artigo nietzsche e foucault- versão final

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O poder como pressuposto: a teoria política pensanda com Nietzsche e Foucault Power as a assumption: Political theory thought with Nietzsche and Foucault El poder por sentado: una teoría política que piensa con Nietzsche y Foucault Palavras-chave: Violência, Poder, Teoria política. Key-words: Violence, Power, Political theory. Palabras-Claves: Poder, Violencia, Teoría Política. Resumo: Este artigo busca, a partir de Nietzsche e Foucault, pensar o papel da violência na política. Ambos autores criticaram visões, tradicionais, do cânone ocidental sobre a história da moral. Cabe, neste artigo, o papel de questionar como, em uma genealogia, uma possível teoria política poderia ser pensada. Abstract: This article seeks, from Nietzsche and Foucault, thinking the role of violence in politics. Both authors have criticized visions, traditional, in the Western canon of the history of morality. In this article, there is a intention in questioning how, in a genealogy, a political theory could be thought. Abstracto: Este artículo pretende, desde Nietzsche y Foucault, pensando que el papel de la violencia en la política. Ambos autores han criticado visiones tradicionales, el canon occidental de la historia de la moral. Es, en este artículo, el papel de las preguntas como en una genealogía, una posible teoría política podría pensarse. Fernando Dos Santos Modelli Doutorando em Ciência Política na UNB

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O poder como pressuposto: a teoria poltica pensanda com Nietzsche e FoucaultPower as a assumption: Political theory thought with Nietzsche and Foucault

El poder por sentado: una teora poltica que piensa con Nietzsche y Foucault

Palavras-chave: Violncia, Poder, Teoria poltica.Key-words: Violence, Power, Political theory.Palabras-Claves: Poder, Violencia, Teora Poltica.Resumo: Este artigo busca, a partir de Nietzsche e Foucault, pensar o papel da violncia na poltica. Ambos autores criticaram vises, tradicionais, do cnone ocidental sobre a histria da moral. Cabe, neste artigo, o papel de questionar como, em uma genealogia, uma possvel teoria poltica poderia ser pensada.Abstract: This article seeks, from Nietzsche and Foucault, thinking the role of violence in politics. Both authors have criticized visions, traditional, in the Western canon of the history of morality. In this article, there is a intention in questioning how, in a genealogy, a political theory could be thought.Abstracto: Este artculo pretende, desde Nietzsche y Foucault, pensando que el papel de la violencia en la poltica. Ambos autores han criticado visiones tradicionales, el canon occidental de la historia de la moral. Es, en este artculo, el papel de las preguntas como en una genealoga, una posible teora poltica podra pensarse.Fernando Dos Santos ModelliDoutorando em Cincia Poltica na UNBTelefone: 92198840 E-mail: [email protected]

1. IntroduoEste artigo busca contribuir para a discusso sobre poder e violncia. Ao retomar a perspectiva de Nietzsche, encontra-se uma viso crtica sobre a moralidade no ocidente. A pergunta inicial como a moral ocidental surgiu e se ela sempre buscou ordens polticas baseadas na verdade. A resposta de Nietzsche que a moral no ocidente surge por meio da violncia praticada por senhores nobres. No uma ordem pacfica de conhecimento rumo verdade que determina a poltica, mas sim um percalo violento e elitista sobre os padres morais. Nietzsche traz uma contribuio ambivalente: critica a democracia e os padres morais tradicionais, mas restringe a criatividade a uma elite violenta. Foucault atualiza a genealogia de Nietzsche para trabalhar com um novo mtodo de conhecimento. O autor francs critica as vises tradicionais de poder por pressuporem uma soberania que delimita a poltica de cima para baixo, enquanto as relaes reais de poder se do de forma difusa em toda sociedade. O poder e a violncia esto, intrinsicamente, ligados. O indivduo uma produo dos constrangimentos e enquadramentos instituidos de forma difusa por meio de instituies sociais. A genealogia foi um mtodo que permitiu a Foucault dar um novo enfoque na histria do ocidente. O sistema penal no avanou em direo a uma ordem pacifica e moral, mas a uma punio que fosse mais eficiente. O artigo defende uma perspectiva da histria poltica que esteja voltada questo da violncia. A genealogia foi a forma com que Nietzsche e Foucault buscaram criticar o cnone ocidental e enfocar na contingncia da luta poltica.2. Nietzsche e a genealogia: por uma nova moralNietzsche foi um dos primeiros autores a colocar a prpria moralidade como questo filosfica pertinente. A moralidade deixa de ter um sentido, prprio e essencializado, para se encontrar em disputa por meio da violncia. Por meio da genealogia, ele buscou um mtodo capaz de esgotar a poltica como uma luta violenta, sem uma concepo de moralidade a priori, como comenta Nabuco: Os historiadores buscaram considerar a histria como tendo uma origem centrada em um incio onde encontraramos a essncia de um momento. Esta noo est entre os metafsicos, que acreditam que o inicio est em um comeo puro, alm do homem. E no fim, est a salvao eterna. Retira-se assim a histria da vida, na promessa de um mundo em outra vida (NABUCO, 2007, p.69)

