anna paula godoy utilizaÇÃo de lÍquidos iÔnicos na

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA ESFOLIAÇÃO EM FASE LÍQUIDA DO GRAFITE E APLICAÇÃO NA FORMAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS CONDUTORES DE POLÍMERO-GRAFENO PARA IMPRESSÃO 3D São Paulo 2019

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Page 1: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ANNA PAULA GODOY

UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA ESFOLIAÇÃO

EM FASE LÍQUIDA DO GRAFITE E APLICAÇÃO NA

FORMAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS CONDUTORES DE

POLÍMERO-GRAFENO PARA IMPRESSÃO 3D

São Paulo

2019

Page 2: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

ANNA PAULA GODOY

UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA ESFOLIAÇÃO

EM FASE LÍQUIDA DO GRAFITE E APLICAÇÃO NA

FORMAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS CONDUTORES DE

POLÍMERO-GRAFENO PARA IMPRESSÃO 3D

Orientador: Prof. Dr. Eunézio Antônio Thoroh de Souza

Coorientador: Prof. Dr. Ricardo Keitel Donato

São Paulo

2019

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia Elétrica e

Computação da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, como requisito parcial para a

obtenção do título de Doutor em Engenharia

Elétrica.

Page 3: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

G589u

Godoy, Anna Paula

Utilização de líquidos iônicos na esfoliação em fase líquida do grafite e

aplicação na formação de nanocompósitos condutores de polímero-grafeno para

impressão 3D / Anna Paula Godoy – São Paulo, 2019.

123 f.: il.; 30 cm.

Tese (Doutorado em Engenharia Elétrica e Computação) - Universidade

Presbiteriana Mackenzie - São Paulo, 2019.

Orientador: Eunézio Thoroh de Souza.

Bibliografia: f. 92-105.

1. Grafeno. 2. Esfoliação em fase líquida. 3. Sistema bifásico. 4. Líquidos

iônicos. 5. Nanocompósitos poliméricos. 6. Impressão 3D. I. Souza, Eunézio

Thoroh de, orientador. II.Título.

CDD 620.5

Page 4: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA
Page 5: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

Àqueles que reúnem em si

todo o meu amor e todas as minhas forças, Pedro e Davi, dedico

Page 6: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

AGRADECIMENTOS

“Orientador: adjetivo substantivo masculino.

1. aquele que dirige, estabelece as diretrizes para o funcionamento de algo; dirigente,

diretor.

2. que orienta, direciona, condutor, guia.

3. que inspira alguém, servindo-lhe de modelo.”

Por tudo isso, àquele que brilhantemente me conduziu na execução deste trabalho, Prof.

Dr. Ricardo Keitel Donato, meu orientador, pela dedicação, confiança e apoio. Agradeço

imensamente pelas oportunidades, que me fizeram evoluir profissionalmente e

pessoalmente, por todos os ensinamentos e discussões, pela agradável convivência e,

sobretudo, pela amizade.

Ao meu também orientador, Prof. Dr. Eunézio Antônio Thoroh de Souza, pela excelente

oportunidade de integrar o grupo do MackGraphe, por toda ajuda, discussões e sugestões.

Ao meu grande e querido amigo, parceiro de Ciência e da vida, Dr. Pablo Andrés Muñoz,

cuja paciência, discussões, sugestões, análises, incentivo, apoio e amizade foram

fundamentais para concluir meu trabalho e me dar forças para chegar até aqui.

Aos colegas de sala de estudos, de bancada e aos verdadeiros amigos que a Ciência me

deu, especialmente às queridas Elyff, Fernanda, Giane, Andressa, Priscila e Pilar e aos

estimados Nei, Marcos, Cid, Eder e Gustavo pela amizade, companheirismo diário e por

toda ajuda.

Ao Prof. Dr. Guilhermino Fechine por todo apoio, pela valorosa ajuda, confiança,

discussões, oportunidades, convivência e amizade.

To Prof. Rumiana Kotsilkova and Prof. Evgeni Ivanov, from Open Laboratory on

Experimental Micro and Nano Mechanics (OLEM)- Bulgarian Academy of Sciences for

the opportunity, suggestions, discussions and friendship.

Ao Professor Dr. Leandro Seixas pela dedicação para com as simulações de DFT.

Page 7: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

Al Dott. Marino Lavorgna che mi ha accolto gentilmente durante la mia permanenza nel

suo laboratorio nell’ Istituto dei Polimeri, Compositi e Biomateriali e tutti gli amici che

ho lasciato: Chiara Santillo, Lia, Chiara Ascione, Giovanna, Letizia, Alessandra, Yanhu,

Regina, Mario, Federico e Martina. Grazie mille per tutto e forza Napoli sempre!

A tutti che, in qualche modo, mi hanno aiutato durante la mia permanenza a Napoli, la

mia città del cuore che ho imparato ad amare, specialmente la meravigliosa famiglia

Santillo (Paolo, Anna, Chiara, Marta e Flavia) e la mia cara e indimenticabile amica

Maria Colombo.

To all special friends that the Horizon 2020 project gave to me: Hristiana, Radost, Evgeni

and Vladimir.

Ai miei amici speciali che il progetto Horizon 2020 mi ha dato, Gianluca e Marcello.

To Petra Ecorchard, thanks for the reception in Prague and in Institute of Inorganic

Chemistry of Czech Academy of Sciences, for all the discussions, suggestions, advices,

considerable support, kindness and friendship. To Hynek Beneš, from the Institute of

Macromolecular Chemistry, for the sympathy, all discussions and precious scientific

teaching. To Darina and Jakub, for the technical support, patience and friendship.

Ao Prof. Dr. Omar El Seoud pela recepção em seu laboratório e em seu grupo no Instituto

de Química da USP, por todos os ensinamentos, pelas pertinentes observações e valorosas

discussões.

A todos professores, colegas e staff do MackGraphe que de alguma forma contribuíram

para a realização do meu trabalho e pela amizade, especialmente à Debora, Luís e Cabral,

por toda atenção, ajuda e dedicação, tornando o nosso dia-a-dia mais fácil.

Ao Prof. Dr. Leandro Silva, coordenador do curso de Pós-Graduação de Engenharia

Elétrica desta Universidade, e ao Yopanan Rocha, por todo apoio e ajuda recebidos.

Page 8: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

À minha tia Maristela, por toda amizade e suporte durante meus dias de escrita.

À minha mãe, Tereza, por todo o amor e cuidado desvelados aos meus filhos, pelo carinho

e apoio de sempre.

Aos amores de todas as minhas vidas, meus meninos Pedro e Davi, pelo bom

comportamento, amor, compreensão e companheirismo, fundamentais para a mamãe

concluir esta tese.

À CAPES e ao MackPesquisa pelo suporte financeiro, e ao Programa Intercontinental

Horizon 2020 (H2020) pela fantástica oportunidade e apoio. A todos os colaboradores

que possibilitaram o desenvolvimento de parte dos experimentos e intensa troca de

conhecimentos no Insituto de Química da Universidade de São Paulo, no Istituto per

Polimeri Compositi e Biomateriali em Nápoles, e no Instituto de Química Inorgânica da

Academia de Ciências Tcheca, em Řež.

Page 9: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

I

LISTA DE FIGURAS

Fig.1. Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM) e aspecto dos grafites HOPG (a

e b), flakes (c e d), em pó (e e f), artificial (g e h) e expandido (i e j)

6

Fig. 2. Formas alotrópicas do carbono. Da esquerda para a direita: uma folha de grafeno (2D) e

a estrutura 3D do grafite (parte superior); um nanotubo de carbono (1D) e um fulereno (0D)

(parte inferior)

7

Fig. 3. Grafite antes (à esquerda) (a) e após a oxidação (à direita) (b) 9

Fig. 4. Esfoliação em fase líquida: material de partida (a); imersão em solvente (b);

ultrassonicação (c) e dispersão final (d)

11

Fig. 5. Exemplos de empilhamentos π-π entre espécies aromáticas: face a face em ‘sanduíche’

(π-π) (a), face a face deslocado (b) e borda com face (C-H---π) (c) (I). Interações do tipo π-π e

C-H---π entre o benzeno, naftaleno e pireno sobre e sob o plano basal do grafeno (II)

13

Fig. 6. Tipos de surfactantes tradicionais: não-iônico (A); iônico (B) e (C); e zwitteriônico (D) 16

Fig. 7. Cátions (orgânicos) e ânions (orgânicos ou inorgânicos) comuns de LIs 18

Fig. 8. Arranjo iônico no cloreto de sódio, NaCl, e em um líquido iônico 19

Fig. 9. Propagação da onda ultrassônica em um fluido e variação da pressão acústica durante a

compressão e a rarefação; e evolução de uma bolha de cavitação desde sua formação até o seu

colapso

21

Fig. 10. Shear mixer e seus componentes: rotor (a) e estator (b); dispersões de grafeno esfoliado

em NMP pela técnica de shear mixing

22

Fig. 11. Ilustração da ação do ultrassom em um meio composto por dois líquidos imiscíveis,

apolar (A) e polar (B), com diferentes densidades, viscosidades e tempos de relaxamento. O

ultrassom é gerado pelo sonotrodo imerso em A próximo à interface com o líquido B (a). A

propagação da onda ultrassônica com comprimento de onda λ e amplitude ξ dá-se ao longo da

superfície x da interface (b)

23

Fig. 12. Modelo esquemático da formação de um domínio líquido por ultrassom com

comprimento de onda λ. Perturbação da zona interfacial entre os líquidos A e B por um “jato”

com comprimento de lmáx originando um domínio de diâmetro d (a). Formação de domínios de

diferentes diâmetros em dois estágios: 1º nucleação; 2º fragmentação (b)

24

Fig. 13. Estruturas moleculares dos LIs (Bnz)2Im(Benz) (a) e (Bnz)2Im(Naf) (b). 27

Fig. 14. Esfoliação de grafite em meio a um sistema bifásico com LI em ultrassom de banho de

320 W

28

Fig. 15. Esfoliação de grafite em meio a um sistema bifásico com LI em ultrassom de ponteira

com potências de: 117 W (a) e 280 W (b)

29

Fig. 16. Sistema bifásico composto de água (fase aquosa) e DCM (fase orgânica) e respectivas

emulsões após ultrassonicação: à esquerda emulsão sem LI; à direita, com LI

30

Page 10: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

II

Fig. 17. Sistemas bifásicos na ausência do LI (I) e na presença do LI (II), com razões de

volume H2O/DCM: 95/5 (a), 90/10 (b), 75/25 (c) e 50/50 (d). No detalhe, imagem de

microscopia óptica de campo escuro do sistema H2O/DCM de razão de volume de 95/5 na

presença do LI (barra de escala = 50 µm)

35

Fig. 18. Visões superior e lateral das interações do cátion [(Bnz)2Im] + (a) e ânions (Benz)-

(b) e (Naf)- (c) com a folha de grafeno, e as correspondentes energias de ligação e

distâncias calculadas por DFT. Imagens inicial (d) e final (e) da simulação baseada no

Primeiro Princípio da Dinâmica Molecular (FPMD) dos pares iônicos [(Bnz)2Im]+ e

(Benz)- se auto organizando sobre a folha de grafeno. Guia de cores nas moléculas: átomos

de carbono em cinza, de nitrogênio em azul, de oxigênio em vermelho e de hidrogênio em

branco (a-c); folha de grafeno em cinza, [(Bnz)2Im] + (azul) e (Benz)- (vermelho) (d-e).

37

Fig. 19. Espectros Raman do grafite esfoliado em sistema bifásico na presença e na

ausência de (Bnz)2Im(Benz) usando processadores de ultrassom de banho (320 W) (I) e

ponteira (117 W) (II)

38

Fig. 20. Espectros Raman do grafite esfoliado em sistema bifásico contendo:

(Bnz)2Im(Benz) e (Bnz)2Im(Naf) (I) usando ultrassom de banho (320 W) por 5 h; e

(Bnz)2Im(Benz) comparando a influência da potências das ponteiras de ultrassom (II). A

linha pontilhada indica a posição da banda 2D do grafite sem esfoliação

39

Fig. 21. Espectros Raman obtido para os LIs: (Bnz)2Im(Benz) (I) e (Bnz)2Im(Naf) (II) 41

Fig. 22. Imagens de AFM, incluindo os perfis de topológicos, do grafite esfoliado em

sistemas bifásicos: na ausência de LI após 5h em ultrassom de banho(a), na presença de

(Bnz)2Im(Benz) após 1h (b) e 5h em ultrassom de banho (c); na ausência de LI (d) e na

presença de (Bnz)2Im(Benz) (e) após 30 min de ultrassom de ponteira de 117 W; na

presença de (Bnz)2Im(Benz) depois de 30 min de ultrassom de ponteira de 280 W (f). A

linha pontilhada vermelha é apenas uma guia visual

42

Fig. 23. Imagens de microscopia eletrônica de grafite esfoliado em sistemas bifásicos:

TEM, após 5 horas em ultrassom de banho de 320 W na ausência de LI (a); TEM (b) e

SEM (imagem negativa) (c) após 5 horas de sonicação em banho de 320 W com

(Bnz)2Im(Benz); TEM, após uso de ultrassom de ponteira de 117 W por 30 min sem (d) e

com (e) (Bnz)2Im(Benz); e TEM, após 30 min de ultrassom de ponteira de 280 W por com

(Bnz)2Im(Benz) (f). As figuras inseridas são os padrões de difração de elétrons

correlacionados ao TEM

43

Fig. 24. Micrografias de TEM do grafite esfoliado em sistema bifásico: na ausência do LI

em ultrassom de banho por 5 horas (a); e na presença de (Bnz)2Im(Benz) em ultrassom de

banho por 1 hora (b) e 5 horas (c)

44

Fig. 25. Micrografias de TEM do grafite esfoliado em sistema bifásico usando ultrassom

de ponteira de 117 W (I) na ausência do LI por 30 minutos (a), na presença de

(Bnz)2Im(Benz) por 10 minutos (b) e 30 minutos (c); usando ultrassom de ponteira de 280

W (II) na presença de (Bnz)2Im(Benz) por 10 (a) e 30 minutos (b)

45

Fig. 26. Espectros Raman do grafite esfoliado em sistema bifásico com (Bnz)2Im(Benz)

em ultrassom: de banho (320 W) por 1 h e 5 h (a); e ponteira de 117 W (b) e 280 W (c)

por 10 e 30 minutos. As inseções apresentam as deconvoluções das bandas 2D

49

Page 11: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

III

Fig. 27. Padrões de XRD de grafite flakes (a) e do grafite esfoliado em sistema bifásico

contendo (Bnz)2Im(Benz): em ultrassom de banho de 320 W por 5 horas (b) e de ponteira

de 117 W por 30 min (c). A inserção corresponde à região próxima ao padrão de difração

de grafite (2θ = 26,5 º)

50

Fig. 28. Nanocompósito de PLA e grafeno: peletizado (a) e em filamentos de 1,75 mm de

diâmetro (b)

54

Fig. 29. Estruturas do mero (a) e da cadeia de PLA (b), cujas cores referem-se ao oxigênio

(vermelho), carbono (cinza) e hidrogênio (branco)

55

Fig. 30. Estruturas do mero (a) e da cadeia de PVOH (b). As cores referem-se ao oxigênio

(vermelho), carbono (cinza) e hidrogênio (branco)

57

Fig. 31. Representação esquemática da percolação elétrica em um nanocompósito,

indicando as diferentes regiões em função da condutividade elétrica e a concentração total

da carga

60

Fig. 32. Imagens de TEM dos nanocompósitos contendo as duas cargas nas porcentagens

em massa (wt.%): 1,5 de GNP/4,5 de MWCNT (a) e 3 de GNP/3 de MWCNT (b)

65

Fig. 33. Imagens de SEM dos nanocompósitos contendo as cargas nas porcentagens em

massa (wt.%): 6 de MWCNT (a); 6 de GNP (b); 1,5 de GNP/1,5 de MWCNT (c); 3 de

GNP/3 de MWCNT (d). Voltagem de 5 kV e magnificação de 20000 x

66

Fig. 34. Espectros Raman obtidos para nanocompósitos contendo: PLA (a), PLA com 1,5

wt.% de GNP (b); PLA com 6 wt.% de GNP (c); PLA com 1,5 wt % de MWCNT (d); e

PLA com 6 wt.% de MWCNT (e)

68

Fig. 35. Mapeamento Raman para as bandas D (a), G (b) e banda 2D (c) para o

nanocompósito de PLA contendo as cargas nas porcentagens em massa (wt.%): 1,5 de

GNP/1,5 de MWCNT

69

Fig. 36. Condutividade elétrica vs. concentração de GNP e MWCNT para nanocompósitos

com uma carga (PLA e GNP; PLA e MWCNT) e com duas cargas (PLA e GNP; PLA e

MWCNT)

70

Fig. 37. Condutividade térmica vs. concentração de GNP e MWCNT para nanocompósitos

com uma carga (PLA/GNP; PLA/MWCNT) e com duas cargas (PLA/GNP;

PLA/MWCNT); e difusividade térmica vs. concentração de GNP e MWCNT para

nanocompósitos com uma carga (PLA/GNP; PLA/MWCNT) e com duas cargas

(PLA/GNP; PLA/MWCNT) (II)

71

Fig. 38. Formação de canais condutores na matriz polimérica através da inclusão de

nanocargas condutoras (a) vs. distribuição randômica de cargas condutoras na matriz

polimérica (b)

75

Fig. 39. Diagrama esquemático da síntese por mistura dos grânulos de polímero com as

cargas condutoras em solução e moldagem por compressão

76

Fig. 40. Estrutura (a) e esquema de funcionamento da extrusora de uma impressora 3D

por FDM (b): ejeção do material fundido (1), deposição camada a camada (2), plataforma

móvel (3)

79

Page 12: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

IV

Fig. 41. Imagens de SEM dos filmes obtidos dos sistemas dispersos em THF. M1: GE e

(Bnz)2ImCl (a); M2: GE sem líquido iônico (b); M3: grafite flakes e (Bnz)2ImCl (c); M4:

grafite em pó e (Bnz)2ImCl (d); e M5: grafite flakes e BnzMImCl (e) (barra de escala =

100 µm)

84

Fig. 42. Imagens de SEM dos filmes obtidos dos sistemas dispersos em água/ DCM por 2

horas. B1: GE e (Bnz)2ImCl (a); B2: GE sem líquido iônico (b); B3: grafite flakes e

(Bnz)2ImCl (c); B4: grafite em pó e (Bnz)2ImCl (d); e B5: grafite flakes e BnzMImCl (e)

(barra de escala = 100 µm)

85

Figura 43. Imagens de microscopia óptica dos filmes obtidos dos sistemas contendo grafite

em pó e (Bnz)2ImCl dispersos em: THF (M4), com magnificação de 10x (a) e de 20x (b);

e água/DCM (B4), com magnificação de 10x (c), 20x (d) e 50x (e)

85

Fig. 44. Imagens de microscopia óptica dos filmes obtidos dos sistemas contendo grafite

em pó e (Bnz)2ImCl dispersos em: THF (M4), com magnificação de 10x (a) e de 20x (b);

e água/ DCM (B4), com magnificação de 10x (c), 20x (d) e 50x (e)

86

Fig. 45. Espectros Raman dos nanocompósitos obtidos em sistemas monofásicos

utilizando o grafite em flakes (I) e (Bnz)2ImCl (M5) e BnzMImCl (M7); e em sistemas

bifásicos, utilizando o grafite em flakes (I) e os líquidos iônicos (Bnz)2Im(Benz) (B4) e

BnzMImCl (B7) (II)

87

Fig. 46. Espectros Raman dos nanocompósitos obtidos em sistemas monofásico (M6) e

bifásico (B6) utilizando com o grafite em pó e o (Bnz)2ImCl

88

Fig. 47. Condutividade elétrica para os nanocompósitos poliméricos obtidos por

esfoliação do grafite em sistemas líquidos monofásico (Mx) e bifásico (Bx) com diferentes

precursores de grafite e LIs

89

Fig A1. Espectros de NMR 1H do (Bnz)2Im(Benz) (a) e (Bnz)2Im(Naf) (b) a 25°C

91

Page 13: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

V

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Razões I(D)/I(G) obtidas para o grafite esfoliado em sistema bifásico contendo

(Bnz)2Im(Benz) e (Bnz)2Im(Naf) em diferentes processadores de ultrassom

40

Tabela 2. Comparação entre resultados deste trabalho e outros na literatura com uso da

técnica de LPE

48

Tabela 3. Produtos à base de grafeno e CNTs destinados à impressão 3D disponíveis

comercialmente

55

Tabela 4. Proporções de GNP e MWCNT para obtenção dos nanocompósitos poliméricos

de uma ou duas cargas

62

Tabela 5. Técnicas de impressão 3D e descrições 78

Tabela 6. Sistemas monofásicos contendo LI para esfoliação do precursor de grafite, tipo

de ultrassom e tempo de sonicação

83

Tabela 7. Sistemas bifásicos contendo LI para esfoliação do precursor de grafite, tipo de

ultrassom e tempo de sonicação

83

Page 14: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

VI

LISTA DE ABREVIATURAS

0D - Zero dimensional

1D - Unidimensional

2D - Bidimensional

3D - Tridimensional

ABS - Acrilonitrila-butadieno-estireno

AFM (Atomic Force Microscopy) - Microscopia de Força Atômica

(Bnz)2Im(Benz) - Benzoato de 1,3- dibenzilimidazólio

(Bnz)2ImCl - Cloreto de 1,3-dibenzilimidazólio

(Bnz)2Im(Naf) - Naftoato de 1,3- dibenzilimidazólio

BnzMImCl - Cloreto de 1-benzil-3-metilimidazólio

BP (Boiling Point) - Ponto de Ebulição

C4MIm(NTf2) - Bis (trifluorometanosulfonil) imida de 1-butil-3-metilimidazólio

C4MIm(PF6) - Hexafluorofosfato de 1-n-butil-3-metilimidazólio

C6MIm(PF6) - Hexafluorofosfato de 1-n-hexil-3-metilimidazólio

CNTs (Carbon Nanotubes) - Nanotubos de carbono

CVD (Chemical Vapor Deposition) - Deposição Química de Vapor

DFT (Density Functional Theory) - Teoria do Funcional de Densidade

DLS (Dynamic Light Scattering) - Espalhamento de Luz Dinâmico

ED (Electron Diffraction) - Difração de elétrons

FDM (Fused Modelling Deposition) - Modelagem por fusão e deposição

FPMD (First Principle Molecular Dynamics) - Primeiro Princípio da Dinâmica Molecular

GE - Grafite nanoplatelets

GNP (Graphene Nanoplatelets) - Nanoplatelets de grafeno

GO (Graphene Oxide) - Óxido de grafeno

hBN (hexagonal Boron Nitride) - Nitreto de boro hexagonal

Page 15: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

VII

HOPG (High Ordered Pyrolitic Graphite) - Grafite pirolítico altamente orientado

LIs - Líquidos Iônicos

LPE (Líquid Phase Exfoliation) - Esfoliação em fase líquida

MnO2 - Dióxido de manganês

MoO3 - Trióxido de molibdênio

MoS2 - Dissulfeto de molibdênio

MoSe2 - Seleneto de molibdênio

MP (Melting Point) - Ponto de Fusão

MWCNT (Multi Wall Carbon Nanotubes) - Nanotubos de carbono de paredes múltiplas

PANI - Polianilina

PE - Polietileno

PLA - Poliácido láctico

PMMA - Polimetil-metacrilato

PP - Polipropileno

PS - Poliestireno

PVOH - Poliálcool vinílico

rGO (reduced Graphene Oxide) - Óxido de grafeno reduzido

SEM (Scanning Electronic Microscopy) - Microscopia Eletrônica de Varredura

TEM (Trasmission Electronic Microscopy) - Microscopia Eletrônica de Transmissão

Tg - Temperatura de transição vítrea

WS2 - Dissulfeto de tungstênio

XRD (X-Ray Diffraction) - Difração de Raios X

Page 16: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

VIII

RESUMO

Esta tese reporta a obtenção de grafeno por esfoliação do grafite em fase líquida

(LPE) em sistema bifásico de solventes contendo líquido iônico (LI) e sua aplicação na

produção de nanocompósitos poliméricos condutores destinados à impressão 3D pela

técnica de Modelagem por Fusão e Deposição (FDM). Para melhor compreensão, as

atividades foram dividas em três etapas e realizadas pararelamente ou sequencialmente

como especificado a seguir.

