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APROXIMAÇÕES TEÓRICAS: OS CAMINHOS DA ARQUITETURA DE INTERESSE
SOCIAL CONTEMPORÂNEA
PASTÓRIO, Maria Heloisa.1
OLDONI, Sirlei Maria.2
RESUMO
O presente trabalho se configura como resultado parcial de pesquisa de Trabalho de Curso de Arquitetura e Urbanismo
do Centro Universitário FAG. O objetivo da pesquisa trata a respeito da arquitetura social de qualidade e sua
materialização na contemporaneidade afim de descobrir quais critérios definem a qualidade da arquitetura social nas
habitações de interesse social contemporâneas. Tal atividade será realizada por meio de pesquisa bibliográfica, seguindo
o modo do discurso dialético. Dessa forma, o artigo trata a respeito dos aspectos influenciadores da abordagem
arquitetônica contemporânea, separados em aspectos: identitários, socioculturais, funcionais e construtivos, e analisa os
mesmos em obras correlatas inseridas no contexto de interesse social, que servirá de base para a análise do trabalho em
desenvolvimento. O trabalho de curso que o presente artigo se origina será dado continuação com o estudo de caso da
obra de Alejandro Aravena, a Villa Verde, por isso não se apresenta concluído.
PALAVRAS-CHAVE: Arquitetura Contemporânea, arquitetura de interesse social, aspectos arquitetônicos.
1. INTRODUÇÃO
A presente pesquisa insere-se na linha de pesquisa “Arquitetura e urbanismo”, e no grupo de
pesquisa “Estudos e Discussões de Arquitetura e Urbanismo” devido ao fato de apresentar uma
conotação dialética e ter o intuito de gerar discussão em cima do tema envolvido. Dessa forma, será
tratada a arquitetura social de qualidade e sua materialização na contemporaneidade.
A arquitetura social se compreende no fato de que, apesar da moradia ser um direito
garantido em lei, uma grande parcela da população é privada de uma habitação de qualidade. Na
maioria das vezes, o motivo é o capital financeiro. A arquitetura de habitação social é uma solução
voltada às classes de baixa renda, afim de produzir moradias de baixo custo (SAULE, 1999 p. 109;
BONDUKI, 2004 p. 8; ABIKO, 1995 p. 12).
A pesquisa original de que este artigo faz parte consiste em compreender os critérios que
definem a qualidade da arquitetura social nas habitações contemporâneas, não em seu âmbito
político ou legislativo, mas nos aspectos de abordagens dos aspectos arquitetônicos. No entanto,
1 Acadêmica de Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Assis Gurgacz, formanda em 2017.
Aluna de PICV (Pesquisa de Iniciação Científica Voluntária) do Grupo de Pesquisa GUEDAU – Estudos e Discussoes
de Arquitetura e Urbanismo, em pesquisa que originou o presente Artigo Científico. E-mail: [email protected]. 2 Professora orientadora da presente pesquisa. Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UEM/UEL; graduada em
Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Assis Gurgacz – FAG. Docente de graduação do Centro Universitário Assis
Gurgacz. E-mail: [email protected].
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este trabalho trata de um recorte das aproximações teóricas na temática habitação social, o objetivo,
portanto, é fundamentar as questões relativas aos aspectos arquitetônicos que constituem a
arquitetura contemporânea analisados em obras de caráter social, afim de criar critérios capazes de,
posteriormente, no decorrer do trabalho de curso, qualificar os fatores que influenciam na produção
de uma arquitetura social de qualidade.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA
A arquitetura contemporânea vem à tona, de acordo com Ghirardo (2002, p. 4, 8, 29-30), após
a alta valorização da padronização da construção e determinismo tecnológico do modernismo e a
supervalorização estética do pós-modernismo que não se importava com questões ambientais e
urbanísticas. A autora completa dizendo que a complexidade da vida contemporânea exigia
programadas de necessidades mais complexos e multifuncionais do que os estilos apresentados
podiam oferecer (GHIRARDO, 2002 p. 14).
A arquitetura contemporânea surge então com o intuito de buscar “[...] sistemas arquitetônicos
ao mais versáteis e diversos possíveis, altamente capazes de amoldar-se aos distintos meios, de
alcançar uma dimensão ambiental e de enfrentar o desafio da diversidade” (MONTANER, 2009 p.
215).
O quadro da arquitetura atual se encontra numa natureza consumista e mercadológica,
afastada dos reais interesses do fazer arquitetônico. Tem se tornado uma reprodução de imagens por
imitação, sem reflexão e originalidade. Esse estado arquitetônico não é irreversível, demanda um
trabalho de conscientização e estudo que estão em falta nos cursos oferecidos. (COLIN, 2000 p.
135).
Analisando o que foi visto nas aproximações teóricas dos fundamentos arquitetônicos, da
história da arquitetura e o quadro do período contemporâneo, a arquitetura mostra a gritante vontade
de construir uma sociedade cada vez melhor.
