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1 “ETE LAURO GOMES” AMAURI FREGONEZI JÚNIOR EDUARDO SANITÁ DOS SANTOS FAUSTO PEREIRA DE OLIVEIRA ORLANDO DA SILVA JUNIOR Artes Marciais São Bernardo do Campo 2005

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Monografia de Artes Marciais apresentada à Escola Técnica Estadual "Lauro Gomes" (2005).

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“ETE LAURO GOMES”

AMAURI FREGONEZI JÚNIOR EDUARDO SANITÁ DOS SANTOS FAUSTO PEREIRA DE OLIVEIRA

ORLANDO DA SILVA JUNIOR

Artes Marciais

São Bernardo do Campo

2005

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AMAURI FREGONEZI JÚNIOR EDUARDO SANITÁ DOS SANTOS FAUSTO PEREIRA DE OLIVEIRA

ORLANDO DA SILVA JUNIOR

ARTES MARCIAIS

Profª Elisabete da Cunha Kulilius

Língua Portuguesa e Literatura

Ensino Médio

1º Ano F - Matutino

São Bernardo do Campo

2005

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SUMÁRIO

1. Aikido 5

1.1. Introdução 5

1.2. Os lemas do Aikido 8

1.3. Técnicas 10

1.4. Glossário 16

2. Karatê 22

2.1. Introdução 22

2.2. O Fundador e a História 25

2.3. A competição do Karate-Do Tradicional 25

2.4. Terminologia 32

2.5. Organização do Karate-Do Tradicional 33

2.6. Karate-Do Shotokan – Técnicas Básicas 37

3. Judô 43

3.1. A Origem: Da China ao Jiu Jitsu 43

3.2. A chegada do Judô ao Brasil 43

3.3. À volta ao Brasil 44

3.4. A criação do Judô: Prof. Jigoro Kano funda o Kodokan 44

4. Jiu Jitsu 46

4.1. Introdução 46

4.2. Área de Competição 46

4.3. Área de Lutas 47

4.4. A História do Jiu-Jitsu 47

4.4.1. ...na Índia 47

4.4.2. ...na China 47

4.4.3. ...no Japão 47

4.5. O Início no Brasil... 48

4.5.1. ...no Rio de Janeiro 48

4.5.2. ...em São Paulo 49

5. Kung Fu 50

5.1. Definição 50

5.2. Por que praticar Kung Fu? 53

5.3. Estilos 54

5.4. História do Kung Fu 57

6. Conclusões 60

7. Bibliografia 61

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1. AIKIDO AI – Harmonia KI - Espírito DO – Caminho

O Aikido aparece oficialmente em 1931, pela mão de Ueshiba, também conhecido por

"O Sensei". Conta a história, que Morihei Ueshiba e um Oficial Naval, discutiam sobre as Artes Marciais, e o Oficial o desafiou para um combate. O Oficial munido com uma espada de madeira investiu contra O Sensei, e este que se encontrava desarmado, foi sucessivamente evitando os ataques, até que por fim cansado e desanimado, o Oficial desistiu. Morihei contou mais tarde que, conseguiu prever todos os movimentos do atacante antes deste os executar, diz então, que foi aqui que se sentiu iluminado e se dedicou ao estudo deste fenômeno que deu origem ao Aikido, O Caminho da Harmonia e do Espírito. O objetivo do Aikido é atingir um estado em que o adversário é derrotado por si próprio, o praticante de Aikido não utiliza socos nem pontapés para o dominar.O praticante de Aikido entra em harmonia com o adversário em vez de o confrontar, e através de movimentos circulares, opostos aos lineares do opositor, rodeia-o acabando inevitavelmente por o levar ao desespero, desanimo e exaustão. A finalidade precípua de continuar difundindo os ideais do Gr: Mestre Morihei Ueshiba na sua mais pura originalidade. Foram seus ideais:

(a) Fazer o homem sair do Ter e entrar no Ser; · (b) Fazer da luta a arte de não lutar; (c) Formar um grande dojô, figurativamente, onde todos de mãos dadas em circulo

formassem uma unidade de equilíbrio, paz e bem estar, para fazer o mundo melhor. O Aikido em sua essência é a realização desses ideais, conforme se vê a seguir.

(d) Fazer o homem sair do Ter e entrar no Ser, nada mais é que a unificação mente/corpo e, por conseguinte com o Universo. O ter é a técnica o ser, a essência. A técnica é a forma e a forma é passageira, desaparece com o tempo, com a idade. A essência é o KI, a força do Universo que dá vida tudo e a todas as coisas. O Ser não desaparece, vai além do físico, se perpetua com o espírito, é eterno.

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(e) Fazer da luta a arte de não lutar: A luta é um conflito racional físico alimentado pelo Ego dos contendores, onde o vencedor é o que apresenta a melhor técnica, ou maior força que, também, se determina como melhor forma. A forma está na linhagem do Ter. Por isso, é passageira, efêmera, se extingue com o tempo, com a doença. Transformar a luta em arte de não lutar é unir as duas forças em uma só. A força que cedeu para se unir à outra pode comandar a trajetória circular das duas juntas. Assim, evitada ficou a luta porque não houve conflito e sim, união. Daí, a afirmação do Gr:. Mestre: “no Aikido a luta acaba antes de começar.”

(f) Formar um grande dojô, figurativamente, onde todos de mãos dadas, em circulo, formassem uma unidade de equilíbrio, paz e bem estar. Tinha em mente o Gr.: Mestre, através de seus discípulos, difundir o Aikido, levando essa essência de união, bem estar e equilíbrio para todos que desejassem participar dessa grande corrente de união para melhorar o mundo. É de salientar-se que o nome AIKIDO, quando pronunciado em uma reunião de Gurus no Peru, foi por eles identificado como o nome da arte de equilíbrio do terceiro milênio. Essa simples consideração dos Gurus que não tinham a menor idéia a respeito do Aikido demonstra a grande missão do Gr:. Mestre Morihei Ueshiba e nossa magna responsabilidade, como seus discípulos, na continuação dessa obra de equilíbrio e qualidade de vida para a humanidade.

1.1. O Criador do Aikido Mestre UESHIBA

Morihei Ueshiba nasceu em Tanabe, Prefeitura de Nakayama, em Julho de 1880. Desde muito jovem o Mestre sentiu grande amor pelo Budo. O seu pai ensinou-lhe uma arte secreta com base no Tai-Jitsu e no Kendo - o "Aioiryu". Aos dez anos de idade o Ueshiba teve como seu primeiro professor Tozawa, e mais tarde o Mestre Tasakarsu Nakai que foi seu professor de Iaido e Kendo. Em 1904 há uma paragem nas suas pesquisas na prática das artes do Budo Japonês, surge a vida militar, e , na Manchúria participa na guerra Russo-Japonesa. Em Julho de 1908 teve o seu primeiro diploma no Dojo de Yagyu. Depois da guerra, Mestre Ueshiba, já então na plenitude da força física e mental, torna-se chefe da sua aldeia de Tanabe, admirado e respeitado pelos homens, dirige toda a região. Em 1910, parte para Hokaido, no norte do Japão, e desenvolve a terra à volta de Shirataki, na província de Kitani. Então com trinta anos de idade, o Mestre concentra-se no seu trabalho junto da natureza. Sendo um excelente cavaleiro, percorre toda a região apesar do tempo frio e pouco convidativo. Paralelamente ocupa-se de uma associação que servirá à realização de uma linha férrea de Sekihoku. Os seus esforços sinceros conquistaram os habitantes de Shirataki, os quais, confiantes vinham de toda a região pedir-lhe conselhos. Em 1911 encontrou o Mestre Sokaku-Takeda, que lhe ensinou as técnicas da escola Daito-Ryu. O contato com o Mestre Takeda foi decisivo, pois pela primeira vez sentiu em si a germinação do seu método pessoal de Aiki. Em Dezembro de 1919 recebe um telegrama em Hokaido avisando-o do grave estado de saúde de seu pai Yokoku. O mais depressa que pode deixou Shirataki onde se encontrava já há alguns anos e para mostrar toda a sua

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gratidão e respeito, deixa todos os seus bens e propriedades ao Mestre Sokaku-Takeda. Morihei chegou tarde demais a Tanabe devido à sua decisão de viajar na direção de Ayabe ( local da religião Omoto) , prefeitura de Kyoto, para visitar um Mestre detentor de um grande poder espiritual - o reverendo Wasisaguro Deguchi com o objetivo principal de procurar as melhoras de seu pai por meio de orações. Este encontro foi uma revelação para o Mestre Ueshiba. De regresso a Tanabe, e com grande desespero, soube da morte de seu pai; então tudo se transformou nele, prometeu libertar a sua alma e devolvê-la, para atingir o segredo verdadeiro do Budo. Em Aybe, região selvagem e montanhosa, decide retirar-se na natureza e morar numa cabana, meditando nas florestas e montanhas que são para ele um magnífico Dojo. Em 1925, ano da sua iluminação, a sua meditação atinge um estado ultimo, em que finalmente descobre a nova dimensão do Budo. O próprio Mestre conta esse dia: " Quando meditava, tive de repente a consciência de que a terra e o céu estavam em vibração. Rodeou-me uma espécie de aura, deixei de sentir o meu corpo. O meu corpo e o meu espírito iluminaram-se. Compreendi a linguagem dos pássaros e apercebi-me claramente do espírito do criador deste Universo. De repente compreendi que a fonte do Budo era Deus. Lágrimas de alegria inundaram a minha cara e senti que toda a terra era a minha casa e que o sol, a lua e as estrelas se tornavam as minhas próprias coisas. Fiquei liberto de todo o desejo, não somente do desejo de glória e do prestigio, mas também do desejo de ser forte. Compreendi que o espírito do Budo era a paz, o seu treino era entregar a todas as coisas o amor de Deus". Mais tarde o Mestre Ueshiba explicou: " A via do Budo consiste em tornar nosso o coração do Universo e realizar a nossa profunda missão de amor e proteção por todos os seres. As técnicas não são mais do que uma maneira de atingir esse fim "O Mestre Ueshiba acabava de atingir a fonte do seu Aikido. O Aikido tinha nascido como resultado de uma procura intensa. Ainda ficou dois anos afastados do mundo, no entanto a sua reputação era tal que muitas pessoas, mesmo Mestres de Budo, vinham vê-lo para beneficiar dos seus ensinamentos. Em 1927 vai a Tóquio. O príncipe Shimazu convida-o para o seu castelo, onde ensina à corte imperial. Pouco a pouco a atenção do grande público volta-se para este novo Budo e aumentam os pedidos para serem seus discípulos. Em 1928, muda-se para um Dojo que depressa se torna pequeno. Após seis meses, em 1929, devido ao elevado número de alunos, organiza a construção de um Dojo principal. É então que Jigoro Kano, fundador do Judo, o visita, e ao vê-lo em ação diz: "É o meu Budo ideal" e mandou professores de Judo receber esse ensinamento. De 1931 a 1935 foi à idade de ouro do Aikido. Os discípulos trabalhavam apaixonadamente, com uma verdadeira sede de aprender. Levantavam-se às cinco horas para varrer o Dojo, para que tudo estivesse pronto para a chegada do Mestre, às seis e meia. Entre os jovens discípulos, alguns vieram mais tarde a serem Mestres de renome: Riugiro, Shiguemi, Yunekama, Tsuyoshi Shiota, Kenji Tomiki, Tesshin Hoshi, Gozo Shioda, etc. A guerra rebentou em 1914 e em Tóquio o Mestre, com o filho ao seu cuidado e responsável pelo seu ensinamento, volta para junto da natureza, na cidade de Iwama, prefeitura de Ibaraki, compra um terreno e erige um templo Aiki. Dedicou-se então junto com seus discípulos à agricultura e ao Budo. Os discípulos viviam com ele, trabalhavam os campos e procuravam juntos a via do Aikido. Esta vida prolongou-se mesmo após a guerra ter terminado.

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1.2. Os Lemas do Aikido

1 - MANTER A DISCIPLINA.

2 - NÃO SE ENERVAR.

3 - NÃO SE ENTRISTECER.

4 - NÃO POSSUIR SENTIMENTO HOSTIL.

5 - SER COMPREENSIVO.

6 - SER TRANQUILO.

7 - SER PACÍFICO.

8 - MANTER A ÉTICA.

9 - FAZER AMIZADE COM TODOS.

10 - RESPEITAR A DEUS E AS PESSOAS.

11 - SER HUMILDE.

12 - SER JUSTO E HONESTO.

13 - CONSCIENTIZAR-SE QUE O AIKIDÔ REPRESENTA O CAMINHO DE DEUS.

14 - CONSCIENTIZAR-SE DE QUE A PRÁTICA DO AIKIDÔ TEM POR PRINCÍPIO O

AUTO CONHECIMENTO.

ALGUMAS REGRAS DE ETIQUETA E COMPORTAMENTO NO DOJO: 1) É responsabilidade de todos manter as regras tradicionais de conduta no Dojo. Este espírito vem do Fundador e deve ser respeitado, honrado e mantido.

2) É de responsabilidade de todos criar uma atmosfera positiva de harmonia e respeito.

3) O Dojo não deve ser utilizado para outro fim a que se destina, salvo expressa ordem de Sensei.

4) A limpeza é uma oração de agradecimento, é dever de todos executar a limpeza física e do coração de todos.

5) É decisão do Sensei quando ele deve ensinar alguma técnica. Não se pode comprar técnicas. A mensalidade é uma pequena parcela para ajudar a pagar as despesas para o local de treinamento e é uma forma muito pequena de demonstrar a gratidão do aluno ao mestre pôr seus ensinamentos.

6) Respeitar, Respeitar, Respeitar, é um pensamento contínuo no Dojo.

7) É um dever moral de todos usar as técnicas para fins pacíficos visando sempre construir.

8) Não deve haver conflitos do Ego no tatami. Aikidô não é um ringue de competição de vaidade.

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9) A insolência jamais será tolerada, devemos ter consciência de nossas limitações.

10) Cada pessoa tem condições, e razões diferentes para treinar. Devemos respeitar suas expectativas.

11) Jamais se deve contra argumentar com o professor.

12) Jamais deixe de fazer a reverência ao Kamizá ao entrar e sair do Dojo.

13) Respeite seu uniforme de treinamento, deve estar sempre em boas condições e de aparência.

14) O Dojo não é uma praia, sente-se sempre em seiza ou com as pernas cruzadas no estilo japonês, no caso de ter problemas no joelho.

15) Quando o Sensei demonstra uma técnica, fique sempre em Seiza, após, faça uma reverência, e comece imediatamente a praticar.

16) Quando o final de uma técnica é assinalada, cumprimente o parceiro e vá imediatamente para seu lugar de início da aula.

17) Se for absolutamente necessário perguntar algo ao Sensei, vá até ele, não o chame para si.

18) Respeite os alunos mais experimentados, jamais discuta se as técnicas estão erradas ou não.

19) Se você não é Yudansha, não corrija ninguém.

20) Não converse em cima do Tatami. Aikidô é experiência.

21) É responsabilidade de todos manter o Dojo limpo, de preferência deve ser varrido diariamente.

22) Não se devem usar jóias, mascar coisas no tatami. Além do corpo somente se usa o uniforme.

