iluminação natural versus artificial em casarios históricos – método

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jetg Iluminação natural versus artificial em casarios históricos método da percepção do objeto construído através de câmera digital Outubro/2011 Iluminação natural versus artificial em casarios históricos método da percepção do objeto construído através de câmera digital Grasiela Cignachi, [email protected] Pós-graduação em Iluminação e Desing de Interiores Resumo O trabalho foi realizado em edifícios de interesse histórico-cultural com algum tipo de iluminação artificial direcionada, na cidade de Pelotas RS. O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da iluminação natural e artificial na fachada principal, através de critérios e referências (protocolo proposto) de iluminação. As edificações foram fotografadas na segunda quinzena de novembro de 2010, à noite e de dia, de uma mesma distância e ângulo visual com câmera digital pessoal. O desenho experimental utilizado foi de blocos completos ao acaso com quatro repetições. Cada bloco continha dois tratamentos: iluminação com luz artificial e luz natural, sendo estes avaliados em dois conjuntos contendo diferentes tipos de edificação (conjunto: casa térrea e sobrado). A iluminação natural foi superior à iluminação artificial para todas as variáveis, não havendo diferença entre as tipologias estudadas, dentro de cada tratamento. A percepção do volume geral, volumetria dos elementos, reprodução de cores e quantidade de elementos iluminados da fachada das edificações quando submetida à iluminação artificial não foi considerada boa pela autora. Palavras-chave: Fotografia; Luz; Patrimônio. 1. Introdução A luz é uma poderosa ferramenta de informação, podendo revelar ao observador as características dos elementos ou ocultá-las da cena, deixando-as na penumbra. Já que o que se vê é a luz refletida, e não a emitida, o brilho informa a posição e as características de um determinado objeto dentro do campo visual (LEÃO, 2007). Apesar disso, as características da luz emitida influenciam na interpretação fiel que se tem desse objeto e de seu aspecto natural. A influência da luz no observador e na maneira como ele entende a arquitetura ou o espaço, deve ser considerada. Pode-se definir a interface entre luz e observador como as sensações que ele tem quando inserido no ambiente iluminado, a atmosfera do local. Já a interface entre luz e arquitetura sendo ambiência, a forma como a própria arquitetura é interpretada, pelo seu apelo, hierarquia, simetria, verticalidade, monumentalidade, etc. A luz artificial propicia a visão de detalhes e viabiliza o uso do espaço urbano durante a noite. Boa iluminação externa pode aumentar a segurança das pessoas e dos locais, destacar elementos da arquitetura e de valor histórico e chamar a atenção para centros comerciais. Segundo Leão (2007), soluções inadequadas de iluminação são amplamente empregadas em toda a cidade, comprometendo a visualização do objeto que se deseja destacar ou causando desconforto ao observador. O descuido e o uso excessivo de luz também causam danos à

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Iluminação natural versus artificial em casarios históricos – método da percepção do objeto

construído através de câmera digital Outubro/2011

Iluminação natural versus artificial em casarios históricos – método da

percepção do objeto construído através de câmera digital

Grasiela Cignachi, [email protected]

Pós-graduação em Iluminação e Desing de Interiores

Resumo

O trabalho foi realizado em edifícios de interesse histórico-cultural com algum tipo de

iluminação artificial direcionada, na cidade de Pelotas –RS. O objetivo do trabalho foi

avaliar o efeito da iluminação natural e artificial na fachada principal, através de critérios e

referências (protocolo proposto) de iluminação. As edificações foram fotografadas na

segunda quinzena de novembro de 2010, à noite e de dia, de uma mesma distância e ângulo

visual com câmera digital pessoal. O desenho experimental utilizado foi de blocos completos

ao acaso com quatro repetições. Cada bloco continha dois tratamentos: iluminação com luz

artificial e luz natural, sendo estes avaliados em dois conjuntos contendo diferentes tipos de

edificação (conjunto: casa térrea e sobrado). A iluminação natural foi superior à iluminação

artificial para todas as variáveis, não havendo diferença entre as tipologias estudadas,

dentro de cada tratamento. A percepção do volume geral, volumetria dos elementos,

reprodução de cores e quantidade de elementos iluminados da fachada das edificações

quando submetida à iluminação artificial não foi considerada boa pela autora.