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2.2 ASPECTOS INFLUENCIADORES DA ABORDAGEM ARQUITETÔNICA
CONTEMPORÂNEA
Silvio Colin (2000, p. 78) diz que não se pode querer conhecer o conteúdo – a mensagem – de
uma obra arquitetônica sem saber sobre os meios que foram utilizados para transmiti-la ou os laços
que essa produção estabelece. “[...] somente a prática do estudo isolado pode-se chegar à
identificação de determinada mensagem do conjunto de nossa percepção do objeto [...]”.
Ao realizar uma interpretação da arquitetura, Bruno Zevi (1918 p. 138) explica que esta deve
iluminar um aspecto permanente da arquitetura, explanar sua eficácia na explicação das obras. O
autor continua dizendo que a interpretação espacial significa incluir todos as realidades de um
edifício. Colin (2000 p. 76-77) discorre que um edifício pode comunicar seus ideais estéticos, modo
de vida, moral. Durante muito tempo a interpretação arquitetônica dividia-se em formal e histórico,
hoje inclui também sociologia3, psicologia4, fenomenologia5, semiótica6.
Para realização da análise arquitetônica das obras em questão, optou-se por utilizar: os
aspectos identitários, os aspectos socioculturais, os aspectos funcionais e os aspectos construtivos.
2.2.1 Aspectos identitários
No dicionário Houaiss (2003 p. 282) define-se identidade como o conjunto das características
próprias de um indivíduo. O mesmo dicionário descreve o significado da palavra “própria” como
sendo algo que “pertença a (alguém ou algo) ” (p. 425).
3 “Estudo científico das relações sociais, das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as
classes de fen6menos sociais” (LAKATOS, 1990 p. 22). 4 Ciência que pretende entender as funções mentais e motivações comportamentais de indivíduos e grupos (COLIN,
2000 p. 103) 5 Estudo descritivo dos processos psicológicos, onde o objeto só pode ser conhecido em sua relação com o sujeito
(COLIN, 2000 p. 176). 6 Ciência que estuda a linguagem verbal e não verbal (COLIN, 2000 p. 113).
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A apropriação de um espaço está diretamente relacionada com a utilização intensa do mesmo
(PEREIRA, 2015 p. 19). A autora continua afirmando que, a diferença da habitação para com o
restante da produção arquitetônica é a significância que seus moradores dão ao espaço.
Ghirardo (2002, p. 171) confirma que o arquiteto deve estabelecer um diálogo com o cliente,
deixando de lado o estilo e ego do arquiteto e enfatizando na obra as necessidades reais do
indivíduo que irá usufruir da mesma, uma vez que Silvio Colin (2000 p. 101-2) afirma que, ao
projetar um espaço, essencialmente um espaço de habitação social – seja ele coletivo ou individual
– o arquiteto tende a salientar as suas próprias necessidades, práticas e ideologias, no projeto em
questão, que podem ser muito distintas das necessidades, práticas e ideologias dos usuários. Tais
praticas acarretam em vandalização e abandono do local e desconforto para o indivíduo.
Afim de conferir o valor de apropriação e pertença do espaço, Colin (2000 p. 102) propõe
métodos de trabalho “[...] que permitem maior participação da comunidade durante a produção e
após a ocupação das moradias, criando assim uma estreita faixa de atividade comum”.
[...] independentemente de fatores consideráveis na análise como: cultura, nível social, etc,
o ser humano busca a sua projeção emocional no lugar onde vive. Tem necessidade de se
identificar com objetos que tenham o poder de expressar seus ideais de progresso, avanço
tecnológico e avanço social (SIQUEIRA, 2001).
Para Lynch (1997, p. 9) identidade consiste na diferenciação da entidade como algo
separável, não no sentido de parecer com outras coisas, mas com significado de individualidade.
Sendo assim, os aspectos identitários apontarão as condições que determinam esse conceito de
pertencimento, de propriedade, e conferem características próprias, particulares, do conjunto
arquitetônico.
2.2.2 Aspectos socioculturais
Analisando os contextos das reformas urbanas na história, vê-se que a segmentação social é
resultado do desenvolvimento industrial tardio. “A ação social coletiva estaria assim marcada pela
presença de três dimensões diferentes e mesmo contraditórias: a luta de classes, a modernização e o
nacionalismo ” (RIBEIRO, 1996 p. 56). Saule (1999, p. 119) afirma que o ser humano é por
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essência, social e transformador da natureza a medida que ele mesmo interpõe entre ele e a
natureza, sistemas artificiais.
Segundo Keitchain (2011 p. 43) a qualidade arquitetônica está também diretamente ligada
com a sua dimensão sociocultural que se define na adequação dos valores e identidades dos
usuários.
[...] no espaço coincidem vida e cultura, interesses espirituais e responsabilidade sociais.
Porque o espaço não é só uma cavidade vazia. ‘Negação de solidez’: é vivo e positivo. Não
é apenas um fato visual: é, em todos os sentidos, e, sobretudo num sentido humano e
integrado, uma realidade vivida (LYNCH, 1996 p. 217).
