a velhinha - wordpress.coma velhinha deslumbrava; mas, uma vez mais o menino apreensão lhe causava....
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6
Imaginava Maria,
Com S. José, a caminho;
Numa noite escura e fria
A cavalo num burrinho.
À sua mente chegavam
Arroubos e fantasia;
As mãos brancas revelavam
Os medos que concebia.
7
Aquele medonho caminho,
Veredas, imensidão;
Do mais escuro cantinho
Pode surgir um ladrão...
Confrangida, bem sentia
O bater do coração;
Mas que fazer poderia,
Ali no seu cadeirão.
8
Um rebate lhe acudiu
– Alertar a Natureza;
E em voz alta pediu
Num tom de grande firmeza:
Escuta, lua encantadora!
Não vês Deus em apuros?
Vai no seio da Senhora
Por esses montes escuros.
9
Ela vai ter o seu Filho,
E a hora é chegada
Venha de ti grande brilho
Sobre a escura caminhada
E Tu, burro, vai ligeiro,
Corre a trote pró curral.
Jamais um teu companheiro
Tivera tarefa igual
Sabes que levas no dorso
Nosso Deus que vai nascer?
É p’ra Ele o teu esforço,
Não te deixes esmorecer.
10
Dito isto se quedou
Sorrindo de olhos fechados,
Pensando que alguém escutou
Seus inocentes recados.
É que o burro trepava
Com desusado vigor;
E a lua rebrilhava
Que enorme esplendor!
Aquietada, a Velhinha,
Na cadeira baloiçante,
Acha então não estar sozinha.
No precioso instante.
11
Era um bem celestial
Que chega ao coração.
Não tivera enlevo tal
Desde a sua concepção.
Agora, de olhos fechados,
Vislumbrava lindos quadros
No seu sonho deslumbrante.
Uma estrela multicor
Cintila no Oriente,
Muitos anjos do Senhor
Esvoaçam alegremente.
Soam hosanas, louvores
Dum coro celestial.
São vozes de mil cantores
Cantando: Natal, Natal!
E lá estava S. José
Junto da Virgem Maria;
Andava pé ante pé;
Nas palhas Jesus dormia.
12
Mas eis que chegam pastores
Com farnéis de alimento,
Cantando, também, louvores
Ao Senhor do Firmamento.
14
Chegam reis do Oriente,
Era aquele o seu destino
– Cada qual trás um presente
Para dar ao Deus Menino.
15
Aquele recanto divino
A velhinha deslumbrava;
Mas, uma vez mais o Menino
Apreensão lhe causava.
Escuta gritos lancinantes
Das mães, loucas, em Belém
E, por terríveis instantes,
Sente a dor de uma mãe.
Uma lágrima vai rolar
Pela face da velhinha.
Viu um soldado matar
Uma pobre criancinha.
E a visão terminou
No torpor duma oração.
Seus olhos semicerrou,
Com a paz no coração
17
Também, não via ninguém
Desde a fuga p’ró Egipto;
Mas, por sentir-se tão bem,
Deu largas ao seu sonito.