modelos multiorganizacionais no turismo: … · toward the model of clusters, ... tourism as a...
Post on 29-May-2018
222 Views
Preview:
TRANSCRIPT
INEZ MARIA DANTAS AMOR GARRIDO
MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS NO TURISMO:
Cadeias, Clusters e Redes
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Administração da Escola de
Administração, da Universidade Federal da Bahia, como
requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em
Administração
Orientador: Prof. Dr. Paulo Henrique de Almeida
Salvador
2001
.
G241 Garrido, Inez Maria Dantas Amor.
Modelos multiorganizacionais no turismo : cadeias, clusters e redes / Inez Maria
Dantas Amor Garrido.—Salvador : I.M.D.A.. Garrido, 2001.
124 f.: il.
Orientador: Paulo Henrique de Almeida.
Dissertação apresentada à Universidade Federal da Bahia, Núcleo de Pós-
graduação em Administração para obtenção do título de Mestre em Administração.
1.Turismo – Organização. 2. Redes – Organização. 3. Desenvolvimento sustentável.
I.Almeida, Paulo Henrique de, orientador. II. Título.
338.4791
CDD 20.ed.
INEZ MARIA DANTAS AMOR GARRIDO
MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS NO TURISMO:
Cadeias, Clusters e Redes
Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Administração
Salvador, outubro, 2001.
Banca Examinadora:
Paulo Henrique de Almeida____________________________________ Universidade Federal da Bahia
Sylvio Bandeira de Mello e Silva ________________________________ Universidade Federal da Bahia
Elisabeth Loiola_____________________________________________ Universidade Federal da Bahia
A
Alexandre, pelo seu amor, compreensão, cumplicidade e apoio aos meus interesses
acadêmicos.
David e Alexandra, queridos filhos, um estímulo permanente a me tornar mais
humana e mais coerente, todos os dias.
Minha mãe, meus irmãos Anna e Emanuel, cunhados, cunhadas e todos os
sobrinhos, por me apoiarem e entenderem a minha dedicação aos estudos,
esquecendo, por vezes, a família.
AGRADECIMENTOS
A Paulo Renato Dantas Gaudenzi, Secretário da Cultura e Turismo do Estado da
Bahia, com quem tenho o privilégio de trabalhar por mais de duas décadas, um
mestre nos assuntos do turismo e um ser humano ímpar, que acredita na
importância de qualificar profissionalmente sua equipe de trabalho.
A Érico Pina Mendonça Júnior, Superintendente de Turismo da Secretaria da Cultura
e Turismo da Bahia, exemplo de gestor e especialista conectado com a moderna
Administração do Turismo, mas, acima de tudo, um amigo e líder de equipe como
poucos, contribuindo e confiando no crescimento profissional de cada um.
A Paulo Henrique de Almeida, orientador e mestre nos assuntos desta dissertação e
na condução de um trabalho acadêmico. Grata também pelo apoio e cuidado
durante todo o período, pelas indispensáveis indicações bibliográficas e pelo suporte
no delineamento da construção teórica.
Aos examinadores Elisabeth Loiola e Sylvio Bandeira de Mello e Silva, pelas
importantes contribuições e sugestões para a versão final deste trabalho. Sem
dúvida, uma lição de cuidado acadêmico.
A todos os meus colegas da Sudetur – Superintendência de Desenvolvimento do
Turismo da Bahia, Socorro, Teresa, Reinaldo, Symona, Dalva, Domira, Graça,
Arthur, Ana Lúcia, Mariana, Délio, Wolf, Alcione, Marcelo, Rosana, Margareth,
Maísa, Alzira, Danília, Roque e Ronaldo, equipe nota dez, integrada no trabalho,
mas também um laboratório rico em relações humanas, pelo apoio e carinho
recebidos durante esses duros tempos de mestrado. Juntam-se aos veteranos, a
jovem equipe dos estagiários, que têm participado desse prazeroso convívio diário.
A Jorge Antonio Santos Silva, que muito me ajudou nas indicações bibliográficas, a
Nidalvo Quinto, pela sua experiência no turismo e nos projetos de clusters, a Tânia
Feitosa, na revisão deste texto, a Maria Helena Mendes e a Vera Lins, pelo
indispensável apoio com as regras bibliográficas.
Ao NPGA – Núcleo de Pós-Graduação em Administração da Escola de
Administração da Universidade Federal da Bahia, seus coordenadores, professores
e funcionários, pelo apoio e interesse nesta jornada do Mestrado Profissional.
Aos colegas da Turma 2 do Mestrado Profissional, pela convivência agradável
durante as aulas e pelas trocas de informações também bastante enriquecedoras.
“A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos”.
Albert Einstein
RESUMO Esta dissertação buscou examinar alguns modelos de integração entre empresas, transportando-os para a realidade do turismo. Primeiramente, foi analisado o conceito de cadeia produtiva, que tem como essência o modelo de cadeia de valores amplamente discutido e apresentado por Michael Porter e que, atualmente, vem sendo aplicado, com freqüência, ao setor de turismo. Em seguida, foi discutido o modelo de clusters, hoje aplicado em muitos segmentos produtivos, sobretudo no setor industrial. Por último, investigou-se o modelo de redes interorganizacionais, que ultrapassam os limites geográficos propostos no modelo anterior, incorporando a macro-espacialização, através da conexão translocal. Também foram abordados alguns aspectos sobre a caracterização do turismo, seus principais conceitos, o turismo como atividade de serviços e seu processo de evolução, situando esta atividade a partir da Segunda Guerra Mundial e particularizando a trajetória do desenvolvimento do turismo no Estado da Bahia. As evidências resultantes deste trabalho de investigação sobre os modelos multiorganizacionais que melhor se aplicam ao turismo sugerem que o mais indicado é a associação entre o modelo de cluster, que melhor pode representar a dinâmica das regiões de destino turístico, e o modelo de rede, fundamental para estabelecer as conexões entre essas regiões de destino turístico e os mercados emissores. Palavras-chave: modelos multiorganizacionais; cadeia produtiva; cluster; redes interorganizacionais; sistema turístico, desenvolvimento sustentável.
ABSTRACT
The current dissertation addresses cross-company integration models, and their application to the world of tourism. Initially, it focused on the productive chain concept, which resembles that of the value chain largely discussed and presented by M. Porter, and which has recently been applied to the tourism sector. Then, it moves toward the model of clusters, today frequently applied to many productive segments, especially in the industrial sector. Finally, it approaches the model of interorganizational networks, which surpass those geographic borders suggested in the previous model by incorporating the macro spacialization through the translocal connection. Some aspects of the characterization of tourism, its principal concepts, tourism as a service activity, and its evolutionary process have also been addressed, situating this activity from the Second World War on, and particularizing the tourism development trend in the State of Bahia. Evidences resulting from this investigation about the multiorganzational models that best suit the tourism sector suggest that the best match is provided by the association of the cluster model, which represents the dynamics of tourist destinations with the network model, which is fundamental for the establishment of connections between those tourist destinations and tourist origin markets. Key words: multiorganzational models; productive chain: cluster; interorganizational networks; tourist system; sustainable development.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS............................................................................................ 10 LISTA DE QUADROS......................................................................................... 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................................. 12 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 13
Aspectos Metodológicos.........................................................................................14
Definindo o Tema, Problema, Objetivos e Hipóteses.............................................16
1. MARCO CONCEITUAL DO TURISMO...............................................................20
1.1. Turismo é Serviço.............................................................................................20
1.2. Evolução do Turismo........................................................................................24
1.3. Elementos e Características do Turismo..........................................................29
1.4. O Futuro do Turismo.........................................................................................37
1.5. O Turismo na Bahia..........................................................................................40
2. OS MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS.......................................................44
2.1. Desenvolvimento Regional: nova ótica.............................................................44
2.2. Aglomerados de Empresas e Desenvolvimento Regional................................46
3. PRIMEIRO MODELO – CONCEITUANDO E ENTENDENDO A CADEIA PRODUTIVA ............................................................................................................55
3.1. Caracterização Geral ........................................................................................55
3.2. A Cadeia Produtiva no Turismo.........................................................................60
4. SEGUNDO MODELO – A CONFIGURAÇÃO EM CLUSTERS...................... 67
4.1. Caracterização Geral.................................................................................... 67
4.2. O Modelo de Cluster no Turismo................................................................. .73
4.3. As Iniciativas de Clustering no Turismo ...................................................... .77
4.3.1. O Cluster de Turismo da Costa Rica ......................................................... 77
4.3.2. O Cluster de Turismo de Bonito - MS......................................................... 80
4.3.3. O Projeto Iniciativa pelo Nordeste............................................................... 82
4.3.4. Cresce Minas: um Projeto Brasileiro .......................................................... 86
4.3.5. O Clustering do Turismo na Bahia.............................................................. 89
4.4. O Modelo de Cluster e sua Adequação ao Turismo...................................... 96
5. TERCEIRO MODELO – CONHECENDO AS REDES
INTERORGANIZACIONAIS.................................................................................. 98
5.1. Caracterização Geral...................................................................................... 98
5.2. As Redes Interorganizacionais no Turismo ................................................. 107
5.2.1. Alguns Exemplos de Redes Interorganizacionais no Turismo................... 112
5.3. O Modelo de Redes Interorganizacionais e sua Adequação ao Turismo...... 115
6.CONCLUSÕES.................................................................................................. 117
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 120
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Sistema Turístico .............................................................................. 30
Figura 2 – Fluxo do Gasto do Turista na Economia – Efeito Multiplicador......... 34
Figura 3 – Representação da Cadeia Produtiva do Turismo.............................. 62
Figura 4 – Representação da Cadeia Têxtil e Vestuário..................................... 63
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Evolução do Fluxo e Receita do Turismo no Mundo........................ 28
Quadro 2 – Componentes de Cooperação Dentro do Cluster............................. 73
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AIEST – Association Internacionale d’Experts Scientifiques du Tourisme
IATA – International Air Transport Association
UIOOPT – União Internacional dos Organismos Oficiais de Promoção Turística
UIOOT – União Internacional dos Organismos Oficiais de Turismo
OMT – Organização Mundial de Turismo
IUOTO – International Union of Oficial Travel Organizations
BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento
BAHIATURSA – Empresa de Turismo da Bahia S.A.
EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PRODETUR/BA – Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia
PRODETUR/NE – Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste
CNI – Confederação Nacional da Indústria
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
IEL- Instituto Euvaldo Lodi
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IICA – Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura
FIEMG – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
SEPLANTEC – Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da
Bahia
SCT – Secretaria da Cultura e Turismo do Estado da Bahia
UNIDO – United Nations Industrial Development Organization
ONUDI – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial
CONTUR – Conselho Municipal de Turismo de Bonito – MS
GDS – Global Distribution System (Sistema Global de Distribuição)
13
INTRODUÇÃO
Entender o turismo como um setor plural, naturalmente constituído por um
conjunto de atividades heterogêneas, interdependentes e, na sua maioria,
complementares, tem despertado o interesse e a dedicação de especialistas. Por isso,
têm surgido ultimamente diversas tentativas de interpretação ou criação de modelos
representativos dessa dinâmica setorial. A noção da necessidade cada vez maior de
integração entre os diversos stakeholders do turismo e a evolução dos modelos de
gestão integrada emergentes na “Nova Administração” têm contribuído positivamente
para a convergência e abertura de caminhos que buscam a coletivização de iniciativas.
Essa perspectiva do estabelecimento de elos diretos e indiretos entre os diversos
negócios e instituições envolvidos no turismo é fundamental para definir o caminho e o
ritmo de inovação, visando ao fortalecimento da competitividade do produto.
A teoria do turismo tem também evoluído em direção à busca de modelos e
conceitos que explicam as interfaces dos diversos segmentos empresariais e
institucionais envolvidos, a exemplo do modelo de Sistema Turístico proposto por Neil
Leiper e aqui apresentado, de forma adaptada, no item 1.3 deste trabalho. O grande
desafio do setor de turismo tem sido o de encontrar meios de articular os interesses dos
segmentos empresariais, dos poderes públicos locais, regionais e nacionais, das
comunidades envolvidas e que participam da produção e entrega do produto turístico,
além da sua conciliação com outras atividades produtivas, sobretudo nas regiões de
destinos turísticos.
14
A opção pelo uso de uma das principais funções da Administração – o
Planejamento – para estabelecer um curso deliberado e gradual para o
desenvolvimento do turismo conta, atualmente, com o reconhecimento e a adesão de
especialistas, dirigentes empresariais e autoridades do setor público, cujos avanços têm
sido constatados sobretudo nesta última década, com as indicações e declarações de
princípios e práticas lastreados nos conceitos de desenvolvimento sustentável.
Essas tendências que vêm se confirmando ultimamente parecem prevalecer
para a próxima década, indicando a necessidade de se consolidar a via do
desenvolvimento sustentável do turismo. Acrescente-se ainda a necessidade de
abertura de canais de entendimento com entidades de gestão e pesquisa ambiental,
cultural e tecnológica, de forma a permitir o uso planejado e responsável do patrimônio
sócio-ambiental, que, em conjunto com o equilíbrio econômico, completam a essência
da sustentabilidade.
Aspectos Metodológicos
Este trabalho foi iniciado a partir de interesse pessoal de estudar e entender,
um pouco mais, a dinâmica da integração entre empresas e setores, com foco especial
na atividade turística. É claro que foi preciso um longo período de divagação e
peregrinação pelos meandros das teorias econômicas e organizacionais, até porque
não conseguimos encontrar muitos estudos que tratassem deste assunto,
especificamente para a atividade turística. O turismo, devido a sua crescente
importância para a economia mundial, tem sido objeto de especulações e tentativas
para “confiná-lo” em modelos importados de outros setores econômicos, notadamente a
indústria. Dessa prática surgem bons resultados, mas também grandes distorções, ou
representações parciais da realidade.
Outra motivação para a busca de um tema que pudesse trazer alguma
contribuição aos estudos sobre o turismo foi a necessidade de apresentar dissertação
15
para conclusão do Mestrado Profissional em Administração, Universidade Federal da
Bahia. Esta última nos empurrou para a definição de um recorte mais específico, porque
a tentação inicial sempre nos leva a percorrer caminhos mais abrangentes e, de certa
forma, dispersos.
O projeto inicial apresentava um escopo centralizado no estudo do modelo de
“cadeia produtiva” no turismo, com intenção de realizar um estudo de caso em uma
localidade específica do Estado da Bahia – a Praia do Forte. Entretanto, na discussão
com o orientador sobre essa intenção, algumas sugestões foram feitas, novas idéias
surgiram e nos instigaram a desafios maiores, inclusive a uma mudança significativa da
abordagem a adotar. O que naquele momento decisivo se apresentava como uma
revolução nos nossos pensamentos e crenças, aos poucos foi tomando forma e, hoje,
graças ao estímulo recebido, reconhecemos que as mudanças sugeridas estavam
muito mais conectadas com a realidade atual, do que a idéia inicial.
Assim mudou-se o escopo, passando a vigorar o intento de realizar uma análise
comparativa de três dos modelos multiorganizacionais mais utilizados para o exame de
diversos setores produtivos, buscando identificar qual dentre eles, ou, se a combinação
de mais de um deles poderia ser mais representativa do setor de turismo. A partir deste
objetivo, frente à realidade atual do setor, identificou-se que os modelos de cadeia
produtiva, clusters e redes organizacionais, deveriam ser o centro dos nossos estudos.
Os passos iniciais para a pesquisa bibliográfica se deram no âmbito do
ambiente de trabalho, a área de planejamento em turismo e no âmbito das disciplinas
do curso de Mestrado Profissional em Administração. Este último nos mostrou um leque
muito amplo de possibilidades, ao trazer um grande número de abordagens e teorias,
que foram estudadas e estão consignadas neste trabalho dissertativo.
Pode-se afirmar que este estudo tem um caráter exploratório-descritivo e que a
pesquisa bibliográfica foi a tônica que acompanhou o seu desenrolar, iniciando com as
leituras de livros, artigos, periódicos, relatórios técnicos e documentos institucionais,
que contribuíram para a delimitação do objeto de estudo. Essa pesquisa acompanhou a
construção de todos os capítulos, em busca de sustentação dos argumentos aqui
16
apresentados, até a sua fase final, quando da apresentação das conclusões e
indicações de questões para futuras investigações. O suporte teórico aos argumentos
aqui apresentados se constitui, certamente, na característica de maior relevância deste
trabalho, que será de grande utilidade ao nosso desempenho profissional, doravante.
Definindo o Tema, Problema, Objetivos e Hipóteses
Passado o período de reformulações e redefinições, assim como dos ajustes
necessários a reorientação do tema, reconfigurou-se nova questão de pesquisa, que
tem sido norteadora de toda a investigação documental e teórica e que pode ser
resumida na seguinte pergunta básica:
Qual o modelo multiorganizacional que pode melhor representar o setor de turismo, propiciando uma gestão integrada e sustentável que envolva os diversos componentes do produto turístico ?
Para responder a esta pergunta, concebeu-se como pontos de partida um fato e
uma hipótese:
O Fato: o turismo é uma atividade fragmentada, transdisciplinar e complexa,
exigindo uma ação coordenada e interconectada para montagem do produto
turístico;
A Hipótese: dentre os modelos de cadeia produtiva, clusters e redes
organizacionais, que estão entre os mais utilizados atualmente, considera-se
a combinação entre cluster – para configurar a região de destino turístico – e
rede – para estabelecer a intercomunicação entre as regiões emissoras e os
destinos – como o arranjo multiorganizacional mais adequado à realidade
atual do turismo.
17
A teoria do turismo, enriquecida com a contribuição de pesquisadores e
profissionais oriundos de diversos campos da ciência e do conhecimento, tem evoluído
muito nas últimas décadas, focalizando, com maior freqüência, os elementos
formadores da dinâmica turística, seus reflexos sócio-econômicos e ambientais, bem
como questões relativas ao planejamento físico e operacional desta atividade.
Entretanto, poucas iniciativas têm sido registradas no campo dos estudos
organizacionais deste setor, e o que, em princípio, pode parecer um obstáculo ao
desenrolar dos trabalhos, apresenta-se, em seguida, como um forte motivador para o
cumprimento do objetivo acadêmico de trazer à tona novas abordagens e questões
para aprofundamento posterior.
A produção acadêmica em países com tradição na atividade do turismo, a
exemplo da Alemanha, da Inglaterra, da França, da Suíça, da Espanha, dos Estados
Unidos, dentre outros, apesar de ter sido iniciada no final do século XIX e nos primeiros
anos do século XX, teve sua produção cientifica intensificada a partir da Segunda
Guerra Mundial (REJOWSKI, 1996, p.17).
No âmbito supra-nacional, é importante destacar a atuação da Association
Internationale d’Experts Scientifiques du Tourisme – AIEST1, que em 1951 iniciou seu
papel de “catalisadora e precursora” de diversos estudos e pesquisas em turismo
(REJOWSKI, 1996, p.16). Ressalte-se ainda, nesse campo, a atuação da Organização
Mundial do Turismo – OMT, que tem buscado realizar e difundir novos estudos, mas
esses ainda muito centrados na análise de segmentos específicos e de indicadores de
performance da atividade.
Esses estudos e pesquisas têm servido de base para novas iniciativas em
outros paises emergentes como o México, o Brasil, a Austrália, a Nova Zelândia, dentre
outros. No Brasil, as iniciativas mais difundidas sobre os estudos acadêmicos em
turismo começaram na década de 70, embora tenham sido intensificadas somente
nesta última década, com a criação de centros de pesquisa em turismo em
universidades e faculdades de diversos estados brasileiros (REJOWSKI, 1996, p. 64). 1A tradução da denominação de AIEST é Associação Internacional de Especialistas Científicos de Turismo
18
Como já referido anteriormente, este trabalho pretende examinar alguns
modelos de integração entre empresas, transportando-os para a realidade do turismo.
Primeiramente, será analisado o conceito de cadeia produtiva, que tem como essência
o modelo de cadeia de valores amplamente discutido e apresentado por Porter (1991) e
que, ultimamente, vem sendo aplicado, com freqüência, ao setor de turismo. Em
seguida, será estudado o modelo de cluster, hoje utilizado no estudo de muitos
segmentos produtivos, sobretudo, no setor industrial. Por último, passa-se a analisar o
formato de redes interorganizacionais, que ultrapassam os limites geográficos
propostos no modelo anterior, incorporando a macroespacialização, através da conexão
translocal.
O capítulo a seguir trata da abordagem conceitual do turismo, buscando
apresentar os referenciais que estruturam o marco teórico desta atividade, além de
alguns aspectos de evolução histórica, em geral, e no Estado da Bahia. Inclui ainda
alguns indicadores e tendências, de acordo com a literatura disponível.
O capítulo 2 introduz a questão dos modelos multiorganizacionais, focalizando
aspectos do desenvolvimento regional, suas principais correntes e finalizando com a
apresentação dos mais importantes conceitos de aglomerados de empresas
identificados a partir dos estudos de Marshall.
O capítulo 3 trata da caracterização geral do modelo de cadeia produtiva,
apresentando, em seguida, comentários sobre a iniciativas já efetuadas com vistas a
aplicação desse modelo no turismo. A título ilustrativo, é apresentado um comparativo
entre a cadeia produtiva do turismo e a cadeia produtiva industrial no setor têxtil,
comentando sua adequação ao setor de turismo.
O capítulo 4 caracteriza o modelo de clusters, na concepção de autores como
Michael Porter, Humphrey & Schmitz e Altemburg & Meyer-Stamer, cujos estudos se
concentram sobretudo no setor industrial. A aplicação de clusters em turismo é
apresentada e relacionada com as peculiaridades desse setor, seguida pela descrição,
em síntese, das iniciativas de sua aplicação no Brasil e na Bahia.
19
O capítulo 5 apresenta o modelo de redes organizacionais (networking) nos
seus aspectos gerais, buscando ainda particularizar para o setor de turismo, sobretudo
na conexão entre produtores e distribuidores das regiões de destino e das regiões
emissoras, respectivamente.
As conclusões apresentam uma síntese dos principais aspectos levantados
sobre cada um dos modelos interorganizacionais, concluindo com indicação da
confirmação da hipótese proposta e com a indicação dos modelos mais adequados
para aplicação no turismo.
20
1. MARCO CONCEITUAL DO TURISMO
1.1. Turismo é Serviço
Peter Hill (1977, p.315-338) afirma que o serviço é “uma transformação da
condição de um indivíduo ou de um bem pertencente a um agente econômico qualquer,
resultando da atividade de um outro agente econômico, sob pedido ou com o
consentimento do primeiro agente”. O foco conceitual de Hill reflete a preocupação de
identificar os agentes principais - prestador e beneficiário ou cliente, sejam indivíduos
ou organizações, interagindo em um determinado contexto e tendo como resultado a
produção ou modificação de uma situação. Essa “transformação” pode ocorrer sob a
forma de objetos ou sistemas materiais, informações ou condições físicas e intelectuais
de indivíduos, e é estabelecida em relações diretas ou indiretas.
O conceito básico de serviço, segundo Albrecht (2000, p.50-51), é “todo
trabalho feito por uma pessoa em benefício de outra”. Na sua proposta de traduzir uma
visão mais atual, o autor associa serviço à definição de qualidade concebida nas
últimas décadas e entendida como “[...] a medida em que uma coisa ou experiência
satisfaz uma necessidade, soluciona um problema ou agrega valor em benefício de
uma pessoa”. Como resultado, Albrecht afirma que “[...] serviço é todo trabalho que
agrega valor ao que uma pessoa faz em benefício de outra”. E acrescenta que qualquer
produto ou serviço oferece, de alguma forma, valor para o cliente.
21
Na visão de Kotler (2000, p. 448), serviço é “[...] um ato ou desempenho
essencialmente intangível que uma parte pode oferecer a outra e que não resulte na
posse de um bem”. O autor chama atenção para quatro características principais dos
serviços: a) intangibilidade – não podem ser vistos ou testados antes da compra; b)
inseparabilidade – os serviços são, primeiro, vendidos e depois produzidos e
consumidos, ao mesmo tempo; c) variabilidade – a qualidade depende de quem, onde,
quando e como os serviços são executados, e d) perecibilidade – não possibilidade de
estocagem para venda ou uso futuro.
Kotler também se refere a questões como qualidade e diferenciação dos
serviços e afirma que as empresas desse setor podem se diferenciar através da
agregação de qualidade aos serviços prestados, de tal maneira que as expectativas dos
clientes sejam identificadas e convertidas em percepção positiva.
Nessas três definições, constata-se a tríade – agente / realidade modificada /
beneficiário – através da qual podem ser agregadas vantagens competitivas, que levam
à diferenciação do agente e da realidade modificada, cujo foco está centrado no
interesse do cliente. Em turismo, fica evidente essa natureza do serviço, que se
apresenta como a própria essência do produto, pois, mesmo incorporando todas as
possibilidades e avanços tecnológicos, não se dispensa a relação interpessoal, direta
ou indireta, entre clientes e fornecedores.
Assim, pode-se afirmar que o turismo é uma atividade sócio-econômica de
serviços, definida como “o movimento de pessoas, por tempo determinado, para
destinações fora do seu local de residência, e as atividades realizadas durante o tempo
de permanência nas localidades visitadas” (31º CONGRÉS de L’AIEST, 1981 ver
TURISMO:VISÃO E AÇÃO, 2000, p.25).
A ampliação desse conceito de turismo será discutida um pouco mais adiante,
neste mesmo capítulo, mas aqui interessa esclarecer que, conforme sua definição
básica citada acima, “[...] as atividades realizadas durante o tempo de permanência nas
localidades visitadas” são caracterizadas como serviços de turismo. Também
22
acrescentam-se os serviços recebidos pelo cliente durante o processo de aquisição do
produto turístico, ainda na sua localidade de origem.
Por isso, entende-se que o turismo depende, fundamentalmente, da qualidade
do serviço oferecido ao cliente. O incremento na qualidade da experiência do visitante
significa agregar valor ao produto turístico, que por sua vez contribui para o aumento da
vantagem competitiva e de sua diferenciação no mercado global. Nos serviços, em
geral, mas sobretudo no turismo, uma das formas mais efetivas para se agregar valor é
a capacitação profissional para a “descomoditização” do serviço, ou seja, para chegar a
um relacionamento mais rico e duradouro com o cliente.
Albrecht (2000, p. 54) chama atenção para um desafio maior, que é “fazer de
forma diferente” e acrescenta:
O pacote de valor para o cliente é um conjunto de bens e experiências que
constituem uma oferta única, em torno do qual é possível gerar certo grau de
necessidade para o cliente. É uma proposta oferecida ao cliente que ninguém
mais lhe oferece. (ALBRECHT, 2000, p. 51)
A idéia de pacote de valor pode ser diretamente relacionada com o conceito de
pacote turístico, que significa a combinação dos serviços de viagem, hospedagem,
alimentação, passeios e entretenimento, geralmente organizados por operadores
turísticos e comercializados por agentes de viagem, a um preço único e diferenciado. O
pacote turístico era concebido como um produto padronizado, genérico e voltado para
atender grandes quantidades de clientes. Hoje procura-se, cada vez mais, agregar valor
à experiência do turista, através da produção de pacotes “descomoditizados”, isto é,
moldados para atender às necessidades e expectativas do cliente.
