a sÍria como palco de embate entre grandes potÊncias
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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
JULIA VALERIEVNA ILIINÁ
A SÍRIA COMO PALCO DE EMBATE ENTRE GRANDES POTÊNCIAS:
ESTADOS UNIDOS E RÚSSIA NO CONFLITO DA SÍRIA
Florianópolis
2017
JULIA VALERIEVNA ILIINÁ
A SÍRIA COMO PALCO DE EMBATE ENTRE GRANDES POTÊNCIAS:
ESTADOS UNIDOS E RÚSSIA NO CONFLITO DA SÍRIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Relações Internacionais da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Neumann
Coorientador: Prof. Ms. Luciano Daudt da Rocha
Florianópolis
2017
À memória de meu querido pai, Valeri
Mikhailovitch Iliine, por toda dedicação,
valores e carinho. Gratidão eterna.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Natalia Mikhailovna Kourilenko e Valeri
Mikhailovitch Iliine, por me incentivarem a estar em uma constante busca de conhecimento
na área acadêmica e profissional que escolhi seguir, por me inspirarem a buscar maior
conhecimento de minhas origens russas, pelo investimento financeiro e afetivo, e por me
encorajarem a sempre seguir meus sonhos.
Agradeço aos meus colegas pela troca de conhecimento ao longo desta jornada da minha vida.
Em especial, agradeço aos verdadeiros amigos pela convivência, ajuda, e parceria que levarei
para além da universidade.
Agradeço meus amigos e pessoas queridas pela cumplicidade, em especial meu companheiro
Maicon, pela compreensão e carinho.
Finalmente, um agradecimento especial ao meu orientador Ricardo e coorientador Luciano
que me acompanharam na elaboração desta pesquisa, bem como ao professor Baltazar que
aceitou meu convite para fazer parte da minha banca, e aos demais professores que abriram os
horizontes do conhecimento ao longo destes 4 anos de faculdade, despertando meu interesse
pela apaixonante e instigante área das Relações Internacionais.
RESUMO
O presente trabalho traz como tema principal a relação dos Estados Unidos e da Rússia no
conflito da Síria. Para abordar tal assunto, é preciso primeiramente entender a história de cada
potência, desde a Rússia czarista e a Independência dos Estados Unidos, passando pela Guerra
Fria, até o presente século XXI. Posteriormente, compreender o conflito da Síria e sua origem,
assim como o papel exercido pelos EUA e pela Rússia no conflito e suas desavenças. Por fim,
é interessante analisar o posicionamento da mídia internacional nesse ambiente hostil. Esse
trabalho contou com uma pesquisa pura, objetivos explicativos, sua abordagem foi qualitativa,
e os procedimentos foram bibliográficos e documentais. Como resultado, foi possível
identificar as desavenças e principalmente as semelhanças dos dois países, mostrando seus
poderes e influencias sobre o mundo todo, com foco no cenário do conflito sírio e com a
perspectiva da mídia internacional.
Palavras-chave: Estados Unidos. Rússia. Síria. Conflito. Mídia.
ABSTRACT
This undergraduate thesis approaches the United States and Russian relations in the Syrian
conflict. In order to discuss this subject, we must understand the history of both of these
potencies, from Tsarist Russia and the independence of the United States, through the Cold
War, to the present twenty-first century. Later, we understand the Syrian conflict and its
origin, as well as the role played by the US and Russia and their disagreements. Finally, it is
interesting to analyze the position of the international media in this hostile scenario. This
research had a pure research, explanatory objectives, the approach was qualitative and the
procedures were bibliographical and documentary. As a result, it was possible to identify the
disagreements and mainly the similarities of the two countries. Showing their powers and
influences overall world, focusing on the scenario of the Syrian conflict and the perspective of
the international media.
Keywords: United States. Brazil. Syria. Conflict. Media.
РЕЗЮМЕ
Главная тема моей работы - это отношение Соединенных Штатов Америки (США) и
России к конфликту в Сирии. Для того, чтобы раскрыть эту тему, необходимо знать
историю обеих стран со времён царской России и независимости США, холодной
войны между ними и до сегодняшних дней, и лишь потом объяснить причину
конфликта в Сирии и разницу взглядов обеих стран на этот конфликт и
проанализировать позиции средств массовой информации (СМИ). Моя работа - это
чистое исследование, которое было библиографическим и документальным. В
результате моей работы возможно идентифицировать разницу отношения как США,
так и России к конфликту в Сирии, а также их одинаковое отношение к некоторрым
вопросам, показав мощь и влияние обеих стран во всем Мире.
Ключевые слова: Соединённые Штаты Америки. Россия. Сирия. Конфликт. Средства
Массовой Информации (СМИ).
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 11
2 ESTADO, PODER E SEGURANÇA NO SISTEMA INTERNACIONAL ................ 16
2.1 O ESTADO E SEU PROTAGONISMO NO SISTEMA INTERNACIONAL ............... 16
2.1.1 Potências e superpotências mundiais......................................................................... 17
2.2 IMPÉRIO ......................................................................................................................... 19
2.3 HEGEMONIA ................................................................................................................. 21
2.4 A GUERRA ..................................................................................................................... 22
2.5 DEBATES ACERCA DA SEGURANÇA INTERNACIONAL .................................... 23
2.5.1 Balança de poder ......................................................................................................... 23
2.5.2 Segurança internacional ............................................................................................. 25
3 ORDEM MUNDIAL: CONFLITO, GUERRA E PAZ ................................................. 26
3.1 RÚSSIA X UNIÃO SOVIÉTICA ................................................................................... 26
3.1.1 Rússia czarista: O autoritarismo ............................................................................... 27
3.1.2 Revolução Russa e a ordem mundial ......................................................................... 29
3.1.3 Pós Revolução Russa: Um novo governo .................................................................. 31
3.2 ESTADOS UNIDOS ....................................................................................................... 33
3.2.1 As Treze Colônias dos EUA........................................................................................ 33
3.2.2 A independência dos Estados Unidos e sua identidade nacional ............................ 35
3.2.3 A Nova Nação .............................................................................................................. 37
3.2.4 Século XX: O Século Americano................................................................................ 39
3.3 GUERRA FRIA: DO CONFLITO BIPOLAR À ÚNICA SUPERPOTÊNCIA
MUNDIAL ............................................................................................................................... 43
3.4 O SISTEMA INTERNACIONAL PÓS GUERRA FRIA ............................................... 47
4 O CONFLITO DA SÍRIA E AS INTERVENÇÕES DE RÚSSIA E ESTADOS
UNIDOS ................................................................................................................................... 51
4.1 BREVE INTRODUÇÃO AO ORIENTE MÉDIO E AS RELAÇÕES COM RÚSSIA E
ESTADOS UNIDOS ................................................................................................................ 52
4.2 DA FORMAÇÃO DO ESTADO DA SÍRIA A GUERRA CIVIL ................................. 53
4.2.1 Relações do Ocidente e do Oriente a partir da formação do Estado da Síria ....... 53
4.2.2 Pós independência ....................................................................................................... 54
4.3 O CONFLITO DA SÍRIA E AS INTERVENÇÕES INTERNACIONAIS DE
ESTADOS UNIDOS E RÚSSIA ............................................................................................. 55
4.3.1 A Primavera Árabe ..................................................................................................... 55
4.3.2 A Guerra Civil da Síria e as intervenções russas e norte-americanas.................... 56
5 O PAPEL DA MÍDIA INTERNACIONAL NO CONFLITO DA SÍRIA ................... 61
5.1 A MÍDIA INTERNACIONAL E SEU PAPEL EXERCIDO SOBRE AS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS ................................................................................................................ 61
5.2 A INFLUÊNCIA DA IMPRENSA RUSSA E NORTE-AMERICANA NA POLÍTICA
INTERNACIONAL COM FOCO NO CONFLITO DA SÍRIA .............................................. 63
6 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 66
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 69
11
1 INTRODUÇÃO
A Guerra Fria compreende um período de 1945 até o enfrentamento dos Estados
Unidos e da União Soviética em 1990. A Segunda Guerra Mundial foi o ápice que criou as
condições de um conflito entre as grandes potências, conflitos esses que resultaram em quatro
décadas que chamamos de Guerra Fria. (MCMAHON, 2012).
Os Estados Unidos e a União Soviética foram os maiores beneficiados pós Segunda
Guerra. O povo dos EUA porque sofreram poucas perdas humanas e destruição material, e
usufruíram de uma economia mundialmente dominante. Já os soviéticos, dispuseram de uma
notoriedade diplomática e militar, derrotaram a Alemanha nazista, e tiveram seus interesses
reconhecidos em relação a influência às suas fronteiras europeias. (VIZENTINI, 2004).
Para o autor Demétrio Magnoli (1988), os conflitos entre as duas superpotências
decorreram da criação de alguns planos para obter ajuda de aliados. Como exemplo, o autor
Paulo Fagundes Vizentini (2004) usa os Estados Unidos, os quais criaram o Plano Marshall
em 1948, que “concedia aos governos europeus empréstimos a juros baixos, para que eles
adquirissem mercadorias dos EUA. ” Em contrapartida, a URSS em 1949, criou o Conselho
para Assistência Econômica Mútua (COMECOM), “integrando os planos de desenvolvimento
e lançando as bases de um mercado comum dos países socialistas, em uma clara resposta ao
Plano Marshall. ”
Avançado alguns meses, já em abril de 1949, foi criada a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), com o objetivo de garantir a liberdade e a segurança de seus
membros1 através de poder da política militar. Como resposta, em 1955, os soviéticos criaram
o Pacto de Varsóvia, formado por Estados comunistas europeus2. (PEREIRA; ALENCAR,
2004).
Já em 1980, o republicano Ronald Reagan foi eleito, ele era visto como o homem que
seria capaz de recolocar os EUA em pé. A Era Reagan instituiu a Nova Guerra Fria, isto é, os
Estados Unidos desencadearam uma corrida armamentista estratégica com superioridade em
relação à URSS e abalaram a economia soviética. (VIZENTINI, 2004).
Já a partir de 1990 o cenário foi marcado pelas mudanças no leste europeu, pela
dissolução do COMECON e do Pacto de Varsóvia, pelos acordos de desarmamento nuclear,
1 Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, República Federal da Alemanha e Turquia.
2Albânia, Bulgária, Checoslováquia, Hungria, Polónia, República Democrática Alemã, Romênia e União Soviética
12
pelas políticas de remodelação da OTAN e pela perda do poder do Partido Comunista, com o
objetivo de tirar Gorbachev do poder. (XAVIER, 2010).
Por fim, no ano de 1991, Boris Yeltsin, o primeiro presidente da Rússia, sucessora da
União Soviética, assinou o acordo de Minsk proclamando o fim da União Soviética e da
constituição da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). A autora Fernanda Ollé
Xavier (2010) conclui que, o único país então a persistir no cenário internacional como uma
superpotência, foram os Estados Unidos. Desta maneira, na visão do autor Robert J.
McMahon (2012), a União Soviética e o socialismo não representavam mais uma ameaça aos
Estados Unidos e aos seus aliados.
Entretanto, nas últimas décadas, desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos e a
Rússia vêm passando por uma trajetória conturbada, da cooperação ao conflito. O primeiro
momento foi na presidência de Boris Yeltsin, que optou por adotar uma política externa pró-
ocidental de cooperação com os EUA. (MAZAT; SERRANO, 2012).
Continuando os seus pensamentos, Numa Mazat e Franklin Serrano (2012, p. 3)
complementam que: “A chegada de Vladimir Putin ao poder, em conjunto com a recuperação
econômica levou ao abandono da estratégia de “colaboração” e a uma tentativa de
recuperação do poder do Estado russo e consolidação de seu papel de potência regional ao
longo dos anos 2000. ” Esses são fatores que reascenderam as tensões nas relações de Rússia
e Estados Unidos, estes, que ainda buscam enfraquecer o poder russo.
Essa tentativa de recuperação do poder russo é observada por Kissinger (2015), no
momento que observa que a política da Rússia, desde o czarismo até a Era Putin, manteve-se
fiel a um ritmo próprio, expandindo seu domínio e desempenhando um papel único no cenário
internacional. Bem como os Estados Unidos que continuam mantendo sua hegemonia, que
também mantiveram um só ritmo durante séculos, como Perry Anderson (2015) retrata em
seu livro, afirmando que mesmo que os Estados Unidos se tornaram Império apenas em 1945,
os norte-americanos estão hoje, onde sempre estiveram, recorrendo ao altruísmo e ao
sentimento imperial.
A relação desses dois países, mesmo com o fim da Guerra Fria, continuou hostil, visto
que os dois ansiavam por mais poder e se preocupavam com a ameaça um ao outro. Alguns
episódios podem afirmar isto. As denúncias de espionagem, denúncias de crime de guerra,
problemas regionais com Ucrânia e Coréia do Norte são alguns exemplos. (MARCUS, 2016).
O conflito na Síria por exemplo, é um dos episódios, se não o maior, a ser considerado
um dos piores momentos da relação EUA e Rússia desde a Guerra Fria. A situação da Síria
antes da guerra era o descontentamento da população em relação ao governo repressor e
13
corrupto de Bashar al-Assad, através de protestos (inspirados pela Primavera Árabe) que
exigiam a saída do mesmo. A resposta do governo foi brutal e violenta. O conflito se
transformou em uma batalha entre apoiadores de Assad e os que eram contra ele. A rebelião
foi se intensificando, com a participação de radicais, jihadistas e o envolvimento de potências
mundiais, esse é um dos motivos da guerra durar tanto tempo. (BBC, 2016).
As duas potências envolvidas no conflito sírio estão em lados opostos. Bashar al-
Assad, tem o apoio dos russos para permanecer no poder, pois além da Síria ser um cliente da
indústria armamentista da Rússia, a única base militar russa no Oriente Médio se localiza em
Tartus. Também tem a questão da Rússia ser cristã ortodoxa e de Assad proteger os cristãos
ortodoxos sírios. O temor pelo radicalismo islâmico sunita, e o desejo de fortalecer sua
imagem global, são outras motivações significativas. Já os Estados Unidos, por mais que
concordem que o ISIS deve ser eliminado, são contra Assad, culpam ele pela maior parte das
brutalidades do conflito e exigem a sua saída do poder. (CHACRA, 2015).
O presidente dos Estados Unidos eleito em 2016, Donald Trump, vem apresentando
uma política recente. Durante anos, os EUA rejeitaram qualquer ataque a Assad. Entretanto,
na primeira semana de abril de 2017 os Estados Unidos lançaram um ataque-surpresa contra a
Síria, atingindo a base aérea de Shayrat, no Norte, através de mísseis Tomahawk. Esse ataque
foi uma resposta ao bombardeio com armas químicas do dia 4 de abril, contra a população
civil em Khan Sheikhun, em que Trump acusa o governo de Bashar al-Assad pelo ataque
químico. Isso implicou diretamente na relação com a Rússia, visto que Moscou negou o
envolvimento de Assad no ataque, e afirma que qualquer ação no território sírio terá a sua
presença. (AHRENS, 2017).
A imprensa brasileira retrata o conflito sírio com equívoco, afirma Claude Fahd
Hajjar, pesquisadora de temas árabes. A imprensa oferece ao telespectador brasileiro o que as
agências de notícias transmitem, e se tratando da imprensa do Ocidente, ela é guiada por uma
versão inconsistente dos Estados Unidos e da OTAN, desinformando o cidadão brasileiro.
(VOZ DA RÚSSIA, 2012).
Em comunicado em conjunto, relatores da ONU, comunicaram que a desinformação
pode acabar com reputações e privacidade, incentiva a violência, e discrimina certos grupos
da sociedade. As notícias falsas, a desinformação e a propaganda são assuntos de preocupação
global. A ONU comentou que: “O comunicado afirma que as notícias falsas são divulgadas
por governos, empresas ou indivíduos e o objetivo é, entre outros, “enganar a população e
interferir no direito do público em ter conhecimento do assunto”.” (ONU, 2017).
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Diante deste cenário, a pergunta que direcionará este trabalho é: “De que maneira o
conflito sírio reflete a oposição histórica dos Estados Unidos e da Rússia no sistema
internacional, e como isso tem sido abordado pela imprensa internacional? ”.
Sendo assim, o objetivo geral do trabalho é analisar de que maneira o conflito sírio
reflete a oposição histórica dos Estados Unidos e da Rússia no sistema internacional e
entender como isso tem sido abordado pela imprensa internacional. Já os objetivos específicos
são: estudar a importância dos Estados Unidos e da Rússia na balança de poder ao longo das
ordens internacionais de Viena, da Guerra Fria e do pós-Guerra Fria; entender a origem do
conflito na Síria e o que está acontecendo no país; e apresentar as divergências entre os países
no conflito sírio, percebendo a abordagem da imprensa em alguns acontecimentos da Síria.
Este trabalho justifica-se primeiramente pela curiosidade da pesquisadora em se
aprofundar na questão da Rússia e dos Estados Unidos, por serem países que se envolveu
durante a vida toda, devido a sua segunda cidadania, a russa. Considera importante estudar a
economia, a política, a cultura e a geografia dos mesmos, por serem potências que
influenciaram e continuam influenciando a história e o modo de vida de muitas gerações. O
estudo abrangendo a Síria deve-se ao fato do interesse de entender as relações entre norte-
americanos e russos nos dias atuais. O objetivo da autora é apresentar aos demais estudiosos a
sua visão sobre a relação complicada destes Estados.
Além disso, o tema é de suma importância para área de Relações Internacionais, visto
que é estudado dois dos principais atores no sistema internacional, compreendendo um
período histórico desde as ordens internacionais de Viena e da Guerra Fria, assim como
também envolve um conflito atual na área internacional, sendo tal muito abordado nas mídias
do mundo todo.
Os Estados Unidos e a Rússia, na balança de poder, são países que influenciam direta
e indiretamente o mundo. Os conflitos na Síria tiveram início em 2011, transformaram-se em
guerra civil e resultaram em milhares de mortos e refugiados. O presidente da Síria, Bashar Al
Assad, chegou a dizer para um jornal russo, “Komsomolskaya Pravda", que o conflito sírio
resulta das divergências entre os Estados Unidos e a Rússia. (ESTADÃO
INTERNACIONAL, 2012).
Tendo em vista esses acontecimentos, é clara a política dos países de garantir suas
áreas de influência e de poder, os dois exercem papel importante no campo das Relações
Internacionais. Além disso, existe uma preocupação da população mundial, reforçada pela
mídia, em relação à segurança internacional, pela história dos dois atores e pelo cenário atual
de incertezas.
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Para o desenvolvimento deste trabalho, foram utilizados procedimentos metodológicos
para estrutura-lo. A pesquisa é caracterizada como pura, pois busca o progresso da ciência, e
procura adquirir o conhecimento sem a preocupação de utilizá-la em prática, de maneira
formalizada e objetivando a generalização. (GIL, 2008).
Já os objetivos caracterizam-se como explicativos, pois é o tipo de pesquisa que busca
determinar os fatores que contribuem para a ocorrência dos casos, explicando as razões e o
porquê de tudo. (GIL, 2008).
Em relação à abordagem, classifica-se como qualitativa, que segundo a autora:
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes [...] (MINAYO, 2001).
Por fim, os procedimentos usados para a coleta de dados da presente pesquisa foram:
bibliográfico e documental. Bibliográfica por ser uma pesquisa feita com o auxílio de
materiais já elaborados, como livros históricos, web sites e artigos científicos. Áreas como
história, política e economia foram abordadas, e para isso, foram utilizados autores renomados
para tratar de conceitos importantes da área das Relações Internacionais. Gil (2008), comenta
que tratar de estudos históricas, a pesquisa bibliográfica torna-se fundamental para a mesma,
pois não há outra maneira de estudar fatos passados sem dados secundários.
