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A SUPERVISÃO EDUCACIONAL COMO OBJETO DE ESTUDO
HERNANDES, Elianeth Dias Kanthack1 - FFC/UNESP
FLAUZINO, Nayara Galceron de Araújo2 - FFC/UNESP
HONDA, Jacqueline Lima3- FFC/UNESP
Grupo de Trabalho – Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo Este trabalho investigativo parte do pressuposto que para consolidar um perfil para os profissionais da educação é preciso um investimento das instâncias decisórias dos sistemas de ensino na definição dos parâmetros de seleção e provimento de cargos para essas funções. Nessa direção, este trabalho faz parte de uma pesquisa maior que pretende explicitar e analisar o contexto em que foram propostos os perfis profissionais dos supervisores de ensino da rede pública de São Paulo, bem como, de acompanhar as políticas educacionais que foram implementadas a partir das últimas propostas implementadas por esse órgão normatizador, no sentido de viabilizar a ação supervisora com o novo formato proposto. A pesquisa de forma geral tem também a intenção de identificar as concepções de gestão, de supervisão e de escola estruturaram as propostas e que ações decorreram desta propositura no sentido de instrumentalizar esses gestores na consolidação deste perfil profissional. Com os dados já coletados é possível afirmar que a produção de conhecimento na área da supervisão educacional não está sendo contemplada na definição do perfil desse profissional. Essa constatação tem origem no fato de que a bibliografia que rege o último concurso de provas e títulos para o cargo de supervisão de ensino do Estado de São Paulo, em 2008, não contempla textos que abordem as especificidades da supervisão educacional. Resta saber se essa bibliografia omissa é fruto da ausência de pesquisa na área ou é uma intenção assumida de ignorar a produção publicada sobre o tema. Nessa direção, este trabalho, em sua próxima etapa tem a intenção de realizar o levantamento, junto às editoras comerciais e universitárias, de títulos publicados (livros) em primeira edição no período compreendido entre os anos 2000 e 2010, que contemplaram, como tema central, os estudos sobre a supervisão educacional.
1 Doutora em Educação pelo PPG em Educação da FFC/Marília - Professora do Departamento de Supervisão e Administração Escolar da FFC/UNESP – Marília. Pesquisadora membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Administração Escolar (Cepae).- [email protected] 2 Graduanda do Curso de Pedagogia da FFC/Marília - Pesquisadora membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Administração Escolar (Cepae).- [email protected] 3 Graduanda do Curso de Pedagogia da FFC/Marília - Pesquisadora membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Administração Escolar (Cepae).- [email protected]
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Palavras-chave: Política Educacional. Supervisão Educacional. Perfil profissional do Supervisor de Ensino.
Introdução
O perfil necessário para os educadores que atuam na Educação Básica é um tema que
ganhou relevância nas últimas décadas, não só por estar presente nos muitos espaços onde
este nível de ensino é articulado e discutido, mas também por frequentar de maneira
recorrente, tanto os discursos de candidatos e políticos, como as páginas de jornais, periódicos
e demais órgãos de imprensa.
Numa conclusão aligeirada, pode-se pensar que apesar da amplitude alcançada, este
tema constituição e consolidação do perfil de educadores aparentemente não é polêmico
porque consegue aproximar esses diferentes segmentos quando abordam a importância de
qualificar e valorizar os responsáveis pela educação básica. Todos concluem pela necessidade
de melhorar a qualidade da atuação desses profissionais como condição coadjuvante e
fundamental para a melhoria do ensino oferecido nas escolas de educação básica. Contra esta
constatação nenhuma voz tem ousado se levantar. No entanto, esta unanimidade esconde uma
gama imensa de contradições, em um campo ambíguo de palavras e conceitos que partem de
atores diferentes, com finalidades muitas vezes opostas.
Analisar todos esses discursos para melhor compreender as suas raízes e suas gêneses
não parece tarefa para um único trabalho investigativo. Por isso, este trabalho parte de um
recorte fazendo a opção por compreender as concepções e conceitos que sustentam a
propositura de políticas públicas na área de definição do perfil requerido para os gestores que
atuam como supervisores de ensino na rede pública estadual de São Paulo, a partir da análise
da bibliografia que orienta a escolha do perfil desse profissional, determinada pelos órgãos
decisórios daquele sistema de ensino.