Bruno Zevi (1996, p. 53) afirma que todos os edifícios construídos são resultado de um
programa construtivo que se fundamenta na “[...] situação econômica do pais e dos indivíduos que
promovem as construções, e no sistema de vida, nas relações de classe e nos costumes que delas
derivam ”.
[...] muito do que sabemos sobre as sociedades e civilizações anteriores às nossas, o
aprendemos pela observação e analise da arquitetura desses povos; sabemos sobre hábitos,
grau de conhecimento técnico, grau de sensibilidade e ideologia através do estudo dos seus
edifícios e ruínas (COLIN, 2000 p. 22).
A função de abrigo como reflexo sociocultural, expressa na arquitetura o estilo de vida,
cotidiano e valores de seus usuários (SIQUEIRA, 2001). Sendo assim, a arquitetura é um produto
cultural, e, segundo Zevi (1996 p. 144) é a autobiografia do sistema econômico e das instituições
sociais de um determinado local ou época.
Colin (2000 p. 119) determina que o maior condicionante da arquitetura é a sua capacidade
de harmonizar com o meio em que está inserida. Entende-se então essa capacidade como contexto.
Ao se modificar intensamente para atender as necessidades e condições humanas da vida coletiva, o
contexto passa a ser cultural.
“Toda e qualquer formação social constrói-se no espaço através da seleção e organização de
determinados elementos do repertório possível [...]. É assim que a tipicidade de culturas
determinadas se revela por excelência no espaço que elas organizam” (SAULE, 1999 p. 126). Esse
repertório de organização espacial nunca será encontrado em apenas uma cultura de análise, mas
uma só cultura pode apresentar diversos códigos espaciais. Colin (2000 p. 91) afirma que “[...] o
conteúdo social está sempre presente em um objeto arquitetônico, de vez que este atenderá,
obrigatoriamente, a uma função e um uso sociais”.
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Desta forma, os aspectos socioculturais analisarão a capacidade da arquitetura se inserir no
contexto cultural apresentado, e como ela transpôs para os indivíduos que vivenciam as
características da sociedade em que vivem.
2.2.3 Aspectos funcionais
De acordo com Pedro (2000, p. 32) os aspectos funcionais são exigências que visam assegurar
que os espaços habitacionais proporcionam adequadas condições de uso. O autor defina a
funcionalidade como “[...] facilidade, fiabilidade e eficiência de desenvolvimento das funções e
actividades (sic.) habitacionais [...]”.
Colin (2000 p. 27) afirma que para um edifício existir, é necessário que a sociedade precise
dele. Sua função precede qualquer outro aspecto. Siqueira (2001) complementa: arquitetura é a arte
de organizar um espaço com função específica. A criação efetiva da arquitetura acontece quando as
possibilidades técnicas disponíveis e os ideais formais e estilísticos se combinam dentro de sua
lógica cultural.
Kenchan (2011 p. 61) fala que “A definição funcional e dimensional do espaço da habitação
se faz pelas atividades que nela se propõem desenvolver, e não por uma pré-determinação (sic.) que
se possa ter para esse espaço”.
A maior parte das atividades humanas necessita de um edifício que tenha sido projetado
para elas; assim, além, de resistir às intempéries, deve o edifício abrigar uma atividade. A
nossa moradia, por simples que seja, terá áreas de convívio e de recolhimento, áreas
serventes áreas servidas e áreas de ligação (COLIN, 2000 p. 40).
A função do edifício é atividade que a obra deve atender em seu espaço. As funções são
divididas em três categorias: a sintaxe que estuda as relações do objeto com a paisagem, com o
meio inserido; a semântica, corresponde ao significado do espaço (religiosidade, habitação); a
pragmática atende as necessidades da função, é relacionada ao uso (COLIN, 2000 p. 40-41).
Para elaboração de um projeto de habitação, segundo Kenchan (2011 p. 62) “[...] é
imprescindível o conhecimento das necessidades fisiológicas, psicológicas e sociais dos indivíduos
e do grupo familiar ”.
Sendo assim, o apontamento dos aspectos funcionais tratará a respeito da organização
funcional da habitação para o determinado público ao qual ela está destinada.
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2.2.4 Aspectos construtivos
Colin (2000, p. 34) explica que “A arquitetura deve ter solidez, resistir as intempéries,
permanecer. Para atender a estes requisitos, duas ordens de fatores precisam ser consideradas: a
durabilidade dos materiais e a excelência técnica”. Dessa forma, os aspectos construtivos na
arquitetura correspondem aos materiais e as técnicas empregadas na execução da obra, que
conferem a ela as exigências de solidez, resistência e conservação exemplificados por Colin.
