a tora oral

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A Tora Oral

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  • 1A Tor Oral

    Norma ou Tradio?

    impossvel compreendermos a Tor Escrita sem o auxlio das interpretaes Rabnicas; Deus deu a Moiss, no Sinai, duas Leis: uma escrita e outra oral e ambas so igualmente divinas!; Tudo o que precisamos saber sobre Deus e sua vontade encontra-se no santo Talmud; O Judasmo Rabnico, fundamentado nas tradies orais de nossos antepassados, constitui o verdadeiro Judasmo, uma vez que reflete, fidedignamente at os dias de hoje , a interpretao dos mandamentos que o prprio Eterno transmitiu a Moiss.

    Para a grande maioria dos judeus, tais afirmaes so inquestionveis e definitivas, constituindo o cerne de tudo o que mais prezam e acreditam. Elas representam o fruto de um legado milenar, passado de gerao em gerao, o qual define a prpria essncia da vida e religio judaicas. No obstante, a despeito da incrvel beleza e da profunda sabedoria que muitas tradies carregam consigo, fato que algumas perguntas dignas de considerao parecerem clamar por respostas honestas e satisfatrias, a saber: Deus realmente nos deu uma segunda Lei sem a qual no somos capazes de interpretar a primeira? Quo precisos e quo fiis so os escritos Rabnicos em relao ao Tanach? Quais so as verdadeiras origens do Talmud? H evidncias, na Tor Escrita, que corroborem a existncia de uma Tor Oral? Existe, de fato, uma cadeia de tradio oral que remonta aos dias de Moiss? Que peso as palavras dos Sbios deve ter sobre a vida cotidiana de um judeu?

    O presente captulo no pretende, de forma alguma, apresentar respostas minuciosas e exaustivas questo da autoridade da Tor Oral. Antes, limita-se a uma breve exposio1 de textos hebraicos e aramaicos (tanto bblicos como Rabnicos), acompanhados de uma traduo indita para o portugus,2 com o fim de trazer luz uma dura porm inegvel realidade: a tradio Talmdica est sujeita, assim

    1 Para um estudo acadmico profundo, extenso e repleto de erudio, leia o livro Answering Jewish Objections to Jesus (Volume 5) Traditional Jewish Objections, escrito pelo Dr. Michael L. Brown. Confira tambm os seguintes artigos: Unequal Weights and Measures (www.realmessiah.org/read/unequal-weights-and-measures) e , ? (www.igod.co.il/talmud).2 Salvo indicaes em contrrio, todas as tradues hebraicas e aramaicas foram feitas por mim.

  • 2 Leia, Israel!

    como toda obra de procedncia humana,3 a falhas, incoerncias e contradies ao contrrio da Palavra de Deus, que infalvel e totalmente confivel. Nosso objetivo, portanto, despertar a conscincia de todo judeu brasileiro para o fato de que podemos sim ler e compreender o Tanach sem estarmos presos interpretao de um rabino ou de um erudito Tanatico; podemos sim pensar por ns mesmos e chegar s nossas prprias concluses, de forma lgica e desprovida de vis, baseando-nos to somente nos escritos da Bblia Judaica.4 claro que podemos e devemos estudar os diferentes comentrios dos Sbios de Israel.5 No tenho dvidas de que quem o fizer, descobrir brilhantes prolas da sabedoria e inestimveis tesouros da interpretao bblica. Contudo, o nosso relacionamento para com as palavras de Chazl6 deve se limitar ao mbito da consulta, do respeito e da admirao. Muito embora a tradio faa parte de nossa herana como judeus e graas a Deus pela tradio , no podemos investi-la de autoridade suprema e normativa, de modo que venhamos a depender, inquestionavelmente, de suas dedues hermenuticas. Doutra sorte, por que razo o Santssimo, bendito seja, teria nos dado uma mente para pensar? Por que, para comeo de conversa, o Justo Juiz teria nos confiado uma legislao escrita ininteligvel, incompleta e sem autonomia?

    Para darmos incio ao nosso estudo, vejamos o que a prpria tradio Rabnica tem a dizer sobre a origem e a autoridade da Tor Oral:

    ( ' : , , )21

    .

    Disse Rab Shimon ben Lakish: O que significa a passagem: E dar-te-ei as tbuas de pedra, a Tor e a mitsv que escrevi, a fim de ensin-las [xodo 24:12]? As tbuas representam os Dez Mandamentos; a Tor, a Bblia Hebraica; a mitsv, a Mishn; que escrevi, tanto os Profetas como os Escritos; a fim de ensin-las, a Guemar [i.e. o Talmud]. Assim, aprendemos que tudo isso foi dado a Moiss no Sinai (b. Beracht 5a).

    3 Veremos, ao longo do captulo, que Moiss no recebeu a Tor Oral, no Sinai, como muitos alegam.4 Respeitando, obviamente, a ordem e os parmetros da exegese hebraica (PaRDeS): psht, rmez, drsh e sd.5 Confira, por exemplo, os sites www.ateret4u.com/online/a_root.html e www.rabbinics.org.6 i.e. Nossos Sbios que a memria deles seja uma bno!.

  • larO roT A3

    , : , , , .

    a a-uitimsnart e ,ianiS od ,]laro a omoc atircse a otnat .e.i[ roT a uebecer ssioM so ,mfi roP .sateforp soa ,soicna so e ,soicna soa a-uitimsnart etsE .]usoJ[ auhsoheY.)1:1 tvA .m( aielbmessa ednarg ad snemoh soa maritimsnart a sateforp

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    missa ,laro a omoc atircse a otnat ,roT a adot , otsi ianiS od ,roT a uebeceR itamieeM olutpac ,thcareB ed odatarT on LZ soibS so maraterpretni omoc.)tvA ed oirtnemoC mabmaR(

    , , 6: " " ( ) . " " ( ) ' , ( ) [...] . " ( )

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    oliuqa oduT :khcstiY baR essiD .]1:02 odox[ sarvalap satse sadot sueD essid E marebecer o sele ,oareg adac me ,orutuf on ,raziteforp ed mairevah sateforp so euq oelebatse ue euq anaila atsE[ :satilearsi soa essid ssioM otnauqrop ,ianiS etnoM on etneserp artnocne es euq eleuqa moc ]oaf o ue ,otnemaruj etse omoc missa ,ocsovnoc es on euq eleuqa moc e ,sueD osson ,onretE o etnarep ,ejoh ed aid on ,ocsonoc ocsonoc etneserP .]41:92 oimnoretueD[ ejoh ed aid on ocsonoc etneserp artnocne

  • 4 Leia, Israel!

    no dia hoje. No est escrito [presente] aqui, mas sim [presente] conosco no dia de hoje. O texto est se referindo s almas que seriam criadas no futuro, as quais ainda no possuam substncia. Embora elas no tenham estado fisicamente presentes naquela hora, cada uma recebeu a sua devida poro, conforme est escrito: Peso da palavra do Eterno, dirigido a Israel, por intermdio de Malach [Malaquias 1:1]. No foi dito: nos dias de Malach, mas sim por intermdio de Malach, porquanto a profecia j lhe fora dada no Monte Sinai ele s no havia recebido, at ento, o direito de profetizar. Bem disse Isaas: Desde o tempo [em que o decreto do Eterno foi emitido], l eu estava [Isaas 48:16]. Foi isto o que Isaas quis dizer: Desde o tempo em que a Tor foi dada, no Sinai, l eu estava; foi l que eu recebi a presente profecia [...] At ento, ele no havia recebido o direito de profetizar. E no foram apenas todos os profetas que receberam suas profecias no Sinai; os Sbios do futuro, de cada gerao, todos eles tambm receberam, no Sinai, a sua devida poro, porquanto est escrito: O Eterno disse estas palavras a toda a vossa congregao [...] com grande voz, sem cessar [Deuteronmio 5:19] (xodo Rab Yitr 28:6).

    . : , ,

    Todo aquele que transgredir as palavras dos Sbios deve morrer (b. Beracht 4b).

    ' : , , ]...[ ' '' . .]13 [ . . ]...[ ]...[ : . . ]...[ . ' . '

    . '

    Porquanto desprezou a palavra do Eterno e transgrediu o seu mandamento. Extirpada, extirpada ser aquela alma de entre o seu povo [Nmeros 15:31]. Nossos rabinos ensinaram [que este versculo se aplica] quele que nega a origem divina da Tor [Escrita e da Tor Oral]. Outra explicao [pode ser dada ao versculo] Porquanto desprezou a palavra do Eterno: trata-se daquele que oferece uma interpretao Tor [diferente daquela estipulada pela Halach] [...] Extirpada, extirpada: isso significa que aquela alma ser extirpada tanto do mundo presente como do mundo vindouro. Rab Elizer, de Modim, afirmou: [...] Trata-se daquele que oferece uma interpretao Tor diferente

  • 5A Tor Oral

    daquela estipulada pela Halach [i.e. estipulada pelos Sbios de Israel] [...] Mesmo que tal pessoa seja um estudioso da Tor, praticante de boas obras, ele no ter nenhuma poro no mundo vindouro. Outra explicao [pode ser dada ao versculo] Porquanto desprezou a palavra do Eterno: trata-se daquele que nega a origem divina da Tor [Escrita e da Tor Oral]. Ainda que tal homem alegue: Toda a Tor divina exceto por aquele versculo, pois no foi o Santssimo, bendito seja, que o proferiu, e sim Moiss, por sua prpria iniciativa, [aplica-se a ele o versculo] Porquanto desprezou a palavra do Eterno. [E mais,] ainda que tal homem alegue: Toda a Tor divina exceto por aquela deduo [Rabnica, feita a partir de uma] Kl vaChmer7 ou de uma Gzer Shav,8 [aplica-se a ele o versculo] Porquanto desprezou a palavra do Eterno (b. Sanhedrin 99a).9

    :11 ".

