apostila modulo 4 -curso de liderança 2013
TRANSCRIPT
1
Nós não existe, mas é composto do Eu e Tu.
É uma fronteira sempre móvel
onde duas pessoas se encontram.
E quando há encontro, então eu me transformo,
e você também se transforma.
Frederick S. PERLS
Hoje, na crise do projeto humano, sentimos a falta clamorosa de cuidado em toda parte. Suas ressonâncias negativas se mostram pela má qualidade de vida, pela penalização da maioria empobrecida da humanidade, pela degradação ecológica e pela exploração exacerbada da
violência. Que o cuidado aflore em todos os âmbitos, que penetre na atmosfera humana e que prevaleça em todas as relações! O cuidado salvará a vida, fará justiça ao empobrecido e
resgatará a Terra como pátria e mátria de todos (
Leonardo BOFF
2
INTRODUÇÃO
Conviver é “viver com”. Consiste em partilhar a vida, as atividades, com os outros. Em todo
grupo humano existe a necessidade de conviver, de estar em relação com outros indivíduos.
Além disso, a convivência é também formativa, pois ajuda no processo de reflexão, interiorização
pessoal e auto-regulação do indivíduo.
O homem começa a ser pessoa quando é capaz de relacionar-se com os outros, quando
se torna capaz de dar e receber e deixa o egocentrismo dar lugar ao alterocentrismo. A
capacidade de estabelecer numerosas pontes de relacionamento interpessoal, é considerada
pelos estudiosos do comportamento como um dos principais sinais de maturidade psíquica.
Pelo fato de vivermos em sociedade, oferecemos aos outros uma imagem de nós mesmos,
assim como formamos conceito sobre cada uma das pessoas que conhecemos, ou seja, cada um
de nós tem um conceito das pessoas que conhece e cada uma delas tem um conceito de nós.
Assim como depositamos em cada pessoa conhecida um capital de estima maior ou menor,
temos com ela também a nossa cota, de acordo com o nosso desempenho pessoal e social.
De acordo com Fritzen (1998), a sociabilidade e a socialidade são as duas formas básicas
de estabelecer relação com o meio. A sociabilidade faz parte da natureza humana: é a
necessidade de comunicação ativa e passiva que se manifesta no indivíduo desde o seu
nascimento. A socialidade vai depender das circunstâncias, do ambiente, no nível de participação
da pessoa em nível social.
Existem pessoas mais abertas e extrovertidas, que comunicam com facilidade suas
impressões e estão sempre dispostas a receber as mensagens dos outros. São as pessoas que
consideramos comunicativas e sociáveis. Outras pessoas são mais tímidas e introvertidas,
propensas a reações de fechamento e de reserva, que sentem dificuldades na comunicação e
podem mostrar-se inseguros até mesmo diante de suas próprias possibilidades. Há pessoas mais
seletivas, que sentem dificuldade de extrapolar o círculo familiar, restringindo suas relações a
pessoas próximas e em número reduzido; assim como existem pessoas que manifestam
características de dominação, que gostam de impor sua vontade aos demais.
Enfim, pondera Fritzen, os estilos e formas de sociabilidade variam muito e também
dependem das situações, sendo necessário, para a boa relação interpessoal, certa disposição de
3
ânimo e interesse pelo outro: ver e ser visto, escutar e ser escutado, compreender e ser
compreendido.
NECESSIDADES INTERPESSOAIS E PROCESSO GRUPAL
Um grupo é composto de pessoas, mas não equivale à soma dos indivíduos, possuindo
uma realidade distinta e características peculiares. Neste são produzidos vários fenômenos
psicossociais a partir de ações que os favorecem. Participar de um grupo não significa ter as
mesmas idéias, mas participar de uma construção conjunta, consensual, pressupondo a
necessidade de abertura às idéias alheias e capacidade de aceitação.
Todo indivíduo chega a um grupo com necessidades interpessoais específicas e
identificadas, não consentindo em integrar-se até que certas necessidades fundamentais são
satisfeitas pelo grupo. Schutz (...) identifica três necessidades interpessoais básicas para esse
processo de integração: necessidade de inclusão, de controle e de afeição.
A necessidade de inclusão define-se pela ansiedade experimentada pelo membro novo de
um grupo quanto a se sentir aceito, integrado, valorizado por aqueles aos quais se junta. Esta é
uma fase importante para estabelecer confiança e sentimento de “pertencer”, resultando em
aumento da estima e confiança pessoal. Uma vez satisfeita esta necessidade de inclusão, a
atenção do indivíduo se dirige para a influência e o controle, consistindo na definição, pelo
próprio indivíduo, de suas responsabilidades no grupo e também as de cada um dos que o
formam, ou seja, sentir-se responsável por aquilo que constitui o grupo, suas estruturas, suas
atividades, seus objetivos, crescimento e progresso. Satisfeitas as primeiras necessidades, de
inclusão e controle, o indivíduo confronta-se com as necessidades emocionais, de afeição, que
consiste em obter provas de ser valorizado, estimado e respeitado pelo grupo, não apenas pelo
que tem a oferecer, mas pelo que é, como ser humano.
4
PEDAGOGIA DA SUSTENTABILIDADE:
ÉTICA E SOLIDARIEDADE
O principal fundamento da boa governança é o compromisso com a ética, aqui entendida
como um código de valores partilhados por toda a sociedade, com o objetivo de proteger o
conjunto de seus membros contra os interesses de uma minoria. Ao fixar limites para o
comportamento individual, a ética, em realidade, estabelece condições de previsibilidade
necessárias ao bom funcionamento do corpo social, inclusive no mundo privado e dos negócios.
O enfraquecimento do Estado, a desorganização social e a ênfase na vida material
aumentam os sentimentos coletivos de falta de proteção e abandono que levam muitas pessoas
para o misticismo, enquanto outras permanecem totalmente descrentes. O individualismo
predatório mina as bases mais sólidas da vida em sociedade, a solidariedade grupal, os laços de
família e de vizinhança. Esse processo corrosivo provoca sérios danos morais e materiais à
comunidade humana.
A expansão das fronteiras do
conhecimento racional e a crença
incondicional de que a tecnologia pode
resolver todos os problemas
enfrentados pelo ser humano é um
ponto sensível que se confunde com a
laicização e a especialização excessiva
e com a perda de referências humanas
e afetivas. Problemas e situações como
a manipulação genética, as armas de
extermínio, os resíduos perigosos, os
transplantes de órgãos, e,
especialmente, a devastação
ambiental, impõem uma ética entre gerações cuja consequência exige extrema responsabilidade
e precaução.
A prosperidade material se fez acompanhar - como já ocorreu em outras civilizações do
passado - de um profundo vazio moral. Mas o fato novo foi a crise ecológica e a possibilidade de
esgotamento de nossos recursos naturais, comprometendo a continuidade da vida. A Agenda 21
propõe a pedagogia da sustentabilidade como modeladora dos códigos éticos do século XXI.
Surge, portanto, a partir dessas grandes lacunas, a ideia-força de uma civilização
planetária, ligada a uma sociedade mundial que comungue dos mesmos ideais de celebração da
vida, da solidariedade, da justiça e em torno de temas que afetam todos os seres humanos: a
alimentação, a água, o ar, a saúde, a moradia, a educação, a segurança, a comunicação. Essa
dependência comum das fontes naturais e sociais da existência exige uma nova ética do cuidado,
5
proposta por Leonardo Boff, um dos redatores da Carta da Terra, junto com o sentido de
compaixão.
Portanto, nesta perspectiva, seguindo a proposições de Paulo Freire e Moacir Gadotti, o
Movimento Cidade Futura se engajou na promoção da pedagogia da sustentabilidade. Com esta
Pedagogia da Sustentabilidade vamos construir os alicerces de uma cidade educadora, onde irá
prevalecer a sustentabilidade no processo de seu desenvolvimento. Para tanto, devemos
aprofundar as discussões em torno do conceito de solidariedade cidadã, pedagogia comunitária e
gestão participativa, construindo uma Ética por meio da qual todos os cidadãos saibam
relacionar-se conscientemente com a natureza e com os outros na cidade futura.
A meta deste enfoque é discutir os paradigmas da Terra como uma comunidade global. Os
princípios da pedagogia da sustentabilidade são mais amplos do que a educação ambiental,
desde que seu debate inclui processos de "co-educação", no marco da cultura de
sustentabilidade, dentro e fora das escolas. A sustentabilidade educativa está além das nossas
relações com o ambiente – ela se insere desde o quotidiano da vida, o profundo valor da nossa
existência e nossos projetos de vida no Planeta Terra. Neste sentido, a pedagogia da
sustentabilidade é algo mais apropriado para a construção coletiva da Carta da Terra.
