a representação feminina na imprensa brasileira
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A Representação da mulher pela Imprensa Feminina
Ao longo de muitos séculos, nós mulheres figurávamos de forma secundária nas
representações levadas ao público.
No tocante às publicações da imprensa, algumas vezes aparecíamos como "segundo
lugar", "subalterno", "complementar", "dependente" em referência às publicações
destinadas ao público masculino (Ainda que a Imprensa feminina, desde as folhas
artesanais até o produto da indústria, tivesse potencial o suficiente para alcançar e
atingir uma significativa parte da sociedade).
Analisando o momento no qual surgiram - em todo o globo - publicações
dirigidas especialmente a nós mulheres, percebemos que este fato muito provavelmente
está ligado à ampliação dos papéis sociais femininos (antes restritos ao lar ou à vida
religiosa) e também - talvez majoritariamente - à evolução do sistema capitalista que
pontuava novas necessidades a serem satisfeitas e novas gamas da sociedade a serem
abarcadas por ele. Mas ainda assim a imprensa feminina surge com o estigma
secundário.
Com o decorrer dos séculos XIX e XX verificamos certa evolução no que diz
respeito à nossa representação realizada pela imprensa feminina.
O objetivo deste texto acadêmico é explicitar, com base nas orientações da obra
"Mulher de Papel - a representação da mulher pela imprensa feminina brasileira" de
Dulcília Schroeder Buitoni , de que forma compreendemos tais transformações -
tentando cumprir a linearidade de tempo e focando o objeto de nossas observações aqui
mesmo, no Brasil.
Ainda que a partir do século XIX seja comprovado o aparecimento, no ocidente,
de veículos impressos destinados especialmente ao público feminino, o conceito de
Imprensa Feminina ainda permanece em processo de produção, porque se analisarmos
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cautelosamente a representação das mulheres feitas por esses meios, poderemos afirmar
que muito há por se fazer em termos de retratação da realidade do nosso sexo.
A respeito desta questão Evelyne Sullerot [1963. Pag. 5] – estudiosa dos processos de
formação da Imprensa Feminina na França – em seu livro “ La Presse Féminine”
afirma:
“ A história dessa imprensa é apaixonante porque nela lemos a história dos costumes:
não a “pequena história” feita de anedotas sobre os grandes deste mundo, mas um
reflexo significativo da vida cotidiana, da economia doméstica, das relações sociais,
das mentalidades, das morais e dos esnobismos apaixonados, no seu monótono frenesi
de novidade”
Sendo assim, podemos chegar a um entendimento que nos servirá de apoio em
toda esta pesquisa: É exatamente a novidade, o novo, a ilusão que a todo custo a
imprensa feminina busca. Necessário se faz esclarecer que este termo ‘novo’ não
representa o novo encontrado na notícia, é um novo que lhe confere toda uma ideologia,
esta fazendo parte de sua natureza. Ainda assim ele impera nos impressos dedicados à
mulher desde o surgimento dos mesmos e ao final deste trabalho o consideraremos de
forma mais consistente.
Ao longo do texto estudaremos, assim como a autora que nos norteia na presente
pesquisa, a evolução do impresso feminino fragmentado em décadas.
Nosso objeto de análise estará contido entre os anos corridos de 1900 até a
década de 90; também analisaremos a edição mais recente da revista Cláudia, além de
uma visão sistemática tomando a atualidade como foco e as visões dos conteúdos
relacionados a conceitos do sociólogo Edgar Morin com a finalidade de complementar,
exemplificar, confirmar e trazer para os dias atuais as observações realizadas durante
nossa pesquisa.
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Visualizaremos, a partir deste instante, cada uma das décadas consideradas
imprescindíveis ao estudo da representação da mulher na imprensa feminina brasileira.
E antes de começarmos este panorama, sentimos a obrigação de dizer que no século
XIX são encontrados dois pólos bastante distintos desta representação: Uma imprensa
tradicional – que não torna possível a liberdade de ação fora do lar e que enaltece
virtudes domésticas e qualidades estigmatizadas como “exclusivamente femininas” – e a
outra, uma imprensa progressista, que pregavam e defendiam os direitos das mulheres,
enfatizando, sobretudo, a educação.