De acordo com Bauer (2001, p. 3) é papel do arquiteto prever os materiais componentes da
obra, dessa forma, é extrema necessidade o estudo e conhecimento sobre os materiais disponíveis,
afim de tirar-se o maior proveito do mesmo. Para Hertz (1998, p. 9) a construção tem a função de
atenuar os aspectos negativos e tirar o melhor proveito das condições climáticas oferecidas pelo
local.
Se tratando de arquitetura social, Colin (2000 p. 101) aponta que o que apresenta melhores
resultados em aproximar o povo e a grande arquitetura, é o desempenho técnico para a realização
das obras. Desde as soluções da industrialização, com as construções pré-fabricadas, aos programas
de autoconstrução, pesquisa de novos materiais e técnicas “[...] cuja relação custo-desempenho
favoreça a sua utilização em construções de recursos limitados [...]”
Serra (2002) elenca os avanços na produção de habitação de baixo custo para atender a
população de baixa renda:
Autoconstrução: definida por Silvio Colin como:
processo de construção de habitações de interesse social no qual o proprietário, juntamente
com outros co-participantes (sic.), encarrega-se da mão-de-obra, enquanto que o material, o
terreno e a infra-estrutura (sic.) são fornecidos ou financiados pelo órgão promotor
(COLIN, 2000 P. 170).
Porém, Serra (2002) afirma que, quando o auto construtor realiza o trabalho sozinho, o
resultado é um grande desperdício de material e raramente estão de acordo com as normas.
Custos não incidentes: financiamentos de terrenos e construção de casas.
Além de edifícios apartamento e estruturas pré-moldadas. O autor segue afirmando que, “a
rejeição dos grandes conjuntos em favor dos menores e inseridos na malha urbana de forma
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indistinta, sem qualquer segregação [...] pode implicar exigências de contextualização arquitetônica
dos projetos, o que não implica abandono da padronização estrutural ”.
Para Colin (2000, p. 101), o princípio da economia de escala confere uma “[...] necessária
diminuição de custos com um princípio da produção industrial [...]”. Sendo assim, um bem torna-se
mais barato se produzido em grande escala. Levando esse conceito para as habitações, o resultado é
uma série repetida de conjuntos monótonos e sem imaginação e criatividade “[...] fatores
considerados supérfluos para muitos empreendedores, mas jamais para os usuários”.
Para a construção de âmbito de interesse social deve-se, então, dar valor as soluções criativas
dos sistemas industriais e construtivos, visando sempre a economia de recursos com alto padrão de
qualidade. E serão esses os fatores analisados nos aspectos construtivos.
2.3 OBRAS DE CARÁTER SOCIAL
Os projetos aqui apresentados foram escolhidos devido sua diversidade e grande apreço
perante a comunidade arquitetônica e leiga. Apesar de se inserirem em contextos e apresentarem
características diferentes – variando entre habitações coletivas, individuais – todas compartilham o
objetivo de atender à comunidade de baixa renda.
2.3.1 Kirinda House, Khigeru Ban
Shigeru Ban é um arquiteto japonês que se destaca por realizar projetos de cunho social, para
desabrigados, utilizando materiais como papel, bambu e matéria prima local, estruturas de madeira
e fibra de carbono. Seu trabalho ganhou grande reconhecimento em 2014, quando ganhou o Prêmio
Pritzker de arquitetura (THE PRITZKER ARCHITECTURE PRIZE, 2017).
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Em Kirinda no Sri Lanka, o arquiteto teve a oportunidade de desenvolver o projeto de
habitações sociais para a reabilitação de uma vila de pescadores após sua destruição por um
tsunami, em 2004 (FREARSON, 2013). Após o incidente, os habitantes das vilas foram forçados a
viver em casa temporárias sob condições severas. Dada as condições, o programa do projeto exigia
a construção de 67 casas, uma mesquita – visto que a comunidade era da religião islâmica – e
plantações de árvores (SHIGERU BAN ARCHTECTS, 2007).
2.3.2 Casa Vila Matilde, Terra e Tuma arquitetos
Localizada em São Paulo, Brasil, a Casa Vila Matilde foi projetada pelo escritório Terra e
Tuma Arquitetos Associados, no ano de 2015.
Dalvina Ramos, que trabalha há 31 anos como diarista, morava há mais de 25 anos em sua
casa, no bairro que dá nome ao projeto, e o imóvel já se encontrava em condições precárias de
estrutura. Quando a construção entrou em ruínas, a proprietária viu a necessidade de uma nova casa,
mesmo com seu orçamento apertado (G1, 2016 s.p.; CASA VOGUE, 2016 s.p.).
A Casa Vogue (2016, s.p.) explica a conceituação do projeto, que se deu por conta do restrito
orçamento, de 150 mil reais economizados ao longo de toda a vida, e tempo de execução da obra,
uma vez que Dona Dalva não poderia ficar muito tempo pagando aluguel durante as obras.
Fonte: AKAA, 2011-2013.
