arborizacaodeviaspublicaseautilizacaodeespecie

7
Scientia Agraria, v.8, n.1, p.47-53, 2007. 47 ARBORIZAÇÃO DE VIAS PÚBLICAS E A UTILIZAÇÃO DE ESPÉCIES EXÓTICAS: O CASO DO BAIRRO CENTRO DE PATO BRANCO/PR TREE PLANTING ON PUBLIC ROADS AND THE UTILIZATION OF EXOTIC SPECIES: THE DOWNTOWN CASE IN PATO BRANCO/PR Lenir Maristela SILVA 1 Ionete HASSE 2 Renata MOCCELIN 3 Adriane Rodrigues ZBORALSKI 4 RESUMO O objetivo deste trabalho foi identificar as espécies arbóreas que compõem a arborização viária do bairro Centro de Pato Branco (PR). As árvores foram identificadas individualmente pelo nome científico da espécie, nome vulgar, nome da rua e do logradouro mais próximo. Para a identificação das espécies foram coletadas amostras férteis que foram herborizadas. Além disso, cada espécie foi fotografada. Os dados foram coletados nos meses de maio a novembro de 2005, sendo percorridos 31,5 km em trinta e quatro ruas. Foram identificados 3191 espécimes arbóreos, compreendendo 47 espécies diferentes. A área inventariada apresenta predominância da espécie Ligustrum lucidum W. T. Aiton (62,4%), a qual não é nativa da região e está na lista das plantas invasoras no Brasil. Na seqüência aparecem Lagerstroemia indica L. (11,4%), Schinus molle L. (6,3%), Bauhinia variegata L. (3,8%), e outras (16,1%). Das espécies mais abundantes apenas uma é nativa do Brasil (Schinus molle). Enquadradas como “outras” encontram-se 43 espécies, porém, com freqüência individual menor que 2,95 %. Dessas espécies, vinte e duas são nativas do Brasil, e vinte e cinco são exóticas. Esse resultado demonstra que no bairro Centro de Pato Branco há o predomínio de uma espécie, e mais de 60% dos espécimes são exóticos. Palavras-chave: arborização urbana; espécies alienígenas invasoras; Ligustrum lucidum. ABSTRACT This objective in this work went identify the arboreal species that compound the tree planting in the downtown area of Pato Branco-PR and a critical discussion about the utilization of exotic species. The trees with were identified individually by the use of a spread sheet to write down the cientific name of the specie, common name, name of the street and the name of the closest common grounds. For the identification of the species they were collected fertile samples that were herborized. Besides, each species was photographed. The data were collected from May to November of 2005. Hey were traveled 31,5 km in thirty four streets. Were identified 3191 arboreal specimens, understanding 47 different species The inventoried area presents the predominance of the specie Ligustrum lucidum W. T. Aiton (62,4%). This specie is not native and it is on the list of invader plants. In the sequence appear Lagerstroemia indica L. (11,4%), Schinus molle L. (6,3%), Bauhinia variegata L. (3,8%), and others (16,1%). From the most abundant species only one is from Brazil (Schinus molle). Framed ad “others” are found varied species but with a very individual frequence lower to 2,95%. From these species, twenty-two are native and twenty-five are exotic. The result demonstrates that the downtown area doesn´t have a peculiar local bioma identity, because, besides there being prevalence of species, more than 60% of the specimens is exotic. Key-words: urban tree planting; alien invaders species; Ligustrum lucidum. 1 Bióloga, Mestre em Botânica/UFPR, Doutora em Produção Vegetal/UFPR. Professora Adjunta da UTFPR. Via do Conhecimento, Km 01, 85.503-390 – Pato Branco/PR. [email protected]; 2 Bióloga, Mestre em Ciência do solo/UFPR, Doutora em Produção Vegetal/UFPR. Professora Adjunta da UTFPR; 3 Acadêmica de Iniciação Científica do Curso de Agronomia da UTFPR; 4 Acadêmica do Curso de Agronomia da UTFPR.

