iluminação natural versus artificial em casarios históricos – método
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Iluminação natural versus artificial em casarios históricos – método da percepção do objeto
construído através de câmera digital Outubro/2011
Iluminação natural versus artificial em casarios históricos – método da
percepção do objeto construído através de câmera digital
Grasiela Cignachi, grasicig@gmail.com
Pós-graduação em Iluminação e Desing de Interiores
Resumo
O trabalho foi realizado em edifícios de interesse histórico-cultural com algum tipo de
iluminação artificial direcionada, na cidade de Pelotas –RS. O objetivo do trabalho foi
avaliar o efeito da iluminação natural e artificial na fachada principal, através de critérios e
referências (protocolo proposto) de iluminação. As edificações foram fotografadas na
segunda quinzena de novembro de 2010, à noite e de dia, de uma mesma distância e ângulo
visual com câmera digital pessoal. O desenho experimental utilizado foi de blocos completos
ao acaso com quatro repetições. Cada bloco continha dois tratamentos: iluminação com luz
artificial e luz natural, sendo estes avaliados em dois conjuntos contendo diferentes tipos de
edificação (conjunto: casa térrea e sobrado). A iluminação natural foi superior à iluminação
artificial para todas as variáveis, não havendo diferença entre as tipologias estudadas,
dentro de cada tratamento. A percepção do volume geral, volumetria dos elementos,
reprodução de cores e quantidade de elementos iluminados da fachada das edificações
quando submetida à iluminação artificial não foi considerada boa pela autora.
Palavras-chave: Fotografia; Luz; Patrimônio.
1. Introdução
A luz é uma poderosa ferramenta de informação, podendo revelar ao observador as
características dos elementos ou ocultá-las da cena, deixando-as na penumbra. Já que o que se
vê é a luz refletida, e não a emitida, o brilho informa a posição e as características de um
determinado objeto dentro do campo visual (LEÃO, 2007). Apesar disso, as características da
luz emitida influenciam na interpretação fiel que se tem desse objeto e de seu aspecto natural.
A influência da luz no observador e na maneira como ele entende a arquitetura ou o espaço,
deve ser considerada. Pode-se definir a interface entre luz e observador como as sensações
que ele tem quando inserido no ambiente iluminado, a atmosfera do local. Já a interface entre
luz e arquitetura sendo ambiência, a forma como a própria arquitetura é interpretada, pelo seu
apelo, hierarquia, simetria, verticalidade, monumentalidade, etc.
A luz artificial propicia a visão de detalhes e viabiliza o uso do espaço urbano durante a noite.
Boa iluminação externa pode aumentar a segurança das pessoas e dos locais, destacar
elementos da arquitetura e de valor histórico e chamar a atenção para centros comerciais.
Segundo Leão (2007), soluções inadequadas de iluminação são amplamente empregadas em
toda a cidade, comprometendo a visualização do objeto que se deseja destacar ou causando
desconforto ao observador. O descuido e o uso excessivo de luz também causam danos à
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estética do ambiente noturno, mesmo quando promove o uso e a segurança do espaço. Além
da aparência visual da cidade, a iluminação dos edifícios na paisagem noturna influencia o
nível de conforto do morador e o seu modo compreensão do espaço. De forma geral, boas
soluções de iluminação podem contribuir significativamente para a melhoria do espaço
urbano, enquanto soluções mal resolvidas podem deteriorá-lo. O que é importante em termos
do aspecto estrutural da aparência noturna é que o edifício deveria mostrar uma correlação
com a sua aparência durante o dia (PHILLIPS, 2000).
Como não é vista a luz emitida e sim a refletida pelas superfícies, o brilho, as suas
características como formas, texturas e dimensões se tornam instrumentos de composição da
iluminação. Avaliando a fachada de um edifício, o que se vê são elementos opacos ou
translúcidos que refletem parte da luz, enquanto os transparentes (ar e vidro) têm suas formas
imperceptíveis, tornando-se vazios escuros quando o fundo não é iluminado, ou transparentes
quando o fundo é iluminado (BARTENBACH, 2007).
