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IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
08 a 10 de junho de 2016
GT 2 GÊNERO, CORPO E SEXUALIDADES
As implicações do gênero no espaço acadêmico da UEPG: uma análise a partir de redes
semânticas
Vagner André Morais Pinto (Universidade Estadual de Ponta Grossa. Mestrando em Gestão do Território/Geografia)
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IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS PÚBLICAS GT 2 GÊNERO, CORPO E SEXUALIDADES
As implicações do gênero no espaço acadêmico da UEPG: uma análise a partir de redes
semânticas
Vagner André Morais Pinto1
Resumo: O presente texto tem por objetivo entender dadas implicações do gênero no âmbito
da produção científica no espaço acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG), Paraná. Tal espacialidade é complexa, uma vez que é composta a partir relações
entre diferentes sujeitos que trazem consigo interferências de outros contextos espaciais que
influenciam e que também são influenciadas por este âmbito. Neste trabalho, em específico, é
enfocado o gênero enquanto categoria analítica e faceta identitária de sujeitos e sua possível
implicação nas atividades de produção científica e, por conseguinte, nas demais
espacialidades que compõe tal conjuntura. Foram entrevistados 6 (seis) casais heterossexuais
de docentes pesquisadores em regime de dedicação na UEPG, cujo material transcrito
resultante foi processado em transformado em redes semânticas por meio de um pioneiro
experimento metodológico desenvolvido por Silva (2015). Através dos grafos, representação
visual destas redes, foram observadas discrepâncias entre os discursos dos sujeitos acerca as
implicações do contexto familiar em suas atividades. Os homens polarizaram o meio público
institucionalizado e realizaram, relativamente, poucas menções ao âmbito familiar. Ao passo
que o discurso das mulheres se mostrou majoritariamente dividido entre ambos, com
interferências mais claras de um contexto (privado) no outro (público). Deste modo, a
produção científica das mulheres é implicada de modo mais significativo pelas atividades
correspondentes ao seu papel social de gênero, demandando sobrecargas de atividades para o
cumprimento dos encargos institucionais bem como da reprodução familiar.
Palavras-chaves: Gênero; espaço acadêmico; produção científica.
Introdução
Este escrito visa compreender como o gênero compõe o contexto acadêmico da
Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Tal âmbito institucionalizado é permeado
por variadas relações de saber/poder protagonizadas, em maior ou menor grau, por sujeitos
com distintas trajetórias e interesses (FOUCAULT, 1995; MASSEY, 2008). O gênero
enquanto categoria analítica, relacional e faceta identitária de sujeitos (SCOTT, 1995) está
imbricado nesta conjuntura devido, entre outros fatores, à leitura da corporalidade aparente
dos(as) cientistas entre si; e conseguintes associações destes à papéis e condutas específicas
1 Universidade Estadual de Ponta Grossa. Mestrando em Gestão do Território/Geografia. E-mail:
vampmorais@gmail.com.
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dentro da sociedade que, por sua vez, remetem a espacialidades que extrapolam os muros da
universidade, como a casa, por exemplo.
Neste sentido, foram entrevistados 6 (seis) casais heterossexuais de docentes
pesquisadores sob o mesmo regime de dedicação exclusiva na UEPG, sendo selecionado para
este escrito o material transcrito referente à questão: Como é a interação entre suas atividades
de pesquisa e o contexto familiar? O mesmo foi analisado a partir de um pioneiro
experimento metodológico desenvolvido por Silva (2015) que consiste em operações de
filtragem e organização de fragmentos textuais em redes semânticas por meio dos softwares
livres LibreOffice, Google Refine e Gephi.
O corpo do texto é dividido em duas seções interligadas e complementares. A
primeira traz breves discussões acerca do gênero em termos conceituais e de imbricações no
fazer científico. Na sequência são abordados os discursos dos(as) referidos(as) docentes a
respeito das suas vivências/atividades de pesquisa/familiares.