    [Obedece o teu rabino] mesmo se ele te disser que a esquerda a direita e que a direita a esquerda (Rashi Deuteronmio 18:11).

    :11 " ]...[

    .

    [Obedece os teus rabinos] mesmo se souberes, em teu corao, que eles esto errados e que o assunto em questo deveras simples. Ainda que saibas distinguir tua esquerda da tua direita, fars conforme os mandamentos que eles te ordenarem. E no digas: Como poderei eu comer esta gordura, [visto que assim me ordenaram]? ou [Como] poderei eu matar este homem inocente, [visto que assim me ordenaram]? Antes, dirs: Uma vez que o Senhor me ordenou cumprir os mandamentos que [os rabinos] me ordenarem, assim procederei, porquanto a Tor me foi dada por meio de suas interpretaes ainda que eles estejam errados! (Ramban Deuteronmio 18:11).

    7 i.e. uma deduo Rabnica complexa a patir de uma concluso simples extrada de uma passagem da Bblia Hebraica.8 Na hermenutica Talmdica, Gzer Shav uma das treze regras pelas quais se interpreta a Tor.9 Confira Talmud Bavli: massechet macot. 1. ed. So Paulo: Lubavitch, 2012. 55 p. (5b, n. 175), onde os Tsedokm [Saduceus], pelo fato de no aceitarem a origem divina da Tor Oral, so automaticamente classificados como uma seita herege da poca da mishn.

  • 6 Leia, Israel!

    Qual a fonte da Autoridade Rabnica? A prpria Tor ordena, de forma explcita, que o povo de Israel escolha pessoas qualificadas, investindo-as com plena autoridade para tomar decises em seu favor. Tais decretos, uma vez proferidos, tornam-se biblicamente obrigatrios para todo judeu. A Tor NO EST no Cu; ela est perto de ns, bem aqui, neste mundo.10

    crena fundamental do judasmo histrico que a Tor nos foi dada no Sinai; o imortal Moiss recebeu-a do Todo Poderoso, ensinou-nos sua mensagem e entregou-a a ns, seu povo. A Tor era constituda por duas partes: a primeira delas, o Pentateuco, ou os Cinco Livros de Moiss, que chamamos de Tor shebichtav, a Tor escrita. A segunda parte era a Tor shebealpe, a Tor oral, que continha explicaes, interpretaes e ensinamentos da Tor escrita [...] Moiss ensinou o sagrado Livro da Tor, acompanhado por suas interpretaes, a seu discpulo Josu. Este ento ensinou-a aos Ancios e eles, por sua vez, ensinaram-na a outros. Tudo o que era transmitido oralmente deveria ser repetido e repassado muitas vezes, assegurando-se assim que nada seria esquecido. Esta prtica recebeu o nome de Mishn, palavra que significa um conjunto de ensinamentos e instrues [...] A Mishn tornou-se nossa Tradio Oral, transmitida pelos mestres aos alunos, de gerao em gerao.11Por que o Pirk Avt comea com este relato das origens da Tor, onde foi recebida e como foi transmitida?12 A razo primria parece ser a de lembrar a ns a necessidade indispensvel da Lei Oral para a compreenso e o cumprimento da Tor Escrita [...] Quando dizemos, por exemplo: De Sio sair a Tor no queremos nos referir a um mero lugar no mapa. A localizao geogrfica por si s no faz com que a Tor saia. A palavra Sio significa, sim, os sbios de Sio.13

    [...] podemos achar que as leis rabnicas so feitas pela ser humano, enquanto aquelas da Tor so Divinas. Na realidade, contudo, ambas as leis, a bblica e a rabnica, devem ser cumpridas com a mesma meticulosidade. Ambas fazem parte integrante da estrutura da Tor. Com freqncia fica impossvel obedecer lei bblica sem observar a lei rabnica, que funciona como sua salvaguarda.14

    10 SHULMAN, Moshe. The biblical basis for the Rabbinical authority. Judaism Answer. 2011. Disponvel em: . Acesso em: 23 fev. 2014.11 BUNIM, Irving M. A tica do Sinai: ensinamentos dos Sbios do Talmud. 5. ed. So Paulo: Sfer, 2012. II p.12 cf. m. Avt 1:1.13 ibid. 12-13 p.14 ibid. 46 p.

  • 7A Tor Oral

    O judasmo ensina que o raciocnio humano incapaz de responder questo final da vida: Por que estou aqui? Qual o propsito da vida? O que devo fazer? por este motivo que o Todo-Poderoso nos entregou a Sua Tor. Todos os seus feitos, suas tarefas e suas atribuies esto escritas no nosso Livro da Revelao. Quem voc o que voc deve fazer, encontrado na Tor e no Shulchan Arch.15

    Podemos perceber, atravs de citaes como essas, que a nfase dada Tor Oral sempre incisiva e inegocivel. Uma vez investidas de autoridade absoluta (e.g. Todo aquele que transgredir as palavras dos Sbios deve morrer; Tais decretos, uma vez proferidos, tornam-se biblicamente obrigatrios para todo judeu) e aclamadas como divinamente inspiradas (e.g. Assim, aprendemos que tudo isso foi dado a Moiss no Sinai; Porquanto desprezou a palavra do Eterno: trata-se daquele que nega a origem divina da Tor [Escrita e da Tor Oral]), as tradies Rabnicas passam a ser colocadas, automaticamente, no mesmo nvel ou, como veremos em breve, muito acima da Tor Escrita.

    O problema crucial dessas alegaes jaz, sobretudo, na inconsistncia dos argumentos que deveriam sustentar a ideia de uma Tor Oral transmitida pelo Todo Poderoso. Antes de mais nada, precisamos entender que o Eterno no e nunca ser inconsistente ou contraditrio. No entanto, as interpretaes Halchicas, com muita frequncia, contradizem ou at mesmo invalidam mandamentos simples e diretos que saram da boca do prprio Deus. Por um lado, como se os nossos rabinos quisessem nos convencer, por meio de suas dedues, que 2+2, na verdade, igual a 5, ou que Nero, o imperador romano do sculo I, aprendeu todas as suas tticas de guerra com Adolf Hitler.16 Por outro, como se eles estivessem tentando corrigir os (supostos) erros que o Eterno acidentalmente cometeu em sua Palavra; como se afirmassem que quando Deus

    15 ibid. 74 p.16 Leia mais uma vez xodo Rab, Yitr 28:6: Disse Rab Yitschk: Tudo aquilo que os profetas haveriam de profetizar, no futuro, em cada gerao, eles o receberam no Monte Sinai [...] Peso da palavra do Eterno, dirigido a Israel, por intermdio de Malach [Malaquias 1:1]. No foi dito: nos dias de Malach, mas sim por intermdio de Malach, porquanto a profecia j lhe fora dada no Monte Sinai ele s no havia recebido, at ento, o direito de profetizar. Bem disse Isaas: Desde o tempo [em que o decreto do Eterno foi emitido], l eu estava [Isaas 48:16]. Foi isto o que Isaas quis dizer: Desde o tempo em que a Tor foi dada, no Sinai, l eu estava; foi l que eu recebi a presente profecia [...] At ento, ele no havia recebido o direito de profetizar. E no foram apenas todos os profetas que receberam suas profecias no Sinai; os Sbios do futuro, de cada gerao, todos eles tambm receberam, no Sinai, a sua devida poro, porquanto est escrito: O Eterno disse estas palavras a toda a vossa congregao [...] com grande voz, sem cessar [Deuteronmio 5:19].

  • 8 Leia, Israel!

    nos deu o aval para dirigir a 100km/h em uma estrada,17 sua verdadeira inteno era estabelecer um limite mximo de 60km/h ou, como outros poderiam interpretar: No devemos nem sequer dirigir!18

    Vale a pena enfatizar aqui, para fins de esclarecimento, que ns, judeus Messinicos, no somos contra as tradies de nossos antepassados; no rejeitamos nem desprezamos as palavras dos Sbios, como muitos alegam. Pelo contrrio! Nutrimos um sentimento de profundo respeito e admirao pelo zelo, amor e dedicao que eles empreenderam em seus estudos e comentrios bblicos. Quem poderia contestar a abordagem amorosa e compassiva do grande Rab Hilel? Quem poderia negar a incrvel dedicao de Yonatn ben Uzil ao traduzir os Profetas para a lngua aramaica? Quem poderia desprezar o profundo conhecimento de gigantes como Rashi, Radak, Rambam e Rab David Altshuler? , sem sombra de dvida, um privilgio estudar as palavras de Chazl quando estas se encontram em harmonia com o Tanach. simplesmente maravilhoso observar o genuno desenvolvimento do PaRDeS em determinadas interpretaes Talmdicas e Midrshicas. Todavia, o que no podemos aceitar a atribuio de um carter divino, infalvel e mandatrio a textos Rabnicos que, em inmeras ocasies a despeito de sua beleza e erudio , contrariam e/ou infringem mandamentos explcitos da Tor Escrita.19