Dois outros aspectos importantes precisam ser assinalados em relação ao
turismo: o primeiro se refere ao fato de que, apesar de estar inserido,
predominantemente, no setor de serviços, possui na sua composição diversos
agregados dos setores primário e secundário, daí porque a mensuração do seus
impactos econômicos se constitui em tarefa complexa.
23
O segundo aspecto importante é a dificuldade de estabelecer uma separação
conceitual em relação a outras atividades correlatas. Tomando como exemplo as
atividades de lazer e de recreação, pode-se afirmar que seus conceitos e campos de
atuação se misturam com o turismo, ficando, muitas vezes, difícil estabelecer qual
dentre elas se constitui no fato gerador capaz de dar sustentabilidade àquele conjunto
de serviços e atividades.
De acordo com Cooper et al. (1996, p. 5), lazer é a combinação entre tempo e
atitude mental, no qual o ser humano é capaz de dedicar períodos em que outras
obrigações são minimizadas. Pode ser também entendido como o tempo disponível
para um indivíduo, excetuando-se o trabalho, o sono e outras necessidades básicas. A
associação entre lazer e turismo se dá quando se procura concentrar o período de lazer
em um determinado espaço de tempo (férias, por exemplo), para distanciar-se do seu
local de residência e, com isso, exercitar o chamado turismo de lazer.
Já a recreação, segundo o autor, pode ser entendida como um conjunto variado
de atividades realizadas durante o tempo de lazer e, a depender da distância com que
essas atividades de recreação são realizadas em relação ao local de moradia, pode-se
classificá-las como atividades turísticas ou não. Para melhor explicar esta última relação
entre turismo e atividades recreativas, pode-se acrescentar que sua incorporação ao
turismo se dá quando as mesmas estão inseridas no tempo e programação das
viagens. As excursões, que na teoria de turismo significam viagens realizadas para fora
do local de residência e que duram menos de 24 horas, são o exemplo mais
representativo de atividades recreativas assemelhadas ao turismo, também conhecidas
como “turismo de 1 dia”.
A evolução experimentada nos últimos anos pelo setor de serviços e,
especificamente, no turismo, tem contribuído para o aumento da complexidade desse
setor, exigindo o estabelecimento de modelos administrativos e operacionais capazes
de articular os diversos atores envolvidos. Ressalte-se ainda as singularidades
inerentes aos serviços que, muitas vezes, não podem ser moldados em modelos
aplicados a outros setores produtivos como a indústria.
24
O sub-item a seguir abordará, inicialmente, alguns aspectos da história recente
do turismo, para, em seguida, explicar alguns conceitos e modelos teóricos que
explicam a atividade.
1.2. Evolução do Turismo
O turismo, ao ser analisado como fenômeno que envolve viagens, vai encontrar
as suas origens em tempos remotos da civilização do homem. Entretanto, para este
trabalho que pretende tratar de algumas questões relacionadas a modelos
organizacionais interfirmas, decidimos tomar como referência a evolução da atividade
turística a partir da Segunda Guerra Mundial.
Vários fatores contribuíram para a expansão do turismo como atividade
econômica a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Destacam-se : a) redução da
jornada de trabalho e introdução de férias remuneradas; b) elevação do nível
educacional, com a abordagem de conhecimentos que passaram a despertar o
interesse por conhecer outros lugares no mundo; c) melhoria nos sistemas de
transportes, incluindo a evolução da aviação comercial e dos acessos rodoviários e
ferroviários; d) dispersão do desenvolvimento econômico, crescendo em paralelo o
volume de viagens de negócios; e) aumento da renda per capita disponível para
viagens, dentre outros.
Até o início da década de 50, observava-se que cada atividade de suporte ao
turismo era prestada de forma isolada e muito pouco era feito para integrar os diversos
serviços. Foi durante a década de 50 que se passou a dar maior ênfase à integração
dos diversos prestadores de serviços e, nessa mesma época, também constatou-se
que o movimento de viagens em todo o mundo passou a influenciar o surgimento de
atividades complementares e/ou de apoio aos tradicionais setores de hotelaria,
alimentação e transportes, a exemplo de fornecedores especializados em
equipamentos e utilidades, além do crescimento da produção e do comércio de
25
souvenirs e outros produtos típicos dos principais centros receptores de turistas. Além
disso, ocorreu um aumento significativo do número de agências de viagens/operadoras.
Em 1945, as companhias aéreas fundaram a Associação Internacional das
Transportadoras Aéreas, a IATA (International Air Transport Association) e, em 1949,
iniciou-se a venda de pacotes turísticos com transporte aéreo. Durante a década de 50,
as viagens internacionais de férias se multiplicaram, dando início ao desenvolvimento
do chamado “turismo de massa”. Nas décadas de 60 e 70, segundo Oliveira (2000,
p.25), os agentes de viagens passaram a utilizar novas técnicas de administração e
marketing, fazendo uso da informática e dos meios de comunicação disponíveis na
época, em suas rotinas operacionais. Isto também proporcionou maior estreitamento
das relações entre os diversos prestadores de serviços integrantes dos pacotes
turísticos (hotéis, receptivos, companhias aéreas, etc.), criando ambiente propício à
multiplicação dos negócios, inclusive à longa distância.
Em paralelo ao movimento organizativo observado pelo lado da oferta de bens
e serviços destinados ao turismo, que por sua vez já estimulava novos fluxos de
viagens, começaram a surgir demandas por novos interesses de viagens, a exemplo de
diferentes formas de esportes e lazer, intercâmbio cultural, visita a sítios históricos
revitalizados e a parques naturais, além da fuga dos rigores do inverno nórdico para
regiões litorâneas ao sul. Pode-se dizer, então, que esses novos motivadores de
demanda desencadearam o processo de segmentação do turismo, reconhecido
atualmente como um dos principais mecanismos de expansão e especialização do
setor.
A evolução da atividade turística e sua repercussão na geração de renda local e
no ingresso de divisas para diversos países, notadamente do continente europeu, que
se encontrava em período de recuperação pós-guerra, já sinalizava, àquela época, para
a importância que o turismo seria capaz de assumir na economia mundial. O assunto,
então, começava a ocupar lugar de destaque na Agenda Internacional.
Em 1963, as Nações Unidas organizaram uma conferência sobre viagens e
turismo, em Roma, na qual foram recomendadas definições para “visitante”, “turista” e
26
“excursionista”, cuja utilização se daria essencialmente para fins de contagem
estatística. Como “visitante” ficou definido ser qualquer pessoa em visita a um país ou
região diferente do seu local de residência, por qualquer motivo exceto para exercer
atividade remunerada no local visitado. A definição de “turista” foi estabelecida com a
particularidade de ser um visitante temporário que permanece mais de vinte e quatro
horas, ou seja, realiza um pernoite no local visitado e pode ser classificado com os
seguintes motivos: a) lazer (recreação, férias, saúde, estudos, religião e esportes), e b)
negócios, missões, encontros, congressos e conferências, além de visita a parentes e
amigos. Por último, a definição de “excursionista”, que foi concebido como o visitante
que permanece menos de vinte e quatro horas no local visitado, incluindo o viajante de
cruzeiros marítimos. (MATHIESON e WALL, 1992, p. 11).
Outro marco importante da estruturação do turismo, ocorrido logo após a
Segunda Guerra Mundial, no âmbito internacional, foi a transformação da União
Internacional dos Organismos Oficiais de Promoção Turística – UIOOPT, uma
organização não-governamental que já existia desde 1925, em Haia, em União
Internacional dos Organismos Oficiais de Turismo – UIOOT2, com sede em Genebra.
No ano de 1967, foi constatada a necessidade de se criar uma organização
intergovernamental de turismo que tratasse de todos os assuntos deste setor, para
cooperar e fazer parte do sistema das Nações Unidas, como executor do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD. A UIOOT foi transformada em
Organização Mundial do Turismo – OMT, realizando sua primeira Assembléia Geral em
1975 e, a convite do Governo Espanhol, instalou sua Secretaria Geral em Madri.
A OMT é um organismo supra-nacional de turismo, que tem como objetivo
fundamental, segundo o Artigo 3º de seu Estatuto:
Promoção e desenvolvimento do turismo, com vistas a contribuir para o
desenvolvimento econômico, a compreensão internacional, a paz, a
prosperidade e o respeito universal, a observância dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou
religião.
2 Tradução da denominação original: International Union of Official Travel Organizations – IUOTO.
27
Dentre as principais funções da OMT, destacam-se: a) transferência de
conhecimento e tecnologia para promoção do desenvolvimento sustentável do turismo;
b) elaboração das estatísticas internacionais e avaliações econômicas do turismo; c)
desenvolvimento de Recursos Humanos. Além dessas, cabe lembrar o papel da OMT
como instância superior de convergência das questões relacionadas ao turismo, que,
ao mesmo tempo, atua na mediação de novas discussões e na identificação de novas
alternativas e cenários sustentáveis para as diferentes regiões turísticas do planeta.
Os dados de fluxo e receita consolidados pela OMT nos últimos cinqüenta anos
(1950 a 2000) comprovam a importância do turismo na economia mundial. Comparando
os resultados das cinco últimas décadas, contidos no quadro 1 a seguir, pode-se avaliar
a expansão do turismo como um fenômeno mundial capaz de interconectar regiões e
países desenvolvidos e em processo de desenvolvimento. Dentre os aspectos
relevantes pode-se afirmar que o turismo contribui, sob diversas formas, para
redistribuição de renda, intercâmbio cultural, promoção social e entendimento entre
povos e nações.
Entretanto, vale assinalar também a existência de correntes do pensamento
que atribuem ao turismo uma série de efeitos indesejáveis, que são opostos aos efeitos
positivos referidos acima: concentração de renda, descaracterização de culturas frágeis,
discriminação social e conflitos entre turistas e anfitriões. Tais impactos negativos
podem, efetivamente, ser observados em destinos nos quais o turismo ocorre de forma
espontânea e sem uma preocupação com o planejamento e a profissionalização dessa
atividade.
28
Quadro 1 EVOLUÇÃO DO FLUXO E RECEITA DO TURISMO NO MUNDO Chegadas Internacionais 1950 – 2000*
FLUXO TURÍSTICO RECEITA TURÍSTICA ANO
TOTAL DE TURISTAS
Em mil
VARIAÇÃO S/
PERÍODO ANTERIOR (%)
RECEITA TOTAL Em US$ milhões
VARIAÇÃO S/
PERÍODO ANTERIOR (%)
1950 25.282 - 2,100 -
1960 69.296 174,1 6,867 227,0
1970 159.690 130,4 17,900 160,7
1980 284.841 78,4 102,372 471,9
1990 454.800 59,7 255,000 149,1
2000* 698.300 53,5 476,000 86,7
Fonte: OMT, 2001.
Nota: * Dados Preliminares
Os resultados apresentados no quadro anterior demonstram uma evolução
crescente nos últimos cinqüenta anos, embora, em termos relativos, esse crescimento
tenha sofrido uma desaceleração, que pode ser considerada compatível com a
magnitude dos volumes globais observados nos últimos anos.
Segundo declarações do Secretário Geral da OMT, Francesco Frangialli, (2001,
p. 1) “o turismo, na virada do século, está crescendo mais rápido do que nossas
previsões mais otimistas”3. Nesse mesmo período, as receitas cresceram 4,5%. Pelas
previsões da OMT, estima-se que em 2010 o turismo terá atingido 1 bilhão de chegadas
internacionais, representando um incremento de 44% e, em 2020, esse volume atingirá
3 Esta e as demais citações de textos em idiomas estrangeiros são traduções de nossa autoria e responsabilidade.
29
1,6 bilhão, correspondendo a 60% de acréscimo. O documento da OMT, intitulado
Turismo:Panorama 2020, revela que as viagens internacionais de longa distância
alcançarão um crescimento médio anual mais acelerado (5,2%) do que as viagens intra-
regionais (3,8%), nos próximos vinte anos. A média geral de crescimento anual,
esperada até 2020, deverá aproximar-se dos 4%.
Entretanto, é importante salientar que a OMT, apesar de reconhecer em seus
relatórios e documentos a importância do turismo interno, não tem trabalhado com a
mensuração desse movimento. Autores como Vellas & Bécherel (1995, p. 3).indicam
que o turismo interno hoje representa mais de 80% de todo o movimento turístico
mundial.
Para o Brasil, as estimativas de observadores internacionais, como as
consultorias contratadas pelo BID- Banco Interamericano de Desenvolvimento, revelam
que o país deverá contar, em 2003, com um total de 53 milhões de viagens internas,
significando 38,7% a mais do que o correu em 1998. Esses dados divulgados pela
Embratur e OMT para o Brasil, em 1998, permitem constatar a proporção de 87 e 13 %,
respectivamente, pois fala-se de cerca de 38 milhões de viagens internas, contra uma
chegada de 4,8 milhões de turistas estrangeiros.
Se forem analisados os dados da Bahia no ano 2000, segundo registros da
BAHIATURSA, verifica-se que dos 4,2 milhões de turistas, 297 mil eram estrangeiros,
correspondendo, esses últimos, a 7% do fluxo global no ano passado.
1.3. Elementos e Características do Turismo
A definição de turismo, apresentada anteriormente, aborda três aspectos
importantes do fenômeno – o deslocamento de pessoas, a temporalidade e as
necessidades do indivíduo fora de seu local habitual – concentrando-se, sobretudo, no
local em que ocorrerá o “consumo” desse produto. Complementando esse conceito
30
básico, pode-se acrescentar que este setor econômico engloba, além das atividades
realizadas no destino turístico, aquelas exercidas pelos diversos fornecedores de
produtos e serviços turísticos que se situam nos chamados núcleos emissores.
Há, portanto, a necessidade de se incorporar sempre a perspectiva do ambiente
emissor e receptor, conforme pode ser representado na figura 1, a seguir:
−
−
− −
− ÃO E BEBIDAS
− − −
− ISMO
HOSPEDAGEM ALIMENTAÇANIMAÇÃO ATRAÇÕES TURÍSTICAS COMÉRCIO E SERVIÇOS TURÍSTICOS RECEPTIVOS OUTROS SERVIÇOS DE APOIO AO TUR
CANAIS DE TRANSPORTES
E COMUNICAÇÕES
SERVIÇOS DE RESERVAS OPERADORES TURÍSTICOS AGENTES DE VIAGENS MARKETING E PROMOÇÃO
RETORNO DE TURISTAS
AMBIENTES: físico, tecnológico, social, cultural, econômico, político
REGIÃO DE TRÂNSITO
PARTIDA DE TURISTAS REGIÃO DE DESTINO TURÍSTICO (RECEPTORA)
REGIÃO GERADORA DE TURISMO(EMISSORA)
Figura 1 - SISTEMA TURÍSTICO
Fonte: Adaptação de ( LEIPER apud COOPER et al. 1996, p. 3).
31
O modelo de Leiper, também adotado por Cooper et al.(1996, p. 3), foi
apresentado em 1979 e atualizado em 1990, considerando três elementos básicos:
O turista, como principal ator do sistema
O espaço geográfico – regiões geradora, receptora e de trânsito
Os negócios e instituições envolvidos na concretização do produto turístico,
que o autor denomina de “indústria do turismo”
Dependendo da amplitude do espaço geográfico estudado - macro-regiões
continentais, países, regiões intra-nacionais, estados, zonas turísticas, municípios,
localidades - as denominadas regiões emissoras e receptoras de turismo podem ser as
mesmas, embora os fenômenos emissivos e receptivos sejam registrados sob óticas
distintas. Isto é, o movimento emissor pode ser comparado ao processo de importação
de produtos, e o movimento receptivo equivale ao processo de exportação.
Segundo Mathieson e Wall (1992, p. 38), o turismo apresenta quatro
particularidades que o distinguem das demais atividades que envolvem transações
internacionais:
a) é um “bem invisível” de exportação, porque gera um expressivo fluxo de ingresso de
divisas, mas não existe um produto a ser embarcado de um local para outro; é,
geralmente, consumido no local onde é produzido;
b) os destinos turísticos requerem bens e serviços auxiliares, criando-se oportunidades
para a geração de negócios diretos, indiretos e induzidos;
c) é um produto fragmentado e, ao mesmo tempo, capaz de integrar-se ou afetar
diretamente outros setores da economia, e ;
d) é uma atividade altamente instável, sujeita a fortes variações sazonais, a influências
externas imprevisíveis, a natureza heterogênea das motivações e expectativas dos
turistas.
32
Duas dimensões importantes podem ser estabelecidas no contexto do turismo:
a primeira se refere à denominada “indústria do turismo”, caracterizada por Leiper como
o conjunto de empresas prestadoras dos serviços de hospedagem, alimentação,
transporte, agenciamento, entretenimento e outros fornecedores que compõem o
produto turístico (ver COOPER et al., 1996, p. 3). Nessa dimensão são estabelecidas as
relações setoriais diretas de produção, destinadas a atender às necessidades de seus
consumidores, os turistas.
A segunda dimensão, denominada “economia do turismo”, assume um espectro
mais amplo porque essa “indústria” passa a ser posicionada no contexto da economia
mundial, relacionando-se direta e indiretamente com outros setores produtivos, na
condição de indutor ou supridor de demandas, gerando agregados à renda e ao produto
nacional. O turismo, nesta segunda acepção, significa a movimentação de riquezas
entre setores e regiões, da ordem de 11 % do Produto Interno Bruto Mundial e gera
mais de 260 milhões de empregos, que equivalem a cerca de 10% da força de trabalho
mundial (LAGE & MILONE, 2000, p. 117).
Com base no gasto do turista pode-se avaliar o impacto gerado pelo turismo na
economia de um país ou região, utilizando-se metodologias que quantificam seus
impactos diretos e indiretos. Dentre elas, o efeito multiplicador de gasto turístico é uma
técnica que se refere ao número de vezes que esse gasto circula na economia local.
A matriz do efeito multiplicador elaborada por Inskeep (1991, p. 388), a partir de
informações oriundas de OMT – Organização Mundial de Turismo, representa os três
primeiros “rounds” geralmente realizados pelo gasto turístico. Pela estrutura do gasto
turístico direto (primeiro round) verificam-se os serviços ou produtos comprados
diretamente pelo turista; em segundo round encontram-se os gastos efetuados pelas
empresas turísticas e, finalmente, o terceiro round refere-se aos beneficiários finais, ou
seja, aos diversos prestadores de serviços que se integram na atividade turística.
No Brasil, outro estudo dessa natureza, a matriz de produtos encomendada
pela Embratur – Instituto Brasileiro de Turismo, ao IBGE - Instituto Brasileiro de
33
Geografia e Estatística, revelou que “[...] o turismo tem impacto direto sobre 52 itens da
economia de um município” (CARVALHO, 1998, p. 27).
Em comum, tanto a matriz apresentada por Inskeep (1991, op.cit. p. 388 )
quanto a apresentada pela Embratur/IBGE apontam para 52 beneficiários finais na
economia de um destino turístico.
A figura 2, a seguir, apresenta a matriz elaborada por Inskeep:
FLUXO DO GASTO DO TURISTA NA ECONOMIA - EFEITO MULTIPLICADOR
Turistas gastam com: Empresas Turísticas gastam com: Beneficiários finais
Evasão por importações
Açougueiros Arquitetos Arrumadeiras Artesanatos(lojistas e artesãos) Auxiliares Administrativos Bancários Bilheteiros Carpinteiros Carros de aluguel Cinemas Clínicas Concessionários de serviços públicos Confeiteiros Contadores Cozinheiros Dentistas Despachantes Diaristas Editores e gráficas Eletricistas e encanadores Engenheiros Estabelecimentos atacadistas Fábricas de automóveis Fazendeiros Governo Hortaliceiros Instituições de caridade Instituições de ensino Jardineiros Lavanderias Lojas Lojas de Departamentos Lojas de móveis Lojas de presentes Lojas de roupas Médicos Meios de Transporte Oficinas mecânicas Organizações culturais Padeiros Pescadores Pintores Porteiros Postos de gasolina Publicitários Químicos Resorts Restaurantes Seguradoras Serviços de praia Táxis Trabalhadores da Indústria
Salários e remunerações Gorjetas e cortesias Impostos Comissões Atrações e direitos autorais Gastos administrativos e gerais Serviços profissionais Compra de alimentos e bebidas Compra de materiais e suprimentos Manutenção Propaganda, publicidade e promoções Energia, água e gás Transporte Licenças Prêmios de Seguros Aluguéis e Arrendamentos Juros e amortizações de empréstimos Outras taxas Remuneração e reposição do capital
Acomodação Alimentação Bebida Entretenimento Vestuário Presentes e souvenirs Fotografias Cuidados pessoais, remédios e cosméticos Transporte interno Passeios e opcionais Diversos serviços e utilidades
35
Retornando ao modelo de Leiper, referenciado anteriormente, considera-se o
turista como o principal ator do processo turístico, condicionando os demais elementos
aos seus interesses e expectativas. Por isso, é importante destacar que esses turistas
se caracterizam em grupos heterogêneos, em termos de personalidades, origens e
experiências. Existem várias maneiras de classificá-los, das quais as mais utilizadas
são:
Pela natureza da viagem:
o doméstica e internacional
Pelo motivo da viagem:
o lazer e recreação – incluindo férias, turismo cultural e esportivo e visita a
parentes e amigos
o assuntos profissionais – incluindo negócios, encontros, congressos,
missões e turismo de incentivo
o outros – incluindo estudos, saúde, religião, etc.
Pelo segmento de turismo:
o ecoturismo, náutico, sol e praia, rural, cultural, esportivo, dentre outros
Pelo tipo de acomodação:
o fluxo hoteleiro e extra-hoteleiro
Todas as categorias acima se constituem em importantes indicativos, não
somente para fins estatísticos, como também são ferramentas auxiliares ao marketing e
ao planejamento dos negócios diretos e indiretos do turismo. O conhecimento e a
categorização do movimento turístico fornece também subsídios aos estudos e
pesquisas em turismo, um campo de investigação cada vez mais amplo e
especializado.
36
A acumulação desses conhecimentos sobre a atividade turística e suas
repercussões tem feito surgir um conjunto de referenciais teóricos, sendo uma parte
importada de outras ciências e outra sistematizada dos conhecimentos empíricos do
próprio setor. Por isso, surge a necessidade de recorrer a diversas áreas das ciências e
do conhecimento (geografia, economia, psicologia, sociologia, antropologia,
biologia,dentre outros) para, de forma transdisciplinar4, entender e organizar o que se
constitui, no presente, a atividade econômica que mais gera receitas por exportações
no Planeta, segundo declara a OMT5.
A título de ilustração, vale a pena mencionar a contribuição aos estudos da
localização do turismo e sua importância econômica, resgatada por Mello e Silva (1996,
p. 123-127), com base na Teoria das Localidades Centrais, do geógrafo alemão Walter
Christaller (1933), que propõe a análise do lugar ocupado por qualquer tipo e atividade
econômica. Mello e Silva (1996, op.cit. p. 26) ressalta que apenas o turismo se
relaciona com a periferia das áreas densamente povoadas, pois evita os lugares
centrais e as aglomerações industriais, sendo, portanto, “uma atividade que tem forças
para combater a concentração” e “um meio para se atingir o desenvolvimento
econômico em regiões periféricas”.
Ao justificar a sub-divisão da Geografia do Turismo, segundo a localização, Mello
e Silva confirma a sua preferência pela perspectiva espacial, em vez de setorial. “Os
fatores locacionais são: atrações do clima e paisagem, possibilidades para a prática de
esportes, fontes com qualidades terapêuticas, tesouros artísticos e antiguidades,
perspectivas históricas e culturais, especialidades econômicas e peculiaridades”
(CHRISTALLER, apud MELLO E SILVA, 1996 p. 124).
4 Transdisciplinaridade diz respeito ao que está, ao mesmo tempo, entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além de qualquer disciplina (NICOLESCU, 2000, p.15). 5 A OMT - Organização Mundial de Turismo compara as receitas por exportações no mundo, em 1998, e afirma que o turismo foi responsável por pouco mais de US$ 550 bilhões, seguido pela industria automobilística com US$ 547 bilhões e produtos químicos com US$ 520 bilhões. Dados apresentados durante a Conferencia Preparatória para el Aňo Internacional Del Ecoturismo, 2002, Cuiabá, 22-24 ago. 2001, apresentado por Carlos Gutierrez, representante regional para as Américas.
37
1.4. O Futuro do Turismo
O turismo, por ser uma atividade que atua diretamente sobre o ambiente natural
e cultural das localidades receptoras, produz uma série de impactos, não somente
positivos, mas também negativos. Durante muito tempo, os estudos sobre turismo
ocupavam-se em relatar apenas os aspectos positivos da atividade, mas, com o passar
do tempo e o seu crescimento acelerado nos últimos 50 anos, começaram a se
observar conseqüências negativas, tanto nos aspectos sócio-culturais quanto
ambientais e econômicos.
Observam-se dois aspectos peculiares relacionados aos impactos negativos
decorrentes do turismo: a) esses impactos são, geralmente, resultantes de um processo
de mudança que se observa ao longo do tempo, e raramente, resultam de eventos
pontuais ou de uma causa específica. São cumulativos e, muitas vezes, difíceis de
serem atribuídos diretamente ao turismo, e; b) a ocorrência desses impactos, tanto em
intensidade, quanto em causas específicas, está diretamente relacionada às
características sócio-ambientais locais, sendo mais difícil uma previsão. Às vezes, o
mesmo tipo de atividade turística provoca conseqüências diferentes, de acordo com as
condições locais (RUSCHMANN, 1997, p. 34).
Acredita-se que o desenvolvimento do turismo em bases planejadas, contando
com os devidos mecanismos de controle e monitoramento, poderá alcançar a redução
dos seus impactos negativos. Em março de 1990, durante a conferência Globo’90, em
Vancouver – Canadá, o Comitê de Ação Estratégica para o Turismo estabeleceu alguns
princípios e conceitos sobre o turismo e o desenvolvimento sustentável. Os três
princípios do desenvolvimento sustentável são:
A sustentabilidade ecológica, que assegura que o desenvolvimento
seja compatível com a manutenção dos processos ecológicos vitais,
garantindo a diversidade dos recursos biológicos;
38
A sustentabilidade sócio-cultural, que garante que o desenvolvimento
aumenta o controle das pessoas sobre suas vidas, compatibilizando a
cultura e os valores das comunidades, mantendo e fortalecendo a
identidade local; e
A sustentabilidade econômica, que assegura que o desenvolvimento é
economicamente eficiente e os recursos são geridos adequadamente.
