rohden_honra e família literatura nacional

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Rohden_honra e Família Literatura Nacional

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Honra e Famlia em Algumas Vises Clssicas da Formao Nacional*FabolaRohdenIntroduoEsteartigopretendeanalisaraproduodealgunsautoresbrasileiros1 queescreveramemtornodaprimeira metadedosculoXXsobreaformaonacional,sejaa partirdaconstituiodeumpoderpblico oudenossasorigensquantofamlia.O objetivo principal trazer tona o modelo de famliaqueestoconcebendocomofundamentodaorganizaosocialdaColnia.A preocupaocomasconcepesdefamlia noprocuraapenasacomparaodesuas descries,mascumpreumoutropropsito. Veremosque,paraaquelesautores,aordem pblicanoBrasildosprimeirossculoss sesustentavapelasuarelaocomaordem privada.Nessesentido,tentardesvendaros princpiosorganizadoresdafamliatambm descortinaralgumasindicaesparaacompreensodoqueeraarelaoentreordem pblicaeprivadaparaosautoresemquesto.Pretendotambmdemonstrarque,ao fazeremremissoaessesprincpiosorganizadores,osautoresestoconcebendooque poderamoschamardeumcdigodeorientaomoral,umpadrodehonra,que estaria operandonaColnia.Esseconjuntodevaloreshierarquizados,deorientaesdefinidaspelasociedade,queregulamoscomportamentosdeindivduosegrupos,definiriaa dinmicasocialdaqueleperodo.Aproposta,ento,fornecerindciossobreessecdigo,esseconjuntoderefernciasqueaparecenasdescriesdosautorestratados sobreafamliacolonial,equenassuasanlisesgovernavatambmasorigensdenossasrelaespolticas.EntreoPoder Privado eo Poder PblicoEmumprimeiromomentovouenfocar algumasconcepesmaisgeraisdosautores,procurandoidentificarsuasprincipais definiessobrearelaoentrefamliaeEstado ou privado e pblico.Sugiro quese pode falar emumdiagnsticomaisgeralquecomumatodososautores.Trata-sedaafirmaodequenoBrasilcolonialafamliaocupavamltiplasfunes,desdeabaseeconmica,aorganizaosocial,atasrelaes polticas,emcontrastecomumEstadoainda inoperanteouineficaz.Eclaroqueodetalhamentodecomosedavaesseprocesso ganhacoresdiferenciadasentreosautores, eistoqueprocurareidemonstrar,masa questomaisgerallhescomum.Poroutro lado,asdiferenastornam-semaisclaras quandosepassadodiagnsticoparaaex-*AgradeoassugestesecomentriosdeMoacirPalmeiraversooriginaldestetrabalho.BIB, Rio de Janeiro, n. 48, 2. semestre de1999,pp. 69-89 69plicao.Nessecaso,distintosfatoresso evocadosparapreencheromodeloanaltico de cada um.Umltimo planoseria odasproposieselencadasdeacordocomsuacompreensosobreomelhorcaminhoparao desenvolvimentosociopolticodanao. Esteltimonoserobjetodaanlisefeita aqui,na medida em queoqueinteressamais diretamenteoquadrocompostosobreum dadomomentodenossahistria.Vamos, ento,aessequadro.OliveiraVianna(1973)dizquenosprimeirossculosdenossacivilizaooEstadopoucoacompanhava a expansoterritorial empreendidapeloscolonizadores.Japartir da,tornou-secadavezmaisclaraadistnciaentrepoderprivadogovernadopelosinteressesparticularesepoderpblico,estatal, nocontroleeadministraodovastoterritrioqueseconstitua.Essescolonizadores, agrupadosemtornodafamliaedeforma maisabrangenteconformandoosgruposou cls,atravsdaunidadedeproduodomsticacaracterizadanagrandepropriedaderural,passamaedificaroqueseriamas basesdaestruturasocialdaColnia.Parao autor,emfunodacapacidadedeauto-sub- sistnciaedeumaproduoeconmicaautonomizada,agrandepropriedadecapaz depermanecerisoladaeconteragrupadas emtornodesitodasasoutrasrelaessociais.Essaindependnciaeconmicaexerce umafunosimplificadorasobretodaa estruturadaquelapopulao,restringindoa consolidaodeumacomrciomaisamploe osurgimentodeumaclasseburguesa,impedindoainstauraodeumprocessoindustrialenodandochancesparaaformao dencleosurbanos,oquepoderiarepercutirnosurgimentodeclassespoliticamente organizadas.Dessemodo,opoderdosgrandessenhoresterritoriaispermanecequase absoluto,noencontrandorestriesefetivasquelhefaamfrente.Governaafamlia, osparentes,osescravoseamassadetrabalhadoreslivresquetambmsoseusdependentes.Aestes,diantedainexistnciade outrasinstituiesqueofereamalgumtipo degarantiadesobrevivnciaemnimosdireitosde justiaedefesa,scabeassegurar- sedaproteodeumsenhorrural.A solidariedadedecl anicaforma deorganizaosocialaqueosindivduospodem recorrer.Aausnciadopoderpblicofaz comqueOliveiraViannavejanosclsterritoriaisenopoderiodeseussenhoresomeio quegarantiuadifcileprecriaestabilidade daColnia,indicandoassimqueopoderprivadoassumiaecumpriaasfunesqueidealmenteseriamatribudasaopoderpblico. Dessemodo,apontaparaoquenosinteressamaisdiretamenteaqui,quesocdigos moraisbaseadosnafamliaenoprivado, gerenciandoasrelaespblicasoupolticas.EmCasa-GrandeeSenzalaGilberto Freyreforneceelementosparasepensara relaoentrepblicoeprivadomuitomais peloladodedentro,peloladodafamlia.O autorcompeoqueeleprpriochamade umahistriantima,redesenhandovaloresecostumesquecimentaramasrelaes sociais no Brasil colonial. Apesar de seu olhar paradentro,tambma famliaagranderesponsvelpelafunodeorganizaodaquelasociedade.Seupredomniocomomodelo fundamentalderelaestoenglobante queestendeseusprincpiosportodootecidosocial.Paraele,acasa-grandefoiocentrodecoesopatriarcalereligiosa.Essas unidadesconstituamospontosdeapoio paraaorganizaonacional.E,almdisso:Acasa-grande,completadapelasenzala,representatodoumsistemaeconmico,sociale poltico:deproduo(amonoculturalatifundiria);detrabalho(aescravido);detransporte (o carro de boi,o bangu,a rede,o cavalo); dereligio(ocatolicismodefamlia,comcapelosubordinadoaopater famlias,cultodos mortos,etc.);devidasexualedefamlia(o patriarcalismopolgamo);dehigienedocorpo edacasa(otigre,atouceiradebananeira,o70banhoderio,obanhodegamela,obanhode assento,olava-ps);depoltica(ocompadris- mo)(Freyre,1995,p.liii).Diantedetovariadasfunes,afamlia,encarnadanacasa-grande,tinhamais podersobre o territrio nacionaldoque qualqueroutrainstituio,mesmooEstado,a quemossenhoresdeengenhoafrontavam comfacilidade,ouaIgreja,especialmente depoisdevencidososjesutas:Vencidoo jesuta,osenhordeengenhoficoudominandoaColniaquasesozinho.Overdadeiro donodoBrasil.Maisdoqueosvice-reise osbispos.(idem,p.lvii)2 Econtinuando: Aforaconcentrou-senasmosdossenhoresrurais.Donosdasterras.Donosdos homens.Donosdasmulheres.(idem,p.lii) Freyremostra,assim,ograndealcancedos proprietriosruraiscomodonosdetudoe fontesdepoder.SrgioBuarquedeHolandanoestinteressadoemdiscutirdiretamentearelao entrefamliaeEstadooudescreverapurada- mente o modo de vida da famlia colonial brasileira.Oquelhepreocupaaformaodo tiposocialbrasileiro,suasorigens,suascaractersticaseseucomportamentosocial.E a,nesteplano,queentramfundamentalmenteosvaloresecostumesdafamliaimpregnadosemtodasasformasderelao socialdobrasileiro.Oautorexplicaquedesdea nossaheranaibricavemacultura da personalidade,avalorizaodaautonomia decadahomeme,em decorrncia,afrouxidodaestruturasocial,afaltadecoeso quenoscaracteriza(Holanda,1984,pp.4-5). Umafaltassupridaporumasolidariedade calcadanossentimentosenonosinteresses.Nossasrelaessociaissofundadas emumabaseemotivaeforamasrelaes domsticasomodeloobrigatriodequalquercomposiosocialentrens(idem,p. 106).Esseexcessodeprivatismo,quecaracterizouoEstadobrasileironopassado,quandodiantedasinstituiespblicasspode serprejudicial.Paraoautor,arelaoentrefamlia e Estadode descontinuidade eoposio,marcandoocontrasteentreprincpios institucionaisdiferenciados: OEstadonoumaampliaodocrculo familiare,aindamenos,umaintegraode certosagrupamentos,decertasvontadespar- ticularistas,dequeafamliaomelhorexemplo.Noexisteentreocrculofamiliareo Estadoumagradao,masantesumadescontinuidadeeatumaoposio.Aindistino fundamentalentreasduasformasprejuzo romnticoqueteveosseusadeptosmaisentusiastasduranteosculodcimonono.Deacordo coinessesdoutrinadores,oEstadoeassuas instituiesdescenderiamemlinhareta,epor simplesevoluodaFamlia.Averdade,bem outra,quepertencemaordensdiferentesem essncia.Spelatransgressodaordemdomstica efamiliar quenasceoEstadoequeo simplesindivduosefazcidado,contribuinte, eleitor,elegvel,recrutveleresponsvel,ante asleisdaCidade.Hnessefatoumtriunfodo geralsobreoparticular,dointelectualsobreo material,doabstratosobreocorpreoeno umadepuraosucessiva,umaespiritualizao deformasmaisnaturaiserudimentares,uma procissodashipstases,parafalarcomona filosofiaalexandrina.Aordemfamiliar,em suaformapura,abolidaporumatranscendncia(idem,p . 