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ANÁLISE COMPARATIVA DE PERDAS DE SOLO POR
EROSÃO LAMINAR ENTRE BACIAS HIDROGRÁFICAS
LOCALIZADAS NA UGRHI 22 – PONTAL DO
PARANAPANEMA/SP
Nayara Rodrigues da Silva (a), Isabel Cristina Moroz Caccia Gouveia (b)
(a) Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia / Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade
Estadual Paulista (UNESP);
Email: [email protected] (b) Profª Draª do Departamento de Geografia e Programa de Pós-Graduação em Geografia / Faculdade de
Ciências e Tecnologia (FCT), Universidade Estadual Paulista (UNESP);
Email: [email protected]
Eixo: solos, paisagens e degradação
Resumo
O presente trabalho visa apresentar uma metodologia para estimativa de produção e exportação de
sedimentos. Assim, comparar os resultados entre duas bacias hidrográficas, pertencentes à UGRHI
(Unidade de Gerenciamento de Recursos HÍDRICOS) 22 - Pontal do Paranapanema, no extremo
oeste do Estado de São Paulo, utilizando a ferramenta computacional InVEST (Integrated Valuation
of Environmental Services and Tradeoffs), baseada na Equação Universal de Perdas de Solo
(EUPS), integrando informações sobre relevo, precipitação, padrões de uso da terra e propriedades
do solo. Este trabalho apresenta alguns dos resultados parciais do Projeto “Mapeamento do
Agrohidronegócio Canavieiro no Pontal do Paranapanema.", do Coletivo de Pesquisadores CETAS
(Centro de Estudos do Trabalho, Ambiente e Saúde), projeto temático financiado pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), processo: 2012/23959-9.
Palavras chave: USLE (Equação Universal de Perdas de Solos); Erosão de Solos;
Pontal do Paranapanema.
1. Introdução
O presente artigo apresenta resultados do projeto desenvolvido pelo Coletivo
CETAS (Centro de Estudos do Trabalho, Ambiente e Saúde) de Pesquisadores, no qual
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são estudados diferentes temas no contexto do Pontal do Paranapanema, localizado no
extremo oeste do Estado de São Paulo. O projeto temático que vem sendo desenvolvido
pelo coletivo de pesquisadores (alunos de graduação, pós-graduação e professores de
diferentes universidades) intitula-se: "Mapeamento e Análise do Território do
Agrohidronegócio Canavieiro no Pontal do Paranapanema-São Paulo-Brasil: Relações
de trabalho, conflitos e formas de uso da terra e da água, e a saúde ambiental" (projeto
temático FAPESP – processo: 2012/23959-9).
Como o próprio nome já sugere os estudos são voltados a diferentes temáticas,
porém o presente artigo visa estimar taxas e suscetibilidade de perda de solos por erosão
laminar, para assim comparar os resultados entre duas Unidades de Planejamento Hídrico
(UPHs) que estão inseridas na Unidade de Gestão dos Recursos Hídricos Pontal do
Paranapanema (UGRHI–22), sendo elas: a UPH Baixo Paranapanema Margem Direita
(M.D) e a UPH Santo Anastácio.
A escolha delas deve-se ao fato de ambas possuírem extensões territoriais
semelhantes. Ao identificar o grau de perdas de solo e áreas mais problemáticas, é
possível desenvolver estratégias para diminuir tais processos erosivos.
1.1. Apresentação da área de estudo
A Unidade de Gerenciamento de Recursos Hidrícos 22 (UGRHI – 22), representada
pelo Comitê da Bacia Hidrográfica Pontal do Paranapenama (CBH – PP), possuí área de
drenagem total de 12.395 Km², sendo os princiapais rios: Rio Santo Anastácio e afluentes, Rio
Paranapanema e afluentes e Rio Paraná e afluente (SIGRH, 2008). Abaixo segue a Figura 1
(Mapa de localização da área de estudo).
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Figura 1: Mapa de localização da área de estudo
A UGRHI 22 abrange aos seguintes municipios: Álvares Machado, Anhumas, Caiuá,
Estrela do Norte, Euclides da Cunha Paulista, Iepê, Indiana, Marabá Paulista, Martinópolis,
Mirante do Paranapanema, Nantes, Narandiba, Piquerobi, Pirapozinho, Presidente Bernardes,
Presidente Epitácio, Presidente Prudente, Presidente Venceslau, Rancharia, Regente Feijó,
Rosana, Sandovalina, Santo Anastácio, Taciba, Tarabaí, Teodoro Sampaio.
A área correspondente a UGRHI 22 - Pontal do Paranapanema, está inserida na
unidade morfoestrutural Bacia Sedimentar do Paraná e na unidade morfoescultural o Planalto
Ocidental Paulista, nas sub-unidades morfoesculturais do Planalto Centro Ocidental com topos
tabulares e com topos convexos. Também possui como unidades sedimentares Cenozóicas,
representadas pela unidade morfoescultural planícies fluviais e sub-unidades planícies e
pequenos terraços fluviais (MOROZ-CACCIA GOUVEIA et al, 2014).