"Aikidô" não é religião, mas a educação e o refinamento do espírito. Você não será convidado a aderir a nenhuma doutrina religiosa, mas somente a manter o espírito aberto. Quando se inclina em uma reverência, isto não é um procedimento religioso, mas sim um sinal de respeito ao mesmo espírito de Inteligência Criativa Universal que está com todos nós.

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1.3. Técnicas

Os movimentos esféricos, livres e espontâneos, são característicos das técnicas que formam a base do Aikido. No que concerne a movimentos de corpo envolvendo giros e esquivas (Tai - Sabaki), os movimentos esféricos formam a essência da prática. Esta ênfase no dinamismo conduziu a diversas evoluções interessantes. Por exemplo, apesar do fato de que o Aikido lida com técnicas contundentes, tais como pancadas (atemi) e chaves de pulso, herdadas das antigas artes de combate, a ênfase na rotação esférica dá a impressão visual de uma dança coreografada, fluindo suavemente, refinada e delicada. Além disso, muitas técnicas criam um grande arco, tal qual ao se projetar um oponente ou quando ele é conduzido ao solo. No entanto, o Aikido pode ser aplicado também em espaço limitado. Isto deve-se aos movimentos esféricos do Aikido, em contraste com os movimentos lineares de outras formas de arte marcial, onde os golpes diretos, para a frente ou para trás, dão a aparência de uma maior violência e requerem uma área muito maior para sua execução. Na verdade, as técnicas, que eram originalmente duras e brutais, foram amaciadas e refinadas pela ênfase nos movimentos esféricos, e as técnicas que requeriam grande espaço foram contidas dentro de uma pequena esfera. Esta é provavelmente uma das razões porquê o Aikido é visto como uma arte altamente sofisticada.

Deve ser salientado, porém, que os movimentos esféricos no Aikido não foram criados com o sentido de se refinar a arte ou com o objetivo de se criar uma defesa passiva. O objetivo explícito era positivo: subjugar e controlar a força do oponente. O Aikido nasceu da luta para responder perguntas como estas: “O que faria eu quando confrontado por alguém mais forte?; Como posso subjugar um oponente sem o uso de armas de qualquer espécie?; Qual a forma mais racional de se dominar um oponente, mantendo-se a integridade do Budo, sem o apelo à violência temerária ou ardis psicológicos?; Como podemos conceber uma defesa contra alguém superior em tamanho, força e experiência?” Em resposta a tais questões, Mestre Ueshiba desenvolveu, como base do Aikido, o princípio da rotação esférica, como um desafio moderno às artes marciais tradicionais. O Fundador se aperfeiçoou em diversas formas de Jujutsu, como as escolas Kito e Daito, e treinou a espada tradicional da escola Shinkage. Não satisfeito com o que aprendeu, ele submeteu-se a um treino e a uma disciplina rigorosa e, tendo a filosofia do “nen” como base, advogou uma manifestação do ser, livre e espontânea, através do movimento esférico.

O princípio de que o macio controla o duro, o flexível conquista o rígido, encontrado no Jujutsu clássico, foi adotado pelo Mestre Ueshiba na sua formulação do Aikido, mas com uma diferença fundamental. No Jujutsu antigo se ensinava: “quando empurrado, puxe para trás; quando puxado, empurre para frente”. Nos movimentos esféricos do Aikido, isto fica assim: “quando empurrado, gire e contorne; quando puxado, entre e circule”. Isto quer dizer que devemos nos locomover em movimentos circulares em resposta ao oponente e enquanto nos movemos esfericamente, mantemos nosso centro de gravidade, criando um eixo estável de movimento. Ao

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mesmo tempo, o centro do oponente é desequilibrado e quando ele perde o seu centro ele perde também todo o seu poder, sendo então dominado rápida e decisivamente.

Assim como no caso de um corpo esférico, o centro é estável e o movimento é gerado deste ponto imóvel. Este movimento esférico pode controlar qualquer força contrária através de técnicas geradas deste centro, gracioso, mas ao mesmo tempo carregado de poder infinito. Nós podemos citar as leis da Física, como as forças centrífuga e centrípeta, para explicar os movimentos do Aikido, mas a sua beleza essencial vem da unia o do ki-mente-corpo.

Porque é uma experiência de uma pessoa una, integrada, uma análise objetiva realmente não acrescenta nada a nossa compreensão, somente a maestria.

Jo

No aikido além de técnicas de mãos vazias, treinamos também com armas brancas. São eles o Jo (bastão curto), o Bokken (espada de madeira) e o Tanto (faca de madeira). Essa prática favorece o aprendizado de algumas noções básicas da movimentação e postura corporal que são úteis na prática dos exercícios de tai-jutsu (corpo-a-corpo).

O Jo é um bastão curto (a medida deve corresponder aproximadamente à altura da linha do ombro do praticante), que permite uma movimentação variada tanto para o ataque quanto para a defesa. Além do aikido existem outras artes marciais que se utilizam do Jo, tal como o JO-DO.

As técnicas de Jo podem ser praticadas por meio de KATAS (formas) individuais ou em par. Essas sequências auxiliam o praticante a memorizar e absorver as técnicas de ataque e defesa, assim como desenvolver o "timing" dos movimentos.

Fig.1 – Técnica individual de Jo

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Ashi Sabaki (trabalho dos pés)

A execução correta das técnicas do Aikido envolve uma aplicação dinâmica e conjunta dos movimentos dos membros superiores e inferiores de nosso corpo. Logicamente a aplicação exige muito mais que simplesmente este controle físico, mas podemos dizer ao iniciante que o domínio dos movimentos dos pés é um fator essencial para a execução eficiente das técnicas básicas do Aikido. Quando executamos um Kata sem o cuidado de nos locomover de forma correta, muito provavelmente a eficiência será prejudicada em algum ponto. É muito diferente quando conhecemos os movimentos corretos de pé para uma determinada forma técnica, como por exemplo um Ikyo Omote. Conhecendo os movimentos de pé básicos referentes à esta técnica em particular, sua execução será realizada com muita mais eficiência e facilidade. Tivemos a chance de receber aqui no Brasil nos últimos anos, vários professores que também colocam muita ênfase neste trabalho dos pés, mas um em especial deixou bem claro a importância deste tipo de trabalho de base no Aikido, foi o Sensei Yamada. Em um de seus primeiros seminários ministrados aqui, demonstrou este trabalho isolado dos pés. Os diagramas que seguem neste artigo são baseados em muito no que ele nos transmitiu. No Aikido existem 6 movimentos básicos de pé: Okuri Ashi(Deslize iniciando-se com o pé da frente), Tsuri Ashi(Deslize iniciando-se com o pé de trás), Ayumi Ashi(Andar com os pés apontados para fora), Tenkan Ashi(Giro com um pivô), Kaiten(Giro com dois pivôs) e Irimi Ashi(Passo). Estes aplicados em conjunto dão origem à diferentes técnicas tais como Dai Iti Kyo, Shiho Nague, etc... Compõem o Ashi Sabaki, os movimentos:

Okuri Ashi

Técnica muito utilizada nos movimentos de entrada Omote. Sua execução correta faz com que o praticante consiga um avanço igual ou às vezes até mesmo maior que uma medida de seu Kamae (Refere-se a medida tomada da distância entre os pés, na postura de Kamae).

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Fig. 2 – Kamae do Okuri Ashi

Tsuri Ashi

É semelhante ao movimento anterior, mas a execução inicia-se pelo pé de trás. A distância alcançada por este movimento é maior que o anterior, e pode chegar a 3 medidas do Kamae. É um movimento pouco usado, e tem sua aplicação mais característica no Dai Yon Kyo Omote.

Fig. 3 – Kamae do Tsuri Ashi

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Ayumi Ashi

Forma de andar que usualmente utilizamos durante a prática do Aikido caracteriza-se pela posição dos dedos dos pés(para fora). As técnicas de Kokyu Ho e Sokumen Irimi Nague freqüentemente utilizam-se deste passo.

Fig. 4 – Ayumi Ashi no Aikido

Tenkan Ashi

O Tenkan Ashi é um dos movimentos mais utilizados na aplicação das técnicas do Aikido. Seu movimento circular de 180°(forma padrão) é utilizado na aplicação de quase todas as técnicas Ura.

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Fig. 5 – Tenkan Ashi no Aikido

Kaiten Ashi como o passo anterior, também é um movimento circular de 180°. Este movimento é freqüentemente utilizado na finalização de muitas técnicas, sendo que quase sempre ele é terminado com um dos joelhos no chão.

Fig. 6 – Kaiten Ashi no Aikido

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Irimi é um simples passo para frente, sendo que ao avançarmos simplesmente nos posicionamos em um novo Kamae. É um movimento muito usado nas técnicas onde é necessária uma entrada rápida de corpo. Estes seis passos são a base da movimentação de pernas das técnicas do Aikido. Ao executarmos estes passos de forma conjunta, diferentes técnicas são criadas. No próximo artigo darei mais detalhes sobre as conjugações possíveis entre estes passos básicos e a estrutura fundamental de algumas técnicas do Aikido.

Fig. 7 - Irimi

1.4. Glossário A AGE (ague) – Movimento ascendente. AGO – Queixo. AI – União, comunhão. AI HANMI – Posição de guarda utilizada no aikido, com os dois praticantes com o mesmo lado à frente ( direita com direita ou, esquerda com esquerda). AIKI – União do Ki. AIKIDO – Caminho da união da energia vital.

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AIKIDOKA – Praticante de aikido. AIUCHI (aiuti) – Atingir seu oponente no mesmo instante que ele nos atinge. ASHI – Pé. ASHI KUBI – Tornozelo. ATAMA – Cabeça. ATEMI – Golpe em região do corpo. ATEMI WASA – Técnicas de Atemi. AWASE – Treino onde os oponentes fazem os movimentos juntos, em harmonia. B BANZAI – Saudação cujo significado é "viva". BO – Bastão. BOKKEN – Espada de madeira, com formato de uma katana (espada japonesa) também utilizada na prática do aikido. BOKUTO – O mesmo que BOKKEN. BUDO – Arte Marcial. BUNKA – Cultura. BUSHI – Guerreiro, samurai. BUSHIDO – Caminho dos samurais. C CHI – O mesmo que KI em chinês. CHÜDAN (tyudan) – Altura intermediária, a altura do peito. D DAN – Grau obtido na faixa preta. DESHI – Discípulo. DÖ (doo) – Caminho, vereda espiritual. DÖGI (doogui) – Uniforme para a prática de uma arte marcial. DOJO – Lugar onde se pratica uma disciplina marcial, onde se trilha o caminho. DÖMO ARIGATO GOZAIMASU (doomo ...) – "Muito obrigado" em japonês. DÖSHU (dooshu) – A pessoa que mostra, que lidera o caminho; no caso do aikido atualmente representado pelo Sensei Moriteru Ueshiba, neto do fundador do aikido. DÖZO (doozo) – "Por favor" em japonês. E EMPI – Cotovelo. ERI – Gola, colarinho. F FUKUSHIDOIN – Professor assistente. FUMU – Pisar.

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FUNAKOGI UNDO (funacogui ...) – Exercício de remo para fortalecer quadris e postura. FUTARI GAKE – Defesa contra dois adversários. G GEDAN (guedan) - Altura inferior. GO - Cinco. GODAN – Quinto grau. GYAKU (guiaku) – Reverso, oposto. GYAKU HANMI - Posição de guarda utilizada no aikido, com os dois praticantes com os lados opostos à frente ( direita com esquerda ou, esquerda com direita). H HAKAMA – Vestimenta similar a uma calça utilizada pelos praticantes do aikido. HANMI – Posição de meio corpo. HARA – Abdômen. HATI - Oito. HIDARI – Esquerda. HITI - Sete. I IKKYO – Primeiros ensinamentos, no aikido se refere à primeira técnica básica. IRIMI – Movimento de entrada de corpo feito pelo defensor se deslocando à frente do atacante ou atrás do mesmo. ITI - Um. J JO – Bastão curto, utilizado nos treinos de aikido. JODAN – Altura superior. JODO – A arte do bastão. JOTORI – Técnica de defesa contra ataque de bastão. JU - Dez. JUDAN – Décimo grau, graduação máxima nas artes marciais. K KAMAE – Posição de guarda e prontidão. KAMI – divindade, muitas vezes traduzido como "deus". KATA – Forma, séries de movimentos pre-definidos que podem ser executados individualmente ou em par para treinamento de técnicas. KATA – Ombro. KATADORI – Pegada efetuada no ombro (equivalente a KATATORI). KEIKO – Treino. KEN – Espada.

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KENDO – Arte da espada. KI –Energia interior. KOKYU – Respiração. KOSHI – Cintura. KOSHINAGE (koshinague)– Projeção executado sobre a cintura. KUBI – Pescoço. KUBISHIME – Enforcar. KYU - Nove. KYU – Classe, grau; nas artes marciais se referem ao sistema de graduação abaixo do SHODAN (primeiro Dan). KYUDAN – Nono grau. M MAAI – Espaço, distância; espaço apropriado entre dois praticantes para a aplicação das técnicas. MENUCHI (men-uti) – Ataque visando a cabeça. MIGI (migui) – Direita. MISOGI (missogui) – Purificação, absolvição. MOCHI (moti) – Segurar, agarrar. MUNADORI – Pegada efetuada na altura do peito (equivalente a MUNATORI). N NAGE (nague) – projeção NAGINATA (naguinata) – Arma longa similar a um bastão com uma espada na ponta. NANADAN – Sétimo grau. NI - Dois. NIDAN – Segundo grau. NIKYO – Segunda etapa de aprendizado; no aikido se refere à segunda técnica básica. O OMOTE – Frente. OMOTO – Religião criado no século XIX, o qual pertencia Morihei Ueshiba, fundador do Aikido. O-SENSEI – Grande Mestre; termo de respeito utilizado no aikido se referindo a seu fundador Morihei Ueshiba. R REI – Reverência; executado antes e depois de sessões de treinamentos de artes marciais. ROKU - Seis. ROKUDAN – Sexto grau. RYU – Estilo, escola; sufixo que indica escola ou estilo de artes ou disciplinas tradicionais japonesas.

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S SAMURAI – Guerreiro; no Japão se utiliza também o termo BUSHI. SAN - Três. SANDAN – Terceiro grau. SANKYO – Terceira etapa de aprendizado; no aikido se refere à terceira técnica básica. SATORI – Iluminação espiritual; termo bastante utilizado no zen-budismo. SEIKA-TANDEN – Ponto central do abdômen, um pouco abaixo do umbigo; considerado o centro espiritual e físico do ser humano bastante enfocado no Aikido. SEIZA – Posição sentada segundo as tradições japoneses. SENSEI – Professor, instrutor. SHICHIDAN (hitidan) – Sétimo grau. SHIAI – Disputa, competição. SHIHAN – Instrutor mestre; corresponde no Aikido a mestres com sexto grau (6o Dan) ou acima. SHIKKO – Caminhar ajoelhado; forma de caminhar sobre os joelhos a partir da posição de seiza SHODAN – Primeiro grau. SODE – manga. SODETORI – Pegada na manga. T TACHI (tati) - Vertical, em pé. TACHIDORI (tatidori)– Técnicas de desarmamento contra oponente portando uma espada. TACHIWAZA (tatiwaza)– Técnicas em pé. TANTO – Espada curta, similar a uma faca ou adaga. TATAMI – Esteira fabricada com bambus; utilizada em artes marciais que envolvem técnicas de queda. TE – Mão. TEGATANA – "Espada" da mão utilizada em técnicas de ataque, para acertar o oponente. TEKUBI – Pulso. TENKAN – Giro; utilizada para se referir a um movimento de giro executado como base de muitas técnicas do Aikido. U UCHI (uti) – Batida, golpe. UCHIDESHI (utideshi)– Discípulo ou estudante que vive temporariamente com um mestre para adquirir conhecimento e em troca o auxilia por meio de prestação de serviços. UKE – Aquele que recebe; no Aikido é aquele que faz o papel do atacante e que recebe o golpe de defesa. UKEMI – Queda ou técnica de queda.