101).Essadiferenciaontidadeprincpios entrefamliaeEstadotambmexplicitada porNestorDuarte.Ocorre,principalmente, porqueaordemestataltempormetabsica oexercciodopoderdemandoegoverno, enquantoafamliasoexercesecundariamente,emfunodeseusinteressesprprios.AIgreja,queparaNestorDuarte(1966, p. 14)aparececomoumaforaconcorrente soutrasduas,tambmsdetmopoderem virtudedaatividadereligiosaedosobjetivosdacomunidadeeclesistica,enocomo umfimemsimesmo.Almdisso,afamlia insere-senaordemrestritiva,dogrupofechado,exclusivista,enquantooEstadopretendeabrangeropodersobretodasasoutras esferassociais.Estado,Igrejaefamliatm naturezasdiferentes,somovidosporprincpioscontraditriosumaafirmaobem71distintadaquelesquepercebemnaintegraodasfamliasumgermedoEstado.E,em lermossemelhantesaotextodeSrgioBuar- quedeHolanda,afamliaconcentrapessoas ;ipartirdolaosentimental,antagonizando- sccomoEstado:EmfacedoEstado,quandoesteaabsorveou limitaapotestadedomstica,afamliacomeaadesencadearumaforaderesistnciaede oposio.Porqueoseuespritomaisvivoe intensodoqueodoEstado,comumfundamentosentimentalqueaqueledesconhece,ela preparaearmaindisfarveisantagonismos vidapblica,opondoohomemprivadoaohomempblicocomtalsentimentodialticoque ostornairreconciliveis(idein,pp.15-16).Esclarecidoesseantagonismo,oautor passaacaracterizarafamliadaColnia,levandoemcontaaorigemportuguesa,eminentementepar ti culari staecomunal,a organizaoeconmicadecarterfeudal eindependentedoEstado,eagrandeextensoterritorial.Maisumavezafamliaque assumeemonopolizatodasasformasderelaosocialemfunodesuacapacidadede expansoeautonomiaedasingularfraquezadoEstado.EnquantoavidasocialdaColniasedefinepelasrelaescivis,pelo convviodohomemcomohomemetrocasparticulares,oEstadopermanecefraco, distante e incapaz de treinar o indivduo para osmistereseossentimentosprpriosdavida pblica,largando-osualivreiniciativa tidem,p.46). bomchamar a ateno para o fatodequeoqueseopeordempblica na Colnia no simplesmente a famlia,mas todaumacomplexaformadevidasocial,representadanasdisputas,conflitos,hierarquias,quevaialmdosmerosinteresses individuais.muitomaisumacomposio deinteressesvariadosformandoumaoutra formadeordempblica.Almdisso,muitas vezes,oEstadotorna-semesmodesnecessrio(Duarte,1966,p.59) j quea organizaosocialgarantidapelaordemprivada (idem,pp.70-71),ou,ento,faz alianas com72opoderprivado,atsesujeitandoaele.o queNestorDuartefalasobreapazdaColnia,asseguradaporumcompromissodoEstadocomacasa-grande:Elelhetransfereopoderquepodetransferir, consentequelheretirequasetodaaoportunidadedeinterferncianogovernodaColnia, enquantoela,porsuavez,oapoiarassim, porquedeacordocomosentidodeseusinteresses.[...]Masaalianaqueconstituiesse notvelequilbriodaColniaequeexplicaa sobrevivnciadeumasociedadeeminentementefracionriaetopoucosolidria,batidade tantoscontrastes,essaalianaumaretirada doEstadodaarenasocial,ouasuasujeio integralaosinteressesdacasa-grande(idem, p.72).3Umltimopontoquemereceserincludo aqui a prpria referncia de Nestor Duarteaalgunsdosautoresqueestoutratando, dopontodevistadosentidoexplicativode suasobras.Afirmandoanecessidadedeexplicitarasrazesporquepreponderanasociedadecolonialoprivatismo comoforma de organizaosocial,dizqueosautoresno forammuitolonge.Nasuaopinio.Oliveira Vianna tratadoproblemasemirafundo,no sistematizandoofatodentrodeseuestudo dasociedadebrasileira.JGilbertoFreyre teriacentralizadosuaobranahistriantimadobrasileiro,semnotarasdevidasrepercussesqueofamilismotevenahistria polticadaColnia.SrgioBuarquedeHolandateriaomritoderelacionarfamliae ordempblicaemesmoodedefini-lasem termosdeessnciasdiferenciadas.Contudo,paraNestorDuarte,Holandanochegouasistematizarealargaroproblema,o queDuartedefinecomooobjetivocentral desuaobra,considerandoespecialmenteo campopoltico.OlivrodeCostaPintosobrelutasde famliasnoBrasil,decertaforma,investeno aprofundamentodaquesto,pelomenosa partirdeumadesuasexpressesfundamentais.Tratadessaslutasconsiderandoarelao entrea ordemprivada ea ordempblica.Apartirdefatoresjcitadospelosoutros autores,comoadiscrepnciaentreterritrio econmicoeterritriopolticoeaimportnciadainiciativaprivadanacolonizaodo Brasil,revamultifuncionalidadedafamlia patriarcal,incluindonelaafunojurdica (Pinto,1980,pp.22-23).Para oautor,a organizaosocialdaColniacaracteriza-se,entre outras coisas, pelo gerenciamento da ordem legalatravsdosjulgamentosesanesbaseadosnosclsfamiliaresesuasdisputas, fazendodavinganaprivadaaprincipalformadesanodoperodo.Posteriormente,h ummomentodepassagemgradualdogovernoda famliapara o doEstadosobreos conflitos,momentoemqueavinganapassa entoaser consideradacomoumcrime.Isto quandooEstadoganhaalgumtipodefortalecimentoesaidasituaodesubordinado aopoderdospotentados.Porque,nosprimeirossculos,apesardastentativasdehierarquizaoeorganizaodergos, poderes,cargosefunesdegoverno,oque preponderaopoder demandodasfamlias: [...]oposso,quero,emandodospotentados, oimpulsonaturaldedefesadapleberural quealevaaabrigar-sesombradospoderosos,aarbitrariedadeeavenalidade,quandono asubmissodosmagistradosaosdonosdafora,oisolamentodaspovoaes,desorganizamaadministrao,obrigam-naadistender- se,dispersando-se,pelalatitudeimensa(idem, p.32,nfasesdoautor).Assimcomoparaoutrosautores,opa- ter-familiaseraopontoirradiadordefora estvelduranteaColnia,oqueconcentravaoslaossociaispossveiseexistentes. Agora,aoqueparecediscutindocomOliveiraVianna,CostaPintodiscordaqueaordemsocialconseguidanaColnia,carente depoderesinstitucionalizadosouformalizados,fossedecorrnciadandoledopovo brasileiro.Emlugardequalidadesmorais, Costa Pinto(idem, p.33)asseguraque oque mantevealgumcontrolesobreaquelasociedadefoiopoderdoclpatriarcaleespecialmenteoseuexercciodafuno jurdica.Valeapenaincluir nestemomentoalgumasobservaesdeF.deAzevedo,especialmentepelasuacapacidadedesntesedos argumentosemcursonaprimeirametadedo sculoXX.Citandoalgunsdosautoresj vistos,Azevedoinsistenafamliapatriarcal comooalicercedoBrasilColniamuitoem virtudedasuacapacidadededilataroseu poder,aambarcandooutrasorganizaese tornando-asantagnicaseinfensasaoEstado.Acasa-grande,almdeseraexpressodaordemprivadanasuapersistnciae solidez,significoutambmatendncia,caractersticadopatriarcalismo, deabsorvereconfundirasfunessociaisque, sporumlongoprocesso,acabarampordiferenciar-se,deslocando-sedarbitadesuaatrao(Azevedo,1948,p.66).Abrigavaumpoder decoesosocialque porforadesuanfaseparticularistasecontrapunhaaumpoderpblicounificado.E maisdo queisso,representava um poder com pesodiferenciadodaqueledoEstado.Enquantoesteeralongnquoevacilante, aquelasedesenvolviacomumaforacaudalosa[idem,p.68).Avidapblica noera nadaalmdaextensodavidadomstica, centradanopoderiodossenhoreslocais, combase noslatifndiosena famlia patriarcal.F.deAzevedochegamesmoadizerque cadafamliaeraumEstadodentrodoEstado:Quantomaisslidaaconsistnciadafamlia patriarcalequantomaioroseupodereconmico,tantomaisforteatendnciadeseconcentrarcadaumadelasnumEstadodentrodo Estado(idem,p.78).Oqueessesautoresnostrazemdecomum,ento,umaorganizaopblicaou umaordemsocialdoBrasilnaColniabaseadanaprepondernciadafamliasobreo poderpblicoinstitucionalizado.Cabeagora verificar de que famlia esto falando, como seapresenta,emquebases,qualasuaorga-73ni/.aointerna,quaisosvaloresqueest emprestandoaoespaopblico.AFamliaPatriarcalPassoagoraparaumaanlisedadescrioqueessesautoresfazemsobreafamlia patriarcalesuasrelaesinternaseexternas,procurandoidentificaralgunsprincpios