althusser, louis. aparelhos ideológicos de estado

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  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    1/29

    o

    ,l l

    /

    r

    Tradruido

    do

    origiral

    en

    frBncés

    osrcdon

    Revissr*

    Aurea

    Moraes

    Sa[tc

    hòdlção,Gráfica:

    Orlado

    Fcmades

    lr

    ediçãô:r

    983

    Dircitos

    adquiridos

    peta

    EDIçÓES

    GRAALLTDA.

    RuaHernrncgildo dçrBgn6, 3 -A

    Glóris,

    Rio

    de J,aneirq

    RI

    CEPt2024L

    Tel:

    (O21)

    52-8592

    que

    se

    eserya

    o

    dheito

    dçsta

    qadugão.

    Aüea{ :mos

    elo:Repobotso

    ostat'

    L992

    Iopresso

    ao

    Brasil

    pünted

    in

    Brozil

    CIP.

    Brasil.

    Catalogação

    a

    fmte

    Sindiçato

    Nacioul

    drÈ

    Editores

    deLiuos, RI

    Althusseç

    ouis,l91&

    (Biblioteca

    e

    ciêruias

    ociais;

    .

    n

    25)

    Tradução

    e:

    Poeicion

    1. O

    Esüado

    "Eatado

    Teoria

    .

    Tlhrlo

    r. Série

    cDD-320.1

    320.101

    cDU_321

    32t.AL

    3-6

    o\

    LOUIS

    ALTHUSSER

    )úLV4l,vla

    N

    cr/ ' , t fc / í /

    APARETHOS

    2

    IDEOLOGICOS

    E

    ESTADO

    NOTA

    SOBRE

    OS

    APARELHOS

    IDEOLÓGICOS

    DE

    ESTAI)O

    Introd.uçfu

    Crítiea

    d,c

    J. A. GullHoN ALBUeUBRquE

    Tradução

    le

    Welran

    JosÉEvexonLrsrA

    Mlnre

    Lruu VlvplRos

    DE

    CAsrno

    6s

    edição

    N.'

    CHAM.

    -9-?ç..,.).....

    AL(

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  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    2/29

    ilo'

    _,aPABELH0S

    DE0LócrC

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    M;

    Traduçdo

    'de

    Menre

    Llune

    Vrvunos on Cesrno

    s"t'rs-gêe+lt9ysÊgJ,?+9,.9r9 .9_õSi

    ,j:.Jrg*,_**_,

    Impõe-se

    que

    tratemos

    de uma

    questão

    apenas

    es-

    boçada em nossa

    s1Álisg,

    quando

    falamos da necessi.

    dade de renovação dos meios de produção para que a

    produção

    seJa

    possível.

    Era

    apenàs

    uma rápida

    indica.

    ção.

    Conslderá-la-emos

    gora

    pôr

    si

    mesma.

    i

    Como

    9

    r{lzig

    Marx,

    até uma

    criança sabe

    que

    uma

    fÍormação

    social

    que

    não reproduz

    as condlções

    de

    pro.

    f

    dução ao

    mesmo tempo

    que produz,

    não sobreviverá

    lnem

    por

    um ano.2

    Portanto a, condição últlma

    d.e

    produção

    é a

    reprodução dqs condlções

    de

    produção.

    Esta

    pode

    ser

    "sÍmples"

    (e

    então se

    ltmlta

    a reprodu.

    zlr

    as

    condições

    pré.exlstentes

    de

    produção)

    ou

    "am.

    püada"

    (quando

    as amplia).

    Deixemos,

    por

    hora, esta

    dlstinção de lado:

    O que é entáo a Reprodução das Condições de Pro.dução?

    Penetramos aqul

    num

    domÍnio

    ao mesmo

    tempo

    bastante familiar,

    desde o Liwo II

    do

    Capital,

    e singu.

    I

    O

    terto a ser lldo

    sê constltul

    de dols trechos de

    urn estudo

    alnda em curso. O autor

    Íea

    questáo

    de

    entitulá.los Notas

    para

    uma

    pesqulse.

    As

    idélas

    oçostas devem ser consideradas

    omo

    uma introduçáo à dlscussão.

    2 Carta

    a Kugelma nn, l.?.1868

    Cartas

    sobre

    o Capltal,

    Ed So

    clalea,

    p.

    229).

    \r "

    53

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    3/29

    larmente

    descoúrecido.

    As

    evidênclas tenazes

    (evidêr,

    Tentarernos

    exarnlnar

    as eoisas

    com

    método,

    Para

    sÍrnplificar nossa

    e:rposiçáo

    e

    se consideramos

    que

    toda fopnragão

    social é resultado

    de

    um

    modo

    de

    produgão

    do.q{pnnte,

    podemos

    dizer

    que

    o

    proces-

    so

    de

    produção

    aciona

    as

    forças

    produtivas

    edstentes

    em

    e sob relagões

    de:prodtrçãgr{gfipirrns.

    Segue-seque toda formaçáo social para_e$stg,_ggmesmo tempo que produz, e para poder prodÈïr,.-dõvì

    reproduzir

    as condições

    de

    sua

    produção.

    Ela

    -deve,

    portanto,

    reproduzir:

    1

    as forças

    produtivas

    2) as

    reÌações

    de

    produçáo

    exlstentes

    A

    Reprodução

    91

    ljeieg_Cç_E9{sffu_.

    Todo

    mundo

    recorúece

    (mesmo

    os

    economistas

    burgueses

    que

    cuidam

    da contabilidade

    nacional

    e

    os

    Qualquer

    economista,

    qu"

    .ri.tã

    *"

    ." ãt"i:rgue

    de

    qualquer

    capitalista,

    sabe

    que

    é

    preciso

    anuafmente

    prever

    a

    reposiçáo

    do.-que

    se

    esgota_

    u_se

    utilÍza

    na

    produção:

    matéria.prima,

    instalações

    fixas

    (constnr.

    54

    ç.ges),

    nstnrmentos

    de

    produção (rnáquinas),

    etc.,

    .

    DÍ.

    zemos: qualquer

    economista,

    qualquõr

    capíta[sta,

    en-

    qyryto.

    am-bos

    expressam

    o

    ponto

    de

    vista

    Aa

    empiesá,

    contenta^ndose

    ern

    comentar

    sirnplesmente

    os

    tõrmoi

    da

    prática

    ÍÍnancelra

    contábÍl

    da

    eìmpresa.

    Porém sabemos,gr-agas o gênio de euesnay _ que

    foi

    o

    prÍmeiro

    a

    formutal

    eSte

    problema

    que

    ,,ialta

    áos

    olhos"

    -

    g

    a9

    gênio

    de Marx

    -

    que

    o reSolveu

    _

    qru

    não

    é

    ao

    nÍvel

    da

    empresa gue

    a ieprodução

    das

    coiai

    ções

    matuÍais

    da

    produçãe

    bode

    sei

    penËaOa;

    ois

    e

    nesse

    lvel

    que

    ela existe

    em

    suas

    condições

    reais.

    O

    que

    acontece

    ao

    nÍvel

    da

    gmpnesa

    é

    um efeito,

    que

    apenas

    a

    ldéia

    da

    necessidede

    da reprodução,

    mãs

    que

    não

    perrnite

    absolutamente

    pensar

    suas

    -

    cond.içõej

    e

    seul

    meca;nisrnos.

    Basta

    reÍletir

    um

    pouco

    para

    se

    convencer:

    o

    Sr.

    X,

    capitaüsta, que.

    preg{z

    tecidos

    de

    em

    sua

    faUrica,

    cleve

    "reproduzir,'

    sua

    rnatéria-prlma,

    suas

    máquinas,

    etc.. . Porérn .quemas_prroduz Ãra a óua produçâo iã"

    gutros

    capitatistas:

    o

    Si.

    y,

    um

    grande

    criador

    bJ ovo

    Itla^s

    da

    Ausür.álla;

    o

    Sr.

    Z,

    graíde

    industrial

    metalúr.

    glco,

    produ3or

    de

    móquinas-ferra^rnentas,

    tc,

    etc,

    devern

    por

    sua

    v€2,

    para

    produzir

    ess-es

    rodutos

    que

    condi.

    gÍon_am

    re_produção

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    4/29

    nqp_P gçg@_

    \

    Certamente alguma colsa

    terá chamado a atenção

    do

    leitor. Referimo-nos

    à reprodução dos

    meios

    de

    pro

    '*

    dução, mas não à reprodução

    das

    forças

    produtivas,

    Omitimos portanto a reprodução do que distingue as

    forças

    produtivas

    dos meios de

    produçáo,

    a saber

    a

    reprodução da força de

    trabalho.

    Se

    a

    observaçáodo

    que

    ocorre na empresa, esps

    cialmente

    o

    exame da

    prática

    financeira

    pontábil

    das

    previsões

    de amortlzação-inversão,

    ode

    dar-nos uma

    idéia aproximada

    da existênciado

    processo

    material da

    reprodução, entramos agora num domínio no

    qual

    a

    observação

    do

    que

    ocorre

    na empresa

    é, senão

    total-

    mente,

    quase

    que

    totalmente

    inútil, e

    por

    uma boa ra.

    zâo'.

    a reprodução da força de trabalho se dá,

    no_

    ssen-

    cial, fora da empresa,

    Como se assegura.a replsduSip_êglgfçê_de trabs.

    lho?

    Ela é assegurada ao se dar

    à

    força de

    trabalho

    o

    meio material de se reproduzir: o salário. O salário

    consta na contabilidade

    de

    cada

    empresa, mas como

    "capital

    mão-de-obra"

    ?

    e de forma

    alguma

    ço_mc

    qndt-

    çáo

    da reprodução metefiãl-&-.Ìõ-rça de trabalho,--

    No entanto

    é

    assÍm

    que

    ele

    "atua", uma

    vez

    que

    o

    salário representa

    apenas a

    parte

    do..

    valor_

    pr-o_dui4ido

    pelo

    gasto

    da força de trabalho, tndigp_e_pçlyel-

    arÊ_Sua

    reprodução,

    quer

    dizer,

    tndispensável.para a r_econstf

    túçáo da

    força

    de trabalho-do-assalariado

    (para

    ti-hã:

    bitaçáo,

    vestuário

    e

    alimentação, em

    suÌna,

    pra que

    ele

    esteja em condições de

    tornar a se

    apresentar

    ma.

    nhã seguinte - ó todas as santas manfras - ao -g,ti-"ng

    da empresa); e

    acrescentemos:

    ndispensável

    para

    a cria-

    ção

    e

    educaçãodas

    crianças

    nas

    quais

    o

    proletariado

    se

    reproduz

    (em

    X unÍdades:

    podendo

    X ser

    igual

    a

    0,1,2,

    etc.

