rohden_honra e família literatura nacional

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Honra e Família em Algumas Visões Clássicas da Formação Nacional* Fabíola Rohden Introdução Este artigo pretende analisar a produ ção de alguns autores brasileiros1 que es creveram em torno da primeira metade do sé culo XX sobre a formação nacional, seja a partir da constituição de um poder público ou de nossas origens quanto à família. O objetivo principal é trazer à tona o modelo de família que estão concebendo como funda mento da organização social da Colônia. A preocupação com as concepções de família não procura apenas a comparação de suas descrições, mas cumpre um outro propósito. Veremos que, para aqueles autores, a ordem pública no Brasil dos primeiros séculos só se sustentava pela sua relação com a ordem privada. Nesse sentido, tentar desvendar os princípios organizadores da família é também descortinar algumas indicações para a com preensão do que era a relação entre ordem pública e privada para os autores em questão. Pretendo também demonstrar que, ao fazerem remissão a esses princípios organi zadores, os autores estão concebendo o que poderíamos chamar de um código de orien tação moral, um padrão de honra, que estaria operando na Colônia. Esse conjunto de va lores hierarquizados, de orientações defini das pela sociedade, que regulam os compor tamentos de indivíduos e grupos, definiria a dinâmica social daquele período. A propos ta, então, é fornecer indícios sobre esse có digo, esse conjunto de referências que apa rece nas descrições dos autores tratados sobre a família colonial, e que nas suas aná lises governava também as origens de nos sas relações políticas. Entre o Poder Privado eo Poder Público Em um primeiro momento vou enfocar algumas concepções mais gerais dos auto res, procurando identificar suas principais definições sobre a relação entre família e Es tado ou privado e público. Sugiro que se pode falar em um diagnóstico mais geral que é co mum a todos os autores. Trata-se da afirma ção de que no Brasil colonial a família ocu pava múltiplas funções, desde a base eco nômica, a organização social, até as relações políticas, em contraste com um Estado ainda inoperante ou ineficaz. E claro que o deta lhamento de como se dava esse processo ganha cores diferenciadas entre os autores, e é isto que procurarei demonstrar, mas a questão mais geral lhes é comum. Por outro lado, as diferenças tornam-se mais claras quando se passa do diagnóstico para a ex- * Agradeço as sugestões e comentários de Moacir Palmeira à versão original deste trabalho. BIB, Rio de Janeiro, n.° 48, 2.° semestre de 1999, pp. 69-89 69

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Honra e Famlia em Algumas Vises Clssicas da Formao Nacional*FabolaRohdenIntroduoEsteartigopretendeanalisaraproduodealgunsautoresbrasileiros1 queescreveramemtornodaprimeira metadedosculoXXsobreaformaonacional,sejaa partirdaconstituiodeumpoderpblico oudenossasorigensquantofamlia.O objetivo principal trazer tona o modelo de famliaqueestoconcebendocomofundamentodaorganizaosocialdaColnia.A preocupaocomasconcepesdefamlia noprocuraapenasacomparaodesuas descries,mascumpreumoutropropsito. Veremosque,paraaquelesautores,aordem pblicanoBrasildosprimeirossculoss sesustentavapelasuarelaocomaordem privada.Nessesentido,tentardesvendaros princpiosorganizadoresdafamliatambm descortinaralgumasindicaesparaacompreensodoqueeraarelaoentreordem pblicaeprivadaparaosautoresemquesto.Pretendotambmdemonstrarque,ao fazeremremissoaessesprincpiosorganizadores,osautoresestoconcebendooque poderamoschamardeumcdigodeorientaomoral,umpadrodehonra,que estaria operandonaColnia.Esseconjuntodevaloreshierarquizados,deorientaesdefinidaspelasociedade,queregulamoscomportamentosdeindivduosegrupos,definiriaa dinmicasocialdaqueleperodo.Aproposta,ento,fornecerindciossobreessecdigo,esseconjuntoderefernciasqueaparecenasdescriesdosautorestratados sobreafamliacolonial,equenassuasanlisesgovernavatambmasorigensdenossasrelaespolticas.EntreoPoder Privado eo Poder PblicoEmumprimeiromomentovouenfocar algumasconcepesmaisgeraisdosautores,procurandoidentificarsuasprincipais definiessobrearelaoentrefamliaeEstado ou privado e pblico.Sugiro quese pode falar emumdiagnsticomaisgeralquecomumatodososautores.Trata-sedaafirmaodequenoBrasilcolonialafamliaocupavamltiplasfunes,desdeabaseeconmica,aorganizaosocial,atasrelaes polticas,emcontrastecomumEstadoainda inoperanteouineficaz.Eclaroqueodetalhamentodecomosedavaesseprocesso ganhacoresdiferenciadasentreosautores, eistoqueprocurareidemonstrar,masa questomaisgerallhescomum.Poroutro lado,asdiferenastornam-semaisclaras quandosepassadodiagnsticoparaaex-*AgradeoassugestesecomentriosdeMoacirPalmeiraversooriginaldestetrabalho.BIB, Rio de Janeiro, n. 48, 2. semestre de1999,pp. 69-89 69plicao.Nessecaso,distintosfatoresso evocadosparapreencheromodeloanaltico de cada um.Umltimo planoseria odasproposieselencadasdeacordocomsuacompreensosobreomelhorcaminhoparao desenvolvimentosociopolticodanao. Esteltimonoserobjetodaanlisefeita aqui,na medida em queoqueinteressamais diretamenteoquadrocompostosobreum dadomomentodenossahistria.Vamos, ento,aessequadro.OliveiraVianna(1973)dizquenosprimeirossculosdenossacivilizaooEstadopoucoacompanhava a expansoterritorial empreendidapeloscolonizadores.Japartir da,tornou-secadavezmaisclaraadistnciaentrepoderprivadogovernadopelosinteressesparticularesepoderpblico,estatal, nocontroleeadministraodovastoterritrioqueseconstitua.Essescolonizadores, agrupadosemtornodafamliaedeforma maisabrangenteconformandoosgruposou cls,atravsdaunidadedeproduodomsticacaracterizadanagrandepropriedaderural,passamaedificaroqueseriamas basesdaestruturasocialdaColnia.Parao autor,emfunodacapacidadedeauto-sub- sistnciaedeumaproduoeconmicaautonomizada,agrandepropriedadecapaz depermanecerisoladaeconteragrupadas emtornodesitodasasoutrasrelaessociais.Essaindependnciaeconmicaexerce umafunosimplificadorasobretodaa estruturadaquelapopulao,restringindoa consolidaodeumacomrciomaisamploe osurgimentodeumaclasseburguesa,impedindoainstauraodeumprocessoindustrialenodandochancesparaaformao dencleosurbanos,oquepoderiarepercutirnosurgimentodeclassespoliticamente organizadas.Dessemodo,opoderdosgrandessenhoresterritoriaispermanecequase absoluto,noencontrandorestriesefetivasquelhefaamfrente.Governaafamlia, osparentes,osescravoseamassadetrabalhadoreslivresquetambmsoseusdependentes.Aestes,diantedainexistnciade outrasinstituiesqueofereamalgumtipo degarantiadesobrevivnciaemnimosdireitosde justiaedefesa,scabeassegurar- sedaproteodeumsenhorrural.A solidariedadedecl anicaforma deorganizaosocialaqueosindivduospodem recorrer.Aausnciadopoderpblicofaz comqueOliveiraViannavejanosclsterritoriaisenopoderiodeseussenhoresomeio quegarantiuadifcileprecriaestabilidade daColnia,indicandoassimqueopoderprivadoassumiaecumpriaasfunesqueidealmenteseriamatribudasaopoderpblico. Dessemodo,apontaparaoquenosinteressamaisdiretamenteaqui,quesocdigos moraisbaseadosnafamliaenoprivado, gerenciandoasrelaespblicasoupolticas.EmCasa-GrandeeSenzalaGilberto Freyreforneceelementosparasepensara relaoentrepblicoeprivadomuitomais peloladodedentro,peloladodafamlia.O autorcompeoqueeleprpriochamade umahistriantima,redesenhandovaloresecostumesquecimentaramasrelaes sociais no Brasil colonial. Apesar de seu olhar paradentro,tambma famliaagranderesponsvelpelafunodeorganizaodaquelasociedade.Seupredomniocomomodelo fundamentalderelaestoenglobante queestendeseusprincpiosportodootecidosocial.Paraele,acasa-grandefoiocentrodecoesopatriarcalereligiosa.Essas unidadesconstituamospontosdeapoio paraaorganizaonacional.E,almdisso:Acasa-grande,completadapelasenzala,representatodoumsistemaeconmico,sociale poltico:deproduo(amonoculturalatifundiria);detrabalho(aescravido);detransporte (o carro de boi,o bangu,a rede,o cavalo); dereligio(ocatolicismodefamlia,comcapelosubordinadoaopater famlias,cultodos mortos,etc.);devidasexualedefamlia(o patriarcalismopolgamo);dehigienedocorpo edacasa(otigre,atouceiradebananeira,o70banhoderio,obanhodegamela,obanhode assento,olava-ps);depoltica(ocompadris- mo)(Freyre,1995,p.liii).Diantedetovariadasfunes,afamlia,encarnadanacasa-grande,tinhamais podersobre o territrio nacionaldoque qualqueroutrainstituio,mesmooEstado,a quemossenhoresdeengenhoafrontavam comfacilidade,ouaIgreja,especialmente depoisdevencidososjesutas:Vencidoo jesuta,osenhordeengenhoficoudominandoaColniaquasesozinho.Overdadeiro donodoBrasil.Maisdoqueosvice-reise osbispos.