1. Gênero e produção científica
Em oposição às explicações estritamente biológicas para a conduta e condição de
mulheres e homens despontou o conceito de gênero, sendo este amplamente veiculado a partir
da obra O Segundo sexo, de Simone de Beauvoir. O gênero, segundo Beauvoir (1967), é tido
enquanto um devir construído a partir das relações sociais nas quais são atribuídos, desde a
infância, papéis socialmente aceitáveis para mulheres e homens, sem considerar a presença de
uma sexualidade inata. As possibilidades de compreensão advindas desta noção possuem um
caráter explicativo mais abrangente e metodologicamente variado.
Desta forma, a noção de gênero nega a construção universal das diferenças
sexuais e implica a análise temporal e espacial na configuração das relações
sociais, envolvendo uma perspectiva relacional, já que as mulheres são
concebidas na sua relação com os homens (SILVA, 2009b, p. 35).
Após analisar significativo volume de estudos e discussões acerca da perspectiva de
gênero, Scott (1995) a trata enquanto uma categoria de análise útil, contudo, necessária de ser
revista em relação ao seu caráter binário e fixo: “Ao insistir sempre nas diferenças fixadas
as/os feministas reforçam o tipo de pensamento que desejam combater” (SCOTT, 1995, p.
84). A autora entende o gênero a partir de duas proposições integradas: ”(1) o gênero é um
elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças entre os sexos e (2) o gênero
é uma forma primária de dar significado às relações de poder” (SCOTT, 1995, p. 84). Uma
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das implicações que estariam inter-relacionadas com tal concepção é a de que o gênero
mostra-se enquanto, uma categoria analítica,
sendo construído através do parentesco, mas não exclusivamente; ele é
construído igualmente na economia e na organização política, que, pelo
menos em nossa sociedade, operam atualmente de maneira amplamente
independente do parentesco (SCOTT, 1995, p. 87).
Neste sentido, contudo, mesmo com a crescente participação das mulheres na
ocupação de postos de trabalho nas últimas décadas, o desnível salarial e as maiores
responsabilidades externas as colocam em desvantagem em relação aos homens neste
contexto (SILVA, 2011). No que tange, em específico, aos cargos de docência e pesquisa nas
universidades o panorama pouco altera-se. As pessoas que se dedicam a vivenciar a profissão
de professores universitários e pesquisadores possuem regras de trabalho que são acordadas
no ambiente acadêmico e que são homogêneas para todos os docentes. Entretanto, cada
pesquisador está inserido em um universo social e cultural que extrapola o espaço da
universidade e influencia em sua atuação na pesquisa, tal como Garcia-Ramon et. al (2011)
tratam em estudo realizado sobre carreiras docentes de mulheres e homens nos Departamentos
Espanhóis de Geografia:
Exceção feita a alguns casos em que o trabalho de casa e os deveres
familiares são verdadeiramente dividido pelos dois companheiros, as
mulheres acadêmicas têm uma carga muito maior em suas vidas diárias. Há
um sentimento geral de que deveres familiares são um fardo para as carreiras
das mulheres acadêmicas, embora isso não exclua uma satisfação pessoal nas
mulheres em ter as maiores responsabilidades na família. Os deveres
familiares também são o principal inconveniente para as mulheres aceitarem
as responsabilidades institucionais dos cargos mais altos. Em contraste,
alguns homens se referem à vida familiar como um fator estabilizador
(GARCIA-RAMON et al, 2011, p. 60).