Upload: fernando-vasconcelos

Post on 24-Sep-2015

3 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

ARBORIZACAO

TRANSCRIPT

  • Scientia Agraria, v.8, n.1, p.47-53, 2007. 47

    ARBORIZAO DE VIAS PBLICAS E A UTILIZAO DE ESPCIES EXTICAS:O CASO DO BAIRRO CENTRO DE PATO BRANCO/PR

    TREE PLANTING ON PUBLIC ROADS AND THE UTILIZATION OF EXOTICSPECIES: THE DOWNTOWN CASE IN PATO BRANCO/PR

    Lenir Maristela SILVA1Ionete HASSE2

    Renata MOCCELIN3Adriane Rodrigues ZBORALSKI4

    RESUMO

    O objetivo deste trabalho foi identificar as espcies arbreas que compem a arborizao viria do bairro Centro de PatoBranco (PR). As rvores foram identificadas individualmente pelo nome cientfico da espcie, nome vulgar, nome da rua e do logradouromais prximo. Para a identificao das espcies foram coletadas amostras frteis que foram herborizadas. Alm disso, cada espciefoi fotografada. Os dados foram coletados nos meses de maio a novembro de 2005, sendo percorridos 31,5 km em trinta e quatro ruas.Foram identificados 3191 espcimes arbreos, compreendendo 47 espcies diferentes. A rea inventariada apresenta predominnciada espcie Ligustrum lucidum W. T. Aiton (62,4%), a qual no nativa da regio e est na lista das plantas invasoras no Brasil. Naseqncia aparecem Lagerstroemia indica L. (11,4%), Schinus molle L. (6,3%), Bauhinia variegata L. (3,8%), e outras (16,1%). Dasespcies mais abundantes apenas uma nativa do Brasil (Schinus molle). Enquadradas como outras encontram-se 43 espcies,porm, com freqncia individual menor que 2,95 %. Dessas espcies, vinte e duas so nativas do Brasil, e vinte e cinco so exticas.Esse resultado demonstra que no bairro Centro de Pato Branco h o predomnio de uma espcie, e mais de 60% dos espcimes soexticos.

    Palavras-chave: arborizao urbana; espcies aliengenas invasoras; Ligustrum lucidum.

    ABSTRACT

    This objective in this work went identify the arboreal species that compound the tree planting in the downtown area of PatoBranco-PR and a critical discussion about the utilization of exotic species. The trees with were identified individually by the use of aspread sheet to write down the cientific name of the specie, common name, name of the street and the name of the closest commongrounds. For the identification of the species they were collected fertile samples that were herborized. Besides, each species wasphotographed. The data were collected from May to November of 2005. Hey were traveled 31,5 km in thirty four streets. Were identified3191 arboreal specimens, understanding 47 different species The inventoried area presents the predominance of the specie Ligustrumlucidum W. T. Aiton (62,4%). This specie is not native and it is on the list of invader plants. In the sequence appear Lagerstroemia indicaL. (11,4%), Schinus molle L. (6,3%), Bauhinia variegata L. (3,8%), and others (16,1%). From the most abundant species only one isfrom Brazil (Schinus molle). Framed ad others are found varied species but with a very individual frequence lower to 2,95%. Fromthese species, twenty-two are native and twenty-five are exotic. The result demonstrates that the downtown area doesnt have a peculiarlocal bioma identity, because, besides there being prevalence of species, more than 60% of the specimens is exotic.

    Key-words: urban tree planting; alien invaders species; Ligustrum lucidum.

    1Biloga, Mestre em Botnica/UFPR, Doutora em Produo Vegetal/UFPR. Professora Adjunta da UTFPR. Via do Conhecimento, Km 01, 85.503-390 Pato Branco/PR. [email protected];2Biloga, Mestre em Cincia do solo/UFPR, Doutora em Produo Vegetal/UFPR. Professora Adjunta da UTFPR;3Acadmica de Iniciao Cientfica do Curso de Agronomia da UTFPR;4Acadmica do Curso de Agronomia da UTFPR.

  • 48 Scientia Agraria, v.8, n.1, p.47-53, 2007.

    SILVA, L.M. et al. Arborizao de vias pblicas...

    INTRODUOO movimento ambientalista nas trs ltimas

    dcadas fez com que os habitantes das cidades nomundo ocidental desenvolvessem uma postura bemdistinta do que prevalecia at 100 anos atrs paracom a natureza e as plantas. Boa parte da populaourbana valoriza as plantas e reconhece o benefcioque as reas verdes representam para o ser humano(SALATINO, 2001).

