agrotóxico é nova faceta da violência no campo
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Agrotoxico a nova faceta da violência.TRANSCRIPT
Agrotóxico é nova faceta da violência no campo
Pesquisadora analisa dados das intoxicações e mortes decorrentes do uso do veneno e explica como o modelo do agronegócio subordina os
trabalhadores e a pequena agricultura
27/09/2011
Joana Tavares da Redação
O modelo não é novo: grandes extensões de terra, monocultura, mecanização do trabalho. O uso de agrotóxicos
para garantir a produção em larga escala também não. Mas seus efeitos sobre a saúde têm estado cada vez mais em
discussão. Desde 2009, o Brasil é o maior consumidor desses agroquímicos, o que mostra a cara do agronegócio:
intoxicações, concentração de renda, transferência de recursos para empresas transnacionais, empobrecimento dos
camponeses, produção de alimentos contaminados. A professora doutora do Departamento de Geografia da
Universidade de São Paulo (USP) Larissa Mies Bombardi realizou uma pesquisa sobre os casos de intoxicações e
mortes por agrotóxicos no Brasil, com dados de 1999 a 2009.
Ela levantou que foram notificadas 25.350 tentativas de suicídio
através do uso de agrotóxicos no período, e 1876 mortes foram
registradas. “Uma grande parte dessas é suicídio, o que é mais
assustador ainda. A escolha desse caminho é significativa, o
trabalhador usa para causar sua própria morte o instrumento que o
subordina, que o deixa doente, que pode levar ao endividamento”,
aponta.
Larissa considera a situação dos agrotóxicos mais uma faceta da
violência no campo, que afeta a todos: os pequenos produtores, os
trabalhadores expostos diretamente ao veneno, os consumidores de
alimentos. Ela explica que há alternativas, mas que elas passam
necessariamente por uma mudança de modelo.
Brasil de Fato - O Brasil se tornou o maior consumidor de agrotóxicos em 2009. De onde vêm esses
produtos?
Larissa Mies Bombardi - São seis grandes empresas estrangeiras – Monsanto, Syngenta/Astra Zeneca/Novartis,
Bayer, Dupont, Basf e Dow – controlando mais de 70% do mercado de agrotóxicos no Brasil. Em poucos anos, elas
tomaram pra si 127 outras empresas, isso é chocante. E essas empresas são de três países, Estados Unidos, Suíça e
Alemanha. Segundo o Anuário do Agronegócio de 2010, as empresas que vendem veneno tiveram uma receita
líquida de R$ 15 bilhões.
Com esse processo, aumenta ainda mais a transferência de renda do pequeno produtor para as empresas.
Como é essa questão da subordinação da renda da terra?
Esse é um dos grandes dramas da agricultura camponesa hoje. Quando o produtor depende de um adubo químico,
de um inseticida, de um herbicida, enfim, uma parte da renda que ficaria no bolso dele vai para o capital industrial.
Muitas vezes o preço desses produtos é pautado pelo dólar. Há momentos em que o dólar aumenta, o pesticida
aumenta. Mas o que acontece: todo produto agrícola, com exceção da cana, é determinado pela oferta e demanda.
Então você não sabe quanto vai valer seu produto até a hora da venda, e ainda assim você recebe 30, 60 dias
depois. Às vezes você pagou um valor muito alto pelo insumo e a produção não compensou. Então eles acabam
recorrendo ao mercado financeiro para conseguir saldar dívidas. Acabam entrando num círculo vicioso por conta da
dependência desses insumos. Aí a renda deles fica subordinada ao capital industrial, às indústrias de agroquímicos,
e ao capital financeiro, muitas vezes juntos. Às vezes os bancos, inclusive o Banco do Brasil, emprestam o
dinheiro, faz o sistema de crédito rural direto com as empresas que comercializam esses produtos. Então uma parte
da renda, ao invés de ficar no controle do produtor – como fica quando ele investe em outros processos de
adubação – é transferida para o capital.
Por que o agricultor não pode agregar esse custo no preço final do produto?
Ele não tem controle sobre o preço. Diferente de outros setores da economia, o agricultor não tem controle do preço
do produto final, que é determinado pela oferta. Quando tem muito produto no mercado, o preço vai lá embaixo.
Mas o preço dos agroquímicos não depende disso. Então a renda dos pequenos produtores muitas vezes fica
reduzida, e eles trabalham muitos anos no prejuízo. Eles permanecem na terra porque a lógica é outra. E até porque
eles não produzem apenas para o mercado.
