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Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Ana Caroline Guimarães Tenório setembro de 2016 Impacto do registro de saúde eletrônico na qualidade assistencial no contexto dos cuidados de saúde primários Ana Caroline Guimarães Tenório Impacto do registro de saúde eletrônico na qualidade assistencial no contexto dos cuidados de saúde primários UMinho|2016

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Universidade do MinhoEscola de Economia e Gestão

Ana Caroline Guimarães Tenório

setembro de 2016

Impacto do registro de saúde eletrônico na qualidade assistencial no contexto dos cuidados de saúde primários

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Ana Caroline Guimarães Tenório

setembro de 2016

Impacto do registro de saúde eletrônico na qualidade assistencial no contexto dos cuidados de saúde primários

Trabalho efetuado sob a orientação daProfessora Doutora Sílvia Maria Vale Mendes Camões

Dissertação de MestradoMestrado em Administração Pública

Universidade do MinhoEscola de Economia e Gestão

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DECLARAÇÃO

Nome: Ana Caroline Guimarães Tenório Endereço eletrônico: [email protected] Número do passaporte: SB077104 Título da dissertação: Impacto do registro de saúde eletrônico na qualidade assistencial no contexto dos cuidados de saúde

primários

Orientadora: Professora Doutora Sílvia Maria Vale Mendes Camões Ano de conclusão: 2016 Designação do Mestrado: Mestrado em Administração Pública

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO PARCIAL DESTA DISSERTAÇÃO (COM EXCEÇÃO DOS SEUS ANEXOS)

APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO,

QUE A TAL SE COMPROMETE.

Universidade do Minho, __ de ___________ de 2016 Assinatura: ________________________________________

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iii

AGRADECIMENTOS

A DEUS que todos os dias cuida e reserva a mim o dom da vida, e sem a presença Dele junto a mim, eu jamais teria alcançado esta grande vitória.

Aos meus Pais que sempre acreditaram que a maior riqueza que se pode deixar para um filho é

a educação. Obrigada pelo incentivo, força e presença mesmo do outro lado do oceano. Às minhas irmãs pelas palavras de apoio e por “sonharem juntas” o mesmo sonho, esta

conquista também é de vocês. Ao meu marido Júlio César, que esteve todos esses meses ao meu lado, foi o grande

incentivador e procura realizar todos os meus sonhos, e este é um deles! Companheiro incansável, paciente, ao meu lado sem me deixar esmorecer. Só os que amam de verdade tem a grandeza de crescer e querer que o seu companheiro cresça também, e foi o que você fez. Obrigada amor, por querer caminhar junto comigo. Não foi fácil, mas conseguimos!

Ao meu filho Júlio César Filho, presente de Deus, portou-se muito bem, durante todo o tempo,

essa é a primeira conquista profissional da mamãe depois da sua chegada, e também muito desejada por ela.

À Professora Doutora Sílvia Maria Vale Mendes Camões, por ter aceito orientar esta dissertação.

Profissionalismo impecável, paciência, ensinamentos e orientação firme e segura durante o desenvolvimento desta dissertação. Saber que não se está sozinho e que alguém acredita em nós e “aposta” connosco, e em momentos difíceis está do nosso lado, é difícil esquecer. Obrigada!

Aos amigos Portugueses e Brasileiros que, direta e indiretamente, contribuíram com esta

dissertação. Em especial à amiga Ana Bártolo pelo carinho, atenção e compreensão em todo o decorrer da dissertação.

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iv

IMPACTO DO REGISTRO DE SAÚDE ELETRÔNICO NA QUALIDADE ASSISTENCIAL NO

CONTEXTO DOS CUIDADOS DE SAÚDE PRIMÁRIOS

RESUMO

A sociedade busca cada vez mais a igualdade, equidade, acessibilidade, efetividade e eficiência na atenção às populações e, nesse sentido, a prestação de serviços de saúde se apresenta como necessidade básica e não tolera níveis insuficientes. A elevação dos níveis de qualidade passa, também, pelo uso adequado e consciente da tecnologia disponível, nomeadamente no que se refere à integração e gestão das informações e registros relativos às condições de saúde dos pacientes. Assim, o Plano para a Transformação dos Sistemas de Informação Integrados da Saúde (PTSIIS), liderado pela Administração Central do Serviço de Saúde (ACSS) estabeleceu, como prioridade da modernização da Administração Pública, o desenvolvimento/melhoramento do Registro de Saúde Eletrônico (RSE) e a sua implementação efetiva em Portugal. No entanto, o processo de implementação é moroso e nem sempre percebido como eficiente.

O presente estudo estabeleceu como principal objetivo avaliar o impacto do RSE sobre a qualidade assistencial, no contexto dos cuidados de saúde primários, na perceção dos profissionais de saúde das Unidades de Saúde Familiares (USFs). A amostra incluiu 35 prestadores de cuidados de saúde primários entre médicos, enfermeiros e técnicos superiores de saúde vinculados à USFs que integram os Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) de Braga e de Maia/Valongo. A recolha foi efetuada através de um questionário eletrônico disponibilizado nas redes sociais, nomeadamente em grupos do Facebook, e através de e-mail.

Os resultados do estudo mostram que o RSE faz cada vez mais parte do cotidiano dos profissionais de saúde. Sendo entendido como uma ferramenta que reforça a proteção/segurança da informação clínica, promove a normalização das nomenclaturas e se torna vantajosa do ponto de vista dos custos financeiros, sobretudo na fase de manutenção. Para utilizadores mais experientes, o RSE é entendido, também, como um facilitador para a mobilidade internacional do utente. No entanto, na partilha de informação entre profissionais, o suporte em papel continua a ser o meio privilegiado limitando, assim, o alcance de uma desmaterialização completa dos processos.

Em suma, apesar do reconhecimento de algumas vantagens do RSE sobre a qualidade do atendimento ao utente, fatores como a falta de informação e suporte contínuo no manuseamento das funcionalidades do registro, a resistência dos profissionais e a ausência de unificação nos registros da rede pública e da rede privada ameaçam uma implementação eficaz e que beneficie diretamente a qualidade assistencial. PALAVRAS-CHAVE: registro de saúde eletrônico, qualidade assistencial, cuidados primários, sistemas de informação.

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v

IMPACT OF THE ELECTRONIC HEALTH RECORD ON QUALITY OF CARE IN PRIMARY

HEALTHCARE CONTEXT

ABSTRACT

Today´s society continuously seeks to promote equality, equity, accessibility, effectiveness, and efficiency among its citizens. In this sense, the provision of health services is considered a basic need and does not tolerate inadequate levels. An important step for improving quality is the use of available technology, in particular with regard to the integration and management of records and other information relating to patients´ health conditions. Thus, the Plan for the Transformation of the Health Integrated Information Systems, led by the Central Administration of Health Services, identified as a priority, in the modernization of public administration, the development / improvement of electronic health record and its effective implementation in Portugal. However, the implementation process is time consuming and not always perceived as efficient.

In this study, we aim to explore the impact of the electronic health records on the quality of care based on the perception of health professionals of the Family Health Units. The sample included 35 participants, namely doctors, nurses and technicians, who worked in the Family Health Units of Groupings Centers of the Health of Braga and Maia/Valongo, for example. The collection was performed through an electronic questionnaire available on social networks, particularly in Facebook groups, and through email.

Our results showed that electronic health record is present in routine of the health professionals and increase the security of clinical information, promotes the normalization of nomenclatures and does not increase the financial costs, especially in the maintenance phase. For more experienced users, electronic recording is also understood as a facilitator for the international mobility of patients. However, with respect to sharing of information among professionals, hard copy records remain the privileged means and a complete dematerialization of processes has not yet been made possible.

In summary, despite the recognition of certain benefits of keeping electronic records on the quality of care to the patient, some gaps in the implementation were identified as a lack of training and ongoing support in the handling of the record functionalities, a resistance of professionals and a lack of unification between public services and private services.

KEYWORDS: health electronic record, quality of care, healthcare primary, information systems.

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vi

ÍNDICE

AGRADECIMENTOS .......................................................................................................... iii

RESUMO .......................................................................................................................... iv

ABSTRACT ........................................................................................................................ v

LISTA DE QUADROS ....................................................................................................... viii

LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... ix

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ x

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................. xi

1. Introdução .................................................................................................................... 1

1.1. Contextualização ............................................................................................... 2

2. Revisão de literatura ..................................................................................................... 5

2.1. Sistemas e Tecnologias de Informação .................................................................. 5 2.1.1. Dados, Informação e Conhecimento ................................................................................. 5 2.1.2. Tecnologias de Informação (SI) ........................................................................................ 7 2.1.3. Sistemas de Informação (SI) ............................................................................................ 9

2.2. Utilização dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) ...................................... 11 2.2.1. Objetivos e Importância dos Sistemas de Informação em Saúde ..................................... 11 2.2.2. Implementação e Evolução dos Sistemas de Informação em Saúde ................................ 12 2.2.3. Avaliação da Qualidade dos Sistemas de Informação em Saúde ...................................... 14

2.3. Registro de Saúde Eletrônico (RSE) .................................................................... 15 2.3.1. Origem do Registro de Saúde Eletrônico ......................................................................... 15 2.3.2. Caracterização e Funcionalidades do Registro de Saúde Eletrônico ................................. 17 2.3.3. Registro Papel vs Registro Eletrônico – Barreiras à Informatização .................................. 19 2.3.4. A introdução do Registro de Saúde Eletrônico em Portugal ............................................. 21

3. Enquadramento empírico ........................................................................................... 23

3.1. Research Design ................................................................................................. 24

3.2. População-Alvo ................................................................................................... 25

3.3. Métodos de Recolha de Dados ............................................................................ 27 3.3.1. Questionário .................................................................................................................. 27

3.4. Procedimentos e Tratamento de Dados ............................................................... 28

4. Resultados ................................................................................................................. 30

4.1. Análise Quantitativa ............................................................................................ 30 4.1.1. Caracterização da Prestação de Serviços ........................................................................ 30 4.1.2. Operacionalidade do Registro de Saúde Eletrônico .......................................................... 31 4.1.3. Avaliação do impacto RSE sobre a qualidade assistencial ............................................... 31

4.1.3.1. Perceção dos Profissionais de Saúde – Contribuições e Limitações ......................... 31 4.1.3.2. Diferenças na avaliação de médicos e enfermeiros de cuidados primários ............... 33 4.1.3.3. Associação entre a frequência de utilização do RSE e a avaliação do seu impacto sobre a qualidade assistencial .............................................................................................. 35

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4.2. Análise Qualitativa .............................................................................................. 35

5. Discussão dos resultados ........................................................................................... 38

6. Conclusão .................................................................................................................. 41

6.1. Contributos do Estudo ......................................................................................... 42

6.2. Limitações do Estudo .......................................................................................... 43

6.3 Sugestões para Estudos Futuros .......................................................................... 43

7. Referências bibliográficas ......................................................................................... 45

APÊNDICE A. CONSENTIMENTO INFORMADO ............................................................... 53

APÊNDICE B. QUESTIONÁRIO ........................................................................................ 55

APÊNDICE C. TRANSCRIÇÃO DAS OBSERVAÇÕES DOS RESPONDENTES ...................... 60

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Tipos de Dados .................................................................................................................. 5

Quadro 2- As seis componentes de um SI ......................................................................................... 10

Quadro 3- Padrões de representação da informação no RSE ............................................................. 19

Quadro 4- Pontos fortes e fracos da utilização do registo de saúde eletrônico vs registro em papel..... 19

Quadro 5- Comparação entre a pesquisa qualitativa e quantitativa .................................................... 24

Quadro 6- Grupos do Facebook que divulgaram o estudo .................................................................. 26

Quadro 7- Observações dos Respondentes: Categorização ................................................................ 37

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica da amostra. ................................................................... 26

Tabela 2. Caracterização do serviço prestado. ................................................................................... 30

Tabela 3. Perceção da Operacionalidade do Sistema. ........................................................................ 31

Tabela 4. Perceção do impacto do RSE na qualidade assistencial para amostra total. ........................ 32

Tabela 5. Diferenças entre grupos profissionais na avaliação do RSE (enfermeiros vs médicos). ........ 34

Tabela 6. Associações entre a avaliação do RSE e a frequência de utilização. .................................... 35

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Dado, Informação e Conhecimento ...................................................................................... 7

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACES Agrupamento de Centros de Saúde

ACSS Administração Central do Serviço de Saúde

ATA Admissão, Transferência e Alta do Doente

CNPD Comissão Nacional de Proteção de Dados

CNRSE Comissão Nacional para o Registro de Saúde Electrônico

COSTAR Computer Stored Ambulatory Record

IQR Amplitude Interquartil

ISO International Standards Organization

MCDT Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica

MIS Management Information Systems

ONU Organização das Nações Unidas

PDS Plataforma de Dados de Saúde

PNS Plano Nacional de Saúde

PTSIIS Plano para a Transformação dos Sistemas de Informação Integrados da Saúde

RSE Registro de Saúde Eletrônico

SAM Sistema de Apoio ao Médico

SAPE Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem

SG Sistemas Gerenciais

SI Sistema de Informação

SIG Sistema de Informação Gerencial

SIS Sistemas de Informação em Saúde

SNS Serviço Nacional de Saúde

SPSS Statistical Package for Social Sciences

TI Tecnologias de Informação

TIC Tecnologias da Informação e Comunicação

TMR The Medical Record

USF Unidade de Saúde Familiar

WHO World Health Organization

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA | ANA CAROLINE GUIMARÃES TENÓRIO

1

1. Introdução

O Estado e a Administração Pública estão a tentar reinventar-se para acompanhar a evolução

tecnológica da “Era Digital”. As reformas administrativas imprimiram uma visão holística às funções do

Estado e à Administração Pública (AP) que passou a centrar-se na prestação de serviços e na oferta de

serviços públicos de maior qualidade. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) tiveram

entrada em variados contextos e a informatização sistemática dos serviços tornou-se um objetivo dos

organismos públicos. No entanto, a introdução das TICs na área da saúde sempre teve fragilidades na

estratégia política. Em meados de 1990, foi iniciado o processo efetivo de integração em Portugal, mas

só em 2009, com o Plano de Transformação dos Sistemas de Informação Integrados da Saúde

(PTSIIS), a informatização da saúde foi assumida como estratégia imperativa na modernização da AP.

Os Sistemas de Informação em Saúde (SIS), em particular, configuram-se como ferramentas

para a produção de informações que direcionem o processo decisório dos profissionais dos serviços

dos diferentes níveis de atenção à saúde. Promovem a geração da informação de forma ágil e segura

aos diversos profissionais, facilitando a tomada de decisão e atendendo a necessidade de informações

dos pacientes da organização. Possibilitam, ainda, a troca de informações com as organizações

parceiras localizadas a distância através de meios digitais e melhoram a qualidade assistencial (Marin

2010). Assim, as informações são detetadas em tempo real, auxiliando no planejamento e na execução

de ações de acordo com a realidade e especificidade do serviço. Os avanços da tecnologia também

contribuem para o desenvolvimento dos sistemas de informação das organizações de saúde (públicas

ou privadas) possibilitando, em futuro próximo, a criação de redes interligadas que permitam o acesso

à história do paciente por profissionais autorizados em qualquer lugar do mundo, por intermédio da

Internet, exigindo links com alto grau de segurança no sentido de preservar o sigilo médico exigido

legalmente.

O Prontuário Médico, enquanto registo padronizado da informação clínica do utente, é uma

realidade atual em todo atendimento. No passado, era realizado somente por intermédio de registro

em papel, mas na atualidade pode ser feito por meio eletrônico desde que sejam cumpridas as

exigências legais e o sigilo profissional. O Registro de Saúde Eletrônico (RSE) do paciente é atualmente

identificado como um grande desafio na área da informática, sendo uma ferramenta fundamental na

construção de um novo paradigma do sistema de informação médica. Visa a dar apoio aos

profissionais de saúde e aos usuários com disponibilidade de dados completos e corretos, lembretes e

alertas.

