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Entrevista 12 / Sirius Agosto 2016 Texto: Ana Arvanas Fotografias: OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A. Criada a 29 de Junho de 1918, a OGMA está prestes a assinalar o centenário, estabelecendo-se no grupo restrito de empresas de aeronáutica com maior longevidade a nível mundial. Actualmente com 1669 funcionários, a OGMA é uma das empresas portuguesas do sector da aviação mais expressivas internacionalmente, tendo iniciado a sua internacionalização na década de 1970. Bastante marcada pela sua história, em 1993 a OGMA elevar-se-ia a Centro de Manutenção Autorizado da Rolls-Royce. Um ano mais tarde a empresa viria a adoptar a designação que mantém actualmente – OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A – passando a ser uma Sociedade Anónima. Decorria o ano de 1998 quando a empresa iniciou a ligação com a Embraer, ao ser certificada como Centro de Manutenção Autorizado para as aeronaves Embraer ERJ 145. Mais tarde, em 2005, a OGMA viria a ser privatizada. A Embraer integrou o consórcio vencedor e passou a deter 65% do capital da empresa a partir de 2012, permanecendo parte do capital da empresa (35%) nas mãos do Estado português, através da Empordef. Falámos com Rodrigo Almeida Rosa, nomeado Presidente do Conselho de Administração e CEO da OGMA em 2013, que faz um balanço positivo dos 10 anos da empresa privatizada. Licenciado em Direito pela Universidade Mackenzie, com pós- graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ambas no Brasil, e detentor de um MBA da FGV/ Cranfield University (UK), Rodrigo Almeida Rosa chegou à OGMA em 2012, desempenhando funções de Administrador Executivo e CFO, mas a vasta experiência nesta área de negócio, e também nos mercados internacionais, entre outros, ditaram a sua ascensão na empresa, pois o actual Presidente do Conselho de Administração e CEO da OGMA desempenhou vários cargos executivos nas áreas financeira e de negócios na Embraer, onde esteve desde 1999. Para além disso, Rodrigo Almeida Rosa integrou o Conselho de Administração e Fiscal de diversas empresas controladas pela Embraer em países como China, EUA, Irlanda, Holanda, Inglaterra e Espanha. Estando os bons resultados da OGMA assentes em vários factores, certamente que a experiência do actual Presidente do Conselho de Administração e CEO e a estreita ligação da empresa à Embraer têm um forte impacto nesses resultados, algo que se confirma também através da entrevista que se segue. Sirius (S): Que serviços oferece actualmente a OGMA? Rodrigo Almeida Rosa (RAR): A OGMA assenta a sua actividade fundamentalmente em duas grandes áreas de negócio: Serviços MRO (Manutenção, Reparação e Revisão Geral) e Aeroestruturas (Fabrico e Montagem de Estruturas e Peças Aeronáuticas). Ao nível de Serviços MRO, a OGMA assegura serviços de manutenção, reparação e revisão geral de aeronaves de Aviação de Defesa, Comercial e Executiva, Motores e Componentes. As nossas Rodrigo Almeida Rosa, Presidente da OGMA “A OGMA teve [em 2015] o maior volume de negócios de sempre: 188,7 milhões de euros e 11,5 milhões de lucros” Rodrigo Almeida Rosa, Presidente da OGMA

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Entrevista

12 / Sirius Agosto 2016

Texto: Ana ArvanasFotografias: OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A.

Criada a 29 de Junho de 1918, a OGMA está prestes a assinalar o centenário, estabelecendo-se no grupo restrito de empresas de aeronáutica com maior longevidade a nível mundial. Actualmente com 1669 funcionários, a OGMA é uma das empresas portuguesas do sector da aviação mais expressivas internacionalmente, tendo iniciado a sua internacionalização na década de 1970. Bastante marcada pela sua história, em 1993 a OGMA elevar-se-ia a Centro de Manutenção Autorizado da Rolls-Royce. Um ano mais tarde a empresa viria a adoptar a designação que mantém actualmente – OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A – passando a ser uma Sociedade Anónima. Decorria o ano de 1998 quando a empresa iniciou a ligação com a Embraer, ao ser certificada como Centro de Manutenção Autorizado para as aeronaves Embraer ERJ 145. Mais tarde, em 2005, a OGMA viria a ser privatizada. A Embraer integrou o consórcio vencedor e passou a deter 65% do capital da empresa a partir de 2012, permanecendo parte do capital da empresa (35%) nas mãos do Estado português, através da Empordef. Falámos com Rodrigo Almeida Rosa, nomeado Presidente do Conselho de Administração e CEO da OGMA em 2013, que faz um balanço positivo dos 10 anos da empresa privatizada. Licenciado em Direito pela Universidade Mackenzie, com pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ambas no Brasil, e detentor de um MBA da FGV/