Já em relação à pesquisa documental, o autor comenta:
Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (GIL, 2008).
Para a realização desse procedimento documental foram utilizados periódicos,
publicações por meios eletrônicos, as quais na visão de Tânia Regina Luca (2005), são fontes
que contribuem para o conhecimento histórico, porém não se pode construir esse
conhecimento apenas através destas fontes, mas sim, buscar mais fontes acerca do tema
estudado para termos uma concepção mais próxima da realidade e do que de fato aconteceu.
O primeiro capítulo desta pesquisa, trata do referencial teórico, e de conceitos
essenciais para o entendimento do tema. O segundo, o terceiro e o quarto capítulo abordam os
fundamentos de cada objetivo traçado. Já a sequência do trabalho apresenta a conclusão e as
referências usadas na pesquisa.
16
2 ESTADO, PODER E SEGURANÇA NO SISTEMA INTERNACIONAL
Neste capítulo, apresentam-se as bases teóricas necessárias para o entendimento do
contexto histórico da pesquisa, tratando de conceitos, tais como, o Estado, Império e
hegemonia, a guerra, os debates de segurança internacional e balança de poder. Todos estes
incorporados no sistema internacional.
O sistema internacional conhecido, vem da teoria geral dos sistemas (SGT), a qual foi
criada na década de 50 no século XX. São identificadas na teoria, unidades resultantes de
complexas interações entre as partes que se relacionam. De acordo com o autor Dias (2010, p.
46), “o sistema internacional está constituído por um conjunto de atores, cujas relações geram
uma configuração de poder (estrutura) dentro da qual se produz uma rede complexa de
interações (processos) de acordo com determinadas regras. ”
Já Pecequilo (2004, p. 37), define o sistema internacional como “um conjunto de
relações entre atores, colocados em um meio específico, com um certo grau de
interdependência entre si e submetidos a um certo modo de regulação. ”
O sistema internacional é conceituado tanto na área das teorias das Relações
internacionais, quanto na história das relações internacionais, e desta maneira, os estudiosos,
historiadores e cientistas políticos usam o conceito de sistema internacional para possibilitar
um pensamento sistemático das relações internacionais de qualquer época. (SILVA E
GONÇALVES, 2010).
2.1 O ESTADO E SEU PROTAGONISMO NO SISTEMA INTERNACIONAL
Não é possível saber quando exatamente ocorreu a formação do Estado moderno,
apenas que sua origem é antiga.
Segundo os autores Guilherme A. Silva e Williams Gonçalves (2010), diversos
historiadores e juristas acreditam que foi com o Tratado de Vestfália, que pôs fim à Guerra
dos Trinta Anos entre os Estados europeus.
Cristina Pecequilo (2004) concorda com os autores citados acima, ao afirmar que o
Estado é um ator estatal, o qual surgiu no século XVII com a assinatura do Tratado de
Vestfália em 1648, e que dessa forma foi estabelecida a soberania de cada Estado em
determinado território, garantindo a estes, plena autonomia de ação e decisão.
Em relação as autoridades, a autora comenta que o poder político de cada Estado
durante a Idade Média era de influência dos senhores feudais e da Igreja. Conforme a
economia e a política foram evoluindo, novas formas de organização foram estabelecidas, e
17
com o passar do tempo, o poder da Igreja foi enfraquecendo, dando ao homem maior destaque
que Deus. Além das mudanças no poder político, novas atividades econômicas, políticas e
diplomáticas entre os Estados foram determinando seus funcionamentos. (PECEQUILO,
2004).
Já em relação aos aspectos materiais, os Estados se caracterizam de três maneiras:
Território, população e governo. O território é o espaço geográfico delimitado por fronteiras
reconhecidas por outros Estados, espaço no qual ele possui soberania sem interferência de
qualquer outro Estado. A população é determinada pelos habitantes do Estado, caracterizada
por uma identidade comum, pela política, cultura e linguística. Já o governo é resultado das
autoridades do Estado que criam comandos políticos e administrações públicas, com formas
legais e legítimas. (PECEQUILO, 2004).
Além das características citadas acima, os Estados possuem alguns elementos básicos
que o definem como ator principal do sistema internacional, dentre eles, estão: possuir uma
população sob sua jurisdição, um cenário político e econômico, e um território bem definido.
O que os diferenciam um do outro, são algumas características de seus territórios, como a
estrutura da população, a etnia, a língua e cultura da população, os recursos e a tecnologia que
possuem, o poder armamentista e o nível de desenvolvimento e dependência, e etc. (DIAS,
2010).
Pecequilo (2004, p. 46) conclui com isso que: “Apesar de igualmente soberanos por
definição, os Estados possuirão diferentes perfis e objetivos e, principalmente, diferentes
graus de autonomia no sistema, dadas suas circunstâncias históricas e recursos de poder. ”
2.1.1 Potências e superpotências mundiais
Os Estados desempenham diferentes papéis e possuem diferenciadas influências no
sistema internacional. Para o andamento da pesquisa, são tratados os papeis diferentes de cada
Estado. (PECEQUILO, 2004).
Nas Relações Internacionais, como diz o autor Antônio José Fernandes (2001), o
poder é um instrumento político, diferente da força, palavra que tem sentido físico da
violência. Esse poder possui um poder relativo, ou seja, para saber o potencial de um Estado é
preciso analisar seus elementos, observar a extensão de seu território, sua população, os
recursos econômicos, o desenvolvimento tecnológico, a capacidade militar, e etc. Como cada
Estado possui características diferentes, alguns autores os classificaram em grandes potências,
potências médias e pequenas potências, enquanto outros autores classificam os estados em
superpotências, potências secundárias, médias potências, potências regionais, pequenas
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potências, Estados dependentes e Micro-Estados. Conforme os critérios adotados dos fatores
citados acima, são notadas hierarquias diferentes para cada Estado.
Pecequilo (2004) ainda comenta que além dos fatores citados, os Estados possuem
poderes significativos no sistema internacional, o chamado hard power (poder duro), este, que
engloba o tamanho, a geografia, a população, os recursos naturais e etc., e o soft and cooptive
power (poder brando), que engloba o conhecimento, a economia, a tecnologia, a cultura, entre
outros. Quem se aprofunda neste assunto, é o internacionalista norte-americano Joseph S. Nye
Jr. (2002), o qual explica que o poder duro se conecta com a dimensão econômica e militar,
ou seja, se dá através de coerção e intimidação, como exemplo militar, é possível citar as
guerras que ocorreram ao longo da história, e no âmbito econômico, o poder duro se dá
através de subornos e sanções. Enquanto o poder brando se dá através da persuasão e atração,
ou seja:
“Na política mundial, é possível que um país obtenha os resultados que quer porque os outros desejam acompanha-lo, admirando os seus valores, imitando-lhe o exemplo, aspirando ao seu nível de prosperidade e liberdade. Neste sentido é igualmente tão importante estabelecer a agenda na política mundial e atrair os outros quanto força-los a mudar mediante a ameaça ou o uso das armas militares ou econômicas. A este aspecto do poder – levar os outros a querer o que você quer -, dou o nome de poder brando. Ele coopta as pessoas, ao invés de coagi-las. ” (NYE, 2002, p. 36).
Já a partir do final do século XX, o economista Samuel P. Huntington (1999), analisa a
estrutura dos Estados no sistema internacional, afirmando que hoje há somente uma
superpotência, mas que isso não quer dizer que o mundo seja unipolar, ao contrário, o mundo
hoje se encaixa em um sistema unimultipolar, com uma única superpotência e com outras
potências essências. Ele ainda comenta que é imprescindível que haja uma superpotência para
a resolução das questões internacionais, mas que esta, precisa ter a colaboração de outros
importantes Estados, mesmo ela tendo o poder de vetar as ações sobre questões relevantes de
outros Estados.
De acordo com Huntington (1999) a estrutura do sistema internacional pode ser
ordenada em quatro níveis de poder. No primeiro nível, se encontra a superpotência Estados
Unidos, que predomina todo o poder. Em segundo, se encontram as principais potências
regionais (Rússia, União Europeia, China, Índia, Irã, Brasil, etc.), que são atores com grande
poderio no mundo, mas que não alcançam o nível de poder dos EUA. Em terceiro nível, estão
as potências regionais secundárias, ou seja, potências que tem uma influência em suas regiões,
menor do que as principais potências regionais têm. Por último, estão todos os demais
19
Estados, alguns importantes, mas que não representam tanta relevância se comparados aos
países dos níveis superiores citados a cima.
Para definir esse “ranking” de poder de cada Estado, Kenneth N. Waltz (2002) diz que
é preciso ficar atento em como pontuam em todos os itens: tamanho da população e território,
disponibilidade de recursos, capacidade econômica, força militar, estabilidade política e
competência.
Pecequilo (2004) justifica que a única superpotência de hoje são os Estados Unidos
pois eles detêm tanto do hard power, como do soft power. Porém, até o fim da Guerra Fria,
eles dividiam essa liderança com a União Soviética, constituindo assim um sistema bipolar. Já
quem exercia o poder da hegemonia em parte do sistema internacional antes era Portugal e
Espanha nos séculos XV e XVI, Holanda no século XVII e França no século XVIII, seguida
pela Grã-Bretanha, no século XIX, até 1945. No quadro abaixo, é possível reafirmar o que a
autora disse, e identificar os principais poderes de cada Estado em cada época.
Figura 1 – Quadro dos Estados líderes e Principais Recursos de Poder, 1500-1900
Fonte: Nye, 1990.
2.2 IMPÉRIO
Considerando que este trabalho trata de duas potências com um vasto poder, é
imprescindível o entendimento de Império, visto que diversos autores tratam os Estados
Unidos e Rússia como tal.
20
O conceito de império se baseia na manifestação de comandar, aliada ao direito
reconhecido pelos comandados, se contrapondo ao conceito de domínio, o qual é utilizado no
sentido de propriedade. (SEITENFUS, 2013).
Segundo Seitenfus (2013), foi o império que criou o processo de controle de um
determinado grupo sobre outro, pela força ou pela persuasão, constituindo normas
indispensáveis a sua consolidação.
Quem ficou conhecido por falar sobre o imperialismo no século XX, foi Vladimir
Ilyich Ulyanov, conhecido por Lenin, em sua obra “O imperialismo: fase superior do
capitalismo”. Na obra, destacou a natureza econômica do imperialismo, indicando que sua
base é o monopólio, como destaca em seu último capítulo que “o imperialismo é, pela sua
essência econômica, o capitalismo monopolista”. (LENIN, 1982).
Jean-Baptiste Duroselle (2000), é outro autor que estudou o império em sua obra
“Todo império perecerá”, nele, analisa o nascimento, vida e morte dos impérios. Ele enfatiza
que a base das relações internacionais é o poder, mais precisamente, a potência, já que o
sistema internacional é composto pela interação de diversos Estados com diferentes graus de
potencialidade. Afirma que alguns Estados com muita potencialidade se transformam em
grandes impérios, no quesito econômico, político e ideológico, e sustenta que todo poder se
desgasta, sustentando que “todo poder perecerá”.
Além disso, é visto no presente trabalho dois importantes Estados no sistema
internacional, Rússia e Estados Unidos. Este primeiro sendo visto por Henry Kissinger da
seguinte maneira:
“Rússia tem desempenhado um papel único no cenário internacional: toma parte do equilíbrio de poder tanto na Europa quanto na Ásia, porém contribui apenas de modo intermitente para o equilíbrio da ordem internacional. Deu início a mais guerras do que qualquer outra grande potência contemporânea, mas também impediu o domínio da Europa por um único poder, resistindo a Carlos XII da Suécia, Napoleão e Hitler quando elementos chave do equilíbrio de poder tinham sido derrotados. Sua política manteve-se fiel a um ritmo próprio ao longo dos séculos, expandindo seu domínio por uma massa territorial que se estende sobre quase todos os climas e civilizações, interrompida ocasionalmente durante algum tempo pela necessidade de ajustar sua estrutura doméstica à vastidão do seu empreendimento — apenas para voltar novamente, como uma maré atravessando uma praia. De Pedro, o Grande, a Vladimir Putin, as circunstâncias mudaram, mas o ritmo permaneceu extraordinariamente coerente. ” (KISSINGER, 2015, p. 55-56).
Sobre os Estados Unidos, Kissinger (2015) comenta que enquanto o mundo via a
potência como império, os norte-americanos não se chamavam assim, preferiam considerar
que estavam realizando o Destino Manifesto. Enquanto sob a visão de Anderson (2015), já
havia nos EUA um conjunto de condições singulares que favorecia a construção de um
21
sistema imperial. O poder imperial dos EUA cresceu de maneira quase contínua a partir de
sua independência e durante os séculos, XIX e XX. Poder esse que continua mantendo a
hegemonia mundial dos EUA até hoje, segundo Anderson.
2.3 HEGEMONIA
A palavra em si, hegemonia, vem do termo grego Hegemonía, que significa poder
absoluto, e seu conceito, portanto, está relacionado com a imposição da vontade através da
força armada. Nas relações internacionais, essa imposição de poder está relacionada ao Estado
e seus interesses através de elementos de influência, controle e liderança. (SILVA E
GONÇALVES, 2010).
Antonio Gramsci (1999), filosofo italiano, é conhecido como o “pai” da ideia da
hegemonia cultural, impondo uma direção moral, intelectual, política e cultural para a
hegemonia, ou seja, quando não há o uso da força. O autor acredita que há influências de
mecanismos sociais, como a mídia, educação, igreja, etc., e esses são componentes essenciais
ao se tratar de poder. Poder este, que Gramsci associa observando a influência das classes
sociais dominantes sobre as demais. Deste modo, seu entendimento sobre as formações
sociais era global.
Gramsci serviu de base para diversos estudiosos do campo das relações internacionais
se aprofundarem no assunto em questão, os quais são expostos ao longo da pesquisa. Como
por exemplo para John J. Mearsheimer (2007), um teórico conhecido por tratar do Realismo
ofensivo, o qual acredita que os Estados nunca estão satisfeitos com uma determinada
quantidade de poder, buscando maximiza-la constantemente. Para ele, os Estados sempre
desejam alcançar a hegemonia, pois acredita que a única maneira de garantir a sobrevivência é
se tornando a maior potência no sistema internacional.
Os autores Silva e Gonçalves (2010), argumentam que esse conceito de hegemonia
dentro do sistema internacional pode ser considerado injusto e uma ameaça para a segurança
da nação mais fraca.
O termo também está relacionado com a teoria da estabilidade hegemônica, esta,
sendo tratada no âmbito da integração internacional por autores como Robert Keohane,
Robert Gilpin, entre outros. A teoria consiste na relação da concentração de poder com o
eficaz funcionamento do regime internacional, constatando que uma nação hegemônica é
capaz de definir regras internacionais, distribuir os bens coletivos do sistema, e impor a
obediência. Porém, a teoria contesta o poder hegemônico a ser exercido pelas potências, uma
vez que ela tenderia a entrar em declínio por fatores militares e econômicos, pois os Estados
22
buscando um poder hegemônico disputam a primazia no sistema internacional. (SILVA E
GONÇALVES, 2010).
Giovanni Arrighi (1994), diferente de Gramsci (1999), já citado anteriormente,
relaciona o termo hegemonia com o termo dominação, e acredita que há uma diferença entre
os dois termos. A hegemonia se tratando de um poder pacífico, se refere a influência de uma
potência sobre as demais, mas com o consentimento dos mesmos para se manter no poder, e a
dominação se refere ao uso da força, sem precisar do consentimento dos demais atores.
Posto isto, o autor Ricardo Seitenfus (2013, p. 101), conclui que, “a hegemonia não
pode ser exercida somente por meios materiais, financeiros e tecnológicos. É imprescindível
que ela atue igualmente no campo dos valores, ou seja, no plano da ideologia.”
2.4 A GUERRA
Nas Relações Internacionais a guerra sempre foi muito discutida, principalmente ao
tratar de correntes teóricas, como o Liberalismo e o Realismo. Enquanto uma defendia a paz e
a cooperação duradoura, a outra acreditava apenas em períodos de paz abalados por
inevitáveis guerras entre os Estados, respectivamente. (RODRIGUES, 2008).
Thomas Hobbes (1999, cap. XIII) por exemplo, em sua obra clássica do realismo,
“Leviatã”, sustenta que “a guerra não consiste apenas na batalha, ou no ato de lutar, mas
naquele lapso de tempo durante o qual a vontade de travar batalha é suficientemente
conhecida. ”
Eric J. Hobsbawm (1988), em “A Era dos Impérios” acredita que essa é a situação
desde 1945, pois antes de 1914, a paz era comum e esperada na vida dos europeus. Acerca de
1987, quando o autor escrevia o livro, concluiu que “a maioria das pessoas deste continente,
com mais de sessenta anos, passou ao menos por uma parte de duas guerras no curso de suas
vidas”. Em sua outra obra, “Era dos Extremos”, afirma que os conflitos fazem parte já da vida
das pessoas.
A catástrofe humana desencadeada pela Segunda Guerra Mundial é quase certamente a maior na história humana. O aspecto não menos importante dessa catástrofe é que a humanidade aprendeu a viver num mundo em que a matança, a tortura e o exílio em massa se tornaram experiências do dia-a-dia que não mais notamos. (HOBSBAWM, p. 58, 1995).
Em se tratando das causas da guerra, Huntington em sua mais famosa obra “Choque
de Civilizações” (2010) escreve que ao longo de toda a história, as fontes dos conflitos em
nível global se devem das questões da política internacional, como a influência sobre os
23
acontecimentos mundiais e organizações internacionais, o poder militar, o poder econômico e
o bem-estar, as próprias pessoas, os valores e cultura, e o território. Porém enfatiza, que
quando o motivo são as diferenças culturais, o conflito tende a ser mais intenso.
Já Mearsheimer (2007), acredita que a causa mais impactante da guerra é a anarquia,
mas que não é a única. Ele reforça comentando que muitas teorias falam sobre isso, algumas
das teorias acreditam que a natureza humana é a raiz do conflito, e outras acreditam que os
líderes individuais são a raiz, ou então a política, o capitalismo, a economia, ou até a própria
estrutura do sistema internacional.
Outra determinante é a questão das potências e seus poderes, o autor Mearsheimer
(2007) destaca em sua obra que Kenneth Waltz, por exemplo, afirma que a bipolaridade é
menos propensa à guerra que a multipolaridade, já que há mais oportunidades para a guerra e
mais fácil haver desequilíbrios de poder em um sistema multipolar, enquanto Karl Deutsch
pensa ao contrário. Hans Morgenthau defende que a paz é mais fácil adquirida quando não há
uma potência dominante, e Robert Gilpin defende que a preponderância de uma potência gera
maior estabilidade.
Mearsheimer (2007), através de seus estudos e abrangendo as teorias e seus teóricos,
chegou à conclusão que a bipolaridade é o tipo mais pacífico e menos fatal, um exemplo é que
entre 1945 e 1990, único período da Europa bipolar, não houve guerra entre as grandes
potências. Já a multipolaridade desequilibrada é mais propensa a guerra, um exemplo é que
durante o momento em que existiu um estado hegemônico na Europa, ocorreram três guerras
centrais, uma guerra de grande potência contra outra grande potência e cinco guerras de
grande potência contra pequena.
2.5 DEBATES ACERCA DA SEGURANÇA INTERNACIONAL
Na sequência são estudados os debates acerca da segurança internacional, a qual está
diretamente ligada ao equilíbrio entre as nações na disputa de poder.
