetivo principal sustentar teoricamente a utilização do
conceito de redes sócio-técnicas, introduzido por Bruno Latour, para a compreensão de
determinados fenômenos que estão ocorrendo nos assentamentos rurais da região do
Pontal do Paranapanema, extremo oeste do estado de São Paulo.
Esses fenômenos, que aparentemente apontam para uma relação positiva entre
assentados e natureza, podem estar sendo condicionados, ainda que em parte, pela
existência de uma estrutura de incentivos que é dada pela existência de uma rede sócio-
técnica que atua na região.
Essas redes caracterizam-se pela constante tensão entre os diferentes interesses
dos seus “nós”, estando em permanente mutação. Diferentemente das estruturas, as
redes são abertas, polivalentes e mais efêmeras.
Assim, o autor busca identificar os atores sociais que compõem tal rede,
explicitar seus compromissos e a tensão entre seus interesses, apreender o sentido da
sua ação para, então, avançar na compreensão da realidade atual da relação entre
assentamentos rurais e meio ambiente na região do Pontal do Paranapanema.
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2- Meio ambiente: um novo campo de estudo?
Os estudos sobre a temática ambiental emergiram num plano bastante técnico e
só aos poucos se foi firmando a necessidade de aprofundar a questão metodológica e
epistemológica. De fato, há uma grande diversidade de métodos nas ciências
contemporâneas, cada uma trazendo formas próprias de abordar a realidade, com visões
distintas acerca da natureza, acerca da sociedade e acerca da relação sociedade-natureza.
(Moraes,1994)
As pesquisas sobre meio ambiente emergiram de uma dupla interrogação: a
primeira de origem social, e a segunda, de origem científica. A origem social, que data
aproximadamente da década de 60, surge da tomada de consciência de diversos
problemas gerados pelo desenvolvimento de nossas sociedades: poluições, deteriorações
de ambientes naturais, limitação de recursos naturais, urbanização acelerada mal
concebida, entre outros.
A origem científica é mais antiga e provém do esforço de apreensão da natureza, do
“meio natural”, da identificação e do estudo de seus elementos componentes, problemas
em torno dos quais foram forjadas as várias disciplinas científicas, que acabam
posteriormente se afastando das problemáticas iniciais, como conseqüência do seu
próprio desenvolvimento e consolidação(Jolivett e Pavé,1992). Como afirma Weber, a
especialização da ciência é resultado da racionalização das atividades humanas, num
processo social geral de objetivação, quantificação e profissionalização. É através dela
que o conhecimento científico avança, permitindo ao ser humano a sua emancipação em
relação ao ambiente natural(Weber,1904/1996).
1 Luiz Carlos Beduschi Filho é engenheiro agrônomo e aluno de mestrado do Programade Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo.
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Podemos identificar nessa breve discussão sobre as origens das pesquisas sobre
meio ambiente uma relação com a afirmação de Moraes (1994), segundo a qual as
ciências sociais “acordam” mais tarde para a problemática ambiental do que as ciências
naturais. São os cientistas naturais quem primeiro alertam a sociedade sobre os
problemas ambientais que afetam o planeta.
Essa afirmação é interessante pois provoca a discussão sobre o caráter específico
das ciências sociais em contraposição às ciências naturais. As ciências sociais
consolidam-se como tal a partir do momento em que emancipam-se da natureza,
dirigindo o foco de suas preocupações científicas para o homem e a sociedade. Não
encontramos em Marx, por exemplo, menção significativa sobre o papel da Natureza no
desenvolvimento das sociedades humanas, a não ser quando ele fala sobre a renda da
terra no volume III de O Capital. Para ele, o capitalismo teria seu fim determinado pelo
próprio capital e não por qualquer motivo natural.
Lembrando Weber, as ciências sociais têm um caráter fundamentalmente
compreensivo, enquanto as ciências naturais têm caráter explicativo, formulando leis
naturais. Para ele é impossível falar em leis do comportamento social.