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W WAZA – Técnica. Y YARI – Lança. YOKO – Lado. YOKOMEN – Lateral da cabeça. YOKOMENUCHI (yokomen - uti)– Golpe na parte lateral da cabeça. YON - Quatro. YONDAN – Quarto grau. YONKYO - Quarta etapa de aprendizado; no aikido se refere à quarta técnica básica. Z ZANSHIN – Foco ou concentração após a execução de uma técnica em que a conexão com o atacante ainda permanece. ZAZEN – Posição de meditação (sentado).

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2. KARATE-DO TRADICIONAL

Fig. 8 – Karate-Do em japonês

Acima, caligrafia de Tsubouchi Hisako Sensei

2.1. Introdução

O Karate-Do Tradicional é uma arte marcial originada a partir das técnicas de defesa pessoal sem armas de Okinawa, e tem como base a filosofia do Budo japonês.

Os objetivos do Karate-Do Tradicional são definidos pela filosofia do Budo, que se traduz na busca constante pelo aperfeiçoamento pessoal, sempre contribuindo para a harmonização do meio onde se está inserido. Através de muita dedicação ao trabalho, treinamento rigoroso e vida disciplinada, o praticante de Karate-Do Tradicional caminha em direção dessas metas, formando seu caráter, aprimorando sua personalidade.

Nesse sentido, pode-se afirmar que o Karate-Do Tradicional contribui para a formação integral do ser humano, não podendo, portanto, ser confundido com uma prática puramente esportiva. "Tradição é um conjunto de valores sociais que passam de geração à geração, de pai para filho, de mestre para discípulo, e que está relacionado diretamente com o crescimento, maturidade, com o indivíduo universal." [Johannes]

Cada pessoa pode ter objetivos diferentes ao optar pela prática do Karate-Do Tradicional, objetivos estes que devem ser respeitados. Cada um deverá ter a oportunidade de atingir suas metas, seja-as tornar-se forte e saudável, obter autoconfiança e equilíbrio interior ou mesmo dominar técnicas de defesa pessoal. Autocontrole, integridade e humildade resultarão do correto aproveitamento dos impulsos agressivos existentes em todos nós.

A famosa expressão do mestre Gichin Funakoshi - "Karate Ni Sente Nashi" - define claramente o propósito antiviolência do Karate-Do Tradicional: "No Karate não existe atitude ofensiva".

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"Se o adversário é inferior a ti, então por que brigar?

Se o adversário é superior a ti, então por que brigar?

Se o adversário é igual a ti, compreenderá,

o que tu compreendes... Então não haverá luta.

Honra não é orgulho, é consciência real do que se possui “.

O Karate-Do Tradicional também pode ser visto como uma ótima ferramenta de manutenção da saúde, uma vez que suas técnicas contribuem para a formação de hábitos saudáveis como os cuidados com a postura, a respiração com o diafragma e a meditação Zen. Entende-se como saúde não só o estado de "ausência de doenças", mas também o bem-estar físico, mental e espiritual do ser humano.

Como defesa pessoal, o Karate-Do Tradicional mostra eficiência e eficácia em suas técnicas, possibilitando ao lutador defender-se de qualquer tipo inimigo. No entanto, mais que um simples conjunto de técnicas, o Karate-Do Tradicional ensina ao seu praticante algo muito além do confronto físico, que é a intuição e o discernimento perante uma situação de perigo, permitindo ao lutador captar a intenção do adversário, avaliar a situação e tomar uma atitude correta e consciente.

O verdadeiro valor do Karate não está em sobrepujar os outros pela força física. Nesta arte marcial não existe agressão, mas sim nobreza de espírito, domínio da agressividade, modéstia e perseverança. E, quando for necessário, fazer a coragem de enfrentar milhões de adversários vibrar no seu interior. É o espírito dos samurais.

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2.2. O Fundador e a História

Fig. 9 – Mestre Gishin Funakoshi

A história do Mestre Gishin Funakoshi se confunde com a própria história do Karatê, por isso a ele é creditado o título de "pai do Karatê moderno", devido aos seus esforços em divulgar essa arte para o mundo e torná-la acessível a todos.

Gishin Funakoshi nasceu em 1869 em Shuri, distrito de Yamakawa-Cho, Okinawa, no mesmoano da Restauração Meiji.Era filho único, e logo após o seu nascimento fora levado para a casa dos seus avós maternos, com quem foi educado e aprendeu poesias clássicaschinesas. Algum tempo depois ele começou a freqüentar a escola primária, onde conheceu outro garoto de quem ficou muito amigo.Esse garoto era filho de Yasutsune Azato, um dois maiores especialistas de Okinawa na arte do Karatê, e membro de uma família das mais respeitadas. Logo Funakoshi começava a tomar suas primeiras lições de Karatê.Na época a prática de artes marciais era proibida em Okinawa, e os treinos eram realizados à noite, no quintal da casa do Mestre Azato.Lá ele aprendia a socar, chutar, e mover-se conforme os métodos praticados naqueles dias.

O treinamento era muito rigoroso.Mestre Azato tinha uma filosofia de treinamento que se chamava "Hito Kata San Nen", ou seja, "um Kata em três anos". Funakoshi estudava cada Kata a fundo, e então, apenas quando era autorizado pelo seu mestre, seguia para o próximo. Enquanto praticava no quintal de Azato com outros jovens, outro

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gigante do Karatê, Mestre Itosu, amigo de Azato, aparecia e observava-os fazendo os Katas, tecendo comentários sobre suas técnicas.Era uma rotina dura que terminava sempre de madrugada sob a disciplina rígida do mestre Azato, do qual o melhor melhor elogio se limitava a uma única palavra: "Bom!". Após os treinos, já quase ao amanhecer, Azato falava sobre a essência do Karatê.

Após vários anos, a prática do Karatê deu grande contribuição para a saúde de Funakoshi, que fora uma criança muito frágil e doentia.Ele gostava muito do Karatê, mas como não pensava que pudesse fazer dele uma profissão, inscreveu-se e foi aceito como professor de uma escola primária, em 1888, aos 21 anos, aproveitando toda sua cultura adquirida desde a infância quando seus avós lhe ensinavam os Clássicos Chineses.

Esta deveria ser sua carreira a partir de então. Prestou exame na Escola de Medicina de Tóquio, no qual foi aprovado, mas devido a uma nova lei que proibia aos homens o porte do CHON MAGE (símbolo de virilidade e da maturidade) não pôde realizar seus estudos.E por esse motivo voltou-se para a pratica e estudo aprofundado do Karatê, no qual se tornaria posteriormente seu representante máximo.

Ele tinha uma personalidade marcante e alguns aspectos como natural benevolência, distinção de maneiras e ímpar gentileza e respeito a todos, além de uma energia forte, muita coragem, determinação e força mental altamente capacitada, o tornaram uma figura que, para muitos era sinônimo de alguém "mais que humano", um "tatsujin" (indivíduo fora do comum) ainda mais se contrastando suas virtudes com seu porte físico pequeno (1,67m. para 67 Kg.), sendo admirado por seus contemporâneos. No começo deste século, em 1902, durante a visita de Shintaro Ogawa, que era então inspetor escolar da prefeitura de Kagoshima, à escola de Funakoshi em Okinawa, foi feito uma demonstração de Karatê. Funakoshi impressionou bastante devido ao seu status de educador.Ogawa ficou tão entusiasmado que escreveu um relatório ao Ministério da Educação elogiando as virtudes da arte. Foi então que o treinamento de Karatê passou a ser oficialmente autorizado nas escolas.

Até então o Karatê só era praticado atrás de portas fechadas, mas isso não significava que fosse um segredo.As casas em Okinawa eram muito próximas umas das outras, e tudo que era feito numa casa era conhecido pelas outras casas adjacentes.Enquanto muitos autores pregam o Karatê como sendo um segredo naquela época, ele não era tão secreto assim.

O Karatê era "oficialmente" secreto (do mesmo modo que os Estados Unidos nunca penetraram no Camboja durante a guerra do Vietnã).Contra os pedidos de muitos dos mestres mais antigos de Karatê, que eram a favor de manter tudo em segredo, Funakoshi trouxe o Karatê, com a ajuda de Itosu, até o sistema de escolas públicas. Logo, as crianças na escola estavam aprendendo os Katas como parte das aulas de Educação Física.

A redescoberta da herança étnica em Okinawa era moda, então as aulas de Karatê em Okinawa eram vistas como uma coisa legal.Alguns anos depois, o Almirante

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Rokuro Yashiro (na época Capitão) assistiu a uma demonstração de Kata.Essa demonstração foi feita por Funakoshi junto com uma equipe composta por seus melhores alunos.Enquanto ele narrava, os outros executavam Katas, quebravam telhas, e geralmente chegavam ao limite de seus pequenos corpos.

Funakoshi sempre enfatizava o desenvolvimento do caráter e autodisciplina nas suas narrações durante essas demonstrações.Quando ele participava, gostava de executar o Kata Kanku Dai, o maior do Karatê, e talvez o mais representativo.Yashiro ficou tão impressionado que ordenou a seus homens que iniciassem o aprendizado na arte. Em 1912, a Primeira Esquadra Imperial da Marinha ancorou na Baía de Chujo, sob o comando do Almirante Dewa, que selecionou doze homens da sua tripulação para estudarem Karatê durante uma semana.Foi graças a esses dois oficiais da Marinha que o Karatê começou a ser comentado em Tokyo.Os japoneses que viam essas demonstrações levavam as histórias sobre o Karatê consigo quando voltavam ao Japão.

Pela primeira vez na sua história, o Japão acharia algo na sua pequena possessão de Okinawa além de praias bonitas e o ar puro.

Em 1921, o então Príncipe Herdeiro Hirohito, em viagem para Europa, fez escala em Okinawa e assistiu uma demonstração de Karatê, liderada por Funakoshi, e ficou muito impressionado.Por causa disso, no final desse mesmo ano, Funakoshi foi convidado para fazer uma demonstração de Karatê em Tokyo, numa Exibição Atlética Nacional.Ele aceitou imediatamente, acreditando ser esta uma ótima oportunidade para divulgar a arte. Sua demonstração de Kata foi um sucesso.Ele pretendia retornar logo para Okinawa, mas, depois da exibição, Funakoshi foi cercado por pedidos para ficar no Japão ensinando Karatê. Uma das pessoas que pediu para que ele ficasse foi Jigoro Kano, o fundador do Judô e presidente do Instituto Kodokan.

Funakoshi resolveu ficar mais alguns dias para fazer demonstrações técnicas no próprio Kodokan. Algum tempo depois, quando se preparava novamente para retornar a Okinawa, foi visitado pelo pintor Hoan Kosugi, que já tinha assistido a uma demonstração de Karatê em Okinawa, e pediu que ele lhe ensinasse a arte. Mais uma vez sua volta foi adiada.Funakoshi percebeu então que se ele quisesse ver o Karatê propagado por todo o Japão ele mesmo teria que fazê-lo.Por isso resolveu ficar em Tokyo até que sua missão fosse cumprida.Kosugi foi uma das pessoas que convenceram Funakoshi a ensinar Karatê no Japão.

Ele também o convenceu a registrar todo o seu conhecimento em um livro e prometeu presenteá-lo com uma pintura para a capa. Essa pintura (desenho ao lado), o Tora No Maki ("Tora" em japonês quer dizer tigre, e "Maki" em japonês quer dizer rolo ou enrolado), foi usada para ilustrar a capa do livro "Karate-Do Kyohan" para simbolizar força e coragem. A irregularidade do círculo indica que provavelmente ele foi pintado com uma única pincelada. O caractere ao lado da cauda do tigre (em cima à direita) é parte da assinatura do artista. No Japão, Funakoshi foi ajudado por Jigoro Kano, o homem que reuniu tantos estilos diferentes de Jiu Jutsu para criar o Judô. Kano tornou-se amigo íntimo de Funakoshi, e sem sua ajuda nunca teria havido Karatê no Japão.

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Kano o introduziu as pessoas certas, levou-o às festas certas, caminhou com ele através dos círculos sociais da elite japonesa. Mais tarde naquele ano, as classes mais altas dos japoneses se convenceram do valor do treinamento do Karatê. Funakoshi fundou um Dojo de Karatê num dormitório para estudantes de Okinawa, em Meisei Juku. Ele trabalhou como jardineiro, zelador e faxineiro para poder se alimentar enquanto ensinava Karatê à noite. Em 1922, fora escolhido para representar a arte de Okinawa em uma apresentação em Tóquio para demonstrar a arte do Karatê.

Como já tinha mais de cinqüenta anos, não correspondia, ao mito do “budoka terrível” que o Japão procurava fazer sobreviver, na época, e mesmo assim a sua apresentação foi muito bem sucedida. Muitos aspectos da personalidade de Funakoshi passaram a ser conhecidos através de histórias daqueles que conviviam com ele, como por exemplo, Genshin Hironishi, seu discípulo que dizia que seu mestre se opunha às gerações vindas após a Segunda Guerra Mundial, pois continuava a seguir hábitos de sua época, anterior a Primeira Guerra Mundial. Dizia ele que Funakoshi se recusava a freqüentar uma cozinha ou a pronunciar certas palavras japonesas modernas, existentes em sua época dizendo que sem elas passava muito bem.

Uma outra peculiaridade interessante em seu comportamento, é que a primeira coisa que ele fazia era sua toalete matinal que durava cerca de uma hora, durante a qual escovava seus cabelos com infinita paciência, quando então se voltava em direção ao Palácio Imperial e o saudava com respeito inclinando-se, e após fazia a mesma saudação a Okinawa. Depois desses rituais tomava o chá da manhã, e se reiterava de seus afazeres do dia. Em 1922, a pedido do pintor Hoan Kosugi, ele publicou seu primeiro livro: "Ryukyu Kenpo Karatê", um tratado nos propósitos e prática do Karatê. Na introdução daquele livro ele já dizia que “... a pena e a espada são inseparáveis como as duas rodas de uma carroça". O grande terremoto de Kanto, em 1º de setembro de 1923 destruiu as placas de seu livro, e levou alguns de seus alunos com ele.

Ninguém morreu com o tremor, os incêndios provocaram as mortes. O terremoto ocorreu durante a hora do almoço, no momento em que cada fogão a gás no Japão estava ligado. Os incêndios que ocorreram a seguir foram monstruosos, e maioria das vidas perdidas se deveu ao fogo. Este livro teve grande popularidade e foi revisado e reeditado quatro anos após o seu lançamento, com o título alterado para: "Rentan Goshin Karatê Jutsu". Em 1925, Funakoshi começou a pegar alunos dos vários colégios e universidades na área Metropolitana de Tokyo, e nos anos seguintes, esses alunos começaram a fundar seus próprios clubes e a ensinar Karatê a estudantes destas escolas. Como resultado, o Karatê começou a se espalhar por Tokyo. No início da década de 30 haviam clubes de Karatê em cada universidade de prestígio de Tokyo.

