relatÓrio tÉcnico - cientÍfico · anuais, a corrida com toras, o jogo de flecha e o jogo de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
DIRETORIA DE PESQUISA
PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC: CNPq,
CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PARD, PIAD, PIBIT, PADRC E FAPESPA
RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: 02/ 2015 a 07/ 2015 ( ) PARCIAL (x) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Operações de ajuste de valência em verbos da Língua Parkatêjê (CNPq/ Processo n° 472101/2012-9) Nome do Orientador: Marília de Nazaré de Oliveira Ferreira Titulação do Orientador: Doutor Faculdade: Faculdade de Letras Instituto/Núcleo: Instituto de Letras e Comunicação Laboratório: Laboratório de Ciências da linguagem Título do Plano de Trabalho: Descrição das atividades tradicionais em Parkatêjê: um estudo morfológico. Nome do Bolsista: Luciana Renata dos Santos Vieira Tipo de Bolsa: ( x) PIBIC/ CNPq
( ) PIBIC/CNPq – AF ( ) PIBIC /CNPq- Cota do pesquisador ( ) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA – AF ( ) PIBIC/ INTERIOR ( ) PIBIC/PARD ( ) PIBIC/PADRC ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PIBIC/ PIAD ( ) PIBIC/PIBIT
INTRODUÇÃO
Atualmente a língua Parkatêjê é falada somente pelos mais velhos na
comunidade indígena Parkatêjê na TI Mãe Maria. Seus falantes estão
localizados no Km 30 da BR-222, no município de Bom Jesus do Tocantins, a
30 km da cidade de Marabá no sudeste do estado do Pará. O presente estudo
sobre os aspetos linguísticos da língua está inserido no projeto de pesquisa
Operações de ajuste de valência em verbos da Língua Parkatêjê (CNPq/
Processo n° 472101/2012-9).
O presente plano de trabalho propôs a descrição científica das principais
atividades culturais pertencentes ao povo Parkatêjê, tais como as festas
anuais, a corrida com toras, o jogo de flecha e o jogo de peteca. O
conhecimento tradicional de cada uma dessas atividades permite demonstrar
as características de ação, instrumentos, períodos, funções e outras
particularidades; e assim, por meio dessa descrição, atingir o objetivo principal
de analisar do ponto de vista morfológico, os termos do vocabulário, tendo
como referência as características morfológicas dos nomes em Parkatêjê que
foram estudados por Araújo (1989) e Ferreira (2003).
No primeiro semestre de realização do plano de pesquisa foram
apresentados os resultados parciais, nos quais constavam a descrição
cientifica integral das atividades tradicionais, a lista terminológica parcial e os
aspectos morfológicos principais da terminologia. Por sua vez, os resultados
apresentados no atual relatório apresentam os pontos principais da descrição,
a lista terminológica sistematizada em campos semânticos e os aspectos
morfológicos da terminologia organizados e explicados em quadros, nos quais
os processos referentes à morfologia e as análises morfológicas dos termos
exemplificam a ocorrência desses processos na terminologia estudada.
Busca-se, dessa forma, por meio do presente relatório de pesquisa,
corroborar a hipótese de que o vocabulário dos jogos e festas Parkatêjê
apresentam propriedades morfológicas comuns à língua, assim como promover
a documentação em áudios, vídeos e fotografias que fortaleça o registro
linguístico, histórico e antropológico das línguas Jê.
A língua Parkatêjê não apresenta um estudo sistematizado voltado, mais
especificamente para a descrição das atividades tradicionais da comunidade
indígena. Todavia, os trabalhos de Araújo (1989) e Ferreira (2003) apresentam
as principais características morfológicas encontradas no processo de
formação de palavras na língua Parkatêjê. Deste modo, com o presente plano
e, com o Trabalho de Conclusão de Curso resultante do mesmo, tem-se a
articulação dessas vertentes.
JUSTIFICATIVA
Como qualquer outra cultura, a cultura Parkatêjê é rica em atividades
tradicionais que ainda são praticadas na comunidade como as festas anuais, a
corrida de tora, o jogo de arco e flecha e o jogo da peteca.