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2. Materiais e Métodos
Para a estimativa de perdas de solo anual foi utilizado o módulo SDR (Sediment
Delivery Radio) da ferramenta InVEST (Integrated Valuation of Environmental Services and
Tradeoffs) de Tallis et al (2011), a partir da aplicação da EUPS - Equação Universal de Perda
de Solos proposta por Wischmeier e Smith (1976). A EUPS é um modelo paramétrico de
formulação empírica que se utiliza de procedimentos de inferência estatística, buscando
determinar estimativas de erosão por meio de suas causas e efeitos. Considerando os parâmetros
naturais como clima (R), solo (K) e topografia (L e S) e fatores antrópicos como o uso e
ocupação do solo (C) e as práticas conservacionistas (P) (MEDEIROS, 2016).
A estimativa da perda média anual de solo é obtida por meio de seis fatores
correlacionados:
A = R K LS C P
Onde, A é a perda de solo média (t ha-1 ·ano-1); R é o fator de erosividade da
precipitação (MJ·mm ha-1h- 1ano-1); K é a erodibilidade do solo (t.ha.h/ha.MJ.mm); LS é o
fator topográfico considerando o comprimento da rampa (L) e o grau do declive (S); C é o
manejo do solo e cobertura vegetal; e, P são as medidas de conservação do solo. (MOROZ-
CACCIA GOUVEIA et al, 2017).
Para a aplicação da estimativa de perdas de solo foram utilizados mapas e dados
morfométricos intermediários, como: MDE (Modelo Digital de Elevação) obtido do Projeto
TOPODATA (Banco de dados geomorfométicos do Brasil:
http://www.dsr.inpe.br/topodata/acesso.php); dados de erosividade obtidos através do
programa NetErosividade SP (GPRH/UFV–IAC: http://www.gprh.ufv.br/?area=softwares);
Mapa Pedológico do Estado de São Paulo (OLIVEIRA et al, 1999) e Mapa de Uso e Cobertura
da Terra da UGRH Paranapanema (ANA/CBH-Paranapanema, 2016). Todos os dados e mapas
foram organizados em formatos shapefiles, raster e tabelas (CSV) para serem utilizados no
InVest. O SIG (Sistema de Informação Geográfica) utilizado para a elaboração dos produtos
cartográficos foi o ArcGis 10.1 (MOROZ-CACCIA GOUVEIA, 2017).
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3. Resultados e Discussões
Embora haja limitações no uso da Equação Universal de Perda de Solo, o modelo
possibilitou a espacialização de classes de perdas de solos com indicações de áreas consideradas
mais ou menos suscetíveis aos processos erosivos laminares. As Figuras 1 e 2 apresentam os
mapas de suscetibilidade de perda de solos por erosão laminar das duas UPHs estudadas.
Figura 2: Mapa de estimativa de perda de solos UPH Baixo Paranapanema M.D
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Figura 3: Mapa de estimativa de perda de solos Bacia hidrográfica Santo Anastácio
Os tipos de solos presentes nas UPHs são Latossolos Vermelhos e Argissolos
Vermelhos (ANA, 2016).
Em relação ao uso e cobertura da terra ambas UPHs possuem predominantemente
pastagens e cultivo de cana, porém a UPH Baixo Paranapanema M.D possui uma grande área
florestal (a Unidade de Conservação Parque Estadual Morro do Diabo) e em contra ponto a
UPH Santo Anastácio apresenta uma maior expressão espacial de área urbana (ANA, 2016).
Ao analisar os mapas de estimativa de perdas dos solos nas áreas estudadas foi possível
identificar os seguintes resultados, expressos nos gráficos 1 e 2.
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Gráfico 1: Estimativa de perdas de solos na UPH Baixo Paranapanema M.D.
Gráfico 2: Estimativa de perdas de solos na UPH do Santo Anastácio
Os resultados demonstram que a UPH Baixo Paranapanema M.D apresenta
predominantemente graus de suscetibilidade de perdas de solo muito baixo, baixo e médio.
Pode-se associar esse resultado à presença do Parque Estadual Morro do Diabo, que ocupa cerca
de 15% da UPH.
De acordo com o relatório da ANA (2016), a UPH Baixo Paranapanema M.D possui
cerca de 1,5% de área urbanizada; 6,6% de área campestre; 19,2% de vegetação florestal; 52%
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de pastagens; 13% de cultivo de cana e o restante (7,7%) com outras culturas temporárias e/ou
permanentes. Por sua vez, a UPH Santo Anastácio apresenta graus de suscetibilidade de perdas
de solo médio, alto e muito alto. Possui cerca de 4% de área urbanizada; 7,0% de vegetação
campestre; 1,5% de vegetação florestal; 73% de pastagens; 11% de cultivo de cana e o restante
(2,5%) com outras culturas temporárias e/ou permanentes.