Segundo Gonzalez García e Pérez Sedeño (2002) haveriam duas formas de
discriminação relacionadas ao gênero na produção científica: uma territorial e outra
hierárquica. Na primeira, são delegadas às mulheres atividades vinculadas ao compêndio de
dados quantitativos e taxonomia, visto que são consideradas mais “femininas” que outras e,
por conseguinte, tidas como de menor valor. A segunda consiste em manter cientistas
promissoras em níveis inferiores no meio acadêmico, impedindo a ascensão destas. Tal
processo é derivado de mecanismos muito sutis que excluem as mulheres das redes informais
de comunicação, fundamentais para o desenvolvimento de conceitos e publicações, tal como
demonstrou Silva et al (2009a) no contexto do campo geográfico brasileiro. Neste aspecto,
Mesmo em circunstâncias como a avaliação de artigos submetidos à
publicação, na qual se preserva o anonimato de ambas as partes, cabe
perguntar: isso evitaria o sexismo? As comunidades científicas
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especializadas geralmente são pequenas e várias informações incluídas nos
artigos, tais como local de realização, referências mais citadas, entre outras,
fornecem pistas a respeito da procedência do artigo. Além disso, temas e
questões de interesse das mulheres podem ser menosprezados ou
incompreendidos, com evidente prejuízo para quem os formula. Porém,
ainda mais passíveis de preconceito são os mecanismos de seleção de
integrantes de comitês, palestrantes de congressos e membros de bancas, nos
quais um alto grau de subjetividade está envolvido e certamente as
concepções de gênero exercem influência (AQUINO, 2006, p. 18-9).
Nos Estados Unidos existem estatísticas há algumas décadas sobre as atividades das
mulheres na ciência que constatam: segregação hierárquica, o número de mulheres é menor ao
passo que aumenta o poder e prestígio; segregação territorial, elas se concentram em áreas
consideradas mais brandas e menos valorizadas; e segregação institucional, visto que
dificilmente são contratadas como professoras das universidades de elite. Constatou-se
também que os homens obtêm maiores êxitos em campos de maior presença feminina, como
Enfermagem, do que as mulheres em campos majoritariamente masculinos, como Física e
Engenharia. Assim como os salários médios das mulheres são mais baixos,
independentemente da área (SCHIENBINGER, 2001).
O fazer científico encontra-se atrelado à economia, à política e às instituições
educacionais. O gênero, enquanto uma categoria de análise oriunda de construções sociais e
culturais e espacialmente localizadas permeia tal processo e se faz presente dentro de
estrutura de dominação simbólica, uma vez que, como explana Bourdieu (2002)
Os símbolos são os instrumentos por excelência da 'integração social’:
enquanto instrumentos de conhecimento e de comunicação [..] eles tornam
possível o consensus acerca do sentido do mundo social que contribui
fundamentalmente para a reprodução da ordem social: a integração 'lógica' é
a condição da integração “moral”. (BOURDIEU, 2002, p. 10)
Partindo-se do fato de que tanto as mulheres, como as questões e valores
denominados femininos foram excluídos da ciência, pode-se afirmar que esta “não é neutra
em relação às questões de gênero – as desigualdades de gênero foram incorporadas à estrutura
e à produção do conhecimento, (re)produzidas e representadas” (CARVALHO, 2010, p. 245).
Sendo, assim, importante atentar para as maneiras, conscientes ou não, em que as relações de
gênero influenciam o conhecimento produzido, bem como as prioridades, procedimentos e o
zelo com as consequências dessas escolhas, visto que
porque a ciência moderna é um produto de centenas de anos de exclusão das
mulheres, o processo de trazer mulheres para a ciência exigiu, e vai
continuar a exigir, profundas mudanças estruturais na cultura, métodos e
conteúdo da ciência (CARVALHO, 2010, p. 245-246).
Tendo por enfoque a ciência geográfica, um marco relacionado com o incremento do
gênero nas suas reflexões é creditado à publicação do artigo “On Not Excluding Half of the
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Human in Human Geography”, no periódico The Professional Geographer, de autoria de
Janice Monk e Susan Hanson em 1982. Contudo, conforme discute Silva (2009b) a partir de
Rose (1993), o conhecimento geográfico encontra-se masculinizado tanto em termos de
escolhas metodológicas como nos perfis de eventos de debate e divulgação científica. Relata-
se também a necessidade das mulheres adotarem posturas associadas ao modelo clássico de
prática científica pautada na objetividade e racionalidade masculina para terem possibilidade
de sucesso acadêmico.