Cranfield University (UK), Rodrigo Almeida Rosa chegou à OGMA em 2012, desempenhando funções de Administrador Executivo e CFO, mas a vasta experiência nesta área de negócio, e também nos mercados internacionais, entre outros, ditaram a sua ascensão na empresa, pois o actual Presidente do Conselho de Administração e CEO da OGMA desempenhou vários cargos executivos nas áreas financeira e de negócios na Embraer, onde esteve desde 1999. Para além disso, Rodrigo Almeida Rosa integrou o Conselho de Administração e Fiscal de diversas empresas controladas pela Embraer em países como China, EUA, Irlanda, Holanda, Inglaterra e Espanha. Estando os bons resultados da OGMA assentes em vários factores, certamente que a experiência do actual Presidente do Conselho de Administração e CEO e a estreita ligação da empresa à Embraer têm um forte impacto nesses resultados, algo que se confirma também através da entrevista que se segue.

Sirius (S): Que serviços oferece actualmente a OGMA? Rodrigo Almeida Rosa (RAR): A OGMA assenta a sua actividade fundamentalmente em duas grandes áreas de negócio: Serviços MRO (Manutenção, Reparação e Revisão Geral) e Aeroestruturas (Fabrico e Montagem de Estruturas e Peças Aeronáuticas). Ao nível de Serviços MRO, a OGMA assegura serviços de manutenção, reparação e revisão geral de aeronaves de Aviação de Defesa, Comercial e Executiva, Motores e Componentes. As nossas

Rodrigo Almeida Rosa, Presidente da OGMA

“A OGMA teve [em 2015] o maior volume de negócios de sempre: 188,7 milhões de euros e 11,5 milhões de lucros”Rodrigo Almeida Rosa, Presidente da OGMA

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capacidades vão desde a manutenção aeronáutica (básica, intermédia ou 3.º escalão), passando pela modernização de aviónicos, grandes reparações estruturais, pintura, gestão total de frotas, serviços de engenharia, CAMO (gestão de aeronavegabilidade), AOG (equipas de assistência no terreno), entre outros. Ao nível de Aviação Executiva, a OGMA conta com um hangar totalmente equipado e pensado para ir ao encontro das exigências específicas dos operadores de jatos executivos. Estes serviços são assegurados a um leque diverso de clientes, tanto ao nível civil como a forças aéreas espalhadas por todo o mundo. As Aeroestruturas é também outra Área de Negócio da OGMA. Presente no mercado das Aeroestruturas há mais de 30 anos, a OGMA posiciona-se como um importante fornecedor de soluções integradas para fabricantes de aeronaves e para fornecedores de primeira linha. Integram o seu portefólio de clientes alguns dos principais players do mercado global de aviação, nomeadamente a Embraer, Dassault, Airbus Defense & Space, Lockheed Martin, Pilatus Aircraft, AgustaWestland e Airbus Helicopters. De forma resumida, as nossas principais capacidades na Área de Negócio das Aeroestruturas são estruturas metálicas e em material compósito (ex: estruturas de cabine, fuselagens central e traseira, portas de nacelle e suporte de motor, rampa traseira, estabilizador vertical, asas); fabrico de peças em compósito (ex: entradas de ar, tanques de combustível, painéis interiores de fuselagem); estruturas de aviónicos com integração de cablagens, peças maquinadas e em chapa; tratamento de superfícies e pintura. S: Quais as áreas de negócio que têm crescido mais na OGMA? RAR: A OGMA teve em 2015 um desempenho muito positivo em termos globais, atingindo o melhor resultado desde a privatização da empresa. A OGMA teve o maior volume de negócios de sempre – 188,7 milhões de euros e 11,5 milhões de lucros. Estes resultados devem-se ao desempenho das equipas, à motivação dos colaboradores, a uma nova organização interna que temos procurado introduzir, à recuperação de margens em alguns negócios que foram atingidos pelo impacto da crise nos anos anteriores e a uma melhor eficiência operacional. Em termos concretos, a Área de MRO cresceu 14,8% entre 2014 e 2015, o que representa um peso de 72,5% para as contas totais, enquanto as Aeroestruturas cresceram 9%, representando 27,5% das contas totais da OGMA. S: Que balanço faz da empresa desde que foi privatizada? RAR: O balanço é positivo. A OGMA é hoje uma empresa mais preparada, mais capacitada tecnologicamente, mais focada do que era há 10 anos atrás, antes da privatização. Os resultados positivos obtidos são reflexo da