Figura 1 - Fachada Kirinda House
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2.3.3 Quinta Monroy, Elemental
A habitação social Quinta Monroy, localizada em Sold Pedro Prado, Iquique, Chile, é um
projeto do escritório Elemental, regido pelo arquiteto Alejandro Aravena em 2004 (ARCHDAILY
BRASIL, 2012). O local onde a habitação está inserida estava ocupado ilegalmente há quase 30
anos, o objetivo da iniciativa era evitar a ida dessas famílias para periferias. A proposta
consistia em acomodar 100 famílias, com o custo de apenas 7,500 dólares (cerca de 24.500 reais) –
desde projeto até a compra do terreno e infraestrutura –, no melhor caso, com 36 m² de espaço
construído. Os arquitetos, então sugeriram não pensar no problema como um gasto, mas vê-lo como
um investimento (ELEMENTAL, 2017; ARCHDAILY, 2012).
Figura 2 - Interior Casa da Vila Matilde
Fonte: TERRA E TUMA, 2017.
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2.2.4 Moradia para professores de Gando, Kéré Architecture
Francis Kéré é um arquiteto do oeste africano, com escritório situado na Alemanha. Kéré se
destaca no meio construtivo por desenvolver estratégias que combinam materiais e técnicas
construtivas com métodos avançados de engenharia. Os projetos do arquiteto, principalmente em
seu país natal, e na sua cidade Gando, tem grande cunho social, com o exemplo de escolas, centros
de clinicas e orfanatos (KÉRÉ ARCHITECTURE, 2017).
Na cidade de Gando, em Burkina Faso, África Ocidental, Kéré projetou e executou as casas
para os professores, com intuito de atraí-los para a zona rural, para atuarem nas localidades menos
abastadas dos interesses do centro urbano (ARCHDAILY BRASIL, 2016).
Figura 3 - Moradias da Quinta Monroy ampliadas pelos usuários
Fonte: DEZEEN, 2008.
Figura 4 - Revestimento e telhado das casas dos professores de Gando
Fonte: KÉRÉ ARCHITECTURE, 2017.
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3. METODOLOGIA
A pesquisa bibliográfica será realizada conforme prega Marconi e Lakatos (2010, p. 166) que
diz que a pesquisa possibilita a discussão de informações referentes ao tema, essas informações
comportam tudo que é tornado público, como textos, imagens, gravações, vídeos, revistas, livros.
Então, com as informações coletadas, através da observação sistemática, será realizado estudo
de caso para responder o problema da pesquisa através do método indutivo. Na observação, não se
devem ser utilizadas normas rígidas para a solução do problema, pois os elementos em analise
podem se encontrar em diferentes situações. (MARCONI, LAKATOS, 2011, p. 278). O método
indutivo, por sua vez, fundamenta-se em argumentos “[...] o objetivo dos argumentos e levar a
conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam”
(MARCONI, LAKATOS, 2011, p. 53). Esse método consiste em observar os fatos estudados afim
de descobrir seus motivos, descobrir a relação entre eles e classificação – generalização – do
resultado. O estudo de caso será desenvolvido embasado nos preceitos delimitados por Gil (1991)
que diz que o estudo de caso é um estudo profundo de um objeto que permita aprofundamento do
no conhecimento do objeto em questão.
A abordagem dialética no projeto de pesquisa deixa o assunto em discussão, uma vez que para
a dialética as coisas não estão acabadas, sofrem uma ação recíproca onde o objeto de análise não é
algo fixo, mas está sempre em movimento (MARCONI, LAKATOS, 2010, p. 83).
4. ANÁLISES E DISCUSSÕES
Neste item serão analisadas as obras apresentadas anteriormente, relacionados com a temática
da habitação de interesse social, a partir dos aspectos influenciados da abordagem arquitetônica
contemporânea
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4.1 KIRINDA HOUSE, SHIGERU BAN
4.1.1 Aspectos identitários
O objetivo do arquiteto era de adaptar as casas de acordo com as necessidades particulares
de cada um. Para tal, Shigeru Ban conversou com os núcleos familiares contemplados com as
moradias (GARDIN, 2013).
Outro aspecto importante na identidade do local e do morador, foi que as casas foram
construídas no mesmo lugar que estavam locadas antes do tsunami. "Um dos principais benefícios
deste projeto foi que os beneficiários ganharam os títulos de suas novas propriedades, dando-lhes
segurança financeira e permitindo-lhes a futura opção de negociar suas casas legalmente7"
(BARAKAT, 2013 p. 5).
4.1.2 Aspectos socioculturais
O contexto sociocultural da vila de Kirinda consiste em pescadores de religião islâmica. De
acordo com os costumes muçulmanos, os espaços da casa precisam ser separados, pois a mulher
precisa evitar ser vista pessoalmente por seus visitantes. Sendo assim, “A distribuição espacial e o
‘conceito aberto’ são significativos, mas podem não ser inteiramente aceitáveis para os hábitos
culturais e sociais das comunidades muçulmanas, já que carecem de privacidade8” (German
Development Cooperation, 2006).