    Dito isso, cabe a mim e a voc, querido leitor, optar por uma das seguintes alternativas: Ou acreditamos que a Tor Oral , de fato, divinamente inspirada e, por conseguinte, normativa a todo judeu o que nos levaria concluso de que o Eterno um Deus instvel, contraditrio e falvel (haja vista a discrepncia astronmica entre as palavras do Tanach e muitos decretos Rabnicos)20 ou acreditamos que o Santssimo, bendito seja, realmente o Deus vivo e verdadeiro, que no muda (Ml. 3:6) e cuja palavra permanece para sempre (Is. 40:8) o que, em

    17 Esta uma mera ilustrao fictcia. 18 Se voc acredita que os escritos da Nova Aliana [i.e. Novo Testamento] so anti-judaicos, anti-Tor e contraditrios s palavras do Tanach, recomendo que adquira, com urgncia, os seguintes livros: Novo Testamento Judaico, traduzido por David Stern e publicado pela Editora Vida, e Answering Jewish Objections to Jesus (Volume 4) New Testament Objections, escrito pelo Dr. Michael L. Brown. Leia, tambm, o artigo Unequal Weights and Measures (www.realmessiah.org/read/unequal-weights-and-measures) e assista ao vdeo - (https://www.youtube.com/watch?v=J8ctoVlQ-1c).19 Compare, e.g., x. 23:19b com as restries modernas para o estabelecimento de uma cozinha Kasher (www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/657823/jewish/Como-dar-Incio-a-Uma-Cozinha-Casher.htm). 20 Vale a pena observar tambm que, no Tanach, sempre encontramos o axioma: Assim disse YHVH, ao passo que no Talmud, por exemplo, lemos apenas: Disse Rab Akiva; Disse Rab Elizer; Disse Rab Yehoshua etc.

  • 9A Tor Oral

    contrapartida, nos levaria concluso de que, na realidade, a Tor Oral no divina e absoluta, mas, antes, de procedncia humana e sujeita a falhas e incongruncias. Particularmente, prefiro acreditar na autossuficincia do Todo Poderoso. E voc?

    No Acrescentareis

    Em contraposio ao que Rambam afirmou, o Rab Avraham ben David (Ravad) mantm a posio de que um decreto Rabnico no deve ser considerado como uma violao da proibio de fazermos adies aos mandamentos da Tor. [Ele disse]: Toda e qualquer proibio decretada pelos rabinos, com vistas a salvaguardar e proteger a Tor [cf. m. Avt 1:1], no constitui uma violao do mandamento: Nada acrescentareis palavra que eu vos ordeno [Deuteronmio 4:2], mesmo se tal decreto passar a vigorar de forma permanente, como uma lei da Tor [...] Por conseguinte, as suspenses Rabnicas de qualquer mandamento bblico tambm devem ser classificadas como Tor, porquanto est escrito: tempo de agir em favor de Deus; [ Eterno,] suspende a tua Tor! (Sl. 119:126). Logo, tais suspenses no constituem uma violao do mandamento: Nada acrescentareis palavra que eu vos ordeno [Deuteronmio 4:2] (nfase e comentrio meus).21

    Caso no tenha notado, a traduo sugerida para o texto de Salmo 119:126, na citao acima, a seguinte: tempo de agir em favor de Deus; [ Eterno,] suspende a tua Tor! (Salmo 119:126 nfase minha).22 Suspender a Tor? Esta uma orao bastante ousada, voc no acha? Se a abordagem tradutria escolhida pelo rabino Paz fosse realmente fidedigna gramtica dos manuscritos hebraicos, pode at ser que algum conseguisse depreender que os rabinos foram, de fato, investidos com a autoridade para suspender (temporariamente) ou mesmo anular (permanentemente) mandamentos da Tor. Ainda assim, uma interpretao como essa seria, para dizer o mnimo, forada e infundada como se o Todo Poderoso fosse obrigado a responder tal orao , sem contar que a suposta traduo de Baruch Paz constitui uma das manipulaes bblicas mais absurdas da histria hermenutica.

    Para termos uma ideia de quo longe esse rabino23 foi com a sua distoro do Salmo 129, basta fazermos uma breve leitura da verso portuguesa publicada pela Editora

    21 PAZ, Rabbi Baruch. Adding, Uprooting, and Rabbinical Authority. Disponvel em: . Acesso em: mar. 2014.22 ibid.23 Lamentavelmente, muitos outros rabinos, igualmente respeitados e instrudos, partilham da mesma convico de Baruch Paz.

  • 10 Leia, Israel!

    e Livraria Sfer, a saber, a Bblia Hebraica: chegado o tempo da interveno do Eterno, pois eles infringiram Tua Tor (Salmo 119:126).24 Como se a passagem, por si s, no fosse clara o suficiente para nos conduzir a uma compreenso lgica dos fatos, os prprios Sbios de Israel atestam que a ao de suspender ou violar a Lei divina no deveria ser executada pelo Eterno em resposta ao clamor de homens santos e justos como insinuado na citao acima , mas, antes, representava a contnua transgresso de homens mpios e rebeldes que se recusavam a andar conforme os preceitos de Deus.

    Vejamos, por exemplo, o que Radak escreveu em seu comentrio:

    . ]...[ : " .

    [...] esta gerao violou a tua Tor! Por isso, necessrio que algum se levante em favor do Eterno algum que se fortalea muito na Tor , a fim de que ela no seja totalmente anulada (Radak Salmo 119:126).

    Querido leitor, no se deixe enganar: Deus nos deu a sua Lei para que fosse devidamente obedecida, e no violada (cf. Salmo 119:4), independentemente da gravidade de uma situao ou da nobreza de nossas intenes. esse tipo de fidelidade e amor verdade que o Todo Poderoso espera de ns. Pense comigo: Se os nossos pais Abraho e Jacob e at mesmo Moiss sofreram as consequncias de seus atos quando tentaram dar uma mozinha para Deus,25 no podemos acreditar que um Tanata do sculo II E.C. ou um erudito da Idade Mdia tenham sido autorizados, pelo prprio Eterno, a transgredir, acrescentar ou subtrair mitsvt da santa Tor por mais sinceras que fossem as suas motivaes.

    Como muitos sabem, o final da primeira Mishn da tica dos Pais muito citado como uma justificativa Rabnica para a criao e/ou supresso de leis bblicas. Est escrito: Faam uma cerca para a Tor (m. Avt 1:1 nfase minha).

    24 Nenhuma traduo brasileira, nem tampouco a renomada verso americana Stone Edition, interpreta o texto hebraico como uma justificativa para a violao dos mandamentos de Deus.25 cf. Gn. 16 e 21 (Abro d ouvidos ao conselho de sua esposa em vez de permanecer firme nas promessas do Eterno, o que lhe acaba gerando graves conflitos familiares); Gn. 25:21-34; 27, 32 e 33 (embora a sua primogenitura tivesse sido profetizada pelo prprio Deus, Jacob tenta resolver as coisas com um jeitinho brasileiro, o que tambm lhe acaba gerando graves conflitos familiares); Nm. 20:7-12; Dt. 32:48-52 (Moiss, saturado pelas reclamaes do povo, desobedece a Deus e fere a rocha, o que lhe acaba custando o acesso Terra Prometida).

  • 11A Tor Oral

    De acordo com a edio inglesa dos Tratados Menores do Talmud Babilnico, conhecida como Soncino Edition, o significado mais comum da mxima Faam uma cerca para a Tor consiste nas restries e severidades adicionais que os rabinos acrescentaram Tor, com o fim de evitar que os mandamentos fossem infringidos (nota n 39 nfase minha).26

    Agora, o que realmente me surpreende o fato de que o texto hebraico de Avt dRab Natn 1:7, logo na pgina seguinte, revela-nos um ensinamento completamente inesperado, o qual desafia ou melhor, pe em cheque a interpretao convencional daquela Mishn:

    : :7 , : ' . : .

    . ,

    Disseram [os Sbios]: Se um homem faz uma cerca para as suas palavras, no ser capaz de permanecer em [i.e. cumprir; obedecer] suas prprias palavras. Disseram mais [os Sbios]: Que o homem nada acrescente s palavras que ouviu! Rab Yssi disse: melhor uma [parede] firme com [apenas] 90cm [de altura] do que uma [muralha] de 58 metros [de altura] que est prestes a cair (ARN 1:7 nfase e comentrio meus).27

    Se os prprios rabinos entendiam que nenhum homem deve acrescentar nada s palavras que ouviu e aqui, podemos fazer uma conexo com a revelao do Eterno no Sinai, de onde o nosso povo ouviu as palavras de Deus, as quais tambm foram escritas em um livro como testemunho perptuo ; se os grandes Sbios entendiam que o homem no capaz de cumprir as palavras que ele mesmo proferiu;28 se, por um lado, os eruditos do Talmud afirmaram que os incontveis acrscimos s leis do Shabat so como montanhas suspensas por um fio de cabelo, 29 e, por outro, a recomendao

    26 The Minor Tractates. 1. ed. Londres: Soncino, 1984. 17a(1) p.27 ibid. 17a(2) p.28 [...] Existem trs motivos pelos quais a promessa de um homem pode ser alterada: (1) Os pensamentos e a vontade daquele que promete podem alterar o seu conselho prvio. Contudo, isso no verdade em relao ao Eterno, pois ele Maravilhoso Conselheiro, e seu conselho nunca mudar; (2) devido falta de capacidade do homem em cumprir a sua promessa. No entanto, o Eterno Deus Poderoso e Senhor absoluto da capacidade; (3) porque, amanh, pode ser que morra aquele homem, e, junto com ele, a promessa. Porm, o Eterno Pai da Eternidade e Pai de todos os sculos; ele vive para todo o sempre (Malbim Comentrio de Isaas 9:5).