implementação de várias medidas para a melhoria da eficiência, modernização, satisfação dos empregados e busca de novos negócios, sobretudo no exterior. Para além da capacitação técnica e tecnológica, os resultados positivos não seriam possíveis sem o empenhamento e experiência dos nossos funcionários. A conjugação de medidas de gestão e a capacidade de ser competitivo no mercado global explicam a performance da OGMA, com lucros sempre em crescendo. S: No ano passado, o então Vice-Primeiro-Ministro de Portugal, Paulo Portas, referiu que a OGMA cresceu bastante nos últimos 11 anos, resultado do modelo de gestão entretanto adoptado, mais direccionado para a internacionalização dos serviços prestados pela empresa e não somente para a construção e reparação. A empresa investiu também bastantes recursos no que se refere à especialização no fabrico de componentes e segmentos aeronáuticos, disse ainda o Governante, à data. O que nos tem a dizer sobre estas duas questões? RAR: A sessão realizada na OGMA para assinalar os 10 anos da Privatização da empresa foi um momento importante para a empresa por reunir num mesmo espaço pessoas e entidades que tiveram peso e uma palavra a dizer para o futuro da empresa. Ter a presença dos nossos accionistas – a Embraer e o Estado português -, da Força Aérea e de representantes de entidades políticas, empresariais e diplomáticas deixou-nos naturalmente orgulhosos. A OGMA relançou-se ao longo da última década e passou de uma empresa com uma situação financeira desfavorável para uma empresa voltada para a exportação e vista como um exemplo. Para isso, foi importante rever metodologias e formas de abordagem ao mercado. Sem esquecer o passado histórico da OGMA, que é um importante cartão-de-visita no mundo da aeronáutica, chegou-se à conclusão que era importante diversificar a nossa intervenção, potenciando a experiência que a empresa sempre teve ao nível de Aviação de Defesa para Aviação Comercial e Executiva. Por outro lado, a abordagem ao mercado internacional faz com que hoje 95% da nossa actividade se dirija a mercados externos. Esta é uma realidade tanto ao nível de MRO, como de Aeroestruturas. Participamos em alguns dos programas aeronáuticos internacionais mais importantes, como por exemplo o KC-390. É um sinal de confiança nas nossas capacidades e, simultaneamente, uma motivação adicional para prosseguirmos com esta estratégia de desenvolvimento de negócio. S: Que mais-valias trouxe para a empresa a estreita ligação com a Embraer? RAR: As mais-valias são mútuas, tanto a OGMA como a Embraer têm retirado

aprendizagens muito benéficas para ambas as partes. Convém recordar que o relacionamento da OGMA com o Embraer é anterior à privatização, tendo início em 1998, quando a OGMA se torna Centro de Manutenção Autorizado para o ERJ 145. Esta relação foi evoluindo positivamente e acabou por se aprofundar de forma decisiva com o processo de privatização. A Embraer acreditou no potencial da empresa e no legado que a OGMA tinha, olhando para nós como uma oportunidade para criar uma base operacional para o mercado europeu e para o mercado africano. Do lado da OGMA, integrar o universo da Embraer permitiu conhecer novas metodologias, novas formas de trabalhar, abrindo novas portas para a OGMA chegar a novos mercados e a novos produtos. O balanço é positivo. S: Tendo em consideração as enormes diferenças entre o mercado brasileiro e o europeu, como têm conseguido equilibrar a estreita relação das duas empresas (OGMA e Embraer)? RAR: Como em todas as empresas multinacionais, é importante a partilha de valores e de metodologias sem deixar de integrar especificidades locais próprias, nomeadamente ao nível cultural. É esse o caminho que tem sido trilhado entre a OGMA e a Embraer: partilha de sinergias e potenciação de vantagens competitivas locais. S: Prestes a completar um século de existência, e tendo em conta as várias crises económicas, sociais e conjunturais pelas quais a OGMA já passou, existe algum segredo para o facto da OGMA ter ultrapassado essas convulsões conseguindo sair de quase todas ainda mais forte? RAR: Nada se consegue sem esforço e sem tomar decisões que num determinado momento podem ser difíceis mas que o tempo revela serem acertadas. A indústria aeronáutica é um mercado extremamente competitivo, onde o rigor, a qualidade e o cumprimento dos TAT são essenciais. Esta realidade obriga a estar sempre atento à evolução do mercado, a analisar o nosso desempenho e a verificar onde podemos fazer melhor para aumentar a nossa competitividade. Este é o nosso objetivo diário: procurar ser ainda mais eficiente e competitivo. Por outro lado, dado o dinamismo do mercado, é importante estar atento às oportunidades e ter a capacidade de perspectivar o que serão as tendências de futuro. A empresa tem de se preparar para o futuro, seja na qualificação dos funcionários e ao nível técnico, para ser capaz de responder ao que os clientes vão desejar. Há produtos que entram em phase out, há novos produtos que surgem. É importante tentar estar sempre um passo à frente. S: A OGMA é tida pelos especialistas como detentora de “uma