O vocabulário referente a elas constitui-se em um universo de
particularidades que precisam ser investigadas e documentadas a fim de
refinar materiais para a compreensão das línguas Timbira, que partilham
muitos traços culturais. No caso de uma comunidade indígena, a descrição
científica dessas práticas contribui ainda mais para as pesquisas de
aprofundamento da descrição linguística, bem como para as pesquisas de
cunho antropológico.
As atividades culturais do povo indígena Parkatêjê, assim como dos
povos indígenas de uma maneira geral, fazem parte do patrimônio cultural
imaterial da humanidade. Tal patrimônio é composto pelas práticas,
conhecimentos, expressões, representações e instrumentos que os próprios
indígenas possuem o direito de manter e controlar, de acordo consta no artigo
31 das declarações da ONU; isto significa dizer que esses povos, de uma
maneira geral, têm os seus direitos plenos em relação a essas atividades.
Muito além das contribuições acadêmicas, o material resultante da
presente pesquisa também poderá ser utilizado como um recurso para o
processo de preservação e revitalização da língua Parkatêjê que corre risco de
extinção e das atividades culturais, hoje em dia, praticadas somente pelos mais
velhos e adultos, nos finais da semana e em dias de festas. Da mesma
maneira que também poderá ser utilizado no ensino da língua indígena na
escola da comunidade, pois uma das formas de ajudar na manutenção e
revitalização de uma língua indígena é contribuir para que ela seja objeto de
estudo constante na escola da comunidade falante. Desse modo, a língua e
cultura de determinada comunidade estão entrelaçadas e permitem a união do
ensino de língua com a prática e a troca de experiências culturais vividas.
OBJETIVOS
Geral : Descrever as principais atividades culturais do povo Parkatêjê
visando à análise morfológica do vocabulário pertinente a elas.
Específicos :
• Descrever as principais atividades tradicionais do povo indígena
de modo a demonstrar suas características de ação, instrumentos
empregados para sua execução, períodos de ocorrência, funções e
outras particularidades relacionadas às atividades.
• Analisar a composição morfológica dos termos do vocabulário,
tendo como referência as características morfológicas dos nomes em
Parkatêjê que foram estudados por Araújo (1989) e Ferreira (2003).
• Comparar as particularidades morfológicas encontradas com
outros estudos de cunho linguístico do Parkatêjê.
MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia usualmente utilizada em estudos de cunho descritivo é
aquela que se compreende nos trabalhos de Linguística Descritiva e de
pesquisas antropológicas, respectivamente os trabalhos de Araújo (1977, 1989
e outros), Ferreira (2003 e 2005) e Melatti (1978).
Em um primeiro momento os dados foram coletados e confirmados
pelos seus falantes em ambiente usual de fala. Em seguida foi realizada a
transcrição fonética dos termos referentes às atividades tradicionais. Após isso,
foi realizada a transcrição ortográfica da terminologia das atividades e por fim,
foi realizada uma análise morfológico, tendo sido apresentados aspectos
morfológicos dos termos do vocabulário, que tiveram como referência os
trabalhos de Araújo (1989) e Ferreira (2003).
RESULTADOS
Com base na metodologia adotada para a presente pesquisa,
organizamos os resultados em três tópicos: i. Descrição das atividades
tradicionais Parkatêjê; ii. Lista terminológica das atividades tradicionais; iii.
Aspectos morfológicos da terminologia das atividades tradicionais em
Parkatêjê. No primeiro deles descrevemos de forma resumida as atividades
tradicionais aqui tratadas. É válido ressaltar que nos resultados parciais
apresentados no primeiro semestre da pesquisa as atividades foram descritas
de forma integral, dessa forma o tópico mais aprofundado nesta fase final será
a análise morfológica da terminologia, a fim de que se alcance o objetivo geral
proposto. Por sua vez, o segundo tópico apresenta a lista terminológica das
atividades tradicionais na língua indígena Parkatêjê. Por fim o último tópico
trata dos principais aspectos morfológicos subjacentes à terminologia
específica com base nos trabalhos de Araújo (1977, 1989 e outros) e Ferreira
(2003 e 2005).
i. Descrição das atividades tradicionais Parkatêjê
As festas anuais, a corrida com tora, o jogo de flecha e o jogo da peteca
são atividades comuns aos Parkatêjê e foram estudadas durante trabalho de
campo com gravações de áudio e vídeo no contexto real da prática entre os
participantes das atividades.