Silva Junior (1984, p. 13) caracteriza a supervisão da educação como um tema
“fundamentalmente político” e “capaz de contribuir para a obtenção de resultados da ação
escolar condizente com os interesses e as necessidades das camadas dominadas da
população”. Ao encontro desta afirmação sentiu-se a necessidade de realizar a presente
pesquisa, que está em andamento, com o objetivo específico de investigação e análise
documental da bibliografia de dois concursos: o primeiro realizado no ano de 2008 para
provimento do cargo de supervisor educacional da Secretaria da Educação do Estado de São
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Paulo e o segundo realizado conforme a Resolução SE-90, de 03/12/2009, com vistas à
promoção de supervisores de ensino, de que trata a Lei Complementar nº 1.097/2009.
Como parte de um projeto maior, cujo objetivo é o levantamento junto às editoras
comerciais e universitárias, de títulos publicados (livros) em primeira edição no período
compreendido entre os anos 2000 e 2010, que contemplaram, como tema central, os estudos
sobre a supervisão educacional como objeto central de estudo, tem como pressuposto de que
as referências bibliográficas cobradas para este concurso não contemplam a especificidade
deste especialista sendo, portanto necessário entender se essa bibliografia omissa é fruto da
ausência de pesquisa na área ou é uma intenção assumida de ignorar a produção publicada
sobre o tema.
A Supervisão Educacional: historicidade e conceitos
A relevância da proposta de realização dessa pesquisa se fundamenta inicialmente no
fato de que a função supervisora acompanha, de forma natural, a história da existência
humana, como já descreveu tão bem o educador Saviani (1999). O estudo histórico da figura e
do perfil do supervisor de ensino perpassa pela necessidade cultural, econômica e política da
sociedade, iniciando-se singelamente no “comunismo primitivo” em que a sociedade era
caracterizada pelo modo de produção de existência. Sem a divisão de classes, a educação
coincidia com a vivência dos indivíduos em uma ação espontânea, desta maneira a função
supervisora é entendida como orientação e apoio.
Este quadro se modificará a partir da sociedade antiga, em que ocorre a divisão de
classes e com a necessidade primordial do trabalho, a função supervisora coincidirá com este
processo e passará a ser entendida como uma função de vigiar e controlar.
Saviani (1999) afirma a caracterização do esboço da “ideia” de supervisão à
organização da educação de forma institucionalizada. Especificada no Ratio Studiorum, sendo
distinguida das demais funções educativas, professor e reitor, com determinada ação também
exclusiva, denominado no documento Prefeito dos Estudos. Com a expulsão dos jesuítas pela
Reforma Pombalina, a ideia de supervisão caracteriza-se pelos aspectos de inspeção,
fiscalização, coordenação, direção e orientação de ensino, pela figura do Diretor Geral dos
Estudos e de Comissários.
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Na década de 20 há, portanto, o surgimento dos “profissionais da educação”, os
“técnicos” em escolarização, dos quais constituem uma nova categoria de profissional em
conjunto com a criação da Associação Brasileira de Educação, em 1924 (OLIVEIRA e
SILVA, 2000). Devido esta criação, os chamados “técnicos em educação” receberam
“vigoroso estímulo”. Com a promulgação do decreto de 1925 há a criação de órgãos nacionais
específicos para a organização dos assuntos educacionais.
Com essa nova reformulação entende-se a necessidade da separação dos setores
técnico-pedagógicos dos setores especificamente administrativos:
Ora, a separação entre a “parte administrativa” e a “parte técnica” é condição para o surgimento da figura do supervisor como distinta do diretor e também do inspetor. Com efeito, na divisão do trabalho nas escolas [...], cabe ao diretor a “parte administrativa”, ficando o supervisor com a “parte técnica” [...]. E é quando se quer emprestar à figura do inspetor um papel predominantemente de orientação pedagógica e de estímulo à competência técnica, em lugar da fiscalização para detectar falhas e aplicar punições, que esse profissional passa a ser chamado de supervisor. É este o caso do Estado de São Paulo, onde se reserva o nome de supervisor ao agente educativo que desempenha as funções antes atribuídas ao inspetor, denominando-se coordenador pedagógico ao supervisor que atua nas unidades escolares. (SAVIANI, 1999, p. 28-29).