    Se por um lado, inegvel o valoracrescentado qualidade de vida quando se arborizauma cidade, levando-se em conta fatores como aornamentao, a melhoria microclimtica e adiminuio da poluio, por outro lado, a inserodesses vegetais ao meio urbano no to simples, jque no o habitat mais apropriado ao seudesenvolvimento. A instituio de padres comoespcies de porte alto, mdio e baixo, muito comumem manuais e guias de arborizao so insuficientesquando o trabalho envolve variveis to diferentes damalha urbana juntamente com as peculiaridadesecolgicas de cada espcie. Por exemplo, o porte altoe copa mais fechada, de algumas rvores utilizadasna arborizao urbana, mesmo em passeios largos esem fiao area, podem reduzir em at 11% o nvelde iluminao pblica de ruas, caso o sistema deiluminao seja tradicional (SARTORI NETO, 1988).Um outro exemplo, refere-se a espcie Bauhiniavariegata que apesar de apresentar pequeno porte no recomendada para caladas porque apresentaesgalhamento volumoso da copa e uma fragilidade queda de galhos (BIONDI e ALTHAUS, 2005).

    Alm do diferencial da extenso territorial decada cidade, um quesito fundamental para arborizaourbana a considerao das caractersticas climticase pedolgicas especficas de cada local, no podendodessa maneira simplesmente importar solues deoutros locais e, principalmente, de regiesfitogeogrficas distintas.

    Dentre as solues mais freqentes est autilizao de plantas exticas (aliengenas). Aintroduo de espcies a segunda maior ameaamundial biodiversidade, perdendo apenas para adestruio de habitats por aes antrpicas diretas(ZILLER, 2001).

    As espcies que no so nativas, alm de nose comportarem do mesmo modo que no ambientede origem, podem causar diversos danos ao ambiente,como a perda da biodiversidade, modificaes dosciclos e caractersticas naturais dos ecossistemasatingidos e a alterao fisionmica da paisagemnatural, alm de conseqncias econmicas vultosas(ZILLER, 2001).

    No houve nenhum estudo acadmico queapurasse a realidade da arborizao urbana no bairroCentro de Pato Branco, e que pudesse subsidiar uma

    argumentao melhoria da paisagem urbana,conseqentemente, da qualidade vida. Considerandoque para qualquer planejamento da arborizaourbana no se pode prescindir de um inventriocriterioso, o presente trabalho teve por objetivoidentificar essa composio atravs de um censo totaldas espcies arbreas presentes nesse bairro. Comisso, pretende-se ampliar a argumentao daimportncia da vegetao no meio urbano e daconservao da biodiversidade nativa junto comunidade acadmica e a populao local.

    MATERIAL E MTODOSA rea inventariada localiza-se em Pato

    Branco, Paran, no bairro Centro (Figura 1). Estemunicpio localiza-se na regio sudoeste do Paran,no terceiro planalto paranaense. Apresenta aocorrncia de Cfa clima subtropical midomesotrmico (IAPAR, 2000), destacando-se o solo dotipo Latossolo Vermelho Distrofrrico (EMBRAPA,1999). Pato Branco encontra-se a 760 m de altitude,com latitude de 26 o 13 46 S e longitude de 52 o 4014 W-GR. A populao total corresponde a 62.167habitantes, sendo que destes 56.739, correspondema populao urbana e 8.190 correspondem aoshabitantes do bairro Centro (IBGE, 2000). A reaurbana apresenta 71,23 km. Foram percorridos 31,5km em trinta e quatro ruas que compem o bairroCentro. O bairro Centro de Pato Branco caracteriza-se como residencial e comercial. Esse bairro nopossui cadastro histrico da sua arborizao.

    A vegetao da regio na qual se localiza area urbana do municpio era originariamente cobertapor Floresta Ombrfila Mista Montana. Esta formaoocupa as regies planlticas do Paran, apresentandofaixa de ocorrncia altitudinal entre 400 e 1.000metros. O dossel contnuo varia em torno de 20 metrosde altura, mas as araucrias atingem at 25 metros.A Floresta Ombrfila Mista tambm conhecida porFloresta de Pinheiros, Pinheirais, Zona dosPinhais, Matas de Araucria e Florestas comAraucria (IBGE, 1992).

    Para localizao das vias pblicas, bem comoa obteno de sua extenso, foi utilizada uma plantaplanialtimtrica na escala 1:10.000, elaborada peloIPPUPB (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbanode Pato Branco).

    Considerando a importncia scio-econmica do bairro para a cidade, optou-se pelolevantamento total das espcies arbreas em todasas ruas. As rvores foram ident i f icadasindividualmente na rea inventariada utilizando-seuma planilha para anotao do nome cientfico daespcie, nome vulgar, nome da rua e do logradouromais prximo. Os dados foram coletados noperodo de maio a novembro de 2005.