(idem,p.lvii)2 Econtinuando: Aforaconcentrou-senasmosdossenhoresrurais.Donosdasterras.Donosdos homens.Donosdasmulheres.(idem,p.lii) Freyremostra,assim,ograndealcancedos proprietriosruraiscomodonosdetudoe fontesdepoder.SrgioBuarquedeHolandanoestinteressadoemdiscutirdiretamentearelao entrefamliaeEstadooudescreverapurada- mente o modo de vida da famlia colonial brasileira.Oquelhepreocupaaformaodo tiposocialbrasileiro,suasorigens,suascaractersticaseseucomportamentosocial.E a,nesteplano,queentramfundamentalmenteosvaloresecostumesdafamliaimpregnadosemtodasasformasderelao socialdobrasileiro.Oautorexplicaquedesdea nossaheranaibricavemacultura da personalidade,avalorizaodaautonomia decadahomeme,em decorrncia,afrouxidodaestruturasocial,afaltadecoeso quenoscaracteriza(Holanda,1984,pp.4-5). Umafaltassupridaporumasolidariedade calcadanossentimentosenonosinteresses.Nossasrelaessociaissofundadas emumabaseemotivaeforamasrelaes domsticasomodeloobrigatriodequalquercomposiosocialentrens(idem,p. 106).Esseexcessodeprivatismo,quecaracterizouoEstadobrasileironopassado,quandodiantedasinstituiespblicasspode serprejudicial.Paraoautor,arelaoentrefamlia e Estadode descontinuidade eoposio,marcandoocontrasteentreprincpios institucionaisdiferenciados: OEstadonoumaampliaodocrculo familiare,aindamenos,umaintegraode certosagrupamentos,decertasvontadespar- ticularistas,dequeafamliaomelhorexemplo.Noexisteentreocrculofamiliareo Estadoumagradao,masantesumadescontinuidadeeatumaoposio.Aindistino fundamentalentreasduasformasprejuzo romnticoqueteveosseusadeptosmaisentusiastasduranteosculodcimonono.Deacordo coinessesdoutrinadores,oEstadoeassuas instituiesdescenderiamemlinhareta,epor simplesevoluodaFamlia.Averdade,bem outra,quepertencemaordensdiferentesem essncia.Spelatransgressodaordemdomstica efamiliar quenasceoEstadoequeo simplesindivduosefazcidado,contribuinte, eleitor,elegvel,recrutveleresponsvel,ante asleisdaCidade.Hnessefatoumtriunfodo geralsobreoparticular,dointelectualsobreo material,doabstratosobreocorpreoeno umadepuraosucessiva,umaespiritualizao deformasmaisnaturaiserudimentares,uma procissodashipstases,parafalarcomona filosofiaalexandrina.Aordemfamiliar,em suaformapura,abolidaporumatranscendncia(idem,p . 101).Essadiferenciaontidadeprincpios entrefamliaeEstadotambmexplicitada porNestorDuarte.Ocorre,principalmente, porqueaordemestataltempormetabsica oexercciodopoderdemandoegoverno, enquantoafamliasoexercesecundariamente,emfunodeseusinteressesprprios.AIgreja,queparaNestorDuarte(1966, p. 14)aparececomoumaforaconcorrente soutrasduas,tambmsdetmopoderem virtudedaatividadereligiosaedosobjetivosdacomunidadeeclesistica,enocomo umfimemsimesmo.Almdisso,afamlia insere-senaordemrestritiva,dogrupofechado,exclusivista,enquantooEstadopretendeabrangeropodersobretodasasoutras esferassociais.Estado,Igrejaefamliatm naturezasdiferentes,somovidosporprincpioscontraditriosumaafirmaobem71distintadaquelesquepercebemnaintegraodasfamliasumgermedoEstado.E,em lermossemelhantesaotextodeSrgioBuar- quedeHolanda,afamliaconcentrapessoas ;ipartirdolaosentimental,antagonizando- sccomoEstado:EmfacedoEstado,quandoesteaabsorveou limitaapotestadedomstica,afamliacomeaadesencadearumaforaderesistnciaede oposio.Porqueoseuespritomaisvivoe intensodoqueodoEstado,comumfundamentosentimentalqueaqueledesconhece,ela preparaearmaindisfarveisantagonismos vidapblica,opondoohomemprivadoaohomempblicocomtalsentimentodialticoque ostornairreconciliveis(idein,pp.15-16).Esclarecidoesseantagonismo,oautor passaacaracterizarafamliadaColnia,levandoemcontaaorigemportuguesa,eminentementepar ti culari staecomunal,a organizaoeconmicadecarterfeudal eindependentedoEstado,eagrandeextensoterritorial.Maisumavezafamliaque assumeemonopolizatodasasformasderelaosocialemfunodesuacapacidadede expansoeautonomiaedasingularfraquezadoEstado.EnquantoavidasocialdaColniasedefinepelasrelaescivis,pelo convviodohomemcomohomemetrocasparticulares,oEstadopermanecefraco, distante e incapaz de treinar o indivduo para osmistereseossentimentosprpriosdavida pblica,largando-osualivreiniciativa tidem,p.46). bomchamar a ateno para o fatodequeoqueseopeordempblica na Colnia no simplesmente a famlia,mas todaumacomplexaformadevidasocial,representadanasdisputas,conflitos,hierarquias,quevaialmdosmerosinteresses individuais.muitomaisumacomposio deinteressesvariadosformandoumaoutra formadeordempblica.Almdisso,muitas vezes,oEstadotorna-semesmodesnecessrio(Duarte,1966,p.59) j quea organizaosocialgarantidapelaordemprivada (idem,pp.70-71),ou,ento,faz alianas com72opoderprivado,atsesujeitandoaele.o queNestorDuartefalasobreapazdaColnia,asseguradaporumcompromissodoEstadocomacasa-grande:Elelhetransfereopoderquepodetransferir, consentequelheretirequasetodaaoportunidadedeinterferncianogovernodaColnia, enquantoela,porsuavez,oapoiarassim, porquedeacordocomosentidodeseusinteresses.[...]Masaalianaqueconstituiesse notvelequilbriodaColniaequeexplicaa sobrevivnciadeumasociedadeeminentementefracionriaetopoucosolidria,batidade tantoscontrastes,essaalianaumaretirada doEstadodaarenasocial,ouasuasujeio integralaosinteressesdacasa-grande(idem, p.72).3Umltimopontoquemereceserincludo aqui a prpria referncia de Nestor Duarteaalgunsdosautoresqueestoutratando, dopontodevistadosentidoexplicativode suasobras.Afirmandoanecessidadedeexplicitarasrazesporquepreponderanasociedadecolonialoprivatismo comoforma de organizaosocial,dizqueosautoresno forammuitolonge.Nasuaopinio.Oliveira Vianna tratadoproblemasemirafundo,no sistematizandoofatodentrodeseuestudo dasociedadebrasileira.JGilbertoFreyre teriacentralizadosuaobranahistriantimadobrasileiro,semnotarasdevidasrepercussesqueofamilismotevenahistria polticadaColnia.SrgioBuarquedeHolandateriaomritoderelacionarfamliae ordempblicaemesmoodedefini-lasem termosdeessnciasdiferenciadas.Contudo,paraNestorDuarte,Holandanochegouasistematizarealargaroproblema,o queDuartedefinecomooobjetivocentral desuaobra,considerandoespecialmenteo campopoltico.OlivrodeCostaPintosobrelutasde famliasnoBrasil,decertaforma,investeno aprofundamentodaquesto,pelomenosa partirdeumadesuasexpressesfundamentais.Tratadessaslutasconsiderandoarelao entrea ordemprivada ea ordempblica.Apartirdefatoresjcitadospelosoutros autores,comoadiscrepnciaentreterritrio econmicoeterritriopolticoeaimportnciadainiciativaprivadanacolonizaodo Brasil,revamultifuncionalidadedafamlia patriarcal,incluindonelaafunojurdica (Pinto,1980,pp.22-23).Para oautor,a organizaosocialdaColniacaracteriza-se,entre outras coisas, pelo gerenciamento da ordem legalatravsdosjulgamentosesanesbaseadosnosclsfamiliaresesuasdisputas, fazendodavinganaprivadaaprincipalformadesanodoperodo.Posteriormente,h ummomentodepassagemgradualdogovernoda famliapara o doEstadosobreos conflitos,momentoemqueavinganapassa entoaser consideradacomoumcrime.Isto quandooEstadoganhaalgumtipodefortalecimentoesaidasituaodesubordinado aopoderdospotentados.Porque,nosprimeirossculos,apesardastentativasdehierarquizaoeorganizaodergos, poderes,cargosefunesdegoverno,oque preponderaopoder demandodasfamlias: [...]oposso,quero,emandodospotentados, oimpulsonaturaldedefesadapleberural quealevaaabrigar-sesombradospoderosos,aarbitrariedadeeavenalidade,quandono asubmissodosmagistradosaosdonosdafora,oisolamentodaspovoaes,desorganizamaadministrao,obrigam-naadistender- se,dispersando-se,pelalatitudeimensa(idem, p.32,nfasesdoautor).Assimcomoparaoutrosautores,opa- ter-familiaseraopontoirradiadordefora estvelduranteaColnia,oqueconcentravaoslaossociaispossveiseexistentes. Agora,aoqueparecediscutindocomOliveiraVianna,CostaPintodiscordaqueaordemsocialconseguidanaColnia,carente depoderesinstitucionalizadosouformalizados,fossedecorrnciadandoledopovo