Na etapa 1, é descrito um protocolo de LPE do grafite em sistema bifásico

água/diclorometano contendo os LIs benzoato de 1,3-dibenzilimidazólio e naftoato de

1,3-dibenzilimidazólio. A combinação LI-sistema bifásico aumentou a eficácia da

esfoliação e a estabilidade da emulsão formada e diminuiu os danos da cavitação. A

estabilidade das emulsões e a interação LIs-grafeno foram avaliadas por Espalhamento

de Luz Dinâmico (DLS) e Teoria do Funcional da Densidade (DFT), respectivamente.

Espectroscopia Raman, microscopias Eletrônicas de Varredura (SEM), Transmissão

(TEM) e Força Atômica (AFM), e Difração de Raios X (XRD) mostraram qualidade

estrutural e grau de esfoliação do grafeno gerado elevados.

Paralelamente, na etapa 2, nanocompósitos de poliácido láctico (PLA) contendo

nanoplatelets de grafeno (GNP) e nanotubos de carbono (MWCNTs) como cargas,

obtidos por extrusão, foram estudados quanto à concentração das cargas e efeito da

presença de ambas nas condutividades elétrica e térmica. O objetivo foi verificar a

concentração de carga que excede o limite de percolação elétrica e mantém a

processabilidade adequada para a FDM. Nanocompósitos com 6 wt.% de GNP ou

MWCNTs e as duas cargas apresentaram valores de condutividade elétrica 6 ordens de

grandeza acima do PLA puro e aumento de 181% na condutividade térmica.

Na etapa 3, é apresentada a produção do nanocompósito de poliálcool vinílico

(PVOH) e grafeno, na concentração de 6 wt.% otimizada na etapa 2, e obtido pela LPE

do grafite reportada na etapa 1, usando os LIs cloreto de 1-benzil-3-metilimidazólio

(BnzMImCl) e cloreto de 1,3-dibenzilimidazólio, (Bnz)2ImCl. Os LIs mostraram-se

valiosos para evitar a reagregação do grafeno. Estes foram caracterizados por microscopia

óptica, SEM, Raman e condutividade elétrica e apresentam potencial aplicação para a

FDM, pois mostraram boas interação carga-polímero e condutividade elétrica.

Palavras-chave: grafeno, esfoliação em fase líquida, sistema bifásico, líquidos

iônicos, nanocompósitos poliméricos, impressão 3D.

Page 17: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

IX

ABSTRACT

This thesis reports on graphene production by graphite liquid phase exfoliation

(LPE) in biphasic system containing ionic liquid (IL) and its application in conductive

polymeric nanocomposites’ synthesis for 3D printing by Fusion Depostion Molding

(FDM) technique. For better understanding, the activities were divided into three steps

and performed in parallel or sequentially as specified below.

In the first step, a graphite LPE protocol using a water/dichloromethane biphasic

liquid system with 1,3-dibenzylimidazolium benzoate and 1,3-dibenzylimidazolium

naphthoate ILs is described. The combination of ILs-biphasic system improved the

exfoliation efficiency and emulsion stability and decreased the damages by cavitation.

Emulsion stability and ILs-graphene interaction were studied by Dynamic Light

Scattering (DLS) and Density Functional Theory (DFT), respectively. Raman

Spectroscopy, Scanning Electronic (SEM), Transmission (TEM) and Atomic Force

(AFM) microscopies, and X-ray Diffraction (XRD) results showed high quality and

exfoliation level of produced graphene.

In parallel, in step 2, poly(lactic) acid (PLA) nanocomposites with graphene

nanoplatelets (GNP) and carbon nanotubes (MWCNTs) as fillers obtained by melt

extrusion were studied in terms of filler concentration and presence of bi-fillers effect in

electrical and thermal conductivities. The goal was to verify which filler concentration

surpasses the electrical percolation threshold while maintaining the processability for

FDM. Nanocomposites with 6 wt.% of GNP or MWCNT, or both, showed electrical

conductivities values of 6 decades order of magnitude higher than pure PLA and

increasing of 181% in thermal conductivity.

In step 3, is showed the polyvinyl alcohol (PVOH) nanocomposite production

with 6 wt.% of graphene, concentration optimized in step 2, and obtained by graphite LPE

described in step 1, using 1-benzyl-3-methylimidazolium chloride (BnzMImCl) and 1,3-

dibenzylimidazolium chloride (Bnz)2ImCl. The imidazole-based ILs demonstrated to be

valuable to prevent graphene re-aggregation. These were characterized by optical

microscopy, SEM, Raman and electrical conductivity, and showed potencial aplicability

in FDM, due to the good filler-polymer interaction and electrical conductivity.

Keywords: graphene, liquid phase exfoliation, biphasic system, ionic liquids,

polymeric nanocomposites, 3D printing

Page 18: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS...................................................................................................I

LISTA DE TABELAS.................................................................................................V

LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................................VI

RESUMO.................................................................................................................VIII

ABSTRACT...............................................................................................................IX

INTRODUÇÃO............................................................................................................1

OBJETIVO DA TESE..................................................................................................3

ORAGANIZAÇÃO DA TESE.....................................................................................3

LISTA DE PUBLICAÇÕES........................................................................................4

CAPÍTULO 1

OBTENÇÃO DE GRAFENO POR ESFOLIAÇÃO DO GRAFITE EM SISTEMA

LÍQUIDO BIFÁSICO CONTENDO LÍQUIDO IÔNICO...........................................5

1.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 5

1.1.1. O grafeno e seu precursor (grafite) .................................................................... 5

1.1.2. Esfoliação em fase líquida do grafite (LPE) .................................................... 10

1.1.2.1. Uso de solventes orgânicos na LPE .............................................................. 11

1.1.2.2. Uso de solventes aromáticos na LPE ............................................................ 12

1.1.2.3. Uso de solventes com baixos pontos de ebulição na LPE.............................14

1.1.2.4. Uso de surfactantes na LPE e meio aquoso .................................................. 15

1.1.2.5. Uso de sais orgânicos na LPE ....................................................................... 17

1.1.2.6. Uso de Líquidos Iônicos na LPE .................................................................. 17

1.1.2.7. Uso da cavitação na LPE .............................................................................. 20

1.1.2.8. Uso sinérgico da cavitação e dos sistemas líquidos bifásicos ...................... 23

1.1.2.9. Técnicas de caracterização do grafeno obtido por LPE ................................ 25

1.2. PARTE EXPERIMENTAL ................................................................................ 27

1.2.1. Síntese dos LIs ................................................................................................. 27

1.2.2. Esfoliação do grafite em meio bifásico de solventes ....................................... 28

1.2.2.1. Esfoliação em ultrassom de banho ................................................................ 28

1.2.2.2. Esfoliação em ultrassom de ponteira ............................................................ 28

1.2.3. Caracterização do sistema bifásico de solventes ............................................. 29

Page 19: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

1.2.3.1. Espalhamento de Luz Dinâmico (DLS) ........................................................ 29

1.2.3.2. Microscopia Óptica ....................................................................................... 30

1.2.4. Caracterização das interações grafeno-LI pela Teoria do Funcional de

Densidade....................................................................................................................30

1.2.5. Caracterização do grafeno produzido .............................................................. 31

1.2.5.1. Microscopia Óptica ....................................................................................... 31

1.2.5.2. Espectroscopia Raman .................................................................................. 31

1.2.5.3. Microscopia de Força Atômica (AFM) ........................................................ 32

1.2.5.4. Microscopia Eletrônica de Trasmissão (TEM) ............................................. 32

1.2.5.5. Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM) ............................................... 32

1.2.5.6. Difração de Raios-X (XRD) ......................................................................... 33

1.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 34

1.3.1. Caracterização do sistema bifásico de solventes ............................................. 34

1.3.2. Caracterização das interações grafeno-LI ........................................................ 36

1.3.3. Caracterização do grafeno produzido .............................................................. 38

1.4. CONCLUSÕES .................................................................................................. 50

CAPÍTULO 2

PROPRIEDADES ELÉTRICAS E TÉRMICAS DE NANOCOMPÓSITOS

POLIMÉRICOS À BASE DE GRAFENO E DERIVADOS......................................52

2.1. NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS ............................................................ 52

2.1.1. Produção de nanocompósitos poliméricos à base de grafeno e CNTs ............ 53

2.1.2. Propriedades elétricas e térmicas dos nanocompósitos poliméricos para

impressão 3D ............................................................................................................. 58

2.1.3. Limite de Percolação Elétrica (Percolation Threshold) .................................. 59

2.2. PARTE EXPERIMENTAL ................................................................................ 62

2.2.1. Obtenção dos nanocompósitos poliméricos por extrusão no estado fundido .. 62

2.2.2. Caracterização dos nanocompósitos poliméricos ............................................ 63

2.2.2.1. Condutividades elétrica e térmica ................................................................. 63

2.2.2.2. Microscopias Eletrônicas de Transmissão (TEM) e Varredura (SEM) ........ 63

2.2.2.3. Espectroscopia Raman .................................................................................. 64

2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 65

2.3.1. Caracterização morfológica e estrutural dos nanocompósitos poliméricos ..... 65

2.3.2. Efeito da concentração e combinações das cargas na condutividade elétrica.....69

Page 20: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

2.3.3. Efeito da concentração e combinações das cargas na condutividade térmica.....70

2.4. CONCLUSÕES .................................................................................................. 71

CAPÍTULO 3

OBTENÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS COM MORFOLOGIA

SEGREGADA PARA IMPRESSÃO

3D................................................................................................................................73

3.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 73

3.1.1. Sistemas Coloidais ........................................................................................... 73

3.1.2. Morfologia segregada em nanocompósitos condutores para impressão 3D .... 74

3.1.3. Manufatura Aditiva (Impressão 3D) ................................................................ 77

3.2. PARTE EXPERIMENTAL ................................................................................ 81

3.2.1. Obtenção dos nanocompósitos poliméricos por dispersão assistida por solvente

................................................................................................................................... 81

3.2.2. Caracterização dos nanocompósitos poliméricos obtidos ............................... 83

3.2.2.1. Microscopia Óptica ....................................................................................... 83

3.2.2.2. Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM) ............................................... 83

3.2.2.3. Espectroscopia Raman .................................................................................. 83

3.2.2.4. Condutividade Elétrica ................................................................................. 83

3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................84

3.3.1. Caracterização morfológica, estrutural e medidas de condutividade elétrica dos

nanocompósitos poliméricos ...................................................................................... 84

3.4. CONCLUSÕES .................................................................................................. 89

4. CONCLUSÃO DA TESE.......................................................................................90

APÊNDICE A ............................................................................................................ 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 92

Page 21: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

1

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de novos materiais acompanha a história da civilização desde

os seus primórdios. O uso de materiais como rochas, ossos, argilas e outros disponíveis

na natureza para a fabricação de utensílios, exigiu do homem a observação de suas

propriedades básicas (como a dureza e a maleabilidade) e transformações. A motivação

pela busca do conhecimento das propriedades dos materiais para atender a um propósito

que visa facilitar a vida cotidiana se faz presente até os dias atuais. [1]

No ano de 1959, o físico americano Richard Feynman na palestra intitulada

“There is plenty of room at the bottom” (“Há muito espaço por baixo”) abordou a

manipulação e o controle dos materiais em escala atômica. [2] Naquele momento, era dado

o passo inicial rumo a um novo campo, a Nanotecnologia, que estuda a matéria em escala

nanométrica. Seu princípio básico é a criação, processamento, caracterização e utilização

de nanomateriais, ou seja, materiais, dispositivos e sistemas em que ao menos uma de

suas dimensões externas ou estrutura interna encontram-se na faixa entre 1-1nm.

Recentemente, algumas propriedades, como por exemplo a eletrônica e resistência

mecânica, são obtidas simplesmente diminuindo o tamanho dos materiais à escala

nanométrica. [3-5]

Entre os nanomateriais mais estudados atualmente encontra-se o aclamado

grafeno, cujas suas propriedades e variadas aplicações o elevam à categoria de material

do futuro e criam expectativas de impacto em muitos campos da tecnologia. [6-10] Como

consequência do advento do grafeno, o estudo de outros nanomateriais, também

conhecidos como materiais 2D, tornou-se uma das áreas mais promissoras da Ciência dos

Materiais. [6, 9] Os materiais 2D, por definição, são materiais formados por uma camada

onde os átomos estão fortemente ligados entre si e que possuem a espessura em

nanoescala, ou menor, e a largura em escala maior. [11] Atualmente, as pesquisas acerca

dos materiais 2D como o nitreto de boro hexagonal (hBN ou “grafeno branco”), fósforo

negro, dos dicalcogenetos de metais de transição como o dissufeto de molibdênio (MoS2),

dissulfeto de tungstênio (WS2) e seleneto de molibdênio (MoSe2), óxidos de metais de

transição (MnO2 e MoO3), entre outros, vêm sendo cada vez mais aprofundadas. [7, 12-13]

Muitas rotas são empregadas para a produção do grafeno com diferentes graus de

sucesso: esfoliação micromecânica, deposição química de vapor, crescimento epitaxial

Page 22: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

2

em substrato de carbeto de silício, produção de óxido de grafeno, esfoliação em fase

líquida, etc.Entre todas as técnicas existentes, a esfoliação do grafite em meio líquido (ou

Liquid Phase Exfoliation, LPE) é capaz de gerar grande volume de dispersões de grafeno

com concentrações superiores à 1mg mL-1 e de boa qualidade estrutural, ou seja, com

baixo índice de defeitos. [10, 12-13]

A LPE é amplamente reportada na literatura, apresentando as vantagens de ser

versátil, de fácil operação e escalável. Somando-se à essa técnica, o uso de sistemas

líquidos bifásicos de solventes no processo permite a formação de emulsões água/óleo

(O/A) que podem aumentar sua eficácia, facilitando a esfoliação e estabilização do

grafeno. Se estas emulsões são compostas por água, fase orgânica e surfactantes possuem

domínios de dimensões submicrométricas que funcionam como nanoreatores para a

esfoliação/modificação. [12-13]

A LPE do grafite na presença de uma nova classe de sais orgânicos, os líquidos

iônicos (LIs), demonstrou que estes quando combinados ao sistema líquido bifásico agem

como agentes surfactantes que conferem estabilidade à emulsão O/A e, simultaneamente,

evitam a reaglomeração do grafeno formado devido à sua forte interação com as folhas

delaminadas. Sendo assim, a combinação dos LIs e sistemas líquidos bifásicos para a

esfoliação de grafite não só permite a produção do grafeno, mas também sua segregação

e orientação na interface do sistema O/A. [14,15]

As emulsões de grafeno formadas também podem ser dispersas em matrizes

poliméricas formando nanocompósitos polímero-grafeno que podem ser empregados na

produção de filamentos condutores para processos de impressão 3D. Polímeros como o

poliácido láctico (PLA) e poliálcool vinílico (PVOH) são alguns dos empregados para

este fim. O desempenho do nanocompósito polimérico vai depender diretamente da

distribuição da nanocarga (grafeno) e suas interações interfaciais com a matriz

polimérica. Em casos de boas dispersões, compatibilidade e orientação destes

nanomateriais, estes conseguem influenciar drasticamente as propriedades do polímero

original. Recentemente, foi demonstrado que os LIs não só cumprem todos os requisitos

de excelentes surfactantes para sistemas contendo grafeno, mas também possibilitam a

orientação de nanocargas em sistemas poliméricos complexos e o controle da adesão

interfacial dos nanocompósitos finais. [16]

Page 23: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

3

OBJETIVO DA TESE

A presente tese apresenta um método de obtenção de grafeno por esfoliação em fase

líquida (LPE) do grafite em sistema bifásico contendo líquido iônico (LI), e a aplicação

deste grafeno obtido na síntese de nanocompósitos poliméricos condutores destinados à

impressão 3D pela técnica de Modelagem por Fusão e Deposição.

ORGANIZAÇÃO DA TESE

No Capítulo 1, discutem-se os diferentes tipos de grafite, o precursor do grafeno,

e suas características. É apresentado um histórico sobre os métodos de obtenção do

grafeno e os estudos publicados em mais de dez anos da sua produção via LPE do grafite:

solventes utilizados, o processo de ultrassonicação, aplicação de líquidos iônicos e uso

do sistema bifásicos de solventes. Os resultados das caracterizações do grafeno obtido

através da LPE do grafite explorando o uso de sistema bifásico sob ultrassonicação e

emprego de LIs são reportados.

O Capítulo 2 aborda os nanocompósitos poliméricos à base de cargas carbonáceas

como o grafeno e nanotubos de carbono para a produção de nanocompósito condutor e a

potencial aplicação destes como filamentos condutores para impressão 3D. Esse estudo

foi realizado paralelamente ao Capítulo 1. É apresentado um método no qual os

nanocompósitos à base de poliácido láctico (PLA) contendo nanoplatelets de grafeno

(GNP) e nanotubos de carbono de paredes múltiplas (MWCNTs) como cargas foram

sintetizados, introduzindo os resultados da caracterização morfológica, estrutural e

medidas das condutividades elétrica e térmica dos mesmos. O efeito da concentração

destas cargas (acima do limite de percolação elétrica) e a presença de ambas no

nanocompósitos final foram os objetivos de estudo deste capítulo e são discutidos.

O Capítulo 3 constiui de uma breve revisão bibliográfica sobre sistemas coloidais,

morfologia segregada em nanocompósitos condutores e o processo da impressão 3D. É

relatada a produção de nanocompósitos à base de poliálcool vinílico (PVOH), líquidos

iônicos e grafeno. Este foi obtido pela LPE do grafite em sistemas monofásico e bifásico

de solventes, como abordado no Capítulo 1, e na concentração de carga que foi otimizada

no Capítulo 2. São reportados os resultados da caracterização morfológica, estrutural e

das propriedades elétricas dos mesmos.

Page 24: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

4

LISTA DE PUBLICAÇÕES

A. P. Godoy, P. Ecorchard, H. Beneš, J. Tolasz, D. Smržová, L. Seixas, J. J. Pedrotti, E.

A. T. de Souza, O. A. El Seoud, R. K. Donato. Ultrasound exfoliation of graphite in

biphasic liquid systems containing ionic liquids: a study on the conditions for obtaining

large few-layers graphene. Ultrasonics Sonochemistry, disponível em:

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1350417718313919.

E. Ivanov, R. Kotsilkova, H. Xia, Y. Chen, R. Donato, K. Donato, A. P. Godoy, R. Di

Maio, C. Silvestre, S. Cimmino, V. Angelov. PLA/Graphene/MWCNT composites with

improved electrical and thermal properties suitable for 3D printing applications. Applied

Sciences, disponível em: https://www.mdpi.com/2076-3417/9/6/1209.

M. Lavorgna, C. Santillo, A. P. Godoy, A. Ronca, G. Rollo, R. K. Donato, G. Buonocore,

A. Sorrentino, P. Cerruti, H. Xia. Innovative nanocomposite materials for 3D printing

technology based on carbonaceous conductive fillers, em preparação.

Page 25: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

5

CAPÍTULO 1

OBTENÇÃO DE GRAFENO POR ESFOLIAÇÃO DO

GRAFITE EM SISTEMA LÍQUIDO BIFÁSICO CONTENDO

LÍQUIDO IÔNICO

1.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1.1. O grafeno e seu precursor (grafite)

Para o escalonamento dos processos de produção de materiais 2D é importante

que se conheça as características do material de partida. O grafite é o principal material

utilizado na obtenção do grafeno. Encontrado na forma natural ou sintética, este consiste

de muitos monocristais de grafeno empilhados uns sobre os outros. [17] Há muitos tipos

de grafite, dependendo do tipo de orientação (ABA, ABC ou turbostrático), morfologia

(presença de defeitos, distribuição de tamanho de partículas) e pureza (teor de carbono,

presença de metais) conforme o ambiente geológico no qual este material foi formado.

Tais variações na estrutura grafítica influenciam quais pontos terão maior probabilidade

de clivagem ao longo do cristal. Entre as muitas variedades de grafite, figuram o pirolítico

altamente orientado (HOPG), em flocos (flakes), pó, artificial e o expandido (Figura 1).

Tais diferenças entre os tipos de precursor desempenham um papel importante, não

apenas no que tange ao processo de esfoliação e na qualidade do grafeno produzido, mas

na aplicabilidade do grafeno em processos industriais. [18]

O número de camadas de grafeno que pode ser produzido está intimamente

correlacionado com o tamanho lateral e a cristalinidade do grafite precursor. No estudo

realizado por Wu et al. [17], onde cinco tipos de grafite foram esfoliados quimicamente,

observou-se que à medida em que o tamanho lateral e a cristalinidade do precursor

diminuem, a espessura do grafeno produzido também decresce. Em outra pesquisa

envolvendo a esfoliação em fase líquida do grafite natural, notou-se que a produção de

poucas camadas de grafeno mostra-se mais eficiente quando envolve partículas de grafite

menores e que a energia necessária para esfoliar o material deve aumentar à medida que

o tamanho da partícula de grafite aumenta. [19] Além disso, o uso de grafite com partículas

menores melhora a dispersabilidade e a estabilidade da suspensão formada. [20]

Page 26: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

6

Figura 1. Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM) e aspecto dos grafites:

HOPG (a e b), flakes (c e d), em pó (e e f), artificial (g e h) e expandido (i e j) (adaptada

das referências [17 e 21]).

Page 27: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

7

As características do precursor são importantes para a aplicação do grafeno. Por

exemplo, a presença de impurezas no grafeno como partículas de ferro resulta em

características paramagnéticas que podem ser benéficas ou indesejáveis. Para a síntese de

nanocompósitos condutores, por exemplo, este tipo de material é desejável. Em setores

industriais como o de eletrônicos é requerido que o grafeno empregado seja de elevada

qualidade e pureza e é onde o HOPG é cobiçado como material de partida. Porém, a oferta

limitada deste material torna inviável seu uso para a produção em larga escala. [18]

O grafeno, uma das formas alotrópicas do carbono, é um material 2D composto

por uma rede hexagonal de átomos de carbono análoga à estrutura de uma colmeia [22],

com hibridização sp2 e ligações π deslocadas. O empilhamento das folhas de grafeno por

forças de van der Waals origina a estrutura tridimensional (3D) do grafite. No grafeno, os

átomos de carbono estão ligados entre si no plano (ligações sigma, σ) e fora do plano

(ligações pi, π). As ligações σ são extremamente fortes e conferem a rigidez necessária

ao esqueleto da rede hexagonal e as do tipo π, perpendiculares a ela, são responsáveis

pela elevada condutividade elétrica e as interações entre as camadas [23]. As ligações

carbono-carbono no grafeno têm comprimento de 0,142 nm e o espaçamento interplanar

entre as folhas empilhadas é de 0,35 nm [24]. A Figura 2 representa as formas alotrópicas

do carbono, incluindo o grafeno, e suas respectivas variações e dimensionalidades. [25]

Figura 2. Formas alotrópicas do carbono. Da esquerda para a direita: uma folha de grafeno

(2D) e a estrutura 3D do grafite (parte superior); um nanotubo de carbono (1D) e um

fulereno (0D) (parte inferior) (adaptada da referência [25]).