A moradia também deveria suportar espaço para manutenção e armazenamento dos
equipamentos de pesca e mergulho, atividade principal dos habitantes (GARDIN, 2013).
As alternativas construtivas e materiais também tiveram foco em movimentar a economia
local (ARCHDAILY BRASIL, 2014) uma vez que foi feito uso de materiais nativos e mão de obra
regional.
7 Trecho original: “A key benefit of this project was that the beneficiaries gained the titles of their new properties, thus
giving them financial security and allowing them the future option of collateralising their homes”. (Traduzido pela
autora). 8 Trecho original: “Spatial distribution and ‘open plan’ is sensitive but may not be entirely acceptable for the cultural
and social habits of Muslim communities, as it lacks privacy”. (Tradução livre da autora).
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4.1.3 Aspectos funcionais
Respeitando os aspectos dos moradores da vila, o programa de necessidades da habitação
continha dois quartos, um hall e uma área coberta que é um espaço semiaberto. O hall e a área
coberta podem se transformar em um quarto grande. No entanto, para respeitar o estilo de vida dos
moradores, estes espaços são separados por portas dobráveis, pois é necessário para as mulheres
evitarem de ver seus convidados pessoalmente. A área coberta é um espaço como a sombra de uma
árvore, que protege da luz solar direta e ventila através da casa. Portanto, este espaço desempenha
um papel importante na vida dos habitantes como ter uma refeição com a família, socializar com os
vizinhos e reparar suas redes de pesca e equipamentos (SHIGERU BAN ARCHTECTS, 2007).
4.1.4 Aspectos construtivos
A importância de manter um baixo orçamento e agilidade na construção no projeto foram
extremas, se tratando de um projeto de reabilitação. Dessa forma, optou-se por empregar mão-de-
obra e materiais locais (FREARSON, 2013). O principal material utilizado foi o bloco de terra
comprimido que está disponível no Sri Lanka a preço de custo e não necessita de mão-de-obra
especializada. O bloco tem uma superfície irregular, de modo que pode ser facilmente sobreposto e
construído como LEGO (SHIGERU BAN ARCHTECTS, 2007).
Além disso, o mobiliário também foi elaborado para as casas, pré-fabricados e montados no
local. Eles são feitos de seringueira, madeira que não é normalmente utilizada para fins
arquitetônicos, porém, a indústria de pneu é popular no Sri Lanka, o que ocasiona muitas arvores
plantadas pelo país (SHIGERU BAN ARCHTECTS, 2007).
4.2 CASA VILA MATILDE, TERRA E TUMA ARQUITETOS
4.2.1 Aspectos identitários
O filho da proprietária explica ao G1 (2016, s.p.) que, ao ver a necessidade das obras da casa
da mãe, procurou um escritório de arquitetura para realização do projeto. “Não queríamos nenhum
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engenheiro assinando, e não queríamos fazer o que é muito comum no bairro: contratar um amigo,
ou vizinho para fazer a obra”.
Tal feito revela que o projeto em questão foi tratado de maneira única. Em entrevista ao G1
(2016, s.p.) o arquiteto conta:
Essa não é uma casa virtuosa, com acabamentos de última geração. E além do orçamento
restrito, usamos aqueles materiais porque é a forma como entendemos o conforto. Uma casa
com blocos de concreto e estrutura aparente privilegia o espaço ao invés da superfície (G1,
2006).
O projeto da casa ainda confere a possibilidade da mudança de usos e adaptação dos espaços
pela usuária. A laje acima da sala que hoje é uma horta pode ser coberta, criando um novo espaço
de uso. As superfícies de chão, parede e teto também são possíveis de aplicação de revestimentos
(CASA VOGUE, 2016).
4.2.2 Aspectos socioculturais
Um importante aspecto para o projeto da moradia de Dona Dalva estava na sua vizinhança.
Após sua casa começar a desmoronara sobre sua cabeça, a primeira opção da moradora era de
vender a casa. Porém, fatores como vizinhança, questões financeiras e sua avançada idade
convenceram a moradora a decidir permanecer no local, reformando a casa (TERRA E TUMA,
2017). Sendo assim, os arquitetos tiveram papel importantíssimo para que a dona do imóvel
permanecesse em seu meio social e cultural de preferência e que há anos convivia.
Ao mesmo tempo que a casa antiga era demolida, foi necessário tomar extremo cuidado na
execução de muros de arrimo para apoiar as casas aos arredores do terreno, que eram construídas
apoiadas nos muros de divisa (ARCHDAILY BRASIL, 2015 s.p.).
4.2.3 Aspectos funcionais
A casa está situada em um lote com 4,8 metros de largura por 25m de profundidade. O
programa de necessidades está disposto em uma casa térrea, com sala, lavabo, cozinha, área de
serviço e suíte no térreo a fim de atender a demanda da moradora (ARCHDAILY BRASIL, 2015
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s.p.). Os quartos localizados na parte posterior da residência, enquanto uma articulação conecta
lavabo, cozinha, área de serviço e um jardim interno, até a sala conectam a sala na parte frontal.