2.5.1 Balança de poder
A Teoria do Balanço de Poder, também conhecida como Equilíbrio de Poder, é um
mecanismo do realismo político que se encontra principalmente no cenário europeu dos
séculos XVII a XIX, ficando mais evidente a partir da organização do Congresso de Viena em
1815 até o início da Primeira Guerra Mundial em 1914. Este sistema foi considerado por
24
alguns autores como o responsável pelo surgimento do conflito, pois criou um ambiente
conturbado e gerou a competição entre os Estados. (PECEQUILO, 2004).
Kissinger por exemplo, acredita que a balança de poder foi um avanço em relação às
guerras, acreditava que todos deviam enxergar isso, mas na realidade cada sociedade possui
um diferente ponto de vista, portanto, o autor conclui que a balança devia ser constantemente
reequilibrada, já que ela provoca as guerras e suas extensões.
Ou seja, os Estados soberanos atuam no sistema internacional intencionados em
manterem suas independências e aumentarem seus poderes, tratando conflitos e guerras como
normais. A competição acaba virando uma luta pela sobrevivência, a qual é ameaçada tanto
pelo conflito, quanto pelo surgimento de um só poder dominante, fazendo com que os demais
Estados percam a sua liberdade. Portanto, o equilíbrio de poder não é só uma ferramenta para
a obtenção da paz, mas também para prevenir o surgimento de um poder único que domine os
demais. (PECEQUILO, 2004).
Tratando agora do conceito de balança de poder, o autor do livro “Teoria das Relações
Internacionais”, Waltz (2002) reconhece que não há uma premissa universalmente aceita
sobre a teoria da balança de poder (teoria relacionada diretamente ao termo equilíbrio de
poder), como o mesmo discorre:
“A balança de poder é vista por alguns como sendo parente de uma lei da natureza; por outros, simplesmente como uma afronta. Alguns veem-na como um guia para os estadistas; outros como uma capa que disfarça as suas políticas imperialistas. Alguns acreditam que uma balança de poder é a melhor garantia de segurança dos estados e da paz no mundo; outros, que arruinou estados ao causar a maioria das guerras que travaram. ” (WALTZ, 2002, p. 164).
De outro ponto de vista, Reinaldo Dias (2010), descreve o equilíbrio de poder como
um dos princípios que norteia a relação dos Estados, junto a soberania e a reciprocidade. Em
relação a soberania, significa que nenhum Estado se submete e nenhuma outra autoridade fora
do seu território. A reciprocidade existe pela boa vontade dos membros que priorizam o
mútuo reconhecimento em igualdade de condições. A soberania, portanto, cria os Estados,
enquanto a reciprocidade, forma o sistema de Estados. O equilíbrio de poder entra em cena
exatamente no cenário anárquico que existe entre o Estado e a forma do sistema de Estados,
pois é inevitável uma desigualdade de poder entre as nações.
O autor Dias (2010, p. 38) ainda complementa seu pensamento com a seguinte
afirmação: “Se esse equilíbrio se rompe, a soberania dos Estados será́ quebrada e o sistema de
Estados poderá́ mergulhar no caos. Assim sendo, os Estados na sociedade internacional
buscam o equilíbrio de poder com o propósito de evitar esta situação. ”
25
2.5.2 Segurança internacional
Segundo Reinaldo Dias (2010), a palavra segurança pode ter diversas interpretações,
pode ser tratada como segurança humana, segurança nacional, e a segurança internacional.
Focando no conceito aqui tratado, o autor observa que a segurança internacional vem
sofrendo significativas mudanças, tanto na teoria, quanto na prática, devido a nova dinâmica
global.
O termo segurança internacional é diretamente ligado a segurança nacional, segurança
coletiva e segurança global. A primeira é vinculada aos interesses nacionais de um Estado,
isto é, segurança nacional é a soma de todos os interesses de um Estado. Segurança coletiva, o
próprio nome já diz, é a busca de se alcançar objetivos em comum entre os Estados, que estão
associados aos interesses nacionais de cada um. Já a segurança global, prioriza as decisões
consensuais acima das unilaterais, na esperança de uma segurança comum e igual para todos
os Estados e indivíduos. (DIAS, 2010).
Ao se tratar do contexto histórico, o conceito de segurança durante a Guerra Fria
consistia no uso de forças militares e aumento de poder nuclear, sendo utilizado no âmbito
político. (DIAS, 2010).
Todavia, o autor Gunther Rudzit (2005) diz que o conceito de segurança foi
modificado com o fim da Guerra Fria, colocando a economia como condução principal de um
Estado e aumentando a complexidade do termo segurança, não mais direcionado a área
militar.
O autor Demétrio Magnoli (2009) complementa que o referencial para segurança
internacional tradicional é o Estado, porém no pós-Guerra Fria se amplia para a sociedade ou
indivíduo, alguns estudiosos cogitam também o referencial étnico e religioso.
Na teoria, a discussão em volta das Relações Internacionais se baseia em duas áreas,
no Realismo, e no Idealismo. A segurança também segue o caminho dos dois campos, pois os
realistas e os idealistas possuem visões diferentes sobre a segurança de determinado país,
segurança que se baseia nos conceitos de poder e paz. (RUDZIT, 2005).
Os idealistas acreditam que, “ao se reduzir as ameaças externas ao Estado, reduzem-se
as ameaças ao sistema internacional como um todo” (RUDZIT, 2005, p. 299), observando a
segurança como a consequência da paz, enquanto os realistas associam segurança com poder,
acreditando que a segurança seria alcançada através de um ator com poder suficiente para
manter a mesma.
26
Com o pós-Guerra Fria, a segurança internacional avançou além da área militar,
construindo uma segurança muito complexa, englobando os conflitos internacionais e
nacionais, diversas ameaças, tais como crimes, doenças, terrorismo, fatores econômicos e etc.
(RUDZIT, 2005).
Portanto, com o fim da Guerra Fria, houve uma nova maneira de conceituar a
segurança, motivado pelo surgimento de novos atores não estatais, pelo aumento de conflitos
dentro de Estados e pelos Estados Falidos3. (DIAS, 2010).
3 ORDEM MUNDIAL: CONFLITO, GUERRA E PAZ
Neste capítulo são abordados Estados Unidos e Rússia do século XVII até o século
XX, mostrando a história e as características de cada Estado e entendendo suas diferenças e
também semelhanças. Além de também apresentar os tratados que tentaram propor uma única
ordem universal para conseguir se atingir a paz.
Henry Kissinger é um dos autores que colabora para esta pesquisa com a sua obra
“Ordem Mundial” (2015), na qual temas como geopolítica, geoestratégia e convenções que
buscam manter a Paz mundial são discutidos, assuntos estes, que são diretamente relacionados
aos dois países analisados aqui.
Outros importantes autores aparecem no decorrer do texto, alguns tratam diretamente
da história de cada potência, outros colaboram com suas obras sobre o sistema internacional e
as Relações Internacionais. Os autores utilizados como referência são Angelo Segrillo,
Leandro Karnal, Daniel Aarão Reis, Perry Anderson, Eric Hobsbawn, John Mearsheimer,
Cristina Pecequilo, José Sombra Saraiva, e como já citado anteriormente, Henry Kissinger,
cada um contribuindo com a sua visão singular sobre cada episódio tratado ao longo do
capítulo.
3.1 RÚSSIA X UNIÃO SOVIÉTICA
Durante toda a história houve momentos de conflitos e de paz. No decorrer deste
capítulo busca-se entender a história da Rússia, desde a Rússia czarista, passando pela União
Soviética, até a Rússia do século XXI. As contribuições de leituras para essa seção, são dos
autores Angelo Segrillo, Henry Kissinger, Daniel Aarão, entre outros.
3 Conforme Dias (2010): “Os Estados falidos ou frágeis são nações que entraram em colapso, onde as instituições deixaram de funcionar na prática, de um modo geral o Legislativo e o Judiciário deixaram de existir e o Executivo não consegue exercer o controle sobre todo o território. ”
27
3.1.1 Rússia czarista: O autoritarismo
Após um século de disputas políticas e religiosas na Europa Central que resultou na
Guerra dos Trinta Anos de 1618 a 1648, houve a primeira tentativa de uma Ordem Mundial, a
Paz de Vestfália, que designa uma série de tratados, a qual pôs fim à guerra entre católicos e
não católicos, surgindo assim no sistema internacional uma noção de equilíbrio de poder. Foi
então determinado que cada Estado teria poder sobre seu território e teria liberdade em
escolher uma religião, dessa maneira, na teoria, os governantes teriam menos ambições e os
conflitos iriam diminuir. Esse acordo, porém, não teve influência na Rússia, visto que o país
tinha outros princípios, o de reconstruir sua ordem, ser um único soberano, ter um programa
de extensão territorial e ter sua religião ortodoxa unificada. Nesta época o ministro das
Relações Exteriores, Nashchokin, do czar Alexei, explicou que a política externa da Rússia
era baseada na expansão de seu território para todas as direções, uma política que
permaneceria dessa maneira até 1917. (KISSINGER, 2015).
No mapa a seguir é possível ver esse conceito de expansão durante o período da
Rússia Czarista.
Figura 2: Mapa da Expansão da Rússia
Fonte: Santos (2008).
Segundo o autor, a Rússia se comportava de duas maneiras,
28
“Quando forte, a Rússia se conduzia animada pela autoconfiança dominadora de quem detém um poder superior, insistindo em receber demonstrações de deferência em relação ao seu status. Quando fraca, mascarava sua vulnerabilidade com retórica ameaçadora sobre suas vastas reservas interiores de força. ” (KISINGER, 2015, p. 59).
Pedro I, conhecido como O Grande, foi o czar da Rússia de 1682 até a formação do
Império Russo em 1721, seguindo como Imperador até a sua morte. Um czar, era considerado
um “ícone vivo de Deus”, visto que os russos acreditavam em uma autoridade suprema. Pedro
I tinha como objetivo cortar os laços antigos dos povos e lhes ensinar como se comportavam
os europeus cristãos, buscando uma modernização ao estilo ocidental.
“A Rússia passaria a adotar estilos e cortes de cabelo ocidentais, buscaria os conhecimentos tecnológicos estrangeiros, construiria um exército e uma marinha modernos, definiria suas fronteiras por meio de guerras com quase todos os Estados vizinhos, abriria caminho rumo ao mar Báltico e ergueria uma nova capital, a cidade de São Petersburgo. ” (KISSINGER, 2015, p.).
Os pensamentos de Pedro I influenciaram Catarina II, A Grande, imperatriz da Rússia
em 1762 até 1796, a qual justificava a condução autoritária necessária para conseguir manter
em ordem um território tão grande como a Rússia. Ela acreditava que uma outra maneira de
governar seria incompetente. Ou seja, o que era visto como um sistema opressor pelo
Ocidente, pela Rússia era visto como um sistema fundamental.
Em 1789 é presenciado novamente um período de agitação na Europa, desta vez,
política e social, na França. Kissinger (2015, p. 60) ressalta que, “o conceito de uma ordem
internacional com limites estabelecidos para a ação do Estado foi posto por terra e substituído
por uma revolução permanente que conhecia apenas vitória ou derrota totais”, se referindo a
Revolução Francesa e as invasões napoleônicas.
Foi uma Rússia, expansiva e poderosa, que foi a ruína de Napoleão, (e mais tarde a de
Hitler). Com essa derrota de Napoleão, o Congresso de Viena vem para estabelecer
novamente a Paz, e o então czar, Alexandre I, considerado um governante com poderes
absolutos, entrou com um projeto radical, a Santa Aliança (Rússia, Prússia e Áustria), para
intervir em certas situações que fossem uma ameaça ao antigo regime, justificando que
estavam em uma busca por paz e justiça. Com a Santa Aliança, Alexandre I, pregava que não
existia mais uma política de cada país, mas sim uma comum, e para o benefício de todos,
todos os povos deveriam adotá-la. Ao falar disso, Kissinger compara essa política com a
americana, a de Wilson, uma visão de Ordem Mundial. A Santa Aliança teve um fim com a
Guerra da Criméia de 1853-56, época sob comando do tzar Nicolau I. Reino Unido, França,
29
Reino de Sardenha e o Império Otomano se reuniram para reagir as pretensões expansionistas
da Rússia, e a guerra terminou com o Tratado de Paris. (KISSINGER, 2015).
Com o fim da Guerra da Criméia, o novo czar Alexandre II notou que o país estava
atrasado, então decidiu focar no fim da servidão, mas os russos nem imaginavam viver sem
servos, até que um marco na história do país aconteceu, o Manifesto de Abolição da Servidão
de 1861. Além desta medida, o país passou por diversas reformas na economia após a Guerra
da Criméia, o que resultou em um maior desenvolvimento capitalista. Diferente da economia,
a política continuava a mesma, com o czar sendo a lei. O czar Alexandre II foi morto por um
grupo secreto que acreditava que o terrorismo era necessário, ideal oposto ao do czar.
(SEGRILLO, 2012).
Alexandre III, o czar sucessor de seu pai, Alexandre II, iniciou um período de
repressão, com maior censura, maior controle e maior reforço por parte do governo. Essa fase
só passou, pois, o czar sofreu de nefrite e faleceu. Era esperado melhorias de seu sucessor,
Nicolau II, porém ele se mostrou muito indeciso em suas ações e influenciável por outras
pessoas. (SEGRILLO, 2012).
3.1.2 Revolução Russa e a ordem mundial
Se por um lado a economia do país estava indo bem, a política continuava inerte ao
autoritarismo. O autor Angelo Segrillo (2012), acredita que além da política, outros fatores,
como a piora da economia nos anos entre 1900 e 1905, e também a Guerra russo-japonesa,
contribuíram para os protestos, greves e rebeliões. Essas greves, tiveram um ápice em 1905,
no Palácio de Inverno, no chamado Domingo Sangrento, em que Nicolau II enviou seus
homens para trucidar os milhares de manifestantes em um protesto com propósito pacífico,
estava ali começando a revolução de 1905.
Se até 1905 o czarismo era uma monarquia absolutista, após 1905 mudou para uma
monarquia constitucional, com uma constituição, com um parlamento (Duma), e com o
surgimento de alguns partidos. Além disso, como consequência do massacre do Domingo
Sangrento, surgiram os sovietes (organizações de trabalhadores russos). Dentre os partidos,
uma corrente inspirada no marxismo, deu início ao Partido Operário Social-Democrata Russo,
o qual nasceu dividido em duas alas, os bolcheviques (em russo, majoritários), e os
mencheviques (minoritários). Os bolcheviques, comandados por Vladimir Lenin, defendiam a
posição socialista direta, pois viam que em escala mundial, o capitalismo já estava
desenvolvido para uma mudança ao socialismo. Enquanto que os mencheviques, liderados por
Julius Martov, não achavam que o capitalismo estava maduro o suficiente para uma revolução
30
socialista. Outro grande teórico da revolução, foi Lev Davidovich Bronstein (conhecido como
Leon Trotsky), o qual em um momento ficou ao lado dos mencheviques e posteriormente dos
bolcheviques. (SEGRILLO, 2012).
Mesmo a Rússia em uma situação não tão favorável, Nicolau II jogou seu país em uma
guerra mundial. Kissinger (2015) ressalta que a Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
estourou, pois, os líderes dos países perderam o controle de seus planos, e então veio a guerra
para desestabilizar novamente a ordem mundial da Europa, e o Tratado de Versalhes foi um
acordo que veio para estabelecer a paz após o conflito. Em “Diplomacia” (2012), Kissinger
ainda comenta que a guerra tomou as proporções que tomou, por causa da irresponsabilidade
em relação a segurança na Europa, pois as nações aumentavam seus poderes armamentistas
sem moderação, o que fazia com que os demais países também aumentassem sua segurança
para se prepararem para possíveis futuros conflitos. Assim como a guerra desestabilizou a
Europa, Segrillo (2012) diz que a Rússia acabou se prejudicando mais ainda sua situação, pois
como consequência da guerra, houve uma crise alimentar, a economia foi afetada, tanto as
indústrias, quanto as exportações, e consequentemente as greves e rebeliões aumentaram.
Em uma manifestação de fevereiro de 1917, pelo Dia Internacional da Mulher em São
Petersburgo, ganhou força com o apoio dos soldados insatisfeitos com a guerra, e ao meio do
caos, ocorreu uma situação que ficou conhecida como duplo poder, pois estava se formando
um Governo Provisório (burguesia e a aristocracia organizando-se na Duma) de um lado, e de
outro lado os trabalhadores, soldados e camponeses organizando-se nos sovietes. Diante de tal
situação, em 2 de março, sob pressão, o czar abdicou, e oficialmente a monarquia do país
caiu. (SEGRILLO, 2012).
O governo provisório levava uma revolução democrática-burguesa, a censura acabou e
havia a liberdade da discussão política, e o soviete, inicialmente sob comando de Nikoloz
Chkheidze, e posteriormente de Trotsky, decidiu dar um voto de confiança ao governo
provisório, assim como os bolcheviques, os quais estavam sob comando de Josef
Vissariónovitch Stalin e Lev Borisovich Kamenev, já que Lenin estava no exterior. A dúvida
que ficou era, quem comandaria a Rússia? Ao longo do tempo, os bolcheviques foram
ganhando maioria dos votos do soviete, assim sendo, Lenin decidiu que era hora de voltar
para o comando, e em 25 de outubro o exército vermelho (como eram chamadas as formações
dos bolcheviques), ocuparam a cidade e o Palácio de Inverno (sede do governo provisório).
Assim, o novo governo de Lenin realizou seus primeiros decretos, o Decreto da Paz, por uma
paz imediata na guerra, que foi assinado o Tratado de Brest-Litovski, e o Decreto da Terra,
31
por uma reforma agrária para que as terras fossem distribuídas aos camponeses. (SEGRILLO,
2012).
Sobre a vitória dos bolcheviques, Mearsheimer (2007) comenta que lhes deu esperança
na época, crentes de que a política internacional iria se transformar de um dia para o outro,
acreditavam que haveria aumento das revoluções comunistas ao redor do mundo, que
motivariam o mundo a fora a pensar semelhante a seus ideais, e que finalmente, iriam
alcançar a paz.
3.1.3 Pós Revolução Russa: Um novo governo
Mesmo com esperança, o que houve na revolução de outubro, foi uma guerra civil que
durou três anos no país, entre o Exército Vermelho (os bolcheviques) e o Exército Branco (os
chamados antibolcheviques). O conflito piorou quando houve uma intervenção estrangeira,
em que 14 países (incluindo EUA, aqui já pode-se notar uma certa rivalidade com a Rússia),
enviaram tropas e recursos em favor do exército branco. Os bolcheviques se viram sozinhos
nessa batalha, então recorreram a alguns métodos, alguns violentos, para não ter seu poder
devastado. Lenin criou uma espécie de polícia secreta, a chamada “Cheka” (Comissão
Extraordinária para o Combate à Contrarrevolução e Sabotagem), os quais policiavam campos
de trabalho, já que o exército vermelho decidiu pela requisição forçada de grãos, ou seja, os
camponeses entregavam a colheita para o governo, mantendo apenas o mínimo para suas
famílias. Os camponeses preferiam isso do que ficar sob o comando dos brancos, que iriam
voltar ao antigo regime e reter suas terras. Portanto, o exército vermelho venceu a guerra civil
em 1921, pois tinha o apoio do povo. (SEGRILLO, 2012).