fundamentaisqueorganizamaordemprivadadasociedadecolonial,umaordemqueem muitoultrapassaoseudomnio,chegando atoutroslugaressociais,comooespao pblicoouarelaocomoprprioEstado. Oquevimosatagorafoiointercursodo pblicocomoprivadoconstituindoaorganizaocolonial.Oque precisodefinirmelhorqualocontedodessarelaoaqui estamoslidandocomaconcepodeum cdigodevaloresqueorganizaumasociedade.Nessesentido,possvelsugerirque essesautoresestodescrevendoouconformando,atravsdesuasinterpretaes,um determinadopadrodehonraemvoganaquelemomentohistrico.4 Oquepretendo destrincharocontedoeomododeoperaodessecdigotalcomoseapresentanas definiessobrefamliapatriarcalnosautoresescolhidos,procurandoassimnovaspis- lasparaoentendimentodarelaoentre pblicoeprivadoqueaparecenodebate sobreaColniaeaformaodoEstadono Brasil.Aimportnciadafamliapatriarcalno modeloexplicativodeautoresque estopensandoaformaopolticadopovobrasileiro,comoOliveiraViannaeNestorDuarte, bastanteevidente.Asindicaesarespeito sotoabundantesquantonaobradeautoresquepretendempensarmaisdiretamente afamlia,como ocasodeGilberto Freyre e AntnioCndido,por exemplo.Emgeral,os principaispontossocomuns:adominao dosenhordeterrassobremulheres,filhos, agregados,escravos,parentes;umamoral sexualdistintivaparahomensemulheres,dandoliberdadeaosprimeirosereclusos segundas;dependnciadosno-propriet- rios;solidariedadesocialbaseadanogrupo familiar etc.5EcomoasdefiniesdeFreyre eCndidosomaisconhecidas,vouoptar porcitarumapassagemdeWillemsqueresumeomodelodefamliapatriarcaldescrito porviajantesestrangeiros:"Onamoroestritamentevigiadopelafamlia,quecontrola,corporativamente,acondutadeseusmembros.difcilaummooeuma moaconhecerem-sebemantesdocasamento porqueemgeralnopodemestarssdesacompanhados.6 Depoisdocasamentoomaridoassumeopapeldepaiau t o r i t ri o e dominador.Noseesperaqueasmulherescasadassejamcompanheirasparaseusmaridos, massimquesetornemmesdevotadaseboas donasdecasa.Vigiadasporpaiszelososepor espososciumentos,asmulheresbrasileirasso levadasaajustar-seauniavidadomsticareclusa,limitando-se,almdisso,atomarparte nasatividadesreligiosasdacomunidade.Aos homenssepermitequegozemdetodasasliberdadesquedesejarem.Pelochamadopadro duplodemoralsexualsocialmenteaceitvelqueohomemtenharelaessexuaisadlterasoupr-maritaisenquantoquenose perdoaamulherqueaelasseentregaemcondiesidnticas.Finalmente,afamliabrasileiracaracterizadacomogrupocomplexoe consanguneo,maisdoquecomogrupoconjugal,oquepodeserilustradopelofatoquemesmoparentesnomuitoprximossounidos porfortesentimentodesolidariedade(Willems,1954,p.328,nfasesdoautor).Estapassagemremeteadoispontos importantes:estruturaodasrelaesda famliaemtermosdecasamentos,parentese agregados;esdiferenasdegneroe moralsexual.Vamosaoprimeiroponto.F.deAzevedo(1948,pp.67-68)resume bemaapresentaodepesquisasanterioressobreodomniodacasa-grandeedo pater famliassobreosoutrosmembrosdo gruposocial.Opoderdosaristocratasrurais transbordavaoslaosdeparentescomais prximosparachegaratescravoseagregados,constituindoumanicaunidadedepos74sedopatriarca.Segundooautor,opoder despticoexercidopelossenhoresdeengenhosobreamulher,osfilhos,parents,agregadoseescravossvariavaemtermosde grau,mantendoamesmaessnciaeatingindoatmesmooshomenslivres.Oliveira Vianna(1973, pp.147-148) afirma que em funodaausnciadequalqueroutrotipode solidariedadecomoadeclasseouaparental,aesseshomenslivressrestavaaderir solidariedadedecledependnciadealgumpotentadorural.ParaNestorDuarteo ambienteerapropcioparaqueafamliacolonialfosseocentrodepoder,inclusives seabrindoparauniescomoutrasfamlias. Segundoele,asligaesentreosparentes definiamosmodosderelaointernaeexterna famlia:"Nessemeio,elapodecrescereestender-se semperigodeintercmbiosereaescomoutrasmassasouagrupamentos,comoverdadeiraautarquiafechada.Solaoparentale domsticodefiniaeresumiaacooperaoeconmicaesocial.Asenzalaeoescravoainda sotermosdacomunhodomstica.Endoga- miza-sequaseesseestendeparaalargara cooperaoatoutrafamlia,pelolaoparentaldoscasamentoscruzados,natendnciaem fundir-senumas,aindamaiorenumerosa, paradarlugaraverdadeiratribodecoesopor parentesco(Duarte,1966,p.68).JA.Cndidodefineaorganizaoda famliapatriarcalpelasuadivisoemuma duplaestrutura.Afaltademulheresbrancas,oconseqenteconcubinatoe,principalmente,ograndenmerodefilhos ilegtimosdossenhoresrurais,quepoderia colocar em perigo a solidez da famlia do ponto devistadestatuseacomodaosocial, levou-osaadotaramanutenodedoisncleosdistintos:ocentral,irradiadordeseu prestgioepoder,eoperifrico,lugarderelaesabertas.Oprimeiroeracompostopela mulherefilhoslegtimoseosegundo,nem semprebemdelineado,porescravos,agregados,mestios,asconcubinasdochefee seusfilhosilegtimos.Dessencleo,doqualoproprietrioruraleraosenhorabsoluto, derivavamosprocessosdesocializaoe integraodosmembros,especialmentemarcadosporrgidasdistineshierrquicas. ocasodostratamentosdepaiemeporSenhoreSenhoraoudospedidosdebeno incorporadosaocotidiano(Cndido,1951, p.294).Defato,adominaodopainogerenciamentodavidadosfilhosumponto comum.Podeserobservadatambmnessa passagemdeOliveiraVianna,ondesenota inclusiveumasimpatiadoautorcomacapacidadeeducadoraetambmestabilizadora dopatriarca:7imensaaaoeducadoradopaterfamlias sobreosfilhos,parenteseagregados,adscritos aoseupoder.Eo pater famliasque,por exemplo,dnoivosfilhas,escolhendo-osegundo asconveninciasdaposioedafortuna.Ele quemconsentenocasamentodofilho,embora j emmaioridade.Elequemlhedetermina aprofisso,oulhedestinaumafunonaeconomiadafazenda.Elequeminstalanavizinhanaosdomniosdosfilhoscasados,enunca deixadeexercersobreelesasuaabsolutaascendnciapatriarcal.Elequemosdisciplina, quandomenores,comumrigorquehojeparecerbrbaro,tamanhaaseveridadeearudeza. Poressetempo,osfilhostmpelospaisum respeitoqueraiapeloterror.Esserespeito, emcertasfamlias,umatradiotovivaz, quecomumverem-seosprpriosirmoscadetespediremabenoaoprimognito.Noutras,asesposaschamamsenhoraosmaridos,e essessenhorass.esposas.Osentimentode respeitoaosmaisvelhosedeobedinciasua autoridadetogeneralizadooutroranonosso meiorural,tambmumaresultantedessaorganizaocesaristadaantigafamliafazendeira(Vianna,1973,p.54).Para Oliveira Vianna (idem,p.53)a estabilidadeconseguidacomessetipodegerenciamentodoslaosprivadosfazdafamlia fazendeiraamaisbelaescoladeeducao moraldonossopovo,perpassandoseus valoresdocrculomaisfechadoa outrosgruposquelhecercam.nessecontextoquese forma oelemento nacionalmaisnobreelegtimonaopiniodoautor,ohomemdocam75po,omatuto,moldadoemcostumesrsticoscausteros.Nadescriodesuasqualidadespodemosvernadamaisdoquea conjunodecertospredicadosconformandoumcdigodevaloresmorais,umpadro dehonra: H,entretanto,certossentimentosecertos preconceitosndicesinfalveisdenobreza inoralquetmparaessesdesdenhadosmatutosumasignificaomedievalmentecavalheiresca.Orespeitopelamulher,pelasua honra,peloseupudor,pelasuadignidade,pelo seubomnome,porexemplo.Ouosentimento dopundonorpessoaledacoragemfsica,que fazcomqueomatuto,feridonasuahonra, desdenhe,comoindignodeumhomem,odesagravodostribunaiseapele,depreferncia, comonostemposdacavalaria,paraodesforodasarmas(idem,p.55).