Para estabelecimento do conceito sobre desenvolvimento sustentável do
turismo, o comitê da Globo’90 tomou como base os princípios emitidos pela Comissão
Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Our Common Future (1987),
contido no Bruntland Report, evoluindo para o seguinte texto:
O Desenvolvimento Sustentável do Turismo é concebido como o principal meio
de gestão de todos os recursos de tal maneira que podemos atender às
necessidades econômicas, sociais e estéticas, mantendo ao mesmo tempo a
integridade cultural, os processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica
e os sistemas de suporte da vida. (GLOBE’90 apud INSKEEP,1991, p.459-467)
Devido às características de fragmentação e multisetorialidade inerentes ao
turismo, observa-se como de vital importância para o seu desenvolvimento de forma
sustentável a ação proativa do poder público, na definição de políticas gerais,
mecanismos regulatórios, controle ambiental, além da provisão da infra-estrutura
básica, que atende primeiramente às populações residentes e também a outras
atividades produtivas. Na opinião de Cooper et al. (1996, p. 145), em regra geral,
quanto maior é a importância do turismo para a economia de um país ou região, maior
será o envolvimento do setor público. Ruschmann (1997, p. 155) também registra que é
“histórica” a vinculação do êxito do turismo com a ação de liderança exercida pelo
Estado.
Segundo Mendonça et al. (2000, p. 47), os desafios e tendências que se
apresentam para o futuro da atividade turística apontam para mudanças profundas,
tanto no perfil do consumidor, nas características do produto, como também no
39
mercado em nível mundial. Pelos prognósticos efetuados por Cooper et al. (1996, p.
265-271), destacam-se:
O “novo” consumidor de turismo está melhor informado, podendo discernir
sobre seus interesses, procurando qualidade e participação. Tem
aumentado muito o grupo de idade mais avançada. Está deixando de
preferir as férias passivas sob o sol e buscando experiências que o
enriqueçam culturalmente e satisfaçam sua curiosidade.
→
→
→
→
→
→
O “novo” turista é caracterizado como mais experiente e mais sofisticado,
demandando mais serviços. Isto significa que as tradicionais férias anuais
da família, no resort de praia, serão gradualmente substituídas por viagens
inovativas, com programações personalizadas. Assim, o pacote turístico
padrão perderá espaço para o plano individual de viagens.
Em todo o mundo, cresce a tendência pelos transportes turísticos de
superfície (trens ultra-rápidos e automóveis mais confortáveis), com auto-
estradas mais seguras, além de catamarans, reduzindo o tempo das
jornadas por via marítima.
A oferta turística terá que ser mais profissionalizada, em aspectos de
instalações e de qualificação da mão-de-obra. A qualidade dos serviços
prestados será uma vantagem competitiva para as empresas que investirem
no capital humano, pois isto é o que deverá "fazer a diferença”.
O avanço tecnológico promoverá o estreitamento de relações entre as
empresas de turismo e seus consumidores, criando base de dados e
mecanismos de marketing de relacionamento.
O desenvolvimento do turismo em bases sustentáveis, e ambientalmente
adequado, substituirá gradualmente o turismo massivo e agressivo ao meio
ambiente.
40
Essas perspectivas e tendências apontam ainda para um aumento da
complexidade da atividade turística, o que impõe a necessidade de se buscar novos
modelos organizacionais, tanto para atender às novas demandas dessa atividade,
como também para auxiliar nos processos de planejamento e monitoramento impostos
pelos novos paradigmas do desenvolvimento sustentável do turismo.
1.5. O Turismo na Bahia
Na Bahia, as primeiras iniciativas em favor do desenvolvimento do turismo
foram tomadas pela Prefeitura Municipal de Salvador, nos primeiros anos da década de
50, com a criação da taxa municipal de turismo (1951), do Conselho de Turismo de
Salvador e de uma Diretoria Municipal de Turismo que, posteriormente, passou a ser
Superintendência de Turismo de Salvador - SUTURSA, desenvolvendo, nessa mesma
época, um plano municipal de turismo (GAUDENZI, 2001, p. 78).
Posteriormente, já em meados da década de 60, o Governo do Estado criou um
departamento de turismo com a missão de elaborar um plano de fomento ao turismo e
administrar as estâncias hidrominerais do Estado. Dois anos mais tarde, em 1968, é
criada a Bahiatursa – Hotéis de Turismo da Bahia S.A., com o objetivo de construir e
administrar os hotéis pertencentes ao Estado (Cipó, Itaparica, Juazeiro e Barreiras). Em
1971, os assuntos relativos ao turismo passam a integrar a Secretaria da Indústria e
Comércio, “numa demonstração clara da importância econômica conferida à atividade
turística” por parte do Governo do Estado da Bahia, segundo Gaudenzi (2001, op. cit. p.
79).
Em 1973, a Bahiatursa passa a denominar-se Empresa de Turismo da Bahia
S.A., assumindo a implementação da política estadual de turismo, que envolvia ações
de interiorização do turismo, capacitação de mão-de-obra, promoção do produto Bahia
nos mercados emissores nacionais e internacionais, atendimento empresarial de apoio
a novos empreendimentos turísticos, além da construção, através de sua subsidiária
41
EMTUR, de meios de hospedagem em localidades estratégicas para o desenvolvimento
de novos destinos turísticos, a exemplo de Lençóis, Valença, Jacobina, Cachoeira,
Prado, Camamu, dentre outros. Em meados da década de 80, a Bahia já recebia 2,1
milhões de turistas, distribuídos nos diversos destinos, dos quais Salvador representava
cerca de 65% do fluxo global, segundo dados registrados pela Bahiatursa.
Segundo Gaudenzi (2001, op. cit. p. 79-109), ao longo dessa trajetória de
desenvolvimento da atividade turística, a Bahia definiu quatro grandes estratégias: na
primeira, denominada Plano de Turismo do Recôncavo (1970), foram traçadas as
bases para o desenvolvimento do turismo em Salvador e no seu entorno; na segunda,
denominada Caminhos da Bahia (1979), adotou-se como estratégia a
descentralização do espaço turístico do Estado, reforçando e criando novos destinos e
produtos, através da ação de construção de meios de hospedagem, promoção turística
e capacitação de recursos humanos.
A terceira estratégia, denominada Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia – PRODETUR /BA, o Estado distancia-se mais da atividade empresarial do
turismo, passando a assumir o papel de indutor desta atividade, provendo a infra-
estrutura pública necessária, liderando as ações de marketing e atuando na
capacitação dos recursos humanos para o turismo. Em 1991, o Governo da Bahia,
através da BAHIATURSA, contratou consultorias especializadas, que, após amplo
levantamento de todos os atrativos existentes no Estado, identificaram e mapearam as
melhores localizações para implantação de Centros Turísticos Integrados.
Considerando a grande dimensão territorial do Estado e sua enorme vocação para o
turismo, foram criadas, então, sete zonas prioritárias, dando-lhes a denominação
característica da sua identidade física e temática. São elas: Costa dos Coqueiros, Baía
de Todos os Santos - incluindo Salvador, Costa do Dendê, Costa do Cacau, Costa do
Descobrimento, Costa das Baleias e Chapada Diamantina (MENDONÇA et al., 2000, p.
57).
O estabelecimento das zonas turísticas deveu-se à constatação da qualidade
dos atrativos turísticos, a existência de um produto turístico já conhecido e colocado à
venda pelos operadores turísticos, além de recursos naturais preservados, com áreas
42
disponíveis para implantação de complexos turísticos e a capacidade de implantação
de infra-estrutura receptiva, sem prejuízos aos recursos naturais e ao meio ambiente.
Em pesquisa realizada com operadores turísticos nos principais mercados emissores
nacionais e internacionais, identificou-se que os produtos com maior demanda potencial
seriam aqueles que possuíssem algumas características próprias, tais como: países
exóticos, culturas diferenciadas, ambientes ecologicamente preservados e locais de
praia e sol. (BAHIATURSA, 1992, p. 36-74)
A preferência da maioria dos operadores pesquisados era de que estes itens
estivessem concentrados em um mesmo local, ou seja, destinos turísticos integrados, o
que justificaria então a concepção desses centros pelo governo. Deveriam também
estar localizados à curta distância de aeroportos com capacidade de operação com
jatos, conforme exigências para o incremento do fluxo de turistas, sobretudo
internacionais. Identificou-se, ainda, a necessidade da implantação de um programa
arrojado de promoção mercadológica dos produtos desenvolvidos, aliado à procura por
acordos com companhias aéreas e operadores de vôos charter, visando a inclusão da
Bahia em suas rotas, além da obtenção de tarifas aéreas mais atrativas.
O documento final do PRODETUR-BA foi concluído em Dezembro de 1992,
contendo as bases da estratégia para o desenvolvimento do turismo no Estado.
Concluída esta fase preliminar, iniciaram-se as gestões na identificação de recursos
financeiros para sua implementação. Apresentou-se também Carta-Consulta ao Banco
Interamericano de Desenvolvimento – BID, na qual o Governo do Estado, juntamente
com os outros oito estados do Nordeste, pleiteavam um financiamento de longo prazo
para investimentos em infra-estrutura pública em localidades pré-selecionadas.
O PRODETUR/BA foi concebido para 20 anos, prevendo-se uma ação
integrada entre órgãos dos poderes públicos em nível federal, estadual e municipal,
além da iniciativa privada. O Programa conta com investimentos oriundos não só dos
organismos financeiros oficiais do PRODETUR - NE, que são o BID e o Banco do
Nordeste, como também de outros, a exemplo do BNDES, EMBRATUR e,
principalmente, do Tesouro do Estado da Bahia.
43
O estudo de caso sobre o desenvolvimento do turismo no Estado da Bahia,
realizado por Mello e Silva (1996, p. 129-140), tomou como base os princípios da
geografia econômica sobre “centralidade e periferização”. Segundo o autor, a Bahia é
um exemplo típico da expansão do turismo no sentido centro – periferia, capaz de
promover o crescimento local/regional em áreas desprovidas de outras alternativas
econômicas.
A quarta estratégia, que começa a se delinear no ano de 2000 e convive em
paralelo com a terceira, é denominada Cluster do Entretenimento da Bahia – A Bahia no século XXI, e é uma iniciativa liderada pelo Governo do Estado, que propõe a
integração dos setores empresariais do turismo, da cultura, do lazer e dos esportes,
para, em conjunto com o Governo, alcançar novos patamares competitivos para o
produto Bahia.
Acredita-se que esta quarta estratégia dependerá muito mais da iniciativa
privada do que, propriamente, de uma decisão de governo, pois a criação de clusters,
normalmente, é lastreada em decisões empresariais. Entretanto, o governo já vinha
adotando algumas iniciativas dentro do PRODETUR / BA, no sentido de criar um
ambiente favorável à estruturação integrada do setor empresarial da cultura e do
turismo, aproximando esses dois segmentos com a criação, em 1995, da Secretaria da
Cultura e Turismo. Esses dois setores se apresentam em franca expansão no Estado,
devido, principalmente, às características culturais da Bahia.
O turismo, nos moldes vivenciados pelo Estado da Bahia, pode também ser
tomado como exemplo de estratégia de desenvolvimento, adotada por destinos
turísticos, nessas três últimas décadas. As correntes de desenvolvimento regional,
apresentadas no capítulo 2, a seguir, explicam as diferentes tendências e modelos
adotados ultimamente nos diversos setores de atividade, tanto nos países
desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento.
44
2. OS MODELOS MULTIORGANIZACIONAIS
2.1. Desenvolvimento Regional: nova ótica
O desenvolvimento regional pode ser apresentado em duas correntes
principais, de acordo com suas origens e processos de instalação. A primeira está
relacionada ao planejamento centralizado de um Estado Nacional, também entendido
como desenvolvimento “de cima para baixo”. A história econômica associa essa
corrente aos grandes projetos estruturantes (a exemplo dos complexos industriais), que
foram concebidos a partir de uma política voltada para a produção nacional. Nessa
linha de pensamento, Almeida (2001, p. 15) cita Perroux, que define desenvolvimento
econômico da seguinte forma:
[...] a mudança estrutural provocada no espaço econômico pela expansão destes
núcleos de indústrias dinâmicas Os pólos de crescimento industrial iniciariam o
processo que seria, em seguida, difundido ao resto da economia por efeitos
multiplicadores e aglomeração sobre o investimento, a renda e o emprego,
incluindo a multiplicação de pequenas empresas.
A segunda corrente, também conhecida como desenvolvimento endógeno, ou
ainda desenvolvimento local, propõe um movimento “de baixo para cima” e, mesmo nos
dias atuais, é caracterizada como forma alternativa de desenvolvimento. É estabelecida
a partir do sistema produtivo local, aproveitando as suas potencialidades sócio-
econômicas intrínsecas. A esta, se vinculam vários conceitos que serão apresentados
45
no decorrer deste trabalho. Bacelar (2000) argumenta que o desenvolvimento local é
resultante da capacidade dos atores locais se estruturarem e se mobilizarem, tendo
como base não somente suas potencialidades, mas também sua matriz cultural. Nas
palavras de Amaral Filho (1999, p. 1.282), “desenvolvimento endógeno” pode ser
entendido como:
[...]um processo de crescimento econômico implicando uma contínua ampliação
da capacidade de agregação de valor sobre a produção bem como da
capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do
excedente econômico gerado na economia local, e/ou a atração de excedentes
provenientes de outras regiões. Este processo tem como resultado a ampliação
do emprego, do produto e da renda local ou da região mais ou menos definido
dentro de um modelo específico de desenvolvimento regional.
A partir do final da década de 80, tem-se acrescentado ao desenvolvimento
regional a noção de sustentabilidade, considerando–se, além dos fatores sócio-
econômicos, a preocupação sócio-ambiental. Buarque (1996, p.8) assim conceitua
desenvolvimento sustentável, tomando como referência o Relatório Bruntland, da
Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Our Common Future
(1987):
[...] processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade,
compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência
econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social,
partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre
gerações.
Loiola (2001, p. 6) chama atenção para o novo contexto das relações entre
economia, sociedade e meio ambiente, no qual a eficiência econômica, a qualidade de
vida e a equidade social começam a experimentar iniciativas mais equilibradas, embora
ainda esteja muito claro que resultados mais efetivos somente serão viabilizados no
longo prazo. Além disso, permanecem algumas situações de conflito de interesses
entre diferentes atores sociais e entre objetivos de curto e longo prazo.
46
Outro aspecto importante em relação ao desenvolvimento regional diz respeito
à relação entre espaço geográfico e concentração de empresas. O item 2.2, a seguir,
procura apresentar algumas características e conceitos já consagrados na literatura.
2.2. Aglomerados de Empresas e Desenvolvimento Regional
Embora vários estudiosos da teoria econômica e da geografia tenham tratado
das diversas formas de aglomerados de empresas, considera-se como marco inicial os
estudos de Alfred Marshall, em Principles of Economics (1890), no qual ele incluiu um
capítulo inteiro sobre as externalidades das localizações industriais especializadas
(PORTER, 1999, p. 218).
Nos estudos sobre ganhos de produtividade que resultariam no aumento da
escala de produção, o autor denominou de “economias internas e externas”. Por
“economias internas” Marshall entendia que eram aquelas ocorridas no interior de uma
firma, seja em função do aumento da escala de produção ou da melhoria da
organização ou administração. Em contraponto, as “economias externas” seriam
advindas do crescimento geral do setor, importando menos o tamanho das firmas e
mais a localização delas, ou seja, a concentração de muitas empresas de um mesmo
setor, fossem pequenas e / ou grandes. Dentre os fatores determinantes para a
aglomeração estavam a presença de condições naturais como a disponibilidade de
matéria prima, energia e facilidades de transportes, além da existência de demanda na
região. Os benefícios oriundos da concentração poderiam ser identificados através dos
avanços na especialização e divisão do trabalho, ganhos técnicos e organizacionais
resultantes da tecnologia da informação, do compartilhamento de máquinas
especializadas de alto valor de investimento, além da criação de um mercado
consistente de mão-de-obra especializada ao alcance das firmas (IGLIORI, 2001, p. 27-
29).
47
Em 1991, Krugman traz de volta na sua obra Geography and Trade os três
fatores de externalidades marshallianas: a) concentração do mercado de trabalho; b)
oferta de insumos intermediários, e c) externalidades tecnológicas, como
preponderantes para explicar o fenômeno da localização industrial. Krugman
acrescenta a esses fatores o papel dos antecedentes históricos no desenvolvimento
regional (AMARAL FILHO, 1999, p. 1.284).
Nessa mesma época, os economistas das correntes evolucionista e
institucionalista (Becattini, Pyke, Sengenberger, Schmitz, dentre outros) também
recuperam a visão de Marshall sobre externalidades dinâmicas, dando maior ênfase ao
papel dos agentes locais no processo econômico. Em comum, fica evidente a
importância do local, seja através de seus atores ou de seus antecedentes históricos,
no modelo de desenvolvimento regional. Entretanto, os evolucionistas e
institucionalistas adotaram uma abordagem mais abrangente do que a visão
marshalliana, a exemplo de Hirschman (1958), considerado “holístico, sistêmico e
evolutivo” pelo fato de levar em consideração a estreita relação entre os elementos do
sistema econômico e o contexto social e político (AMARAL FILHO, 1999, p. 1.284).
Na opinião de Amaral Filho (1999, p. 1.286), através deste conceito de
desenvolvimento endógeno, estruturado a partir das potencialidades sócio-econômicas
locais, ou seja, “de baixo para cima”, atinge-se “coerência interna, aderência ao local e
sintonia com o movimento mundial dos fatores”.
Concordando com Loiola (2001, p. 5), é possível afirmar que existe uma relação
muito estreita e recíproca entre o desenvolvimento local e as condições de
competitividade do setor empresarial. Se, por um lado, as empresas mais competitivas
emergem ou são atraídas para locais que apresentam melhor padrão de vida, por outro
lado, essas mesmas empresas alavancam o desenvolvimento dessas regiões,
fortalecendo o capital social6 local.
6 Capital Social significa “o conjunto de características da organização social, que englobam as redes de relações, normas de comportamento, valores, confiança, obrigações e canais de informação. A existência de capital social torna possível a tomada de decisões e ações colaborativas que resultem em beneficio para a comunidade” (PUTMAN, 1993, apud SOUZA FILHO, 2001).
48
Outra relação de fortalecimento do desenvolvimento local e/ou regional se dá
quando este se associa ao planejamento centralizado. Políticas centrais de
investimento em infra-estrutura são importantes para economias regionais ou locais,
pois criam condições para a implantação do capital privado, embora essas últimas, por
si só, não sejam suficientes para gerar a dinamização da economia regional. As ações
e estratégias de desenvolvimento integrado, que se apresentam no modelos de “pólos
de crescimento”, dos “distritos industriais”, dos “milieux innovateurs” (ambientes
inovadores ou entornos inovadores)” e no modelo de “cluster” têm se apresentado
como importantes e alavancadoras do desenvolvimento regional (AMARAL FILHO,
1999, p. 1.289).
Esses conceitos, apresentados a seguir, representam importantes contribuições
aos estudos econômicos e organizacionais, tendo despertado a atenção de muitos
pesquisadores e estudiosos. Parte da teoria produzida será aqui comentada, com o
intuito de introduzir e embasar a apresentação dos modelos multiorganizacionais,
sobretudo o modelo de clusters. Cabe ressaltar que existem diversos aspectos muito
semelhantes entre esses conceitos, podendo-se destacar o “espaço geográfico
delimitado” como aquele que aparece em condição de fator de base a todos.
Pólos de Crescimento
Este conceito surgiu a partir da teoria de desenvolvimento regional de Perroux
(1955), geralmente constituído por “firmas ou setores motrizes” e muito associado ao
planejamento centralizado. Foi complementado com as idéias de “concatenação para
frente e para trás” (forward and backward linkages) de Hirschman (1958) e os “efeitos
cumulativos de causação circular progressivo” de Myrdal (1957) (ver ALMEIDA, 2001, p.
14; e, AMARAL FILHO, 1999, p. 1.289).
Almeida (2001, p. 15) argumenta que a versão de “pólos”, presente nos anos 70
e 80, era baseada em grandes “pacotes” de investimentos em indústrias pesadas, dos
quais se poderia esperar os “efeitos multiplicadores” referidos por Perroux. Chama
49
atenção para a “vulgarização” do conceito, atualmente, quando é aplicado para
indústrias leves de bens finais, “dispersas” e com pouco “poder de impulsão”.
Ressalta-se ainda a utilização tardia da terminologia de “pólos” adotada pelo
Governo Federal e pelo Banco do Nordeste, nos finais dos anos 90 e começo deste
século, para estabelecer áreas de desenvolvimento nos Estados do Nordeste Brasileiro,
nos setores de turismo e grãos, a exemplo dos Pólos de Desenvolvimento do Turismo,
integrantes do PRODETUR/NE. O que se tem observado, nesse último caso, é uma
tentativa de definir áreas capazes de serem alavancadas por “setores motrizes”, como o
turismo. Contudo, esses “pólos tardios”, embora tentem expressar, na sua filosofia de
implantação, os princípios de desenvolvimento local, ainda guardam uma contradição
no seu processo de criação, porque adotam uma perspectiva centralizada de
desenvolvimento.
A definição de “pólos de turismo”, adotada pelo Banco do Nordeste e pelo Banco
Interamericano de Desenvolvimento – BID, no âmbito do PRODETUR/NE, é a seguinte:
“um grupo de municípios contíguos que têm recursos turísticos complementares e que
concordam em desenvolver suas capacidades de gerenciamento dos fluxos turísticos”
(PRODETUR/NE II, 2001, p. 2). Um segundo conceito de “pólo” também foi
apresentado nesse mesmo documento: “Um conjunto de municípios não contíguos que
trabalham como um circuito de atrativos complementares que formam um roteiro
visitado durante um período durante três o[u] mais dias”.
Ao analisar esses conceitos, é possível observar que o fator espaço geográfico
assume um papel preponderante em relação à atividade econômica. Esta última, pode-
se dizer, tematiza o referido pólo, mas o local –“conjunto de municípios contíguos” ou
“conjunto de municípios não contíguos”- parece se sobrepor à “atividade motriz”,
referida por Perroux (1955) no seu conceito de pólo. A transposição da concepção
tradicional de “pólos” para os dias atuais parece apresentar outra fragilidade, sobretudo
quando se compara aos novos paradigmas de “desenvolvimento regional endógeno”,
como denominam alguns autores ou “desenvolvimento local”, para outros.
50
Distritos Industriais
Os distritos industriais surgiram entre as décadas de 50 e 60 na Europa,
contendo as principais características das concentrações de empresas registradas por
Marshall (1920) e apresentadas anteriormente neste trabalho. Segundo Pike, Becattini
e Sengenberger (1990) há sempre controvérsia quando se define distrito industrial.
Para eles, “é um sistema produtivo local, caracterizado por um grande número de firmas
que são envolvidas em vários estágios, e em várias vias, na produção de um produto
homogêneo”, (ver AMARAL FILHO, 1999, p. 1.290 e IGLIORI, 2001, p. 88-90).
Na concepção de Humphrey & Schmitz (1995, p. 8), um distrito industrial emerge
quando se desenvolve entre firmas, mais do que uma divisão de trabalho especializado.
Surgem formas, implícitas e explícitas, de colaboração entre agentes econômicos
locais, aumentando a produção local e, algumas vezes, a capacidade de inovação.
Amaral Filho (1999, op.cit., p. 1290) refere-se a outras características
apresentadas por Pike, Becattini e Sengenberger, as quais indicam que os distritos
industriais são concebidos como um conjunto econômico e social, estruturado em redes
de produção flexíveis, formados na sua maioria por empresas de pequeno e médio
porte, que estabelecem relações horizontais, combinando capacidade de inovação e
adaptação para satisfazer à demanda. Forma-se uma “interdependência orgânica entre
as empresas, de tal maneira, que são capazes de alcançar economias de escala,
podendo competir com grandes corporações”. Devido ao grau de integração alcançado
entre as empresas e delas com o ambiente social e cultural local, esses distritos
industriais beneficiam-se de externalidades formais e informais. Diversos exemplos são
encontrados no norte e nordeste da Itália, a chamada Terceira Itália e no sul da
Alemanha, em Baden-Wűrttemberg.
Milieux Innovateurs
Esse conceito, segundo Lawson (1997), foi desenvolvido inicialmente por Aydalot
(1986), que também participou de grande parte das pesquisas realizadas pelo GREMI
51
(Groupe de Recherche Européen sur les Milieux Innovateurs). A principal unidade de
análise era o espaço geográfico, e esse grupo buscava identificar que aspectos locais
influenciavam na formação de redes de relacionamento e geração de inovações.
Os “ambientes inovadores” podem ser entendidos como regiões detentoras de
sistemas produtivos locais, conectados a um conjunto de relações sociais, que
estabelece regras e aumenta a confiança entre os agentes que atuam nesse espaço,
significando tanto as relações formais como as informais. Este conceito incorpora a
noção de aprendizagem coletiva , cujos ambientes estão sujeitos a “processos
contínuos de ajustamento e transformação” (IGLIORI, 2001, p.68-73). A diferença mais
marcante entre esse conceito e o de “distritos industriais” está na ênfase dada pelos
autores do “milieux innovateurs” ao aspecto da tecnologia e das inovações. Também a
dinâmica de aprendizagem formada através de redes de inovação indica a capacidade
dos atores em adaptar-se às evoluções do ambiente externo, absorvendo novos
conhecimentos e novas tecnologias (AMARAL FILHO, 1999, p. 1.290).
Clusters
O conceito de clusters começa a ser delineado no final da década de 70, nos
estudos de Michael Porter sobre competitividade, talvez o conjunto mais completo de
reflexões sobre o assunto. Para Porter (1999b, p.211), cluster: “[...]é um agrupamento
geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas
numa determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares”.
Posteriormente, outros autores e instituições, que passaram a adotar o modelo
de clusters, assim o definiram:
→ Humphrey e Schmitz (1995, p.8): “uma concentração geográfica e setorial de
empresas. Tal concentração será beneficiada por economias externas – o
surgimento de fornecedores para matérias primas e componentes, maquinário
novo e de segunda-mão, peças de reposição, concentração de trabalhadores
com habilidades setoriais específicas, podendo também atrair agentes de vendas
52
para mercados distantes e serviços especializados de caráter técnico, financeiro
e contábil”. Em 1997, Schmitz acrescenta à sua definição de cluster: “[...] tais
clusters abrem caminhos para ganhos de eficiência, os quais , dificilmente,
empresas individuais conseguiriam. Esses ganhos estão compreendidos no
conceito de eficiência coletiva, definido como a vantagem competitiva derivada
das economias externas locais e da ação conjunta”.