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2

Assim, o presente estudo traz consigo o objetivo de averiguar a perceção dos profissionais de

saúde quanto ao uso do Registro de Saúde Eletrônico como ferramenta para a melhoria da qualidade

assistencial ao utente.

1.1. Contextualização

O homem vive a “Era da Informação” e a “ Sociedade da Informação”, onde a cada dia são

incorporadas na sua mente informações como ele jamais imaginou em um curto espaço de tempo.

Vivemos em um mundo altamente globalizado, onde a tecnologia protagoniza a rotina das pessoas e

não há previsão de alteração deste cenário a curto prazo. O mundo se apresenta para nós aberto a

imensas possibilidades de inovações e a tecnologia oferece ao homem a possibilidade de exercer sua

criatividade como jamais sonhou com a perspectiva de poder criar cada vez mais e quase

ilimitadamente. A informação vem sendo, cada vez mais, considerada insumo estratégico em todas as

organizações de qualquer natureza que têm TICs como suporte básico.

As transformações decorrentes do desenvolvimento tecnológico nas áreas de informação e

comunicação vêm afetando significativamente a sociedade. A era contemporânea da informação utiliza

predominantemente recursos tecnológicos de comunicação para que as empresas reajam às mutações

do mercado e se sustentem em processos decisórios suficientemente fortes o necessário para garantir

a resolução de problemas. Atualmente, o diferencial das empresas e dos profissionais está diretamente

ligado à valorização da informação e do conhecimento, proporcionando soluções e satisfação no

desenvolvimento das atividades.

A sociedade exige cada vez mais igualdade, equidade, acessibilidade, efetividade e eficiência na

atenção às populações. Nesse ínterim, a prestação de serviços de saúde se apresenta como

necessidade básica e não tolera níveis insuficientes. Assim, a elevação dos níveis de qualidade exige

considerável esforço que passa pelo uso adequado e consciente da tecnologia disponível,

nomeadamente no que se refere à integração e gestão das informações e registros relativos às

condições de saúde dos pacientes.

O Conselho Econômico e Social das Nações Unidas relata que no contexto da saúde, as TIC:

“Vêm contribuir para a saúde dos cidadãos, uma vez que servem para

melhorar os processos de tomada de decisão, contribuem para as trocas de

experiências de domínios específicos e também aos cuidados pessoais, bem como a

assistência qualificada e, igualmente, para reforçar a eficácia das instituições de

saúde. Contribuem, ainda, para o desenvolvimento de sistemas de informação de

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organizações de saúde, para a criação e implantação de redes públicas e particulares

de saúde, para a construção de sistemas, entre outros.” (ONU 2001: 3).

Os SIS devem estar baseados nos princípios da flexibilidade e da especificidade, para além de

contar com a participação dos profissionais e da população. Entretanto, ao se analisar os SIS vigentes,

percebe-se que, particularmente nos últimos anos, vive-se em um contexto de paradoxo. Se por um

lado, é notório que os atores da saúde – designadamente gestores e profissionais de saúde –

reconhecem o seu imprescindível papel, pelo outro lado os SIS continuam a ser frequentemente

tratados de forma acessória, mesmo “guetizada” e demasiado focada na tecnologia que é suportada

(Gamito 2014).

A qualidade da informação oferecida pelos sistemas de informação tem de ser a mais fidedigna

possível para poder brindar serviços de qualidade (Cardoso 2010). Para que se alcance a qualidade do

Sistema de Informação (SI) nos serviços de saúde, é imprescindível garantir que a informação

requerida seja mensurável e que a mesma se dê sobre uma base de dados consistente. A colaboração

dos profissionais de saúde para o desenvolvimento do SI é, assim, de fundamental importância para

garantir não só a adesão às novas tecnologias e a plena utilização das mesmas, como também para

alimentar e controlar as bases de dados de forma a contribuir para a fidedignidade das informações e

melhoria na qualidade da assistência prestada ao paciente.

O RSE se apresenta como ferramenta indutora de eficácia e eficiência na prestação de cuidados

de saúde, trazendo benefícios como a: (i) melhoria no acesso dos cidadãos aos serviços de saúde e

elevação dos níveis de qualidade; celeridade dos serviços prestados; (ii) redução significativa do risco

de erros advindos da falta da informação indispensável ao profissional no momento e no local da

decisão clínica; (iii) redução do tempo necessário à disponibilização de relatórios clínicos e

laboratoriais, graças à integração no sistema das entidades produtoras de meios complementares de

diagnóstico e terapêutica (MCDT); (iv) redução de custos evitando a replicação de esforços e recursos;

e (v) melhoria dos indicadores de gestão (ACSS 2009).

Uma visão do Governo Português para 2016 é de que todos os cidadãos tenham acesso ao RSE,

que este possua como base parcerias com as sociedades científicas, profissionais, academias,

associação de doentes, entre outros; que seja integrado, assegurando uma resposta ótima,

personalizada e holística (Gamito 2014).

Tendo em vista as considerações apresentadas e diante do desconhecimento de estudo

relacionado com o RSE nos serviços de cuidados de saúde primários em Portugal, este estudo tem por

objetivo averiguar a perceção dos profissionais de saúde quanto ao uso do RSE como ferramenta para

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a melhoria da qualidade assistencial. Nesse sentido pretendemos saber se, na perceção dos

prestadores de cuidados primários, a qualidade assistencial é melhorada pela utilização do RSE na

atividade clínica.

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2. Revisão de literatura

2.1. Sistemas e Tecnologias de Informação

Os Sistemas de Informação (SI) contribuem para a sobrevivência das organizações potenciando

o seu desenvolvimento. Funcionam como um instrumento de organização e distribuição da informação

tornando-a acessível a todos os intervenientes. Estes sistemas socorrem-se de tecnologias de

informação (TI) que reúnem recursos tecnológicos e computacionais que permitem uma partilha mais

eficiente e facilitadora de uma boa gestão organizacional. Nesse sentido, o presente capítulo apresenta

e caracteriza os conceitos de SI e TI, abordando primeiramente uma distinção entre dados, informação

e o conhecimento — aspectos base da comunicação dentro de qualquer organização.

2.1.1. Dados, Informação e Conhecimento

Os dados podem ser entendidos como registros ou fatos em estado bruto, isto é, em sua forma

primária, não sendo, portanto, necessariamente físicos (Beal 2004). Segundo Rezende (2003), o dado

pode ser entendido como um elemento puro, quantificável sobre um determinado evento e que, por si

só, não oferece embasamento para o entendimento de uma determinada situação. De uma forma

geral, os dados são utilizados na rotina diária de uma organização, podendo ser armazenados,

recuperados, tratados e processados de diversas formas. Vão desde uma simples agenda pessoal até

um sofisticado sistema de banco de dados. Como exemplo de dados, pode-se ter o faturamento de

vendas ou o valor do dólar em um determinado dia ou período (Rezende 2003).

Os dados podem consistir em fatos não trabalhados como, por exemplo, o nome de uma

pessoa, a quantidade de horas que essa pessoa trabalha por dia ou semana, um determinado número

de peças em estoque ou a quantidade de pedidos de vendas (Stair e Reynolds 2002). Tais fatos podem

ser representados por vários tipos de dados, conforme pode ser visto no Quadro 1.

Quadro 1- Tipos de Dados

Tipo de Dados Representação

Dados alfanuméricos Números, letras e outros caracteres

Dados de imagens Imagens, gráficos ou fotos

Dados de audio Som, ruídos

Dados de video Imagens em movimento ou fotos

Fonte: Stair e Reynolds (2002)

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De acordo com Setzer (2001), dado pode ser definido como uma sequência de símbolos

quantificados ou quantificáveis. Portanto, para esse autor, um texto é um dado.

“De fato, as letras são símbolos quantificados, já que o alfabeto, sendo um

conjunto finito, pode por si só constituir uma base numérica (a base hexadecimal emprega

tradicionalmente, além dos 10 dígitos decimais, as letras de A a E). Também são dados

fotos, figuras, sons gravados e animação, pois todos podem ser quantificados. É muito

importante notar-se que, mesmo se incompreensível para o leitor, qualquer texto constitui

um dado ou uma sequência de dados” (Setzer 2001: 1).

Por sua vez, a informação é o resultado do tratamento dos dados existentes a respeito de

alguém ou de alguma coisa, e que permite aumentar a consistência e conteúdo dos dados

relacionados (Batista 2004). É importante lembrar que informação não é um coletivo de dados. Um

conjunto de dados somente irá constituir uma informação se, para o indivíduo que o recebe, possuir

algum significado, o qual é determinado pelo próprio contexto no qual tal pessoa se insere (Carvalho e

Tavares 2001).

A informação pode ser considerada como um dado processado, analisado e contextualizado

(Rezende 2003) que envolve a interpretação de um conjunto de dados. Dessa forma, comparando-se o

faturamento de vendas de diversas regiões de um país, não é possível definir qual delas obteve o

melhor desempenho, porque a comparação está sendo feita a partir dos dados. Nesse caso, é preciso

estabelecer-se um parâmetro de comparação, ou seja, criar a informação.

A frase "Paris é uma cidade fascinante" é um exemplo de informação – desde que seja lida ou

ouvida por alguém, desde que "Paris" signifique para essa pessoa a capital da França (supondo-se que

o autor da frase queria referir-se a essa cidade) e "fascinante" tenha a qualidade usual e intuitiva

associada com essa palavra (Setzer 2001:1).

Barreto (2002) coloca a “condição da informação” como a via do homem para discernir melhor

a sua ação junto às diversas situações a serem enfrentadas. Este autor preconiza ainda que a

“informação” é elemento harmonizador e organizador, referência do destino do homem. Nasce com a

sua identidade genética, ou seja, com um stock inicial de informação, durante a sua existência, tem a

capacidade de relacionar suas memórias do passado em consonância com as suas expectativas de

futuro.

Beuren (2000) defende que a informação é um recurso vital de uma organização, capaz de

assumir um papel fundamental no apoio às estratégias e processos de tomada de decisão e também

no controle das operações empresariais. No conceito de Beal (2004), ela é o resultado da

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transformação ocorrida quando os registros ou fatos que caracterizam os dados são organizados ou

combinados de forma lógica e significativa.

O conhecimento, contrariamente, não pode ser descrito; o que se descreve é, apenas, a

informação (Setzer 2001). Não depende apenas de uma interpretação pessoal, como a informação,

pois requer uma vivência do objeto do conhecimento. Assim, o conhecimento está no âmbito

puramente subjetivo do homem ou do animal. Parte da diferença entre esses, reside no fato de um ser

humano poder estar consciente de seu próprio conhecimento, sendo capaz de descrevê-lo parcial e

conceitualmente em termos de informação (Setzer 2001).

Rezende e Abreu (2000), referem que, embora exista uma relação entre informação e

conhecimento, há uma distinção entre os dois conceitos. Informação é todo o dado trabalhado, útil,

tratado, com valor significativo atribuído ou agregado a ele e com um sentido natural e lógico para

quem usa a informação. O dado é entendido como um elemento da informação, um conjunto de letras,

números ou dígitos que, tomado isoladamente, não transmite nenhum conhecimento, ou seja, não

contém um significado claro. Quando a informação é “trabalhada” por pessoas e pelos recursos

computacionais, possibilitando a geração de cenários, simulações e oportunidades, pode ser chamada

de conhecimento. O conceito de conhecimento complementa o de informação com valor relevante e de

propósito é definido com o auxílio da Figura 1:

Figura 1. Dado, Informação e Conhecimento Fonte: Adaptado de Resende (2003)

2.1.2. Tecnologias de Informação (SI)

As novas condições técnicas, socias e econômicas geradas pela revolução da tecnologia de

informação e da comunicação (TIC) promoveram grandes transformações econômicas, as quais vão de

encontro de uma economia baseada no conhecimento (Santangelo 2002).

Castells (2005) define tecnologia como “o uso de conhecimentos específicos para especificar

as vias de se fazerem as coisas de forma reproduzível” e define tecnologia da informação como “o

Análise

Compreensão

Conhecimento

Informação

Dado

Síntese

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conjunto emergente de tecnologias em microeletrônica, computação (software e hardware),

telecomunicações/radiodifusão e optoeletrônica”. Em seu livro “A Sociedade em Rede”, Castells

(2005) dedica um capítulo inteiro para a revolução da TI. Nele, o autor traça um histórico de como as

novas TI se difundiram pelo globo em menos de duas décadas, entre meados dos anos 1970 e 1990 e

culminaram, nos dias atuais, com o surgimento da Internet, que permitiu a eliminação de barreiras

geográficas e a ligação do mundo todo em redes de computadores.

Para Laurindo (2002), o conceito TI é mais abrangente do que os conceitos de processamento

de dados, sistemas de informação, engenharia de software, informática ou o conjunto de hardware e

software, pois também envolve aspectos humanos, administrativos e organizacionais. Como uma

combinação sociotécnica, o planejamento da adoção de TIC no trabalho deve levar em conta como os

indivíduos percebem fatores motivadores advindos do emprego dessas tecnologias em suas tarefas. A

utilidade e a facilidade de uso de TIC interferem na crença do indivíduo de que um sistema de

informação melhorará seu desempenho no trabalho. Por este motivo, isso o levará a fazer uso do

sistema. Exemplos disso são a qualidade do trabalho, rapidez na execução das tarefas, melhoria da

produtividade, facilidade do uso da tecnologia e do uso de computadores na execução de tarefas,

facilidade de apoio ao trabalho gerencial, etc. (Dias 2000).

Além do poderoso e versátil conjunto de soluções utilizado pelas organizações para o

processamento de suas informações, a TI assume grande importância no cotidiano de um cidadão

comum uma vez que se podem encontrar computadores ou processadores em vários equipamentos de

uso diário dos indivíduos: carros, motocicletas, geladeiras, relógios de vários tipos, calculadoras,

frigoríficos, fogões, equipamentos de microondas e uma infinidade de outros mais. Assim, pode-se ter

uma ideia da grande dependência que um indivíduo comum do século XXI tem da TI ou TIC (Dias

2000).

Fernandes (2003) indica que a principal vantagem das TICs se prende com o aumento da

rapidez e/ou redução de custos de informação, impossíveis de alcançar através de qualquer outro

meio. É nesse sentido que a sua aplicação aos variados contextos pode trazer mudanças na

automação das funções operacionais, assistência às tomadas de decisão do governo, em termos de

comunicação e implementação, e na criação de novos métodos de entrega de serviços públicos. A

autora defende que TI pode trazer benefícios como produzir os mesmos resultados a custo mais baixo,

produzir mais resultados ao mesmo custo, produzir mesmos resultados mais rápidos e ao mesmo

custo, produzir os mesmos resultados ao mesmo custo no mesmo tempo, mas com melhor qualidade

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e, por fim, produzir novos resultados. Além destes, podem, ainda, trazer benefícios como aumentar a

motivação do pessoal ou melhorar a imagem pública da organização (Fernandes 2003).

A implantação de sistemas de informação computadorizado visa melhorar a eficiência e a

produtividade, a chave para o sucesso está na aceitação e na disponibilidade de iniciar um processo de

mudança na instituição (Brock 2003; Évora 2007).