  • Scientia Agraria, v.8, n.1, p.47-53, 2007. 49

    SILVA, L.M. et al. Arborizao de vias pblicas...

    FIGURA 1

    Para a identificao das espcies foramcoletadas amostras frteis que foram herborizadas.Alm disso, cada espcie foi fotografada.

    A freqncia (%) de cada espcie foi calculadaatravs da razo entre o nmero de indivduos daespcie e o nmero total de indivduos do bairro.

    RESULTADOS E DISCUSSONo bairro Centro de Pato Branco foram

    identificados 3191 espcimes arbreos,compreendendo 47 espcies diferentes, com apredominncia de quatro espcies (Tabela 1). A espciemais abundante, Ligustrum lucidum W. T. Aiton(alfeneiro, ligustro) a espcie mais comum nas cidadesSul-Brasileiras e por isso chamada vulgarmente dervore-de-prefeito (BACKES e IRGANG, 2004). Essaespcie no nativa do Brasil e est na lista das plantasexticas consideradas invasoras, pois a sua dispersoe seu crescimento ocorrem de maneira rpida fazendo-a competir e impedir a regenerao de plantas nativas.No Paran ela invasora da Floresta Ombrfila Mista(INSTITUTO HRUS, 2005). Em 15 amostrasaleatrias na cidade de Curitiba (PR), Milano (1985)identificou noventa e trs espcies arbreas num censototal de 4.382 espcimes. Dessas 24% foram da espcieLagerstroemia indica e 14,7% foram de Ligustrumlucidum. Ou seja, duas espcies exticas somaram

    Bairro Centro de Pato Branco/PR/2005 delimitado pela linha contnua.

    quase 40% da composio arbrea. Em outro estudorealizado na regio central de Horizontina (RS), de umtotal de 3.160 rvores inventariadas, Floriano et al.(2004) identificou o Ligustrum japonicum (746) em maiorabundncia. Nesse estudo tambm prevaleceramespcies exticas. No bairro Centro de Nova Iguau(RJ), tambm foi identificada uma maior freqnciade espcimes de espcies exticas (ROCHA et al.,2004).

    O gnero Ligustrum tambm invasor emoutros pases da Amrica do Sul (GISP, 2005; OJASTIet al., 2001). Muitas espcies deste gnero soapontadas como invasoras em diversos pases, comoo Ligustrum lucidum que indicado como espcieinvasora nos Estados Unidos da Amrica, Hawai eNova Zelndia (STARR et al., 2003).

    Os frutos do ligustro so txicos para os seremhumanos, causando nusea, dores de cabea, doresabdominais, vmitos, diarria, presso baixa ehipotermia (INSTITUTO HRUS, 2005), bem como oplen das flores pode causar alergia (BACKES eIRGANG, 2004; BIONDI e ALTHAUS, 2005). EmCuritiba-PR, desde 1999, no h mais produo demudas dessa espcie no horto municipal devido aoseu potencial invasor (BIONDI e ALTHAUS, 2005). Aespcie L. lucidum no recomendada para aarborizao urbana devido ao cultivo excessivo e aopotencial dispersor (BACKES e IRGANG, 2004).

  • 50 Scientia Agraria, v.8, n.1, p.47-53, 2007.

    SILVA, L.M. et al. Arborizao de vias pblicas...

    TABELA 1 Freqncia das espcies arbreas no bairro Centro de Pato Branco (PR) em 2005 .Espcie Nmero de espcimes Freqncia (%) Origem 1

    Ligustrum lucidum W.T. Aiton 1992 62,4 China e Coria Lagerstroemia indica L. 363 11,4 sia, Oceania Schinus molle L. 200 6,3 Brasil e

    Amrica do Sul Bauhinia variegata L. 121 3,8 sia Outras 515 16,1 - TOTAL 3191 100

    1A origem das espcies foi obtida por meio das seguintes fontes: BACKES e IRGANG (2002); BACKES e IRGANG (2004).

    A espcie que aparece em segundo lugar emfreqncia (Tabela 1) no bairro Centro de Pato Branco a Lagerstroemia indica L., que tambm extica, epor ser de pequeno porte freqentementerecomendada (CEMIG, 2001; COPEL, 2005; SANTOSe TEIXEIRA, 2001) para arborizao urbana. Essaespcie pode ser atacada por mldio, mancha foliar,mancha negra e podrido da raiz (BIONDI e ALTHAUS,2005).