Neste trecho, busca-se entender a genealogia a partir de uma seleo das suas obras que se voltou, especificamente, a este assunto. Pode-se dizer, de forma geral, que entre 1879 e 1889, o autor se encontra no melhor da sua obra em que a beleza potica de Assim falava Zarathusta (1989[1883]) se encontra com a preciso lgica de Genealogia da Moral (1998[1887]).Por motivos de doena, Nietzsche passou sua vida como viajante, voltando a sua filosofia a uma introspeco de si mesmo. Seus escritos eram feitos a partir de um pequeno caderno que ele levava para suas caminhadas. Isto ajuda a entender a caracterstica aforstica de seus escritos que buscam questionar a ordem natural da moralidade, ao invs de tom-la como dada. O autor busca virar a moral do senhor nobre, solitrio, contra a padronizao, irrefletida, da multido. Sua filosofia tem, necessariamente, um carter elitista: Onde quer que deparemos com uma moral, encontramos uma avaliao e hierarquizao dos impulsos e atos humanos... Com a moral o indivduo levado a ser funo do rebanho e se conferir valor apenas enquanto funo (NIETZSCHE, 2012a, p.132).A primeira dissertao de Genealogia da Moral (1998[1887]) trabalha com a distino entre o bem e o mal. Na histria da filosofia, raramente, a compaixo e os sentimentos afetivos foram ligados a moralidade. Pode-se citar, por exemplo, Kant que via a compaixo como uma base frgil para a moralidade. Nietzsche, ento, busca compreender, historicamente, como essa relao entre o bem e o mal passou a existir.

O sentido do bem foi primeiramente estabelecido por meio da fora; a violncia e submisso coercitiva foram os meios com que os nobres impuseram seus valores sobre a populao desorganizada:

Foram os bons mesmos, isto , os nobres, poderosos, superiores em posio e ensinamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus atos como bons, ou seja, de primeira ordem, em oposio a tudo que era baixo, de pensamento baixo, e vulgar e plebeu (NIETZSCHE, 1998, p.19)

A moral guerreira, inspirada em Roma e Grcia, foi gradativamente substituda pela moral de uma aristocracia religiosa. Os sacerdotes odiavam a guerra, em oposio aos nobres que tiravam seu poder diretamente da capacidade dos meios violentos. O rebanho, por meio desta aristocracia religiosa, se torna o padro moral vigente. No entanto, segundo Nietzsche, esta moral pode-se remeter somente a negao e ao ressentimento:A rebelio escrava na moral comea quando o prprio ressentimento se torna criador e gera valores.... Enquanto toda moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, j de incio a moral escrava diz No... a moral escrava sempre requer, para nascer, um mundo oposto e exterior para poder agir em absoluto-sua ao no fundo reao (NIETZSCHE, 1998, p. 29)

O que Nietzsche inova ao tomar essa posio que existe uma opresso, inegvel, aos padres sociais que delimitam a existncia do indivduo. O potencial criativo da constituio moral dos nobres se estabelece, por meio de poucos, em oposio a pressupostos da ordem social majoritria que nunca, ao menos, chegaria a ser questionada.

Estabelece-se, assim, uma leitura contempornea da obra de Nietzsche; um questionamento importante a capacidade de tal leitura num cenrio em que os nobres pudessem ser entendidos de forma mais ampla sem uma posio ligada, simplesmente, a capacidade de se impor violentamente. No obstante, Nietzsche ao ligar a nobreza com violncia coloca o poder poltico como, inerentemente, ligado a luta. As instituies no constituem a pacificao, arbitrria, dos meios violentos, mas uma histria diretamente ligada com a opresso:Talvez possamos admitir a possibilidade de que o prazer na crueldade no esteja realmente extinto: apenas necessitaria, pelo fato de agora doer mais a dor, de alguma sublimao e sutilizao, isto , deveria aparecer transpostos para o plano imaginativo e psquico, e ornado de nomes to inofensivos que no despertassem a suspeita nem mesmo na mais delicada e hipcrita conscincia (NIETZSCHE, 1998, p.57)

O tema da segunda dissertao gira em torno, justamente, da criao da conscincia. Tal temtica tem um longo passado na histria da filosofia, passando por autores to importantes quanto Descartes, Hume, Berkeley e Kant. Nietzsche, ao invs de pressupor a conscincia, procura entender como ela se deu historicamente por meio de uma luta de significados.