Os arquitetos explicam “Na área central da casa, o pátio cumpre a função essencial de
iluminar e a ventilar. Esta área, serve também como extensões da cozinha e da área de serviço”
(TERRA E TUMA, 2017). No pavimento superior, há uma suíte para visitas. A área sobre a laje da
sala comporta a possibilidade de ser coberta, para ampliar o programa da casa a fim de atender a
futuras necessidades dos moradores.
4.2.4 Aspectos construtivos
A principal forma de adaptação do orçamento do projeto foi na escolha dos materiais e
acabamentos. “Utilizamos nossas recentes experiências com estrutura e blocos aparentes, para
viabilizar uma obra de baixo custo, com maior controle e agilidade” (TERRA E TUMA, 2017 s.p.).
A solução, então fazer fechamentos em blocos de concreto e as lajes pré-fabricadas de concreto
armado.
O acabamento ficou por conta do concreto aparente dos blocos das paredes, que reflete a
típica arquitetura moderna paulista, e é também muito usado na arquitetura contemporânea. Os
construtores tiveram o cuidado de executar a obra com requinte, para que a casa de tivesse o melhor
acabamento possível (CASA VOGUE, 2016 s.p.).
4.3 QUINTA MONROY, ELEMENTAL
4.3.1 Aspectos identitários
Segundo o The Guardian (2016) a atitude do arquiteto perante ao desafio do projeto foi optar
por, ao invés de oferecer uma moradia pequena, realizar metade de uma habitação de classe média,
que possibilitaria a ampliação do espaço da residência ao longo do tempo e das possibilidades
financeiras dos proprietários. “Nós pensamos numa tipologia onde os prédios pudessem fazer o uso
mais eficiente do solo e as casas permitissem expansão9” (ELEMENTAL, 2017).
9 Trecho original: “So we thought of a typology that, as buildings, could make a very efficient use of land and as houses
allowed for expansion”. (Traduzido pela autora).
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Através do processo de customização e adaptação das casas aos seus gostos e necessidades, os
sobrados cresceram, não só em tamanho e valor, mas os proprietários desenvolveram um
sentimento de orgulho, propriedade e pertença perante suas casas (ARCSPACE, 2016).
4.3.2 Aspectos socioculturais
Para respeitar a vivência em comunidade e as conexões sociais foi introduzido o espaço
coletivo, “uma propriedade comum, mas de acesso restrito, que dá lugar à sociabilização, atividade
chave para o êxito de entornos frágeis” (ARCHDAILY, 2012).
O próprio arquiteto afirma que, a cada dia que passa, as moradias comuns tem menor valor
especulativo, mas esse quadro tem que mudar, por esta razão um grande foco do projeto foi também
a valorização futura do imóvel (ARCHDAILY, 2012). “Para as famílias carentes, isso significa que
um subsídio modesto do governo poderia levar a um verdadeiro ponto de virada para longe da
pobreza10” (ARCSPACE, 2016).
4.2.3 Aspectos funcionais
Como visto anteriormente, o projeto consiste na construção de uma “meia” casa. Sendo
assim, o programa de necessidades a atender era composto por banheiros, cozinha, escadas e
paredes, que segundo o site do Archdaily (2012) são as partes mais difíceis da casa, além do espaço
para ampliação já previsto em projeto.
Se o objetivo do projeto era também conferir valor especulativo e mobiliário às residências,
a meta foi muito bem alcançada. “Após um ano, o valor de cada propriedade subiu além de US $
20.000 dólares (cerca de 65.000 reais). Ainda assim, todas as famílias preferiram ficar e continuar
melhorando suas casas, em vez de vendê-las11” (ELEMENTAL, 2017).
10 Trecho original: “For families in need, this means a modest government subsidy could then lead to a real turning
point away from poverty”. (Tradução livre da autora). 11 Trecho original: “After a year, each property value was beyond $20,000 dollars. Still, all the families have preferred
to stay and keep on improving their homes, instead of selling them”. (Tradução livre da autora).
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4.3.4 Aspectos construtivos
Segundo o Arcspace (2016) as unidades iniciais, as meias casas, contem pé direito duplo,
estruturas robustas de blocos de concreto, equipadas com os elementos básicos do programa de
necessidades, separados internamente por divisórias de madeira. Cada uma das estruturas alterna
com espaços vazios exatamente do mesmo tamanho dos espaços construídos, visando a futura
expansão. “À medida que os moradores se mudavam, para dentro das casas, podiam tomar esses
espaços e adaptar a estrutura às suas necessidades, personalizando seu espaço às suas próprias
custas e trabalho, acrescentando cor, textura e vida”.
4.3 MORADIA PARA PROFESSORES DE GANDO, KÉRÉ ARCHITECTURE
4.3.1 Aspectos identitários
As casas dos professores foi um projeto realizado com uma serie de módulos adaptáveis.