Mas por que estava Funakoshi conseguindo tantos jovens interessados em Karatê desta vez? O Japão estava fazendo uma Guerra de Colonização na Bacia do Pacífico. Eles invadiram e conquistaram a Coréia, Manchúria, China, Vietnã, Polinésia, e outras áreas. Jovens a ponto de irem para a guerra vinham a Funakoshi para aprender a lutar, assim eles poderiam sobreviver ao recrutamento nas Forças Armadas Japonesas. O seu número de alunos aumentou bastante. Por volta de 1933, Funakoshi desenvolveu exercícios básicos para prática das técnicas em duplas. Tanto o ataque de

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cinco passos "Gohon Kumite" como o de um "Ippon Kumite" foram usados. Em 1934, um método de praticar esses ataques e defesas com colegas de um modo levemente mais irrestrito, semilivre "Ju Ippon Kumite", foi adicionado ao treinamento. Finalmente, em 1935, um estudo de métodos de luta livre (Ju Kumite) com oponentes finalmente tinha começado. Até então, todo Karatê treinado em Okinawa era composto basicamente de Katas. Isso era tudo. Agora, os alunos poderiam experimentar as técnicas dos Katas uns com os outros sem causar danos sérios. Nesta época, em 1935, foi publicado seu próximo livro: "Karatê-dô Kyohan". Este livro trata basicamente dos Katas. Funakoshi era Taoísta, e ele ensinava Clássicos Chineses, como o Tao Te Ching de Lao Tzu, enquanto estava vivendo em Okinawa. Funakoshi era profundamente religioso.

Ele tinha muito medo de que o Karatê se tornasse um instrumento de destruição, e provavelmente queria eliminar do treinamento algumas aplicações mortais dos Katas. Então, ele parou de fazer essas aplicações. Ele também começou a desenvolver estilos de luta que fossem menos perigosos. Funakoshi teve sucesso ao remover do Karatê, técnicas de quebras de juntas, de ossos, dedos nos olhos, chaves de cotovelo, esmagamento de testículos, criando um novo mundo de desafios e luta em equipe onde somente umas poucas técnicas seriam legais. Ele fez isso baseado nos seus propósitos e com total conhecimento dos resultados.

Em 1936, Funakoshi mudou os caracteres Kanji utilizados para escrever a palavra Karatê.O caractere "Kara" significava "China", e o caractere "Te" significava "Mão".Para popularizar mais a arte no Japão, ele mudou o caractere "Kara" por outro, que significa "Vazio".De "Mãos Chinesas" o Karatê passou a significar "Mãos Vazias", e como os dois caracteres são lidos exatamente do mesmo jeito, então a pronúncia da palavra continuou a mesma.Além disso, Funakoshi defendia que o termo "Mãos Vazias" seria o mais apropriado, pois representa não só o fato do Karatê ser um método de defesa sem armas, mas também representa o espírito do Karatê, que é esvaziar o corpo de todos os desejos e vaidades terrenos. Com essa mudança, Funakoshi iniciou um trabalho de revisão e simplificação, que também passou pelos nomes dos Katas, pois ele também acreditava que os japoneses não dariam muita atenção por qualquer coisa que tivesse a ver com o dialeto caipira (do interior) de Okinawa.

Por isso ele resolveu mudar não só nome da arte, mas também os nomes dos Katas.Ele estava certo, e seu número cresceu mais ainda.Funakoshi tinha 71 anos em 1939, e foi quando ele deu o primeiro passo dentro de um Dojo de Karatê em 29 de Janeiro. O prédio foi feito de doações particulares, e uma placa foi pendurada sobre a entrada e dizia: "Shotokan". "Sho" significa pinheiro. "To" significa ondas ou o som que as árvores fazem quando o vento bate nelas. "Kan" significa edificação ou salão. "Shoto" (ondas de pinheiro) era o pseudônimo que Funakoshi usava para assinar suas caligrafias quando jovem, pois quando ele ia escrevê-las se recolhia em um lugar mais afastado, onde pudesse buscar inspiração, ouvindo apenas o barulho do pinheiros ondulando ao vento.

Esse nome dado ao Shotokan Karatê Dojo foi uma homenagem de seus alunos.Daí surgiu o nome de uma escola (estilo) que até hoje é cultivada em várias

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partes do mundo. SHOTO (pseudônimo de Funakoshi) e KAN (escola, classe). A "Escola de Funakoshi". A necessidade de um treinamento nas artes militares estava em crescimento. ovens estavam se amontoando no Dojo, vindos de todas as partes do Japão.O Karatê foi de carona nessa onda de militarismo e estava desfrutando de uma aceitação acelerada como resultado.Finalmente o Japão cometeu um grande erro.O bombardeio das forças navais americanas em Pearl Harbor a 7 de Dezembro de 1941 foi algo além da conta.Numa tentativa de prevenir que as embarcações americanas bloqueassem a importação japonesa de matéria-prima, os japoneses tentaram remover a frota americana e varrer a influência Ocidental do próprio Oceano Pacífico.

O plano era bombardear os navios de guerra e os porta-aviões que estavam no território do Hawai.Isto deixaria a força da América no Pacífico tão fraca que a nação iria pedir a paz para prevenir a invasão do Hawai e do Alasca.Infelizmente, o pequeno Japão não tinha os recursos, força humana, ou a capacidade industrial dos Estados Unidos.Com uma mão nas costas, os americanos destruíram completamente os japoneses na Ásia e no Pacífico.Uma das vítimas dos ataques aéreos foi o Shotokan Karatê Dojo que havia sido construído em 1939.

Com a América exercendo pressão em Okinawa, a esposa de Funakoshi finalmente iria deixar a ilha e juntar-se a ele em Kyushu no Sul do Japão.Eles ficaram lá até 1947. Os americanos destruíram tudo que estava em seu caminho. As ilhas foram bombardeadas do ar, todas as cidades queimadas até o fim, as colinas crivadas de balas pelos cruzadores de guerra de longe da costa, e então as tropas varreram através da ilha, cercando todo mundo que estivesse vivo. A era dourada do Karatê em Okinawa tinha acabado. Todas as artes militares haviam sido banidas rapidamente pelas forças ocupantes americanas. Primeiro uma, depois outra bomba atômica explodiram sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. Três dias depois, bombardeiros americanos sobrevoaram Tokyo em tal quantidade que chegaram a cobrir o Sol. Tokyo foi bombardeada com dispositivos incendiários.

Descobrindo que o governo do Japão estava a ponto de cometer um suicídio virtual sobre a imagem do Imperador, cartas secretas foram passadas para os japoneses garantindo sua segurança se eles assinassem sua "rendição incondicional". O Japão estava acabado, a Guerra do Pacífico também, mas o pesadelo de Funakoshi ainda havia de acabar. Nesta época, Gigo (também conhecido como Yoshitaka, dependendo como se pronunciava os caracteres do seu nome), filho de Funakoshi, um promissor jovem mestre de Karatê no seu próprio direito, aquele que Funakoshi estava contando para substituí-lo como instrutor do Shotokan, pegou tuberculose em 1945 e posteriormente veio a falecer, porque teimosamente recusava-se a comer a ração americana dada ao povo japonês faminto. Funakoshi e sua esposa tentaram viver em Kyushu, uma área predominantemente rural, sob a ocupação americana no Japão.

Mas, em 1947, ela morre, deixando Funakoshi retornar a Tokyo para reencontrar seus alunos de Karatê que ainda viviam. Depois que a guerra havia acabado, as artes militares haviam sido completamente banidas. Entretanto, alguns dos alunos de Funakoshi tiveram sucesso em convencer as autoridades que o Karatê era um esporte inofensivo. As autoridades americanas concederam então, a retomada da prática do

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Karatê, porque não tinham idéia realmente do que era o Karatê. Também, alguns homens estavam interessados em aprender as artes militares secretas do Japão, então as proibições foram eliminadas completamente em 1948. Em Maio de 1949, os alunos de Funakoshi movem-se para organizar todos os clubes de Karatê universitários e privados numa simples organização, e eles a chamaram de Nihon Karatê Kyokai (Associação Japonesa de Karatê). Eles nomearam Funakoshi seu instrutor chefe. Em 1955, um dos alunos de Funakoshi consegue arranjar um Dojo para a NKK.

Em 1957, ano de sua morte, Funakoshi tinha 89 anos de idade. Ele foi um professor de escola primária e um estudante de Karatê. Ele mudou-se para o Japão (e não é um pequeno ato de coragem) e trouxe o Karatê consigo em 1922, dando ao Japão algo de Okinawa com seu próprio jeito pacifista.No processo, ele perdeu um filho, sua esposa, o prédio que seus alunos fizeram para ele, seu lar, e qualquer esperança de uma vida pacífica. Ele suportou uma Guerra Mundial que resultou em calamidade nacional, e ele treinou seus jovens amigos e conheceu suas famílias apenas para vê-los irem lutar e serem mortos pelas forças invencíveis dos Estados Unidos. Ele viu o Japão queimar, ele viu os antigos templos e santuários serem totalmente aniquilados, ele viu bombardeiros enegrecerem o sol, e ele viu como um pilar de fumaça negra subia de cada cidade no Japão e envenenava o ar que ele respirava. Ele viu o Japão cair da glória para uma nação miserável, dependendo de suprimentos de comida e roupas dos seus conquistadores.

O cheiro da fumaça e o cheiro dos mortos; Os berros daqueles que foram deixados para morrer lentamente; O choro das mães que perderam seus filhos e esposas que nunca mais iriam ver seus maridos; O medo, o ruído ensurdecedor dos bombardeiros B-29's voando sobre sua cabeça como os de trovões por todo o país quando as bombas explodiam em áreas residenciais, os flashes de luz na escuridão; A espera no rádio para poder ouvir a voz do Imperador pela primeira vez, somente para anunciar a rendição; A humilhação de implorar comida aos soldados... Os intermináveis funerais e famílias arruinadas e lares destruídos. Tente e imagine o que ele suportou! !A lição mais importante que ele nos ensinou está expressa em uma de suas histórias narradas por um de seus discípulos.

Uma vez quando passava pelo Dojo principal de Jigoro Kano, "o fundador do Judô", ao caminhar pela rua, ele parou e fez uma pequena prece em frente ao Kodokan.Também se estivesse dirigindo um carro, ele tiraria seu chapéu se passasse em frente ao Kodokan. Seus alunos não entenderam porque ele estaria rezando pelo sucesso do Judô.Então ele explicou:“Eu não estou rezando pelo Judô”.Eu estou oferecendo uma prece em respeito ao espírito de Jigoro Kano.Sem ele, eu não estaria aqui hoje ““. Gishin Funakoshi, o "Pai do Karatê Moderno", morreu em 26 de Abril de 1957. Em seu túmulo pintado de preto, em forma de cruz, apesar de tudo que ele suportou, estão as palavras:

”KARATÊ NI SENTE NASHI”

(No Karatê não existe atitude ofensiva)

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2.3. A competição no Karate-Do Tradicional:

A busca de vitórias em competições não é o principal objetivo do Karate-Do Tradicional. As competições são um meio que permitem ao praticante de Karate-Do Tradicional fazer uma autoavaliação técnica e emocional. Vencer ou perder numa competição não é o mais importante, o relevante é o crescimento como lutador e como pessoa que ela proporciona.

O que se exige dos lutadores numa competição de Karate-Do Tradicional é a eficiência na execução dos movimentos, ou seja, a dinâmica corporal utilizada para se aplicar os golpes, e não tão somente a velocidade ou o contato. Não basta acertar o alvo, é preciso fazê-lo da forma correta, baseado nos fundamentos técnicos do Karate-Do Tradicional. Isso exige um grande domínio físico e mental, e também estimula a busca pelo aperfeiçoamento pessoal e pelo refinamento da técnica. "Perder-se na beleza dos movimentos ou apenas buscar pontos numa luta não levam à perfeição!" [Nakayama]

Numa competição de Karate-Do Tradicional não há divisão de pesos. O lutador cujo físico é pequeno poderá vencer o grande, se estiver bem preparado. Ele deverá estar disposto a enfrentar qualquer adversário, seja qual for o seu tamanho.

As modalidades de competição são:

Kata individual - Apresentação individual de kata: Durante as fases eliminatórias, dois competidores executam o mesmo kata (que é escolhido pelo árbitro central) lado a lado, e o vencedor é aclamado pelos árbitros através de bandeiras. Na fase final, os competidores apresentam-se um de cada vez, executando o kata de sua escolha, e a decisão é tomada pela média das notas de todos os árbitros, descontando-se desta a maior e a menor nota.

Kata em equipe - Apresentação de kata e respectiva aplicação (bunkai) em equipes de três pessoas: Após a apresentação do kata, a equipe deverá apresentar uma aplicação para as técnicas do kata escolhido. A decisão é sempre tomada por nota.

Kumite individual - Combate individual.

Kumite em equipe - Combate em equipes de cinco pessoas: A cada luta são somados os pontos de cada lutador aos pontos de sua equipe. Será vencedora a equipe que obtiver o maior número do pontos ao final da última luta.

Enbu - Teatro marcial: Apresentação de aplicações de técnicas de Karate em duplas. A decisão é tomada por nota dos árbitros.

Fuku Go - Disputa individual que engloba kata e kumite, alternando a cada rodada: A ITKF instituiu o Kitei como kata oficial das competições de Fuku Go, para permitir as disputa direta (lado a lado) de competidores de estilos diferentes.

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2.4.Terminologia

ICHI um

NI dois

SAN três

SHI (YON) quatro

GO cinco

ROKU seis

SHICHI (NANA) sete

HACHI oito

KU (KYU) nove

JU dez

HYAKU cem

SEN mil

MAN dez mil

2.5. Organização do Karate-Do Tradicional

A nível mundial, o Karate-Do Tradicional é representado pela International Traditional Karate Federation (ITKF), sediada em Los Angeles (EUA), sob o comando do mestre Hidetaka Nishiyama, aluno direto do mestre Gichin Funakoshi e um dos fundadores da Japan Karate Association (JKA).

A ITKF, por sua vez, poussui três subdivisões: a Comissão Técnica, a Comissão Científica e a Comissão de Arbitragem.

A Comissão Técnica, sob a direção do mestre Hiroshi Shirai (Milão/Itália), é responsável pela qualidade no ensino do Karate. Organiza cursos, seminários e campeonatos, com o objetivo de promover um intercâmbio entre os praticantes de Karate.

A Comissão Científica é formada por professores de Educação Física, médicos desportistas, fisioterapêutas, etc., e é responsável por desenvolver estudos e pesquisas sobre Karate, baseados em métodos científicos (biomecânica, cinesiologia, etc.), com o propósito de melhorar técnicas, eliminar movimentos desnecessários e criar métodos de treinamento sistemáticos.

A Comissão de Arbitragem tem como objetivo zelar pela aplicação da técnica, sem perder a disciplina e o respeito à integridade física dos lutadores. Promove cursos de arbitragem constantemente, visando formar árbitros de qualidade e melhorar o nível das competições.