No que diz respeito ao universo das festas anuais, as duas principais
festas tradicionais do Parkatêjê são obrigatórias e estão divididas em dois
grupos - o primeiro é formado pelas metades rituais1 Arara e Gavião; o
segundo é formado pelas metades do Peixe, da Arraia e da Lontra, ao todo
somam 5 “times”. No final dessas duas festas, iniciam as brincadeiras do 1 De acordo com Melatti (1976), as metades rituais são como grupos ou “times” que disputam, de certa forma, as atividades.
wakmẽre, do hapynãre, krowajõjõnõre e kôkôire.O wakmẽre é conhecido
também como a festa do cipó kupa; hapynãre, quando é tempo de a tora ser
caçada/buscada por uma única pessoa; krowajõjõnõre é realizada somente
pelos namorados e, por fim, o kôkôire que é a festa na qual se apresenta o
krixwỳ patantuwa, ou seja, nessa festa são apresentados os amigos formais ‘de
brincadeira’, de faz-de-conta.
Tendo conhecimento do local em que a tora preparada foi deixada, a
corrida de tora inicia quando os indígenas correm, em dois grupos, para busca-
la. Lá os grupos ajudam a levantar a tora que será levada por apenas um dos
corredores em direção ao centro do pátio da aldeia, local em que o vencedor
deverá lançá-la. Antes disso no decorrer da atividade, os companheiros de
grupo estão sempre atentos ao momento de revezamento da tora em que se a
passa de ombro a ombro sem a interrupção da corrida e de maneira muito
rápida. No pátio da aldeia, as mulheres esperam os corredores com baldes de
água fria para lançarem sobre eles como forma de refrescar-lhes e aliviar-lhes
o cansaço físico.
O jogo de arco e flecha é um dos mais praticados pelos Parkatêjê, visto
que a atividade é realizada o ano todo; em dias inteiros aos finais de semana e
feriados, com pequenas pausas individuais durante o decorrer do seu
desenvolvimento. O acampamento do povo Parkatêjê é o espaço reservado
para a realização de diversas e diferentes atividades tradicionais, dentre as
quais o arco e flecha, que assim como a corrida de tora, também é praticado
por mulheres adultas em grupos definidos - mulheres jogam flecha e correm
tora somente com outras mulheres.
Antes do início dos certames, os indígenas preparam suas flechas com
urucum e protegem seus dedos e punhos, enrolando-os em tiras finas de
embira, pois quando o fio do arco retrocede, após o disparo, os punhos são
atingidos por ele e frequentemente são machucados com a repetição dos
lançamentos de flechas. Durante o início de uma partida, de um ponto inicial,
vários índios podem jogar ao mesmo tempo, cada um com suas 5 flechas que
são marcadas com tinta ou com fios coloridos para não se confundirem às
outras dos companheiros de jogo. As flechas são lançadas, uma a uma, em
direção ao um espaço reservado, no qual, algumas vezes, há um tronco de
bananeira pendurado pelos indígenas, o qual possui a função de alvo, a cerca
de 30 a 50 metros do ponto inicial. O objetivo é acertar o máximo de flechas
possíveis no tronco, pois aquele que acerta o alvo, ganha novas flechas,
oriundas justamente daquele que erra e, portanto, cede as suas para o jogador
vencedor.
O jogo da peteca, de uma forma geral, é considerado uma brincadeira
essencialmente particular do universo das crianças indígenas, que foi
incorporado pela cultura lúdica brasileira. Em Parkatêjê, a brincadeira da
peteca começa em fevereiro na festa do milho verde. Nesse período, a peteca
é confeccionada pelos índios com materiais provenientes do milho verde.