Até os anos 60 o técnico em educação era reconhecido como “pedagogo generalista”,
este cenário mudará com a publicação do parecer nº 252/69 já no período militar do qual
buscou novas reformulações da educação através das reformas de ensino, reestruturando,
organizando em formas de habilitações ”centradas nas áreas técnicas, individualizadas por
função, a saber: administração, inspeção, supervisão e orientação” (p. 29). Desta forma
emerge a tentativa mais radical de se profissionalizar a função de supervisor educacional e
que ainda a sua identidade profissional continua em questão.
Ao passo desta breve descrição histórica para contextualização, destacamos as
contribuições dadas pelo texto de Gomes (2005) quando o autor aborda os paradigmas
educacionais, comparando-os de forma figurativa com os epiciclos criados pelos gregos, a fim
de ir adequando o conhecimento científico já existente, às novas descobertas sobre a
movimentação dos corpos celestes, sem, todavia, modificar esse conhecimento em sua
essência. Com essa intenção, Gomes (2005) trabalha com cinco figuras do supervisor de
ensino, contextualizando-as história e politicamente: o Inspetor Supervisor, o Orientador
Pedagógico, Supervisor Esclarecido, Supervisor Dialógico e o Supervisor Reflexivo, com a
finalidade de problematizar e instigar o leitor sobre os seguintes questionamentos: Qual
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dessas figuras de supervisor contribui para acrescentar epiciclos na educação? Qual delas
contribui para a invenção da escola que queremos?
Para dar início a esse trabalho investigativo, optou-se pela análise da bibliografia dos
concursos públicos para provimento de cargos e promoção de Supervisores de Ensino, da
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, realizados em 2008 e 2009, tendo como
pressuposto que os dados coletados das cinco figuras dos supervisores destacadas por Gomes
(2005), identificam-se, ainda que parcialmente, com algumas características do perfil cobrado
pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, com referência na citada bibliografia.
Para refletir sobre as aproximações e distanciamentos entre o perfil proposto na
bibliografia que orientou a realização dos concursos para supervisor de ensino (2008 e 2009)
e as figuras de supervisão já vivenciadas ou idealizadas e registradas por Gomes (2005) como
identificadoras desse profissional, em diferentes momentos da história da educação brasileira,
é importante destacar cada uma delas, registrando o que as distingue das demais.
Para esse autor, a figura do Supervisor Inspetor sedimenta a indissociabilidade entre
educação e autoridade, de tal maneira que parece impossível educar sem subjugar, ensinar
sem controlar e, não se vê diferença entre supervisionar e inspecionar.
Ao discorrer sobre o Supervisor Orientador, o mesmo autor registra que esse
profissional existiu como integrante da equipe de direção dos Ginásios Vocacionais, e em seu
cotidiano orientava, avaliava e controlava continuamente a equipe docente, tendo em vista os
objetivos a serem alcançados. Ainda sobre esse período da supervisão, Silva Júnior (1984, p.
55) alerta que “a consciência política ainda não se fizera notar na grande maioria dos
professores, diretores e orientadores envolvidos na experiência de renovação”.
Já o Supervisor Esclarecido, que é fruto do tecnicismo assumido oficialmente no
Brasil durante o período de vigência da ditadura militar, é identificado no texto de Gomes
(2005) como um especialista em educação, cuja responsabilidade principal é a de
aperfeiçoamento e desenvolvimento técnico, tendo como fator de bom desempenho de sua
função: “a motivação, liderança e comunicação” (p. 169), e complementa afirmando que:
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Trata-se, para o supervisor, de conceber a escola como uma organização complexa, cujo pessoal deve estar motivado para a realização dos objetivos organizacionais, cabendo-lhes conhecer quais são os aspectos motivacionais que incidem sobre o pessoal. Para isso, necessita recorrer à fundamentação teórica proporcionada pelos estudos sobre o comportamento humano nas empresas (...) enfim o supervisor esclarecido é um técnico em educação que, ao saber pedagógico, acresce o saber das ciências humanas-sobretudo a psicologia e a administração de pessoas- para supervisionar, ou seja, criar condições para que o pessoal da escola se aperfeiçoe na docência e na administração. (p. 171).