Não aprendemos a amar a Terra lendo livros sobre isso, nem livros de ecologia integral. A
experiência própria é o que conta. Plantar e seguir o crescimento de uma árvore ou de uma
plantinha, caminhando pelas ruas da cidade ou aventurando-se numa floresta, sentindo o cantar
dos pássaros nas manhãs ensolaradas ou não, observando como o vento move as plantas,
sentindo a areia quente de nossas praias, olhando para as estrelas numa noite escura. Há muitas
formas de encantamento e de emoção frente às maravilhas que a natureza nos reserva. É claro
existe a poluição, a degradação ambiental para nos lembrar de que podemos destruir essa
maravilha e para formar nossa consciência ecológica e nos mover à ação. Acariciar uma planta,
contemplar com ternura um pôr de sol, cheirar o perfume de uma folha de pitanga, de goiaba, de
laranjeira ou de um cipreste, de um eucalipto... são múltiplas formas de viver em relação
permanente com esse planeta generoso e compartilhar a vida com todos os que o habitam ou o
compõem. A vida tem sentido, mas ele só existe em relação. Como diz o poeta brasileiro Carlos
Drummond de Andrade: "Sou um homem dissolvido na natureza. Estou florescendo em todos os
ipês".
HISTÓRICO DA PEDAGOGIA DA SUSTENTABILIDADE EM UBERLÂNDIA
A Pedagogia da Sustentabilidade foi inserida nas atividades de extensão da Universidade
Federal de Uberlândia (UFU) pelo MOVIMENTO CIDADE FUTURA no Fórum Ampliado de
Organização do III ENESCPOP – Encontro Nacional de Educação, Saúde e Cultura Populares,
que aconteceu em maio de 2008, em Uberlândia, no Campus Santa Mônica.
6
Propomos esta visão, e felizmente o coletivo, na época, entendeu e aprovou, porque
acreditamos que a sustentabilidade tornou-se um tema gerador preponderante neste início de
milênio para pensar não só o planeta, mas um projeto social global, capaz de reeducar nosso
olhar e todos os nossos sentidos, capaz de reacender a esperança num futuro possível, com
dignidade, para todos, como tem afirmado o pedagogo Moacir Gadotti.
O modo pelo qual vamos produzir nossa existência neste pequeno planeta decidirá sobre a
sua vida ou a sua morte, e a de todos os seus filhos e filhas. A educação está articulada
umbilicalmente com o tema da sustentabilidade e da preservação do meio ambiente. Por isso,
propomos como um dos eixos temáticos a Pedagogia da Sustentabilidade, por entendemos que
necessitamos de uma ecopedagogia, que recoloque a relação entre a natureza e o ser humano
como tema da educação e que esta relação se reproduza em todos os espaços públicos da
cidade urbana ou rural.
Queremos uma Pedagogia da Sustentabilidade que seja apropriada para esse momento de
reconstrução paradigmática, apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz. Ela vem se
constituindo gradativamente, beneficiando-se de muitas reflexões que ocorreram nas últimas
décadas, principalmente no interior do movimento pela ecologia e por cidades educadoras. De
acordo com o professor Moaciar Gaotti, ela “se fundamenta num paradigma filosófico emergente
na educação que propõe um conjunto de saberes/valores interdependentes. Entre eles podemos
destacar: 1º) Educar para pensar globalmente; 2º) Educar os sentimentos; 3º) Ensinar a
identidade terrena como condição humana essencial; 4º) Formar para a consciência planetária;
5º) Formar para a compreensão; 6º) Educar para a simplicidade e para a quietude”.
Lutamos por construir um novo ambiente comunitário na cidade futura. Nossas vidas
precisam ser guiadas por novos valores: simplicidade, austeridade, quietude, paz, saber escutar,
saber viver juntos, compartir, descobrir e fazer juntos. Precisamos escolher entre um mundo mais
responsável frente à cultura dominante que é uma cultura de guerra, de competitividade sem
solidariedade, e passar de uma responsabilidade diluída a uma ação concreta, pessoal,
praticando a sustentabilidade na vida diária, na família, no trabalho, na escola, na rua.
Com esta Pedagogia da Sustentabilidade vamos construir os alicerces de uma cidade
futura, onde irá prevalecer a sustentabilidade no processo de seu desenvolvimento. Para tanto,
devemos aprofundar as discussões em torno do conceito de solidariedade cidadã, pedagogia
7
comunitária e gestão participativa, construindo uma Ética por meio da qual todos os cidadãos
saibam relacionar-se conscientemente com a natureza e com os outros na cidade futura.
Trabalhos pela educação sedimentada na formação integral, em que o cidadão é
considerado na sua multidimensionalidade de ser humano. Novos paradigmas pedagógicos,
tendo em vista a formação humanística, ética e solidária, sustentando a vida num equilíbrio
dinâmico, buscando a redução da violência, em todas as suas formas, e vislumbrando o homem
como um ser planetário.
O Movimento Cidade Futura propõe a pedagogia da sustentabilidade em uma perspectiva
da educação maior do que uma pedagogia do desenvolvimento sustentável integrado, tanto das
pessoas como do território. A pedagogia da sustentabilidade não se preocupa apenas com uma
relação saudável com o meio ambiente, mas com o sentido mais profundo do que fazemos com a
nossa existência, a partir da vida cotidiana, com o que fazemos como nosso próximo, como nós
cuidamos das pessoas.
8
O que é cuidar
Cuidar é um ato de preservação, aprendido por meio das experiências vividas e dos
saberes desenvolvidos pela cultura da qual fazemos parte. Este ato se traduz em atitudes e
comportamentos relacionados à atenção, ao zelo, ao respeito aos limites, à cautela, tanto frente a
si próprio e como frente ao outro. O perfil de cuidador é próprio e individual, cujos conhecimentos
e habilidades se refletem nas atitudes de cuidar de si, do outro e na própria disponibilidade
interna em se deixar cuidar pelo outro.
O cuidar dá-se em três vertentes: consigo próprio - o autocuidado; cuidado para com o
outro - o cuidar de; e cuidado do outro para mim - o ser cuidado. As três vertentes sempre
precedem uma relação de apego e afeto. Não se cuida se não há estima a si próprio e ao outro.
Em seu livro SABER CUIDAR, Leonardo Boff traz uma reflexão acerca do cuidado e da
compaixão, pelos outros e também pelo planeta Terra. Em sua proposta, direciona o leitor a uma
reflexão crítica sobre os problemas do mundo, onde a falta de atitudes de cuidado são os
sintomas dos maiores problemas da humanidade. De acordo com o autor, degradação ambiental
do planeta, as relações superficiais entre as pessoas e a falta de conhecimento de si mesmo,
levam a falência da Terra.
O autor apresenta crítica ao realismo materialista, a então filosofia de sustentação do
cientificismo tecnicista atual, tecendo uma critica acerca da razão analítica, ditame da nossa
sociedade pós-moderna, sociedade esta que se configura pelo encapsulamento do existir, um
existir individual que não oferece espaço para o cuidado. Posto isso, o autor propõe um novo
ethos, um modo-de-ser-essencial (re) significando as formas de agir e resgatando o cuidado
inerente á existência humana.
Leonardo Boff desenvolve a sua obra utilizando-se de fábulas e mitos, para apresentar a
origem do homem e o significado do cuidado, sendo a essência do ser humano, o saber cuidar.
Para o autor, o homem apenas constitui-se homem, a partir do cuidado, cuidado esse essencial a
sua condição. Com a fábula-mito do cuidado elaborada por Higino, o autor explica o sentido do
cuidado para a vida humana como forças que atuaram nos universais mais importantes: o céu
(Júpiter), a terra (Tellus), a história e a utopia (Saturno). A partir desta fábula, ele aprofunda as
suas várias dimensões na vida pessoal, social e planetária do humano. Como indicação para o
caminho certo, Boff aponta uma nova ternura para com a vida e um sentimento (pathos) autêntico
de pertença a Mãe-Terra no modo de ser essencial por meio do "cuidado essencial".
Apresenta então dois conceitos cruciais desta obra, as formas de ser no mundo: a do
trabalho e a do cuidado. O modo-de-ser-no-mundo pelo trabalho é o de interação e de
intervenção na natureza. Já o outro modo de ser-no-mundo se realiza pelo cuidado em que a
relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. Ainda neste contexto, Boff traz a ideia do
cuidado em relação às formas de cuidar, a falta de cuidado no mundo atual, e o que seria
necessário para amenizar esse mal, resgatando a re-espiritualização como um dos remédios da
humanidade, o cuidar como prioridade de vida.
