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E d iç ã o E s p ec i a l • Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O
Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 192
ALTEAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO
MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO: DÉCADAS DE 70, 90 e 2010
Eliete Figueira Batista da Silveira*
1 (UFRJ)
Silvia Carolina Gomes de Souza** (UFRJ)
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo descrever o comportamento das vogais médias
seguidas de consoante nasal, com base em dados orais da década de 70, 90 e 2010. Para tanto, utilizam-se
dados orais coletados em entrevistas realizadas na cidade do Rio de Janeiro. Por meio de análise
qualitativa e quantitativa, intenta-se observar: (i) o alteamento em uma análise em tempo real de curta
duração (LABOV, 2003); (ii) se o processo de alteamento teve sua frequência de uso modificada ao longo
de trinta anos, durante as décadas 70, 90 e 2010, e (iii) que fatores sociais e linguísticos propiciam o
fenômeno. Pretende-se caracterizar a fala carioca em uma análise em tempo real, contribuindo para o
conhecimento do português brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Vogais Médias; Alteamento; Variação.
ABSTRAT: This paper aims to describe the behavior of mid vowels followed by nasal consonant, based
on oral data of the 70, 90 and 2010. To do so, we use data collected from oral interviews conducted in the
city of Rio de Janeiro. By means of qualitative and quantitative analysis, attempts should be noted: (i)
increasing height in a real-time analysis of short duration (Labov, 2003), (ii) the process of increasing
height had changed their frequency of use over thirty years, during the decades 70, 90 and 2010, and (iii)
factors that favor the social and linguistic phenomenon. It is intended to characterize the speech Rio in a
real-time analysis, contributing to the knowledge of Brazilian Portuguese.
KEYWORDS: Medium vowels; Raising; Change.
1. Introdução
O trabalho aqui apresentado pretende analisar o comportamento das vogais
médias pretônicas travadas por consoante nasal /N/ no Município do Rio de Janeiro, nas
1 * Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutora pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
** Bacharel e Licenciada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, aluna de Iniciação Científica:
[email protected], financiada pela FAPERJ.
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décadas 70, 90 e 2010, com intuito de verificar o comportamento do fenômeno ao longo
das décadas: se houve um incremento do processo ou se está em declínio.
O presente estudo fundamenta-se nos pressupostos teóricos da Sociolinguística
Variacionista laboviana (WEINREICH; LABOV & HERZOG, 1968/2006), ou seja, no
princípio de que os sistema se constitui de heterogeneidade ordenada, sendo, portanto, a
língua um diassistema (COSERIU, 1979), um conjunto de sistemas que se entrecruzam.
Em função disso, os autores defendem que diferentes sistemas coexistem e estão
disponíveis aos falantes pertencentes a toda a comunidade, o que resulta em considerar
que diferentes formas de expressar o mesmo conteúdo entram em competição, podendo
ocorrer situações distintas: a) o desaparecimento de uma das variantes, ou seja, ocorre
mudança linguística, ou b) a coexistência das variantes, o que se denomina variação
estável, ambas reguladas por fatores internos (ou linguísticos) e externos (ou
extralinguísticos ou sociais). Em função dessa dupla possibilidade, a sociolinguística
propõe que toda mudança linguística implica um estágio de variação. No entanto,
variação não necessariamente conduz a uma mudança. Interessa, portanto, à
Sociolinguística o estudo dos fenômenos variáveis, a fim de observar possíveis
mudanças no sistema linguístico.
No Estado do Rio de Janeiro, ocorre a variação existente entre as vogais [e] ~ [i]
e de [o] ~ [u], fenômeno denominado de alçamento ou alteamento que consiste na
substituição de um fone por outro que não estabelece par positivo, resultando em uma
neutralização fonética. Tal fenômeno não é recente na história da Língua Portuguesa,
uma vez que são encontrados registros do alçamento em cartas, documentos dos séculos
passados.
Castro (1991, p.20) afirma que a elevação das pretônicas se tenha generalizado
no português durante a primeira metade do século XVIII, destacando que deva ter se
iniciado no século anterior, o que confirma o relato de Paul Teyssier (1977, p.71) de que
a elevação das vogais em posição pretônica já fora documentada em textos medievais
portugueses. Também Marquilhas (2000, p.254) afirma que há possibilidades de a
elevação das pretônicas ocorrer desde o século XVI.
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O alçamento, portanto, é um fenômeno em variação que consiste na escolha de
um ou outro fone, no caso [e] ~ [i] e [o] ~ [u]. Essa variação pode ser motivada
fonologicamente, fenômeno descrito como processo de harmonização vocálica, em que
há assimilação do traço de altura da vogal presente na sílaba tônica, como em
realizações m[e]ntira por m[i]ntira, [e]sino por [i]nsino e c[o]mprido por c[u]mprido,
p[o]ntudo por p[u]ntudo. A partir do alçamento de vogais por harmonização, Bisol
(1981) afirma que o alteamento consiste em um processo que não faz saltos (mexerica ~
mexirica ~ mixirica, mas não *mixerica) e, por isso, defende a hipótese de que a
assimilação se dá com a vogal alta da sílaba imediatamente seguinte, chamando a
atenção para a relevância do fator contiguidade, não importando se a uma alta pretônica
ou tônica.
Entretanto, há outros casos em que o alteamento não pode ser justificado pelo
processo de harmonização vocálica, uma vez que não há a presença de vogal alta na
sílaba imediatamente seguinte, como em [i]mpregada, [i]nfeite, c[u]nversa, fenômeno
denominado redução vocálica (ABAURRE-GNERRE, 1981), por tratar-se de
assimilação do traço [+ alto] presente na consoante adjacente.