    .

    ) como

    força do trabaÌho.

    I-embremos

    que

    esta

    quantidade

    de valor

    (o

    salá-

    rio)

    necessário

    para

    a reprodução da

    Íorça

    de trabalho

    3 Marx elaborou

    concglto

    lentÍllcodestenoçÁo:capltal

    va.

    riável.

    não está

    apenasdeterminada

    pelas

    necessÍdades e um

    SM.I.G.

    "biológico",

    mas também

    por

    um

    mÍnjmo

    histórico

    (Mam

    assinalava:

    os operários

    ingleses

    preci-

    sam de cerveja

    e os operários

    franceses

    de vlnÌto) e,

    portanto, historicamente variável.

    Lembremos também

    que

    esse

    mÍnimo é duplamente

    histórico enquanto

    não

    está definido

    pelas

    necessidades

    históricas

    da

    classe

    operária recorüecidas

    pela

    classe

    capitalista,

    mas

    por

    necessidadeshistóricas

    impostas

    pela

    luta da classeoperária

    (dupla

    luta de classes:

    con.

    tra o aurÍrento

    da

    Jorirada

    de trabalho

    e

    contra

    a

    dimi-

    nuiçáo

    dos

    salários).

    Entretanto

    não

    basta assegurar

    à

    força de trabalho

    as condições

    materiais de sua

    reprodução

    para

    que

    se

    reprodrrza

    como força

    de

    trabalho. Dissemos

    que

    â

    Íorça de trabalho

    disporúvel deve ser

    "competente",

    isto

    é, apta a ser utilizad"Bno sistema complexo do processo

    de

    produção.

    O

    desenvolvimento das

    forças

    produtivas

    e

    o tlpo

    de tmidade

    historicamente constitutivo

    das

    forças

    produtivas

    num

    dado momento determinam

    que

    a

    força

    de trabalho

    deve ser

    (diversamente)

    qualificada

    e entÉo

    reproduzida

    como tal.

    Diversamente:

    conforme

    às

    êÌigências

    da divisão

    social-técnica

    do

    trabalho,

    nos

    sêug

    dlfgjgntes

    t'cargos"

    e

    "empregos".

    Ora,

    vejamos,

    como se dá

    esta repro{tçio

    da

    qua-

    ltficação-(diversificada)

    da força de

    trabalho

    no regime

    6-itaiista?

    Ao

    contrário

    do

    qne

    ocorria

    nas formaçôes

    soclais escravÍstas e

    servis,

    esta reprodução

    da

    qualifi'

    cação da

    força

    de trabalho tende

    (trata'se

    de

    uma

    lei

    tendencial) a dar-se náo mais no "local de trabaÌho" (a

    aprendizagem

    na

    própria

    produçáo)

    porém,

    cada vez

    mais, fora da

    proflução,

    através do sistema

    escolar

    capi'

    talistg e-de

    outras

    instâncias e instituições.

    Ora,

    o

    que

    se

    aprende

    na

    escola?É

    possível

    chegar-

    se a um

    ponto

    mais

    ou

    menos avançado

    nos estudos,

    porém

    de

    qualquer

    rnaneira aprendese

    a ler, escrever,

    e

    contar,

    ou seja,

    algumas

    técnicas, e

    outras

    coisas

    tam-

    bém,

    lnclusive elementos

    (que

    podem

    ser

    mdimentares

    ou

    ao

    contfário

    aprofundados) de

    "cultura

    cientÍfica"

    ou

    "literária"

    diretamente

    utiüzáveis

    nos diferentes

    pos'

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    5/29

    I

    I

    i

    f3.:^iryf

    gl:l?s,

    a

    escota

    mas

    ambém

    urras

    i*lr$sj:jgj:lt"r lo4õ

    t

    Ts;Ëj,

    e

    ouros

    apars,

    Hg:_"T: -o Bcércto qgg1

    -o

    [:ËJ],lhüi";":ï;ï

    li*"iï:l"i*{?-g:-suain-reúã;.ïôããïã?*"gËüï'

    a

    produção,

    dB

    explqrqõão

    ã

    d;;

    ume

    :?y^::i:^_"ll:",,9s-tir{=176püA_ìJ'.ülriiãhffi

    f,f ,

    d;:'ili*1-,,9:lr::Tiósariiãnúe,;=;-ffi

    ,r,:,,1.",*^:ï*g:i13r- g:

    peráriosii

    t;

    ;

    d,

    ,ffiáil:

    lores

    cap*atisras

    ,

    seja

    a'de-aúit;ãín;

    ïiOrâïffi

    19s

    gggdlqs),

    seJa

    a

    de.grandes

    acerdores

    a

    ideologia

    dominante

    seus,,funciõnários',)

    etc

    de

    trabalho

    evidencia,

    como

    ão

    somente

    a

    reproduçao

    ae

    nnbém

    a

    reprodúção

    áe

    sua

    inante, ou da ,,pr-ática,,desú

    somenre

    as

    amìcérn:,

    J,?

    ?&Hl,i#

    H"ï"Jil

    gção

    dq

    força

    de_trabaÍho

    ,"

    ,rã"gura

    em

    e

    sob

    as

    formas

    de

    submissão

    ideotógica.

    --

    -.9o?

    o

    que

    recorüecemos

    a

    presença

    de

    uma

    nova

    realidade:

    a

    ideologia

    Faremos

    aqul

    duas

    obsenaçóes:

    A

    primeira

    servirá

    para

    completar

    nossa

    aná-

    lÍse

    ds

    reprodução.

    Acabamos

    de_

    estudar

    rapidamente

    as

    formas

    da

    eprodução rìns Íorgas produiiv;;-;

    3íif#üã"-e"r^'u';'r"ãoã-cüïó'ËiË3tï;"ï?h#ï

    .^jl ""mgs

    pgrqnto

    desra

    quesrão.

    Mas

    para

    ob-

    crrnos

    os

    rneios

    de

    fazêlo,

    temós

    qr."

    nou.*ente

    dar

    ma grande

    volta.

    A

    _segunda

    bservação

    que

    para

    dar

    esta

    volta so.os obrigadosa recolocarnóssa- elha qu"rt"oi o ú-,

     

    uma

    sociedade?

    lnÍraostrutura

    e

    Supercstrutura

    tfuemos

    a

    ,

    oport'nidade.

    de

    insistir

    sobre

    o

    aÉter

    revotucionóriô

    Oa

    cãncãpçaJ-^roi*t"

    do

    ,,todo

    {

    Em

    Pozr

    Merz

    e

    Ltre

    le

    Coptlarlt,

    Maspero,

    t965.

    58

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    6/29

    social",

    naquilo

    em

    que

    ela se

    distingue

    a

    ,,totalidade"

    produção

    ), a à

    sup-e1es ryJufg,.,.que_..compreende

    dgis

    "níve,is"ou'.'i_ns-tâncias"._g.

    l$Ëco.p_olÍlige_Lq_qi_rcüg__e

    Além

    de

    seu nteresse

    eórico-pedagógico

    que

    apon.

    ta a diferença

    entre

    Mam

    e Hegel),

    esta représentãção

    oferece

    a seguinte

    vantagem

    eórica

    undamental:

    ela

    per.

    .mite

    inscrever

    no

    quadro

    teórico

    de seus

    conceitos

    es.

    senciais

    o

    que

    denominamos

    seu índiee

    de elico,cin

    es.

    pectiuo.

    O

    que

    se

    entende

    por

    isto?

    Qualquer um pode facilmente perceber que

    a

    re.

    presentação

    da estrutura

    de

    toda

    a sociedade

    omo

    um

    edifÍcio

    composto

    por

    Ìrma

    base

    (infra-estrutura)

    sobre

    a

    qual

    erguem-se

    os dois

    "andares',

    da

    superestruhrra

    constitui

    uma metáfora,

    mais

    precisamente,

    uma metá.

    fora

    espacial:

    um tópico.o

    Como toda

    metáfora,

    esta

    sugere,

    az ver

    alguma

    coisa.

    O

    que?

    Justamente

    sto:

    que

    os andares

    superlores

    não

    poderlam

    ,.sustentar.se"

    (no

    ar)

    por

    si

    sós se

    não se

    apoiassem

    sobre

    sua

    base.

    A

    metáfora

    do

    edifÍcio

    tem

    então

    como

    objetivo

    primeiro

    representar

    a "determinação

    em

    úItima ins-

    lância"

    pela

    base econômica.

    Esta

    metáfora

    espacial

    tem então como resultado dotar a base de um Índicede eficácia conhecido

    nos

    oélebres

    ermos:

    determina.

    çáo

    em

    última instância

    do

    que

    ocorre nos

    "andares"

    da superestrutura

    pelo

    que

    ocorre

    na

    base econômica.

    A

    partir

    desbe

    nüce de

    eficácia

    "em

    útima

    instân.

    cia",

    os

    "andares"

    da superestrutura

    encontram-se

    vi.

    5

    Tópico, do

    grego

    lopos:

    local.

    Um tóptco

    represente,

    num

    espaço deÍinido,

    os

    locais

    respectivos

    ocupados

    poi

    este

    ou Bque.

    la

    realidade:

    desta manelra

    o

    econômico

    está

    embalxo

    (a

    búe)

    c a superestnrtura

    em

    clrns.

    ó0

    dentemente

    afetados

    por

    rliferentes

    índices

    de

    eficácia.

    Que

    tipo

    de Índices?

    Seu lndice

    de

    eficácia

    (ou

    de determinaçáo),

    en.

    quanto

    determinado

    pela

    determinação

    em última

    ins-

    tância

    da base,

    é

    pensado

    peÌa

    tradição

    marxista

    sob

    dtres

    formas:

    t

    )

    a existêncla

    de

    uma

    ,,autonomia

    rela-

    tiva" da

    superestrutura

    em reÌaçáo

    à base;

    2) a

    exis-

    tência

    de

    uma

    "ação

    de

    retorno"

    dâ superestrutura

    so-

    bre a

    base.

    Podemos

    então

    afirmar

    que

    a

    grande

    vantagem

    teórlco do tipó de eficácia "derivada" próprio à superes.

    fÍcio

    (base

    e superestmtura)

    consistè

    em

    mostrãr

    ao

    mesrno

    tempo

    que

    as

    questões

    de determinação

    (ou

    de

    Írdice

    de eficácia)

    são fundamentais;

    e

    que

    é a

    base

    que

    determina

    em última

    Ínstância

    todo o

    edifÍcio;

    como

    consequêncla

    somos

    obrigados

    a

    colocar

    o

    problema

    teórlco

    do tipo

    de eficácia

    "derivada"

    próprio

    à

    superes-

    trutura,

    isto é,

    somos

    obrigados

    a

    pensar

    no

    que

    a tra-

    dição

    marrlsta designa

    petos

    termos

    conjuntos

    de

    auto.

    nomia

    relatlva

    da

    superestrutura

    e de

    "ação

    de retor-

    no"

    da sup€restrutura

    sobre

    a base.