∗ Década de 1900
Neste período nota-se o crescimento e a popularidade de revistas ilustradas. A
imprensa no Brasil já estava sendo considerada empresa industrial e comercial.
Surgiam, além dos jornais vespertinos já existentes, várias outras tiragens gráficas que
buscavam atender às demandas da capital do país que era, então, o Rio de Janeiro. A
população da cidade crescia exponencialmente, fazendo com que a cidade “se espalhe”e surjam jornais de bairro, havia também publicações luxuosas, ricas, que eram
favorecidas pelo desenvolvimento das artes gráficas e apresentavam ilustrações e
fotografias muito bonitas (data deste século a utilização dos recursos fotográficos pela
imprensa no Brasil).
Tais imagens ocupavam espaço cada vez maior, e os textos não contavam mais
tão somente com xilogravuras e litografia. Esta prosperidade das revistas ilustradas
delimita uma época em que jornalismo e literatura se fundiam nas publicações. Em
seguida estas começaram um processo de afastamento da literatura, se transformando
em revistas mundanas, de variedades ou femininas.
Em geral as folhas femininas, com exceção do jornal “A Voz Feminina”, de
1901 –fundado por três moças de família tradicional de Diamantina- que lançava a
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campanha do pelo voto feminino, cuidavam de assuntos caricatos, poesias e até
brincadeiras.
Existiam, entretanto, perspectivas mais sérias em relação à mulher, porém estas
se encontravam na imprensa em geral, não necessariamente na específica imprensa
feminina.
Sendo assim, entendemos que a representação da mulher nos impressos
dedicados exclusivamente a ela eram demasiadamente literários e repletos de belas
gravuras. A primeira década do século XIX apresentava a figura feminina a partir de um
conjunto de Oásis.
∗
Década de 1910
Nesta década a imprensa paulista desenvolveu-se ainda mais. Surge na cidade de
São Paulo o veículo denominado “Revista Feminina”. Fundada por Virgilina de Souza
Salles e sua secretária Avelina de Souza Salles, esta era uma revista mensal que
alcançou a tiragem de 30 mil exemplares, sendo mantida por vários anos (de 1914 até
1935) com distribuição nacional.
Não era um veículo meramente comercial, porque possuía uma postura editorial
que defendia o voto feminino em publicações na página de abertura, era bem
diagramado, bem acabado e possuía uma gama extensa de assuntos; além de dedicar-se
“(...) às senhoras, ocupando-se das artes, letras, modas, poesia, contos, informações,
conhecimentos úteis etc.”. Esta revista expunha textos que iam além do conteúdo
comum destinado ao público feminino da época, havia uma ideologia a ser defendida.
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No momento histórico em que as folhas femininas levavam ao público moda e
literatura, tratando esporadicamente de assuntos como educação, higiene, pequenas
seções de culinária e dicas de beleza; a “Revista Feminina” demonstrava uma
formulação mais completa em relação aos demais veículos.
Entretanto não existia nesta época nenhuma “revista” dedicada inteiramente às
mulheres com número significativo de páginas; visto que todas as folhas, revistas e
jornais femininos publicados até o momento não excediam 16 páginas e eram
apresentadas como complemento de outros impressos. Esta compreensão faz com que
enxerguemos a “Revista Feminina” como um impresso que explorava melhor a
potencialidade do público ao qual se destinava, oferecendo maior variedade de seções
que preenchiam um espaço razoável. Ela compreendia melhor o “Universo Feminino”
de sua época e ocupava de maneira mais completa cada uma das divisões deste conceito
(culinária, psicologia, beleza, notas sociais, trabalhos manuais etc.). Em síntese era um
produto melhor dimensionado e melhor enquadrado nas demandas de seu público, que
evoluía dentro do sistema capitalista.
É preciso trazer à tona, para melhor compreensão do leitor desta pesquisa, que
neste momento a campanha sufragista, no âmbito da luta política, vai se firmando e
algumas mulheres passaram a tomar atitudes concretas neste sentido.