Em dezembro de 1922, em um congresso com os sovietes, ocorreu a fundação da
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), sob o comando do Partido Comunista
(bolcheviques). Com a economia quebrada pós-guerra civil, Mearsheimer (2007) comenta que
nos anos de 1920-1930 a Rússia deixou de lado o expansionismo, visto que era tempo de se
concentrar nos problemas internos. Segrillo (2012) continua contando em sua obra que Lenin
viu que não seria possível reerguer seu país somente com seus recursos, mas que precisaria
utilizar recursos do povo, assim ele propôs a chamada NEP (Nova Política Econômica), isto é,
manter a grande economia (bancos e industrias) para o governo e manter a pequena economia
(pequenas empresas e propriedades pequenas) para a iniciativa privada. Para a economia, a
NEP foi bem-sucedida, e os bolcheviques não a consideravam como um sistema capitalista,
afirmaram que “mercado” era diferente de “capitalismo”, mas a NEP acabou em 1928. O
maior problema era que por mais que o Estado controlasse as atividades, pela liberação dos
32
preços, muitas pessoas acabavam se aproveitando e aumentavam os preços dos produtos e
serviços, e como consequência surgiu uma grande desigualdade de renda, e elementos do
capitalismo começavam a aparecer. Em resposta ao desaparecimento da NEP, Stalin criou os
chamados Planos Quinquenais, planos econômicos voltados a produção industrial e agrícola
do país, e segundo o autor, graças a esses planos, as vésperas da Segunda Guerra Mundial, a
URSS tinha conseguido se tornar a segunda maior economia mundial.
Como mostrado acima, Stalin estava no poder da URSS, pois Lenin faleceu em janeiro
de 1924 e a disputa pelo poder ficou entre Stalin e Trotsky, enquanto um defendia que o
socialismo só seria possível no país, outro defendia que o socialismo devia ser implantado em
escala internacional, respectivamente. As propostas de Stalin mostraram-se melhores diante
da caótica condição interna russa, inclusive pela proposta dos planos quinquenais, e ele
acabou vitorioso nessa disputa. Trotsky então saiu de suas funções e posteriormente foi
assassinado no México, a mando de Stalin. Com esse tipo de atitudes, o período stalinista
(1924-1953) foi considerado o período de terror soviético, e a falta de democracia imperava
na URSS. (SEGRILLO, 2012).
Passados os tempos de terror das revoluções e da Primeira Guerra Mundial, o mundo
estava prestes a ver uma carnificina nunca visto antes, a Segunda Guerra Mundial (1939-
1945). Enquanto na primeira morreram cerca de 16,5 milhões de pessoas, na segunda, foram
cerca de 70 milhões, e a URSS foi o país que mais perdeu pessoas, sua vitória teve um custo
alto. (SEGRILLO, 2012).
A ordem mundial se desestabilizou com a chegada de Hitler, que desencadeou a
Segunda Guerra Mundial e deixou muitos países destruídos. No início da guerra, a URSS
assinou um pacto (Pacto Ribbentrop-Molotov) com a Alemanha nazista, de não agressão,
porém em 1941 os alemães invadiram o território da URSS (Operação Barbarossa), o que
resultou no episódio mais destrutivo para os soviéticos. Em síntese, segundo Hobsbawm
(1995, p. 164), “a Alemanha invadiu a URSS e trouxe os EUA para a guerra – em suma,
quando a luta contra o fascismo se transformou por fim numa guerra global –, a guerra
tornou-se tão política quanto militar. Internacionalmente, transformou-se numa aliança entre o
capitalismo dos EUA e o comunismo da União Soviética. ”
Além disso, houve também o episódio conhecido como a Batalha de Kursk, a maior
batalha de tanques da história. Entre 1941 e 1944, a Alemanha nazista fez um cerco militar à
cidade de Leningrado, em resposta houve a Operação Urano, com o objetivo de destruir as
forças alemãs. A Alemanha continuou invadindo territórios russos, mas já exaustos, e
acreditando fielmente que derrotariam a URSS, eles foram pegos de surpresa pelo inverno
33
russo e logo seus equipamentos, suprimentos de comida e de remédios não eram mais
suficientes. Foi a Batalha de Stalingrado que deu a virada na guerra, o exército vermelho
reagiu e em 1945 os soviéticos pisaram em solo alemão, em Berlim. Os alemães se renderam
em 8 de maio, após Hitler cometer suicídio, e a Rússia se consolidou como uma das potências
pós-Guerra. (SEGRILLO, 2012).
Por fim, Hobsbawm (1995) analisa a Revolução Russa como um dos acontecimentos
mais marcantes do século XX, para o autor, Lenin e os bolcheviques tinham como objetivo
estimular a Revolução Socialista mundial. Além disso, o autor acredita que estudar a
Revolução Russa é de suma importância, visto que ela salvou o capitalismo liberal, ajudou o
Ocidente a sair vitorioso da Segunda Guerra Mundial e incentivou a reforma do capitalismo.
3.2 ESTADOS UNIDOS
Nesta seção busca-se entender a história dos Estados Unidos, não somente a nível
temporal, espacial e político, mas como coloca Anderson (2015), observando a mesma como
a história da formação de um Império, visto que essa é uma nação que ao longo de toda a sua
história mostrou sua hegemonia e sua influência no mundo todo. Anderson (2015) confirma
isso, quando conclui que os EUA é uma elite autoconfiante, e que realiza o que quer, e não
ouve ninguém, além de possuir todas as respostas para todas as perguntas e ter um plano
governamental que resiste a qualquer oposição, seja ela interna, ou externa, com um plano de
governo mundial que resiste a todo tipo de oposição interna ou externa.
Autores como Perry Anderson, Henry Kissinger, Leandro Karnal, entre outros,
colaboram para a formação desta seção. São autores que buscam repassar a visão filantrópica
que os Estados Unidos vêm tendo, de colônia com maior potencial colonial da história a
potência imperial do mundo, mostrando que essa nação vem dispondo de uma hegemonia em
curso.
3.2.1 As Treze Colônias dos EUA
A colonização dos Estados Unidos aconteceu no século XVII. Antes de sua
independência, os EUA eram formados por treze colônias controladas pela Inglaterra. Havia
dois tipos de colônias, as do Norte (também chamadas de Nova Inglaterra), região colonizada
por europeus que buscavam escapar da perseguição religiosa, e tinham como características,
mão de obra livre, e economia baseada no comércio e mercado interno, e as do Sul (Virgínia,
Geórgia, Carolina do Sul e do Norte), que tinham como base a mão de obra escrava e
34
produção voltada à exportação. Outra parte da população da América do Norte eram os
indígenas e os negros, que sofreram com a vinda destes colonos. Pode-se dizer que as grandes
motivações para a vinda de colonos para a América do Norte, foram a procura de melhores
condições de vida. (KARNAL, 2012).
Abaixo pode-se ver o mapa das treze colônias em 1776. New Hampshire,
Massachusetts, Rhode Island e Connecticut ao Norte. New York, New Jersey, Pensylvania e
Delaware no centro. Ao Sul, ficam Maryland, Virginia, North Carolina, South Carolina e
Georgia.
Figura 3: Mapa das treze colônias.
Fonte: WorldAtlas (2016).
Como visto já anteriormente, o século XVII e XVIII foram seguidos por diversos
conflitos e guerras na Europa, mas também na América. Essa é uma das razões do início do
processo de independência das treze colônias. A primeira guerra foi a chamada Guerra do Rei
Guilherme (William), um conflito de reação da Inglaterra à política expansionista de Luís XV.
Por seguinte, houve a Guerra da Sucessão Espanhola (conhecida também como Guerra da
Rainha Ana), em que o rei Carlos II, da Espanha, faleceu e não tinha herdeiros, então ocorreu
uma disputa ao trono, e em relação aos EUA, houve um conflito entre os colonos envolvendo
disputas de territórios. Entre 1739 a 1742 ocorreu a Guerra de “Orelha de Jenkins”, e na
mesma época a Guerra do Rei Jorge. Logo após, ocorreu a Guerra Franco-Índia, que somado
a Guerra dos Sete Anos (esta, considerada a mais importante das guerras no século XVIII),
eliminaram o império francês na América do Norte, e assim conclui-se que os interesses da
Inglaterra não eram os mesmos que os dos colonos. (KARNAL, 2012). Thomas Paine,
político britânico, e um dos pais fundadores dos Estados Unidos da América, trata exatamente
35
dessa ideia em seu escrito (panfleto) “Senso Comum” (1979), ao justificar a necessidade de as
treze colônias americanas se emanciparem da Grã-Bretanha, dizendo que a Inglaterra fazia
parte do sistema europeu, já a América do seu próprio sistema, ou seja, seus interesses eram
opostos. Além disso, devido a todas essas guerras, ele acreditava que a Inglaterra poderia
levar à ruina o comércio na colônia. Portanto, nesse panfleto, Paine reivindicou a
Independência e um governo republicano, buscando o orgulho americano para todos aqueles
que estavam na luta de construir uma nova sociedade. Seu objetivo com esse panfleto foi de
informar ao mundo o que os norte-americanos queriam e pensavam.
Após todas as guerras citadas a cima, o cenário mudou no século XVIII. A Inglaterra
após a Guerra dos Sete Anos, era considerada uma grande potência mundial, e com seu poder,
começou a decretar inúmeras leis, fazendo com que os colonos ficassem insatisfeitos e
gerando revoltas e diversos protestos, e em vez de receber a submissão dos colonos, os
ingleses apenas acabaram incentivando mais ainda o processo de independência. Outro fator
que influenciava no desejo da independência, vinha do iluminismo, as suas ideias vinham
principalmente do filosofo John Locke, que defendia a propriedade privada e a
representatividade política. (KARNAL, 2012).
Os ingleses seguiram praticando atos intoleráveis, fato que levou os colonos a
organizarem o Primeiro Congresso Continental, no qual mostraram suas ideias separatistas,
porém ainda fracas, pois não tinham o apoio de todos, como por exemplo da Geórgia, a qual
ficou de fora. Assim sendo, a Inglaterra tentou ceder em alguns pontos, mas em contrapartida,
aumentaram o número de soldados ingleses na América, como consequência iniciou-se uma
guerra. Logo, as treze coloniais se uniram e organizaram o Segundo Congresso Continental.
Foi então em 2 de julho de 1776, que foi decidido a separação e em 4 de julho a Declaração
da Independência ficou pronta. Vários autores foram responsáveis pela declaração, mas o
mais importante, segundo o Karnal (2012), foi Thomas Jefferson.
Para Pecequilo (2003), os Estados Unidos sabiam no momento de sua Independência,
que eles “nasceram” diferente do resto do mundo, e a sua política tanto interna quanto
externa, tinha o objetivo de mostrar essa diferença, para no futuro servir de modelo a outros
povos.
3.2.2 A independência dos Estados Unidos e sua identidade nacional
O problema não foi declarar a Independência, mas sim lutar por ela, visto que uma
guerra iniciou como consequência da declaração. Os colonos nomearam George Washington,
um fazendeiro da Virgínia, para comandar as forças rebeldes. Neste mesmo período, formam-
36
se os chamados Minutemens (cidadãos em armas), a milícia dos EUA que deveriam defender
a qualquer custo os ataques a serem recebidos, diante disto, a futura Constituição dos EUA
garantiria aos cidadãos o porte de arma. (KARNAL, 2012).
A guerra não foi fácil, ora os ingleses estavam a frente, ora os colonos, um dos
motivos era de que a ideia separatista não era uma ideia unanime. Porém, Benjamin Franklin,
um dos mais famosos intelectuais daquele século, conquistou o apoio dos franceses e
espanhóis, e em 19 de outubro de 1781 os colonos e seus aliados vencem a guerra.
(KARNAL, 2012).
Para Vizentini (2010), a guerra foi de suma importância, pois foi o primeiro
movimento de emancipação que obteve sucesso. O autor considera esse episódio como sendo
uma das revoluções burguesas do século XVIII, além de considerar a primeira revolução
anticolonial vitoriosa.
Com o fim da guerra, o lema que foi escolhido para o país foi “de muitos, um”, pois
representava o começo de uma identidade nacional. A bandeira também havia sido escolhida,
com 13 listras alternando entre branco e vermelho, e inicialmente com 13 estrelas, que ao
longo dos anos foi aumentando à medida que surgia novos estados, e foi escolhido seu
símbolo, a águia careca, ave típica da América do Norte. (KARNAL, 2012).
Sem o inimigo comum, agora era hora de enfrentar problemas internos. O texto da
constituição foi bastante discutido, pois eram treze colônias discutindo o mesmo assunto e
tentando entrar em acordo. Foi acordado que cada estado teria a liberdade de organizar suas
eleições. A Constituição criou então uma República Federalista Presidencial, e os poderes
foram divididos conforme a tradição de Montesquieu, com um poder Legislativo, Executivo e
Judiciário. As dez emendas da Constituição ficaram conhecidas como Bill of Rights. Quanto à
presidência, parecia óbvio, já que George Washington tinha o maior apoio do povo, e a vice-
presidência ficou para John Adams. (VIZENTINI, 2010).
Como falado no parágrafo anterior, os Estados Unidos estavam focados em sua
política interna, buscando seus interesses próprios, fase que durou de 1776 (Independência)
até 1898. Além disso, a ideia de “Relações Internacionais” estava muito ligada a “política
europeia”, ou seja, os EUA buscaram se manter afastado da política do Velho Mundo, visto
que ela era considerada como perversa e corrupta, para se reservarem ao Novo Mundo, como
possibilidade de uma nova política. Porém, segundo Pecequilo (2003), esse isolacionismo não
significava uma total distância das Relações Internacionais.
As repercussões da Independência para cada grupo foram diferentes. A Inglaterra
claro, foi o país mais atingido, tendo sua expansão restrita naquele momento. Já os franceses
37
voltaram ao seu país com ideias de liberdade e república. Os EUA também foram referência
para o restante da América para as colônias que desejavam separar-se das metrópoles. Para os
indígenas, foi algo negativo, visto que tinham a ameaça dos brancos de tomarem seus
territórios. Por fim, para os negros, nada mudou, apenas houve um aumento de suas fugas.
(KARNAL, 2012).
3.2.3 A Nova Nação
Segundo o autor Leandro Karnal (2007), é ao terceiro presidente, Thomas Jefferson,
que governou o país de 1801 a 1809, que os norte-americanos costumam se referir a
construção da política do país, o que nota-se aqui é o desejo de poder e sentimento imperial.
Ele foi responsável pela expansão da democracia, ampliou o voto para brancos não-
proprietários, e seu povo acreditava que o sonho de uma republica perfeita seria realizado.
Seus obstáculos foram as guerras na Europa, e a expansão para o Oeste dentro da nação. Perry
Anderson contribui com esse pensamento a cima citando Thomas Jefferson:
“Como Jefferson disse a Monroe, em 1801: Por mais que nossos interesses presentes possam nos restringir aos nossos limites, é impossível não olhar para a frente, para tempos longínquos, em que nossa multiplicação os expandirá além desses limites, cobrirá todo o continente Norte, e talvez o continente Sul, com pessoas falando a mesma língua, governadas de forma similar e por meio de leis semelhantes. ” (ANDERSON, 2015, p. 16)
Kissinger (2015, p. 238) também trata desse pensamento de Jefferson em sua obra, ao
escrever que, “Para Thomas Jefferson, os Estados Unidos não eram apenas uma grande
potência que surgia, mas um “império para a liberdade” — uma força em constante expansão,
agindo em prol de toda a humanidade para fazer valer os princípios da boa governança. ”
Visto que Jefferson se preocupava com o expansionismo norte-americano, ele ficou
interessado nas terras localizadas ao norte, e foi durante a Guerra Napoleônica, já abordada
anteriormente, que Napoleão precisava de dinheiro e suas tropas estavam enfraquecidas,
portanto, ofereceu o território da Louisiana aos Estados Unidos, em troca de 15 milhões de
dólares, e foi pelas terras ao oeste que nasceu a “marcha para o oeste”, fato que mostrou um
sentimento nacionalista norte-americano, influenciado por ganhos territoriais. (Karnal, 2007).
O sucessor de Jefferson foi James Madison em 1809 e foi reeleito em 1813. Madison
foi quem conduziu os Estados Unidos a Guerra de 1812 contra a Grã-Bretanha, para proteger
a economia de seu país, ele acabou se opondo aos seus princípios iniciais, e teve que aumentar
impostos e defender a criação de um banco Nacional. (Karnal, 2007).
38
Já em 1817, quem comandou os Estados Unidos, foi o quinto presidente do país,
James Monroe. Nessa época, com Napoleão derrotado na Europa, e com a formação da Santa
Aliança, em que os países participantes declaravam que interveriam em qualquer região que
fosse preciso, a liberdade dos Estados Unidos corria risco. Portanto, Monroe exerceu uma
postura mais neutra, de não envolvimento em assuntos estrangeiros. Ele ficou conhecido pela
criação da Doutrina Monroe em 1823, que segundo Hobsbawm (1995), tinha como objetivo
hostilizar qualquer tentativa de recolonização da América. O princípio base da Doutrina era a
“América para os americanos”, e seu espírito, segundo Anderson (2015), vai se
institucionalizando ao longo do século XX, sendo guia da política externa norte-americana,
com a amarração comercial da América, o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca
(TIAR), a Organização dos Estados Americanos (OEA), resultados de negociações na
Operação Pan-Americana.
Ainda com o fim de Napoleão, outro ponto essencial na política dos EUA, foi o ganho
do território da Flórida, que pertencia aos espanhóis, e estes com medo de uma possível
guerra contra os norte-americanos, cederam o território no Tratado Adams-Onís de 1819 e
com um valor de 5 milhões de dólares. (Karnal, 2007).
Outra disputa territorial aconteceu com o México, onde lentamente os norte-
americanos foram ocupando o Texas. Em 1836 os invasores norte-americanos proclamaram a
Independência do Texas, que foi anexada aos EUA mais tarde. Um segundo conflito ocorreu
pela disputa do território de Óregon, em que a Inglaterra também demonstrou interesse,
porém, essa questão foi resolvida diplomaticamente, ocorrendo a anexação de Óregon aos
EUA. Em outra guerra contra o México, os mexicanos perderam e tiveram que assinar o
Tratado Guadalupe-Hidalgo, no qual os mexicanos foram obrigados a ceder territórios como
Arizona, Califórnia, Colorado, Nevada, Novo México e Utah. (Karnal, 2007).
Além dos conflitos territoriais, os Estados Unidos tinham conflitos internos, entre a
região norte (industrializada) e a região sul (agrária). Em 1860, o número de escravistas no
Congresso era menor do que o número de abolicionistas, e os escravistas eram a favor de John
Beckinridge para presidente, caso o mesmo perdesse as eleições, os escravistas diziam que se
algum Estado se sentisse prejudicado por estar na união, poderiam sair. Porém, quem venceu
as eleições daquele ano, foi Abraham Lincoln, que defendia a união e a abolição da
escravidão. Com sua vitória, a Carolina do Sul, com mais dez estados escravistas, saiu da
união e criou os Estados Confederados da América. Com essa ação, iniciou-se a Guerra da
Secessão em 1861, mas os confederados perderam, por terem menos estados e dependerem de
exportações e importações, assim foram reintegrados à União. Além disso, durante a guerra,
39
Lincoln aboliu a escravidão dos Estados Unidos, houve um maior crescimento da economia e
começaram a se formar grupos racistas, como o Ku-Klux-Klan (os quais linchavam negros,
brancos liberais, chineses, judeus e outras raças “inferiores”) e os Cavaleiros da Camélia
Branca (com semelhanças a KKK). (Karnal, 2007).