Em relação às médias travadas por nasal, objeto de estudo do presente trabalho,
verifica-se a impossibilidade de realização da vogal de timbre aberto, pois a presença de
uma consoante nasal “elimina as vogais médias de 1º grau”, como afirma Camara Jr.
(2006, p. 42). Sabe-se, ainda, que a consoante nasal já é um forte condicionador do
alteamento das vogais médias; no entanto, verifica-se que há palavras que sempre se
alteiam (entrada, empregada, compadre) e outras que se mostram resistentes ao
processo (entidade, centrada, controle).
Em estudos sociolinguísticos sobre o alteamento das vogais pretônicas, Viegas
(1987, p. 163-168) afirma que a variação ocorre em contextos específicos, sendo
possível descrever o fenômeno através de uma regra fonológica variável. No entanto,
destaca que há itens lexicais que sempre alteiam e outros que não sofrem o processo,
apresentando ou não contextos fonéticos favorecedores, o que permite afirmar que a
regra de alçamento atua primeiramente nos itens lexicais mais frequentes e mais
comuns.
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A partir dessas constatações questiona-se: o alçamento das vogais é um processo
de mudança neogramática ou de difusão lexical ou mesmo se há atuação das duas
propostas de análise? O modelo difusionista defende que as mudanças sonoras (i) não
têm exceções, as que porventura ocorrem são explicadas pelo principio de analogia; (ii)
são condicionadas apenas por fatores fonéticos e (iii) são foneticamente graduais e
lexicalmente repentinas, atingindo todos os itens lexicais. O modelo difusionista
defende que (i) há exceções e as mudanças sonoras não podem ser explicadas por
analogias; (ii) não são todas as formas que apresentam condicionamento fonético e (iii)
as mudanças sonoras são foneticamente abruptas e lexicalmente graduais, uma vez que
as palavras não são afetadas ao mesmo tempo.
O presente trabalho, por considerar diferentes sincronias, está fundamentado no
estudo da mudança no tempo real tipo tendência. Há dois estudos de tempo real: de
longa duração e o de curta duração. O primeiro analisa dados de diferentes séculos. Este
apresenta uma grande dificuldade que é a ausência de dados de usuários da língua, o que
obriga o pesquisador a recorrer aos textos escritos. O segundo é composto por dados de
anos próximos em que se considera intervalos de cerca de vinte anos.
Segundo Paiva e Duarte (2003) e Labov (1994), uma técnica para acompanhar
os fenômenos variáveis em uma comunidade de fala e nos falantes individualmente
pode ser realizado por meio do estudo tipo tendência, que compara amostras distintas de
uma mesma comunidade, e estudo do tipo painel, que utiliza dados coletados em
amostra de um mesmo indivíduo (por recontato) em diferentes períodos do tempo.
O estudo tipo tendência é realizado através de coleta aleatória de dados de
falantes, em uma comunidade linguística específica, em momentos de tempo distintos.
As pessoas que contribuíram para a constituição do corpus podem ser consideradas
representantes da comunidade, uma vez que a amostra é sociolinguisticamente
estratificada. A partir deste estudo, é possível verificar se a mudança de uma variável se
encontra em propagação, estabilização ou em recuo.
O estudo da mudança em tempo aparente baseia-se no pressuposto de que
comportamentos linguísticos distintos entre gerações podem ilustrar diferentes estágios
da língua. De acordo com Labov (1994), o melhor método para analisar a mudança na
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língua é combinar o estudo em tempo aparente com o estudo em tempo real, o que será
empreendido na presente pesquisa.
Com vistas à caracterização do comportamento das vogais em contexto
pretônico, intenta-se investigar que fatores linguísticos e extralinguísticos contribuíram
para a variação das vogais, o alteamento em uma análise em tempo real de curta
duração, se há condicionamento de base difusionista e neogramática em relação ao
fenômeno e se houve evolução no processo de alteamento das vogais pretônicas no
transcorrer das décadas selecionadas.
2. Desenvolvimento
2.1. Aspectos metodológicos
2.1.1. Constituição do Corpus
Com o propósito de observar a evolução do processo de alteamento nas décadas
de 70, 90 e 2010, o corpus constituiu-se de dados oral coletados em entrevistas
realizadas na cidade do Rio de Janeiro, utilizando-se dezoito informantes pertencentes a
faixas etárias e gêneros diferentes, disponibilizados no endereço eletrônico do projeto
Norma Linguística Urbana Culta – RJ (NURC): www.letras.ufrj.br/nurc-rj/ e no Estudo
comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e
européias – RJ: http://www.concordancia.letras.ufrj.br/.
A partir dos pressupostos teóricos da Sociolinguística Variacionista
(WEINREICH; LABOV & HERZOG, 1968), cujas bases se assentam na premissa de
que a língua é heterogênea e, ao mesmo, tempo ordenada, elaborou-se um conjunto de
variáveis de caráter linguístico e extralinguístico que condicionariam o alteamento. Tais
variáveis foram submetidas ao pacote de programas Goldvarb-X, que selecionou as
variáveis condicionadoras para o fenômeno a ser estudado.