    O

    maior

    inconveniente

    desta

    representâção

    da

    es.

    trutura de toda a sociedade pela metáfora eipacial dosílirfsig está evidentementeno

    fato de

    ser

    elã

    metafó.

    rica:

    lsto

    é, de

    permanecer

    descritiva,

    Parece-nos

    desejável

    e

    possível

    representar

    as

    coi-

    sas

    de outra maneira.

    Que

    sejamos

    bem

    entendidos:

    não

    recusamos

    em

    absoluto

    a

    metáfora

    clássica,

    que

    ela mesma

    nos

    obrlga

    a superá.la.

    E não

    a superaremos

    afastando.a

    como

    caduca.

    Pretendemos

    simplesmente

    pensar

    o

    que

    ela

    nos

    sob a forma

    de uma

    descriçáo.

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    7/29

    . .Pensamos_gue

    a

    partir

    da

    reprodução

    que

    é

    pos.

    sÍvel

    e necessário

    peru;ar

    o

    que

    caiacterúa

    o'essericial

    da

    existènsia

    e naturez,a

    dz

    superestruhrra.

    Basta

    colo.

    car'se

    no

    ponto

    de

    vista

    da reprodução para

    que

    se

    es-

    c$p.am

    mútas

    questões

    que

    a

    metáfora

    espacial

    do

    edifÍcio indicava a existênciasem dar.thes respostacon.

    ceitual.

    Sustentamos

    como

    tese

    Íundamental

    que

    somente

    é

    possÍvel

    levantar

    estas

    questões

    (e

    portanto

    respon.

    dêlas)

    a

    prtir

    do

    ponto

    de tsista

    dn

    reprodução.

    Analisaremos

    brevemente

    o Direito,

    o

    Estado

    e

    a

    ideologia

    a

    pa,rtir

    deste

    ponto

    de

    vista.

    E

    mostraremos

    ao

    mesrïo

    tempo

    o

    que

    ocorTe

    a

    partir

    do

    ponto

    de

    vista

    da

    prática

    e da

    produgáo

    por

    um

    lado,

    e

    -da

    repro.

    dugão

    por

    outro.

    rb,

    gurar

    a sua

    dorninação

    sobre

    a

    classe

    operária,

    para

    submet$la

    âo

    processo

    de

    e4loqSão

    da

    mais:vellg'tãuer

    d,iaeÌ,

    à

    e:çlonação

    capitaüsta).]

    pagou

    com

    seu

    sangue

    esta

    ocperiência)

    quando

    s

    po

    lÍcia

    e

    sew

    órgãos

    au:dlirares

    são

    ,,ultrapassados

    p"io,

    lcontecimentos";

    e,

    acima

    deste

    conjunto,

    o

    Chefe

    de

    Eslggo,

    o

    Governo

    e a

    Adminisirãfao.

    _

    Apresenüada

    esta

    forma,

    a

    ,,teoria

    marxista-lenj_

    nista" do Estado toca o e

    neúrum

    momento

    de

    duvid

    Da

    Teoria

    Descritiva

    à

    Teoria

    propriamente

    Dita

    .,^.tio 9.ntanto,

    como

    o assinalamos

    na

    metáfora

    do

    edifÍcio

    (Ínfra'estrutura

    e

    r.rpérãJ*tura)

    também

    esta

    apresentação

    da natureza Ao pstaAõ permanece descri_tiva em parte.

    Como

    usaremos

    constantemente

    ste

    acljetivo

    (des-

    critivo)

    torna,se

    necessária

    m"

    à*iricagãõìú;';d;;

    qualquer

    eqúvoco.

    ^

    Quando,

    ao

    Íalarmoq

    da

    metáfora

    do

    ed.ifÍcio

    ou

    da

    eoria

    marxista

    do

    Estado

    dir;;;s-ìue

    são

    concepcões

    ;ivas

    de

    seu-objeto,

    íao

    ã-"ãã;r]

    ,

    inrenção

    crÍrióa.

    beló-

    "ónt-ü-

    carar

    esta

    etapa

    como

    tran.

    uolvinlento

    da

    teoria.

    e

    ,rór_

    .itiva,'

    aponta

    este

    careter

    conjunção

    dos

    termos

    em.

    ta

    espécie

    de

    ,,contradição,,.

    toca.se

    em

    parte

    com

    o

    ad.

    rmpanha.

    sso

    signlfica

    exa.

    Btsa,ocomeço'.,ï1Ïl9rï'#i:ï;,Í:ï'#.,iïfri:

    a

    forma

    "descriüva"

    rn

    aú;;.;p;;"r"

    a

    reoria

    exige,

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    8/29

    I

    pelo

    efeito mesmo desta

    "contrâdlção",

    um desenvolvl-

    mento da teoria

    que

    superea forma da

    "descrição",

    Precisemos nosso

    pensamento

    voltando âo

    nosso

    objeto presente: o Estado.

    Quando

    dizemos

    que

    a "teoria" marxlsta do Estado

    que

    utilizamos é

    parcialmente

    "descritiva",

    isto significa

    em

    primeiro

    lugar e antes de mais nada

    que

    esta

    "teo-

    ria"

    descritiva é, sem dúvida

    alguma, o irúcio da teorla

    mancista do

    Estado,

    e

    que

    tal irúclo nos

    fornece

    o

    es-

    sencial

    sto

    é,

    o

    princÍpio

    decisivo de

    todo

    desenvolvi-

    mento

    posterior

    da

    teoria.

    Diremos, com efeito,

    que

    â teoria descritiva

    do Es.

    tado

    é

    ju.sta

    uma vez

    que

    a

    definição dada

    por

    èÌa de

    seu

    objeto

    pode perfeitarnente

    corresponder à imensa

    maiora

    dos fatos observáveis

    no domínio

    que

    lhe

    con.

    cerne. Assim, a deffuriçãode Estado como Estado de

    classe,

    existente

    no

    aparelho repressivo

    de Estado, elu.

    cida de maneira

    fulgurante todos os fatos

    observáveis

    nos

    dlferentes niveis

    da

    repressão,

    qualquer que

    seJa

    o

    seu

    domÍnio: desde

    os rnassecres

    de

    jurúo

    de 1848e

    da

    Comuna

    de Paris,

    do domingo sangronto de

    maio

    de

    1905

    em Petrogrado,da Resistência, e

    Charonne,etc..,

    até as mais simples

    (e

    relativamente anódinas)

    inter.

    venções de

    uma "censura"

    que proÍbe

    a Religioso de

    Diderot

    ou uma obra

    de

    Gatti sobre

    Franco;

    eluclda

    todas

    as

    formas

    diretas ou

    lndiretas

    de

    exploração e

    extermínio das massas

    populares

    (as

    guerras

    lmperia-

    listas);

    elucida a

    sútil

    domlnagão cotidiana aonde se

    evidencia

    (nas

    formas de democraciapolítica, por exem-plo) o que Iénin chamou depois de Marx de ditadura

    da burguesia.

    Entretanto,

    a teoria descritiva do Estado

    represen-

    ta uma etapa

    da

    constituição

    da

    teorla,

    que

    exige ela

    mesma a

    "superação"

    desta etapa.

    Poftanto

    está claro

    que

    se a

    definição

    ern

    questÍio

    nos fornece

    os

    meios

    para

    identificar

    e

    reconhecer

    os

    fatos opressivos e arti.

    culá-los com

    o

    Estado concebido como

    aparelho

    repres.

    sivo

    de

    Estado, esta

    "articulação"

    dá lugar

    a

    um tipo

    de evidência

    muito

    especial, a

    que

    teremos oportuni.

    darie de

    nos

    referir

    mais adia.nte: "Sim, é

    asslm, eqtá

    O

    essencial

    a

    teoria

    marxista

    do

    Estado

    Mesmo

    depois

    de

    uma

    revolução

    soeial

    como a de

    l9l?,

    grande

    parte

    do aparelho

    de

    Estado

    permanecia

    6

    Ver

    mals

    adlante:

    Acerca

    da

    rdeologra,

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    9/29

    da

    "Ceoriamarxista

    do

    Es-

    l

    l)

    o

    srvo

    do

    Estado;

    2)

    deve-se

    istinguir

    o

    póder

    Oe

    esiaào

    do aparelho

    de

    Esr-a_do;

    )

    o oujeliy,s_dd-.tura

    e

    cfaúõs

    O

    que

    deve

    ser

    acrescentado

    à

    ,,teoria

    marxista"

    do

    Eçtado

    é,

    entáo,

    outra

    coisa.

    Devemos

    avançar

    com

    prudência

    num

    catnpo

    em

    que

    os

    clássicos

    do

    ma,Snqmõ

    nos

    precedeiarntíïi"iìãl

    mas

    sem

    ter

    sistematizado

    sob

    urina

    íorma

    teOrica

    ôi

    avÍurços

    decisivos

    que

    suas

    àxperiências

    e

    procedimen.

    66

    6i

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    10/29

    a

    repressão

    adÍninistratiïa, pgr

    exemp]o,

    pode

    revrstlr.

    se

    de formas

    não

    fÍsicas

    ^

    -

    AIE religiosos

    (o

    sistema

    das

    diferentes

    lgrejas)

    AIE

    escolar

    (o

    sistema

    das

    diferenües

    ,escolas"

    pú.

    blicas

    e

    privadas)

    AIE

    familiar

    6

    AIE

    JurÍdico

    Y

    AIE

    polÍtico

    (o

    sistema

    polÍtico,

    os

    dlferentes

    par.

    tidos)

    AIE

    slndical

    AIE

    de irúormação

    (a

    imprensa,

    o rÉdio,

    a

    televl.

    sâo,

    etc

    )

    - -

    AIE cultural ([etras, Belas Artes, esportes,etc. , , )

    Nós

    afirmamos:

    os AIE

    não

    se confundem

    com o

    Aparelho

    (repressivo)

    de

    Esüado,

    Em

    que

    conãiìGã

    diferença?

    tj

    _A

    Íamilia

    desempenhâ

    claramente

    outres

    ,,ftrnções,'

    que

    a de

    AIE,

    Elá

    intervém

    na reprodução

    da

    força

    de tiabalnô,

    nÍa

    ã

    clependendo

    dos

    modos

    de

    produção,

    unidaãe

    ae

    p59ãúfaã

    t

    õu

    t

    irnidade

    de

    consumo.