9
Em seguida, Boff, propõe uma "cultura acústica" do cuidado como o amor sendo um
fenômeno biológico, um equilíbrio ou medida justa, uma carícia essencial, uma cordialidade
fundamental e uma compaixão radical que podem ser concretizadas com o planeta e todos os
seus seres numa espécie de inversão da cultura e práxis em vigor na ética mundial. A proposta
desta obra, é uma nova ética para a conduta humana nas relações com o meio e com o outro,
partindo para uma nova ótica. Para tanto, o autor apresenta caminhos para a cura e o resgate da
essência humana, de modo que o homem deve passar por uma alfabetização ecológica, revendo
os hábitos de consumo, aprendendo a conviver, a mostrar seu carinho e sua generosidade,
alimentar o amor, o contato humano, aumentar a capacidade de sentir, aprendendo a cuidar do
planeta, sempre envolto em uma ética de cuidado.
Refletindo Sobre Saber Cuidar
Vivemos na era pós- moderna, era da morte de Deus e da assunção da razão técnico-
cientifica. Neste contexto impera o capitalismo como produtor e reprodutor de ditames do existir
humano, tendo como matéria-prima a subjetividade humana, de modo que " o neocapitalismo
convoca e sustenta modos de subjetivação singulares, mas para serem reproduzidos, separados
de sua relação com a vida, reificados e transformados em mercadoria: clones fabricados em
massa, comercializados como 'identidades prêt-à-porter'." ( ROLNIK, 1997, p.03).
Neste contexto percebe-se um homem desamparado, fragmentado diante de uma
sociedade liquida, onde não existem grandes verdades, onde as relações são técnicas e
superficiais, onde cada um deve falar e cuidar apenas por si. Constata-se que "(...) o ser humano
da modernidade entrou num aceleradíssimo processo de secularização. Não precisa de Deus
para legitimar e justificar pactos sociais. A religião persiste mas não consegue ser fonte de
sentido transcendente para o conjunto da sociedade." (BOFF, 1999, p. 21).
Deste cenário, surge a angustia, angustia geradora de sofrimento, um sofrimento solitário,
posto que, como aponta Critelli apud Lima (2001), a partir da modernidade efetivou-se o
"fenômeno de desenraizamento da existência" de modo que o homem não consegue ligar-se com
os outros, com o mundo e lidar com o seu desamparo constitutivo. Neste sentido, Boff aponta em
sua obra, que a única saída possível para esse "caos" que é o existir humano na sociedade
contemporânea, seria o cuidado que segundo clássicos dicionários de filologia, alguns estudiosos
derivam cuidado do latim cura. Esta palavra é um sinônimo erudito de cuidado, usada na tradução
de Ser e Tempo de Martin Heidegger. Em sua forma mais antiga, cura em latim se escrevia coera
e era usada num contexto de relações de amor e de amizade. Expressava atitude de cuidado, de
desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa amada ou por um objeto de estimação. (
BOFF, 1999, p.90-91).
O autor clarifica o cuidado como uma atitude de desvelo, solicitude para com um outro, que
deve acima de tudo ser amado, pois o cuidado verdadeiro, pontua o autor, só acontece quando
existe uma pré-ocupação genuína com o outro.
10
De acordo com Lima (2001), na Grécia clássica a prática do cuidado de si era indissociável
ao cuidado do outro, com a influência moderna da cultura romana, essa lógica muda
substancialmente, de modo que "o cuidado de si não é mais pressuposição do cuidado do outro.
O cuidado de si tautologicamente torna-se fim em si mesmo" (LIMA, 2001, p.185).
Entretanto, para Boff, o cuidado é inerente a condição/constituição humana, ou seja, o
autor pontua o cuidado como essência da humanidade (...) Não se trata de pensar e falar sobre
cuidado como objeto independente de nós. Mas de pensar e falar a partir do cuidado como é
vivido e se estrutura em nós mesmos. Não temos cuidado. Somos cuidado. Isso significa que o
cuidado possui uma dimensão ontológica que entra na constituição do ser humano. É um modo-
de-ser singular do homem e da mulher. Sem cuidado deixamos de ser humanos. (BOFF, 1999,
p.89).
Neste sentido ainda há muito o que evoluirmos no nosso acontecer humano, para que
possamos, como acredita Boff, alcançar o ponto ideal de equilíbrio entre a falta e o excesso de
cuidado, e assumirmos a essência do cuidado em nosso existir, posto que " não se pode ser
apenas cuidado. Ele é a essência do humano, mas o humano não é só a sua essência. Existe a
historia ziguezagueante, as ressonâncias do cuidado, as limitações que cabe acolher e revelar"
(PASCAL apud BOFF,1999, p.161).
Leonardo Boff vem propor através da sua obra uma verdadeira re-significação do que é ser
humano em essência e cuidado, de modo que em alguns trechos do livro transparece certo
"romantismo" ao se tratar das posturas e comportamentos diante do mundo e dos outros.
Entretanto Compreende-se aqui, o cuidado muito mais como uma postura ética diante do existir e
lidar com os outros com as coisas que fazem pano de fundo nas nossas vidas, sabendo tratar
coisas como coisas, e pessoas como pessoas, não o contrário.
Talvez um dia sejamos capazes de um cuidar incondicional, um cuidado em não
precisemos nos esconder da dor e do sofrimento, onde possamos nos doar ao outro sem nos
esconder por traz das mascaras da instrumentalidade, da técnica, da coisificação. Talvez o
humano seja ainda uma porção de argila, á margem de uma sociedade capitalista e liquefeita,
entretanto com possibilidade de auto moldar-se ao rigor de uma ética do existir e relacionar-se
com os outros.
11
ÉTICA: CONCEITO E HISTÓRIA
A história da ética se entrelaça com a história da filosofia. No século VI a.C., Pitágoras
desenvolveu algumas das primeiras reflexões morais, afirmando que a natureza intelectual é
superior à natureza sensual e que a melhor vida é aquela dedicada à disciplina mental. Seus
ensinamentos forjaram a maior parte das escolas de filosofia moral gregas da posteridade.
Para Platão, o mal não existia por si só, sendo apenas um reflexo imperfeito do real, que é
o bem, elemento essencial da realidade. Afirmava ele que, na alma humana, o intelecto tem que
ser soberano, figurando a vontade em segundo lugar e as emoções em terceiro, sujeitas ao
intelecto e à vontade. Aristóteles considerava a felicidade a finalidade da vida e a conseqüência
do único atributo humano, a razão. As virtudes intelectuais e morais seriam apenas meios
destinados à sua consecução. O epicurismo, por sua vez, identificava como sumo bem o prazer,
principalmente o prazer intelectual, e, tal como os estóicos, preconizava uma vida dedicada à
contemplação.
No fim da Idade Média, São Tomás de Aquino viria a fundamentar na lógica aristotélica os
conceitos agostinianos de pecado original e da redenção por meio da graça divina. À medida que
a Igreja medieval se tornava mais poderosa, desenvolvia-se um modelo de ética que trazia
castigos aos pecados e recompensa à virtude através da imortalidade. Thomas Hobbes, no
Leviatã (1651), asseverava que os seres humanos são maus e necessitam de um Estado forte
que os reprima. Para Spinosa, a razão humana é o critério para uma conduta correta e só as
necessidades e interesses do homem determinam o que pode ser considerado bom e mau, o
bem e o mal. Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, em seu Contrato social (1762), atribuía o mal
ético aos desajustamentos sociais e afirmava que os seres humanos eram bons por natureza.
Uma das maiores contribuições à ética foi a de Immanuel Kant, em fins do século XVIII.
Segundo ele, a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas conseqüências, mas apenas
por sua motivação ética. Kant partiu do pressuposto que a razão guia a moral e que três são os
pilares em que se sustenta: Deus, liberdade e imortalidade. Porém, adverte que a simples
inclinação para o cumprimento da lei, por respeito, não é o exercício de uma vontade para si
mesmo. Sem liberdade não pode haver virtude e sem esta não existe a moral, nem pode haver
felicidade dos povos, porque também não pode haver justiça. Para Kant, quando alguém cumpre
12
um dever ético por interesse, pode até lucrar com isto, mas não pode receber a classificação de
virtuoso.
As teses do utilitarismo, formuladas por Jeremy Benham, sugerem o princípio da utilidade
como meio de contribuir para aumentar a felicidade da comunidade. Já para Hegel, a história do
mundo consiste em "disciplinar a vontade natural descontrolada, levá-la a obedecer a um
princípio universal e facilitar uma liberdade subjetiva".