2.1.2 Variáveis Dependentes
Controlaram-se três possibilidades de concretização das vogais médias
pretônicas seguidas de nasal /e/ e /o/: [i], [u], como em imbaixo e cumprida ou, ainda, a
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realização ditongada das médias [ej] e [ow], como em [ej]ntendeu, c[ow]seguiu. Esta
variante foi considerada apenas na análise percentual, a fim de observar sua
produtividade. Em uma segunda análise, foram recodificadas como variantes alteadas,
pois se entende que as vogais ditongadas encontram-se, em um contínuo, mais próximas
ao alteamento do que ao não alteamento.
2.1.3. Variáveis Independentes
As variáveis independentes foram separadas em nove fatores de ordem estrutural
e quatro de ordem social. Portanto, há um total de onze variáveis independentes.
2.1.4 Variáveis estruturais
(a) Contexto precedente à pretônica + nasal
(b) Contexto fonológico subsequente à pretônica + nasal
As variáveis (a) de (b) são consideradas por entender que as consoantes
adjacentes ao contexto vogal média + nasal condicionam o alteamento vocálico, ainda
que de maneira diversa a pretônica anterior e a posterior. Entende-se que a regra de
elevação afeta mais fortemente a média anterior do que a posterior, visto que o contexto
nasal aproxima a média anterior [e] da zona articulatória de [i] (ocorre o aumento das
frequências dos formantes altos), favorecendo o alteamento vocálico. Já no caso da
vogal posterior [o], o aumento das frequências do formante 2 e dos formantes altos
torna [o] mais baixo e mais central, afastando-o [o] da zona articulatória de [u] (cf.
BISOL, 1988).
Ainda sabendo que o contexto nasal já é favorecedor do alteamento -
especialmente de /e/ -, entende-se que a consoante adjacente pode ser mais um fator
condicionante, tendo em vista que se a consoante tiver ponto de articulação mais
próximo de [i] ou de [u] atuará como impulsionador do processo assimilatório. Assim,
parte-se da hipótese de que velares, por serem articuladas com o dorso da língua
levantado) e as palatais, por serem articuladas com o corpo da língua levantado,
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propiciará o alteamento de /o/. De outro lado, as alveolares, cuja articulação ocorre com
a língua em posição mais plana e a parte da frente levantada, não possuem pontos de
articulação próximos a [i] e [u] e, portanto, desfavorecem o alteamento vocálico. As
labiais são caracterizadas por possuírem formante 2 de frequências baixas. Assim,
quando combinadas com [o], baixam também o F2 de [o], aproximando-o da zona
articulatória de [u] de F2 de frequências mais baixas e propiciando o alteamento. Já a
atuação de labiais sobre [e] torna-a levemente centralizada, (pelo abaixamento de F2),
afastando-a da alta [i].
(c) Posição / Distância da sílaba em foco em relação a outra vogal alta adjacente
Acredita-se que a vogal alta tônica ou a vogal alta mais próxima da pretônica
alvo podem atuar para o alteamento, num processo denominado harmonização vocálica.
Assim, esta variável visa a identificar se a maior ou menor contiguidade é um fator
relevante para a atuação do alteamento.
Assim, controla-se a posição e a distancia observando cinco possibilidades de
ocorrência: i) a vogal média pretônica + nasal estar contígua à vogal alta pretônica
([i]nsinava, c[u]mbinar); ii) a vogal média pretônica + nasal estar contígua à vogal alta
tônica (m[i]ntira, c[u]mprido); iii) a vogal média pretônica + nasal estar intercalada por
1 sílaba da tônica alta ([i]nvolvido, [i]entendida); iv) a vogal média pretônica + nasal
estar intercalada por 1 sílaba da pretônica alta ([i]nvernizada, [i]ngravidando), v) a
vogal média pretônica + nasal estar intercalada por 2 sílabas da tônica alta ([i]ncarecida,
[i]ngenharia).
(d) Classe do vocábulo
Controlam-se as classes de palavras, a fim de verificar se o fenômeno do
alteamento se inicia em uma classe de palavras específica e se espraia às demais, como
se prevê em um modelo difusionista. Tal proposta visa a confrontar os dois modelos
teóricos: o da Difusão Lexical (CHEN, M.; WANG, W.S.-Y., 1975; OLIVEIRA, 1991,
1992, 1995) o da Neogramática. O primeiro postula que as mudanças são foneticamente
abruptas, não selecionam um contexto fonológico específico, e lexicalmente graduais,
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uma vez que cada palavras tem sua história e, portanto, é atingida de diferentes formas
pelas mudanças sonoras. O segundo inicialmente previa que as mudanças são
foneticamente graduais, atinge um contexto fonológicas por vez, e lexicalmente
abruptas, atinge todas as palavras do léxico que possuam o contexto de mudança. Labov
(1994: 603) reformula a proposta ortodoxa neogramática e postula que a mudança
fonética é uma mudança na concretização fonética de um segmento fonológico,
independentemente da classe gramatical a que pertençam as palavras analisadas. Ainda,
propõe que uma mudança do tipo neogramático obedece a fatores fonéticos e processa-
se independentemente de intervenção semântica.
(e) Localização da pretônica
Intenta-se verificar se o alteamento ocorre mais nas palavras em que a pretônica
se encontra no prefixo, por exemplo, [i]mbaixo / c[u]ncentra, ou na base lexical, por
exemplo, [i]mpolga / c[u]mplicada. Investiga-se também a origem do vocábulo em
dicionários etimológicos, a fim de verificar a existência de formação por prefixação,
mesmo que sincronicamente esta não seja evidente. Parte-se do pressuposto de que a
maior parte dos alteamentos ocorra em prefixos, uma vez que são átonas permanentes.