Palavras-chave: Fotografia; Luz; Patrimônio.

1. Introdução

A luz é uma poderosa ferramenta de informação, podendo revelar ao observador as

características dos elementos ou ocultá-las da cena, deixando-as na penumbra. Já que o que se

vê é a luz refletida, e não a emitida, o brilho informa a posição e as características de um

determinado objeto dentro do campo visual (LEÃO, 2007). Apesar disso, as características da

luz emitida influenciam na interpretação fiel que se tem desse objeto e de seu aspecto natural.

A influência da luz no observador e na maneira como ele entende a arquitetura ou o espaço,

deve ser considerada. Pode-se definir a interface entre luz e observador como as sensações

que ele tem quando inserido no ambiente iluminado, a atmosfera do local. Já a interface entre

luz e arquitetura sendo ambiência, a forma como a própria arquitetura é interpretada, pelo seu

apelo, hierarquia, simetria, verticalidade, monumentalidade, etc.

A luz artificial propicia a visão de detalhes e viabiliza o uso do espaço urbano durante a noite.

Boa iluminação externa pode aumentar a segurança das pessoas e dos locais, destacar

elementos da arquitetura e de valor histórico e chamar a atenção para centros comerciais.

Segundo Leão (2007), soluções inadequadas de iluminação são amplamente empregadas em

toda a cidade, comprometendo a visualização do objeto que se deseja destacar ou causando

desconforto ao observador. O descuido e o uso excessivo de luz também causam danos à

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estética do ambiente noturno, mesmo quando promove o uso e a segurança do espaço. Além

da aparência visual da cidade, a iluminação dos edifícios na paisagem noturna influencia o

nível de conforto do morador e o seu modo compreensão do espaço. De forma geral, boas

soluções de iluminação podem contribuir significativamente para a melhoria do espaço

urbano, enquanto soluções mal resolvidas podem deteriorá-lo. O que é importante em termos

do aspecto estrutural da aparência noturna é que o edifício deveria mostrar uma correlação

com a sua aparência durante o dia (PHILLIPS, 2000).

Como não é vista a luz emitida e sim a refletida pelas superfícies, o brilho, as suas

características como formas, texturas e dimensões se tornam instrumentos de composição da

iluminação. Avaliando a fachada de um edifício, o que se vê são elementos opacos ou

translúcidos que refletem parte da luz, enquanto os transparentes (ar e vidro) têm suas formas

imperceptíveis, tornando-se vazios escuros quando o fundo não é iluminado, ou transparentes

quando o fundo é iluminado (BARTENBACH, 2007).

Além de sua função utilitária e securitária, a iluminação artificial é um material

revelador do espaço. Assim, se a iluminação é tratada respeitando-se a identidade

dos locais, ela pode articular os diferentes elementos constitutivos da cidade,

atribuindo-lhes uma personalidade reconhecível e identificável, para todos os

cidadãos. Mais que simplesmente iluminar para mostrar, a iluminação pede para ser

um instrumento auxiliar de recomposição da imagem da cidade, em prol de sua

qualidade ambiental. Enquanto fator de coerência e distinção, ela reforça as

identidades e ajuda na compreensão da paisagem e na descoberta das características

urbanas, caracterizando a relação com o núcleo urbano e o grau de intensidade e

prazer com que o cidadão dela se apropria. (XAVIER, 2010)

Durante o dia, a cidade e seus edifícios são iluminados pela luz solar direta e pela luz indireta

e difusa do céu, ou por ambas ao mesmo tempo, mudando constantemente a direção, a cor e

as relações de luz e sombra. Esses mesmos volumes iluminados com luz artificial contrastam-

se com a escuridão da noite, tornando-se dramaticamente destacados e belos (GODOY, 2003).