Entretanto, novas perspectivas de se produzir geografias se desenvolvem, segundo
explana Bell (2011) acerca da emergência das geografias feministas e, posteriormente, queer
que questionam a versão oficial dos currículos geográficos mostrando-se enquanto narrativas
alternativas, mas que também visam a pluralidade epistêmica. Neste sentido, Ornat (2013)
traz as contribuições da geógrafa feminista Gillian Rose (1997) como, por exemplo, o
princípio de posicionalidade, segundo o qual a produção do conhecimento científico estaria
vinculado à relação entre os sujeitos e os objetos posicionados, questionando, assim, a
pretensa neutralidade e impessoalidade neste contexto.
2. O “público” e o “privado” a partir dos sujeitos
A vivência espacial dos sujeitos produtores do conhecimento se encontra altamente
vinculado ao gênero, uma vez que a partir de critérios estabelecidos através dele o modo
como as pessoas vivenciam e produzem espaço é significativamente alterada e segregada, não
o sendo diferente no espaço acadêmico. Bourdieu (2002) afirma que os homens ainda ocupam
amplamente o espaço público (sobretudo econômico e produtivo) ao passo que as mulheres
ficam restritas, em sua maioria, ao espaço privado (doméstico e de reprodução familiar) onde
se perpetuaria a lógica de bens simbólicos ou a extensão destes espaços com associações a
serviços sociais de amparo à sociedade “inativa” (enfermos, crianças e idosos).
Segundo Mayol (1996) o espaço público, a tomar o caso do bairro, apresenta
organização marcadamente sexista. Ocorre a delimitação clara do bar, frequentado pelos
homens ao fim do expediente, de outro lado, o espaço do pequeno estabelecimento comercial
no qual as mulheres compram viveres e conversam assuntos afins, estabilidade prática esta
derivada da distribuição sexual dos papéis familiares.
Neste sentido, Arendt (1958) realiza vinculações claras acerca das atividades
humanas de trabalho e a relação destas com espacialidades distintas. Os feitos por parte do
que a autora designa Animal laborans são destinados à garantia da subsistência humana, nas
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coisas mais básicas e efêmeras. Ao passo que a atividade do Homo faber produziria bens
duráveis e que permeariam a cultura. Tanto no primeiro como no segundo caso, estas
realizações se dariam na esfera privada, ao passo que em um terceiro caso, o da ação em si,
esta consistiria em atos que não produziriam coisas distintas do próprio agente, mas sim a
iniciativa em face de outros humanos, referindo-se ao privilegiado espaço público da política
(ARENDT, 1958 apud. HIRATA; ZARIFIAN, 2003).
Deste modo, com o objetivo de entender as implicações entre gênero e as
espacialidades na produção científica no âmbito acadêmico da UEPG foram realizadas
entrevistas com 6 (seis) casais heterossexuais de docentes pesquisadores sob regime de
dedicação exclusiva na instituição. A figura 1 refere-se o grafo construído a partir dos
parâmetros metodológicos de redes semânticas estabelecidos por Silva (2015), tendo por base
as falas dos homens dos referidos casais em resposta ao questionamento: Como é a interação
entre suas atividades de pesquisa e o contexto familiar?
FIGURA 1: GRAFO DOS DISCURSOS DOS HOMENS – POR FREQUÊNCIA E
RELAÇÃO
Organização: PINTO, V.A.M. (2015).
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A topologia da rede demonstra a significativa centralidade e frequência dos termos
“família” e “trabalho”, no entanto, cada um destes encontra-se conectado de modo distinto
com os demais nós da rede. Os termos vinculados à família apresentam conexão relativamente
distante dos termos ”crianças”, “desafio”, “união” em relação à “trabalho” e “instituição”.
Este último vincula-se com “prejudique” e “sobrecarga” de um modo mais próximo, bem
como se encontra na porção mais representativa no grafo em termos de frequência. O que,
deste modo, sugere que os discursos masculinos representem a maior preocupação destes com
o trabalho na instituição, apesar de reconhecer as implicações positivas e negativas da família
neste contexto.
A figura 2 se refere às falas das mulheres dos casais em grafo construído a partir do
mesmo questionamento e metodologia supracitados.
FIGURA 2: GRAFO DOS DISCURSOS DAS MULHERES – POR FREQUÊNCIA E
RELAÇÃO
Organização: PINTO, V.A.M. (2015).