Os estragos da guerra foram diversos, e era hora de reconstruir o país. Os EUA
aumentaram seu ritmo de crescimento industrial, construíram várias estradas de ferro e o país
acabou por se transformar em uma das maiores potencias industriais do mundo no fim do
século XIX. Além disso, Pecequilo (2003) comenta que esse foi um momento de
transformação da política externa norte-americana, ou seja, os Estados Unidos já não estavam
comprometidos apenas com a sua política interna, mas sim em transmitir sua ascensão de
poder ao mundo.
3.2.4 Século XX: O Século Americano
Segundo Perry Anderson (2015), os Estados Unidos se tornaram uma potência
imperial apenas após 1945, mesmo já trazendo traços de sentimentos imperiais desde sua
independência.
As características imperiais se devem aos quatro ingredientes, uma economia, geografia,
cultura e uma política privilegiada. Sendo assim, verificava-se um forte sentimento
nacionalista, ligado a um sentimento universalista.
Nesse século, como descreve Karnal (2007), os Estados Unidos já tinham 45 estados,
mantinham a mesma Constituição, e continuavam com seu prodigioso desenvolvimento
econômico, o que resultou na busca de mercados externos. Foi o vigésimo sexto presidente
dos EUA em 1901, Theodore Roosevelt que foi responsável por envolver seu país mais
ativamente na política mundial, e defendia que o governo deveria ser o árbitro entre o capital
e o trabalho. A política internacional norte-americana se preocupava com a segurança
nacional e a estabilidade no sistema internacional. Em 1904 ocorreu a reeleição de Ted
Roosevelt, e em 1905 ele emitiu um corolário à Doutrina Monroe – Big Stick, dando
permissão aos EUA de intervir em outros países caso esses representassem uma ameaça a
sociedade. Entre os anos de 1900 a 1920, sob o comando de William Howard (1909-1913)
Taft e Woodrow Wilson (1913-1921), as políticas ganharam destaque na área da economia e
buscavam propagar o “imperialismo missionário”, lançando projetos imperialistas com o
objetivo de obter controlar territoriais. (PECEQUILO, 2003).
O século XIX como foi visto anteriormente, foi um período de significativa expansão
territorial, um ganho de fluxo de imigrantes maior e um discurso democrático. Entretanto,
40
muitos grupos sociais, como feministas, negros, religiosos, socialistas, sindicalistas etc.,
surgiram para contestar a política americana que não privilegiava todos os cidadãos, além de
também os imigrantes, que entre 1865 a 1915 chegaram a ser mais de 25 milhões nos EUA.
(KARNAL, 2007).
Sob os mandatos de Roosevelt, Taft e Wilson, também foram estabelecidas algumas
leis para limitar a concentração de capital em poucas mãos, criando assim empregos com a
exigência de contratos de trabalho, assim como também era obrigatório a alfabetização e ter
residência fixa (o que prejudicou muitos imigrantes e pessoas carentes). (KARNAL, 2007).
Para entender o século XX, Hobsbawm (1995) diz que é preciso compreender as
guerras mundiais. Em 1917, os Estados Unidos entram na Primeira Guerra Mundial, apoiando
militarmente a Entente do Reino Unido, França e Rússia. Wilson acreditava que a entrada na
guerra era necessária para manter a liberdade humana e a democracia. Já segundo Anderson
(2015), uma melhor compreensão dos Estados Unidos no século XX é dada justamente pela
condução de Wilson, que acreditava que a religião, o capitalismo, a democracia, a paz e o
poder dos EUA eram uma coisa só. Porém, mesmo com a vitória da Entente, ainda havia a
dificuldade de impor a paz. É possível então concluir que a política norte-americana dos EUA
se caracteriza por uma política “internacionalista”, com natureza ativista e moralista,
centrando os valores de liberdade e valores democráticos. (PECEQUILO, 2003).
Vale lembrar ainda que o envolvimento dos EUA na guerra foi intencionado a barrar o
expansionismo do império alemão, pois eles poderiam desestruturar o sistema internacional e
naquele momento a estabilidade do SI preocupava os americanos, já que isso influenciava
direto na segurança nacional da nação. (PECEQUILO, 2003).
Nessa época, também ocorreram algumas manifestações por melhores condições de
trabalho, muitas inspiradas pelos ideais da Revolução Russa de 1917, a qual já foi
mencionada anteriormente. Entretanto, em 1918-1919 ocorreu a maior repressão americana,
conhecida como “Caça aos Vermelhos”, o chamado “Espionage Act” derrubou a liberdade de
expressão e proibiu todas as atividades contrárias ao governo na guerra, esse ambiente
repressivo deu fim ao idealismo propagado pelos chamados progressistas da época.
(KARNAL, 2007).
Depois dessa repressão, houve um crescimento econômico no país, a produção
industrial cresceu, a renda aumentou e o desemprego diminuiu. A tecnologia também cada
vez mais inovadora, criara produtos cada vez mais acessíveis, o que gerou uma sociedade de
consumo, o consumo era visto como essencial para a felicidade. Entretanto, a desigualdade
41
econômica e política continuava persistindo no país, assim como a vida no campo não havia
melhorado. (KARNAL, 2007).
A partir de 1924 a fronteira dos EUA começou a ser policiada, mostrando as
diferenças entre cidadão e estrangeiro. A Primeira Guerra veio para americanizar os
imigrantes, que segundo o autor Karnal (2007), tinha um discurso de “americanismo 100%”.
A maioria das escolas reprimiu o ensino de línguas estrangeiras, e incentivaram o ensino da
História dos Estados Unidos e suas tradições.
Em 1929 ocorreu a maior crise econômica americana, a chamada “Grande Depressão”,
caracterizando os Estados Unidos com desemprego e miséria em massa. Segundo Hobsbawn,
“Em suma, não há explicação para a crise econômica mundial sem os EUA. Eles eram, afinal, tanto o primeiro país exportador do mundo na década de 1920 quando, depois da Grã-Bretanha, o primeiro país importador. Importavam quase 40% de todas as exportações de matérias-primas e alimentos dos quinze países mais comerciais, um fato que ajuda muito a explicar o desastroso impacto da Depressão [...] O comércio mundial teve uma queda de quase um terço entre 1929 e 1939, mas as exportações americanas despencaram para quase a metade. ” (HOBSBAWN, 1995, p. 102).
O povo estadunidense então se viu na obrigação de retomar os períodos de
prosperidade. Karnal (2007) diz que as causas da crise foram por três motivos, primeiro que
faltava diversificação na economia americana, segundo que a distribuição de renda desigual
significava em um consumo cortado, e terceiro que os bancos dependiam dos empréstimos do
povo, que com a piora da economia não conseguiam pagar suas dívidas. Franklin Delano
Roosevelt do Partido Democrata foi eleito em 1932 e prometeu restaurar a economia.
Segundo Anderson (2015), Roosevelt acreditava que o mundo deveria ser seguro para o
capitalismo e que os Estados Unidos deveriam reinar supremos. Em 1933-1934 criou o “New
Deal”, uma série de programas para reformar a economia norte-americana, porém foi só com
o segundo “New Deal”, criado em 1935, que Roosevelt teve sucesso, mesmo não tendo
recuperado a economia, o programa trouxe maior segurança econômica para os cidadãos,
gerando maior qualidade de vida a todos, e incluindo pela primeira vez a participação na cena
política dos estadunidenses, o que resultou numa maior confiança do povo norte-americano e
maiores progressos no país.
Já a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial foi influenciada por sua
preocupação com o expansionismo alemão e japonês. Anderson (2015) fala que o
enfraquecimento do expansionismo alemão e japonês foi um dos objetivos dos EUA na
guerra. Os estadunidenses não desejam nem o êxito de Hitler, nem dos soviéticos, nem uma
vitória britânica.
42
Em 1941, a Força Aérea Japonesa fez um ataque surpresa a base naval dos Estados
Unidos em Pearl Harbor, destruindo a armada americana no Pacífico, como consequência os
EUA declaram guerra contra o Japão, e em contrapartida, Japão, Alemanha e Itália
declararam guerra contra os EUA. (KARNAL, 2007). A partir de 1940, o governo dos EUA
ajudou financeiramente e militarmente a Inglaterra. Esses países citados a cima, junto com a
Rússia e seus parceiros tinham superioridade numérica, recursos naturais e uma relevante
capacidade industrial. Essa aliança dos EUA com o Reino Unido e a Rússia, Anderson
(2015), observa que foi uma estratégia de cálculos do capital. Ou seja, para os Estados
Unidos, o mundo deveria se tornar um lugar seguro para o capitalismo em geral e dentro do
mundo do capitalismo os EUA deveriam reinar supremos.
De 1943 em diante, a maior preocupação dos EUA era de impedir que o Reino Unido
mantivesse uma relação privilegiada com suas colônias e ex colônias, e de enfrentar a URSS,
pois ela apresentava uma ameaça ao capitalismo, ou seja, naquele momento, combater o
comunismo era mais importante que o fascismo. (ANDERSON, 2015).
Nessa época, já em 1945, os Estados Unidos ainda não sabiam qual seria a política
externa que adotariam diante a URSS, mas isso mudou no governo Truman, como se pode
perceber na elaboração da Doutrina Truman. Nesse momento os EUA optaram por uma
estratégia de contenção, que tinha o objetivo de impedir a expansão soviética e o comunismo.
Pecequilo (2003) critica a posição passiva que os EUA haviam tomado, já que naquele
momento o país possuía diversos recursos, como a hegemonia econômica e o monopólio
nuclear. Já Kissinger (2012), contraria a autora, quando pontua que os EUA não estavam em
condições de partir para uma política agressiva, visto que a opinião pública era contra a um
novo conflito, e a própria política agressiva era contrária aos princípios e tradições norte-
americanos. Kissinger ainda comenta que no ano de 1945, um dos maiores, entre muitos
desafios que Roosevelt enfrentou em seu segundo mandato, foi o de definir o conceito de paz,
porém esta questão ficou em aberto devido a seu falecimento no mesmo ano.
Seu sucessor, Harry Truman agora tinha esse papel de resolver essa questão. Sua
primeira grande atitude foi ainda em 1945, no momento que os EUA lançaram duas bombas
atômicas contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Alguns historiadores
acreditam que esse ato foi justificado visto que era a forma mais rápida e eficaz de acabar com
a guerra, outros defendem que o Japão já estava prestes a se render, mas que o EUA decidiu
por fazer isso para mostrar ao mundo que seu país era a maior potência militar do mundo. As
consequências da Segunda Guerra Mundial deram fim à Depressão e dobrou o PIB do país em
quatro anos, trouxe para os Estados Unidos empregos plenos, progressos sociais e políticos e
43
maior confiança no sonho norte-americano, além de mudar a vida das mulheres, negros,
imigrantes e trabalhadores, fazendo com que a diversidade étnica ganhasse uma nova
definição do americanismo. A guerra aos olhos do povo estadunidense, foi uma boa guerra
contra o fascismo, e isso claramente era mostrado através das propagandas feitas pelo
governo, em que mostravam que a luta pela liberdade era contra os terríveis atos nazistas e
militares japonês. Milhões de norte-americanos se alistaram na guerra, quem não o fizesse
seria reprimido pelo governo, já que a guerra era vista como uma guerra do povo. (KARNAL,
2007).
Aos olhos de Hobsbawm (1995), as duas guerras foram sim boas para o povo
estadunidense, pelo menos na economia, pois os EUA ficaram distantes da luta em ambas das
guerras, foram os principais arsenais de seus aliados, e tiveram uma eficiente organização e
expansão de sua produção. O resultado da guerra não poderia ser outro, os estadunidenses
saíram da guerra como líder mundial, econômico e militar.
Anderson (2015), conclui que os Estados Unidos saíram da Segunda Guerra Mundial
intocados, com uma economia três vezes maior que a da Rússia e cinco vezes maior que a do
Reino Unido. Além disso, na Conferência de Breton Woods, o Reino Unido renunciou à
política da preferência imperial e o dólar acabou sendo o “dono” do sistema monetário
internacional.
3.3 GUERRA FRIA: DO CONFLITO BIPOLAR À ÚNICA SUPERPOTÊNCIA MUNDIAL
A Guerra Fria compreende um período de 1945 até o confronto final dos Estados
Unidos e da União Soviética em 1989. O autor McMahon (2012), considera a Segunda Guerra
Mundial como o conflito mais destrutivo da história humana, e sem dúvidas, o ápice que criou
as condições que tornaram inevitável o conflito entre as grandes potências. O autor conclui
que:
“[...] foram as aspirações, as necessidades, as histórias, as instituições de governo e as ideologias divergentes dos Estados Unidos e da União Soviética que transformaram as tensões inevitáveis no confronto épico de quatro décadas que chamamos de Guerra Fria. ” (MCMAHON, 2012, p. 14).
A reorganização do sistema internacional daquela época foi resultado de três
conferências importantes realizadas em Teerã, Yalta e Potsdam (SARAIVA, 2008).
A conferência de Teerã, envolvendo Winston Churchill, Franklin Roosevelt e Joseph
Stalin, decidiu a invasão da Europa ocupada através do Canal da Mancha e determinou que o
norte da França seria a área escolhida para o desembarque aliado, além de reconhecerem a
44
chamada Linha Curzon como o novo limite entre a URSS e a Polônia, decisões de vitória para
Stalin. (BARROS, 1984)
Em Yalta, em 1945, a cooperação entre os “três grandes” (Churchill, Roosevelt e
Stalin) se sustentava pela parceria soviética na guerra contra o Japão, Stalin assim impôs
certas condições, exigindo o que perdera na guerra de 1904-1905: a Estrada de Ferro Chinesa
Oriental, a parte sul da ilha de Sacalina, as ilhas Kurilas e o Porto Arthur. (BARROS, 1984).
Magnoli (2009) acredita que foi no encontro em Yalta, que a URSS recuperou parte de
seu território e que neste episódio já era possível enxergar uma futura bipolarização mundial.
No mesmo ano, ocorreu a Conferência de Potsdam.
O centro das discussões foi a organização da administração da Alemanha derrotada. Decidiu-se a divisão provisória da Alemanha em quatro zonas de ocupação militar administradas pelas potências vencedoras (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e União Soviética). Os ocupantes deveriam cumprir um programa de erradicação completa das estruturas nazistas e realizar reformas voltadas para a democratização da sociedade alemã. As medidas concernentes ao conjunto do território seriam tomadas em comum acordo. (MAGNOLI, 2009, p. 95).
As conferências aumentaram a tensão entre a União Soviética e os Estados Unidos,
dando início a formação da Guerra Fria.
Os Estados Unidos, na visão de Vizentini (2004):
“[...] emergiram do conflito como os maiores beneficiados, haja vista que, por meio dele, reativaram e expandiram seu parque industrial, absorveram a enorme massa de desempregados dos anos 1930, bem como sofreram poucas perdas humanas e praticamente nenhuma destruição material. Sua economia tornou-se mundialmente dominante, respondendo por quase 60% da produção industrial de 1945, posição reforçada pela semidestruição de seus rivais (Alemanha, Itália e Japão) e pelo enfraquecimento dos aliados capitalistas (França e Grã-Bretanha), que tornavam-se seus devedores. ” (VIZENTINI, 2004, p.65-66).
Já a União Soviética, por outro lado, também desempenhou um papel relevante, em
razão de sua notoriedade diplomática e militar; a derrota da Alemanha nazista; e seus
interesses reconhecidos em relação a influência às suas fronteiras europeias. (VIZENTINI,
2004).
Para Christian Lohbauer (2005), doutor em ciência política, o conflito entre
capitalistas e socialistas foi uma disputa para determinar qual das superpotências possuía
maior poder ideológico. Entretanto, outros autores possuem uma visão mais farta do episódio
da Guerra Fria, envolvendo o equilíbrio de poder e a hegemonia das superpotências. Por
exemplo para, Magnoli (1988, p. 45), a Guerra Fria é muito mais que um episódio ideológico,
é “uma confrontação múltipla (econômica, política, diplomática, cultural, propagandística)
45
entre as duas superpotências que questionam de maneira incessante a distribuição mundial dos
fluxos de influência e poder”. Já Mearsheimer (2007), acredita que os EUA e a Rússia
entraram em conflito pelos dois motivos, tanto ideológico, quanto por equilíbrio de poder.
Já a Guerra Fria vista pela geopolítica e geoestratégia, por Alfred Thayer Mahan e
Halford Mackinder, é uma guerra que segundo eles, como o próprio conceito já diz, uma
guerra que envolve a geografia dentro da política, nesse caso, dos Estados Unidos e da Rússia.
O primeiro sendo a baleia, representando o principal símbolo marítimo, por ser uma potência
naval e marítima, com saídas para o Pacífico e o Atlântico, e o segundo, denominado de urso,
símbolo terrestre, por ser uma supremacia continental, com acesso ao interior do maior
continente, a Ásia. (MELLO, 1994).
O autor Magnoli (1988) afirma que após a Segunda Guerra Mundial, o equilíbrio do
terror passou por algumas fases, alcançando assim um equilíbrio nuclear e deixando o conflito
entre as superpotências mais pacífico. A continuação do conflito decorreu da criação de
planos dos Estados Unidos e da União Soviética para obter ajuda de seus aliados.
Em relação aos planos econômicos, relembra o autor que os Estados Unidos criaram o
Plano Marshall em 1948, o qual (2004, p. 73): “concedia aos governos europeus empréstimos
a juros baixos, para que eles adquirissem mercadorias dos EUA. ” Em contrapartida a URSS,
em 1949, criou o Conselho para Assistência Econômica Mútua (COMECON), (2004, p. 78)
“integrando os planos de desenvolvimento e lançando as bases de um mercado comum dos
países socialistas, em uma clara resposta ao Plano Marshall. ”
As Organizações Internacionais também foram essenciais durante a Guerra Fria. A
Organização das Nações Unidas (ONU) é uma delas. Lohbauer (2005, p. 106) explica que “O
Conselho de Segurança das Nações Unidas foi criado para funcionar permanentemente com
cinco membros permanentes, Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, França e China.
” Os membros permanentes têm direito ao veto, o que deixou a organização vulnerável, visto
que os Estados Unidos não entrariam em acordo com a União Soviética. (Magnoli, 2009).
Em abril de 1949, foi criada a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN),
com o objetivo de garantir a liberdade e a segurança de seus membros através de poder
político e militar. Para a Otan, ter a República Federal Alemã seu favor era crucial para se
defender contra a URSS, então, com a promessa da presença de tropas britânicas na
Alemanha e a garantia das forças americanas no local, a Alemanha foi integrada à Otan, em
1955. Como resposta, os soviéticos criaram o Pacto de Varsóvia, formado por Estados
comunistas europeus. (PEREIRA; ALENCAR, 2004).
46
Outros programas foram criados no mesmo período, como o Plano Dodge, Pacto do
Atlântico, o Tratado de Segurança e etc. Anderson (2015), deixa claro que a adoção desses
planos era fundamental, assim como também restaurar o comércio mundial, o equilíbrio de
poder e militar e acabar com algumas atitudes que produzem a guerra. Além de se
preocuparem com a sua economia interna, os EUA se preocupam em orientar e proteger os
demais países que a eles pediam ajuda, o que pode ser observado ao longo dos anos até hoje,
através de ajudas financeiras e humanitários.
Entretanto, mesmo com as organizações internacionais, alguns conflitos aconteceram
durante a Guerra Fria, entre eles O Bloqueio de Berlim em 1948, a Revolução Chinesa, a
Guerra da Coréia, a Crise dos Mísseis e a Guerra do Vietnã. De acordo com a autora Xavier,
desde então:
“Seguiram-se daí vários acontecimentos, dentre eles, a tomada da Casa Branca por John F. Kennedy em 1961, o fracasso dos EUA no desembarque na Baía dos Porcos em Cuba, [...] bem como a construção do Muro de Berlim na Alemanha Oriental sem oposição, em agosto do mesmo ano. A estes, soma-se a Revolução Cubana [...]” (XAVIER, 2010, p.8).