A iluminação é uma ferramenta muito eficiente quando tratamos da valorização de

patrimônio, tornando-se assim uma ferramenta artística no sentido da valorização de uma das

características de uma cidade, que é seu acervo arquitetônico. Os elementos patrimoniais de

uma cidade constituem naturalmente objetos privilegiados de uma ação de valorização pela

luz, por serem pontos focais, referenciais. No entanto, o patrimônio não pode ser dissociado

do entorno no qual se situa. Vê-se com demasiada constância a má integração das iluminações

de realce no seu meio ambiente (XAVIER, 2010).

Cada elemento arquitetônico dialoga com o todo em sua dada hierarquia que organiza uma

transição entre as partes. A relação de valor de um elemento perante o todo e,

conseqüentemente, seu destaque pela luz, define o direcionamento do olhar dentro do campo

visual no período noturno, já que somos atraídos pelo seu brilho. Devido a este fato, o projeto

de iluminação deve estabelecer um critério hierárquico para garantir que o observador seja

atraído por algo que justifique sua atenção; caso contrário, a solução perde valor e a cena se

torna frustrante (MAJOR, SPEIRS e TISCHHAUSER, 2005).

Segundo Leão (2008), a luz tem o poder de transformação sobre as formas, criando ilusões de

geometria. Assim, os planos da arquitetura e os objetos do entorno podem ser diferentemente

renderizados dependendo da maneira como são iluminados. Desse modo, pode-se fragmentar

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ou integrar formalmente um edifício e espacialmente um ambiente com o uso de diferentes

sistemas de iluminação. Com o emprego da luz artificial é possível revelar particularidades da

arquitetura através de destaques específicos e redefinir a hierarquia entre os elementos da

composição iluminando-os em diferentes escalas de intensidade. Além de influenciar o grau

de importância entre os elementos e revelá-los à noite, e de definir o fator de dramaticidade do

objeto ou espaço, as diferenças de brilho revelam tridimensionalidade. Caso um objeto seja

completamente iluminado de maneira uniforme, a sua interpretação é quase bidimensional,

pois cabe ao contraste a revelação da profundidade.

Diversos métodos foram criados para a predição da iluminação natural e artificial. Os

métodos para projeto luminotécnico são distintos entre si conforme a fonte luminosa podendo

ser: específicos para análise e estimativa da iluminação natural, para iluminação artificial ou

podem tratar da integração entre ambas as fontes. Dentro desses três universos, os métodos

podem ser classificados de acordo com sua tipologia, relacionada ao tipo de instrumento

utilizado para gerar resultados. Segundo Souza (2004), os métodos para avaliação da

iluminação natural podem ser divididos em: a)métodos de cálculo ou matemáticos, b)métodos

gráficos simplificados, simulações com modelos em escala reduzida e c) simulações

computacionais. Para a avaliação da iluminação artificial são mais utilizados os métodos

matemáticos e programas de simulação computacional.

Contudo, Craine (2007) relatou que as câmeras digitais pessoais podem ser ferramentas

práticas para o desenvolvimento de trabalhos para medir e quantificar o brilho associado as

fontes de luz. Equipamento de custo acessível, fácil de operar, prontamente disponíveis, ao

invés de fotômetros especializados ou medidores de luminosidade (que certamente têm seu

uso específico e mais preciso). Para este efeito, as câmeras digitais com critérios adequados

potencialmente oferecem uma ferramenta mais atraente e rentável. O objetivo do trabalho foi

avaliar o efeito da iluminação natural e artificial na fachada principal, através de critérios e

referências (protocolo proposto) de iluminação.

2. Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado durante a segunda quinzena do mês de novembro de 2010, na cidade

de Pelotas – RS, situada na latitude 31°42' sul e longitude de 52°23' oeste. A média de

duração dos dias para o período foi de 14:03 horas , com o nascer às 06:15 e pôr-do-sol às

20:03 horas.

Foram utilizadas edificações pertencentes ao inventário do patrimônio histórico e cultural,

regulamentado pela Lei Municipal n0 4568/00. As construções foram catalogadas e

classificadas pela Secretaria de Cultura, segundo critérios de valorização e preservação da

identidade e memória do contexto cultural da cidade.