Page 28: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

8

O grafeno foi isolado e caracterizado pela primeira vez em 2004 pelos físicos

Andre Geim e Kostya Novoselov, laureados com o Prêmio Nobel de Física seis anos mais

tarde. [26] Algumas de suas características são únicas e outras excedem às de qualquer

outro material, como por exemplo; transmitância óptica de 97,7%, impermeabilidade a

líquidos e gases, elevadas área superficial (2630 m2g-1) e resistência mecânica (130 GPa),

elevado módulo de Young (1TPa), mobilidade de carga maior que 200.000 cm2 V-1 s-1 e

altas condutividades térmica e elétrica. [27] A combinação de tais propriedades em um

único material prospecta um enorme potencial para diversas aplicações, como

dispositivos eletrônicos e optoeletrônicos, armazenadores de energia, sensores químicos

e bioquímicos, nanocompósitos, entre outras. [28, 29]

Após o isolamento do grafeno, iniciou-se uma ‘corrida do ouro’ à procura de

métodos de obtenção deste material. Porém, a busca por processos de modificação

química do grafite e obtenção dos compostos intercalados de grafite (GICs, ou Graphite

Intercalated Compounds) data do século XIX, embora os materiais com atributos

próximos aos do grafeno (derivados do óxido de grafite) sejam reportados desde a década

de 60. [32]

Em 1840, o cientista alemão Schafhaeutl descobria o método de esfoliação do

grafite através da intercalação das moléculas dos ácidos sulfúrico e nítrico, sais de

fluoreto, metais de transição e compostos orgânicos, entre outros, por entre as lamelas de

material, aumentando o espaçamento entre elas em alguns Angstrons ou mais, como

apresentado na Figura 3. [30,32] Em 1859, o químico britânico Benjamin Brodie propôs o

uso destes ácidos fortes e o oxidante clorato de potássio como agentes intercalantes. [31]

Posteriormente, o método de oxidação do grafite proposto por Brodie foi

aprimorado por Staudenmaier (adicionando o clorato em pequenas porções ao longo da

reação de oxidação) e mais uma vez modificado, um século mais tarde, por Hummers e

Offeman (substituindo o ácido nítrico pelo permanganato de potássio e nitrato de sódio).

[33] Foi observado que o espaçamento maior entre as lamelas dos GICs resultava na

dissociação em camadas individuais, em alguns casos levando ao efeito de

supercondutividade, demonstrado anos mais tarde. Notou-se também que este

espaçamento interlamelar não era apenas local e se estendia à totalidade da estrutura. [34]

Em 1962, Boehm et al. descobriram um método de redução química do óxido de

grafite em meio alcalino contendo reagentes redutores como a hidrazina afim de remover

uma parte dos grupamentos oxigenados remanescentes da oxidação. [35]

Page 29: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

9

Até os dias de hoje, a oxidação do grafite é o processo escalável mais comum

reportado na literatura, frequentemente utilizada na preparação do óxido de grafeno (GO).

[36] Uma mudança importante no método de Hummers é o uso do ultrassom para esfoliar

o óxido de grafite obtido em folhas individuais e dispersá-las em meio líquido resultando

no GO. [37] Todavia, esta rota sintética apresenta algumas desvantagens como o uso de

reagentes tóxicos e explosivos, caráter altamente exotérmico, inserção de defeitos

estruturais na superfície das folhas de grafeno e baixo rendimento. [38]

Figura 3. Grafite antes (à esquerda) e após a oxidação (à direita) (adaptada da

referência [39]).

As técnicas de produção do grafeno a partir do grafite são classificadas através de

duas abordagens: bottom-up e top-down. Processos do tipo bottom-up envolvem a auto-

organização (self-assembling): deposição química de vapor (Chemical Vapour

Deposition, CVD) e o crescimento epitaxial em substrato de carbeto de silício (SiC).

Nestes métodos, é possível ter o controle do número de camadas de grafeno produzidas,

entre monocamada ou inferior a 10. Entre os métodos bottom-up, a produção por CVD é

a mais comumente empregada. [40, 41] Neste processo, um substrato de metal (tipicamente,

cobre) é aquecido (a aproximadamente 1000° C) para crescimento dos domínios do metal

e exposto a um fluxo de gás composto por uma mistura de hidrogênio/metano (H2/CH4).

Neste estágio, o hidrocarboneto decompõe-se e os átomos de carbono depositam-se sobre

o substrato. [40,41] Apesar de gerar grafeno de uma ou duas camadas e de elevada qualidade

estrutural, esta técnica, assim como as outras supracitadas, sofre a desvantagem da

reduzida escalabilidade e elevado custo. [18,38]

Page 30: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

10

Os métodos conhecidos por top-down envolvem a esfoliação do grafite. Processos

como a esfoliações micromecânica e em fase líquida visam delaminar o material e

aumentar dramaticamente sua área superficial. [42] A esfoliação mecânica, também

conhecida como método de produção Scotch tape, consiste em delaminar delicadamente

o grafite com o auxílio de uma fita adesiva e pressioná-lo sobre um substrato, por exemplo

o óxido de silício, para depositar o material esfoliado. Esta técnica gera grafeno de uma

única camada e elevada qualidade estrutural, com tamanho lateral de alguns microns. Este

método foi utilizado quando o grafeno foi isolado e estudado pela primeira vez. [43,44] A

esfoliação micromecânica, no entanto, apresenta um baixo rendimento, sendo apenas

utilizada para produzir material para fins analíticos. [18] A esfoliação em fase líquida é

abordada na seção 1.1.2.

A escolha do método de produção do grafeno é governada pela qualidade e

quantidade de material requerido. Métodos como CVD produzem filmes que são

excelentes para aplicação em eletrônica, e o GO e o rGO podem ser utilizados também

para formação de membranas, aplicação em sensores e supercapacitores e

nanocompósitos. [18]

Sendo assim, à medida que a demanda por grafeno e outros nanomateriais 2D

aumenta, a necessidade do desenvolvimento de métodos mais eficientes e brandos torna-

se aparente. Para tanto, o processamento deve ser mais simples e direto, não-oxidativo,

seguro e sem o uso de elevadas temperaturas ou tratamentos químicos posteriores. A

esfoliação do grafite em meio líquido (Liquid Phase Exfoliation, ou LPE) é capaz de gerar

grandes quantidades de grafeno de boa qualidade estrutural disperso em diferentes

solventes e ideal para a produção de nanocompósitos. [45,46]

1.1.2. Esfoliação em fase líquida do grafite (LPE)

A esfoliação em fase líquida baseia-se na imersão do grafite em um solvente

adequado seguida da aplicação de energia advinda, por exemplo, do ultrassom ou força

de cisalhamento (shear force) resultando na separação das camadas de grafeno (Figura

4). Tal método é versátil, de fácil operação e visa produção em maior escala. [47]

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Figura 4. Esfoliação em fase líquida: material de partida (a); imersão em solvente (b);

ultrassonicação (c) e dispersão final (d) [adaptada da referência [47]).

Em geral, o método da LPE permite a obtenção de material com tamanhos laterais

entre 100 nm -100 µm e espessuras correspondentes à 1-10 camadas. O grafeno pode ser

produzido em meio à uma gama de solventes e em diferentes concentrações. Também, de

acordo com o procedimento aplicado, pode ter boa qualidade estrutural ou muitos

defeitos. Esta metodologia foi inicialmente descrita por Coleman et al. há onze anos. O

grafite em pó foi usado como material de partida para produzir monocamadas de grafeno

estavelmente dispersas em N-metil-pirrolidona (NMP). [48] Após este, muitos outros

estudos vieram e descrevem a obtenção de grafeno com menos de dez camadas e alta

qualidade estrutural (às vezes, referido como defect free ou sem defeitos), elevado

rendimento e em maior escala utilizando solventes orgânicos, orgânicos-aromáticos e

com baixo ponto de ebulição, surfactantes, líquidos iônicos e polímeros como meio de

esfoliação; empregando processadores de ultrassom (banho ou ponteira), ou misturadores

de alto cisalhamento (shear mixer). [18, 38] Além disso, outros exemplos de produção do

grafeno via LPE, como a abertura e o desenrolar de nanotubos de carbono (unzipping e

unrolling) e a polimerização do benzeno, também vêm sendo explorados. [16, 49]

1.1.2.1. Uso de solventes orgânicos na LPE

No trabalho pioneiro de Coleman et al. [48] foi comprovado que as propriedades do

solvente desempenham um papel crucial e o sucesso da esfoliação reside no fato que a

tensão superficial do solvente seja similar à do grafeno (~40 mJ m-2). A aplicação do

grafite em pó na presença de NMP sob ultrassom de banho durante 30 minutos, permitiu

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obter uma concentração final de grafeno de 0,01 mg mL-1, onde 12% do material era

composto por monocamadas de grafeno.

Pela necessidade de entender a natureza do processo de dispersão do grafeno nos

solventes foi desenvolvido um modelo através do ponto de vista da Termodinâmica e

baseado nos parâmetros de solubilidade de Hildebrand. Este prediz que, se a energia

superficial do solvente for similar à do soluto, o custo energético de mistura do sistema

será o mais baixo possível. [45]

Outros estudos realizados utilizando a NMP, mas variando-se parâmetros como o

tempo de sonicação, tipo de processador de ultrassom (banho ou ponteira), o tempo e a

velocidade de centrifugação, mostraram que as concentrações de grafeno com boa

qualidade estrutural e poucas camadas produzido aumentaram, variando entre 1,25 e 2

mg mL-1. [50-53]

Empregando-se outros solventes orgânicos como o benzoato de benzila [53], a N, N-

dimetilformamida (DMF, tensão superficial de 37 mJ m-2) e o dimetilsulfóxido (DMSO,

tensão superficial de 44 mJ m-2) [55], as concentrações de grafeno obtidas situaram-se entre

0,03 e 0,065 mg mL-1. Verificou-se que as maiores concentrações de grafeno obtidas (com

exceção do primeiro trabalho, onde o tempo de sonicação é demasiado curto) foram com

o solvente que possui um dos maiores valores de tensão superficial (NMP, tensão

superficial de 40 mJ m-2) combinado a um tempo de esfoliação mais longo (entre 2-6

horas).

Outras abordagens mostraram que a concentração de grafeno gerada foi aumentada

esfoliando-se o grafite em meio a NMP e com adição de intercalantes das lamelas de

grafite como o hidróxido de sódio, NaOH [55], e tetrabutilamônio, TBA [56], onde foi

reportada a produção de flakes com espessuras de 1-5 nm.

1.1.2.2. Uso de solventes aromáticos na LPE

Além da tensão superficial, a interação grafeno e solvente é igualmente de suma

importância. Entre os tipos de interação que o grafeno pode sofrer com o solvente, as do

tipo não covalentes são baseadas nas forças de Van der Waals e no empilhamento π-π

com moléculas orgânicas ou polímeros. [57] Estas interações são relevantes para muitas

aplicações, pois a extensa rede π do grafeno não é interrompida, o que significa que suas

propriedades eletrônicas e resistência mecânica não são alteradas. [58] Adicionalmente,

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estas também melhoram suas dispersabilidade e biocompatibilidade. [59] No caso dos

solventes aromáticos, os empilhamentos π-π que são realizados com o grafeno são entre

regiões ricas em elétrons e regiões deficientes em elétrons. Estes empilhamentos, por sua

vez, podem ocorrer como arranjos do tipo face a face (π-π) ‘sanduíche’ ou deslocado, e

borda com face (C-H---π) (Figura 5 I). [57]

A geometria (planaridade) e o tamanho das moléculas, assim como a presença de

substituintes, também influenciam a estrutura final e as propriedades eletrônicas. [57-59]

Figura 5. Exemplos de empilhamentos π-π entre espécies aromáticas: face a face em

‘sanduíche’ (π-π) (a), face a face deslocado (b) e borda com face (C-H---π) (c) (I).

Interações do tipo π-π e C-H---π entre benzeno, naftaleno e pireno sobre e sob o plano

basal do grafeno (II) (adaptada da referência [57])

A monocamada de grafeno compreende um sistema aromático estendido com

geometria planar. Este interage melhor com moléculas orgânicas pequenas que penetram

suavemente entre as folhas empilhadas para promoverem a delaminação durante o

processo de sonicação. Além disso, o núcleo aromático pode ser decorado com

grupamentos hidrofílicos ou hidrofóbicos, estabilizando as folhas mesmo em meios

desfavoráveis como a água. [57-59] A Figura 5 II ilustra a interação entre diferentes

moléculas aromáticas e a folha de grafeno. [57]

Na tentativa de melhorar o processo, Bourlinos et al. propuseram o uso de

solventes aromáticos com grupos funcionais com forte caráter doador ou receptor de

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elétrons contendo átomos de flúor, ou perfluorinados, como o hexafluorobenzeno (C6F6),

octafluorotolueno (C6F5CF3), pentafluorobenzonitrila (C6F5CN) e pentafluoropiridina

(C5F5N). A transferência de carga entre as camadas de grafite e as moléculas do solvente

facilita a esfoliação, como ocorre nos processos de intercalação. Como resultado, a

dispersão que apresentou maiores concentração e rendimento de grafeno foi a de

pentafluorobenzonitrila (0,1 mg mL-1 e 2%).[60]

Em uma abordagem diferente foi verificado, teoricamente, que em uma mistura

de solventes contendo benzeno e hexafluorobenzeno (C6H6/C6F6), as moléculas da

mesma se auto-organizam em camadas periódicas em ambos os lados da folha de grafeno.

Experimentalmente, a sonicação de grafite nesta mistura de solventes gerou uma

suspensão com concentração de 50 mg mL-1. [61]

1.1.2.3. Uso de solventes com baixos pontos de ebulição na LPE

Apesar de prover excelentes meios para a esfoliação do grafite, muitos solventes

aromáticos (com exceção do benzeno) apresentam elevado ponto de ebulição, o que

dificulta a remoção do grafeno e sua aplicação no desenvolvimento de filmes e

compósitos. [62-65]

Para contornar esta questão, o uso de solventes orgânicos que podem ser

removidos por simples evaporação mostrou-se preferível caso as suspensões de grafeno

se apresentem suficientemente concentradas. [65]

Em um estudo realizado por O’Neil et al. [65], solventes como o isopropanol, o

clorofórmio (tensão superficial de 27,5 mJ m-2) e a acetona (tensão superficial de 25 mJ

m-2) foram utilizados como meio de esfoliação do grafite e os resultados mostraram que

estes podem ser empregados, mas, contudo, requerem tempos de sonicação muito longos

(48 horas). As concentrações obtidas para a acetona foram baixas, 0,08 mg mL-1, fato este

que foi explicado pela sua tensão superficial aquém da adequada. O uso do isopropanol e

o clorofórmio geraram, por um outro lado, 0,5 mg mL-1 de grafeno nas suspensões.

As misturas acetona e água [63] e etanol e água [66] também foram reportadas como

meio de esfoliação de grafite. Foram produzidas suspensões estáveis com concentrações

de 0,05 e 0,21 mg mL-1, respectivamente, esta última com baixo índice de defeitos e

poucas camadas. Nesses dois estudos, após a sonicação em banho e centrifugação, foram

formados filmes finos de grafeno através da filtração à vácuo das dispersões,

comprovando a vantagem da fácil evaporação do solvente.

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1.1.2.4. Uso de surfactantes na LPE e meio aquoso

A água é considerada um solvente ideal para uma miríade de compostos,

especialmente os biológicos, devido ao seu alto grau de compatibilidade e atoxicidade.

Além disso, tem baixo custo e é de fácil remoção comparada aos solventes orgânicos de

elevado ponto de ebulição. [67] Porém, a água não é a melhor opção como meio de

esfoliação para o grafite devido à hidrofobicidade conferida ao grafite e ao grafeno. [68]

A adição de surfactantes na água diminui sua tensão superficial (~ 72 mJ m-2) e

faz com que esta se aproxime a do grafeno, tornando a esfoliação possível e o método

mais ‘verde’. [69] Um avanço recente e importante na LPE do grafite é a produção de

grafeno utilizando meio aquoso e biomoléculas, incluindo proteínas presentes em sal

biliar, extratos vegetais e sérum humano. Tais resultados são relevantes para o estudo das

interações entre os nanomateriais e os meios biológicos. [69]

Surfactante, ou tensoativo, é o termo usado para descrever moléculas que são

adsorvidas na interface de modo a baixar a tensão superficial ou influenciar a superfície

de contato entre dois líquidos. Tais moléculas são formadas por uma parte hidrofílica

(cabeça) e outra hidrofóbica (cauda). A cabeça polar pode ser iônica (surfactantes iônicos)

ou não-iônica (surfactantes não- iônicos). Surfactantes iônicos podem ser classificados

dependendo da carga do seu grupo de cabeça, podendo ser aniônicos (carga negativa),

catiônicos (carga positiva) ou terem carga positiva e negativa na mesma molécula

(zwitteriônicos) (Figura 6). [39,70] Quando colocada em um meio imiscível, por exemplo,

numa mistura de óleo e água, a molécula do surfactante situa-se na interface

permanecendo em seu menor estado energético. Na interface, a cabeça polar permanece

na fase aquosa; a cauda hidrofóbica, na fase oleosa. [70]

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Figura 6. Tipos de surfactantes tradicionais: não-iônico (A); iônico (B) e (C); e

zwitteriônico (D) (adaptada da referência [39]).

Entre os surfactantes iônicos, um dos mais comumente utilizados é o

dodecilbenzeno sulfato de sódio (SDBS). Suspensões contendo entre 0,002 a 0,05 mg

mL-1 de grafeno com menos de 5 camadas, tamanhos entre 0,1 e 3 μm e estabilidade de

até 6 semanas foram obtidas através da esfoliação de grafite- água- SDBS em ultrassom

de banho [71]. Concentrações muito maiores (3 mg mL-1), onde cerca de 20% dos flakes

eram monocamadas de grafeno, foram produzidas após longo período de ultrassonicação

do grafite em meio aquoso na presenca de outro surfactante iônico, o sal colato de sódio

(SC). [72] Empregando este mesmo surfactante, mas usando um ultrassom de ponteira,

Green et al. demonstraram a produção de uma dispersão de grafeno de 0,09 mg mL-1.

Este estudo foi realizado empregando o gradiente de densidade por centrifugação para

controle da espessura do grafeno obtido [73]

Smith et al. avaliaram 12 tipos de surfactantes iônicos e não-iônicos na esfoliação

do grafite em água. Neste trabalho, notou-se o grafeno foi disperso na maior parte dos

surfactantes, mesmo que estes estivessem em baixas concentrações. As concentrações das

dispersões variaram de 0,011 μg mL-1 (dodecil sulfonato de sódio, SDS, surfactante

iônico) a 0,026 μg mL-1 (SC, surfactante iônico, e IGEPAL, surfactante não-iônico). Para

os surfactantes de caráter iônico, notou-se que a concentração de grafeno cresce

proporcionalmente à barreira potencial eletrostática de repulsão, que estabiliza o material

esfoliado contra a reagregação. No caso dos surfactantes não-iônicos, a concentração

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de grafeno também aumentou proporcionalmente à barreira potencial de repulsão, porém

esta de origem estérica. Os potenciais foram estimados segundo as medidas de potencial

zeta realizadas nas amostras. Foram produzidos flakes com dimensão lateral média de

750 nm e 4 camadas de grafeno. [74] Guardia et al. também compararam a estabilidade

das suspensões produzidas com surfactantes não-iônicos e iônicos e concluíram que a

dispersabilidade do grafeno era mais elevada devido a efeitos de repulsão estérica

(surfactantes não-iônicos) do que eletrostática (iônicos). Dispersões de 1 mg mL-1 de

grafeno, onde a maioria dos flakes continham de 1 a 3 nm de espessura, foram obtidas

por LPE de grafite em água usando o surfactante não-iônico Pluronic P-123 por 2

horas.[75]

1.1.2.5. Uso de sais orgânicos na LPE

O uso de sais orgânicos como citrato de sódio, tartarato de potássio e tartarato de

sódio como agentes estabilizadores eficientes no processo de LPE do grafite em água e

solventes orgânicos como NMP, DMF e DMSO tambem foram reportados. [76,77]

Dispersões de 1 mg mL-1 de grafeno com baixa quantidade de defeitos e poucas

camadas foram obtidas por Du et al. [76] usando LPE de grafite em citrato de sódio e

DMSO. Em outro trabalho, Li et al. mostraram a produção de grafeno com poucos

defeitos esfoliado em NMP também utilizando o citrato de sódio e água (como co-

solvente) para melhorar o processo de intercalação do sal entre as camadas de grafeno. A

adição do sal, em comparação com sistema esfoliado no solvente puro, fez com que a

concentração de grafeno aumentasse de 0,44 para 0,71 mg mL-1. [77] Na busca de outros

sais orgânicos adequados para a LPE, a aplicação dos líquidos iônicos (LIs) tem-se

mostrado promissora.

1.1.2.6. Uso de Líquidos Iônicos na LPE

Os líquidos iônicos (LIs) são sais orgânicos que apresentam estruturas iônico-

covalentes e pertencem à uma classe de agentes multifuncionais.[78] Apesar de começarem

a serem reportados na literatura no final dos anos 80, a primeira síntese de um ‘líquido

iônico’, o nitrato de metilamônio, data de 1914. No final da década de 40, descobriu-se

que ao se misturar sais como o cloreto de alquilpiridínio e tricloreto de alumínio, um

sistema iônico com fraca interação interiônica e, por consequência, baixa energia de

retículo cristalino e baixa temperatura de fusão é formado. Na época, estes compostos

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18

foram chamados de ‘sais fundidos à temperatura ambiente’ e foram difundidos na área

eletroquímica. [79] Todavia, durante algum tempo, foi notável que estes LIs ofereciam uma

extensão para a gama de solventes disponíveis para a síntese e catálise química. Assim

como os sais inorgânicos, estas moléculas constituem-se de cátions e ânions, como os

representados na Figura 7. [70,79-82]

Diferentemente dos sais inorgânicos, os cátions e ânions nos LIs não estão

densamente empacotados e, portanto, possuem baixos pontos de fusão, menor ou igual a

100ºC (Figura 8). [70-78]

Os LIs apresentam várias propriedades não usuais como volatilidade e

inflamabilidade insignificantes, elevada estabilidade térmica, ampla janela eletroquímica,

boa condutividade térmica e alta mobilidade iônica. [70,78] Tais propriedades são

exploradas em diversas aplicações como solventes para reações orgânicas, catalisadores,

eletrólitos para baterias e células de combustível, células solares e na preparação de

nanomateriais. [80-82]

Figura 7. Cátions (orgânicos) e ânions (orgânicos ou inorgânicos) comuns de LIs

(adaptada da referência [70]).

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Figura 8. Arranjo iônico no cloreto de sódio, NaCl, e em um líquido iônico.