Porém, a emergência dos problemas ambientais e a necessidade de sua
superação, bem como a complexidade das relações entre os diferentes componentes do
meio ambiente, faz com que as diferentes disciplinas tenham que reorientar suas
preocupações e redefinir seus problemas científicos, surgindo então a necessidade de
buscar uma definição de meio ambiente como objeto de investigação, condição
fundamental para o desenvolvimento de trabalhos científicos sobre o tema.
Jollivet e Pavé mostram a dificuldade de se conceber o meio ambiente como
objeto científico, já que é uma noção:
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a) recente, visto que só foi identificado como objeto de investigação em decorrência
dos problemas provocados pela ação humana;
b) relativa a um objeto central, dependendo portanto do ponto de vista do trabalho
científico, diferindo em função das diferentes disciplinas;
c) complexa, derivando dessa complexidade a necessidade de isolá-lo em diversos
compartimentos para o avanço do processo de investigação. Apesar do avanço, faz-
se necessário atualmente, levar em conta o conjunto, examinar as interrelações e
aprofundar os aspectos epistemológicos e metodológicos, o que abre o campo para a
interdisciplinaridade;
d) polissêmica, sendo apropriada por diferentes setores científicos e tecnológicos com
significados e sentido diferentes;
e) mutável no tempo e no espaço, pois um deslocamento qualquer pode levar a uma
mudança de ambiente;
f) envolve fenômenos difíceis de identificar, definir e avaliar do ponto de vista
científico e tecnológico;
É necessário então precisar a noção de meio ambiente, para que se possa
explicitar quais serão as características peculiares do tipo de pesquisa sobre o meio
ambiente que decorre desta definição (Jollivet e Pavé,1992).
Partindo de uma definição inicial do Conselho Internacional da Língua Francesa,
segundo a qual o meio ambiente seria “o conjunto de agentes físicos, químicos e
biológicos e de fatores sociais suscetíveis de produzir um efeito direto ou indireto,
imediato ou a longo termo sobre os seres vivos e as atividades humanas”, Jolivett e
Pavé chegam à seguinte definição: “o meio ambiente constitui o conjunto de meios
naturais (millieux naturels) ou artificializados da ecosfera onde o homem se
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instalou e que ele explora, que ele administra, bem como o conjunto dos meios não
submetidos à ação antrópica e que são considerados necessários à sua
sobrevivência”. Nessa definição, de cunho explicitamente antropocêntrico, esses meios
são caracterizados:
a) por sua geometria, seus componentes físicos, químicos, biológicos e humanos e pela
distribuição espacial desses componentes;
b) pelos processos de transformação, de ação ou de interação envolvendo esses
componentes e condicionando sua mudança no espaço e no tempo;
c) por suas múltiplas dependências com relação às ações humanas;
d) por sua importância tendo em vista o desenvolvimento das sociedades humanas.
Ao assumirmos essa noção de meio ambiente, colocamos a ação humana e seus
efeitos no centro do processo de conhecimento(Jollivet e Pavé,1992).
Dessa maneira, quando se fala de meio ambiente não se trata apenas de
compreender a dinâmica de certos processos naturais, mas sim de relacionar esta
dinâmica com aquilo que, em última análise, a está cada vez mais determinando: a ação
humana modifica um conjunto de processos naturais que devem ser compreendidos de
maneira minuciosa e esta modificação, por sua vez, incide de maneira freqüentemente
nefasta sobre as próprias condições humanas (Abramovay,1995).
Essa noção de meio ambiente, centrada no homem e na sociedade, apresenta-se
como novo para as diferentes disciplinas, exigindo um aprofundamento epistemológico
e metodológico do qual elas não podem fugir, além de tentar fundamentar um ponto de
vista único sobre o meio ambiente. Esse aprofundamento, que supõe a reorientação das
disciplinas através da sua definição relativa à esse ponto de vista, deve ser feito mediante
a utilização de recursos próprios a cada uma delas, sem desconsiderar porém que nesse
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processo elas estão interrelacionadas e influenciando-se mutuamente. Vale a pena
acompanhar o raciocínio dos autores: “ o campo de operação das pesquisas sobre o
meio ambiente resulta de um jogo tríplice de tensões:1) entre disciplinas e o ponto de
vista comum, 2) entre as disciplinas relativamente ao ponto de vista comum, e 3)
entre o ponto de vista comum e os processos que conduzem a seu reexame e a sua
redefinição”.