O desenvolvimento científico que mais afetou a ética, depois de Newton, foi a teoria da
evolução apresentada por Charles Robert Darwin. Suas conclusões foram o suporte documental
da chamada ética evolutiva, do filósofo Herbert Spencer, para quem a moral resulta apenas de
certos hábitos adquiridos pela humanidade ao longo de sua evolução. Friedrich Nietzsche
explicou que a chamada conduta moral só é necessária ao fraco, uma vez que visa a permitir que
este impeça a auto-realização do mais forte. Bertrand Russell marcou uma mudança de rumos no
pensamento ético das últimas décadas. Reivindicou a idéia de que os juízos morais expressam
desejos individuais ou hábitos aceitos. A seu ver, seres humanos completos são os que
participam plenamente da vida social e expressam tudo que faz parte de sua natureza.
João Baptista Herkenhoff apresenta a seguinte definição sobre o que seriam normas
éticas; "São normas que disciplinam o comportamento do homem, quer o íntimo e subjetivo, que
o exterior e social. Prescrevem deveres para a realização de valores. Não implicam apenas em
juízos de valor, mas impõem a escolha de uma diretriz considerada obrigatória, numa
determinada coletividade. Caracterizam-se pela possibilidade de serem violadas."
Podemos concluir que a ética disciplina o comportamento do homem, quer o exterior e
social, quer o íntimo e subjetivo. Prescreve deveres para realização de valores. Não implica
apenas em Juízos de valor, mas impõe uma diretriz considerada obrigatória pela sociedade. Este
conjunto de preceitos morais devem nortear a conduta do indivíduo no ofício ou na profissão que
exerce, devendo necessariamente contribuir para a formação de uma consciência profissional
composta de hábitos dos quais resultem integridade e a probidade, de acordo com as regras
positivadas num ordenamento jurídico.
Embora o termo ética seja empregado, comumente, como sinônimo de moral, a distinção
se impõe. A moral disciplina o comportamento do homem consigo mesmo, trata dos costumes,
deveres e modo de proceder dos homens para com os outros homens, segundo a justiça e a
13
equidade natural. A primeira, moral propriamente dita, é a moral teórica, ao passo que a segunda
seria a ética, ou a moral prática.
A Ética é o pensamento filosófico acerca do comportamento moral do homem, dos
problemas morais e dos juízos morais enquanto a moral é o conjunto de normas, princípios e
valores, aceitos ou descobertos de forma livre e consciente, que regulam o comportamento
individual dos homens. A filosofia define ”ética” como o estudo da “conduta ideal”, esta decorrente
de um conceito mais amplo, o de “homem ideal”.
Sem perder sua autonomia científica, a Ética tem ligações muito fortes com as doutrinas
mentais e espirituais. Os estudos científicos da mente chegaram a conclusões comuns no que
tange à influência dos conhecimentos adquiridos nas primeiras idades. Desta forma, mesmo
admitindo-se mudanças por força de outras influências, o campo da infância é mais fértil que o de
outras idades para sua formação moral. É nesta fase que se deve estimular virtudes e repelir toda
a tendência para o vício, sustentando os princípios éticos que irão norteá-la quando adulta.
Portanto, segundo esta teoria, é no lar e na escola a principal usina de moldagem das
consciências.
O descumprimento de um dever ético pode estar explicado nos conceitos de virtude que
foram absorvidos pela educação ou pela ambiência do ser. A agressão aos bons costumes,
quando se consagra como prática aceita socialmente, compromete o futuro das novas gerações,
por desrespeito ao passado e negligência no presente. Em tudo parece haver uma tendência para
a organização e os seres humanos não fogem a essa vocação. Em cada agrupamento, no
entanto, depende de uma disciplina comportamental e de conduta. Hoje, o estudo da Ética não
pode desprezar a associação da razão com a emoção.
ÉTICA PROFISSIONAL E DEONTOLOGIA
Com referência ao ser humano em especial, é exigível uma conduta especial, denominada
de Ética. Como os seres são heterogêneos, face suas próprias características, a
homogeneização perante a classe precisa ser regulada de forma que o bem geral esteja
preservado, incluindo o próprio indivíduo. O ser humano é tendencioso a defender em primeiro
lugar seus interesses próprios. Se laborado desta forma, em geral, tem seu valor restrito,
enquanto ao praticar atos com amor, visando o benefício de terceiros, passa a existir a expressão
social na sua prática.
14
Sua utilidade mais presente consiste em ditar as qualidades das ações humanas,
definindo-as como boas ou ruins, tendo como norte a razão da felicidade – “o soberano bem”. Em
resumo, a Ética é uma ciência que estuda os valores e virtudes do homem, estabelecendo um
conjunto de regras de conduta e de postura a serem observadas para que o convívio em
sociedade se dê de forma ordenada e justa. Já “deontologia” consiste no conjunto de regras e
princípios que regem a conduta de um profissional, uma ciência que estuda os deveres de uma
determinada profissão.
A problemática das profissões foi, desde muito cedo, objeto de análise da sociologia. Émile
Durkheim questionava-se já sobre o papel das corporações, que considerava indispensáveis ao
funcionamento democrático da sociedade. O conceito de profissão decorrente, sobretudo, de uma
construção social, sendo susceptível de sofrer alterações de acordo com as condições sociais em
que é utilizado. O fato de variar em função do tempo e do contexto em que ocorre, faz com que
esta noção dê ensejo a uma pluralidade de significações, implicando, em virtude disso, a
inexistência de uma definição fixa ou universal.
A profissão não deve ser considerada como um somatório de características distintivas,
mas como um processo de emergência e de diferenciação social de determinado grupo
ocupacional, que faz variar o estatuto e o reconhecimento das profissões ao longo dos tempos.
Sociologicamente, profissão pode ser entendida como o desempenho de uma atividade humana,
apoiada num saber e em valores próprios.
Do particípio grego tò deón, a palavra deontologia remete para as dimensões do que
“deve ser ou fazer-se”. Este termo aplica-se, normalmente, ao conjunto de deveres, próprios de
determinada situação social, sobretudo profissional. A deontologia deve constituir uma expressão
de autonomia profissional. A regulação ética do desempenho profissional surge, deste modo, a
par da formação profissional interiorizada no decorrer de uma longa escolarização, da
profissionalização dos docentes e da existência de associações, como um dos elementos
constitutivos do profissionalismo:
O profissional brasileiro está sujeito a uma deontologia própria a regular o exercício de sua
profissão conforme o Código de Ética de sua classe. O Direito é o mínimo de moral para que o
homem viva em sociedade e a deontologia dele decorre posto que trata de direitos e deveres dos
profissionais que estejam sujeitos a especificidade destas normas. A normatização é própria do
15
Código Deontológico, repositório de direitos e deveres dos profissionais que de maneira geral não
permeiam seus artigos de uma visão ética.
A tutela do trabalho processa-se pelo caminho da exigência de uma ética, imposta através
dos conselheiros profissionais e de agremiações classistas (institutos, associações, sindicatos,
federações, etc). As normas devem ser condizentes com as diversas formas de prestar o serviço
e de organizar o profissional para este fim.
A ética é indispensável ao profissional porque na ação humana "o fazer" e "o agir" estão
interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir
para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de
atitudes que deve assumir no desempenho de sua profissão.
Sendo a ética inerente à vida humana, sua importância é bastante evidenciada na vida
profissional, porque cada indivíduo tem responsabilidades individuais e responsabilidades sociais,
pois envolvem pessoas que dela se beneficiam. O valor ético do esforço humano é variável em
função de seu alcance em face da comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir renda,
em geral, tem seu valor restrito.
Assim, ética profissional pode ser concebida como sendo um conjunto de normas de
conduta que deverão ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. Assim, quando
falamos de ética profissional estamos nos referindo ao caráter normativo e até jurídico que
regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e códigos específicos.
A tutela do trabalho processa-se pelo caminho da exigência de uma ética, imposta através
dos conselhos profissionais e de agremiações classistas. As normas devem ser condizentes com
as diversas formas de prestar o serviço de organizar o profissional para esse fim. A conduta
profissional, muitas vezes, pode tornar-se agressiva e inconveniente e esta é uma das fortes
razões pelas quais os códigos de ética quase sempre buscam maior abrangência. A conduta do
ser humano pode tender ao egoísmo, mas, para os interesses de uma classe, de toda uma
sociedade, é preciso que se acomode às normas, porque estas devem estar apoiadas em
princípios de virtude.
Uma classe profissional caracteriza-se pela homogeneidade do trabalho executado, pela
natureza do conhecimento exigido preferencialmente para tal execução e pela identidade de
16
habilitação para o exercício da mesma. A classe profissional é, pois, um grupo dentro da
sociedade, específico, definido por sua especialidade de desempenho de tarefa.