→ Rosenfeld (1996): “uma aglomeração de empresas (cluster) é uma concentração
sobre um território geográfico delimitado de empresas interdependentes, ligadas
entre elas por meios ativos de transações comerciais, de diálogo e de
comunicações que se beneficiam das mesmas oportunidades e enfrentam os
mesmos problemas” (ver AMARAL FILHO, 1999, p. 1.292).
→ Os operadores do Projeto Chihuahua Siglo XXI – México (1998): “ É um grupo
econômico constituído por empresas instaladas em uma determinada região,
lideres em seus ramos, apoiado por outras que fornecem produtos e serviços,
ambas, sustentadas por organizações que oferecem profissionais qualificados,
tecnologias de ponta, recursos financeiros, ambiente propício para os negócios e
infra-estrutura física” (ver LOPES NETO, 1998, p. 14).
→ Sanjaya Lall (1998) - representante do Banco Mundial: “O cluster é uma rede de
funções conectadas; são atividades que se inter-relacionam numa cadeia
industrial de valor; é uma aglomeração geográfica de diferentes atividades” (ver
LOPES NETO, 1998, p. 16).
→ Grupo C&S (1998) - Banco Mundial: “Clusters compreendem um sistema de
relações de mercado e de fora do mercado entre firmas concentradas
geograficamente e instituições envolvidas em atividades econômicas inter-
relacionadas. Clusters nascem, não são pré-fabricados, mas o setor público e
instituições coletivas geralmente desempenham um papel-chave na sua criação
e no apoio para o fortalecimento dos mesmos” (ver LOPES NETO, 1998, p. 17).
53
O Grupo Executivo do Projeto Iniciativa pelo Nordeste: “um agrupamento de
empresas líderes que comercializam produtos e/ou serviços competitivos em
mercados estratégicos e que são abastecidas por uma rede de fornecedores de
insumos e serviços. Empresas e fornecedores, por sua vez, são apoiados por
instituições que oferecem recursos humanos capacitados, recursos financeiros,
tecnologia e infra-estrutura física” (INICIATIVA PELO NORDESTE, 1997, p. 5).
→
→
→
→
→
Altemburg e Meyer-Stamer (1999): em seus estudos sobre experiências com
clusters na América Latina, assim os definiram: “[...] é uma aglomeração
razoavelmente extensa de firmas, em uma área espacialmente delimitada, com
perfil de especialização distinto e na qual o comércio interfirmas é substancial”.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, no Projeto Cresce
Minas: “[...] um conjunto de empresas e entidades que interagem, gerando e
capturando sinergias, com potencial de atingir crescimento competitivo contínuo
superior ao de uma simples aglomeração econômica. Nele, as empresas estão
geograficamente próximas e pertencem à cadeia de valor de um setor industrial.
Essa integração das empresas gera, entre outros benefícios, redução de custos
operacionais, e dos riscos apresentados, aumento da qualidade dos produtos e
serviços, acesso à mão-de-obra mais qualificada, atração de capital, criação de
empreendedores e melhor qualidade de vida” (FIEMG, 2000, p. 16).
A Monitor Group, consultoria contratada pelo Governo da Bahia para
estabelecimento do Cluster do Entretenimento da Bahia: “Cluster é um conjunto
de empresas e entidades paralelas que estão direta e indiretamente relacionadas
à cadeia produtiva de uma indústria em uma região e envolve organizações do
setor público, privado e institucional” (MONITOR GROUP, 2001, P.33).
Igliori: após estudos sobre clusters industriais e suas origens no campo teórico, o
autor emitiu a seguinte definição: “[...] o cluster é caracterizado pela
concentração espacial e setorial de empresas, em que o desempenho dessas,
pelo menos parcialmente, é explicado pela interdependência existente entre
firmas” (IGLIORI, 2001, p. 111).
54
A tradução literal para o termo cluster é “agrupamento”, “cacho” , “ramalhete”,
etc., comunicando a idéia de conjunto interligado e próximo. A utilização desse termo
para definir um modelo de integração multiorganizacional sugere uma unidade de
propósito, em um espaço restrito, adicionado por um resultado final único. Analisando
as definições apresentadas acima, além de outras disponíveis na literatura sobre o
tema, pode-se verificar que, apesar de pequenas variações conceituais, estão
presentes essas premissas básicas, quais sejam, a concentração geográfica de um
setor produtivo, que compartilha os mesmos propósitos e almeja o alcance de
resultados coletivos.
Os próximos três capítulos apresentam os principais aspectos dos modelos
multiorganizacionais, objeto de estudo deste trabalho, abordando-se, primeiramente,
cadeia produtiva e sua aplicação no turismo, seguido de clusters e, por último, as redes
interorganizacionais, mantendo-se a mesma ótica de correlação com o turismo.
55
3. PRIMEIRO MODELO – CONCEITUANDO E ENTENDENDO CADEIA PRODUTIVA
No capítulo anterior foram apresentados aspectos do desenvolvimento regional e
suas interfaces com os diversos tipos de aglomerados de empresas. A partir deste
capítulo passa-se a considerar como foco de estudo as relações organizacionais
estabelecidas interfirmas e os resultados decorrentes, dentre os quais destacam-se os
ganhos de produtividade e competitividade das empresas, o fortalecimento de setores
produtivos e o aumento da cooperação.
Este capítulo pretende primeiramente conceituar e entender o modelo de cadeia
produtiva e depois analisar se o mesmo se aplica ao setor de turismo.
3.1. Caracterização Geral
Nas palavras de Porter (1991, p. 33-44) a cadeia de valores pode ser entendida
como “[...] um sistema de atividades interdependentes,[...] uma reunião de atividades
que são executadas para projetar, produzir, comercializar, entregar, e sustentar seu
produto”. Ela ocorre tanto no âmbito da empresa como no âmbito de um setor,
representada por um conjunto de empresas. A idéia de cadeia de valor (value chain)
proposta por Porter7 (1991, p. 31) pretende ser “uma forma sistemática para exame de
7 Apesar da existência de outras correntes da teoria sobre cadeia de valor, nas quais seus autores propõem enfoques diferenciados, para efeito deste trabalho fizemos a opção por adotar o modelo concebido por Michael Porter.
56
todas as atividades executadas por uma empresa e a forma como elas interagem e
criam, em maior ou menor grau, as vantagens competitivas”. Ao ampliar este conceito
para fora da empresa, o autor também descreve o sistema de valores, que corresponde
à integração da cadeia de valores de uma empresa em uma corrente maior de
atividades que criam valores a caminho do comprador.
O resultado final para a diferenciação é obtido através do desempenho desta
empresa e de seu produto na cadeia de valores do comprador. Finalmente, a
sustentação de uma vantagem competitiva depende não somente da cadeia de valores
da empresa, mas também do papel que esta empresa representa no sistema de valores
geral. Porter (op.cit., p. 52) ainda acrescenta que “a ampliação ou estreitamento de
mercados geográficos também pode afetar a vantagem competitiva”. Através de
coalizões, que são alianças com outras empresas, sem haver fusão total, pode-se
compartilhar cadeia de valores, ampliando a integração e a produção dessas vantagens
competitivas, que são sempre diferenciadas se comparadas com as dos seus
concorrentes.
Porter (1991, p.1-23) argumenta que a vantagem competitiva de uma empresa
surge a partir do valor que esta consegue criar para seus compradores e que ultrapassa
seus custos de produção. Sendo “valor” a quantia em moeda que os compradores
estão dispostos a pagar por um produto ou serviço, o autor considera como “valor
superior” a oferta de preços quando mais baixa do que a concorrência, para similares,
ou o fornecimento de benefícios superiores, pelos quais os consumidores julgam-se
dispostos a pagar mais. As vantagens competitivas básicas são de dois tipos: “liderança
por custo” e “diferenciação”.
Segundo o autor, as inter-relações entre empresas se constituem no principal
meio para criação de valor. Chama atenção ainda para o fato de que isto se aplica para
empresas de qualquer porte, setor ou âmbito de atuação, e apresenta as cinco forças
competitivas: a) a entrada de novos concorrentes; b) a ameaça de substitutos; c) o
poder de negociação dos compradores; d) o poder de negociação dos fornecedores, e
e) a rivalidade entre os concorrentes existentes. Com base nesse modelo, a
57
rentabilidade de uma empresa depende dessas cinco forças, que indicam os níveis de
preços, custos e investimentos necessários.
Outro aspecto relevante na teoria da competitividade é a necessidade que toda
empresa tem de se posicionar dentro do seu ramo de atividade. O desejável é que se
tenha como meta o posicionamento competitivo sempre acima da média das empresas
correlatas, cujas vantagens obtidas a partir desse patamar são consideradas
sustentáveis, a longo prazo. Porter, (1991, p. 44), argumenta que uma cadeia de
valores não é um coleção de atividades independentes, mas se constitui em um
conjunto de elos “encadeados”. Esses elos são estabelecidos com objetivos definidos e,
geralmente, refletem razões de otimização e coordenação.
A importância em estabelecer e administrar esses elos requer a utilização de
tecnologia da informação, que se torna vital para obtenção de vantagens competitivas.
A reciprocidade entre empresas que estabelecem elos resulta em ganhos de
competitividade para ambas, refletindo também no fortalecimento do setor e no
resultado final do produto ou serviço prestado.
Outro especialista em estratégia, Adrian Slywotzky (2001, p. 23-41) contra-
argumenta que as cadeias de valor já não são mais tão estáveis quanto antes e propõe
quatro padrões básicos de transformação, quais sejam: a) desintegração – são cadeias
que se rompem por diversas razões, a exemplo do aumento das terceirizações ou
mudanças nas condições do mercado e vem atingindo quase todos os setores de
atividade; b) pressão sobre a cadeia de valor – o aumento da força de alguns elos pode
causar alterações no padrão geral da cadeia; para superação sugere-se que as
empresas melhorem seus rendimentos e estimulem a entrada de novos participantes; c)
força para o elo mais fraco – com freqüência ocorrem elos mais fracos em uma cadeia e
as medidas que se têm tomado são para os parceiros mais fortes assumirem o controle
ou formarem associações estratégicas de reforço, e d) reintegração – mudanças
tecnológicas e financeiras, dentre outras, conduzem a rearranjos de cadeias, que são
cada vez mais freqüentes e dinâmicos.; nesse caso, o autor recomenda o
estabelecimento de contratos de parcerias, em lugar de aquisições, além da
reintegração dos elos mais importantes da cadeia.
58
Slywotzky (2001, op.cit., p. 41) adverte para “novas regras do jogo” da geração
de valor, enumerando-as: a) a importância do cliente; b) a coerência da empresa ao
definir seu alcance, incluindo a oferta de produtos e as atividades que integram a
cadeia de valor; c) um bom mecanismo para captar valor; d) um fator de diferenciação
poderoso e o controle estratégico que garanta aos investidores a continuidade do fluxo
de receitas, e e) uma organização pensada para apoiar e enfatizar o projeto do
negócio.
Observa-se em Porter (1991) uma maior preocupação com a estruturação do
modelo de cadeia de valor, para o qual desenvolveu, de forma detalhada, um conjunto
de argumentos básicos, que tem estreita correlação com a lógica de linha de montagem
do padrão industrial. A cadeia de valor, tanto interna quanto externa, reproduz a
seqüência da linha de produção, na qual o produto é transformado, em etapas, a
caminho do comprador. Pode-se dizer que a cadeia produtiva, sendo um modelo de
análise teórico, conservou alguns traços do denominado modelo fordista de produção
em massa, que buscava a redução dos custos e do tempo de produção, além da
melhoria da produtividade e da qualidade dos produtos (WOOD Jr., 1992, p. 9).
Dentre os aspectos mais relevantes deste modelo de cadeia produtiva,
destacam-se: a) a possibilidade de analisar detalhadamente a estrutura produtiva
interna das organizações, identificando suas forças competitivas individuais; b) a
capacidade de expandir este mesmo conceito para as relações entre empresas com
interesses comerciais interligados dentro de um processo produtivo, com o fim de
introduzir novos procedimentos que busquem aumentar as vantagens competitivas das
empresas e setores.
Argumentando a favor deste conceito, em entrevista recente, Norberto
Odebrecht (2001) declarou: “Precisamos valorizar o conceito de cadeias produtivas e
implantar mecanismos eficazes de cooperação, coordenação e integração no âmbito de
cada cadeia produtiva e entre elas”. Em outro trecho da mesma entrevista, o líder
empresarial, eleito pela ABRH – Associação Brasileira de Recursos Humanos como o
“Gestor de Pessoas do Século XX”, focaliza seu argumento na afirmação de que “[...] o
ideal é a prática da cooperação, tipicamente um jogo do tipo ganha-ganha”. Pode-se
59
compreender por esses argumentos que a idéia subjacente, nesse caso, é a
valorização de modelos organizacionais interfirmas que busquem a cooperação, que,
em última análise, traduz o pensamento de Schmitz (1995), por ele denominado de
“eficiência coletiva ativa” que implica a ação deliberada de cooperação.
Em contraponto, Almeida (2001, p. 16) chama atenção para “limitações” desse
modelo, a exemplo da sua pouca adaptabilidade ao setor de serviços e da manutenção
do sentido dentro da cadeia, por ele denominado “linear, unidirecional e seqüencial”,
que não reflete a “complexidade das atuais relações entre empresas e setores”. E
acrescenta suas dúvidas quanto ao uso adequado do conceito de cadeia,
principalmente porque, diante do panorama atual, “o valor se desloca para os serviços”
e as relações intra e/ou entre empresas são cada vez mais complexas.
Almeida (2001, op.cit.) ainda reforça seu argumento ao citar Norman e Ramirez
(1993 e 1994) com a proposição de substituição da cadeia de valor pelo que
denominam “constelação de valor” que, segundo eles, pode representar melhor o atual
sistema de “co-produção de valor”, no qual fornecedores, parceiros e clientes trabalham
em cooperação. Pode-se inferir, então, que os moldes fordistas de produção deixam de
ser referenciais para modelos de organização na era pós-fordista, cujos fatores tendem
a novas configurações no mercado globalizado.
Já a visão de Slywotzky, percebe-se, está muito mais direcionada para avaliar o
comportamento das organizações nesse modelo, levando em conta os fatores críticos e
o contexto atual de mercado. Ao comentar sobre instabilidades e padrões de
transformação, o autor ressalta as fragilidades da cadeia de valor e a condiciona ao
contexto de um “novo” mercado com regras adicionais, como mencionado
anteriormente. Portanto, este autor também aponta algumas vulnerabilidades que, no
seu entendimento, estão relacionadas à capacidade desse modelo continuar
representando a realidade das relações empresariais neste novo milênio.
Tais argumentos reforçam este estudo, que tem como ponto focal de interesse
a análise da aplicação do modelo de cadeias produtivas ao setor de turismo. O item a
seguir procura apresentar os estudos já desenvolvidos sobre cadeias produtivas no
60
turismo, agregando ainda, para fins comparativos, um exemplo de cadeia no setor
industrial.
3.2. A Cadeia Produtiva no Turismo
A aplicação do conceito de cadeia de valor ou cadeia produtiva para o setor de
serviços precisa levar em consideração as principais características do setor, referidas
por Kotler (2000, op.cit.) e apresentadas no capítulo 1 deste trabalho, quais sejam:
intangilbilidade, inseparabilidade, variabilidade e perecibilidade. Todas elas dificultam a
padronização de processos, bastante presente na cadeia produtiva, cujo modelo foi
inicialmente desenhado para atender a sistemas de produção industrial.
No turismo, essas características se fazem integralmente presentes,
acrescentando-se ainda outras que atribuem maior complexidade a este setor, quais
sejam: a) heterogeneidade – representada pela soma de um conjunto de produtos e
serviços bastante diversificados e de difícil padronização, pois estão vinculados aos
locais de destino turístico; b) fragmentação – sabendo-se que cada produto ou serviço,
geralmente, fica a cargo de um fornecedor. Em um pacote turístico, o transporte é
produzido e entregue pelas transportadoras, a hospedagem é prestada pelos hotéis e
correlatos, os passeios são organizados e realizados pelas agências de receptivo e os
souvenirs são comercializados pelas lojas de produtos típicos, dentre outros; c)
dispersão espacial – cada fornecedor presta seu serviço ou vende seu produto em seu
próprio espaço; d) interdependência – os diversos componentes precisam estar
interconectados de forma precisa e, na maioria das vezes, o sucesso e a qualidade
deste produto depende da boa performance de cada uma das partes. A instantaneidade
como característica também atribuída na teoria de turismo significa que este produto é
consumido no local e no momento em que é produzido, não havendo tempo ou chance
para reprocessamento ou controle de qualidade a priori. Esta última se assemelha à
61
característica de inseparabilidade referida por Kotler para o setor de serviços em geral,
já referida no capítulo 1 deste trabalho.
Por outro lado, o fato do turismo ter sido inicialmente denominado “a indústria
do lazer” ou “indústria sem chaminés”, tem levado os seus estudiosos a equipará-lo ao
setor industrial e enquadrá-lo em conceitos consagrados nesse setor, talvez na ânsia
de atribuir status a esta atividade que vem se configurando como aquela de maior
importância econômica no mundo, mas que somente nas últimas décadas, mais
precisamente após a Segunda Guerra Mundial, tem conquistado a credibilidade nos
meios econômicos. A adoção do modelo de cadeia produtiva para o turismo, verificada
principalmente a partir da segunda metade da década de noventa, surgiu também da
crescente “onda” de aplicação deste modelo para os mais diversos setores produtivos.
Embora se possa reconhecer alguns pontos favoráveis do modelo de cadeia
produtiva para o turismo, é também importante estabelecer algumas análises
comparativas com outros setores enquadrados neste mesmo modelo. Enquanto no
turismo o encadeamento de atividades se observa em determinados segmentos, a
exemplo da hotelaria, o que se verifica no conjunto geral é muito mais um agrupamento
convergente e concêntrico como se pode ver representado no diagrama proposto pelo
estudo sobre o Eixo Costeiro do Nordeste e as Necessidades e Prioridades de C&T e
de Recursos Humanos para a Competitividade e o Desenvolvimento Regional,
realizado pelo CNI/SENAI/IEL. Este estudo adota a perspectiva do turismo associado
ao conceito de “indústria”, como referido anteriormente, fazendo a transposição plena
do modelo de cadeia produtiva industrial para o turismo e a sua representação gráfica
põe em evidência a fragilidade desse modelo no turismo.
Pode-se argumentar que o modelo de cadeia produtiva mantém o enfoque na
produção de bens, controlando o processo de todos os elos que, nesse caso, são
quase que totalmente previsíveis e resultam em produtos com características similares.
No turismo mantém-se o enfoque na demanda e no consumo, e a referida
“heterogeneidade” de componentes e produtos traz alguns obstáculos ao
estabelecimento desse modelo, nos moldes convencionais. Entretanto, como referido
anteriormente, verifica-se em alguns sub-setores do turismo que existem características
62
assemelhadas à indústria, como, por exemplo, a hotelaria, cuja utilização desse modelo
pode ser apropriada.
A figura 3, a seguir, apresenta o diagrama originalmente proposto pelo estudo
da CNI/SENAI/IEL:
FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO DA “CADEIA PRODUTIVA” DO TURISMO
TURISTA
HOTELARIA
INDÚSTRIA DE ALIMENTOS E BEBIDAS
GASTRONOMIA
EVENTOS E CONFERÊNCIAS (mostras comerciais, congressos, feiras, festivais e exposições)
ATRAÇÕES CULTURAIS (museus, galerias de arte, patrimônio histórico, artesanatos)
ENTRETENIMENTO E LAZER
Tra(aéhid Tra(locaeremposofic
AGENCIAMENTO DE VIAGENS E OPERAÇÕES TURÍSTICAS
COMÉRCIO (deofiinfgu
SEGURADORAS
FONTE: CNI/SENAI/IEL, 1998.
Comparando-se o diagrama da cadeia produt
proposto pelo mesmo estudo para a cadeia da indústria
na figura 4, a seguir, pode-se observar algumas questõe
INFRA-ESTRUTURA ESPECIALIZADA (parques, jardins, reservas florestais, praias e outros sítios naturais) (parques temáticos)
INFRA-ESTRUTURA E SERVIÇOS PÚBLICOS (saneamento, energia, segurança, telecomunicações, serviços de saúde)
LOCOMOÇÃO
nsporte Externo reo, rodoviário e roviário)
nsporte Interno adoras, de veículos,
otáxis, táxis, barcações, coletivos, tos de gasolina, inas mecânicas, etc.)
MARKETING E SERVIÇOS
TURÍSTICOS partamentos turísticos ciais, centros de ormação, marketing, ias turísticos, revistas)
iva do turismo com o modelo
têxtil e vestuário, representado
s básicas.
Figura 4 - REPRESENTAÇÃO DE CADEIA TÊXTIL E VESTUÁRIO
PRODUTOS QUÍMICOS
AGRICULTURA
PECUÁRIA FIBRAS NATURAIS
BENEFICIAMENTO
FIAÇÃO (anel, rotor, jato-de-ar, fricção)
FIBRAS ARTIFICIAIS (viscose, acetato)
FIBRAS SINTÉTICAS (poliamida, poliéster,acrílico)
TECELAGEM (lançadeira, jato-de-ar, pinça, jato-de-água, projétil, cala ondulante)
MALHARIA (circular, retilínea)
COMPONENTES CONFECÇÃO (vestuário, outros)
ACABAMENTO
MÁQUINAS TÊXTEIS
MÁQUINAS ferramentas
CO M É RC I O
MÁQUINAS AGRÍCOLAS (algodão, lã, linho, rami, seda, juta)
Fonte: CNI/SENAI/IEL,1998.
A partir da observação das relações entre empresas no setor de turismo, pode-
se constatar que as mesmas ocorrem de forma menos padronizada,
estruturando-se em arranjos organizados para atender a demandas específicas
ou para a formação de produtos ou pacotes turísticos. Essas relações assumem,
em grande parte, a configuração de acordos de cooperação, diferindo assim do
formato de cadeia produtiva. Na cadeia têxtil verifica-se, ao contrário, uma
seqüência de atividades interconectadas, com relações definidas e padronizadas
que se operacionalizam numa rotina constante, tendo como referência mais
marcante o processo operacional.
Enquanto no turismo algumas empresas integrantes desta “cadeia” atuam de
forma concomitante e articulada em função do produto final ou do serviço a ser
aa
64
posto à disposição do turista, observa-se na cadeia têxtil uma maior tendência a
procedimentos seqüenciais regulares e relações interorganizações pré-
estabelecidas e mais bem definidas. Verifica-se, nesta última, a característica
mais marcante do modelo que é a sua disposição em forma de linha de
montagem, “linear, unidirecional e seqüencial” como referida por Almeida (2001,
p. 16).
As tendências mundiais do turismo apontam, cada vez mais, para uma demanda
por produtos personalizados e com alto grau de flexibilidade, segundo estudos
de cenários apresentados pela OMT. Isto impõe uma necessidade de integração
dos diversos co-produtores do turismo na busca de uma sincronia entre os
diversos “elos”, embora nem sempre se possa estabelecer o arranjo em cadeia.
Já o setor industrial têxtil, que também tem avançado no sentido da alta
especialização tecnológica, consegue melhor estabelecer seus arranjos em
disposição seqüencial, garantindo qualidade e competitividade ao produto final.
Mesmo ampliando o conceito de cadeia de valor para sistema de valor, proposto
por Porter (1991, p. 31), e admitindo que cadeias produtivas em turismo estariam
“embebidas”8 no ambiente delimitado como espaço turístico, gerando e se
beneficiando, ao mesmo tempo, das externalidades inerentes ao setor, pode-se
admitir que existem outros modelos organizacionais inter-firmas que melhor
representam a dinâmica turística. Em contraponto, essa noção de “cadeia
embebida” pode acrescentar elementos inovadores a setores industriais como o
têxtil e de confecções.
Em outro estudo sobre aplicação do conceito de cadeia produtiva no turismo,
Souza (199-?, p. 2) propõe conceituação de Cadeia Turística como “um conjunto de
empresas e dos elementos materiais e imateriais que realizam atividades ligadas ao
turismo, com procedimentos, idéias, doutrinas e princípios coesos e afins, para
conquista dos seus mercados estratégicos respectivos, utilizando-se de produtos
8 O termo “embebido” é uma tradução do inglês embedded, que também significa “embutido” e que, no contexto em que está sendo empregado, também pode significar “inserido de forma integrada”.
65
competitivos”. Nesse mesmo estudo, Souza argumenta que “o agrupamento de
empresas que compõem a cadeia turística [...] é apoiado por uma rede de provedores
de insumos e serviços”. Ao enumerar os principais componentes da Cadeia Turística, a
autora distingue-os em três categorias:
a) empresas líderes – meios de hospedagem, agências de viagem, operadoras
turísticas, empresas de alimentação, empresas de entretenimento, comércio de
artesanatos e produtos típicos, centros comerciais e galerias de arte;
b) provedores de serviços – transportadoras, informações turísticas, locadoras e
veículos, atendimento a veículos, centros de convenções, auditórios, parques de
exposição, fornecedores de alimentação, construção civil, artesãos, sistemas de
comunicação, serviços de energia elétrica;
c) infra-estrutura de apoio – escolas de turismo, serviços de elaboração de projetos,
assistência técnica, infra-estrutura básica ( estradas, aeroportos, terminais
rodoviários e hidroviários, saneamento básico, administração de resíduos sólidos,
telecomunicações), sistema de segurança, seguros, representações diplomáticas,
casas de câmbio e bancos, equipamentos de saúde, serviços de recuperação do
patrimônio histórico, serviços de proteção do meio ambiente.
Pode-se perceber, nesse estudo de Souza (199-?, op.cit.), a dificuldade
enfrentada pela autora ao tentar construir o modelo de cadeia produtiva para o setor de
turismo, expressa sobretudo na estrutura híbrida concebida. Se, por um lado, o trabalho
procura tipificar o modelo construído como cadeia turística, pelas características
evidenciadas e descritas pode-se observar que o modelo se aproxima muito mais do
conceito de clusters, que atualmente vem sendo adotado em turismo e que será
apresentado no capítulo a seguir.
Por fim, conclui-se que o modelo de cadeia produtiva é parcialmente
representativo para o setor de turismo, ficando circunscrito a alguns sub-setores e/ou
arranjos de integração horizontal de empresas, em segmentos específicos. Assim, dado
o conjunto de limitantes para generalização, pode-se afirmar que o turismo reúne
66
condições mais apropriadas para enquadramento em outras formas e modelos
multiorganizacionais, conforme será discutido e apresentado nos capítulos a seguir.