    9

    O

    "Dileito"

    pertence.

    ao

    mesmo

    rcmpo

    ao Aparelho

    trepressi.

    vo)

    rlo

    Estado

    e ao

    sistemR

    dos

    AIE.

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    11/29

    e a

    99asjão

    de

    expressar,se

    eles,

    utilizando

    as

    contra.

    l0-Em

    um texto

    patético,

    datado

    de

    tg3?,

    Kmpskaia

    reÌata

    os

    esforços

    desesperados

    de lénin,

    e

    o

    que

    ela i,ia

    como

    ã-rãu

    fracasso

    ("Le

    chemln

    preounü.

    -- t

    i,

    1\

    I

    I

    1

    I

    I

    ì

    1l

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    12/29

    diçõesexistentes

    u conquistândo

    ela

    uta

    posÍções

    e.

    combate

    l0

    blt.

    Concluamos nossasr

    observagões.

    Se a tese que propÌrsarros tem Íundamento, volta-

    mos,

    precisando-a

    quanto

    a

    umÂ

    questÍio,

    à

    teoria mar.

    xista

    clássica do Estado.

    Diremos

    que por

    um lado é

    preciso

    distinguir

    o

    poder

    do Estado

    (bua

    detenção

    por.

    .

    .

    ) e

    por

    outro

    o Aparelho de tstado. Mas acres-

    centamos

    que

    o

    Aparelho

    de Estado

    compreende--dois

    corpos:

    o corpo das

    lnstituiçõés

    que

    constituem_o_qpa.

    relho

    represFiyg

    do Estado, e o

    oorpo

    de

    -instituiçÕ_eé

    que

    representam

    o

    corpo dos

    Aparelhos

    ldeolónç_qs

    o.

    Estado.

    Mas,

    se

    é assim, não

    podemos

    deixar

    de

    colocar a

    seguÍnte

    questão,

    mesmo

    no estado

    bastante sumário

    de

    nossas

    indicações:

    qual

    é exatamente

    o

    papel

    dos

    {parelhos

    ldeoló,gico--s_g,o

    Eg.ta g?

    qual é o fundamento

    d_e.

    ua importância?

    Em

    -óútras

    palavras:

    a

    que

    çor-

    responde

    a

    "firnçiol'-destes Aparelhos

    ldeológicos

    3o_

    l0 bis

    O

    que,

    em breves

    palavras,

    se dia aqul ar,etes

    de luts

    de

    classes

    nos AIE não

    pretende

    evidentemente esgotar a

    questão

    de luta de

    classes.

    Para tratar desta

    questãrr,

    devese ter

    presente

    dois

    prln.

    cÍpios.

    O

    primeirb

    princÍpio

    foi

    Íormulado

    por

    MaDC no

    preÍáclo

    da Contribuiçôo:

    "Quando

    corulderamos

    tels

    abalos

    (ums

    revo

    lução social), é necessárlo

    dtstinguir

    entre o abalo materisl

    -

    que

    pode

    ser constatado

    de

    mEnelra

    clentlÍlcamente rigorosa

    - das condições de produção econômicas, e as Íormas Jurldlcas,

    polÍticas,

    religiosas,

    artÍsticas

    ou íüosóÍlces etravés das

    quals

    os

    homens tomem

    consclêncla deste

    corúito e o

    levam

    ató o

    fim" A luta

    de classes se expressa e se

    ererce

    portsnto

    nas

    Íormas

    ideológicas,

    e

    poÉànto

    se exerce também nas formas

    ideológrcas

    dos AIE. Mas a luts de

    classes ultrapassa emplr.

    mente

    estes íormas,

    e

    é

    porque

    ele as ultrspaEsa

    que

    a lute

    das classes exploradas

    pode

    se exercer

    nos AIE,

    voltaÍrdo

    I

    arma

    da

    ldeologla

    contra

    as class€s no

    poder.

    Isto

    em

    ÍunçÁo

    do segundo

    prlncÍplo:

    e luta das classes

    ultrapassa os AIE

    porque

    ela não

    üem

    stras raÍaes

    ns ideologla,

    mas na InÍraestrutura,

    nas relaçóes de

    produçóo,

    que

    são te

    laçôes

    de expÌoreção,

    e

    que

    constltuem a bss€ dss releções de

    classe.

    \

    Est-ado,

    ue.

    não

    funcionam

    através da

    repressão,

    mas

    da-irÌeologia?

    G

    ll Sobre reproduçãoas elações e produção

    I

    P-odemos ntão

    responder'à

    nossa:

    questeo

    central,

    mantida em

    suspenso

    por

    tanto, tempo:

    como

    é asse.

    gurada

    a repfpdução das

    relaçÕes de

    produção?

    Na

    llnguagemmetafórica do tópico

    (

    nfra-estrutura,

    Superestrutura)

    diremos: efa é,

    pm

    grahde

    partet',

    assegurqda

    ela

    superestrütüia

    jurídiao-política

    e

    ideo'

    t949a.

    Porém, uma

    vez

    que

    julgamos

    indispensável

    ultra'

    passar

    ests Unguaggm

    ainrla

    descritiva,

    diremos:

    ela é,

    ern-erdããtpâitérr.

    assezurada

    pelo

    exercício

    do

    poder

    dô-Ëítãdõ-nos aparethós de Estado, o'Apaielhb

    (re-

    pí,essivo)do Estado, por um Ìadg, e os Aparelhos deo'

    lógicos do

    Estado

    por

    outro.

    4

    *

    Reunimos

    o

    que

    foi dito

    anterÍormente'nos

    três

    pontos

    segúntes:

    1. Todos os

    aparelhosdo Estado

    funcionam

    ora

    através

    da

    repressão,

    ora

    através da

    ideologia,

    com

    a

    dlÍerença,

    de

    que

    o

    Aparelho

    (repressivo)

    do

    Estado

    fi:nciona

    prÍncipalrnente

    através da

    repressão enquanto

    que

    os

    Aparelhos

    Ideológicos do

    Estado

    funcionam

    prtncipalmente

    através da ideôlogia,

    2. Ao

    passo que

    o Aparelho

    (repressivo)

    do.

    Es-

    tado constitui um todo organ,izado ujos diversos com'

    ponentes

    estão centralizados

    por

    uma unidade

    de dire-

    çáo,

    a da

    polÍttca

    da luta de classes

    aplicada

    pelos

    fepresentantes

    polÍticos

    dâs

    classes domlnantes,

    que

    detëirã-õ-boder o

    Estado,

    -

    os

    Aparelhos

    ldeológicos

    do Estado

    são

    múlttplos, distintos e

    relativamente

    au'

    ll

    Em

    grande

    pert€.

    Pots

    as

    releçÕes

    de

    produçôo

    sào entes

    de

    mels nada

    reproduzidas

    pela

    materialidade

    do

    processo

    de

    pro'

    dução

    e do

    processo

    de circulaçáo'

    Mas

    não devemos

    esquecer

    que

    ss relações

    ldeológicas

    estóo

    presentes

    nesies mesmos

    .pro'

    oeBsos.

    \

    t. )

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    13/29

    tônomos,

    susceptÍveis

    e

    oferecer

    um

    campo

    obJetÍvo

    às

    contradições

    que

    expressarn,

    e

    formas'õrtliúta.

    das,

    ora

    mais

    amplas,

    bs

    efeitos

    dos

    choquói-;ï;-;

    Iuta

    das

    classes

    capitaüsta

    e

    proretária,

    ass-imlõi.ã-oã

    suas

    formas

    subordinadas.

    .

    3

    Enquanto que a rrnidadedo Aparelho (repres-sivo) do Estado está assegurada

    por

    sua

    organJzaçáo

    centratizada,

    unificada

    sob-

    a

    aireçìao

    aol rep-rãõntãn-

    tes

    das

    classes

    no

    poder,

    executántes

    aa

    pãiiu;-

    d;

    luta

    de

    classes

    das

    c[asses'rro

    oáér--

    a

    unidade

    entre

    os

    diÍerentes

    Aparelhos

    Ideoiógicos

    do

    Eúão

    ã;;

    19seg'urada,

    eralmente

    de

    mane-ira

    contraOtOriÀ,

    Ëi;

    deologia

    dominante,

    a

    da

    çtasss

    dominante

    Tendo

    em

    conta

    estas

    caracteristicas,

    podemos

    nos

    representar

    a

    reprodução

    das

    relações

    dd

    proCucaõlã

    ca

    segurnte

    maneira,

    segundo

    uma

    espécie

    ãe

    ,,diïisão_

    do

    trabalho":

    O.papel

    do

    aparelho

    repressÍvo

    do

    Estado

    consiste

    essencialmente, omo ap_areUroepressivo,

    "_

    ã;*ti;

    eÌa

    força

    (fÍsica

    ou

    náo)

    as,cóndiçõ""

    póiitïõ.

    -ãã

    reprodução

    das

    relações

    de

    produção,

    que

    lao

    em-útti

    ma

    instância

    relações

    de

    -

    explordçáo,

    Não

    ãpËii""--ã

    aparelho

    de

    Estado_contribui

    para

    sua

    prOpriã-iõro,

    duçáo

    (exisrem

    no

    Esrago

    capitatista

    as

    aiiáiìi"sïõ.

    lÍticas,

    as

    dinastias

    mititares,

    "ió.i

    m""

    também,

    e

    sobretudo

    o Aparetho

    de

    Estado

    assegura era

    repiãiiaò

    (da_

    orça

    fÍsica

    mais

    brutd

    es

    simËt",

    ôrd"üï;iãi

    bições

    administrativas,

    à

    censura

    "$ricita

    ."

    i-pri"iã",

    gt:.).

    ?s.

    eondições

    potÍticas

    do

    exerËÍcio

    dos

    Âp;-;h;

    Ideológicos

    do

    Estado.

    Com

    efeito,

    são

    estes

    12

    No

    que

    diz

    resoeito

    LRarte

    da

    reproduçáo

    asseguradapelo

    Aparetho

    epressivo

    o

    nôtaao

    ã-oi-ip",iïu,os

    ldeológÍcos

    o

    s[ado.

    1^

    Toga"

    (por

    vezes

    ensa)

    entre

    o aparelho

    repressivo

    do

    Estado

    e os Aparefios

    Ideológicos

    do

    Estado

    e

    entre

    os

    diferentes

    Aparelhos

    Ideotógicos

    dq

    Estado

    é asse.

    gurada.