brasileiro.Emlugardequalidadesmorais, Costa Pinto(idem, p.33)asseguraque oque mantevealgumcontrolesobreaquelasociedadefoiopoderdoclpatriarcaleespecialmenteoseuexercciodafuno jurdica.Valeapenaincluir nestemomentoalgumasobservaesdeF.deAzevedo,especialmentepelasuacapacidadedesntesedos argumentosemcursonaprimeirametadedo sculoXX.Citandoalgunsdosautoresj vistos,Azevedoinsistenafamliapatriarcal comooalicercedoBrasilColniamuitoem virtudedasuacapacidadededilataroseu poder,aambarcandooutrasorganizaese tornando-asantagnicaseinfensasaoEstado.Acasa-grande,almdeseraexpressodaordemprivadanasuapersistnciae solidez,significoutambmatendncia,caractersticadopatriarcalismo, deabsorvereconfundirasfunessociaisque, sporumlongoprocesso,acabarampordiferenciar-se,deslocando-sedarbitadesuaatrao(Azevedo,1948,p.66).Abrigavaumpoder decoesosocialque porforadesuanfaseparticularistasecontrapunhaaumpoderpblicounificado.E maisdo queisso,representava um poder com pesodiferenciadodaqueledoEstado.Enquantoesteeralongnquoevacilante, aquelasedesenvolviacomumaforacaudalosa[idem,p.68).Avidapblica noera nadaalmdaextensodavidadomstica, centradanopoderiodossenhoreslocais, combase noslatifndiosena famlia patriarcal.F.deAzevedochegamesmoadizerque cadafamliaeraumEstadodentrodoEstado:Quantomaisslidaaconsistnciadafamlia patriarcalequantomaioroseupodereconmico,tantomaisforteatendnciadeseconcentrarcadaumadelasnumEstadodentrodo Estado(idem,p.78).Oqueessesautoresnostrazemdecomum,ento,umaorganizaopblicaou umaordemsocialdoBrasilnaColniabaseadanaprepondernciadafamliasobreo poderpblicoinstitucionalizado.Cabeagora verificar de que famlia esto falando, como seapresenta,emquebases,qualasuaorga-73ni/.aointerna,quaisosvaloresqueest emprestandoaoespaopblico.AFamliaPatriarcalPassoagoraparaumaanlisedadescrioqueessesautoresfazemsobreafamlia patriarcalesuasrelaesinternaseexternas,procurandoidentificaralgunsprincpios fundamentaisqueorganizamaordemprivadadasociedadecolonial,umaordemqueem muitoultrapassaoseudomnio,chegando atoutroslugaressociais,comooespao pblicoouarelaocomoprprioEstado. Oquevimosatagorafoiointercursodo pblicocomoprivadoconstituindoaorganizaocolonial.Oque precisodefinirmelhorqualocontedodessarelaoaqui estamoslidandocomaconcepodeum cdigodevaloresqueorganizaumasociedade.Nessesentido,possvelsugerirque essesautoresestodescrevendoouconformando,atravsdesuasinterpretaes,um determinadopadrodehonraemvoganaquelemomentohistrico.4 Oquepretendo destrincharocontedoeomododeoperaodessecdigotalcomoseapresentanas definiessobrefamliapatriarcalnosautoresescolhidos,procurandoassimnovaspis- lasparaoentendimentodarelaoentre pblicoeprivadoqueaparecenodebate sobreaColniaeaformaodoEstadono Brasil.Aimportnciadafamliapatriarcalno modeloexplicativodeautoresque estopensandoaformaopolticadopovobrasileiro,comoOliveiraViannaeNestorDuarte, bastanteevidente.Asindicaesarespeito sotoabundantesquantonaobradeautoresquepretendempensarmaisdiretamente afamlia,como ocasodeGilberto Freyre e AntnioCndido,por exemplo.Emgeral,os principaispontossocomuns:adominao dosenhordeterrassobremulheres,filhos, agregados,escravos,parentes;umamoral sexualdistintivaparahomensemulheres,dandoliberdadeaosprimeirosereclusos segundas;dependnciadosno-propriet- rios;solidariedadesocialbaseadanogrupo familiar etc.5EcomoasdefiniesdeFreyre eCndidosomaisconhecidas,vouoptar porcitarumapassagemdeWillemsqueresumeomodelodefamliapatriarcaldescrito porviajantesestrangeiros:"Onamoroestritamentevigiadopelafamlia,quecontrola,corporativamente,acondutadeseusmembros.difcilaummooeuma moaconhecerem-sebemantesdocasamento porqueemgeralnopodemestarssdesacompanhados.6 Depoisdocasamentoomaridoassumeopapeldepaiau t o r i t ri o e dominador.Noseesperaqueasmulherescasadassejamcompanheirasparaseusmaridos, massimquesetornemmesdevotadaseboas donasdecasa.Vigiadasporpaiszelososepor espososciumentos,asmulheresbrasileirasso levadasaajustar-seauniavidadomsticareclusa,limitando-se,almdisso,atomarparte nasatividadesreligiosasdacomunidade.Aos homenssepermitequegozemdetodasasliberdadesquedesejarem.Pelochamadopadro duplodemoralsexualsocialmenteaceitvelqueohomemtenharelaessexuaisadlterasoupr-maritaisenquantoquenose perdoaamulherqueaelasseentregaemcondiesidnticas.Finalmente,afamliabrasileiracaracterizadacomogrupocomplexoe consanguneo,maisdoquecomogrupoconjugal,oquepodeserilustradopelofatoquemesmoparentesnomuitoprximossounidos porfortesentimentodesolidariedade(Willems,1954,p.328,nfasesdoautor).Estapassagemremeteadoispontos importantes:estruturaodasrelaesda famliaemtermosdecasamentos,parentese agregados;esdiferenasdegneroe moralsexual.Vamosaoprimeiroponto.F.deAzevedo(1948,pp.67-68)resume bemaapresentaodepesquisasanterioressobreodomniodacasa-grandeedo pater famliassobreosoutrosmembrosdo gruposocial.Opoderdosaristocratasrurais transbordavaoslaosdeparentescomais prximosparachegaratescravoseagregados,constituindoumanicaunidadedepos74sedopatriarca.Segundooautor,opoder despticoexercidopelossenhoresdeengenhosobreamulher,osfilhos,parents,agregadoseescravossvariavaemtermosde grau,mantendoamesmaessnciaeatingindoatmesmooshomenslivres.Oliveira Vianna(1973, pp.147-148) afirma que em funodaausnciadequalqueroutrotipode solidariedadecomoadeclasseouaparental,aesseshomenslivressrestavaaderir solidariedadedecledependnciadealgumpotentadorural.ParaNestorDuarteo ambienteerapropcioparaqueafamliacolonialfosseocentrodepoder,inclusives seabrindoparauniescomoutrasfamlias. Segundoele,asligaesentreosparentes definiamosmodosderelaointernaeexterna famlia:"Nessemeio,elapodecrescereestender-se semperigodeintercmbiosereaescomoutrasmassasouagrupamentos,comoverdadeiraautarquiafechada.Solaoparentale domsticodefiniaeresumiaacooperaoeconmicaesocial.Asenzalaeoescravoainda sotermosdacomunhodomstica.Endoga- miza-sequaseesseestendeparaalargara cooperaoatoutrafamlia,pelolaoparentaldoscasamentoscruzados,natendnciaem fundir-senumas,aindamaiorenumerosa, paradarlugaraverdadeiratribodecoesopor parentesco(Duarte,1966,p.68).JA.Cndidodefineaorganizaoda famliapatriarcalpelasuadivisoemuma duplaestrutura.Afaltademulheresbrancas,oconseqenteconcubinatoe,principalmente,ograndenmerodefilhos ilegtimosdossenhoresrurais,quepoderia colocar em perigo a solidez da famlia do ponto devistadestatuseacomodaosocial, levou-osaadotaramanutenodedoisncleosdistintos:ocentral,irradiadordeseu prestgioepoder,eoperifrico,lugarderelaesabertas.Oprimeiroeracompostopela mulherefilhoslegtimoseosegundo,nem semprebemdelineado,porescravos,agregados,mestios,asconcubinasdochefee seusfilhosilegtimos.Dessencleo,doqualoproprietrioruraleraosenhorabsoluto, derivavamosprocessosdesocializaoe integraodosmembros,especialmentemarcadosporrgidasdistineshierrquicas. ocasodostratamentosdepaiemeporSenhoreSenhoraoudospedidosdebeno incorporadosaocotidiano(Cndido,1951, p.294).Defato,adominaodopainogerenciamentodavidadosfilhosumponto comum.Podeserobservadatambmnessa passagemdeOliveiraVianna,ondesenota inclusiveumasimpatiadoautorcomacapacidadeeducadoraetambmestabilizadora dopatriarca:7imensaaaoeducadoradopaterfamlias sobreosfilhos,parenteseagregados,adscritos aoseupoder.Eo pater famliasque,por exemplo,dnoivosfilhas,escolhendo-osegundo asconveninciasdaposioedafortuna.Ele quemconsentenocasamentodofilho,embora j emmaioridade.Elequemlhedetermina aprofisso,oulhedestinaumafunonaeconomiadafazenda.Elequeminstalanavizinhanaosdomniosdosfilhoscasados,enunca deixadeexercersobreelesasuaabsolutaascendnciapatriarcal.Elequemosdisciplina, quandomenores,comumrigorquehojeparecerbrbaro,tamanhaaseveridadeearudeza. Poressetempo,osfilhostmpelospaisum respeitoqueraiapeloterror.Esserespeito, emcertasfamlias,umatradiotovivaz, quecomumverem-seosprpriosirmoscadetespediremabenoaoprimognito.Noutras,asesposaschamamsenhoraosmaridos,e essessenhorass.esposas.Osentimentode respeitoaosmaisvelhosedeobedinciasua autoridadetogeneralizadooutroranonosso meiorural,tambmumaresultantedessaorganizaocesaristadaantigafamliafazendeira(Vianna,1973,p.54).Para Oliveira Vianna (idem,p.53)a estabilidadeconseguidacomessetipodegerenciamentodoslaosprivadosfazdafamlia fazendeiraamaisbelaescoladeeducao moraldonossopovo,perpassandoseus valoresdocrculomaisfechadoa outrosgruposquelhecercam.nessecontextoquese forma oelemento nacionalmaisnobreelegtimonaopiniodoautor,ohomemdocam75po,omatuto,moldadoemcostumesrsticoscausteros.Nadescriodesuasqualidadespodemosvernadamaisdoquea conjunodecertospredicadosconformandoumcdigodevaloresmorais,umpadro dehonra: H,entretanto,certossentimentosecertos preconceitosndicesinfalveisdenobreza inoralquetmparaessesdesdenhadosmatutosumasignificaomedievalmentecavalheiresca.Orespeitopelamulher,pelasua honra,peloseupudor,pelasuadignidade,pelo seubomnome,porexemplo.Ouosentimento dopundonorpessoaledacoragemfsica,que fazcomqueomatuto,feridonasuahonra, desdenhe,comoindignodeumhomem,odesagravodostribunaiseapele,depreferncia, comonostemposdacavalaria,paraodesforodasarmas(idem,p.55).