As construções selecionadas para o tratamento apresentam um e dois pavimentos (casas

térreas e sobrados). A escolha das unidades foi feita levando em consideração a existência de

iluminação artificial dirigida, sendo estas de uso comercial (10) ou público (06) na sua

totalidade.

A iluminação artificial utilizada nas fachadas das edificações foram lâmpadas de vapor de

mercúrio, vapor de sódio e vapor metálico halógeno. Também foi verificado o uso de

fluorescentes compactas, mas em menor quantidade. As luminárias empregadas foram,

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embutidos de piso, arandelas e na sua maioria refletores posicionados aleatoriamente.

As imagens diurnas foram captadas no período da tarde entre 16 e 18:00 horas, sem uso de

flash ou iluminador. As imagens noturnas foram obtidas somente com o flash automático, no

período onde não houve interferência da luz noturna (lua). A iluminação pública noturna da

cidade é feita com lâmpadas de vapor de sódio.

A distância utilizada para tomada das imagens foi definida a partir da menor distância de

captação que a via pública proporcionou de uma das edificações. Entre o ponto de tomada da

imagem e a localização da edificação (plano frontal aproximadamente 11 metros / e outra 20-

25 metros plano oblíquo), não sendo utilizado nenhum recurso de aproximação (ótico ou

digital).

A partir do trabalho de Craine (2007), com câmeras digitais pessoais na avaliação de fatores

envolvendo iluminação, foi desenvolvido protocolo de estudo da iluminação de fachadas de

edificações históricas. Contudo, cabe ressaltar os diferentes recursos do equipamento, a

câmera utilizada por Craine (2007) apresentava uma lente de reflexo DSLR, que permite ao

usuário configurar manualmente a distância focal, foco, abertura e velocidade do obturador.

Para este trabalho foi utilizada uma câmera digital Olympus FE-100 que apresenta as

seguintes especificações: a) sensor de imagem: 1/2.5 "CCD de captação de imagem de estado

sólido com 4,23 milhões de pixels; 4,0 milhões de pixels; b) filtro de cores primárias (RGB).

c) lente: zoom óptico 2.8x; (estrutura de 7 lentes em 6 grupos, 3 lentes asféricas); d) distância

focal: 6.2 - 17,4 mm (equivalente a 38 - 106 milímetros lente em formato 35mm); e) abertura

máxima1:3.0 (angular) - 5.0 (tele); zoom digital: 4x. ; f) focalização: sistema CCD TTL

sistema de autofoco; g) centro de medição da luz pontual; h) exposição: Programa AE;

velocidade do obturador 2 - 1 / 2, 000 seg; i) compensação: sim, até + / - 2 EV em 1 / 3 EV

passos. J) sensibilidade: Auto ISO 64-400 ; k) balanço dos brancos: modo Auto iESP

automático; l) flash: automático (activação automática em pouca luz ou contraluz); redução de

olhos vermelhos, fill-in (ativação forçada), off (sem flash); m) modo imagem armazenada:

640 x 480 / SQ2: 160.

O desenho experimental utilizado foi de blocos completos ao acaso com quatro repetições.

Cada bloco continha dois tratamentos (iluminação com 1- luz artificial e 2- luz natural), sendo

estes avaliados em dois conjuntos contendo diferentes tipos de edificação (conjunto : casa

térrea e sobrado). Para cada tratamento com base em um padrão de percepção visual,

utilizando o recurso da máquina digital, foram avaliadas as seguintes variáveis nos conjuntos

de edificações: a) percepção do volume geral da edificação; b) percepção dos volumes dos

elementos de composição do objeto; c) reprodução verdadeira das cores da fachada do objeto

arquitetônico; d) destaque para os elementos arquitetônicos; e) relação de contrastes; f)

quantidade de elementos arquitetônicos iluminados.

Os dados foram submetidos à análise de variância num esquema, de blocos completos ao

acaso e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P<0,01).