A criao da conscincia comea quando homens fortes, politicamente, entram em acordo; a promessa uma forma de assegurar confiabilidade num mundo sem garantias morais. O castigo no era feito por causa da justia, mas pela compensao dos danos causados no acordo: O castigo doma o homem, mas no o torna melhor (NIETZSCHE, 1998, p.72). No primeiro estgio da conscincia, a justia se reduz a um mero jogo de acordos entre diferentes homens poderosos, mediante um compromisso, a se unirem em direo a uma luta ou guerra contra um outro oponente. Um exemplo possvel de tal acordo foi o primeiro triunvirato romano em que Jlio Csar, Crasso e Pompeu se uniram, momentaneamente, para o governo de Roma. Com a morte da mulher de Pompeu, filha de Csar, e de Crasso, Jlio Csar e Pompeu entram em guerra.Com o avanar do direito, a m conscincia surge a partir dos sentimentos reativos da moral do escravo. A justia pode ter sido fundada no primeiro momento por guerras violentas e senhores nobres, mas, com seu desenvolvimento, ela passa por uma transformao caracterstica de tempos de paz: a domesticao dos poderes nobres em funo do favorecimento daqueles que so prejudicados.Na perspectiva de Nietzsche, a m conscincia uma doena causada por tempos de paz. Nela, o homem com vontade de poder se amansa pela moral de rebanho. O estado se torna uma tirania sobre os poucos que se excedem da maioria:O mais antigo Estado, em consequncia, apareceu como uma terrvel tirania, uma maquinaria esmagadora e implacvel, e assim prosseguiu seu trabalho, at que tal matria-prima humana e semi-animal ficou no s amassada e malevel, mas tambm dotada de uma forma (NIETZSCHE, 1998, p.74)

Nietzsche urge por um homem novo que seja capaz de ir alm destes modelos restritos. Tal homem seria capaz de ver por trs das iluses democrticas e lutar pelo potencial criativo da vida: Ns, que consideramos o movimento democrtico no meramente como uma forma de decadncia da organizao poltica... mais precisamente, de amesquinhamento do homem, como sua mediocrizao e degradao de valor (NIETZSCHE, 2012b, p.129).

Nietzsche tem o carter ambguo de ter possibilitado uma crtica da democracia vigente, e ter mostrado a poltica como opresso violenta, mesmo nos momentos de paz. Por outro lado, ele restringe o potencial da revolta criativa s elites. Por mais que a criatividade advinda dos oprimidos seja um assunto essencial para a contemporaneidade, pode-se dizer que Nietzsche estava visando outros problemas histricos: a propenso para submisso autoridade na cultura alem e a herana da histria da filosofia ligada a metafsica.

A terceira e ltima dissertao tem como tema os ideais ascticos. Na histria da filosofia, o ascetismo um comportamento privilegiado e admirado. Scrates, por exemplo, dedicou sua vida ao conhecimento, vivendo de forma frugal e direcionando seus esforos reflexo contemplativa. Kant, em seguida, foi um homem que vivia uma rotina to rgida que a partir das suas caminhadas o relgio da sua cidade poderia ser ajustado. Nietzsche examina como esse ideal asctico foi prejudicial tanto filosofia quanto vida poltica:

este orgulho, porm, que nos torna hoje quase impossvel sentir como os imensos perodos de moralidade do costume, que precederam a histria universal como a verdadeira e decisiva histria que determinou o carter da humanidade: quando o sofrimento, a crueldade, a dissimulao, a vingana, o repdio verdade eram virtude, enquanto o bem-estar...a paz... eram perigo (NIETZSCHE, 1998, p104)

O ascetismo foi destacado como elemento determinante da histria; a verdade foi colocada acima da contingncia, criando uma origem sobre qual todos os eventos passariam a ser enxergados. A histria violenta dos senhores nobres foi ignorada pela filosofia. Pode-se levantar uma hiptese provisria que a filosofia, no ocidente, foi constrangida por uma vontade de eliminar o caos e a violncia. A paz se tornou o perodo que determinou o enquadramento histrico, enquanto, majoritariamente, formaes polticas na Europa tm sido determinadas por guerras violentas.Nietzsche argumenta que este movimento, de uma elite guerreira para uma elite religiosa asctica, a destruio da criatividade por uma ordem auto-destrutiva da negao. Pode-se estabelecer de novo a oposio entre a moral criativa, de uma elite, contra a negao, ressentida, do rebanho pelas mos do ascetismo: Os fortes buscam necessariamente dissociar-se, tanto quanto os fracos buscam associar-se; quando os primeiros se unem, isto acontece apenas com vista a uma agresso coletiva, uma satisfao coletiva de sua vontade de poder (NIETZSCHE, 1998, p.125). O modelo asctico da filosofia permanece na religio crist e na cincia. A vontade de verdade parece um eixo temtico importante para Nietzsche: um ponto de coerncia ligando diferentes eventos histricos; uma origem que pudesse criar uma coerncia artificial sobre diferentes eventos contingentes. O ascetismo um tipo de comportamento que justifica a moral de rebanho e delimita o potencial criativo da sociedade. Nietzsche pode ser visto, com olhos favorveis, como questionador da ordem vigente. Por outro lado, ele restringe tal questionamento aos homens nobres com capacidade de se impor pela fora.