A classe dos LIs que contém o cátion imidazólio é destinada à vários processos e

materiais devido às suas propriedades facilmente ajustáveis através de mudanças

estruturais no cátion e no ânion, assim como a sua capacidade de auto-organização. [70,78]

Na interação com o grafeno, estes LIs estabelecem fortes interações dos tipos cátion-π e

empilhamento π-π. Adicionalmente, quando aplicado ao processo de esfoliação do

grafite, a repulsão eletrostática previne a reagregação das folhas do grafeno. [83]

Wang et al. foram pioneiros em esfoliar grafite empregando o LI bis

(trifluorometanosulfonil) imida de 1-butil-3-metilimidazólio [C4MIm(NTf2)] e ultrassom

de alta potência para obter grafeno de poucas camadas e concentração superior a 0,95 mg

mL-1. [84] Nuvoli et al. obtiveram uma dispersão com concentração de 5,33mg mL-1 de

grafeno pela moagem de grafite com o LI hexafluorofosfato de 1-n-hexil-3-

metilimidazólio [C6MIm(PF6)] antes da ultrassonicação deste material. [85] Shang et al.

produziram folhas e nanodots de grafeno de alta qualidade a partir da esfoliação do grafite

natural com o LI hexafluorofosfato de 1-n-butil-3-metilimidazólio [C4MIm(PF6)] através

da moagem mecânica e sonicação subsequente. [86] Bari et al. esfoliaram grafite usando

quatro tipos de LIs diferentes, contendo um ou dois substituintes aromáticos no anel

imidazólico. [83] Foi obtido grafeno de poucas camadas por esfoliação em ultrassom de

ponteira de baixa potência. Cálculos de Teoria do Funcional da Densidade (DFT)

realizados para este trabalho confirmaram a importância da aromaticidade dos

substituintes do cátion na interação LI e grafeno.

Em uma abordagem desenvolvida por Matsumoto et al., foi obtido grafeno

monocamada esfoliando-se o grafite em um LI polimérico contendo o ânion PF6-. Através

da irradiação por microondas (30 W e 2,45 GHz), formaram-se moléculas de ácido

fluorídrico, as quais foram intercaladas com as folhas de grafeno auxiliando na esfoliação

e gerando um material com excelente integridade estrutural. [87]

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Além disso, Beneš et al. desenvolveram um método de obtenção de grafeno

através da sonicação em alta potência do minério de grafite (grafita), material de baixo

custo e sem tratamento prévio. Para isto, utilizaram sistemas bifásicos de solventes (água

e diclorometano e água e octanol) juntamente com o LI bis (trifluorometanosulfonil)

imida de 1-butil-3-metilimidazólio [C4MImNTf2], produzindo grafeno de poucas

camadas (2 a 5) após 50 minutos de sonicação. [88]

1.1.2.7. Uso da cavitação na LPE

A ultrassonicação é uma técnica que permite a obtenção da energia mecânica

necessária para superar as forças de van der Waals que mantêm unidas as camadas do

grafite. [89]

O ultrassom é uma onda cuja frequência está acima de 20 kHz, o limite máximo

da frequência audível em humanos. Em um reator de ultrassom, as ondas são produzidas

através da piezoeletricidade gerada no transdutor. [90-92] Enquanto estas se propagam no

líquido, as moléculas do meio vibram paralelamente à onda ultrassônica longitudinal,

contribuindo para a formação de ciclos de compressão e rarefação da pressão acústica.

Durante a compressão, as moléculas do fluido estão densamente empacotadas; na

rarefação, estas encontram-se mais afastadas. [90, 92,93]

Num líquido, gases são adsorvidos na superfície de bolhas de tamanho

micrométrico ou partículas sólidas dispersas e, sob a presença do ultrassom, estes são

confinados no interior da partícula. [94-95] Durante os ciclos de rarefação ocorre a cavitação

acústica, ou seja, a pressão negativa é suficientemente grande para ocasionar a ruptura do

líquido através da expulsão destes gases para fora da partícula gerando as cavidades,

também conhecidas como bolhas estáveis ou microbolhas transientes.[90,91,95,96] Então,

estas crescem rapidamente, através de processos de difusão ou coalescência tornam-se

instáveis e colapsam com um instantâneo e intenso aquecimento local (aproximadamente

5000 K), elevada pressão (acima de 20 MPa) e rápida taxa de resfriamento e aquecimento

(Figura 9). [91, 95-101]

No processo de ultrassonicação, parâmetros como a presença de gases no líquido;

viscosidade, tensão superficial e pressão de vapor do solvente; frequência, tipo, potência

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e amplitude do processador de ultrassom; temperatura do meio e geometria do reator

devem ser considerados. [91, 102]

Figura 9. Propagação da onda ultrassônica em um fluido e variação da pressão acústica

durante a compressão e a rarefação; e evolução de uma bolha de cavitação desde sua

formação até o seu colapso (adaptada da referência [91]).

Quando a cavitação ocorre em um líquido próximo à uma superfície sólida, o

colapso da bolha de cavitação produz jatos de alta velocidade e ondas de choque. Foi

reportado que as ondas de choque geradas pelo colapso das bolhas de cavitação são as

responsáveis por delaminar o grafite em camadas mais finas. Adicionalmente, a

microturbulência e os ‘efeitos de vale’ advindos deste colapso geram energia mecânica

suficiente para superar as forças atrativas entre as camadas. [91,103,104]

A esfoliação do grafite por ultrassonicação é considerada uma técnica não

destrutiva, pois os defeitos ocasionados pela sonicação no material localizam-se nas

bordas das folhas de grafeno em consequência da redução da sua dimensão lateral em

relação ao material de partida. [64,104]

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Porém, a cavitação não é um fenômeno exclusivo do ultrassom. Esta pode

simplesmente ocorrer através da passagem de um líquido através de um ponto de

estrangulamento, orifício, válvula, tubo de Venturi, etc. [105,106]

O shear mixer, ou o misturador de alto cisalhamento, usa um conjunto composto

por um rotor e um elemento estacionário, o estator, para criar um fluxo de turbulência em

fase líquida. A cavitação ocorre pela passagem próxima de duas barreiras sólidas (rotor e

estator) em alta velocidade ocasionando queda da pressão pela rápida troca da direção do

fluxo e formando a cavitação induzida por estresse. [107-108] No método utilizado por Paton

et al., a esfoliação do grafite e análogos em grandes volumes de solvente foi realizada

empregando o shear mixer (Figura 10). Neste caso, foi visto que a alta velocidade de

mistura na dispersão (maior que 104 s-1) produz a cavitação e, consequentemente, a

delaminação do material. [108] Esta metodologia também foi utilizada para outros

nanomateriais como o MoS2. [107] A esfoliação pela técnica de shear mixing mostra-se

expansível à uma escala industrial.

Comparado ao ultrassom, ambos métodos trabalham de forma semelhante na

dispersão e delaminação do grafite, onde a cavitação é o ponto em comum. No entanto, a

utilização do ultrassom na esfoliação em fase líquida é considerada um processo mais

direto e menos dependente da dimensão ou condição da amostra a ser esfoliada.

Figura 10. Shear mixer e seus componentes: rotor (a) e estator (b); dispersões de grafeno

esfoliado em NMP pela técnica de shear mixing (adaptada de [108]).

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1.1.2.8. Uso sinérgico da cavitação e dos sistemas líquidos bifásicos

Um sistema bifásico consiste de duas fases líquidas imiscíveis, por exemplo, uma

aquosa e outra orgânica. [109-112] A mistura entre estas através do uso de agitadores,

misturadores ou ultrassom gera uma emulsão (Figura 11). [112,113, 115] A emulsão apresenta

uma fase dispersa, onde as partículas têm diâmetro variando entre 100 nm a 100 μm e

uma fase contínua. São termodinamicamente instáveis (metaestáveis) devido à elevada

tensão interfacial existente entre as duas fases. [113-115]

Figura 11. Ilustração da ação do ultrassom em um meio composto por dois líquidos

imiscíveis, apolar (A) e polar (B), com diferentes densidades, viscosidades e tempos de

relaxamento. O ultrassom é gerado por um sonotrodo imerso em A próximo à interface

com o líquido B (a). A propagação da onda ultrassônica com comprimento de onda λ e

amplitude ξ dá-se ao longo da superfície x da interface (b) (adaptada da referência [115]).

A propagação das ondas de ultrassom em sistemas bifásicos se dá através da

interface de dois líquidos, um polar (água) e outro apolar (fase orgânica), e ocasiona a

emulsificação acústica. [113- 115] A interface entre os líquidos imiscíveis gera uma barreira

acústica, com impedâncias acústicas características para cada líquido. [115]

A onda do ultrassom perturba esta interface e forma gotículas (domínios) iniciais

com diâmetros d (Figura 12). Estes domínios então se colapsam quando ainda submetidos

à cavitação acústica, onde cada colapso de bolha gera níveis extremos de turbulência

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localizada. Os colapsos turbulentos agem de forma efetiva na ruptura dos domínios em

dimensões submicrométricas e formam as emulsões. [113, 115,116]

Figura 12. Modelo esquemático da formação de um domínio líquido por ultrassom com

comprimento de onda λ. Perturbação da zona interfacial entre os líquidos A e B por um

“jato” com comprimento de lmáx originando um domínio de diâmetro d (a). Formação de

domínios de diferentes diâmetros em dois estágios: 1º nucleação; 2º fragmentação (b)

(adaptada da referência [115]).

O uso de emulsões tem se mostrado extremamente útil na síntese de nanomateriais

e reportado recentemente como meio efetivo para a esfoliação do grafite [117] e da grafita

[88], para dispersão do GO [118], para a formação de filmes com aplicação em sensores e

dispositivos armazenadores de energia [119], entre outros.

Numa emulsão, a interface líquido-líquido (interface L/L) oferece uma enorme

área superficial e permite processos de auto-organização das partículas coloidais. [120-125]

A auto-organização é um processo no qual um sistema formado por partículas

submicrométricas anteriormente desordenado se ordena em consequência das interações

governadas pela energia interfacial entre as fases imiscíveis de um sistema. Por exemplo,

na interface de uma emulsão, as moléculas de água (parte polar) se orientam através da

interação destas com as moléculas da fase orgânica (parte apolar) induzindo a formação

de um filme de moléculas alinhadas que servirá de modelo para a migração das partículas.

[120, 121] Uma descontinuidade no número de interações molécula-molécula na interface

L/L resulta numa tensão superficial que é capaz de estabilizar um filme de partículas

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formado na interfase enquanto as duas fases são misturadas para formar uma emulsão.

[121-125] Esta estabilização depende de fatores como a molhabilidade das partículas em

relação aos dois líquidos e tamanhos das partículas que irão formar o filme, entre outros.

[121, 125] A diferença de molhabilidade da partícula do material e as duas fases ocasiona

uma curvatura da interface em torno da partícula para formar um menisco. A sobreposição

de vários meniscos em torno de cada partícula gera forças atrativas que levam à formação

de um filme de uma única camada ordenado na interface L/L. [121]

Em relação à produção do grafeno, o grafite tem sido esfoliado com sucesso em

meios compostos por água/ clorofórmio, água/ n-heptano, água/ diclorometano e água/

octanol. Por causa das diferentes densidades entre as fases, o grafite esfoliado

preferencialmente se localizará em uma delas. [88,117]

Uma emulsão composta por água, fase orgânica e surfactante, incluindo os LIs,

contém domínios que agem como nanoreatores para a síntese do nanomaterial. A presença

de um surfactante aumenta a estabilidade da emulsão, reduz a tensão interfacial e aumenta

a área superficial. A formação de nanoreatores pode ocorrer pelo mecanismo de

encapsulamento, ou seja, a formação de um invólucro ao redor do nanomaterial, sendo

que este está dissolvido no núcleo e/ou adsorvido ao invólucro. [115,116] Os LIs, devido às

suas propriedades e estruturas similares a de um surfactante, têm demonstrado grande

potencial para estabilizar sistemas de misturas de solventes.[70,88] Além disso, foi

demonstrado que o grafeno pode ser segregado de suas impurezas minerais contidas na

grafita quando esfoliado através da emulsificação por ultrassom em meio líquido bifásico

contendo LI. [88]

1.1.2.9. Técnicas de caracterização do grafeno obtido por LPE

As características do grafeno produzido, assim como para outros materiais 2D,

podem ser prontamente identificadas em termos de qualidade, integridade estrutural e

nível de esfoliação usando técnicas como Espectroscopia Raman, Microscopia Eletrônica

de Varredura (SEM), Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM), Microscopia de

Força Atômica (AFM) e Difração de Raios- X (XRD), entre outras. [126,127] A Microscopia

Óptica deve ser realizada anteriormente às outras técnicas para verificar se a amostra está

adequada para as outras técnicas de microscopia e medidas de Raman e XRD. Isto porque,

para que seja possível realizar tais medidas, os flakes de grafite esfoliado devem estar os

mais isolados possíveis e serem abundantes. [127]

Page 46: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

26

Na Espectroscopia Raman, tipicamente, o espectro do grafeno apresenta três

bandas características: i) D em 1350 cm-1, ii) G em 1580 cm-1 e iii) 2D em ~2700 cm-1. A

banda D envolve a vibração coletiva de seis átomos de carbono ativa no Raman devido à

presença de defeitos como heteroátomos, vacâncias na rede cristalina e bordas. A

intensidade desta banda indica a presença de defeitos gerados pela cavitação na produção

de grafeno por LPE. A banda G corresponde às vibrações da ligação dupla entre carbonos

(C=C) das estruturas grafíticas. Tais vibrações dependem somente de dois carbonos e é a

‘assinatura’ Raman para os carbonos sp2. Características como intensidade e posição

desta banda revelam o grau de grafitização da amostra, isto é, deslocamentos para maiores

números de onda indicam diminuição no grau de grafitização. O alargamento desta banda

indica uma maior heterogeneidade ou desordem da estrutura. [128]

A banda 2D associa-se ao segundo harmônico da banda D e está presente mesmo

quando a banda D apresenta baixa intensidade ou está ausente. Esta banda pode ser

relacionada ao ordenamento das estruturas grafíticas (empilhamento de folhas de

grafeno). À medida que o número de camadas de grafeno aumenta, a banda 2D muda seu

formato, largura e deslocamento. [128] Para o grafeno produzido pelo método de LPE, o

número de camadas pode ser estimado através da comparação entre a banda 2D do

espectro do material esfoliado com o espectro de evolução do grafeno a grafite da

literatura, por exemplo. Outros parâmetros importantes que podem ser obtidos são razão

entre as intensidades das bandas D e G (ID/IG) que indicam a integridade estrutural, e a

razão entre as intensidades das bandas 2D e G (I2D/IG), que informam sobre o grau de

esfoliação do material. [127-128]

A técnica de SEM é bastante utilizada e recomendada para se determinar a

dimensão lateral do grafeno produzido. Os resultados destas medidas podem ser

combinados aos de AFM, que fornece medidas de espessura da amostra. [126,127] A técnica

de TEM também é empregada na determinação da dimensão lateral do grafeno produzido,

assim como o alinhamento das camadas de grafeno através das medidas de padrões de

difração eletrônica. Para amostras obtidas por LPE, é importante salientar que a presença

de surfactantes e contaminantes comuns do próprio ambiente podem causar dificuldades

na coleta das imagens por TEM. [127] Os difratogramas gerados pela técnica de XRD são,

geralmente, utilizados para avaliar o progresso da esfoliação do sistema bifásico contendo

LI e grafite quando comparado ao material de partida.

Page 47: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

27

1.2. PARTE EXPERIMENTAL

1.2.1. Síntese dos LIs

Os LIs (Bnz)2Im(Benz) e (Bnz)2Im(Naf), cujas estruturas estão representadas na

Figura 13, foram empregados como aditivos na esfoliação do grafite. Ambos foram

sintetizados no laboratório do Grupo de Tensoativos e Polímeros do Instituto de Química

da Universidade de São Paulo (IQ-USP), com a efetiva colaboração do Prof. Dr. Omar El

Seoud.

Os reagentes foram purificados conforme recomenda-se a literatura. [129] Para a

síntese de 0,1 mol de LI, uma solução de etóxido de sódio foi preparada pela dissolução

de 0,11 mol de sódio metálico (99,8% Alfa Aesar) em 200 mL de isopropanol. Após a

dissolução, foram adicionados 0,11 mol de imidazol (99,9%, Alpha Aesar) para a

formação do sal de imidazólio, e a solução foi mantida sob refluxo por 2 horas. O

isopropanol foi removido e o sólido restante foi suspenso em 50 mL de acetonitrila

(99,5%, Synth), seguido pela adição lenta de 0,2 mol de cloreto de benzila (99%, Aldrich)

em 25 mL de acetonitrila à temperatura ambiente. A mistura foi mantida sob refluxo em

equipamento de micro-ondas (Discover modelo DU-8316, CEM, 100 W) por 4 horas.

Após a destilação da acetonitrila, o produto foi lavado 3 vezes em porções de 20 mL de

acetato de etila (98,5% da Synth), separado e seco. A troca iônica do íon cloreto com o

íon hidróxido foi realizada usando uma resina de troca-iônica (Purolite SGA-550-OH;

forma OH-). O produto foi neutralizado com ácido benzoico (Carlos Erba) para obtenção

do (Bnz)2Im(Benz), ou ácido 1-naftoico (98%, sigma Aldrich) para se obter o

(Bnz)2Im(Naf), e seco em estufa à vácuo. Na Figura A1, estão representados os espectros

de Ressonância Magnética Nuclear (NMR) para comprovar a pureza do material.

Figura 13. Estruturas moleculares dos LIs (Bnz)2Im(Benz) (a) e (Bnz)2Im(Naf) (b).

Page 48: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

28

1.2.2. Esfoliação do grafite em meio bifásico de solventes

Os sistemas bifásicos de solventes utilizados foram constituídos de diclorometano

(DCM, Synth) e água deionizada (MilliQ) em diferentes proporções. A proporção em

massa adotada entre o material de partida e o LI foi de 1:10.

Foram organizadas 2 rotas de esfoliação do grafite em sistema bifásico para cada

LI, variando-se o processador de ultrassom (banho versus ponteira) e as potências do

ultrassom de ponteira, descritos posteriormente. Como material de partida foi empregado

grafite natural em flakes (99%, Sigma Aldrich) sem tratamento ou purificação prévios.

1.2.2.1. Esfoliação em ultrassom de banho

Adicionaram-se 0,01 g de grafite e 0,1 g de LI a um frasco de vidro de 20 mL.

Foram acrescentados 19 mL de água deionizada (95%) e 1 mL de DCM (5%). O frasco

fechado foi imerso em ultrassom de banho (Elmasonic 30H, 320 W e 37 Hz, amplitude

de 100%) e mantido sob sonicação durante 5 horas em regime permanente à temperatura

de 10° C (Figura 14). A amostragem foi realizada a cada uma hora para um estudo da

variação do grau de esfoliação do grafite com o tempo.

Figura 14. Esfoliação de grafite em meio a um sistema bifásico com LI em ultrassom de

banho de 320 W.

1.2.2.2. Esfoliação em ultrassom de ponteira

Dois tipos de ultrassom de ponteira foram utilizados para sonicar o grafite: i) um

sonotrodo de liga de titânio e alumínio de 2 mm de diâmetro (SONICS Vibra Cell, 130

W e 20 kHz), operado com 90% de amplitude (117 W de potência nominal); e ii) um

Page 49: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

29

sonotrodo de titânio de 14 mm de diâmetro (UP400S Hielscher, 400 W e 24 kHz)

operando com 70% de amplitude (280 W de potência nominal) (Figura 15). As

esfoliações foram realizadas durante 40 minutos, à temperatura de 10° C em sistema

aberto; as amostragens, a cada 10 minutos.

Figura 15. Esfoliação de grafite em meio a um sistema bifásico com LI em ultrassom de

ponteira com potências de: 117 W (a) e 280 W (b).

1.2.3. Caracterização do sistema bifásico de solventes

1.2.3.1. Espalhamento de Luz Dinâmico (DLS)

A técnica de espalhamento de luz dinâmico (Dinamic Light Scattering, DLS) foi

utilizada para avaliar o tamanho e a distribuição de domínios em suspensão e a

estabilidade das emulsões formadas pela sonicação dos sistemas bifásicos água-DCM em

diferentes proporções. Os dados desta caracterização foram utilizados para determinar o

melhor sistema bifásico a ser aplicado para esfoliação de grafite.

Em uma primeira etapa, o objetivo desta caracterização foi avaliar o diâmetro

hidrodinâmico dos domínios formados em dois conjuntos de emulsões, com e sem

aplicação de LI, nas seguintes razões de volume H2O/ DCM: 95/5, 90/10, 75/25 e 50/50.

Posteriormente, também foi avaliada a estabilidade da emulsão com a aplicação de LI e

grafite (na proporção 1:10, respectivamente), para comparar o efeito das emulsões em

sistemas reais de esfoliação.

Para avaliação das emulsões, todos os sistemas bifásicos foram sonicados em

ultrassom de ponteira (UPS 400 Hielscher 400 W, sonotrodo de titânio de 14 mm, 70%

de amplitude e 24 kHz) por 10 minutos à temperatura de 10ºC (Figura 16).

Page 50: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

30

Figura 16. Sistema bifásico composto de água (fase aquosa) e DCM (fase orgânica) e

respectivas emulsões após ultrassonicação: à esquerda emulsão sem LI; à direita, com LI.

Os diâmetros hidrodinâmicos dos domínios das emulsões resultantes foram

medidos com um LITESIZER 500 (Anton Paar). Imediatamente após a sonicação, uma

alíquota de cada amostra foi cuidadosamente transferida para uma cubeta de quartzo e as

medidas foram realizadas com laser de comprimento de onda igual a 658 nm e 40 mW

He/Ne durante 20 minutos.

1.2.3.2. Microscopia Óptica

Para avaliação da estabilização do sistema bifásico, uma alíquota da emulsão do

sistema formado por H2O/ DCM de 95/5 contendo o [(Bnz)2Im(Benz)] foi gotejada entre

duas lâminas de vidro e observada em um Microscópio Óptico Olympus BMX51 com luz

refletida. As imagens foram feitas utilizando magnificação de 40x em campo escuro.

1.2.4. Caracterização das interações grafeno-LI pela Teoria do

Funcional da Densidade (DFT)

A interação entre grafeno e LI foi modelada computacionalmente através de

cálculos de energia baseados na Teoria do Funcional da Densidade [130] implementada no

código SIESTA. [131] Para os cálculos de densidades eletrônicas, foram utilizadas bases

localizadas Double-ζ com orbitais de polarizações (DZP), energias de cortes de 600 Ry,

funcionais de troca-correlações de GGA-PBE [132] e pseudopotenciais de norma-

conservada de Troullier-Martins. [133] Células unitárias de 4.28 nm² foram simuladas com

condições periódicas de contorno e amostragem de pontos-k no método de Monkhorst-

Pack [134] de diagonal 2x2x1. As estruturas relaxadas foram calculadas com critério de

Page 51: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

31

força máxima de 0.04 eV Å-1 e utilizando correções de forças de van der Waals na

aproximação de Grimme (PBE-D2). [135]

Para complementar as geometrias relaxadas dos LIs e os cálculos das estruturas

eletrônicas, foram realizadas simulações de dinâmica molecular de primeiro-princípio

(FPMD) dentro do conjunto canônico NVT e termostato de Nosé a 298 K. A FPMD foi

feita em 10 ps, com 1 fs de intervalo. Nesta simulação FPMD, os LIs foram representados

por três cátions e três ânions por célula unitária. Para acelerar a simulação FPMD, foram

usadas bases single-ζ, baixa energia de corte de 150 Ry e cálculos no ponto-Γ-point. Este

estudo foi realizado com a colaboração do Prof. Dr. Leandro Seixas, do MackGraphe.

1.2.5. Caracterização do grafeno produzido

As técnicas de Espectroscopia Raman, Microscopia Óptica, SEM, TEM, AFM e

XRD foram empregadas para avaliar o grafeno produzido quando o grafite foi esfoliado

na presença dos diferentes LIs por LPE e em diferentes condições como: tipo de

processador de cavitação e influências da potência do ultrassom e insonação (exposição

ao ultrassom).

1.2.5.1. Microscopia Óptica

Uma alíquota de 10 μL da dispersão foi depositada sobre um substrato de óxido

de silício. Após breve secagem para evaporação do DCM, o LI da superfície foi removido

por lavagem do substrato com etanol. Esta etapa foi incluída na preparação da amostra

visando a utilização dos mesmos substratos para as análises de Raman e porque a

luminescência nas amostras contendo LI é crítica por gerar sinal muito mais elevado do

que o referente ao espalhamento Raman do material de interesse.