A Confederação Brasileira de Karate-Do Tradicional (CBKT) é o órgão máximo representante do Karate-Do Tradicional no Brasil e é filiada à ITKF. Possui 27 federações filiadas, tendo como presidente o mestre Oswaldo Mendonça Jr. Em

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novembro de 1996 a CBKT conseguiu um feito inédito para o Karate brasileiro, que foi a realização do VIII Campeonato Mundial de Karate-Do Tradicional no Ginásio do Ibirapuera em São Paulo. Foi a primeira vez que o Brasil sediou um Campeonato Mundial de Karate.

O Brasil hoje é uma das grandes forças mundiais do Karate-Do Tradicional. Isso se deve ao privilégio de termos no país a presença de grandes mestres como Yasutaka Tanaka, Yasuyuki Sasaki, Yoshizo Machida, Hiroyasu Inoki, Tatsuke Watanabe, Kazuo Nagamine, Oswaldo Mendonça Jr e Gilberto Gaertner, entre outros, que têm contribuído enormemente para o desenvolvimento do Karate brasileiro.

No Estado de Santa Catarina, o Karate-Do Tradicional é representado pela Federação Catarinense de Karate-Do Tradicional (FCKT), fundada em 26 de maio de 1992 e atualmente sediada em Florianópolis.

Principais posições e ataques do Karate-Do:

Fig. 10 – Golpes do Karate-Do

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Os ataques de braço e perna, as defesas e bases do KARATE, podem ser aprendidos rapidamente. Porém, para o aperfeiçoamento dessas técnicas, é necessário treiná-las arduamente por longo tempo, chegando, algumas delas, ser impossível atingir um nível ótimo de performance. Para tanto, o treinamento constante no sentido de auto superação e o conhecimento biomecânico e fisiológico do corpo humano, são fundamentais. A investigação cientifica serviu para comprovar e aumentar a eficiência e eficácia dos golpes ensinados ao longo dos anos pelos antigos mestres. Ao considerar a técnica como sendo o procedimento mais racional e econômico para alcançar o objetivo e levar a efeito as técnicas do Karate, faz-se necessário observar alguns aspectos que consideramos fundamentais, que são: Forma, Kime, Quadril e Respiração, que para efeitos didáticos, apresentamos separadamente. 1. FORMA Conforme Nakayama (1987), a aplicação dos golpes com postura adequada é fundamental pois, no momento do impacto, se produz um forte contra-impacto (Ação e Reação, terceira lei de Newton), que para suportá-lo é importante a firmeza das articulações. Para a obtenção do máximo de potência, é necessário ter equilíbrio e estabilidade, o que é alcançado com uma forma ou postura correta. Consideramos forma correta o posicionamento equilibrado do corpo desde a base de sustentação ate o ponto de contato com o adversário. Quanto à base, é importante ter-se em conta que ao abaixar muito o centro de gravidade (base excessivamente longa), alcança-se maior equilíbrio, mas re-duz-se a imobilidade. Portanto1 é importante a utilização de uma base firme, porém elástica, que possibilite deslocamentos rápidos sem comprometimento do equilíbrio e da estabilidade.

2. POTÊNCIA ou "KIME" Para dominar o adversário, o karateca utiliza-se da energia produzida por sua musculatura. Segundo Nakayama (1987, p.16), a força eficaz no Karate é a força veloz (potência) "... aquela que se acumula com a velocidade"(...) "a força que a velocidade consegue concentrar no momento do impacto". Uma coordenação ótima entre a musculatura agonista (a que realiza o movimento) e a antagonista é importante para que haja velocidade na execução da técnica. Além disso, o aproveitamento máximo da trajetória e a concentração da força (contração de todo o corpo) no momento do impacto, são fundamentais para levar a efeito as técnicas do Karate. Um ponto a destacar é que o excesso de contração durante a execução do golpe, diminui a sua velocida-de, diminuindo a potência final. Para reagir mais rapidamente, o karateca deve estar com a musculatura relaxada e em alerta. A contração máxima de todo corpo deve ser apenas na finalização do golpe, durante uma fração de segundo. Ela é a responsável pelo aumento da estabi-lidade das articulações para resistir ao impacto e contra-impacto. 3. USO DA CINTURA PÉLVICA OU "QUADRIL" Elo de ligação dos membros inferiores ao restante do corpo, o quadril tem participação

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significativa nas técnicas de ataque e de defesa. A cintura pélvica produz, em movimento de rotação, grande força centrífuga. Unindo a essa, a velocidade de membros superior ou inferior, multiplica-se a potência do golpe. "...no Karate-do. Os ataques tanto de braço como de perna, se realizam com o quadril e igualmente as defesas" (Nakayama,1987, p.18). O encaixe do quadril ou retroversão da pelve, é responsável pela manutenção do tronco ereto, em posição de equilíbrio, evitando gasto desnecessário de energia. 4. RESPIRAÇÃO Nos referimos aqui ao processo de entrada e saída do ar dos pulmões para troca de gases, atendo-nos à importância das fases de inspiração e expiração, na aplicação dos golpes de KARATE. A execução do golpe é precedida pela inspiração normal. No instante do impacto realiza-se uma expiração forçada buscando a energização do tanden. A expiração forçada ocorre pela forte contração dos músculos do abdômen e tórax (interceptais internos) e coincide com o momento em que todo corpo deve estar cooperando para potencializar ao máximo o kime, aumentando a estabilidade das articulações e equilíbrio corporal na aplicação do golpe.

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2.6. KARATE SHOTOKAN – TÉCNICAS BÁSICAS

Fig. 11 – Posições do Karate Shotokan

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Através das técnicas básicas ou fundamentos, inicia-se o estudo do Karate. São movimentos de fácil aprendizado que devemos aperfeiçoar ao longo de vários anos de treinamento vigoroso e constante, a fim de alcançar maior eficiência. A forma correta de execução das técnicas proporciona melhor estabilidade articular para suportar o contra-impacto decorrente da aplicação das mesmas (tsuki e keri principalmente), aumentando o equilíbrio e possibilitando a rápida troca de posição do centro de gravidade. O que facilita a passagem de um movimento para outro em grande velocidade. Uma boa base favorece o trabalho harmonioso de todo o corpo para a ampliação da potência dos golpes. Um ataque ou defesa forte é conseguido somente pela execução de bases corretas. Eles dependem de equilíbrio, liberdade para o giro do quadril, velocidade e força, que são necessários à realização do movimento. Eles dependem também da cooperação dos músculos agonistas e antagonistas (coordenação da contração/descontração muscular) para alcançar uma forma firme e estável. Cada base tem um objetivo e deve ser treinada corretamente. A descaracterização da base para torná-la mais confortável, reduz ou elimina a eficiência das técnicas de ataque ou defesa e desacelera ou estagna o progresso do praticante. Bases mais utilizadas: SHIZEN-TAI - Posição natural. Pernas estendidas, corpo ereto e relaxado, uti-lizando-se o mínimo de gasto de energia para mantê-lo nesta posição. Pode-se passar facilmente a posição de ataque ou defesa. Engloba diversas formas diferenciadas pela disposição dos pés. Renoji-dachi- pés em L, calcanhares alinhados com distancia de aproximadamente um pé entre eles. Heiko-dachi - pés paralelos, alinhados, mantendo a distancia da largura do quadril para as mulheres, ou do ombro para os homens. Heisoku-dachi - pés unidos, calcanhares e pontas dos pés tocam-se ligeiramente. Musubi-dachi - pés abduzidos, os calcanhares se tocam. ZENKUTSU-DACHI - Posição avançada. Muito eficiente para trabalhar a força para frente nos ataques. É também utilizada nas defesas. - Os pés afastam-se no plano sagital em aproximadamente 80cm e lateralmente na largura do quadril, com toda a planta no chão. A ponta do pé da frente dirige-se para frente ou ligeiramente para o interi-or, enquanto o pé de trás dirige-se para frente o máximo possível. - O joelho da perna da frente deve estar flexionado e o da perna de trás estendido. Ambos encontram-se contraídos para fora. Traçando uma linha perpendicular do joelho ao chão, esta deve situar-se ao lado da base do hálux (dedão). - 60% do peso do corpo são sustentados pela perna da frente, os 40% restantes, pela perna de trás. - 0 tronco permanece perpendicular ao chão e for-tenente assentado sobre o quadril em retroversão (quadril encaixado). KOKUTSU-DACHI - Posição recuada. É uma postura muito forte, sendo bastante eficaz

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para defender ou esquivar para trás ou obliquamente e trocar rapidamente para zenkutsu-dachi no contra-ataque. - Os pés encontraram-se alinhados e afastados no plano sagital em aproximadamente 80cm. 0 pé de trás, apontado para o lado, suporta sobre toda planta 70% do peso do corpo, enquanto o pé da frente, apontado para frente, suporta os 30% restantes. Ambos, formam aproximadamente um ângulo de 90 graus entre si. - O joelho da perna de trás dobra-se para o lado e contrai-se fortemente para fora. Uma linha perpendicular ao chão, deve passar pelo meio do joelho e cair ao lado da base do hálux. O joelho da perna da frente acha-se ligeiramente flexionado e apontado para adiante. - O quadril encaixado assenta o tronco perpendicular ao chão. KIBA-DACHI - Posição de cavaleiro. É uma postura muito forte para a aplicação de golpes para os lados. Seu nome é devido à semelhança com a posição de cavalgar. - Os pés se afastam no plano frontal em aproximadamente 80 cm, mantendo-se alinhados e paralelos. Aderem fortemente ao chão com toda planta. - Os joelhos dobrados para frente com contração para fora, de forma que a linha perpendicular caia ao lado da base do hálux. - O peso do corpo divide-se igualmente entre as duas pernas. - A retroversão do quadril é importante na manutenção do equilíbrio. O tronco deve manter-se perpendicular ao chão.

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TSUKI - Ataque direto - soco:

Fig. 12 – Demonstração do Tsuki

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Fig. 13 – Golpes contínuos

São golpes muito aplicados, de grande eficiência, que podem derrubar o oponente com um só impacto. Realiza-se estendendo o cotovelo, flexionando o ombro e girando o antebraço 180 graus para o interior, aplicando a força com as segunda e terceira articulações metacarpofalângicas (seiken). Partindo da altura do quadril, a mão percorre trajetória retilínea até atingir o objetivo. O antebraço, cotovelo e braço passam rente ao corpo. A extensão da perna de trás, empurrando o solo com o pé transforma o impulso em força horizontal que é transmitida ao quadril, se conecta aos ombros e chega ao braço. O poder gerado pela rotação do quadril, utilizando a coluna vertebral como eixo de giro, une a ele os ombros em seu impulso centrífugo, aumentando a força e a velocidade do ataque, a qual, por sua vez, se multiplica pela extensão súbita do braço de ataque e simultânea recolhida do braço oposto. Assim, impulso e giro do quadril, extensão do braço de ataque e recolhimento do braço oposto, cooperam para que se alcance a força resultante da velocidade. Ao executar um tsuki o corpo deve estar relaxado, contraindo somente a musculatura necessária à obtenção de uma força veloz. Apenas no momento do impacto, todo corpo coopera para concentrar a força ao máximo. GYAKU-ZUKI - Soco inverso. Braço contrário ao pé da frente. OI-ZUKI - Soco andando. Braço correspondente ao pé que deslocou à frente. MOROTE-ZUKI - Socos simultâneos. Braços paralelos horizontais ou verticalmente. DAN-ZUKI - Socos consecutivos com o mesmo punho. KERI - Ataque de perna - pontapés O pontapé é um dos fundamentos do Karate. Quando se aprende sua execução corretamente, consegue-se obter uma potência muito superior ao tsuki. Ao realizar um ataque sustenta-se o peso do corpo sobre um pé de apoio, que deve

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assentar-se firmemente no solo com toda a planta, mantendo tornozelo e joelho ligeiramente flexionados e contraídos, a fim de suportar o choque originado pelo impacto. O joelho da perna de ataque é elevado flexionado, diminuindo o braço de alavanca, para alcançar, quando da sua extensão, maior velocidade. É importante ter em mente que não é unicamente o pé que golpeia, mas que se deve projetar o quadril, tomando todo o corpo o sentido do ataque. Também deve ter-se em conta que após a finalização do pontapé, o pé deve ser recolhido rapidamente para que não seja agarrado, e para voltar a uma posição de maior equilíbrio, a fim de executar a técnica seguinte. A força do ataque depende da longitude do arco da execução, da velocidade com que se percorre este arco (flexão ou extensão da coxofemoral + extensão do joelho) e da contração muscular no momento do impacto. MAE-GERI - Pontapé frontal. O joelho da perna de ataque passa rente ao joelho da perna de apoio e o pé de ataque rente e acima deste. O quadril desloca-se horizontalmente duran-te todo o movimento, atingindo-se o objetivo com a base inferior dos dedos. YOKO-GERI - Pontapé lateral. Eleva-se o joelho da perna de ataque passando com o pé rente a perna de apoio, apontado para frente ou para a lateral do corpo. A ponta do pé virada para frente e o bordo externo para baixo e paralelo ao chão, descreve urna trajetória em arco. Atinge-se o objetivo com o bordo externo do pé. MAWASHI-GERI - Pontapé circular. Eleva-se o joelho lateralmente, bem flexionado, colocando a perna paralela ao chão, com o pé apontando para o lado e a planta virada para trás. A coxa descreve um círculo amplo. O quadril deve acompanhá-la nessa trajetória, até a finalização do movimento com a extensão do joelho. 0 ponto para impacto pode ser à base dos dedos ou o dorso do pé. UKE WAZA - Técnicas de defesa A defesa é um dos fundamentos mais importantes. Uma falha na sua execução pode ser fatal. Deve-se identificar corretamente a direção do ataque para realizar uma defesa adequada a ele. O recolhimento do braço contrário, o giro do quadril e a rotação do antebraço aumentam a potência da defesa, desviando-o mais facilmente. Para aumentar a resistência da defesa, deve-se concentrar a força no músculo grande dorsal, colocando o cotovelo próximo ao corpo e na altura da orelha (age-uke) e aproximando o cotovelo até um punho (10cm) de distância do corpo (chudan-uchi-uke, soto uke, shuto-uke). Se a defesa ultrapassa os limites do corpo, não se pode concentrar a força no grande dorsal, nem realizar um rápido contra-ataque. As técnicas de defesa devem ser finalizadas em uma posição adequada, aumentando sua eficiência e facilitando a execução da técnica seguinte. AGE UKE - Defesa alta. O antebraço desloca-se de baixo para cima descrevendo um arco na frente do corpo. A mão pára a 10cm da testa com a palma girada para frente, e o antebraço em posição oblíqua. No momento do impacto com o golpe do adversário, deve-se apertar fortemente a mão, contraindo os músculos do antebraço em cooperação com todo o corpo.

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SOTO-UKE - Defesa média para dentro. Eleva-se a mão até a altura da orelha, colocando o braço paralelo ao chão e ligeiramente para trás. Deste ponto inicia-se uma rotação descendente até atingir o cotovelo, antebraço e punho, verticalizados no plano sagital, a linha mediana do corpo. Antebraço e braço formam um ângulo reto. Finaliza-se com a palma da mão girada para o peito, na altura do ombro. UCHI-UKE - Defesa média para fora. O antebraço que defende traça um arco desde a axila do braço oposto. Desloca-se o punho para o exterior, baixando o cotovelo até que este se aproxime das costelas. O antebraço gira, colocando a palma da mão virada para o peito, na altura do ombro. GEDAN-BARAI - Defesa baixa. Eleva-se o braço para colocar o punho junto à orelha do lado oposto, com a palma da mão virada para ela. Deste ponto baixa-se e estende-se o cotovelo até que o punho esteja aproximadamente 15cm acima do joelho. É uma defesa eficiente contra os ataques ao abdome, golpeando o golpe do adversário. Finaliza-se com o cotovelo totalmente estendido e a palma da mão virada para trás.