A divisão do trabalho é antiga, ligada que está à vocação e cada um para determinadas
tarefas e às circunstâncias que obrigam, às vezes, a assumir esse ou aquele trabalho; ficou
prático para o homem, em comunidade, transferir tarefas e executar a sua. A formação das
classes profissionais decorreu de forma natural, há milênios, e se dividiram cada vez mais.
Historicamente, atribui-se à Idade Média a organização das classes trabalhadoras, notadamente
as de artesãos, que se reuniram em corporações A união dos que realizam o mesmo trabalho foi
uma evolução natural e hoje se acha não só regulada por lei, mas consolidada em instituições
fortíssimas de classe.
Não obstante os deveres de um profissional devem ser levadas em conta as qualidades
pessoais que também concorrem para o enriquecimento de sua atuação profissional, algumas
delas facilitando o exercício da profissão. Muitas destas qualidades poderão ser adquiridas com
esforço e boa vontade, aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer de sua
atividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las ao
lado dos deveres profissionais.
O senso de responsabilidade é um elemento fundamental no exercício profissional. Uma
pessoa que se sinta responsável pelos resultados da equipe terá maior probabilidade de agir de
maneira mais favorável aos interesses do grupo dentro e fora da organização. As pessoas que
optam por não assumir responsabilidades podem ter dificuldades em encontrar significado em
suas vidas, pois seu comportamento é regido pelas recompensas e sanções de outras pessoas.
Atualmente as organizações buscam melhorar o ambiente de trabalho, qualidade e
produtividade por meio da ética. Nos últimos vem-se abordando mais profundamente a
importância da ética dentro do local de trabalho, nas relações interpessoais e no desempenho
das tarefas cotidianas. Um ambiente de trabalho que propicie regras claras e justas fornece um
balizamento ético-moral e a manutenção de altos índices de motivação produtividade e qualidade.
A preocupação das empresas com a ética propicia, além do cumprimento das leis,
qualidade e redução de custos por pequenos deslizes éticos, verificados diariamente e que
podem trazer prejuízos à qualidade dos relacionamentos e ao próprio desenvolvimento do
processo de trabalho.
17
A confusão entre o que é falta de ética e desonestidade é muito grande. A ética, no fundo,
é a procura do bem comum, o respeito próximo. As pessoas devem conservar a ética sempre,
sejam em grandes ou pequenas questões porque agir com correção é o que se espera dos
demais. O senso da ética acontece quando cada um faz sua opção, e aí funciona a consciência
de cada um.
A elaboração e outorga de um código de ética é um elemento constitutivo da identidade
profissional de um grupo. Sem uma ética não há uma comunidade. As vantagens fundamentais
de um código deontológico advêm, portanto, da promoção de uma identidade profissional, a qual
se espelha na imagem interna e externa da profissão e na afirmação da autonomia em relação à
heteronomia dos regulamentos governamentais. Os códigos deontológicos têm a função de
garantir a qualidade dos serviços que se prestam e asseverar que os profissionais são dignos de
confiança por parte dos seus concidadãos, uma vez que atuam com o rigor e a seriedade a que o
código de ética lhes adverte.
Nem sempre é possível acumular todo conhecimento exigido por determinada tarefa, mas
é necessário que se tenha a postura ética de recusar serviços quando não se tem a devida
capacitação para executá-lo. Assim, cada homem deve proceder de acordo com princípios éticos.
Cada profissão, porém, exige, de quem a exerce, além dos princípios éticos comuns a todos os
homens, procedimento ético de acordo com a profissão.
O comportamento ético deve ser procurado principalmente por aqueles que, na maioria das
vezes exercem suas funções em equipes multiprofissionais no serviço público ou privado.
Inúmeros elementos de respeito, moralidade, responsabilidade e princípios éticos devem estar
envolvidos na postura desses profissionais, que estarão em contato com outros indivíduos cujas
escolhas morais podem não ser claramente definidas. Cabe a cada um, então, a consciência de
estar respaldado em princípios éticos sérios, que estão além de interesses passageiros e
conveniências pessoais, pelos quais o seu “fazer” profissional vai estar resguardado.
18
OS CAMINHOS DA SUSTENTABILIDADE
Hoje vivemos uma sucessão de catástrofes naturais estranhas e inusitadas como nunca
antes foram vistas em nosso planeta. Montanhas enterradas por séculos na neve e no gelo,
começam a mostrar suas encostas nuas. Geleiras milenares desaparecem aceleradamente sem
que se possa fazer nada e nem se medir as consequências. Furações no Atlântico Sul, tornados
cada vez mais freqüentes e violentos; secas e enchentes em áreas que antes não sofriam com
esses males, pragas de insetos; de roedores e de organismos microscópicos que se reproduzem
fora de controle.
Todos esses acontecimentos refletem uma única coisa: Desequilíbrio.
O homem moderno destrói e influencia o meio ambiente que o cerca como nunca. E as
conseqüências desses atos podem levar até mesmo a inviabilização da vida, como a
conhecemos, em nosso planeta. Felizmente, a aparente aniquilação iminente fez com que os
seres humanos acordassem e descobrissem que somente a convivência sustentável com o
ambiente que os cerca é a chave para a sobrevivência de nossa espécie. Nunca antes se falou
tanto em sustentabilidade quanto agora. Da mesma forma que nunca se tentou seguir e estudar
formas de encontrar os caminhos da sustentabilidade e harmonizar nossa existência com as
necessidades de preservação do meio ambiente.
É crescente o número de pessoas, em todo mundo, que passaram a exigir uma postura
mais ativa por parte das autoridades de seus países em relação às políticas relativas ao meio
ambiente e a exploração de seus recursos naturais e a ocupação mais racional das áreas
urbanas. Da mesma forma, cientistas, estudiosos e pessoas ligadas ao meio ambiente reúnem-se
em fóruns, debates e conferências onde se procura demarcar claramente técnicas, formas e
diretrizes para que se assegure a descoberta para implementação de políticas que definam
claramente quais os caminhos da ecologia e sustentabilidade cada nação deve tomar de acordo
com o seu grau de desenvolvimento tecnológico, características populacionais e a forma como
exploram seus recursos naturais. Avaliando e estabelecendo, caminhos para um futuro
sustentável e pleno para todos os habitantes de nosso planeta.
Autoridades governamentais, organismos internacionais como a O.N.U.; além de ONG‟s e
entidades particulares, todos estão empenhados em estabelecer e encontrar metas e caminhos
viáveis para que qualquer governo possa implementar as políticas que melhor se adaptarão a
19
cada país e a suas particularidades. Aprofundando a troca de experiências e estabelecendo
sempre um debate em todos os níveis do conhecimento humano.
É importante entender que a busca por caminhos da sustentabilidade global, passam antes
de qualquer coisa, pela busca da sustentabilidade individual. Pois, cada um como indivíduo
pode combater ao lado das forças que desejam proporcionar uma melhor qualidade de vida para
o futuro da humanidade. Cidades que tratam seus efluentes e resíduos, empresas que evitam o
desperdício de energia e recursos e pessoas que vivem atentas para o modo como interferem na
natureza e no meio ambiente que as cercam. Essas são as formas para encontrar os caminhos
da sustentabilidade e para manter nosso planeta com capacidade de sustentar a vida por muitas
e muitas gerações ainda.
MOVIMENTO CIDADE FUTURA
20
O QUE É UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL?
Por Fritjof Capra e Ernest Callenbach*
O conceito de sustentabilidade transformou-se num elemento chave no movimento global,
crucial para encontrar soluções viáveis para resolver os maiores problemas do mundo. O que
significa isto? Lester Brown, fundador do Worldwatch Institute, elaborou uma definição clara:
"Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz as suas necessidades sem diminuir as
possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas".
Como seria, verdadeiramente, uma sociedade sustentável? Ainda não há modelos
detalhados, mas na última década surgiram critérios básicos que nos permitem desenhar a forma
emergente das sociedades sustentáveis.
A sustentabilidade global requer uma drástica diminuição do crescimento mundial. As
sociedades sustentáveis terão populações estáveis, como as que têm hoje em dia 13 países
europeus e o Japão. A população mundial deverá se estabilizar no máximo em oito bilhões de
pessoas.
As economias sustentáveis não serão movidas por combustíveis fósseis, mas sim por
energia solar e suas muitas formas diretas e indiretas: luz solar para aquecimento e eletricidade
fotovoltaica, energia eólica, hídrica e assim por diante.
A energia nuclear deixará de ser usada devido a sua longa lista de desvantagens e riscos
econômicos, sociais e ambientais. Os painéis solares aquecerão a maior parte da água doméstica
ao redor do mundo, e a maior parte da calefação será feita pela entrada direta dos raios solares.