(f) Natureza da vogal média pretônica
Entende-se átona permanente aquela que nunca figura em sílaba tônica (menino,
meninice, meninada) e por átona eventual aquela que pode figurar como sílaba tônica,
como em lembro/lembrar. A átona permanente nunca recebe acento principal, ficando
suscetível ao alteamento vocálico. Diferentemente, aquela que eventualmente é átona,
em função de deslocamento da tonicidade, parece preservar o timbre vocálico, numa
espécie de “resíduo” acentual.
(g) Registro de grafias passadas:
Postula-se que o registro em épocas pretéritas dos vocábulos do corpus com os
grafemas <i> e <u> em posição pretônica da sílaba pode ser evidência i) de variação já
existente nesse contexto, ii) de retomada à grafia latina, conforme postula Viegas
(2001).
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2.1.5. Variáveis extralinguísticas
(a) Faixa Etária
Pretende-se verificar se o alteamento é um fenômeno inovador - o que se
comprova se este apresenta maior uso entre os mais jovens - ou se um fenômeno
conservador – manifesta-se com mais frequência entre falantes mais idosos. De acordo
com o estudo em tempo aparente, comportamentos linguísticos distintos entre gerações
podem representar diferentes estágios da língua.
(b) Gênero do informante
Pretende-se verificar o comportamento do fenômeno entre os gêneros. Segundo
Labov (1972), as mulheres tendem a levar adiante a variante inovadora, se esta não é
estigmatizada, ao passo que os homens tendem ao uso da variante estigmatizada.
(c) Década
Pretende-se verificar se houve evolução no processo de alteamento das vogais
pretônicas no transcorrer das décadas de 70, 90 e 2010.
2.2. Resultados
Levantaram-se 1.448 ocorrências de vogais médias pretônicas em contexto de
travamento por consoante nasal, 698 ocorrências da vogal média anterior e 750
ocorrências da vogal média posterior. O alteamento ocorreu 367 vezes no total das
vogais pretônicas médias anteriores e 110 vezes no das posteriores. As análises de cada
vogal foram feita separadamente por se entender que fatores diferentes controlam o
alteamento de /e/ + Nasal e de /o/ + Nasal.
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Tabela 1 – Resultados gerais percentuais - /e/ e /o/ + Nasal
Média Anterior [e] + Nasal Média Posterior [o] + Nasal
Décadas Alteados Não Alteados Total Alteados Não Alteados Total
70 126
51,42%
119 245 53
21,63%
192 245
90 63
56,75%
48 111 24
20,86%
91 115
2010 178
52,04%
164 342 33
8,46%
357 390
Confirma-se que, por se tratar das pretônicas seguidas de consoante nasal, o
alteamento da vogal posterior é menos cômodo articulatoriamente ao falante, visto que a
vogal [u] é a mais posterior da série e a consoante nasal inicia sua articulação na parte
anterior do trato vocal, posteriorizando-se pela articulação de /o/. Como dito, a
nasalização aumenta as frequências do formante 2 e dos formantes altos de [o],
tornando-o mais baixo e mais central, afastando-o da área de [u] e o consequente
possibilidade de alteamento.
A análise dos percentuais de /e/ e /o/ evidenciam maior alteamento da anterior
do que da posterior, em todas as décadas consideradas, assumindo [e] sempre mais de
50% de alteamento, ao passo que [o] apresenta resultados bastante inferiores. Isso se
deve ao fato de que a nasalização de /e/ aumenta as frequências dos formantes altos,
aproximando essa vogal da área da vogal [i]. Cabe confirmar os resultados percentuais,
com base na análise probabilística.
O programa GoldvarbX selecionou para o contexto vogal média anterior travada
por nasal as variáveis Contexto fonológico subsequente à pretônica + nasal, Natureza
da vogal média pretônica, Contexto fonológico precedente à pretônica + nasal,
Distância da sílaba em foco em relação a outra vogal alta adjacente, Natureza da
pretônica e Registro de grafias passadas. No nível de seleção, o input foi de 0.744 e a
significância 0.003.
No contexto vogal média posterior travada por nasal, o programa GoldvarbX
selecionou as variáveis Distância da sílaba em foco em relação a outra adjacente,
Década, Natureza do vocábulo, Faixa Etária, Localização da pretônica, Contexto
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fonológico subsequente à pretônica + nasal, Contexto fonológico precedente à
pretônica + nasal, Natureza da vogal média pretônica e Gênero. No nível de seleção, o
input foi de 0.239 e a significância 0.040.
Seguem abaixo as tabelas, bem como a leitura dos resultados com as hipóteses
que nortearam o presente trabalho.
2.2.1 Variável contexto fonológico subsequente à pretônica + nasal
A análise da variável independente contexto fonológico subsequente tem como
principal objetivo verificar o alteamento pela assimilação de traços presentes nos fones
que sucedem a vogal média, provocando uma antecipação na articulação, fenômeno
nomeado por Abaurre-Gnerre (1981) de redução vocálica.
Os resultados mostram que a presença das velares (108 – 90,8% - 0.738),
palatais (19 – 82,6% - 0.720) e labiais (144 – 81,8% - 0.715) no contexto seguinte à
vogal média anterior travada por nasal, bem como a presença das consoantes palatais
(3 – 33.3 – 0.672) e labiais (53 – 17.5 – 0.651) no contexto seguinte a vogal posterior
travada por nasal são grandes favorecedoras do alteamento, comprovando a hipótese
de que há um condicionamento fonético de assimilação de traços que colabora para o
alteamento da vogal + nasal.