2.1.3. Sistemas de Informação (SI)

Ao longo dos últimos anos, as organizações têm feito demasiado esforço no sentido de se

adaptarem e de acompanharem as transformações e as necessidades da sociedade. Desenvolvem

novos meios de resposta para os cidadãos, novas vias de comunicação e de transmissão da

informação sustentados por sistemas tecnológicos estruturados. Estas mudanças sociais crescentes

dos últimos anos conduziram-nos para uma sociedade da informação em que tanto a informação

quanto o conhecimento adquiriram um papel preponderante e nuclear em todos os setores e

atividades da sociedade, não sendo exceção as instituições públicas. No entanto, não é possível falar

em mudança, sem falar em inovação sendo que as mudanças organizacionais dependem da

capacidade de inovação de uma estrutura (Damanpour e Schneider 2009). Em particular, a inovação

do setor público compreendeu uma mudança radical na organização, na estrutura, no controle e nas

relações para a adaptação à “Era Digital” (Queiroz e Ckagnazaroff 2010).

Qualquer organização, para sobreviver no mercado em que está inserida, necessita de

informação, quer para interatuar com esse mercado, quer para permitir as interações entre as

diferentes componentes que a constituem e o seu alcance. Sendo o mercado uma estrutura em

constante mudança, a organização deve estar preparada com canais de comunicação suficientemente

eficientes e eficazes, de forma a reduzir o impacto dessas variações sendo necessário inovar, ou seja,

estar uma constante mudança organizacional (Lima e Bressan 2003). É por tal motivo que a qualidade

da informação oferecida pelos sistemas de informação tem de ser a mais fidedigna possível, para

poder brindar serviços de qualidade (Cardoso 2010).

Muito embora um SI não tenha seu funcionamento necessariamente baseado em computadores,

grande parte dos SI encontrados em uma organização moderna são computadorizados. Um

mecanismo de feedback pode ser incluído no SI, o que facilita o controle da sua operação (Turban et

al. 2006). Para Turban et al. (2006), um SI é um sistema capaz de coletar, processar, armazenar,

analisar e disseminar informações para atender um propósito específico. Como qualquer sistema, um

SI inclui entradas (dados e instruções) e saídas (relatórios e cálculos) (O’Brien 2004) e também

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engloba pessoas, procedimentos e facilidades físicas; opera em um determinado ambiente (Turban et

al. 2003).

Turban et al. (2006) apresentam um SI composto de seis componentes (Quadro 2), alertando

que nem todos os SI incluem todos esses componentes. Adicionalmente, esses autores defendem que

todo SI tem um propósito e um contexto social.

Quadro 2- As seis componentes de um SI

Fonte: Adaptado de Turban et al. (2006)

Os SI são um conjunto de partes (software, hardware, recursos humanos e procedimentos) que

geram informações. Têm como objetivo o apoio aos processos de tomada de decisões na empresa e o

seu foco está direcionado ao principal negócio da organização. Genericamente, os SI podem ser

classificados em operacional, gerencial e estratégico. Os Sistemas de Informação Gerencial (SIG) são

conhecidos como sistemas de apoio à gestão empresarial (SAGE), sistemas gerenciais (SG) ou

Management Information Systems (MIS). O significado e propósito dos SI dizem respeito ao seu

impacto nas decisões e estratégias empresariais (Laudon e Laudon 2004).

Para Amaral (1994), os SI são fundamentais para o bom funcionamento da organização, sendo

a informação reconhecida como um recurso que tem um ciclo de vida e um valor. Deve ser gerida da

mesma forma que são os restantes recursos da organização. Carvalho (2000) complementa que são

sistemas que processam informação, têm uma finalidade e um objeto de interesse e que executam

determinadas atividades num determinado ambiente.

Zorrinho (1991, citado por Tavares 2008) ressalta a necessidade dos SI disponibilizarem o

máximo de “informação útil” 1 à organização. Dispor de informação confiável e oportuna, sobre as

diversas variáveis significativas do negócio tende a constituir um fator crítico de sucesso em todas as

suas atividades. O correto registro, organização e fluxo da informação nos sistemas de saúde gera

1 Informação com valor para uma situação em particular

Componente Finalidade

Hardware Conjunto de dispositivos que aceitam, processam e apresentam dados e informação.

Software Programas que instruem o hardware para processar dados.

Base de dados Coleção de arquivos relacionados que armazenam dados e as suas associações.

Rede Sistema de ligação que permite a partilha de recursos entre diferentes computadores (ex. wireless).

Procedimentos Instruções sobre como combinar os componentes para o processamento da informação e outputs desejados.

Pessoas Trabalham com o sistema, comunicam com ele e usam os seus outputs.

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informação que assume um papel central na melhoria da prestação de cuidados de saúde das

populações. A adoção de novas tecnologias e sistemas de TI permite que esses dados sejam

processados e analisados com rapidez e eficiência cada vez maior.

2.2. Utilização dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS)

A presente secção tem por objetivo demonstrar como os SI permeiam quase todos os aspetos

da vida, incluindo o setor da saúde e de que forma isso foi feito ao longo dos anos. Semelhante a

quaisquer outras indústrias, a natureza da “indústria da saúde” mudou ao longo do tempo a partir de

uma “indústria” relativamente estável para uma dinâmica. Os SIS evoluíram por intermédio de várias

tecnologias diferentes.

2.2.1. Objetivos e Importância dos Sistemas de Informação em Saúde

Bezerra (2009) entende que a informática na área da saúde é uma das utilizações das TIC que

apresenta maior potencial de crescimento. Nos últimos anos, as organizações da área de saúde

(hospitais, prontos-socorros e clínicas) têm aproveitado as várias oportunidades oferecidas por

sistemas tecnológicos estruturados. A implementação destes sistemas em instituições de saúde

potencializa a melhoria da qualidade dos serviços (Mosse e Byrne 2005; Magalhães 2006). As suas

ferramentas são utilizadas para a prestação de cuidados de saúde por intermédio de instrumentos de

apoio à prevenção, diagnóstico, tratamento e monitorização da saúde do utente, e para processos

administrativos (Ministério da Saúde 2011), minimizando os custos e aumentando a eficiência.

Segundo o Ministério da Saúde (2011:13), os objetivos dos SI são: “(i) Criação de sistemas e

serviços de saúde em linha e aplicações interoperáveis que proporcionem vantagens econômicas e

sociais sustentáveis, com vista a alcançar um elevado nível de confiança e de segurança; (ii) Reforçar a

continuidade dos cuidados e assegurar o acesso a cuidados de saúde seguros e de elevada qualidade.”

Parece ser evidente que o uso destas novas tecnologias traz diversas oportunidades. Um bom SI

poderá promover altos níveis de qualidade numa organização (Gartner, Zwicker e Rödder 2009;

Reichertz 2006). Quando não se tem o acesso apropriado aos dados, praticamente não se podem

tomar quaisquer decisões nos diagnósticos e nos procedimentos, causando possíveis problemas aos

pacientes. Os erros que poderão ocorrer têm consequências a nível econômico (por exemplo, aumento

do tempo de internamento) ou podem chegar, no extremo, a ter implicações sobre a vida do paciente

(Classen et al. 1997). Assim, a integração das TIC em saúde pode contribuir para a minimização de

erros clínicos, funcionando como um sistema de apoio aos prestadores de serviços de saúde através

da maior facilidade no acesso à informação e, ainda, promovendo melhorias no atendimento e na

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redução nos tempos de espera dos pacientes (Ammenwerth et al. 2003).

Ammenwerth et al. (2004) identificam como vantagens o acesso fácil e rápido que os

prestadores de serviços passam a ter a uma grande quantidade de informação, bem como aos

sistemas de apoio à tomada de decisão clínica e à prática baseada na evidência através de servidores

de acesso a revisão de literatura e desenvolvimento científico. Paralelamente, a implementação

sistemas de informação potencia o controle organizacional e fornece aos diferentes membros da

organização, uma perceção do estado e do funcionamento da organização e do seu meio envolvente

(Rascão 2000). Assim, para Espanha (2010) a utilização dos SI no campo da saúde constitui-se como

um elemento essencial para a promoção de modos de “relacionamento mais seguros, acessíveis e

eficientes” com os cuidados prestados, bem como ao nível da eficiência econômica e do controle da

despesa pública (Simões 2004).

2.2.2. Implementação e Evolução dos Sistemas de Informação em Saúde

A saúde está passando por uma mudança de paradigma da “Era Industrial da Medicina” à “Era

da Informação de Saúde" (Smith 1997). Esta mudança molda os sistemas de saúde (Haux

Ammenwerth, Herzog, & Knaup 2002) e transforma a relação prestador-paciente (Ball 1991). A Web

tornou-se um canal popular para oferecer produtos ou serviços de informação, incluindo no setor de

saúde. O uso de navegadores da Web para estações de trabalho clínicos tem aumentado

significativamente, oferecendo uma interface de usuários simples e intuitivos (Kuhn e Giuse 2001).

Entender as constantes transformações e ajustar-se às novas realidades tornam-se fundamentais

para o sucesso de uma organização (Sousa 2006). No entanto, a implementação dos sistemas de

informação no contexto específico da saúde encontrou muitas barreiras desde o planejamento e a

análise dos sistemas, dos custos e qualidade dos equipamentos até a formação dos prestadores de

serviços, já que as tecnologias de informação não dispensam as competências pessoais dos gestores

nem as suas interações (Ribeiro 2009).

Os primeiros SI foram introduzidos em contexto hospitalar e a principal motivação das

instituições para esta implementação era baseada em questões financeiras e na tentativa de maximizar

o controle organizacional (Sousa 2006). Não eram sistemas flexíveis e o acesso à informação era

demorado. Ocorrendo o seu aprimoramento, seguiram-se sistemas modulares, com estrutura similar,

que integravam programas distintos para tarefas específicas permitindo a partilha de dados entre

módulos (Marin 1995, citado por Pinto 2009). O primeiro módulo criado e implementado aplicava-se

ao internamento “ATA – Admissão, Transferência e Alta do doente” e incluía informação clínica básica

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(Pinto 2009). Mais tarde, na década de 1980, surgiu o recurso à tecnologia de comunicação em rede

permitindo-se uma comunicação entre os profissionais mais próxima, mais rápida e facilitadora de

melhorias na qualidade assistencial.

Os progressos na evolução dos SI são notórios e a controlabilidade, o rigor e o acesso à

informação por parte do doente, legalmente reconhecido como um direito, existem cada vez mais “em

tempo real”. Em Portugal, a introdução das TIC em saúde vem desde da década de 90. O Serviço

Nacional de Saúde Português (SNS) tem procedido gradualmente à informatização. Contudo, essa

mudança ao implicar alteração de uma estrutura claramente estabelecida e testada – em suporte

papel – gera dificuldades organizacionais e está dependente da resistência dos prestadores de serviços

(Lapoite e Rivard 2006). Do mesmo modo, as exigências de normalização subjacentes a um registro

eletrônico, a estruturação dos conteúdos e a descoordenação na chegada de informação aos utentes

(Espanha e Fonseca 2010) constituem-se igualmente como fatores que limitam uma entrada mais

efetiva dos SI no Serviço de Saúde.

De acordo com Ribeiro (2009) para a implementação e atualização de um sistema com

qualidade é importante que exista um envolvimento dos dirigentes no seu desenvolvimento, por

intermédio da familiarização dos seus colaboradores com esta tecnologia, bem como uma análise

regular da qualidade dos registros e a sua melhoria contínua. Como marcos do desenvolvimento de um

SIS, Haux (2006: 75) propôs:

i. “mudança do registro em papel para o processamento em base de dados

e armazenamento em computador em ambientes de cuidados de saúde;

ii. mudança de institucional centrada departamental e, mais tarde, sistemas

de informação hospitalar em direção regional e global SIS;

iii. inclusão de pacientes e consumidores de saúde como os seus

utilizadores, além de profissionais de saúde e administradores;

iv. uso de seus dados, não só para o atendimento ao paciente e fins

administrativos, mas também para o planejamento de cuidados de saúde, bem como a

investigação clínica e epidemiológica;

v. mudança de foco principalmente na técnica de seus problemas aos de

gestão da mudança, bem como da gestão estratégica da informação;

vi. mudança de dados numéricos principalmente alfa em SIS de imagens e

agora também aos dados sobre o nível molecular;

vii. aumento constante de novas tecnologias a serem incluídos, agora

começando a incluir ambientes de computação ubíqua e tecnologias baseadas em sensores

para monitoramento de saúde.”

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Estes marcos trazem novas exigências não só para as organizações, mas também para os

próprios utilizadores, objetivando e permitindo a melhoria do serviço prestado. No entanto, não existem

sistemas perfeitos, dado que as instituições têm determinadas especificidades a nível organizacional e

humano (Ammenwerth et al. 2004). E, por outro lado, as avaliações à implementação dos sistemas

também não são suficientes, nem cumprem todos os requisitos necessários, estando dependentes da

perceção do utilizador. Por vezes, são pouco instruídos e familiarizados com o sistema. Existem ainda

falhas reconhecidas, nomeadamente falhas de software e falta de treino dos usuários que resultam de

um desconhecimento das funcionalidades e utilidades de um sistema de informação (Barbosa e

Forster 2010). O contexto hospitalar tem sido privilegiado na implementação das TIC, ainda nos dias

de hoje. No entanto é reconhecida a necessidade de implementação de TIC como uma estratégia de

inovação e melhoria do serviço também no contexto dos cuidados primários.

2.2.3. Avaliação da Qualidade dos Sistemas de Informação em Saúde

A medição da qualidade nos serviços de saúde tem sido, histórica e conjunturalmente, bastante

difícil. A razão principal desta dificuldade resulta da utilização de diferentes definições de qualidade em

saúde. Para que possamos entender qualidade dos SIS, precisamos definir alguns conceitos

importantes.

Hernández et al. (1990) define qualidade em saúde como a prestação de cuidados de saúde

acessíveis e equitativos, com um nível profissional ótimo, que tenha em conta os recursos disponíveis e

consiga a adesão e satisfação do cidadão. Implica, ainda, a adequação dos cuidados de saúde às

necessidades e expectativas do cidadão e o melhor desempenho possível. A qualidade em saúde

depende da intervenção dirigida às (aos):

i) estruturas de prestação de cuidados;

ii) processos decorrentes da mesma;

iii) resultados (UK Integrated Governance Handbook 2006).

Por exemplo, os profissionais de saúde tendem a caracterizar a qualidade mais em termos dos

atributos e resultados dos cuidados prestados e da efetividade dos mesmos. Os financiadores,

decisores políticos e gestores centram mais as suas atenções em medidas/indicadores decorrentes do

desempenho organizacional e numa visão mais ampla, baseados na globalidade da população tratada.

Os pacientes/doentes, por sua vez, valorizam os aspetos relacionais, decorrentes do contato com a

organização e com os profissionais de saúde, a acessibilidade e o “balanço” entre as expectativas e o

resultado final dos cuidados recebidos (Marshall et al. 2003).

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Refere a WHO/Health Metrics Network (2008:7) que:

“A necessidade de melhor informação sobre saúde também surgiu da necessidade

de uma melhor accountability e de assegurar processos de decisão evidence-based. A

necessidade de fazer uma melhor utilização dos limitados recursos é um forte incentivo à

melhoria da qualidade da informação sobre saúde, particularmente para apoiar o

desenvolvimento de políticas evidence-based, no planejamento, gestão e avaliação dos

serviços de saúde”.