Segundo o chefe da comunidade, apenas os homens podem fabricar e jogar a
peteca. Então podemos dizer que entre as brincadeiras acima descritas, essa é
a única que apresenta caráter exclusivamente masculino. A peteca possui um
período delimitado para sua fabricação, em função do tempo de colheita do
milho verde.
ii. Lista terminológica das atividades tradicionais :
Neste tópico é apresentada a lista com os termos coletados em trabalho
de campo na comunidade indígena Parkatêjê. Primeiramente os termos foram
transcritos foneticamente. Logo após a transcrição e confirmação, os termos
foram passados para a ortografia da língua Parkatêjê consolidada pela
professora Leopoldina Araújo, em (1974).
A lista terminológica das atividades tradicionais em Parkatêjê está
organizada em seis subcampos semânticos (alegorias; espaço físico; etapas e
processos; elementos humanos; partes e componentes e instrumentos e
peças). Os subcampos semânticos foram sistematizados com o intuito de
facilitar o encontro de possíveis particularidades morfológicas em subcampos
específicos da terminologia.
Lista 01:
TERMINOLOGIA DAS ATIVIDADES TRADICIONAIS
SUBCAMPOS SEMÂNTICOS
TERMO
TRADUÇÃO
ALEGORIAS
(FESTAS ANUAIS)
Hàk Kôkôire Pàn rop krã Têre Tep Xêxêtêre
‘Gavião’ ‘Macaco’ ‘Arara’ ‘cabeça da onça’ ‘Lontra’ ‘Peixe’ ‘ Arraia’
ESPAÇO FÍSICO
krĩ
pry
pry kairirirare
‘aldeia’
‘caminho’
‘caminho reto’
ETAPAS E PROCESSOS
aiho
airõ
apiê
hakre
hikwy
hipro
hitep
hõkrepoy
hyr
kre
kato
ko
‘pintar com jenipapo’
‘enrolar’
‘puxar’
‘ultrapassar’
‘flechar’
‘fazer’
‘cortar’
‘cantar’
‘furar’
‘furar’
‘chegar’
‘molhar’
kru
mẽn
têk1
pà
pẽp
pre
prõt
ta
to
jakre
jikwy
jipro
jitep
xi
‘brincar’
‘derrubar’
‘jogar’
‘carregar’
‘ritual de iniciação’
‘amarrar’
‘correr’
‘cortar’
‘dançar’
‘ultrapassar’
‘flechar’
‘fazer’
‘cortar’
‘preparar’
ELEMENTOS HUMANOS
apendoxa
ikwỳ
krowajitepkatê
têk2
têkpeikatê
mẽprêkre
mprar
mprar pê
mprar mã
mpy
ntia
‘adversário’
‘companheiro’
‘cortador da tora’
‘jogador’
‘campeão’
‘os mais velhos’
‘corredor’
‘corredor antigo’
‘corredor atual’
‘homem’
‘mulher’
PARTES,
COMPONENTES,
ESPECIFICAÇÕES
E MEDIDAS
ara
haratẽk
hõrõti
hõtĩti
kai
‘pena’
‘tipo de pintura’
‘embira’
‘pesado’
‘cesta’
kaprêk
kô
kõkõn
kraxê
krowa xykatyire
õmti jõru
parkre
pôruti
põhy tetet
pỳthi
py
tyk
tõn
‘vermelho’
‘água’
‘cabaça’
‘adorno para cabeça’
‘pau para fazer flecha’
‘corda do arco’
‘casca da arvore’
‘jenipapo’
‘milho verde’
‘ponta da flecha’
‘urucum’
‘preto’
‘cera’
INSTRUMENTOS
E PEÇAS
aprỳkrã
himpei
hõhĩ
krãkupu
krôxwa
krowa
krowapejre
krowajõjõnõre
kruwa
kuwê
kuwêti
kuwêre
kỳi
parpỳpxỳ
têkxà
watu
‘peteca’
‘flecha com osso’
‘buzina’
‘flecha amarrada’
‘dente do porco’
‘tora’
‘tora principal’
‘tora do palmito’
‘flecha’
‘arco’
‘arco grande’
‘arco pequeno’
‘faca’
‘pé de bananeira’
‘flecha para brincar’
‘flecha sem osso’
iii. Aspectos morfológicos dos termos das atividade s tradicionais
em Parkatêjê
O tópico em questão tem o objetivo de apresentar os principais aspectos
morfológicos da terminologia das atividades tradicionais na língua indígena
Parkatêjê e para alcançar este objetivo nos resultados aqui tratados
apresentaremos primeiramente os principais pontos concernentes aos
pressupostos teóricos estudados. Em seguida serão apresentados em quadros
os aspectos morfológicos da terminologia. Nesses quadros são organizados e
explicados os principais processos referentes à morfologia, os quais são
comuns ao Parkatêjê, bem como serão realizadas as análises morfológicas dos
termos que exemplificam a ocorrência desses processos na terminologia
pesquisada.