    Somos

    evados

    a formular

    a

    hipótese

    seguinte,

    em

    função mesmoda diversidadedos aparelhosúeológicos

    do

    Estado

    em seu

    papel

    único,

    pois

    que

    comum,

    dã re.

    produção

    das

    relagões

    de

    produçáo,

    I

    Enumeramos,

    nas

    formações

    sociais

    capitalistas

    contemporâneas

    m número

    relativamente

    elèvado

    de

    aparelhos

    deológicos

    do

    Estado:

    o

    aparelho

    escolâr,

    o

    qpÊrelho-religlasg,.

    _apa_Ielbo_ÍamÍiiàr, aparelho

    polÍ-

    tigA--oiparelho

    sindical,

    o aparelho

    de

    iúormeçãõ,

    o

    apare-lh.o

    gltjrral

    etc.

    , ,

    ,i

    75

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    14/29

    mâs

    também

    a sua

    hegemonia

    deológica,

    ndlspensá.

    vel

    à reprodução

    das

    relações

    de

    produção

    capÍtaiistas.

    tade

    4qs

    classes

    dorninantesl).

    Ne

    Alernanha

    as

    coisas

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    15/29

    antes

    de

    ,,atravessar,'

    a

    Repúbüca

    de

    lVeimar

    e

    de

    en.

    tregar.se

    ao

    nazismo,

    -

    _P9r.qug

    o'aparelho

    escolar

    é

    o aparelho

    deológico

    de

    Estado

    dominante

    nas

    formaçoes

    iociaiJ

    úpit4Ë ;

    e

    como

    funciona?

    No

    momento

    é

    suficiente

    esponder:

    I

    -

    Todos

    os

    aparelhos

    ideológtcos

    de

    Estado,

    Syaisquel

    qu-e

    ejam,

    concorrem para

    o

    mesmo

    Íim:

    a

    reprodução

    das reìaçõ9: g.".prodüção, sto è,

    -Aai'jëUl

    ções de exploraçãocapitatistâs, '='

    7Í Ì

    ?( l

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    16/29

    da ideologia

    (saber-lratar

    as

    consciênclas

    om

    o..r€s:.

    peito,

    ou seja,

    o

    desprezo,a

    chantageln,a

    demagogia

    que

    convêm,

    com as.ênfases

    a Moral, na

    Virtude,

    na

    "Transcendência",

    na

    Nação,

    no

    papel

    da França

    no

    Mundo,etc.).

    Certamente

    muitas

    destas

    Virtudes

    (modéstia,

    esig,

    nação,

    submlssão

    de

    uma

    parte,

    cinismo_rj_espfgzo,_se-

    gurança,

    altivez,

    grandeza,

    o

    falar

    bem, habilidade) se

    aprendem

    ambém

    nas FamÍlias, na

    lgreja, no Exército,

    nos

    Belos Livros, nos

    filmeS,

    e

    mesmó-nos

    estádios.

    Porém nenhum

    aparelho

    ideológico do

    Estado dispõe

    durante

    tantos

    anos da audiência obrigatória

    (e

    por

    menos

    que

    isso

    signifique,

    gratuita.,,),

    5 a

    6 dias num

    total

    de

    ?, numa

    média de I horas

    por

    dia, da

    totali.

    dade das

    crianças

    da

    formação social capitalista.

    É

    pela

    aprendizagemde

    alguns

    saberescontidos

    na

    inculcaçâomaciça Oalaeologiaãa classedominanteqüè,em grande parte, sáo

    _.reproduzidas

    s relaçõesde pro-

    dução

    de uma Íormaçâo social capitalista, ou seja, as

    relações

    entre exploradorese elçlorados,

    e entre explo-

    rados a

    exploradores. Os

    meeanismos

    que

    prodüzerrr

    esse

    esultado vital

    para

    o regime capitalista sáo

    natu-

    ralmente

    encobertos

    e

    dissimulados

    por

    uma

    ideologia

    da

    Escola universalmenteaceita,

    que

    é

    uma

    das formas

    essenciais

    da

    ideologia

    burguesa dqm-ingnte:uma

    _ideo.

    logia

    que

    repreSentãa

    nscõla como

    neutra,

    dèsprõi,iáa

    de ideologia

    (uma

    vez

    que

    é leiga), aonde

    os

    pr-qfp_s:

    sores,

    respeitosos

    da

    "consciência"

    e

    da

    "liberdadel'

    das

    crianças

    que

    lhes

    são confiadas

    (com

    toda

    ço-nfian.

    ça)

    pelos

    "pais"

    (que

    por

    sua vez

    sáo

    também livres,

    isto é, proprietários de seus filhos), conduzëìfr-na's"à

    ìiberdade,

    à moralidade, à responsabilidade

    duÌta

    pèlb

    seu

    exemplo,conhecimentos,

    iteratura e

    virtudeS. liber.

    tárias",

    Peço

    desculpas

    os

    professores ue,

    em

    condições

    assustadoras,

    entam voltar

    contra a

    ideologia,

    contra

    o sistema

    e contra as

    práticas-

    _@,

    as

    poucas

    armâs

    que podem

    encontrar na histó_ria. nQ

    saber

    que

    "ensihamr'. 'São

    ma

    espéôlé--iG-1iõiois,

    as

    eles são raros,

    e

    mútos

    (a

    malorla).náo

    têm-nem

    um

    princípio

    de

    susp91 a.do

    trabalh-q'l-Ere

    o sisterna-fqdg

    , \

    os

    UDtapassa.-e-esmaga)

    s obrigaa-

    a,zer,

    u,

    o

    que

    é

    p oi, põem

    todo.

    seu

    empenhoe engenhosidade

    m

    faaê-lo de acordo com a

    última orientaçáo

    (os

    famosos

    De fato,

    a

    lgreJa

    foi substttuída

    pela

    Escola

    em

    dial

    ile

    claSses.

    Acerca

    da

    ldeologia

    Quando

    apresentamos

    conceito

    de

    Aparelhos

    deo'

    lóglcos do Estado,

    quando

    dissemos

    que

    os

    AÏE

    funcio-

    naiarn

    "através

    da

    ideologia",

    invocamos

    uma

    reaÌi'

    dade acerca da qual é necessáriodizer algumas pala'

    vras:

    a ideologia,

    Sabe-se

    ue

    a expressão:

    deologia,

    foi

    forjada

    por

    Cabanis,

    Destutt

    de Tracy e

    seus amigos,

    e

    que

    desig'

    nava

    por

    objeto

    a teoria

    (genérica)

    das

    idéias,

    Quando,

    50

    anos

    mais tarde,

    Mârx

    retoma

    o

    termo,

    ele lhe

    con'

    Íere,

    desde&s

    suas

    Obras

    da Juventude,

    um

    sentido

    total'

    mente

    dtstürto.

    A tdeologla

    é, aÍ, um sistema

    de idéias,

    de

    represèntaçóes

    ue

    domlna

    o espÍrl to de um

    homem

    ou de um

    $upo

    soolal.

    A luta

    politico-ideológica

    ondu'

    zida

    por

    Marx

    desde seus artigos

    na

    Gazeta

    Rpnana

    ria

    {| l

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    17/29

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    18/29

    Na

    ldeologia

    alem.õ,

    tese

    de

    que

    a ldeologia

    não tem

    história

    é

    portanto

    uma

    tese

    prrramenüe

    negativa

    que

    significa

    ao

    mesmo

    tempo

    que;

    l.

    - a

    ideologia,

    não

    é

    nada

    mais

    do

    que puro

    sonho (fabricadanão se sabepor que poder a não ser

    pela

    alienaçáo

    da divisão

    do

    trabalho,

    porém

    esta

    deter.

    minaçáo

    também

    é

    uma

    determinaçâo

    negatiaa),

    2,

    -

    a ideologia

    não tem

    história,

    o

    que

    não

    quler

    dizer

    que

    ela

    não

    tenha

    uma

    história

    (pelo

    contráriò,.

    urna vez

    que

    ela

    não

    é mais do

    que

    o

    pátido

    reflexo

    va.\

    zio

    invertido

    da história

    real

    mas

    que

    ela náo tem

    uma

    t

    *

    história

    szra.

    Â lese

    que gostaria

    de defender,

    etomando

    onnal-

    mente

    os termos

    da ldeologia

    alemõ.

    "a

    ideologia

    não

    tem

    hisfória")'é

    radicalmente

    diferenteda tese

    posibi.

    vista-historicísta

    da

    ldeologia

    alemõ..

    Porque,por um lado, acreditopoder sustentarque

    ns

    ideologias

    êm

    uma história

    sua

    (embora

    seja

    ela,

    em

    última

    instância,

    determinada

    ela

    luta

    de classes);

    e

    por

    outro lado,

    acredito

    poder

    sustentarao

    mesmo

    tempo

    que

    a ideologia

    em

    geral

    não

    tem historu,

    nào

    em

    um sentido negativo

    (

    o

    de

    que

    sua hÍstória

    está ora

    dela),

    mas num

    sentido totalmente

    positivo.

    Este

    sentido é

    positÍvo

    se consideramos

    que

    a ideo-

    logia

    tem

    uma estrutura

    e um funcionamento

    ais

    que

    f.azem

    dela

    uma

    realidade

    não-histórica,

    sto

    é, omni.

    histórica,

    no

    sentido

    em

    què

    esta estrutura

    e este up.

    cionamento

    se apresentam

    na mesma forma imutável

    errr

    oda

    história,

    no

    sentido

    em

    que

    o Manllesto

    defÍne

    a histórÍa como história da luta de classes, u seja, his.

    tória

    das sociedades

    e classe.

    Eu diria,

    fornecendo uma

    referência

    teórica reto-

    mando

    o exemplo

    do

    corüo,

    desta

    vez

    ns,concepção

    reu.

    diana,

    que

    nossa

    proposição:

    a

    ideologia não

    tem tús.

    tória

    pode

    e deve

    (e

    de

    uma forma

    que

    nada

    tem

    de

    arbitrária,

    mas

    que

    é

    pelo

    contrário

    teoricamente

    neces-

    sária,

    pois

    há um

    vÍnculo

    orgÈÍrico

    entre ss duas

    pro-

    posições)

    ser diretamente

    relacionadâ à

    proposição

    de

    Freud de

    que

    o

    intonsc'tente

    ë etenn isto é, rÉo

    tom

    história.

    F:is

    porque

    me

    considero

    autorizado,

    ao lrlenos

    pre.

    sunüivamente,

    propor

    uma

    teoria

    da ideologia

    em

    ge.

    ral,

    no

    mesmo

    sentido

    em

    que

    Freud

    aprese-trtou

    '.,,ár,

    teoria

    do

    inconsciente

    em

    geral,

    classes"

    e à sua

    históiia.