Em seguida, o substrato foi mantido em estufa a vácuo a 60º C durante uma hora

para secagem e evitar a deposição de poeira sobre o mesmo. As amostras foram

observadas em um Microscópio Óptico Olympus BMX51, luz refletida. As imagens

foram feitas utilizando-se magnificações de 20x e 50x em campo claro.

1.2.5.2. Espectroscopia Raman

A Espectroscopia Raman foi utilizada para a identificação da qualidade estrutural

e número de camadas do grafeno produzido. Para a coleta dos espectros foi utilizado um

espectrômetro Raman (Witec Alpha 300R), lentes de 50x, grating de 600 g/mm e linha

Page 52: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

32

de excitação de 532 nm (laser verde). Também foram acumulados espectros com o laser

de 633 nm (vermelho) para o caso de amostras que mostraram ocorrência de

luminescência. Um substrato de silício foi usado para calibrar o espectrômetro.

Os espectros obtidos, 25 por amostra, foram processados pelo software Witec 3.0.

O software Origin 9.0 foi empregado para tratamento dos dados dos espectros como as

deconvoluções das bandas D e G para o cálculo das razões de intensidade ID/IG.

1.2.5.3. Microscopia de Força Atômica (AFM)

Para avaliação da espessura e do tamanho lateral do grafeno nas amostras foi

utilizado um microscópio Bruker modelo Icon Dimension com probe RTESP-300 (ponta

recoberta com Si) e frequência de 300 kHz. Empregou-se resolução de 512 linhas com

512 pontos nas áreas de cada imagem, capturadas com o modo ScanAsyst. O software

Gwyddion foi adotado para o processamento de imagens e obtenção dos valores de

dimensões laterais.

Uma alíquota de 10 μL foi coletada do sistema bifásico e depositada em substrato

de mica. Após breve secagem para evaporação do DCM, o LI foi removido pela lavagem

do substrato com etanol. O substrato foi mantido em estufa a vácuo a 60º C durante uma

hora para secagem e evitar deposição de poeira sobre o mesmo durante a secagem.

1.2.5.4. Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM)

As amostras destinadas às duas técnicas de microscopia eletrônica foram

preparadas da seguinte maneira: após a sonicação, os sistemas bifásicos foram diluídos

(1:200) em sistema bifásico de água/ DCM. As amostras foram então gotejadas (4 L)

sobre uma grade de cobre com filme de carbono e esta foi seca sob vácuo por 4 horas a

80°C. As análises foram realizadas com um microscópio eletrônico de transmissão Talos

F200X HRTEM (FEI) a 120 kV.

1.2.5.5. Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM)

Utilizou-se um equipamento JEOL JSM 7800F (30kV) com modo STEM para

analisar as morfologias das amostras. Uma alíquota de 4μL de amostra foi depositada em

grade de cobre (200 mesh) e esta foi mantida em estufa a vácuo a 60ºC durante uma hora

para evaporar o DCM e evitar a deposição de poeira sobre a grade durante a secagem. As

imagens foram feitas utilizando magnificações de 10000 a 30000x.

Page 53: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

33

1.2.5.6. Difração de Raios-X (XRD)

Para estas medidas, foi utilizado um difratômetro de raios-X Bruker D2, equipado

com radiação CuKα (λ = 1,5406 Å), voltagem de 30 kV e corrente de 10 mA. Foram

adotados os parâmetros tempo de exposição de 1s e 0,008° e faixa de medição de 5-90°.

Page 54: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

34

1.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

1.3.1. Caracterização do sistema bifásico de solventes

Utilizando a técnica de DLS, diferentes sistemas bifásicos com e sem LI foram

investigados, assim como sua estabilidade após a emulsificação por ultrassom. O aspecto

de maior interesse averiguado foi a evolução do diâmetro hidrodinâmico dos domínios

formados com o tempo, pois este parâmetro é que indica a estabilidade da emulsão e,

portanto, a eficiência da esfoliação.

Na teoria do DLS, o movimento browniano destes domínios faz com que a luz

incidida por um laser seja espalhada com intensidades diferentes. Este movimento

aleatório é modelado pela equação de Stokes-Einstein (Equação 1), que relaciona o

coeficiente de difusão medido pelo espalhamento da luz e o tamanho da partícula, ou seu

diâmetro hidrodinâmico. [136]

𝐷ℎ = 𝑘𝐵𝑇

3𝜋𝜂𝐷𝑇 (Equação 1)

Onde Dh é o diâmetro hidrodinâmico (tamanho do domínio); DT é o coeficiente

de difusão; kB é a constante de Boltzman (1,3806 10-23 m2 kg s-2 K-1); T é a temperatura

e η é a viscosidade dinâmica.

As medidas de DLS foram efetuadas em quatro diferentes razões de volume entre

as fases aquosa e orgânica (DCM): 95/5, 90/10, 75/25 e 50/50, na presença e ausência de

(Bnz)2Im(Benz). A Figura 17 mostra os resultados da evolução dos diâmetros

hidrodinâmicos dos domínios em função do tempo de análise para os sistemas bifásicos

(I) e nos sistemas bifásicos contendo o LI (II). Duas informações principais podem ser

avaliadas neste estudo: i) diâmetro hidrodinâmico inicial da emulsão, onde domínios

muito grandes possuem uma área interfacial menor, apresentando menor área para

estabilização do grafeno formado; ii) variação do diâmetro hidrodinâmico, onde emulsões

apresentando grande variação indicam instabilidade da emulsão formada por coalescência

ou separação de fase.

Page 55: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

35

Figura 17. Sistemas bifásicos na ausência do LI (I) e na presença do LI (II), com razões

de volume H2O/DCM: 95/5 (a), 90/10 (b), 75/25 (c) e 50/50 (d). No detalhe, imagem de

microscopia óptica de campo escuro do sistema H2O/DCM de razão de volume de 95/5

na presença do LI (barra de escala = 50 µm).

Os resultados mostraram que os sistemas sem o LI apresentaram diâmetros

hidrodinâmicos iniciais entre 0,3 e 4,5 µm (sistemas com razão de volume de 95/5 e

50/50, respectivamente). Após 8 minutos, foi notado um incremento no diâmetro

hidrodinâmico para os sistemas de 75/25 e 50/50 (Figuras 17 I, curvas c e d) seguido de

uma queda drástica indicando coalescência e, consequentemente, separação de fases. Os

sistemas de 95/5 e 90/10 (Figuras 17 I, curvas I a e b) mostraram apenas uma discreta

variação durante o tempo da medida.

Em contrapartida, os sistemas contendo o LI apresentaram diâmetros

hidrodinâmicos iniciais entre 0,24 e 2,6 µm (sistemas com 95/5 e 50/50 em razão

volumétrica, respectivamente), ou seja, valores quase duas vezes menores em relação aos

sistemas sem LI (Figura 17 II). Os sistemas 75/25 e 50/50 (Fig. 17 II, curvas c e d)

exibiram coalescência seguida por separação de fases em menos de 10 minutos. Por outro

lado, o sistema bifásico 95/5, com ou sem LI, formou uma emulsão estável cujo diâmetro

hidrodinâmico inicial foi menor que 1μm, e então o mais adequado para a esfoliação do

grafite.

Page 56: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

36

1.3.2. Caracterização das interações grafeno-LI

A interação LI-grafeno desempenha um papel importante na eficiência do

processo de LPE. [137] No entanto, esta capacidade de interação está sempre fortemente

associada com suas estruturas moleculares que determinam sua ligação com a folha de

grafeno. A relevância dos anéis aromáticos dos LIs na sua interação com o grafeno foi

comprovada através de cálculos de DFT.

A presença dos grupos benzil acoplados ao cátion imidazólico e sua influência na

esfoliação do grafite já foi previamente reportada. Foi demonstrado que a energia de

ligação entre o cátion 1,3-dibenzil imidazólio [(Bnz)2Im]+ e o grafeno foi de -30,6 kcal

mol-1 com uma distância de ligação de 3,20 Å [83]. No presente trabalho, o valor de energia

de ligação obtido para o mesmo cátion foi de -33,41 kcal mol-1. Obervou-se também que

a maior contribuição é dada pela interação entre o anel imidazólico e a superfície do

grafeno ao invés dos anéis aromáticos (Figura 18 a). Isto significa que o anel imidazólico

possui uma ligação mais próxima (3,23 Å) com o grafeno do que a própria estrutura do

benzeno, demonstrando a eficiência do anel imidazólico em estabilizar uma ou poucas

camadas de grafeno.

O ânion bis(trifluorometilsulfonil)imida (NTf2-), apresenta uma energia de ligação

de -11,7 kcal mol-1. [83] Ambos ânions aqui utilizados apresentam um valor de energia de

ligação mais favorável, de -13,8 kcal mol-1 para o benzoato (Benz)- e -13,01 kcal mol-1

para o naftoato (Naf)-.

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37

Figura 18. Visões superior e lateral das interações do cátion [(Bnz)2Im] + (a); e ânions

(Benz)- (b) e (Naf)- (c) com a folha de grafeno, e as correspondentes energias de ligação

e distâncias calculadas por DFT. Imagens inicial (d) e final (e) da simulação baseada no

Primeiro Princípio da Dinâmica Molecular (FPMD) dos pares iônicos [(Bnz)2Im]+ e

(Benz)- se auto organizando sobre a folha de grafeno. Guia de cores nas moléculas:

átomos de carbono em cinza, de nitrogênio em azul, de oxigênio em vermelho e de

hidrogênio em branco (a-c); folha de grafeno em cinza, [(Bnz)2Im] + (azul) e (Benz)-

(vermelho) (d-e).

Presumivelmente, este fato é consequência de suas estruturas mais planares que

permitem uma ligação mais próxima com a superfície do grafeno (Figuras 18 b e c). No

entanto, o papel da aromaticidade no ânion não é seguido por uma influência positiva

quando o número de anéis aumenta, por exemplo, o (Benz)- (um anel benzênico) tem uma

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38

energia de ligação maior com o grafeno que o (Naf)- (dois anéis benzênicos), o que pode

ser consequência da maior rigidez molecular do (Naf)- (Figuras 18 b e c).

As simulações FPMD do LI que melhor interagiu com o grafeno, (Bnz)2Im(Benz),

foram realizadas considerando 3 pares iônicos de LI e o grafeno. Estas simulações

consistem em avaliar o comportamento dos pares de LIs aleatoriamente distribuídos sobre

o grafeno e pela evolução temporal das conformações através de efeitos térmicos. De

modo interessante, a tendência do (Bnz)2Im(Benz) em interagir com o grafeno é tão forte

que suprime sua própria interação e se auto-organiza sobre a superfície do grafeno

(Figuras 18d e e). Portanto, as simulações de DFT indicam que o (Bnz)2Im(Benz) é,

provavelmente, o melhor candidato para a obtenção do grafeno por LPE.

1.3.3. Caracterização do grafeno produzido

Primeiramente, foi estudada a importância da presença do LI no sistema bifásico

para esfoliar o grafite usando os ultrassons de banho e ponteira (117 W) pela

Espectroscopia Raman (Figura 19). A presença do LI aumenta a eficiência da técnica de

LPE de acordo com os resultados das bandas 2D na Figura 19 I. O deslocamento e

aumento das intensidades da banda 2D para ambos processos de sonicação (ultrassons de

banho, 320 W, e de ponteira, 117 W) evidenciam a formação de um material com poucas

camadas. Isto foi especialmente observado para o processo em ultrassom de banho na

presença do (Bnz)2Im(Benz), onde a banda 2D era mais intensa que a banda G, indicando

a considerável presença de grafeno com menos que 3 camadas. [138,140-142]

Figura 19. Espectros Raman do grafite esfoliado em sistema bifásico na presença e na

ausência de (Bnz)2Im(Benz) usando processadores de ultrassom de banho (320 W) (I) e

ponteira (117 W) (II)

Page 59: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

39

Na Figura 20 I, nota-se que o grafite esfoliado em sistema bifásico contendo o

(Bnz)2Im(Benz) usando o ultrassom de banho apresentou um pequeno incremento da

banda D e a presença de uma banda 2D muito intensa. A razão ID/IG foi de 0,25, enquanto

que a I2D/IG foi de 1,07. A performance do (Bnz)2Im(Naf) foi discretamente menos

efetiva, mostrando razões ID/IG e I2D/IG de 0,43 e 0,46, respectivamente. Considerando as

bandas 2D, o ultrassom de banho apresentou uma esfoliação mais eficaz que a ponteira.

É importante notar que os sistemas foram aplicados sob diferentes condições para os dois

tipos de processadores de ultrassom. O banho de ultrassom permitiu o uso de sistemas

fechados (frascos fechados), enquanto que o ultrassom de ponteira demanda sistemas

abertos (para o acesso da ponteira). Embora todos os sistemas sejam resfriados à

temperatura abaixo do ponto de ebulição do solvente (10°C), estas diferenças no setup

experimental afetam as proporções dos solventes durante o processo de cavitação. [138]

Fig. 20. Espectros Raman do grafite esfoliado em sistema bifásico contendo:

(Bnz)2Im(Benz) e (Bnz)2Im(Naf) (I) usando ultrassom de banho (320 W) por 5 h; e

contendo o (Bnz)2Im(Benz), comparando a influência das potências das ponteiras de

ultrassom (II). A linha pontilhada indica a posição da banda 2D do grafite sem esfoliação.

Utilizando-se o (Bnz)2Im(Benz) e o ultrassom de ponteira de 117 W durante 30

minutos, o espectro do grafeno produzido mostrou uma banda D (1347 cm-1) um pouco

mais intensa, que pode ser atribuída ao defeitos de borda, mas ainda assim um material

com poucas camadas (banda 2D em 2708 cm-1) (Figura 20 II). De modo interessante,

nota-se que a intensidade da banda D (1358 cm-1) não aumentou usando a ponteira com

potência de 280 W. No entanto, o perfil da banda 2D (2725 cm-1), para este caso, é mais

Page 60: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

40

característico de um material grafítico. Esse resultado elucida a possível evaporação do

DCM com o aumento da potência, alterando a composição do sistema bifásico e

diminuindo a eficiência da esfoliação. As razões ID/IG e I2D/IG foram 0,21 e 0,42,

respectivamente, para o ultrassom de ponteira de 117 W; e 0,10 e 0,33, respectivamente,

para o ultrassom de 280 W. O incremento da potência do processador de ultrassom

significa que mais energia é liberada ao sistema produzindo um maior aquecimento e

gerando uma maior quantidade de bolhas pela evaporação do solvente e a delaminação

do material é menos efetiva, o que explica o decréscimo da razão I2D/IG. [138]

As razões ID/IG e I2D/IG obtidas para o grafeno esfoliado no sistema bifásico contendo os

LIs (Bnz)2Im(Benz) e (Bnz)2Im(Naf) em diferentes processadores de ultrassom são

comparados na Tabela 1. O sistema bifásico contendo (Bnz)2Im(Benz) mostrou-se mais

eficaz do que o com (Bnz)2Im(Naf). A melhor condição para se produzir grafeno de

poucas camadas foi alcançada quando foi empregado o ultrassom de banho (I2D/IG de

1,07). Este processo gerou um discreto acréscimo na quantidade de defeitos (ID/IG de

0,25) devido ao maior tempo de sonicação. No caso do ultrassom de ponteira, o de 117

W produziu uma esfoliação mais eficaz que o de 280 W (I2D/IG de 0,43) e levou a um

discreto aumento nos defeitos de folha do material produzido.

Tabela 1. Razões ID/IG e I2D/IG obtidas para o grafite esfoliado em sistema bifásico

contendo (Bnz)2Im(Benz) e (Bnz)2Im(Naf) em diferentes processadores de ultrassom.

Material Tipo de ultrassom

Potência Tempo (Bnz)2Im(Benz) (Bnz)2Im(Naf)

ID/IG I2D/IG ID/IG I2D/IG

Grafite Banho/ 320 W 5 h 0,25 1,07 0,44 0,47

Grafite Ponteira/ 117 W 30 min 0,21 0,43 0,21 0,31

Grafite Ponteira/ 280 W 30 min 0,10 0,33 _ _

Também foram avaliados os espectros Raman dos LIs usados para estimar o

quanto a presença destes afeta os espectros do grafeno produzido. Na literatura, não foram

encontrados dados de espectroscopia Raman para as estruturas dos LIs estudados para

comparação. Foi apenas encontrado o espectro Raman para o cátion 1-benzil-1H-

Page 61: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

41

imidazólio. [139] Este cátion apresenta uma banda em 300 cm−1 que corresponde aos

modos de vibração do C-H do imidazólio no plano, entre 1005 e 1580 cm−1. O surgimento

de uma banda em 780 cm−1 refere-se às vibrações entre o átomo de nitrogênio do anel

imidazólico e o átomo de carbono do grupo benzil ligado a ele. Os modos de vibração do

tipo estiramento entre os átomos de carbono da dupla ligação no anel imidazólico também

contribuem para o aparecimento de uma banda mais intensa em 1500 cm-1. [139]

Os espectros da Figura 21 I e II apresentaram bandas em comum na região que se

estende de 300 a 980 cm -1. O espectro da Figura 21 I apresentou as bandas relativas aos

modos de vibração do C-H do imidazólio no plano, entre o átomo de nitrogênio do anel

imidazólico e o átomo de carbono do grupo benzil, e entre os átomos de carbono da dupla

ligação no anel. Os resultados obtidos mostraram que as bandas dos LIs não sobrepõem

à banda 2D do grafeno, portanto não interferem no espectro Raman das amostras que o

contêm.

Figura 21. Espectros Raman obtido para os LIs: (Bnz)2Im(Benz) (I) e (Bnz)2Im(Naf) (II).

Os resultados da espectroscopia Raman corroboram com as conclusões obtidas

pelas simulações de DFT, onde o (Bnz)2Im(Benz) interage mais fortemente com o grafeno

do que (Bnz)2Im(Naf). Sendo assim, uma caracterização microscópica detalhada foi

realizada apenas para o grafeno produzido por LPE com o (Bnz)2Im(Benz).

O grau de esfoliação foi avaliado pelas técnicas de AFM (Figura 23) e de SEM e

TEM (Figuras 23, 24 e 25). Nos resultados de AFM, junto às micrografias os perfis de

topologia apresentam a dimensão lateral e a altura do material mais fino que obtido para

cada sistema.

Page 62: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

42

Quando foi usado o sistema sem LI e com o ultrassom de banho, a esfoliação do

grafite ocorreu de forma eficiente produzindo um material bem fino, próximo à

monocamada, mas repleto de dobras e defeitos (Figura 22 a) causando um padrão de

difração de elétrons (ED) altamente aleatório (Figura 23 a) ou mesmo presença de

carbono amorfo evidenciada pela falta de difração de elétrons (Figura 24 a).

Figura 22. Imagens de AFM, incluindo os perfis de topológicos, do grafite esfoliado em

sistemas bifásicos: na ausência de LI após 5h em ultrassom de banho(a), na presença de

(Bnz)2Im(Benz) após 1h (b) e 5h em ultrassom de banho (c); na ausência de LI (d) e na

presença de (Bnz)2Im(Benz) (e) após 30 min de ultrassom de ponteira de 117 W; na

presença de (Bnz)2Im(Benz) depois de 30 min de ultrassom de ponteira de 280 W (f). A

linha pontilhada vermelha é apenas uma guia visual.

Page 63: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

43

Figura 23. Imagens de microscopia eletrônica de grafite esfoliada em sistemas bifásicos:

TEM, após 5 horas em ultrassom de banho de 320 W na ausência de LI (a); TEM (b) e

SEM (imagem negativa) (c) após 5 horas de sonicação em banho de 320 W com

(Bnz)2Im(Benz); TEM, após uso de ultrassom de ponteira de 117 W por 30 min sem (d)

e com (e) (Bnz)2Im(Benz); e TEM, após 30 min de ultrassom de ponteira de 280 W por

com (Bnz)2Im(Benz) (f). As figuras inseridas são os padrões de difração de elétrons

correlacionados ao TEM.

Page 64: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

44

Figura 24. Micrografias de TEM do grafite esfoliado em sistema bifásico: na ausência do

LI em ultrassom de banho por 5 horas (a); e na presença de (Bnz)2Im(Benz) em ultrassom

de banho por 1 hora (b) e 5 horas (c) (barras de escala 50 nm).

Page 65: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

45

Figura 25. Micrografias de TEM do grafite esfoliado em sistema bifásico usando

ultrassom de ponteira de 117 W (I) na ausência do LI por 30 minutos (a), na presença de

(Bnz)2Im(Benz) por 10 minutos (b) e 30 minutos (c); usando ultrassom de ponteira de

280 W (II) na presença de (Bnz)2Im(Benz) por 10 (a) e 30 minutos (b).

Page 66: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

46

A aplicação de (Bnz)2Im(Benz) para o mesmo processo permitiu obter folhas com

baixo índice de defeitos, onde a espessura obtida era dependente do tempo de ultrassom.

Após 1h de sonicação em ultrassom de banho, foram obtidas folhas com maior espessura

(Figuras 22b e 24b), enquanto 5h de ultrassom produziram grafeno de boa qualidade

estrutural e muito bem esfoliado (Figuras 22c, 23b e 24c). Além disso, a imagem de SEM

(Figura 23c) mostrou a presença de bolhas superficiais e manchas cinzas revelando a

presença de LI na superfície do grafeno. O efeito do LI também pôde ser observado

quando o ultrassom de ponteira de 117 W foi usado por 30 minutos, preservando a

integridade estrutural nas folhas de grafeno (Figuras 22e, 23e e 25 Ic). Por outro lado, na

ausência de LI, os mesmos 30 min de sonicação em ultrassom de ponteira de 117 W

produziram folhas menores (Figura 22d) e mais danificadas (Figuras 23d e 25 Ia).

Entretanto, mesmo na presença de IL, quando a potência do ultrassom foi aumentada,

observou-se diminuição na eficiência da esfoliação, com produção de folhas de grafeno

mais espessas (Figura 22f), embora com dimensão lateral maior e integridade estrutural

heterogênea (Figuras 23f e 25 IIb). As figuras inseridas são os padrões de difração de

elétrons correlacionados ao TEM.

A ultrassonicação de grafite em sistema bifásico assistida pelo (Bnz)2Im(Benz)

produziu grafeno com maiores dimensões laterais e menos defeitos em comparação com

o sistema sem LI, e a espessura da folha produzida mostrou-se dependente do tempo de

exposição ao ultrassom. Especialmente, a redução da dimensão lateral está intimamente

relacionada à quebra proporcionada pela longa exposição à cavitação, mas a presença de

LI ajudou a dissipar a energia intensiva de cavitação.

Comparando-se este protocolo com os dados da literatura (Tabela 2), o presente

trabalho mostrou que o uso do sistema líquido bifásico melhorou o processo evitando a

etapa de centrifugação, pois permite a separação do grafeno produzido na interface do

grafite residual. As condições mais brandas empregadas impedem a quebra da borda por

sonicação intensa, conforme revelado pelas baixas razões ID/IG.

O número de camadas de grafeno foi estimado comparando-se a espessura do

flake de grafeno apresentada pelo AFM com alguns parâmetros obtidos pelos espectros

Raman. Geralmente, é possível estimar o número de camadas por esta última técnica pelo

número de curvas Lorentzianas ajustadas pelo método de deconvolução sob a banda 2D.