Na mesma época e o contexto político do Supervisor Esclarecido, mas na direção
oposta do que se propunha para esse profissional, passa a ser desejável a constituição de um
Supervisor Dialógico, tendo como base o ideário de Freire (1970), que propunha a busca da
conscientização que propiciaria a educação libertadora. Para os teóricos que defendiam esses
pressupostos, o supervisor com esse perfil auxiliaria na crítica social da escola como
subsistema que reproduz a sociedade de classes e, por isso mesmo, poderia ajudar a superá-la.
A quinta e última figura apresentada por Gomes (2005) identifica o Supervisor
Reflexivo, que tem como principal função intervir na formação contínua dos professores da
escola para que, tornando a própria ação educativa como fonte de formação, converta-se em
um educador reflexivo. O Supervisor Reflexivo tem como referencial teórico a epistemologia
da prática de Donald Schön (2000), que pressupõe a reflexão na ação, a reflexão sobre a ação
e a reflexão sobre a reflexão-na-ação.
O perfil que a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo buscava para os
supervisores de ensino que atuariam em sua rede foi definido no documento oficial intitulado
Instruções Especiais SE - 3, de 11-4-2008, que normatiza o provimento do cargo da seguinte
forma:
A Secretária de Estado da Educação, nos termos do artigo 23 do Decreto 52.833/08, consoante autorização governamental exarada no Processo nº 1129/0100/2007 - DRHU/SE, publicada no DOE de 24/11/2007, expede e torna públicas as Instruções Especiais que regerão o Concurso Público de Prova e Títulos, para provimento de 372 (trezentos e setenta e dois) cargos, e outros que vierem a surgir no decorrer do prazo de validade do concurso de Supervisor de Ensino - SQC-II-QM, da classe de Suporte Pedagógico do Quadro do Magistério da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, por nomeação, a ser realizado em nível de Estado, por empresa regularmente contratada para este fim. Estas Instruções Especiais foram devidamente aprovadas pela Unidade Central de Recursos Humanos da Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo, conforme disposto no inciso III do artigo 39 do Decreto nº 51.463, de 01 de janeiro de 2007.
Esse documento legal traz, na descrição que faz das atribuições gerais e especificas da
área de atuação, bem como na das competências e habilidades necessárias para o profissional
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Supervisor de Ensino, a priorização do caráter burocrático, ocupando espaços que deveriam
ser dedicados aos aspectos pedagógicos e políticos. É preciso explicitar o entendimento
assumido pelas pesquisadoras que a visão política da função supervisora propiciaria a esse
profissional a possibilidade de se constituir em propositor de políticas públicas e não mero
executor de programas alheios. A opção pelo caráter burocrático presente nas Instruções
Especiais SE nº 3, fica evidenciado quando registra entre as atribuições do supervisor de
ensino:
1- Analisar os indicadores educacionais das unidades escolares e da Diretoria de Ensino buscando alternativas para a solução dos problemas específicos de cada nível/etapa e modalidade de ensino, propostas para melhoria do processo ensino/aprendizagem e da gestão das escolas e Diretoria.
2- Participar da construção e implementação do plano de trabalho da Diretoria de Ensino.
3- Compatibilizar os programas e projetos das diferentes áreas no âmbito das escolas da Diretoria de Ensino.
4- Efetuar regularmente visitas às unidades escolares e participar de reuniões com os membros da Equipe Escolar, buscando, em parceria com os mesmos, as formas mais adequadas de aprimoramento do trabalho escolar e a consolidação da identidade escolar.
5- Identificar as necessidades de formação continuada da Equipe Escolar das escolas estaduais, procurando, de forma articulada, subsidiar o trabalho desenvolvido pela oficina pedagógica e professores - coordenadores.
6- Manter as unidades escolares devidamente informadas sobre as diretrizes e orientações dos órgãos centrais da Secretaria da Educação.
7- Acompanhar e subsidiar o diretor da escola na identificação das necessidades gerais da escola.