    29 b. Chaguig 10a: . Confira tambm Jewish Encyclopedia

  • 12 Leia, Israel!

    dos mesmos Sbios que nos contentemos com a parede firme mesmo que, aparentemente, ela s tenha 90cm de altura , como, ento, podemos acreditar que a Tor Oral foi divinamente inspirada?

    A mais pura verdade que homens sujeitos ao erro em uma clara desobedincia Tor Escrita e ao conselho de rabinos Tanatas alteraram as palavras do Deus vivo. Com todo o respeito tradio oral sendo eu mesmo um admirador da vasta sabedoria e do profundo conhecimento de Chazl , ns precisamos concordar que a santa Tor no precisa da ajuda de homens mortais, nem tampouco de restries e severidades adicionais, para que os mandamentos do Santssimo, bendito seja, sejam devidamente cumpridos pelo povo judeu. Do contrrio, Deus no seria Deus. nosso dever, portanto, continuar crendo na sabedoria e na soberania do Todo Poderoso.

    Tendo isso em mente, gostaria de compartilhar com voc uma das passagens mais belas de toda a Tor, na minha opinio:

    E quando o Fara despachou o povo, o Eterno no o guiou pelo caminho da terra dos filisteus que era prximo [i.e. o caminho mais fcil para se chegar Terra da Promessa], porque o Eterno disse: Para que o povo no se arrependa, vendo a guerra, e volte ao Egito (xodo 13:17; BH comentrio meu).

    Em outras palavras, como se Deus estivesse dizendo: Embora o caminho da terra dos filisteus seja o mais prximo e, por conseguinte, o mais fcil , ainda assim, existe uma possibilidade de o povo no conseguir tomar posse de Kenan [Cana]. Dessarte, gui-lo-ei pelo caminho que, apesar de mais longo, estar livre de qualquer fator externo que os impea de chegar ao lugar onde eu os plantarei.

    Se continuarmos lendo os prximos versculos, veremos que Deus conduz os israelitas s margens do Mar Vermelho. Agora, imagine a cena comigo: diante do povo, a imensido azul, imponente e fisicamente intransponvel; atrs deles, o exrcito do Fara, veloz e sedento por guerra. No curioso pensar que, aos olhos do Eterno, o ato de atravessar o mar, sob aquelas circunstncias, constitua uma rota mais segura e, portanto, mais fcil do que uma simples caminhada por entre a terra dos filisteus? A resposta para essa pergunta pode mudar a sua vida.

    O texto de xodo 13:17 nos ensina que o Eterno, antes de nos dar qualquer mandamento, conselho ou instruo, pe-se a analisar antecipada e cautelosamente, como um exmio estatstico todas as probabilidades de nosso sucesso ou de nossa derrota em potencial. Logo, se os resultados computados no se mostrarem favorveis ao nosso xito, esteja certo de que Deus no desperdiar palavras para promulgar um

    [Enciclopdia Judaica], captulo Sabbath [Shabat], item The Thirty-nine Prohibited Acts [As Trinta e Nove Aes Proibidas].

  • 13A Tor Oral

    decreto passvel de falha ainda que, a princpio, parea uma simples caminhada por entre uma terra estrangeira. Em contrapartida, se os clculos estimados forem de fato promissores, o Santssimo, bendito seja, no hesitar em emitir a sua ordem ainda que, a princpio, parea um mar intransponvel.

    Toda vez que o nosso Pai Celestial exige algo de ns, juntamente com o mandamento divino se, de fato, formos corajosos o suficiente para crer em sua Palavra , recebemos dele a capacidade de prosperar e de obedecer em todas as situaes. Se, porventura, naquele fatdico dia em que os nossos antepassados atravessaram o Mar Vermelho houvesse a menor possibilidade de sermos conduzidos a uma derrota considerando nica e exclusivamente os fatores exgenos nossa reao perante o mandamento divino30 , o Eterno nunca teria nos encurralado entre a morte certa e a morte certa. Caso contrrio, deparar-nos-amos com uma faceta de Deus totalmente inconsistente com o seu carter. Uma vez que ele no hipcrita, nem tampouco insensvel ou injusto, ele jamais exigiria algo de ns se no nos julgssemos capazes de obedecer.

    Torno-lhe a dizer: o Todo Poderoso no nos deu um corpo de leis aleijadas que necessitassem de ajustes, melhorias ou de intervenes humanas. Ele jamais planejou que erratas ou adendos, elaborados pela tradio oral, passassem a vigorar acima da prpria Constituio. Antes, como est escrito: A Tor do Eterno perfeita e reconforta a alma (Sl. 19:8; BH nfase minha).

    Meu caro irmo judeu, no foi toa que o Deus de nossos pais nos ordenou: No acrescentareis sobre a coisa que eu vos ordeno, e no subtraireis dela, para que guardeis [i.e. somente assim, mantendo-se fiis quilo que j foi escrito no Livro da Lei, sem acrescentar ou subtrair coisa alguma do que ali foi registrado, que podereis guardar, devidamente,] os preceitos do Eterno, vosso Deus, que eu vos ordeno (Dt. 4:2; BH nfase e comentrio meus).

    A despeito das louvveis intenes dos Sbios, a despeito do zelo de eruditos da antiguidade, a despeito do amor que os nossos rabinos nutriram pelo Eterno nada pode justificar a alterao de um mandamento preestabelecido pelo Justo Legislador.

    Por que a Tor Oral foi escrita?

    30 A Bblia Hebraica est repleta de ocorrncias em que a nossa incredulidade privou-nos de desfrutar da plenitude que o Eterno havia sonhado para ns como nao (e.g. Nm. 13:2514:45). Tudo o que Deus faz ou planeja perfeito: sua criao original (cf. Gn. 1:31), sua Tor original (i.e. o Livro da Lei) e seus propsitos originais (J 42:2). No obstante, quando os seus planos dependem da cooperao do homem para alcanar o seu cumprimento, ns, o povo judeu, j aprendemos das piores maneiras possveis que a incredulidade pode atrasar e muito os desgnios do Pai Celestial (cf. Sl. 95:7b-11).

  • 14 Leia, Israel!

    A Tor shebeal p no deveria ser escrita: era ensinada oralmente, como um complemento da Tor escrita [...] Desde o incio era proibido compilar por escrito qualquer parte desta Tradio Oral [...] H cerca de mil e setecentos anos, porm, Rabi Yehud Hanass (o Prncipe, presidente do Bt Din, o Grande Tribunal e, portanto, chefe de seu povo) deu-se conta de que sob as condies turbulentas da poca no era mais possvel para professores e alunos estudar e memorizar adequadamente a grande Tradio Oral. Pelo bem ou pelo mal, como se diz, ela deveria ser transcrita antes que fosse completamente esquecida.31

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    Disse Rab Yehoshua ben Levi: [...] Toda a Bblia Hebraica, bem como a Mishn, o Talmud, a Agad, e at mesmo aquilo que um Sbio, no futuro, viesse a decretar diante do seu rabino tudo isso j havia sido transmitido a Moiss, no Sinai, conforme est escrito: Existem coisas sobre as quais algum possa pensar: Veja, isto algo novo! Mas seu amigo lhe responder: Na verdade, isso sempre existiu, muito antes de nossa poca [Eclesiastes 1:10] (y. Meguil 28a).

    Pense comigo por um instante: Se o conhecimento Talmdico no deveria ser redigido ou melhor, se era proibido compilar por escrito qualquer parte desta Tradio Oral , por que, ento, desobedecer uma ordem to explcita? claro, voc poderia alegar: Tempos difceis exigem medidas difceis. Rab Yehud no teve escolha; ele tinha de fazer o que era preciso para salvar a Tor Oral, mesmo se isso significasse transgredir, deliberadamente, um decreto Rabnico ou um estatuto da Tor Escrita. Ser? Vejamos se o seu argumento condiz com a probidade das Escrituras Hebraicas.

    Em primeiro lugar e fao questo de repetir , se ns admitirmos que a Lei Oral foi, de fato, divinamente transmitida a Moiss, no Sinai lembrando que tal revelao deveria abranger Toda a Bblia Hebraica, bem como a Mishn, o Talmud, a Agad, e at mesmo aquilo que um Sbio, no futuro, viesse a decretar diante do seu rabino , estaremos admitindo, por inferncia, que o Deus imutvel do Tanach (Ml. 3:6), o qual revelou a sua vontade e o seu carter a Israel, acabou, com o passar do tempo, mudando

    31 BUNIM, Irving M. A tica do Sinai: ensinamentos dos Sbios do Talmud. 5. ed. So Paulo: Sfer, 2012. II p.

  • 15A Tor Oral

    de opinio o que, pela lgica, faria com que o Tanach perdesse, impreterivelmente, sua credibilidade, autoridade e relevncia. Em outras palavras, o Eterno j no seria mais digno da nossa confiana e, por conseguinte, da nossa obedincia.