*Continuando,OliveiraVianna{idem,p. 55)aindadefineasquatroqualidadesque caracterizariamomatutoouqueconstituem omaisgenunoflorodanossanobrezaterritorial:afidelidadepalavradada,aprobidade,arespeitabilidadeeaindependncia moral.Quantoprimeira,descrevequepara ohomemcolonialhonrado,aobservncia palavradadavalemuitomaisqueoregistro dotabelio.Essaqualidadefoiherdadatanto dosbriosdosantepassadosquantofruto doamoldamentoaomeiorural,especialmenteporqueumambienteemquetodosos similaresemhonraseconhecem,nohavendolugarparaumsenhorquefaltecomsuas promessas.9 Daprobidade,oautorseresume a remeter sua origemlusa e ao aprimoramentonoambienteruraldualidadede causasrecorrentemesmoentrepobrese deserdados.Quantorespeitabilidade,descrevequepelacondiosocialdemuita visibilidadeedestaqueeporocuparaposiodechefequeosenhorruralmantm suaforamoral,suacaractersticadehomemgrave:Essaconstantevigilnciadasociedadeno lhepermitecondutasmenosdecentes,oumenosairosas;obriga-omoralmenteavestira suaatitudesobmaneirasdiscretasecontidas, sbriasemoderadas,demodoamanter,inquebrvel,alinhadasuaascendnciasobreosque ocercam(idem,p.57).Umaatitudequevaiserreconhecidae apuradapelaprpriametrpolequebrinda essescavalheiroscomttulosecondecoraes.10 E,porltimo,aqualidadedaindependnciamoral.Quantoaestepredicado, OliveiraViannaacrescentaalmdosangue peninsularafortunaeriquezaexcepcionais proporcionadaspelosgrandeslatifndios, oqueacostumouosseussenhoresaum sentimentodeorgulho,semlugarparaservi- Ihismo,mesmoquefosseaomonarca.ConservamrespeitoaoRei,massemhumildade jquenoestnasuandoleaobedincia docorteso(idem,p.59).11J citeiocarter geraldadominaodos senhoresrurais,especialmentedefinidana educaodeseusfilhos,oquenostermos deOliveiraViannadevecontribuirparaconformarumhomemhonrado,senhordesuas posseseatitudes.Cabevoltaragorasmulheres,outrogrupodiretamentesubjugado aospatriarcasedecisivamenteinfluentena manutenodesuahonraenaestabilidade da famliarural.Nestor Duartenassuasconsideraessobreafamliabrasileirapreocupa-seemdefiniracondiodeinferioridade esujeiodamulher nafamliacolonial:Comofamliaquej vinhaformadapelapoca,soboimpriodohomemoudoshomens comocentrodaassociao,elaporissoexaltouaautoridadedomarido,chefeindisputado, austeroeorgulhoso,amandarasmulheres, relegadasparaacopaeparaacozinha,numa situaodequasemenoreseassimtratadas, comoaosfilhos,sobabsolutorigoredesprezo(Duarte,1966,p.68).GilbertoFreyretratadesseassuntocom bastantecuidado.Dedicainmeraspginas descriodavidadasmulherescoloniais, especialmente marcada pela recluso ao mundodomsticoescasas-grandes(1995,p.76339)epelovigiar constantedospaisemaridosvisandoguardarovalorfundamentalde suahonra,avirgindade(idem,p.346).Em SobradoseMucambosdefineasdiferenas entreossexos,entreototalpoderdosmaridoseasubmissodasesposas- emtermos deumduplopadrodemoralidade.Afirmao cartergeraldaexploraodamulherpelo homem,particularmentenasorganizaesde tipo patriarcal-agrrio,squais conveniente umaextremadiferenciaoentreossexos.E continua:Poressadiferenciaoexagerada,sejustifica ochamadopadroduplodemoralidade,dando aohomemtodasasliberdadesdegozofsicodo amorelimitandoodamulherairparaacama commarido,todaasantanoitequeeleestiver dispostoaprocriar.Gozoacompanhadoda obrigao,paraamulher,deconceber,parir, terfilho,criarmenino.Opadroduplodemoralidade,caracterstico dosistemapatriarcal,dtambmaohomem todasasoportunidadesdeiniciativa,deao social,decontatosdiversos,limitandoasoportunidadesdamulheraoservioesartesdomsticas,aocontatocomosfilhos,aparentela, asamas,asvelhas,osescravos.Eumavezpor outra,numtipodesociedadeCatlicacomoa b r a s i l e i r a , aoco n tato comoc o nf e ss or (Freyre,1968,p.93).'2A.Cndidotambm faz referncia a duas esferascomplementaresdeatribuiesmasculinasefemininasesugerequeapartir dessarelaoquesedevepensaropapel dasmulheresnasociedadepatriarcalbrasileira.Ostatusdessasmulheresdeveser observadopelafunoespecficaqueocupavamnamanutenoda estruturafamiliar e noporumacomparaoimediatacoma posiodomarido.Istoseriaprodutodeuma dualsituaoculturalesocialqueproduzas diferenciaesquemantmaestabilidadedo grupo:Trata-sededuasesferascomplementares,cada qualcomseuethosmaisoumenosdiferenciadoemrelaoaodaoutra,amideemconflito,masgeralmentesuportando-semutuamente namanutenodeumequilbriosociolgicoconsidervel(Cndido,1951,pp.295-296, traduodoautor).Apesardeconcordarcomatesedoduplopadrodecomportamentoatribudoaos gneros,A.Cndidodistingue-sedeG. Freyreespecialmenteporcolocarnuances noseumodelodefamliapatriarcal.Apoiando-semaisemdadosdosuldopas,emcontrastecomoNordestedescritoporFreyre, tentarelativizaromodelodefamliadeste. Nocasodopapeldasmulheres,parecehaverumdessesmomentosdesingularizao. ParaA.Cndidoprecisoreconsiderara imagemdeabsolutasubmissodamulherna famliapatriarcal.Nasuaopinio,provavelmente,osescritorestmexageradoaodefini-lacomoumapessoasemautonomia diantedaprepotnciadomarido.Afirmaque aesposadeveriaterumpapelcentralnogrupodomstico:AluzdaformaosocialnoBrasilmeridional,aomenos,arealidadenoseadequaaessa imagem.Aindaquesubmetidaaomaridoede- vendo-lhegranderespeito,emesmoquecondenada peloscostumesa um sistema de recluso, ofatoquenaconduodosassuntosdomsticosamulherdesempenhapapeltalqueno sepodepens-ladesprovidadecapacidadede comandoeiniciativa(idem,p.295,traduo doautor).Nadivisodetarefascabiaesposadirigirotrabalhodosescravosnacozinha,'tecelagemecosturadasroupasparaacasa, supervisionarostrabalhosdebordadose outrasartesmanuais,providenciarcomida, cuidardecrianaseanimaisdomsticos, cooperarcomomaridonaaberturadenovas fazendas,dirigirasatividadescomemorativasquereforavamasrelaesdeparentescoetc.Umuniversoculturalesocial prprioquenocombinacomapassividade eindolnciaatribudassmulheresdapoca.Segundooautor,algumasvezes,essas esposasseconvertiamemverdadeiraslderes,emfacedaperdaouincapacidadedo marido para administrar a propriedade. E exer-77riamcomvigorasuaposiodechefesde famlia.Almdisso,aprprialiberalidade sexualdomaridorelativizadapor Cndido. Segundoele,asmulhereserambastanteativasnasrepresliasaosmaridosinfiis,freqentementerecorrendoaoauxliodosseus parentesmasculinos,oqueteriaexigidodo senhorruraltcnicasinstitucionalizadasde transgressoquemantivessemalgumrespeitopelasaparncias.F.deAzevedotambmdescreveamulhercolonialemtermosdeumamatrona autoritria,quenafaixadosquarentaanos exercetodooseumandonocastigoamucamas,molequeseoutrossubordinados.Contudo,explicaessasituaoporumareao tiamulheraoexcessodedominaoquea subjugava.Essasuarispidezquaseinocentadapeloautorqueatratacomoumareaonaturaleinconscientediantedas humilhaessofridas.Aoladodessareao dedefesaquerecaisobrefilhoseescravos, srestamulheraforaquedetmpelacapacidadedeseduo,supervalorizadapelo autor:Soboimpriodohomem,nafamliapatriarcalquelheatribui,comomandoeadignidade dechefe,aposioprivilegiadadesenhor, comomaridoepai,acondiodeinferioridadedamulher,rebaixadanoconceitoenotratamento,senhoraedonadecasaemrelao aosfilhosefamulagemdomstica,masquase escravaemfacedosenhorfeudal,nosetemperanemseamenizasenopelosseusinstintosdereaoedefesaepelopoderdeseduo comque,emqualquerregimesocial,acabas vezesporsubmeterohomemsuavontade, arrancando-lhedasmosaautoridadeeobastodecomando[...](Azevedo,948,p.67).AosolhosdeNestorDuarte(1966,p. 78)nohaviamuitoespaoparareaesfemininas,jquemulhereranegadaqualquerpossibilidadedeiniciativaeliberdade. Maisdoqueisso,diantedeuma moralsexualdeprofundadesigualdade,elasnose