Além de sua função utilitária e securitária, a iluminação artificial é um material
revelador do espaço. Assim, se a iluminação é tratada respeitando-se a identidade
dos locais, ela pode articular os diferentes elementos constitutivos da cidade,
atribuindo-lhes uma personalidade reconhecível e identificável, para todos os
cidadãos. Mais que simplesmente iluminar para mostrar, a iluminação pede para ser
um instrumento auxiliar de recomposição da imagem da cidade, em prol de sua
qualidade ambiental. Enquanto fator de coerência e distinção, ela reforça as
identidades e ajuda na compreensão da paisagem e na descoberta das características
urbanas, caracterizando a relação com o núcleo urbano e o grau de intensidade e
prazer com que o cidadão dela se apropria. (XAVIER, 2010)
Durante o dia, a cidade e seus edifícios são iluminados pela luz solar direta e pela luz indireta
e difusa do céu, ou por ambas ao mesmo tempo, mudando constantemente a direção, a cor e
as relações de luz e sombra. Esses mesmos volumes iluminados com luz artificial contrastam-
se com a escuridão da noite, tornando-se dramaticamente destacados e belos (GODOY, 2003).
A iluminação é uma ferramenta muito eficiente quando tratamos da valorização de
patrimônio, tornando-se assim uma ferramenta artística no sentido da valorização de uma das
características de uma cidade, que é seu acervo arquitetônico. Os elementos patrimoniais de
uma cidade constituem naturalmente objetos privilegiados de uma ação de valorização pela
luz, por serem pontos focais, referenciais. No entanto, o patrimônio não pode ser dissociado
do entorno no qual se situa. Vê-se com demasiada constância a má integração das iluminações
de realce no seu meio ambiente (XAVIER, 2010).
Cada elemento arquitetônico dialoga com o todo em sua dada hierarquia que organiza uma
transição entre as partes. A relação de valor de um elemento perante o todo e,
conseqüentemente, seu destaque pela luz, define o direcionamento do olhar dentro do campo
visual no período noturno, já que somos atraídos pelo seu brilho. Devido a este fato, o projeto
de iluminação deve estabelecer um critério hierárquico para garantir que o observador seja
atraído por algo que justifique sua atenção; caso contrário, a solução perde valor e a cena se
torna frustrante (MAJOR, SPEIRS e TISCHHAUSER, 2005).
Segundo Leão (2008), a luz tem o poder de transformação sobre as formas, criando ilusões de
geometria. Assim, os planos da arquitetura e os objetos do entorno podem ser diferentemente
renderizados dependendo da maneira como são iluminados. Desse modo, pode-se fragmentar
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ou integrar formalmente um edifício e espacialmente um ambiente com o uso de diferentes
sistemas de iluminação. Com o emprego da luz artificial é possível revelar particularidades da
arquitetura através de destaques específicos e redefinir a hierarquia entre os elementos da
composição iluminando-os em diferentes escalas de intensidade. Além de influenciar o grau
de importância entre os elementos e revelá-los à noite, e de definir o fator de dramaticidade do
objeto ou espaço, as diferenças de brilho revelam tridimensionalidade. Caso um objeto seja
completamente iluminado de maneira uniforme, a sua interpretação é quase bidimensional,
pois cabe ao contraste a revelação da profundidade.
Diversos métodos foram criados para a predição da iluminação natural e artificial. Os
métodos para projeto luminotécnico são distintos entre si conforme a fonte luminosa podendo
ser: específicos para análise e estimativa da iluminação natural, para iluminação artificial ou
podem tratar da integração entre ambas as fontes. Dentro desses três universos, os métodos
podem ser classificados de acordo com sua tipologia, relacionada ao tipo de instrumento
utilizado para gerar resultados. Segundo Souza (2004), os métodos para avaliação da
iluminação natural podem ser divididos em: a)métodos de cálculo ou matemáticos, b)métodos
gráficos simplificados, simulações com modelos em escala reduzida e c) simulações
computacionais. Para a avaliação da iluminação artificial são mais utilizados os métodos
matemáticos e programas de simulação computacional.
Contudo, Craine (2007) relatou que as câmeras digitais pessoais podem ser ferramentas
práticas para o desenvolvimento de trabalhos para medir e quantificar o brilho associado as
fontes de luz. Equipamento de custo acessível, fácil de operar, prontamente disponíveis, ao
invés de fotômetros especializados ou medidores de luminosidade (que certamente têm seu
uso específico e mais preciso). Para este efeito, as câmeras digitais com critérios adequados
potencialmente oferecem uma ferramenta mais atraente e rentável. O objetivo do trabalho foi
avaliar o efeito da iluminação natural e artificial na fachada principal, através de critérios e
referências (protocolo proposto) de iluminação.