O uso de agrotóxicos afeta a todos expostos
diretamente ao veneno e consumidores de alimentos –
Foto: João Zinclar
Você coloca que 80% dos agrotóxicos da América Latina são consumidos no Brasil. Por que isso ocorre? A
produção agrícola justificaria esse uso intensivo?
Na verdade, 84% dos agrotóxicos da América Latina são consumidos no Brasil. E a gente não tem controle da
quantidade, do tipo de produtos que são usados. O Brasil é muito permissivo, tem produtos que são proibidos na
União Europeia e nos Estados Unidos há 20 anos e aqui eles podem ser usados. Tem um caso relatado por
Wanderley Pignati, da UFMT, em Lucas do Rio Verde, de uma chuva de agrotóxicos que contaminou a população
e os poços artesianos, e a prefeitura comunga com os grandes fazendeiros. O caso foi escondido, escamoteado...
Por que aumentou tanto o uso de agrotóxicos de 1999 a 2009?
Porque aumentou muito a produção de soja e de cana-de-açúcar. Agora o Brasil exporta etanol para mais de 40
países. Além do carro flex – que é dos anos 2000 pra cá e aumentou extraordinariamente a produção de cana – tem
um consumo externo grande também. O que acontece é que o agronegócio está se expandindo. Pelo mapa em que
se mede a utilização de agrotóxicos por município, dá pra ver que o agronegócio caminha em direção à Amazônia.
Aumentou muito a área plantada com cana e soja. Individualmente, o algodão demanda mais agrotóxicos, mas se
pensarmos na quantidade de soja plantada, ela congrega grande parte do que se consome de agrotóxico no Brasil,
muito mais que a cana. É importante ressaltar que quase todos os produtos industrializados alimentícios que a gente
come contêm soja. Além dos óleos, os biscoitos, vários tipos de farináceos, levam soja, então isso chega até a
alimentação.
Seria possível produzir o mesmo tanto sem utilizar agrotóxicos?
Não nos moldes em que está organizada a produção hoje. Quando se tem uma monocultura, uma plantação de uma
espécie só, fica muito fácil para os insetos virem e consumirem. Qual a diferença de uma monocultura e de uma
agricultura que chamamos agroecológica? A agroecológica “imita” a natureza, há uma infinidade de espécies
juntas, então não há um foco direto para o inseto se alimentar. Na monocultura, isso é impossível. Não dá pra
pensar a monocultura sem o pacote agroquímico, essa é a verdade. Seria possível produzir isso tudo, mas não
nesses moldes. Não dá pra ter grandes propriedades, não dá pra ser mecanizado, enfim, é um pacote que anda junto.
Não dá pra produzir em larga escala nesses moldes sem agrotóxicos.
A maior parte dos alimentos consumidos no Brasil, cerca de 70%, vem da pequena agricultura. Eles estão
livres dos venenos?
Cerca de um terço dos pequenos agricultores utilizam agrotóxicos. Eles são em alguma medida empurrados pra
isso. O que acontece quando vamos comprar uma verdura, um legume, no mercado? Procuramos o maior e o mais
vistoso. Assim os produtores são empurrados para produzir numa vistosidade em quantidade, que os leva ao uso de
agrotóxicos. Quando falamos de pequena agricultura, falamos de bairro rural. É uma forma de organização no
campo, são pequenos sítios em que as pessoas acabam plantando as mesmas coisas, por pura sociabilidade, por
troca de informação. Um vizinho fala pro outro o que está rendendo e assim vai. Como as propriedades são
pequenas e uma encostada na outra, se o vizinho usa agrotóxicos e você não usa, os insetos que atacariam a
plantação dele vão atacar a sua. Por isso a agroecologia precisa ser pensada em conjunto com os vizinhos, não tem
como manter um procedimento desse se quem está próximo não mantém, é muito complicado. Mas o grosso dos
produtos com que nos alimentamos, os alimentos frescos, vem das pequenas propriedades.
Por que o agronegócio coloca que é ele que garante a produção de comida no mundo? O argumento deles é
que é preciso produzir mais para alimentar as pessoas, para acabar com a fome, não é?