As alveolares desfavorecem o alteamento tanto de /e/ (96 – 25,3% - 0.309)
quanto de /o/ (52 – 13,5% - .434), e a velares inibem o alteamento apenas de /o/ (2/54 –
3,7% - 0.152), pelo fato de essas consoantes não partilharem com as vogais altas [i] e
[u] – harmonizadoras - nenhuma semelhança articulatória. As alveolares articulam-se
com a língua em posição bastante plana, ainda que apresentem ligeira elevação da ponta
da língua, inibindo o alteamento; já as velares se articulam com o dorso da língua
recuado em direção à região velar, o que em tese deveria propiciar o alteamento de /o/.
No entanto, como se trata de vogal posterior seguida de consoante nasal, a articulação
de /N/, inicialmente na região alveolar (anterior), inibe a assimilação do traço [+ alto] da
velar.
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Tabela 2 – Contexto Fonológico Subsequente à Pretônica + Nasal
Fatores
Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal
Aplic./Total % P.R Aplic. / Total % P.R
Alveolares Exs.: s[e]ntido, [i]nsopada
/ p[u]ntudo, c[o]ncentra
96/380
25.3
0.309
52/384
13.5
0.434
Labiais Exs.: [i]mpregada,
[e]nfeite / c[u]mprida,
c[o]mprava
144/176
81.8
0.715
53/303
17.5
0.651
Velares Exs.: [i]ncapar,
[e]ngraçadas / c[u]ncurso,
c[o]nclusão
108/119
90.8
0.738
2/54
3.7
0.152
Palatais Exs.: [e]ngenheiro,
[i]nxada / c[u]njugado,
c[o]njunto
19/23
82.6
0.720
3/9
33.3
0.672
2.2.2 Variável natureza da vogal média pretônica
O resultado confirma a hipótese de que a pretônica permanentemente
átona - anterior (343 – 73% - 0.668) e posterior (104 – 15.9% - 0.548) - é mais
suscetível à variação do que a pretônica eventual, uma vez que esta é derivada de uma
tônica e, por isso, tende a manter o traço da média [e], preservando o timbre vocálico.
Tabela 3 – Natureza da Vogal Média Pretônica
Fatores
Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal
Aplic. /
Total
% P.R Aplic. / Total % P.R
Eventual
Exs.: s[e]ntia, [i]nchia /
c[u]mprou, p[o]ntudo
24/226
10.6
0.189
6/95
6.3
0.211
Permanente
Exs.: [i]mbutidos,
[e]nvolver / c[u]nsumo,
c[o]ntinua.
343/472
72.7
0.668
104/655
15.9
0.548
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2.2.3 Variável contexto fonológico precedente a pretônica + nasal
O resultado para esta variável revela que, de fato, a ausência de contexto
fonológico antecedente é o maior propiciador do alteamento das vogais médias
anteriores seguidas de consoante nasal (332 – 73.5% - 0.625), confirmando a hipótese
de Viegas (1987, p. 109) “para que a vogal média [anterior] alce, ela deve estar
precedida de pausa, ou melhor, em início de palavra”. Tal resultado também é
corroborado nos estudos de Viegas (1987, p. 113) que, ao analisar a vogal média
anterior [e], afirma parecer existir “uma relação direta entre início de palavra e
alçamento: quanto mais próximo do início da palavra, maior a porcentagem de
alçamento”. Trata-se, pois, de uma estrutura silábica em que o onset (ataque silábico)
encontra-se vazio e a vogal média é facilmente atingida pelo alteamento. A presença de
consoante em contexto precedente, ao contrario, inibe o fenômeno. Para comprovar
isso, basta confrontarem-se os pares [e]ntrada ~ [i]ntrada e c[e]ntrada ~ *c[i]ntrada.
Já para as vogais médias posteriores travadas por nasal, os resultados revelam
que as consoantes labiais em contexto precedente a pretônica + nasal são favorecedoras
do alteamento (50 – 30% - 0.827). Tal resultado confirma a hipótese de que a labial
baixa as frequências de F2 de [o], aproximando-o da área de [u].
Já as consoantes velares (95 – 13.7% - 0.472) não favorecem o alteamento de /e/,
mas favorecem o de /o/ por este assimilar o traço [+ alto] e [+ recuado], aproximando-o
de [u].
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Tabela 4 – Contexto Fonológico Precedente + nasal
Fatores
Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal
Aplic. / Total % P.R Aplic. / Total % P.R
Ausência de contexto
Exs.:[i]ngomar,[i]nrolado.
332/452
73.5
0.625
Labiais
Exs.:m[e]ndigos,m[i]ntira
/ am[u]ntoadas,
b[o]nsucesso
4/105
3.8
0.099
15/50
30
0.827
Velares
Exs:c[u]nfiança,c[o]ntrola
95/691
13.7
0.472
Alvelares
Exs.: s[e]ntinela,
des[i]nvolve,
31/132
23.5
0.502
2.2.4 Variável posição / distância da sílaba em foco em relação a outra adjacente
De uma maneira geral, a presença de vogal alta na posição tônica favorece o
alteamento, uma vez que tanto se estiver contígua (34/75 – 45,3%– 0.719) quanto se
estiver separada da vogal alta tônica por duas sílabas (10/12 – 86,7%– 0.640) a vogal
média pretônica anterior tende a ser alteada. Cabe observar que tanto em [i]ng[e]nharia
quanto em [i]ncar[e]cida, não parece, de fato, que seja a vogal alta o desencadeador do
fenômeno, mas estar a pretônica em sílaba sem apoio. Aliás, nota-se que tais exemplos
contrariam a máxima de Bisol (1981) que prevê que a harmonia vocálica não faz saltos
(m[e]x[e]rica ~ m[e]x[i]rica ~ m[i]x[i]rica, mas não *m[i]x[e]rica).