Com as células fotovoltaicas, os lares, em todas as partes do mundo, serão tanto
produtores quanto consumidores de eletricidade. A produção de energia será muito mais
descentralizada e, por isso mesmo, menos vulnerável aos cortes ou apagões.
Um sistema energético sustentável será também muito mais eficiente. A economia de
combustível dos automóveis será duas vezes maior. Por sua vez, a eficiência dos sistemas de
iluminação será três vezes melhor, e as necessidades de aquecimento diminuirão em 75 por
cento. Tudo isto hoje em dia é possível graças às tecnologias já existentes.
O transporte numa sociedade sustentável será muito menos esbanjador e poluente do que
hoje. As pessoas morarão muito mais perto dos seus lugares de trabalho e se movimentarão nas
vizinhanças por sistemas altamente desenvolvidos de ônibus e transportes sobre trilhos.
Haverá menos automóveis particulares. As bicicletas serão um veículo importante no
sistema de transporte sustentável. Hoje em dia, já há no mundo duas vezes mais bicicletas do
que automóveis.
21
Nas indústrias sustentáveis, a reciclagem será a principal fonte de matéria prima. O design
de produtos se concentrará na durabilidade e no uso reiterado, em vez da vida curta e
descartável dos produtos.
O desejável será uma mentalidade baseada na ética da reciclagem. As empresas de
reciclagem ocuparão o lugar das atuais companhias de limpeza urbana e disposição final do lixo,
reduzindo a quantidade de resíduos em pelo menos em dois terços.
Uma sociedade sustentável necessitará de uma base biológica restaurada e estabilizada.
O uso da terra seguirá os princípios básicos da estabilidade biológica: a retenção de nutrientes, o
equilíbrio de carbono, a proteção do solo, a conservação da água e a preservação da diversidade
de espécies.
É provável que as áreas rurais tenham maior diversidade do que atualmente com o manejo
equilibrado da terra, em que haverá rotatividade de plantações e de cultivo de espécies. As
empresas que produzirem alimentos e energia serão mais populares.
Não haverá desperdício de colheitas. Os bosques tropicais serão conservados. Não haverá
desmatamento para obtenção de madeira e outros produtos. Pelo contrário, milhões de hectares
de novas árvores serão plantados.
Os esforços para deter a desertificação transformarão as áreas degradadas em terrenos
produtivos. O uso exaustivo de pastagens será eliminado, assim como haverá modificação na
cadeia alimentar das sociedades afluentes, para incluir menos carne e mais grãos e vegetais.
Novas indústrias sustentáveis estarão mais descentralizadas, fomentando uma maior
independência nas grandes cidades. Os sistemas de valores que enfatizam a quantidade, a
expansão, a competição e a dominação darão lugar à qualidade, à conservação, à cooperação e
à solidariedade.
À medida que a acumulação de riqueza material perder sua importância, a distância entre
ricos e pobres diminuirá, eliminando muitas tensões sociais.
A característica decisiva de uma economia sustentável será a rejeição da cega busca de
crescimento. O produto interno bruto será reconhecido como um indicador falido. No lugar do PIB,
as mudanças econômicas e sociais, tanto quanto as tecnológicas, serão medidas por sua
contribuição à sustentabilidade.
Em um mundo sustentável, os orçamentos militares serão uma pequena fração do que são
hoje. Em vez de manter caras e poluidoras instituições de defesa, os governos poderão investir
em uma fortalecida Organização das Nações Unidas para a manutenção da paz.
As nações descentralizarão o poder e a tomada de decisões dentro de suas próprias
fronteiras. Ao mesmo tempo, estabelecerão um grau de cooperação e coordenação sem
precedentes em nível internacional para solucionar problemas globais.
22
As diferenças ideológicas se dissiparão frente à crescente consciência de que a Terra é o
nosso lugar comum, não importando os nossos diferentes antecedentes culturais. A compreensão
de que todos nós compartilhamos esta Terra será a fonte de um novo código ético.
A imagem de uma futura Terra sustentável tem sido pintada com grandes pincéis. O
desafio das próximas décadas é aperfeiçoar os detalhes, por meio do trabalho das corporações,
dos governos, das organizações ambientais, dos partidos políticos e dos cidadãos.
Nós acreditamos que o ideal da sustentabilidade é uma preciosa meta, estimulante para os
seres humanos, cansados de uma época esbanjadora e destrutiva.
* Fritjof Capra é físico e teórico de sistemas. Ernest Callenbach é ambientalista.
23
SOBRE A CARTA DA TERRA
A missão da Iniciativa da Carta da Terra é promover a transição para formas sustentáveis
de vida e de uma sociedade global fundamentada em um modelo de ética compartilhada, que
inclui o respeito e o cuidado pela comunidade da vida, a integridade ecológica, a democracia e
uma cultura de paz.
O que é a Carta da Terra?
A Carta da Terra é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção,
no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Busca inspirar todos os
povos a um novo sentido de interdependência global e responsabilidade compartilhada voltado
para o bem-estar de toda a família humana, da grande comunidade da vida e das futuras
gerações. É uma visão de esperança e um chamado à ação.
A Carta da Terra se preocupa com a transição para maneiras sustentáveis de vida e
desenvolvimento humano sustentável. Integridade ecológica é um tema maior. Entretanto, a Carta
da Terra reconhece que os objetivos de proteção ecológica, erradicação da pobreza,
desenvolvimento econômico eqüitativo, respeito aos direitos humanos, democracia e paz são
interdependentes e indivisíveis. Consequentemente oferece um novo marco, inclusivo e
integralmente ético para guiar a transição para um futuro sustentável.
A Carta da Terra é resultado de uma década de diálogo intercultural, em torno de objetivos
comuns e valores compartilhados. O projeto da Carta da Terra começou como uma iniciativa das
Nações Unidas, mas se desenvolveu e finalizou como uma iniciativa global da sociedade civil. Em
2000 a Comissão da Carta da Terra, uma entidade internacional independente, concluiu e
divulgou o documento como a carta dos povos.
A redação da Carta da Terra envolveu o mais inclusivo e participativo processo associado
à criação de uma declaração internacional. Esse processo é a fonte básica de sua legitimidade
como um marco de guia ético. A legitimidade do documento foi fortalecida pela adesão de mais
de 4.500 organizações, incluindo vários organismos governamentais e organizações
internacionais.
24
À luz desta legitimidade, um crescente número de juristas internacionais reconhece que a
Carta da Terra está adquirindo um status de lei branca (“soft law”). Leis brancas, como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos são consideradas como moralmente, mas não
juridicamente obrigatórias para os Governos de Estado, que aceitam subscrevê-las e adotá-las, e
muitas vezes servem de base para o desenvolvimento de uma lei stritu senso (hard law).
Neste momento em que é urgentemente necessário mudar a maneira como pensamos e
vivemos, a Carta da Terra nos desafia a examinar nossos valores e a escolher um melhor
caminho. Alianças internacionais são cada vez mais necessárias, a Carta da Terra nos encoraja a
buscar aspectos em comum em meio à nossa diversidade e adotar uma nova ética global,
partilhada por um número crescente de pessoas por todo o mundo. Num momento onde
educação para o desenvolvimento sustentável tornou-se essencial, a Carta da Terra oferece um
instrumento educacional muito valioso.
O texto da Carta da Terra
PREÂMBULO
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a
humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais
interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança.
Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas
e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino
comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito
pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz.
Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa
responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras
gerações.
TERRA, NOSSO LAR
A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, é viva como
uma comunidade de vida incomparável. As forças da natureza fazem da existência uma aventura
exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A
25
capacidade de recuperação da comunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da
preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade
de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus
recursos finitos é uma preocupação comum de todos os povos. A proteção da vitalidade,
diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.
A SITUAÇÃO GLOBAL
Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental,
esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo
arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e a
diferença entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos
violentos têm aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da
população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança
global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.
DESAFIOS FUTUROS
A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou
arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais
em nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as
necessidades básicas forem supridas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a
ser mais e não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a
todos e reduzir nossos impactos no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global
está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos
desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos
podemos forjar soluções inclusivas.
RESPONSABILIDADE UNIVERSAL
Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade
universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como um todo, bem como com nossas
comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no
qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo
26
presente e pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O
espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos
com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em
relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza.
Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para
proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na
esperança, afirmamos os seguintes princípios, interdependentes, visando a um modo de vida
sustentável como padrão comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos,
organizações, empresas, governos e instituições transnacionais será dirigida e avaliada.
PRINCÍPIOS
I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA
1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.
a. Reconhecer que todos os seres são interdependentes e cada forma de vida
tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos.
b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial
intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.
2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.
a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais,
vem o dever de prevenir os danos ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas.
b. Assumir que, com o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder,
vem a
maior responsabilidade de promover o bem comum.