Pode-se resumir a busca da genealogia como um mtodo que coloca a poltica, inerentemente, ligada violncia. A preocupao constante de Nietzsche a forma com que as grandes narrativas retilneas sobre a religio e a filosofia impedem com que enxerguemos o fundo violento do estabelecimento da moral por senhores aristocrticos. Se realmente foi assim que os estados surgiram uma questo que foge ao escopo deste ensaio, no entanto o autor alemo questiona, com preciso, os pressupostos da narrativa tradicional do ocidente. Seja por meio da criao do bem e do mal, da conscincia ou do ideal asctico existe uma preocupao com a violncia e em relao a como as narrativas habituais exercem, seletivamente, uma eliminao da violncia da vida poltica e moral. Se a teoria poltica moderna nasceu com Maquiavel, ela se encontra num ponto de demarcao contempornea nas questes morais feitas por Nietzsche: Uma vontade de nada, uma averso vida, uma revolta contra os mais fundamentais pressupostos da vida, mas e continua sendo uma vontade...o homem preferir ainda querer o nada a nada querer (NIETZSCHE, 1998, p.149).3. Michel Foucault: Por uma nova genealogiaA genealogia do poder foi uma questo posta pelo sculo XX: as grandes guerras mundiais, a ascenso do nazismo, as lutas de independncia coloniais, a queda da Unio Sovitica, em resumo, um cenrio de lutas que traz a questo de quais as relaes de poder envolvem os indivduos em sistemas polticos:

Porque, afinal, se a questo do poder se coloca no absolutamente porque a tenhamos colocado. Ela se colocou, ela nos foi posta. Ela nos foi posta, claro, por nossa atualidade, mas tambm por nosso passado, um passado no recente que mal parece terminado. (FOUCAULT, 2012c, p. 37).

Foucault queria fugir dos sistemas filosficos preponderantes da sua poca, o marxismo e a hermenutica, e, nessa busca, encontrou a obra filosfica de Nietzsche. A apropriao do autor francs no foi uma mera reproduo da genealogia, mas um uso, criativo, dos questionamentos elaborados por Nietzsche.O problema central da genealogia aplicar um cuidado histrico com as grandes narrativas metafsicas, focando nas concepes de contingncia e descontinuidade. A questo no fazer um elogio descontinuidade, mas saber como, em certos momentos e em certas ordens de saber, essas mudanas bruscas, essas precipitaes de evolues, essas transformaes, que no correspondem imagem tranquila e continusta, aconteceram (FOUCAULT, 2012d, p. 39). Foucault argumenta que a noo de acontecimento explica melhor sua obra que a descontinuidade, uma vez que o que ele busca entender como certas ordens de conhecimento surgiram a partir da luta. A histria da verdade, do indivduo ou mesmo da loucura, no explicada por um caminho iluminado at a verdade, mas pelos percalos violentos que foram necessrios para o surgimento de ordens de saber.

Existe uma mudana significativa na prpria forma com que o intelectual enxerga seu papel; o problema poltico essencial no mais criticar os contedos ideolgicos da cincia e fazer com que esta seja substituda por uma ideologia justa. O papel do filsofo entender se podem existir novas polticas de verdade: O problema no mudar a conscincia das pessoas, ou o que elas tm na cabea, mas o regime poltico, econmico, institucional de produo da verdade. (FOUCAULT, 2012d, p. 54).

A genealogia tambm tem a ver com a preocupao com o papel da filosofia e, mais especificamente, da filosofia da moral. Criar uma metodologia que investiga a prpria noo da verdade, a partir de relaes de poder, dizer que o papel da filosofia no mais desmistificar o mundo e encontrar a verdade, mas reconstruir as relaes de poder que j existem e so visveis:

Mas se contra o poder que se luta, ento todos aqueles sobre quem o poder se exerce como abuso, todos aqueles que o reconhecem como intolervel, podem comear a luta onde se encontram e a partir de sua atividade [...] As mulheres, os prisioneiros, os soldados, os doentes nos hospitais, os homossexuais iniciaram uma luta especfica contra a forma particular de poder, de coero, de controle que se exerce sobre eles. (FOUCAULT, 2012d, p. 141).