A língua Parkatêjê, de acordo com Araújo (1989), apresenta morfologia
simples, os nomes podem ser constituídos apenas de uma base nominal e de
bases acrescidas ou não de afixos, por exemplo, temos na língua Parkatêjê o
termo kok ‘vento’ apenas uma base nominal e em aprỳkrã ‘peteca’ temos duas
bases nominais.
De modo geral, o processo de formação de palavras mais produtivo no
Parkatêjê é a composição, na qual ocorre a junção de uma base a outra para
formar uma palavra. “Assim, dizemos que uma palavra é composta sempre que
esta apresenta duas bases” Basílio (1987, p.29). O processo de derivação, no
qual a palavra é constituída de uma base e afixo, também é ocorrente nesta
terminologia.
Segundo Ferreira (2005), as características principais de ordem
morfológica dos nomes na língua Parkatêjê podem ser organizadas a partir dos
principais pontos:
i. a categoria de posse dos nomes: nomes possuíveis e nomes
não- possuíveis; de modo que, os nomes possuíveis, ainda se
dividem em nomes alienavelmente possuídos e inalienavelmente
possuídos;
ii. os sufixos derivacionais -re e -ti;
iii. os nomes cujo referente é [+ humano] podem ocorrer com o
formativo mẽ, que indica plural;
iv. nomes não flexionados para gênero;
v. nomes marcados pela categoria de caso;
vi. raízes nominais podem ser derivadas a partir de itens de outras
classes de palavras;
vii. raízes verbais podem ser nominalizadas através do acréscimo de
formativo kate.
A partir dos principais elementos de caráter morfológicos apontados por
Ferreira (2005), pudemos encontrar alguns desses aspectos na formação de
palavras do vocabulário de atividades tradicionais Parkatêjê nos quadros
abaixo:
Quadro 1- Categorias de posse.
i. CATEGORIAS DE POSSE
Alienavelmente
possuídos (objetos da
cultura material)
(1) kruwa ‘flecha’
Piare j- õ kruwa
NPr Rel- Pos- flecha
‘flecha do Piare’
NOMES POSSUÍVEIS
Inalienavelmente
possuídos (partes de
um todo)
(2) ropkrã ‘ cabeça da
onça’
rop ø- krã
onça Rel- cabeça
(3) krôxwa ‘dente do
porco’
krô ø- xwa
porco Rel- dente
(4) aprỳkrã ‘peteca’
aprỳ ø- krã
palha Rel- cabeça
NOMES NÃO-
POSSUÍVEIS (nomes de pessoas, nomes de
planta)
_
Quadro 2- Formação de palavras por composição.
ii. COMPOSIÇÃO: BASE+ BASE
JUNÇÃO DE BASES NOMINAIS
(5) aprỳkrã ‘peteca’
aprỳ ø- krã
palha Rel- cabeça
(6) himpei ‘tipo de flecha com osso’
hi mpej
osso bom
Quadro 3- Formação de palavras por derivação.