sentiamaisaviltadaporqueseconformava, aceitandoalegitimidadedessamoral(idem,p.79).Suanicapossibilidadedefuga,ou pelomenosdeconforto,eraencontradana Igreja,queatinha,aoladodosfilhos,como focosprivilegiadosdeinsero.Essareferncia a uma moralsexual e aopapelda Igrejamerecesertratadacommaisvagar.AImportnciadaIgrejaAIgreja,naopiniodeNestorDuarte (idem,p.80)umpoderconcorrentecoma famliaeoEstado,desdeoincioda Colnia investiu emuma aproximao cuidadosa com afamliapatriarcal.Pelanaturezadesptica dograndeproprietrio,menosafeitosubmisso religiosa,sua estratgiafoiaconquistadaeducaodascrianasedogoverno docomportamentofeminino,doiscentros maispredispostossuainflunciamorale pedaggica.Assim,conseguiuestender-se pelaordemprivadaeportodaasociedade colonial,adaptando-sehierarquiafamiliar semconflitoscomossenhoresrurais.F.deAzevedotambmfaladessacapacidadedepenetraodaIgrejanomundo privadoatravsdemulheresecrianas. Igrejainteressavaaalianacomaordemfa- milial,masnasuapacinciahabitual,sabia queomelhor caminhono era forar a sujeiodograndepatriarca.Apresentou-se comoaeducadoradefilhosemulheres,passandoaelestodosossentimentosderespeitoaosenhoreapegopropriedadeque eramcarosfamlia,aomesmotempoque pdetransmitirsuadoutrinasemproblemas. Educouofilho-herdeiro,comaresdegravidade,espritodehonra,capacidadedemando,etambmofilho-padrequeiapara seminrio,eofilho-doutor,estudanteem Coimbra.Asmulheres,aindacrianas,tambmaprendiampelavozdopadreorespeito aoseusenhor.Ocapelodafazenda,aliado aosenhorrural,eratambmopadre-mestre,queincutindonascrianasdeumeoutrosexo,orespeitoautoridadepaterna,adocilidadeeasubmisso,78asiasubordinandotantoreligioqueprofessavam,comoestruturasocialqueaenquadrava e que a servia a capela de engenho (Azevedo, 1948,p.70).13Aqualidadedealiadadosenhorrural queaIgrejaocupavanessemomentotinha comoumdeseusaspectosprincipaisorelaxamentodeumamoralsexualmaisaustera. SegundoGilbertoFreyre(1995,p.355)essa flexibilidadedocatolicismoqueaquiherdamos jtemorigememPortugal.AIgreja j acompanhavaacapacidadedesbravadorado portuguseseudesprendimentosexual,com uma moralmaisfrouxa e permissiva.Aquina Colnia,issovaiseraindamaisagravado j queaIgrejaficaincorporadanapropriedade patriarcal.Acapeladeengenhopropriedadedosenhorrural,fatoquesimbolizabema necessidadedepermissodosproprietrios parasuaentradanomundocolonial.Esse contextosetraduznaconformaodeum cristianismomaisdoce,maisntimo,demaioraproximaoentresantosepessoas.14 Ao mesmotempotambmsecoadunacoma maiorliberdadesexualdoshomensecoma restriodasmulheres.Emboraoficialmente aIgrejaprobaosexoforadocasamento,na prticadaColniafezvistagrossasaventurasdosgrandessenhores.Almdisso,acapacidadedepenetraodaIgrejanavidantimadaColniafez comqueseupoderfossemuitomaislonge. Elaaparececomoaquiloquedacimenta- odasociedadecolonialtantoemGilberto Freyre(idem,p.30)quantoemNestor Duarte (1966, p. 50), porexemplo. Este ltimo, alis, confereumpapelespecial Igreja narelao entreinteressespblicoseprivados.Jem Portugal,NestorDuarte(idem,pp.8-9)localiza o poder eclesialcomo concorrente e mesmosuperpostoaoEstadoeafirmaqueno perododadescobertaasdiocesesque governavamopovoportugus,maisque qualqueroutrainstituio.AIgrejatambm seapresentacomomenosrepulsivaaoindividualismoanrquicocaractersticodascomunas,porqueseaproximamuitomaisdo cartersentimentalquedsustentaoa essesgrupos,assimcomoosentimentoproduzidopelopertencimentofamlia,edistantedaqueleexigidoparaoenquadramento aumaordempblicainstitucionalizada,estatal(idem,p.16).J no Brasil,foia Igreja,e nooEstado,quesoubepenetrarmaisfundonasalmasdoscolonos,dandoaunidade daquelasociedade:Comoconviriaaoespritodapoca,agravadonandoledasociedadeportuguesa,eraem nomedaIgreja,dasujeiomoralreligiosa, queseprocuravafundirecaldearasociedade colonial.Sentimentocoletivoeraoreligioso, comoreligiosaamsticacoletivaquepoderia imprimirumcertosentidodeunidadeaohomemeaseugrupoaquiformado(idem,p.50).NestorDuarte(idem,p.51)acrescenta queseformavamenosumcidadodoEstadodoqueumcrentemobilizadosoba bandeiradeCristo.AIgreja,aodarasbases paraasolidariedadecolonial,nopretendia darsditosaoRei,formarcidados,mascatequizarpossveiscrentesparaoseurebanho.15Falamesmoemumdualismo jurisdicional entreIgrejaeEstado,quediscutemcompetnciasedisputampoderes,expressando nadamaisdoqueinstnciasconcorrentes (idem,pp.51-52).Almdisso,representaa nicaordemqueconsegue,porvezes,preencheroespaovazioentreafamlia eoEstadonoterritriodaColnia(idem,p.76), umacaractersticaexpressamuitasvezesna suacapacidadedemediadoradeconflitos. oquemostraCostaPintoaodescreversuas intervenesnaslutasentrefamlias.Lutas ques fazemsentidona medida em quefundamentalparaasociedadedaColniaarelaoentregruposoucls.Eprecisoprimeiro traaralgumasconsideraessobrecomoos autorestratadostmdescritoasrelaesentreessasunidades,paradepoisfalardesuas disputas,semprelembrandoqueessasrelaessootipofundamentaldesociabilidade pblicaexistentenaqueleperodo.79AsRelaesentreCis ou GruposFamiliaresOliveiraViannadedicaboapartedeseu trabalhoadescreveroquechamadecls rurais,umadescriodaunidadegrupa!calcada na propriedade territorialautnoma,que nassuasbasesvaiserreproduzidaporoutrosautores.Jquandoapresentaapsicologiadotiporural,falanaimportnciadesses gruposfamiliares,especialmentepelaestabilidadequerefletemepeloconhecimento mtuoqueosliga,mesmoqueissosignifiquerelaespacficasouviolentas:"Essaestabilidadedosgruposfamiliaressuperiorespermitequeseforme,nomeiorural, umatramaderelaessociaistambmestveis,permanentesetradicionais.Essesgrupos seconhecemmutuamentenassuasqualidades, gnios,tendnciaseidiossincrasias,outradicionalmenteseodeiam(Vianna,1973,p.53).Mas,quandodefineagneseeespritodosclsqueOliveiraViannaaprofunda suasconsideraes.Afirmaquenossocl ruralfoitoimportantequeseconstituina principalforamotrizdenossahistriapol- lica.Incluinosadimensomaisbeligerante,aqueladasdisputas,mastambmuma maispacfica,aagregaodopovodaColniasobaproteodoproprietriodeterras, lixplicaqueanaturezadessacapacidadeno estemrazeseconmicas,militaresoureligiosas,massimnanecessidadedeproteo daquelapopulaoindefesadiantedaanarquiabranca,reproduzidaemdiversasformas,comoainopernciadaJustia,suaparcialidadeefacciosismo.Almdosmagistrados,opoderdossenhoresfazdos capites-moresedasprpriasCmarasMunicipaislugaresondereinamajestosaasua vontade(idem,pp.139-143).sclassesruraisinferioressrestaadependnciadanobrezarural,expressapeloautorcomopa- tronagempoltica(idem,p.148).Aqueles quenotmterra,escravos,capangas,pres- lgiopodemserconsideradosestandofora daleidaColnia,semamparooudefesadenenhumainstituio,completamentesujeitosaoscaudilhoslocais(idem,p.151).Essacapacidadedeligaoentreanobrezaruraleasclassesinferioresumdos aspectosqueasolidariedadesocialadquire para Oliveira Vianna.O outro a falta de uma associaomaisextensaquecongreguegrupossociais.Eaquiapresentaumsentido negativo.Paraoautor,nohnaColnia elementosexternos(comoapossibilidadede ataquesinimigos)quepromovamaunio entregruposfamiliares.Aoladodacompletaautonomiadaproduoagrcolaedaunidadedomsticarural,nadaobriganecessidadedeparceriasentreoscolonos.Pode-se falarnapreeminnciadeumasolidariedade detipoverticalentresenhoreseseusdependentes,masnaausnciadeumasolidariedadedetipohorizontalquetramasseuma redederelaesmaisdensaeampla.Apesar de Oliveira Vianna (idem, pp.156- 158) dizer que no existiam muitasformas de cooperaoentreosgrupos,masapenas rudimentosdesociabilidade,seuprprio material provoca dvidas. Quando, por exemplo,descreveasdisputasentrefamlias,as competiesporassumirasCmarasMunicipaisouospostosdefuncionriosoficiais, comojuizesecapites-mores,estmostrandoquehaviasimumcircuitoderelaes sociaisepolticasentreosgrupos.Pode-se sugerirque,pelomenosapartirdoscasamentos,aredederelaesformadaentre parentesconstituaalgumtipodeligasocial entreasfamliascoloniais,umaformadeassociaoquenoserestringiameramente aoprivadomasquepovoavaasprpriasrelaespblicas.Maisumavezvolta-setemticadaordemprivadaocupandooespao pblico.TantoNestor Duartequanto A.CndidofalamdecomooslaosparentaissustentavamasrelaessociaisdaColnia.A. Cndido(1951,p.304)chegaadizerque graasaosistemadeparentescoqueosgruposautnomosformavamredescoesasde