Abaixo são descritos os parâmetros do protocolo como referenciais para as variáveis

estudadas.

a) Percepção do volume geral da edificação:

A volumetria da edificação é composta pelas partes externas do prédio, fachada e cobertura. É

o aspecto tridimensional do edifício, constituindo o elemento mais forte de sua identidade. A

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boa visibilidade é definida por um nível de iluminação adequado para uma determinada tarefa

visual, distribuição uniforme de iluminância e luminância, direcionalidade da luz para

modelar objetos e superfícies tridimensionais IESNA, 2002). A iluminação deve contemplar a

forma e a volumetria do edifício, compatibilizadas com os efeitos de luz e ilusões de

geometria, empregados para valorizá-lo sem comprometer sua legibilidade na paisagem

noturna (Figura 01 representa o padrão cinco). O padrão mínimo desejável para este

parâmetro é 3,0 (Quadro 01).

Padrão Definição

1,0 Nenhuma percepção volumétrica

2,0 Pouca percepção volumétrica

3,0 Boa percepção volumétrica

4,0 Muito boa percepção volumétrica

5,0 Definição percepção volumétrica

Quadro 01. Parâmetros da percepção do volume construído (proposta da autora)

Figura 01. Edifício do Centro Cultural Banco do Brasil.(Fonte: Franco & Fortes, 2006)

b) Percepção dos volumes dos elementos de composição do objeto:

A variável refere-se à possibilidade de perceber os detalhes dos elementos arquitetônicos, suas

carcaterísticas como forma, textura e dimensões, assim se tornando instrumentos para

composição do projeto de iluminação (Figura 02 representa o padrão cinco).

Para alcançar o nível de iluminamento adequado, o padrão mínimo desejável é o que

favorecesse uma boa percepção dos elementos de composição do objeto construído (padrão

3,0 – Quadro 02), a partir dele a iluminação encontra-se satisfatória para compreenção do

volume dos elementos.

Padrão Definição

1,0 Nenhuma percepção dos elementos

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2,0 Pouca percepção dos elementos

3,0 Boa percepção dos elementos

4,0 Muito boa percepção dos elementos

5,0 Definição percepção dos elementos

Quadro 02. Parâmetros percepção dos volumes dos elementos de composição do objeto (proposta da autora)

Figura 02. Fachada do Mercado Municipal de São Paulo (Fonte: Franco & Fortes, 2006)

c) Reprodução verdadeira das cores da fachada do objeto arquitetônico:

A iluminação deve promover acuidade visual no local e evitar o ofuscamento, perda de

visibilidade, distorções excessivas das cores, etc. Pereira et al. (2000) define acuidade visual

ou nitidez de visão como a medida da habilidade do olho em discernir detalhes. A cor da luz

projetada na superfície do edifício é como esta luz reproduz as cores naturais de seus

acabamentos, pois esta influencia a compreensão do objeto. O IRC – índice de reprodução de

cores determina a correspondência entre uma fonte que se pretende avaliar e a fonte de

referência, para uma mesma temperatura de cor. Sabendo-se que a fonte de referência será

sempre a luz natural , pode-se dizer que é a medida da correspondência de uma fonte

luminosa qualquer em relação à luz natural (ROBBINS, 1986).

Para a iluminação da edificação valorizar os elementos referencias do patrimônio artístico da

cidade, deve buscar reproduzir as características naturais através da reprodução verdadeira das

cores, (Figura 03 representa o padrão cinco). O padrão desejado deve ser o da boa reprodução

de cor (padrão 3,0 – Quadro 03).

Padrão Definição

1,0 Nenhuma reprodução de cores

2,0 pouca reprodução de cores

3,0 Boa reprodução de cores

4,0 Muito boa reprodução de cores

5,0 Reprodução Total de cores

Quadro 03. Parâmetros reprodução verdadeira das cores da fachada do objeto arquitetônico (proposta da autora)

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Figura 03. Joinvile (Fonte: Franco & Fortes, 2006)

d) Destaque para os elementos arquitetônicos:

O destaque aos elementos arquitetônicos deve assegurar o direcionamento do olhar, chamar a

atenção para o objeto, possibilitar a valorização de todo o edifício. A iluminação deve

destacar a estética do edifício, possibilitando a visualização e reconhecimento das

características plásticas do mesmo (Figura 04 representa o padrão cinco). Para uma fachada

ser considerada atratativa ao observador (padrão 3,0 – Quadro 04), ela deve viabiliza um

diálogo da composição formal perante o todo, apresentado relação de valor com os elementos

arquitetônicos, os destacando.