As pesquisas sobre meio ambiente enfocam então as evoluções da ecosfera,
sejam quais forem sua natureza e origem, que são suscetíveis de influenciar a saúde do
homem e o desenvolvimento das sociedades humanas. Os objetivos das pesquisas então
seriam: 1)contribuir para o conhecimento (a) dos componentes bio-físico-químicos dos
recursos e dos ambientes naturais (“milieux naturels”) em causa; (b) dos fatores e
processos de sua transformação, sejam eles de origem natural ou humana; e (c) das
incidências dessas transformações sobre a saúde do homem e sobre as condições de
assentamento do homem no planeta; e 2) para a definição de ações suscetíveis de
regular ou modificar os processos em pauta. Os estudos em meio ambiente têm portanto
a pretensão de melhorar o meio ambiente em que vive o homem, não limitando-se
apenas a conhecê-lo.
Abramovay(1995) afirma que a questão ambiental não será desenvolvida por
uma ciência unificada, mas pela capacidade dos programas de pesquisa em desenvolver
questões comuns e respostas sintéticas diante dos conhecimentos obtidos em quadros
necessariamente disciplinares. Ao afirmar isto, levanta duas questões importantes: em
que consiste então a interdisciplinaridade quando aplicada a estudos ambientais? E quais
as tarefas que se impõem particularmente às ciências sociais neste contexto?
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O mesmo autor, citando Marcell Jollivet (1991), sistematiza então as três
problemáticas básicas propostas para as ciências sociais por cujo desenvolvimento elas
podem definir melhor seu papel no estudo de questões ambientais:
a) quais os parâmetros a serem conhecidos quando se vai analisar um problema
ambiental determinado? De que maneira as ciências sociais podem contribuir ao
trabalho de modelização, indispensável ao caráter preditivo que devem ter as análises
sobre o tema? Quais indicadores são importantes no conhecimento das causas
específicas dos problemas ambientais estudados? "(Jollivet,1991, apud Abramovay
1995).
b) "quais os usos feitos dos recursos e dos meios naturais, das técnicas e dos sistemas
produtivos que as utilizam, assim como das representações sociais que lhes são
ligadas (nomeadamente das representações da natureza que lhes são subjacentes): o
objetivo é compreender como o homem transforma os meios e explora os recursos
naturais por sua ação, num sentido suscetível de contribuir a criar o que se
convencionou chamar um problema de meio ambiente, em qualquer escala que seja
c) é necessária também a “análise do instrumento de ação pública ou privada com
vistas a reduzir os problemas de meio ambiente: o objetivo aí é analisar a forma
como as políticas de meio ambiente são elaboradas e aplicadas, os problemas que
levantam sua elaboração e sua colocação em prática e seus efeitos reais”
(Jollivet,1991, apud Abramovay 1995).
Portanto, trata-se de saber de que maneira o uso que a humanidade atualmente
faz dos recursos existentes interfere em processos naturais que afetam a qualidade de
vida dos homens; mas trata-se também de saber que formas alternativas de utilização
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são possíveis para que os impactos negativos do desenvolvimento sejam evitados ou
minimizados (Abramovay,1995).
Desse modo, fica evidente a necessidade de aprofundar, com métodos próprios
das ciências sociais, o conhecimento dos processos sociais que condicionam as relações
entre sociedade e natureza.
3- Redes Sócio-Técnicas e a análise ambiental
A compreensão do conceito de redes sócio-técnicas tem como ponto de partida
o trabalho de Bruno latour sobre o funcionamento da atividade científica. Este estudo,
aponta para os diferentes horizontes da pesquisa científica, trazendo contribuições
consideradas muito úteis para a compreensão dos fenômenos sociais observados na
região do Pontal do Paranapanema.