    Em segundo lugar, o Deus das Escrituras jamais concordaria com o pretexto de que sob as condies turbulentas da poca [...] Pelo bem ou pelo mal [a grande Tradio Oral] deveria ser transcrita. Creia-me: o Todo Poderoso no est interessado em saber os nossos pretextos ou desculpas. Ningum barganha com o Justo Juiz. Para ele, os fins no justificam os meios. Para ele, um jargo do tipo Pelo bem ou pelo mal no passa de uma justificativa infundada para amoldarmos a verdadeira Tor aos parmetros que ns mesmos almejamos, visando, assim, a nossa prpria convenincia (cf. Is. 29:13).

    Voc se lembra do que aconteceu com o rei Shaul quando ele quis dar uma mozinha para Deus, sob o pretexto de que Samuel tinha se atrasado para o sacrifcio em Guilgl? Ele foi destitudo do trono e rejeitado pelo Eterno!32 Voc se lembra do que aconteceu com Uz quando ele, de modo semelhante, quis dar uma mozinha para Deus, tocando a arca sagrada para que esta no casse ao cho? Ele foi instantaneamente fulminado apesar de ter agido com a melhor das intenes!33 Voc se lembra do que aconteceu com Nadv e Avih, filhos de Aaro, quando eles quiseram prestar culto ao Todo Poderoso sua prpria maneira? Eles foram consumidos, sem piedade, pelo fogo de Deus (Lv. 10:1-3)!34 Consegue perceber? Para o Eterno, nada justifica a transgresso de um preceito da Tor nem mesmo tempos difceis ou a melhor das intenes.

    Por fim, se Yehud haNass, vivendo no sculo II E.C. (cerca de mil e quinhentos anos aps a outorga da Lei, no Sinai), tinha tanto receio de que a Tor Oral fosse completamente esquecida uma vez que, na teoria, os alunos deveriam memorizar adequadamente a grande Tradio Oral, ou melhor, a Mishn, o Talmud, a Agad, e at mesmo aquilo que um Sbio, no futuro, viesse a decretar diante do seu rabino , como podemos explicar o fato de que a Tor Escrita composta por apenas cinco livros , foi esquecida, mais de uma vez, pelo antigo Israel? Deixe-me dar um exemplo para esclarecer a dimenso da coisa: o Talmud, por si s, possui sessenta e trs tratados, duas milhes e quinhentas mil palavras hebraicas/aramaicas e mais de seis mil e duzentas pginas (no formato enciclopdia). Agora, eu lhe pergunto: Como seria possvel que as incontveis e complexas leis Talmdicas tivessem sido devidamente preservadas, memorizadas e transmitidas oralmente , durante um perodo de mil e quinhentos anos, ao passo que, como veremos na citao abaixo, o povo judeu j nem sabia quem era

    32 cf. 1 Sm. 10:7-9; 13:8-14.33 cf. 2 Sm. 6:1-10.34 cf. Lv. 10:1-3.

  • 16 Leia, Israel!

    o Eterno uma nica gerao aps a morte de Yehoshua [Josu]? Isso seria como alegar que Albert Einstein pudesse ter desenvolvido a teoria da relatividade sem, ao menos, ter aprendido as quarto operaes bsicas da aritmtica.35

    Leiamos, pois, algumas das passagens que relatam a nossa completa falta de conhecimento da Tor Escrita em nvel nacional:

    E Israel serviu ao Eterno todos os dias de Josu e todos os dias dos ancios que sobreviveram a Josu e que sabiam toda a obra que o Eterno havia feito a Israel [...] E o povo serviu ao Eterno todos os dias de Josu e todos os dias dos ancios que sobreviveram a Josu e que viram toda aquela grande obra do Eterno, que fizera a Israel. E Josu bin Nun, o servo do Eterno, morreu aos 110 anos de idade [...] E tambm toda aquela gerao foi reunida a seus pais (morreu), e uma outra gerao, que no conhecia o Eterno nem a obra que fizera a Israel, se levantou depois deles. E os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Eterno [...] e foram atrs de outros deuses e curvaram-se a eles, desviando-se depressa do caminho trilhado por seus pais, que ouviram os mandamentos do Eterno, mas eles no fizeram assim. [...] Nada os fazia deixar as suas prticas nem seu caminho obstinado [...] Naqueles dias no havia rei em Israel, e cada um fazia o que parecia direito aos seus olhos (Josu 24:31; Juzes 2:7-8, 10-11, 17, 19; 17:6; BH nfase minha).

    E o sumo-sacerdote Hilkihu disse ao escrivo Shafan: Achei o livro da Tor na Casa do Eterno! [todos os outros rolos da Tor haviam sido destrudos durante o reinado de Menash, sessenta e sete anos antes] e Hilkihu deu o livro a Shafan, que o leu [...] E o escrivo Shafan relatou ao rei, dizendo: O sacerdote Hilkihu me deu um livro! e Shafan o leu diante do rei. Quando o rei ouviu as palavras do livro da Tor, rasgou as suas roupas [porquanto no tinha conhecimento da Tor nem da gravidade da situao em que Israel vivia]. E o rei ordenou ao sacerdote Hilkihu, a Ahicam ben Shafan, a Ahbor ben Mihai, ao escrivo Shafan e a Assai, o servo do rei, dizendo: Ide e consultai ao Eterno por mim, pelo povo e por toda Jud a respeito das palavras deste livro que foi encontrado, porque [agora, depois de estar a par de seu contedo, compreendo que] grande a ira do Eterno, que se acendeu contra ns, porquanto os nossos pais no deram ouvidos s palavras deste livro, para fazerem conforme tudo quanto est escrito a nosso respeito (2 Reis 22:8-13; BH nfase e comentrio meus).

    O rei Menash havia destrudo, sistematicamente, todos os rolos da Tor. Assim, ele conseguiu desviar a nao, afastando-a do conhecimento da Tor, de tal forma que as pessoas tornaram-se completamente ignorantes em relao ao seu contedo. Haviam-se passado sessenta anos desde o reinado de Menash. Portanto, a descoberta do

    35 i.e. adio, subtrao, multiplicao e diviso.

  • 17A Tor Oral

    rolo mostrou-se uma revelao surpreendente para todo mundo (Tanach: The Stone Edition; nota para o texto de 2 Reis 22:8 nfase minha).

    Inconsistncias da Tradio

    Quando HaShem entregou os mandamentos ao povo judeu, ele o fez com vistas a trazer vida Nao de Israel, e no morte. A Tor lhes foi dada de maneira que era possvel obedec-la, sem qualquer necessidade de ir ao Cu para aprend-la. Aqueles que receberam a Tor sabiam, com toda a clareza, o que lhes estava sendo exigido. No havia dvidas; HaShem no lhes revelara determinada parte e ocultara-lhes o restante [...] Quando, porm, lemos os mandamentos da Tor, deparamo-nos com um problema: ns simplesmente no sabemos o que HaShem deseja! impossvel compreender a Tor Escrita no porque a sua linguagem seja difcil, mas porque ela carece de uma explicao abrangente para praticamente todos os mandamentos (nfase minha).36

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    Disse Rab Abah: Durante todos os quarenta dias em que esteve no alto [do Monte Sinai], Moiss aprendia a Tor e, [logo em seguida], esquecia [o que havia aprendido]. Portanto, ele disse: , Soberano do universo, tenho estado aqui h quarenta dias e ainda no sei nada! O que fez, ento, o Santssimo, bendito seja? Ao trmino dos quarenta dias, o Santssimo, bendito seja, deu a Moiss a Tor, como um presente, pois assim foi dito: Quando o Eterno terminou de falar com ele, no Monte Sinai, deu-lhe as duas tbuas do testemunho as tbuas de pedra , escritas pelo dedo de Deus [xodo 31:18]. Pde Moiss, dessa forma, aprender toda a Tor? Porventura no est escrito: Sua medida mais extensa que a terra e mais ampla que o mar [J 11:9]? Pde Moiss, dessa forma, aprend-la em [apenas] quarenta dias? [No]. Por essa razo, o Santssimo, bendito seja, ensinou a Moiss somente os princpios [da Tor] (xodo Rab K Tis 41:6).

    36 SHULMAN, Rabbi Moshe. An Explanation of the Oral Law [Uma Explicao da Tor Oral], 8 p.

  • 18 Leia, Israel!

    E o filho de uma mulher israelita, que era filho de um homem egpcio, saiu no meio dos filhos de Israel, e brigaram no acampamento o filho da israelita e um homem israelita. E o filho da mulher israelita blasfemou o Nome do Eterno e amaldioou-o, e trouxeram-no a Moiss [porquanto no sabiam o que fazer]. E o nome de sua me era Shelomit bat Dibri, da tribo de Dan. E puseram-no em deteno at que viesse a sentena ditada pelo Eterno [visto que nem Moiss sabia como proceder]. E o Eterno falou a Moiss, dizendo: Tira aquele que amaldioou para fora do acampamento, e todos os que o ouviram poro as suas mos sobre a cabea dele, e toda a congregao o apedrejar. E falars aos filhos de Israel [esta nova instruo], dizendo: Todo homem que amaldioar ao seu Deus levar sobre si o seu pecado. E aquele que blasfemar o Nome do Eterno certamente ser morto; toda a congregao o apedrejar; seja peregrino ou natural, ao blasfemar o Nome de Deus, ser morto (Levtico 24:10-16; BH nfase e comentrio meus).

    E os filhos de Israel estavam no deserto, e acharam um homem que recolhia lenha no dia de sbado. E os que o acharam recolhendo lenha o trouxeram a Moiss, a Aaro e a toda a congregao. E puseram-no em deteno, porquanto no estava declarado o que lhe seria feito. E o Eterno disse a Moiss [visto que este no sabia como proceder naquela situao]: Tal homem ser morto; toda a congregao o apedrejar fora do acampamento. E toda a congregao o tirou para fora do acampamento, apedrejou-o e morreu, como o Eterno ordenara a Moiss (Nmeros 15:32-36; BH nfase e comentrio meus).