    A

    ldeologh

    ó

    uma

    "reprêsentação"

    a relação

    maginária

    dos

    Indlvlduos

    om

    suas

    condições

    eals,

    de exlJtência

    Para

    abordar

    a

    üese

    central

    sobre a estrutura

    e o

    Tese

    1: A

    Ídeologla

    representa

    a relação

    imaginá-

    rla

    dos

    lndivÍduos

    com suas

    condições

    reais

    de exis-

    tência.

    Dlz-se

    comumente

    que

    a tdeoÌogla

    religiosa,

    a ideo,

    logta

    moral,

    a

    ldeologla

    JurÍdica,

    a ideologla

    polÍtica,

    etc,

    são

    "concepções

    e rnundol'.

    Contrapomos,â

    menos

    que

    se

    vlva uma dessas

    deologias

    como a verdade

    (se,

    por

    exemplo,

    e

    "crê"

    em Deus, no Dever, na Jus tiça etc.),

    que

    esta tdeotogta

    de

    que

    falamos

    a

    partir

    de um

    ponto

    1y

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    19/29

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    20/29

    Em

    linguagem

    marxista,

    se é verdade

    que

    a reprê

    sentação

    das

    condições

    de existência

    reais

    dos

    indivÍduos

    Sendo

    assim,

    a

    questão

    da

    "causa"

    da deforn

    ção

    imaginária

    rlas

    relações

    eais

    na ideologia

    desaparece,

    deveser substituÍda por uma outra quèstão:põr que a

    representação

    os indivÍduos

    de sua relação

    (individual)

    mos

    porque

    no

    prossegulmento

    de nossa

    e:çoslção,

    por

    hora,

    náo

    iremos

    mals

    longe.

    Tese

    II:

    A ideologia

    tem

    uma

    e:dstência

    materlal

    13

    Emprego

    propositalmente

    este lermo

    bastante

    moderno.

    p\ls

    mesmo

    nos

    melos

    comunistas,

    a

    ,,expÌicaçóo,'

    de tal

    desvio

    pc.

    l i l . ico

    tofiort,unlsmo

    dc tl l reltn

    ou

    de

    osquerdo) poto

    açãã

    ?1 ,

    rrma "clique"

    é lnÍelizmenle

    írequente.

    \. .

    lÌ Ì

    8( )

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    21/29

    que

    esta relação imaginária

    é

    em

    sl mestna

    dotada

    de

    uma

    existência

    material

    Constatramos..oegurnte:

    \dJm

    ind.ivÍduocrê

    em Deus,

    ou no Dever,

    ou na Jus.

    fiça,

    etc. Esta crença

    provém

    (para

    todo mundo, sto é,

    para

    todos

    gue

    vivem

    na

    representação

    deológica

    da

    ideologia,que reduz a ideologia,por definiçáo,às idéias

    dotadas

    de existência

    espiritual) das tdéias

    do

    dito tn.

    divÍduo

    enquanto

    sujeito

    possuidor

    de

    uma consciência

    na

    qual

    estáo

    as

    idéias

    de

    sua

    crença. A

    partir

    disso,

    isto

    é, a

    partir

    do

    dispositivo

    "conceitual"

    perfeitamen-

    te

    ideológieo ssim estabelecido,

    um

    suJeitodotado de

    uma

    consciência

    aonde

    ivremente ele formula

    as idéias

    em

    que

    crê), o

    comportamento material

    do dito indi.

    vÍduo

    decorrenaturalmente.

    O indivÍduo

    em

    questão

    se conduz de

    tal ou

    qual

    maneira,

    adota

    tal ou

    qual

    comportAmento

    prático,

    e,

    o

    que

    é mais,

    participa

    de certas

    práticas

    regulamenta.

    das

    que

    são as do aparelho ideológico

    do

    qual

    "depen-dem" as idéias que ele livremente escolheu com plena

    consciência,

    enguanto

    sujeito.

    Se eÌe

    crê

    em

    Deus,

    ele

    vai

    à

    lgreja

    assistir

    à Missa,

    ele se ajoelha,

    reza,

    se

    con-

    fessa,

    az

    penitênoia

    (outrora

    ela

    era rnaterial

    no

    sen.

    tido

    corrente do

    termo), e naturalmente

    se

    arrepende,

    e continua, etc.

    Se

    ele

    crê no

    Dever, ele

    terá

    compor.

    tamentos

    correspondentes,

    nscritos

    nas

    práticss

    rltuaÍs,

    "segundo

    os

    bons

    costumes".

    Se

    ele crê na

    Justlga,

    ele

    se

    submeterá

    sem

    dÍscussáoàs regras

    do DÍrelto,

    e

    po.

    derá mesmo

    protestar

    quando

    elas

    são violadas,

    assünar

    petições,

    omar

    parte

    em uma manifestação,

    tc.

    Em todo

    esse

    esquefna,constatamos

    portanto

    que

    a representaçáo

    deológica

    da ideologia

    é,

    ela mesma,

    forçada a reconhecerque todo "suJeito" dotado de uma

    "consciência"

    e crendo nas

    "idélas"

    que

    sua

    "censclên.

    cia" Ìhe

    inspira,

    aceitando.as ivremente,

    deve

    "aglr

    sc

    gundo

    suas

    déias",

    mprimindo

    nos

    atos de

    sua

    prática

    maferial

    as suas

    próprias

    idéias enquanto sujeito

    li.

    vre.

    Se ele náo

    o

    taz,

    "algo

    vai m&1",

    Na verdade

    se ele nâo

    taz

    o

    que,

    em função de

    sÌrâs

    crenças,deveria

    .az,et,

    porque

    faz algo diferente,

    90

    o

    que,

    sempre

    em função

    do

    mesmo

    esquema

    dealista,

    deixa

    perceber

    que

    ele

    tem

    em

    mente

    iáéias

    d.iferentes

    das

    que proclama,

    e

    que

    ele

    age

    segundo

    outras

    idéias,

    seja

    como

    um

    homem

    ',inconseqúente"

    (,,ninguém

    é

    voluntariamente

    m&u"),

    ou cínico,

    ou

    perverso.

    pqye3s.os)

    que

    ele

    realiza.

    Esta ideologia

    fala

    de atos:

    nós

    falaremos

    de

    atos

    inscritos

    em

    piáticas,

    E

    obser-

    AUás,

    devemos

    à

    "dialética,'

    defensiva

    de

    pascal

    a

    .

    -.llremos

    portanto,

    considerando

    um

    sujeito

    (tal

    indivÍduo), que

    a

    existência

    das

    idéias

    de

    sua

    crença

    é

    '

    N.T.

    no

    original

    em inglês.

    Ì

    9l

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    22/29

    material,

    pois

    suas idéias são

    seus

    atos materiais

    inse-

    ridos

    em

    prálÍcas

    materiais, reguladas

    por

    rituais ma.

    teriais,

    eles mesmos

    definidos

    pelo

    aparelho

    deológico

    material

    de onde

    provêm

    as ideiasdo dito

    sujeito,

    Na-

    turalmente,os quatro adjetivos"materiais" referem-sea cliferentesmodalidades:a materialidâdede um deslo-

    r:amentopara

    a missa, de uma

    genuflexão,

    de um sinatt

    da

    cruz ou de um

    mea

    culpa,

    de uma frase,

    de

    uma

    ora-

    '

    ão,

    de uma contriçáo,

    de

    uma

    penitência,

    e um oÌhar,

    ,

    *

    de um aperto de

    mâo, de

    um discurso

    verbal interno

    (a

    consciência) ou

    de

    um

    discurso

    verbal externo náo

    são uma mesma e

    única

    materialidade, Deixamos

    em

    suspensoa teoria

    da

    diferença

    das modalidades

    da ma-

    terialidade.

    Resta

    que

    nessa

    apresentaçáo nvertida

    das cotsas,

    náo nosdeparamos

    xatamente om

    uma

    "inversão"

    uma

    vez

    que

    constatamos

    que

    certas

    noções

    pura

    e simples.

    mente desapareceram m nossaapresentação nquanto

    que

    outras

    permanecem

    e

    que

    novos termos

    aparecem.

    Desaparece:

    termo

    idêias.

    Permanecem:os

    termos suJelto, consciência,

    ren.

    ça,

    atos.

    Aparecem: os

    ierÍnos

    prátlcas,

    rituais,

    aparelho

    ideológlco.

    NÉo

    se

    trete

    portânto

    de uma

    lnversão, mas

    de um

    remanejamento bastante

    estranho

    dedo o

    resultado

    que

    obtemos.

    As idéias desaparecem nquanto

    üals

    (enquanto

    do'

    tadas de uma eústência ldeal, espirltual), na medida

    mesma

    em

    gue

    se

    evidenciava

    que

    sua existência

    estava

    inscrita nos atos das

    práticas

    reguladas

    por

    rituais

    de'

    finidos

    em

    última

    instância

    por

    um

    aparelho

    ideoló

    glco.

    O

    sujeito

    portanto

    atua enquanto

    agente do

    se'

    guinte

    sistema

    (enunciado

    em.

    sua ordem

    de determlna

    Ção

    real): a ideologia

    existente

    ern um

    aparelho

    tdecr

    lógico

    material,

    que prescreve

    práticas

    materiais

    regu'

    ladas

    por

    um

    rituaÌ material,

    práticas

    estas

    que

    existem

    nos atos materiais

    de um

    suJelto,

    que

    age consciente

    mente

    segundo

    suâ

    crença,

    92

    Nesta ormulação conservamos s seguintesnoções:

    sujeito,

    consciência, rença,

    atos. Desta

    sequência

    extrai-

    remos

    o

    termo

    central decisivo,

    do

    qual

    depende

    odo

    o

    demais:

    a

    noção de

    suJeito.

    E enunciamos duas teses simultâneas:

    ,'

    1.

    -

    só há

    prática

    através de

    e

    sob uma ideologia

    2.

    -

    só há ideologia

    pelo

    sujeito e

    para

    o

    sqjeito

    Podemosagora abordar a nossa tese

    central,

    A ldeologianterpela

    os

    individuos nquanto

    uieitos

    Esbp ese vem simpÌesmentee:çlicitar a nossa últi-

    ma

    formulação: só há

    ideoiogia

    pelo

    sujeito e

    para

    os

    sujeitos.

    ou

    seja, a ideologia

    existe

    para

    sujeitos

    con-

    cretos,e esta destinaçãoda ideologia só é possÍvel pelo

    sujeito:

    isto é,

    pela

    categoria

    de

    sujeito

    e de seu funcio-

    namento.

    Queremos

    dizer

    com

    isso,

    mesmo

    que

    esta categoria

    (o

    sujeito)

    não apareça assim

    denominada,

    que

    com o

    surgimento

    da ideologia

    burguesa, e sobretudo com o

    ideologia

    jurídica

    ta

    a categoria

    de

    sujeito

    (que

    pode

    aparecer sob

    outras

    denominações:

    como em

    Pla-

    táo

    por

    exemplo,

    a

    alma, Deus, etc.)