67
4. SEGUNDO MODELO – A CONFIGURAÇÃO EM CLUSTERS
4.1. Caracterização Geral
Os clusters, em geral, surgem de um processo endógeno, espontâneo e são, de
alguma maneira, estimulados por antecedentes culturais e históricos locais; isto é, a
existência de tradição local em ações integradas e movimentos aglutinadores se
constitui em diferencial facilitador para a ocorrência dos mesmos. Sobre esse ponto,
Almeida (2001, p. 16) chama atenção para o fato de que mesmo seus mais fortes
defensores reconhecem que há dificuldades em criar clusters, a partir de iniciativas
externas. Contudo, apesar de não dependerem de uma ação estatal externa e
planejada para sua criação, é consenso que o papel do Estado no apoio e
fortalecimento das bases locais se torna fundamental para o sucesso desse modelo
multiorganizacional.
De acordo com Porter (1999b, p.212), para identificação dos elementos que vão
constituir um cluster é necessário tomar como ponto de referência uma grande empresa
ou uma concentração de empresas semelhantes, para, a partir daí, analisar a cadeia
vertical de empresas e instituições a montante e a jusante. Em seguida, realiza-se uma
análise horizontal, na qual se busca mapear fornecedores comuns de produtos e
serviços complementares. Busca-se também elos com instituições de treinamento e
oferta de tecnologia, além de identificar agências do governo que desempenhem papel
significativo para o setor estudado.
68
No tocante ao apoio aos aglomerados de empresas, Humphrey e Schmitz (1995,
p. 1-2) propõem que as políticas voltadas para o apoio aos clusters, sobretudo de
micro, pequenas e médias empresas, devem ter como foco o cliente, os interesses
coletivos das firmas e os efeitos cumulativos decorrentes das duas condições
anteriores. Esta perspectiva compõe o conceito denominado pelos autores como “Triple C – customer-oriented, collective and cumulative” que significa orientado para o cliente,
em ação coletiva e que produza efeito cumulativo. Em síntese, este conceito representa
o seguinte pensamento:
Orientado para Consumidores/clientes – refere-se a políticas dirigidas para atender
às necessidades da demanda, conduzindo as firmas para resolver seus problemas
de competitividade; são consideradas ações bem sucedidas aquelas que
estabelecem os meios pelos quais as micro, pequenas e médias empresas
possam aprender sobre e com as necessidades de seus consumidores/clientes,
além de prestar a assistência técnica que os capacitem a esta tarefa;
Atender Interesses Coletivos das Firmas – a escolha pelo atendimento ao
interesse de grupos de empresas apresenta duas vantagens importantes: i)
custos de transações mais baixos do que a assistência a empresas individuais, e
ii) contribui para a criação de relacionamentos entre empresas, os quais podem
aumentar sua eficiência através da cooperação e da maximização do potencial do
grupo para o desenvolvimento de mútua aprendizagem;
Melhorias Cumulativas na Competitividade – o atendimento às duas condições
anteriores estabelece a capacidade cumulativa de elevar o padrão e se tornar
menos dependente de suportes externos; os autores acreditam que a
competitividade não é uma condição estática, mas um processo de permanecer
competitivo através de aperfeiçoamentos.
Segundo Humphrey e Schmitz (1995, p. 2), os objetivos de políticas de apoio a
clusters de micro, pequenas e médias empresas, ao seguirem essas premissas, podem
desenvolver a capacidade de grupos de empresas desencadearem processos de
melhorias derivadas de relacionamentos com o mercado. Ao atingir esses objetivos, os
69
grupos de empresas integradas deixam de depender de suporte externo, cujos recursos
passarão a ser dirigidos para atender outros desafios.
Os autores também chamam atenção para o conceito de eficiência coletiva e o
definem como “as vantagens competitivas derivadas de economias externas locais e da
ação conjunta”. O conceito de economias externas tem origem na teoria de Marshall, já
referida anteriormente neste trabalho. Humphrey e Schmitz (1995, p. 7) chamam
atenção para o fato de que essas economias externas não se constituem apenas em
ação deliberada das firmas. Uma parte do resultado produzido ocorre de forma
incidental, isto é, de forma não intencional. Portanto, o conceito de eficiência coletiva
traz, ao mesmo tempo, os efeitos incidentais e deliberados que um agrupamento de
empresas pode atingir.
Outro ponto abordado por Humphrey e Schmitz (1995, p. 8) é a visão equivocada
de que a busca da eficiência coletiva em clusters elimina a competição. Ao contrário,
observam-se rivalidades até mesmo muito fortes dentro do cluster, embora esse fato
não impeça a existência de ações conjuntas para resolver problemas coletivos. O
cluster considerado pleno é também uma combinação de “competição e cooperação”,
que resulta em melhorias organizacionais e de produtos.
Sobre este ponto, Porter (1999b, p. 217-218) traz ao debate a opinião de que a
estruturação de um grupo de empresas e instituições como um aglomerado (cluster)
promove oportunidades de cooperação em matérias de interesse comum, sem contudo
ameaçar a competição ou restringir a rivalidade entre empresas correlatas. Para o
autor, “a concorrência convive com a cooperação porque elas ocorrem em dimensões
diferentes e participantes distintos” (PORTER, 1999a , p. 102).
Existem aspectos levantados por Altemburg e Meyer-Stamer (1999, p. 1694 -
1707) que são considerados de difícil mensuração, a exemplo da confiança, inserção
no ambiente social (social embeddedness) e a existência de um ambiente criativo , que
se apresentam como condições importantes e auxiliares na formação e sustentabilidade
dos clusters. Em seu estudo sobre a formação de clusters na América Latina, os
70
autores adotaram uma classificação em tipos genéricos de clusters que foram
reproduzidos a seguir.
a) Clusters de Subsistência de Micro e Pequenas Empresas – considerados os mais
freqüentes, geralmente produzem bens de baixa qualidade para mercados locais,
em atividades com poucas barreiras à entrada; as firmas apresentam inúmeros
aspectos similares ao setor informal, com baixos índices de especialização,
produtividade e de salários, demonstrando a falta de mão de obra capacitada; estão
embebidos (inseridos) em um ambiente social desvinculado do setor formal de
negócios; exemplos desses clusters foram identificados no México, Peru e Costa
Rica, geralmente originados para produzir bens resultantes do processo de imitação,
cuja aprendizagem das técnicas e habilidades ocorre de maneira informal; envolvem
formações sub-empresariais de natureza familiar, se beneficiam de poucos
incentivos e apresentam, geralmente, um ciclo de vida curto; segundo constatação
dos autores, são os clusters que geram maior quantidade de emprego;
b) Clusters mais Avançados e Diferenciados de Produção em Massa – a maioria surgiu
no período de substituição das importações e muitos deles produzem para o
mercado interno; são clusters que envolvem empresas bastante heterogêneas, em
tamanhos e modelos, contendo desde firmas pequenas e simplificadas até
organizações complexas do padrão fordista; pertencem, geralmente, a setores
industriais de produtos de massa – têxtil, calçados, móveis, etc. – apresentando
baixo índice de inovação e pouco esforço em Pesquisa & Desenvolvimento;
algumas firmas estão integradas em cadeias de commodities globais, bastante
dependentes e sensíveis a mudanças do mercado externo; a cooperação e
especialização interfirmas ainda ocorrem de forma tímida, verificando-se alto grau
de integração vertical; utilizam-se da redução de custos e preços para conquistar
mercados, ignorando a diferenciação como estratégia de competitividade; na
América Latina, os autores identificaram exemplos desses clusters no Brasil – têxtil
no Vale do Itajaí, calçados de couro do Vale dos Sinos- além de outros no México;
c) Clusters de Corporações Internacionais – caracterizados como tecnologicamente
mais complexos, a exemplo da indústria de eletrônicos e automobilística, esses
71
clusters são geralmente dominados por grandes filiais de indústrias transnacionais e
atendem a mercados domésticos e internacionais; estabelecem poucos links com as
pequenas empresas locais e apresentam elevadas barreiras à entrada; desfrutam
de baixos índices de inserção/envolvimento (low degree of embeddedness) com o
ambiente social e com a comunidade empresarial das regiões hospedeiras; são
oriundos de outras regiões, cuja escolha locacional ocorre por motivos de
proximidade do mercado consumidor, da disponibilidade de mão de obra barata, de
incentivos fiscais, de infra-estrutura disponível, dentre outras vantagens
convencionais; diversos exemplos são referidos no Brasil, México e Costa Rica.
Pela análise realizada por Altemburg e Meyer-Stamer (1999, p. 1708-1710)
pode-se constatar diferenças importantes entre os diversos tipos de clusters
desenvolvidos na América Latina e seus similares nos países desenvolvidos. Os
autores concluíram seus estudos apontando três deficiências principais, comuns aos
três tipos identificados:
a) Heterogeneidade nos níveis de desenvolvimento e falta de pequenas e médias
empresas competitivas – diferentemente do países industrializados, a maioria das
pequenas e médias empresas da América Latina não é competitiva, dificultando a
cooperação interfirmas dentro do cluster. Alguns clusters diferenciados de produção
em massa, sobretudo aqueles mais simplificados em termos de utilização
tecnológica, prometem oportunidades de transferência de know-how, a partir de
firmas mais modernas, principalmente nas áreas de logística, gestão de pessoas e
custos. Os autores acreditam que as instituições públicas de apoio às micro,
pequenas e médias empresas podem atuar como catalisadoras, adotando o
processo “learning by interacting” entre as empresas integradas em clusters;
b) Falta de capacidade de inovação – mais uma vez os clusters da América Latina
diferem dos países desenvolvidos porque são, predominantemente, voltados para
produção de bens de consumo padronizados com destino às exportações sem
contar com inovações substanciais. As recomendações são para promoção de
políticas que promovam inovação, sobretudo para as firmas locais;
72
c) Baixo grau de especialização e cooperação interfirmas – os autores observam que
os clusters Latino Americanos normalmente englobam apenas alguns estágios da
cadeia de valor, poucos serviços complementares e não dispõem do capital social
necessário para propiciar acordos cooperativos. Para superar este ponto, é
recomendada a integração em redes de agentes e incentivos para cooperação,
como forma de superar comportamentos oportunistas, desconfiança e preferência
por integração vertical. Propõem ainda que a convergência para cooperação e
integração deva ser tentada em questões que não envolvam as competências
essenciais das firmas, pois estas, em ambientes com baixo padrão de confiança
tendem a permanecer em segredo.
A pesquisa realizada por Altemburg e Meyer-Stamer (1999), focalizando os
clusters industriais na América Latina e sua comparação com a mesma realidade em
países industrializados, evidencia as diferenças e fragilidades que esse modelo
multiorganizacional ainda conserva nos países em desenvolvimento. As lições
aprendidas com as regiões mais avançadas podem auxiliar a aceleração do
aperfeiçoamento desse modelo, não somente de clusters industriais em localidades
mais carentes, como também de clusters em outros setores nos quais se inicia a sua
aplicação.
Fairbanks (1997, p. 12), em sua proposta sobre a implantação de cluster no
Nordeste do Brasil, sugere alguns componentes de competitividade que, se adotados
no contexto do cluster, podem contribuir para o aumento da cooperação interna. O
quadro a seguir apresenta esses componentes:
73
Quadro 2 COMPONENTES DE COOPERAÇÃO DENTRO DO CLUSTER
COMPONENTE DESCRIÇÃO
Design de Produto Compartilhamento de idéias e know-how tecnológico no
desenvolvimento de produtos
Reputação Melhorando a reputação dos participantes do cluster através de
associação com outros participantes e/ou certificação
Processo Tecnológico Compartilhamento de idéias e know-how no desenvolvimento do
processo tecnológico
Acesso Cooperação que resulta em aumento da confiabilidade ou obtenção
de acesso preferencial para distribuição de produtos e serviços
Informação ao Mercado Informações compartilhadas sobre dados do mercado-demografia,
necessidades dos compradores, e tendências do mercado
Logística Cooperação na movimentação de bens ou informações entre os
participantes do cluster
Educação e Treinamento Aumentando habilidades e conhecimentos dos recursos humanos,
que ajuda a atender às necessidades do cluster Fonte: FAIRBANKS, 1997.
4.2. O Modelo de Cluster no Turismo
Poucos autores se referem a clusters fora do setor industrial. Dentre os referidos
neste trabalho, apenas Porter (1999a, p. 105) menciona a formação e aplicação desse
modelo para o setor de turismo. Outra referência importante na obra de Porter (1986, p.
187), fora do setor industrial, se encontra nas suas teorias sobre formulação de
estratégias competitivas nas chamadas “indústrias”9 fragmentadas. O autor relaciona
áreas como: “[...] prestação de serviços, varejo, distribuição, fabricação de madeira e
metal, produtos agrícolas e negócios ‘criativos’[...]”, deixando evidente, desde o começo
9 O termo “industriy” de origem anglo-saxônica, significa setor de atividade, segmento, ramo e não apenas indústria, como se traduz freqüentemente para o português.
74
de seus estudos sobre competitividade, uma concepção mais aberta e abrangente.
Posteriormente, quando definiu e caracterizou a ocorrência dos clusters, Porter (1999b,
p. 216) assim se expressou:
Os aglomerados10 ocorrem em muitos tipos de setores, em campos maiores ou
menores e mesmo em alguns negócios locais, como restaurantes, revendedores
de carros e antiquários. Estão presentes em economias grandes e pequenas, em
áreas rurais e urbanas e em vários níveis geográficos (por exemplo, países,
estados, regiões metropolitanas e cidades). Encontram-se em economias
avançadas e em desenvolvimento, embora os existentes em economias
avançadas tendam a ser muito mais desenvolvidos.
Outras referências são feitas pelo autor, tanto na mesma fonte citada acima,
quando apresenta exemplos de clusters de turismo nos EUA e em Portugal, como em
outras obras de sua autoria, a exemplo de A Vantagem Competitiva das Nações, em
que o capítulo 6 é inteiramente dedicado ao setor de serviços (PORTER, 1999b, p. 242-
244; 1989, p. 283-321).
Como o foco do interesse deste trabalho está direcionado para aplicação deste
modelo no setor de turismo, passa-se a comentar alguns aspectos que foram avaliados
como relevantes para recomendação do modelo de cluster em turismo.
Setor formado por um conjunto heterogêneo de micro, pequenas,médias e
grandes empresas, que precisam atuar em cooperação para atingir o objetivo
maior, que é o aperfeiçoamento do produto turístico;
A região de destino turístico pode ser, freqüentemente, vista como um cluster
de entretenimento (turismo, cultura, lazer e esportes), a exemplo da proposta
que está sendo formulada para a Bahia;
O padrão de crescimento do turismo mundial e o surgimento de novos
produtos turísticos em todo o mundo impõem a necessidade de
10 Nesta tradução do livro On Competition, de Michael Porter, o termo clusters foi traduzido para aglomerados. Cabe observar que tem-se optado, com mais freqüência, por manter o termo original em inglês, até porque a literatura sobre o assunto já o incorporou de forma natural.
75
acompanhamento das vantagens competitivas, que poderão ser estruturadas
e monitoradas a partir do modelo de cluster em destinos turísticos;
A conjugação do binômio cooperação e competição, tão relevante em
turismo, pode ser favorecida no cluster de turismo;
As economias externas involuntárias, típicas dos modelos de aglomerados
econômicos, podem se constituir no diferencial competitivo de determinado
destino /produto turístico;
A aplicação do modelo do triplo “C”, proposto por Humphrey e Schmitz, pode
ser adaptada à realidade do turismo;
Diante da constatação de que o turismo impacta 52 atividades e ocupações
profissionais, pode-se adotar o modelo de cluster para promover o
ajustamento e a cooperação entre estas.
No turismo, pode-se considerar o cluster como um dos modelos
multiorganizacionais mais apropriados para estruturação das regiões de destino, em
face da natureza transdisciplinar experimentada pelo setor, aliada à necessidade de
promover a concatenação e o estabelecimento de parcerias entre diversos sub-
segmentos que formam o produto turístico, sejam empresas de pequeno, médio ou
grande portes. Em setores como o turismo, também se torna fundamental uma
compreensão mais ampla e dinâmica da competição, que levem em consideração as
questões de custo e diferenciação, de eficiência estática, melhoria contínua e inovação,
e que reconheça que os mercados são globais, tanto para fatores como para produtos.
Em seu artigo Clusters e Competitividade, Porter comenta que o cluster propicia
a acumulação de informações e estas se tornam acessíveis para todos os seus
membros, que passam a estabelecer fluxos de informações e estreitar laços de
confiança. Essa mesma situação reforça a visão de que o todo é sempre maior que a
soma das partes e, em setores típicos como o de turismo, pode-se adicionar ganhos de
produtividade e de qualidade no produto turístico, resultantes da relação sinérgica que o
cluster proporciona. Nesse mesmo sentido, Porter acrescenta:
76
[...]a satisfação do turista depende não apenas do apelo da atração primária do
local, mas também da qualidade e eficiência de empresas correlatas - hotéis,
restaurantes, centros comerciais e meios de transportes. Como os membros de
um cluster são mutuamente dependentes, o bom desempenho de um pode
aumentar o sucesso dos demais. (PORTER, 1999a, p. 105)
Existem várias formas de complementação e a mais direta é justamente aquela
que se verifica no turismo, pois os produtos e serviços se integram para atender às
necessidades dos clientes. Outra forma seria a coordenação de atividades entre
empresas para otimizar sua atividade coletiva, que também pode se verificar no
turismo, sobretudo na cooperação entre pequenas empresas. Porter ressalta ainda,
neste artigo, a ocorrência de complementações na área de marketing, pois um cluster,
geralmente, “melhora a reputação de uma região em determinado setor”, atraindo
compradores para as empresas ali sediadas (PORTER, 1999a, p. 105).
Outro aspecto relevante é a convergência de propósitos entre o modelo de
cluster e os princípios do desenvolvimento sustentável do turismo. O alcance da
sustentabilidade será obtido através do equilíbrio dos fatores econômicos, sócio-
culturais e ambientais, com vistas a garantir para gerações futuras a mesma qualidade
da experiência das gerações atuais. Na mesma direção, o modelo de cluster focaliza os
fatores de sustentabilidade econômica, sócio-cultural e ambiental, propondo
cooperação, inovação, aprendizagem e integração social, tendo como resultado
pretendido o aumento da competitividade que, por sua vez, possibilita a
sustentabilidade do turismo.
Do ponto de vista dos negócios, observa-se que os clusters criam um ambiente
favorável à formação de novas empresas, principalmente porque as lacunas em
produtos e serviços se tornam mais facilmente perceptíveis, convidando novos
empreendedores a suprirem essas lacunas, ou, até mesmo, a descobrirem novos
nichos de mercado, baseados na evolução crescente a que se submetem determinados
segmentos empresariais estratégicos, a exemplo do turismo.
77
4.3. Algumas Iniciativas de Clustering no Turismo
Dois estudos de caso sobre clusters turísticos são apresentados neste trabalho,
com o intuito de aproximar a teoria com a sua aplicação, na prática. Ambos foram
escolhidos dentro do segmento do turismo de natureza, sendo um exemplo
internacional – o cluster turístico da Costa Rica – e um exemplo nacional – o cluster
turístico de Bonito, no Mato Grosso do Sul. Esses exemplos foram tomados a partir de
estudos de caso publicados, e aqui buscou-se reproduzir as impressões dos seus
autores, à época dos respectivos estudos.
Em seguida, serão também descritos três projetos brasileiros, que trazem no
contexto das políticas públicas as tentativas de estabelecimento de clusters no setor de
turismo. São eles: O Projeto Iniciativa pelo Nordeste, o Projeto Cresce Minas e o
Projeto do Cluster do Entretenimento do Estado da Bahia.
Um ponto em comum entre os estudos de caso e os projetos apresentados é que
todos tiveram suas iniciativas desenvolvidas a partir da segunda metade da década de
90 e, no momento, contam com, no máximo, seis anos de existência. Pode-se
considerar um período muito curto para avaliar o grau de consolidação de iniciativas
dessa natureza.
4.3.1. O Cluster de Turismo da Costa Rica
O turismo pode ser considerado a atividade econômica mais importante da Costa
Rica. Segura e Inman (1998), autores deste estudo de caso, afirmam que “lo que es
bueno para el turismo es bueno para Costa Rica”. Ao analisar a aplicação do modelo de
cluster no turismo costarriquenho, os autores afirmam que este se encontra “en medio
de su adolescencia”. Consideram que o mesmo já passou pelo processo de aprender a
linguagem dos mercados globalizados e tem concentrado muita “energia criativa” em
78
construir cenários que são mundialmente valorizados em matéria de turismo, tais como
a natureza protegida, a democracia, a estabilidade e a paz.
Em 1996, durante a realização do VIII Congresso Nacional de Turismo da Costa
Rica, foi apresentado um diagnóstico do estágio de desenvolvimento do cluster de
turismo, com o objetivo de oferecer subsídios aos membros da comunidade turística
local, para planejar o futuro, de forma a atingir a competitividade e o desenvolvimento
sustentável. A avaliação feita em 1998 por Segura e Inman indica que, durante esses
dois anos, foram observados sinais de amadurecimento desse cluster : um segundo
aeroporto internacional, uma campanha promocional agraciada com vários prêmios e
novos investimentos por marcas internacionais do ramo da hospedagem.
Também existem aspectos que ainda não encontraram uma solução integrada, a
exemplo da baixa qualidade de manutenção das rodovias de acesso interno, do
aumento dos indicadores de delinqüência e da rede de parques nacionais com
problemas de sustentabilidade financeira. É evidente que esses problemas são muito
mais dependentes das estruturas governamentais do país, mas o grau de maturidade
de um cluster também pode ser medido pelo nível de coesão observado entre os seus
integrantes, ou seja, a capacidade de enfrentar e resolver, juntos, os problemas atuais
de interesse comum, além de prevenir os problemas futuros.
Outro ponto observado no cluster da Costa Rica, avaliado por Segura e Inman
(1998, p.3), como evidência da imaturidade ainda presente, é a falta de “una visión
estratégica de largo plazo”. Apesar disso, parece claro para as empresas
costarriquenhas quem são seus competidores:
No produto “praia”, seus principais competidores são a Republica
Dominicana, Cuba, Ilhas do Caribe, Cancun e Havaí;
−
− No ecoturismo são considerados competidores potenciais muito importantes
alguns países da América Central, dentre os quais o Panamá e Belize.
Atualmente, este produto compete com países da África, alguns países da
América do Sul (Equador, com Galapagos, Brasil com a Amazônia e Peru),
79
com o Alaska e com alguns destinos dos Estados Unidos (Gran Canyon,
Yellowstone, dentre outros);
De uma maneira geral, o México e o próprio Estados Unidos são
competidores importantes no mercado de turistas norte-americanos.
−
−
−
−
−
−
−
−
Outro aspecto importante foi identificado durante a pesquisa com os empresários
para este estudo de caso: existe entendimento no cluster de turismo da Costa Rica de
que suas principais vantagens competitivas são:
A diversidade de atrativos concentrada geograficamente em seus 50.000 km2
de território faz com que, praticamente, todos os produtos estejam sempre
muito próximos entre si, facilitando a visitação;
O país oferece infra-estrutura viária suficiente para que todos os atrativos
sejam fáceis de se alcançar. Os acessos, mesmo que não tenham boa
qualidade de manutenção, estão disponíveis na maior parte do país;
A estabilidade política do país é considerada sólida, nacional e
internacionalmente;
O nível de educação do seu povo é considerado alto, sobretudo quando se
compara com os demais países de região. Este fator favorece a preferência
por empresas e por turistas;
Existem várias empresas locais especializadas em nichos específicos
(terceira idade, saúde, estudantes e outros);
A localização do país, que se encontra próximo e com fácil acesso para seus
principais mercados emissores (América do Norte, Europa e América do Sul);
O país tem demonstrado capacidade inovadora para desenvolver o turismo
em harmonia com a natureza, o que o torna reconhecido como um dos
principais destinos turísticos naturais do mundo. Grande parte desse sucesso
se deve ao sistema de parques nacionais, implantado e promovido com êxito.
80
Segura e Inman (1998, p. 9) concluem este estudo com algumas constatações
importantes. Para os empresários de turismo da Costa Rica, é importante: o trabalho
em conjunto, sob uma ética e estratégia coletiva coerente; definir para o longo prazo o
que é uma genuína hospitalidade ‘tica’ e a proteção do meio ambiente natural
continuará sendo o mais importante ativo turístico do país. Dentre as contradições que
esses valores e a realidade local se vêem envolvidos estão o dilema entre turismo de
“sol e praia” e o ecoturismo e o modelo de turismo de mega resorts e golfe que está
sendo desenvolvido em Guanacaste. Os autores finalizam essa discussão propondo a
adoção de um mecanismo de Certificação da Sustentabilidade Turística, embasado nos
valores que expressam a verdadeira identidade do país no mercado de turismo.
4.3.2. O Cluster de Turismo de Bonito - MS
O estudo de caso sobre o turismo em Bonito, no Mato Grosso do Sul, realizado
por Barbosa e Zamboni (2000) traz algumas informações importantes para exemplificar
a aplicação do modelo de cluster nesse setor. Os autores descrevem o cluster de
turismo de Bonito através de uma representação gráfica composta por cinco “anéis”. No
epicentro, os atrativos; o segundo anel é representado pelo trade turístico (hotéis,
agências de turismo, guias, bares e restaurantes, meios de transportes, comércio
turístico); o terceiro é composto pelos atores sociais (poder público, associações de
classe e colegiados); o quarto anel é formado pelas entidades de apoio supra-locais
(órgãos públicos estaduais, federais, paraestatais e ONGs) e o quinto é composto pela
base local onde ocorre o turismo, ou seja, o meio urbano, o meio rural e as estruturas
de acesso.
O turismo começou a se desenvolver naquele município em meados da década
de 80, pela iniciativa individual de alguns proprietários de fazendas que possuíam
atrativos naturais e passaram a cobrar uma taxa de ingresso por visitante, depois de
construírem trilhas e escadas de acesso aos rios, disciplinando a visitação. Nessa
mesma época, a prefeitura municipal desapropriou o Balneário Municipal e realizou
obras de infra-estrutura para propiciar lazer, sobretudo para a população local. Em ação
81
conjunta, empresários e prefeitura abriram vias cercadas – corredores – de acesso aos
atrativos, com o intuito de separar os animais do tráfego gerado pela visitação aos
mesmos.
Acontecimentos como a Eco-92, no Rio de Janeiro, a exibição, em 1993, pela
televisão, de um documentário sobre a Gruta do Lago Azul e de outros programas
sobre os atrativos naturais daquela região fizeram com que ocorresse um aumento
muito expressivo no número de visitantes em busca de um turismo de natureza.