    A espcie Schinus molle L., em terceiracolocao em termos de freqncia (Tabela 1), anica espcie nativa do bioma local (ISERNHAGENet al., 2002) no rol das rvores mais abundantes naregio inventariada. Essa espcie apresenta aramificao muito pendente. Devido ao pequeno porte muito comum nas cidades do sul do Brasil (BACKESe IRGANG, 2004).

    Bauhinia variegata L. que aparece em quartolugar em freqncia na rea estudada (Tabela 1),tambm uma espcie extica, largamenteempregada na arborizao. Essa uma espcie quenecessita de podas freqentes por apresentaresgalhamento volumoso e baixo da copa (BIONDI eALTHAUS, 2005).

    Cerca de 16,1% dos espcimes presentes noCentro da cidade de Pato Branco foram enquadradasna categoria outras por ser um nmero de 43espcies, contudo com baixa freqncia individual.A lista dessas espcies pode ser observada naTabela 2.

    Dessas espcies, vinte e uma so brasileirase vinte e duas so exticas. Somando-se esseresultado s espcies da Tabela 1, tem-se um totalde vinte e cinco exticas e vinte e duas nativas narea estudada. Todavia, a freqncia de espcimesde rvores exticas muito mais alta, ou seja, superiora 60% dos indivduos arbreos. Segundo Rangel(2005), cerca de 80% das ruas das cidades brasileirasso arborizadas com espcies exticas (RANGEL,2005).

    Das espcies listadas na Tabela 2, Cupressuslusitanica, Cupressus macrocarpa e Grevillea robustano podem receber nenhum tipo de poda, poisapresentam arquitetura monopodial (SANTOS eTEIXEIRA, 2001). J espcies como Enterolobiumcontortisiliquum, Eriobotrya japonica, Hovenia dulcis,Mangifera indica, Melia azedarach, Parapiptadeniarigida, Persea americana, Ficus enormis, Ficus lyrata

    e Tipuana tipu, so espcies de grande porte, portantono compatveis com caladas (SANTOS e TEIXEIRA,2001). Outro aspecto polmico na arborizao apresena de espcies frutferas comestveis para oshumanos. O uso de espcies frutferas depende deaspectos culturais e tambm da conscientizao dapopulao. No caso de querer utilizar frutferas emcaladas deve-se optar pelo uso de espcies queapresentem frutos pequenos, leves e no carnosos(BIONDI e ALTHAUS, 2005). Contudo, a utilizao defrutferas nativas que possam servir de alimento paraa avifauna, tem sido incentivada (RGE, 2000;COELBA, 2002) No presente censo, aparecem onzeespcies frutferas comestveis para os humanos:Citrus sinensis, Eriobotrya japonica, Eugenia uniflora,Hovenia dulcis, Mangifera indica, Morus Alba, Perseaamericana, Plinia trunciflora, Psidium catleianum,Psidium guajava, Rollinia rugulosa. A Schefleraactinophylla, tambm no indicada para caladas,j que possui pouca folhagem, sendo mais apropriadapara jardins e praas (BACKES e IRGANG, 2004).

    Alm do Ligustrum lucidum, destacam-se naTabela 2 espcies que j se encontram na lista deespcies invasoras no Brasil, sendo elas: Acaciapodalyriifolia, Eriobotrya japonica, Grevillea robusta,Hovenia dulcis, Mangifera indica, Melia azedarach,Morus alba, Pittosporum undulatum e Spathodeacampanulata (INSTITUTO HRUS, 2006).Evidentemente, a invaso dessas espcies no ocorredo mesmo modo em todos os biomas brasileiros(ZILLER, 2001).

    Das espcies supramencionadas, cabedestacar algumas consideraes sobre a espcieafricana Spathodea campanulata. uma rvore deelevada beleza ornamental e, por isso, j h muitosanos indicada para o paisagismo. Entretanto, almda intensa capacidade de regenerao natural, queimpede a sucesso natural de florestas nativas, elatambm oferece mais um perigo: suas floresapresentam alcalides txicos que chegam a matarabelhas e beija-flores nativos (GISP, 2005; TRIGO eSANTOS, 2000).

    O caso do bairro Centro de Pato Branco no muito diferente de outras cidades brasileiras, nas quaish baixa diversidade de espcies arbreas, o que podefavorecer gradativamente a dizimao de determinadapopulao arbrea pela ocorrncia de predadores(SILVA e BORTOLETO, 2005).