    é

    a categoriacons-

    tltutlva

    de toda

    ideologia,

    seja

    qual

    for a determinaçáo

    (regional

    ou

    de

    olasse) e seja

    qual

    for o momento

    his-

    tórico,

    -

    uma'vez

    que

    â

    ideologia

    não

    tem

    história.

    Dlzemos: a categoria de suJeito é constituti va detoda ideologia, mas, ao mesmo tempo, e imediatamen-

    te,

    -

    acrescentamos

    gue

    a categoria

    d,e

    sujeito

    nã,o

    é

    constitutioa de

    todn

    ideol,ogia, umn

    Dez

    que

    toda tdeo-

    logia

    tent

    por

    fwqã,o

    o

    que

    a

    deline)

    "corutltuit''

    in-

    dío[cl,uos ornretos ern sujeitos. É

    neste

    jogo

    de

    dupla

    constttulção

    que

    se localiza

    o

    funcionamento de toda

    ideologÍa, não

    sendo

    a

    ideologia

    mais do

    que

    o

    seu

    fun-

    14

    Que

    laz da categoria

    jurÍdica

    de

    "sujeito

    de

    direiüo"

    uma

    nocâo ldeológlca:

    o homem

    é naturalmente

    um

    suJeito'

    93

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    23/29

    clonamento

    nas

    formas

    materiais

    de

    existência

    deste

    mesmo

    funcionamento.

    Para

    compreender

    o

    que

    daÍ

    decorre,

    é

    preciso

    es-

    anirnal

    ideológico".

    O

    fato do

    autor,

    enquanto

    autor

    de

    um

    d.iscurso

    que

    se

    pretende

    cientÍfico,

    estar

    completamente

    aÌrsen-

    te,

    como

    "sujeito",

    de

    "seu"

    discurso

    cientÍfico

    (todo

    o

    discurso

    cientÍfico

    é

    por

    definição

    um discurso

    sem

    sujeito,

    existeum

    "Sujeito

    da ciência,'

    numa

    ideolo.

    gla

    da ciència),

    é um

    outro

    problema

    que,

    pelo

    momen.

    to,

    deixaremos

    e lado,

    Ídeologia

    -

    impor

    (sem

    parecer

    fazâlo,

    urna

    vez

    que

    se

    tratam

    de

    "evidências,') as eúdências como evÍdên.cias, que não podemos deixar de reconheeer

    e

    d.iante

    das

    quais,

    inevitável

    e

    natualmente,

    exclamamos

    (em

    l5

    Os

    _

    Ínguistas

    todos

    agueles

    ue

    recorrem

    à lÍngrÍstÍca

    com

    diferentes

    ins,

    tropeçam

    reqüentemente

    m dlticüdades

    que

    decorrem

    o

    desconhecimento

    do

    Jogo

    dos

    eÍeitos

    deoió

    cicosem

    todos

    os

    discursos

    inclusiye

    g

    dls(,lrnôroÍentÍÍlcos.

    94

    voz

    alba,

    ou no

    "silêncio

    da

    consciência"):

    ,,é

    evidente

    é

    exatamênte

    i,ssol

    é

    verdadet,,.

    .

    É

    nesta

    19açao

    que

    se

    exerce

    a

    função

    de recorohe.

    cimmto

    ideológico, que

    é

    uma

    das

    duas

    íunções

    Aa

    aãã.

    logia.

    enquanto

    tal

    (sendo

    o d,esconhecimenío

    "

    l*.

    ção

    inversa).

    tQ

    Fg.t"-duplo

    ,neste

    rhomento"

    é mais

    uma

    prova

    da

    ,,eterni_

    gldul'.

    da-

    deotogia,

    unê

    vez

    que

    o

    tntervato

    ae

    tõmpã

    ;üï;,

    -eprra-

    Éo

    é

    levado

    em

    contâ,

    escrõvò-àstas

    iniras-ã--ï

    i."

    abril

    de 69,

    vocês

    as

    lerÉo

    "ao'mpãra

    qìrl*ao.

    ì

    I

    i

    \

    q. 5

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    24/29

    Numa primeira formulaçáo

    direi:

    tod.o

    d.eologia

    n-

    terpela

    os ind,ivíduo,s

    connretos

    enqlulnto

    sujeàtoi

    con.

    cretos,

    através

    do

    funcionamento

    da

    categoiia

    de

    su-

    jetto.

    _

    Esta

    formulação

    implica,

    pelo

    momento,

    na distin.

    ção

    entre

    os indivíduos

    concretos

    por

    um

    lad.o,

    e sujei.

    tos

    concretos

    por

    outro,

    embora

    o

    sujeito

    concreto-só

    exista

    neste

    nível

    num

    fundamentadò

    indivtduo

    eon.

    creÌ,o.

    l? A interpelação, prátinl

    cotidiana,

    submetida

    a um

    rltual

    pre

    ctso,

    toma

    uma

    forma

    bastante

    especlal

    na

    práticâ

    pollciaf

    de

    "interpelação",

    quando

    se

    trats

    de- nterpelar

    ,,suspeitos,'.

    96

    Naturalmente,

    para

    a

    comodidade

    e

    clareza

    de

    ex.

    (90ozo

    as vezes

    o interpelado)

    se

    volta,

    acreditando-sue

    peitando.sabendo

    ue

    se

    trata

    dele,

    reconhecendo

    por-

    tanto

    que

    "certamente

    é ele"

    quem

    está sendo

    chamádo,

    Porém

    na

    ralidade

    as

    coisas

    ocorrem

    sem

    sucessão

    al-

    guma.

    A existência

    da

    ideologia

    e a

    interpelação

    dos

    indivÍduos

    enquanto

    sujeitos

    sáo

    uma

    únióa

    e mesma

    coisa,

    que

    se seJa

    verdadeiramente

    spinozista

    ou

    marxista,

    o

    que,

    qu8,nto

    a

    este

    aspecto,

    vem a

    dar

    exalamente

    no

    97

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    25/29

    Ínesmo),

    O

    que

    nos

    faz

    dizer

    que

    a ideologia

    não

    possui

    um etterior

    (para

    si

    mesma)

    mas

    que

    ao

    mesmo

    empo

    ela

    é eúerioridade

    (para

    a

    ciência

    e

    para

    a

    realidade),

    Spinoza

    explicou

    isto

    perfeitarnente

    duzentos

    anos

    antes

    de Marx,

    que

    o

    praticou,

    sem

    explicá-lo

    detalha-

    damente,

    Mas

    abandonemos

    esta

    questão,

    ica

    de

    con.

    seqüências

    n_ão

    penas

    eóricas,

    mas direüamentepolí-

    ticas,da qual dependepor exemplo oda a teoria da crí-

    tica

    e autocrÍtica,

    regra

    de

    ouro

    da

    prátÍca

    da luta

    de

    cìasses

    narxista-leninista.

    Fortanto

    a ideologia

    nterpela

    os

    indivíduos

    enouan.

    to

    sujeÍtos.

    Sendo

    a ideologia

    eterna,

    d,evemos

    gorã

    s,r-

    primir

    a

    temporalidade

    eÌn

    que

    apresentamos

    o

    Íun.

    cionamento

    da

    ideorogia

    e dizer:

    a

    ìdeologia

    sempre/

    á.

    rnterpelou

    os

    ind,ivÍduos

    como

    sujeitos,

    o

    que

    qúer

    cii.

    zer-

    qu€

    os

    indivÍduos

    foram

    sempre/já

    interpelados

    pela

    -

    Ídeologia

    como

    sujeitos,

    o

    qüe

    necessari-arnente

    'nos

    leva

    a

    uma

    últirna

    formulação:

    os indiuiauos

    saò

    semprelja

    sujeitos.

    Os individu-os

    sáo

    port"r,to

    ,."úJ.

    tratos'

    em

    relação

    aos

    sujeÍtos que

    ex.istèm

    desde

    sem.

    pre. Rsta formulaçáo pode parecerurn paradoxo.

    Que

    um

    indivÍduo

    seja

    sempreljá

    sujeito,

    antes

    mesmo

    de

    nascer,

    é

    no,entanto

    a maÍõ

    stnltes

    iealiaa.

    cle, acessÍv_el

    qualquer

    urn,

    sem

    nenhum

    paradoxo.

    Que

    os indivÍduos

    sejam

    sempre

    ,.abstratos"

    em

    rela.

    ção

    aos

    sujeitos

    que_são

    esdè

    sempre,

    Freud

    oãã.

    monstrou,

    assinalando

    simplesmenté

    o ritual

    ideológ:.

    co

    que

    envolve

    a espera

    de um

    ,,nascimenüo",

    este

    ,,íe.

    liz.acontecirnento".

    odos

    sabemos

    omo

    e

    guanto

    é

    es.

    perada

    a

    criança

    a

    nascer.

    Deixando

    de

    tadô

    os

    ;.sóntl.

    mentos"

    Ísto,,prosaicarnente,

    uer

    dizer

    que

    as

    formas

    de ideotogia

    farniliqr/paternãt/maternatTcon:ugãifirã.

    ternal, que

    constituem

    a

    espera

    do

    nascimento'dã

    "rian.a, lhe conferemantecipadamente ma série Ae caraótã.

    rÍsticas:

    ela

    ferá o

    nome

    do

    seu

    pai,

    terá

    portanto

    úâ

    identidade,

    e

    será nsubstituÍvel.

    Àntós

    ae

    nascei

    a

    cí"n

    ça

    é

    portanto

    sujeito,

    determinada

    a

    sê-lo

    através

    de

    e

    na

    cg$ieuraçio

    ideológica

    familiar

    especÍfica

    na

    qual

    ele

    é

    "esperado"

    após

    ter

    sido

    concebiao.

    nritil

    dG;

    que

    esta

    corúiguraçáo

    deológica

    amiliar

    é, em

    sua

    uni.

    cidade,

    ortemente

    estnrturada

    e

    que

    é neste

    estnrtúa

    98

    implacável,

    mais

    ou

    menos

    ,,patológlca"

    (supondo-se

    que

    este

    terrno

    tenha

    um

    sentido

    determinável)

    que

    o

    já.presente

    uturo.sujeito,,encontrará"

    o,,seu"

    lugar,

    quer d{zer

    "tornando,se"

    o

    sujeito

    sexual

    (menino-ou

    menina)

    que

    ele

    é,

    C-ompreende,se

    ue

    esta

    pressão

    e

    predeterminaçáo

    ideológica, todos os rituais dõ crescimento, da educação

    Íamiliar

    têm

    atguma

    relação

    com

    as

    ,,etapas

    pregenitãis

    e

    genÍtais

    da sexualidade",

    tal

    como estudadas

    Dor

    teld,

    na

    "apreensão"

    do

    que

    ele

    designou,

    po,

    sèus

    efeÍtos,

    como

    o inconsciente.