Segundo Bush et al. (2009), quando estamos a falar de SI, tem de se verificar se o sistema está

a cumprir os objetivos para os quais foi definido e qual o grau de sucesso/êxito alcançado. O êxito

pode ter muitas dimensões: efetividade, eficiência, atitude e compromisso organizacional, satisfação

dos trabalhadores e pacientes e não se pode dizer com certeza qual dessas dimensões é a mais

importante (Berg 2001). O sucesso da implementação de SI depende maioritariamente do

compromisso, empenho e interesse dos seus utilizadores (Ribeiro 2009). Espanha e Fonseca (2010)

referem que a emergente tendência de adesão aos sistemas de informação não é acompanhada pela

criação de mecanismos de avaliação de processos e suas respetivas execuções. Segundo os mesmos

autores, este acompanhamento e avaliação, para além de conferir a qualidade destas e avaliar

resultados, permite agilizar procedimentos e modos de atuação, apelando à partilha de experiências

para uniformizar os processos. Para Ammenwerth et al. (2004), a avaliação é o ato de medir ou

explorar propriedades de um SIS (em planejamento, desenvolvimento, aplicação ou funcionamento), o

resultado de que informa uma decisão a ser tomada a respeito desse sistema em um contexto

específico. Eles identificam, ainda, a existência de descontinuidades na sua implementação. Desta

forma, as mudanças de linhas governativas, ministeriais ou de conselhos de administração, conduzem

ao abandono, a paragens prolongadas ou ao descontinuar de projetos e programas que trazem não só

instabilidade estrutural, mas também organizacional e, até mesmo, cultural (Espanha e Fonseca

2010).

2.3. Registro de Saúde Eletrônico (RSE)

Na presente seção é realizada uma caracterização do Registro de Saúde Eletrônico (RSE),

desde os seus primórdios, comparação com o registro em papel, e barreiras à sua implementação

para que possamos entender a sua importância nos dias atuais e no trabalho que segue.

2.3.1. Origem do Registro de Saúde Eletrônico

Atribui-se ao médico egípcio Imhotep os primeiros registros feitos em papiro (Deboscker 1997).

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A literatura mostra, no entanto, que somente com a institucionalização da medicina científica por

Hipócrates no século V a.C. foi mostrada a real necessidade de se efetuarem os registros escritos

sobre os pacientes a fim de refletir, de maneira exata, o curso da doença e indicar as suas possíveis

causas (Bemmel e Musen 1997).

Outro nome precursor desses registros foi Florence Nightingale que, durante suas atividades

cuidando dos feridos dos campos de concentração da Guerra da Criméia (1853-1856), defendia com

veemência a importância desses registros para a continuidade no tratamento dos pacientes,

principalmente no que se refere à assistência de enfermagem (Nightingale 1989). Apesar disso, o

prontuário individual teve sua origem apenas em 1907, na Clínica Mayo, nos Estados Unidos (EUA),

quando foi adotado o registro individual das informações dos pacientes que passaram a ser arquivados

separadamente, surgindo assim o registro centrado no paciente.

A mudança na compreensão da natureza da doença que passou a ser vista como um processo e

só passível de ser diagnosticada através da observação sistemática, minuciosa e constante dos

sintomas e sinais relatados e apresentados pelos pacientes (Marin et al. 2003) conduziu a uma

necessidade global de registrar todos os encontros entre médicos e seus pacientes. O Duke University

Medical Center construiu, deste modo, o chamado Registro Médico, The Medical Record (TMR), que

começou a ser utilizado em ambulatório e, mais tarde, passou a ser utilizado em regimes de

internamento (Stead 1988).

Apesar do registro em papel facilitar a intervenção junto dos pacientes e promover melhorias na

qualidade assistencial, permaneciam lacunas na chegada da informação clínica e na comunicação

entres os profissionais.

Em 1968, o laboratório de ciência de computadores do Hospital de Massachusetts criou o

Computer Stored Ambulatory Record (COSTAR), que se tornou no primeiro sistema capaz de reproduzir

um registro de pacientes computorizado. O COSTAR tratava-se de um sistema de registro e gestão da

informação médica e permitia o registro da informação dos pacientes, agendamento das suas

consultas, armazenamento da informação clínica servindo ainda funções de faturação e administrativas

(Barnett 1984).

Devido à crescente importância do RSE, o Institute of Medicine dos Estados Unidos

encomendou, em 1991, um estudo a um comitê de especialistas com o intuito de definir o RSE, bem

como propor medidas para a sua melhoria em resposta à expansão da demanda por informações,

levando em consideração as novas tecnologias. Isso resultou num relatório que também foi publicado

como livro, The Computer-based Patient Record - An Essential Technology for Health Care, constituindo

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um marco na história do RSE, trazendo novos conceitos e organizando toda a informação a respeito do

assunto, além de direcionar ações e definir metas para a melhoria dos sistemas do RSE (Dick, Steen e

Detmer 1997).

O RSE surge então como uma proposta para unir todos os diferentes tipos de dados produzidos

em variados formatos, épocas e locais distintos, gerados pelos profissionais de saúde. Esse tipo de

registro deve ser entendido como sendo a estrutura eletrônica para manutenção de informação sobre o

estado de saúde e cuidado recebido por um indivíduo durante todo seu tempo de vida (Marin et al.

2003). Dentro dessa visão, percebe-se a importância do RSE, não somente como um simples

repositório de informações estáticas, mas como um documento dinâmico capaz de subsidiar e nortear

as atividades dos profissionais que dele fazem uso.

2.3.2. Caracterização e Funcionalidades do Registro de Saúde Eletrônico

Como visto, o prontuário do paciente foi registrado apenas no suporte papel durante vários

séculos. Na atualidade, com a evolução e chegada das TIC, este documento está sendo gradualmente

migrado para o suporte eletrônico e denominado como Registro de Saúde Eletrônico (RSE).

Goehle (2010) define de forma clara o RSE como sendo qualquer informação relacionada com o

passado, presente ou futuro da saúde física, mental, ou a condição de um indivíduo, que se encontra

num formato digital e é usado para registrar, transmitir, receber, disponibilizar, ligar e manipular dados

com o propósito primário de prestar um serviço de saúde. De acordo com Hason (2006), um RSE

integra oito funcionalidades consideradas nucleares, nomeadamente:

i) Dados e Informação Clínica

ii) Gestão de Resultados;

iii) Entrada e Gestão de Pedidos;

iv) Apoio ao Doente;

v) Suporte à Decisão;

vi) Processos Administrativos;

vii) Comunicação e Conectividade Eletrônica;

viii) Gestão da Saúde das Populações.

Ainda integram essas funcionalidades o acesso aos dados do doente (dados demográficos,

história clínica, diagnósticos, resultados de exames, etc.) e a atualização destes em cada consulta

médica – ou internamento – constituindo-se o principal promotor de melhorias na qualidade

assistencial. Além de nos possibilitar uma intervenção mais consciente, a informatização da informação

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clínica, potenciando maior rigor dos registros (e.g. formulários de admissão/internamento). Os

sistemas de apoio à tomada de decisão clínica facilitam, inclusive, no momento de inserção dos dados

do paciente, na avaliação do estado de saúde deste, recomendam o tratamento mais adequado e

facultam informações relevantes alertando o médico para determinados resultados laboratoriais ou

imagiológicos e consequências de administração de certa medicação. O RSE pode ainda estar munido

de ferramentas específicas de comunicação que facilitam a interação entre os membros da equipe dos

cuidados de saúde, tal como os estudos de demonstram. Por último, destaca-se o papel facilitador do

RSE em processos administrativos, incluindo sistemas de inventários, gestão de contas e validação de

seguros (Hanson 2006; Wang, Yu e Hailey 2013; Patrício et al. 2011).

São definidos pelo Institute of Medicine (1997), cinco critérios que podem ser utilizados para

avaliar as funcionalidades do RSE, nomeadamente, a: 1) capacidade do sistema para melhorar a

segurança do doente, dispondo de dados que podem determinar se o doente é prejudicado por erros

médicos avaliar a(s); 2) presença de variações na prestação de cuidados através da monitorização da

adesão a práticas médicas baseadas na evidência; 3) despesas da medicina; 4) coordenação dos

cuidados para os doentes com múltiplas e crónicas condições, essencial para uma gestão eficiente; e

5) viabilidade das funcionalidades do RSE.

De acordo com Leão (2000; 2003), a aplicação do RSE implica necessariamente, a adoção de

padrões na representação da informação (vocabulário), dos meios de armazenamento (hardware e

software), bem como ao que se refere às telecomunicações (transmissão e acesso) e padrões de

segurança da informação em saúde. A padronização, ou normalização, de acordo com a International

Standards Organization (ISO):

“(...) é um documento estabelecido por consenso e aprovado por um grupo

reconhecido, que consolida para uso geral e repetido um conjunto de regras, protocolos ou

características de processos com o objetivo de ordenar e organizar atividades em contextos

específicos para o benefício de todos” (Leão 2000: 22).

Para Leão (2000), o uso de padrões viabiliza a troca de dados e de textos livres possibilitando a

automação dos processos (assistencial, administrativo, de pesquisa, ensino e da gestão de um sistema

de saúde). Nesse contexto torna-se imprescindível adotar padrões de:

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Quadro 3- Padrões de representação da informação no RSE

Padrão Descrição

Vocabulário Institui a descrição da informação em saúde, para representa diagnósticos e procedimentos deste seguimento

Comunicação Definições de métodos a fincar a interoperabilidade entre os diferentes SIS

Segurança

Os dados de saúde só devem ser visualizados e compartilhados com o consentimento do paciente, entretanto para uma assistência integrada, os profissionais de saúde necessitam do acesso a informações pertinentes ao paciente para obter uma performance otimizada no processo assistencial, com a finalidade de curar ou minimizar o sofrimento da dor desses pacientes. Nesse caso, a legislação deve contemplar o acesso de profissionais de saúde a dados e informações pertinentes ao paciente

Conteúdo e estrutura

Modelos para representar a informação em saúde, nomeadamente padrões para a automatização dos laboratórios, especificações para a identificação do paciente e modelo de descrição de dados de admissão, alta e transferência, guia de autenticação eletrônica da informação clínica, etc.

Fonte: Adaptado de Leão (2000)

2.3.3. Registro Papel vs Registro Eletrônico – Barreiras à Informatização

Com a chegada dos dispositivos eletrônicos, o RSE, caracterizado como um documento

passivo, muitas vezes difícil de ser entendido e distante do universo semântico do paciente passou a

ser percebido, segundo Sabatini (1999) e Pinto (2006) como um instrumento ativo, uma central de

serviços de informação, um promotor de saúde e de prevenção de problemas, um educador de

pacientes e divulgador de informações confiáveis sobre medicina e saúde. No entanto, como todo e

qualquer sistema de informação, o RSE, possui características positivas e negativas. Baseado em Pinto

(2006), o Quadro 4, abaixo apresentado, estabelece comparações entre o RSE e o registro em papel.

Quadro 4- Pontos fortes e fracos da utilização do registo de saúde eletrônico vs registro em papel

Registo de Saúde Eletrônico Registro em Papel

Pontos Fortes

1) Redução no tempo de atendimento e dos custos decorrentes; 2) Possibilidades de reconstrução histórica e completa dos casos atendidos, tratamentos prescritos, entre outras informações clínicas; 3) Acesso simultâneo em locais distintos; 4) Rigor no registro da informação clínica; 5) Contribuição para a pesquisa científica; 6) Integralidade dos variados tipos de dados/informações; 7) Facilidade na organização e no acesso às informações; 8) Otimização do espaço de arquivamento.

1) Maior liberdade na maneira de escrever; 2) Transporte mais fácil; 3) Manuseamento mais fácil; 4) Não requer treinamento; 5) Nunca fica “fora do ar”.

Pontos Fracos

1) Demanda grande investimento em hardware, software e treinamento; 2) Pode suscitar resistência às mudanças; 3) Ocasiona demora na sua implantação; 4) Requer a manutenção dos prontuários de papel para fins jurídicos, quando não há certificação do processo; 5) Possibilidade de falhas na tecnologia.

1) Dificuldades de compreensão do conteúdo devido à: ilegibilidade, falta de padronização na ordenação das informações, inexistência de controle terminológico, entre outros; 2) Impossibilidade de acesso por vários profissionais ao mesmo tempo 3) Fragilidade do suporte.

Fonte: Adaptado de Pinto (2006)

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Embora a discussão sobre as vantagens e inconvenientes do registro do paciente em suporte

papel e RSE continuem, observa-se empiricamente que a tendência das organizações de saúde está

sendo no investimento cada vez maior na informatização dos serviços de saúde. Esta tendência surge

como alternativa para a melhoria na qualidade, no tratamento, na gestão e no fluxo informacional, e

consequentemente, no acesso à saúde e, neste contexto, esta inserido o RSE.

O RSE apresenta grandes potencialidades, mas também é complexo e “convida” todos os

envolvidos à mudança. É o que também acreditam os autores Berner et al. (2005), que referem que a

medicina está longe de ser uma ciência exata e que a prática clínica requer tentativas de

reinterpretação de dados, à luz de uma nova informação, onde a escassez de tempo é um fator crítico

para os profissionais. A capacidade humana de processamento de informação necessita de uma

atenção especial, devendo os SI possuir mecanismos facilitadores para o efeito.

Segundo Marin et al. (2003), as principais barreiras para a implementação de um sistema de

RSE são os seguintes:

a) Falta de planejamento estratégico na implantação do sistema;

b) Pouco ou nenhum incentivo interno da organização para atingir a integração clínica;

c) Autonomia dos hospitais;

d) Falta de planejamento do atendimento à saúde da população;

e) Resistência dos profissionais de saúde;

f) Exigências de normalização.

O desafio para a implantação de um RSE ainda é grande, bem como a sua complexidade. A

maior dificuldade está no registro, controle e recuperação das informações clínicas. A utilização do RSE

não tem sido dificultada necessariamente pela tecnologia, mas está relacionada à forma de trabalho

dos profissionais (Marin et al. 2003). A complexidade da informação em saúde, associada à existência

de dados clínicos de origem completamente díspar e armazenada em múltiplos repositórios não

acessíveis numa única plataforma, a par com dificuldades culturais, são tradicionalmente considerados

os principais obstáculos à implementação de um RSE (ACSS 2009).

Para se obter benefícios com o RSE é preciso saber usá-lo. Neste sentido, ele oferece aos

profissionais de saúde informações valiosas e atualizadas, que podem ajudar no diagnóstico. Mas

apesar de todas as facilidades oferecidas pelo RSE, os médicos questionam o uso da tecnologia,

afirmando que o computador não pode pensar por eles e que se preocupam com a segurança dos

arquivos que podem quebrar o sigilo médico (Majewski 2003).

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Diversas situações concorrem para que a inserção do RSE não tenha sucesso garantido. Os

meios disponibilizados para acesso ao RSE devem induzir a sua utilização pelos profissionais de saúde.

O sistema não deverá introduzir carga de trabalho adicional, não se devendo nem se podendo exigir a

um profissional de saúde um duplo trabalho de registro, o que, ao acontecer, seria não só fonte de

potenciais erros, mas também uma forma de criação de resistências à utilização do sistema (ACSS

2009).

Segundo Wrenn et al. (2010) os médicos, ao utilizarem o RSE, podem passar mais tempo

escrevendo notas eletrônicas, o que pode ser um impeditivo ao cuidado direto do paciente e gasto

maior de tempo, possibilitando impactar negativamente nos processos clínicos, resultados e

insatisfação do paciente e do próprio profissional. Segundo estes autores, a busca pelo menor tempo

de consulta, leva os profissionais aos riscos associados com o uso clínico de copiar e colar notas

clínicas para duplicar informações. Infelizmente, os estudos sugerem que existem riscos significativos

associados a copiar e colar informações clínicas. Estes riscos incluem a introdução de inconsistências

nos dados e na propagação de registros e erro.

2.3.4. A introdução do Registro de Saúde Eletrônico em Portugal

A implantação do RSE em Portugal surgiu da necessidade de informação de qualidade

(relevante, fidedigna, atualizada e atempada) disponibilizada de forma simples, uniforme e segura

(ACSS 2009). Veio para cumprir os desígnios de partilhar informação de saúde, centrada no utente,

orientada para o apoio ao cumprimento da missão dos profissionais de saúde e acompanhamento

virtual do cidadão, na sua mobilidade espaço-temporal, materializando-se sempre que o seu acesso é

requerido num dado ponto.