Embora o método de deconvolução seja um modo arbitrário de determinar o número de

camadas obtidas pelo processo de LPE, sua combinação com outras técnicas é útil para

interpretar a extensão da esfoliação do material. Além disso, para amostras com grande

Page 67: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

47

desordem estrutural, foi considerado o valor de largura à meia altura (Full Widht Half

Medium, FWHM). Esta medida de desordem estrutural serve de guia quantitativo para

distinguir até 5 camadas de material esfoliado. [140,142] Segundo a literatura, o grafeno

monocamada possui uma componente lorentziana individual, enquanto o grafeno de duas

camadas apresenta quatro. Em termos de posição, quanto mais a posição da banda 2D

estiver deslocada para valores menores de número de onda a partir de 2700 cm-1 (posição

da banda 2D para o grafite), menor o número de camadas do material. Para o grafeno em

monocamada, a posição da banda 2D é em torno de 2690 cm-1. [140,142]

O número de camadas para o grafite esfoliado em sistema bifásico na presença de

(Bnz)2Im(Benz) apresentado na Tabela 2 foi baseado na abordagem descrita

anteriormente. Como mostrado na Figura 27, a deconvolução da banda 2D do material

esfoliado em ultrassom de banho apresentou 7 componentes lorentzianas cujas posições

2D estavam majoritariamente entre 2643-2690 cm-1. Isto indica que o material possui

entre 1 e 3 camadas, corroborando com os resultados obtidos por AFM (Figura 22c). No

entanto, ao considerar o FWHM, esta amostra apresentou um valor de 82 cm-1, que

representa um grafeno com cerca de 5 camadas. Assim, com base em todos os elementos,

a essa amostra foram atribuídas ≤ 5 camadas.

Utilizando-se o ultrassom de ponteira de 117 W, o material resultante apresentou

em sua deconvolução da banda 2D 8 componentes lorentzianas posicionadas entre 2629

e 2761 cm-1, porém com números de onda majoritariamente acima de 2700 cm-1. Isso

pode ser atribuído a um material menos esfoliado (cerca de 10 camadas). Ao considerar

também o valor de FWHM de 81 cm-1, a esta amostra foram atribuídas entre 5 e 10

camadas.

Finalmente, utilizando o ultrassom de ponteira de 280 W, o grafeno produzido

mostrou 8 componentes lorentzianas na deconvolução de sua banda 2D. A maioria destas

estava deslocada para valores de número de onda maiores que 2700 cm-1, indicando que

o processo LPE foi menos eficaz e produziu principalmente material multicamadas (> 10

camadas). Como o valor de FWHM foi de 75 cm-1, indicando flakes com menor desordem

estrutural, mas com mais de 5 camadas de material (de acordo com o AFM, Figura 22f),

para esta amostra foram atribuídas de 5 camadas a multicamadas.

Page 68: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

48

Tabela 2. Comparação entre os resultados deste trabalho e outros na literatura com uso da

técnica de LPE.

Material Processador Centrifugação Tempo ID/IG I2D/IG N* Ref

(Bnz)2Im(Benz) Banho/ 320 W Não 5 h 0,25 1,07 ≤5

Est

e tr

abal

ho

Ponteira/ 117 W Não 30 min 0,21 0,43 5-10

Ponteira/ 280 W Não 30 min 0,10 0,33 5-multi

NMP Banho/ 90 W 500-3000 rpm

45 min

168 h 0,22-

0,08

- 1-6 1

3

Água e

DSBS

Banho/ 90 W 500 rpm

90 min

30 min - - <5 1

4

NMP Shear mixer/ 250 W 1500 rpm

150 min

20 min 0,25-

0,35

- 4-7 1

5

*N - número de camadas

Page 69: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

49

Figura 26. Espectros Raman do grafite esfoliado em sistema bifásico com

(Bnz)2Im(Benz) em ultrassom: de banho (320 W) por 1 h e 5 h (a); e ponteira de 117 W

(b) e 280 W (c) por 10 e 30 minutos. As inserções apresentam as deconvoluções das

bandas 2D.

A análise de XRD foi empregada para verificar a influência do tipo de ultrassom

no processo de esfoliação. O difratograma obtido com o grafite esfoliado no sistema

bifásico contendo (Bnz)2Im(Benz) em ultrassom de banho (Figura 27) confirmou a

análise de Raman apresentada anteriormente (Figura 19I), mostrando o completo

desaparecimento do pico (002) referente à distância entre as camadas do grafite. Além

Page 70: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

50

disso, no espectro Raman foi observado um aumento não significativo na banda D,

indicando a preservação da fase cristalina. O mesmo comportamento foi notado para o

material produzido pelo ultrassom de ponteira de 117 W (Figuras 19II e 27).

Figura 27. Padrões de XRD do grafite flakes (a) e do grafite esfoliadaoem sistema bifásico

contendo (Bnz)2Im(Benz): em ultrassom de banho de 320 W por 5 horas (b) e de ponteira

de 117 W por 30 min (c). A inserção corresponde à região próxima ao padrão de difração

de grafite (2θ = 26,5 º).

1.4. CONCLUSÕES

Usando diferentes técnicas experimentais (DLS, espectroscopia Raman, AFM e

microscopias óptica e eletrônica), mostrou-se que a obtenção de grafeno de poucas

camadas através da LPE é viável empregando um protocolo simples baseado na sonicação

do grafite em sistema bifásico de água/ DCM estabilizado por LI.

Os cálculos de DFT indicaram que os LIs que possuem anéis aromáticos tanto no

cátion quanto no ânion interagem fortemente com o grafeno formado, inibindo sua

reagregação. Além disso, o anel imidazólico carregado positivamente exerce uma ligação

ainda mais forte e mais estreita com a superfície do grafeno do que os ânions aromáticos

benzoato e naftoato.

A melhor condição para produzir grafeno de poucas camadas foi obtida utilizando

um sistema bifásico, cuja concentração da fase orgânica (DCM) está abaixo de 10% em

relação à fase aquosa, e na presença de (Bnz)2Im(Benz), formando domínios menores e

um sistema mais estável que permite uma grande área interfacial para acomodar o grafite

esfoliado.

Page 71: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

51

Curiosamente, o uso do processador de ultrassom de banho associado ao sistema

bifásico provou ser a melhor maneira de controlar a eficiência da esfoliação e a qualidade

do produto, embora o ultrassom de ponteira de 117 W também produza grafeno de poucas

camadas e boa qualidade estrutural. A aplicação de ultrassom de ponteira de alta potência

(280 W) produziu uma esfoliação menos eficiente, associada ao baixo ponto de ebulição

da fase orgânica empregada (DCM) que sofre evaporação. Comparando esses resultados

com outras publicações sobre LPE do grafite, verificou-se que o uso do sistema bifásico

contendo (Bnz)2Im(Benz) permite produzir resultados semelhantes em termos de

qualidade estrutural e com poucas camadas, mas com o benefício de evitar a etapa de

centrifugação.

Poucos estudos descreveram anteriormente o potencial de sistemas bifásicos para

a LPE e os resultados aqui apresentados indicam que muitos sistemas interessantes

poderiam ser desenvolvidos por diferentes pares de solventes, expandindo as

potencialidades dos processos de LPE.

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52

CAPÍTULO 2

PROPRIEDADES ELÉTRICAS E TÉRMICAS DE

NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS À BASE DE

GRAFENO E DERIVADOS

2.1. NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS

A origem do híbrido remonta da mitologia grega, definido como um ser

prodigioso e fantástico que povoava a imaginação humana. Como por exemplo o Grifo,

que aliava a força de um leão à perspicácia e capacidade de voar de uma águia, resultando

num temeroso guardião dos templos dos deuses. [143] Na natureza, existem híbridos

admiráveis que se desenvolveram ao longo de milhões de anos através de mecanismos de

“automontagem” envolvendo interações diversas e que apresentam, entre outras

características, elevada durabilidade e altas resistências mecânica e térmica. [143,144] Entre

os materiais híbridos naturais típicos, ou nanocompósitos, estão o nácar (ou madrepérola),

os ossos, dentes e as conchas de alguns moluscos. [145] Já os primeiros nanocompósitos

poliméricos datam do início do século XIX, cuja preparação envolvia a mistura de

polímeros naturais, como a goma-arábica, com metais como ouro, prata, cobre e mercúrio.

[146]

Nos últimos anos, o desenvolvimento de nanocompósitos poliméricos têm sido

alvo de intenso escrutínio. Os nanocompósitos definem-se como materiais compósitos

onde uma de suas fases possui dimensão na escala nanométrica. [145] O termo foi usado

pela primeira vez por Komarneni et al. na década de 80 para designar um compósito de

base cerâmica produzido através do processo sol-gel. [147,148] Define-se como “carga” o

material que é incorporado à matriz polimérica para formar um compósito. Além do

tamanho de uma das fases, os nanocompósitos diferem dos compósitos tradicionais em

mais dois aspectos principais: (i) contêm uma pequena quantidade de carga (geralmente,

menos de 10% em massa contra os cerca de 50% em massa exigidos para um compósito),

e (ii) possuem uma área superficial específica extensa. [145,149,150] As cargas são

incorporadas em matrizes poliméricas para melhorar propriedades físicas como

condutividades elétrica e térmica, resistências mecânica e química. Não só o conteúdo

destas cargas, mas também sua morfologia é um fator importante que determina as

Page 73: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

53

relações estrutura-propriedade nos nanocompósitos. [71,144]

O grafeno quando obtido com poucas camadas por esfoliação em fase líquida

torna-se uma carga ideal devido à dimensão lateral e processabilidade na presença de

solventes, permitindo o uso de técnicas de processamento de polímeros existentes sem ou

com modificações mínimas para a fabricação de nanocompósitos de grafeno-polímero.

[151] Grafeno, GO, rGO e nanotubos de carbono (Carbon Nanotubes, CNTs) já foram

adicionados à poliolefinas como o polietileno (PE) e polipropileno (PP); polímeros

condutores de polianilina (PANI); biopolímeros como poliácido láctico (PLA); acrílicos

como o polimetilmetacrilato (PMMA); e vinílicos como poliestireno (PS). [152,153]

Além de materiais à base de carbono, i.e., grafeno, fulereno e nanotubos; também

podem ser utilizadas como cargas argilas e nanopartículas cerâmicas ou metálicas.A

combinação entre as características destes nanomateriais e o baixo teor de carga

necessário para conferir mudanças na matriz polimérica fez com que o campo desses

nanocompósitos poliméricos despertasse muito interesse. Outra vantagem é a

possibilidade de fabricação e processamento dos nanocompósitos em procedimentos

similares aos dos compósitos poliméricos convencionais, tornando-os particularmente

atrativos do ponto de vista da manufatura. [154,155]

2.1.2. Produção de nanocompósitos poliméricos à base de grafeno e

CNTs

Nanocompósitos poliméricos à base de cargas como o grafeno e os CNTs são

excelentes candidatos para a criação de materiais multifuncionais devido às

características superlativas destes nanomateriais como alta resistência mecânica, elevadas

condutividades elétrica e térmica, entre outras. [156] Aqueles que apresentam alta

condutividade térmica, por exemplo, são atrativos para uso em circuitos integrados, onde

uma grande dissipação de calor é exigida. Por um outro lado, se são bons condutores

elétricos, são requeridos para fabricação de eletrônicos e outros dispositivos. [157] A maior

razão entre a área superficial e o volume (razão de aspecto) dessas cargas permite que seu

uso mesmo quantidades muito baixas seja suficiente para melhorar as propriedades

Page 74: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

54

relativas aos desempenhos mecânico, térmico, elétrico e biológico nos polímeros.

[155,156,158]

Recentemente, o grafeno e o grafeno funcionalizado foram utilizados em

compósitos contendo múltiplas cargas. A combinação destes com CNTs [159] ou negro de

fumo [160] mostrou uma significativa sinergia em termos de resistência à tração,

condutividade térmica, condutividade elétrica e supercapacitância. A associação entre

duas nanocargas geometricamente distintas deu origem à uma rede co-suportada pela

presença de ambos nanomateriais. [152]

No entanto, por causa da área superficial superior das nanocargas, são necessários

procedimentos complexos de preparação do nanocompósito, incluindo a mistura

controlada e estabilização da dispersão resultante a fim de se obter a distribuição

específica desejada da carga no meio polimérico. [161,162]

Entre as diferentes tecnologias de manufatura aplicáveis aos nanocompósitos

poliméricos à base de grafeno e CNTs a impressão 3D é a mais recente e inovadora, uma

vez que é abrangente a diferentes tipos de polímeros, mais escalável, versátil e de custo

relativamente baixo. [151] Embora os polímeros mais frequentemente utilizados sejam o

poliácido láctico (PLA) (Figura 28) e a acrilonitrila-butadieno-estireno (ABS), outros

como o poliálcool vinílico (PVOH) e as poliamidas (nylons) já figuram como a base da

próxima geração de materiais destinados à produção de filamentos. Todos esses

polímeros têm potencial para a inclusão de cargas à base de carbono e gerarem

nanocompósitos poliméricos adequados à impressão 3D. [163-165] No entanto, apenas

alguns produtos que incorporam grafeno e CNTs estão disponíveis no mercado para a

impressão 3D, como mostra a Tabela 3.

Figura 28. Nanocompósito de PLA e grafeno: peletizado (a) e em filamentos de 1,75 mm

de diâmetro (b) (adaptada da referência [151]).

Page 75: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

55

Tabela 3. Produtos à base de grafeno e CNTs destinados à impressão 3D disponíveis

comercialmente.

Produto Descrição Empresa

BlackMagic 3D Filamentos de grafeno + PLA www.blackmagic3d.com

Filabot Filamentos de grafite + ABS e de

CNTs + ABS

www.filabot.com

3DXTech 3DXNano™

ESD

Filamentos de ABS + CNTs www.3dxtech.com

Cheap Tubes Inc. Masterbatches de CNTs (10 wt.%)

+ ABS

www.cheaptubes.com

Nanocyl PLASTICYL™

ABS 1501*

Masterbatches de CNTs (15 wt.%)

+ ABS

www.nanocyl.com

O PLA, cuja estrutura é representada na Figura 29, é um polímero termoplástico

considerado como uma alternativa aos plásticos derivados do petróleo e possui a

característica de ser bioabsorvível (pode ser assimilado por um sistema biológico). [166-

168] É obtido a partir do ácido láctico advindo da biomassa (amido de milho, trigo e batata)

por bioconversão e reações de polimerização e bem conhecido por sua fácil

processabilidade. Tal como outros termoplásticos, este pode ser processado por extrusão,

injeção, moldagem por sopro ou fiação. [166-168] Devido à sua versatilidade, é altamente

requisitado em diversas aplicações como: embalagens; nas indústrias farmacêutica, têxtil,

química; compósitos automotivos; engenharia de tecidos e biomédica. [155,166-168]

Figura 29. Estruturas do mero (a) e da cadeia de PLA (b), cujas cores referem-se ao

oxigênio (vermelho), carbono (cinza) e hidrogênio (branco).

Page 76: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

56

No entanto, o desempenho mecânico e as propriedades elétricas e térmicas do

PLA têm muito a serem melhorados de modo a expandir seu campo de aplicação. O PLA

possui baixa condutividade elétrica (σ ~ 1 x 10-16 S m-1) e elevada resistência de folha (ρ

~ 5 x 1012 Ω sq-1). [168] Sua temperatura de fusão (MP) é de aproximadamente 175°C e a

temperatura de transição vítrea (Tg) situa-se entre 55- 60 °C. Moon et al. obtiveram um

valor de σ de 3,5 × 10-3 S m -1 ao incorporar 10% em massa de nanotubos de carbono de

paredes múltiplas (MWCNT) no PLA através de ultrassonicação em clorofórmio, seguido

de secagem e moldagem por compressão a 200 °C durante 15 min. [169] Em termos de

resistência da folha (ρ), Yoon et al. conseguiram um resultado de resistência de folha de

1 × 105 Ω sq-1 adicionando 1% em massa de MWCNT, previamente tratado com ácidos

fortes (H2SO4 e HNO3). [170] Em relação aos compósitos de grafeno, o valor máximo de

condutividade relatado é 2,2 S m-1, maior do que para o CNT, obtido ao incorporar 1,25%

em massa de rGO (reduzido com amônia) em PLA por sonicação em DMF. [170] Neste

contexto, a incorporação de nanocargas como o grafeno ou CNT é uma estratégia comum

para alcançar este objetivo, pois oferece potencial em combinar as propriedades do

polímero com várias de suas características. [152,158,171]

O PVOH (Figura 30) é um polímero termoplástico solúvel em água e empregado

para muitas aplicações. [172] É um material biocompatível, biodegradável, inodoro e não

tóxico, obtido através da polimerização do monômero de acetato de vinila para acetato de

polivinila, seguido de sua hidrólise para poliálcool vinílico. Devido às suas caraterísticas,

PVOH é cada vez mais utilizado nas áreas biomédica, têxtil e de embalagens. [173] Foi

produzido pela primeira vez em 1924 por Herrman e Haehnel [174], e tem sido utilizado

como matriz para incorporação de nanocargas de origem orgânica [175] ou inorgânica. [176]

Cargas como grafeno e CNTs podem ser adicionadas ao PVOH para produzir

nanocompósitos com excelentes propriedades. Por exemplo, Lin et al. incorporaram 0,5

wt.% de MWCNT ao PVOH e verificaram que a propriedade de resistência à tração

aumentou, assim como a estabilidade térmica. A temperatura de decomposição aumentou

30° C em relação à matriz pura. Em relação às propriedades elétricas, este nanocompósito

apresentou uma condutividade elétrica de 9,5×10-7 S cm-1 indicando um aumento de 5

ordens de grandeza em comparação com o PVOH puro. [177]

Page 77: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

57

Figura 30. Estruturas do mero de PVOH (a) e da cadeia de PVOH (b). As cores referem-

se ao oxigênio (vermelho), carbono (cinza) e hidrogênio (branco).

Parâmetros como dispersão de carga, interações carga-carga e polímero-carga são

fundamentais nos processos de preparação de nanocompósitos que irão combinar as

características da matriz polimérica e das cargas e seu controle representa um dos maiores

desafios da área de polímeros. No caso de nanocompósitos com propriedades como a

condutividade elétrica estas interações são de suma importância e este desafio é levado

ao seu limite.

A condutividade elétrica em nanocompósitos normalmente é atingida de modo

significativo apenas após a ocorrência do fenômeno de percolação de carga. [178-180] Deste

modo, há um comprometimento da conservação do equilíbrio entre dispersão de carga e

percolação elétrica. Isto porque o fenômeno de percolação elétrica geralmente vem ao

custo do sacrifício de algumas propriedades como a tenacidade da matriz polimérica,

enquanto o aumento da dispersão reduz os pontos de percolação de carga. [182] A

concentração crítica destas cargas é conhecida como limite de percolação elétrica,

descrito mais adiante. [179-182]

Três métodos são usualmente empregados para se obter boas dispersões de

nanocarga em matriz polimérica: mistura em solução (solution mixing), polimerização in

situ e mistura no estado fundido (melt mixing). [152,168,183] As duas primeiras opções

alcançam excelentes resultados em termos de dispersão de partículas, no entanto, a

expansão desses métodos para a produção industrial é mais complexa. Por outro lado, a

preparação no estado fundido, além de economicamente atrativa e facilmente escalonada,

Page 78: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

58

possui os revezes da alta viscosidade e do cisalhamento envolvidos no processo, que

dificultam a difusão da carga e a consequente dispersão. [152,183]

2.1.3. Propriedades elétricas e térmicas dos nanocompósitos poliméricos

A condutividade elétrica (S m-1) de um material é obtida através da medida de

uma corrente elétrica que flui através do mesmo sob a aplicação de um potencial elétrico

e depende de suas dimensões, como a espessura e a área. [184] Inversamente proporcional

à condutividade elétrica, a resistividade elétrica (Ω m-1) de um material é a facilidade com

a qual este conduz corrente elétrica. Polímeros termoplásticos como o PLA e o PVOH

são geralmente isolantes elétricos, ou seja, possuem usualmente valores de resistividade

elétrica entre e 1020 e 1010 Ω m-1. No entanto, existem muitos polímeros que podem atuar

como condutores de eletricidade. A condutividade elétrica em polímeros dá-se pela

presença de ligações duplas conjugadas ao longo do ‘esqueleto’ polimérico. Quando um

elétron é removido da banda de valência por oxidação (dopagem tipo p), ou adicionado à

banda de condução através de redução (dopagem tipo n), isto faz com que o polímero se

torne condutor. [185] A dopagem ocasiona um incremento da condutividade elétrica do

polímero em muitas ordens de magnitude. A resistividade de um polímero condutor

deveestar entre 105 ≥ R ≥ 10-2 Ω cm. [184,185] Uma outra forma de aumentar a condutividade

elétrica em um polímero é a adição de cargas condutoras como grafeno, fulereno e

nanotubos, entre outras. [185,186] Quando estas são adicionadas aos polímeros, os

nanocompósitos finais podem apresentar propriedades elétricas interessantes, tais como

semicondutores e metais, mas sem perder a processabilidade dos polímeros. Algumas

aplicações típicas que são dadas a estes materiais são como antiestáticos (dissipação

elétrica), blindagem de interferência eletromagnética e sensores. [187]

A adição destas cargas também visa melhorar as propriedades térmicas dos

polímeros. Tipicamente, os polímeros possuem condutividade térmica intrínseca muito

inferior à dos metais ou cerâmicos e, portanto, são considerados bons isolantes térmicos.

O monitoramento térmico tem se tornado crucial na indústria eletrônica moderna à

medida que os dispositivos eletrônicos têm se tornado mais integrados e miniaturizados.

Se o calor não pode ser dissipado prontamente, o tempo de vida e a eficiência do sistema

pode ser reduzida ou ainda interrompida. Materiais com elevada condutividade térmica,

portanto, são necessários na dissipação de calor, especialmente devido aos efeitos da

miniaturização eletrônica. [157,188]

Page 79: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

59

A condutividade térmica (W m-1 K-1) é definida como a capacidade de um material

transferir calor. Em muitos materiais sólidos, esta medida está intimamente ligada à

vibração de fônons. [157,188] A difusividade térmica (m2 s-1) descreve o quão rapidamente

o material reage com a mudança de temperatura e é medida pela razão entre a

condutividade térmica e densidade e o calor específico à pressão constante. [188] Em um

polímero, a condução térmica é um processo influenciado por vários parâmetros como

cristalinidade, temperatura, orientação das macromoléculas, etc. [157]

Os CNTs são conhecidos por promoverem um aumento na condutividade térmica

de polímeros devido à possibilidade dae formação de uma rede tridimensional

termicamente condutora no interior da matriz polimérica, semelhante ao que ocorre na

condutividade elétrica. A condutividade térmica dos CNTs depende: do arranjo atômico,

do diâmetro e comprimento dos tubos, do número de defeitos estruturais e da morfologia,

e da resistência térmica interfacial entre o CNT e polímero. [189] Outra propriedade térmica

que pode ser afetada pela presença destas cargas é a temperatura de transição vítrea (Tg).

As modificações na Tg fornecem informações importantes sobre o comportamento da

cadeia polimérica na interface com as nanocargas. A mobilidade das cadeias poliméricas

na região interfacial depende da interação entre a superfície do CNT e o polímero. [190]

2.1.4. Limite de Percolação Elétrica (Percolation Threshold)

Em nanocompósitos poliméricos condutores em geral, a percolação elétrica pode

ser aplicada para explicar o seu comportamento condutivo.

Quando a concentração de cargas condutoras é aumentada gradualmente até um

valor crítico, neste estágio o material sofre uma transição de isolante para condutor e sua

condutividade elétrica aumenta significativamente, em várias ordens de magnitude,

quando os canais condutores iniciais são formados. [179]

Esta concentração crítica é chamada de limite de percolação elétrica e pode ser

obtida pela Equação 2.