O papel de Nietzsche, nessa narrativa de Foucault, que ele foi um dos primeiros filsofos a se perguntar sobre a prpria condio de possibilidade de verdade; quais foram as lutas e diferentes configuraes histricas que levaram at aquela verdade amplamente aceita como pressuposto:

A humanidade no progride lentamente, de combate em combate, at uma reciprocidade universal, em que as regras substituiriam para sempre a guerra; ela instala cada uma de suas violncias em um sistema de regras e prossegue assim, de dominao em dominao. (FOUCAULT, 2012d, p. 69). O questionamento sobre a contingncia permite uma viso da cristalizao das relaes de poder, em contraposio a um papel do historiador que, simplesmente, v continuidades que se somam em direo vitria da verdade e do bem. Nietzsche recusa o estudo da origem (Ursprung), porque a pesquisa, a partir desse ponto de vista, esfora-se para recolher nela a essncia exata da coisa, sua mais pura possibilidade, sua identidade cuidadosamente recolhida em si mesma, sua forma imvel e anterior a tudo o que externo, acidental (FOUCAULT, 2012d, p. 58).

Ao invs do significado de Ursprung (origem), a genealogia busca o entendimento de Nietzsche a partir dos termos entestehung (emergncia) e Herkunft (provenincia):

o tronco de uma raa, a provenincia. o antigo pertencimento a um grupo do sangue da tradio, de ligao entre aqueles da mesma altura ou da mesma baixeza [...] descobrir todas as marcas sutis, singulares, subindividuais que podem se entrecruzar nele e formar uma rede difcil de desembaraar. (FOUCAULT, 2012d, p. 62).

Existe uma substituio das grandes narrativas pelas marcas individuais no prprio corpo, um entendimento da histria enquanto luta contingente. Nietzsche via como um dos problemas centrais da filosofia ocidental retirar o pensamento das marcas e lutas sobre o corpo para uma metafsica da alma. Foucault se inspira em Nietzsche para criar uma teoria do poder que esteja inscrita nos condicionamentos do prprio corpo. Finalmente, pode-se estabelecer a diferena entre a histria tradicional e a genealogia. A histria tradicional coloca um ponto de apoio fora do tempo inspirado pelo ideal de objetividade, enquanto retm uma verdade pretensamente eterna, uma alma que no morre, uma conscincia sempre idntica a si mesma (FOUCAULT, 2012d, p. 26). A genealogia busca, a partir de uma perspectiva localizada, as diferenas dentro da unidade; o que poderia ser retirado das grandes narrativas e entendido como um acontecimento, ou mesmo, uma descontinuidade na trama histrica linear:

isto que eu chamaria de genealogia [...] uma forma de histria que d conta da constituio dos saberes, dos discursos, dos domnios de objeto [...] sem ter que se referir a um sujeito, seja ele transcendente com relao ao campo de acontecimento, seja perseguindo sua identidade vazia ao longo da histria. (FOUCAULT, 2012d, p. 43).

A proposta de Nietzsche retomada, por Foucault, para entender como as noes morais, ticas e polticas surgiram envolvidas por uma vontade de verdade:

Tenho dificuldade de aceitar que essas regularidades sejam ligadas ao esprito humano ou sua natureza [...] Parece-me que se deve, antes de atingir esse ponto [...]recoloc-las no domnio das outras prticas humanas, econmicas, tcnicas, polticas, sociolgicas, que lhes servem de condies de formao, de aparecimento, de modelos. (FOUCAULT, 2012c, p.106) 4. Por uma nova teoria do poder

Foucault parte da genealogia para criar sua teoria do poder. Nietzsche havia criticado a histria da filosofia no sentido da separao do pensamento para o reino da metafsica, como se houvesse sentido em falar num mundo perfeito distante do corpo. Portanto, Foucault cria uma teoria que pressupe a forma como corpos so condicionados por instituies difusas.

Para tal perspectiva de poder, o primeiro inimigo na sua formulao a uma teoria econmica do poder, que existe tanto no marxismo, quanto na viso tradicional sobre soberania:

Uma teoria jurdica clssica, em que o poder exercido na forma de um direito, podendo ser, alienado, cedido ou transferido... outra, a concepo marxista, segundo a qual o que importa a funcionalidade econmica do poder, isto , o poder mantm relaes de produo, reproduzindo uma dominao de classe.... Foucault denomina economicismo o ponto comum entre a concepo jurdica ou liberal do poder poltico do sculo XVIII e a concepo marxista (OROPALLO, 2005, p. 76) Existem duas opes alternativas a essa teoria econmica do poder: a hiptese de Reich e a hiptese de Nietzsche. A primeira recusa a viso do poder enquanto posse, e substitui por uma concepo segundo a qual a represso est evidente na ao: o poder no trocado ou cedido, mas exercido diariamente. A pergunta nessa hiptese sobre quem exerce o poder e no que ele consiste; isto , a partir de quais mecanismos ele existe (FOUCAULT, 1994, p. 28).