No grafo em questão fica evidente uma maior articulação entre as esferas do privado
com o público. O termo “família” apresenta forte conexão com “produção”, “pesquisador” e
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“sobrecarga” e demais aspectos institucionais. Também é visível a presença igualmente
marcante de aspectos positivos e negativos sobre o meio familiar neste contexto: “apoio”,
“casa”, “incentivo”, ”marido”, “responsabilidade”, “filho”.
Neste sentido, os docentes pesquisadores mesmo estando sujeitos às mesmas
regulações de trabalho e exigências realizaram discursos diferentes sobre as implicações do
contexto familiar em suas vidas a partir dos seus papéis sociais de gênero. Os homens
polarizaram o meio público institucionalizado e realizaram, relativamente, poucas menções ao
âmbito familiar. Ao passo que o discurso das mulheres se mostrou majoritariamente
vinculado ao contexto privado e tendo evidentes implicações positivas e negativas para com
este. Desta feita, os homens e mulheres em tela se relacionam de modos distintos no que tange
ao público e ao privado em termos de produção científica.
Przybysz (2011) realiza críticas à dicotomia espacial público-privado a partir do
contexto investigado de mulheres pobres e chefes de família após processo de dissolução
conjugal em Ponta Grossa-PR. A escassa infraestrutura em termos de serviços básicos
públicos constatada nos bairros onde estas mulheres residiam afetava diretamente o espaço
privado sob gerência das mesmas, visto que lhes demandava constantes deslocamentos junto
ao local de trabalho, necessário para o sustento da família, hospitais, escolas entre outros.
Haveria, neste sentido, que se considerar uma terceira esfera, social, incidindo na linha
divisória entre as esferas públicas e privadas, dado o universo comum de dependência e
sobreposição entre ambas, conforme discute a autora a partir de Arendt (2007). A
consideração de que a vivência e o contato de múltiplas espacialidades e acontecimentos
através do movimento das(os) agentes são produzidas e reproduzidas tanto no espaço público
e privado, conforme argumenta Massey (2008), possibilita a compreensão da realidade
espacial sem a criação de dicotomias e binômios acerca dos fenômenos (PRZYBYSZ, 2011).
Neste sentido,
há, portanto, articulação entre essas esferas que devem ser consideradas
como inter-relacionadas de forma escalar. Por mais que haja especificidades
em cada uma destas espacialidades elas não devem ser pensadas enquanto
separadas e independentes uma da outra, pois há um tensionamento entre
estas espacialidades. Neste sentido, dicotomizar estas esferas é fechar cada
uma delas em estruturas independentes, o que invisibiliza uma relação que
deve ser colocada para o conjunto da sociedade. (PRZYBYSZ, 2011, p. 163-
164).
Foucault (2001) afirma que, ao contrário do tempo, o espaço ainda não foi
dessacralizado de modo “satisfatório”, visto que oposições que admitimos como inteiramente
dadas, por exemplo, entre o espaço privado e o espaço público, entre o espaço da família e
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espaço social, entre o espaço cultural e o espaço útil, entre o espaço de lazer e o espaço de
trabalho, todos são ainda movidos por uma secreta sacralização: “Não vivemos no interior de
um vazio que se encheria de cores com diferentes reflexos. Vivemos no interior de um
conjunto de relações que definem posicionamentos irredutíveis uns aos outros e
absolutamente impossíveis de ser sobrepostos” (FOUCAULT, 2001, p. 414).
Considerações finais
Este texto objetivou entender as implicações do gênero no espaço acadêmico da
UEPG a partir dos discursos de casais de docentes pesquisadores analisados sob redes
semânticas. Foi evidenciada a discrepância da vivência destes sujeitos a partir de associações
destes aos espaços ditos públicos e privados vinculadas aos papéis sociais de gênero por eles
desempenhados: o masculino ao público e o feminino ao privado, respectivamente. Desta
feita, a produção científica das mulheres é implicada de modo mais significativo pelas
atividades correspondentes ao gênero, resultando em sobrecarga de atividades para o
cumprimento dos encargos institucionais bem como da reprodução familiar.
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