Esse é um argumento mentiroso. O problema de acesso ao alimento não é questão de produção, de quantidade de
alimento, é questão de acesso à renda. A gente pode pensar na quantidade de desperdício, na quantidade de pessoas
que têm problema de super alimentação. Seria possível produzir para todos, claro. Há propriedades agroecológicas
em que a produtividade – medida pela produção por área – é maior que nos moldes tradicionais. Mas o problema é
que nas propriedades agroecológicas a demanda de trabalho é muito intensa. E o capitalismo consegue avançar no
campo quando o trabalho é mínimo, por isso mecanizam, para ter lucro. Quando o capital não produz diretamente,
justamente porque algumas produções demandam muito trabalho, ele subordina a produção. É o exemplo da
questão da uva: por que as indústrias vinícolas não produzem uva elas mesmas? Porque é uma quantidade de
trabalho extrema. José Vicente Tavares dos Santos mostra que 80, 90% do preço do vinho é a uva. Como é o
camponês que a produz, procura salvar a produção da geada de madrugada, ele arca com isso porque faz parte da
vida cotidiana dele. Agora imagina uma empresa remunerar um funcionário para fazer isso? Não compensa para
eles, é vantajoso para o capital se apropriar da renda ao invés de produzir alguns produtos.
Como é feita a mensuração da intoxicação por agrotóxicos hoje?
Tem o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, o Sinitox, que é um instituto da Fiocruz, do Rio
de Janeiro. A função do Sinitox é orientar as famílias, os agentes de saúde na forma de lidar com intoxicações. Eles
são organizados em centros, não tem em todos os estados, que remetem as informações para o Rio de Janeiro. Mas
eles não têm função de fazer um banco de dados. Já o Sistema de Informação de Agravos de Notificação, Sinan, é
vinculado diretamente ao Ministério da Saúde, com o intuito de cadastrar os dados de intoxicações. Mas os dados
são diferentes, esse é o problema. Não dá pra saber se um dado é o mesmo que está no outro, não há como cruzar
os dados. Há números discrepantes, às vezes tem o dobro de intoxicações no Sinitox para o mesmo ano medido
pelo Sinan. Apenas a partir de 2005 a notificação passou a ser compulsória, em 13 estados. Em janeiro deste ano a
notificação de intoxicação por agrotóxicos passou a ser obrigatória, através do Sinan. Mas no período que analisei,
de 1999 a 2009, pude perceber que os números não batem, essa compulsoriedade não era obedecida.
O que você observou em relação aos dados de intoxicação?
O que chama atenção é que em todos os estados, a não ser nos que o Sinitox não disponibiliza dados, há casos de
intoxicação por agrotóxicos. É uma quantidade assustadora: 62 mil intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola. Se
você pensar que há uma subnotificação – o próprio Ministério da Saúde indica que talvez os casos sejam 50 vezes
maiores que os notificados – o número fica maior ainda. E isso levando em conta que são casos de intoxicação
aguda, quer dizer, de casos em que a pessoa entrou em contato com agrotóxico e passou mal. Não estamos falando
de doenças crônicas, como o câncer.
Os efeitos agudos podem chegar inclusive à morte?
No período analisado, foram notificadas 25.350 tentativas de suicídio através do uso de agrotóxicos, e 1876 mortes
foram registradas. É um escândalo. Dá quase 180 mortes por ano. E uma grande parte dessas é suicídio, o que é
mais assustador ainda. Cerca de 75% das mortes ocorrem por suicídio, em praticamente todos os estados. Há
hipóteses ainda preliminares para entender isso. Toda a literatura que discute intoxicações por agrotóxicos mostra
que a exposição ao veneno leva a alterações neurológicas, a neuropatologias. Depressão e ansiedade são as mais
leves. Isso são estudos não só no Brasil, tem também pesquisas no Canadá, Estados Unidos e Espanha que indicam
isso. É indecente pensar nessa quantidade de pessoas que se matam usando os agrotóxicos. Por que o agrotóxico
para se envenenar, por que usar ele como arma? É uma morte agonizante, os relatos mostram isso. A escolha desse
caminho para mim é significativa, o trabalhador usar para causar sua própria morte o instrumento que o subordina,
que o deixa doente, que pode levar ao endividamento. Parece aquela história da Índia em que os camponeses se
matavam usando o veneno da própria Monsanto, no processo de envenenamento com o algodão transgênico.
São notificações dos trabalhadores ou incluem também suas famílias?
São dos trabalhadores que tiveram contato direto com o veneno. Na verdade, são notificados aqueles que foram
levados a um serviço de saúde. Se ele sentiu enjoo, náusea, vermelhidão na pele e nos olhos e não foi para um
serviço público, não foi sequer notificado. Mas é possível que os familiares sejam também intoxicados. Isso é uma
coisa que se leva pra dentro de casa.