Outras ações, como a realização de curso para formação de guias, em1993, a lei
municipal que tornou obrigatório o acompanhamento de guias nos passeios turísticos
locais, a criação do Conselho Municipal de Turismo - CONTUR e do Fundo Municipal
de Turismo, em 1995, também contribuíram para o ordenamento local do turismo.
Entretanto, o passo considerado mais importante para a formação de estrutura
integrada para a gestão do turismo de Bonito foi a criação do “voucher único”, nesse
mesmo ano, por instrução normativa do CONTUR.
O “voucher único” é emitido e controlado pela Secretaria de Turismo e Meio
Ambiente de Bonito e comercializado, com exclusividade, pelas agências de turismo,
que, semanalmente, repassam as parcelas de arrecadação dos ingressos aos
proprietários dos atrativos, aos guias e à Prefeitura, utilizando-se também esse controle
para se calcular o recolhimento do Imposto sobre Serviços – ISS. O controle da
capacidade de suporte, que determina a quantidade máxima de ingressos a serem
vendidos, é realizado pela prefeitura municipal, através de uma central informatizada,
para a qual as agências de turismo efetuam as consultas de disponibilidade, antes da
venda.
Segundo Barbosa e Zamboni (2000, p. 27-28), a instituição do “voucher único”
tem sido uma das medidas essenciais à eficiência coletiva do trade de Bonito, porque
produz os seguintes efeitos positivos diretos ao desenvolvimento sustentável do
ecoturismo: a) viabiliza o controle da capacidade de suporte dos atrativos; b)
sistematiza o acompanhamento dos guias como forma de reduzir os impactos
ambientais da visitação; c) assegura reserva de mercado para as agências de turismo
82
na venda de ingressos, e d) estabelece parâmetros para repartição do resultado da
venda de ingressos.
Apesar do curto tempo de existência do turismo em Bonito, da existência de
fragilidades no nível empresarial, na qualidade dos equipamentos e serviços turísticos e
na gestão pública local, os autores consideram que existe a configuração de um
“potencial cluster” de turismo naquele município, que conta os diversos fatores de
competitividade capazes de promover a sua consolidação, no médio prazo. Dentre
esses fatores, merecem destaque o patrimônio natural com grau de utilização
responsável, a estrutura operacional implantada do “voucher único” e o grande número
de instituições de apoio ao desenvolvimento do turismo local.
4.3.3. O Projeto Iniciativa pelo Nordeste
Dentre os projetos de formação de clusters no setor de turismo, oriundos de
políticas públicas, considera-se a primeira tentativa desenvolvida no Brasil o projeto
denominado Iniciativa pelo Nordeste, idealizado a partir da realização de um seminário
internacional realizado em outubro de 1996, em Salvador, com a participação do vice-
presidente do Brasil, ministros de Estado, vice-presidente do Banco Mundial,
governadores do Nordeste, empresários e parlamentares, o qual originou um
documento denominado “Novo Nordeste. Novo Século”, contendo bases para uma
estratégia de desenvolvimento regional.
O projeto Iniciativa pelo Nordeste foi elaborado com o objetivo de “contribuir para
o desenvolvimento competitivo da região nordestina, inclusive pela atração de
investimentos privados”, contando com a parceria do Governo Federal, através
Ministério do Planejamento e Orçamento, Ministério de Ciência e Tecnologia, BNDES e
Banco do Nordeste, dos Governos Estaduais, através de suas Secretarias de
Planejamento, da Comissão de Políticas para o Nordeste do Senado Federal, do Banco
Mundial – BIRD, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, do Instituto
Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA, da Organização das Nações
83
Unidas para a Alimentação e Agricultura – FAO e de empresas privadas (INICIATIVA
PELO NORDESTE, 1997, p. 4).
O referido Documento menciona a iniciativa de ação compartilhada entre o poder
público e setor privado, adotando o modelo de cluster. Apresenta no seu capítulo 3 a
fundamentação teórica do modelo adotado e se refere a um levantamento preliminar,
que identificou “14 atividades com características promissoras para o desenvolvimento
competitivo”, das quais foram destacadas para uma ação inicial as de grãos, fruticultura
e turismo. Essa escolha é justificada pelo documento, em virtude “[...] do estágio de
elevado potencial de competitividade internacional e por consultarem o interesse
simultâneo do maior número de estados do Nordeste”.
Uma das primeiras providências foi a realização de concorrência internacional
para contratação de consultoria especializada para análise dos clusters dos três setores
destacados acima. O arranjo institucional estabelecido foi:
i) Comitê Deliberativo - formado por representantes de todas as entidades
participantes do projeto e representantes do setor privado, com a função de
estabelecer as diretrizes gerais e acompanhar as atividades do Grupo
Executivo;
ii) Grupo Executivo - formado por técnicos especializados, com sede no IPEA,
em Brasília e no BNDES, escritório regional de Recife, com a função de
operacionalizar a implantação do projeto, subordinado diretamente ao
Conselho Deliberativo;
iii) Câmaras Regionais Setoriais - compostas pelos representantes dos diversos
segmentos inseridos no projeto, as quais acompanhariam os trabalhos da
consultoria e definiriam as ações a serem implementadas pelos diversos
segmentos, e
iv) Em cada Estado, equipes de coordenação estadual e câmaras setoriais
estaduais foram desenhadas para liderar o desenvolvimento dos clusters
locais.
84
Lopes Neto (1998, p. 118) relata que duas empresas internacionais – a Monitor e
a ICF Kaiser - participaram da concorrência para escolha da empresa de consultoria a
ser responsável pela implantação do projeto, tendo sido vencedora a ICF Kaiser, cujos
trabalhos foram iniciados no começo de 1998. A abordagem adotada combinaria uma
análise sobre a situação da economia do Nordeste e dos setores selecionados para
formação de clusters, com o objetivo de prestar assistência durante o processo de
transição do modelo de desenvolvimento econômico baseado e dependente do setor
público para o modelo de cluster, que se baseia, fundamentalmente, no setor privado.
Após essa fase, previu-se uma averiguação da posição de competitividade de
cada cluster proposto em relação aos mercados globais e da identificação dos
problemas e necessidades em relação a infra-estrutura, políticas públicas, gargalos
logísticos, fatores empresariais e necessidades de capacitação. A etapa seguinte seria
a divulgação dos resultados desses estudos, junto aos interessados, efetuando a
transferência de tecnologias, através de contatos com os grupos de trabalho e as
câmaras setoriais, prevendo-se ainda treinamentos. Uma ação de suporte em
comunicação e divulgação faria parte do projeto, visando disseminar a cultura e as
práticas de organização em clusters.
No caso específico do cluster de turismo previu-se analisar a estrutura e situação
competitiva do turismo no Nordeste, seus segmentos-chave, cadeia de valores e traçar
um perfil comparativo com outras experiências bem-sucedidas no mundo. Outro
aspecto a ser evidenciado era a definição dos pontos frágeis do produto turístico
Nordeste, em termos de infra-estrutura de transporte, saneamento, energia,
telecomunicações, instalações públicas e turísticas, necessidades de capacitação para
aprimoramento dos serviços, além de aspectos regulatórios, de segurança para o
turismo e de comunicação e marketing do produto.
Passado pouco mais de três anos do início desse projeto, verificou-se, através
de depoimentos de seus participantes, que algumas etapas foram cumpridas, mas
outras não prosseguiram como estava previsto. Foi observada também uma
desarticulação da estrutura instalada e, principalmente, uma desmotivação por parte do
85
setor privado para implementar o modelo proposto. Dentre as possíveis causas que
motivaram a descontinuação do Projeto Iniciativa pelo Nordeste, foram destacadas:
a) a falta de tradição em organização de cooperação interfirmas, observando-se o
hábito de iniciativas individuais pelas empresas;
b) o pouco tempo para maturação de uma mudança de comportamento empresarial,
de certa forma radical, principalmente porque a iniciativa era oriunda de motivação
externa, ou seja, um projeto público a ser absorvido pelo setor privado;
c) não houve, desde o início do projeto, um trabalho de integração entre as forças
empresariais privadas, permanecendo o mesmo ambiente de baixa confiança e
competição predatória;
d) não houve, também, no mesmo período, uma ação de integração e fortalecimento
da confiança e da parceria entre o empresariado e o setor público, cuja prática
desenvolvida, principalmente, por este último, tem sido historicamente fundada em
bases de autoritarismo ou clientelismo;
e) naquele período, o Nordeste enfrentava dificuldades para superação das
fragilidades do produto turístico, sobretudo pela necessidade de altos investimentos
em infra-estrutura básica, além da carência de investimentos privados em
requalificação da oferta técnica turística, atribuída pelos empresários à crise de
rentabilidade instalada em quase todo o setor;
f) verificou-se, durante o processo, que a ICF Kaiser desconhecia a realidade sócio-
econômica-cultural do Nordeste, e que a empresa brasileira consorciada não
detinha experiência com projetos de clusters. Com isso, supõe-se que o processo de
liderança e estimulação para efetivação da mudança de paradigma ficou
prejudicado;
g) por todos os motivos acima, a força motriz deste projeto continuou centrada nas
estruturas públicas estaduais e federais, enquanto seu conceito pregava a
passagem para uma liderança empresarial. Mais uma vez, observou-se a
86
implantação de um modelo de desenvolvimento exógeno, com “aparência” de
desenvolvimento regional endógeno.
É importante salientar que essas hipóteses levantadas não se constituem em
questões testadas empiricamente; são, apenas, frutos de opiniões colhidas e
observações pela convivência permanente com o tema. Aqui fica a sugestão para um
estudo futuro de investigação sobre o assunto.
Romão (1998, p.19), nas suas considerações sobre o projeto Iniciativa pelo
Nordeste e a proposta de criação do Fundo de Desenvolvimento Regional, assim
opinou:
Para que as duas estratégias aqui esboçadas – ambas consonantes com o
documento de Salvador – produzam efeitos multiplicadores crescentes sobre o
espaço regional, há que configurá-las num projeto mais global de
desenvolvimento do Nordeste. Implementadas isoladamente, ou com frágeis elos
de interconexão, podem levar muito tempo para produzir seus efeitos positivos,
para não falar de perda de eficácia, recursos financeiros, e energia humana.
4.3.4. Cresce Minas: um Projeto Brasileiro
O Cresce Minas – Um Projeto Brasileiro, liderado pela Federação das Indústrias
do Estado de Minas Gerais, iniciou, em 1999, contando com o apoio de lideres
empresariais, políticos e acadêmicos do Estado, adotou como objetivo o
desenvolvimento econômico regional sustentável, baseado em metas e no modelo de
clusters, capazes de promover as oportunidades identificadas no âmbito das 37
microrregiões do Estado de Minas Gerais, 26 setores e 47 clusters potenciais. Para dar
suporte técnico à implantação deste projeto, foi contratada a McKinsey & Company,
consultoria internacional especializada nessa área, para atuar em conjunto com o
Comitê de Liderança do Projeto, o Conselho Consultivo, o Comitê Operacional e a
Equipe de Coordenação, formando assim o arranjo institucional montado para iniciar
sua implementação (FIEMG, 2000).
87
Ainda compondo essa estrutura, existem os “times” específicos por cluster ou
frente de trabalho e o apoio permanente das entidades públicas e privadas. Outra
iniciativa que está sendo planejada é a criação de uma entidade sem fins lucrativos que
atuará na implantação, apoio, manutenção e integração dos clusters, buscando
soluções para pontos de gargalos, atração de investimentos e financiamentos, além da
divulgação e realização de acordos de cooperação com outras agências de
desenvolvimento. Assim, o Documento FIEMG (2000, p. 95-97), do projeto Cresce
Minas, aborda a criação de um “Instituto do Cluster” e de “Agências do Cluster”, que
formarão uma rede de relacionamentos e reforços para a montagem e manutenção do
projeto.
O passo inicial foi a elaboração de um diagnóstico da economia mineira, que
subsidiou a definição de diretrizes e ações para fortalecimento das regiões e setores,
beneficiando-se das forças aglutinadoras que um cluster é capaz de produzir. Prevê-se
também que a ação integrada entre diversos clusters setoriais possa reforçar o modelo
proposto, uma vez que os mesmos representam, aproximadamente, 40% da economia
de mercado de Minas Gerais.
Os clusters potenciais foram agrupados em oito grandes blocos de atividade
econômica: produção vegetal, proteína animal, indústria leve, indústria pesada,
construção, indústria tecnológica, serviços e atividades tradicionais. O turismo ficou
agrupado no setor de serviços, juntamente com serviços automotivos e atacado. Em
turismo, identificou-se oportunidades para formação de clusters em Araxá, Belo
Horizonte, cidades históricas, Circuito das Águas e Poços de Caldas.
As principais vantagens competitivas vinculadas ao turismo, detectadas nessas
áreas, foram: as características naturais e culturais de cada região, a infra-estrutura
turística já instalada e de boa qualidade, sobretudo em Belo Horizonte, a oportunidade
para fortalecimento de outros segmentos de turismo, a exemplo do turismo de negócios
e convenções, do ecoturismo, além da integração das cidades históricas com Belo
Horizonte e com o Circuito das Águas em um único corredor turístico.
88
Os principais desafios a serem vencidos nessas mesmas áreas foram: pouca
cooperação/articulação na cadeia de valor, baixa capacitação administrativa/gerencial,
pouca oferta de treinamento ou cursos defasados, cadeia de valor incompleta,
apresentando vários gargalos, e oferta de produtos e serviços muito reduzida. Para
superação desses desafios foram identificados três grandes linhas de ação:
a) promover a articulação e a cooperação entre os elos da cadeia de valor, visando a
criação de sinergias, exemplo da integração entre o turismo de negócios, o
calendário de eventos e as atividades de lazer e de turismo histórico;
b) capacitar a mão de obra gerencial e administrativa, principalmente na hotelaria, cuja
necessidade maior se concentra na área gerencial, que também assumiria o papel
de multiplicadores.
c) completar a cadeia de valor, a exemplo da implantação de um grande centro de
convenções que amplie e alavanque o turismo de negócios na região de Belo
Horizonte, um sistema de transportes que interligue as cidades históricas e essas
com a capital, além da melhoria e implantação de serviços de hospedagem e
alimentação, nessas localidades.
A implementação do projeto foi iniciada por 5 projetos piloto que demonstraram
maior capacidade de alavancagem econômica imediata, dentre as quais não estavam
incluídos os cluster de turismo. Até o momento, não foi possível identificar se alguma
iniciativa em direção aos clusters de turismo já foi iniciada. Contudo, pode-se afirmar,
mesmo ainda que em condição prematura, que o presente projeto reúne boas
condições para ser bem sucedido, principalmente porque atende aos seguintes
aspectos, que são relevantes para o sucesso da implantação de um modelo de cluster:
a) parte de uma intenção de entidade representativa e associativa do setor privado,
que entende o novo papel desse setor, face à mudança do paradigma de
desenvolvimento;
b) o desenho institucional desse projeto parece indicar que o mesmo não se esgota em
si, mas está interessado nos resultados e desdobramentos decorrentes dele. Parte
89
da responsabilidade dos principais interessados no sucesso da implantação do
modelo e não no interesse de uma instituição externa;
c) o projeto prevê a implantação de clusters localizados em regiões específicas, de
acordo com vocações e condições locais, em lugar de um cluster estadual único por
setor. A delimitação sub-regional parece aprofundar mais a análise das questões e
dificuldades enfrentadas, contribuindo para o alcance da cooperação, fortalecimento
da confiança e busca da eficiência coletiva, referida por Humphrey e Schmitz (1995,
p. 7).
4.3.5. O Clustering do Turismo na Bahia
Dentre as iniciativas de estabelecimento de cooperação entre os diversos
stakeholders do turismo na Bahia, o cluster é a mais recente, e pode-se dizer que
também foi iniciada sob a condução do setor público. Este mesmo setor, que durante as
décadas de 70 e 80 iniciou empreendendo diretamente os principais meios para o
fomento e desenvolvimento desta atividade em diversas regiões do Estado, a exemplo
da construção e operação de meios de hospedagem e outros equipamentos turísticos,
posteriormente tratou de iniciar o processo de transferência dos mesmos à iniciativa
privada.
No começo dos anos 90, as iniciativas estavam centradas na definição dos
espaços turísticos, na instalação do processo de infra-estruturação desses espaços, na
difusão das oportunidades de desenvolvimento de negócios do turismo e na promoção
dos destinos, através do PRODETUR/BA. A segunda metade dessa última década se
iniciou com o entendimento de que o setor público deverá continuar exercendo o papel
de apoio institucional ao desenvolvimento do turismo, realizando também o
chamamento à iniciativa privada e entidades representativas da sociedade civil, para
liderança, compartilhamento e ação integrada neste setor.
A noção de que o processo de clustering advém do setor produtivo, reforçado por
raízes históricas de uma sociedade proativa, parece estar presente no contexto do
90
desenho dessa iniciativa de estimulação que se deflagra na Bahia. A perspectiva de
mudança de paradigmas indica uma trajetória de média e longa duração, até que se
alcance o intento de se consolidar este cluster turístico.
A primeira iniciativa de formação de cluster de turismo na Bahia estava vinculada
ao Projeto Iniciativa pelo Nordeste, iniciado em 1997, como apresentado no item 4.3.3
deste trabalho. Concretamente, foi criado o Comitê Estadual, vinculado à Secretaria do
Planejamento, Ciência e Tecnologia – Seplantec, contando com a participação da
Secretaria da Cultura e Turismo, e foram constituídas Câmaras Regionais de Turismo
na Costa do Descobrimento, na Costa do Cacau, em Salvador, na Costa dos Coqueiros
e na Chapada Diamantina. As informações obtidas sobre o andamento atual deste
projeto, tanto no Nordeste, como um todo, como na Bahia, indicam que o mesmo sofreu
descontinuação. No caso da Bahia, mesmo com a estrutura instalada do Comitê
Estadual e das Câmaras Regionais, o projeto não chegou a alcançar autonomia em
relação à iniciativa regional como um todo, devido, principalmente, ao curto espaço de
tempo para sua consolidação e à interrupção no suporte prestado pela empresa de
consultoria.
Como resultado positivo dessa experiência na Bahia, parece ter ficado o
entendimento de que a estrutura de cluster se mostra bastante apropriada para o
turismo, conforme expressam as lideranças do setor público envolvidas com o setor.
Partindo dessa premissa, o Governo do Estado decidiu iniciar processo estadual de
recondução do modelo de cluster, reprogramando as bases do mesmo, através do
projeto Cluster de Entretenimento do Estado da Bahia, apresentado a seguir.
Criando o Cluster do Entretenimento do Estado da Bahia
A segunda iniciativa de formação de cluster envolvendo o setor de turismo na
Bahia aconteceu no final do ano 2000, partindo de mais uma iniciativa do Governo do
Estado, através da Secretaria da Cultura e Turismo e da Fundação Luís Eduardo
Magalhães, que contrataram a consultoria especializada da Monitor Group para a
91
criação do “Cluster de Entretenimento do Estado da Bahia”. Este projeto inclui os
setores de turismo, cultura, lazer, esportes, música, gastronomia e vários outros
relacionados a esse negócio. Essa amplificação do escopo é justificada pela equipe do
projeto em razão das características do produto Bahia e dos propósitos de fortalecer
seu diferencial competitivo, que se encontra fortemente atrelado aos aspectos culturais
locais. (MONITOR GROUP, 2001, p.3-5).
Consta no Sumário Executivo do relatório de conclusão da primeira fase deste
Projeto, que o Estado tem se colocado na posição “[...] de estimular e apoiar o aumento
da competitividade do setor de entretenimento, tendo como meta elevar a Bahia à
condição de principal destino de entretenimento do Brasil nos próximos cinco anos”.
Existe o entendimento por parte do Governo de que o protagonista desse processo é o
setor privado, responsável pela produção e comercialização do produto turístico,
cabendo ao setor público colaborar para a geração de “ambientes favoráveis” a este
segmento.
Este relatório revela, ainda, que a análise do “diamante” do Cluster do
Entretenimento da Bahia, realizado em março de 2001, constatou que o mesmo
apresenta os seguintes resultados em relação aos fatores determinantes de vantagem
competitiva: a) estratégia, estrutura, rivalidade – avaliado como fraco nos aspectos de
cultura empresarial, integração e atração de investimentos privados; b) fatores de
demanda - considerado médio em relação ao conhecimento dos clientes, mantém
baixos padrões de exigência nos produtos e serviços, mas apresenta uma demanda
crescente; c) fatores básicos e avançados de produção – avaliados como fortes e
positivos os fatores básicos de recursos naturais, localização e “baianidade” e os
fatores avançados de acervo cultural. Ainda considerados como médios ou fracos os
fatores avançados relativos à mão-de-obra qualificada, padrão de serviços e lacunas na
infra-estrutura básica; d) nos setores correlatos e de apoio (o próprio cluster) – foram
considerados como fracos, apresentando falta de associativismo, concorrência
predatória, baixa integração entre os destinos turísticos dentro do Estado, e pouca
divulgação da agenda cultural para o turista. Neste tópico, ressaltou-se como fator
positivo importante o modelo de organização do carnaval de Salvador. Seguindo a
92
análise atualmente proposta por Porter, foi também avaliado o papel do Governo para o
“diamante competitivo” do Cluster da Bahia, tendo sido considerado positivo nos seus
aspectos de flexibilidade e priorização da cultura e do turismo, embora ainda
permaneçam negativas as questões de mentalidade paternalista, pouco diálogo com a
iniciativa privada, e poucas parcerias federais.
Partindo dessa premissa, este projeto foi concebido e está merecendo a
mobilização de recursos humanos e financeiros do Estado, pois, historicamente, tem-se
constatado que a alavancagem do turismo na Bahia ainda se encontra ancorada nas
iniciativas do setor público. Foi desenhado em quatro fases, apresentadas a seguir, das
quais a primeira já foi concluída, estando em andamento a segunda fase:
→
→
→
→
→
→
→
→
→
→
Fase I – Diagnóstico do Cluster
Identificação dos Principais elementos do cluster
Entendimento dos modelos mentais dos membros do cluster
Identificação dos líderes do cluster
Avaliação da competitividade do cluster - (Benchmarking)
Identificação dos segmentos de clientes
Sugestão para as linhas de ação estratégica
Fase II – Direcionamento da Estratégia do Cluster
Seleção dos segmentos
Seleção da estratégia piloto para fortalecer o cluster
Criação de princípios da transição para um cluster mais competitivo
Estratégia para captação de mercado
93
Estratégia para atração de investidores →
→
→
→
→
→
→
→
→
Criação do Conselho de Entretenimento
Fase III – Fortalecimento do Cluster
Lançamento dos projetos piloto
Desenvolvimento dos novos sistemas de venda ou marketing
Fortalecimento do capital humano
Construção de novas redes de cooperação dentro do cluster
Fase IV – Desenvolvimento Institucional
Fortalecimento e reestruturação de instituições-chave de apoio ao cluster
Treinamento contínuo dos membros do cluster
Planejamento de longo prazo para a continuação do desenvolvimento do cluster
Os grandes desafios para o Cluster de Entretenimento da Bahia, identificados na
primeira fase do projeto, também se constituem nos principais pontos em que os
agentes envolvidos deverão atuar, para promover a “mudança de mentalidade”
necessária ao sucesso desse modelo de integração interorganizacional. Esses
“desafios” passam a ser convertidos em propósitos do projeto, quais sejam:
a) maior integração entre cultura e turismo, como forma de diferenciação e
crescimento auto-sutentado;
b) melhor aproveitamento da interiorização do turismo, para além de Salvador e
Porto Seguro;
c) maior sinergia entre os setores público e privado, assim como dentro do próprio
setor privado;
94
d) qualificação dos produtos e serviços, de modo que o empresariado venha obter
resultados mais expressivos, mediante atração de segmentos turísticos com
volume de gasto mais elevado.
Dentre os estudos realizados pela Monitor Group em clusters localizados em
países em desenvolvimento, foram identificadas sete oportunidades de aumento da
competitividade, presentes em quase todos os casos. Para a Bahia, podem ser
consideradas todas elas:
a. evitar a super-dependência de fatores básicos
b. aumentar o entendimento sobre o cliente
c. melhorar o entendimento sobre a posição relativa
d. melhorar a cooperação entre empresas
e. integrar o cluster verticalmente
f. evitar o defensivismo
g. evitar o paternalismo
A Monitor Group, juntamente com a equipe estadual envolvida neste projeto,
definiram que o “Mapa do Cluster do Turismo da Bahia” é formado por entidades e
empresas que afetam diretamente a experiência do visitante. Foram divididas em duas
categorias-chave - “empresa âncora” e “indústria de apoio” – e agrupadas nas diversas
fases da experiência do turista:
1. Planejamento da Viagem
Âncora – Agências de Viagem, Operadores Turísticos →
→ Apoio – SCT/Bahiatursa, Meios de Comunicação, Aeroporto
2. Seleção do Destino
95
Âncora –Agência de Viagem, Operadores Turísticos, Hotéis, Companhias Aéreas →
→
→
→
→
→
Apoio – SCT/Bahiatursa, Setor de Transporte, Meios de Comunicação
3. Durante a Viagem
Âncora –Operadores Turísticos, Hotéis, Companhias Aéreas
Apoio – SCT/Bahiatursa, Restaurantes, Compras, Transporte, Comunicação,
Entretenimento
4. Depois da Viagem
Âncora –Agências de Viagem, Operadores, Hotéis, Companhias Aéreas
Apoio – SCT/Bahiatursa
Como referido anteriormente, e de acordo com o relatório síntese da Monitor
Group (2001, p. 31), este projeto se encontra na execução da sua segunda fase, tendo
como principais atividades a seleção de segmentos para os projetos-piloto e a criação
do Conselho de Entretenimento da Bahia.
Da análise destes projetos pode-se concluir, ainda que de forma preliminar, que
os mesmos estão sendo conduzidos de forma semelhante ao que tem ocorrido em
outras regiões do mundo, nas quais as iniciativas de adoção do modelo de cluster, se
dá sob a ação de liderança por parte de instituições públicas. Alguns aspectos
peculiares aos antecedentes históricos do desenvolvimento do turismo na Bahia
chamam atenção e se constituem em alerta para se evitar a manutenção da
dependência do turismo em relação à liderança pelo setor público.
96
4.4. O Modelo de Cluster e sua Adequação ao Turismo
Para concluir sobre a adequação do modelo de cluster no setor do turismo,
recorremos aos fundamentos teóricos encontrados ao longo deste trabalho de
investigação, destacando, pelos aspectos da teoria do turismo, as contribuições de
Leiper, Inskeep, Mathieson e Wall, que entendem este setor como heterogêneo,
fragmentado, interdependente e ancorado no ambiente sócio-econômico-espacial. Para
dar sentido aos argumentos relativos ao modelo de cluster , merecem destaque as
contribuições de Porter, Humphrey e Schmitz, nas quais se pode constatar que o
mesmo encontra ambiente propício em setores econômicos formados por pequenas,
médias e grandes empresas, que se concentram em determinado espaço geográfico,
exercem atividades semelhantes e complementares para produção de um determinado
produto, necessitam atuar de forma orientada para o cliente, em ação sinérgica,
preservando o binômio cooperação e competição, que são fundamentais ao aumento e
manutenção da competitividade.