3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis
e pacíficas.
a. Assegurar que as comunidades em todos os níveis garantam os direitos
humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada pessoa a oportunidade de
realizar seu pleno potencial.
27
b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a obtenção de
uma condição de vida significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.
4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e às futuras
gerações.
a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas
necessidades das gerações futuras.
b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem a
prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra a longo prazo.
II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA
5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial
atenção à diversidade biológica e aos processos naturais que sustentam a vida.
a. Adotar, em todos os níveis, planos e regulamentações de desenvolvimento
sustentável que façam com que a conservação e a reabilitação ambiental sejam parte
integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.
b. stabelecer e proteger reservas naturais e da biosfera viáveis, incluindo terras
selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra,
manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.
c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçados.
d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente
que
causem dano às espécies nativas e ao meio ambiente e impedir a introdução desses
organismos prejudiciais.
e. Administrar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais
e vida marinha de forma que não excedam às taxas de regeneração e que protejam a
saúde dos ecossistemas.
f. Administrar a extração e o uso de recursos não-renováveis, como minerais e
combustíveis fósseis de forma que minimizem o esgotamento e não causem dano
ambiental grave.
28
6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e,
quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.
a. Agir para evitar a possibilidade de danos ambientais sérios ou irreversíveis,
mesmo quando o conhecimento científico for incompleto ou não-conclusivo.
b. Impor o ônus da prova naqueles que afirmarem que a atividade proposta não
causará dano significativo e fazer com que as partes interessadas sejam responsabilizadas
pelo dano ambiental.
c. Assegurar que as tomadas de decisão considerem as conseqüências
cumulativas, a longo prazo, indiretas, de longo alcance e globais das atividades humanas.
d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o
aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.
e. Evitar atividades militares que causem dano ao meio ambiente.
7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as
capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.
a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e
consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.
b. Atuar com moderação e eficiência no uso de energia e contar cada vez mais
com fontes energéticas renováveis, como a energia solar e do vento.
c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de
tecnologias
ambientais seguras.
d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço
de venda e habilitar os consumidores a identificar produtos que satisfaçam às mais altas
normas sociais e ambientais.
e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde
reprodutiva e a reprodução responsável.
f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência
material num mundo finito.
8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover o intercâmbio aberto
e aplicação ampla do conhecimento adquirido.
29
a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à
sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.
b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria
espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar
humano.
c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a
proteção ambiental, incluindo informação genética, permaneçam disponíveis ao domínio
público.
III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA
9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.
a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos
não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, alocando os recursos nacionais e
internacionais demandados.
b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma
condição de vida sustentável e proporcionar seguro social e segurança coletiva aos que
não são capazes de se manter por conta própria.
c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem
e habilitá-los a desenvolverem suas capacidades e alcançarem suas aspirações.
10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis
promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.
a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro das e entre as nações.
b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das
nações em desenvolvimento e liberá-las de dívidas internacionais onerosas.
c. Assegurar que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos
sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas.
d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras
internacionais
30
atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas
conseqüências de suas atividades.
11. Afirmar a igualdade e a eqüidade dos gêneros como pré-requisitos para o
desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de
saúde e às oportunidades econômicas.
a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com
toda violência contra elas.
b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida
econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de
decisão, líderes e beneficiárias.
c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e o carinho de todos os
membros da família.
12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente
natural e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar
espiritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.
a. Eliminar a discriminação em todas as suas formas, como as baseadas em
raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.
b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos,
terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas com condições de vida
sustentáveis.
c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir
seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.
d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual.
IV. DEMOCRACIA, NÃO-VIOLÊNCIA E PAZ
13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover
transparência e responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na
tomada de decisões e acesso à justiça.
31
a. Defender o direito de todas as pessoas receberem informação clara e
oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades
que possam afetá-las ou nos quais tenham interesse.
b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação
significativa de todos os indivíduos e organizações interessados na tomada de decisões.
c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de reunião pacífica,
de associação e de oposição.
d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos judiciais administrativos
e independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela
ameaça de tais danos.
e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.
f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios
ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde
possam ser cumpridas mais efetivamente.
14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os
conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.
a. Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas
que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.
b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências,
na educação para sustentabilidade.
c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no aumento da
conscientização sobre os desafios ecológicos e sociais.
d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma condição
de vida sustentável.
15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.
a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-
los de sofrimento.
b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que
causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável.
32
c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies
não visadas.
16. Promover uma cultura de tolerância, não-violência e paz.
a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação
entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.
b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a
colaboração na resolução de problemas para administrar e resolver conflitos ambientais e
outras disputas.
c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até o nível de uma postura
defensiva não-provocativa e converter os recursos militares para propósitos pacíficos,
incluindo restauração ecológica.
d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição
em massa.
e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico ajude a proteção ambiental
e a paz.
f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo
mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade
maior da qual somos parte.
O CAMINHO ADIANTE
Como nunca antes na História, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo.
Tal renovação é a promessa destes princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa,
temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.
Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de
interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com
imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local, nacional, regional e global.
Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas
próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global
que gerou a Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca conjunta em
andamento por verdade e sabedoria.
33
A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar
escolhas difíceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade
com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas
de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade tem um papel vital a
desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de
comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos
chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas
é essencial para uma governabilidade efetiva.
Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar
seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos
internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um
instrumento internacionalmente legalizado e contratual sobre o ambiente e o desenvolvimento.
Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo
compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e
pela paz e a alegre celebração da vida.
34
LIDERANÇA, ÉTICA E DEMOCRACIA
A liderança pode ser considerada um papel social que deve ser desempenhado tendo
como suporte alguns princípios básicos. A liderança que procura seguir estes princípios
desencadeia o potencial humano individual de integrante (Covery, 2001, p.11). Do líder
dependem muitas pessoas, que depositam nele suas esperanças para melhorar suas condições
de trabalho e realizar seus objetivos individuais. Kernerg (2000, p.125) define como atributo do
líder a tarefa de proteção dos seus subordinados quanto às más condições de trabalho, às
arbitrariedades na atribuição de tarefas e aos riscos ligados aos trabalhos, independentemente se
estas situações causem impactos negativos na eficiência do trabalho. Assim, a qualidade de
trabalho e, em parte, a qualidade de vida, são atribuições do líder.
Contudo, esta não é a prática da maioria das organizações. Faria (2000a, p.5-8), em uma
pesquisa realizada com gestores, verificou que a prática nem sempre corresponde ao um
discurso. Apesar de 74,1% dos pesquisados afirmarem que as pessoas que costumam cometer
injustiças não possuem condições de exercer postos de liderança, para a maioria dos
entrevistados “são os valores que a organização considera como importantes que condicionarão
a atitude ética de seus membros em última instância. Produtividade, racionalidade e estratégia
competitiva são os determinantes deste „código moral‟ que guia a ética nas organizações
globalizadas”. As organizações é que ditam o que devem ser consideradas atitudes éticas a
serem seguidas pelos líderes.
Esta disparidade de interesses, em que normalmente prevalecem os das organizações,
acaba por causar prejuízos para a maioria dos indivíduos, mas esta não é realmente a
preocupação dos gestores. As condições de trabalho, as arbitrariedades das tarefas e os riscos
no trabalho são constantemente subordinados à lógica do cálculo de eficiência material, em que
os interesses das organizações prevalecem sobre a qualidade de trabalho dos indivíduos. A
qualidade somente é levada em conta se os defeitos ou sua ausência diminuírem a produtividade
do trabalho e não se causarem danos às pessoas. Portanto, nas organizações existem dois
conceitos de qualidade: a qualidade instrumental, que segue padrões, é avaliada e certificada, e a
qualidade psicossociológica, que somente é levada em conta se seus efeitos interferirem
negativamente na qualidade instrumental. A pessoa e considerada por sua contribuição ou
colaboração aos objetivos da organização e não por seus desejos ou sentimentos. Nesse sentido,
35
convém não se iludir: mudar a denominação de administração de recursos humanos para o de
gestão de pessoas, pode ser apenas uma alteração de verniz.
É importante ressaltar que a responsabilidade por esta situação não é somente dos
indivíduos que ocupam os postos de comando. A própria estrutura econômica
capitalista21 favorece aos indivíduos que ocupam cargos de comando que não estejam atentos às
questões que provocam a precarização do trabalho e diminuem a qualidade de vida ou que a
desconsiderem, seja porque entendem ser esta uma situação natural e própria da realidade do
trabalho, seja porque negam as evidências para poder conviver com a culpa de reproduzir ou de
favorecer a reprodução das situações de sofrimento, seja porque não pretendem arriscar perder o
lugar que ocupam na organização. Em síntese, há um conjunto de fatores que imprime atitudes
defensivas ou alienadas.