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capacidade de exportação enorme”. Concorda com esta afirmação? Em que medida pode tal ser contributivo para a estabilidade da empresa? RAR: Tal como já foi referido atrás, a actividade da OGMA destina-se sobretudo para mercados externos, nomeadamente Norte e Centro da Europa, África, América do Norte e América Latina. Continuamos a apoiar a Força Aérea Portuguesa, realizando os trabalhos de manutenção solicitados, e também desenvolvemos trabalhos pontuais para companhias aéreas portuguesas, como a TAP, a Sata ou a White. O mercado português representa 4% da nossa actividade. É inevitável que o mercado internacional seja o nosso foco. S: Recentemente a OGMA investiu cerca de 9 milhões de euros na construção de um hangar de pintura. Que mais-valias se prevê que este projecto traga para a empresa? RAR: O Hangar de Pintura é um dos mais importantes investimentos realizados pela OGMA nos últimos tempos, representando um investimento de 9 milhões de euros. É uma infraestrutura que vem reforçar o nosso leque de serviços ao nível de MRO e, consequentemente, torna-nos mais competitivos e mais capazes para disputar negócios com a nossa concorrência. Trata-se de um moderno hangar de pintura, equipado com as mais modernas tecnologias, preparado para pintar em simultâneo duas aeronaves, de médio e pequeno porte e está inclusive pensado para ser utilizado com o KC-390. É também um equipamento que segue as melhores práticas ao nível de sustentabilidade e uso eficiente de energia e de luz natural. Esta infraestrutura vem dar-nos capacidade para

alavancar mais negócio. Estamos a ultimar os pormenores desta infraestrutura para que inicie os trabalhos muito em breve. S: Em 2015 a OGMA teve lucros de 11,6 milhões de euros. Confirma esta informação? A que se deveram estes resultados? Prevê que a empresa tenha forma de continuar a crescer? Se sim, qual a estratégia que prevê adoptar para que tal aconteça? RAR: Sim, em 2015 tivemos um resultado líquido de 11,6 milhões de euros, o melhor desempenho da última década, que representou um crescimento de 4,8 milhões de euros em comparação com o período homólogo. O volume de negócios cifrou-se nos 188 milhões de euros, um aumento de quase 22 milhões de euros do que em 2014. Este desempenho deveu-se à conjugação de factores e à melhoria da eficiência e da operacionalidade da empresa. Por um lado, um importante contributo para estes valores foi a área de Motores, que teve um desempenho melhor do que aquilo que prevíamos. As opções que tomamos para conter possíveis efeitos por parte da reestruturação que a Rolls-Royce havia anunciado, aliada à captação de mais clientes ao nível de motores acabaram por contribuir positivamente para os resultados do ano passado. Ao nível de estratégia futura, o nosso foco centra-se em duas áreas principais. Por um lado, as Aeroestruturas, que vai continuar a desenvolver-se bastante nos próximos anos. Esperamos que cresça um pouco em volume total e cresça muito em termos absolutos, sendo que hoje representa cerca de 30% do total da actividade da OGMA. Por outro lado, ao nível de Manutenção, com o investimento que temos feito ao longo do