*Continuando,OliveiraVianna{idem,p. 55)aindadefineasquatroqualidadesque caracterizariamomatutoouqueconstituem omaisgenunoflorodanossanobrezaterritorial:afidelidadepalavradada,aprobidade,arespeitabilidadeeaindependncia moral.Quantoprimeira,descrevequepara ohomemcolonialhonrado,aobservncia palavradadavalemuitomaisqueoregistro dotabelio.Essaqualidadefoiherdadatanto dosbriosdosantepassadosquantofruto doamoldamentoaomeiorural,especialmenteporqueumambienteemquetodosos similaresemhonraseconhecem,nohavendolugarparaumsenhorquefaltecomsuas promessas.9 Daprobidade,oautorseresume a remeter sua origemlusa e ao aprimoramentonoambienteruraldualidadede causasrecorrentemesmoentrepobrese deserdados.Quantorespeitabilidade,descrevequepelacondiosocialdemuita visibilidadeedestaqueeporocuparaposiodechefequeosenhorruralmantm suaforamoral,suacaractersticadehomemgrave:Essaconstantevigilnciadasociedadeno lhepermitecondutasmenosdecentes,oumenosairosas;obriga-omoralmenteavestira suaatitudesobmaneirasdiscretasecontidas, sbriasemoderadas,demodoamanter,inquebrvel,alinhadasuaascendnciasobreosque ocercam(idem,p.57).Umaatitudequevaiserreconhecidae apuradapelaprpriametrpolequebrinda essescavalheiroscomttulosecondecoraes.10 E,porltimo,aqualidadedaindependnciamoral.Quantoaestepredicado, OliveiraViannaacrescentaalmdosangue peninsularafortunaeriquezaexcepcionais proporcionadaspelosgrandeslatifndios, oqueacostumouosseussenhoresaum sentimentodeorgulho,semlugarparaservi- Ihismo,mesmoquefosseaomonarca.ConservamrespeitoaoRei,massemhumildade jquenoestnasuandoleaobedincia docorteso(idem,p.59).11J citeiocarter geraldadominaodos senhoresrurais,especialmentedefinidana educaodeseusfilhos,oquenostermos deOliveiraViannadevecontribuirparaconformarumhomemhonrado,senhordesuas posseseatitudes.Cabevoltaragorasmulheres,outrogrupodiretamentesubjugado aospatriarcasedecisivamenteinfluentena manutenodesuahonraenaestabilidade da famliarural.Nestor Duartenassuasconsideraessobreafamliabrasileirapreocupa-seemdefiniracondiodeinferioridade esujeiodamulher nafamliacolonial:Comofamliaquej vinhaformadapelapoca,soboimpriodohomemoudoshomens comocentrodaassociao,elaporissoexaltouaautoridadedomarido,chefeindisputado, austeroeorgulhoso,amandarasmulheres, relegadasparaacopaeparaacozinha,numa situaodequasemenoreseassimtratadas, comoaosfilhos,sobabsolutorigoredesprezo(Duarte,1966,p.68).GilbertoFreyretratadesseassuntocom bastantecuidado.Dedicainmeraspginas descriodavidadasmulherescoloniais, especialmente marcada pela recluso ao mundodomsticoescasas-grandes(1995,p.76339)epelovigiar constantedospaisemaridosvisandoguardarovalorfundamentalde suahonra,avirgindade(idem,p.346).Em SobradoseMucambosdefineasdiferenas entreossexos,entreototalpoderdosmaridoseasubmissodasesposas- emtermos deumduplopadrodemoralidade.Afirmao cartergeraldaexploraodamulherpelo homem,particularmentenasorganizaesde tipo patriarcal-agrrio,squais conveniente umaextremadiferenciaoentreossexos.E continua:Poressadiferenciaoexagerada,sejustifica ochamadopadroduplodemoralidade,dando aohomemtodasasliberdadesdegozofsicodo amorelimitandoodamulherairparaacama commarido,todaasantanoitequeeleestiver dispostoaprocriar.Gozoacompanhadoda obrigao,paraamulher,deconceber,parir, terfilho,criarmenino.Opadroduplodemoralidade,caracterstico dosistemapatriarcal,dtambmaohomem todasasoportunidadesdeiniciativa,deao social,decontatosdiversos,limitandoasoportunidadesdamulheraoservioesartesdomsticas,aocontatocomosfilhos,aparentela, asamas,asvelhas,osescravos.Eumavezpor outra,numtipodesociedadeCatlicacomoa b r a s i l e i r a , aoco n tato comoc o nf e ss or (Freyre,1968,p.93).'2A.Cndidotambm faz referncia a duas esferascomplementaresdeatribuiesmasculinasefemininasesugerequeapartir dessarelaoquesedevepensaropapel dasmulheresnasociedadepatriarcalbrasileira.Ostatusdessasmulheresdeveser observadopelafunoespecficaqueocupavamnamanutenoda estruturafamiliar e noporumacomparaoimediatacoma posiodomarido.Istoseriaprodutodeuma dualsituaoculturalesocialqueproduzas diferenciaesquemantmaestabilidadedo grupo:Trata-sededuasesferascomplementares,cada qualcomseuethosmaisoumenosdiferenciadoemrelaoaodaoutra,amideemconflito,masgeralmentesuportando-semutuamente namanutenodeumequilbriosociolgicoconsidervel(Cndido,1951,pp.295-296, traduodoautor).Apesardeconcordarcomatesedoduplopadrodecomportamentoatribudoaos gneros,A.Cndidodistingue-sedeG. Freyreespecialmenteporcolocarnuances noseumodelodefamliapatriarcal.Apoiando-semaisemdadosdosuldopas,emcontrastecomoNordestedescritoporFreyre, tentarelativizaromodelodefamliadeste. Nocasodopapeldasmulheres,parecehaverumdessesmomentosdesingularizao. ParaA.Cndidoprecisoreconsiderara imagemdeabsolutasubmissodamulherna famliapatriarcal.Nasuaopinio,provavelmente,osescritorestmexageradoaodefini-lacomoumapessoasemautonomia diantedaprepotnciadomarido.Afirmaque aesposadeveriaterumpapelcentralnogrupodomstico:AluzdaformaosocialnoBrasilmeridional,aomenos,arealidadenoseadequaaessa imagem.Aindaquesubmetidaaomaridoede- vendo-lhegranderespeito,emesmoquecondenada peloscostumesa um sistema de recluso, ofatoquenaconduodosassuntosdomsticosamulherdesempenhapapeltalqueno sepodepens-ladesprovidadecapacidadede comandoeiniciativa(idem,p.295,traduo doautor).Nadivisodetarefascabiaesposadirigirotrabalhodosescravosnacozinha,'tecelagemecosturadasroupasparaacasa, supervisionarostrabalhosdebordadose outrasartesmanuais,providenciarcomida, cuidardecrianaseanimaisdomsticos, cooperarcomomaridonaaberturadenovas fazendas,dirigirasatividadescomemorativasquereforavamasrelaesdeparentescoetc.Umuniversoculturalesocial prprioquenocombinacomapassividade eindolnciaatribudassmulheresdapoca.Segundooautor,algumasvezes,essas esposasseconvertiamemverdadeiraslderes,emfacedaperdaouincapacidadedo marido para administrar a propriedade. E exer-77riamcomvigorasuaposiodechefesde famlia.Almdisso,aprprialiberalidade sexualdomaridorelativizadapor Cndido. Segundoele,asmulhereserambastanteativasnasrepresliasaosmaridosinfiis,freqentementerecorrendoaoauxliodosseus parentesmasculinos,oqueteriaexigidodo senhorruraltcnicasinstitucionalizadasde transgressoquemantivessemalgumrespeitopelasaparncias.F.deAzevedotambmdescreveamulhercolonialemtermosdeumamatrona autoritria,quenafaixadosquarentaanos exercetodooseumandonocastigoamucamas,molequeseoutrossubordinados.Contudo,explicaessasituaoporumareao tiamulheraoexcessodedominaoquea subjugava.Essasuarispidezquaseinocentadapeloautorqueatratacomoumareaonaturaleinconscientediantedas humilhaessofridas.Aoladodessareao dedefesaquerecaisobrefilhoseescravos, srestamulheraforaquedetmpelacapacidadedeseduo,supervalorizadapelo autor:Soboimpriodohomem,nafamliapatriarcalquelheatribui,comomandoeadignidade dechefe,aposioprivilegiadadesenhor, comomaridoepai,acondiodeinferioridadedamulher,rebaixadanoconceitoenotratamento,senhoraedonadecasaemrelao aosfilhosefamulagemdomstica,masquase escravaemfacedosenhorfeudal,nosetemperanemseamenizasenopelosseusinstintosdereaoedefesaepelopoderdeseduo comque,emqualquerregimesocial,acabas vezesporsubmeterohomemsuavontade, arrancando-lhedasmosaautoridadeeobastodecomando[...](Azevedo,948,p.67).AosolhosdeNestorDuarte(1966,p. 78)nohaviamuitoespaoparareaesfemininas,jquemulhereranegadaqualquerpossibilidadedeiniciativaeliberdade. Maisdoqueisso,diantedeuma moralsexualdeprofundadesigualdade,elasnose sentiamaisaviltadaporqueseconformava, aceitandoalegitimidadedessamoral(idem,p.79).Suanicapossibilidadedefuga,ou pelomenosdeconforto,eraencontradana Igreja,queatinha,aoladodosfilhos,como focosprivilegiadosdeinsero.Essareferncia a uma moralsexual e aopapelda Igrejamerecesertratadacommaisvagar.AImportnciadaIgrejaAIgreja,naopiniodeNestorDuarte (idem,p.80)umpoderconcorrentecoma famliaeoEstado,desdeoincioda Colnia investiu emuma aproximao cuidadosa com afamliapatriarcal.Pelanaturezadesptica dograndeproprietrio,menosafeitosubmisso religiosa,sua estratgiafoiaconquistadaeducaodascrianasedogoverno docomportamentofeminino,doiscentros maispredispostossuainflunciamorale pedaggica.Assim,conseguiuestender-se pelaordemprivadaeportodaasociedade colonial,adaptando-sehierarquiafamiliar semconflitoscomossenhoresrurais.F.deAzevedotambmfaladessacapacidadedepenetraodaIgrejanomundo privadoatravsdemulheresecrianas. Igrejainteressavaaalianacomaordemfa- milial,masnasuapacinciahabitual,sabia queomelhor caminhono era forar a sujeiodograndepatriarca.Apresentou-se comoaeducadoradefilhosemulheres,passandoaelestodosossentimentosderespeitoaosenhoreapegopropriedadeque eramcarosfamlia,aomesmotempoque pdetransmitirsuadoutrinasemproblemas. Educouofilho-herdeiro,comaresdegravidade,espritodehonra,capacidadedemando,etambmofilho-padrequeiapara