iii. DERIVAÇÃO: BASE + AFIXO
1. OS SUFIXOS DERIVACIONAIS -re e –ti
SUFIXOS DERIVACIONAIS -re e -ti
(diminutivo e aumentativo,
respectivamente)
(7) kuwêti ‘arco grande’
kuwê -ti
arco grande
(8) kuwêre ‘arco pequeno’
kuwê -re
arco pequeno
2. OS SUFIXOS DERIVACIONAIS -xỳ (instrumentalizador) e -katê (agentivo)
-xỳ (instrumentalizador)
(9) parp ỳpxỳ ‘pé de banana’
par pỳp -xỳ
pau banana
(10) têkx ỳ ‘flecha para
brincar’
têk -xỳ
jogar
-katê (agentivo) (11) têkpeikatê ‘ campeão’
têk (m)pej -katê
jogador bom corajoso
(12) krowajitepkatê ‘cortador’
krowa j-itep katê
tora Rel- cortar corajoso
Quadro 4- Prefixos relacionais com os verbos.
iv. PREFIXOS RELACIONAIS COM VERBOS
CLASSE A
CLASSE B
So; Sio e O Especificados
So; Sio e O indefinidos
So; Sio e O expressos na locução verbal
So; Sio e O deslocados de sua posição original
ʒ-
y-
ʧ-
ø-
h-
ø-
h-
ø-
Referência a um So;
Sio e O expressos dentro da locução verbal em relação
sintagmática com o núcleo.
Referência a um So; Sio e
O conhecidos pelo contexto ou deslocados
para fora da locução verbal.
Referência a um So; Sio e O indefinidos.
Nesta terminologia, mais particularmente no subcampo semântico referente a
etapas e processos das atividades, os prefixos relacionais ocorrem em verbos
transitivos, tais como:
(13) h-itep ‘cortar’
(14) ʒ-itep ‘cortar’
(15) h-ipro ‘fazer’ (flecha)
(16) ʒ-ipro ‘fazer’ (flecha)
(17) h-akre ‘ultrapassar o outro corredor’
(18) ʒ-akre ‘ultrapassar o outro corredor’
Há também a ocorrência do prefixo relacional da classe A em palavras
compostas:
(19) krowajitepkatê ‘cortador de tora’
krowa j-itep katê
tora Rel- cortar corajoso
Quadro 5- A ocorrência de termo genérico e termos específicos no campo semântico do jogo de flecha.
v. TERMO GENÉRICO E TERMOS ESPECÍFICOS.
TERMO
GENÉRICO
TERMOS ESPECÍFICOS
kruwa
flecha
(20 ) himpei ‘flecha com osso’ lit.osso bom
(21) krãkupu ‘tipo de flecha que possui a ponta
amarrada’
lit.cabeça embrulhada
(22) têkxà ‘flecha para brincar’
(23) watu ‘flecha sem osso’
CONCLUSÃO
De acordo com os procedimentos metodológicos aplicados para a
descrição das atividades tradicionais e estudo dos aspectos morfológicos do
vocabulário da corrida de tora, do jogo de flecha, festas anuais e jogo de
peteca Parkatêjê, pudemos concluir nesta fase final da pesquisa que:
i. O vocabulário das atividades tradicionais pode ser sistematizado
de acordo com o seu campo semântico, no qual cada termo
específico é pertencente, de modo que essa sistematização
favoreça um melhor entendimento e funcionalidade. Isto é, no
campo semântico do vocabulário que concerne aos instrumentos
e peças, teremos uma presença maior de palavras formadas por
derivação e composição, visto que, em tal campo as palavras
possuem mais especificações.
ii. Em relação às expressões de posse, verificaram-se ocorrências
de nomes alienavelmente possuídos e inalienavelmente
possuídos, de modo que nessas subclasses de posse estão
presentes, respectivamente, objetos da cultura material e partes
de um todo. Na subclasse dos nomes não-possuíveis, não foram
encontrados registros, pois nessa categoria de nomes encontram-
se elementos ligados a nomes de pessoas, nomes de planta e
fenômenos da natureza em geral.
iii. Os termos das atividades tradicionais do Parkatêjê apresentam
formação de palavras por composição e derivação, de acordo
com as teses de Araújo (1989) e Ferreira (2005).
iv. A terminologia também apresentou a ocorrência de prefixos
relacionais das classes A e B em verbos transitivos como cortar,
fazer e ultrapassar. Constatou-se também a presença de termo
genérico e termos específicos no subcampo de instrumentos e
peças, mais particularmente ao termo kruwa ‘flecha’, o qual não
ocorre nas formações de palavras referentes aos tipos de flecha
utilizados no jogo.