tempo em equipamentos e infraestruturas e na formação e qualificação dos nossos trabalhadores, vamos conseguir reforçar o volume de trabalho ao nível de Aviação Comercial e Executiva. S: Recentemente os trabalhadores da OGMA pediram aumentos de salários, por considerarem que os rendimentos auferidos na empresa eram baixos. Alguns trabalhadores reclamaram ainda do regime de banco de horas e acusaram a empresa de despedimentos disfarçados de rescisões amigáveis. Esta questão já está ultrapassada? O que nos tem a dizer sobre isto? Recentemente um jornal nacional publicou uma notícia na qual era referido que o salário médio dos trabalhadores da OGMA é de 1.400 Euros. Confirma esta informação? RAR: A OGMA tem mantido uma postura de abertura com as estruturas sindicais representativas dos trabalhadores, promovendo momentos de comunicação regulares com o objetivo de assegurar uma informação transparente e de partilha dos desafios da empresa. Para além desta postura de diálogo, a OGMA tem feito um investimento crescente no desenvolvimento das suas pessoas, na melhoria da eficiência operacional e na simplificação dos processos com vista a fazer face aos desafios futuros. Como prova disso, entre 2005 e 2015, a OGMA investiu 54,2 milhões de euros em infraestruturas e equipamento e 19,5 milhões de euros na formação e qualificação dos seus trabalhadores. A política de actualização salarial praticada pela OGMA ao longo dos últimos três

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anos tem como foco principal a preocupação em manter uma equidade salarial de acordo com as práticas de mercado e a diferenciação por mérito dos trabalhadores. Como resultado, mais de 70 por cento dos trabalhadores da empresa viram os seus salários revistos. Para 2016 será mantido este enfoque. A média salarial da empresa está na ordem dos 1400 euros e o salário mais baixo é muito próximo dos 800 euros. A empresa tem procurado eliminar discrepâncias salariais, assumindo como prioridade actualizar os salários que estavam abaixo da média do mercado. Não faz sentido que pessoas com a mesma responsabilidade e em posições semelhantes tenham salários completamente distintos. O reconhecimento do contributo dos trabalhadores para os resultados positivos da empresa é uma prática instituída na OGMA. Uma evidência disso é o facto de a empresa distribuir, todos os anos, uma parte dos lucros pelos trabalhadores, tendo em conta o cumprimento dos objectivos de desempenho delineados. Desde 2006 já foram distribuídos 13,5 milhões de euros aos trabalhadores, dos quais 1,8 milhões de euros foram pagos em Abril deste ano, referentes aos resultados de 2015. Por fim, não corresponde à realidade a existência de despedimentos disfarçados de rescisões amigáveis. A OGMA actua com uma postura transparente.

S: Que serviços presta actualmente a OGMA à Força Aérea Portuguesa? A Manutenção, Reparação e Revisão Geral que a OGMA faz actualmente ao C-130 pode terminar, em breve, devido à substituição dos aparelhos. Já tem a confirmação desta questão? Se sim, para quando? RAR: A OGMA desenvolve os trabalhos de manutenção solicitados pela Força Aérea Portuguesa, estando sempre disponível pela responder às suas solicitações. É uma relação de longa data, com a qual ambas as partes estão satisfeitas. A nossa intervenção passa sobretudo pela realização de trabalhos de manutenção em C-130, P-3 e C-295 e a concretização do programa de modernização MLU dos F-16. A isso acresce a presença de uma equipa da OGMA na Base do Montijo dedicada à manutenção da frota de helicópteros EH-101. É uma prática da OGMA não tecer comentários sobre decisões que cabem a entidades terceiras. O que podemos dizer é que temos um longo historial de manutenção de C-130, que teve início na década de 1970. É uma importante credencial da OGMA bastante reconhecida no mercado internacional que tem contribuído para a captação de novos clientes, quer no mercado africano, quer no mercado europeu.

A seu tempo, estamos certos, saberemos qual será a opção do Estado português para a substituição das aeronaves de transporte. Estamos tranquilos em relação a esse ponto. S: Confirma que a política da empresa está centrada na diversificação dos clientes, procurando reduzir a sua tradicional “dependência” da manutenção de aviões militares e dos serviços prestados à Força Aérea Portuguesa, sendo que esta última era, até há alguns anos, responsável por quase todo o negócio da empresa? RAR: O peso da exportação nas contas da empresa já foi abordado atrás. Gostaria apenas de precisar a noção de “dependência” da FAP referida na questão. Em 1994 quando se tornou uma Sociedade Anónima e passou a assumir a designação OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A., a OGMA deixou de estar na esfera da Força Aérea e tornou-se uma empresa vocacionada para actuar num mercado competitivo. Como já referimos, a Aviação de Defesa sempre foi uma tradição da empresa, mas a OGMA já tinha iniciado o seu percurso de captação de clientes estrangeiros, tornando-se algo cada vez mais notório até ao momento em que os mercados externos passaram a superar o mercado interno. No contexto da transformação da empresa, a OGMA alargou a sua intervenção para a Aviação Comercial, tornando-se, por exemplo,