8- Acompanhar o funcionamento das escolas verificando a observância das normas legais pertinentes. (grifo nosso) (SÃO PAULO, 2008. DOE de 12/04/2008 p. 27);
Fica clara a opção pelo perfil apenas de implementador de políticas públicas definidas
fora de seu campo de atuação, quando é solicitado do supervisor de ensino que ele mantenha
as unidades escolares devidamente informadas sobre as diretrizes e orientações dos órgãos
centrais da Secretaria da Educação. Se a ele basta informar o que outros decidiram
representa que o supervisor está desobrigado de ser propositor de políticas públicas na sua
área de atuação.
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Como este trabalho de pesquisa está vinculado a um projeto maior que pretende
realizar o levantamento, junto às editoras comerciais e universitárias, de títulos publicados
(livros) em primeira edição no período compreendido entre os anos 2000 e 2010, que
contemplaram, como tema central, os estudos sobre a supervisão educacional como objeto
central de estudo, essa primeira etapa de investigação será precedida de outra que priorizará a
análise do conjunto da produção e identificação da trajetória do conhecimento construído na
área da supervisão educacional.
Como já foi anunciado, este trabalho de pesquisa parte do pressuposto que os estudos
sobre a supervisão, a partir de 2000, ou perdem em importância nas pesquisas realizadas na
área educacional, ou são ignoradas na definição do perfil desse profissional. Levando em
consideração que este questionamento tem origem no fato das bibliografias que regem o
último concurso de provas e títulos para o cargo de supervisão de ensino do Estado de São
Paulo, realizado em 2008, e o de promoção na carreira, realizado em 2009, não terem
contemplado textos resultantes de pesquisas que contemplem as especificidades da supervisão
educacional. Resta saber se essas bibliografias omissas são fruto da ausência de pesquisa na
área ou é uma intenção assumida de ignorar a produção publicada sobre o tema.
Outro ponto a ser destacado nesta reflexão é que ao observarmos as obras contidas nas
bibliografias que constam como referência para esses concursos públicos contemplam as áreas
de gestão, avaliação, currículo, legislação, prática docente, inclusão e política educacional e
apenas uma obra explicita em seu título e conteúdo a centralidade do estudo da Supervisão
Educacional. É preciso ressaltar que nem mesmo as obras de referência publicadas nos anos
80 e 90, (ALVES, 1984; SILVA Júnior, 1984, 1990. 1998; FERREIRA, 1999 e 2001;
GOMES, 2005; RANGEL, 1999, 2008), antes, portanto da veiculação do edital do concurso,
não foram solicitadas como necessárias à formação do profissional supervisor.
Na busca de um entendimento mais aprofundado sobre as bibliografias privilegiadas
pelas Instruções Especiais SE - 3, de 11-4-2008 e pela Resolução SE-90, de 03/12/2009,
foram realizadas as análises dos títulos e das resenhas das obras e isso permitiu uma primeira
classificação sobre os temas abordados em cada uma delas, conforme o Gráfico 1 e o Gráfico
2, em que estão registrados os resultados destas primeiras análises, realizadas pelas
pesquisadoras envolvidas no projeto de pesquisa.
Fonte: www.cremariocovas.sp.gov.br
Fonte: www.cremariocovas.sp.gov.br
Após a análise dos dados já coletados nesta pesquisa inicial, muitas questões são
colocadas para que se possa pensar sobre as políticas que têm sido adotadas para a definição
do perfil e da identidade do profissional supervisor na rede pública de São Paulo. No es
desse trabalho é possível questionar, por exemplo, por que em duas bibliografias usadas para
concursos que têm como objetivo a avaliação dos conhecimentos do mesmo profissional, são
utilizados títulos e autores tão diferente
títulos relacionados na bibliografia do concurso de ingresso na carreira, de 2008, e dos vinte e
oito títulos existentes na bibliografia do concurso de promoção de 2009, apenas três vezes
aparecem os mesmos autores (ALARCÃO, ZABALA
dois títulos se repetem (SACRISTÁN, J. G.; GOMES, A. I. P. Com
ensino (2000) e ZABALA, com o título:
proposta para o currículo escolar
prioriza toda a obra, já no segundo concurso são solicitados apenas os três primeiros
capítulos.