Ao introduzir o conceito de redes-sócio técnicas, Latour toca um ponto muito
importante para o objetivo desse trabalho que é a relação de separação entre sociedade e
natureza, traço marcante da civilização que surge com o Renascimento. Para ele, essa
separação é mais um mito do que realidade. O que acontece é que os cientistas
representam seus objetos de estudo, falando por eles quando têm que exercer o seu
papel de negociador. Ao mostrar os compromissos de que a ciência é feita, como ela se
organiza, Latour aponta para cinco horizontes fundamentais: a) Mobilização do mundo,
através de instrumentos, expedições, coleções, enquetes. O pesquisador deve fazer seu
objeto de estudo “falar”, de maneira que ele possa representá-lo; b)Autonomização da
pesquisa, que ocorre com a “criação de colegas”, instituições, profissões, etc; c)
Mobilização da inteligência estratégica, onde aparecem então as alianças que os
pesquisadores estabelecem com outros segmentos da sociedade; d) Encenação, as
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relações públicas que os pesquisadores estabelecem com seus aliados, seus clientes; e)
os Laços e Ligações, onde os conceitos e as teorias têm papel fundamental para a
articulação dos quatro horizontes anteriores.
É esse modo de encarar a atividade científica que leva à idéia de redes de trabalho. Para a
compreensão do conceito de rede utilizamos a definição de Manuel Castells, que no seu
livro a “Era da Informação” define rede como “um conjunto de nós interconectados.
Um nó é um ponto de intersecção de uma curva por ela mesma. O que define um nó,
concretamente falando, é o tipo concreto de rede ao qual ele pertence.” As redes,
diferente das estruturas, são abertas, polivalentes e mais efêmeras, estão em constante
mutação. Cabe ao pesquisador, portanto, o gerenciamento dessas redes.
Essa forma de organização da pesquisa científica em redes sócio-técnicas tem
para o pesquisador um sentido especial. É através de suas descobertas, dos resultados
do seu trabalho que ele amplia o seu capital científico. Sim, isso mesmo, capital
científico. O que o pesquisador tem para investir é o seu conhecimento científico, é esse
o seu crédito para aplicar. A operação de base do capitalismo científico, segundo Latour,
consiste em converter uma forma de crédito em outra. Com os seus dados ele vai tentar
novos financiamentos, conseguir novos equipamentos, e com estes conseguir novos
dados, publicar novos artigos, que se transformarão em reconhecimento, que será re-
aplicado num círculo sem fim. É, como no capitalismo financeiro, a acumulação pela
acumulação. O pesquisador quer sempre ir mais além, mais adiante do ponto em que
estava, em busca de mais conhecimento, de mais reconhecimento, de mais crédito. Esse
ciclo define o bom e o mau cientista. O bom cientista é aquele que não deixa o
reconhecimento se perder, porque isso pode acontecer. É aquele que está sempre em
busca de novos dados, estabelecendo alianças que garantirão a continuidade de suas
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atividades, buscando os dados mais “quentes”, enfim, fazendo circular o seu capital
científico.