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Centro de Manutenção Autorizado da Embraer para ERJ-145, e mais tarde ficou certificada para a manutenção do Airbus A320. É importante ter presente que há muito tempo que a OGMA não depende de um só cliente. No actual contexto mundial é fundamental diversificar mercados e áreas geográficas para a sustentabilidade de qualquer empresa e a OGMA não foge a essa realidade. S: A OGMA tem, em alguns países africanos, bons clientes. A crise em algumas regiões daquele continente afectou os resultados da OGMA? RAR: O continente africano é uma área geográfica na qual a OGMA tem uma presença muito relevante e já com um histórico interessante. Mais do que o contexto interno destes países, o que se assistiu é algo que é comum ao mercado global: restrições orçamentais face à crise mundial. Face ao actual contexto, as forças armadas veem-se obrigadas a tomar opções e, de alguma forma, a priorizar os trabalhos de manutenção necessários. É uma realidade do mercado que temos procurado ultrapassar captando mais e novos clientes. S: Em 2014 a britânica Rolls Royce, o maior cliente da empresa portuguesa na área da reparação de motores, preveniu uma previsível quebra de encomendas. Este alerta veio a confirmar-se? Se sim, a OGMA implementou medidas para minimizar os efeitos desta situação? RAR: Resumidamente, as previsões da Rolls-Royce eram mais pessimistas do que se veio a comprovar na realidade. As medidas que tomamos para conter este impacto e a estratégia que desenvolvemos de ir ao mercado em busca

de novas oportunidades de negócio mostrou-se acertada e contribuiu para os resultados positivos obtidos no ano passado. S: Que percentagem do volume de negócios representa actualmente o sector de fabrico de componentes? RAR: O fabrico de Aeroestruturas representou aproximadamente 30% das contas totais da OGMA em 2015. S: O segmento dos aviões comerciais cresceu bastante na OGMA, havendo ainda lugar à diversificação do trabalho feito na área de manutenção. Confirma estas informações? RAR: A OGMA aposta cada vez mais na Aviação Comercial e Executiva, sem deixar de actuar na Aviação de Defesa, claro. Hoje, nas contas da OGMA, a Aviação Civil teve um peso de 40%. S: Qual é a participação da OGMA no projecto do KC-390? A OGMA participou na fase inicial do Desenvolvimento do Produto (Joint Definition Phase) do KC-390? RAR: Para a OGMA constitui um motivo de orgulho e um marco nos seus 98 anos de história, assinalados no passado dia 29 de Junho, termos sido o local escolhido pela Embraer para apresentar pela primeira vez o KC-390 na Europa. O KC-390 é um projecto estruturante para a OGMA e uma alavanca para o desenvolvimento da nossa Área de Negócio de Aeroestruturas. É um projecto que tem envolvido muitas pessoas, muitas horas e muito empenhamento para responder à altura do desafio que é construir a maior aeronave militar alguma vez construída pela Embraer.

Encaramos a apresentação como um momento histórico para a Embraer, para a OGMA e para a afirmação da indústria aeronáutica em Portugal. É a materialização do sonho e da ambição que tivemos há 6 anos atrás e vem demonstrar que há capacidade técnica e humana em Portugal para fazer projectos de excelência como o KC. A OGMA orgulha-se de ser um agente activo no desenvolvimento do KC-390. É importante sublinhar que a postura da OGMA é bastante activa, não se limita a fabricar componentes para a aeronave. O seu envolvimento vem desde a fase inicial do Desenvolvimento do Produto e tem também a seu cargo o desenvolvimento e gestão da cadeia de fornecimento, preferencialmente nacional, garantindo assim uma relevante integração nacional neste projecto da Embraer. S: A OGMA é responsável pela produção de que peças do KC-390? RAR: A OGMA tem a seu cargo o fabrico da fuselagem central, fabrico e montagem dos sponsons direito e esquerdo (conjuntos com cerca de 12 metros de dimensão que compõem a carenagem do compartimento do trem de aterragem) bem como dos lemes de profundidade. Estas peças são fabricadas em material compósito e ligas metálicas. S: Quantas peças deste avião já entregou a OGMA à Embraer? RAR: A OGMA já entregou componentes para os 3 protótipos do KC-390, que estão a ser usados para testes de voo e certificação da aeronave. Os componentes fabricados na OGMA são transportados numa embalagem de transporte ergonómica concebida especialmente para esta situação.