2. Materiais e Métodos
O trabalho foi realizado durante a segunda quinzena do mês de novembro de 2010, na cidade
de Pelotas – RS, situada na latitude 31°42' sul e longitude de 52°23' oeste. A média de
duração dos dias para o período foi de 14:03 horas , com o nascer às 06:15 e pôr-do-sol às
20:03 horas.
Foram utilizadas edificações pertencentes ao inventário do patrimônio histórico e cultural,
regulamentado pela Lei Municipal n0 4568/00. As construções foram catalogadas e
classificadas pela Secretaria de Cultura, segundo critérios de valorização e preservação da
identidade e memória do contexto cultural da cidade.
As construções selecionadas para o tratamento apresentam um e dois pavimentos (casas
térreas e sobrados). A escolha das unidades foi feita levando em consideração a existência de
iluminação artificial dirigida, sendo estas de uso comercial (10) ou público (06) na sua
totalidade.
A iluminação artificial utilizada nas fachadas das edificações foram lâmpadas de vapor de
mercúrio, vapor de sódio e vapor metálico halógeno. Também foi verificado o uso de
fluorescentes compactas, mas em menor quantidade. As luminárias empregadas foram,
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embutidos de piso, arandelas e na sua maioria refletores posicionados aleatoriamente.
As imagens diurnas foram captadas no período da tarde entre 16 e 18:00 horas, sem uso de
flash ou iluminador. As imagens noturnas foram obtidas somente com o flash automático, no
período onde não houve interferência da luz noturna (lua). A iluminação pública noturna da
cidade é feita com lâmpadas de vapor de sódio.
A distância utilizada para tomada das imagens foi definida a partir da menor distância de
captação que a via pública proporcionou de uma das edificações. Entre o ponto de tomada da
imagem e a localização da edificação (plano frontal aproximadamente 11 metros / e outra 20-
25 metros plano oblíquo), não sendo utilizado nenhum recurso de aproximação (ótico ou
digital).
A partir do trabalho de Craine (2007), com câmeras digitais pessoais na avaliação de fatores
envolvendo iluminação, foi desenvolvido protocolo de estudo da iluminação de fachadas de
edificações históricas. Contudo, cabe ressaltar os diferentes recursos do equipamento, a
câmera utilizada por Craine (2007) apresentava uma lente de reflexo DSLR, que permite ao
usuário configurar manualmente a distância focal, foco, abertura e velocidade do obturador.
Para este trabalho foi utilizada uma câmera digital Olympus FE-100 que apresenta as
seguintes especificações: a) sensor de imagem: 1/2.5 "CCD de captação de imagem de estado
sólido com 4,23 milhões de pixels; 4,0 milhões de pixels; b) filtro de cores primárias (RGB).
c) lente: zoom óptico 2.8x; (estrutura de 7 lentes em 6 grupos, 3 lentes asféricas); d) distância
focal: 6.2 - 17,4 mm (equivalente a 38 - 106 milímetros lente em formato 35mm); e) abertura
máxima1:3.0 (angular) - 5.0 (tele); zoom digital: 4x. ; f) focalização: sistema CCD TTL
sistema de autofoco; g) centro de medição da luz pontual; h) exposição: Programa AE;
velocidade do obturador 2 - 1 / 2, 000 seg; i) compensação: sim, até + / - 2 EV em 1 / 3 EV
passos. J) sensibilidade: Auto ISO 64-400 ; k) balanço dos brancos: modo Auto iESP
automático; l) flash: automático (activação automática em pouca luz ou contraluz); redução de
olhos vermelhos, fill-in (ativação forçada), off (sem flash); m) modo imagem armazenada:
640 x 480 / SQ2: 160.
O desenho experimental utilizado foi de blocos completos ao acaso com quatro repetições.