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GRÁFICO II : BIBLIOGRAFIA DO CONCURSO DE PROMOÇÃO DE SUPERVISORES DE ENSINO DA SEE/SP, CONFORME
www.cremariocovas.sp.gov.br
www.cremariocovas.sp.gov.br
análise dos dados já coletados nesta pesquisa inicial, muitas questões são
colocadas para que se possa pensar sobre as políticas que têm sido adotadas para a definição
do perfil e da identidade do profissional supervisor na rede pública de São Paulo. No es
desse trabalho é possível questionar, por exemplo, por que em duas bibliografias usadas para
concursos que têm como objetivo a avaliação dos conhecimentos do mesmo profissional, são
utilizados títulos e autores tão diferentes? É de causar estranhamento que, dos trinta e nove
títulos relacionados na bibliografia do concurso de ingresso na carreira, de 2008, e dos vinte e
oito títulos existentes na bibliografia do concurso de promoção de 2009, apenas três vezes
aparecem os mesmos autores (ALARCÃO, ZABALA; SACRISTÁN e GOMES) e somente
dois títulos se repetem (SACRISTÁN, J. G.; GOMES, A. I. P. Compreender e transformar o
com o título: Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma
proposta para o currículo escolar (2002). No texto de Zabala (2002), o primeiro concurso
prioriza toda a obra, já no segundo concurso são solicitados apenas os três primeiros
GRÁFICO II : BIBLIOGRAFIA DO CONCURSO DE PROMOÇÃO DE SUPERVISORES DE ENSINO DA SEE/SP, CONFORME
RESOLUÇÃO SE-90, de 03/12/2009.
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análise dos dados já coletados nesta pesquisa inicial, muitas questões são
colocadas para que se possa pensar sobre as políticas que têm sido adotadas para a definição
do perfil e da identidade do profissional supervisor na rede pública de São Paulo. No espaço
desse trabalho é possível questionar, por exemplo, por que em duas bibliografias usadas para
concursos que têm como objetivo a avaliação dos conhecimentos do mesmo profissional, são
o que, dos trinta e nove
títulos relacionados na bibliografia do concurso de ingresso na carreira, de 2008, e dos vinte e
oito títulos existentes na bibliografia do concurso de promoção de 2009, apenas três vezes
; SACRISTÁN e GOMES) e somente
preender e transformar o
Enfoque globalizador e pensamento complexo: uma
e Zabala (2002), o primeiro concurso
prioriza toda a obra, já no segundo concurso são solicitados apenas os três primeiros
GRÁFICO II : BIBLIOGRAFIA DO CONCURSO DE PROMOÇÃO DE
TÍTULOS
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Sobre os problemas causados por essa indefinição a respeito dos saberes necessários à
ação supervisora, Saviani (1999, p. 31) já alertava:
Entretanto a um outro e fundamental requisito, pressuposto dos dois acima referido, para se caracterizar uma atividade como profissão. Trata-se de uma identidade própria, isto é, um conjunto de características exclusivas delas e que as distinguem das demais atividades profissionais.
Como garantir as condições para a constituição da identidade profissional do
supervisor de ensino nessa indefinição de requisitos teóricos (que deveriam ser a referência
para o exercício dessa função), propiciado por essas duas bibliografias, tão dispares, propostas
em um intervalo de tempo de apenas um ano? Por que no primeiro concurso é solicitado do
supervisor que ele conheça dezessete títulos referentes à prática pedagógica e formação
docente, enquanto que no segundo, apenas um título desse conteúdo é requisitado como
conhecimento específico para os supervisores de ensino?
O que causa maior estranhamento, além de todos esses que já foram elencados, é o
fato de que apenas um título, referente à supervisão educacional aparece em todas as
referências constantes nas duas bibliografias, e isso apenas na que é direcionada ao segundo
concurso. É necessário esclarecer aqui que esse texto, de autoria da educadora Alarcão (2008)
trata de princípios e prática da supervisão escolar no formato em que ela acontece em seu país
de origem (Portugal), sendo equivalente a função que no Estado de São Paulo é exercida pelo
Professor Coordenador, ou seja, realizada no interior das escolas, o que não corresponde, em
absoluto, ao supervisor de ensino paulista, uma vez que esse profissional realiza uma
supervisão de sistema e é lotado nos órgãos regionais da SEE/SP.