seminrio,eofilho-doutor,estudanteem Coimbra.Asmulheres,aindacrianas,tambmaprendiampelavozdopadreorespeito aoseusenhor.Ocapelodafazenda,aliado aosenhorrural,eratambmopadre-mestre,queincutindonascrianasdeumeoutrosexo,orespeitoautoridadepaterna,adocilidadeeasubmisso,78asiasubordinandotantoreligioqueprofessavam,comoestruturasocialqueaenquadrava e que a servia a capela de engenho (Azevedo, 1948,p.70).13Aqualidadedealiadadosenhorrural queaIgrejaocupavanessemomentotinha comoumdeseusaspectosprincipaisorelaxamentodeumamoralsexualmaisaustera. SegundoGilbertoFreyre(1995,p.355)essa flexibilidadedocatolicismoqueaquiherdamos jtemorigememPortugal.AIgreja j acompanhavaacapacidadedesbravadorado portuguseseudesprendimentosexual,com uma moralmaisfrouxa e permissiva.Aquina Colnia,issovaiseraindamaisagravado j queaIgrejaficaincorporadanapropriedade patriarcal.Acapeladeengenhopropriedadedosenhorrural,fatoquesimbolizabema necessidadedepermissodosproprietrios parasuaentradanomundocolonial.Esse contextosetraduznaconformaodeum cristianismomaisdoce,maisntimo,demaioraproximaoentresantosepessoas.14 Ao mesmotempotambmsecoadunacoma maiorliberdadesexualdoshomensecoma restriodasmulheres.Emboraoficialmente aIgrejaprobaosexoforadocasamento,na prticadaColniafezvistagrossasaventurasdosgrandessenhores.Almdisso,acapacidadedepenetraodaIgrejanavidantimadaColniafez comqueseupoderfossemuitomaislonge. Elaaparececomoaquiloquedacimenta- odasociedadecolonialtantoemGilberto Freyre(idem,p.30)quantoemNestor Duarte (1966, p. 50), porexemplo. Este ltimo, alis, confereumpapelespecial Igreja narelao entreinteressespblicoseprivados.Jem Portugal,NestorDuarte(idem,pp.8-9)localiza o poder eclesialcomo concorrente e mesmosuperpostoaoEstadoeafirmaqueno perododadescobertaasdiocesesque governavamopovoportugus,maisque qualqueroutrainstituio.AIgrejatambm seapresentacomomenosrepulsivaaoindividualismoanrquicocaractersticodascomunas,porqueseaproximamuitomaisdo cartersentimentalquedsustentaoa essesgrupos,assimcomoosentimentoproduzidopelopertencimentofamlia,edistantedaqueleexigidoparaoenquadramento aumaordempblicainstitucionalizada,estatal(idem,p.16).J no Brasil,foia Igreja,e nooEstado,quesoubepenetrarmaisfundonasalmasdoscolonos,dandoaunidade daquelasociedade:Comoconviriaaoespritodapoca,agravadonandoledasociedadeportuguesa,eraem nomedaIgreja,dasujeiomoralreligiosa, queseprocuravafundirecaldearasociedade colonial.Sentimentocoletivoeraoreligioso, comoreligiosaamsticacoletivaquepoderia imprimirumcertosentidodeunidadeaohomemeaseugrupoaquiformado(idem,p.50).NestorDuarte(idem,p.51)acrescenta queseformavamenosumcidadodoEstadodoqueumcrentemobilizadosoba bandeiradeCristo.AIgreja,aodarasbases paraasolidariedadecolonial,nopretendia darsditosaoRei,formarcidados,mascatequizarpossveiscrentesparaoseurebanho.15Falamesmoemumdualismo jurisdicional entreIgrejaeEstado,quediscutemcompetnciasedisputampoderes,expressando nadamaisdoqueinstnciasconcorrentes (idem,pp.51-52).Almdisso,representaa nicaordemqueconsegue,porvezes,preencheroespaovazioentreafamlia eoEstadonoterritriodaColnia(idem,p.76), umacaractersticaexpressamuitasvezesna suacapacidadedemediadoradeconflitos. oquemostraCostaPintoaodescreversuas intervenesnaslutasentrefamlias.Lutas ques fazemsentidona medida em quefundamentalparaasociedadedaColniaarelaoentregruposoucls.Eprecisoprimeiro traaralgumasconsideraessobrecomoos autorestratadostmdescritoasrelaesentreessasunidades,paradepoisfalardesuas disputas,semprelembrandoqueessasrelaessootipofundamentaldesociabilidade pblicaexistentenaqueleperodo.79AsRelaesentreCis ou GruposFamiliaresOliveiraViannadedicaboapartedeseu trabalhoadescreveroquechamadecls rurais,umadescriodaunidadegrupa!calcada na propriedade territorialautnoma,que nassuasbasesvaiserreproduzidaporoutrosautores.Jquandoapresentaapsicologiadotiporural,falanaimportnciadesses gruposfamiliares,especialmentepelaestabilidadequerefletemepeloconhecimento mtuoqueosliga,mesmoqueissosignifiquerelaespacficasouviolentas:"Essaestabilidadedosgruposfamiliaressuperiorespermitequeseforme,nomeiorural, umatramaderelaessociaistambmestveis,permanentesetradicionais.Essesgrupos seconhecemmutuamentenassuasqualidades, gnios,tendnciaseidiossincrasias,outradicionalmenteseodeiam(Vianna,1973,p.53).Mas,quandodefineagneseeespritodosclsqueOliveiraViannaaprofunda suasconsideraes.Afirmaquenossocl ruralfoitoimportantequeseconstituina principalforamotrizdenossahistriapol- lica.Incluinosadimensomaisbeligerante,aqueladasdisputas,mastambmuma maispacfica,aagregaodopovodaColniasobaproteodoproprietriodeterras, lixplicaqueanaturezadessacapacidadeno estemrazeseconmicas,militaresoureligiosas,massimnanecessidadedeproteo daquelapopulaoindefesadiantedaanarquiabranca,reproduzidaemdiversasformas,comoainopernciadaJustia,suaparcialidadeefacciosismo.Almdosmagistrados,opoderdossenhoresfazdos capites-moresedasprpriasCmarasMunicipaislugaresondereinamajestosaasua vontade(idem,pp.139-143).sclassesruraisinferioressrestaadependnciadanobrezarural,expressapeloautorcomopa- tronagempoltica(idem,p.148).Aqueles quenotmterra,escravos,capangas,pres- lgiopodemserconsideradosestandofora daleidaColnia,semamparooudefesadenenhumainstituio,completamentesujeitosaoscaudilhoslocais(idem,p.151).Essacapacidadedeligaoentreanobrezaruraleasclassesinferioresumdos aspectosqueasolidariedadesocialadquire para Oliveira Vianna.O outro a falta de uma associaomaisextensaquecongreguegrupossociais.Eaquiapresentaumsentido negativo.Paraoautor,nohnaColnia elementosexternos(comoapossibilidadede ataquesinimigos)quepromovamaunio entregruposfamiliares.Aoladodacompletaautonomiadaproduoagrcolaedaunidadedomsticarural,nadaobriganecessidadedeparceriasentreoscolonos.Pode-se falarnapreeminnciadeumasolidariedade detipoverticalentresenhoreseseusdependentes,masnaausnciadeumasolidariedadedetipohorizontalquetramasseuma redederelaesmaisdensaeampla.Apesar de Oliveira Vianna (idem, pp.156- 158) dizer que no existiam muitasformas de cooperaoentreosgrupos,masapenas rudimentosdesociabilidade,seuprprio material provoca dvidas. Quando, por exemplo,descreveasdisputasentrefamlias,as competiesporassumirasCmarasMunicipaisouospostosdefuncionriosoficiais, comojuizesecapites-mores,estmostrandoquehaviasimumcircuitoderelaes sociaisepolticasentreosgrupos.Pode-se sugerirque,pelomenosapartirdoscasamentos,aredederelaesformadaentre parentesconstituaalgumtipodeligasocial entreasfamliascoloniais,umaformadeassociaoquenoserestringiameramente aoprivadomasquepovoavaasprpriasrelaespblicas.Maisumavezvolta-setemticadaordemprivadaocupandooespao pblico.TantoNestor Duartequanto A.CndidofalamdecomooslaosparentaissustentavamasrelaessociaisdaColnia.A. Cndido(1951,p.304)chegaadizerque graasaosistemadeparentescoqueosgruposautnomosformavamredescoesasde cooperao.OscasamentostinhamapapelK0fundamental.Eramoquemantinhaaunidadedogrupoemtermoseconmicos,privilegiandoparceirosendogmicoseassimno fracionandoapropriedade,aomesmotempo querepresentavamapossibilidadedecoesoerelaocom outrasfamlias,sempredo mesmonvel.16ParaF.deAzevedoosentrelaamentos defamliasouengenhoscontribuampara solidificaraunionointeriordecadagrupo domsticoeentregrandesfamlias,oque aconteciaespecialmenteatravsdosperigososcasamentosendogmicos,umaformademanutenoeampliaodariqueza:Apreocupaodealargaremolatifndio,com oacrscimodenovasterras,edefenderem, atravsdegeraes,ospatrimniosacumulados,eaindaoprprioorgulhodaaristocracia territorial,tendiamafavorecer,nessescrculosfechados,oscasamentos,nointeriorda classe(endogamia),entreparentesouconsanguneos,detiosesobrinhosedeprimosirmos,comquetantasvezes,paraaconservaodebensedenobreza,seestiolavam,pelo aumentodetarasvelhas,famliaspatriarcais (Azevedo,1948,p.78).GilbertoFreyre(1995,p.342)tambm retrataoscasamentosentreogrupodeparentes comouma forma degarantir a no dispersodosbensdasfamliasemanuteno dapurezadosanguearistocrtico.Valechamaraatenoaquiparaessaimportnciado sanguecomoatributoquesimbolizaaascendncianobreoulegtimadogrupo.A purezadosanguecomumenteassociada manutenodahonradafamlia,suadistnciasocialdeclassesinferioresemanutenodeprestgio.Outroaspectoimportantequeaparecea partirdadescriodoscasamentosserefere quaseinexistnciadapossibilidadedeescolhaindividualdeparceiros.Ademais,o indivduonotemvezdiantedoencompas- samentodafamlia,sendoamanutenodo grupooobjetivoprioritrio,enomomento daescolhadocnjugeoquedeveprevalecerasabedoriaeexperinciadosmaisvelhos,maisaptosareconheceremosparceirosemcondiesdereforaraestruturacoletiva. 