Por outro lado, existe a hiptese de Nietzsche: a guerra continua mesmo em uma sociedade regida por instituies. Invertendo a famosa frase do general Clausewitz, a poltica a guerra continuada por outros meios: O papel do poder poltico, nesta hiptese, perpetuamente reinscrever essa relao por meio de uma forma de guerra no-dita; reinscrever nas instituies sociais, nas desigualdades econmicas, na linguagem, nos corpos mesmos de todo e cada um de ns (FOUCAULT, 1994, p. 29) Foucault optou, em sua fase genealgica, pela segunda opo: sua filosofia uma forma de entender as instituies como uma constante luta por poder, que nunca chega aos seus termos de paz universal.Ele substitui essa viso pacifica ultrapassada da soberania por uma viso de poltica enquanto guerra perpetuada. Sua pergunta reside na forma capilar com que os diversos poderes construram-se em diferentes instituies do cotidiano, podendo ou no estar relacionada ao estado:

Em outras palavras, em vez de perguntar como o soberano aparece no topo, tentar saber como foram constitudos, pouco a pouco, progressiva, real e materialmente os sditos, a partir da multiplicidade dos corpos, das foras, das energias, das matrias, dos desejos, dos pensamentos etc. (FOUCAULT, 2012d, p.283).

Foucault busca fugir do estado como centro de poder. Sua crtica soberania como concepo de poder que esta muito menos eficaz que o dispositivo de poder incorporado, de forma descentralizada, sociedade:

Por esse termo tento demarcar, em primeiro lugar, um conjunto decididamente heterogneo que engloba discursos, instituies, organizaes arquitetnicas, decises regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados cientficos, proposies filosficas, morais, filantrpicas. Em suma, o dito e o no dito so elementos do dispositivo. O dispositivo a rede que se pode estabelecer entre esses elementos. (FOUCAULT, 2012d, p.364). As escolas, hospitais e prises funcionam como um componente educador do poder. Eles so efetivos como mecanismos que impem regras, procedimentos, aes e comportamentos. O poder no cedido de uma vez, por meio de acordo, mas construdo, ao longo do tempo, por marcas na subjetividade deixadas pelas diferentes imposies de regras. Diferente da concepo negativa de poder marxista ou da teoria da soberania, o poder, em Foucault, tem um aspecto positivo: no a forma com que ele reprime a cada momento, mas como ele permite e cria saberes em um campo especfico. O indivduo produzido por discursos que estimulam a produo do corpo. O primeiro volume da histria da sexualidade Vontade de saber (1988) exemplifica melhor o que significa a positividade de poder. O sexo no foi reprimido na sociedade burguesa principalmente pelo que no poderia ser feito; no foi a negao que delimitou todo o discurso sobre a sexualidade. Ao contrrio, o poder precisou falar mais e melhor sobre o sexo para construir um dispositivo eficiente de controle.

O ocidente buscou delimitar o discurso sobre o sexo. O que se tem de mais especfico na construo do saber do sexo no ocidente a scientia sexualis:

a nica, sem dvida, a praticar uma scientia sexualis. Ou melhor, s a nossa desenvolveu, no decorrer dos sculos, para dizer a verdade do sexo, procedimentos que se ordenam, quanto ao essencial, em funo de uma forma de poder-saber rigorosamente oposta arte das incitaes e ao segredo magistral, que a confisso. (FOUCAULT, 1988, p.66)

O sexo precisava ser contado, controlado e institucionalizado. A confisso tem um papel importante para a sexualidade, pois diz acerca do controle expresso por um saber que desejava ter poder de legislao sobre o sexo: o poder agia positivamente nas formas de sexualidade que poderiam ser expressas. A confisso um mecanismo central para a genealogia de poder em Foucault, ela apresenta um modo de controle que tem carter de positividade: o homem que confessa, cede, voluntariamente, sua subjetividade pela salvao. Foucault, nos seus ltimos escritos, compara a confisso primitiva catlica com o trabalho de subjetividade grego e romano, tentando compreender quando a submisso a autoridade no ocidente construiu um constrangimento na criao da subjetividade. Sua tese que os gregos e os romanos tinham mais liberdade ao criarem padres de ascetismo que a igreja catlica primitiva. Na sua fase anterior, a genealogia de poder, ele v uma continuidade entre a confisso na igreja catlica e os mecanismos de poder do ocidente na modernidade. Pode-se perceber que a confisso, assim como a vontade de verdade, um eixo temtico central para a obra do autor.