O líder precisa estar atento a todas estas condições que o modelo sócio-econômico
impõem e às normas daí decorrentes, sempre observando que sua obediência depende da
maneira como ele mesmo a encara. O líder deve ser capaz de se posicionar como aquele que
receberá a norma, isto porque “quando o respeito da norma tiver se expandido com respeito a
outrem e ao si mesmo como um outro” (Ricoeur, 1999, p.211) ela passará a ser coerente com o
interesse de todos.
Princípios são temas que estão relacionados como atributos que o líder deve preservar,
independentemente dos interesses em jogo. O respeito ao outro e aos seus objetivos devem ser
preservados e o líder deve ser o integrador e mediador de todos esses interesses sem esquecer
que sua prática pressupõe uma atitude voltada para uma ética coletiva - sem que os interesses
econômicos prevaleçam sobre os interesses humanos -, voltada para a prática democrática do
diálogo e respeito à opinião de todos. Desta forma, é fundamental distinguir o líder do chefe, do
administrador, do gestor, do coordenador, ainda que o mesmo possa vir a exercer tais funções,
pois um líder pode vir a ser um gestor, mas um gestor, por si só, não é necessariamente um líder.
Finalmente, é preciso destacar que se a liderança pretende responder às condições de
emancipação, de autonomia e de construção de uma história, a mesma não pode estar separada
da ética e da democracia, pois “a questão ética tornou-se inseparável da democrática, na medida
em que a democracia afirma os princípios da igualdade, da justiça, da liberdade e da felicidade
como direitos universais, criados pelos agentes sociais, assim como o princípio do direito às
diferenças, universalmente reconhecidas como legítimas por todos” (Chauí, 1994).
FONTE:
36
http://www.revistapsicologia.ufc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=93%3A
lideranca-e-organizacoes&catid=35%3Aano-ii-numero-2&Itemid=54&limitstart=6
37
Em 10/05/2012
FORMAR LÍDERES ÉTICOS E SUSTENTÁVEIS
Como andar de bicicleta, liderança é algo que você só aprende se tiver oportunidade de
praticar – e todos podem praticar, pois está sempre ao nosso alcance na família, no grupo de
amigos, ou mesmo na faculdade ou na atividade profissional. Mas ao contrário de andar de
bicicleta, sobre liderança há grande variedade de livros, cursos, treinamentos e outros recursos
que permitem aprimorar o perfil dos líderes, ou melhor preparar os líderes em potencial.
E a liderança não tem época para nascer. Ainda mais agora que existem múltiplas
possibilidades de participação comunitária nos diversos mecanismos de controle social
estabelecidos pós-constituição de 1988.
Talvez você deve estar pensando “será que posso ser um líder?”.
Existem indivíduos que despontam naturalmente para exercer esse papel e certamente o
farão se o ambiente favorecer. Mas mesmo eles precisam de orientação para empregar essa
habilidade e toda a energia em nome do bem coletivo. Trata-se de um exercício associado à
consciência de responsabilidade social. Onde a gestão é democrática e participativa, há a
oportunidade de desenvolver essa característica em diversos agentes. Somente governos e
organizações autoritários e centralizadores não permitem isso.
Geralmente, é uma pessoa empreendedora, que se empenha em manter o entusiasmo da
equipe e tem autocontrole e determinação, sem deixar de ser flexível.
Os dirigentes que desenvolveram as competências de liderança nunca se deixam paralisar
diante dos desafios. Os que não as têm, contudo, se sentem imobilizados diante de pessoas que
resistem às mudanças, sobretudo aquelas que manifestam de forma mais veemente seu
incômodo com situações que causam desconforto. Em vez de colocar energia em atividades
burocráticas e administrativas, fazendo fracassar os propósitos de criação de uma comunidade de
aprendizagem, cabe aos gestores – e a todos os agentes sociais, na verdade – promover o
entendimento de que as adversidades são inerentes ao processo de gestão participativa. O
enfrentamento delas implica o desenvolvimento da compreensão sobre si mesmo, sobre os
outros e sobre o modo como o desempenho individual e coletivo afeta as ações da organização.
38
A proposta do Programa Cidade Educadora é formar novos líderes éticos e sustentáveis.
Foi essa a linha do primeiro curso, em 2008. O líder sustentável deve estar conectado com as
mudanças, ter sensibilidade contextual, saber interpretar os sinais do realidade, e antecipar-se a
ele, identificando oportunidades e criando suas estratégias de atuação. Para isso, precisa passar
credibilidade, despertar a confiança, ter senso de justiça e ética, comunicar com transparência,
formar parcerias e redes de valor e, principalmente, estabelecer coerência entre suas estratégias
e ações. O líder sustentável cria valor no presente, sem destruir os recursos do futuro.
O principal atributo do líder é ouvir e dialogar. O segundo é a transparência em relação aos
projetos que coordena, às pessoas e aos públicos com os quais tem que se relacionar. Deve ser
uma pessoa coerente que coloque o respeito á vida em primeiro lugar. O líder inspirador é
aquele que baseia suas entregas em atributos que não são exclusivamente consequência da
ação que está fazendo.
Desenvolver líderes sustentáveis requer muito mais do que treinar habilidades. Envolve
desenvolver valores e atitudes, novos modelos mentais.
Durante o curso, o Programa Cidade Educadora irá colocar a ética como questão central
– São muitas as barreiras para a adoção de um foco mais ético nas organizações, enfim, na vida
cotidiana. Os líderes atuais decidem pela coletividade, fazem “acordos” inspirados pro interesses
pessoais. Nas conferências estaduais e nacionais das cidades vemos como os líderes passam
por cima dos interesses das bases. E isso que precisamos mudar com a formação de novos
líderes éticos e sustentáveis.
Formar novos líderes com a pedagogia da sustentabilidade, que seus princípios éticos
estejam presentes em todas as práticas.
Frank barroso - Coordenador do Movimento Cidade Futura
39
Referências Bibliográficas
ANTUNES, Ângela e Julia Tomchinsky, orgs. 2009. Sementes de primavera: cidadania desde a infância.São Paulo: Instituto Paulo Freire.
ANTUNES, Ângela, 2002. Leitura do mundo no contexto da planeterização: por uma pedagogia da sustentabilidade. São Paulo, FEUSP (Tese de Doutorado).
BERLO, D. K. O Processo da Comunicação: Introdução à Teoria e á Prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999. BOCK, Ana Maria et alii. Psicologias. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
BOFF, Leonardo, 1999. Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra. Petrópolis, Vozes.
BOWDITCH, James L.; BUONO, Anthony F. Elementos do Comportamento Organizacional. São Paulo: Pioneira, 1997. CHANLAT, Jean-François (coord.). O indivíduo nas organizações: dimensões esquecidas. São Paulo : Atlas, 1994. FERREIRA, J.M.; NEVES, J.; ABREU, P. N. e CAETANO, A. (). Psicossociologia das Organizações. Portugal: McGraw-Hill1996. FIGUEIREDO, Ana Cristina e FILHO, João Ferreira da Silva (orgs.). Ética e Saúde Mental. Topbooks, 1996.
FREIRE, Paulo, 1975. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
FRITZEN, Silvino José. Relações Humanas Interpessoais: nas convivências grupais e comunitárias. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
GADOTTI, Moacir, 2001. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis.
GADOTTI, Moacir, 2009. Educar para a sustentabilidade. São Paulo: Instituto Paulo Freire.
GUTIÉRREZ, Francisco & Cruz Prado, 1999. Ecopedagogia e cidadania planetária. São Paulo: Cortez/Instituto Paulo Freire.
LITTLEJOHN, S. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de Janeiro : Zahar, 1982. MAGINN, Michael D. Eficiência do trabalho em equipe. São Paulo: Nobel, 1996. MINICUCCI, Agostinho. Relações Humanas: psicologia das relações interpessoais. São Paulo : Atlas, 2001
40
POWELL, John; BRADY, Loretta. Arrancar Máscaras! Abandonar Papéis! – a comunicação pessoal em 25 passos. Tradução Bárbara Theoto Lambert. 7 ed. São Paulo: Loyola, 1995. SÁ, Antonio Lopes de. Ética Profissional. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2001. SCHUTZ, William C. O submundo interpessoal. SPECTOR, Paul E. Psicologia nas Organizações. Tradução Solange Aparecida Visconte. São Paulo : Saraiva, 2002. WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O corpo fala: a linguagem silenciosa da comunicação não-verbal. 41 ed. Petrópolis: Vozes, 1997.