Após 40 anos de Guerra Fria, percebe-se no final do século XX que outros eventos
importantes aconteceram, como por exemplo a democratização da União Soviética e dos
países do leste europeu, a COMECON e o Pacto de Varsóvia já não mais existiam, ocorreram
os pactos de desarmamento nuclear, criaram-se políticas para a reforma da OTAN, e houve o
arruinamento do Partido Comunista, que terminou com o Golpe de 1991, golpe que tinha o
objetivo de retirar Mikhail Gorbachev do poder. (XAVIER, 2010).
Mikhail Gorbachev foi eleito em 1985, ele entrou no poder com o propósito de colocar
em prática suas reformas, através da chamada “Perestroika” (em russo, reconstrução), e
pretendia reverter a má situação da economia. Além da economia, estava preocupado com a
política, então criou a chamada “Glasnost” (em russo, transparência), que pretendia diminuir a
censura. Porém, conforme o tempo ia passando, mais caótica a situação ficava, e em 1991
Gorbachev tenta renegociar o tratado da União, e alguns cidadãos descontentes com o
governo, dão um golpe de Estado e Boris Yeltsin assume o poder. Em 21 de dezembro de
1991, 11 de 15 nações, assinaram a CEI (Comunidade dos Estados Independentes) e em 26 de
dezembro é votado oficialmente o fim da URSS. (SEGRILLO, 2012).
Vizentini (2004) conclui que a Guerra Fria iniciou seu declínio durante a década de
1980 em diante. O símbolo que marcou o fim da guerra, foi o episódio da queda do Muro de
Berlim em 1989, que indicou o fim de décadas de disputas econômicas, militares e
47
ideológicas entre o bloco socialista (soviético) e o bloco capitalista (estadunidense). Como
consequência, houve a unificação da Alemanha, oriental com a Ocidental. A década de 1990
foi o marco do fim da Guerra Fria, e do fim da divisão do mundo em dois blocos ideológicos,
restante apenas uma superpotência no sistema internacional.
3.4 O SISTEMA INTERNACIONAL PÓS GUERRA FRIA
O fim da Guerra Fria marcou o fim de uma era, e Vizentini (2004) acredita que os
Estados Unidos, mesmo sendo a única superpotência, está em declínio, acredita que o mundo
é diversificado demais para aceitar uma única superpotência, e que supõe que se até hoje não
houve alguém capaz de superar o poder dos EUA, foi pela imaturidade dos demais países, e
não pela força norte-americana. Já a Rússia, foi incapaz de se reafirmar.
Com o fim da Guerra Fria, a Rússia estava sob comando de Boris Yeltsin. O país
passou por momentos difíceis com uma liberalização da economia e um processo de
privatização que levaram o país a uma grave crise econômica. No final do século XX, Yeltsin
renunciou seu cargo, transferindo seus poderes para Vladimir Putin, este que veio a vencer as
eleições em 2000, com 53% dos votos, e desde então permaneceu no poder até hoje, um
período que a mídia costuma chamar de Era Putin. Putin trouxe de volta para o país, a
competência de arrecadar impostos e monopolizar o uso da força, possibilitando a
regularização dos pagamentos e restabelecer a movimentação dos serviços públicos. Na
cultura também houve progresso, o hino soviético voltou a ser o hino da Rússia, as cidades
passaram por obras, o país ganhou maiores festividades, em especial em 2005 quando
comemorou o sexagésimo ano de aniversário sobre a derrota da Alemanha nazista. Por outro
lado, um governo autoritário chamava a atenção, em 2006 foi aprovada uma lei que proíbe
críticas a autoridades nos debates políticos passados ao vivo, em muitas regiões ocorre a
censura de opositores, limitou-se o direito de manifestação etc. É evidente que sob seu
governo, Putin conseguiu retomar uma maior estabilidade política, visto o apoio das forças
que vem recebendo desde 1999, além do povo que o apoia ou pelo menos age com indiferença
frente a suas atitudes, enfraquecendo assim a oposição, e também conseguiu também certo
crescimento econômico, na alta do petróleo e do gás. É possível perceber que o século XXI se
iniciou traçado por um possível renascimento russo. (REIS, 2005).
Logo que entrou no comando, Putin teve que lidar com dois atos terroristas chechenos,
o que resultou na morte de inocentes. O primeiro foi em 2002, quando foi colocado no ar
condicionado um gás venenoso para acabar com os terroristas, foram aproximadamente 200
mortos. O segundo ato, em 2004, uma escola russa foi invadida por terroristas, o que
48
ocasionou em cerca de 300 mortos, destes, 200 sendo crianças. Por tais ocorridos, Putin
adotou novas leis para reforçar o sistema jurídico russo. No âmbito internacional, no ataque
de 11 de setembro de 2001, Putin se aproximou do presidente dos Estados Unidos George W.
Bush em prol da luta contra o terrorismo. Porém, em 2004 os dois países já entram em
desacordo novamente, como por exemplo a respeito da expansão militar da Otan em direção
ao Leste Europeu. (SEGRILLO, 2012).
Já os Estados Unidos, saíram da Guerra Fria como sendo a única superpotência, mas
Anderson (2015) sustenta que isso não significava que eles poderiam descansar, eles deviam
continuar em constante expansão, a fim de construir uma ordem internacional liberal, com a
América no comando.
George Bush (1989-1993) comandou os Estados Unidos quando a Guerra Fria teve seu
fim, e sob seu comando houve a vitória sobre a Guerra do Golfo, sob o mandato da
Organização das Nações Unidas (ONU), a qual marcou a chegada de uma Nova Ordem
Mundial. Teve sucesso também no Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), em que a
maior parte dos países se assinou, menos Israel. Segundo Anderson (2015), Bush foi
considerado o mais bem-sucedido presidente em relação à política externa desde a última
guerra. Vizentini (2012), enfatiza que o mandato de Bush, se encaminhou para um mundo
capitalista estável, com foco na paz, na democracia, na prosperidade e na globalização.
O seu sucessor, Bill Clinton (1993-2001), influenciado por Bush, seguiu os mesmos
passos, priorizando o desenvolvimento da ordem liberal. Ele criou o Tratado norte-americano
de livre comércio (Nafta), e transformou o Tratado Geral de Comércio (GATT) na
Organização Mundial do Comércio (OMC). Além disso, Clinton não via o desaparecimento
da ameaça soviética como motivo de retirada de posições dos EUA na Europa, estendendo a
OTAN até a Rússia, e foi essa expansão ao Leste que mostrou a reafirmação da hegemonia
norte-americana. (ANDERSON, 2015).
Portanto, a política externa norte-americana tanto no mandado de Bush, quanto no de
Clinton, permaneceu intacta em relação a estabilidade no sistema internacional como requisito
para a segurança interna e em relação a missão dos EUA na defesa no livre-mercado global.
(PECEQUILO, 2003).
O sucessor de Clinton, George W. Bush (2001-2009), o filho de George H. W. Bush,
chegou ao comando com a pretensão de uma política mais passiva, principalmente em relação
ao setor militar. Porém, esse cenário mudou com o atentado às Torres Gêmeas e ao
Pentágono, em 11 de setembro de 2001, criando um clima de insegurança. Após os atentados
49
o presidente declarou que o inimigo principal era o terrorismo, e assim se iniciava a guerra
contra o terror. (ANDERSON, 2015).
Essa Guerra ao Terror, proclamada em 06 de outubro de 2001, segundo Bandeira
(2006), se caracterizou pelo ressurgimento de um inimigo a combater, ou seja, o terrorismo.
Os EUA deixaram clara a sua política externa, ou as nações escolhiam o mundo civilizado, ou
o terrorismo, caso optassem pelo terrorismo, eles pagariam um preço caro.
Nesse mesmo tempo, o conflito entre Israel e Palestina convulsionou o Oriente Médio.
A China estava tendo um avanço no desenvolvimento econômico, industrial, comercial e
financeiro, bem como ampliando seu poderio militar. A Rússia também estava se
fortalecendo, ela possuía capacidade militar e recursos naturais importantes, além de ser uma
“ponte terrestre” entre a Ásia oriental e a Europa ocidental que possuem certa autonomia, ou
seja, a Eurásia estava ressurgindo com um cenário estratégico. De acordo com Vizentini
(2012), a hegemonia dos Estados Unidos estava em ameaça. Para Zibgniew Brzezinski, ex-
conselheiro de Segurança Nacional de Jimmy Carter por exemplo, a América em declínio
poderia ser um cenário possível. Vizentini (2012), também deixa claro o possível declínio
norte-americano, porém vê esse cenário não como um colapso, mas como uma fase de
transição. Porém, os EUA ainda desfrutavam de grandes poderes, militares, econômicos,
culturais e tecnológicos, e isso significava, para Robert Kegan, outro ex-funcionário do
governo, que os EUA não estavam em declínio. Esses argumentos de Kegan foram estimados
pelo próximo presidente, Barack Obama (2009-1017), que posteriormente o citou em seu
discurso em 2012, no qual proclamou que “a América está de volta”. (ANDERSON, 2015).
Em 2009, com a posse de Obama, Anderson (2015), volta a afirmar que a expansão da
hegemonia norte-americana vem colhendo frutos desde sua Independência, e que, portanto, a
política imperial pouco foi alterada. Além disso, o governo de Obama, vem para mostrar que
mesmo sendo democrata, utiliza de influencias republicanas, tendo como referência por
exemplo, o republicano Bush.
Sob seu comando, Obama apresenta uma notável melhora no âmbito militar, em seu
arsenal nuclear; os drones se tornaram a arma preferida da Casa Branca; na luta contra o
terrorismo, em seu mandado ocorreram sete vezes mais ataques secretos do que os do governo
republicano e criou 63 novas agências ao combate ao terrorismo; o Conselho de Segurança se
tornou quatro vezes maior do que era sob o comando de Nixon; entre outros feitos. Em seu
primeiro mandato, ele priorizou o policiamento do mundo menos desenvolvido e buscou
avançar a integração do mundo desenvolvido. Já em seu segundo mandato, o foco se voltou
ao comércio internacional, estabelecendo com a Europa um acordo de livre-comércio
50
transatlântico e integrando o Japão à TPP, e fez entender que iria se mover em direção a Ásia
para verificar a ameaça da ascensão da China. Além disso, o Império ainda se depara com
alguns problemas, como os tumultos que se mantém no Iraque e no Afeganistão que se
juntaram a dissolução da Líbia; a guerra civil na Síria (objeto de estudo desta pesquisa); a
erupção vitoriosa do Estado Islâmico, enquanto há êxito nas negociações sobre o acordo
nuclear com o Irã; etc., portanto, Obama deixou claro diversas vezes em seus discursos
durante seu mandato, que esse século, seria como o anterior, o Século Norte-Americano.
(ANDERSON, 2015).
Para Kissinger, Obama têm mostrado um interessante mandado, ele acredita que os
conflitos internacionais estão preparando um cenário para Obama estabelecer uma Nova
Ordem Mundial, dando um novo impulso a política externa norte-americana, principalmente
pela sua popularidade. (CNBC, 2009).
O sucessor de Obama, Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, tomou
posse neste ano, 2017, episódio que provocou uma agitação no mundo todo. As principais
preocupações giram em torno de suas características, suas convicções intrínsecas, suas
agressivas tomadas de decisões e seus discursos provocativos. Em relação a política externa,
Trump mostra mais ousadia em seus discursos que em suas atitudes, com frequência vem
recuando de várias posições extremistas que havia comunicado. A verdade, é que por ser um
mandato recente, há ainda muitas dúvidas em relação ao rumo de sua presidência. É preciso
que os países se engajem com o governo e a sociedade estadunidense, avançando onde e
quando for possível temas importantes da agenda internacional. (LOWENTHAL, 2017). É
preciso também lembrar que Trump não governa sozinho, mas tem uma inteira administração
e governo ao seu redor, e como Anderson (2015) destaca em sua obra, a política externa desde
os anos de 1970 é responsabilidade de um grupo formulador de política e isso pode-se
observar até os dias de hoje. Já a recomendação que Kissinger deu a Trump em janeiro de
2017, foi a de redefinir o papel dos EUA na ordem mundial, que ele mostre que não abriu
mão de exercer a liderança, e ainda em relação ao papel da OTAN, por mais que Kissinger
não concorde quando Trump comentou que ela se encontra antiquada, ele acredita que a
organização precisa de uma revisão sim.
Já sobre a contemporaneidade, Kissinger se refere ainda em seu livro “Ordem
Mundial” aos Estados Unidos como sendo o país que mais teve prestigio em relação a
formação da Ordem Mundial contemporânea, pois os EUA:
51
“Se expandiu através do continente alegando um Destino Manifesto enquanto negava solenemente quaisquer propósitos imperialistas; exerceu influência fundamental em importantes episódios da história ao mesmo tempo que negava qualquer motivação associada ao interesse nacional; e tornou-se uma superpotência enquanto desmentia qualquer intenção de pôr em prática uma política de poder. ” (KISSINGER, 2015, p. 236)
Já em relação ao futuro, Mearsheimer (2007) tem esperanças que o que determinará o
futuro são as cooperações entre as nações. Em relação aos EUA, ele afirma que a maior
preocupação dos norte-americanos é o surgimento de um potencial rival que possa vir a
interferir em sua hegemonia, o mesmo sentimento que havia na Guerra Fria. É possível
observar na obra de Anderson (2015), que essa preocupação que Mearsheimer fala, é uma
preocupação da política externa internacional, visto que cada Estado quer preservar e
aumentar seu poder para conter o poder dos demais Estados. Para Karnal (2007), o principal
objetivo dos EUA sempre foi criar oportunidades às corporações americanas, usando seu
poder econômico e militar para reter inimigos, como por exemplo a União Soviética no
período da Guerra Fria. Porém, naquele período, pós-Guerra Fria, os Estados Unidos tiveram
de enfrentar dois momentos marcantes para a história de seu país. O primeiro, em 1999, em
que tiveram que lidar com mais de 40 mil manifestantes protestando na reunião da
Organização Mundial do Comércio, contra a globalização da economia e da indústria. O
segundo em 2001, já citado anteriormente, no ataque terrorista do grupo islâmico Al-Qaeda
Em relação aos russos, Segrillo (2012) afirma que os russos continuam a surpreender o
mundo, principalmente desde o século XXI, em que vêm mostrando um possível
renascimento russo, e que o socialismo faz parte tanto do amor, quanto do ódio da história da
Rússia. Assim como Karnal (2007) fala dos norte-americanos, alguns acreditam que os EUA
são a causa do mal no mundo, outros acreditam que são os melhores, de um jeito ou de outro,
o destino do planeta está associado aos norte-americanos. Diferente dos russos discretos, o
povo estadunidense ao longo dos anos despiu-se para o mundo todo.
4 O CONFLITO DA SÍRIA E AS INTERVENÇÕES DE RÚSSIA E ESTADOS
UNIDOS
No presente capítulo é tratado o objeto de estudo desta pesquisa, o qual é a relação dos
Estados Unidos e da Rússia no conflito da Síria. Para isso, é estudado primeiramente a
história do Oriente Médio na Guerra Fria, onde a relação com os demais países começou. Por
seguinte, através de artigos, monografias, websites, etc., é possível analisar o conflito em si,
52
para então, verificar o papel exercido dos norte-americanos e dos russos no território sírio e
quais são os seus propósitos e suas desavenças.
4.1 BREVE INTRODUÇÃO AO ORIENTE MÉDIO E AS RELAÇÕES COM RÚSSIA E
ESTADOS UNIDOS
O Oriente Médio é uma região muito abordada nas Relações Internacionais, por sua
economia e geopolítica, ela vem sendo alvo de disputa entre as grandes potências. É uma área
estratégica, localizada entre três continentes, servindo de passagem entre a Ásia, África e
Europa, e possui a regalia de ter grandes jazidas de petróleo e gás. A região é composta por
quinze países, estes são, Afeganistão, Arábia Saudita, Bahrain, Catar, Emirados Árabes
Unidos, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã, Turquia, e a Síria (o objeto
de estudo desta pesquisa). Esses países possuem diferentes religiões, como o islamismo,
cristianismo e o judaísmo, uma das causas da maioria dos conflitos ocorridos na região.
(VIZENTINI, 2007).
Além disso, a região do Oriente Médio é uma das causas da rivalidade dos EUA e da
URSS na Guerra Fria, visto que os estadunidenses tinham um receio de um possível
expansionismo sobre o Oriente Médio e a Europa Oriental. Segundo Pecequilo,
“Para a política externa norte-americana, 1946 é o ano-chave da gradativa separação e do aprofundamento da distância em relação à União Soviética, favorecido pela impressão de que estava havendo um avanço nas posições deste país em áreas como o Oriente Médio (além da consolidação do poder na Europa Oriental). No Irã, os soviéticos tentaram controlar a exploração de petróleo, enquanto na Turquia visavam o controle do estreito de Dardanelos, influenciando eventos na Grécia. Somados, esses acontecimentos reforçavam a imagem de que a União Soviética continuava sendo um poder expansionista e agressivo, ameaçando os Estados Unidos e seus aliados, não somente ao agregar novos territórios, mas ao deter e propagar uma visão de mundo diferente da norte-americana, sinalizando a expansão do comunismo. ” (PECEQUILO, 2003, p. 136).
Já para Anderson (2015), que retrata a relação do Oriente Médio com os Estados
Unidos desde antes da Guerra Fria, os Estados Unidos entendiam que o campo de batalha era
mais amplo, manter por exemplo os países do Terceiro Mundo sob controle era fundamental
aos estadunidenses, e se tratando do Oriente Médio, era fundamental pelo recurso natural que
este possuía, o petróleo. Porém, no Oriente Médio, a marca do imperialismo era mais rasa e
mesmo tendo uma vaga influência do comunismo, a região se encontrava próxima da URSS.
Kissinger sobre o Oriente Médio conclui que,
“O mundo se habituou a ouvir conclamações vindas do Oriente Médio, pregando a derrubada de ordens regionais ou mundiais, a serviço de uma visão universal. Uma
53
profusão de absolutismos proféticos tem sido a marca distintiva de uma região suspensa entre o sonho de sua antiga glória e sua atual incapacidade de alcançar uma união em torno de princípios de legitimidade doméstica ou internacional. Em nenhuma outra parte o desafio da ordem internacional se apresenta de forma tão complexa — tanto em termos da organização de uma ordem regional quanto da adequação dessa ordem à paz e à estabilidade no resto do mundo. Hoje, o Oriente Médio parece destinado a vivenciar todas as suas experiências históricas simultaneamente — império, guerra santa, dominação estrangeira, guerra sectária de todos contra todos — antes de chegar (se é que algum dia isso vai ocorrer) a um conceito estável de ordem internacional. Até que isso aconteça, a região permanecerá oscilando entre a adesão à comunidade mundial e a luta contra ela. ” (KISSINGER, 2015, p. 101-102).
Nas próximas seções é abordada a história da Síria desde a sua formação até os dias de
hoje, bem como a Guerra Civil no país, entendendo a influência da Primavera Árabe e as
relações que Rússia e Estados Unidos tiveram na região do Oriente Médio.