A confisso foi transmigrada da religio para as diversas instituies da sociedade: o sanatrio, a escola, o hospital e o exrcito. O que se pede do indivduo, constantemente, que este revele seu comportamento desviante. A organizao das cadeiras na escola, a marcha dos soldados e o papel da loucura como doena funcionam como a criao de um poder sobre o corpo. Existe uma violncia intrnseca na delimitao das possibilidades do corpo nas instituies sociais. O livro Vigiar e punir (1987) entra no contexto de retraar uma histria sobre a docilidade dos corpos: em que medida as transies para a punio na modernidade tinham um plano de poder descentralizado, que buscava conhecer os indivduos no seu ntimo? O poder exerce-se sobre o corpo, como em Nietzsche; o conhecimento uma marca, coercitiva, sobre a histria particular. Uma imposio sobre a luta contingente investida nas diferentes instituies.

Em oposio concepo que o ser humano na modernidade tinha sido controlado pela massificao, Foucault argumenta que o que a modernidade fez de melhor foi criar um saber especfico, individualizado, classificatrio e restrito sobre o que significa o ser humano.

Em sua reviso histrica dos corpos dceis, esse autor trabalha a transio entre dois diferentes momentos: o suplcio e as formas de punio do direito moderno. Os suplcios eram eventos pblicos em que o punido era morto de forma violenta. Na modernidade, o processo foi de diminuir a violncia das penas.

Os discursos de cientistas e filsofos modernos inspiravam-se na dignidade humana e na argumentao que tais prticas medievais de morte eram intolerveis para o esclarecimento.

Foucault, no entanto, no v nesse processo um progresso em direo razo ou o encontro final de uma sociedade justa. Ao contrrio, a questo no era importante pela diminuio da pena, mas pela forma com que as relaes de poder alteravam-se com tais discursos: No punir menos, mas punir melhor; punir talvez com uma severidade atenuada, mas para punir com mais universalidade e necessidade; inserir mais profundamente no corpo social o poder de punir. (FOUCAULT, 1987, p.76). Os suplcios foram abolidos, mas no por causa da liberdade e da dignidade humana. Eles foram trocados por uma forma de poder mais competente. A histria da modernidade em Foucault o desenvolvimento de uma relao complexa de instituies, saberes e poder. A diminuio da violncia, aparente, da exposio pblica dos suplcios foi substituda por uma violncia tcita e, at mais, competente na aplicao de constrangimentos de poder.

Foucault retira da genealogia de Nietzsche um enquadramento terico de como criar uma nova teoria do poder. Assim como Nietzsche desejou uma nova forma de entender a moral a partir da luta, Foucault combate a calma aparente da soberania moderna pela guerra investida em instituies difusas. A concluso, provisria, da abordagem de ambos que a luta permite criticar uma histria do ocidente que busca pontos finais. O ser humano no vive em direo a um momento perfeito regido por uma ordem que no se tem acesso; a histria delimitada pelas lutas violentas e pelas construes de significados que se institucionalizam em saberes. O papel da violncia, na obra dos dois autores, tem um carter de inevitabilidade nas relaes entre os homens, mas, mais importante, a violncia funciona como um pressuposto para criticar as narrativas tradicionais do ocidente sobre a paz. No existe um caminho, sem retorno, a um consenso de paz e harmonia, tanto para Foucault como Nietzsche, as relaes de poder continuaram a ser um problema, central, para a poltica.5. Concluso

Este artigo usou da genealogia de Foucault e Nietzsche para mostrar uma narrativa alternativa para a formao da moralidade e poltica no ocidente. Ambos autores buscaram lutar contra vises idealizadas da poltica e a histria. A humanidade no anda, objetivamente, em direo a um caminho da paz e da ordem. A poltica determinada pela contingncia e como a luta violenta ajuda a determinar a ordem. Foucault e Nietzsche criticam uma posio, idealizada, que o ocidente est sempre em direo paz e um horizonte de igualdade. Para ambos autores, a violncia um componente central para as relaes polticas, mesmo que seja sublimado em diferentes instituies e constrangimentos sutis. Na transio para a modernidade, a violncia no desapareceu completamente e foi trocada por instituies iguais e justas, mas houve um processo, contingente, de mudana na forma com que a violncia existe em sociedade.O comeo da moral, para Nietzsche, existiu na figura dos homens nobres. Foi a partir de vontade de poucos que a afirmao da vida e a da moralidade foi feita. Com a ascenso do cristianismo, a moral se torna ressentida e negativa; o rebanho determina o que significa o bem e o mal, a conscincia e o ascetismo. O que Nietzsche critica so os senhores nobres que se mantm escravizados pelo cristianismo e a massa da populao que impe tal constrangimento moral por causa do seu ressentimento; o homem capaz de definir o mundo a partir da sua prpria vontade deixa de existir. No entanto, a pergunta que fica em aberto , at que ponto, essa capacidade de definir o mundo, a partir da sua prpria vontade, limitada a uma elite e no, democraticamente, a uma populao mais ampla.