Dentre as desvantagens para a aplicação do modelo de cluster em turismo pode-
se indicar a tendência que se cria no local de destino para a superdependência
econômica ancorada em um único padrão de atividade. Em outras palavras, o destino
turístico tende a depender unicamente do turismo, como atividade que movimenta a
economia local. Em alguns casos, esta dependência se concentra em apenas um
segmento de turismo – sol e praia, rural, eventos, dentre outros.
Para evitar que se estabeleça esta dependência mono-produtiva, a teoria do
turismo recomenda que os destinos turísticos busquem a diversificação econômica, se
possível, em mais de um setor de atividade e, caso não seja possível estabelecer
outras atividades econômicas viáveis, que se procure promover a diversificação dentro
do próprio turismo, por meio do incremento de mais de um segmento e/ou nicho de
mercado (MATHIESON e WALL, 1992, p.87-88).
97
Pode-se ainda ampliar o espectro de alcance dos clusters turísticos, associando-
os a outros setores afins, com o mesmo intuito de promover a diversificação econômica,
o fortalecimento e a competitividade dos clusters deste setor.
A referência mais recente sobre a utilização de modelo de cluster no turismo foi
apresentada por Petrocchi (2001, p.37-64), no seu último trabalho denominado “Gestão
de Pólos Turísticos”. Concordando com o autor no que se refere à importância e
adequação desse modelo no turismo, parece apenas ser equivocada essa tradução na
qual Petrocchi convenciona que o conceito de cluster será traduzido para o termo
“pólo”. Sabe-se, através da literatura pertinente aos aglomerados econômicos, que se
tratam de conceitos de modelos distintos e que representam filosofias praticamente
opostas, como foi mencionado no capítulo 2 desse trabalho.
Por fim, construindo a ponte entre o setor de turismo e o modelo de cluster, finaliza-
se este capítulo com a percepção de que os clusters turísticos podem se constituir em
uma alternativa favorável de desenvolvimento local sustentável.
98
5. TERCEIRO MODELO – CONHECENDO AS REDES INTERORGANIZACIONAIS
5.1. Caracterização Geral
Pode parecer óbvio, mas a multiplicidade de significados atribuídos ao termo
“rede” indica a necessidade de melhor caracterizá-lo, trazendo seu conceito mais
amplo, para posterior aplicação ao campo social e organizacional. Importante
contribuição ao estudo das redes é apresentada por Castells (2000, p. 498), quando
assim inicia sua definição sobre rede: “Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó
é o ponto no qual uma curva se entrecorta”. E continua com a seguinte concepção:
Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando
novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou seja, desde que
compartilhem os mesmos códigos de comunicação (por exemplo, valores ou
objetivos de desempenho). (CASTELLS, 2000, p. 498)
Derivado do latim rete, significa “entrelaçamento do fios, cordas, cordéis,
arames, com aberturas regulares fixadas por malhas, formando uma espécie de tecido”.
Ao citar este significado, contido no Dicionário Aurélio, Loiola e Moura (1997, p. 54)
complementam e interpretam a sua correlação com o campo das organizações,
comparando “os fios” com “as linhas ou as relações entre atores e organizações”, sendo
estes últimos representados pelas “malhas ou os ’nós’”.
As autoras chamam atenção para duas características “regularidade e
interligação”, que se encontram presentes nos tecidos e que podem corresponder a
99
“igualdade e complementaridade” nos arranjos sociais e organizacionais, como elas
assim definem:
Cada nó do tecido é estratégico, é fundamental para o todo, mas eles só formam
o tecido quando ligados entre si pelas linhas. Não há, portanto, diferença entre
os ‘nós’, nem entre as linhas. Além disso, como encarnam em si as idéias de
origem e de destino, os ‘nós’ limitam e, ao mesmo tempo, são pontos a partir dos
quais a rede se expande. A transformação da rede dá-se apenas pela expansão.
Por isso, não há também diferenças entre linhas e ‘nós’. Só há diferenças de
função entre eles – ligação e sustentação, respectivamente – para formar o
tecido. (LOIOLA E MOURA, 1997, P. 54)
No setor de informática, como também lembra Oliveira (2001, p.4), o conceito
de redes representa a “interligação de computadores”, isto é, “um conjunto de
computadores autônomos e interconectados”, a exemplo da Internet – a rede mundial
w.w.w., a World Wide Web –– que se configura como altamente descentralizada, a
partir dos provedores nas diversas partes do mundo. As autoras chamam atenção para
outras formas de organização em redes destinadas a prestar determinados serviços, a
exemplo da rede bancária, redes de comunicação, de transportes, etc. (LOIOLA e
MOURA, 1997, p. 55; OLIVEIRA, 2001, p. 4-5).
Outros significados têm sido atribuídos ao conceito de rede nas ciências sociais
e nas teorias organizacionais. O conceito de rede social apresentado por Weber (1997)
e citado por Lopes e Moraes (2000, p. 4-6) é “[...] a situação na qual duas ou mais
pessoas estão engajadas em conduzir uma ação onde cada um considera o
comportamento do outro de uma maneira significativa, sendo orientado nestes termos”.
Com base na análise do pensamento de Weber, tentando uma releitura mais objetiva,
Lopes e Moraes concluem que as redes “[...] nada mais são do que um conjunto de
relacionamentos sociais que se reproduzem e apresentam padrões persistentes ao
longo do tempo”.
Castells (2000 p. 498) argumenta que uma estrutura social com base em redes
se constitui em um “sistema aberto”, potencialmente dinâmico e preparado para
absorver inovações, sem que isto interfira no seu equilíbrio. É de opinião que as redes
100
são modelos apropriados para a economia capitalista, que se baseia na inovação, na
globalização e na “concentração descentralizada”. O autor considera que as redes
enfatizam a flexibilidade e a adaptabilidade no trabalho e nas empresas, sendo
ambiente propício para uma cultura de “desconstrução e reconstrução” permanentes.
São também capazes de acolher políticas de “processamento instantâneo” de novos
valores e adequadas a um tecido social interessado em vencer as barreiras do espaço
e do tempo.
Nas palavras de Castells (2000, p.497) “redes constituem a nova morfologia
social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma
substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência,
poder e cultura”. O autor completa seu pensamento dizendo que o formato de rede é
uma fonte poderosa de “reorganização do poder”.
No campo dos movimentos sociais, outro enfoque sobre redes é adotado por
Loiola e Moura (1997, p. 56-57), sobretudo, no qual “redes sociais” correspondem:
[...] as articulações entre organizações, grupos e indivíduos vinculados a
ações/movimentos reivindicatórios (ONGs, associações, sindicatos, etc.) visando
a mobilização de recursos, ao intercâmbio de dados e experiências e à
formulação de projetos e políticas.
As autoras ainda se referem ao conceito de redes no âmbito do Estado, as
chamadas redes institucionais, redes sócio-governamentais, redes secundárias formais
ou ainda redes de inserção, que significam meios de integração entre instituições
governamentais ou ainda dessas com outras organizações privadas, tendo como
finalidade o atendimento a problemas sociais e/ou articulações para implementação de
políticas públicas (LOIOLA e MOURA, 1997, p. 56).
Nas organizações, a abordagem de redes (networks) traz uma série
peculiaridades. Por exemplo, Lopes e Moraes (2000, p. 8) baseiam-se no argumento de
Coleman (1990) e propõem que o fato gerador de uma rede (social ou organizacional) é
a relação de interdependência entre os atores que a compõem. E, complementarmente,
adotam a definição de rede, elaborada por Hatch (1997), que considera;
101
Rede é uma forma organizacional onde a comunicação vertical e o controle dos
relacionamentos são, no todo ou na parte, substituídos por relações laterais, nas
quais os laços formais que mantinham unidas diferentes unidades de uma
mesma organização são trocados por parcerias entre diversas organizações.
(LOPES e MORAES, 2000, p. 9).
Outra definição apresentada por Lopes e Moraes (2000, p. 9) é a de autoria de
Miles e Snow (1992), que entendem as redes organizacionais como “agrupamentos de
firmas ou unidades especialistas coordenadas por mecanismos de mercado ao invés de
cadeias de comando”. Esse conceito situa as redes como formas de organização
interfirmas, aptas a exercer maior grau de flexibilidade e inovação, e,
conseqüentemente, capazes de se adaptar melhor aos cenários atuais de instabilidade
e incerteza.
Como se observa, o campo dos estudos teóricos sobre redes, apesar de
recente, tem despertado o merecido interesse em busca da sua compreensão e
diferenciação, em relação a outros modelos multiorganizacionais. Autores como
Humphrey e Schmitz (1995, p. 8-9), ao estudarem as pequenas e médias empresas, a
pedido da UNIDO11, trouxeram à tona o conceito de eficiência coletiva, já referido no
capítulo anterior deste trabalho, e o situam no contexto dos clusters e das redes. Na
opinião dos autores, pode-se observar a existência de clusters, que não apresentam
aspectos de eficiência coletiva, mas nos casos de redes de pequenas e médias
empresas, mesmo sem a ocorrência dos agrupamentos geográficos, a eficiência
coletiva é alcançada através dos relacionamentos a acordos de cooperação. Neste
último caso, há uma tendência à redução das economias externas, porém os ganhos
com as parcerias são relevantes.
A evolução dos processos econômicos e das formas de organização produtivas
tem proporcionado o surgimento de diferentes modelos de articulação
interorganizacionais, que muitas vezes são moldados a partir de experiências
localizadas e, posteriormente, se disseminam, de forma generalizada, pelos diferentes
11 UNIDO – United Nations Industrial Development Organization, Small and Medium Enterprises Branch é a divisão de apoio a pequenas e médias empresas da ONUDI – Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial.
102
territórios e setores produtivos. A generalização pode, por vezes, camuflar a diversidade
de alcances de cada um deles, restringindo o seu aproveitamento pleno. Esta
referência significa, especificamente, a tendência de se comparar como formas
semelhantes os modelos de clusters e redes. Este fato já foi levantado por Almeida
(2001, p. 17), que considera uma redução limitadora, para o conceito de redes, o seu
aprisionamento aos limites propostos pelos agrupamentos de base geográfica, os
clusters.
Outra referência relevante, trazida por Almeida (2001, p. 17), é o risco do
confinamento estabelecido por alguns modelos (clusters, distritos industriais, pólos,
etc.), em contraponto à expansão, cada vez mais presente, do processo de
globalização. Segundo suas palavras, na globalização, “o ‘lugar de mercado’ (market
place), dá lugar ao ‘espaço de mercado’ (market space)”. Almeida reforça seu
argumento ao citar Adam Smith, que defendia a idéia de que “o mercado se
‘desterritorializa’ “.
As redes de relacionamentos entre empresas, instituições e clusters regionais,
referidas por Igliori (2001, p. 59-59), a partir dos estudos de Freeman (1994) e Maillat
(1996), enfatizam a importância que elas assumem como fontes permanentes de
inovação, conhecimento e aprendizado. Nesses estudos, estão também referenciadas
as redes produtivas e comerciais, essas últimas também citadas por Nadvi e Schmitz
(1999) como fator de grande importância para a conexão de clusters produtivos, às
redes de comércio internacionais.
Segundo Amato Neto (2000, p. 47-50), na formação de redes interfirmas são
identificadas três variáveis determinantes: “a diferenciação, a interdependência
interfirmas e a flexibilidade”. A “diferenciação” é traduzida pela capacidade que a rede
possui de estender os benefícios de inovação por todos os seus participantes, a custos
muito mais acessíveis do que ocorre em empresas isoladas. A “interdependência
interfirmas” pode ser entendida como a pré-condição na qual empresas apresentam
entre si relações de interesse econômico, técnico ou operacional, que se constituem no
motivador para estabelecimento de relacionamentos em rede. A “flexibilidade” é a
103
característica que já se encontra em cada uma das firmas, ao se disporem participar em
redes.
Pode-se dizer que as variáveis identificadas por Amato Neto (2000, op. cit.)
possuem pontos de convergência com o pensamento de Castells, já referido neste
capítulo. Por exemplo, a flexibilidade, para ambos, é uma condição intrínseca às
empresas e instituições participantes de redes.
Para classificação das redes, foram encontradas algumas propostas
semelhantes e outras diferenciadas. Tanto Amato Neto (2000, p. 49-50), que cita
Santos et al (1994), quanto Casarotto Filho e Pires (1998, p. 33-35) adotam os
seguintes tipos de redes de cooperação interempresariais:
a) redes verticais de cooperação ou redes topdown: caracterizam-se pelo conjunto de
empresas que representam os diferentes elos de uma cadeia produtiva (produtores,
fornecedores, distribuidores e prestadores de serviços), geralmente dependentes de
uma empresa-mãe, cujos fornecedores contam com pouca flexibilidade; também
conhecida como modelo japonês, seu exemplo mais típico é a indústria
automobilística;
b) redes horizontais de cooperação ou redes flexíveis: são estabelecidas relações de
cooperação entre empresas de um mesmo setor, sejam em atividades
complementares ou, até mesmo, entre empresas concorrentes, quando estas
encontram dificuldades para resolverem, individualmente, problemas de suprimento,
distribuição, ou para se integrarem em processos participativos que atendam a
interesses comuns; podem ser relacionadas a uma mesma localização geográfica
(quando em clusters) ou a segmentos empresariais específicos; também
denominadas redes flexíveis, a forma de união mais comum é o consórcio; neste
tipo específico, enquadram-se alguns modelos de desenvolvimento regional,
atualmente bastante celebrados por apresentarem maior sustentabilidade;
antecedentes históricos e culturais são relevantes para formação dessas redes e o
exemplo mais típico é o da região da Terceira Itália, congregando diversas redes de
pequenas e médias empresas.
104
Outros padrões de classificação também são adotados, dentre os quais destaca-
se o apresentado por Miles e Snow (1992, apud LOPES e MORAES, 2000, p. 10) que
dividem as redes em três tipos mais comuns:
a) rede interna - trata de transações estabelecidas entre unidades que pertencem a um
único comando, e que buscam aumentar a vantagem competitiva por meio do
compartilhamento de ativos;
b) rede estável – conta com uma organização-mãe que mantém o controle sobre sua
competência essencial (core competence) e delega um conjunto de outras
atividades complementares para firmas com quem mantém laços externos e
permanentes;
c) rede dinâmica – é aquela em que uma organização líder assume a função de
gerenciar contratos de cooperação com outras firmas que atuam em etapas
específicas do processo produtivo. Nessas últimas, verificam-se maiores
instabilidades por causa da maior facilidade de troca de parceiros, o que, em muitos
casos, dificulta o alcance de maturidade nas relações da rede.
Os três tipos de redes caracterizados por Miles e Snow (1992) parecem estar
enquadrados no padrão de redes verticais (topdown), referido pelos autores anteriores.
Outro padrão de classificação, apresentado por Amato Neto (2000, p. 48-49), distingue
três tipos, quais sejam:
a) redes sociais: caracterizam-se pela informalidade nas relações entre firmas,
dispensando os contratos formais; são sub-divididas em simétricas e assimétricas,
sendo a primeira entendida como as redes de compartilhamento de conhecimento e
troca de informações; exemplos mais característicos são os distritos de alta
tecnologia; as redes sociais assimétricas contam com a presença de um agente
central que coordena contratos de fornecimento de produtos e/ou serviços entre os
participantes da rede. Amato Neto cita como exemplo a rede italiana da Benetton;
b) redes burocráticas: pressupõem um contrato formal que regula sua própria
organização, como também o fornecimento de produtos ou serviços; também são
105
sub-divididas em simétricas e assimétricas, sendo simétricas as do tipo consórcios,
associações comerciais, federações, dentre outras. Já as redes burocráticas
assimétricas se referem às redes de agências, acordos de licenciamento e as
franquias;
c) redes proprietárias: têm como característica a formalização de acordos de
propriedade, regulação de P&D (pesquisa e desenvolvimento), inovação
tecnológica, dentre outras. São também simétricas e assimétricas e o caso mais
representativo das redes proprietárias simétricas é o das joint ventures; as
assimétricas, dessa mesma categoria, são representadas pelas relações entre
investidor e empresas parceiras, denominadas capital ventures, encontradas nos
setores de tecnologia de ponta.
Castells (2000, p.209-210) adota a classificação das redes elaborada por Dieter
Ernst, que as sub-dividiu em cinco tipos diferentes:
a) redes de fornecedores: incluem sub-contratação e acordos entre uma “empresa
focal” e seus fornecedores de insumos intermediários para produção;
b) redes de produtores: representam todos os acordos de co-produção, que
possibilitam a associação de produtores concorrentes unirem suas capacidades de
produção (recursos de capital e humanos), para ampliação da oferta de produtos e
expansão da cobertura geográfica;
c) redes de clientes: definidas como o estabelecimento de vínculos e acordos entre os
produtores e seus distribuidores, canais de comercialização revendedores com valor
agregado e usuários finais, tanto nos mercados de exportação como nos mercados
internos;
d) coalizões-padrão: iniciadas pelos potenciais definidores de padrões globais, com o
propósito explícito de vincular o maior número possível de firmas a seus produtos
patenteados ou normas de interface;
106
e) redes de cooperação tecnológica: criadas para facilitar a aquisição de tecnologia
para projetos e produção de produtos, propiciam o desenvolvimento conjunto de
processos e produtos e o compartilhamento de conhecimentos científicos genéricos
e de P&D.
Castells (2000, op.cit.) chama atenção para o fato de que a formação de redes
não decreta o fim das empresas multinacionais. Na sua opinião, e de outros autores
como Dieter Ernst, as redes se formam ao redor das grandes multinacionais ou com
base em alianças com e entre essas empresas. Na sua opinião, as redes de
cooperação entre pequenas e médias empresas existem, mas desempenham um papel
secundário nos principais setores da economia global.
Com base nos diversos conceitos sobre redes, analisados e referenciados neste
trabalho, chega-se ao entendimento de que a rede interorganizacional é um tipo de
agrupamento de empresas conectadas, geralmente com o objetivo de fortalecer e
complementar umas às outras, tanto nos processos produtivos, como nos sistemas de
distribuição. São também consideradas como formas de alianças estratégicas entre
organizações e tanto podem unir empresas de uma mesma localização geográfica
(redes locais), como conectá-las globalmente em longas distâncias (redes dispersas).
Para Castells, a sociedade em rede experimenta um capitalismo global,
diferenciado dos seus momentos históricos anteriores. Nas suas palavras, “o capital
funciona globalmente como uma unidade de tempo real; e é percebido, investido e
acumulado principalmente na esfera da circulação, isto é, como capital financeiro”. O
autor argumenta que não existe uma classe capitalista global, mas há uma rede
eletrônica integrada, por onde circula esse capital global formado por fluxos financeiros
que são investidos por todo o planeta e em todos os setores produtivos, gerando
acumulação de capital. A decisão de investimento depende do grau de informações
disponíveis na rede, sobre esses setores, e leva em conta a produtividade, a
competitividade e o planejamento de longo prazo, relativo a cada setor (CASTELLS,
2000, p.497-500).
107
Pode-se dizer ainda que as redes favorecem tanto o processo de concentração
como o de descentralização dos fluxos financeiros na economia global. Existem
também redes que se configuram como enclaves, dificultando o acesso a novas
interconexões. Neste caso, considera-se que ocorrem desvios quanto ao uso do
modelo, que pretende ser, fundamentalmente, aberto e tem a conectividade e a
coerência como atributos essenciais (CASTELLS, 2000, p. 191).
Em relação ao emprego e às relações sociais, enquanto o capital passa a ser
global, o trabalho continua sendo local. A mão-de-obra atua de forma descentralizada e
diversificada por toda a rede, não existindo identidade coletiva para o fator trabalho.
Castells afirma que, na sociedade em rede, as relações de trabalho tendem a se
distanciar cada vez mais da identidade coletiva, em direção a uma infinita variedade de
relações individuais. Nas relações sociais, a informação assume o papel de ingrediente
principal, cujas mensagens fluem através das redes, alimentando a estrutura social.
Ainda segundo Castells (2000, p. 502-505), “as redes convergem para uma
metarrede de capital que integra os interesses dos capitalistas em âmbito global e por
setores e esferas de atividades: não sem conflito, mas sob a mesma lógica
abrangente”. Acrescenta que as bases da sociedade, espaço e tempo estão sendo
transformadas e organizadas em torno do “espaço de fluxos e do tempo intemporal”. E
afirma também que “sob perspectiva histórica mais ampla, a sociedade em rede
representa uma transformação qualitativa da experiência humana”.
5.2. As Redes Interorganizacionais no Turismo
No turismo, em virtude da multivariedade de segmentos afins e de tamanho de
empresas, há um ambiente bastante favorável à formação de redes
interorganizacionais (networks). Acrescente-se ainda a importância de se estabelecer
modelos compatíveis com as necessidades de circulação rápida de informações, que
de forma flexível atendam às variadas demandas dos turistas, dispensando, tanto
108
quanto possível, a verticalização das firmas e valorizando a integração de negócios
independentes, mas que atuem de forma cooperada e sinérgica.
A abordagem de redes de cooperação interorganizacional no turismo é
considerada por alguns especialistas como Tremblay (1998, p. 848) como “um novo
paradigma organizacional”, capaz de abrir novas perspectivas e implantar uma
dinâmica inteiramente nova no setor. Assim como nas redes já desenvolvidas em outros
setores, no turismo a adoção desse modelo pode estabelecer sistemas de troca de
informações, construção de padrões de comunicação e confiança, cooperação,
planejamento conjunto e integração operacional, contribuindo para a redução de riscos
para os empreendimentos, além do aumento da produtividade e da competitividade no
mercado global.
Tremblay (1998, op. cit. p.849) chama atenção para a importância das redes
interorganizacionais no setor de turismo, tanto para integração dos diversos
prestadores de serviços nos destinos turísticos, como para formação de alianças
estratégicas de empresas conectando, em rede, os diversos serviços, desde os pontos
de promoção e vendas nos mercados emissores até as regiões de destino.
O autor ainda se refere à possibilidade de integração nessa rede, tanto do setor
público, para melhoria e sincronização dos serviços públicos necessários ao turismo,
como das comunidades receptoras, o que pode proporcionar maior entendimento e
integração dessas com a dinâmica da atividade turística. Devido à preservação das
condições de independência e autonomia das diversas firmas e negócios que, na
maioria das vezes, operam em redes de cooperação, pode-se prever que uma
organização tem a possibilidade de estar conectada em mais de uma rede, para fins
específicos.
Ainda com base nos estudos de Tremblay (1998, op. cit. p.851-854), três tipos
específicos de redes são encontrados, com freqüência, em turismo. O primeiro tipo é
representado pelas redes horizontais de um determinado tipo de serviço, que se juntam
em consórcios ou alianças, para alcançar diversos mercados, a exemplo de sistemas
109
hoteleiros com o Best Western e de acordos entre companhias aéreas como o Star
Alliance, do qual participa a Varig e diversas outras empresas.
O segundo tipo diz respeito ao estabelecimento de redes verticais, laterais ou
diagonais de serviços complementares para formação do produto turístico de
determinados destinos – hotéis, companhias aéreas, operadores, agências de viagens
e receptivos, companhias de crédito e seguros, dentre outros – com o intuito de
estabelecer controle de qualidade do produto ofertado, intercâmbio de práticas de
inovação, racionalização de custos operacionais e de marketing, além da abertura de
canais de comunicação com os clientes.
O terceiro tipo descrito por Tremblay trata de redes locais de cooperação que
se formam para compartilhar atrações e infra-estrutura necessária ao turismo, com o
objetivo do gerenciamento cooperativo dos recursos locais para minimização de
impactos negativos. Outras redes locais se formam também para estabelecer sistemas
de informações turísticas e de marketing cooperativo, envolvendo os setores público e
privado (TREMBLAY, 1998, p.853).
Tanto as redes verticais como horizontais ou diagonais podem ser
estabelecidas a partir da necessidade de promover e/ou comercializar produtos
turísticos, seja no âmbito local, como em esferas nacional e internacional. A
participação das empresas ou clusters locais em redes internacionalizadas de
comercialização de produtos turísticos pode garantir a sustentabilidade econômica e
mercadológica de determinados destinos, contribuindo ainda para a evolução qualitativa
desses produtos, estimulada por demandas diversificadas e mais exigentes.
Na opinião de Tremblay (1998, p. 849), as conexões estabelecidas pelas redes
formam uma complexa teia de comunicação e fluxo de informações, envolvendo
variados graus de formalidade e estruturas de coordenação flexíveis bastante
adequadas a “ambientes voláteis”, como o setor de turismo. Duas situações tradicionais
ocorrem na formação das redes: a) a primeira trata de conectar organizações de um
mesmo espaço geográfico que desejam compartilhar ações coletivas e ativos de
interesse comum. Este tipo de rede, também denominada rede local, geralmente,
110
corresponde ao destino turístico e guarda uma semelhança conceitual muito estreita
com o modelo de cluster; b) a segunda situação trata da formação de alianças
estratégicas, formais e informais, envolvendo firmas e entidades espacialmente
dispersas, através de canais privilegiados de comunicação. No turismo, observa-se este
tipo de rede entre organizações das regiões emissoras e receptoras, formando alianças
cooperativas horizontais e verticais.
Nos casos de conexões em redes internacionais para movimentação de fluxos
de turismo, o apoio do Estado é particularmente importante, sobretudo nos estágios
iniciais. No que se refere à natureza dos ingressos de divisas nas balanças comerciais
dos países, o turismo receptivo pode ser equiparado às atividades exportadoras e o
turismo emissivo, às importações. Essas redes se estabelecem de acordo com os
interesses de demandas e nichos de mercado específicos, levando em conta as
condições de distribuição da oferta de produtos e destinos turísticos.
Diferentemente dos movimentos de aquisições e fusões que ocorrem no mundo
empresarial e envolvem significativas transferências de capitais, as redes conservam a
situação de propriedade das firmas e facilitam tanto a entrada como a saída das
alianças e acordos pactuados. Autores como Tremblay consideram que, devido aos
altos esforços de aprendizagem e confiança, as redes conseguem reduzir os riscos
quanto a comportamentos oportunistas, freqüentemente presentes em setores como o
turismo.
Outro estudo importante sobre redes no setor de turismo é o Projeto “The
Emerging Paradigm of Sustainable Tourism – A Network Perspective (EMPOST-NET),
financiado no âmbito da Comunidade Européia, realizado entre dezembro de 1997 e
maio de 2000, cuja equipe, liderada por Zanaida Fadeeva e Minna Halme (2000), foi
coordenada pelo Instituto Internacional de Economia Industrial e Ambiental da
Universidade de Lund – Suécia.