17 A.Cndido(1951,pp.297-298) sugerequeocasamentoeraconsideradoum atotoimportantequenoeraconveniente larg-lovontadeindividualousatisfao denecessidadesafetivasesimdeixarogrupofazerasescolhas.F.deAzevedorefere-seaopoucovalor doindivduojquandotratadasvinganas privadas.Asleiseoscostumespatriarcais implicadosnessesfenmenosestariammenosdedicadosapreservaroorgulhomasculinodoqueamanterasolidezdogrupo:Quersevinguem,parasustentaremosseus, quandovtimasdaofensa,quertransijam,fechandoosolhosaosagravos,noconsultam senosuaspaixeseosinteresses,nopropriamentedoindivduo,masdainstituio.Por todaaparte,emqueolatifndio,combase escravocrata,favoreceuessetipodeorganizaofamilial,manteve-seobstinadamentea responsabilidadecoletiva,queprevalecearesponsabilidadepessoal,avocando-sefamliao julgamentoeapunio,pelavinditaprivada (Azevedo,1948,p.80).Mas,quelutaseramessas?F.deAzevedodizqueemboraoslaosentreasfamlias,atravsdocasamento,representassem pontosdeunio,muitasvezesseconvertiamemlutas,manifestadasemdioserepresliasoumesmoemvingaasviolentas.Uma razofreqentedasbrigaseraaeconmica, adisputaporterras.Contudo,ahistriadessaslutasrevelariaqueseusprincipaismotivoseramaschamadasquestesdehonra, defundamentopsico-sexual,tantomaisviolentasquantomaisrigorosaadisciplinamoral impostasmulheres(Azevedo,1948,p.78, nfasesdoautor).18 Oautoraindaacrescenta:Defato,seconsiderarmos,deumlado,olugarcadavezmaisimportantedadoaoamor fsicoeonmeroreduzidodemulheresbrancas,e,deoutro,aconcepoquasefeudalde honraeopapeldaseveridadedecostumesna conservaodasforasquefundamentama coesosocial,serfcilcompreenderaextre81maviolnciaqueporvezesassumiamaslutas porquestesdefamlia,nosengenhos,nascidadese,particularmentenose rto( idem, pp. 78-79).A.Cndido(1951,p.295)trazalguns exemplosqueilustramaonipotnciadaautoridadepatriarcalnojulgamentoepunio decasosemqueestavaem jogoahonrado grupodomstico.Contudo,CostaPinto(1980)quedescrevecommaisvagaraslutas privadas, jquededicaumlivroa estetema. liinteressantequesuaprimeirapreocupa- oexatamentea dedefiniremtermostericose decomparaocomoutrassociedades afunodaslutasdefamliaevinganaprivada,para semumsegundo momento apresentararealidadebrasileiraealgunscasos paradigmticos.Nadiscussomaisterica, oautoresclarecequeaslutasentrefamlias eavinganaprivadasoformascaractersticasdedar umsentidovidasocial,emsociedadesqueaindanoevoluramata conformaodeumEstadoindependentee queassumainclusiveafuno jurdica.Nessecaso,emvirtudedahipertrofiadasfunesfamiliares,asformasdesanoe resoluodeconflitosaindapermanecem sobojuzodafamlia.Apresenadeuma sociedadedeparentescondiofundamentalparaoaparecimentodavinganaprivada.Ehumaestreitarelaoentreessa formadecondutaeasolidariedadedafamlia,jqueoqueestemjogonessaslutas sodisputaspelamanutenodahonrado grupo,especialmenterepresentadanosangue.Eissoimplicatantoumasolidariedade passiva(todoogruposofreoataquehonradeummembro)quantoumasolidariedade ativa(todostmobrigaodeparticiparna vinganaquerestabelecerahonra).Todos participamigualmentedahonradogrupo, emboraexistamdistinesquantoaopapel decadaindivduo,deacordocomidade, posiosocialqueocupaegnero.Eclaro queoschefesouosfilhosmaisprestigiados pelafamliaserosempreosalvosprincipaisetambmsobreelesrecaimaispesadamente odeverdavingana.Jsmulheres,cuja ameaapurezasexualpodeseromotivo centraldeumaluta,cabeopapeldeinstigar eincentivaroshomensarespondersofensas,semprefazendoremissoaopassado limpoeprestigiosodosantepassadosque precisa sermantido.19Oqueimporta amanutenodogrupoeavinganaumaformademanteroequilbriosocial.NocasodoBrasil,Costa Pintotrata desdeosfatoresquepossibilitaramoreaparecimentodavinganaprivadaatoseu momentodedeclniocomoformadesano predominante.Amultifuncionalidadedafamliaruraleadispersoefraquezadopoder pblicoseriamasprincipaiscausasdesse reaparecimento(idem,p.22).Comooque preponderavanaColniaeraopoderindividualeabsolutodecadasenhordeterrasou decadafamlia,eracoerentequeasdesavenasfossemresolvidasdentrodesuas prpriasleisecostumes,oquepodeservistonosrelatosdaslutasentregruposdefamlias.21 Desavenasqueincluamoprprio espaopblico,comoasCmarasMunicipais,alvospreferidosparaoacirramentodas diferenas.Equenemsemprechegavamao conflitoarmadodefato,masrepresentavam umacompetioatravsdedemonstraes defora.21 Contudo,quandooEstadocomeaasefortalecereaserreconhecidocomo umpoderparalelopeloscolonos,avinganaprivadavaiperdendosuafora.22 Nofamosocasodaluta entreosPireseCamargos, CostaPintoenfatizaomomentodepassagem,quandoasduasfacespassamarecorrerautoridadedosgovernadorese mesmodomonarcaparaencerraroconflito. quandoessesmediadoresentramem jogo (eaquiseincluemtambmosreligiosos)que avinganaviolentapassaaserrecriminada eperdesuaforadeinstituioautnoma.23Seprecisorecorrerpazatravsdeum poderexternoporqueopoderprivadoj notoabsoluto.24 Apesardisso,bom82dizerquenocasodosPireseCamargos,a relaoentrefamliaeEstadoaindaaparece comoentredoispoderesforteseconcorrentes.PrincipalmentenatranscriodosdocumentosdaCoroa,queoautorapresentaem anexo,v-secomootomdascartasde negociaoparaoencerramentodosconflitos sempre de um pedido,deuma solicitao que apelaparaabenevolnciadecadapotentadoruralenoodeumaimposiodeum podersuperior.Maisdoquequalquercoisa, mostraolugardepredominnciaqueaordemprivadatinhanamanutenodasociedadecolonial.OliveiraViannacitandoaluta quecomeoucomDiogoPintodoRegoe TimteoCorreia,emfinsdosculoXVII, concluisobreopapeldopoderpblico:Nomeiodetodaessaluta,curiosonotara atitudedasautoridadespblicas,a quemincumbeaseguranadaordemsocial.Elasnoaparecemsenocomosimplesespectadorasdo tumulto.Emregra,recuam,cautelosasetmidas,diantedessepoderformidvel,queoslatifndioselaboram(Vianna,1973,p.179).Preeminnciadeuma OrdemPrivadaOque,ento,resplandecenadescrio dessesautores,umaprepondernciado poderprivadoou,pelomenos,umaabrangnciadasrelaesdecunhoprivadono espaopblico.Issoapartirdeumamulti- funcionalidadedafamliaoudaunidade domsticaecontandocomumapresenararefeitadoEstado.Asdescriesdosautorestratadossobreafamliapatriarcal brasileiraeaconstituiodeumespaopblicopermitemdizerqueosvaloresqueestavamorganizandoasrelaesfamiliares entravamemcurso tambmemrelaes mais amplasquecompunhamoambientesocial daColnia.Procureidemonstrarcomoesses clssicosdenossaliteraturatmcomopontocomumefundamentalamultifuncionali- dadedafamlianoperodocolonial,eque,aodescreveremofuncionamentodessadinmicasocialparticular,estorecorrendoao cdigodeorientaomoralquedavacimen- taoquelasociedade.Issoaparecequandodescrevemadominaodosenhorde terrassobremulheres,filhos,parentes,agregadoseescravos;quandoapontamparauma moralsexualbaseadanadistinoentrehomensemulheres,estandoa implicadasdiferenasquantohonra;quandodesenhamo tipodesolidariedadesocialestabelecida, conformadapeloslaosdecasamentoeparentesco;quandodescrevemandoledo colonizador,marcadaporqualidadeseatributosdefinidosemtornodahonraouda faltadela.Essascaractersticas,quedefinemum quadroderefernciasculturais,aparecemde modoespecialemdoisoutrostemas.OprimeiroaIgreja,cujaintervenonoseioda famliadescritacomoumdosmaisimportantesconformadoresdosvaloreseregras moraisdapoca,equepodeatmesmoser concebidacomoumpoderconcorrentefamliaeaoEstado.Osegundosoaslutas