  • Scientia Agraria, v.8, n.1, p.47-53, 2007. 51

    SILVA, L.M. et al. Arborizao de vias pblicas...

    TABELA 2 Origem e freqncia de outras espcies arbreas existentes no bairro Centro de Pato Branco (PR) em 2005.Espcie Nome vulgar Origem Freqncia % Acacia podalyriifolia Cunn. Ex. G. Don. Accia mimosa Austrlia 0,11 *Bauhinia forficata Link. Pata-de-vaca Brasil, Argentina,

    Paraguai, Uruguai, Bolvia 0,05

    *Bougainvillea glabra Choisy Primavera Brasil 0,05 Caesalpinia peltophoroides Benth. Sibipiruna Brasil 0,11 Callistemon speciosus (Bonpl.) Sweet. Escova-de-garrafa Austrlia 0,22 Cinnamomum zeylanicum (Breyn.) Bl. Cinamomo Ceilo 0,71 Citrus sinensis L. Osb. Laranja sia 0,93 Cupressus lusitanica Mill. Cipreste-mexicano Mxico, Guatemala, El

    Salvador e Honduras 2,18 Cupressus macrocarpa Hartw. Ex Gord Tuia holandesa Califrnia (EUA) 0,60 Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong. Timbava Brasil, Bolvia, Paraguai,

    Argentina e Uruguai 0,16 Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. Nspera Japo e China 0,49 Euphorbia cotinifolia L. Leiteiro-vermelho Amrica Central e Norte

    da Amrica do Sul 0,11 *Eugenia uniflora L. Pitanga Brasil 0,44 Ficus benjamina L. Figueira-benjamin ndia, China, Filipinas,

    Tailndia, Austrlia e Nova Guin 0,55

    Ficus lyrata Warburg Fcus-lira frica 0,05 Ficus enormis (Mart ex Miq.) Mart. Figueira-do-mato Brasil, Argentina, Uruguai 0,05 Grevillea robusta A. Cunn. Ex R. Br. Grevilha Austrlia 1,64 Hovenia dulcis Thunb. Uva-do-japo sia 0,16 *Ilex paraguariensis St. Hil. Erva-mate Brasil 0,11 *Lafoensia pacari St. Hil. Dedaleiro Brasil, Paraguai 0,44 Mangifera indica L. Mangueira sia, Ceilo 0,11 Melia azedarach L. rvore de Santa

    Brbara Himalia, ndia, China

    0,11 Morus alba L. Amorinha China 0,05 Nerium oleander L. Espirradeira Europa 0,11 *Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan Anjico Brasil, Bolvia, Paraguai,

    Argentina e Uruguai 0,27 Persea americana Mill. Abacateiro Amrica Central, ndias

    Ocidentais, Guatemala, Mxico 0,11

    Pittosporum undulatum Vent. Pau incenso Austrlia 0,11 *Plinia trunciflora (Berg.) Kaus Jaboticabeira Brasil, Argentina,

    Paraguai 0,22 Prunus serrulata Lin. L. Cerejeira-do-japo China, Japo e Coria 0,11 *Psidium catleianum Sabine Ara Brasil 0,11 Psidium guajava L. Goiaba Mxico e norte da

    Amrica do Sul 0,11 *Rollinia rugulosa Schlecht Araticum Brasil 0,22 Scheflera actinophylla (Endl.) Harms. rvore guarda-

    chuva Austrlia, Nova Guin, Java 0,11

    *Schinus terebinthifolius Raddi Aroeira vermelha Brasil, Uruguai, Argentina, paraguai 0,11

    Senna macranthera (L.. C. Rich.) Irwin & Barneby Aleluia Brasil 0,55 Senna multijuga (Rich.) Irwin & Barneby Chuva-de-ouro Brasil 0,16 Spathodea campanulata P. Beauv. Tulipa africana frica 0,11 Tabebuia alba (Cham.) Sandw. Ip-amarelo Argentina, Paraguai,

    Brasil 0,05 Tabebuia chrysotricha (Mart. Ex DC.) Standl. Ip-amarelo mirim Brasil 0,22 Tabebuia heptaphylla (Vell.) Tol. Ip-roxo Guianas, Peru, Bolvia,

    Paraguai, Brasil 0,49 Tibouchina granulosa Cogn. Quaresmeira Brasil 0,27 Tibouchina mutabilis Cong. Manac-da-serra Brasil 0,27 Tipuana tipu Benth. Kuntze Tipuana Argentina, Amrica

    Central, Bolvia 2,95 TOTAL 16,1 Observaes: *Espcies nativas da Floresta com araucria segundo ISERNHAGEN, SILVA e GALVO (2002). A origem das espciesfoi obtida atravs das seguintes fontes: LORENZI (1992); LORENZI e SOUZA (1995); LORENZI (2002); EMBRAPA (2001); BACKESe IRGANG (2002); BACKES e IRGANG, (2004).