Assim como para a pretônica /e/ + Nasal, a contiguidade da vogal posterior /o/ +
Nasal a uma vogal alta é o fator favorecedor do alteamento, conforme revelam os
resultados: 33 - 43.4% - 0.730, mostrando a atuação da harmonização vocálica.
Parece, então, que o efeito da harmonia vocálica, fenômeno em que a média
pretônica assimila o traço de altura da vogal presente na sílaba tônica – especialmente se
contígua - atua supra-dialetalmente, visto que se verifica também nos dialetos do sul e
de Belo Horizonte: Bisol (1981: 114-5) “(...) é natural a regra de assimilação que atinge
sons vizinhos e não natural a que pula uma sílaba para afetar terceiras.” e Viegas (1987,
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p.63) “nos dados por mim coletados, o alçamento de (e) ocorre com frequência quando
este está seguido de vogal alta”.
Tabela 5 – Posição / Distância em foco em relação a outra adjacente
Fatores
Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal
Aplic. / Total % P.R Aplic. / Total % P.R
Contígua à vogal alta
pretônica
Exs.: [e]nsinava,
[i]mpurrão /
c[u]mbinar, c[o]nfusão
29/55
52.7
0.397
41/192
21.4
0.403
Contígua à vogal alta
tônica
Exs: m[i]ntira, s[e]ntido
/ c[u]mprido,
c[o]ncurso
34/75
45.3
0.719
33/76
43.4
0.730
Intercalada por 1
sílaba antes da tônica
alta
Exs: [i]nvolvido,
[e]ntendida
6/17
35.3
0.121
Intercalada por 1
sílaba antes da
pretônica alta
Exs.: [i]nvernizada,
[e]ngravidando
6/11
54.5
0.133
Intercalada por 2
sílaba antes da tônica
alta
Exs.: [i]ncarecida,
[e]ngenharia
10/12
83.3
0.640
2.2.5 Variável natureza do vocábulo
Na análise da variável independente natureza do vocábulo, controlam-se as
classes de palavras, a fim de verificar se o fenômeno do alteamento se inicia em uma
classe de palavras específica e se espraia aos demais. Os resultados da tabela
demonstram que os verbos de segunda conjugação (32 – 66.7% - 0.746) são
favorecedores ao alteamento das vogais médias anteriores travadas por nasal e os verbos
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de 1ª conjugação (27 – 14.5% - 0.670) e na forma nominal (16 – 26.2% - 0.756) são
favorecedores ao alteamento das vogais médias posteriores travadas por nasal. Nota-se a
neutralidade
A partir da análise do resultado, pode-se dizer que parece haver um processo de
Difusão Lexical, tanto nas vogais anteriores quanto nas posteriores travadas por nasal,
pois o alteamento ocorre em uma classe de palavra específica, no caso verbos. Tal
resultado corrobora com o estudo de Labov “evidencia que há muitos casos que dão
sustentação ao modelo neogramático. Estes casos mostram que todas as palavras de uma
classe são afetadas por uma dada regra.” (Viegas, 2001, p.38).
Em última análise e em confronto com os resultados que levam em conta o
contexto fonológico antecedente e subsequente – de cunho neogramático -, pode-se
dizer que a difusão lexical parece atuar mais fortemente nas posteriores do que nas
anteriores, sobre as quais parece haver maior efeito neogramático. Pode-se considerar,
ainda, conforme Oliveira (1991), que as palavras afetadas pelo processo de alteamento
são: i) as mais comuns e mais frequentes (nesse sentido, verbos são palavras
recorrentes); ii) as com contexto fonético natural para o alteamento (e assim se
conjugam tanto o efeito fonético quanto as premissas da difusão lexical), e iii) as ditas
em contexto informal da fala, como o são as entrevistas com os informantes de Nova
Iguaçu – Rio de Janeiro.