O Plano para a Transformação dos Sistemas de Informação Integrados da Saúde (PTSIIS),

liderado pela Administração Central do Serviço de Saúde (ACSS) e dirigido à saúde eletrônica e à

desmaterialização dos processos, veio apresentar como prioridade na modernização da Administração

Pública a implementação do RSE, de acordo com as orientações da Comissão Europeia. A

disponibilização de um RSE em Portugal amplo e desenvolvido tornou-se a promessa de uma

ferramenta indutora de eficácia e eficiência na prestação de cuidados de saúde e promotora de níveis

de qualidade e de celeridade dos serviços prestados, que reduziria erros clínicos, apoiaria à tomada de

decisão e reduziria os custos, melhorando os indicadores de gestão (ACSS 2009).

Através do Despacho n.º 10864/2009 de 28 de abril de 2009, foi constituído um grupo de

trabalho para o RSE que visava a promoção e reflexão sobre essa ferramenta e a apresentação de uma

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proposta de base para a implementação do registro a nível nacional. Reconhecido o impacto do RSE na

qualidade assistencial, a sua disponibilização a grupos de prestadores, como Unidades Locais de

Saúde, Centros Hospitalares e outras agregações de âmbito regional, e a consequente “chegada” a

todos os cidadãos, tornou-se uma prioridade até ao final de 2012, numa versão reduzida, e até ao final

de 2015, numa versão completa. Deste modo, diante da necessidade de coordenação e

acompanhamento permanente dos trabalhos em curso, constitui-se a Comissão Nacional para o

Registro de Saúde Eletrônico (CNRSE) por meio do Despacho n.º 381/2011 de 7 de Janeiro de 2011,

tal como já mencionado, que entre outras funções: (i) garantia o envolvimento de “atores relevantes no

domínio da saúde” no desenvolvimento do programa; (ii) contribuía para a normalização dos sistemas

terminológicos e de classificação utilizados; e (iii) delineava e supervisionava o processo de gestão de

mudança no RSE, garantindo a sensibilização e a adequada formação dos profissionais de saúde e,

embora mais indiretamente, dos cidadãos.

Assim, as aplicações Sistema de Apoio ao Médico (SAM) e Sistema de Apoio à Prática de

Enfermagem (SAPE), em uso desde 2001, introduzidas pelas solicitações dos profissionais de saúde

que viram a necessidade de um módulo informático facilitador dos registos clínicos, entram em desuso

pela sua desatualização do ponto de vista tecnológico e funcional (Gomes, Paiva e Simões 2009). O

sistema clínico foi criado como sistema informático mais evolutivo, unificado, lançado em 2013, ao

abrigo da PTSIIS, e veio substituir as aplicações anteriores permitindo a uniformização dos registros

clínicos dos utentes. Assume duas versões, nomeadamente o sistema Clínico-hospitalar e o sistema

clínico Cuidados de Saúde Primários, sendo objetivada a sua implementação efetiva (Boo 2015).

Por último, ainda entre 2012 e 2013, dadas as necessidades dos pacientes servirem de

intermediários das informações clínicas através de cartas, sobretudo, entre a rede pública e privada e

os cuidados primários e secundários deu-se a criação da Plataforma de Dados de Saúde (PDS). A PDS

surgiu como um sistema de partilha, passou a permitir o envio da informação aos diferentes

prestadores de serviços de saúde. Os dados são acedidos através de portais específicos (utente e

profissional, institucional e internacional), funcionado como um repositório de informação clínica,

autorizado pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) (SPMS, 2016).

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3. Enquadramento empírico

A pesquisa é a atividade nuclear da ciência pois possibilita uma aproximação e um entendimento

da realidade a investigar. É um processo permanentemente inacabado, processa-se por meio de

aproximações sucessivas da realidade, fornecendo-nos subsídios para uma intervenção no contexto

real (Gerhardt e Silveira 2009). Segundo Gil (2007), a pesquisa é um procedimento racional e

sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. As

questões de pesquisa muitas vezes têm origem na própria prática do profissional.

Nesta secção segue-se a descrição da metodologia adotada no presente estudo. Minayo

(2007:44) define metodologia de forma abrangente e concomitante:

“(...) a) como a discussão epistemológica sobre o ´caminho do pensamento´ que

o tema ou o objeto de investigação requer; b) como a apresentação adequada e justificada

dos métodos, técnicas e dos instrumentos operativos que devem ser utilizados para as

buscas relativas às indagações da investigação; c) e como a criatividade do pesquisador, ou

seja, a sua marca pessoal e específica na forma de articular teoria, métodos, achados

experimentais, observacionais ou de qualquer outro tipo específico de resposta às

indagações específicas”.

Neste sentido, uma pesquisa deve ter uma metodologia clara, elucidativa com objetivos

precisos e sistematizada (Fortin 2003). Destaca-se que uma boa investigação deve ser inovadora,

pesquisando um tema ainda não contemplado pela literatura, aprofundando um assunto pouco

conhecido ou dando enfoque diferente a um problema já estudado.

Relembrando, este trabalho apresenta como objetivo principal avaliar o impacto do registro de

saúde eletrônico (RSE) sobre a melhoria da qualidade assistencial nos cuidados de saúde primários.

Queremos saber se, na perceção dos profissionais de saúde, a qualidade assistencial é melhorada pelo

uso RSE na prática clínica. Apesar de não ser um tema novo, a originalidade da pesquisa resulta da

recolha ser dirigida a profissionais que trabalham especificamente nos cuidados de saúde primários. A

fim de atingir plenamente esse objetivo foram delineados os seguintes objetivos específicos:

a. Caracterizar os profissionais de saúde a nível sociodemográfico;

b. Caracterizar os serviços de saúde prestados e a operacionalidades do RSE;

c. Determinar, na perceção dos profissionais, quais as contribuições e/ou limitações do RSE na

qualidade assistencial;

d. Explorar diferenças na avaliação da qualidade do RSE entre médicos, enfermeiros e técnicos

superiores de saúde;

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e. Explorar a associação entre o aumento da frequência de utilização do RSE e a avaliação do seu

impacto sobre a qualidade assistencial;

f. Identificar barreiras à implementação do RSE e oportunidades de melhoria.

Identificados os objetivos principal e específicos, é chegado o momento de apresentar os

componentes do nosso design de investigação, utilizado no presente trabalho de investigação. Será

apresentada a caracterização metodológica da investigação, em particular os dados a utilizar, os

critérios de seleção da amostra, as variáveis em estudo, o instrumento de recolha utilizado e os

procedimentos adotados para o tratamento e análise estatístico dos dados.

3.1. Research Design

Neste estudo usamos um design não-experimental do tipo transversal, onde as variáveis de

interesse do estudo são observadas e mensuradas indiretamente. Pretendemos descrever uma

realidade tal como se apresenta, conhecendo-a e interpretando-a por meio da observação, do registro e

da análise dos fatos ou fenômenos. Neste caso, pretendemos caracterizar a perceção dos prestadores

de cuidados de saúde primários acerca do RSE e da sua importância na promoção dos cuidados de

saúde primários, bem como tentar explorar relações entre variáveis. A avaliação da qualidade do RSE

tem em consideração a caracterização dentro de categorias. Assume como variável dependente a

qualidade assistencial percebida e como variável independente operativa o próprio RSE.

Esta pesquisa foi analisada com aspectos lógicos e mensuráveis e, ao mesmo tempo, procurou

perceber as experiências vividas pelos participantes com categoria profissional a três níveis (médicos,

enfermeiros e técnicos superiores de saúde) de modo a construir um contexto sobre o fenômeno em

questão. Portanto, integra um método de pesquisa “QUALI-QUANTI” (qualitativo e quantitativo).

O Quadro 5, abaixo, compara os principais aspetos da pesquisa qualitativa e da pesquisa

quantitativa. Podemos observar que uma complementa a outra.

Quadro 5- Comparação entre a pesquisa qualitativa e quantitativa

ASPETOS QUANTITATIVA QUALITATIVA

ENFOQUE Pequena quantidade de conceitos Totalidade do fenômeno

OBJETO DE PESQUISA Ideias preconcebidas relacionadas com a associação dos conceitos

Poucas idades pré-concebidas; Importância do objeto de pesquisa

MÉTODOS Hipóteses definidas rigorosamente, procedimentos estruturados e instrumentos formais

Sem instrumentos formais

ANÁLISE DOS RESULTADOS Objetiva, análise de dados numéricos/estatística

Subjetividade na interpretação das experiências, análise das informações narradas

Fonte: Adaptado de Fonseca (2002) e Polit e Hungler (2004)

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Segundo Polit e Hungler (2004), a pesquisa quantitativa, que tem suas raízes no pensamento

positivista lógico, tende a enfatizar o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos mensuráveis

da experiência humana. Por outro lado, a pesquisa qualitativa tende a salientar os aspetos dinâmicos,

holísticos e individuais da experiência humana para apreender a totalidade no contexto daqueles que

estão vivenciando o fenômeno.

Ambos os tipos de pesquisa apresentam diferenças, cada qual com os seus pontos fracos e

fortes. Entretanto, elas se completam, pressupondo uma análise dialética, nos permitindo enxergar que

ambas em conjunto podem trazer elementos para uma interpretação mais abrangente. Como propõe

Giddens (2012), a pesquisa pode ser feita pelo método misto quantitativo e qualitativo, de modo a

obter uma compreensão e explicação do tema estudado.

É fato que os processos de análise e interpretação dos dados coletados pelo pesquisador variam

significativamente em função dos diferentes delineamentos de pesquisa científica. Não obstante a

peculiaridade de cada forma de tratamento, na concepção de Chizzotti (1998), Santos Filho (2000) e

Teixeira (2003), torna-se possível tratar os dados recolhidos quantitativa e qualitativamente ao mesmo

tempo, isto é, de forma quali-quanti.

3.2. População-Alvo

A população é um conjunto de elementos abrangidos por uma mesma definição que têm,

obviamente, uma ou mais características comuns a todos eles que os diferenciam de outros conjuntos

de elementos (Carmo e Ferreira 2008). A amostra deste estudo inicialmente seria constituída pelos

profissionais de saúde prestadores de cuidados de saúde primários afetos às Unidades de Saúde

Familiar (USF) que integram o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) de Braga. No entanto, dada a

morosidade do processo de aprovação do estudo proposto pela Comissão de Ética Institucional,

aprovado apenas a 05/07/2016, tornou-se imprescindível para viabilizar esta investigação em tempo

útil, procurar alternativa de amostra. Durante todo o período em que se aguardou a deliberação do

pedido de autorização governamental (datado de fev/2016) a coleta de dados ocorreu por intermédio

de redes sociais, nomeadamente em páginas do Facebook associadas aos grupos profissionais

(Quadro 6). Os critérios de inclusão das respostas de respondentes determinados foram obedeceu às

seguintes condições. Todos os profissionais de saúde tinham de: (i) prestar cuidados de saúde

primários, (ii) estar vinculado a uma USF e (iii) utilizar (ou já ter utilizado) o registo de saúde eletrônico

na atividade clínica.

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Com base nestes critérios, a amostra total foi constituída por 35 profissionais de saúde, 27 dos

quais enfermeiros, 6 médicos e 2 técnicos superiores de saúde (fisioterapeuta e psicólogo). Os

participantes elegíveis estavam vinculados maioritariamente à ACES de Braga (USF da ACES do Ave,

ACES do Cávado I e Cávado III). No entanto, foram também incluídos prestadores de cuidados

primários vinculados a outros ACES, como por exemplo, a ACES Maia/Valongo.

A maioria da amostra era do sexo feminino (77,1%) e apresentava uma média de idades de 38

anos e 54,3% eram casados ou viviam em união de facto. Verificou-se ainda que 60% dos participantes

apresentavam entre seis a 10 anos de tempo de serviço em USF. A Tabela 1 apresenta as

características sociodemográficas.

Quadro 6- Grupos do Facebook que divulgaram o estudo

Grupos

1- Associação Portuguesa de Enfermeiros de cuidados de Saúde Primários

2- Enfermeiros Portugueses Unidos

3- Enfermeiros de Cuidados de Saúde Primários

4- USF Eborae

5- USF Terras do Ave

6- Médicos Portugueses

7- Cuidados de Saúde Primários

Fonte: Elaborado pela Autora

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica da amostra

n %

Sexo Feminino 27 77,1 Masculino 8 22,9

Idade 37,9±7,82

Estado Civil Solteiro(a) 11 31,4 Casado(a) ou União de Facto 19 54,3 Divorciado(a) ou Separado(a) 5 14,3

Grupo Profissional Médico(a) 6 17,1 Enfermeiro(a) 27 77,1 Técnico Superior de Saúde 2 5,7

Experiência Profissional 1 a 5 anos 7 20,0 6 a 10 anos 22 62,9 Mais de 10 anos 6 17,1

Tempo de Serviço em Cuidados Primários

1 a 5 anos 10 28,6 6 a 10 anos 21 60,0 Mais de 10 anos 4 11,4

Fonte: Elaborado pela Autora

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3.3. Métodos de Recolha de Dados

Na presente secção descreve-se como foi realizada a recolha de dados. De acordo com Fortin

(2003), a revisão da literatura é um processo que consiste em fazer o inventário e o exame crítico do

conjunto de publicações pertinentes sobre o domínio da investigação. No decorrer desta revisão, o

investigador aprecia, em cada um dos documentos, o conceito em estudo, as relações teóricas

estabelecidas, os métodos utilizados e os resultados obtidos.

3.3.1. Questionário

Segundo Fortin (2009), existem várias maneiras de recolher dados de participantes e é a

escolha do investigador que determina qual a melhor se adequa em relação ao objetivo do estudo,

questões de investigação postas e hipóteses ou pressupostos formulados. Para a autora, o questionário

tem por objetivo recolher informação factual sobre acontecimentos ou situações conhecidas, sobre

atitudes, crenças, conhecimentos, sentimentos e opiniões”.

Como ressaltam Polit, Beck e Hungler (2001), o questionário é uma importante técnica de

obtenção de dados, tratando-se de uma ferramenta de recolha de dados quantitativos que implica a

captação de um elevado número de respostas, num curto período de tempo, com poucos recursos

humanos na sua distribuição e recolha.

O questionário é um método de recolha de dados que implica respostas escritas por parte dos

indivíduos em estudo. As questões são formuladas de forma a obter informação sobre os indivíduos,

sobre as suas atitudes, as suas crenças e intenções. Podem conter questões fechadas, com hipóteses

de respostas possíveis ou questões abertas, que permitem a escrita por parte dos sujeitos (Fortin

2003).

Com o questionário de autopreenchimento, segundo Bryman (2012), os inquiridos respondem a

uma bateria de perguntas, através do seu preenchimento autónomo. Esta característica traz como

vantagens: i) custos reduzidos na sua administração; (ii) rapidez na sua administração; (iii) ausência da

influência do investigador; (iv) inexistência de variabilidade entre investigadores; (v) conveniência para

os respondentes.

Diante do exposto, nossa recolha foi realizada por intermédio de um questionário de auto-

resposta constituído por três grupos (ver Apêndices A e B):

a. Recolha de dados demográficos para a caracterização da amostra;

b. Caracterização dos serviços no sentido de identificar o tipo de recursos utilizados na gestão e

prestação dos cuidados de saúde, nas diferentes categorias profissionais;

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c. Avaliação do impacto do registo eletrônico no atendimento assistencial, com recurso a uma

escala de Likert de cinco pontos (1=Discordo; 2=Discordo Totalmente; 3=Não concordo, nem

discordo; 4=Concordo; 5=Concordo Totalmente). Ainda nesta secção, são apresentadas

questões abertas que objetivam a avaliar a perceção das vantagens e limitações desse tipo de

registo, bem como as barreias à eficácia da sua implementação nos cuidados de saúde

primários.