Desta forma, os resultados finais obtidos são validados na medida em
que são comparados com os aspectos morfológicos gerais apresentados por
Araújo (1977, 1989 e outros) e Ferreira (2003 e 2005), visto que eles
confirmam a descrição já realizada.
PUBLICAÇÕES
Durante o primeiro e o segundo semestres de execução do atual plano
de trabalho, foram possíveis as apresentações de dois trabalhos e uma
publicação em capítulo de livro intitulada “Aspectos fonético-fonológicos e
lexicais do Kyikatêjê” (Livro: Descrição e ensino de línguas; Editora Pontes e
ISBN de número 978-85-7113-592-5). No que tange às apresentações de
trabalho, a primeira foi apresentada na Universidade Federal do Pará (UFPA) e
a segunda na Universidade Federal de Londrina (UEL), os quais seguem
abaixo:
Resumo do trabalho que será apresentado no XXV Semi nário de Iniciação Científica da UFPA, realizado no dia 9-19 de setemb ro de 2015. Autor(es): Luciana Renata dos Santos VIEIRA (Bolsista PIBIC/CNPq) -lucianarenata@live.com Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação. Profa Dra Marília de Nazaré de Oliveira FERREIRA (Orientadora) – marilia@ufpa.br Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.
A presente pesquisa tem como principal objetivo descrever as principais atividades
culturais do povo Parkatêjê e a partir disso, analisar a composição dos termos referentes a essas práticas tradicionais desenvolvidas na comunidade indígena e a partir disso contribuir significativamente para a pesquisa científica no estudo, análise e documentação da língua Parkatêjê, bem como das línguas Jê da região setentrional do país. O suporte metodológico utilizado para o desenvolvimento dessa pesquisa abrange os seguintes passos: primeiramente foi realizada uma pesquisa bibliográfica, a qual compreende os trabalhos de Linguística Descritiva e pesquisas antropológicas, respectivamente os trabalhos de Araújo (1977, 1989 e outros), Ferreira (2003 e 2005) e Melatti (1978); também foi realizada viagem de campo para a coleta de dados linguísticos e um melhor conhecimento da cultura tradicional do povo Parkatêjê; após essa etapa fundamental pudemos organizar os dados e analisá-los do ponto de vista morfológico. Com base na metodologia adotada, verificou-se que: a prática das atividades tradicionais apontam três possíveis funções; termos genéricos e específicos ocorrem com flechas e toras do vocabulário de práticas tradicionais Parkatêjê e também que os esquemas morfológicos encontrados ( i. nome + restritivo; ii. nome + sufixo de tamanho -re e -ti; iii. nome + descritivo + sufixo de tamanho; iv. nome + descritivo; v. nome + descritivo + descritivo; vi. nome + sufixo agentivo - katê) evidenciam a soma de itens lexicais que também formam compostos com significado diferente da soma de seus constituintes. Dessa forma, a pesquisa de um vocabulário tradicional possibilita novos resultados, o registro histórico e a documentação linguística de um patrimônio legitimamente brasileiro.
Resumo do trabalho apresentado no III Congresso Int ernacional de Dialetologia e Sociolínguistica, realizado no dia 0 7, 08, 09 e 10 de outubro de 2014. Autor(es): Luciana Renata dos Santos VIEIRA (Bolsista PIBIC/CNPq) -lucianarenata@live.com Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação. Cintía de Lima Neves (Doutoranda/UFPA) Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.
Profa Dra Marília de Nazaré de Oliveira FERREIRA (Orientadora) – marilia@ufpa.br Curso de Letras, Faculdade de Letras, Instituto de Letras e Comunicação.