Ao trazer novamente à memória as cinco figuras de supervisor ‘desenhadas’ por
GOMES (2005), e tentar esboçar uma relação entre elas e o que está proposto nas duas
bibliografias, objetos de estudo nesta investigação, poderíamos afirmar, de forma preliminar,
que a amplitude de textos selecionados pode indicar a intenção de garantir a figura do
supervisor esclarecido, mas numa análise mais cuidadosa, foi possível concluir que a
amplitude é muito mais indicativa de indefinição do que se pretende desse educador, o seu
empregador maior -, a SEE/SP – e não uma direção segura da figura do supervisor pretendido
e desejado.
Nas obras de referência sobre a supervisão de ensino que são desconsideradas nas
bibliografias citadas, a identidade e o perfil do supervisor são reconhecidos como em processo
de construção, e as características de sua função vêm sendo anunciada como função política,
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portanto, “a função do supervisor é uma função precipuamente política e não principalmente
técnica” [...] “mesmo quando a função do supervisor se apresenta sob a roupagem da técnica
ela esta cumprindo, basicamente, um papel político”. (SAVIANI, 1979, p. 106 apud
SAVIANI, 1999, p. 32).
O exercício dessa função precipuamente política exige uma definição do que se
pretende do profissional supervisor, para além dos casuísmos de referenciais desconectados,
que ao invés de auxiliarem nesta definição, prejudicam sobremaneira a consolidação da
competência técnica e do fazer crítico e consciente e, por isso mesmo, politizado do
supervisor de ensino.
.Considerações finais
Os dados coletados e já registrados no corpo do texto anunciam que aos
questionamentos que deram origem a esse trabalho muitas outras questões se agregam no
desenvolvimento dessa pesquisa, a cada nova etapa concluída.
Ao analisar de forma comparativa as duas bibliografias que orientam a elaboração dos
concursos para supervisores de ensino (ingresso, em 2008 e promoção, em 2009) foi possível
verificar que não existe nelas um mínimo da coerência desejável para que fosse possível
encaminhar uma proposta de definição do perfil para o profissional que exerce a função
supervisora, na rede pública estadual de São Paulo. No sentido contrário, das figuras
anunciadas por GOMES (2005), como possibilidades de identificar um supervisor de ensino
que seja compatível com as demandas de uma educação escolar coerente com a dialogicidade
e o caráter reflexivo do processo educativo, nenhuma delas está contemplada no referencial
bibliográfico proposto.
Nos limites deste trabalho de pesquisa e diante dos dados descritos e analisados, fica
evidenciado que a finalidade de realizar o levantamento, junto às editoras comerciais e
universitárias, de títulos publicados (livros) em primeira edição no período compreendido
entre os anos 2000 e 2010, que contemplaram, como tema central, os estudos sobre a
supervisão educacional como objeto de estudo é urgente e oportuna. Após levantamento, essa
primeira etapa, já realizada, pretende-se formular uma análise cuidadosa do conjunto da
produção e identificação da trajetória do conhecimento construído sobre a supervisão
educacional, no Brasil. Esse trabalho de pesquisa tem como pressuposto que os estudos sobre
a supervisão, a partir de 2000, estão sendo sistematicamente ignoradas na definição do perfil
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desse profissional. Esse questionamento teve origem no fato de que a bibliografia que rege os
últimos concursos de provas e títulos para o cargo e para a promoção de supervisores de
ensino do Estado de São Paulo, realizados em 2008 e 2009, não contemplam textos que sejam
resultados de pesquisas que estudem as especificidades da supervisão educacional.
Pelo que foi possível observar nos procedimentos investigativos realizados, é possível
concluir que essa bibliografia omissa é fruto de uma intenção assumida pelos propositores de
políticas educacionais, de ignorar a produção publicada sobre o tema. Com esse estudo, o que
se pretendeu foi contribuir, ainda que singelamente, com a organização e sistematização do
conhecimento sobre a Supervisão Educacional no Brasil.
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