entrecls,narradasemtermosdecasamentos,questesdehonra,vinganas,lutasarmadaselementosquerealamaoperacio- nalizaodecomportamentosapartirdeum determinadocdigomoraleque,devidoao alcancequeasrelaesfamiliarestinham naquelasociedade,rompemasfronteirasdo grupodomstico.Era,ento,ematributoscomoanobreza dandoledopatriarca,suasprerrogativasde defensordogrupoesenhortodo-poderoso, asubmissodemulheres,filhos,escravos, agregados,avalorizaodaterra,dasmulheres,dosangue,donomecomocoisassagradaseintocveis,quesebaseavamtambmasinteraesdosgruposemesmocom opoderpblicomaisinstitucionalizado.A relaocomoEstadopodeserparadigmticanessesentido.OEstadoconcebidoapartirdeuma delegaodepoderesaumainstituioque,83porprincpio,deveserabstrataeimpessoal. Nessesentido,nofuncionadentrodeuma lgicadetrocasdebens,derelaesdereciprocidade.Mas,quandosetemumaordem socialpredominantementecalcadaemregras quevmdoprivado,darelaodedependnciaefidelidadedosenhorcomseussubordinadosoudasalianasedisputasentre gruposfamiliares,aaproximaocomoEstadomudadeeixo.Prevaleceriaaexpectativadequeasinstituiespblicastambm obedeamaessalgicadetrocasrecprocas.Essequadropareceserpredominante nopanoramatraadopelosautorescotejados.Almdoquejfoivisto,ficaparticularmenteclaroquandorevemossuas declaraessobreoproblemadaimpessoalidadedoEstadonoBrasil.ParaOliveiraVianna,diantedeumpano defundohistricoquenosdistanciadeum aprendizadopolticomaistradicional,que nosdistanciadosentimentodeliberdades pblicas,srestaessenoreconhecimento doEstadocomoumpodersuperioreabstrato.Nossapopulaosesentiriahumilhadae ofendidaemter queobedeceraumdelegado ououtrofuncionriodogovernoporque reconheceapenasapessoaqueocupaocargo enoainstituio pblicaemao(Vianna,1973,p.256). A obedincia voluntria aos representantesdopoderpblicoapareceem povospoliticamenteevoludosqueconseguemdiscriminaradiferenaentreopoder pblicoeosindivduosqueoexercem.PercebemoEstadonasuaformaabstrataeimpessoal,situaodistintadopovobrasileiro:EssaintelectualizaodoconceitodeEstado ainda,infelizmente,noaatingimos.Temos daautoridadepblicaumavisoaindagrosseira,concreta,materialavisoqueassuas encarnaestransitriasnosdo.Nolheelaboramosumavisointelectual,genrica,jsem amarcadasimpressessensoriais(idem,p. 257,nfasedoautor).ApesardasdiferenasentreosdoisautoresquantoaprognsticosideaisparaumEstadonoBrasil,NestorDuartetambmse referedificuldadedaconstituiodeum poderpblicolivredapessoalizao.Para ele,o Estado brasileirono temtidovida prpria,sendosempreconfundidonaaodo governante.E,almdisso: [...]faltadeumaabstraoimpessoaldo quesejagoverno,acabamosporadmitircomo regular a anormalidadedeumEstadoque so governante,deum aaogovernamentalque sopoderpessoaldochefedogoverno.Mas, queochefedoEstado,comopessoaepelos seuscaracterespessoais,anicaconcretizaodoPoderPolticonumaorganizaopolt icasemcontedoh i str iconemes p ri t o institucionalparaviverenutrir-sedeprincpiosedefrmulasobjetivas,comoanossa(Duarte,1966,pp.118-119).ComovemosnooEstadoabstrato queencontralugarnaconstituiodenossa histriapoltica,masastentativasdepessoalizaodoespaopblico,apenetraode umaordemcriadanodomniodasrelao privadas,emborapossairbemalmdelas, naesferadasrelaespolticas.Aidiada organizaodosinteressesindividuaisvoltadosparaobemcomumemmuitoultrapassadaporprticasqueremetemao familismo,aogovernodareciprocidade, lgicadocompromisso.Emltimainstncia,essasprticasimplicamvaloreseregras, padresdecomportamento,cdigosmorais, quesodescritosnoseuprocessodeoperao.Ouseja,atravsdomovimentodedilatao que realizam da famlia em direo ao Estado,doprivadoemdireoaopblico, preenchendotodososinterstciosformados pelasrelaessociaisnaColnia.Oquadro derefernciastraadopelosautoresvistos constitui,assim,umavisodensaecomplexa,nosdafamliaoudasrelaesprivadas,doEstadoourelaespblicas,masda dinmicadoconjuntodenossaformao nacional.(Recebidoparapublicao emagostode1999)84Notas1.ConsiderooslivrosPopulaesMeridionaisdoBrasil,deOliveiraVianna(1973 [1920]), Casa-GrandeeSenzala,deGilbertoFreyre(1995[1933]),SobradoseMucambos,de Gilberto Freyre (1968[1936]), Razes do Brasil, de Srgio Buarque de Holanda (1984[1936]), AOrdemPrivadaeaOrganizaoPolticaNacional,deNestorDuarte(1966[1939]), LutasdeFamliasnoBrasil,deLusdeAguiarCostaPinto(1980[1943]),ocaptuloA Casa-GrandeeaVidaPblica,dolivroCanaviaiseEngenhosnaVidaPolticano Brasil,deFernandodeAzevedo(1948)etambmosartigosumpoucomaisrecentesde Cndido (1951) e Willems (1954).2.Aesserespeitosegueaindaoutrapassageminteressantequantoaossenhoresdeengenho:[...]donosdeterrasedeescravosquedossenadosdeCmarafalaramsempre grossoaosrepresentantesdel-ReiepelavozliberaldosfilhospadresoudoutoresclamaramcontratodaespciedeabusosdaMetrpoleedaprpriaMadreIgreja.(Freyre, 1995, pp. 4-5).3.Essapassagemfaznotarquealgumasdiferenasentreosautorespassamporsuaspropostaspolticas.Porexemplo,enquantoOliveiraVianna(1973)pretendeapontar,pela trajetriadaformaopolticabrasileira,queomelhorcaminhooEstadocentralizadoe independentedosmandanteslocais,N.Duarte(1966)tambmafirmaanecessidadede fortaleceroEstado,masumEstadoquesejademocrticoelaico,esemesqueceradificuldadesociolgicadopovobrasileirodesetornarcidado,desprendidodopoder privado.4.Einteressantenotarqueadefiniodesseconjuntoderegrassociaisseaproximadoque maistardeviriaaserdefinidonaAntropologiacomooconceitodehonra/vergonha. AutorescomoJ.Pitt-RiverseJ.G.Peristianycentralizamostrabalhossobreessatemtica emtornodahonracomoumsistemaderegrasdecondutaouderegulamentossociais existentesemtodasassociedadesequeadquiremtraoscomunsnareaculturalmediterrnea.Visandoapontaralgumasaproximaes,vouindicar,emnotas,conjunesda literaturatratadacomessestrabalhosantropolgicos.Ver:Pitt-Rivers(1971);Peristiany (1971ae1971b).5.Quantosanlisesrecentesquetmacusadoessesautoresdereduziremahistriada famlia brasileiraaomodelopatriarcal,valelembrar que:por umlado,eles estavamdefato maispreocupadosemserestringiraodesenhodomodelodefamliaqueconsideravam dominante(comojnotavaWillemsem1954)eporoutro,emboracommuitomenos nfase,semprefaziamrefernciasaosoutrostiposdeuniesefamliasdasclassesinferioresemaislivres.OprprioOliveiraVianna(1973,p.54)contrastavaainstabilidadeda famliadapleberuralcomaestabilidadeda famlia patriarcal.Ver Corra(1982)eSamara (1987).6.Sobredescriesepermannciasdonamoroantigonaculturabrasileira,verAzevedo(1981).7.Amenoao pater famliascomocentroirradiadordeforaestveltambmapareceem Costa Pinto(1980,p.27).8.Estopresentesa,desdeadefiniodeumcritriodediferenciaoparaogrupo,asua nobrezamoral,orespeitopelahonradamulherrepresentadanopudorepelonome, caractersticasbemdescritasnomodelodehonramediterrnea,atavalorizaoda85coragemebravurafsicaeodesprezopelasintervenesexternas,quepodemdesqualificarumhomemdesuacapacidadeautnomadedefenderahonradogrupo.9.Comoaparecenasetnografiasrecentessobrehonra,oconceitopblicoeaigualdade entreosparesfundamentalparaamanutenodosistemabaseadonahonra,assim comorecorreraoprestgiodosantepassados.VerDiBella(1992).10.interessantequequalidadesmoraiseprecednciainclusivepelaconcessodettulos soatributosqueformamoduplosentidoqueoconceitodehonrapodeter,talcomo apontadoporPeristianyePitt-Rivers(1992).11.Muitosdessesatributosqueconformamandoledobrasileiroforamapuradosnaexperinciadasbandeiras,quemantmocarterhierrquicoearistocrticodosclsrurais (Viarina,1973,pp.101-102).Asbandeiras,alis,soumtemadedestaqueparaesses autores,principalmentepeloseupoderdemaximizarapredominnciaindividualeos interessesprivadosdosgrandessenhores(verHolanda,1984eDuarte,1966).Valenotar quetambmcolocamem jogoqualidadescomoabravura,acoragem,acapacidadedese arriscaremumaaventura,caractersticascomunshonramasculinanocontextomediter-,rneo.12.Esseduplopadrodemoralidadetoimportantenadefiniodosistemadehonra/vergonhavaiser redefinidopor J.Pitt-Rivers(1977).Segundoesteautor,a divisomoralqueas sociedadesfazementreatributosmasculinosefemininostemavercomadivisomoraldo