Cada bloco continha dois tratamentos (iluminação com 1- luz artificial e 2- luz natural), sendo
estes avaliados em dois conjuntos contendo diferentes tipos de edificação (conjunto : casa
térrea e sobrado). Para cada tratamento com base em um padrão de percepção visual,
utilizando o recurso da máquina digital, foram avaliadas as seguintes variáveis nos conjuntos
de edificações: a) percepção do volume geral da edificação; b) percepção dos volumes dos
elementos de composição do objeto; c) reprodução verdadeira das cores da fachada do objeto
arquitetônico; d) destaque para os elementos arquitetônicos; e) relação de contrastes; f)
quantidade de elementos arquitetônicos iluminados.
Os dados foram submetidos à análise de variância num esquema, de blocos completos ao
acaso e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P<0,01).
Abaixo são descritos os parâmetros do protocolo como referenciais para as variáveis
estudadas.
a) Percepção do volume geral da edificação:
A volumetria da edificação é composta pelas partes externas do prédio, fachada e cobertura. É
o aspecto tridimensional do edifício, constituindo o elemento mais forte de sua identidade. A
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boa visibilidade é definida por um nível de iluminação adequado para uma determinada tarefa
visual, distribuição uniforme de iluminância e luminância, direcionalidade da luz para
modelar objetos e superfícies tridimensionais IESNA, 2002). A iluminação deve contemplar a
forma e a volumetria do edifício, compatibilizadas com os efeitos de luz e ilusões de
geometria, empregados para valorizá-lo sem comprometer sua legibilidade na paisagem
noturna (Figura 01 representa o padrão cinco). O padrão mínimo desejável para este
parâmetro é 3,0 (Quadro 01).
Padrão Definição
1,0 Nenhuma percepção volumétrica
2,0 Pouca percepção volumétrica
3,0 Boa percepção volumétrica
4,0 Muito boa percepção volumétrica
5,0 Definição percepção volumétrica
Quadro 01. Parâmetros da percepção do volume construído (proposta da autora)
Figura 01. Edifício do Centro Cultural Banco do Brasil.(Fonte: Franco & Fortes, 2006)
b) Percepção dos volumes dos elementos de composição do objeto:
A variável refere-se à possibilidade de perceber os detalhes dos elementos arquitetônicos, suas
carcaterísticas como forma, textura e dimensões, assim se tornando instrumentos para
composição do projeto de iluminação (Figura 02 representa o padrão cinco).
Para alcançar o nível de iluminamento adequado, o padrão mínimo desejável é o que
favorecesse uma boa percepção dos elementos de composição do objeto construído (padrão
3,0 – Quadro 02), a partir dele a iluminação encontra-se satisfatória para compreenção do
volume dos elementos.
Padrão Definição
1,0 Nenhuma percepção dos elementos
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2,0 Pouca percepção dos elementos
3,0 Boa percepção dos elementos
4,0 Muito boa percepção dos elementos
5,0 Definição percepção dos elementos
Quadro 02. Parâmetros percepção dos volumes dos elementos de composição do objeto (proposta da autora)
Figura 02. Fachada do Mercado Municipal de São Paulo (Fonte: Franco & Fortes, 2006)
c) Reprodução verdadeira das cores da fachada do objeto arquitetônico:
A iluminação deve promover acuidade visual no local e evitar o ofuscamento, perda de
visibilidade, distorções excessivas das cores, etc. Pereira et al. (2000) define acuidade visual
ou nitidez de visão como a medida da habilidade do olho em discernir detalhes. A cor da luz
projetada na superfície do edifício é como esta luz reproduz as cores naturais de seus
acabamentos, pois esta influencia a compreensão do objeto. O IRC – índice de reprodução de
cores determina a correspondência entre uma fonte que se pretende avaliar e a fonte de
referência, para uma mesma temperatura de cor. Sabendo-se que a fonte de referência será
sempre a luz natural , pode-se dizer que é a medida da correspondência de uma fonte
luminosa qualquer em relação à luz natural (ROBBINS, 1986).
Para a iluminação da edificação valorizar os elementos referencias do patrimônio artístico da
cidade, deve buscar reproduzir as características naturais através da reprodução verdadeira das
cores, (Figura 03 representa o padrão cinco). O padrão desejado deve ser o da boa reprodução
de cor (padrão 3,0 – Quadro 03).