Quem são esses trabalhadores atingidos pelos agrotóxicos?
Desde o camponês pequeno proprietário até um trabalhador contratado por empresas. Desde um piloto de avião que
vai pulverizar agrotóxicos até um pequeno produtor, todos estão expostos aos agrotóxicos. E há uma questão nisso:
eles conhecem pouco os procedimentos para se proteger. Além disso, os equipamentos são super desconfortáveis,
incomodam muito no calor. Mesmo os equipamentos de proteção indicados para a aplicação de agrotóxicos já não
são mais plenamente suficientes. Precisamos tomar cuidado com o discurso de culpabilização do trabalhador pelo
acidente. Nos boletins de ocorrência que relatam acidentes de trabalho sempre há referências à distração do
trabalhador como causa do acidente, como se fosse culpa dele. Como se ele fosse uma máquina de trabalho, que
pudesse ficar atento 100% do tempo. Tem muito acidente da construção civil, em que o trabalhar cai, e aparece
como descuido. Esse é um discurso que está presente nas indústrias de agrotóxicos. Não está no controle do
trabalhador evitar o acidente.
É possível saber como o consumo indireto de agrotóxicos, pela alimentação, pode ter impactos na saúde?
O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), ligado à Anvisa e ao Ministério da
Saúde, identifica os tipos de agrotóxicos presentes nos alimentos e os efeitos disso. Mas por exemplo, o agrotóxico
que na Monsanto eles chamam de “Roundup”, é um herdeiro do agente laranja, que é um desfolhante químico que
foi usado na guerra do Vietnã. Ele é absorvido pela pele e se instala na gordura. Ele passa inclusive pela placenta.
Tem gente até hoje que nasce, no Vietnã, com má formação por causa disso. Mas precisamos de mais pesquisas
para saber como a gente se contamina ingerindo esses alimentos intoxicados.
A senadora Kátia Abreu disse, em cena registrada no filme O veneno está na mesa, de Sílvio Tendler, que os
pobres devem comer com agrotóxico e quem tem opção pode comer orgânico. Como contornar essa lógica?
Por que o orgânico é mais caro ainda hoje? Não é porque é mais caro produzir orgânico, nem sempre sua produção
é mais cara. O que acontece é que ele é mais raro. Tem um conceito que vem de Marx que é a renda de monopólio.
Ele utiliza o exemplo do vinho do Porto: por que se paga caro por ele? Porque Porto só existe em Portugal, só lá
produz vinho do Porto. Quando o produto é raro, o preço dele é elevado. Quando surgiram as verduras
hidropônicas o preço era alto, havia pouco, depois foi sendo mais produzida e o preço baixou. Os orgânicos ainda
são produzidos em menor quantidade do que a agricultura convencional, por isso os produtos são mais caros. Não
necessariamente porque demanda mais investimentos para produzir. Mas se chegamos num nível ótimo de
segurança alimentar, isso não vai existir.
O que é possível para diminuir o uso de agrotóxicos?
A primeira coisa é a regulamentação. Outra coisa é a necessidade de repensar o padrão. Pensar o que a gente quer
para o Brasil, inclusive no padrão de energia. Por exemplo, quando há a transformação da cana em energia, eles
chamam de biocombustível, que é um nome bonito, “bio” é vida. Mas não se trata disso: é a transformação de terra
e alimento em energia. Temos que mudar o padrão energético. Não podemos ficar pensando alimento
como commodity. O problema é aquilo que temos por alimento hoje é mercadoria, negociada na bolsa de
mercadoria e futuros, é trocada como qualquer outra coisa. Perdeu o sentido de alimento. O agronegócio tanto é
negócio que a Cosan está junto com a Shell agora. Não interessa se é um combustível limpo, interessa é o lucro. O
etanol não substitui o combustível fóssil, nem potencialmente. Ou seja, não é alternativa real. Para se ter uma ideia,
se os Estados Unidos fossem mudar seu modelo para um tipo de energia gerada através de produtos agrícolas,
precisaria de uma área e meia do país. Então na verdade esse tipo de coisa beneficia a um grupo social, os
usineiros, os grandes fazendeiros. É um nó para a humanidade. Teria que ter a transformação de todo o modelo.