Cada módulo dotado do tamanho das cabanas utilizadas na região de Gando. Os módulos
individuais, então, podem ser combinados para ampliar espaço para toda a família do professor
(KÉRÉ ARCHITECTURE, 2017).
O primeiro objetivo do projeto de habitação dos professores foi desenvolver um conceito de
habitação ambientalmente amigável e sustentável, adaptado às necessidades das pessoas e à
situação financeira. As casas tiveram que oferecer uma quantidade razoável de conforto para atrair
professores e dar-lhes um ambiente de trabalho agradável 12(ARCHITECTUUL, 2017).
4.3.2 Aspectos socioculturais
Segundo o escritório, a chave para o sucesso do projeto das casas foi o envolvimento da
comunidade de Gando em todo o processo. Os moradores da vila não apenas adquiriram novas
habilidades construtivas, visto que os aldeões produziram os blocos de adobe “[...], mas também um
12 Trecho original: “The first aim of the teachers’ housing project was to develop an environmentally-friendly and
sustainable housing concept, adapted to people’s needs and financial situation. The houses had to offer a reasonable
amount of comfort in order to attract teachers, and to give them a pleasant working environment” (ARCHITECTUUL,
2017). Tradução livre da autora.
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senso de responsabilidade, consciência e sensibilidade perante os aspectos tradicionais e inovadores
de construção13” (KÉRÉ ARCHITECTURE, 2017).
A escolha por um desenho simples e mínimo uso de materiais comprados garantem que o
projeto possa ser facilmente adotado e reproduzido pelos aldeões da vila (ARCHDAILY BRASIL,
2016).
4.2.3 Aspectos funcionais
O clima é um fator de grande importância a ser considerado na região. Os materiais e
métodos utilizados foram escolhidos afim de conferir maior conforto térmico possível no interior
das casas (KÉRÉ ARCHITECTURE, 2017).
As seis casas estão dispostas em arco ao sul do complexo escolar, o que facilita o acesso dos
professores à escola. O formato curvilíneo da implantação não é apenas bonito, como também é um
remanescente de um complexo burkinabês tradicional (RODGERS, 2016).
4.3.4 Aspectos construtivos
Segundo Kéré Architecture (2017) um dos objetivos do projeto das casas era também
promover o uso da terra como um material construtivo sustentável e durável.
Os telhados das casas são abóbodas construídas a partir de blocos de terra, as paredes de
adobe possuem 40 cm de espessura, com uma base de cimento e pedras. A cobertura, uma camada
de concreto armado, foi feita no local. Quando os blocos de terra comprimida e a cobertura se
sobrepõem, o formato arredondado permite ventilação e luz natural na residência (ARCHDAILY
BRASIL, 2016).
Segundo o Archdaily Brasil (2016) tradicionalmente as construções de Burkina Faso
recebem um tipo de revestimento aplicado às paredes exteriores, uma mistura de sucos vegetais e
esterco de vaca. Porém, esses elementos atraem cupins e não se adequam aos períodos de chuva da
região. Então, na construção da casa dos professores “[...] o betume substituiu os aditivos orgânicos
tradicionais, dando um acabamento mais durável” (DIVISARE, 2013).
13 Trecho original: “The villagers not only gained new skills but also a sense of responsibility, awareness and sensitivity
to both the traditional and the innovative aspects of building” (KÉRÉ ARCHITECTURE, 2017). Tradução livre da
autora.
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De acordo com o escritório responsável pelo projeto, o método construtivo adotado are
anteriormente desconhecido na região, porém faz uso de materiais locais e é climaticamente
eficiente (KÉRÉ ARCHITECTURE, 2017).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão e estudo do quadro da arquitetura contemporânea, apresentados na
fundamentação teórica, possibilitam entendimento dos aspectos influenciadores da abordagem
arquitetônica contemporânea, bem como do contexto do surgimento da arquitetura social. Os
aspectos apresentaram elementos capazes de auxiliar na categorização do estudo e análise da
linguagem da arquitetura. São eles: aspectos identitários, socioculturais, funcionais e construtivos.
O surgimento e abordagem da arquitetura de habitação de interesse social, que é o foco principal
desta pesquisa, justifica e enfatiza a necessidade de se ter um olhar voltado para a moradia de
qualidade do cidadão. Foram, também, apresentadas as obras de habitação de interesse social.
Nas análises e discussões, foram elencados com os aspectos identitários, socioculturais,
funcionais e construtivos em cada obra apresentada.
Os projetos Kirinda House e Quinta Monroy constituem de grandes projetos de habitações
para diversos grupos familiares, onde na primeira as casas são unidades separadas, já a segunda
consiste em germinados. As casas para os professores de Gando por sua vez é um projeto de menor
dimensão espacial, mas que também atende à comunidade de baixa renda. Já a Casa Vila Matilde é
uma única residência individualmente projetada para a cliente. Mesmo situando-se em contextos
diferentes, os projetos carregam aspectos em comum, o da habitação de interesse social.
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