Padrão Definição
1,0 Nenhuma reprodução de cores
2,0 pouca reprodução de cores
3,0 Boa reprodução de cores
4,0 Muito boa reprodução de cores
5,0 Reprodução Total de cores
Quadro 03. Parâmetros reprodução verdadeira das cores da fachada do objeto arquitetônico (proposta da autora)
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Figura 03. Joinvile (Fonte: Franco & Fortes, 2006)
d) Destaque para os elementos arquitetônicos:
O destaque aos elementos arquitetônicos deve assegurar o direcionamento do olhar, chamar a
atenção para o objeto, possibilitar a valorização de todo o edifício. A iluminação deve
destacar a estética do edifício, possibilitando a visualização e reconhecimento das
características plásticas do mesmo (Figura 04 representa o padrão cinco). Para uma fachada
ser considerada atratativa ao observador (padrão 3,0 – Quadro 04), ela deve viabiliza um
diálogo da composição formal perante o todo, apresentado relação de valor com os elementos
arquitetônicos, os destacando.
Padrão Definição
1,0 Nenhum destaque
2,0 Algum destaque
3,0 Bom destaque
4,0 Muito bom destaque
5,0 Ótimo destaque
Quadro 04. Parâmetros acentuação das características plásticas (proposta da autora)
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Figura 04. Edifício da Bolsa de Valores de Lyon (França) (Fonte: CURBI, 2005)
e) Relação de contrastes:
Segundo Goulding et al. (1992), contraste é a diferença entre a aparência visual de um objeto
e seu entorno imediato. A relação de contraste encontra-se quando a iluminação apresenta
diferença de nível de iluminação entre as áreas do objeto Muito contraste na fachada pode
apresentar uma aparência sombria ao local, da mesma forma que se houver uniformidade
excessiva o observador pode ler o ambiente externo como apático e sem referência visual. A
iluminação satisfatória (padrão 3,0 – Quadro 05) é a que apresenta boa relação de contraste,
quando os elementos de composição do objeto e o próprio objeto são visualizados com nitidez
e a percepção das dimensões e detalhes não são afetados (Figura 05 representa o padrão
cinco).
Padrão Definição
1,0 Nenhuma relação de contraste
2,0 Alguma relação de contraste
3,0 Boa relação de contraste
4,0 Muito boa relação de contraste
5,0 Ótima relação de contraste
Quadro 05. Parâmetros relação de contraste (proposta da autora)
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Figura 05. Edifícios do Paseo del Óvalo (Espanha) (Fonte: CURBI, 2005)
f) Quantidade de elementos arquitetônicos iluminados:
É necessário determinar a quantidade de elementos destacados para promover uma leitura
fácil e compatível com a linguagem da edificação. De acordo com a nomenclatura
arquitetônica as fachadas podem ser constituídas por três partes básicas: coroamento: parte
superior do prédio, formado pela cobertura, platibanda e cimalha. corpo: corresponde aos
pavimentos existentes; é a parte da construção que se destaca verticalmente ou
horizontalmente em todo o prédio, onde encontramos os pilares, as aberturas da edificação. E
o embasamento: a base do prédio, também chamada de soco, a parte inferior da construção,
situada ao nível do chão, formando uma base, podendo ser liso ou emoldurado. De acordo
com a tipologia arquitetônica das edificações, tipologia eclética, foram avaliados os elementos
citados, quanto a sua iluminação. As edificações analisadas, possíveis de identificar três
elementos arquitetônicos distintos iluminados, encontram-se no padrão 03 (Quadro 06),
apresentando uma iluminação atrativa e adequada para sua compreensão do estilo e objeto
arquitetônico. A Figura 06 representa o padrão cinco para variável.