3.4. Procedimentos e Tratamento de Dados

Na presente seção, estão inseridos todos os caminhos percorridos durante a realização da

pesquisa. Devido ao nosso objetivo de estudo se tratar da avaliação da perceção dos profissionais de

saúde quanto ao uso do RSE para a melhoria da qualidade assistencial, procedemos a um pedido de

aprovação junto ao Comitê de Ética da ACES de Braga o quanto antes, concomitantemente à pesquisa

bibliográfica. Foi, assim, formulado um questionário para avaliação das contribuições e limitações do

RSE. Por motivos de uma longa morosidade da aprovação pela Comissão de Ética, o questionário foi

disponibilizado em grupos do facebook, que incluíam como membros os profissionais integrados no

estudo (enfermeiros, médicos e técnicos em saúde de cuidados de saúde primários) e por intemédio

de e-mails. As respostas obtidas foram analisadas quanti-qualitativamente.

O tratamento estatístico dos dados realizou-se com recurso ao software Statistical Package for

Social Sciences, versão 20 (SPSS), sendo efetuadas análises descritivas e inferenciais. Análises de

frequência foram conduzidas para a caracterização do serviço prestado nos cuidados de saúde

primários, da operacionalidade do RSE, bem com da avaliação do impacto do registro sobre a

qualidade assistencial. Adicionalmente, foi determinada a amplitude interquartil (IQR) para a análise da

dispersão nas respostas dos profissionais de saúde, aquando da avaliação do RSE. Realizou-se

também o teste de Kolmogorov-Smirnov para o estudo da distribuição da amostra. Mediante uma

distribuição não normal, recorreu-se à estatística não paramétrica. O Kendall W foi aplicado para avaliar

a concordância dos profissionais de saúde quanto às contribuições e limitações do sistema na

qualidade assistencial, assumindo como critério para um nível de concordância moderada W≥0,5.

Para a análise das diferenças entre os profissionais, foi usado o teste Mann-Whitney, já que

apenas foram contemplados dois grupos na avaliação (enfermeiros vs médicos) devido ao número

reduzido de técnicos superiores incluídos na recolha (n=2). Por último, foi determinada uma

associação entre a frequência de utilização do sistema e a avaliação do mesmo pelos profissionais

através do coeficiente de correlação Spearman rho. Foi adotado o nível de significância p≤0,05,

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convencionado por Fisher (1925), e os tamanhos de efeito 0,1, 0,3 e 0,5 como efeito pequeno, médio

e grande, respetivamente (Field 2009), em todas as análises efetuadas.

A análise qualitativa proporcionou aos profissionais relatar de forma mais clara e aprofundar o

tema através de comentários/observações realizadas pelos profissionais de saúde, no âmbito da

avaliação e categorizou-se a informação em quatro categorias: vantagens do RSE na prestação de

serviços, limitações da digitalização dos dados, barreiras à implementação eficaz e oportunidades de

melhoria.

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4. Resultados

4.1. Análise Quantitativa

4.1.1. Caracterização da Prestação de Serviços

Na prestação de cuidados de saúde primários verificou-se que 82,9% dos profissionais de saúde

recorrem somente ao suporte digital na gestão e prestação dos serviços. No entanto, 17,1% ainda

utilizam o suporte papel e o suporte digital simultaneamente. A maioria dos prestadores utiliza o RSE

nas USF para o registo de sintomas, terapêuticas e/ou outros procedimentos clínicos, sendo esta a

funcionalidade mais usada por 2/3 dos respondentes (65,7%), por pouco menos que 15% para acesso

ao processo clínico dos utentes (14,3%), e outros 15% para consulta, registro e arquivamento de dados

laboratoriais e de imagem (14,3%) e, finalmente, por cerca de 6% para a prescrição médica (e/ou

gestão de medicamentos (5,7%) no caso da prática médica). O acesso à informação partilhada por

outros utilizadores (ex.: relatórios e/ou exames médicos) é uma das funcionalidades também

mencionadas pelos respondentes. No entanto, o suporte papel é indicado como o recurso preferencial

para essa finalidade. De entre os participantes, quase 90% indica que utiliza “sempre” o RSE na

prestação dos cuidados de saúde. Embora o sistema clínico seja a nova aplicação utilizada nas USF,

quase 10% dos profissionais têm ainda em uso na sua unidade aplicações anteriores, o (SAM) ou o

(SAPE) ou ambos (Tabela 2).

Tabela 2. Caracterização do serviço prestado

N %

Recurso na Gestão e Prestação de Serviços Suporte Digital 29 82,9 Suporte Papel e Digital 6 17,1

Funcionalidades do RSE usadas na Prestação de Serviços Acesso ao processo clínico dos utentes 5 14,3 Registo de sintoma, terapêuticas e/ou outros procedimentos clínicos

23

65,7

Consulta, registo e arquivamento de dados laboratoriais e de imagem

5

14,3

Prescrição médica e/ou gestão de medicamentos 2 5,7

Frequência de utilização do RSE Nunca 0 0 Pouco 0 0 Às vezes 1 2,9 Muitas vezes 3 8,6 Sempre 31 88,6

Aplicações em Uso na USF SAPE 2 5,7 SAM e SAPE 1 2,9 Sistema Clínico 32 91,4

Fonte: Elaborado pela autora

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4.1.2. Operacionalidade do Registro de Saúde Eletrônico

Através da avaliação da operacionalidade do RSE, verificou-se que mais de 90% dos profissionais

concordam que a aplicação em uso, sistema clínico, assume uma linguagem simples (91,4%). Os

dados mostram ainda, que na perceção da maioria dos profissionais, esta aplicação assume adequada

organização (68,6%) e que os passos para acesso às funcionalidades do sistema são facilmente

identificáveis (65,7%). No entanto, 1/3 (28,6%) concorda com a existência de falhas no sistema que

ainda dificultam a prática clínica (Tabela 3).

Tabela 3. Perceção da Operacionalidade do Sistema

n(%)

Discordo

Totalmente Discordo

Não concordo,

nem discordo

Concordo Concordo

Totalmente

Linguagem simples 0(0) 0(0) 3(8,6) 32(91,4) 0(0)

Boa organização 0(0) 4(11,4) 7(20,0) 24(68,6) 0(0)

Passos para acesso às funcionalidades facilmente identificáveis

2(5,7) 2(14,3) 5(14,3) 23(65,7) 0(0)

A ocorrência de falhas no sistema dificulta a prática clínica

7(20,0) 6(17,1) 12(34,2) 10(28,6) 0(0)

Fonte: Elaborado pela autora

4.1.3. Avaliação do impacto RSE sobre a qualidade assistencial

4.1.3.1. Perceção dos Profissionais de Saúde – Contribuições e Limitações

A avaliação do impacto do RSE na qualidade assistencial gerou grande dispersão nas

classificações dos profissionais. Registrou-se, em média, uma amplitude interquartil (IQR) de 1,13. De

entre as contribuições e/ou limitações avaliadas a classificação “concordo” não atingiu a maioria

absoluta, há exceção das contribuições “reforça a proteção/segurança da informação clínica” (62,9%)

e “promove a normalização das nomenclaturas” (57,1). Verificou-se que existe, ainda grande indecisão

nos respondentes. Mais de 50% da amostra não se posicionou, optando pela opção “não concordo,

nem discordo” relativamente ao impacto do sistema em cinco vertentes, nomeadamente, a “melhoria

na qualidade e rigor dos registros” (54,3%); a “facilitação no acesso e gestão dos processos clínicos”

(60,0%); “potência de controlo organizacional” (57,1%), “possibilidade de interoperabilidade dos dados

clínicos” (62,9%); e a “melhoria da gestão da prescrição médica” (51,4%). A limitação associada ao

“aumento dos custos financeiros” em resultado da implementação do RSE foi ainda rejeitada por 2/3

(65,7%) dos respondentes. Por último, é relevante notar que também não foi obtido um nível de

consenso moderado entre as avaliações dos profissionais de saúde, quer ao nível das contribuições de

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um RSE (W=0,132, p<0,001), quer ao nível das limitações (W=0,444, p<0,001) para a qualidade do

serviço prestado (ver Tabela 4).

Tabela 4. Perceção do impacto do RSE na qualidade assistencial para amostra total

n(%) Consenso

Discordo

Totalmente Discordo

Não concordo,

nem discordo

Concordo Concordo

Totalmente Kendall W

CONTRIBUIÇÕES

W=0,132 (p=0,000)

Celeridade no atendimento do utente

4(11,4) 4(11,4) 12(34,3) 15(42,9) 0(0)

Minimiza erros clínicos (ex.: má interpretação dos dados, perda de processos, etc.)

1(2,9) 3(8,6) 16(45,7) 15(42,9) 0(0)

Melhora a qualidade e rigor dos registos

2(5,7) 2(5,7) 19(54,3) 12(34,3) 0(0)

Apoia na tomada de decisões clínicas

1(2,9) 0(0) 17(48,6) 17(48,6) 0(0)

Maximiza e facilita a comunicação entre profissionais de saúde

2(5,7) 5(14,3) 14(40,0) 14(40,0) 0(0)

Facilita o acesso e gestão dos processos clínicos

1(2,9) 0(0) 21(60,0) 13(37,1) 0(0)

Potencia o controlo organizacional

0(0) 2(5,7) 20(57,1) 13(37,1) 0(0)

Permite um maior controlo da despesa pública

4(11,4) 11(31,4) 10(28,6) 10(28,6) 0(0)

Reforça a proteção/segurança da informação clínica

1(2,9) 0(0) 12(34,3) 22(62,9) 0(0)

Promove a normalização das nomenclaturas

1(2,9) 2(5,7) 12(34,3) 20(57,1) 0(0)

Facilita a mobilidade internacional dos doentes

6(17,1) 6(17,1) 12(34,3) 11(31,4) 0(0)

Diminui o tempo despendido na requisição de exames

4(11,4) 8(22,9) 17(48,6) 6(17,1) 0(0)

Facilita a gestão da agenda médica

1(2,9) 6(17,1) 17(48,6) 11(31,4) 0(0)

Permite a interoperabilidade dos dados clínicos

1(2,9) 1(2,9) 22(62,9) 11(31,4) 0(0)

Evita perdas de informação

3(8,6) 0(0) 0(0) 16(45,7) 0(0)

Melhora a gestão da prescrição médica 1(2,9) 0(0) 18(51,4) 16(45,7) 0(0)

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LIMITAÇÕES Discordo

Totalmente Discordo

Não concordo,

nem discordo

Concordo Concordo

Totalmente

W=0,444 (p=0,000)

A falta de conhecimentos tecnológicos e inexperiência dificultam a atividade clínica

7(20,0) 6(17,1) 12(34,2) 10(28,6) 0(0)

Introduz uma carga de trabalho adicional

4(11,4) 4(11,4) 13(37,1) 14(40,0) 0(0)

Aumenta os custos financeiros

23(65,7) 4(11,4) 8(22,9) 0(0) 0(0)

Fonte: Elaborado pela autora

4.1.3.2. Diferenças na avaliação de médicos e enfermeiros de cuidados primários

Apesar do reduzido número de médicos a participarem no estudo, não é de descurar a

comparação das diferenças na avaliação das contribuições e/ou limitações do RSE na qualidade

assistencial entre esses profissionais e enfermeiros. O mesmo não fizemos com os técnicos superiores

de saúde por apenas compreenderem 5,7% da amostra. Com base nessa avaliação, verificou-se que as

classificações atribuídas pelos participantes dos dois grupos apenas apresentaram diferenças

estatisticamente significativas para a variável “aumenta os custos financeiros” (U=0,500, Z=-2,117,

p=0,034). Ambos os grupos discordaram dessa limitação como uma consequência do RSE (Mdn=1;

localizada na categoria “discordo totalmente”). No entanto, o grupo de médicos apresentou uma média

ligeiramente inferior (M=1,17) mostrando uma discordância mais marcada deste aspeto enquanto

limitação do RSE (Tabela 5).

Diferenças entre medianas e médias foram ainda registradas para outros aspectos avaliados,

com o grupo de médicos a apresentar avaliações mais positivas, ou seja, maior concordância com as

contribuições do RSE propostas no estudo, comparativamente aos enfermeiros. Estes últimos se

apresentaram mais indecisos na avaliação (Mdn=3; localiza na categoria “não concordo, nem

discordo”). As variáveis com diferenças mais salientes foram: “celeridade no atendimento do utente”,

“melhoria da qualidade e rigor dos registros”, “apoio na tomada de decisões clínicas”, “maximização e

facilitação da comunicação entre profissionais”, “facilidade no acesso e gestão dos processos clínicos”,

“controlo organizacional”, “interoperabilidade dos dados clínicos”, “melhoria na gestão da prescrição

médica”. No entanto, as diferenças mencionadas não obtiveram significado estatístico.

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Tabela 5. Diferenças entre grupos profissionais na avaliação do RSE

Enfermeiros Médicos

CONTRIBUIÇÕES M Mdn DP M Mdn DP U p

Celeridade no atendimento do utente

3,00 3,00 1,074 3,33 3,50 0,816 5,500 0,855

Minimiza erros clínicos (ex.: má interpretação dos dados, perda de processos, etc.)

3,26 3,00 0,813 3,33 3,00 0,516 5,000 0,693

Melhora a qualidade e rigor dos registos

3,11 3,00 0,847 3,50 3,50 0,548 3,000 0,237

Apoia na tomada de decisões clínicas

3,37 3,00 0,688 3,67 4,00 0,516 5,000 0,693

Maximiza e facilita a comunicação entre profissionais de saúde

3,00 3,00 0,877 3,67 4,00 0,816 4,500 0,513

Facilita o acesso e gestão dos processos clínicos

3,22 3,00 0,641 3,67 4,00 0,516 5,000 0,693

Potencia o controlo organizacional

3,22 3,00 0,577 3,67 4,00 0,516 5,000 0,693

Permite um maior controlo da despesa pública

2,78 3,00 0,974 2,33 2,50 1,211 2,500 0,226

Reforça a proteção/segurança da informação clínica

3,48 4,00 0,700 4,00 4,00 0,000 3,000 0,083

Promove a normalização das nomenclaturas

3,44 4,00 0,751 3,50 4,00 0,837 5,500 0,847

Facilita a mobilidade internacional dos doentes

2,67 3,00 1,144 3,17 3,00 0,753 4,500 0,584

Diminui o tempo despendido na requisição de exames

2,63 3,00 0,926 2,83 3,00 0,753 3,000 0,280

Facilita a gestão da agenda médica

3,07 3,00 0,781 3,00 3,00 0,894 4,000 0,480

Permite a interoperabilidade dos dados clínicos

3,19 3,00 0,622 3,67 4,00 0,516 1,000 0,068

Evita perdas de informação 3,41 3,00 0,694 2,67 3,00 1,366 4,000 0,480

Melhora a gestão da prescrição médica

3,30 3,00 0,669 3,83 4,00 0,408 4,000 0,378

LIMITAÇÕES

A falta de conhecimentos tecnológicos e inexperiência dificultam a atividade clínica

2,67 3,00 1,074 2,83 3,50 1,472 5,000 0,724

Introduz uma carga de trabalho adicional

3,15 3,00 1,027 2,67 3,00 1,033 5,000 0,703

Aumenta os custos financeiros

1,59 1,00 0,888 1,17 1,00 0,408 0,500 0,034

M=Média, Mdn=Mediana, DP= Desvio-Padrão, U=Mann-Whitney Fonte: Elaborado pela autora

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4.1.3.3. Associação entre a frequência de utilização do RSE e a avaliação do seu impacto sobre a

qualidade assistencial

Apenas dois aspetos na avaliação do prestador de cuidados de saúde primários foram

associados à frequência de utilização do sistema na atividade clínica. Uma associação negativa, de

tamanho de efeito grande, foi encontrada com “aumento dos custos financeiros”. Isto é, uma maior

frequência de utilização do RSE na prática clínica associou-se a uma crescente desvalorização desse

fator como uma limitação do sistema (r=-0,510, p=0,002). A frequência de utilização relacionou-se

negativamente ainda com a “facilitação da mobilidade internacional dos utentes”. Uma maior

frequência de utilização associou-se a uma pior avaliação do RSE enquanto fator de promoção da

mobilidade internacional (r=-0,341, p =0,045). A avaliação das restantes contribuições e/ou limitações

do registro digital na qualidade assistencial foi independente desta variável (Tabela 6).