  • 52 Scientia Agraria, v.8, n.1, p.47-53, 2007.

    SILVA, L.M. et al. Arborizao de vias pblicas...

    REFERNCIAS1. BACKES, P.; IRGANG, B. rvores cultivadas no sul do Brasil: Guia de identificao e interesse paisagstico das principais

    espcies exticas. Porto Alegre: Palotti, 2004. 204 p.2. BACKES, P.; IRGANG, B. rvores do Sul: Guia de identificao e interesse ecolgico. Santa Cruz do Sul: Instituto Souza Cruz,

    2002. 325 p.3. BIONDI, D.; ALTHAUS, M. rvores de rua de Curitiba: cultivo e manejo. Curitiba: FUPEF, 2005. 177 p.4. CEMIG - Companhia Energtica de Minas Gerais. Manual de arborizao. Belo Horizonte: CEMIG, 2001. 40 p.5. COELBA - Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia .Diretoria de Gesto de Ativos. Departamento de Planejamento dos

    Investimentos. Unidade Meio Ambiente. Guia de Arborizao Urbana. Salvador: Venturie Grfica e Editora, 2002. 55 p.6. COPEL - Companhia Paranaense de Energia. Como arborizar sua cidade: guia para os municpios. 2005. 27 p.7. EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema

    Brasileiro de Classificao de Solos. Braslia: EMBRAPA, 1999. 412 p.8. EMBRAPA - EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECURIA. Lista das espcies - Arboretos - Construindo

    Ecossistemas. 2001. Disponvel em Acesso em 24/07/2006.9. FLORIANO, E.P.; GRACIOLI, C.R.; FLORIANO, A.M.; FLORIANO, R.M.M. Censo da arborizao da regio central da cidade

    de Horizontina/RS. Santa Rosa/RS: ANORGS, Prefeitura Municipal de Horizontina, Conselho Municipal do Meio Ambiente,2004. 69 p. (Trabalho Tcnico-Cientfico, 02).

    10. GISP (El Programa Mundial sobre Espcies Invasoras). Sudamrica invadida: el creciente peligro de las especies exticasinvasoras. Cape Town/frica do Sul: GISP, 2005. 80 p.

    11. IAPAR - INSTITUTO AGRONMICO DO PARAN. Cartas climticas do Paran. Londrina: IAPAR, 2000. CD-ROM.12. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Manual tcnico da vegetao brasileira. Rio de Janeiro:

    IBGE, 1992. 92 p.13. IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA. Atlas do censo demogrfico. Rio de Janeiro: IBGE,

    2000. 127 p.14. INSTITUTO HRUS DE DESENVOLVIMENTO E CONSERVAO AMBIENTAL /THE NATURE CONSERVANCY. Ligustrum

    lucidum. 2005. Disponvel em Acesso em 12/04/2006.15. INSTITUTO HRUS DE DESENVOLVIMENTO E CONSERVAO AMBIENTAL /THE NATURE CONSERVANCY. Espcies

    exticas invasoras: fichas tcnicas. 2006. Disponvel em Acesso em10/04/2006.

    16. ISERNHAGEN, I; SILVA, S.M.; GALVO, F. Listagem de espcies arbustivo-arbreas citadas nos trabalhos de fitossociologiaflorestal no Paran, Brasil: uma contribuio aos programas de recuperao de reas degradadas (RAD). In: A fitossociologiaflorestal no Paran e os programas de recuperao de reas degradadas: uma avaliao. Piracicaba: Instituto de Pesquisase Estudos Florestais, 2002. v.1, p. 51-134.

    17. LORENZI, H. rvores brasileiras: manual de identificao e cultivo de plantas arbreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum,1992. 352 p.

    18. LORENZI, H. rvores brasileiras: manual de identificao e cultivo de plantas arbreas nativas do Brasil. v. 2. 2. ed. NovaOdessa: Plantarum, 2002, 368 p.