    Mas deixlmos

    também

    este

    ponto.

    -Prossigarnos.

    eter.nos-emos

    gora

    na

    maneira

    pela

    qual

    os

    "atores"

    desta

    encenaçãõ

    da

    interpelaçã'o

    e

    seus

    respectiv,os

    papéis

    estão

    refletidos

    na

    pióprla

    es.

    truture

    de toda

    ideologia.

    Um

    exemplo:

    A

    ideologla

    eligiosa

    ristã

    Sendo

    a

    estrutura

    formal

    de

    toda

    ideologia

    sempre

    idêntica,

    nos

    contentaremos

    em

    analisar

    apãnal

    im

    exernplo,

    acessÍvel

    a

    todos,

    o da ideologia

    reüliosa;

    esta

    mesma

    demonstragão

    pode

    ser reprodúzida

    pãra

    a'ideo-

    logia

    rnoral,

    JurÍdica,

    polÍtica,

    estética,

    etc.

    _

    Consideremos.portanto

    a

    ideologia

    religiosa

    cristá.

    Utillzarçmos

    urna

    figxrra

    de retórÍca

    ã a

    ,,farãmõi

    rar"r;,

    isto

    é recolheremos

    num

    discurso

    fictÍcio

    o

    ç,ue

    áa

    "dlz"

    nóo

    apenas

    em

    seus

    dois

    Testamentos,

    atràvés

    de

    seus

    teólogos,

    em

    seus

    Sermões,

    mas

    em suas

    prá-

    tlces,

    seus

    rituaÍs,

    suas

    cerimônias

    e seus

    sacramentos.

    A

    ideologta

    cristá

    diz

    aproximadamente

    o seguinte.

    _

    Ela

    rlÍz:

    Dirijo.me

    a

    ti, ind.ivíduo

    humano

    chamado

    Pedro

    (todo

    indivÍduo

    é

    chamado

    por

    seu

    nome,

    no

    sentido

    passivo,

    não

    é

    nunca

    ele

    quó

    se

    um

    no*ei

    para

    dizer

    que

    Deus

    e:dste

    e

    que

    tu

    deves

    lhe

    prestar

    contas.

    Ela

    acresceltat

    É

    Deus-quem

    se

    dirige

    a'ti

    pela

    minha

    voz

    (tendo

    a

    Escritura

    iecolhid.o

    a

    -palawa

    oe

    gqo, a-,Tradigão

    a'transmitido,

    a

    fnfdiUiUOad,e

    onti-

    Ílcra

    a Íixad.o

    para

    s€mpre

    qua.rrüo

    s

    questóes

    ,,delica.

    99

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    26/29

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

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    Decifremos,,em

    linguagem

    beórica

    esta

    ad.mirável

    ne.

    cessidade

    de

    desdobramento

    do

    Sujeito

    em

    sujeitos

    e

    do

    Suieito

    mesTno

    em

    suielto-Sujeito.

    Resumamos

    o

    que

    vimos

    acerca

    da

    ideologia

    em

    geral,

    A estrutura especular duplicada

    da

    ideologia ga.

    rante

    ao

    mesmo

    tempo:

    I )

    a interpelação

    dos

    ,,indivÍduos,'

    como

    sujeitos,

    2

    O_

    ogma

    da Trindade

    é

    a teoria

    mesma

    do

    desdobramento

    .do.Suieito_

    o

    Pai)

    em

    sujeto

    ro úrrõi-ã-ãJiui-iãrãÊ;ËË:

    cuìar

    o

    Espir i to

    Sanroì.

    r0l

    2)

    sua

    submissão

    ao

    Sujeito

    3

    o reconhecimento

    mútuo

    entre

    os sujeitos

    e o

    Sujeito,

    e

    entre

    os

    próprios

    sujeitos,

    e finalmónte

    o

    re.

    conhecimento

    de

    cada

    sujeito

    por

    si

    rnesmo.2r

    4,

    a

    garantia

    absoh.lüa

    e

    que

    tudo

    está

    bem

    as.

    sim,

    e sob a condiçáo de que sê os sujeitos reconhece-rem o que sãos sg sgp6lrrzirem

    e

    acordo

    tudo

    irá

    bem:

    "assim

    seJa".

    I

    \

    1

    Ì03

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    28/29

    urna

    autoridade

    superior,

    desprovido

    de liberdade,

    a

    não

    ser a de

    livremente

    aceitar

    a

    sua

    submissáo.

    Esta

    última

    conotação

    nos

    o sentido

    desta ambigüidade,

    que

    reflete

    o

    efeito

    que

    a

    produz:

    o indivÍduo

    é

    interpe.

    Lado

    como sujeito

    (liure) para

    liuremente

    submeter-se

    as ordens do Sujetto, para acettar, portanto (liuremen.

    te)

    sua submissã.o,

    ara

    que

    ele

    "realize

    poÌ

    si mesmo"

    os

    gesfos

    e atos

    de sua

    submissão.

    Os

    sujeitos

    se cozs.

    tituem

    pela

    sua

    sujeiçã.o.

    or isso

    e

    que

    "caminham

    por

    si mesmos".

    "Assim

    seja ". . .

    Estas

    palavras,

    ue

    expressam

    efeito

    a ser obtido,

    provam

    que

    as

    coisasnáo

    são

    "natu-

    raìmente"

    assim

    ("naturalmente":

    fora desta

    oração,

    fora

    da intervenção

    deológica).

    Estas

    palavras

    provam

    que

    d

    prectso

    que

    assim seja,

    para

    que

    as coisassejam

    o

    que

    devem

    ser usemos

    a

    palavra;

    para que

    a repro.

    dução

    das relações

    de

    produção

    seja,

    nos

    processos

    de

    produçáo

    e de

    circulaçáo, assegurada

    diariamente, na

    "consciência",ou seja, no comportamentodos indiví-

    duos-sujeitos,

    cupantes os

    postosque

    a divisáo

    social-

    técnica

    do

    trabaÌho hes designana

    produçáo,

    na

    explo-

    ração. na repressão, a ideologização,

    a

    prática

    cien.

    tífica, etc, Nesle mecanismo

    do

    reconhecimento

    spe.

    cular do

    Sujeito e

    dos

    inctividuosnterpelados omo su.

    jeitos,

    da

    garantia

    dada

    pelo

    Sujeito aos sujeitos caso

    estes

    aceilem

    ivremente

    sua submissão s

    "ordens" do

    Sujeito,

    como o

    que

    exatamente

    os

    defrontamos?Á

    realidade

    posta

    em

    questáo

    neste

    mecanlsmo,

    que

    ne .

    cessariamente desconhecida

    elas

    ormas mesmas

    do

    reconhecimento

    deologia

    =

    recoflh€cimento/desconhe.

    cimento),

    é certamente m última instância,a reprodu.

    ção das relações e produçãoe demais elaçoes ue de.

    las

    derivam.

    PS.

    - Se

    estas eses

    esquemáticas

    ossibilitam

    o

    esclarecimento

    e alguns

    aspectos

    o

    funcionamento

    a

    Superestrutura

    e de

    sua forma

    de intervençâo

    na In.

    fraestrutura,

    elas

    sáo evidentemente

    bstratas

    e deixam

    necessariamente

    m

    suspenso

    problemas

    mportantes,

    acercados

    quais

    é necessário

    izer alguma

    coisa:

    1) O

    problema

    do

    processo

    e

    conjunto da reali.

    zação

    da

    eprodução

    das relações

    e

    produçáo.

    Os

    AIE

    contrìbueÌn,

    como

    elementos

    d,este

    rocesso,

    para

    esta reprodução.

    Mas

    o

    ponto

    de

    vista

    de

    sua

    sim.

    ples

    contrÍbúção permanece

    abstrata,

    processo

    que

    se

    exerce

    o

    efeito

    das

    diferentes

    ldeolo.

    gias

    (sobretudo

    da ideologia

    urídico.moral).

    postosda "divisâo técnica"do trabalho,Na verd.ad.e,

    não

    ser

    na ideologia

    da

    classe

    dominante,

    não

    exrste

    "divisão

    técnica"

    do

    trabalho:

    toda divisâo

    ,,técnica,'.

    toda

    organização

    técnica"

    do trabalho

    constitui

    a for

    ma

    e

    a máscara

    de uma

    divisáo

    e de

    uma

    organizaçào

    sociois

    (de

    elasse)

    do trabalho.

    A reprodução

    das rèla

    ções

    de

    produção

    não

    pode

    deixar

    de ser

    o

    empreen.

    dimento

    de uma

    classe.

    Ela se reallza

    ao longo

    dé uma

    luta

    de classes

    que

    opõe a

    classe dominante

    à classe

    e:çlorada.

    O

    pro,cesso

    e

    conJunto

    da

    reallzação

    da reprodução

    das

    relações

    de

    produção

    perrnanece

    abstrato

    até

    que

    nos

    situemos

    no

    ponto

    de vista

    desta

    luta de

    classe.

    O

    ponto de vista da reproduçâo é então, em úÌtimâ ins.

    tância,

    o

    ponto

    de

    vista

    da

    luta de

    classes.

    2)

    O

    problema

    da

    natureza

    de classe

    das ideolo.

    gias

    e:dstentes

    numa

    formação

    social.

    l0 d

    l0 s

     t

    a

  • 8/20/2019 ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos de Estado.

    29/29

    dentro

    de e

    conura ais

    ALE

    os

    ultrapassa,

    ols

    verrr

    de

    outro

    lugar.

    a

    partÍr

    daÍ

    que

    se

    pode

    compreender

    de

    onde

    provêm

    as

    ldeologias que

    se realizam

    e

    se

    corúrontam

    nõs AIE

    Porque

    se é

    verdade

    que

    os AIE

    representam

    a

    lormit

    pela

    qual

    a ideologia

    da

    classe

    dornÍnante

    deve

    necessa.

    riamente

    se

    reallzar,

    e a forma

    corn

    a

    qual

    a ideologia

    da

    classe

    dominada

    deve

    necessarÍamente

    medtr.se

    e

    corúronta .se,

    as ideolOgias

    náo

    ',nagcem,'

    dos AIE

    mas

    das

    classes

    sociais

    em luta:

    de

    suas

    condtções

    d.e

    exis-

    têncla,

    de

    suas

    práticas,

    de

    suas

    orperiênóias

    de luta,

    etn.

    I

    107