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    Os dois [eventos, ou seja, o do homem que recolhia lenha durante o Shabat e o do outro, que blasfemou o Nome] ocorreram ao mesmo tempo. Eles sabiam que o primeiro homem deveria ser morto, como foi dito: Todo aquele que profanar o Shabat certamente morrer [b. Sanhedrin 78b citando xodo 31:14]. Entretanto, o tipo de morte ainda no lhes havia sido especificado, pelo que foi dito: Uma vez que [ainda] no fora esclarecido o que deveriam fazer com ele [Nmeros 15:34], ao passo que, no caso do blasfemador, est escrito: A fim de lhes especificar [o tipo de sentena] [Levtico 24:12], porquanto no sabiam se tal homem deveria morrer ou no (Rashi Levtico 24:12).

  • 19A Tor Oral

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    Uma vez que [ainda] no fora esclarecido o que deveriam fazer com ele embora eles soubessem que todo profanador do Shabat deveria morrer, eles no sabiam que tipo de morte deveria ser imposta ao homem (Rashi Nmeros 15:34).

    E houve alguns homens que estavam impuros, pelo corpo de um homem morto, e no podiam celebrar o Pssah naquele dia. E chegaram diante de Moiss e diante de Aaro naquele dia, e aqueles homens disseram-lhes: Ns estamos impuros pelo corpo de um homem morto; por que havemos de ser privados de oferecer a oferta do Eterno em seu tempo determinado, no meio dos filhos de Israel? E Moiss disse-lhes: Esperai, e ouvirei o que o Eterno vos ordenar [porquanto no sei como devemos proceder em uma situao como esta] (Nmeros 9:6-8; BH comentrio meu).

    E as filhas de Tselofhad ben Hfer, filho de Guilad, neto de Mahir e bisneto de Menashe, das famlias de Menashe, filho de Jos, cujos nomes eram Mahl, No, Hogl, Milc e Tirts, vieram e estiveram diante de Moiss, diante de Elazar, o sacerdote, diante dos prncipes e de toda a congregao, entrada da tenda da reunio, dizendo: Nosso pai morreu no deserto, e ele no esteve no meio da congregao dos que se juntaram contra o Eterno no grupo de Crah, mas morreu por seu prprio pecado, e filhos no teve. Por que ser tirado o nome de nosso pai do meio de sua famlia por no ter filhos? D-nos posse entre os irmos de nosso pai! E Moiss levou o pleito delas perante o Eterno [visto que, at aquele momento, o Eterno no ensinara a Moiss como proceder em uma situao como aquela]. E o Eterno falou a Moiss, dizendo: justo o que falam as filhas de Tselofhad; dar-lhes-s posse de herana entre os irmos de seu pai, e lhes entregars a herana de seu pai (Nmeros 27:1-6; BH comentrio meu).

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    E amputars a mo de tal mulher [na verdade, a punio estipulada aqui tem a ver com] dinheiro. [Trata-se, portanto, de uma] tarifa pela vergonha que causou. Tudo isso se resume ao princpio do envergonhador [i.e. aquele que traz vergonha a outrem] e do envergonhado [i.e. aquele que sofreu a vergonha] (Rashi Deuteronmio 25:12).

  • 20 Leia, Israel!

    :21-11

    .

    Quando homens brigarem entre si, um homem contra o seu companheiro, e a mulher de um se chegar para salvar a seu marido da mo daquele que o fere, e ela estender a mo e lhe pegar pelo local de sua vergonha, far-lhe-s pagar com dinheiro a vergonha que lhe causou; o teu olho no ter piedade dela (Deuteronmio 25:11-12; BH).

    Quando pessoas se envolverem em uma briga um homem contra o seu irmo , e acontecer que, aproximando-se a mulher de um deles para salvar o marido daquele que o fere; se ela estender a mo e, assim, agarrar-lhe os genitais, ento, amputars a mo de tal mulher. Que o teu olho no demonstre piedade! (Deuteronmio 25:11-12).

    . :21 -

    [...] e amputars a sua mo [i.e. da mulher]. Que o teu olho no demonstre piedade! (nkelos Deuteronmio 25:12).

    Agora que j lemos diversas citaes, tanto bblicas como Rabnicas, gostaria de fazer-lhe uma pergunta relativamente simples. Peo-lhe, porm, que seja realmente honesto comigo e consigo mesmo: Se o grande Moiss no sabia como proceder em algumas ocasies (ou seja, se ele no sabia como aplicar a Tor em determinados contextos ps-Sinaticos); se, de acordo com a prpria tradio Midrshica, Moiss no teve condies de aprender toda a Tor em 40 dias, e, por essa mesma razo, o Santssimo, bendito seja, ensinou[-lhe] somente os princpios [da Tor] (xodo Rab K Tis 41:6); se, por um lado, Sbios influentes como Rashi admitem que [Moiss e os filhos de Israel] no sabiam se tal homem deveria morrer ou no (cf. Lv. 24:12), mas tambm, por outro, ignoram o psht do texto hebraico, inmeras vezes, para defender interpretaes Rabnicas que entram em conflito direto com as mitsvt do Pentateuco (e.g. Rashi em Dt. 25:12) como, ento, podemos acreditar que Toda a Bblia Hebraica, bem como a Mishn, o Talmud, a Agad, e at mesmo aquilo que um Sbio, no futuro, viesse a decretar diante do seu rabino (y. Meguil 28a) foram divinamente transmitidos a Moiss, no Sinai? Pense bem: Em quem devemos depositar a

  • 21A Tor Oral

    nossa confiana? No Eterno ou nos rabinos? Na Palavra de Deus ou nas tradies humanas? Estas so perguntas que s voc pode responder.

    A Supremacia Rabnica

    . :- , , . . . . '' '' '' . .)21 (

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    Naquele mesmo dia, Rab Elizer ofereceu [aos Sbios] todas as respostas do mundo [pertinentes s leis de purificao]. Contudo, eles no as aceitaram. Disse-lhes, pois: Se a Halach concorda comigo, que esta alfarrobeira o prove! Ento, a alfarrobeira desenraizou-se e [afastou-se] 58 metros do lugar [em que originalmente estava plantada] outros afirmam [que ela se afastou] 232 metros. E responderam-lhe: No se pode provar nada a partir de uma alfarrobeira. Pelo que lhes disse: Se a Halach concorda comigo, que as guas deste canal o provem! Ento, as guas do canal reverteram o seu curso. E responderam-lhe: No se pode provar nada a partir de um canal. Pelo que lhes disse: Se a Halach concorda comigo, que esta casa de estudo [da Tor] o prove! Ento, inclinaram-se as paredes da casa de estudo, de sorte que estavam prestes a cair. [Ao ver o que acontecera], repreendeu-as Rab Yehoshua, dizendo: No h razo alguma para vocs interferirem nas discusses Halchicas em que os estudantes desta casa esto envolvidos! Dessarte, em honra ao Rab Yehoshua, as paredes no caram. Por outro lado, elas tambm no voltaram a endireitar-se, em honra ao Rab Elizer e elas ainda permanecem inclinadas. [Rab Elizer] tornou a dizer-lhes: Se a Halach concorda comigo, que os Cus o provem! Ento, uma Voz Celestial lhes foi

  • 22 Leia, Israel!

    dirigida, dizendo: Por que contendeis com Rab Elizer? A Halach concorda com ele em todos os aspectos! Pelo que se ps de p Rab Yehoshua, dizendo: [A Tor] no est no Cu [Deuteronmio 30:12]. O que significa a passagem: [A Tor] no est no Cu? Disse Rab Yirmey: [Significa] que a Tor j havia sido dada no Monte Sinai. [ justamente por isso que] no damos mais ouvidos Voz Celestial, porquanto Tu [mesmo, Eterno], no Monte Sinai, j escreveste na Tor [o seguinte mandamento]: Seguirs a maioria [xodo 23:2] (b. Bab Metsi 59a-b).

    Est , sem dvida, uma passagem bastante curiosa. De acordo com a narrativa Talmdica, a palavra dos Sbios, uma vez estabelecida, deve carregar autoridade e supremacia absolutas, acima de qualquer interpretao que se oponha ao consenso37 dos rabinos mesmo que tal interpretao tenha sido oferecida por um renomado erudito (e.g. Rab Elizer ofereceu [aos Sbios] todas as respostas do mundo [pertinentes s leis de purificao]. Contudo, eles no as aceitaram), confirmada por sinais e prodgios (e.g. Se a Halach concorda comigo, que as guas deste canal o provem! Ento, as guas do canal reverteram o seu curso. E responderam-lhe: No se pode provar nada a partir de um canal) ou defendida pelo prprio Deus (e.g. Ento, uma Voz Celestial lhes foi dirigida, dizendo: Por que contendeis com Rab Elizer? A Halach concorda com ele em todos os aspectos! Pelo que se ps de p Rab Yehoshua, dizendo: [A Tor] no est no Cu [Deuteronmio 30:12]). O nico problema dessa intrpida alegao que quando analisamos os argumentos que Rab Yehoshua e Rab Yirmey propem para justificar a divina preeminncia da tradio oral i.e. quando examinamos as citaes de Dt. 30:12 e x. 23:2 luz de seus contextos originais , acabamos testemunhando, novamente, uma estrapolao bblica que suprime o significado puro e simples do texto hebraico.