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3. JUDÔ 3.1 A origem: da China ao Jiu-jitsu

O início do desenvolvimento histórico do combate corporal se perde na noite dos tempos. A luta, inclusive por necessidade e sobrevivência, nasceu com o homem e, a esse respeito, os documentos remontam os tempos mitológicos. Um manuscrito muito antigo, o Takanogawi, relata que os deuses Kashima e Kadori mantinham poderes sobre os seus súditos graças às suas habilidades de ataque e defesa. A Crônica Antiga do Japão (Nihon Shoki), escrita por ordem imperial no ano de 720 de nossa era, menciona a existência de certos golpes de habilidade e destreza, não apenas utilizados nos combates corporais mas também, como complemento da força física, espiritual e mental, relatando uma história mitológica na qual um dos competidores, agarrando o adversário pela mão, o joga ao solo, como se lançasse uma folha. Segundo alguns historiadores japoneses, o mais antigo relato de um combate corporal ocorreu em 230 aC, na presença do imperador Suinin. Taimano Kehaya, um lutador insolente foi rapidamente nocauteado por um terrível cultor do combate sem armas, Nomino Sukune. Naquele tempo não havia regras e combate padronizadas. As lutas poderiam desenvolver-se até a morte de um dos competidores. As técnicas de ataque e defesa utilizadas guardam muita semelhança com os golpes do sumô e do antigo ju-jitsu. 3.2. A chegada do Judô no Brasil - Conde Koma

Em 1904, Koma ao lado de Sanshiro Satake, saiu do Japão. Seguiram então para os Estados Unidos, México, Cuba, Honduras, Costa Rica, Panamá, Colômbia, Equador, Peru (onde conheceram Laku, mestre em ju-jitsu que dava aulas para a polícia peruana), Chile, onde mantiveram contato com outro lutador, (Okura), Argentina (foram apresentados a Shimitsu) e Uruguai. Ao lado da troupe que a eles se juntou nos países sul-americanos, Koma exibiu-se pela primeira vez no Brasil em Porto Alegre. Seguiram depois para o Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, São Luís, Belém (em outubro de 1915) e finalmente Manaus, no dia 18 de dezembro do mesmo ano. A passagem pelas cidades brasileiras foi marcada apenas por rápidas apresentações. Por sua elegância e semblante sempre triste, Mitsuyo Maeda ganhou o apelido de Conde Koma durante o período que ficou no México.A primeira apresentação do grupo japonês em Manaus, intermediado pelo empresário Otávio Pires Júnior, em 20 de dezembro de 1915, aconteceu no teatro Politeama. Foram apresentadas técnicas de torções, defesas de agarrões, chaves de articulação, demonstração com armas japonesas e desafio ao público. Com o sucesso dos espetáculos, os desafios contra os membros da equipe multiplicaram.

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Entre os desafiantes, boxeadores como Adolfo Corbiniano, de Barbados, e lutadores de luta livre romana como o árabe Nagib Asef e Severino Sales. Na época Manaus vivia o "boom" da borracha e com isso as lutas eram recheadas de apostas milionárias, feitas pelos barões dos seringais. De 4 a 8 de janeiro de 1916, foi realizado o primeiro Campeonato de Ju-jitsu amazonense. O campeão geral foi Satake. Conde Koma não lutou desta vez, ficando apenas com a organização do evento. No dia seguinte (09/01/1916), o Conde, ao lado de Okura e Shimitsu, embarcou para Liverpool, na Inglaterra, onde permaneceram até 1917. Enquanto a dupla permaneceu no Reino Unido, Satake e Laku seguiram lecionando ju-jitsu japonês aos amazonenses no Atlético Rio Negro. E os mestres orientais continuaram vencendo combates a que eram desafiados. Até que em novembro de 1916, o lutador italiano Alfredi Leconti, empresariado por Gastão Gracie, então sócio no American Circus com os Irmãos Queirollo, chegou a Manaus para mais um desafio. Satake que estava adoentado cedeu seu lugar para Laku, sendo este derrotado por Leconti. Sataki, em recuperação, seria o próximo adversário do italiano, mas devido a brigas geradas por ocasião do combate entre Laku e o desafiante, o delegado Bráulio Pinto resolve proibir outras lutas na capital amazonense. 3.3. À volta ao Brasil Em 1917, de volta ao Brasil, mais especificamente em Belém, e tendo ao lado sua companheira, a inglesa May Iris Maeda, Conde Koma ingressa no American Circus onde conhece finalmente Gatão Gracie. Em novembro de 1919, o Conde retorna a Manaus, agora na condição de desafiante de seu amigo Satake. Foi então que aconteceu a única derrota de Koma em toda sua carreira. Na biografia anterior diziam que ele nunca havia sido derrotado. Então ele volta para Belém e em 1920, já com a crise da borracha, é desfeito o American Circus. Com isso, Mitsuo Maeda embarca novamente para a Inglaterra. Em 1922, regressa como agente de imigração, trabalhando pela Companhia Industrial Amazonense e começa a ensinar judô aos belenenses na Vila Bolonha. No mesmo ano, seu ex-companheiro Satake embarca para a Europa e nunca mais se tem notícias do grande mestre.Conde Koma continuou em Belém, falecendo em julho de 1941. Carlos e Hélio Gracie, filhos de Gastão seguiram atuando no ju-jitsu, modalidade que aprenderam com Koma no circo do pai. Isso, depois que a arte marcial já estava definitivamente implantada em Manaus pelos membros da troupe de Koma, principalmente Sanshiro "Barriga Preta" Satake. 3.4. A criação do Judô: Prof. Jigoro Kano funda o Kodokan

Jigoro Kano, que era pequeno e fraco por natureza, começou a praticar o ju-jitsu aos 18 anos pelo propósito de não ser dominado por sua fraqueza física. Ele aprendeu atemi-waza (técnicas de percussão), e katame-waza (técnicas de domínio) do estilo ju-jitsu Tenjin-shin-yo Ryu e nague-waza (técnicas de arremesso) do estilo de ju-jitsu Kito Ryu. Baseado nestas técnicas ele aprofundou seus conhecimentos tomando como base a força e a racionalidade. Além disso, criou novas técnicas para o treinamento de

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esportes competitivos mas também pelo cultivo do caráter.Adicionando novos aspectos ao seu conhecimento do tradicional ju-jitsu o professor Kano fundou o Instituto Kodokan,com a educação física, a competição e o treinamento moral como seus objetivos.Com o estabelecimento do dojô Kodokan, em 1882, e com 9 alunos, Jigoro Kano começou seus ensinamentos do judô. O texto do estudioso japonês Yoshizo Matsumoto mostra os conceitos iniciais deste esporte e os seus objetivos.

O prof. Kano estabeleceu o Instituto Kodokan em 1882, época em que o dojô (local de treino) tinha apenas 12 tatamis e o número de alunos era nove. O ju-jitsu foi substituído pelo judô pela razão de que enquanto "jitsu" significa técnica o "do" significa caminho, este último podendo ter dois significados: o de um caminho em que você anda e passa e o de uma maneira de viver. Como meio de ensino, no Kodokan, Jigoro Kano adotou o randori, kata e métodos catequéticos, adicionando educação física ao treinamento intelectual e à cultura moral. A harmonia desses três aspectos de educação constituem a educação ideal pela qual o judô será ensinado. Ao redor do ano 20 da era Meiji (1887), o judô tinha dominado o ju-jitsu, que foi varrido de vários países. O princípio do "JU", do judô, passou a significar o mesmo que na frase "gentileza é mais importante que obstinação".

Assim a teoria do "JU", que é gentileza, suavidade, pretende utilizar a força do oponente sem agir contra ela, podendo ser aplicada não somente na competição mas também aos aspectos humanos.

O prof. Kano disse em 1910 que a teoria da cultivação da energia tratava de adotar um método para melhorar a habilidade mental e física pelo armazenamento de ambas quanto for possível. Ele disse que o seu bom uso é cultivar e usar a energia humana para o bem e que a teoria pode ser adquirí-la através do treinamento de judô, podendo ainda ser ampliada para todos os aspectos da vida. Antes de se expandir, o conceito de judô do professor veio a formar dois grandes guias: o melhor uso da energia individual e o bem estar mútuo. Com estes princípios o judô expandiu-se no próprio Japão e no exterior. Com esta base, o prof. Kano deixou como ensinamento que através do treinamento a pessoa deve se disciplinar, cultivar o seu corpo e espírito através das técnicas de ataque e defesa, fazendo engrandecer a essência do caminho. O melhor uso da energia e o bem estar mútuo são uma versão resumida dos ensinamentos de Jigoro Kano, que definiu como objetivo último do judô construir a perfeição de uma pessoa e beneficiar o mundo.

4. JIU JITSU

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4.1. Introdução

O jiu-jitsu é a arte marcial mais antiga, perfeita, completa e eficiente de Defesa Pessoal. Sua origem apesar de contraditória é atribuída à China, depois Índia, Japão e Brasil; onde se desenvolveu, aprimorou e tornou-se o centro mundial desta preciosa arte.

O jiu-jitsu desportivo é a parte competitiva, onde os atletas exibirão suas habilidades técnicas, físicas e psicológicas com o objetivo de alcançar a vitória sobre seus adversários.

Os golpes válidos são aqueles que procuram neutralizar, imobilizar, estrangular, pressionar, torcer articulações, como também lançar seu adversário ao solo através de quedas enquanto os golpes não válidos, considerados desleais, como: morder, puxar cabelo, enfiar os dedos nos olhos, atingir os órgãos genitais, torcer dedos ou qualquer outro processo tendente a traumatizar com o uso das mãos, cotovelos, cabeça, joelhos e pés.

As competições são o marco do esporte, é o momento mais importante para os atletas, técnicos-professores e para todos aqueles que estão envolvidos direta ou indiretamente, não cabendo pôr tanto, a vitória a qualquer custo, ao contrário o fair play deve ser o principal norteador. O comportamento ético é o que dará ao esporte credibilidade e segurança, fatores indispensáveis ao nosso esporte, pois, pôr isso só, já conquistamos o espaço na sociedade, em seus aspectos de eficiência e de eficácia, tornando-o o esporte espetáculo.

Assim sendo, para se almejar a participar do maior espetáculo do mundo, que é as Olimpíadas, devemos estar imbuídos deste objetivo, tornando o jiu-jitsu desportivo a nossa meta.

O regulamento é a carta magna do esporte, nesta consta os direitos e deveres, de todos aqueles envolvidos, como atletas, técnicos-professores, dirigentes, e até mesmo o público assistente. Pois teremos a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir este regulamento, pois, só assim, poderemos conquistar os nossos objetivos.

4.2. Área de Competição

É toda a área que componha o palco da competição, que poderá ser composta

de 2 ou mais áreas de lutas, com todo pessoal de apoio: direção dos trabalhos, arbitragem, cronometristas, fiscais, segurança e um departamento disciplinar convocado pela diretoria que atuará no julgamento no decorrer do evento, com poderes de punir qualquer conduta anti-esportista ou ética de técnicos-professores, atletas,

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árbitros e de qualquer assistente que se mantenha no recinto da competição que esteja atrapalhando o bom andamento do evento em questão. 4.3. Área de Lutas

Cada área (ringue) será composta de no mínimo 32 tatames, perfazendo um total no mínimo de 51,84 m2, assim dividida: Área interna, (Área de Combate),composta de no mínimo 18 tatames de cor verde; Área de Segurança, composta de no mínimo 14 tatames de cor amarelo, vermelho ou qualquer cor diferente do verde.

4.4. A História de Jiu-Jitsu...

A origem do Jiu-Jitsu se perde na noite dos tempos, acredita-se que no primeiro ataque ou defesa de um ser humano - estaria caracterizado - “A luta em si”. Evidentemente o instinto de ataque e defesa está latente no homem. A coordenação desta agressividade, sua estilização e o respeito às “Leis da Natureza”, resultam na criação das Artes Marciais que é uma ciência e estudo fundamentado na eficiência destes. Dentre as Artes Marciais, o Jiu-Jitsu é uma das mais sutis, considerando que nesta, o estudo da anatomia humana e seus pontos frágeis, o uso de alavancas, o princípio da física e flexibilidade harmonizados com a mente, resultam numa das mais requintadas artes. O Jiu-Jitsu tem como princípio básico utilizar o mínimo de força. Para um bom resultado, aproveita-se a força e fraqueza adversária.

4.4.1. ...na Índia

Segundo os antigos e o conhecimento verbal, esta arte (Jiu-Jitsu), teria se iniciado na antiga Índia. Em especial pelos monges. Segundo os princípios religiosos os monges não podiam usar de agressividade e sim desvencilhar de um súbito ataque ou mesmo imobilizar o assaltante em suas peregrinações pelo mundo afora.

4.4.2. ...na China

A China pôr sua vez caracterizou o Jiu-Jitsu como prática bélica, pois esta civilização desenvolveu um grande número de estilos de artes marciais. O Jiu-Jitsu era praticado com um kimono curto de mãos livres, além da luta corporal, tinha grande importância no desarmamento. Sua prática chega no auge na época dos “Reinos Combatentes” e na unificação da China por “ Chin Shih Huang Ti".

4.4.3. ...no Japão

O Jiu-Jitsu chega ao Japão no séc.II depois de Cristo, advindo da China. Muitas foram as correntes que transmitiram esta arte ao país do " Sol Nascente", inclusive, existem inúmeras lendas nipônicas relacionadas à criação e artes marciais. A história registrada em 1.600, afirma que um monge chinês "Chen Gen Pin" teria ensinado três Samurais, a cada qual ensinara uma especialização a saber: Atemi, torções e

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projeções. E estes difundidos a todo o japão, ou mesmo se fundindo com outras escolas de jiu-jitsu. No Japão Feudal se utilizam inúmeros nomes relacionados com o Jiu-Jitsu, alguns se divergiam em fundamentos técnicos outros eram extremamente semelhantes; Aikijitsu, Tai Jitsu, Yawara, Kempô, e mesmo o termo Jiu-Jitsu se dividia entre estilos como: Kito ryu, Shito Ryu, Tejin e outros. É nesta época, onde a forte divisão da calsse social japonesa enaltecia a nobreza dos Samurais que o Jiu-Jitsu se desenvolve a fundo. Os pequenos nipônicos aperfeiçoam a arte de lutar, onde poderiam decidir a vida ou a morte de um guerreiro em disputa. Era então o Jiu-Jitsu, uma prática obrigatória aos jovens que futuramente seriam "Samurais" ao lado da esgrima, literatura, pintura, cavalaria e outros.