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Tabela 6 – Natureza do Vocábulo
Fatores Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal
Aplic./Total % PR Aplic./Total % PR
Verbo 1ª conjugação
Exs.:
[i]ncapar,[e]ncontrar /
c[o]mprava, c[u]mbinar
66/139
47.5
0.299
27/186
14.5
0.670
Nome
Exs.:[i]mpregada,
p[e]ntiadeira /
c[u]mprido, c[o]ndução
245/423
57.9
0.534
60/377
15.9
0.382
Verbo na forma
nominal
Exs.:[i]ntendido,
[e]nsinando/c[u]nversan
do,c[o]nsumido
16/80
20
0.526
16/61
26.2
0.756
Verbo 2ª conjugação
Exs.: [e]ntender,
des[i]nvolver
32/48
66.7
0.746
Verbo 3ª conjugação
Exs.:
c[u]nsigo,c[o]nseguir
7/44 15.9 0.391
2.2.6 Variável localização da Pretônica
Observa-se que o fato de a pretônica encontrar-se no prefixo favorece ao
alteamento tanto das vogais médias anteriores seguidas de consoante nasal (154 –
90.1% - 0.779) quanto das posteriores travadas por nasal (2 – 28.6% 0.790). Cabe
destacar que a análise da variável independente localização da pretônica implicou
investigar a origem do vocábulo, a fim de se verificar existência de formação de
palavras por prefixação. No caso, pensou-se na hipótese de que a tendência ao
alteamento esteja vinculada ao fato de o prefixo ser uma forma dependente (átona). Ao
agregar-se à base, figurará como sílaba átona permanente, o que se tem revelado um
forte condicionador do alteamento. Tal resultado ainda é reforçado pelo estudo de Bisol
sobre os prefixos (1981, p. 37). A autora afirma serem os prefixos originários, em sua
maioria, de preposição, advérbio e adjetivo. Estes prefixos podem se incorporar
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totalmente à base lexical, de modo a não serem mais percebidos como tal: “quando o
prefixo se incorpora de todo à palavra como se fora um sufixo ou quando se tem perdida
a sua origem, então a harmonização passa a atuar: retiro – ritiro; porvir – purvir”. Por
outro lado, a localização da pretônica na base lexical não favorece ao alteamento,
conforme atestam os resultados, vogais anteriores (213 – 40.4% - 0.399) e posteriores
(102 – 13.9% - 0.497). Os exemplos a seguir ilustram a variável:
Tabela 7 – Localização da Pretônica
Fatores Média Anterior + Nasal Média Posterior + Nasal
Aplic./Total % PR Aplic./Total % PR
Prefixo
Exs.:[e]mpilhados,
[i]mbaixo / c[o]ncentra,
c[u]ncentração
154/171
90.1
0.779
2/7
28.6
0.790
Base
Exs.:
[i]mpolga,[e]ncantadora /
c[o]ntinuação,
c[u]mplicada
213/527
40.4
0.399
102/733
13.9
0.497
2.2.7 Variável registro de Grafias Passadas
A variável registro de gráficas passadas foi selecionada apenas para o contexto
das vogais anteriores travadas por nasal. Os resultados demonstram que o fato de a
palavra ter sido outrora grafada com vogal alta <i> (174 - 65.1 – 0.672) favorece ao
alteamento das vogais médias anteriores travadas por nasal, confirmando a afirmativa de
Paul Teyssier (1977, p.71) de que a elevação das vogais em posição pretônica já se acha
documentada em textos medievais portugueses, passando ao português do Brasil e aos
crioulos. Reforça isso Marquilhas (2000, p. 254) que diz haver possibilidades de a
elevação das pretônica ocorrer desde o século XVI. Nos registros do ortógrafo João
Moraes Madureira Feijó (1734), verificam-se casos de alçamento de vogais médias
pretônicas, registrados na parte que o autor destina à apresentação de erros de escrita e
pronúncia. Há, no ortógrafo, um total de 459 dados, sendo 63 de médias travadas por
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consoantes e 396 em outros contextos. Nas palavras em que as vogais médias se
encontram travadas por nasal, existem 42 dados de alçamento, como cumpitente. Nos
demais contextos, há 265 casos de alteamento. A partir desses dados, confirma-se a
hipótese de que o alçamento das pretônicas no plano sincrônico pode ser resíduo das
grafias (e também pronúncias) de sincronias passadas. Os exemplos a seguir ilustram o
alteamento nas décadas de 70, 90 e 2010.
Tabela 8 – Registro de Grafias Passadas
Fatores Média Anterior + Nasal
Aplic./Total % PR
Grafada com <i>
Exs.: [e]ntregar, [i]mpregos
174/268 64.9 0.672
Grafada com <e>
Exs.: [e]ngomar, [i]ncostava
189/418 45.2 0.388
Grafada com <a>
Exs.: [e]nfeite, [i]nxada
4/6 66.7 0.415
2.2.8 Variável faixa Etária
A variável faixa etária se mostrou condicionadora do contexto das vogais
posteriores travadas por nasal. A análise da variável social faixa etária parte da hipótese
de Labov (1972/2008). Segundo ele, a mudança linguística inicia-se em um grupo da
comunidade de fala e é levada às gerações sucessivas. Pretende-se verificar se o
alteamento é um fenômeno inovador – o que se comprova se este apresenta maior uso
entre os mais jovens – ou se um fenômeno conservador – manifesta-se com mais
probabilidade entre falantes da faixa etária mais avançada. Os resultados revelam que a
primeira (35 – 16,7% - 0.593) e segunda faixas etárias (50 – 17,1% - 0.571) favorecem
mais ao alteamento, diferentemente da terceira (25 – 10,1% – 0.341) que não contribui
para o alteamento.
Este resultado se coaduna com o estudo de Viegas (1981, p. 146) que afirma
serem os jovens mais favorecedores ao alteamento do que os mais velhos. Entretanto,
tal resultado não corrobora com estudos anteriores em que se afirma ser a faixa etária
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mais avançada a maior contribuinte para o alteamento, Bisol (1981) ressalta o número
menor de alçamento nos jovens. Callou et alii (1991, p.76) afirmam: “Não há, portanto,
qualquer indício de progressão da regra [de elevação da vogal pretônica], mas antes de
possível perda da produtividade”.
Deve-se, nesse momento, chamar a atenção para o fato de que o contexto sob
análise é o de travamento nasal, ao passo que os estudos anteriores levam em conta
todos os tipos de travamento (/S/ e /R/), bem como as pretônicas em sílaba livre.