cooperao.OscasamentostinhamapapelK0fundamental.Eramoquemantinhaaunidadedogrupoemtermoseconmicos,privilegiandoparceirosendogmicoseassimno fracionandoapropriedade,aomesmotempo querepresentavamapossibilidadedecoesoerelaocom outrasfamlias,sempredo mesmonvel.16ParaF.deAzevedoosentrelaamentos defamliasouengenhoscontribuampara solidificaraunionointeriordecadagrupo domsticoeentregrandesfamlias,oque aconteciaespecialmenteatravsdosperigososcasamentosendogmicos,umaformademanutenoeampliaodariqueza:Apreocupaodealargaremolatifndio,com oacrscimodenovasterras,edefenderem, atravsdegeraes,ospatrimniosacumulados,eaindaoprprioorgulhodaaristocracia territorial,tendiamafavorecer,nessescrculosfechados,oscasamentos,nointeriorda classe(endogamia),entreparentesouconsanguneos,detiosesobrinhosedeprimosirmos,comquetantasvezes,paraaconservaodebensedenobreza,seestiolavam,pelo aumentodetarasvelhas,famliaspatriarcais (Azevedo,1948,p.78).GilbertoFreyre(1995,p.342)tambm retrataoscasamentosentreogrupodeparentes comouma forma degarantir a no dispersodosbensdasfamliasemanuteno dapurezadosanguearistocrtico.Valechamaraatenoaquiparaessaimportnciado sanguecomoatributoquesimbolizaaascendncianobreoulegtimadogrupo.A purezadosanguecomumenteassociada manutenodahonradafamlia,suadistnciasocialdeclassesinferioresemanutenodeprestgio.Outroaspectoimportantequeaparecea partirdadescriodoscasamentosserefere quaseinexistnciadapossibilidadedeescolhaindividualdeparceiros.Ademais,o indivduonotemvezdiantedoencompas- samentodafamlia,sendoamanutenodo grupooobjetivoprioritrio,enomomento daescolhadocnjugeoquedeveprevalecerasabedoriaeexperinciadosmaisvelhos,maisaptosareconheceremosparceirosemcondiesdereforaraestruturacoletiva. 17 A.Cndido(1951,pp.297-298) sugerequeocasamentoeraconsideradoum atotoimportantequenoeraconveniente larg-lovontadeindividualousatisfao denecessidadesafetivasesimdeixarogrupofazerasescolhas.F.deAzevedorefere-seaopoucovalor doindivduojquandotratadasvinganas privadas.Asleiseoscostumespatriarcais implicadosnessesfenmenosestariammenosdedicadosapreservaroorgulhomasculinodoqueamanterasolidezdogrupo:Quersevinguem,parasustentaremosseus, quandovtimasdaofensa,quertransijam,fechandoosolhosaosagravos,noconsultam senosuaspaixeseosinteresses,nopropriamentedoindivduo,masdainstituio.Por todaaparte,emqueolatifndio,combase escravocrata,favoreceuessetipodeorganizaofamilial,manteve-seobstinadamentea responsabilidadecoletiva,queprevalecearesponsabilidadepessoal,avocando-sefamliao julgamentoeapunio,pelavinditaprivada (Azevedo,1948,p.80).Mas,quelutaseramessas?F.deAzevedodizqueemboraoslaosentreasfamlias,atravsdocasamento,representassem pontosdeunio,muitasvezesseconvertiamemlutas,manifestadasemdioserepresliasoumesmoemvingaasviolentas.Uma razofreqentedasbrigaseraaeconmica, adisputaporterras.Contudo,ahistriadessaslutasrevelariaqueseusprincipaismotivoseramaschamadasquestesdehonra, defundamentopsico-sexual,tantomaisviolentasquantomaisrigorosaadisciplinamoral impostasmulheres(Azevedo,1948,p.78, nfasesdoautor).18 Oautoraindaacrescenta:Defato,seconsiderarmos,deumlado,olugarcadavezmaisimportantedadoaoamor fsicoeonmeroreduzidodemulheresbrancas,e,deoutro,aconcepoquasefeudalde honraeopapeldaseveridadedecostumesna conservaodasforasquefundamentama coesosocial,serfcilcompreenderaextre81maviolnciaqueporvezesassumiamaslutas porquestesdefamlia,nosengenhos,nascidadese,particularmentenose rto( idem, pp. 78-79).A.Cndido(1951,p.295)trazalguns exemplosqueilustramaonipotnciadaautoridadepatriarcalnojulgamentoepunio decasosemqueestavaem jogoahonrado grupodomstico.Contudo,CostaPinto(1980)quedescrevecommaisvagaraslutas privadas, jquededicaumlivroa estetema. liinteressantequesuaprimeirapreocupa- oexatamentea dedefiniremtermostericose decomparaocomoutrassociedades afunodaslutasdefamliaevinganaprivada,para semumsegundo momento apresentararealidadebrasileiraealgunscasos paradigmticos.Nadiscussomaisterica, oautoresclarecequeaslutasentrefamlias eavinganaprivadasoformascaractersticasdedar umsentidovidasocial,emsociedadesqueaindanoevoluramata conformaodeumEstadoindependentee queassumainclusiveafuno jurdica.Nessecaso,emvirtudedahipertrofiadasfunesfamiliares,asformasdesanoe resoluodeconflitosaindapermanecem sobojuzodafamlia.Apresenadeuma sociedadedeparentescondiofundamentalparaoaparecimentodavinganaprivada.Ehumaestreitarelaoentreessa formadecondutaeasolidariedadedafamlia,jqueoqueestemjogonessaslutas sodisputaspelamanutenodahonrado grupo,especialmenterepresentadanosangue.Eissoimplicatantoumasolidariedade passiva(todoogruposofreoataquehonradeummembro)quantoumasolidariedade ativa(todostmobrigaodeparticiparna vinganaquerestabelecerahonra).Todos participamigualmentedahonradogrupo, emboraexistamdistinesquantoaopapel decadaindivduo,deacordocomidade, posiosocialqueocupaegnero.Eclaro queoschefesouosfilhosmaisprestigiados pelafamliaserosempreosalvosprincipaisetambmsobreelesrecaimaispesadamente odeverdavingana.Jsmulheres,cuja ameaapurezasexualpodeseromotivo centraldeumaluta,cabeopapeldeinstigar eincentivaroshomensarespondersofensas,semprefazendoremissoaopassado limpoeprestigiosodosantepassadosque precisa sermantido.19Oqueimporta amanutenodogrupoeavinganaumaformademanteroequilbriosocial.NocasodoBrasil,Costa Pintotrata desdeosfatoresquepossibilitaramoreaparecimentodavinganaprivadaatoseu momentodedeclniocomoformadesano predominante.Amultifuncionalidadedafamliaruraleadispersoefraquezadopoder pblicoseriamasprincipaiscausasdesse reaparecimento(idem,p.22).Comooque preponderavanaColniaeraopoderindividualeabsolutodecadasenhordeterrasou decadafamlia,eracoerentequeasdesavenasfossemresolvidasdentrodesuas prpriasleisecostumes,oquepodeservistonosrelatosdaslutasentregruposdefamlias.21 Desavenasqueincluamoprprio espaopblico,comoasCmarasMunicipais,alvospreferidosparaoacirramentodas diferenas.Equenemsemprechegavamao conflitoarmadodefato,masrepresentavam umacompetioatravsdedemonstraes defora.21 Contudo,quandooEstadocomeaasefortalecereaserreconhecidocomo umpoderparalelopeloscolonos,avinganaprivadavaiperdendosuafora.22 Nofamosocasodaluta entreosPireseCamargos, CostaPintoenfatizaomomentodepassagem,quandoasduasfacespassamarecorrerautoridadedosgovernadorese mesmodomonarcaparaencerraroconflito. quandoessesmediadoresentramem jogo (eaquiseincluemtambmosreligiosos)que avinganaviolentapassaaserrecriminada eperdesuaforadeinstituioautnoma.23Seprecisorecorrerpazatravsdeum poderexternoporqueopoderprivadoj notoabsoluto.24 Apesardisso,bom82dizerquenocasodosPireseCamargos,a relaoentrefamliaeEstadoaindaaparece comoentredoispoderesforteseconcorrentes.PrincipalmentenatranscriodosdocumentosdaCoroa,queoautorapresentaem anexo,v-secomootomdascartasde negociaoparaoencerramentodosconflitos sempre de um pedido,deuma solicitao que apelaparaabenevolnciadecadapotentadoruralenoodeumaimposiodeum podersuperior.Maisdoquequalquercoisa, mostraolugardepredominnciaqueaordemprivadatinhanamanutenodasociedadecolonial.OliveiraViannacitandoaluta quecomeoucomDiogoPintodoRegoe TimteoCorreia,emfinsdosculoXVII, concluisobreopapeldopoderpblico:Nomeiodetodaessaluta,curiosonotara atitudedasautoridadespblicas,a quemincumbeaseguranadaordemsocial.Elasnoaparecemsenocomosimplesespectadorasdo tumulto.Emregra,recuam,cautelosasetmidas,diantedessepoderformidvel,queoslatifndioselaboram(Vianna,1973,p.179).Preeminnciadeuma OrdemPrivadaOque,ento,resplandecenadescrio dessesautores,umaprepondernciado poderprivadoou,pelomenos,umaabrangnciadasrelaesdecunhoprivadono espaopblico.Issoapartirdeumamulti- funcionalidadedafamliaoudaunidade domsticaecontandocomumapresenararefeitadoEstado.Asdescriesdosautorestratadossobreafamliapatriarcal brasileiraeaconstituiodeumespaopblicopermitemdizerqueosvaloresqueestavamorganizandoasrelaesfamiliares entravamemcurso tambmemrelaes mais amplasquecompunhamoambientesocial daColnia.Procureidemonstrarcomoesses clssicosdenossaliteraturatmcomopontocomumefundamentalamultifuncionali- dadedafamlianoperodocolonial,eque,aodescreveremofuncionamentodessadinmicasocialparticular,estorecorrendoao cdigodeorientaomoralquedavacimen- taoquelasociedade.Issoaparecequandodescrevemadominaodosenhorde