σ ∞ (φ - φc)α (Eq. 2)

Onde σ é a condutividade elétrica, φ é a fração (volumétrica, vol%, ou em massa,

wt.%) de cargas no nanocompósito, φc é a fração crítica na percolação elétrica e α é o

expoente crítico que representa a correlação entre φ e φc. [179,180, 191]

Page 80: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

60

Abaixo do limite de percolação, os canais condutores de elétrons não existem e as

propriedades elétricas são dominadas pela matriz polimérica. Acima deste, múltiplos

canais condutores são formados até a condutividade do nanocompósito atingir um platô

de saturação. Portanto, a concentração da carga condutora deve estar acima do limite de

percolação a fim de se obter redes de canais condutores no nanocompósito (Figura 31).

[192-194]

Figura 31. Representação esquemática da percolação elétrica em um nanocompósito

indicando as diferentes regiões em função da condutividade elétrica e a concentração

total da carga (adaptada da referência [193]).

Entre as cargas condutoras convencionais estão partículas metálicas e materiais

carbonáceos, como o negro de fumo e fibras de carbono. No entanto, para se atingir o

limite de percolação com estes materiais, a concentração de carga deve ser elevada (10 a

50 wt.%), resultando em um compósito com propriedades mecânicas pobres e alta

densidade. Neste contexto, de forma a minimizar o problema, a incorporação de CNTs

em matrizes poliméricas é um atrativo, pois a elevada razão de aspecto destas cargas

facilita a formação de canais condutores mesmo em concentrações muito baixas. Por

exemplo, foi reportado que a condutividade elétrica foi melhorada em nanocompósitos

de CNT e resina epóxi contendo menos de 0,5 wt.% de carga. [192]

Além da razão de aspecto, o limite de percolação também depende da dispersão

carga na matriz, da orientação, da funcionalização, do tipo de polímero, etc. Limites de

Page 81: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

61

percolação elétrica extremamente baixos já foram reportados. Sandler et al. mostraram

que um valor de apenas 0,0025 wt.% foi obtido na para o compósito de CNT e resina

epoxidica. [195] Em outro trabalho, também para a obtenção de compósitos de CNT e

resina epoxidica, Allaoui et al. obtiveram valores de limite de percolação entre 0,5-1

wt.%. [196] No entanto, em um estudo conduzido por Kovacs et al. foi reportado que

valores de limite de percolação elétrica muito abaixo de 0,1 wt.% podem ter origem na

etapa de dispersão. [179]

Page 82: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

62

2.2. PARTE EXPERIMENTAL

2.2.1. Obtenção dos nanocompósitos poliméricos por extrusão no estado

fundido

A matriz polimérica empregada foi o PLA 3D850 (Ingeo), desenvolvido para

impressão 3D. Como cargas foram utilizados nanoplatelets* de grafeno (GNP, 90% de

pureza e dimensão lateral de 2-16 µm), e nanotubos de carbono de paredes múltiplas

(MWCNT, diâmetro de 4-6 nm, comprimento de 10-30 µm e condutividade elétrica de

100 S cm-1), ambos da TimeNano. Os nanocompósitos foram processados por extrusão

no estado fundido (extrusora de dupla rosca Brabender DSE35/17D) dos masterbatches

em filamentos de diâmetro de 1,75 mm, medida requerida pelas impressoras 3D que

utilizam a técnica FDM.

As cargas de carbono foram combinadas entre si variando-se suas porcentagens

em massa entre 0 e 6 wt. % (Tabela 4). Para os nanocompósitos com uma carga

(PLA/MWCNT e PLA/GNP) estas foram iguais a 1,5, 3 e 6 wt %; e os que continham as

duas cargas (PLA/ MWCNT/ GNP), entre 3 e 6 wt.

Tabela 4. Proporções de GNP e MWCNT usadas para obtenção dos nanocompósitos

poliméricos de uma ou duas cargas.

COMPOSIÇÃO GNP (wt.%) MWCNT (wt.%) PLA (wt.%)

PLA e 1,5% GNP 1,5 - 98,5

PLA e 3% GNP 3 - 97

PLA e 1,5% MWCNT - 1,5 98,5

PLA e 3% MWCNT - 3 97

PLA e 1,5% GNP e 1,5% 1,5 1,5 97

PLA e 1,5% GNP/4,5% MWCNT 1,5 4,5 94

PLA e 3% GNP/3% MWCNT 3 3 94

PLA e 4,5% GNP/1,5% MWCNT 4,5 1,5 94

* Nanoplatelets de grafeno- designação para o grafeno industrial, cuja dimensão lateral apresenta-

se na microescala. [197]

O processamento e parte da caracterização dos nanocompósitos foram realizados

com a colaboração da Profª Drª Rumiana Kotsilkova e Prof. Dr. Evgeni Ivanov, do Open

Page 83: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

63

Laboratory on Experimental Micro and Nano Mechanics (OLEM) da Academia de

Ciências da Bulgária.

2.2.2. Caracterização morfológica e estrutural dos nanocompósitos

poliméricos

2.2.2.1. Condutividades elétrica e térmica

As medidas de condutividade elétrica dos nanocompósitos foram conduzidas em

um equipamento Picoammeter (Keithley 2400, Keithley Instruments Inc, USA). As

laterais das amostras foram previamente cobertas com tinta de prata. Os valores de

resistência (R) foram medidos em Ohm (Ω) e a condutividade elétrica σ foi calculada

usando a Equação (3):

σ =𝐿

𝑅.𝑆 (Equação 3)

Onde σ é a condutividade elétrica [S m-1]; L é a espessura da amostra [m] e S é a

área do círculo (r2) [m2].

As medidas de condutividade térmica, difusividade térmica e calor específico dos

nanocompósitos foram conduzidas em um analisador de constante térmica Hot Disk 2500

(Hot Disk Inc, Sweden). Antes das medidas, as amostras de 16 mm de diâmetro e 3 mm

de espessura foram polidas utilizando um papel abrasivo de modo a obter superfícies lisas.

O sensor de 3 mm de diâmetro foi posicionado entre duas placas da amostra e forneceu

pulsos de calor de 0.01 W por 40 s à temperatura ambiente, quando as mudanças de

temperatura foram registradas.

2.2.2.2. Microscopias Eletrônicas de Transmissão (TEM) e Varredura

(SEM)

Para as análises de TEM, utilizou-se um microscópio eletrônico de transmissão

FEI TECNAI G12 Spirit-Twin (fonte LaB6) com câmera FEI Eagle-4k CCD e voltagem

de 120 kV. As medidas foram realizadas nas secções feitas nas amostras através de um

Page 84: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

64

ultramicrótomo Leica EM UC6 / FC6. Posteriormente, as amostras foram colocadas em

grades de cobre de 400 mesh.

As caracterizações por SEM foram realizadas em um FEI QUANTA 200F com

diferentes magnificações. As amostras foram criogenicamente fraturadas e suas

superfícies foram cobertas com ouro e paládio (Au/Pd) através de um EMITECH K575X.

2.2.2.3. Espectrometria Raman

Os espectros e mapeamento Raman foram obtidos com um Espectrômetro

Confocal Raman (WITec Alpha 300R) com lente objetiva de 50x, grading de 600 g/ mm

e laser de 532 nm. Os espectros simples foram coletados em filamentos peletizados;

enquanto que os mapas foram feitos em filmes a partir dos pellets prensados a 200 ° C e

pressão de 35 kgf cm-2 por 10 min.

Page 85: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

65

2.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.1. Caracterização das estruturas e morfologias dos nanocompósitos

poliméricos

Inicialmente, para se avaliar a homogeneidade da dispersão dos CNTs e do GNP

no polímero foram empregadas as técnicas de TEM e SEM, ferramentas comumente

usadas para distinguir as nanocargas de carbono da matriz polimérica devido às

morfologias específicas destas. Este parâmetro é importante para saber qual das

concentrações elaboradas poderia ultrapassar o limite de percolação (Figuras 32 e 33).

A Figura 32 apresenta as imagens de TEM realizadas nos nanocompósitos com

duas cargas, cujas porcentagens em massa (wt.%) foram: 1,5 de GNP/ 4,5 de MWCNT

(a) e 3 de GNP/ 3 de MWCNT (b). Uma boa distribuição pôde ser observada nas imagens

a e b. A combinação entre ambas cargas parece formar uma rede interconectada onde os

agregados de MWCNT encontram-se circundados pelos GNPs, e com as cargas

individuais bem dispersas. Isso cria uma possibilidade de um efeito de junção para

melhorar a condutividade elétrica das amostras. Nas imagens de SEM da Figura 33,

verificou-se uma boa distribuição das cargas na matriz polimérica tanto para os sistemas

com uma carga (Figuras a e b), quanto para os com duas cargas (Figuras c e d).

Figura 32. Imagens de TEM dos nanocompósitos contendo as duas cargas nas

porcentagens em massa (wt.%): 1,5 de GNP/4,5 de MWCNT (a) e 3 de GNP/3 de

MWCNT (b).

Page 86: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

66

Figura 33. Imagens de SEM dos nanocompósitos contendo as cargas nas porcentagens

em massa (wt.%): 6 de MWCNT (a); 6 de GNP (b); 1,5 de GNP/1,5 de MWCNT (c); 3

de GNP/3 de MWCNT (d). Voltagem de 5 kV e magnificação de 20000x (barra de escala

de 5 µm).

A Espectroscopia Raman foi usada para determinar a qualidade estrutural e

número de camadas (no caso do GNP) e diâmetro/número de paredes (dos MWCNTs)

através dos cálculos das razões de intensidade ID/IG e I2D /IG, respectivamente, cujas

intensidades são apresentadas nos espectros simples. A dispersão das mesmas na matriz

polimérica foi avaliada pelo mapeamento Raman.

A Figura 34 apresenta os espectros Raman do PLA puro e de seus

nanocompósitos. O espectro do PLA (Figura 34 a) mostrou bandas intensas em 2900-

2990 cm-1 (atribuídas aos estiramentos assimétrico e simétrico CH), em 1750 cm-1 (do

estiramento C=O), em 1450 cm-1 (atribuído ao CH3), em 1370 cm-1 (da deformação CH

e bandas assimétricas) e 950 cm-1 (vibração da coluna vertebral helicoidal com modos de

oscilação CH3). Notou-se que para ambas as concentrações de GNP a intensidade das

bandas 2900-2990 cm-1 diminui com o aumento do teor de carga.

A amostra de PLA com 1,5 wt.% de GNP (Figura 33b) apresentou uma banda D

mais intensa (em 1356 cm-1) em comparação com a amostra contendo 6 wt.% de GNP

Page 87: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

67

(em 1348 cm-1, Figura 34c), indicando que houve uma redução dos defeitos estruturais

com o aumento do conteúdo de GNP, efeito que pode ser atribuído a um processo de

lubrificação durante o processamento. As amostras de PLA com 1,5 wt.% (2715 cm-1,

Figura 34b) e 6 wt.% de GNP (2719 cm-1, Figura 34c) mostraram bandas 2D menos

intensas e mais largas, parecidas com o perfil do grafite. As razões ID/IG e I2D/IG para o

PLA com 1,5 wt.% de GNP (0,66 e 0,37, respectivamente) revelaram um alto grau de

desordem estrutural. No caso do PLA com 6 wt.% de GNP, as razões ID/IG e I2D/IG (0,09

e 0,34, respectivamente) indicaram uma maior integridade superficial. Em ambos os

casos, a carga de GNP apresentou-se como tendo múltiplas camadas (mais de 10).

Para os nanocompósitos contendo os MWCNTs, as bandas D e 2D mais intensas

representam maior número de paredes, portanto maior desordem e maiores diâmetros. De

acordo com a literatura, uma banda G intensa relaciona-se com uma melhor dispersão de

nanotubos na matriz polimérica. Em ambas concentrações, a banda G é elevada,

indicando boa dispersão dos MWCNT e confirmando os resultados obtidos por SEM

(Figura 33 a e b).

O mapeamento Raman do compósito de PLA com 1,5 wt.% de GNP e 1,5 wt.%

de MWCNT é apresentado na Figura 35. O mapeamento da banda D exibe muitas regiões

com baixa densidade de carga (regiões negras), enquanto o mapeamento de banda G e 2D

apresentou distribuição mais homogênea e bem dispersa. Como a maior contribuição para

a banda D é dada pelos MWCNT, as regiões mais escuras podem representar uma região

com menor presença de nanotubos.

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68

Figura 34. Espectros Raman obtidos para nanocompósitos contendo: PLA (a), PLA com

1,5 wt.% de GNP (b); PLA com 6 wt.% de GNP (c); PLA com 1,5 wt % de MWCNT (d);

e PLA com 6 wt.% de MWCNT (e).

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69

Figura 35. Mapeamento Raman para as bandas D (a), G (b) e banda 2D (c) para o

nanocompósito de PLA contendo as cargas nas porcentagens em massa (wt.%): 1,5 de

GNP/1,5 de MWCNT.

2.3.2. Efeito da concentração e combinações das cargas na

condutividade elétrica

A Figura 36 mostra a condutividade elétrica obtida em cada concentração de GNP

e MWCNT para compósitos com uma ou com as duas cargas.A amostra com a

concentração máxima de cargas (6 wt.%) mostrou um incremento da condutividade

elétrica em quase 8 décadas para os dois componentes, GNP e MWCNT, quando

comparados ao PLA puro, atingindo valores de 8,4 x 10-3 [S/m] e 2,1 x 10-2 [S/m],

respectivamente.

Sistemas com PLA e MWCNT mostraram os valores mais elevados para

condutividade elétrica, especialmente para 3 wt.%, onde o limite de percolação é atingido.

Este valor de limite de percolação reduzido é alcançado devido ao aumento de ‘pontos de

junção’ entre as cargas na formação de caminhos condutores. Por um outro lado,

compósitos com as duas cargas (1,5 wt.% em GNP e 4,5 wt.% em MWCNT e 3 wt.% em

Page 90: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

70

GNP e 3 wt.% em MWCNT) mostraram valores de condutividade elétrica mais altos do

que os observados para o sistema de uma carga com quantidade máxima de 6 wt.%.

Aparentemente, ocorreram a ‘junção’ das folhas do GNP e dos nanotubos e um

incremento significativo na condutividade elétrica dos nanocompósitos como efeito da

combinação entre as cargas.

Figura 36. Condutividade elétrica vs. concentração de GNP e MWCNT para os

nanocompósitos com uma carga (PLA e GNP; PLA e MWCNT) e as duas cargas (PLA e

GNP; PLA e MWCNT).

2.3.3. Efeito da concentração e combinações das cargas na

condutividade térmica

GNP e MWCNT foram usados para elevar a condutividade térmica dos materiais

à base de PLA. Os resultados (Figura 37) mostram valores de condutividade térmica mais

elevados com o incremento da quantidade de carga. Este efeito é mais pronunciado para

os nanocompósitos de PLA/GNP, onde o valor máximo foi de 0.577 W mK-1 para 6 wt.%

GNP comparado com 0.205 W mK-1 para o PLA puro. O aumento da condutividade

térmica para estes sistemas é de cerca de 181 % comparado com a matriz. Este efeito da

influência do aumento da quantidade de carga na condutividade térmica para os

nanocompósitos de PLA/MWCNT é menos intenso e cresce em cerca de 48 % para o

nanocompósito com 6 wt.% de MWCNT. Não há efeito sinérgico observado na

condutividade térmica com a combinação das duas nanocargas

Page 91: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

71

Figura 37. Condutividade térmica vs. concentração de GNP e MWCNT para

nanocompósitos com uma carga (PLA/GNP e PLA/MWCNT) e duas cargas (PLA/GNP

e PLA/MWCNT); e difusividade térmica versus concentração de GNP e MWCNT para

nanocompósitos com uma carga (PLA/GNP e PLA/MWCNT) e duas cargas (PLA/GNP

e PLA/MWCNT) (II).

A difusividade térmica sofreu um aumento com o incremento da quantidade de

carga e este efeito é maior para os compósitos de PLA/GNP, onde o valor máximo é de

0,485 mm2 s-1 para 6 wt.% GNP comparado com 0,154 mm2 s-1 para o PLA puro. O

aumento da difusividade térmica para estes sistemas é de 214 % comparado com a matriz

devido à estrutura das folhas de GNP. Este efeito de incremento da quantidade de carga

na difusividade térmica de compósitos de PLA/MWCNT é menos intenso e aumenta em

cerca de 43 % para um nanocompósito contendo 6 wt.% de MWCNT. Não há efeito

sinérgico observado na condutividade térmica com a combinação das duas nanocargas.

2.4. CONCLUSÕES

As propriedades elétricas, térmicas e morfológicas dos nanocompósitos de PLA/

MWCNT/ GNP preparados com diferentes quantidades de GNP e MWCNT foram

investigadas e discutidas. Na quantidade máxima de carga utilizada (6 wt.%), observou-

se que a condutividade elétrica aumenta em torno de 6-8 décadas de ordem de grandeza

para os sistemas com apenas uma carga (8,4 x 10-3 S m-1 para o sistema PLA/ GNP e 2,1

x 10-2 S m-1 para o sistema PLA/ MWCNT) quando comparados ao PLA puro.

Page 92: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

72

Este efeito é mais pronunciado para os nanocompósitos de PLA/ MWCNT. Por

outro lado, alguns dos nanocompósitos com PLA/ MWCNT/ GNP mostraram valores

mais altos de condutividade elétrica em relação aos obtidos com o conteúdo máximo dos

sistemas de uma carga (6 wt.%). Os resultados indicam uma relação próxima entre as

propriedades elétricas e térmicas com as morfologias dos nanocompósitos. À medida que

as quantidades de grafeno ou MWCNT aumenta, ocorre o fenômeno de percolação

elétrica e uma rede contínua e densa é formada na matriz polimérica.

Condutividade e difusividade térmicas dos nanocompósitos com GNP foram

melhoradas com adição de nanoplatelets de grafeno em 181 % (0,577 W m-1 K-1) e 214%

(0,485 W m-1 K-1) respectivamente. Os compósitos obtidos podem ser considerados

adequados como condutores elétricos e térmicos para uma variedade de aplicações.

Page 93: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

73

CAPÍTULO 3

OBTENÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS POLIMÉRICOS

COM MORFOLOGIA SEGREGADA PARA

IMPRESSÃO 3D

3.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1.1. Sistemas Coloidais

O desenvolvimento de nanocompósitos a partir de nanocargas, i. e. grafeno e

nanotubos de carbono, em diferentes matrizes poliméricas aponta para uma rota produtiva

que visa melhorar as propriedades do polímero e estender seu campo de aplicação. Sua

síntese pode ser realizada a partir de sistemas heterofásicos ou coloidais. [198,199]

Sistemas coloidais são sistemas multifásicos onde pelo menos uma das fases é

composta por partículas com dimensão entre 1nm e 1µm e relacionadas a fenômenos

como movimentos Brownianos, difusão e osmose. [200] Algumas características que os

diferenciam dos sistemas dispersos é que estes podem ser bicontínuos, com partículas

maiores e não-Brownianas e não possuir estabilidade de fases. Num sistema coloidal, a

área interfacial entre as fases dispersa e contínua é elevada, por exemplo, 1 cm3 de

dispersão contendo partículas de 100 nm em fração volumétrica de 30% contém uma

interface com área de 10 m2, aproximadamente. Esta é a razão pela qual as propriedades

interfaciais são cruciais para as propriedades e estabilidade das soluções coloidais. Entre

os fatores que estabilizam estas dispersões estão as forças superficiais repulsivas e o

movimento térmico das partículas, entre outros. [200] Por estas razões, os surfactantes

(descritos anteriormente no Capítulo 1) atuam diminuindo a tensão superficial e

estabilizando as suspensões ao serem adicionados a este meio. [201,202] Devido ao seu

caráter anfifílico (cabeça polar e cauda apolar), uma característica elementar dos

surfactantes é a tendência a se alojarem na interface de forma orientada. Recentemente,

trabalhos reportaram o uso de surfactantes na preparação de nanocompósitos cerâmicos

e poliméricos, este último envolvendo o uso de LIs. [202,203]

Como anteriormente citado, para que haja sucesso na combinação das

propriedades da carga e do polímero em nanocompósitos a boa qualidade da dispersão e

Page 94: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

74

a forte interação entre as fases na interface carga-matriz polimérica são especialmente

importantes. Esta interação, por sua vez, depende do tamanho da área interfacial, que

cresce à medida que o tamanho da nanocarga e sua fração volumétrica são menores. A

interface controla o grau de interação entre a nanocarga e o polímero e, portanto,

controlará as propriedades do nanocompósito formado. Portanto, o maior desafio no

desenvolvimento de nanocompósitos poliméricos está em controlar a interface. [200]

Na produção de nanocompósitos poliméricos, entre os métodos para dispersar

nanocargas na matriz polimérica citados no capítulo 2, a mistura em solução (solution

mixing) é uma estratégia aplicada para uma gama de termoplásticos comercialmente

relevantes e envolve a mistura de suspensões coloidais de grafeno ou nanotubos de

carbono com o polímero de interesse previamente dissolvido em outra solução ou através

da dissolução direta deste na suspensão através de simples agitação ou curta sonicação.

[199] A suspensão resultante pode sofrer dois processos: é adicionada a um meio não-

solvente para o polímero e o compósito é precipitado, seco e prensado à quente; ou, após

a mistura, os solventes são removidos do nanocompósito por evaporação. [204-206]

A remoção do solvente residual, muitas vezes, é uma etapa crucial por conta do

risco da reagregação das nanocargas. [206] A dispersão pouco homogênea dos CNTs numa

matriz polimérica, levando à formação de aglomerados, pode ser evitada com a adição de

um surfactante. [202]

3.1.2. Morfologia segregada em nanocompósitos condutores para

impressão 3D

Como a tecnologia para impressão 3D se expandiu, a busca por materiais que

podem ser aplicados na técnica de Modelagem por Fusão e Deposição, a modalidade de

impressão mais utilizada, vem aumentando. Atualmente, filamentos destinados à

impressão 3D constituídos de nanocompósitos poliméricos condutores (CPCs) se

encontram comercialmente disponíveis. [151]

Um melhor desempenho elétrico dos CPCs irá depender, em parte, da presença de

canais condutores contínuos construídos após a incorporação das nanocargas condutoras

no polímero, dando origem aos nanocompósitos poliméricos condutores segregados

(CPCs-s). A presença destas nanocargas na matriz polimérica isolante é capaz de diminuir

Page 95: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

75

sua resistividade original em várias ordens de magnitude quando uma rede condutora se

desenvolve ao longo da mesma (percolação elétrica). [207]

Nos CPCs-s, as cargas condutoras localizam-se principalmente nas interfaces

entre os grânulos do polímero ao invés de se distribuírem aleatoriamente em toda a matriz

(Figura 38). [207] O mecanismo para a formação desta rede condutora baseia-se em uma

matriz polimérica que tenha uma microestrutura na qual as cargas condutoras serão

distribuídas em um grande volume, aumentando substancialmente a eficácia das vias

condutoras em certas concentrações de carga. Esta interessante estrutura fornece um

paradigma eficiente para a formação de uma rede de condução bem estabelecida com

concentração mínima de carga. [181,208]

Figura 38. Formação de canais condutores na matriz polimérica através da inclusão de

nanocargas condutoras (a) versus distribuição randômica de cargas condutoras na matriz

polimérica (b) (adaptada da referência [181]).

Três abordagens principais são comumente desenvolvidas para a preparação dos

CPCs-s. A primeira é a mistura a seco dos grânulos de polímero com as cargas condutoras

e moldagem por compressão ou a mistura de ambos em solução, seguida de secagem

rápida e moldagem por compressão a fim de construir as redes condutoras (Figura 39).