Avelheda (2013; Batista da Silveira, 2013) mostram que, a depender do tipo de estrutura
silábica (livre ou travada) e ainda a depender da vogal (anterior ou posterior), os
estágios de alteamento encontram-se em desenvolvimento diferentes:
Figura 1: Continuum de alteamento de [e]
(Cf. AVELHEDA, 2013, p. 126)
Figura 2: Continuum de alteamento de [o]
(Cf. AVELHEDA, 2013, p. 169)
Como ilustra a trajetória acima, as vogais médias pretônicas /e/ e /o/ travadas por
nasal encontram-se num estágio intermediário no curso do alteamento. Assim sendo, é
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possível que o alteamento de pretônicas em contexto nasal seja inovador, ou seja, está
em início de processo, conforme indicam os continua, elaborados com base nos valores
de input da regra oferecidos pelo programa Goldvarb X. Estes valores constituem o
nível geral de uso da variante alteada. O tabela 8 e os exemplos a seguir ilustram tal
conclusão:
Tabela 9 – Faixa Etária
Fatores Média Posterior + Nasal
Aplic./ Total % PR
25-35 anos
Exs.: c[o]nseguir, c[u]ntida
35/209 16.7 0.593
36-55 anos
Exs.: c[o]ntinuava, c[u]mplicada
50/293 17.1 0.571
56 anos –
Exs.: c[o]mprei, c[u]nverso
25/248 10.1 0.341
2.2.9 Variável Década
A análise da variável independente social década – selecionada apenas para a
pretônica posterior - tem como objetivo verificar se o estágio do fenômeno do
alteamento nas diferentes décadas consideradas. Trata-se de estudo do tipo de
tendências que possibilita detectar o comportamento da comunidade, em relação ao
alteamento (LABOV, 1994). Segundo Paiva e Duarte (2003, p.8), “se baseia na
comparação de amostras aleatórias da mesma comunidade de fala, estratificadas com
base nos mesmos parâmetros sociais, em dois momentos do tempo”. Esse estudo
permite identificar se há propagação, estabilização ou recuo do fenômeno linguístico,
além disso, segundo Paiva & Duarte (2010) verifica a regularidade na ação dos
princípios que regem a variação e subjazem à implementação da mudança.
Os resultados mostram que a tendência ao alteamento era mais forte nas décadas
de 70 (0.651) e 90 (0.669), declinando na de 2010. Isso revela que, ao longo do tempo,
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o alteamento tem regredido, preferindo a comunidade a variante médio-baixa [o]. Os
exemplos a seguir ilustram a variável:
Tabela 10 – Década
Fatores Média Posterior + Nasal
Aplic./ Total % PR
70
Exs.: [i]nvidraçada,
p[e]ntiadeira / c[u]ntinua,
m[o]ntanha
53/245 21.6 0.651
90
Exs.: s[e]ntia, [i]nvolve /
c[u]ntinuação,c[o]nclusão
24/115 20.9 0.669
2010
Exs.: [i]mpresas, s[e]ntinela
/ c[o]ndução, ac[u]ntecendo
33/390 8.5 0.355
A fim de comparar o comportamento das médias pretônicas anterior e posterior
travadas por nasal, procedeu-se à elaboração de dois gráficos com base nos resultados
percentuais de cada década, bem como o cruzamento das variáveis década e faixa
etária:
Gráfico I - Análise em Tempo Real de Curta Duração das Vogais Médias Anteriores + Nasal
4849505152535455565758
70 90 2010
Percentuais
Linear(Percentuais)
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Gráfico II - Análise em Tempo Real de Curta Duração das Vogais Médias Posteriores + Nasal
Gráfico III – Cruzamento das variáveis Década e Faixa Etária
Os resultados da variável década, em relação à vogal média anterior + Nasal
confirmam a estabilização no processo de alteamento, com leve tendência ao aumento.
No entanto, para as pretônicas posteriores + Nasal, a taxa de frequência decresce ao
longo das décadas, revelando tendência ao recuo do alteamento. Tem-se, então, dois
comportamento diferenciados para o alteamento. Em relação ao cruzamento das
variáveis (gráfico III), confirma-se a tendência à inibição do fenômeno ao longo do
tempo nas três faixas etárias em quaisquer décadas consideradas.
0
5
10
15
20
25
70 90 2010
Percentuais
Linear(Percentuais)
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2.3. Conclusão
Tendo em vista a seleção da sete variáveis da média anterior + nasal e oito
variáveis da média posterior + nasal, observou-se que a vogal anterior [e] + nasal
apresenta maior tendência ao alteamento, ao passo que [o] + nasal apresenta maior
resistência ao fenômeno, demonstrando que o fenômeno não está em estágios iguais
para ambas as vogais pretônicas.
Constatou-se, também, o efeito neogramático tanto para as médias anteriores
quanto para as posteriores seguidas de nasal. No entanto, entende-se que pode se tratar
de mais um contributo para a difusão lexical, visto que o verbo é a classe de palavras
mais afetada pelo processo de alteamento da média pretônica.
Ressalte-se, ainda, que a pretônica em sílaba com ataque vazio em início de
palavra se revelou o contexto mais favorecedor do alteamento; estando o ataque
preenchido, há maior resistência ao processo. Figuram como altamente relevantes a
natureza permanentemente átona da pretônica, a pretônica figurar em prefixo e vir
contígua à vogal alta tônica.
A partir do estudo do tempo real de curta duração tipo tendências, verifica-se a
estabilidade do processo de alteamento das vogais médias pretônicas + nasal, com
redução do fenômeno em todas as faixas etárias, nas três décadas consideradas.
Entende-se que estudos sobre o vocalismo átono ainda são de fundamental
importância, visto ser um fator de diferenciação entre os subfalares brasileiros, bem
como ser um dos aspectos que distingue o português brasileiro e o europeu.
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Recebido Para Publicação em 30 de outubro de 2013.
Aprovado Para Publicação em 19 de abril de 2014.