Terminologia do jogo de flecha em Parkatêjê
Este trabalho tem por objetivo constituir-se como parte integrante da elaboração de um glossário terminológico referente às principais atividades tradicionais em Parkatêjê; língua indígena Timbira, tronco linguístico Macro-jê, família jê. As atividades culturais, neste trabalho, mais precisamente, o jogo de flecha, são praticadas pela comunidade indígena Parkatêjê no município de Bom Jesus do Tocantins, km 30 da BR-222, próximo da cidade de Marabá. Para elaboração desta pesquisa, utilizamos narrativas orais, relatos, áudios, vídeos e fotografias envolvidos no jogo de arco e flecha, todos, materiais coletados na comunidade indígena durante trabalho de campo. Em Parkatêjê, a atividade se desenvolve da seguinte maneira: durante o início de uma partida de flecha, vários índios podem jogar ao mesmo tempo, cada um com suas 5 flechas que são marcadas por tinta ou fios coloridos para não se misturarem com as outras. As flechas são lançadas, uma a uma, em direção ao um espaço reservado, no qual está localizado um tronco de bananeira que possui a função de alvo. O objetivo é acertar o máximo de flechas possíveis no tronco, pois aquele que acerta ganha novas flechas e o que erra perde as suas para o outro jogador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Álvaro M. P. A história dos jogos e a constituição da cultura lúdica.
Cascavel: UFPR, 2003.
ARAÚJO, Leopoldina M. S. Estruturas subjacentes de alguns tipos de frases
declarativas afirmativas do Gavião- Jê. Dissertação de mestrado. Florianópolis:
UFSC, 1997.
_________Romanço Parkatêjê. Belém: Cromos Editora, 2012.
_________Aspectos da língua Gavião-Jê. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro:
UFSC, 1989.
BASÍLIO, Margarida. Teoria lexical. Editora Ática: São Paulo, 1987.
CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 9ª edição. Editora Parma: São
Paulo, 2004.
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FERREIRA, Marília de Nazaré de Oliveira. Estudo Morfossintático da Língua
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ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. 2. ed. São Paulo: Contexto,
2002.
DIFICULDADES Nenhuma dificuldade encontrada. PARECER DO ORIENTADOR A discente LUCIANA RENATA DOS SANTOS VIEIRA realizou seu plano de trabalho a contento. Deste plano foi originado o Trabalho de Conclusão de Curso da discente, o qual intitula-se O LÉXICO DE DUAS ATIVIDADES TRADICIONAIS DO POVO PARKATÊJÊ: UMA ABORDAGEM ETNOLINGUÍSTICA, o qual deveria ter sido defendido em junho/2015, mas, em função da greve, o será tão logo as aulas retornem. A discente pretende submeter-se à seleção de mestrado assim que concluir sua graduação. DATA: 09/08/2015
ASSINATURA DO ORIENTADOR
____________________________________________ ASSINATURA DO ALUNO
INFORMAÇÕES ADICIONAIS
FICHA DE AVALIAÇÃO DE RELATÓRIO DE BOLSA DE INICIAÇ ÃO CIENTÍFICA
O AVALIADOR DEVE COMENTAR, DE FORMA RESUMIDA, OS SEGUINTES ASPECTOS DO RELATÓRIO:
1. O projeto vem se desenvolvendo segundo a proposta aprovada? Se
ocorreram mudanças significativas, elas foram justificadas? 2. A metodologia está de acordo com o Plano de Trabalho ? 3. Os resultados obtidos até o presente são relevantes e estão de acordo com
os objetivos propostos? 4. O plano de atividades originou publicações com a participação do bolsista?
Comentar sobre a qualidade e a quantidade da publicação. Caso não tenha sido gerada nenhuma, os resultados obtidos são recomendados para publicação? Em que tipo de veículo?
5. Comente outros aspectos que considera relevantes no relatório.
6. Parecer Final:
Aprovado ( ) Aprovado com restrições ( ) (especificar se são mandatórias ou
recomendações) Reprovado ( )
7. Qualidade do relatório apresentado: (nota 0 a 5) _____________ Atribuir conceito ao relatório do bolsista considerando a proposta de plano, o desenvolvimento das atividades, os resultados obtidos e a apresentação do relatório.
Data : _____/____/_____.
________________________________________________ Assinatura do(a) Avaliador(a)
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