Tabela 6. Associações entre a avaliação do RSE e a frequência de utilização

CONTRIBUIÇÕES r P

Celeridade no atendimento do utente 0,242 0,161

Minimiza erros clínicos (ex.: má interpretação dos dados, perda de processos, etc.)

-0,244 0,158

Melhora a qualidade e rigor dos registos 0,009 0,957

Apoia na tomada de decisões clínicas -0,030 0,864

Maximiza e facilita a comunicação entre profissionais de saúde 0,102 0,560

Facilita o acesso e gestão dos processos clínicos 0,078 0,658

Potencia o controlo organizacional -0,102 0,559

Permite um maior controlo da despesa pública -0,077 0,661

Reforça a proteção/segurança da informação clínica 0,074 0,673

Promove a normalização das nomenclaturas 0,011 0,950

Facilita a mobilidade internacional dos doentes -0,341 0,045

Diminui o tempo despendido na requisição de exames -0,050 0,777

Facilita a gestão da agenda médica -0,060 0,732

Permite a interoperabilidade dos dados clínicos 0,305 0,075

Evita perdas de informação 0,103 0,555

Melhora a gestão da prescrição médica 0,137 0,434

LIMITAÇÕES

A falta de conhecimentos tecnológicos e inexperiência dificultam a atividade clínica

-0,264 0,125

Introduz uma carga de trabalho adicional -0,149 0,393

Aumenta os custos financeiros -0,510 0,002 Fonte: Elaborado pela autora

4.2. Análise Qualitativa

A análise qualitativa neste estudo, como referido anteriormente, complementa a análise

quantitativa e se apresenta especificamente ao longo do questionário, entre as questões objetivas, de

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forma a captar o máximo possível de impressões dos respondentes, e dando-lhes a oportunidade de

acrescentar quaisquer outros aspetos que por ventura tenham deixado de ser abordados nas questões

objetivas.

Da análise de conteúdo do referido material, constante do Apêndice C, foi possível reunir as

observações realizadas pelos profissionais de saúde de maneira geral em quatro categorias: (i)

vantagens do RSE na prestação de serviços; (ii) limitações da digitalização dos dados; (iii) barreiras à

implementação eficaz; e (iv) oportunidades de melhoria. O Quadro 7, que se segue, apresenta essa

divisão e as principais observações realizadas pelos respondentes dentro de cada âmbito. No

entendimento de alguns profissionais, e de acordo com as respostas abertas integradas no questionário,

o RSE é visto como uma ferramenta de trabalho sem impacto direto sobre a qualidade assistencial. A

maioria dos profissionais de saúde teve dificuldade em posicionar-se quanto ao impacto deste sistema

na qualidade da prestação do serviço e referiu, em algum momento da avaliação, que os benefícios mais

notórios foram visíveis na fase inicial de implementação e transição do registro papel para o registro

eletrônico.

Entre os participantes que reconhecem o impacto do sistema, as vantagens mais mencionadas

foram a maior celeridade no atendimento e velocidade de acesso à informação clínica, a segurança das

informações e o consequente evitamento de perdas de informação. No entanto, são reconhecidas

algumas limitações que se centram fundamentalmente no aumento da carga de trabalho e em falhas no

sistema que conduzem a mensagens de erro, muitas vezes impeditivas do registro da informação e de

um atendimento ajustado e centrado no doente.

A resistência dos profissionais e a falta de esclarecimentos e/ou meios para uma adequada

utilização das funcionalidades de um RSE continuam a ser as principais barreiras que impedem uma

utilização eficaz, mesmo após a implementação mais efetiva do RSE no Serviço Nacional de Saúde (SNS)

Português. Por último, a referência à unificação do RSE entre a rede pública e privada é uma “chamada”

de atenção de alguns profissionais para uma das principais oportunidades de melhoria quer, enquanto

ferramenta, quer na promoção de uma assistência mais consciente e ajustada.

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Quadro 7- Observações dos Respondentes: Categorização

CATEGORIAS DESCRIÇÃO

VANTAGENS DO RSE NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

- Interoperabilidade dos dados clínicos - Segurança da informação clínica - Velocidade aos dados do utente - Organização - Normalização dos dados - Celeridade ao utente - Normalização das nomenclaturas - Comunicação entre profissionais

LIMITAÇÕES DA DIGITALIZAÇÃO DOS DADOS

- Aumento da carga de trabalho - Sistemas lentos e complexos - Erros ocasionais no cruzamento de dados

BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO EFICAZ

- Resistência dos profissionais - Inexistência de instruções de utilização - Inexperiência dos utilizadores - Reduzidos conhecimentos tecnológicos

OPORTUNIDADES DE MELHORIA

- Unificação – rede pública e privada - Internacionalização – de uso no estrangeiro

Fonte: Elaborado pela autora

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5. Discussão dos resultados

A implementação do Registro de Saúde Eletrônico (RSE) na prestação de cuidados de saúde é

uma das principais tentativas de modernização da Administração Pública e tem sido bem-sucedida,

especificamente no contexto dos cuidados de saúde primários. Um grande número unidades de

cuidados primários já inclui essa ferramenta, com recurso à aplicação aprimorada e unificada do

sistema clínico, e o presente estudo mostra que a funcionalidade mais utilizada é o registro de

sintomas, terapêuticas e/ou outros procedimentos clínicos. No entanto, 8,6% das unidades de saúde

familiares (USF) incluídas nesta pesquisa ainda dispõem de aplicações tecnológicas e funcionalmente

menos desenvolvidas como o Sistema de Apoio ao Médico (SAM) e o Sistema de Apoio à Prática de

Enfermagem (SAPE). A desmaterialização dos processos, apesar de ser um objetivo da estratégia do

Ministério da Saúde, não é total uma vez que o suporte papel ainda continua a ser usado,

preferencialmente, para o acesso à informação partilhada por outros utilizadores (ex: relatórios e/ou

exames, etc.). De entre os profissionais de saúde incluídos, 17,1% ainda utilizam ambos o suporte

digital papel como ferramentas para a gestão e prestações dos cuidados de saúde.

No que concerne à operacionalidade do RSE, especificamente a aplicação Sistema clínico, a

maioria dos participantes caracteriza-o como uma ferramenta com linguagem simples (91,4%),

organizada (68,6%) e com funcionalidades facilmente acessíveis (65,7%), facto que pode ser o reflexo

da inclusão de agentes relevantes na prestação de cuidados de saúde em todo o processo de

construção do RSE. Contudo, quer a nível quantitativo, quer a nível das observações qualitativas da

amostra, verifica-se que a ocorrência de falhas e erros ainda afetam a prestação de serviços e que a

procura de soluções a esse nível poderá melhorar a sua funcionalidade e o sucesso de implementação.

No sentido de compreender o impacto do RSE na qualidade assistencial nos cuidados primários

foi analisada a perceção dos profissionais que lidam diariamente com o utente e com as

funcionalidades do sistema. Os resultados mostram que os prestadores globalmente não conseguiram

posicionar-se relativamente ao impacto do RSE na qualidade assistencial. As respostas foram muito

divergentes e não foi obtido consenso global moderado entre os profissionais nem para as

contribuições (W=0,132), nem para as limitações (W=0,444) inerentes ao registro. Do ponto de vista

quantitativo, foi visível apenas o reconhecimento pela maioria dos profissionais inquiridos da

importância do sistema enquanto fator que “reforça a proteção/segurança da informação clínica”

(62,9%), que “promove a normalização das nomenclaturas” (57,1%) e não aumenta os custos

financeiros (65,7%). Isto vai de encontro às expectativas e previsões da Administração Central do

Sistema de Saúde (ACSS 2009). No entanto, contrariamente aos resultados obtidos nos estudos de

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Wang, Yu e Hailey (2013), nos cuidados primários, a melhoria da qualidade e rigor dos registros parece

não ser considerada como uma clara contribuição do RSE. Quer ao nível dessa variável (54,3%), quer

ao nível da facilitação do acesso e gestão de processos clínicos (60,0%), da promoção do controlo

organizacional (57,1%), da interoperabilidade dos dados (62,9%) e da melhoria da gestão da prescrição

médica (51,4%), a principal classificação atribuída foi “não concordo, nem discordo”. Isto denota uma

indecisão a esse nível. Na base destes resultados menos expressivos pode estar, sobretudo, a

dificuldade dos profissionais de saúde associarem estes aspetos específicos com uma consequência

direta na qualidade da assistência.

Pelas observações qualitativas, verificou-se que no entendimento de alguns profissionais o RSE é

visto como uma mera ferramenta de trabalho, numa perspetiva de utilizador, ou apenas relevante para

a qualidade do serviço prestado ao utente na fase de implementação do sistema e consequente

transição do papel para o formato digital. Esta questão vai de encontro ao que defendem Barbosa e

Forster (2010) que reforçam a importância da perceção do utilizador nas avaliações da utilidade de

sistema e apontam a falta de instrução e treino com um fator que implica um desconhecimento das

funcionalidades e consequente utilidade de um sistema de informação. Sendo o sistema clínico uma

aplicação relativamente recente, esses fatores também podem estar na base destes resultados

inconclusivos. Apenas alguns prestadores, reconhecendo o seu impacto contínuo no melhor

atendimento ao utente, tendem a avaliações mais positivas das contribuições do registro e reforçam a

importância do RSE sobretudo na “celeridade do atendimento” e na “facilitação da comunicação entre

profissionais”.

Ao nível das diferenças de perceção entre grupos profissionais, nomeadamente médicos e

enfermeiros, os resultados não assumem relevância estatística para a maioria das variáveis. Apenas

uma diferença é encontrada na avaliação do RSE como um fator que “aumenta os custos financeiros”.

No entanto, ambos os profissionais discordam dessa sobrecarga, associada aos eventuais custos

adicionais desse tipo de registo. Assim, de acordo com os resultados obtidos e com as orientações de

Fernandes (2003) a curto e, sobretudo a longo prazo, a desmaterialização da informação clínica e

todos os procedimentos inerentes, com recurso às TIC, trazem vantagens económicas e melhores

indicadores de gestão. Olhando para medidas de tendência central, a avaliação dos médicos é mais

positiva comparativamente à dos enfermeiros, verificando-se uma maior concordância com impacto do

sistema sobre aspetos da qualidade assistencial, tomando como exemplo o rigor dos registos clínicos,

o apoio à tomada de decisão, a celeridade, a facilitação da comunicação e a gestão na prestação

médica.

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A frequência de utilização do sistema parece não ser um fator determinante na avaliação do

impacto do RSE, 88,6% utilizam-no sempre na sua atividade clínica. No entanto, uma maior frequência

de uso na prática clínica apenas se associa a uma maior conscientização da facilitação da mobilidade

internacional dos doentes por meio do registro e dos custos financeiros associados à implementação e

manutenção, aparentemente não superiores comparativamente ao suporte papel.

Os resultados desta pesquisa tornam ainda mais clara a noção das barreiras à implementação

eficiente de um RSE, na perspetiva de quem trabalha todos os dias na sua atividade profissional com o

sistema. A resistência dos profissionais é o fator mais referido entre esta população e baseia-se na

necessidade de “mudança” que imprime a implementação de RSE ou a sua atualização. O seu

sucesso está também dependente, de acordo com Ribeiro (2009), do compromisso, empenho e

interesse dos utilizadores e/ou profissionais de saúde e a própria qualidade assistencial depende desse

fator. Aliada a essa questão foram apontados pelos profissionais outros fatores como a inexperiência,

reduzidos conhecimentos tecnológicos e falta de instruções para a utilização, barreiras também

reconhecidas na literatura (Marin et al. 2003). Estas barreiras, em particular, podem ser facilmente

colmatadas no sentido de promover o melhoramento da informatização em saúde no contexto dos

serviços de saúde primários, mas também como uma oportunidade de melhoria global.

Em última análise, na perspetiva dos prestadores, um RSE que unifica a rede pública e privada

de uso internacional é uma necessidade vigente para um serviço de saúde de maior qualidade. A

criação da Plataforma de Dados de Saúde (PDS) pode não estar a satisfazer por completo essas

necessidades para a transmissão de informação. O recurso ao papel continua a ser o principal meio

alternativo. Assim, este facto apesar de não constituir uma barreira direta à implementação, impede

que seja atingido integralmente o objetivo de desmaterialização do material clínico que o Plano para a

Transformação dos Sistemas de Informação Integrados da Saúde (PTSIIS) procura atingir.

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6. Conclusão

O Registro de Saúde Eletrônico (RSE) insere-se no Sistemas de Informação em Saúde (SIS) e é

um dos avanços tecnológicos que mais benefícios tem trazido à prestação de cuidados de saúde. As

tentativas de melhoramento do RSE têm sido contínuas e enquadradas na estratégia do Ministério da

Saúde. Os resultados encontrados, neste estudo, demonstram que esta ferramenta está cada vez mais

presente no cotidiano clínico dos profissionais de saúde e a sua implementação nos cuidados de saúde

primários é mais efetiva. No entanto, na perceção dos prestadores das Unidades de Saúde Familiares

(USF), o impacto do registro como fator de melhoria na qualidade assistencial ainda não é totalmente

reconhecido.

Os enfermeiros, médicos e técnicos superiores de saúde vinculados consideram claramente o

contributo do RSE como um meio que reforça a proteção/segurança da informação clínica e promove a

normalização das nomenclaturas. Por sua vez, a facilitação da mobilidade internacional dos utentes

começa também a ser mais valorizada como uma vantagem do RSE na prática clínica, sobretudo, por

quem utiliza a ferramenta com mais frequência e, consequentemente, conhece melhor as suas

funcionalidades e consequentes vantagens. Apesar disso, mediante questões relacionadas com a

melhoria do rigor dos registros, com a facilitação do acesso e gestão de processos clínicos entre outras

atividades associadas à gestão/acessibilidade da informação clínica, os profissionais de saúde têm

dificuldade de se posicionar, talvez por não reconhecerem o seu impacto direto no atendimento ao

utente.

A celeridade do atendimento e a promoção da comunicação entre profissionais foram aspetos

menos mencionados, mas que alguns profissionais consideraram como vantagens da digitalização dos

dados. No entanto, paradoxalmente, a partilha de informação entre os profissionais prestadores

continua a privilegiar o suporte papel, fato que demonstra que a desmaterialização completa dos

processos prevalece um objetivo inconcluso.

Ao nível das diferenças na avaliação dos enfermeiros e médicos, relativamente às

contribuições do RSE, nenhum aspeto se salientou, com significância estatística. Contudo, em termos

globais, os médicos pareçam ser o grupo profissional que mais reconhece a importância da ferramenta

no atendimento, sobretudo no que concerne à gestão dos processos clínicos e funcionalidades

associadas. Na base destes resultados, pode estar a maior familiaridade com estas funcionalidades

específicas e o seu uso mais frequente na atividade profissional. Tomando como exemplo a prescrição

médica, apenas os médicos lidam diariamente com essa ferramenta e, desse modo, pelo treino diário

podem ter uma perceção mais consciente e favorável da sua utilidade.