terrassobremulheres,filhos,parentes,agregadoseescravos;quandoapontamparauma moralsexualbaseadanadistinoentrehomensemulheres,estandoa implicadasdiferenasquantohonra;quandodesenhamo tipodesolidariedadesocialestabelecida, conformadapeloslaosdecasamentoeparentesco;quandodescrevemandoledo colonizador,marcadaporqualidadeseatributosdefinidosemtornodahonraouda faltadela.Essascaractersticas,quedefinemum quadroderefernciasculturais,aparecemde modoespecialemdoisoutrostemas.OprimeiroaIgreja,cujaintervenonoseioda famliadescritacomoumdosmaisimportantesconformadoresdosvaloreseregras moraisdapoca,equepodeatmesmoser concebidacomoumpoderconcorrentefamliaeaoEstado.Osegundosoaslutas entrecls,narradasemtermosdecasamentos,questesdehonra,vinganas,lutasarmadaselementosquerealamaoperacio- nalizaodecomportamentosapartirdeum determinadocdigomoraleque,devidoao alcancequeasrelaesfamiliarestinham naquelasociedade,rompemasfronteirasdo grupodomstico.Era,ento,ematributoscomoanobreza dandoledopatriarca,suasprerrogativasde defensordogrupoesenhortodo-poderoso, asubmissodemulheres,filhos,escravos, agregados,avalorizaodaterra,dasmulheres,dosangue,donomecomocoisassagradaseintocveis,quesebaseavamtambmasinteraesdosgruposemesmocom opoderpblicomaisinstitucionalizado.A relaocomoEstadopodeserparadigmticanessesentido.OEstadoconcebidoapartirdeuma delegaodepoderesaumainstituioque,83porprincpio,deveserabstrataeimpessoal. Nessesentido,nofuncionadentrodeuma lgicadetrocasdebens,derelaesdereciprocidade.Mas,quandosetemumaordem socialpredominantementecalcadaemregras quevmdoprivado,darelaodedependnciaefidelidadedosenhorcomseussubordinadosoudasalianasedisputasentre gruposfamiliares,aaproximaocomoEstadomudadeeixo.Prevaleceriaaexpectativadequeasinstituiespblicastambm obedeamaessalgicadetrocasrecprocas.Essequadropareceserpredominante nopanoramatraadopelosautorescotejados.Almdoquejfoivisto,ficaparticularmenteclaroquandorevemossuas declaraessobreoproblemadaimpessoalidadedoEstadonoBrasil.ParaOliveiraVianna,diantedeumpano defundohistricoquenosdistanciadeum aprendizadopolticomaistradicional,que nosdistanciadosentimentodeliberdades pblicas,srestaessenoreconhecimento doEstadocomoumpodersuperioreabstrato.Nossapopulaosesentiriahumilhadae ofendidaemter queobedeceraumdelegado ououtrofuncionriodogovernoporque reconheceapenasapessoaqueocupaocargo enoainstituio pblicaemao(Vianna,1973,p.256). A obedincia voluntria aos representantesdopoderpblicoapareceem povospoliticamenteevoludosqueconseguemdiscriminaradiferenaentreopoder pblicoeosindivduosqueoexercem.PercebemoEstadonasuaformaabstrataeimpessoal,situaodistintadopovobrasileiro:EssaintelectualizaodoconceitodeEstado ainda,infelizmente,noaatingimos.Temos daautoridadepblicaumavisoaindagrosseira,concreta,materialavisoqueassuas encarnaestransitriasnosdo.Nolheelaboramosumavisointelectual,genrica,jsem amarcadasimpressessensoriais(idem,p. 257,nfasedoautor).ApesardasdiferenasentreosdoisautoresquantoaprognsticosideaisparaumEstadonoBrasil,NestorDuartetambmse referedificuldadedaconstituiodeum poderpblicolivredapessoalizao.Para ele,o Estado brasileirono temtidovida prpria,sendosempreconfundidonaaodo governante.E,almdisso: [...]faltadeumaabstraoimpessoaldo quesejagoverno,acabamosporadmitircomo regular a anormalidadedeumEstadoque so governante,deum aaogovernamentalque sopoderpessoaldochefedogoverno.Mas, queochefedoEstado,comopessoaepelos seuscaracterespessoais,anicaconcretizaodoPoderPolticonumaorganizaopolt icasemcontedoh i str iconemes p ri t o institucionalparaviverenutrir-sedeprincpiosedefrmulasobjetivas,comoanossa(Duarte,1966,pp.118-119).ComovemosnooEstadoabstrato queencontralugarnaconstituiodenossa histriapoltica,masastentativasdepessoalizaodoespaopblico,apenetraode umaordemcriadanodomniodasrelao privadas,emborapossairbemalmdelas, naesferadasrelaespolticas.Aidiada organizaodosinteressesindividuaisvoltadosparaobemcomumemmuitoultrapassadaporprticasqueremetemao familismo,aogovernodareciprocidade, lgicadocompromisso.Emltimainstncia,essasprticasimplicamvaloreseregras, padresdecomportamento,cdigosmorais, quesodescritosnoseuprocessodeoperao.Ouseja,atravsdomovimentodedilatao que realizam da famlia em direo ao Estado,doprivadoemdireoaopblico, preenchendotodososinterstciosformados pelasrelaessociaisnaColnia.Oquadro derefernciastraadopelosautoresvistos constitui,assim,umavisodensaecomplexa,nosdafamliaoudasrelaesprivadas,doEstadoourelaespblicas,masda dinmicadoconjuntodenossaformao nacional.(Recebidoparapublicao emagostode1999)84Notas1.ConsiderooslivrosPopulaesMeridionaisdoBrasil,deOliveiraVianna(1973 [1920]), Casa-GrandeeSenzala,deGilbertoFreyre(1995[1933]),SobradoseMucambos,de Gilberto Freyre (1968[1936]), Razes do Brasil, de Srgio Buarque de Holanda (1984[1936]), AOrdemPrivadaeaOrganizaoPolticaNacional,deNestorDuarte(1966[1939]), LutasdeFamliasnoBrasil,deLusdeAguiarCostaPinto(1980[1943]),ocaptuloA Casa-GrandeeaVidaPblica,dolivroCanaviaiseEngenhosnaVidaPolticano Brasil,deFernandodeAzevedo(1948)etambmosartigosumpoucomaisrecentesde Cndido (1951) e Willems (1954).2.Aesserespeitosegueaindaoutrapassageminteressantequantoaossenhoresdeengenho:[...]donosdeterrasedeescravosquedossenadosdeCmarafalaramsempre grossoaosrepresentantesdel-ReiepelavozliberaldosfilhospadresoudoutoresclamaramcontratodaespciedeabusosdaMetrpoleedaprpriaMadreIgreja.(Freyre, 1995, pp. 4-5).3.Essapassagemfaznotarquealgumasdiferenasentreosautorespassamporsuaspropostaspolticas.Porexemplo,enquantoOliveiraVianna(1973)pretendeapontar,pela trajetriadaformaopolticabrasileira,queomelhorcaminhooEstadocentralizadoe independentedosmandanteslocais,N.Duarte(1966)tambmafirmaanecessidadede fortaleceroEstado,masumEstadoquesejademocrticoelaico,esemesqueceradificuldadesociolgicadopovobrasileirodesetornarcidado,desprendidodopoder privado.4.Einteressantenotarqueadefiniodesseconjuntoderegrassociaisseaproximadoque maistardeviriaaserdefinidonaAntropologiacomooconceitodehonra/vergonha. AutorescomoJ.Pitt-RiverseJ.G.Peristianycentralizamostrabalhossobreessatemtica emtornodahonracomoumsistemaderegrasdecondutaouderegulamentossociais existentesemtodasassociedadesequeadquiremtraoscomunsnareaculturalmediterrnea.Visandoapontaralgumasaproximaes,vouindicar,emnotas,conjunesda literaturatratadacomessestrabalhosantropolgicos.Ver:Pitt-Rivers(1971);Peristiany (1971ae1971b).5.Quantosanlisesrecentesquetmacusadoessesautoresdereduziremahistriada famlia brasileiraaomodelopatriarcal,valelembrar que:por umlado,eles estavamdefato maispreocupadosemserestringiraodesenhodomodelodefamliaqueconsideravam dominante(comojnotavaWillemsem1954)eporoutro,emboracommuitomenos nfase,semprefaziamrefernciasaosoutrostiposdeuniesefamliasdasclassesinferioresemaislivres.OprprioOliveiraVianna(1973,p.54)contrastavaainstabilidadeda famliadapleberuralcomaestabilidadeda famlia patriarcal.Ver Corra(1982)eSamara (1987).6.Sobredescriesepermannciasdonamoroantigonaculturabrasileira,verAzevedo(1981).7.Amenoao pater famliascomocentroirradiadordeforaestveltambmapareceem Costa Pinto(1980,p.27).8.Estopresentesa,desdeadefiniodeumcritriodediferenciaoparaogrupo,asua nobrezamoral,orespeitopelahonradamulherrepresentadanopudorepelonome, caractersticasbemdescritasnomodelodehonramediterrnea,atavalorizaoda85coragemebravurafsicaeodesprezopelasintervenesexternas,quepodemdesqualificarumhomemdesuacapacidadeautnomadedefenderahonradogrupo.9.Comoaparecenasetnografiasrecentessobrehonra,oconceitopblicoeaigualdade entreosparesfundamentalparaamanutenodosistemabaseadonahonra,assim comorecorreraoprestgiodosantepassados.VerDiBella(1992).10.interessantequequalidadesmoraiseprecednciainclusivepelaconcessodettulos soatributosqueformamoduplosentidoqueoconceitodehonrapodeter,talcomo apontadoporPeristianyePitt-Rivers(1992).11.Muitosdessesatributosqueconformamandoledobrasileiroforamapuradosnaexperinciadasbandeiras,quemantmocarterhierrquicoearistocrticodosclsrurais (Viarina,1973,pp.101-102).Asbandeiras,alis,soumtemadedestaqueparaesses autores,principalmentepeloseupoderdemaximizarapredominnciaindividualeos interessesprivadosdosgrandessenhores(verHolanda,1984eDuarte,1966).Valenotar