trabalho,apartirdeumaconvenodoqueseriamatividadesprpriasdehomense mulheres.Nohaveriaumduplopadrodehonramassimumconjuntodeconsideraes queformamumsistemadecomportamentocomplementarentresi,centralizadonaunidadedafamlia.Apesardeoscdigosmoraisatribudosaossexosseapresentaremdiferenciados,oquehumsistemaunitrioqueorganizaasrelaessociais.Nareacultural mediterrnea,essesistemasecaracterizapelaresponsabilizaodoshomenspelahonra dogrupo,queestbaseadanapurezasexualdesuasmulheres,indicandoumaforte complementaridadeentreahonraindividualecoletivaeentreahonradehomense mulheres.13.OautoraindaacrescentaqueaIgrejaeraumaimportanteproprietriadeterraseengenhos,oquetambmconcorriaparaseuinteresseemmanteraestruturadamonocultura latifundiriaecombaseescravocrata,oqueaparentementeseriacontrriosuadoutrina igualitria.14.SrgioBuarquedeHolanda(1984,pp.109-110)tambm faz refernciasaovelhocatolicismobrasileirocomo umareligiomaisntimaeamolecida.15.EstudandoasvariaeshistricasdoconceitodehonranaEuropa,JlioC.Baroja(1971) apontaemumadireosemelhante.Oautormostracomoahonra,nessecaso,descende detrsmatrizesculturais:a)omundoclssico;b)omundogermnicooubrbaro;ec)o cristianismo.EexplicacomonaIdadeMdiaprevaleceaconvicodequeoshomens formamumacomunidadedefiis,resultadodaspropagaescrists,poroposio,por exemplo,aumacomunidadedecidadosquegerenciariaapocaclssica.16.Paraumaanlisedediferentestiposdelaosecomportamentosdeacordocomaproximidade,verCampbell(1971).Esteautordistingueentreospastoresgregostrstiposde relaes:a)parentespelosangueaquemsedeveamoreconfianainquestionveis;b) parentesporafinidadeemqueestoimplicadososmatrimnios,astrocasdehonra,86masnoaconfianaindissolvel;ec)osestranhosqueocupamolugardequase inimigos.17.EmSobradoseMucambos,GilbertoFreyre(1968,pp.128-129)afirmaqueodeclniodo patriarcalismoparaleloaomomentoemqueasvontadesindividuaispassamacontar nasescolhas,provocandoraptosepaixesentremoasbrancasemulatosecontraa vontadedospais.Aomesmotemposignificativaaascensodosbacharis,muitas vezescomocentrosdepoderdafamlia,indicandoumainversodaautoridadedospais.18.Terraemulheresfreqentementesoapontadascomobensoulugaressagrados,razes dedisputasconstanteseondeasofensasatingemomximograudeafrontaeperigoe provocamasreaesmaisviolentas.Paraumexemplonessesentido,verJamous(1992) sobreasdisputasemumatribomarroquina.19.IssoexemplarnocasodeD.InsCamargo,matronaqueteveumafunoessencialna brigaentrePireseCamargos(CostaPinto,1980).OliveiraVianna(1973,p.178)falada importnciadeD.AngeladeSiqueiranaslutaspaulistas.20.Uma justiaprpriadossenhoresrurais,reveliadopoderpblico,tambmcitadapor O. Vianna (1973, pp.181-182),Azevedo (1948, p. 80) e Freyre (1995, p. lx).Oliveira Vianna, inclusive,descreveopoderdaforadossenhoresruraisnaadministraodesuasdisputasapartir dainstituiodacampanagem(1973,pp.168-171).21.OliveiraViannaconcordacomessatese;tambmfalanoaspectoteatraleimponente dasmovimentaesmilitaresdosclsrurais(1973,p.177).22.EstaainterpretaosustentadaporCostaPinto.Emumaoutradireo,talvezseja possvelsugerirqueaessefortalecimentodoEstadocorrespondaumcrescimentoda violnciaentreessasfamlias,ligadoilegalidadequeagoravaicaracteriz-las.23.Valedizerqueemoutroscontextosetnogrficospodehaverainstitucionalizaoda figuradomediadornosconflitosdehonra,queatribudodepoderestantopara julgara honraindividualquantoasquestescoletivas.VerPeristiany(1992).24.Quantosintervenesexternas,especialmentedomonarca,valelembrarasafirmaes deOliveiraVianna(1973,p.254)sobreosucessodoPoderModeradornosculoXIX, comoodominadordosclsedacaudilhagemereguladordojogodospartidos.BibliografiaAzevedo,Fernandode1948ACasa-GrandeeaVidaPblica.InCanaviaiseEngenhosnaVidaPolticadoBrasil.SoPaulo,Melhoramentos,pp.65-83.Azevedo,Thales1981NamoroAntiga:TradioeMudana.InG.VelhoeS.Figueira(orgs.),Famlia,PsicologiaeSociedade.RiodeJaneiro,Campus,pp.219-275.Baroja, Jlio C.1971 [1965]HonraeVergonha:ExameHistricodeVriosConflitos.InJ.G.Peristiany (org.),HonraeVergonha:ValoresdasSociedadesMediterrneas.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,pp.61-110.87Campbell, J.1971[1965]AHonraeoDiabo.InJ.G.Peristiany(org.),HonraeVergonha:Valoresdas SociedadesMediterrneas.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,pp.111- 137.Cndido,Antnio1951TheBrazilianFamily.InL.SmitheA.Manchant(eds.),BrazilPortraito faHalf Continent.NovaYork,Dryden,pp.291-312.Corra,Mariza1982RepensandoaFamliaPatriarcalBrasileira:NotasparaoEstudodasFormasdeOrganizaoFamiliarnoBrasil.InM.S.K.Almeidaetalii.Colchade Retalhos:EstudossobreaFamlianoBrasil.SoPaulo,Brasiliense,pp.13- 38.CostaPinto,LusdeAguiar1980 [1943]LutasdeFamliasnoBrasil.SoPaulo,EditoraNacional.Di Bella, Maria Pia1991Name,Blood,and Miracles:The Claimslo Renownin TraditionalSicily.In J.G.PeristianyeJ.Pitt-Rivers(eds.),HonorandGraceinAnthropology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.151-165.Duarte,Nestor1966 [1939]AOrdemPrivadaeaOrganizaoPolticaNacional.SoPaulo,Companhia EditoraNacional.Freyre,Gilberto1995[1933]Casa-GrandeeSenzala.RiodeJaneiro,Record.1968 [1936]SobradoseMucambos.RiodeJaneiro,JosOlympioEditora.Holanda,SrgioBuarquede1984 [1936]RazesdoBrasil.RiodeJaneiro,JosOlympioEditora.Jamous,Raymond1992FromtheDeathof MentothePeaceofGod:ViolenceandPeace-Makingin theR i f .InJ.G.PeristianyeJ.Pitt-Rivers(eds.),Honor andGracein Anthropology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.167-191.OliveiraVianna,FranciscoJ.de1973 [1920]PopulaesMeridionaisdoBrasil.RiodeJaneiro,PazeTerra.Peristiany,J.G.1971a [1965]Introduo.InJ.G.Peristiany(org.),HonraeVergonha:ValoresdasSociedadesMediterrneas.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,pp.1-10.1971b [1965]HonraeVergonhanumaAldeiaCipriotadeMontanha.InJ.G.Peristiany (org.),HonraeVergonha:ValoresdasSociedadesMediterrneas.Lisboa, FundaoCalousteGulbenkian,pp.139-155.1992TheSophron ASecularSaint?WisdomandtheWiseinaCypriotCommunity.InJ.G.PeristianyeJ.Pitt-Rivers(eds.),Honor andGracein Anthropology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.103-127.88Peristiany,J.G.ePitt-Rivers,J.1992Introduction.InJ.G.PeristianyeJ.Pitt-Rivers(eds.),HonorandGraceinAnthropology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.1-17.Pitt-Rivers,Julian1971 [1965]HonraePosioSocial.InJ.G.Peristiany(org.),HonraeVergonha:Vedores dasSociedadesMediterrneas.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,pp. 11- 59.1977TheMoralFoundationsoftheFamily.InTheFateo fSchechem.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.71-93.Samara,EnideMesquita1987TendnciasAtuaisdaHistriadaFamlianoBrasil,lnA.M.Almeidaetalii,PensandoaFamlianoBrasil:DaColniaModernidade.RiodeJaneiro, EspaoeTempo,pp.25-36.Willems, Emlio1954A Estrutura da Famlia Brasileira.Sociologia,vol.XVI,n. 4,EscoladeSociologia e Poltica deSoPaulo,pp.327-340.ResumoHonraeFamliaemAlgumasVisesClssicasdaFormaoNacionalOartigoanalisaaobradealgunsautoresclssicosdenossaliteraturasobreformaonacional,tendocomoobjetivoprincipalrecuperarsuasinterpretaessobreasinteraesdos domniospblicoeprivado.Nessesentido,ganhamdestaqueasrefernciasqueindicama elaboraodeumpadrodehonra,umcdigodeorientaomoralqueperpassaasociedade colonialdesdeafamliaeasrelaesentreosclsatoEstadoeasinstituiespolticas.Palavras-chave:famlia;honra;relaopblico-privado;pensamentosocialbrasileiroAbstractHonorandtheFamilyinsomeClassicViewso ftheShapingo fBrazilianSocietyThisanalysisofworksbysomeclassicauthorsaddressingtheshapingofBraziliansociety reviewstheirinterpretationsofinteractionsbetweenthepublicandprivatespheres.Special attentionisfocusedonreferencesindicatingthatastandardofhonororacodeofmoral guidelineswasdevelopedthroughoutcolonialsociety,involvingnotonlythefamilyand relationshipsbetweenclansbuttheStateandpoliticalinstitutionsaswell.Keywords:family;honor;public-privaterelations;Braziliansocialthought89

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