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Em suma, apesar das vantagens mencionadas e do reconhecimento da nova aplicação

implementada, sistema Clínico, como uma ferramenta mais aprimorada de registro, para uma

avaliação mais positiva dos profissionais e uma melhor qualidade do atendimento ao utente deve

haver, em primeira linha, uma intervenção na instrução, treino e consequente capacitação dos

profissionais de saúde no manuseamento do RSE. A inexperiência, a resistência e a falta de

conhecimentos tecnológicos continuam a ser barreiras reconhecidas e dependentes, não do sistema e

das suas funcionalidades, mas da pré-disposição, preparação e abertura dos prestadores de cuidados

de saúde primários.

6.1. Contributos do Estudo

A avaliação do RSE ainda gera muita inconsistência, estando muito dependente da perceção do

utilizador e dos critérios de julgamento usados, baseados nas experiências pessoais, na abertura à

mudança e na noção de qualidade de um serviço. Aparentemente, na amostra de profissionais de

saúde empregue neste estudo, o impacto direto na qualidade assistencial parece ser difícil de qualificar

e isto gera dificuldades de posicionamento. No entanto, parece clara a sua utilidade para a segurança

das informações clínicas e para a normalização de nomenclaturas, que indiretamente permite a

interoperabilidade que a estratégia do Ministério da Saúde procura.

Este estudo permitiu, principalmente, a identificação de barreiras à implementação eficaz do

RSE e de necessidades de melhoria vigentes. Paralelamente ao aprimoramento do sistema do ponto de

vista da correção de falhas ou erros, uma das principais queixas dos profissionais foi a necessidade de

ampliação das funcionalidades e de instrução contínua no manuseamento do RSE, a fim de minimizar

as lacunas associadas à inexperiência dos prestadores e aos reduzidos conhecimentos tecnologias.

A partilha de informação é a principal causa da utilização do suporte em papel, ainda nos dias

de hoje, sobretudo entre a rede privada e pública. Na perceção dos profissionais, a unificação destas

duas redes é das principais oportunidades de melhoria e desenvolvimento a investir para uma

informatização da saúde mais eficaz. Essa unificação permite um acesso, em “tempo real”, a toda a

informação clínica do utente, que quando transmitida pelo próprio utente ou por um registo papel pode

não ser tão completa e rigorosa impedindo um diagnóstico e terapêutica ajustados.

Em síntese, o conhecimento destas barreiras/oportunidades de melhoria tornam-se não só

indicadores para a criação de plano de melhoramento, como podem servir para uma implementação

mais eficaz do RSE nas USFs que ainda usam versões menos funcionais e tecnologicamente evoluídas.

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Se a transição for bem acompanhada e cobrir as necessidades de suporte dos utilizadores pode, desde

cedo, ser reconhecidamente melhorada a qualidade assistencial.

6.2. Limitações do Estudo

Apesar da relevância do estudo no âmbito da identificação da perceção dos profissionais de

saúde acerca da importância do RSE na qualidade assistencial nos cuidados de saúde primários, e da

identificação de necessidades de melhoria, o presente estudo encerra limitações dignas de nota. O

reduzido tamanho da amostra, devido à morosidade da aprovação pela Comissão de Ética Institucional,

condiciona a generalização das conclusões obtidas. Por outro lado, o efeito da desejabilidade social

pode influenciar as respostas dos profissionais de saúde, que se sentem pressionados a avaliarem o

RSE mais positivamente ou, em consequência, a não manifestarem a sua real opinião. A inclusão de

uma escala de Likert de 5 pontos com a opção “Não concordo, nem discordo” poderia ter

inclusivamente potenciado este fenómeno social.

Adicionalmente às questões mencionadas, outras lacunas metodológicas se colocam,

nomeadamente a inclusão de USFs no qual o SAM e o SAPE, aplicações tecnológicas menos

desenvolvidas, ainda não entraram em desuso. Apesar das principais funcionalidades serem similares

o sistema Clínico representa uma clara transformação/revolução do registro de saúde em Portugal. Do

mesmo modo, a diferença entre o número de enfermeiros, comparativamente ao número de médicos

condiciona os resultados ao nível das diferenças encontradas entre os dois grupos profissionais.

Possivelmente com uma amostra mais homogênea, os resultados seriam mais esclarecedores de qual

o grupo profissional que avalia mais positivamente o impacto do RSE na qualidade assistencial, bem

como das dificuldades específicas.

6.3 Sugestões para Estudos Futuros

Em estudos posteriores, propomos a inclusão de uma amostra de maior dimensão

representativa dos três grupos profissionais: enfermeiros, médicos e técnicos superiores de saúde.

Dado que a aplicação sistema clínico entrou em vigor apenas entre final de 2013 e início de 2014,

importa também fazer uma avaliação desses sistemas nas USFs e Centros Hospitalares já

familiarizados com as suas funcionalidades identificando o impacto da sua implementação na

qualidade assistencial, comparativamente às aplicações anteriores, e as principais lacunas e

necessidades de ajustamento.

Sugerimos, por último, reconhecendo a Plataforma de Dados de Saúde (PDS) como um meio

para partilha de informação entre os profissionais, que estudos futuros analisem a utilidade da PSD na

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prática clínica, no contexto da prestação de cuidados de saúde, e enquanto ferramenta para a

comunicação dentro e fora do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e para uso internacional. Nenhum dos

profissionais referiu essa plataforma como um meio de partilha de informação, mas mostrou antes ser

mantido preferencialmente o suporte papel para essa finalidade.

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APÊNDICE A. CONSENTIMENTO INFORMADO

CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO EM INVESTIGAÇÃO

de acordo com a Declaração de Helsínquia2 e a Convenção de Oviedo3

Por favor, leia com atenção a seguinte informação. Se achar que algo está incorrecto ou que não está

claro, não hesite em solicitar mais informações. Se concorda com a proposta que lhe foi feita, queira

assinar este documento.

Título do estudo: “Sistema de informação em saúde e a sua perceção por meio do registro de saúde

eletrônico para a melhoria da qualidade assistencial”.

Enquadramento: O presente estudo realiza-se, no âmbito do Mestrado em Administração Pública da

Universidade do Minho, sob orientação da Prof. Drª Sílvia Camões, e objetiva avaliar a perceção dos

profissionais que prestam cuidados de saúde primários relativamente ao impacto do registo de saúde

eletrônico na melhoria da qualidade assistencial.

Explicação do estudo: Solicita-se o preenchimento de um questionário que pretende fazer um

levantamento das principais características do sistema utilizado nas Unidades de Saúde Familiar e das

suas vantagens e/ou limitações na prática clínica. O seu preenchimento demorará aproximadamente

15 minutos.

Condições e financiamento: A participação é de caráter voluntário e não acarreta quaisquer

prejuízos, caso não queira participar. A presente investigação mereceu o Parecer favorável da

Comissão de Ética para a Saúde da ARSN.

Confidencialidade e anonimato: Os dados obtidos nesta investigação serão recolhidos e tratados

de modo confidencial e, em nenhum momento, serão associados à sua identidade.

2 http://portal.arsnorte.min-saude.pt/portal/page/portal/ARSNorte/Comiss%C3%A3o%20de%20%C3%89tica/Ficheiros/Declaracao_Helsinquia_2008.pdf

3 http://dre.pt/pdf1sdip/2001/01/002A00/00140036.pdf

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Agradecemos, desde já, a sua participação. Em caso de dúvidas ou questões relativamente à tarefa

realizada e/ou devolução dos resultados finais do estudo poderá contactar a invetigadora responsável,

Ana Caroline Tenório, Enfermeira, através do contacto de e-mail [email protected].

-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-

Declaro ter lido e compreendido este documento, bem como as informações verbais que me foram

fornecidas pela/s pessoa/s que acima assina/m. Foi-me garantida a possibilidade de, em qualquer

altura, recusar participar neste estudo sem qualquer tipo de consequências. Desta forma, aceito

participar neste estudo e permito a utilização dos dados que de forma voluntária forneço, confiando em

que apenas serão utilizados para esta investigação e nas garantias de confidencialidade e anonimato

que me são dadas pelo/a investigador/a.

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APÊNDICE B. QUESTIONÁRIO

O presente questionário, desenvolvido no âmbito da dissertação do Mestrado em Administração

Pública, objetiva avaliar a perceção dos profissionais de saúde relativamente ao impacto do registo de

saúde eletrônico na melhoria da qualidade do atendimento assistencial.

Os dados recolhidos serão exclusivamente usados para a finalidade descrita, sendo garantia a

confidencialidade dos mesmos.

Por favor, leia com atenção todas as questões apresentadas e, caso surjam dúvidas durante o

preenchimento, solicite esclarecimentos ao investigador.

Procure ser o mais exato possível!

GRUPO I

DADOS DEMOGRÁFICOS

1 – Sexo: M ______ F______

2 – Idade: ______

3 – Estado Civil:

Solteiro (a)

Casado(a) ou União e Facto

Divorciado(a) ou Separado

Viúvo(a)

4 – Qual o seu grupo profissional?

Médico(a)

Enfermeiro(a)

Técnico Superior de Saúde, Especifique _______________________________

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5 – Há quanto tempo exerce a sua atividade profissional?

Menos de 1 ano

1 a 5 anos

6 a 10 anos

Mais de 10 anos

6 – Há quanto tempo exerce a sua atividade profissional em cuidados de saúde primários?

Menos de 1 ano

1 a 5 anos

6 a 10 anos

Mais de 10 anos

GRUPO II

CARACTERIZAÇÃO DO SERVIÇO

1 – Que recursos usa na gestão e prestação dos cuidados de saúde aos utentes?

Suporte papel

Suporte digital

Suporte papel e digital

2 – A que funcionalidades do registo de saúde eletrônico recorre para prestar os cuidados de saúde na

função que desempenha?

Acesso ao processo clínico dos utentes

Acesso à informação partilhada por outros utilizadores (ex. relatórios e/ou exames médicos)

Registo de sintomas, terapêuticas e/ou outros procedimentos clínicos

Registo de relatórios

Consulta, registo e arquivamento de dados laboratoriais e de imagem

Gestão e consulta da lista de espera

Marcação de consultas e/ou outros procedimentos clínicos

Prescrição médica e/ou gestão de medicamentos

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Ferramentas de análise: criação de tabelas, gráficos e mapas para o apoio aos cuidados

primários

Outras. Quais?___________________________________________________

2.1. Para alguma das funcionalidades que identificou anteriormente, recorre em simultâneo ao formato

papel? Qual(ais)?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

3 – Como avalia a frequência do recurso ao registo eletrônico para o desempenho da sua atividade

profissional?

Nada

Pouco

Às vezes

Muitas vezes

Sempre

GRUPO III

AVALIAÇÂO DO REGISTO ELECTRÓNICO

1- As afirmações, que se seguem, pretendem avaliar o seu grau de concordância relativamente

ao impacto do registo eletrônico na atividade profissional e na consequente assistência aos

utentes. Classifique-se usando a seguinte escala assinalando com o (X) a opção mais

adequada:

Discordo Totalmente Discordo Não concordo,

nem discordo

Concordo Concordo Totalmente

1 2 3 4 5

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1 2 3 4 5

1- Assume uma linguagem simples

2- Está bem organizado

3- Os passos para o acesso às funcionalidades pretendidas são

facilmente identificáveis

4- Contribui para a celeridade do atendimento do utente

5- Minimiza erros clínicos (ex.: má interpretação dos dados, perda

de processos, etc.)

6- Introduz uma carga de trabalho adicional

7- Melhora a qualidade e rigor dos registos

8- Apoia na tomada de decisões clínicas

9- Maximiza e facilita a comunicação entre profissionais de saúde

10- Facilita o acesso e gestão dos processos clínicos

11- Potencia o controlo organizacional

12- Permite um maior controlo da despesa pública

13- Aumenta os custos financeiros

14- Reforça a proteção/segurança da informação clínica

15- Promove a normalização das nomenclaturas

16- Facilita a mobilidade internacional dos doentes

17- Diminui o tempo despendido na requisição de exames

18- Facilita a gestão da agenda médica

19- A ocorrência de falhas no sistema dificulta a prática clínica

20- A falta de conhecimentos tecnológicos e inexperiência dificultam

a atividade clínica

21- Permite a interoperabilidade dos dados clínicos

22- Evita perdas de informação

23- Melhorias na gestão da prescrição médica

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2 - Na sua opinião, quais são as principais vantagens do registo de saúde eletrônico,

comparativamente ao registo em papel, na qualidade o atendimento ao utente?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.1. Quais considera serem as principais limitações da digitalização dos dados no atendimento

assistencial?

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

2.2. Identifique quais os fatores que lhe parecem limitar a eficácia da implementação do registo de

saúde eletrônico nas Unidades de Saúde Familiar.

Resistência dos profissionais da passagem do suporte papel para o suporte digital

Falhas e mensagens e erro no sistema

Inexperiência dos utilizadores

Reduzidos conhecimentos tecnológicos

Inexistência de instruções de utilização, em suporte escrito

Outros:________________________________________________________________

________________________________________________________

OBRIGADA PELA SUA COLABORAÇÃO!

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APÊNDICE C. TRANSCRIÇÃO DAS OBSERVAÇÕES DOS RESPONDENTES

Na sua opinião, quais são as principais vantagens do registo de saúde eletrônico, comparativamente ao

registo em papel, na qualidade o atendimento ao utente?

“Interoperabilidade dos dados clínicos, facilita o processo de gestão dos dados clínicos”

“Segurança da informação clínica”

“Com sape nenhumas”

“Promove a normalização das nomenclaturas”

“Facilitar a comunicação entre os profissionais”

“Reforçar a segurança da informação clínica”

“É bem organizado”

“Uma grande evolução nos cuidados de saúde primários”

“Apenas vantagens”

“Evita perdas de informação clínica do utente”

“Celeridade ao utente”

“Linguagem”

“Não interfere”

“A facilidade de comunicação entre profissionais, mas ainda não é um rse único, percebes?”

“Indiferente”

“Celeridade do atendimento”

“Nenhuma”

“Não observo vantagens diretas para o utente” “É o compartilhamento da informação segura pelos profissionais, por todo o serviço de saúde, mas

será ainda melhor, quando este for totalmente unificado, rede pública e privada, um só rse” “Velocidade para avaliar a história clínica do utente, visto que, no registro de papel além de haver

demora para encontrar no arquivo, há a possibilidade de perda do documento”

“Realiza linguagem universal em saúde”

“Prescrição médica do utente”

“As informações agora não são mais perdidas”

“Acesso a todos os profissionais”

“A principal vantagem para o paciente é a celeridade no atendimento “

“Não vejo alteração, visto que a melhoria foi para o profissional”

“A principal vantagem é o compartilhamneto da informação”

“Segurança das informações “

“Organização das informações”

“Informação partilhada”

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Quais considera serem as principais limitações da digitalização dos dados no atendimento assistencial?

“Resistência dos profissionais de saúde, e falhas no sistema que dificulta a prática clínica”

“Introduz uma carga adicional de trabalho”

“Sistemas muito lentos e muito complexos”

“Introduzir uma carga adicional de trabalho”

“A resistência dos profissionais à digitalização”

“Falta de recursos”

“Aumento da carga de trabalho”

“Não vejo limitações”

“Só tem crescido desde que implantado”

“Sem limitações”

“Não há”

“Inexistente”

“Indiferente”

“Ocorreu apenas na introdução” “Dificuldade de registrar dados que pareciam irrelevantes ao registro em papel e erros ocasionais

do sistema e seus cruzamentos de dados”

“Sistema com erros e falta de dados em registro” “Não chega a ser uma limitação, pois o RSE está sempre a avançar, mas por este ainda não ser

internacional, de uso no estrangeiro”

“Não serem acessadas a nível privado”

“Não considero nenhuma limitação no meu trabalho”

“Não ocorre”

“Custa um pouco”

“Tempo”

“Prejudica um pouco o atendimento às vezes”

“Raramente ocorre problemas no sistema”

“Precisa ser mais ampliado”

“Poder ser melhorado” “Hoje não existe limitações”