Padrão Definição

1,0 Nenhum destaque

2,0 Algum destaque

3,0 Bom destaque

4,0 Muito bom destaque

5,0 Ótimo destaque

Quadro 04. Parâmetros acentuação das características plásticas (proposta da autora)

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Figura 04. Edifício da Bolsa de Valores de Lyon (França) (Fonte: CURBI, 2005)

e) Relação de contrastes:

Segundo Goulding et al. (1992), contraste é a diferença entre a aparência visual de um objeto

e seu entorno imediato. A relação de contraste encontra-se quando a iluminação apresenta

diferença de nível de iluminação entre as áreas do objeto Muito contraste na fachada pode

apresentar uma aparência sombria ao local, da mesma forma que se houver uniformidade

excessiva o observador pode ler o ambiente externo como apático e sem referência visual. A

iluminação satisfatória (padrão 3,0 – Quadro 05) é a que apresenta boa relação de contraste,

quando os elementos de composição do objeto e o próprio objeto são visualizados com nitidez

e a percepção das dimensões e detalhes não são afetados (Figura 05 representa o padrão

cinco).

Padrão Definição

1,0 Nenhuma relação de contraste

2,0 Alguma relação de contraste

3,0 Boa relação de contraste

4,0 Muito boa relação de contraste

5,0 Ótima relação de contraste

Quadro 05. Parâmetros relação de contraste (proposta da autora)

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Figura 05. Edifícios do Paseo del Óvalo (Espanha) (Fonte: CURBI, 2005)

f) Quantidade de elementos arquitetônicos iluminados:

É necessário determinar a quantidade de elementos destacados para promover uma leitura

fácil e compatível com a linguagem da edificação. De acordo com a nomenclatura

arquitetônica as fachadas podem ser constituídas por três partes básicas: coroamento: parte

superior do prédio, formado pela cobertura, platibanda e cimalha. corpo: corresponde aos

pavimentos existentes; é a parte da construção que se destaca verticalmente ou

horizontalmente em todo o prédio, onde encontramos os pilares, as aberturas da edificação. E

o embasamento: a base do prédio, também chamada de soco, a parte inferior da construção,

situada ao nível do chão, formando uma base, podendo ser liso ou emoldurado. De acordo

com a tipologia arquitetônica das edificações, tipologia eclética, foram avaliados os elementos

citados, quanto a sua iluminação. As edificações analisadas, possíveis de identificar três

elementos arquitetônicos distintos iluminados, encontram-se no padrão 03 (Quadro 06),

apresentando uma iluminação atrativa e adequada para sua compreensão do estilo e objeto

arquitetônico. A Figura 06 representa o padrão cinco para variável.

Padrão Definição

1,0 Um elemento iluminado

2,0 Dois elementos iluminados

3,0 Três elementos iluminados

4,0 Quatro elementos iluminados

5,0 Cinco ou mais elementos iluminados

Quadro 06. Parâmetros quantidade de elementos arquitetônicos iluminados (proposta da autora)

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Figura 06. Edifício da BOVESPA na rua XV de Novembro, cidade de São Paulo. (Fonte: Franco & Fortes, 2006)