    19. LORENZI, H.; SOUZA, H.M. Plantas ornamentais no Brasil: arbustivas, herbceas e trepadeiras. Nova Odessa: Plantarum,1995.

    20. MILANO, M.S. Arborizao de ruas de Curitiba/PR: uma anlise qualitativa. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAOURBANA, 1., 1985, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre: Secretaria do Meio Ambiente, 1985. p. 83-86.

    21. OJASTI, J.; JIMNEZ, E.G.; OTAHOLA, E.S.; ROMN, L.B.G. Informe sobre las especies exticas en Venezuela. Caracas:Ministerio del Ambiente y de los Recursos Naturales, 2001.

    22. RANGEL, S. A arborizao urbana e o uso de espcies florestais nativas da mata atlntica. Disponvel em Acesso em 23/02/2005.

    23. RGE - Rio Grande Energia: Gesto Ambiental. Manual de arborizao e poda. 2000. Disponvel em Acesso em 20/05/2005.

    Esse resultado demonstra que o bairro Centrono tem uma identidade prpria do bioma local, poisdas espcies que compem a Floresta com Araucria,apenas onze esto presentes (a espcie Schinus mollena Tabela 1 e as espcies indicadas com asterisco naTabela 2), todavia numa freqncia muito baixa. Essafalta de identidade deixa de marcar os visitantes nobairro, pois a espcie encontrada em maior proporo comum em muitas cidades brasileiras.

    CONCLUSESNa composio arbrea viria do bairro Centro

    h predomnio de espcies exticas, sendo que aespcie mais abundante Ligustrum lucidum W. T.Aiton. Essa espcie atingiu uma populao de 62,4%.

    Das espcies identificadas no censo, vinte eduas so nativas do Brasil, e vinte e cinco so exticas.Dez das espcies exticas figuram na lista dasespcies invasoras do Brasil, enquanto que, do totalde espcies nativas brasileiras, onze so originadasdo bioma local.

    AGRADECIMENTOS

    Fundao de apoio a educao, pesquisa edesenvolvimento cientfico e tecnolgico do CEFET-Paran. (FUNCEFET-PR), pelo financiamento de umabolsa de iniciao cientfica.

    Prefeitura Municipal de Pato Branco/PR,pelo apoio financeiro concedido ao projeto depesquisa.

  • Scientia Agraria, v.8, n.1, p.47-53, 2007. 53

    SILVA, L.M. et al. Arborizao de vias pblicas...

    24. ROCHA, R.T. da, LELES, P.S. dos S.; OLIVEIRA NETO, S.N. de. Arborizao de vias pbicas em Nova Iguau, RJ: o caso dosbairros Rancho Novo e Centro. Revista rvore, Viosa, v. 28, n. 4, p. 599-607, 2004.

    25. SALATINO, A. Ns e as plantas. Revista Brasileira de Botnica, So Paulo, v. 24, n. 4 (suplemento), p. 483-490, 2001.26. SANTOS, N.R.Z. dos; TEIXEIRA, I.F. Arborizao de vias pblicas: ambiente x vegetao. Porto Alegre: Palotti, 2001. 135 p.27. SARTORI NETO, J.P. Modelo de Planejamento para Convivncia da Arborizao com o Sistema Eltrico. In: CONGRESSO

    FLORESTAL ESTADUAL, 6. 1988. Anais. Nova Prata, 1988. p. 219-256.28. SILVA, D.F. da; BORTOLETO, S. Uso de indicadores de diversidade na definio de plano de manejo de arborizao viria de

    guas de So Pedro - SP. Revista rvore, Viosa, v. 29, n. 6, p. 973-981, 2005.29. STARR, F.; STARR, K.; LOOPE, L. Ligustrum spp.: Privet, Oleaceae. Maui: United States Geological Survey-Biological Resources

    Division, Haleakala Field Station, 2003. Disponvel em Acesso em 12/04/2006.

    30. TRIGO, J.R.; SANTOS, W.F. Insect mortality in Spathodea campanulata Beauv. (Bignoniaceae) flowers. Revista Brasileira deBiologia, So Carlos, v. 60. n. 3, p. 537-538, 2000.

    31. ZILLER, S. R. Os processos de degradao ambiental originados por plantas invasoras. Revista Cincia Hoje, n. 178, 2001.

    Recebido em 17/10/2006Aceito em 02/04/2007