Essa produção agropecuária em larga escala só é vantajosa para um grupo. A grande produção de soja também
beneficia apenas um grupo, para nossa alimentação isso é nefasto, para as crianças mais ainda. É uma escolha de
caminho. Ainda que seja difícil controlar a situação do agronegócio, tem coisas que são permissivas demais. Para
mim, esse caso dos agrotóxicos é assassinato no campo, uma forma de violência indireta, silenciosa e que nos ataca
a todos. E quem pode se livrar disso? Quem tem dinheiro pra comprar outra coisa. É uma indecência, um
descontrole total. É uma conversa que está começando agora, muito em função dos movimentos sociais
organizados que estão puxando isso.
É como se os agrotóxicos fossem uma pontinha pela qual podemos puxar o modelo do agronegócio?
Quando analisamos o mapa dos agrotóxicos no Brasil vemos uma fotografia do agronegócio, do modo como o
capitalismo se expande na agricultura. Que recoloca o Brasil numa posição de agroexportador e consumidor de
produtos que são inventados em outros países, e a gente fica pagando royalties e sustentando essas mega
transnacionais. A utilização vem de muito tempo, mas a atenção vem mais de agora, infelizmente é atual. Isso sem
falar nos transgênicos, que enredam o agricultor numa forma sem fim, é quase uma forca. Na medida em que ele
compra o transgênico num ano, tem que comprar no ano seguinte, tem que comprar o veneno que adapta a ele e
entra num círculo vicioso. E a produtividade do transgênico é grande no primeiro e segundo ano e depois diminui.
Esse pacote ainda é herança da “revolução verde”?
O discurso da revolução verde é que precisamos de maior produção, com pacote tecnológico e químico para ter
mais comida para a humanidade. Faz quantos anos isso? 40, 50, 60? Não diminuiu a forme no mundo por causa
disso. O Brasil é um dos países que mais tem terra ociosa. Ainda tem muito latifúndio improdutivo. Não é produção
o problema, é distribuição de renda. Se pensarmos nas terras agricultáveis do mundo, temos capacidade para
alimentar a humanidade. Atualmente, não é a lógica do atendimento das necessidades internas. O Brasil é maior
exportador de carne, tem quase a mesma quantidade de bois e de pessoas no Brasil – não é mais, como tem um
mito por aí – mas é quase mesma proporção, e mesmo assim a carne é muito cara aqui. É o modelo, baseado em um
mercado internacionalizado, que não prioriza a soberania alimentar. Dá para compararmos com a indústria
automobilística: foi dada uma grande força para ela se desenvolver nos anos 50 e 60 para poder sustentar a
indústria petroleira e de carros e agora vemos seus reflexos. É o mesmo modelo subordinado, de inserção
subordinada no mercado internacional e que atinge diretamente a todos. Essa forma de o capitalismo se reproduzir
vai acontecer de forma cruel nos países em que tem possibilidade de isso acontecer. Uma agricultura nesse modelo
não acontece na Europa.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/content/agrot%C3%B3xico-%C3%A9-nova-faceta-da-viol%C3%AAncia-no-
campo
Conab aponta aumento de 345% no uso de agrotóxicos nos últimos 12 anos
O aumento expressivo do uso de agrotóxicos é um dos principais resultados da liberação dos transgênicos no Brasil. Pesquisa
apresentada pelo representante da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, Asdrúbal de Carvalho Jacobina, durante o
Seminário Internacional “10 anos de Transgênicos no Brasil”, aponta que o uso de agrotóxicos cresceu 345% na agricultura
brasileira nos últimos 12 anos.
Em todas as localidade pesquisadas pela Conab o número de aplicações de agrotóxicos subiu em média 10% em cada plantio,
passando de 22,2 para 24,5 aplicações. A monocultura de soja transgênica está entre as quais houve maior crescimento de
aplicações de agrotóxicos, em média 18%. O uso de fungicidas cresceu 80% e de herbicida entorno de 100% no número de
aplicações.
O maior consumo de venenos resultou diretamente no custo de produção. Segundo Asdrúbal de Carvalho, o custo dos
agrotóxicos no cultivo de algodão transgênico subiu 14,8%, número agravado pelo fato do plantio transgênico de algodão
significar quase 100% do cultivo da planta no Brasil. No caso da soja transgênica, o custo do veneno cresceu 25,2%.
Segundo Carvalho, a promessa de menor uso de agrotóxicos com o uso das sementes transgênicos não se concretizou. Há casos
em que agricultores foram à justiça contra as empresas produtoras das sementes pelo aparecimento de pragas, e, por
consequência, baixa produtividade.
Confira aqui as foto do evento. Por Ednubia Ghisi, da Terra de Direitos
Fonte: http://jornadaagroecologia.com.br/node/250