4- A aplicação do modelo de redes sócio-técnicas no Pontal do Paranapanema
Como dissemos na introdução desse texto, o conceito de redes sócio-técnicas
pode contribuir para a compreensão do fenômeno que está sendo observado nos
assentamentos rurais da região do Pontal do Paranapanema. Nessa região, uma
instituição de pesquisa (IPÊ-Instituto de Pesquisas Ecológicas, organização não
governamental) tem atuado junto às famílias assentadas no entorno de um Parque
Estadual, uma área de floresta protegida por lei. Inicialmente essa instituição de pesquisa
trabalhava coletando dados sobre uma espécie de primata ameaçado de extinção, e para
isso tinha que estabelecer alianças que iam desde acordos com a direção do Parque, com
a comunidade local e seus representantes, com pessoas que conheciam a floresta(os
chamados “mateiros”) até com instituições de financiamento à pesquisa de outros
países. Cabia ao pesquisador principal a incumbência de articular todos esses atores, ao
mesmo tempo que ia para o mato coletar dados de comportamento dos animais que ele
estava estudando. Era esse pesquisador que, segundo a concepção de Latour, falava em
nome daqueles animais ameaçados de extinção, falava em nome da natureza. Seu
laboratório era a floresta e sua pesquisa inicial era básica, buscava entender o
comportamento de um minúsculo e raro primata. Atualmente, devido à interação com a
sociedade (e aqui concordamos com Latour que a sociedade faz bem à ciência), esses
pesquisadores(já não é apenas um pesquisador) têm ampliado o alcance de seus
estudos, buscando estabelecer outras alianças estratégicas para a continuidade de seu
trabalho. Na região em questão, perceberam que não adiantava continuar apenas
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levantando dados sobre os animais ameaçados de extinção, precisavam também levantar
dados sobre vegetação, solos e além disso, precisavam conhecer e estabelecer contato
com as comunidades que interagiam com as áreas onde vive seu objeto principal de
estudo, ou seja, a floresta. Desse modo, começa a mobilização da inteligência
estratégica, envolvendo em diferentes momentos representantes dos assentamentos,
representantes do Estado, organizações internacionais e nacionais de apoio à pesquisa,
universidade, articulando uma rede complexa de interações. Essa rede, caracterizada
pela tensão entre os diferentes interesses dos seus “nós”, tem grande poder de
mobilização, tanto do mundo natural quanto do mundo social. Além disso, percebe-se
que os diferentes atores são modificados ao longo do tempo pela sua maior ou menor
inserção nas atividades da rede. Dessa maneira, os pesquisadores que antes olhavam
apenas para o mundo natural, passam a entender a lógica dos seus parceiros, assim
como os assentados passam a perceber a importância que a floresta tem para os seus
novos aliados. Assim, pode-se dizer que o sentido da ação dos integrantes da rede está
em constante mutação, influenciando e sendo influenciado por ela. E isso acontece com
todos os integrantes da rede. Outro exemplo da aplicação do modelo de Latour é
quando os representantes das organizações internacionais vêm visitar os trabalhos que
estão financiando. Os pesquisadores param suas atividades de levantamento de dados e
passam a exercer o que Latour chama de “encenação”, levando os visitantes para a
floresta, para os assentamentos, enfim, realizando um trabalho de relações públicas.
Essa atividade deve ser entendida como um importante horizonte da ciência, não sendo
menos nobre do que as outras. Além disso, como se trata de uma instituição de
pesquisa, que pertence ao ethos da comunidade científica, esses pesquisadores têm que
estar atentos em publicar seus trabalhos nas melhores revistas, participar de congressos e
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seminários, publicar livros, enfim, criar “caros colegas” e expor à crítica o seu trabalho,
dentro de regras previamente estabelecidas e aceitas. Por último, percebe-se a
preocupação com a teoria, com o manter-se atualizado com relação às mais recentes
publicações de interesse científico em relação ao objeto de estudo, o que pode ser
evidenciado pela assinatura de revistas internacionais e pesquisas na internet.
Acredita-se, portanto, que o modelo proposto por Latour para a compreensão do
funcionamento da ciência pode ser um importante instrumento de análise da complexa
rede de interações entre os diferentes atores sociais que atuam na região do Pontal do
Paranapanema, bem como auxiliar na compreensão dos motivos que levam à relação
aparentemente positiva entre homem e natureza em alguns assentamentos rurais da
região.
Como sugere o próprio Latour, a ciência não pode permanecer uma caixa preta,
ela deve ser explicitada e compreendida, seus compromissos devem ser esclarecidos, e a
tensão entre os diferentes atores do jogo científico deve vir à tona para que se possa
avançar na compreensão da realidade.
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