    Eis o que a Tor diz:

    Porque este mandamento que eu te ordeno hoje no te encoberto nem est longe de ti. No est nos cus para dizeres: Quem subir por ns aos cus, para que o traga a

    37 A palavra consenso est entre aspas porque, apesar da frequente alegao de que o Judasmo sempre falou em uma s voz, de forma categrica (e.g. A interpretao judaica sobre o Messias esta; A interpretao judaica sobre a natureza de Deus a seguinte etc.), a mais pura verdade que a prpria existncia do Talmud sem contar as diferentes vertentes do Judasmo tradicional (Chassdico, Ortodoxo, Reformista, Conservador, Reconstrucionista etc.) comprova a falta de consenso em diversos aspectos da lei judaica. Se pudssemos definir o Talmud em poucas palavras, poderamos dizer que ele uma coleo de diferentes opinies, interpretaes e ensinamentos do perodo Tanatico. Para voc ter uma ideia mais clara do que estou querendo dizer, confira, por exemplo, este excerto de b. Sanhedrin 98b: Disse Rav: O mundo s foi criado em funo de David. Shmul, por sua vez, disse: Em funo de Moiss. Todavia, Rab Yochann afirmou: [O mundo s foi criado] em funo do Messias.

  • 23A Tor Oral

    ns e nos faa ouvi-lo, para que o observemos? Nem est alm do mar, para dizeres: Quem passar por ns alm do mar, para que o traga a ns e nos faa ouvi-lo, para que o observemos? Pois isso est muito perto de ti, na tua boca e no teu corao, para que o observes (Deuteronmio 30:11-14; BH nfase minha).

    Abenoada seja a sabedoria de Deus! Se, por um lado, o Todo Poderoso permeou as Escrituras Sagradas com remazm (pistas) e sodt (segredos),38 por outro, ele fez questo de disponibilizar, aberta e gratuitamente, a chave-mestra que revela todos os mistrios da interpretao bblica. No, querido leitor, no se trata da Cabal ou de outras metodologias complexas da exegese judaica. O inestimvel mapa que nos conduz ao tesouro do conhecimento divino acredite se quiser o prprio Tanach. Sim, tudo o que precisamos saber sobre a vontade do Eterno, sobre as caractersticas singulares do Messias ou sobre a aplicao de um mandamento especfico da Tor pode ser aprendido, devidamente, atravs de uma leitura franca, direta e imparcial da Bblia Hebraica. Agora, isso no significa que devemos rejeitar os comentrios Rabnicos e que isso fique muito claro! O que estou querendo dizer que o Tanach, por si s, suficiente para responder toda e qualquer questo pertinente vida judaica. Logo, se uma interpretao Rabnica corrobora ou esclarece aquilo que j se encontra no texto inspirado por Deus, abrace-a como uma ferramenta auxiliar para os seus estudos. Se, no entanto, tal interpretao contradiz ou infringe as palavras do Todo Poderoso, no nos resta outra alternativa seno descart-la, posto que Melhor confiar no Eterno do que nos seres humanos (Salmo 118:8; BH) e Maldito o homem que confia no homem (Jeremias 17:5).

    Voltemos, pois, anlise dos argumentos de Rab Yehoshua e Rab Yirmey. Segundo eles, a Tor no est mais no Cu porque o Eterno concluiu, no Sinai, toda a revelao que planejava compartilhar com o povo judeu, transferindo, assim (de acordo com uma interpretao deturpada de Dt. 17:8-13), sua autoridade legislativa39 aos rabinos que se levantariam em cada gerao.40 Essa linha de raciocnio, porm, apresenta discrepncias gritantes que no podemos ignorar. Em primeiro lugar, j vimos que Deus continuou a falar com Moiss depois do Sinai, anunciando-lhe, em algumas ocasies, novos mandamentos (e.g. Nm. 9:6-14; 15:37-41), e, em outras, detalhes sobre a aplicao de leis j existentes (e.g. Lv. 24:10-16; Nm. 15:32-36). Em segundo lugar, o Todo Poderoso levantou inmeros profetas ao longo da histria

    38 Ocultar significados faz parte da glria de Deus, mas elucidar assuntos [i.e. descobri-los] faz parte da glria dos reis [i.e. dos homens] (Provrbios 25:2; BH comentrios meus).39 i.e. o poder legal para deliberar o que lcito e o que ilcito.40 Para um estudo minucioso sobre o significado de Dt. 17:8-13, leia BROWN, Michael L. Answering Jewish objections to Jesus: traditional Jewish objections. 1 ed. So Francisco: Purple Pomegranate, 2009. 139-161 p.

  • 24 Leia, Israel!

    de Israel, desde Yehoshua [Josu] at Malach [Malaquias] homens e mulheres que ouviram a Voz Celestial, contemplaram vises sobrenaturais, operaram sinais miraculosos e anunciaram nao as palavras do Eterno. Agora, pense comigo: Se tudo aquilo que os profetas haveriam de profetizar, no futuro, em cada gerao, eles o receberam no Monte Sinai (cf. xodo Rab, Yitr 28:6), como podemos explicar o fato de que tais profetas, ao contrrio do que diz o Midrsh, no receberam o direito de profetizar aquilo que suas almas (supostamente) j sabiam, mas, antes, tiveram experincias pessoais com Deus, literalmente, cada um em sua respectiva poca?41 Se a Tor Oral realmente existisse durante o perodo proftico, deveramos esperar que, ao menos, os lderes do povo i.e. os guardies da tradio soubessem que todas aquelas profecias haviam sido divinamente inspiradas, desde os tempos antigos, e que, portanto, deveriam ser obedecidas. Certo? Bem, o problema que foram justamente esses lderes juzes, sacerdotes, escribas etc. que perseguiram, desprezaram e at mesmo mataram os profetas de Deus (cf. Am. 2:11-12; Mq. 3; 2 Cr. 36:14-21)!

    Mas, ento, por que Moiss afirmou que a Tor no est no Cu? voc poderia questionar. Como eu disse anteriormente, Deus projetou o Tanach de tal forma que ele, por si s, suficiente para nos fornecer a interpretao correta de cada passagem bblica. No caso de Deuteronmio 30:11-14 (viz. os versculos a que voc est se referindo), o prprio contexto responde a sua pergunta. A Tor No est nos cus [...] Nem est alm do mar por um motivo totalmente diferente das justificativas Rabnicas tradicionais. Ela est muito perto de ti porque o Eterno a registrou, de forma detalhada e completa, em um livro simples assim!

    Isto, quando obedecerdes voz do Eterno, teu Deus, para guardares Seus mandamentos e Seus estatutos, escritos neste livro da Tor; quando voltares ao Eterno, teu Deus, com todo teu corao e com toda tua alma. Porque este mandamento que eu te ordeno hoje no te encoberto nem est longe de ti [visto que foi minuciosamente escrito no livro da Tor]. No est nos cus para dizeres: Quem subir por ns aos cus, para que o traga a ns e nos faa ouvi-lo, para que o observemos? Nem est alm do mar, para dizeres: Quem passar por ns alm do mar, para que o traga a ns e nos faa ouvi-lo, para que o observemos? [Ou seja, uma vez que, agora, temos acesso s leis de Deus, j no existe mais desculpa para a nossa ignorncia em relao vontade do Eterno] Pois isso est muito perto de ti, na tua boca e no teu corao, para que o observes (Deuteronmio 30:10-14; BH nfase e comentrios meus).

    41 O Tanach relata, quase sempre, as diferentes datas em que os profetas receberam a palavra do Eterno (e.g. Is. 1:1; Jr. 1:1-4; Ez. 1:1-3; Os. 1:1; Zc 1:1; Dn. 10).

  • 25A Tor Oral

    Percebe? As prprias Escrituras no sustentam a ideia de uma Tor Oral divinamente inspirada, sem a qual jamais poderamos compreender a Lei de Moiss. E quanto citao de Rab Yirmey? algum poderia dizer. De acordo com xodo 23:12, devemos seguir a maioria. Ou seja, todos os decretos estipulados pelo tribunal Rabnico devem ser obedecidos como se fossem mitsvt da Tor! Ser? Vejamos se a traduo sugerida pelo Sbio , de fato, consistente com o original hebraico:

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    . .

    No espalhars falsos boatos, nem te unirs ao mpio para seres testemunha [i.e. cmplice] da crueldade. No sigas a maioria para [fazeres] o mal. Ao lidares com uma contenda, no te afastes [da justia], cedendo [opinio da] maioria (xodo 23:2).42

    Caso no tenha notado, o versculo acima exorta-nos a fazer exatamente o oposto ao que Rab Yirmey sugere. Em outras palavras, No sigas a maioria. No cedas opinio das massas. Ademais, o contexto da passagem diz respeito perverso da justia civil, e no existncia de um tribunal Rabnico com plenos poderes para acrescentar e/ou subtrair leis da Tor. No podemos nos esquecer tambm que, ao longo de nossa histria, a maioria e, mais especificamente, a liderana quase sempre esteve errada, ao passo que o remanescente uns poucos fiis, perseguidos por sua integridade permaneciam obedientes ao Eterno (cf. e.g. Is. 1:2-17; Jr. 1:14-19; 5:1-9; 5:29-31; 6:10-30; 23:1-32; 37-38; Ez. 2-3; 1 Rs. 18-19; 22:1-38). Creia-me: o famoso ditado A voz do povo a voz de Deus no poderia ser mais falso!