Devido à simplicidade deste método, pois envolve somente mistura e compactação, várias

cargas condutoras (i.e., partículas metálicas, negro de fumo, CNTs e nanoplatelets de

grafeno) podem ser distribuídas nas superfícies externas dos grânulos de polímero antes

da moldagem por compressão. No entanto, os polímeros utilizados para este intuito

devem ter as viscosidades no estado fundido relativamente elevadas para preservar as

redes condutoras segregadas durante a moldagem por compressão e a concentração das

cargas não deve ter valores relativamente elevados (menos que 10 wt.%) devido a

dificuldades de processamento. [151]

Page 96: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

76

A segunda metodologia envolve a dispersão de cargas condutoras dentro do

polímero onde estas ficam retidas dentro do espaço intersticial entre os grânulos de

polímero enquanto o sistema é liofilizado. Esta última técnica apresenta méritos como:

(i) dispersão mais satisfatória das cargas condutoras no meio polimérico em comparação

aos outros métodos; (ii) é ambientalmente amigável e de baixo custo quando somente a

água destilada é usada como solvente; (iii) e não é limitada por parâmetros como a alta

viscosidade do fundido durante a mistura por fusão. [181,207]

A terceira estratégia depende da distribuição seletiva de cargas condutoras nas

interfaces de misturas poliméricas imiscíveis através da mistura por fusão. Entretanto,

formar uma rede condutora segregada estável nas interfaces de blendas poliméricas, por

exemplo, é muito mais difícil do que outras metodologias, pois abrange muitos fatores

influenciadores termodinâmicos e cinéticos. [181,207]

Figura 39. Diagrama esquemático da síntese por mistura dos grânulos de polímero com

as cargas condutoras em solução e moldagem por compressão (adaptada da referência [181]).

Além da metodologia adotada para a dispersão das cargas condutoras na

preparação do CPCs-s, outros fatores devem ser levados em consideração são os relativos

à mesma (razão de aspecto, geometria e condutividade elétrica inerente), à matriz

polimérica (peso molecular, tamanho dos grânulos e aspectos termodinâmicos, i.e. tensão

superficial, cristalinidade) e parâmetros como tempo de mistura, temperatura e pressão

de processamento. [181] Este conjunto de aspectos deve influenciar no ponto crucial do

processamento de um CPCs-s que é o limite de percolação.

Page 97: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

77

3.1.3. Manufatura Aditiva (Impressão 3D)

Embora a tecnologia de impressão em 3D já exista desde os anos 80, quando foi

inventada no Vale do Sílício pelo engenheiro Chuck Hull, recentemente esta tornou-se

mais acessível devido à demanda crescente por produtos multifuncionais que podem ser

obtidos com a produção de novos materiais. [209] A impressão 3D, também conhecida por

Manufatura Aditiva ou Prototipagem Rápida, é aplicada a diversos setores como:

automotivo e indústria de manufatura (peças de reposição, ferramentas de produção,

desenvolvimento de produtos para testes); medicina (modelos anatômicos para cirurgias

complexas, implantes ortopédicos e próteses, cadáveres para ensino, simulação de tecidos

vivos para testes); brinquedos personalizados; itens de decoração; etc. [210]

Define-se como um processo de fabricação de objetos a partir de um modelo

computadorizado sólido tridimensional pela deposição de material camada sobre camada,

sem a necessidade de processos posteriores de corte, geração mínima de resíduos e boa

acurácia geométrica. [163,164]

Atualmente, existem sete modalidades de impressão 3D: Fotopolimerização em

cuba (VP), Jateamento aglutinante (BJ), Jateamento de material (MJ), Modelagem por

fusão e deposição (FDM), Fusão em cama de pó (PBF), Laminação de Folhas (SL) e

Deposição de energia direcionada (DED), apresentadas pela Tabela 5. [151]

O sucesso da impressão 3D depende da escolha dos materiais e as necessidades

de cada aplicação, sendo que os mais utilizados são: os polímeros ABS e PLA, citados

anteriormente; o nylon (poliamida); resinas; metais nobres de fácil processabilidade como

ouro, prata e titânio; cerâmicas; elastômeros; entre outros. Os termoplásticos ABS e PLA

são flexíveis, moldáveis quando aquecidos e solidificam rapidamente ao serem resfriados.

[151,209]

A aplicação de materiais nanocompósitos poliméricos à base de carbono para esta

finalidade tem sido bastante explorada. [151] Como cargas, os CNTs são conhecidos por

suas propriedades mecânicas, elétricas e térmicas, que fazem deles candidatos adequados

para integrar polímeros para a impressão 3D. [209] Como citado no Capítulo 2, filamentos

à base de CNTs e polímeros já são comercializados. Os CNTs de paredes múltiplas

possuem defeitos estruturais que funcionam como pontos de nucleação que permitem

interações fortes com polímeros e funcionalização. [209] No entanto, o ‘familiar’ problema

da agregação dos CNTs pode ser prejudicial ao processo de impressão pela técnica de

modelagem por fusão e deposição, por exemplo, podendo causar bloqueios no bocal da

Page 98: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

78

extrusora e instabilidade na impressão. [151] As investigações acerca da concentração de

CNTs que ultrapassaria o limite de percolação elétrica, mas mantendo os parâmetros para

impressão 3D ainda se encontram em curso.

Em relação ao papel do grafeno como carga de filamentos para impressão 3D,

tudo começou com a companhia canadense Grafoid na produção do MesoGraf a partir do

minério de grafite, a grafita. [151] Foi previsto que o emprego do grafeno na impressão 3D

para melhora da condutividade elétrica e resistência. A companhia 3DLab comercializa

o filamento de grafeno BlackMagic 3D desde 2015. [151] Os problemas no processamento

de filamentos à base de grafeno estão associados com o tamanho dos flakes e sua

dispersão na matriz polimérica. Estudos envolvendo o uso conjunto de mais de uma

nanocarga e explorando suas sinergias, por exemplo CNTs e grafeno, para produção de

filamentos ainda estão em fase inicial. [151]

Tabela 5. Técnicas de impressão 3D e descrições.

Técnica de Impressão 3D Descrição

VP

Um recipiente contém uma resina fotopolimérica líquida que é

curada com uma fonte de luz ultravioleta (UV) em determinados

pontos, que enrijecem e formam a peça desejada.

BJ

A primeira camada de material em pó é espalhada de forma

uniforme dentro de uma câmara e um líquido aglutinante é

aplicado ‘colando’ as partículas do pó na forma desejada. As

camadas vão sendo formadas até que a peça seja finalizada.

MJ

O material é gotejado através de um pequeno bocal, camada a

camada, até formar o objeto que é enrijecido após irradiação

com luz UV.

FDM

Deposição de filamentos de 1,75 mm de diâmetro do polímero

termoplástico aquecido acima de sua temperatura de transição

vítrea (Tg) e extrudado através do bico da impressora sobre uma

plataforma (Figura 40). O diâmetro do bico da impressora define

a resolução do protótipo a ser impresso.

PBF

O laser de alta potência é usado para fundir o polímero em pó

no molde com o formato pretendido. A superfície com o pó é

escaneada para ‘guiar’ onde o laser deve fundir. Após a

impressão da primeira camada, outras vão sendo formadas até a

finalização da peça.

SL

As folhas de polímero em camadas são soldadas juntas através

de uma solda ultrassônica e, em seguida, usinadas na forma de

interesse.

DED

O equipamento possui um braço robótico de múltiplos eixos e

consiste em um bocal que deposita pó metálico ou filamento na

superfície para que seja fundido através de uma fonte de energia

(laser, feixe de elétrons) no formato desejado.

Page 99: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

79

Figura 40. Estrutura (a) e esquema de funcionamento da extrusora de uma impressora 3D

por FDM (b): ejeção do material fundido (1), deposição camada a camada (2), plataforma

móvel (3) (adaptadas das referências [151, 209]).

A técnica de FDM é um processo rápido e de baixo custo. Os objetos a serem

impressos são projetados por computador e construídos através do empilhamento

sucessivo das camadas termoplásticas. [151,164] Além de apresentar vantagens como

facilidade de operação e rapidez na impressão de peças, esta tecnologia é capaz de criar

objetos com geometria não convencional, um dos pontos fortes da técnica, que desafiam

a fundição e técnicas de soldagem tradicionais. [164,209]

Como uma das etapas do processo consiste da extrusão, os polímeros a serem

utilizados devem ter propriedades reológicas e térmicas adequadas para extrudarem e

solidificarem, mantendo a precisão de camadas sucessivas. O emprego de determinado

polímero na FDM é governado por propriedades como temperatura de transição vítrea

(Tg), ponto de fusão (PF), viscosidade em altas temperaturas e tensão de

cisalhamento.[151]

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80

Uma das maiores limitações da impressão 3D, no entanto, é a incapacidade de

produzir peças com as propriedades de material equivalentes àquelas feitas com técnicas

formativas. A impressão 3D também tem a desvantagem da repetibilidade, o que significa

que as peças geralmente terão variações devido ao diferencial de deformação durante a

cura, por exemplo. [164]

Page 101: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

81

3.2. PARTE EXPERIMENTAL

Para a produção dos nanocompósitos foi utilizada uma rota de dispersão assistida

por solvente do Poliálcool vinílico PVOH (G-Polymer, Nippon Gohsei). O polímero foi

diretamente disperso em sistemas de um ou dois solventes contendo 6 wt.% das cargas

previamente esfoliadas (precursores de grafite), conforme descrito a seguir. A etapa de

produção dos nanocompósitos e parte das caracterizações foram desenvolvidas no

laboratório do Instituto de Polímeros, Compósitos e Biomateriais em Nápoles, com a

colaboração do Dr. Marino Lavorgna.

Como cargas foram empregados quatro tipos de grafite para comparação: grafite

nanoplatelets (GE, Time Nano), grafite em flakes (Sigma Aldrich) e grafite em pó

(Nacional do Grafite). O solvente utilizado no sistema monofásico foi o tetrahidrofurano

(THF, Sigma Aldrich), e os solventes do sistema bifásico empregados foram água (H2O

MilliQ) e diclorometano (DCM, Sigma Aldrich) na proporção em volume de 97/3. Em

alguns sistemas foram adicionados os LIs: cloreto de 1-benzil-3-metilimidazólio

(BnzMImCl, Alfa Aesar) e cloreto de 1,3-dibenzilimidazólio, (Bnz)2ImCl, sintetizado em

laboratório como descrito no Capítulo 1.

As esfoliações foram realizadas em ultrassom de banho (Falcs Intruments LBS1-

10, 280 W e 50 kHz) e ponteira (Hielscher UP200S, 200 W e 24 kHz).

3.2.1. Obtenção dos nanocompósitos poliméricos por dispersão assistida

por solvente

Nesta primeira etapa, foram preparados 5 sistemas monofásicos (referenciados

como Mx) compostos pelo solvente THF, a carga e o LI. Em todos eles, foi utilizada uma

massa de 175 mg (6 wt.%) do precursor de grafite que foi disperso em 45 mL de THF.

Foram adicionados 17,5 mg do LI ao sistema, que foi sonicado em ultrassom de banho

(280 W) por 2 horas (sistemas M1 e M2) ou em ultrassom de ponteira (Hieslcher UP200S)

por 12 horas (M3 a M5). A proporção entre precursor e LI utilizada foi de 1:10.

Posteriormente à etapa de esfoliação, o sistema foi colocado no ultrassom de

banho e foram adicionados, cuidadosamente, 2,9 g de PVOH em pó durante 5 min. Após

a adição do polímero, o conjunto ficou sob sonicação por mais 5 minutos (totalizando 10

minutos de ultrassom). A Tabela 6 apresenta a descrição dos nanocompósitos Mx

produzidos.

Page 102: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

82

Tabela 6. Sistemas monofásicos contendo LI para esfoliação do precursor de grafite, tipo

de ultrassom e tempo de sonicação.

Sistema Solvente Precursor LI Ultrassom Tempo (h)

M1 THF GE (Bnz)2ImCl Banho 2

M2 THF GE _ Banho 2

M3 THF Flakes (Bnz)2ImCl Ponteira 12

M4 THF Pó (Bnz)2ImCl Ponteira 12

M5 THF Flakes BnzMImCl Ponteira 12

Também foram preparados 5 sistemas bifásicos (denotados como Bx) para a

esfoliação das cargas, utilizando-se DCM como um dos solventes, apresentados na Tabela

7. Logo após a ultrassonicação, o sistema foi ‘invertido’, removendo-se 47 mL de H2O e

adicionando-se 47mL de DCM. Este foi submetido à centrifugação (5000 rpm por 30

min) e, posteriormente, colocado no ultrassom de banho, onde foram adicionados 2,9 g

de PVOH em pó por 5 min. Após a adição do polímero, o conjunto ficou sob

ultrassonicação por mais 5 minutos.

Tabela 7. Sistemas bifásicos contendo LI para esfoliação do precursor de grafite, tipo de

ultrassom e tempo de sonicação.

Sistema Solventes Precursor LI Ultrassom Tempo (h)

B1 DCM/H2O GE (Bnz)2ImCl Banho 2

B1 DCM/H2O GE _ Banho 2

B3 DCM/H2O Flakes (Bnz)2ImCl Banho 10

B4 DCM/H2O Pó (Bnz)2ImCl Banho 10

B5 DCM/H2O Flakes BnzMImCl Ponteira 12

A etapa de inversão do sistema bifásico, com maior concentração do solvente

orgânico em relação à água, foi adotada para evitar a solubilização do polímero na

dispersão e promover um envoltório (wrapping) dos flakes de grafeno esfoliados em torno

dos grânulos de polímero.

Para todos os sistemas, monofásico e bifásico, foi feito o casting dos materiais

produzidos em placa de Petri e o solvente foi removido por evaporação. Posteriormente,

os materiais foram colocados em estufa à vácuo (60 ºC) por 48 horas.

Page 103: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

83

Para as medidas de condutividades elétrica e térmica e Espectrometria Raman,

foram produzidas ‘máscaras’ dos nanocompósitos obtidos através da prensagem dos

materiais secos a 200°C e pressão de 100 bar, que foi aplicada por 10 minutos. Em

seguida, as mesmas foram resfriadas à temperatura ambiente à taxa de 15 ºC min-1. As

máscaras têm o formato de um disco de 5 cm de diâmetro e 1 mm de espessura.

3.2.2. Caracterização dos nanocompósitos poliméricos obtidos

3.2.2.1. Microscopia Óptica

As imagens de microscopia óptica foram realizadas através de um Microscópio

Óptico Olympus BMX51 com luz refletida. As imagens foram feitas utilizando

magnificação de 10x, 20x e 50x em campo claro e luz polarizada.

3.2.2.2. Microscopia Eletrônica de Varredura (SEM)

Amostras criofraturadas foram analisadas através de um microscópio eletrônico

de varredura Hitachi S-4300, cujos parâmetros foram 3K de magnificação e voltagem de

10 kV.

3.2.2.3. Espectroscopia Raman

As análises de Espectroscopia Raman foram conduzidas em um espectrômetro

Raman (Witec Alpha 300R), lentes de 50x, grading de 600 g/mm e linha de excitação de

532 nm (laser verde). Um substrato de silício foi usado para calibrar o espectrômetro.

3.2.2.4. Condutividade Elétrica

As medidas foram conduzidas em um Picoammeter (Keithley 2400, Keithley

Instruments Inc, USA). As laterais das amostras foram previamente cobertas com tinta de

prata. Os valores de resistência (R) foram medidos em Ω e a condutividade elétrica foi

calculada usando a Equação 3, apresentada em 2.2.2.1.

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84

3.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.3.1. Caracterização morfológica, estrutural e medidas de

condutividade elétrica dos nanocompósitos poliméricos

A morfologia dos nanocompósitos obtidos através da síntese dos sistemas

monofásicos (Figura 41) e bifásicos (Figuras 42) foi avaliada pela técnica de SEM.

Comparando-se as imagens da Figura 41 a e b, é possível notar a diferença devido

à presença do LI no nanocompósito polimérico. Na amostra que contém o LI (Figura 41

a), verificou-se uma superfície mais lisa, recoberta e com ausência de buracos, indicando

que a presença do LI melhorou a interação entre a carga e a matriz. As outras amostras

apresentaram menos regiões de aglomerados de cargas e ausência de buracos na matriz

polimérica (Figura 41 c, d, e) em relação àquela que não continha o LI, demonstrando

que a preparação dos nanocompósitos foi eficiente.

Em relação aos sistemas bifásicos, notou-se a presença de alguns aglomerados de

cargas na matriz (Figura 42 a-e). Comparando-se as amostras formadas a partir do mesmo

precursor de grafite (flakes) e LIs diferentes (Figuras 41 c e 42 e), verifica-se que as cargas

se mostraram menos aglomeradas na matriz no sistema que continha o (Bnz)2ImCl.

Figura 41. Imagens de SEM dos filmes obtidos dos sistemas dispersos em THF. M1: GE

e (Bnz)2ImCl (a); M2: GE sem líquido iônico (b); M3: grafite flakes e (Bnz)2ImCl (c);

M4: grafite em pó e (Bnz)2ImCl (d); e M5: grafite flakes e BnzMImCl (e) (barra de escala

= 100 µm).

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85

Figura 42. Imagens de SEM dos filmes obtidos dos sistemas dispersos em água/ DCM

por 2 horas. B1: GE e (Bnz)2ImCl (a); B2: GE sem líquido iônico (b); B3: grafite flakes

e (Bnz)2ImCl (c); B4: grafite em pó e (Bnz)2ImCl (d); e B5: grafite flakes e BnzMImCl

(e) (barra de escala = 100 µm).

Também foram avaliadas por microscopia óptica as amostras de mesmo precursor

e LI, grafite em pó e (Bnz)2ImCl (Figura 43), e grafite flakes e BnzMImCl (Figura 44).

Figura 43. Imagens de microscopia óptica dos filmes obtidos dos sistemas contendo

grafite em pó e (Bnz)2ImCl dispersos em: THF (M4), com magnificação de 10x (a) e de

20x (b); e água/DCM (B4), com magnificação de 10x (c), 20x (d) e 50x (e).

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86

Figura 44. Imagens de microscopia óptica dos filmes obtidos dos sistemas contendo

grafite em flakes e BnzMImCl dispersos em: THF (M5), com magnificação de 10x (a) e

20x (b); e água/DCM (B5), com magnificação de 10x (c) e 20x (d).

A Figura 45 apresenta os espectros Raman obtidos para alguns nanocompósitos

obtidos. O espectro Raman do PVOH revela bandas associadas à presença de grupo

hidroxila, com intensidade pronunciada próximo à 3000 cm-1 e de menores intensidades

em 1148 cm-1. [211] Notou-se que para os sistemas monofásicos (Figura 45 I), que foram

preparados a partir do mesmo precursor e LIs diferentes, o nanocompósito M3 apresentou

uma banda D mais intensa (em 1356 cm-1) que o M5, indicando maior quantidade de

defeitos e menor qualidade estrutural. Para esta amostra, as razões ID/IG e I2D/IG

resultantes foram de 0,12 e 0,23, mostrando que o material ainda apresentava

características de grafite e não estava bem esfoliado. A amostra M5 apresentou razões

ID/IG e I2D/IG de 0,08 e 0,20, respectivamente.

Em relação aos nanocompósitos B3 e B5 obtidos em sistema bifásico contendo

grafite em flakes como precursor e diferentes LIs (Figura 45 II), a amostra B3 apresentou

intensidades de bandas D e 2D maiores (em 1354 e 2722 cm-1, respectivamente),

indicando que houve um aumento na quantidade de defeitos estruturais com o uso do

(Bnz)2Im(Benz). As razões ID/IG e I2D/IG apresentadas foram de 0,10 e 0,23 para o sistema

Page 107: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

87

B3 e de 0,09 e 0,22 para o sistema B5. As bandas 2D, para ambas amostras (em 2722 e

2717 cm-1), apresentaram, no entanto, baixa intensidade e características de grafite.

Comparando-se os sistemas monofásico e bifásico partindo-se do precursor grafite

em pó e usando o (Bnz)2Im(Benz) na obtenção das amostras M4 e B4, foi possível notar

que o uso do sistema bifásico foi mais eficiente, pois gerou um material com maior

qualidade estrutural e mais esfoliado (razões de ID/IG e I2D/IG de 0,13 e 0,37,

respectivamente, para a amostra B4) que o produzido pelo sistema monofásico (razões de

ID/IG e I2D/IG de 0,26 e 0,24, respectivamente, para a amostra M4) (Figura 46).

Figura 45. Espectros Raman do PVOH (I), e dos nanocompósitos obtidos em sistemas

monofásicos utilizando o grafite em flakes (II) e os líquidos iônicos (Bnz)2ImCl (M3) e

BnzMImCl (M5); e em sistemas bifásicos, utilizando o grafite em flakes e os líquidos

iônicos (Bnz)2Im(Benz) (B3) e BnzMImCl (B5) (III).

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88

Figura 46. Espectros Raman dos nanocompósitos obtidos em sistemas monofásico (M4)

e bifásico (B4) utilizando o grafite em pó e (Bnz)2ImCl.

Os resultados das medidas de condutividade elétrica para estes nanocompósitos são

mostrados na Figura 47. De acordo com os valores obtidos, observa-se que os

nanocompósitos podem atingir valores de até 1,9.10-2

S m-1. Em termos de LIs, os

materiais nanocompósitos com (Bnz)2ImCl apresentaram valores de condutividade

elétrica maiores que materiais preparados com o mesmo precursor de grafite e com o

BnzMImCl. De uma forma geral, os nanocompósitos preparados a partir do sistema

bifásico também mostraram valores de condutividade elétrica melhores do que os

roduzidos pelo sistema monofásico.

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89

Figura 47. Condutividade elétrica para os nanocompósitos poliméricos obtidos por

esfoliação do grafite em sistemas líquidos monofásico (Mx) e bifásico (Bx) com

diferentes precursores de grafite e LIs.

3.4. CONCLUSÕES

O método de dispersão assistida por solvente no qual o polímero PVOH não é

solúvel que foi utilizado para a dispersão/esfoliação da carga à base de carbono mostrou-

se uma abordagem eficiente para obter nanocompósitos com boas condutividades

elétricas. Usando-se sistemas monofásicos e bifásicos contendo diferentes LIs como meio

para esfoliação de precursores de grafite (grafite nanoplatelets, grafite em flakes e o

grafite em pó) com concentração de 6 wt.%, verificou-se que os nanocompósitos obtidos

com o sistema bifásico apresentaram maiores valores de condutividades elétricas, em

consequência da melhor distribuição da carga na matriz polimérica e boa interação das

cargas com o polímero. A adição de LI aos sistemas mostrou-se eficiente contra a

reagregação de cargas na matriz polimérica.

Page 110: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

90

CONCLUSÃO DA TESE

A combinação do método de esfoliação líquida do grafite na presença de líquido

iônico (otimizado no Capítulo 1) e baixa concentração de cargas (6% wt., avaliada no

Capítulo 2) mostrou que é possível a produção de nanocompósitos polímero-grafeno

condutores com boa qualidade estrutural, significativos valores de condutividade elétrica

e adequados à aplicação na Impressão 3D.

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91

APÊNDICE A

Para a determinação da pureza dos LIs, foram coletados os espectros de NMR 1H

(equipamento Bruker AIII 300 MHz) do (Bnz)2Im(Benz) (Figura A1a) e (Bnz)2Im(Naf)

(Figura A1b) a 25°C. As amostras foram diluídas em capilar de vidro com o solvente

clorofórmio deuterado como solvente.

Fig A1. Espectros de NMR 1H do (Bnz)2Im(Benz) (a) e (Bnz)2Im(Naf) (b) a 25°C.

Page 112: ANNA PAULA GODOY UTILIZAÇÃO DE LÍQUIDOS IÔNICOS NA

92

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