Foucault encontrou na genealogia do Nietzsche uma forma de fugir das narrativas tradicionais do marxismo do seu tempo. O poder no era a opresso direta exercida por um soberano centralizado e absoluto. O poder exercido difusamente na sociedade por meio do corpo.

O direito no eliminou a violncia na modernidade, somente a transferiu para diferentes instituies e tambm a tornou mais invisvel no mbito dos valores e mentalidades. O indivduo tem que, constantemente, se confessar no seu dia-a-dia. As diferentes instituies e disciplinas, como o direito, atualizam a confisso religiosa para um constrangimento de poder moderno. Esta configurao de relaes de poder funciona, eficientemente, por meio da positividade sobre o corpo, estimulando o prazer, e no necessitando de uma violncia, direta, como acontecia na idade medieval. Nietzsche e Foucault entendem uma relao sofisticada de violncia e poder, desconfiando de solues fceis, frente a diversidade contempornea, rumo a uma paz universal.

Este artigo busca na retomada destes autores um ponto de partida para inicial de como lidar com a ideia de violncia na teoria poltica contempornea. Seguindo ambos autores, a pergunta se torna como a moralidade e a poltica podem existir em um perodo histrico que a maioria das narrativas tradicionais foi deslegitimada. Neste sentido, a violncia e a poltica no podem, no mbito da teoria, serem tomadas em separado.

6. Referncias BibliogrficasADORNO, Theodor. Dialtica do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrpolis: Vozes, 1987

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OROPALLO, Maria. A presena de Nietzsche no discurso de Foucault. Dissertao (Mestrado em Filosofia)- Universidade So Judas Tadeu, So Paulo, 2005.NABUCO, Edvaldo. Uma reflexo sobre a histria em Nietzsche e Foucault. Mnemosine Vol.3, n1, p.66-79(2007).

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______.. Genealogia da moral. So Paulo: Companhia das Letras, 1998.

HOLLINGDALE, R. Nietzsche: The man and his philosophy. London: Routledge & Kegan Paul, 1965. Existem outros tericos importantes que relacionaram o poder poltico com a violncia antes de Nietzsche: Os sofistas, Hobbes, Maquiavel e muitos outros. Um elemento comum entre vrios destes autores que eles foram vistos nos seus diferentes perodos histricos como imorais e perseguidos por suas concepes realistas de poltica.

A obra central para o nosso estudo ser a Genealogia da Moral (1998[1887]) por se encontrar uma maior sistematizao sobre a genealogia como um sistema para uma histria poltica. Gaia Cincia (2012a[1882]) e Alm do bem e do mal (2012b) sero usadas como ilustraes dos pontos levantados. As ltimas obras de Nietzsche foram, deliberadamente, retiradas por elas envolverem uma disputa, extensa, sobre o envolvimento do Nietzsche com o nazismo. Este tema ser tratado em artigos futuros. A hiptese inicial sobre esse debate que uma leitura de Nietzsche como nazista compreender propositalmente de forma errada sua obra como forma de deslegitimar seus questionamentos. Nietzsche sempre foi contrrio a propenso alem de submisso a autoridade.

Nietzsche tinha fortes dores de cabea e sintomas que levaram especialistas a pensarem que Nietzsche tinha contrado sfilis. Para mais, ver: Nietzsche: The man and his philosophy (HOLLINGDALE, 1965). Pode-se colocar a ressalva que as dores de cabea em nada retiram a importncia da sua obra, ele produziu, intensamente, mesmo sobre os constrangimentos de dores constantes.

Essa hiptese deriva do trabalho arqueolgico de Foucault em que o espao entre o pensamento e as palavras ocupado pela pelo discurso que busca delimitar o acaso e a contingncia. A logofobia um termo utilizado para mostrar como o discurso cria selees, especificas, sobre o caos. Para mais ver: A arqueologia do Saber (FOUCAULT,2012a) e A ordem do discurso (FOUCAULT, 2012b).

Foucault teve trs eixos temticos ao longo da sua carreira: o saber (arqueologia), o poder (genealogia) e a subjetividade (a tica do cuidado de si). Neste pequeno ensaio ser focado somente o poder. Tal escolha foi feita sobre a ideia de que o foco na histria poltica ligada diretamente violncia se encontra nas obras deste perodo. Em um artigo posterior, a obra completa de Foucault ser descrita como um corpus, coerente, de conceitos interligados.

Traduo prpria.

Um bom exemplo da viso de sociedade massificada pela escola de Frankfurt pode ser visto em A dialtica do esclarecimento (ADORNO, 1985). Foucault tem um texto em que ele tenta aproximar-seda teoria crtica e diz que gostaria de ter tido acesso a ela em sua juventude: Critical Theory/Intellectual History (FOUCAULT, 1994).