3. Resultados e Discussões

A variável percepção da volumetria geral da edificação teve significância (P<0,01) para os

tratamentos utilizados (Tabela 01). Os valores médios para iluminação com luz natural foram

de 4,5 e 4,0 em edificações com 2 pisos (sobrado) e 1 piso (térreo), respectivamente. Essas

edificações mostraram através das imagens captadas com iluminação natural a contemplação

da forma e volumetria das edificações, preservando a legibilidade e o aspecto tridimensional

do edifício, conforme relatou IESNA (2002) para a variável. Existe a percepção do volume

como um todo, noções de profundidade e perspectiva, uma vez que seus contornos ficaram

bem definidos, resultado semelhante ao obtido por Nunes et al. (2007). Para a captação das

imagens noturnas os valores médios encontrados foram 2,25 para sobrado e 2,37 para

edificações térreas, ficando abaixo do padrão preconizado (padrão 3,0), comprometendo a

percepção do volume edificado. A diminuição da nota de avaliação do padrão da iluminação

natural para a artificial, reflete a baixa qualidade e quantidade de iluminação dessas

edificações no ambiente noturno.

Tabela 01. Médias gerais das variáveis estudadas.

Variável Tratamento Média CV% Probabilidade

natural artificial

2 pisos 1piso 2 pisos 1piso

Percepção volume geral 4,5a 4,0a 2,25b 2,37b 3,28 13,49 1%

Volumetria elementos 3,75a 3,75a 2,37b 2,5b 3,09 10,16 1%

Reprodução de cores 5,0a 5,0a 2,75b 2,87b 3,9 10,93 1%

Destaque elementos 2,37a 2,37a 2,12a 2,25a 2,27 30,61 NS

Contraste 2,5a 2,37a 2,12 2,25a 2,31 18,01 NS

Quantidade elem ilum. 5,0a 5,0a 1,75b 1,37b 3,28 5,23 1%

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A figura 07 representa o padrão 2,0 na avaliação realizada, iluminação insuficiente, percepção

do volume construído baixo e legibilidade comprometida para o tratamento iluminação

artificial, iluminação de proximidade, apenas destacando a verticalidade das pilastras. Já a

figura 08, com iluminação natural, a percepção do volume construído e legibilidade não

ficaram comprometidas, configurando a nota 5,0 para o padrão da mesma edificação. Nota-se

também a influência da iluminação pública, somando a luminosidade na fachada, o que

atenuou os resultados, visto que as imagens captadas seriam ainda menores. Para este tipo de

edificação recomenda-se a complementação da iluminação com projetores à distância, uma

iluminação salientando sua platibanda, como também um destaque para o elemento mais

imponente da edificação, a capela central.

Figura 07. Ed. Faculdade SENAC, foto da autora Figura 08. Ed. Faculdade SENAC, foto da autora

Os tratamentos luz natural e artificial para variável percepção dos volumes dos elementos de

composição do objeto, apresentaram diferença significativa (P<0,01) (Tabela 01). A

iluminação natural não mostrou diferença na média de seus valores (3,75), independente da

tipologia das edificações. Este valor ficou acima do padrão estipulado (padrão 3,0). Já para as

edificações iluminadas pela luz artificial as médias ficaram abaixo do estabelecido, 2,37 para

sobrado e 2,5 para térreo. A iluminação artificial, se mostrou comprometida nos seus aspectos

formais e compositivos, desvalorizando os detalhes arquitetônicos.

Conforme Trapano (2006), uma vez que a arquitetura trabalha com formas e a percepção

delas será revelada pela luz, a relação entre cada parte no todo é importante para informar a

nossa percepção. A construção visual da edificação deverá estabelecer relações entre a luz e

os elementos arquitetônicos envolvidos, o que não foi observado quando utilizada a

iluminação artificial nas edificações avaliadas comparando ao supra citado pelo autor.

Tomando como base a figura 09, padrão 2,0, foi observado iluminação pontual não projetada

arquitetonicamente, assim os limites da composição desapareceram. Não valorizando os

detalhes arquitetônicos e não sendo perceptíveis. Desta forma, a marcação dos planos, o

destaque aos detalhes arquitetônicos, relação entre cheios e vazios seria uma das alternativas

para correção da iluminação artificial. Trapano (2006) relata que a criação de ritmo e

movimento é possível de ser acentuada quando se estabelece uma relação entre luz e forma,

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claro e escuro, enfatizando e revelando a riqueza dos elementos arquitetônicos, criando

dramaticidade.