Padrão Definição
1,0 Um elemento iluminado
2,0 Dois elementos iluminados
3,0 Três elementos iluminados
4,0 Quatro elementos iluminados
5,0 Cinco ou mais elementos iluminados
Quadro 06. Parâmetros quantidade de elementos arquitetônicos iluminados (proposta da autora)
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Figura 06. Edifício da BOVESPA na rua XV de Novembro, cidade de São Paulo. (Fonte: Franco & Fortes, 2006)
3. Resultados e Discussões
A variável percepção da volumetria geral da edificação teve significância (P<0,01) para os
tratamentos utilizados (Tabela 01). Os valores médios para iluminação com luz natural foram
de 4,5 e 4,0 em edificações com 2 pisos (sobrado) e 1 piso (térreo), respectivamente. Essas
edificações mostraram através das imagens captadas com iluminação natural a contemplação
da forma e volumetria das edificações, preservando a legibilidade e o aspecto tridimensional
do edifício, conforme relatou IESNA (2002) para a variável. Existe a percepção do volume
como um todo, noções de profundidade e perspectiva, uma vez que seus contornos ficaram
bem definidos, resultado semelhante ao obtido por Nunes et al. (2007). Para a captação das
imagens noturnas os valores médios encontrados foram 2,25 para sobrado e 2,37 para
edificações térreas, ficando abaixo do padrão preconizado (padrão 3,0), comprometendo a
percepção do volume edificado. A diminuição da nota de avaliação do padrão da iluminação
natural para a artificial, reflete a baixa qualidade e quantidade de iluminação dessas
edificações no ambiente noturno.
Tabela 01. Médias gerais das variáveis estudadas.
Variável Tratamento Média CV% Probabilidade
natural artificial
2 pisos 1piso 2 pisos 1piso
Percepção volume geral 4,5a 4,0a 2,25b 2,37b 3,28 13,49 1%
Volumetria elementos 3,75a 3,75a 2,37b 2,5b 3,09 10,16 1%
Reprodução de cores 5,0a 5,0a 2,75b 2,87b 3,9 10,93 1%
Destaque elementos 2,37a 2,37a 2,12a 2,25a 2,27 30,61 NS
Contraste 2,5a 2,37a 2,12 2,25a 2,31 18,01 NS
Quantidade elem ilum. 5,0a 5,0a 1,75b 1,37b 3,28 5,23 1%
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A figura 07 representa o padrão 2,0 na avaliação realizada, iluminação insuficiente, percepção
do volume construído baixo e legibilidade comprometida para o tratamento iluminação
artificial, iluminação de proximidade, apenas destacando a verticalidade das pilastras. Já a
figura 08, com iluminação natural, a percepção do volume construído e legibilidade não
ficaram comprometidas, configurando a nota 5,0 para o padrão da mesma edificação. Nota-se
também a influência da iluminação pública, somando a luminosidade na fachada, o que
atenuou os resultados, visto que as imagens captadas seriam ainda menores. Para este tipo de
edificação recomenda-se a complementação da iluminação com projetores à distância, uma
iluminação salientando sua platibanda, como também um destaque para o elemento mais
imponente da edificação, a capela central.
Figura 07. Ed. Faculdade SENAC, foto da autora Figura 08. Ed. Faculdade SENAC, foto da autora
Os tratamentos luz natural e artificial para variável percepção dos volumes dos elementos de
composição do objeto, apresentaram diferença significativa (P<0,01) (Tabela 01). A
iluminação natural não mostrou diferença na média de seus valores (3,75), independente da
tipologia das edificações. Este valor ficou acima do padrão estipulado (padrão 3,0). Já para as
edificações iluminadas pela luz artificial as médias ficaram abaixo do estabelecido, 2,37 para
sobrado e 2,5 para térreo. A iluminação artificial, se mostrou comprometida nos seus aspectos
formais e compositivos, desvalorizando os detalhes arquitetônicos.
Conforme Trapano (2006), uma vez que a arquitetura trabalha com formas e a percepção
delas será revelada pela luz, a relação entre cada parte no todo é importante para informar a
nossa percepção. A construção visual da edificação deverá estabelecer relações entre a luz e
os elementos arquitetônicos envolvidos, o que não foi observado quando utilizada a
iluminação artificial nas edificações avaliadas comparando ao supra citado pelo autor.
Tomando como base a figura 09, padrão 2,0, foi observado iluminação pontual não projetada
arquitetonicamente, assim os limites da composição desapareceram. Não valorizando os
detalhes arquitetônicos e não sendo perceptíveis. Desta forma, a marcação dos planos, o
destaque aos detalhes arquitetônicos, relação entre cheios e vazios seria uma das alternativas
para correção da iluminação artificial. Trapano (2006) relata que a criação de ritmo e
movimento é possível de ser acentuada quando se estabelece uma relação entre luz e forma,
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claro e escuro, enfatizando e revelando a riqueza dos elementos arquitetônicos, criando
dramaticidade.