4.5. O Início no Brasil...

Carlos Gracie, que fora treinado por Mitsuo Maeda passa pôr Minas Gerais e em Belo Horizonte ministra algumas aulas num hotel da região. Em seguida vem para São Paulo e no bairro das Perdizes monta uma academia. Sem o sucesso desejado se instala no Rio de Janeiro e na Capital começa a ensinar, e também a seus irmãos: George, Gastão, Hélio e Oswaldo. Hélio Gracie passa a ser o grande nome e difusor do Jiu-Jitsu. Já instalado no Rio, forma inúmeros discipulos. George Gracie foi um desbravador, viajou por todo o Brasil, no entanto, estimulou muito o Jiu-Jitsu em São Paulo, tendo como alunos: Otávio de Almeida, Nahum Rabay, Candoca, Osvaldo Carnivalle , Romeu Bertho e muitos outros. Alguns continuam na ativa. No Rio de Janeiro mais especificadamente na zona oeste, o mestre “Fada” foi notoriamente um dos baluartes do Jiu-Jitsu, tendo grande número de formados. Enquanto isso, na mesma época de Mitsuo Maeda, outros japoneses continuaram difundindo o Jiu-Jitsu. “Geo Omori” por exemplo, aceitava desafios no picadeiro do circo “queirolhos” e foi ele também quem fundou a primeira Academia do Brasil, em São Paulo no Frontão do Braz na Rua: Rangel Pestana , no ano de 1925 ( Segundo o historiador Inezil Penna). Os irmãos Ono vieram ao Brasil na década de 30 advindos de um renomado mestre de Jiu-Jitsu do Japão. Aqui no Brasil formaram muitos alunos mas acabaram por adotar a prática do Judô. Takeo Yuano muito conceituado por sua exímia técnica, viajou por todo o Brasil e ensinou Jiu-Jitsu em cidades como São Paulo e principalmente em minas Gerais, onde lecionou e até estimulou a criação da Federação local.

4.5.1. ...no Rio de Janeiro

Conhecida como a “Meca” do Jiu-Jitsu, por ter concentrado praticamente toda a Família Gracie.Os grandes nomes da família Gracie depois de Hélio foram: Carlson e Rolls Gracie. Atualmente Rickson Gracie é reconhecido como o melhor lutador do mundo! A primeira organização do Brasil, foi a fundação da Federação Carioca, formada por Hélio e continuada por Robson Gracie.Atualmente existe a Confederação Brasileira e Mundial, comandadas por Carlos Gracie Júnior.

Existem inúmeros professores que não pertecem a família Gracie e executam extraordinário trabalho como, Equipe Nova União, Alliance, Dojô, Bustamante na Zona Oeste e Norte apresentam inúmeras acadêmias e muitos outras em todo o Estado.

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4.5.2. ...em São Paulo

O Mestre Octávio, impulsiona o desenvolvimento local do Esporte, cria junto à Federação Paulista de Pugilismo, o Departamento de Jiu-Jitsu. Nesta época até os anos “80” se destacavam os seguintes Professores: Pedro Hemetério, Oswaldo Carnivalle, Gastão Gracie, Nahum Rabay, Orlando Saraiva, Romeu Bertho e Candoca. Com o falecimento do Mestre Octávio em 1983, o Jiu-Jitsu paulista entra em franca decadência. Em 1989 o Professor Moisés Muradi retoma os eventos em nível Estadual, dinamizando novamente o esporte, e em dedicação ao antigo mestre Octávio e em sua homenagem, Moisés cria em 1991 a Federação Paulista de Jiu-Jitsu que alcança grande sucesso, sendo considerada já na época como a Segunda Potência depois do Rio de Janeiro. Em 1993 acaba o mandato de Muradi, época em que o Jiu-Jitsu se tornou alvo da mídia e o lutador Royce Gracie vencia um dos primeiros “Ultimate Fight”. Com a propaganda explícita, muitos praticantes faixas pretas que nunca se preocuparam em dar aula, começaram , devido ao “Pool” da Publicidade iniciada por Royce, entre as inúmeras equipes se destacam a Lótus / Equilíbrio que foi consecutivamente Penta-Campeã Paulista(93,94,95,96 e 97) a Cia. Athlética, Alliance, Saraiva, Gracie, e outras... Em 1997 tendo propósitos e ideologia em prol do esporte, o Professor Moisés Muradi juntamente com outros professores como: - Orlando Saraiva, Waldomiro Perez Jr.,Raul Vieira e Souza, Maximiliano Trombini, Rick Kowarick, Givanildo Santana, Eduardo Leitão, Franco Penteado,Gilberto Cardoso, Edmilson Alves, Nilson Liboni, Paulo Theodoro e outros,decidiu fundar a FESP (Federação do Estado de São Paulo de Brazilian Jiu-Jitsu).

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5. KUNG FU 5.1. Definição

O termo KUNG FU é aplicado as artes marciais chinesas a séculos e significa "trabalho duro". Essa descrição se encaixa nos rigores envolvidos no aprendizado e prática das artes marciais chinesas. De um estudante de Kung Fu se espera a prática diligente. Esta deve envolver fé, resistência, e muitas cansativas e, às vezes, dolorosas horas de treinamento. Combinando isso a altos padrões de moral, caráter e disciplina mental, dão ao estudante um caminho muito árduo a seguir. Existem outros termos nas artes marciais chinesas: "ch’uan shu"(primeira arte), "wu shu"(arte marcial), "kuo shu"(arte nacional). Porém, nenhum desses termos conseguiu ser tão popularizado e conhecido como o "Kung Fu".

O Kung Fu não é simplesmente conhecido como uma forma saudável de exercícios físicos e sistema de defesa pessoal altamente eficientes mas, também mostra ser um benefício mental e espiritual ao praticante. O corpo de um indivíduo não pode agir sem a interferência da mente, e a mente deve ser orientada a acalmar o espírito. A prática do verdadeiro Kung Fu exige que os ensinamentos influenciem no dia-a-dia (modo de vida integral), em cada aspecto da vida do praticante. O Kung Fu une mente, espírito e corpo. Habilita ações harmoniosas entre os elementos da vida de um ser humano.

A filosofia reside na importância entre a harmonia e a ordem natural das coisas. A filosofia talvez seja melhor simbolizada pelo antigo símbolo taoísta ‘yin e yang’. Nenhum lado do símbolo é maior em tamanho e muito menos em importância do que o outro. Os dois lados devem estar em perfeito equilíbrio ou o todo é afetado. Isto se reflete também no praticante de Kung Fu, deve-se somente atingir o grau de ‘mestre’, quando todos os elementos da vida de uma pessoa estiverem em equilíbrio.

A identidade do Kung Fu é complexa. Sua origem data de aproximadamente 3.500 anos, porém alguns estudiosos afirmam que o Kung Fu data do séc. VI. Acima de 1000 estilos são conhecidos e reconhecidos de onde mais de 300 são catalogados. Surgiram do Kung Fu, o Karatê, Tae Kwon Do, Esgrima, Aikidô e muitas outras. Estas novas formas de luta foram criadas a partir de uma vertente do Kung Fu ou de um determinado estilo ou técnica, de onde, buscou-se trabalhar, conservar, e até mesmo adaptar características de um determinado conjunto de movimentos, estilos, ou todo um conjunto de técnicas e ou formas de defesa ou ataque dando origem a uma nova luta. O Jiu-Jitsu, por exemplo, se originou da técnica Shaolin C’hin Na. O Karatê teve origem com mais ênfase, no estilo do Tigre.

Esta arte requer de seu adepto um esforço extremo de disciplina no que se refere a comportamento físico e mental. Isto é apenas um item genérico de muitos outros em que se pode dissertar a respeito do Kung Fu que é muito mais do que uma luta.

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Para se tornar adepto, é importante que se entenda Tao, "o caminho", e o budismo, a essência da filosofia e a vida dos que deram origem a estas artes.O poder do adepto do Kung Fu repousa na habilidade de se defender em situações ímpares e impossíveis.

Após anos de prática dirigida, esses monges se tornaram mais do que simplesmente adeptos das formas de sobrevivência, porém, a aceitação e a escolha para se tornar um membro, era difícil.

Como jovens meninos, a aplicação para se tornar um membro do selecionado grupo de alunos, era composta de tarefas fáceis e difíceis do trabalho relacionado a manutenção dos Templos. Sua sinceridade e habilidade em manter os segredos da ordem Shaolin eram severamente testadas por anos a fio antes de se divulgar os mais importantes e preciosos segredos. Uma vez aceitos pela ordem superior do Templo, sua entrada no Kung Fu era considerada como uma porta de entrada para um novo mundo. Ele trabalharia por longas horas treinando o corpo e a mente para trabalhos em equipe e em esforços coordenados. Ele aprenderia os princípios do combate, o Caminho de Tao, e juntos, iriam assegurar seu caminho da Paz.

Seriam ensinadas inicialmente as primeiras técnicas básicas utilizando os punhos (socos), formas pré-definidas que simulavam múltiplos ataques. Estas formas se tornavam mais complexas de acordo com o avanço do aprendiz, que em paralelo, estudava Taoismo.

Completado o estágio de estudante, ele se tornava um discípulo. Iria então, estudar os segredos mais profundos das artes e filosofia. Armas de todos os tipos iriam se tornar familiares a ele, assim como armas de ataque e defesa. Ele iria aprimorar seus movimentos para harmonizar com sua respiração. Sua mente iria esvaziar nas profundezas da meditação e iria melhorar sua energia Ch’i (conceito de magnitude e plenitude mental.). Somente canalizando essa energia, pode uma pessoa de pequeno porte físico, aprender a quebrar tijolos com suas mãos nuas, ou aprender a sentir os movimentos de seu inimigo no meio da escuridão. Movimentos essenciais no Kung Fu são ações comandadas por Ch’i. Compare os movimentos de um adepto de Karatê e um adepto de Kung Fu. As diferenças são obvias e notórias. O Karateca se move deliberadamente, forçosamente, cada movimento é único e distinto do outro. Ele soca linearmente e chuta em linha reta, mantém seu corpo rígido como o ferro. O Kung Fu, por sua vez, é suave nos movimentos, permitindo vários movimentos em um único que segue uma seqüência lógica e harmoniosa. Em suma, Kung Fu é fluído.

Ch’i corretamente coordenado permite fluidez. Considere uma simples gota d’água, sozinha ela é inofensiva, gentil e sem força, porém, o que no mundo pode conter a força de um dilúvio, o conceito de Ch’i é o mesmo. Tocando as energias universais, um aumenta a origem das habilidades de outro. Como pode alguém ferir um adepto de Kung Fu, quando é incapaz de atingir um corpo formado de água.

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Após examinar rapidamente a estrutura do Kung Fu, pode surgir uma dúvida de que seu conceito principal e verdadeiramente um conceito de uma arte refinada. O Kung Fu necessita de uma tremenda "bagagem" de informações e disciplinas que deixariam desbancados nossos estudantes liberais de artes. Os antigos Shaolin eram desenvolvidos nos seguintes tópicos, entre outros: Medicina, música, artes, fabricação de armas, religiões, criação de animais, cartografia, línguas, história, e é claro, Kung Fu.

O adepto deveria ser mais do que uma simples máquina de lutar. Ele deveria saber como, onde e porque entrar numa luta e, até mesmo, de maior importância, a como evitar o conflito. Somente com uma habilidade imbatível de um monge ele estava seguro o suficiente para não sentir necessário a luta.

Havia um sistema de graduação utilizado: iniciante, discípulo e mestre. O iniciante (novato ou nível de estudante), era o servente. Somente ensinamentos básicos e rudimentares do Kung Fu chegavam ao seu conhecimento.

Discípulos, no entanto, eram considerados seminaristas (monges iniciantes), tendo no entanto que progredir ainda à condição de mestres. A graduação de Mestre somente era atingida por muito poucos. Normalmente era atingida gradualmente com o avanço da idade.

O primeiro obstáculo que um discípulo iniciante deveria passar para ser aceito na comunidade era o teste de graduação. Uma série de testes orais e exames práticos, que culminavam no teste do túnel. O candidato era conduzido a um corredor que possuía comunicação com o exterior. Neste corredor, existiam armadilhas, todas letais e imprevisíveis. O Discípulo deveria vencer todos os obstáculos de onde não havia como retroceder, não havia saída, a não ser o sucesso. Muitos nunca começaram esta viagem; poucos a terminaram. O adepto que obtivesse o sucesso através das armadilhas mortais, se depararia com um último dos obstáculos; uma grande urna de metal em forma de jarro, repleta de partículas de ferro, havia um emblema, diferentes para cada templo, normalmente um Dragão e um Tigre. O jarro deveria ser movido de um pilar baixo, de um lado para outro, usando-se os antebraços nus, desbloqueando assim a saída. Isto tendo sido feito, o discípulo, estava então marcado para sempre com os emblemas do Sacerdote Sil Lum. (Shaolin).

Muitos discípulos deixariam os Templos onde seriam encaminhados através do país, como médicos, oradores nas leis e religiosidade e guardiões dos pobres. Alguns retornariam aos templos tendo a incumbência de preparar a próxima geração de discípulos. O ingresso acontecia em torno dos cinco e sete anos de idade. A graduação acontecia ao atingir a idade de pelo menos 22 anos e cada passo fazia parte de uma vida longa e dura. A variação de estilos nas artes marciais chinesas existe graças a vários fatores. Em primeiro lugar, alguns monges, não eram satisfeitos com uma "única" verdade, e criaram melhorias ou variações nos antigos padrões. Algumas artes tiveram origem em exercícios provenientes da Índia, enquanto outras, foram influenciadas por alguns aspectos da luta livre Grega, portanto, deixando a desejar.

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Alguns, após deixarem os Templos, ensinaram a arte a pessoas comuns acrescentando novos movimentos criados a partir de sua própria iniciativa ou até mesmo melhorias em algum estilo de sua preferência.

Pessoas comuns, ensinadas pelos monges, adaptariam esses ensinamentos à sua vida diária. Hoje, existem poucos mestres ou gerações de mestres que tiveram a rara honra e oportunidade única de aprender com um Sacerdote Shaolin ou discípulos diretos.

A harmonia que deve existir num praticante de Kung Fu, também deve ter origem na ‘escola’ de Kung Fu, da escola para o aluno e do aluno para a sociedade. Na ‘escola’ de Kung Fu é ensinado ao aluno; o respeito ao próximo, respeito aos instrutores, e a sociedade em que vivem. Em todos os estudantes, repousa a responsabilidade no cuidado com o próximo e com a ‘escola ‘ de Kung Fu e dessa forma age como uma família. De fato, na tradição chinesa, os membros de uma ‘‘escola’ são denominados ‘irmãos’ e ‘irmãs’. O ‘mestre’ visto neste contexto, é o ‘pai’ da ‘escola’ e recebe mais respeito do que um professor.

O ‘mestre’ de uma ‘escola’ de Kung Fu é conhecido pelos estudantes como "si-fu". O "si-fu" é uma pessoa altamente versátil que possui além da defesa pessoal, conhecimento em medicina, filosofia, cultura chinesa, literatura e etc. O si-fu não é somente um professor de artes marciais, é também responsável em guiar e agir como o exemplo para os estudantes. Uma frase muito comum no Kung Fu é que "o estudante começa numa sala escura enquanto o mestre está sob a luz do sol". Esta frase, demonstra quão importante é o si-fu no desenvolvimento de não somente as habilidades dos estudantes, mas, também a atitude e a filosofia. 5.2. Por que Praticar Kung Fu? (a) Proporciona um ótimo condicionamento físico, saúde, disposição, equilíbrio, autoconfiança e auto estima que são fundamentais tanto para o sucesso pessoal quanto profissional. (b) O Kung Fu pode fazer com que você se destaque das demais pessoas pela sua postura corporal, pela sua postura mental e pela atitude diferenciada que a filosofia desta Arte Marcial Milenar proporciona a seus praticantes. (c) No futuro você ficará feliz por ter iniciado seu treinamento pelo resultado maravilhoso obtido, transformando alguns de seus sonhos em realidade e por ter atingido seus objetivos. (d) Comprometa-se com seus objetivos e nós nos comprometemos com você para garantir que o seu resultado positivo seja atingido, portanto decida com segurança agora.