Este projeto estudou nove redes no setor de turismo, em cinco paises europeus
– Espanha (2), Finlândia (2), Irlanda (2), Grécia (1) e Suécia (2) – tendo como ponto
comum a aliança entre setor público, setor privado, ONGs, academia e comunidades,
111
para o alcance de um objetivo comum – o desenvolvimento sustentável do turismo. Os
resultados do estudo mostram algumas indicações importantes sobre a aplicação do
modelo de redes interorganizacionais no turismo:
Os agentes turísticos e a comunidade, em geral, têm uma compreensão
fragmentada do conceito de desenvolvimento sustentável. Por outro lado, o
entendimento geral sobre turismo sustentável prevê o desenvolvimento de
produtos que respeitam mais o meio ambiente, oferecem vantagens
competitivas no mercado e asseguram sua viabilidade econômica no longo
prazo.
−
−
−
−
Além do Turismo Sustentável, os atores dessas redes possuem motivos
complementares para sua formação, como a melhoria do desempenho
econômico da região em que se situam ou o aumento da vantagem
competitiva de suas empresas.
Enquanto a colaboração dos empresários do turismo é necessária para
promover uma consciência ambientalmente sustentável, o apoio das
instituições públicas é imprescindível para coordenar determinadas ações de
forma efetiva.
Dentre os fatores de êxito das redes em turismo, enumera-se o
estabelecimento de uma “visão comum” entre os participantes; a composição
dos membros da rede deve depender desse objetivo comum; a rede deve
assegurar competição diferenciada nas áreas de turismo sustentável, isto é,
deve haver um número equilibrado de participantes nas redes; deve-se evitar
excesso de liderança centralizada, mas é preciso algum tipo de coordenação.
Esses lideres devem permitir as alterações naturais da rede, incluindo a
formação de sub-redes; a confiança entre os membros da rede é, ao mesmo
tempo, uma condição necessária e um resultado desejável; confiança inicial,
credibilidade e reciprocidade são condições que afetam a dinâmica das
redes.
112
As recomendações apresentadas pelo Projeto EMPOST-NET, foram divididas
em dois grupos: a) para estabelecer redes – reconhecimento por todos os
atores da interdependência mútua e dos temas de interesse comum, além
dos objetivos que motivaram a criação da mesma, e; b) para manter as redes
– distribuir responsabilidades e compartilhar conhecimentos, formalismo e
flexibilidade conjugados de maneira equilibrada, comunicar as realizações da
rede e cuidar da reciprocidade entre seus membros.
−
5.2.1. Alguns Exemplos de Redes Interorganizacionais no Turismo
Alguns dos exemplos mais representativos na área de hospedagem é o Club
Méd, uma rede hoteleira internacional, que também se articula com operadores locais e
internacionais para inserção no mercado. Mesmo outros empreendimentos hoteleiros
independentes, como o Praia do Forte Eco-Resort, atuam inseridos em redes locais e
internacionais de comercialização, o que lhes garante atingir nichos de mercado do seu
interesse, com a manutenção de altos índices de ocupação e aceitação no mercado.
Pode-se citar, ainda, o produto turístico Costa do Sauípe – Bahia, desenhado
para competir no mercado internacional e que, por se tratar de produto novo e
diferenciado no Brasil, ainda enfrenta os desafios de se aperfeiçoar cada vez mais, para
se inserir em redes nesse mercado globalizado e altamente competitivo. As diversas
cadeias hoteleiras internacionais, lá instaladas, buscam se conectar com seus parceiros
internacionais – operadores de charters, operadores turísticos, etc. – e também
participam de redes locais de integração com outros serviços complementares.
A título de ilustração, serão apresentados, a seguir, dois exemplos de redes em
turismo, sendo o primeiro referente a uma rede local estabelecida no município turístico
de Calviá – Espanha, e o segundo trata de uma rede dispersa, internacionalmente
conhecida como um GDS – Global Distribution System, da área de comercialização de
produtos turísticos, que também se constitui sob o formato empresarial de sistema
internacional de multireservas – o Sistema AMADEUS.
113
Município de Calviá – Agenda 21 para o desenvolvimento local sustentável
Dentre as nove redes de turismo de países europeus, estudadas pelo projeto
EMPOST-NET, a de Calviá, município turístico situado na ilha de Maiorca, Espanha, se
mostra bastante peculiar, porque pretende conciliar as características de um destino de
turismo de massa, “sol e praia”, que recebe anualmente um terço do total dos visitantes
das ilhas Baleares, com os objetivos municipais de definir uma nova política de longo
prazo para reorganizar o desenvolvimento local e do turismo, sob os princípios da
sustentabilidade.
Essa iniciativa começou em 1995, com a implantação da Agenda 21 Local, por
parte da Prefeitura Municipal, que nomeou um Comitê Diretor para coordenar e apoiar
as ações do Fórum Cidadão, formado por cerca de 160 membros de associações
hoteleiras, sindicatos, associações de moradores, grupos ambientalistas, etc. Realizou-
se um estudo sobre áreas temáticas específicas, por técnicos da prefeitura e
especialistas externos; foram criadas Comissões Temáticas para discutir esses estudos
e estabelecer as estratégias e ações necessárias à implantação da Agenda 21. Os
principais resultados foram: definição de 15 ações imediatas, 40 providências e 10
linhas estratégias de ação, dentro de um cenário desejado.
Os aspectos mais importantes a serem assinalados nesta rede são o amplo
apoio voluntário de todos os atores locais e também o apoio institucional de financeiro
do Governo Municipal e do Ministério de Comércio e Turismo Espanhol, organizados
através do Comitê Diretor e do Fórum Cidadão (FADEEVA e HALME, 2000, p.3-4).
AMADEUS – Global Distribution System, uma rede global de distribuição
O AMADEUS é um sistema global de distribuição e provedor de tecnologia da
informação, que lidera no marketing, vendas e distribuição de produtos relativos ao
setor de viagens e turismo. Disponibiliza uma rede e um banco de dados considerado
um dos maiores da Europa, estando conectado a mais de 56.000 agências de viagens
e 8.500 lojas de companhias aéreas, em cerca de 200 mercados em todo o mundo.
114
Através da rede AMADEUS, agências de viagens e companhias aéreas podem
efetuar suas reservas com cerca de 500 empresas aéreas, que representam mais de
95% da oferta de assentos em vôos regulares. O sistema também oferece acesso a,
aproximadamente, 56.000 hotéis e 46 locadoras de automóveis, que atuam em 24.000
localidades, além de oferecer outros produtos, tais como reservas de sistemas ferry-
boat, trens, cruzeiros marítimos, seguros de viagens e pacotes turísticos. Conta
também com um poderoso canal de e-commerce, através das páginas da Internet, tanto
através de seu próprio portal, como em coligação com outros parceiros comerciais
(AMADEUS, 2001).
Esse sistema foi fundado em 1987 e estava totalmente implantado em 1992,
tendo sede central em Madri, e o Centro de Processamento de Dados localizado em
Erding, nas proximidades de Munique, Alemanha. Conta com uma central de
desenvolvimento de produtos na França, próximo a Nice, além de 70 bases de suporte,
treinamento e serviços, espalhados por todo o mundo. A empresa como um todo possui
cerca de 4.000 empregados, distribuídos em todo o mundo, oriundos de cerca de 25
diferentes nacionalidades. A empresa se orgulha de possuir um time multicultural
(AMADEUS, 2001).
Sua capacidade de atendimento tem crescido a cada ano, tendo realizado 1
milhão de reservas em vôos, em 1989. Dez anos depois, já realizava 371,7 milhões de
reservas e, no ano 2000, atingiu 393,9 milhões. Também possui os certificados ISO
9001 e 9002, tendo sido o primeiro sistema da sua categoria a receber esta certificação.
Seus principais concorrentes, em escala mundial, são os GDS SABRE e GALILEU,
embora existam outros similares que atuam em âmbito mais restrito.
Vale assinalar a importância de um sistema de reservas e distribuição que
utiliza uma base tecnológica tão avançada e em permanente evolução para a expansão
do turismo, mundialmente. Parece-nos que os três fatores essenciais para o sucesso
dessa rede de serviços de viagens e turismo são a diversidade de oferta de produtos
interconectados em um único sistema, a alta especialização da base tecnológica, a
serviço dessa rede, e a capacidade de cobertura geográfica em todo o mundo.
115
Um sistema de distribuição global, como o estabelecido pelo AMADEUS, pode
simbolizar a importância do modelo de redes interorganizacionais de base tecnológica,
para o desenvolvimento do turismo sem fronteiras.
5.3.– O modelo de Redes Interorganizacionais e sua Adequação ao Turismo
Este capítulo buscou analisar primeiramente o modelo de redes
interorganizacionais em seus aspectos mais amplos e, depois, investigou a sua
aplicação específica no setor de turismo. Mesmo com uma disponibilidade limitada de
fontes bibliográficas que enfocam o modelo de redes no setor de turismo, pode-se
constatar, através de estudos como o EMPOST-NET (FADEEVA e HALME, 2000), que
as redes com interesse em turismo trazem como conteúdo subjacente a questão do
desenvolvimento local e sustentável.
Outro fator fortemente presente no modelo de redes (networks) é a base
tecnológica que pode conectar, em tempo real, todos os participantes, facilitando,
assim, a integração dos diversos atores do turismo. Alie-se ao componente tecnológico
o desenvolvimento de uma visão comum entre os membros da rede, fazendo com que
sejam potencializadas as perspectivas de aprimoramento do produto turístico, que é,
por natureza, fragmentado, instantâneo, interdependente, espacialmente disperso e
heterogêneo, como visto nos capítulos anteriores.
Dentre os aspectos desfavoráveis que este modelo pode trazer para o turismo,
vale assinalar, em alguns casos, o baixo nível de exigências para que firmas de
qualidade duvidosa tenham acesso às redes de prestação de serviços turísticos. Com
poucas barreiras à entrada, o setor de turismo tem experimentado um elevado índice de
mortalidade das empresas e empreendimentos, o que compromete, por vezes, a
continuidade e a manutenção do padrão de qualidade dos produtos turísticos.
116
Para superar essas dificuldades e valorizar os atributos favoráveis do modelo
de redes no setor de turismo, considera-se necessário atuar em amplo programa de
educação e capacitação empresarial e profissional, o que também contribuirá para o
desenvolvimento sustentável da atividade turística.
117
6. CONCLUSÕES
A análise dos modelos multiorganizacionais – cadeia produtivas, clusters e
redes interorganizacionais, incluindo suas peculiaridades e principais condições de
operacionalização – foi o foco principal deste trabalho. Considerou-se necessário
também abordar questões relacionadas aos aspectos do desenvolvimento regional –
como uma das estruturas de base para esses modelos. Posteriormente, cada um dos
modelos estudados foi particularizado, em termos de sua aplicação no setor de turismo.
O turismo, devido às suas características inerentes ao setor de serviços,
majoritariamente, ainda encontra dificuldades para estabelecer bases mais sólidas em
modelos de organização, que foram desenvolvidos, quase que exclusivamente, para o
setor industrial. Compreende-se tal situação, porque somente nas últimas décadas é
que se percebeu o efetivo impacto e alcance positivo que este setor pode atingir, desde
que desenvolvido segundo os princípios do desenvolvimento sustentável.
O aprofundamento dos estudos empíricos e teóricos sobre o turismo se mostra
de grande importância para que se possa compreender essa atividade como sendo não
apenas a co-existência de uma série de sub-setores que formam o denominado
“produto turístico”, mas, principalmente, como o resultado de uma ação cooperada de
todas essas partes, formando uma amálgama que se traduz em um resultado muito
mais representativo do que a simples soma das partes.
A investigação teórica realizada até aqui permite a abertura de novas frentes de
interesse para aprofundamentos futuros. Em cada um dos modelos estudados –
118
cadeias produtivas, clusters e redes – existem questões de pesquisas que nos parecem
relevantes para um melhor entendimento do fenômeno turismo. O interesse pelo
conhecimento e pelo uso de novos modelos multiorganizacionais surge do
reconhecimento da crescente complexidade que o processo produtivo hoje impõe aos
diversos setores e, sobretudo, a atividades tão complexas quanto o turismo.
As cadeias produtivas, com suas características semelhantes a uma linha de
montagem típica do setor industrial, conseguem representar apenas parcialmente a
realidade de alguns sub-setores do turismo, a exemplo da hotelaria. Mesmo
considerando que essas cadeias são embebidas no macro ambiente do setor,
produzindo e reproduzindo relações complementares, conclui-se que, dentre os três
modelos estudados, este é o que mais se distancia da realidade do turismo.
Um dos pontos fortes apresentados pelo modelo de cluster é a sua flexibilidade
e adaptabilidade a, praticamente, todos os setores produtivos. Além disso, aplica-se de
forma igualmente ajustada, tanto em países ou regiões desenvolvidos, quanto em
economias frágeis ou deprimidas. Nessas últimas, o cluster pode exercer importante
papel na alavancagem do setor e, conseqüentemente, da região na qual se instala. As
externalidades inerentes ao modelo de cluster se mostram bastante importantes para o
desenvolvimento regional, porque alcançam não apenas as empresas dos locais em
que se instalam, mas a sociedade como um todo.
No turismo, um setor formado por micro, pequenas, médias e grandes
empresas, além de um grande número de ocupações autônomas, a organização em
clusters, principalmente nas regiões de destinos turísticos, pode proporcionar ganhos
de produtividade, melhoria de qualidade e conseqüente aumento da competitividade.
Soma-se, a isso, a coerência com os princípios do desenvolvimento sustentável que
preconiza a integração das comunidades locais ao processo de desenvolvimento sócio-
econômico.
Entretanto, este modelo também apresenta fragilidades porque se mostra
insuficiente para representar o sistema turístico total, que precisa estabelecer conexões
extra-locais com o denominado market space. Neste caso, a utilização do modelo de
119
cluster em turismo parece guardar a estreita sintonia com a necessidade de integração
e cooperação inerentes às regiões de destino turístico.
As redes interorganizacionais podem exercer importante papel na gestão do
turismo, tanto no estabelecimento de redes locais, quanto nas interconexões desses
destinos com os principais agentes promotores e distribuidores do produto turístico nas
regiões emissoras de fluxos de visitantes. Se é verdadeiro afirmar que o processo de
globalização dos mercados de produtos turísticos se constitui em ambiente cada vez
mais propício à criação de redes interorganizacionais, é também factível dizer que
essas mesmas redes podem reforçar o surgimento e a sustentabilidade de iniciativas de
desenvolvimento regional endógeno, que se conectarão com o movimento global da
sócio-economia.
As evidências resultantes deste trabalho de investigação sobre os modelos
multiorganizacionais que melhor se aplicam ao turismo respaldam as conclusões aqui
apresentadas. Dos três modelos estudados, considerou-se que a cadeia produtiva
pode ser adequada para representação de alguns sub-setores do turismo, que contêm
maior grau de padronização e maior necessidade de controle do processo operacional.
Confirmando nossa hipótese inicial, a associação entre o modelo de cluster –
que melhor pode representar a dinâmica das regiões de destino turístico – e o modelo
de rede – para estabelecer as conexões entre essas regiões de destino turístico e os
mercados globalizados parece ser a melhor configuração para um setor fragmentado,
interdependente e instantâneo como o turismo. Em síntese, clusters e produtos
turísticos se conectam no market space através das redes interorganizacionais.
120
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBRECHT, Karl. Vocação para serviço. HSM Management. São Paulo, p.46-54, mar./abr. 2000. Edição especial.
ALMEIDA, Paulo Henrique de. Pequena empresa e desenvolvimento local: os limites da abordagem competitiva. [S.l.], 2001. 23 p.. (mimeo.).
ALTENBURG, Tilman; MEYER-STAMER, Jorg. How to promote clusters: policy experiences from Latin America. World Development, Great Britain, v.27, n.9, p.1693-1713, 1999.
AMADEUS Group. Madrid: Amadeus Global Travel Distribution, c2001. Disponível em: <http://www.amadeus.com./index.jsp>. Acesso em: 6 set. 2001.
AMARAL FILHO, Jair do. A endogeneização no desenvolvimento econômico regional. In: Encontro Nacional de Economia – Anpec, 27, 1999, Belém. Anais da Anpec. Belém: [s.n.], 1999?. v.2, p.1281-1300.
AMATO NETO, João. Redes de cooperação produtiva e clusters regionais. São Paulo: Atlas/Fundação Vanzolini, 2000. 163 p.
BACELAR, Tânia. Curso sobre Desenvolvimento Local Sustentável. In: Oficina de gestão sobre desenvolvimento local. Salvador: UFBA, 2000. Não paginado. (mimeo.). Mestrado Profissional em Administração, turma. 02. Escola de Administração – UFBA.
BAHIATURSA. Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia: Zona Turística Costa dos Coqueiros, Zona Turística Costa do Descobrimento. [Salvador]: Bahiatursa, dez.1992. 203 f.
BARBOSA, Maria Alice C.; ZAMBONI, Roberto A. Formação de um “Cluster” em torno do turismo de natureza em Bonito – MS. Brasília: [IPEA], dez. 2000. Texto para discussão nº 772. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/pub/td/td.html>. Acesso em: 18 set. 2001.
BUARQUE, Sérgio C. Desenvolvimento sustentável: conceitos e desafios. In: Bahia Análise & Dados, Salvador, v.6, n.2, p.5-15, set. 1996.
CARVALHO, Caio L. Desenvolvimento do turismo no Brasil. RAUSP - Revista de Administração da USP. São Paulo, v.33, n.4, p.26-29, out./dez. 1998.
CASAROTTO FILHO, Nelson; PIRES, Luis Henrique. Redes de pequenas e médias empresas e desenvolvimento regional. São Paulo: Atlas, 1998. 149 p.
121
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução: Roneide Venancio Majer. 3.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. 617 p. (A era da informação: economia, sociedade e cultura, v.1). Título original: The rise of the network society.
CLEMENTE, Ademir; HIGACHI, Hermes Y. Economia e desenvolvimento regional. São Paulo: Atlas, 2000. 260 p.
CNI/SENAI/IEL. Cadeia produtiva do turismo: necessidades de tecnologia e de recursos humanos no horizonte 2010 – investigação Delphi. [S.l.], maio, 1998. 11 p. (mimeo.).
______. Cadeia produtiva do turismo: necessidades de tecnologia e de recursos humanos no horizonte 2010. Salvador: Macroplan, set. 1998. 14 p. (mimeo.). Consolidação dos resultados dos Seminários do Eixo Costeiro do Nordeste.
______. Cadeia produtiva têxtil – confecções: necessidades de tecnologia e de recursos humanos no horizonte 2010 – investigação Delphi. [S.l.], maio, 1998. 13 p. (mimeo.).
COOPER, Chris et al. Tourism: principles & practice. Essex: Longman, 1996. 290 p.
FADEEVA, Zinaida, HALME, Minna. (Ed.). The emerging paradigm of sustainable tourism: a network perspective. Lund, Sweden: IIIEE, Feb. 2001. Final Project Report. Disponível em: <http://www.web.ndirect.co.uk/empostnet/>. Acesso em: 4 out. 2001.
____________ . El nuevo paradigma de turismo sostenible: una perspectiva de red (“network”). [S.l.]: IIIEE, nov. 2000. Resumen del informe final del proyecto. Disponível em: <http://www.web.ndirect.co.uk/empostnet/>. Acesso em: 4 out. 2001.
FAIRBANKS, Michael. Building competitiveness in Northeastern Brazil. Cambridge: Monitor Company, 1997, 24 p.
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Cresce Minas: um projeto brasileiro. Belo Horizonte: FIEMG, 2000. 112 p.
FRANGIALLI, Francesco. Millenium tourism boom in 2000. Madrid: WTO, jan. 2001. Seção News Releases. Disponível em: <http://www.world-tourism.org/newsroom/html >. Acesso em: 31 ago. 2001.
FREEMAN, Christopher. Economics of research and development. In: SPIEGEL-ROSING. Science, technology and society. London: Cass/University of Sussex, 1978. ch.7. p. 223-275.
______. Inovação e ciclos longos de crescimento econômico. In: Ensaios FEE, Porto Alegre, v.5, n.1, p.5-20, 1984.
122
GAUDENZI, Paulo Renato D. Evolução da economia do turismo na Bahia. In: CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA. Reflexões de economistas baianos. Salvador: CORECON, 2001. p.78-110.
HILL, Peter. On goods and services. The Review of Income and Wealth. [S.l.], n.4, p.315-338, dec. 1977.
HUMPHREY, John; SCHMITZ, Hubert. Principles for promoting clusters & networks of SMEs. Sussex: Institute of Development Studies - University of Sussex, Oct. 1995. (mimeo.).
IGLIORI, Danilo C. Economia dos clusters industriais e desenvolvimento. São Paulo: IGLU - FAPESP. 2001. 149 p.
INICIATIVA PELO NORDESTE. Uma estratégia de desenvolvimento competitivo. Brasília; Recife: Grupo Executivo, set. 1997. 8 p. (mimeo.).
KOTLER, Philip. Projeto e gerência de serviços. In: ______. Administração de marketing. 10.ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000. cap.14. p.447-474.
LAGE, Beatriz H. G; MILONE, Paulo César. Impactos socioeconômicos globais do turismo. In:______(Org.). Turismo: teoria e prática. São Paulo : Atlas, 2000. p.117-131.
LOIOLA, Elizabeth. Turismo e desenvolvimento. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2001. 24 p. (mimeo.).
______; MOURA, Suzana. Análise de redes: uma contribuição aos estudos organizacionais. In: FISCHER, Tânia (Org.). Gestão contemporânea: cidades estratégicas e organizações locais. 2.ed. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1997. p.53-68.
LOPES NETO, Alfredo. O que é o cluster?. Fortaleza: IPLANCE, 1998. 204 p.
MATHIESON, Alister; WALL, Geoffrey. Tourism: economic, physical and social impacts. Essex: Longman, 1992. 208 p.
MÉIER, Gerald M.; BALDWIN, Robert E. Analisis de Schumpeter. In: Desarrollo económico: teoria, história, política. Madrid: Aguilar, 1969. cap.4, p.93-108.
MELLO E SILVA, Sylvio B. de. Geografia, turismo e crescimento: o exemplo do Estado da Bahia. In: RODRIGUES, Adyr A. B. (Org.). Turismo e geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 1999. p.122-143.
MENDONÇA JÚNIOR, Érico; GARRIDO, Inez M. D. A.; VASCONCELOS, Maria do Socorro M. Turismo e desenvolvimento sócio-econômico: o caso da Costa do Descobrimento. Salvador: Omar G., 2000. 156 p. (Coleção selo turismo, 3).
123
MONITOR GROUP. Criando o Cluster de Entretenimento do Estado da Bahia – sumário executivo. Salvador: Fundação Luis Eduardo Magalhães/Secretaria da Cultura e Turismo, 2001. 34 p., il. (mimeo.).
NICOLESCU, Basarab. Um novo tipo de conhecimento: transdisciplinaridade. In: ______ et al. Educação e transdisciplinaridade. Tradução de Judite Vero, Maria F. de Mello e Américo Sommerman. Brasília: UNESCO, 2000. p.13-29.
ODEBRECHT, Norberto. Não precisamos de gestores e sim de líderes. A Tarde, Salvador, 14 out. 2001. Local, p.10. Entrevista concedida a Cleidiana Ramos.
OLIVEIRA, Antonio P. Turismo e desenvolvimento: planejamento e organização. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2000. 175 p.
OLIVEIRA, Maria Teresa C. Parceria em rede em prol da sustentabilidade. Salvador: 2001, 42 p. Trabalho para obtenção de créditos no Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana, Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, disciplina: Qualidade Ambiental Urbana.
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DEL TURISMO. Turismo: panorama 2020. Madrid: OMT, 2001. 48 p.
PETROCCHI, Mario. Gestão de pólos turísticos. São Paulo: Futura, 2001. 459 p.
PORTER, Michael. Clusters e competitividade. HSM Management, São Paulo, p.100-110, jul./ago. 1999a.
______. Competição: estratégias competitivas essenciais (On competition). Rio de Janeiro: Campus, 1999b. 515 p.
______. A nova era da estratégia. HSM Management, São Paulo: HSM do Brasil, p.18-28, mar./abr. 2000. Edição especial.
______. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1991. 557 p.
______. A vantagem competitiva das nações. 5.ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989. 897 p.
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO NORDESTE DO BRASIL-PRODETUR/NE II (BR-0323). Ajuda memória: Missão de Identificação do Banco Interamericano de Desenvolvimento. [S.l.: s.n., 2001?]. 7 p. (mimeo.).
REJOWSKI, Mirian. Turismo e pesquisa cientifica. Campinas: Papirus, 1996. 167 p. (Coleção turismo).
124
ROMÃO, Mauricio C. Desenvolvimento do Nordeste no limiar do terceiro milênio: duas propostas de complementares para a formulação de uma nova política regional. (versão preliminar). Recife: jan. 1998. (mimeo.).
RUSCHMANN, Doris v. de M. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. Campinas: Papirus, 1997. 199 p. (Coleção turismo).
SEGURA, Gustavo; INMAN, Crist. Turismo en Costa Rica: la visión a largo plazo. Costa Rica: [INCAE/CLACDS], nov. 1998. Disponível em: <http:// www.incae.ac.cr./es/clacds/investigation/>. Acesso em: 10 out. 2001.
SLYWOTZKY, Adrian J. Profit patterns. HSM Management, Book Summary. São Paulo, p.23-41, 2000.
SOUZA, Myrtis Arraes de. Cadeia turística. Fortaleza: Banco do Nordeste – Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste - ETENE, Equipe de Estudos de Sistemas Agroindustriais, [199-?]. 6 p. (mimeo.).
SOUZA FILHO, Jorge R. Desenvolvimento regional endógeno, capital social e cooperação. Porto Alegre, [200-?]. Seção Pesquisas. disponível em: <http://www.nutep.adm.ufrgs.br/pesquisas/desenvolvreg.html>. Acesso em: 15 out. 2001.
TEIXEIRA, Francisco L. C. Breve referencial teórico. Salvador: NPGA/UFBA, 1997. p.26-37. (mimeo.).
TREMBLAY, Pascal. The economic organization of tourism. Annals of Tourism Research, Great Britain, v.25, n.4, p.837-859, 1998.
TURISMO: visão e ação. Itajaí: UNIVALI, v.2, n.4, p.25, fev. 2000. Glossário.
VELLAS, François; BÉCHEREL, Lionel. International tourism. London: Macmillan, 1995. 359 p.
WOOD JÚNIOR, Thomaz. Fordismo, toyotismo e volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, 32, p.6-18, set./out. 1992.
top related