Figura 09. Edifício Cartório Lorenzi, foto da autora Figura 10. Edifício Cartório Lorenzi, foto da autora
No que diz respeito a variável reprodução verdadeira das cores da fachada do objeto
arquitetônico, os tratamentos luz natural e artificial, apresentaram significância (P<0,01)
(Tabela 01). Para iluminação natural as edificações independente da tipologia receberam
valores máximos. Este resultado era esperado, visto que os objetos iluminados pela luz natural
apresentaram a representação real de suas cores, IRC 100%, conforme afirmado anteriormente
por Robins (1996). Na iluminação artificial, a variável apresentou valores médios de 2,75 para
sobrado e 2,87 para edificações térreas, abaixo do padrão estabelecido. Nota-se a influência
da iluminação pública. Corroborando a PHILIPS (2000), de que não é possível iluminar um
edifício à noite da mesma maneira como ele é representado durante o dia pela luz natural, seja
pela cor ou direção da luz e, até mesmo, pela sua intensidade. Entretanto, é necessário que o
elemento principal que o identifique na paisagem diurna seja renderizado sem muitas
distorções à noite, garantindo seu reconhecimento.
A figura 11 representa padrão 4,0 para variável reprodução de cores com iluminação artificial.
As cores da fachada ficaram próximas as da fachada iluminada pela luz do dia. A utilização
de refletores, com lâmpadas de temperatura de cor fria, proporcionaram esse efeito. Porém,
seu posicionamento não viabilizou uma distribuição uniforme da luz, como também seu
direcionamento encontrava-se comprometido. Sombras projetam-se por elementos fixados na
fachada (identificação do estabelecimento) que não receberam destaque.
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Figura 11. Rest. Vida Buena, foto da autora Figura 12. Rest. Vida Buena, foto da autora
Os valores para variável quantidade de elementos iluminados apresentaram significância
(P<0,01) (Tabela 01). Para iluminação natural os valores obtidos foram os padrões máximos,
visto que, a disponibilidade de luz natural se refere à quantidade de luz natural proveniente do
sol e do céu para uma localidade, data, hora e condições de céu específicas (IESNA, 2002).
As edificações avaliadas apresentaram iluminação uniforme durante o dia, de forma a
contemplar todos os elementos arquitetônicos.
A iluminação artificial, apresentou valores muito abaixo do padrão ideal estabelecido. Apesar
da iluminação ter sido insuficiente para a compreensão geral da edificação o edifício da figura
13 recebeu o maior número de elementos arquitetônicos iluminados (02 elementos). Essa
variável apresentou média de 1,75 e 1,37, para sobrado e térreo, abaixo do padrão
estabelecido (padrão 3,0).Verificou-se a falta de preocupação em direcionar e posicionar o
facho luminoso no sentido de iluminar os elementos arquitetônicos de maneira tantoa destacar
como uniformizar a iluminação.
Figura 13. Edifício Jockey Clube, foto da autora Figura 14. Edifício Jockey Clube, foto da autora
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As variáveis destaque para os elementos arquitetônicos e relação de contrastes, não
apresentaram significância. Esses resultados refletiram a falta de preocupação da iluminação
com os aspectos de hierarquia e destaque da iluminação. Os valores observados para
iluminação artificial de 2,12 para sobrado e 2,25 para térreo, ficaram abaixo dos encontrados
para a luz natural (Tabela 01) impedindo a valorização das edificações quanto a elementos e
contrastes, conforme relata Leão (2008).
4. Conclusão
A iluminação natural é superior a iluminação artificial para todas as variáveis, não havendo
diferença entre as tipologias estudadas (edificações térreas e sobrado), dentro de cada
tratamento. A percepção do volume geral, volumetria dos elementos, reprodução de cores e
quantidade de elementos iluminados da fachada principal das edificações não é considerada
boa quando submetida à iluminação artificial.
Referências
BARTENBACH, Dieter. Light and lighting. Mensagem recebida por office@dieter-bartenbach.biz
em 18 de abril de 2007.
CRAINE, Erin M. Preliminary Experiments Using a Digital Camera to Measure Commercial Light
Sources. International Dark-Sky Association, Inc. Tucson, Arizona, 2007. Disponível em
http://www.darksky.org/
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