quetambmcolocamem jogoqualidadescomoabravura,acoragem,acapacidadedese arriscaremumaaventura,caractersticascomunshonramasculinanocontextomediter-,rneo.12.Esseduplopadrodemoralidadetoimportantenadefiniodosistemadehonra/vergonhavaiser redefinidopor J.Pitt-Rivers(1977).Segundoesteautor,a divisomoralqueas sociedadesfazementreatributosmasculinosefemininostemavercomadivisomoraldo trabalho,apartirdeumaconvenodoqueseriamatividadesprpriasdehomense mulheres.Nohaveriaumduplopadrodehonramassimumconjuntodeconsideraes queformamumsistemadecomportamentocomplementarentresi,centralizadonaunidadedafamlia.Apesardeoscdigosmoraisatribudosaossexosseapresentaremdiferenciados,oquehumsistemaunitrioqueorganizaasrelaessociais.Nareacultural mediterrnea,essesistemasecaracterizapelaresponsabilizaodoshomenspelahonra dogrupo,queestbaseadanapurezasexualdesuasmulheres,indicandoumaforte complementaridadeentreahonraindividualecoletivaeentreahonradehomense mulheres.13.OautoraindaacrescentaqueaIgrejaeraumaimportanteproprietriadeterraseengenhos,oquetambmconcorriaparaseuinteresseemmanteraestruturadamonocultura latifundiriaecombaseescravocrata,oqueaparentementeseriacontrriosuadoutrina igualitria.14.SrgioBuarquedeHolanda(1984,pp.109-110)tambm faz refernciasaovelhocatolicismobrasileirocomo umareligiomaisntimaeamolecida.15.EstudandoasvariaeshistricasdoconceitodehonranaEuropa,JlioC.Baroja(1971) apontaemumadireosemelhante.Oautormostracomoahonra,nessecaso,descende detrsmatrizesculturais:a)omundoclssico;b)omundogermnicooubrbaro;ec)o cristianismo.EexplicacomonaIdadeMdiaprevaleceaconvicodequeoshomens formamumacomunidadedefiis,resultadodaspropagaescrists,poroposio,por exemplo,aumacomunidadedecidadosquegerenciariaapocaclssica.16.Paraumaanlisedediferentestiposdelaosecomportamentosdeacordocomaproximidade,verCampbell(1971).Esteautordistingueentreospastoresgregostrstiposde relaes:a)parentespelosangueaquemsedeveamoreconfianainquestionveis;b) parentesporafinidadeemqueestoimplicadososmatrimnios,astrocasdehonra,86masnoaconfianaindissolvel;ec)osestranhosqueocupamolugardequase inimigos.17.EmSobradoseMucambos,GilbertoFreyre(1968,pp.128-129)afirmaqueodeclniodo patriarcalismoparaleloaomomentoemqueasvontadesindividuaispassamacontar nasescolhas,provocandoraptosepaixesentremoasbrancasemulatosecontraa vontadedospais.Aomesmotemposignificativaaascensodosbacharis,muitas vezescomocentrosdepoderdafamlia,indicandoumainversodaautoridadedospais.18.Terraemulheresfreqentementesoapontadascomobensoulugaressagrados,razes dedisputasconstanteseondeasofensasatingemomximograudeafrontaeperigoe provocamasreaesmaisviolentas.Paraumexemplonessesentido,verJamous(1992) sobreasdisputasemumatribomarroquina.19.IssoexemplarnocasodeD.InsCamargo,matronaqueteveumafunoessencialna brigaentrePireseCamargos(CostaPinto,1980).OliveiraVianna(1973,p.178)falada importnciadeD.AngeladeSiqueiranaslutaspaulistas.20.Uma justiaprpriadossenhoresrurais,reveliadopoderpblico,tambmcitadapor O. Vianna (1973, pp.181-182),Azevedo (1948, p. 80) e Freyre (1995, p. lx).Oliveira Vianna, inclusive,descreveopoderdaforadossenhoresruraisnaadministraodesuasdisputasapartir dainstituiodacampanagem(1973,pp.168-171).21.OliveiraViannaconcordacomessatese;tambmfalanoaspectoteatraleimponente dasmovimentaesmilitaresdosclsrurais(1973,p.177).22.EstaainterpretaosustentadaporCostaPinto.Emumaoutradireo,talvezseja possvelsugerirqueaessefortalecimentodoEstadocorrespondaumcrescimentoda violnciaentreessasfamlias,ligadoilegalidadequeagoravaicaracteriz-las.23.Valedizerqueemoutroscontextosetnogrficospodehaverainstitucionalizaoda figuradomediadornosconflitosdehonra,queatribudodepoderestantopara julgara honraindividualquantoasquestescoletivas.VerPeristiany(1992).24.Quantosintervenesexternas,especialmentedomonarca,valelembrarasafirmaes deOliveiraVianna(1973,p.254)sobreosucessodoPoderModeradornosculoXIX, comoodominadordosclsedacaudilhagemereguladordojogodospartidos.BibliografiaAzevedo,Fernandode1948ACasa-GrandeeaVidaPblica.InCanaviaiseEngenhosnaVidaPolticadoBrasil.SoPaulo,Melhoramentos,pp.65-83.Azevedo,Thales1981NamoroAntiga:TradioeMudana.InG.VelhoeS.Figueira(orgs.),Famlia,PsicologiaeSociedade.RiodeJaneiro,Campus,pp.219-275.Baroja, Jlio C.1971 [1965]HonraeVergonha:ExameHistricodeVriosConflitos.InJ.G.Peristiany (org.),HonraeVergonha:ValoresdasSociedadesMediterrneas.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,pp.61-110.87Campbell, J.1971[1965]AHonraeoDiabo.InJ.G.Peristiany(org.),HonraeVergonha:Valoresdas SociedadesMediterrneas.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,pp.111- 137.Cndido,Antnio1951TheBrazilianFamily.InL.SmitheA.Manchant(eds.),BrazilPortraito faHalf Continent.NovaYork,Dryden,pp.291-312.Corra,Mariza1982RepensandoaFamliaPatriarcalBrasileira:NotasparaoEstudodasFormasdeOrganizaoFamiliarnoBrasil.InM.S.K.Almeidaetalii.Colchade Retalhos:EstudossobreaFamlianoBrasil.SoPaulo,Brasiliense,pp.13- 38.CostaPinto,LusdeAguiar1980 [1943]LutasdeFamliasnoBrasil.SoPaulo,EditoraNacional.Di Bella, Maria Pia1991Name,Blood,and Miracles:The Claimslo Renownin TraditionalSicily.In J.G.PeristianyeJ.Pitt-Rivers(eds.),HonorandGraceinAnthropology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.151-165.Duarte,Nestor1966 [1939]AOrdemPrivadaeaOrganizaoPolticaNacional.SoPaulo,Companhia EditoraNacional.Freyre,Gilberto1995[1933]Casa-GrandeeSenzala.RiodeJaneiro,Record.1968 [1936]SobradoseMucambos.RiodeJaneiro,JosOlympioEditora.Holanda,SrgioBuarquede1984 [1936]RazesdoBrasil.RiodeJaneiro,JosOlympioEditora.Jamous,Raymond1992FromtheDeathof MentothePeaceofGod:ViolenceandPeace-Makingin theR i f .InJ.G.PeristianyeJ.Pitt-Rivers(eds.),Honor andGracein Anthropology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.167-191.OliveiraVianna,FranciscoJ.de1973 [1920]PopulaesMeridionaisdoBrasil.RiodeJaneiro,PazeTerra.Peristiany,J.G.1971a [1965]Introduo.InJ.G.Peristiany(org.),HonraeVergonha:ValoresdasSociedadesMediterrneas.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,pp.1-10.1971b [1965]HonraeVergonhanumaAldeiaCipriotadeMontanha.InJ.G.Peristiany (org.),HonraeVergonha:ValoresdasSociedadesMediterrneas.Lisboa, FundaoCalousteGulbenkian,pp.139-155.1992TheSophron ASecularSaint?WisdomandtheWiseinaCypriotCommunity.InJ.G.PeristianyeJ.Pitt-Rivers(eds.),Honor andGracein Anthropology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.103-127.88Peristiany,J.G.ePitt-Rivers,J.1992Introduction.InJ.G.PeristianyeJ.Pitt-Rivers(eds.),HonorandGraceinAnthropology.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.1-17.Pitt-Rivers,Julian1971 [1965]HonraePosioSocial.InJ.G.Peristiany(org.),HonraeVergonha:Vedores dasSociedadesMediterrneas.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,pp. 11- 59.1977TheMoralFoundationsoftheFamily.InTheFateo fSchechem.Cambridge,CambridgeUniversityPress,pp.71-93.Samara,EnideMesquita1987TendnciasAtuaisdaHistriadaFamlianoBrasil,lnA.M.Almeidaetalii,PensandoaFamlianoBrasil:DaColniaModernidade.RiodeJaneiro, EspaoeTempo,pp.25-36.Willems, Emlio1954A Estrutura da Famlia Brasileira.Sociologia,vol.XVI,n. 4,EscoladeSociologia e Poltica deSoPaulo,pp.327-340.ResumoHonraeFamliaemAlgumasVisesClssicasdaFormaoNacionalOartigoanalisaaobradealgunsautoresclssicosdenossaliteraturasobreformaonacional,tendocomoobjetivoprincipalrecuperarsuasinterpretaessobreasinteraesdos domniospblicoeprivado.Nessesentido,ganhamdestaqueasrefernciasqueindicama elaboraodeumpadrodehonra,umcdigodeorientaomoralqueperpassaasociedade colonialdesdeafamliaeasrelaesentreosclsatoEstadoeasinstituiespolticas.Palavras-chave:famlia;honra;relaopblico-privado;pensamentosocialbrasileiroAbstractHonorandtheFamilyinsomeClassicViewso ftheShapingo fBrazilianSocietyThisanalysisofworksbysomeclassicauthorsaddressingtheshapingofBraziliansociety reviewstheirinterpretationsofinteractionsbetweenthepublicandprivatespheres.Special attentionisfocusedonreferencesindicatingthatastandardofhonororacodeofmoral guidelineswasdevelopedthroughoutcolonialsociety,involvingnotonlythefamilyand relationshipsbetweenclansbuttheStateandpoliticalinstitutionsaswell.Keywords:family;honor;public-privaterelations;Braziliansocialthought89