4.2 DA FORMAÇÃO DO ESTADO DA SÍRIA A GUERRA CIVIL
Na presente seção, busca-se entender a história da Síria a partir da formação de sua
independência até a sua Guerra Civil. Para isso, é estudado a relação entre Ocidente e Oriente
no período da formação do Estado sírio, através de sua independência em diante, bem como o
conflito sírio em si e suas influências.
4.2.1 Relações do Ocidente e do Oriente a partir da formação do Estado da Síria
As relações entre o Ocidente e o Oriente, como já tratado acima, sempre foram
conturbadas no decorrer da história, devido a suas diferenças em diversos aspectos. É visto
também uma clara intervenção e influência ocidental na região. Portanto, nesta subseção é
estudado as relações entre as duas regiões já a partir da formação do Estado da Síria, a qual
teve suas origens ao final da Primeira Guerra Mundial.
Na Primeira Guerra Mundial ocorreu a independência do povo árabe, e com isso as
zonas de influências coloniais foram divididas entre as potências que tinham interesse na
região, Rússia, Grã-Bretanha e França. A grande Síria foi concebida aos franceses, assim
como o norte do Iraque. Com o fim da guerra, a França e o Reino Unido estabeleceram a
Administração do Território Inimigo (OETA), que retinha o controle de regiões da Arábia
Saudita, Israel, Jordânia, Líbano, Palestina, Síria e Turquia. Mais tarde, se realizou a
Conferência de São Reno e foi criado o Mandato Francês da Grande Síria e o Mandato
Britânico da Palestina. (KAUFFER, 2008).
O Mandato Francês dividiu o território sírio em cinco partes, o Estado Alawita, Estado
de Aleppo, Estado de Damasco, Estado de Jabal Druze e o Grande Líbano, com o objetivo de
54
os engajar aos interesses ocidentais. Esse mandato não contentou o povo sírio, os quais
posteriormente se reuniram com o objetivo de expulsar os franceses, porém em 1927 a revolta
perdeu força e foi reprimida. Após o fim da revolta, os franceses observaram que o custo alto
que eram administrar todos os Estados, portanto, decidiu dar o poder às elites locais.
(KAMRAVA, 2005).
Em 1930 foi o ano que os franceses transformaram o Estado sírio em uma Republica,
estabelecendo uma nova constituição, ocorrendo logo depois, em 1931 as primeiras eleições
da Síria, com a vitória aos apoiadores do governo da França, sob governo de Mohammad Ali
al-Abed (1932-1936). O governo francês, vendo o domínio que exercia sob a região
ameaçado, ofereceu aos sírios a independência, com algumas vantagens, principalmente
financeiras para si mesmos. Foi evidente o descontentamento dos sírios quanto ao tratado da
independência, logo eles iniciaram diversas manifestações referente ao governante sírio com o
apoio de Hashim al-Atassi (1936-1939; 1949-1951; 1954-1955), líder da oposição, o qual foi
a Paris renegociar o tratado, e em 1936 o Tratado da Independência Franco-Síria foi assinado,
reconhecendo o país como independente e permitindo a incorporação a Síria dos Estados
citados no parágrafo anterior, exceto o Líbano. (KAMRAVA, 2005).
Entretanto, esse tratado não fora ratificado, devido ao domínio nazista na França
(Republica de Vichy) e a chegada da Segunda Guerra Mundial no Oriente Médio. Portanto,
em 1940 a Síria estava sob o comando de Vichy, mas em 1941 houve a ocupação de
britânicos e franceses no país. Nos próximos anos, a Grã-Bretanha mostrou interesse na
criação do Estado da Grande Síria, porém isso não agradou os franceses e os norte-americanos
(nota-se já uma rasa intervenção dos EUA aqui), e isso foi um dos motivos para a criação do
Estado de Israel. Em 1946 todos os franceses saíram da Síria, e em 17 de abril de 1946 a Síria
se tornou independente. Segundo Kamrava (2005), a Síria seguiu os próximos anos com
grande instabilidade política.
4.2.2 Pós independência
No pós-independência, a Síria se envolveu em diversos conflitos e turbulências. Em
1948, por exemplo, se envolveu na guerra árabe-israelense com o Estado de Israel, e não
obteve sucesso. Já em 1956 é visto o início da intervenção da URSS, com a qual firmou um
pacto, fornecendo uma base de influência comunista no governo em troca de equipamentos
militares a serem mandados a Síria. Em 1958 ocorre a união da Síria com o Egito, criando a
República Árabe Unida, portanto sem saber como lidar com a administração dessa fusão, em
1961 ocorre sua dissolução. Assim, a nova administração ficou sob o comando do partido
55
Baath, com Salah Jadid no governo, que seguiu sua política alinhada ao bloco soviético,
contrária ao Estado de Israel e aos Estados árabes alinhados ao Ocidente, mas Jadid perdeu
forças após a derrota síria em 1967 na Guerra dos Seis Dias. Logo, em 1970 quem tomou o
poder foi Hafez al-Assad (1971-2000), que criou em 1973 uma nova constituição na Síria, e
declarou o país como um Estado socialista secular. Sendo que o islã continuou sendo a
religião majoritária. Em 1972, todos os conselheiros soviéticos foram expulsos do Egito, e
logo os norte-americanos mostraram aos soviéticos que junto a Israel, que eles tinham mais
influência sobre a região. A União Soviética tinha algumas influências sobre outros países do
Oriente Médio, mas os norte-americanos não deixariam Moscou atuar no Terceiro Mundo da
mesma maneira que Washington. (ANDERSON, 2015). A Rússia sofreu um retrocesso em
sua posição no Oriente Médio, Kissinger (2015) observa que essa atitude talvez tenha sido
fruto de uma esperança russa de que no futuro novos conflitos na região trariam a recuperação
da influência perdida. Em 1976, seu exército intervém na guerra civil libanesa, com uma
ocupação no local que teve duração de 30 anos. A aliança com os soviéticos desapareceu
totalmente com o fim da Guerra Fria, e logo que ocorreu a Guerra do Golfo em 1991,
iniciaram-se as alianças com os norte-americanos, apoiando-os no contra-ataque às forças de
Saddam Hussein. Hafez al-Assad faleceu em 2000, e foi sucedido na presidência pelo seu
filho Bashar al-Assad entre 2000 até os dias atuais. (HINNEBUSCH, 2007).
4.3 O CONFLITO DA SÍRIA E AS INTERVENÇÕES INTERNACIONAIS DE ESTADOS
UNIDOS E RÚSSIA
Nesta seção, é apresentado o conflito da Síria, primeiramente entendendo a influência
da Primavera Árabe no país, até chegar na própria Guerra Civil que a sucedeu, abordando a
relação dos Estados Unidos e da Rússia no conflito sírio. Por ser um tema recente, no decorrer
da seção são utilizados periódicos e websites para tratar do conflito.
4.3.1 A Primavera Árabe
Na seção em questão, é abordado o episódio conhecido como Primavera Árabe, que
atuou como propulsora de movimentos políticos internos no Oriente Médio e na África.
Influenciando desde o início das manifestações até o momento em que foi declarada a Guerra
Civil na Síria.
Os países do Oriente Médio mesmo conquistando sua independência, encontraram
obstáculos a serem enfrentados. O povo se encontrava em um cenário em que regimes
56
autoritários e corruptos tomaram lugar, junto a uma enorme pobreza. Diante de tal situação
eles foram ás ruas em busca de melhorias através de protestos e manifestações. O ato
considerado estopim para esses protestos ocorreu em dezembro de 2010, quando o jovem
Mohammed Bouazizi foi abordado na Tunísia por um grupo de policiais e ao recusar-se de
entregar seus documentos, foi espancado. Inconformado por essas atitudes autoritárias do
governo ele seguiu à sede do governo e ateou fogo ao próprio corpo. A partir deste ocorrido,
iniciaram-se os protestos nos demais países do Oriente Médio. (SANTANA; COSTA, 2012).
Reginaldo Nasser (2011), explica que o que estava em jogo nas manifestações era
muito além de uma revolta contra quem governava cada país, e sim, reivindicações por
reformas políticas e econômicas. Além disso, a massa de manifestantes não estava vinculada a
alguma ideologia ou liderança, era uma nova geração, de diferentes faixas etárias, que estava
cada vez mais conectada e informada com o exterior, com o objetivo de passar ao mundo a
mensagem de que estavam resistindo a Ditadura e aos modelos econômicos impostos até
então.
Na Síria, a Primavera Árabe chegou apenas em março de 2011, o sentimento de
revolta foi crescendo aos poucos, principalmente com o aumento de assassinatos e torturas
aos civis, e a repressão do governo aos opositores se tornava mais violenta. Além disso, a
Síria sofre por ser um país de grande diversidade étnica e religiosa, sendo vítima de regimes
opressores, o que causou a população maior medo e inquietação. Já na mídia internacional,
enquanto que o governo da Síria a acusava de tentar fragmentar o país, os opositores
acusavam o governo de mascarar os atos severos contra o povo sírio, e as pessoas não
conseguiam entender porque ainda não havia ocorrido uma intervenção militar no país.
(BRANCOLI, 2013).
4.3.2 A Guerra Civil da Síria e as intervenções russas e norte-americanas
Segundo o que jornal BBC (2012), a Guerra Civil na Síria teve início em julho de
2012, quando o Comitê Internacional da Cruz Vermelha anunciou que “os confrontos na Síria
já se espalharam pelo país de tal forma que a situação atingiu o estado de guerra civil,
colocando em efeito a Convenção de Genebra, sobre crimes de guerra”, e nesse tempo, o ex-
secretário-geral das Nações Unidas Kofi Annan viajou para Moscou para buscar um apoio a
sansões contra a Síria, porém essa decisão foi vetada pela Rússia, visto que eles são aliados do
país, desde então a Rússia tem sido acusada de apoiar as atrocidades ocorridas no território
sírio, feitos que os russos negam.
57
Entretanto, para muitos autores, a Guerra Civil na Síria não tem uma data exata de
início, que pelos atos severos de Bashar al-Assad, o início da guerra pode ser considerado em
2011, com o começo da insatisfação popular e seus protestos. Além do governo de Bashar al-
Assad não representar a maioria do povo sírio, as repressões severas do presidente e o
controle da população foram motivos do povo querer derrubar Bashar al-Assad do poder.
(FURTADO; RODER; AGUILAR, 2014).
Para Simon Adams (2015), a guerra consiste em cinco etapas. A primeira se iniciando
em março de 2011, quando forças do governo disparam contra protestantes na cidade de
Deera e causam a morte de alguns civis, desde então as manifestações do povo sírio se
intensificaram, inspiradas pela Primavera Árabe, começando com pequenos protestos e
expandindo-se em todo o país, protestos nos quais era exigido maiores liberdades políticas e o
fim dos abusos de custódia. Bashar al-Assad prometeu algumas mudanças, mas continuou a
usar as forças do exército para deter os manifestantes. Diante desse ocorrido, os Estados
Unidos condenam as repressões do governo sírio e impões severas sanções. Assad rejeita um
plano de paz proposto pela Liga Árabe.
A segunda fase, segundo o autor, ocorre na metade do ano de 2011, marcada pela
criação do Exército Livre da Síria (ELS), que era formado por grande parte do povo sírio
descontentes com a situação em que viviam. Em agosto de 2011, o presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama se declara contra o regime de Assad, comentando que era hora do tal
presidente abdicar sua posição. Nesse momento, como já falado anteriormente, a Rússia
declara seu apoio a Assad, afirmando que o conflito se resolverá internamente. No fim de
2011, bombas foram lançadas em Damasco, causando a morte de alguns civis, posto isto, o
Conselho de Segurança da ONU aprova um plano de paz (maior tentativa diplomática até
aquele momento), e teve o apoio da Rússia.
Na terceira fase observa-se a resposta do governo em relação a fase anterior. Nessa
fase, a cidade de Homs, controlada pela oposição, foi cercada em 2012 e a força militar foi
utilizada. Foi considerada uma estratégia do governo que acreditava que ao aterrorizar a
população, a mesma iria se submeter a eles. Além disso, outra estratégia mais severa ainda foi
lançada por parte de Bashar al-Assad, o uso de helicópteros para atacar os civis. Porém, o
ELS ganhava maior poder também. Essa fase ainda contou com a exposição da mídia de
armas químicas encontradas em território sírio, porém Assad se defendeu, falando que não as
usaria contra os rebeldes. Posto isso, Obama anuncia que caso Assad usasse as armas
químicas sobre os civis, os EUA interviriam no conflito sírio. (BBC, 2012).
58
A quarta fase foi marcada justamente por esse impasse, com ambos os lados marcados
pela mesma quantidade de poder, ou seja, nenhum conseguia ser superior ao outro
militarmente para acabar com o conflito. De acordo com o autor, para seguir em frente, era
necessário o apoio estrangeiro para aumentarem seu poder, de um lado a oposição
constantemente busca por mais cooperações internacionais, enquanto o governo busca manter
sua aliança com a Rússia, aliança essa que se dá pelo fato de Assad ser o último aliado aos
russos no Oriente Médio, além de ser um grande comprador do armamento russo e de possuir
a base naval que é de suma importância a Rússia. Além disso, a Rússia beneficia o governo
sírio, o defende no Conselho de Segurança da ONU, livrando-o da culpa de crime de guerra e
humanitário.
Já a última fase resume-se ao ano de 2013, até os dias de hoje, período em que o autor
define que a guerra síria já deixou de ser apenas um conflito político sectário, mas se tornou
algo maior que isso, uma guerra civil com combatentes não relacionados somente a religião.
No início de 2013, a cidade de Raqqa, após ser dominada por rebeldes, foi bombardeada por
aviões sírios, nesse episódio os EUA ofereceram apoio não militar. Em agosto do mesmo ano,
houve um ataque com armas químicas próximo a Damasco, em que mais de mil pessoas
morreram. A ONU não conseguiu responsabilizar alguém, porém um acordo entre Estados
Unidos e Rússia decidiu que Bashar al-Assad devia destruir seu arsenal químico, caso
contrário, os EUA iriam intervir militarmente (o que já foi falado anteriormente, e nada
aconteceu). (BBC, 2013).
A Guerra da Civil envolve países do sistema internacional, com cada um defendendo
seus aliados no conflito, apoiando-os como podem, financeiramente, e através de envio de
equipamentos militares etc. Ainda não se pode ver um fim a esse conflito, devido a essas
participações internacionais, que priorizam mais suas alianças na região, do que encontrar
uma solução para o conflito. Portanto, esse conflito apresenta ameaça a todo o Oriente Médio,
o qual se encontra dividido, alguns apoiam o governo, outros apoiam a oposição. Além disso,
a região abriga milhares de refugiados sírios, o que pode desestabiliza-la, tornando alguns
países vizinhos uma extensão do conflito. (ADAMS, 2015).
De acordo com Adams (2015), o governo sírio e seus apoiadores continuam
conduzindo ataques conta o povo sírio, com ajuda de aeronaves e tanques, e resultando em
assassinatos e torturas de todos os tipos, causando crimes de guerra e contra a humanidade. Já
a oposição comete atos intoleráveis, tais como, corrupção, destruição de locais religiosos,
execução de soldados do governo, utilizam de financiamento externo, aumento de
59
equipamentos militares, e provocaram o aumento de grupos radicais Islamistas, incluindo a
Al-Qaeda, Jabhat al-Nusra e o ISIS.
Para o autor, algumas questões que ele considera prioritárias ainda precisam ser
resolvidas no conflito, primeiro, é preciso de acesso a ajuda humanitária, segundo, é
necessário buscar uma maneira de solução política no país, e terceiro, o fim da impunidade.
Em 2014 ocorreram as negociações de paz em Genebra, que não obtiveram sucesso
com a Síria, já que as autoridades sírias se negaram em discutir esse tema. Ainda no mesmo
ano, o Estado Islâmico domina a base aérea de Tabqa, fazendo com que os EUA
comandassem ataques aéreos na região. (BBC, 2014).
Já em 2015, o conflito sírio se intensificou com o domínio de alguns territórios por
parte do Estado Islâmico. Em setembro de 2015, a Rússia lançou ataques aéreos em favor de
Bashar al-Assad contra o EI, e embora os russos afirmem que estejam combatendo os
terroristas (como os EUA tem feito), alguns governos tendem a achar que eles estejam
atacando também os rebeldes, contrários a Assad. Naquele momento, o presidente americano
afirmou que estava disposto a cooperar com a Rússia para acabar com a Guerra Civil na Síria.
(BBC, 2015).
No mapa abaixo, é possível verificar que a Síria se encontra sob poder de diferentes
grupos, o que causa uma inquietação na região.
Figura 4: Mapa da posição do Regime Sírio e aliados em setembro de 2015
Fonte: ISW Syria Team, 2015.
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Desde 2012, a cidade de Aleppo, considerada antes o maior centro urbano da Síria,
estava dividida, ao oeste sob o controle do governo, e ao leste sob diversos grupos da
oposição, e assim continuou até que na metade de 2016, as tropas de Assad, apoiadas pela
Rússia, cercaram a cidade, impedindo a movimentação e limitando os suprimentos do lado
leste. Aleppo no ano de 2016, já se encontrava destruída, transformada em ruínas. Em
setembro do mesmo ano, o governo de Assad intensificou seus ataques aéreos na região,
tomando cada vez mais conta do território, até dominar mais de 90% da cidade. Nessa época,
a mídia estava sem acesso a informações sobre a região, e as poucas notícias, causavam
preocupavam o mundo todo. Finalmente, em 15 de dezembro os rebeldes conseguiram entrar
em acordo de cessar-fogo com Bashar al-Assad, para evacuar civis do lado leste, mas logo, a
evacuação de Aleppo foi interrompida. A Rússia afirmou que foi feita a evacuação do lado
leste de quase dez mil pessoas, porém o ONU dúvida desse número. (LEONARDI, 2016).
O ano de 2017 começou com novas perspectivas, visto que Donald Trump assumiu o
comando dos Estados Unidos. Durante sua campanha, Trump mostrava que pretendia
estabelecer uma política pacífica com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Porém, os
ocorridos durante este ano no conflito sírio, mostraram o contrário. O ataque sírio em abril
deste ano na cidade de Khan Sheikun (província de Idlib) e o bombardeio com mísseis
Tomahawk ordenado pelo presidente Donald Trump parecem ter arruinado as expectativas de
diálogo na Síria. O regime de Assad foi culpado pelos EUA e por alguns estudiosos, de ser o
responsável pelo bombardeio com o gás letal sarin no dia 6 de abril de 2017, porém Assad
nega, alegando que o país não teria mais um arsenal químico, mas alguns observadores
acreditam que ainda havia mantido 1% do arsenal no território. Putin defendeu Assad, e
repudiou o lançamento dos 59 mísseis contra a base militar síria, um ataque surpresa de
Trump ao episódio anterior do gás sarin, como forma de aviso que Assad não poderia fazer
tudo o que bem entendesse. Esse episódio, marcou o início novamente de possíveis
desavenças entre norte-americanos e russos. (SANZ, 2017).
Em junho deste ano, a Rússia fez um aviso aos Estados Unidos, dizendo que seus
aviões seriam considerados alvos legítimos se sobrevoarem a Síria. (WELLE, 2017). No
mesmo mês, os Estados Unidos acusaram a Síria de planejar outro ataque químico e avisou
que Assad pagaria um preço alto caso isso viesse a acontecer. (FAUS, 2017). Já em julho,
durante a reunião anual do G20, Trump e Putin se encontraram e acertaram um cessar-fogo
em uma área da Síria, fato que indicou uma possível trégua entre os dois países, os líderes
prometeram respeitar todas as partes do conflito. (UOL, 2017). Em setembro a Rússia fez
outro acordo de cessar-fogo em uma região da Síria, desta vez com a Turquia, Putin ainda
61
afirma que já há algumas condições para encerrar o conflito sírio. (O ESTADO DE
S.PAULO, 2017).