Em relação a estimativa exportação de sedimentos, obteve-se os seguintes resultados,
conforme pode ser observado nos mapas das figuras 4 e 5 e nos gráficos 3 e 4.
Figura 3: Mapa de estimativa de exportação de sedimentos na UPH Baixo Paranapanema M.D
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Figura 4: Mapa de estimativa de exportação de sedimentos na UPH Santo Anastácio
O processo de erosão laminar é causado pelo escoamento em lençol (GUERRA &
GUERRA, 2008). Dessa forma, porções das camadas superficiais do solo são levadas e
depositadas ao longo dos canais fluviais, aumentando assim os processos de assoreamento dos
rios e córregos. Conforme observamos nos mapas (figura 4 e 5), nota-se que as áreas com
maiores estimativas de exportação de solos encontram-se próximas aos canais fluviais, o que
indica que tais sedimentos podem ser levados aos canais fluviais, intensificando os processos
de assoreamento, conforme já mencionamos. Nos gráficos 3 e 4, são apresentadas as estimativas
de exportação de sedimentos por UPH.
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Gráfico 3: Estimativa de exportação de sedimentos na UPH Baixo Paranapanema M.D
Gráfico 4: Estimativa de exportação de sedimentos na UPH Santo Anastácio
A partir dos gráficos é possível dimensionar a quantidade de sedimentos exportados.
Novamente observa-se que a UPH Baixo Paranapanema M.D se apresenta com baixos níveis
de exportação de sedimento, em função da presença expressiva de vegetação florestal
remanescente que a área possui, apresentando assim poucas áreas com taxas de exportação
muito forte e forte.
Já a UPH Santo Anastácio apresenta taxas mais elevadas de exportação de sedimentos,
em função dos tipos de uso e cobertura do solo, como já foi apresentado.
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4. Considerações Finais
Ao comparar os resultados entre as duas UPHs, fica claro que a UPH Baixo
Paranapanema M.D é menos suscetível a perda de solo devido à presença da Unidade de
Conversação Parque Estadual Morro do Diabo, enquanto que a UPH Santo Anastácio é mais
suscetível, em razão da predominância de usos como pastagens, áreas urbanizadas e
monoculturas, e também devido a baixa concentração de vegetação nativa (áreas florestadas).
Como resultado, temos para a UPH Santo Anastácio um cenário bem preocupante para
as futuras gerações, tais como a intensificação dos processos de erosão laminar que podem gerar
assoreamentos dos canais fluviais e a perda de nutrientes do solo (que seria a camada mais
afetada o horizonte O). Com isso, temos o comprometimento do abastecimento hídrico já que
o alto curso do Rio Santo Anastácio é o manancial que abastece parte da cidade de Presidente
Prudente, importante polo regional do interior do estado de São Paulo. Além do mais, as perdas
de solo comprometem o cultivo de múltiplas culturas para o abastecimento alimentar.
A pesquisa evidenciou a importância da Unidade de Conservação Parque Estadual
Morro do Diabo no equilíbrio da UPH Baixo Paranapanema M.D, assegurando que os níveis
de perdas de solo e estimativa de exportação se mantenham baixos, porém vem sendo discutido
ao longo dos últimos anos, no âmbito do governo do Estado de São Paulo, a concessão de
unidades de conservação à iniciativa privada. Logo tais empresas poderão explorar essas
unidades sem a devida preocupação. Esperamos que não haja a consolidação de tais iniciativas
que podem colocar em risco a dinâmica natural de áreas protegidas.
Por fim, a metodologia adotada permitiu concluir que embora haja limitações no uso da
Equação Universal de Perda de Solo, o modelo possibilitou a espacialização de classes de
perdas de solos com indicações de áreas consideradas mais ou menos suscetíveis aos processos
erosivos laminares.
Agradecimentos
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À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo apoio financeiro
concedido (Projeto Temático - Processo: 2012/23959-9).
5. Referências Bibliográficas
ANA (Agência Nacional de Águas) Nota Técnica 1: Diagnóstico Físico, Biótico e
Socioeconômico, Brasília, 2014. Disponível em:
http://paranapanema.org/plano/admin/upload/documento/64.pdf
ANA (Agência Nacional de Águas) Plano Integrado de Recursos Hídricos da Unidade de
Gestão de Recursos Hídricos Paranapanema, Brasília, 2016. Disponível em:
http://paranapanema.org/file/pirh/PIRH_final.zip.
GUERRA, A. J. T. & GUERRA, A. T. Novo Dicionário Geológico – Geomorfológico.
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MEDEIROS, G. O. R. Diagnóstico da erosão e expansão da cultura da cana-de-açúcar no
Estado de São Paulo. São José dos Campos: INPE, 2016.
MOROZ-CACCIA GOUVEIA, I. C. et al. Contribuição ao planejamento de Recursos Hídricos
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MOROZ-CACCIA GOUVEIA. Estimativas de produção e exportação de sedimentos na Bacia
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2018, Crato. Anais do XII SINAGEO. Crato, 2018.
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SIGRH (Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo.
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