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5.3. Estilos

Ying Zhao & Ying Kune (Faan Tzi Ying Chao) Ó Fei é tido como fundador do estilo, aprendeu com o Monge Chow do templo Shaolin a arte da Águia. Ó Fei aperfeiçoou o estilo Garra de Águia e, como general, treinou seu exército acumulando com isso várias vitórias em batalhas até ser injustamente acusado de traição por um conselheiro da corte chinesa, que influenciou o Imperador Sung a condená-lo a morte. Após alguns anos um monge chamado Lai Tchin reiniciou a prática da águia como é conhecida hoje, com diversas técnicas de chaves, pegadas e imobilizações. Por ser um estilo do Norte possui uma grande quantidade de chutes e saltos exigindo bastante do seu praticante. O estilo é reconhecido pelas 108 técnicas de chaves e associado a isso o treinamento específico que visa forlalecimento das mãos, braços e pernas do praticante em conjunto com as técnicas de formas (Katis) existentes no estilo. Atualmente o estilo Garra de Águia se divide em duas linhagens básicas: - A árvore do mestre Lau Fat Man (Ying Zhao Chuan). - A árvore do mestre Ng Wai Ngun (Ying Zhao Chuan).

Luo Han (Shaolin Eighteen Lohan Hands)

Mãos de Lo Han dos Dezoito Shaolins. Compreendem exercícios fundamentais de Chi Kung (Qi Gogng) que podem trazer incríveis benefícios para o praticante se praticado apenas como Chi Kong. No templo Shaolin o estilo Lo han (Lohan Hands) aplicado ao Kung Fu (Lohan Fist) forma o que poderíamos classificar como o protótipo dos diversos estilos de Kung Fu atuais treinados na China. No entanto, o Lo Han, como originalmente criado, continua sendo praticado como Chi Kung.

Estilo desenvolvido dentro do Monastério de Shao Lin, foi praticado durante muitos anos só por monges responsáveis pela proteção do

Fig. 14 – Quadro japonês

Monastério e dos templos de meditação, e por este motivo tais monges eram chamados de Guardas de Luo Han. Em homenagem aos dezoito mestres budistas, ou arhats, que dominavam técnicas de luta e as utilizavam para defender templos e monges indefesos; eram os verdadeiros defensores do Dharma.

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Tan Tui

Possui pelo menos 12 katis que são utilizados dentro de diversos outros estilos como forma de fortalecimento de membros inferiores devido a sua postura extremamente baixa e forte. Chegou a China através dos muçulmanos para as regiões de pântanos e de plantação de arroz, sendo portanto muito praticado por agricultores que, sempre ao final dos trabalhos na lavoura, treinavam durante o trajeto de volta para casa. O estilo não possui grandes acrobacias e saltos, caracteriza-se pela repetição de uma pequena seqüência de movimentos, socos, chutes e rasteiras executados para ambos os lados. Os chutes fortes e baixos são a principal característica deste estilo, e por ter sido treinado/desenvolvido em regiões de rios e pântanos daí o surge seu nome: Tan Tui (Pés na Lagoa). Xing Yi Quan (Liu He Quan) É um dos mais antigos e ortodoxos estilos internos de arte marcial chinesa (como Tai Chi e Ba Gua Zhang). Xing refere-se a forna e Yi, normalmente, a mente ou íntimo. Quan (punho) nos traz a denotação de um método de combate sem armas. Os exatos detalhes sobre as origens do Xing Yi Quan são desconhecidos. A criação desta arte é atribuída ao famoso general e grande patriota Yue Fei (1103-1141) da dinastia Sung. Figura histórica de um guerreiro, Yue Fei tem o crédito da criação de muitos estilos de Wu Shu, no entanto não existe realmente alguma evidência histórica para dar suporte ao crédito de ter criado o Xing Yi Quan. O estilo era chamado original mente de Xing Yi Liu He Quan (seis uniões, ou seis harmonias), embora alguns estudiosos ainda não estejam bem certos de que o Liu He tenha originado o Xing Yi ou se ambos estilos, embora muito semelhantes, tenham se desenvolvido separadamente... Diz-se que as hamonias referem-se às principais articulações do corpo humano: pulso, cotovelo, ombro, tornozelo, joelho e ilíaco-femural. Cai Li Fo (Choy Lee Fat) Estilo bastante conhecido por sua velocidade e potência, combina técnicas de mãos potentes (característica dos estilos do Sul) e técnicas de chutes versáteis (característica dos estilos do norte). O nome se deve a uma homenagem que Chang Heung fez ao seus mentores (Chan Yeun Wu, Lee Yau Shan e o monge Choy Fook) e a origem budista da arte. Fig. 15 – escultura símbolo

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Qi Xing Tang Lang Segundo a lenda, Tan Lang Quan foi criado por Wong Long durante a última dinastia Ming na província de Shantung. Wong Long, um lutador experiente em diferentes estilos, desafiou os monges de Shaolin diversas vezes para provar se realmente eles eram tão bons quanto a fama afirmava. Porém, nunca obteve sucesso. Após uma de suas derrotas, enquanto estava treinando numa montanha, observou a luta entre um louva-a-deus e uma cigarra. Surpreso por ver que o louva-a-deus venceu a contenda capturou-o e passou a observar seus movimentos para adaptá-los ao combate. Dessa forma surgia o estilo Louva-a-Deus, com o qual Long conseguiu finalmente vencer o monge Shaolin. Pek Siu Lum (Bei Shao Lin Men) O Shao Lin Norte foi criado a partir das técnicas desenvolvidas dentro do tão famoso Mosteiro de Shao Lin. Se você assiste a filmes de Kung-fu, certamente ouviu falar do mosteiro de Shaolin, lugar mítico que seria um templo de treinamento físico e espiritual do Extremo Oriente. Esse mosteiro ainda existe, junto a cidadezinha de Loyan (na provéncia de Helen, norte da China), ao Norte do Rio Amarelo, no mesmo lugar onde foi construído há aproximados 1.504 anos. Foi sem dúvida o núcleo originário de uma grande quantidade de estilos ainda hoje transmitidos em todo mundo - o melhor exemplo é sem dúvida o estilo chamado Shaolin do Norte (Pek Siu Lum), trazido ao Brasil pelo Grão Mestre Chan Kowk Wai nos anos 60). Suas características são ataques longos e curtos, de mãos, pés, cotovelos, rasteiras e quedas, sendo o mais completo de todos os estilos de arte marcial chinesa. Tie Sha Zhang

Conhecida como Palma de Ferro e embora seja uma técnica de grande fama em toda a China, raramente é ensinada nas escolas tradicionais de arte marcial chinesa e é difícil encontrar bom material sobre o assunto. Com muita utilização de Chi Kug, exercícios respiratórios que visam desenvolver o cultivo do Ch’i (energia vital), pode-se utilizá-lo para os mais diversos fins. Através da canalização e do controle dessa energia o praticante busca fortalecer/desenvolver não somente as mãos, como o próprio nome diz, mas também outras áreas do corpo como: cabeça, tórax, abdomen, cotovelos, braços, pernas e pés. Tornando-se, por isso, mais fortes e protegidos de um impacto e/ou lesão.

Fig. 16 – Escultura de um guerreiro

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Shuai Jiao Os primeiros registros do Shuai Jiao datam de 2697 A.C. sendo utilizado pelo Imperador contra os rebeldes Chih-Yiu e seu exército. Além de ser uma das artes marciais mais antigas, acredita-se que tenha dado origem aos estilos modernos como Judô e Jiu Jitsu pois encontramos nelas os fundamentos básico como chutes, socos, técnicas de projeção e chaves de formas muito similares. Assim como o moderno Judô ("caminho suave") o Suai Jiao já há muito tempo é baseado no princípio da alavanca e oportunismo; dispensa grande esforço físico e a técnica permite que qualquer pessoa, independente de força física, possa pratícá-lo como defesa pessoal de maneira realmente eficiente. Shuai Jiao é utilizado no treinamento de guarda costas do Imperador, academia de polícia da China e Taiwan e até mesmo pela policia do Texas - EUA. Hoje, na china, é incluído como modalidade desportiva, podendo ser o Shuai Jiao tradicional, que permite técnicas de projeção e chaves a ainda engloba técnicas de socos e chutes; e o Shuai Jiao desportivo, onde permite-se projeção e chaves apenas. O uniforme tradicional lembra um kimono, de mangas curtas. Diferente do Judô, a maioria das técnicas de chaves e projeções independem do uso deste "kimono", embora sejam sempre utilizados nos treinos e competições. 5.4. História do Kung Fu

Os primeiro relatos sobre a arte marcial chinesa remontam da dinastia Xia, que data de 2100 A.C. Sendo a China composta de 56 etnias diferentes, é natural acreditar que várias técnicas marciais foram criadas para auxiliá-las na sua sobrevivência. Os confrontos entre os diversos grupos obrigavam aos guerreiros a se aprimorarem cada vez mais com intensos treinamentos e a idealização de várias técnicas diferentes, para que assim pudessem surpreender seus adversários. Estes constantes confrontos, que se arrastaram durante toda a história da China, forçaram as artes marciais chinesas a evoluirem e se tornarem altamente eficientes. Para esta evolução também contribuíram outros fatores, tais como a incorporação da filosofia e da medicina às técnicas marciais, valorizando assim a conduta moral de seus praticantes e a preservação da saúde, tornando o Kung Fu não apenas uma técnica de luta e sim um caminho de vida. A pergunta feita foi se o "Kung Fu Chinês" é um termo que foi inserido nos vocabulários Inglês e Chinês somente recentemente, porque tem que se começar uma discussão sobre kung fu chinês com história chinesa antiga. Porém, de fato o "kung fu chinês" de hoje inclui uma combinação das artes marciais, técnicas e treinamentos e vários métodos de manutenção da saúde praticado pelas pessoas chinesas de tempos antigos até o presente. É isso que o chinês normalmente se refere a " artes marciais nacionais". De acordo com estatísticas, há mais de 100 estilos diferentes de boxe chinês. O "Armamento" inclui nove tipos de armas longas e nove pequenas, como facas, lanças, espadas, e tacos que juntos constituem o que é chamado de "Dezoito Tipos de Artes Marciais ". Cada estilo de boxe e manejo de arma do "kung fu chinês" tem suas próprias seqüências especiais e movimentos baseados em profundas teorias e técnicas. Em

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esportes como campo e trilha, esportes com bola, levantamento de peso e boxe, um atleta tem que se aposentar da atividade esportiva ao redor de seus 30 anos, devido a falhas no vigor físico. Ele freqüentemente deve ter sustentado danos que não eram de seu conhecimento o afetando sua saúde na meia-idade ou na velhice, por causa do abuso na juventude. No entanto, no kung fu chinês, é feita uma distinção entre o kung fu "externo" e o "interno". É dito que no "kung fu externo" você exercita seus tendões, ossos e pele; no kung fu interno, você treina seu espírito, seu ch'i e sua mente. Além de treinar para ter um corpo forte e membros ágeis, há também um "treinamento interno" para ajustar corpo e mente, fortalecer órgãos internos e aumentar a circulação do ch'i da pessoa ou fluxo de energia vital. Progredindo de movimento a quietude, de dureza para suavidade, o mais velho que a pessoa fique, o mais adepto se torna em kung fu. E quanto mais alto o nível alcançado em kung fu, melhor a pessoa está para manter a saúde boa e viver uma longa e ativa vida. Assim como os caracteres chineses escritos, o "Kung Fu Chinês" pode ser pictográfico. No estilo Shaolin de kung fu, por exemplo, há estilos de boxe dragão, tigre, pantera, serpente, e guindaste. O grande médico Hua To da Dinastia Oriental Han (25-220 D.C.) criou um estilo de artes marciais imitando interações entre um tigre, cervo, macaco, urso e pássaro. Tais estilos imitam as características especiais e as técnicas de ataque e defesa de diferentes animais e os incorpora em movimentos de boxe. Há também "pontuações" no boxe que, por exemplo, descreve o manejo de armas e equipamento. Estas pontuações, que empregam encantamentos com rima, ritmo e música, tornaram-se uma parte viva da moderna cultura na forma de arte de palco. Há uma variedade infinita de estilos de "kung fu chinês", mas eles podem ser grosseiramente divididos entre os estilos do norte e do sul, e os estilos internos e externos. Alguns dos estilos mais famosos inclui o Shaolin (do nome do templo em Honan onde foi desenvolvido), tai-chi-chuan ("boxe de grande limite"), Hsing-i ("formando uma idéia"), Oito Trigrams, Yung-ch'un ("canto de primavera"), Tantric, e Arhat. O "kung fu chinês" é levado a sério tanto pelo governo como pelas pessoas da República da China. Artes marciais chinesas são um assunto exigido em toda classe de educação física. A Universidade de Cultura Chinesa tem uma seção especial de artes marciais em seu departamento de educação física para treinar os professores e profissionais no campo. Há numerosas organizações de artes marciais privadas, como a Associação de Artes Marciais da República da China. Associações de artes marciais administradas por governos locais, como a do governo da província de Taiwan e dos governos dos municípios de Taipei e Kaohsiung, freqüentemente patrocinam atividades como seminários para os treinadores e árbitros, treinamentos para competições de artes marciais e competições de desempenho. Internacionalmente, a Liga lnternacional de Artes Marciais Chinesas das quais a República da China é presidente, foi fundada em 1978. Atualmente possui 23 países membros e áreas: os Estados Unidos, o Reino Unido, França, ltália, Alemanha, Suécia, Holanda, Grécia, Bélgica, Áustria, Austrália, Canadá, Coréia, Japão, Filipinas, Singapura, Malásia, Tailândia, Indonésia, Hong Kong, Arábia Saudita, Venezuela e Argentina. Muitos países estão formando seus próprios capítulos. A cada dois anos, países membros se revezam para garantir uma competição de campeonato mundial em artes marciais chinesas.

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6. CONCLUSÕES

Os filósofos orientais que criaram, ou simplesmente aprimoraram, essas técnicas, pretendiam SEMPRE utilizá-las como uma prática de esportes para a utilização de energia mental. As Artes Marciais podem ser tratadas e realizadas por qualquer pessoa que deseje enfrentar adversários, sendo em autodefesa, ou para competição. Relacionadas à boa prática de exercícios mentais e físicos, são lutas pacíficas, que visam propor a adequada diferença entre o competidor e daquele que se aproveitam do conhecimento adquirido contra os outros.

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7. BIBLIOGRAFIA Livros: Kung-fu: A história e os movimentos. Japão.

Informações em meios eletrônicos: http://www.fpk.com.br/ http://www.bushido-online.com.br/karate.htm http://www.aikidoharmonia.com.br http://www.fepai.org.br