O conflito na Síria, continua em andamento, com muitas questões ainda a se
resolverem, portanto ainda não é possível prever qual será o destino da Síria, e quando o país
vivenciará a paz.
5 O PAPEL DA MÍDIA INTERNACIONAL NO CONFLITO DA SÍRIA
O presente capítulo se refere ao último objetivo desta pesquisa, que busca analisar o
papel da mídia internacional no conflito sírio. Primeiramente explica-se o papel da mídia
internacional nas Relações Internacionais, para em seguida verificar o comportamento da
mídia no conflito da Síria. Como o objeto geral de pesquisa trata sobre as relações entre
Rússia e Estados Unidos abordadas na Síria, são utilizadas fontes de pesquisa em periódicos
russos e norte-americanos, para assim poder observar em que as fontes de imprensa se
divergem e/ou se assemelham.
5.1 A MÍDIA INTERNACIONAL E SEU PAPEL EXERCIDO SOBRE AS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
O primeiro autor a estudar a diplomacia midiática foi o estadunidense Eytan Gilboa,
professor de ciência política. O autor alega que a diplomacia tradicional e fechada, deu lugar a
uma diplomacia na era da mídia, resultado da era da informação do século XX. Em seu artigo,
Gilboa (2001) traz a definição de três conceitos de mídia, e define a mídia como o
instrumento principal da política externa. O primeiro conceito é o da diplomacia pública
(public diplomacy), que tem a ideia de uma comunicação direta com o estrangeiro, com o
objetivo de persuadir o pensamento do povo e até do governo. O segundo conceito consiste na
diplomacia na mídia (media diplomacy), enquanto a diplomacia pública consiste na
propaganda. E a diplomacia na mídia consiste na utilização do meio de comunicação como
um meio de negociação.
Por fim, o autor fala sobre a diplomacia feita pela mídia (mídia-broker diplomacy),
nesse conceito, a mídia não é vista apenas como um instrumento de influência para os
Estados, mas sim como um ator das relações internacionais, aqui os jornalistas e a mídia
atuam como mediadores de conflitos internacionais. O ator mídia, se diferencia dos demais
atores do sistema internacional, visto que não se pode encontrar uma definição fixa a ele, já
que a mídia está em constante inovação. Gilboa diz que a mídia pode possuir cinco tipos de
62
atuação, controladora, constrangedora, interventora e instrumental. Camargo (2008)
acrescenta ainda um outro tipo, a atuação conflituosa.
Figura 5: Taxonomia dos tipos de atores, atividades, contextos e conceitos.
Fonte: Camargo, 2008.
Na figura a cima é possível verificar a definição de cada ator. Por exemplo, a mídia
como controladora interfere na tomada de decisões em relação a questões de intervenção
militar, essa ideia é baseada da teoria do efeito CNN, que vê os meios de comunicação como
atores dominantes na formação de políticas. Já como ator constrangedor, a mídia é vista como
um elemento que influencia na tomada de decisão, constrangendo por exemplo os líderes
políticos a tomarem decisões. Como interventora, ela representa um meio de intermediação,
por exemplo, programas de TV em que o repórter age como mediador trazendo ao programa
pessoas que passaram por situações de conflito. Por fim, a mídia instrumental é utilizada por
governos e seus representantes para promover negociações e conquistar a opinião pública.
(GILBOA, 2001). Camargo (2008) ainda traz outro tipo de atuação midiática, a conflituosa,
que consiste na promoção de conflitos, mostrando situações em crise.
Já com a revolução tecnológica do século XX, houve o surgimento de diversas redes
de mídia, resultando em uma nova configuração do sistema internacional, implicando na
economia, política e na sociedade de todos os Estados. O que não mudou nessa nova
configuração, foi o desejo de poder de cada Estado. Quanto a isso, alguns autores veem a
mídia como o vilão para a conquista de poder, ou seja, a mídia é vista como uma fonte que
serve para influenciar as decisões internacionais. Já outros autores pensam o contrário, que a
mídia ajuda a fortalecer e ampliar o poder dos Estados no âmbito internacional. (VALENTE,
2007).
63
Portanto, a principal função da mídia é de informar a sociedade sobre os
acontecimentos ocorridos. Porém, além de passar a informação, a mídia também tem a opção
de esconde-la, e isso tem um impacto as vezes ainda maior. Dessa maneira, a mídia pode
amenizar ou intensificar a situação noticiada e assim influenciar as forças políticas. Além
disso, a mídia se responsabiliza por analisar em nível de hierarquia qual notícia é mais
importante, visto que os impressos e os portais colocam o que acham de mais importante na
capa. (SOARES, 2007).
Sendo assim, atuação da mídia em assuntos internacionais se baseia na influência
política, na realidade, ora a política influencia a mídia, ora, a mídia influencia a política. Além
disso, a influência da mídia é dominada por corporações, como os Estados Unidos e algumas
potências europeias. Nesse caso, Estados menos desenvolvidos acabam obtendo as notícias
pela visão das grandes potências. (CAMARGO, 2008).
5.2 A INFLUÊNCIA DA IMPRENSA RUSSA E NORTE-AMERICANA NA POLÍTICA
INTERNACIONAL COM FOCO NO CONFLITO DA SÍRIA
Nesta seção se observa a influência da imprensa de duas grandes potências no cenário
internacional, a mídia russa e a estadunidense. É mostrado então, como a mídia internacional
influencia a política internacional, e vice-versa.
A situação atual da mídia fez com que as principais potências se reajustassem ao
sistema, elas precisaram aumentar seu alvo de ação, para conseguir atingir com amplitude a
comunidade internacional, atingindo assim a opinião pública de outros países, como forma
também de influenciar seus governantes. Além disso, as grandes potências utilizam-se da
mídia para revigorar suas políticas imperiais.
Posto isto, a imprensa de duas das grandes potências é tratada nessa seção, da Rússia e
dos Estados Unidos, que conforme já falado nessa pesquisa, são países que possuem
conturbadas relações ao longo da história e seus anseios imperiais são abordados na imprensa
no mundo todo. Portanto, é interessante analisar quais as visões dos dois países sobre o
conflito sírio, em específico, sobre o episódio do ataque químico sírio contra a cidade de Khan
Sheikhoun e a resposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Primeiramente nessa seção é tratado sobre uma entrevista realizada em julho de 2016
com o presidente da Síria Bashar al-Assad, para o noticiário norte-americano NBC News. É
interessante notar, que logo no começo da entrevista, o jornalista Bill Neely, afirma que o
presidente havia falado há um tempo atrás que ele iria retomar ainda todo o território da Síria,
e que o Departamento de Estado dos EUA se referiu a essa ideia de Assad como delirante.
64
Como resposta, Assad disse que o Departamento estadual dos EUA não tem relevância
alguma para ele, logo se percebe seu comportamento provocante frente a questões ocidentais
x orientais. O jornalista mostrou maior atrevimento ao perguntar diretamente o que foi que
Putin pediu em troca de oferecer seu apoio ao governo Sírio, Assad logo disse que
absolutamente nada, e que o principal objetivo dos russos é de lutar contra o terrorismo, seja
na Síria, seja em qualquer lugar. Neely ainda pede se Assad não estava preocupado com a
reunião entre Putin e Obama que iria acontecer dias depois, e Assad se mostrou positivo,
afirmando que a política da Rússia não é baseada em acordos, mas sim em valores. A
entrevista continuou com alguns assuntos em torno da Rússia e dos Estados Unidos, percebe-
se um positivismo por parte de Neely quando fala dos EUA, diferente de Assad. Os dois ainda
falaram sobre as eleições dos EUA e sobre Trump, na época Assad disse que não sabia nada
sobre Donald Trump, e disse que espera ter melhores relações com o futuro presidente dos
Estados Unidos. (NEELY, 2016).
Bashar al-Assad também deu uma entrevista em outubro de 2016 ao jornal russo
“Komsomolskaya Pravda” (um dos poucos sobreviventes da URSS). Nessa entrevista, a
entrevistadora faz algumas perguntas ao presidente sobre alguns fatos acontecidos até aquele
ano. A entrevista começou com o presidente falando que o problema crucial do conflito é o
terrorismo, e ao longo da conversa o assunto terrorismo voltou a ser tema. Sobre o conflito em
si, o presidente o definiu como uma Guerra Fria, mas não uma guerra militar. Quanto a
Rússia, Assad fez bons comentários, lembrando que os dois países possuem tradicionais
relações, que os russos já o ajudaram ao longo da história, mesmo indiretamente, mandando
todo o suporte logístico que precisavam. Além disso, comentou de seus interesses em comum,
principalmente na questão de terrorismo. Assad afirma que a Rússia luta contra o terrorismo
não somente pela Síria e pela Rússia, mas pelo mundo todo. Sobre os EUA, Assad critica,
alegando que os norte-americanos acham que o terrorismo pode ser colocado na mesa, como
uma carta que pode ser jogada. No decorrer da entrevista, é possível perceber que a jornalista
concorda com Assad em diversos assuntos, assim como percebe-se a pouca, quase nenhuma,
conversa sobre os Estados Unidos. Diferente do jornalista norte-americano que apresentou
uma postura mais atrevida com perguntas mais ousadas, a jornalista russa se mostrou mais
reservada, com perguntas moderadas. (АСЛАМОВА, 2016).
No ano de 2017, ocorreram dois dos principais episódios do conflito sírio visto nesses
6 anos de guerra. O primeiro ocorreu em 4 de abril de 2012, um ataque químico sírio na
província de Idlib, neste ataque, mais de 100 civis morreram. Como resposta a esse brutal
episódio, em 7 de abril Trump decide atacar a base militar de Shayrat, na província de Homs.
65
Essa notícia foi publicada pelo o jornal russo “Komsomolskaya Pravda”, que deu espaço a
opinião do especialista Igor Korotchenko, especialista militar e editor-chefe da revista
“Natsionalnaya Oborona”. Korotchenko observa que os Estados Unidos mudaram sua conduta
no conflito sírio, que o presidente Trump fez algo que Obama não se atreveu. Argumentou
que os EUA continuam seguindo uma política agressiva, violando o direito internacional,
achando que eles possuem o direito de mudar as regras e que podem acusar qualquer pessoa
de ser culpada. (АСЛАМОВА, 2017).
Outro jornal russo, chamado TASS, considerado uma das mais importantes agências
de notícias da Rússia, também relatou esse episódio, que segundo a matéria, os Estados
Unidos deram a entender na época que a Rússia estava cobrindo o regime do governo sírio na
questão do ataque químico, já a resposta de Trump, é uma agressão a um Estado soberano. De
acordo com Vladimir Putin o ataque militar é agressivo, e prejudica as relações entre os
russos e estadunidenses. O jornal ainda traz a visão de alguns especialistas que dizem que a
América atua com agressões sem qualquer evidência de peso contra posições governamentais
na Síria. Também comenta que o bombardeio em resposta ao ataque químico bloqueia
qualquer cooperação antiterrorista entre russos e americanos, visto que suas impressões de
combate ao terrorismo são diferentes. Novamente, ao final do jornal, pode-se perceber a visão
da mídia russa, que tem uma postura crítica aos EUA e incertezas em relação ao mandato de
Trump. (TASS, 2017).
Para entender o que a mídia estadunidense traz sobre esse episódio na Síria e sobre um
ataque surpreso a base aérea de Shayrat em 7 de abril de 2017, resposta de Donald Trump ao
ataque químico, é mostrada a visão do jornal Fox News, que diz que o ataque químico matou
72 pessoas e feriu 400 pessoas. Trump declarou que o ataque é repreensível e não pode ser
ignorado pelo mundo, e o secretário de Estado Rex Tillerson diz que os aliados de Bashar al-
Assad, como a Rússia, devem repensar essas questões, pois um ataque químico dessa
proporção é um crime contra a humanidade e deve ser respeitado. (FOX NEWS, 2017). Isso
resultou no ataque surpresa de Trump, em uma base militar, base que segundo ele foi usada
como ponto de partida para o ataque de armas químicas sobre o território de rebeldes. O jornal
conclui que essa atitude de Trump não deixou claro se o atual presidente dos EUA estaria
adotando ou não um esforço maior para combater Assad, já que no mandato de Obama, o ex
presidente preferiu optar por uma política mais moderada e manter um relacionamento
diplomático com a Rússia. (GRIFFIN; TOMLINSON, 2017). É possível perceber ao ler as
notícias transmitidas da Fox News, sua preocupação com passar informações sobre o povo
estadunidense, falando o que eles acham correto ou não.
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Outra fonte de mídia usado é uma notícia da revista norte-americana The Nation. O
autor da notícia é James Carden, um dos escritores contribuintes do The Nation. A notícia
começa falando sobre a influência que as mídias dos Estados Unidos possuem, e como grande
parte deste meio produziu uma ideia baseada no que o presidente do país, Donald Trump,
havia declarado. Trump desde o princípio, acusou o presidente sírio Bashar al-Assad de ser o
culpado por tal ato violento. Corden então fala que muitas pessoas importantes e famosas
confiaram nas imagens fornecidas pelos propagandistas. Porém, algumas pessoas possuem
visões contrárias as de Trump, por exemplo, o ex-embaixador britânico da Síria, Peter Ford
não acredita que Assad seja o culpado, visto que ele não ganharia vantagem nenhuma com
esse ato cruel. James Corden não entende no que foi que Trump se baseou para fazer tal
acusação, e elaborar um relatório em que fala que ele acredita que o governo sírio seja
responsável pelo ataque químico na província de Idlib, já que alguns especialistas não
encontram nenhuma evidência que indique quem foi o perpetrador dessa atrocidade. Philip
Geraldi, um ex oficial da CIA e oficial de inteligência do exército, diz que suas fontes nas
forças armadas estão indignadas com a maneira que o episódio tem sido mostrado na mídia.
O autor acredita que é preciso que haja uma investigação mais séria sobre o assunto e ele
ainda salienta que não há como perdoar o histórico de Assad e suas atrocidades anteriores,
porém Carden acha importante falar sobre o fracasso da mídia estadunidense. (CARDEN,
2017).
Diante disso, a influência da mídia internacional no conflito da síria foi apresentada, e
segundo o que as reportagens citadas dizem, é possível perceber que cada Estado demonstra
mais afeto e dá mais atenção na divulgação de suas reportagens, focando em seus interesses
de política interna e política externa. Nota-se também aqui, o que foi tentando passar no
decorrer de toda a pesquisa, o sentimento nacionalista, de liderança e grandeza que os dois
países possuem, cada qual se defendendo mesmo que indiretamente através da imprensa.
6 CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo analisar as relações entre Estados Unidos e Rússia no
contexto do conflito da Síria percebendo a abordagem da imprensa. Para a realização desse
trabalho, foi delimitado uma pergunta de pesquisa: De que maneira o conflito sírio reflete a
oposição histórica dos Estados Unidos e da Rússia no sistema internacional, e como isso tem
sido abordado pela imprensa internacional? Para conseguir responder à pergunta, um objetivo
geral e três específicos foram estabelecidos para servirem de base para a autora cumpri-los. O
problema encontrado neste trabalho foi o acesso a fontes confiáveis que relatassem o conflito
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sírio e a influência dos russos e norte-americanos no conflito, visto que o conflito da Síria
ainda está em andamento no momento que foi realizado o trabalho de conclusão de curso da
autora.
O primeiro objetivo a ser tratado foi o estudo do contexto histórico dos Estados
Unidos e da Rússia. Este objetivo foi cumprido no terceiro capítulo deste trabalho, que tratou
sobre os acontecimentos da história da Rússia e dos EUA, desde a Rússia czarista e a
independência dos Estados Unidos, até os dias de hoje. Feito isso, pode-se observar a
importância e a influência das duas potências na balança de poder. As semelhanças entre os
dois Estados são baseadas em um sentimento imperialista, e as diferenças são notadas
primeiramente no fim da Guerra Fria, quando os Estados Unidos conquistaram o único lugar
de superpotência mundial, enquanto que a Rússia se encontrava em declínio, mas até hoje há
um sentimento de renascimento russo, tanto para o povo da Rússia, quanto para seus
governantes.
Já o segundo objetivo propôs entender a origem do conflito na Síria e seus atuais
acontecimentos. Mesmo com dificuldades de encontrar fontes confiáveis para alcançar esse
objetivo, a autora conseguiu abordar o tema em questão no quarto capítulo da pesquisa. Em
um primeiro momento, foi analisada a origem do conflito, e a influência da Primavera Árabe.
Em seguida foram analisam os acontecimentos na Síria e o papel que a Rússia e os Estados
Unidos exerceram no conflito, do momento em que se iniciam os manifestos, até o ano atual,
2017, em que o país se encontra destruído e ainda em estado de guerra.
Ainda não se pode prever quando o conflito será encerrado e quando a paz chegara a
Síria, pelas razões de que esse conflito não é um conflito apenas interno, mas envolve outros
atores do sistema internacional, os quais preocupados com suas alianças, acabam defendendo
seus aliados. Outra questão é a do envolvimento de grandes potências no conflito, a Rússia e
os Estados Unidos, as quais alegam que a principal preocupação (e semelhança) delas é o
combate contra o terrorismo, mas além disso, as duas tentam impor o poder e mostrar a
influência que cada uma exercem no mundo, pois os Estados, segundo Mearsheimer (2007),
buscam aumentar seus poderes, mas se proteger de rivais. Foi pontuado também durante o
trabalho, o desejo constante de expansionismo das duas potências, que ao longo da história,
enquanto a Rússia se expandia por territórios, os Estados Unidos se expandiu principalmente
por influência sobre os demais atores no sistema internacional. Enfim, foi conseguido mostrar
qual é a situação das duas grandes potências frente ao fim do ano de 2017, e observou-se que
nenhuma solução para o conflito foi encontrada até então.
68
Por fim, o último objetivo foi tratado no quinto capítulo desta pesquisa e se tratou de
perceber a abordagem da mídia em alguns acontecimentos no conflito da Síria. Em um
primeiro momento, foi exposto a importância da mídia nas relações internacionais, para assim
poder abordar a visão da mídia sobre o conflito sírio de cada potência. O objetivo foi
devidamente alcançado.
É preciso notar que o tema dessa pesquisa é bastante amplo, podendo ainda ser tratado
e aprofundado no futuro, principalmente porque é de grande relevância para o mundo, visto
que abrange um conflito recente, e história de duas grandes potências no sistema internacional
que segundo os autores tratados no decorrer desta pesquisa, são de suma importância para as
relações internacionais. Portanto, seria interessante uma análise futura sobre os próximos
acontecimentos e quem sabe sobre o fim do conflito sírio. Também é importante estar atento
quanto ao futuro em relação a continuação da história dos Estados Unido, visto que os
Estados Unidos se encontram sob o comando do novo presidente Donald Trump, que vem
trazendo uma política ultrajante e desafiadora, e da Rússia, já que no próximo ano, em 2018
ocorrerão novas eleições no país, e Putin terá de sair de poder, ou seja, os dois países
apresentam um futuro incerto para as relações internacionais. Bem como também é
interessante um estudo para verificar a quantas andam as relações entre russos e norte-
americanos no futuro, visto que esses são temas de grande relevância para acadêmicos,
pesquisadores e para a sociedade em geral. Além disso, é preciso manter esse tema ativo
dentro das discussões internacionais, para que assim seja possível encontrar uma solução ao
conflito, e através de medidas diplomáticas, melhorar as relações entre Rússia e Estados
Unidos.
69
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