    At mesmo Rashi, cujos comentrios Halchicos quase sempre concordam com a corrente Rabnica tradicional, afirma que

    , - 2 ".

    42 Para uma anlise detalhada sobre o significado dos verbos e , cf. ibid. 64-69 p.

  • 26 Leia, Israel!

    Os Sbios de Israel ofereceram interpretaes Midrshicas para este versculo, [como, por exemplo, a explicao de que devemos sempre seguir a maioria]. Entretanto, o significado deste versculo no pode ser estabelecido [como decisivo] com base no mtodo utilizado pelos Sbios (Rashi xodo 23:2).

    Como diria Irving Bunim, um erudito judeu do sculo XX que zelava pela Ortodoxia e pelo estudo da Tor Oral, s vezes a situao exige um homem, algum que faa frente ao grupo, forte, duro, que diga no! H momentos em que voc [homem judeu] deve resistir, nadar contra a mar, ser um inconformista. Mesmo se ningum mais [na comunidade judaica] tiver a sabedoria ou a coragem de ser aquele homem [...] Voc deve esforar-se por ser aquele homem, erguendo-se sobre os seus prprios ps. Tenha isso em mente: Se o povo judeu tivesse sempre acompanhado a maioria, no existiria povo judeu e nem Israel hoje em dia. Sim, diz Hilel, no se separe do grupo. Mas, se os integrantes do grupo tiverem perdido o direito de ser chamado de homens, quando a justia e a virtude os tiverem abandonado l onde no houver nenhum homem, voc deve pr-se de p e enfrentar a maioria; voc deve ser o homem.43

    Agora, o que realmente deveria nos intrigar e isso pode parecer chocante para muitas pessoas o fato de que a tradio Rabnica, por alguma razo,44 est sempre incentivando os judeus a evitarem a fonte de sabedoria e conhecimento divinos, ou seja, a Bblia Hebraica. Na verdade, somos constantemente coagidos a nos afastar do estudo do Tanach:

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    .

    Nossos Sbios ensinaram: Quando Rab Elizer adoeceu, seus discpulos foram visita-lo, e disseram-lhe: Nosso mestre, ensina-nos o estilo de vida [que realmente agrada a Deus], para que, assim, possamos ganhar [o direito] ao mundo vindouro!

    43 BUNIM, Irving M. A tica do Sinai: ensinamentos dos Sbios do Talmud. 5. ed. So Paulo: Sfer, 2012. 87 p. (nfase minha)44 Leia o artigo -- [Provas de que a Tor Oral Apenas uma Inveno dos Rabinos] em www.igod.co.il/lifeissues/1047

    e assista srie de vdeos em www.youtube.com/playlist?list=PLIsG2NQmMGXOPNDTaK7Jo6aBCeM7D7IS6.

  • 27A Tor Oral

    Pelo que lhes respondeu: Acautelai-vos da honra que os vossos amigos [venham a vos prestar], e privai os vossos filhos da meditao [lit. lgica] (b. Beracht 28b).

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    Da meditao [em outras palavras,] no os acostumeis demais com a Bblia Hebraica, pois isso no saudvel (Rashi Beracht 28b nfase minha).

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    Nossos sbios ensinaram: Aqueles que se ocupam com a Bblia Hebraica, no possuem mrito [algum. Aqueles, porm, que se ocupam] com a Mishn [so dignos de] mrito; [sim,] eles sero recompensados por isso. [Agora, se tu te ocupares com a] Guemar [i.e. com o Talmud], no haver para ti nada mais recompensador do que isso (b. Bab Metsi 33a).

    . - , ".

    No possuem mrito [isso significa] que a Mishn e a Guemar so mais apropriadas do que ela [i.e. do que a Bblia Hebraica], porquanto dependem do ensino oral e da memorizao [de quem as estuda] (Rashi Bab Metsi 33a).

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    E para aquele que sai e vem, no h paz [Zacarias 8:10]. Disse Rav: Isso nos ensina que, se um homem deixar o estudo da Halach [i.e. as leis estipuladas pelos Sbios] e, depois, retornar ao estudo da Bblia Hebraica, no haver paz para tal homem (b. Chaguig 10a).

    Visto que a Halach [i.e. os decretos Rabnicos] detm a autoridade final para determinar a conduta [de um judeu] (Nota n 5 da Soncino Edition para b. Chaguig 10a).

  • 28 Leia, Israel!

    A Tor Oral, na qualidade de Halach, redime a Tor Escrita das prises de seu teor generalizado, humanizando-a. A Tor Escrita anseia pela redeno que a Tor Oral tem a lhe oferecer.45

    Deus, Israel e o Livro

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    Disse Rab Yochann: O Santssimo, bendito seja, s estabeleceu a sua aliana com Israel por meio da Tor Oral (b. Guitn 60b).

    Mais uma vez, a tradio Talmdica insiste em contradizer, descaradamente, as palavras do prprio Deus. J vimos, nos tpicos anteriores, que a aliana estabelecida entre o Eterno e os filhos de Israel se deu por intermdio de um livro e isso nunca foi um mistrio; nem para os Sbios nem para ns, humildes descendentes de Abraho:46

    Somente s muito forte e corajoso, para teres o cuidado de fazer conforme toda a Tor que Meu servo Moiss te ordenou; no te desvies dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que ajas prudentemente, por onde quer que andares. No se afaste da tua boca este livro da Tor, e nele medita dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele est escrito, pois assim sers bem-sucedido em teus caminhos, e ento prosperars (Josu 1:7-8; BH nfase e comentrio meus).

    E [Moiss] tomou o livro da aliana e leu aos ouvidos do povo, e disseram: Faremos e ouviremos tudo que o Eterno falou [ou seja, aquilo que foi escrito no livro da aliana]! (xodo 24:7; BH nfase e comentrio meus).

    E quando [algum rei israelita] se sentar sobre o trono de seu reino, escrever para si duas cpias desta Tor num livro, diante dos sacerdotes-levitas, e o ter consigo, e nele ler [i.e. no livro da Tor] todos os dias da sua vida, para que [por meio dele] aprenda

    45 BERKOVITS, Rabbi Eliezer. Essential Essays on Judaism, 2002.46 Como algum poderia negar que as Tbuas do Testemunho no foram escritas (cf. x 31:18)?

  • 29A Tor Oral

    a temer ao Eterno, seu Deus, para guardar todas as palavras desta Tor e estes estatutos, para cumpri-los (Deuteronmio 17:18-19; BH nfase e comentrio meus).

    Se no guardares para cumprir todas as palavras desta Tor, escritas neste livro para temeres este Nome glorioso e temvel, o Eterno, teu Deus [...] (Deuteronmio 28:58; BH nfase minha).

    Por mais confrontante e dolorosa que seja a verdade, no podemos simplesmente ignor-la. O convite do Eterno, reiterado em cada pgina das Escrituras e, lamentavelmente, abafado pelos rabinos , sempre foi claro e direto ao ponto: Se quisermos tem-lo da maneira correta, se quisermos cumprir os mandamentos da Tor, se quisermos ser prsperos e bem-sucedidos, agindo sempre com prudncia e integridade, se quisermos aprender sobre a verdadeira natureza do Messias ento, No se afaste da tua boca este livro da Tor [e no o Talmud], e nele medita dia e noite [e no somente no Shabat], para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele est escrito [...] e nele ler todos os dias da sua vida, para que [por meio dele, e no do Talmud] aprenda a temer ao Eterno, seu Deus (Js. 1:8; Dt. 17:19; BH nfase e comentrio meus).

    Para concluir o nosso estudo sobre a Tor Oral e sua autoridade, deix-los-ei com algumas frases do ilustre acadmico Michael L. Brown, Ph.D.:47

    I. As Escrituras indicam, claramente, que a aliana de Deus com Israel foi estabelecida com base na Palavra escrita e nada alm da Palavra escrita.

    II. No existe nenhuma referncia Tor Oral, explcita ou implcita, dentro da Tor Escrita.

    III. Alm de no haver evidncias de uma Tor Oral normativa no decorrer da histria bblica, encontramos, s vezes, exemplos de completa ignorncia em relao Tor Escrita.

    IV. Ao contrrio do que muitas tradies Rabnicas afirmam, Moiss no recebeu todos os detalhes da Lei Oral no Monte Sinai.

    V. Em algumas ocasies, os escritos Rabnicos infringem ou distorcem, integralmente, o sentido puro e literal das Escrituras, deixando-nos

    47 BROWN, Michael L. Answering Jewish objections to Jesus: traditional Jewish objections. 1 ed. So Francisco: Purple Pomegranate, 2009. 4-84 p.

  • 30 Leia, Israel!

    evidente que tal literatura no pode representar uma tradio vlida que remonte aos dias de Moiss.

    VI. A Tor Oral possui grandes lacunas, de suma importncia, em sua compreenso acerca da Palavra escrita, visto que grande parte de suas tradies s passaram a existir sculos depois de a Bblia Hebraica ter sido escrita.

    VII. O fato de que as tradies Rabnicas tiveram de ser escritas, a partir de 200 E.C., prova-nos que no havia como existir uma antiga tradio oral, transmitida por Moiss aos rabinos estamos falando de um perodo de aproximadamente mil e quinhentos anos , sem que tal tradio tivesse sido escrita.

    Pedro Rensi,Pssach 5774 / 2014

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