Figura 09. Edifício Cartório Lorenzi, foto da autora Figura 10. Edifício Cartório Lorenzi, foto da autora

No que diz respeito a variável reprodução verdadeira das cores da fachada do objeto

arquitetônico, os tratamentos luz natural e artificial, apresentaram significância (P<0,01)

(Tabela 01). Para iluminação natural as edificações independente da tipologia receberam

valores máximos. Este resultado era esperado, visto que os objetos iluminados pela luz natural

apresentaram a representação real de suas cores, IRC 100%, conforme afirmado anteriormente

por Robins (1996). Na iluminação artificial, a variável apresentou valores médios de 2,75 para

sobrado e 2,87 para edificações térreas, abaixo do padrão estabelecido. Nota-se a influência

da iluminação pública. Corroborando a PHILIPS (2000), de que não é possível iluminar um

edifício à noite da mesma maneira como ele é representado durante o dia pela luz natural, seja

pela cor ou direção da luz e, até mesmo, pela sua intensidade. Entretanto, é necessário que o

elemento principal que o identifique na paisagem diurna seja renderizado sem muitas

distorções à noite, garantindo seu reconhecimento.

A figura 11 representa padrão 4,0 para variável reprodução de cores com iluminação artificial.

As cores da fachada ficaram próximas as da fachada iluminada pela luz do dia. A utilização

de refletores, com lâmpadas de temperatura de cor fria, proporcionaram esse efeito. Porém,

seu posicionamento não viabilizou uma distribuição uniforme da luz, como também seu

direcionamento encontrava-se comprometido. Sombras projetam-se por elementos fixados na

fachada (identificação do estabelecimento) que não receberam destaque.

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Iluminação natural versus artificial em casarios históricos – método da percepção do objeto

construído através de câmera digital Outubro/2011

Figura 11. Rest. Vida Buena, foto da autora Figura 12. Rest. Vida Buena, foto da autora

Os valores para variável quantidade de elementos iluminados apresentaram significância

(P<0,01) (Tabela 01). Para iluminação natural os valores obtidos foram os padrões máximos,

visto que, a disponibilidade de luz natural se refere à quantidade de luz natural proveniente do

sol e do céu para uma localidade, data, hora e condições de céu específicas (IESNA, 2002).

As edificações avaliadas apresentaram iluminação uniforme durante o dia, de forma a

contemplar todos os elementos arquitetônicos.

A iluminação artificial, apresentou valores muito abaixo do padrão ideal estabelecido. Apesar

da iluminação ter sido insuficiente para a compreensão geral da edificação o edifício da figura

13 recebeu o maior número de elementos arquitetônicos iluminados (02 elementos). Essa

variável apresentou média de 1,75 e 1,37, para sobrado e térreo, abaixo do padrão

estabelecido (padrão 3,0).Verificou-se a falta de preocupação em direcionar e posicionar o

facho luminoso no sentido de iluminar os elementos arquitetônicos de maneira tantoa destacar

como uniformizar a iluminação.

Figura 13. Edifício Jockey Clube, foto da autora Figura 14. Edifício Jockey Clube, foto da autora

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Iluminação natural versus artificial em casarios históricos – método da percepção do objeto

construído através de câmera digital Outubro/2011

As variáveis destaque para os elementos arquitetônicos e relação de contrastes, não

apresentaram significância. Esses resultados refletiram a falta de preocupação da iluminação

com os aspectos de hierarquia e destaque da iluminação. Os valores observados para

iluminação artificial de 2,12 para sobrado e 2,25 para térreo, ficaram abaixo dos encontrados

para a luz natural (Tabela 01) impedindo a valorização das edificações quanto a elementos e

contrastes, conforme relata Leão (2008).

4. Conclusão

A iluminação natural é superior a iluminação artificial para todas as variáveis, não havendo

diferença entre as tipologias estudadas (edificações térreas e sobrado), dentro de cada

tratamento. A percepção do volume geral, volumetria dos elementos, reprodução de cores e

quantidade de elementos iluminados da fachada principal das edificações não é considerada

boa quando submetida à iluminação artificial.

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