Contamos com o exemplo da professora Leolinda Daltro que, não conseguindo
alistamento eleitoral, funda em 1910 o Partido Republicano Feminino e organiza em
1917 uma passeata a favor do voto feminino, no Rio de Janeiro. Em 1919, junto com
um número significativo de mulheres, vai ao Congresso assistir à votação de um projeto
que visava a concessão do direito de voto ao sexo feminino. Também pode ser citada a
Advogada Myrthes de Campos, primeira mulher a ser aceita na Ordem dos Advogados
(OAB), que requereu seu alistamento eleitoral em meados de 1905 e não obteve
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sucesso. As mulheres moviam-se, e a imprensa da época noticiava e comentava esses
eventos, que também se refletiram nas revistas femininas.
Uma das mulheres que conseguiu grande projeção nos impressos femininos foi a
Bióloga e Advogada Bertha Lutz que lutava em favor dos direitos da mulher, afirmava
que a emancipação estava contida na educação da mulher e também do homem. Dez
anos depois, já Presidente da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, lidera o
movimento pelos direitos femininos, especialmente o direito ao voto. Em um de seus
textos ela afirma que nesta década, ainda que o advento da Primeira Grande Guerra não
tenha sido experimentado fisicamente no Brasil, ao perderem seus filhos para a
Epidemia de 1918, as mães brasileiras se aproximavam - na dor e na tristeza – e se
tornavam “irmãs” das mães européias que perdiam seus filhos na Guerra.
∗ Década de 1920
A influência da arte européia, unida ao nativismo e à fermentação cultural
urbana, eclodiu na Semana de Arte Moderna. No tocante ao uso de imagens desenhadas,
a imprensa permanecia bem criativa e em algumas publicações essas tendências se
enfatizaram com o aparecimento do Modernismo. A efervescência deste se traduziu, em
termos editoriais, em várias revistas literárias que surgiram durante os anos 20, expondo
em textos fragmentos deste movimento que afetaria todos os campos artísticos.
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Embora o Modernismo tenha influenciado os desenhos publicados nas revistas
ilustradas o mesmo não se deu com os textos das mesmas. Este ainda evolui muito
devagar, se tivermos como base de comparação o texto literário modernista, mas ainda
existem evoluções se considerarmos o padrão de texto jornalístico. A imprensa em geral
começa a distanciar-se do opinativo e passa a fazer uso de reportagens. Então as
fotografias deixavam de ser meramente ilustrativas para complementarem alguma
informação contida no texto.
No tocante à imprensa feminina, A paulista “Revista Feminina” seguia carreira
firme, junto às suas leitoras fiéis e apresentação gráfica moderna, assemelhando-se em
alguns pontos às revistas destinadas às mulheres publicadas nos Estados Unidos. Em
São Paulo surge também a “Vida Doméstica” em 1929.
Continuava também a revista “A Cigarra”, que foi lançada em Março de 1914,
por Gelasio Pimenta. Em 1924 ela mantinha suas seções de moda, denominada
“Chronica das Elegancias” e inovava com seções como “Collaboração das leitoras”, esta
sendo o espelho da participação do público da revista; esporadicamente se via no início
da ‘Collaboração’ algum assunto mais sério, mas em geral esta se dedicava a uma
espécie de comunicação adolescente que girava em torno de footings e namoros em
praças.
De outro lado, a burguesia paulista e a carioca ascendem de maneira que criam
uma nova demanda impressa, tornando necessários produtos editoriais mais
sofisticados. É neste contexto que surge, em 1927, a revista “A Paulistana”, cuja
primeira edição apresentava capa modernista, anúncios desenhados também com base
no modernismo, belas ilustrações, “palavras cruzadas”, coluna social, uma nota sobre a
exposição do pintor Antonio Gomide, com reprodução de algumas de suas obras, “O
Reino da Celluloide” – uma seção sobre cinema - “De Eva & de Adão” – seção de
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modas e variedades - entre outras que atendiam aos anseios cosmopolitas da elite do Rio
de Janeiro e de São Paulo.
A partir das análises de Revistas Femininas da época, compreendemos que a
maior parte delas tendia para o aspecto educativo e para a elevação espiritual da mulher,
sem que se envolvam com questões de cunho religioso. Havia somente o culto à beleza
e à perfeição, por isso seus artigos se concentravam em educação e psicologia. Eram as
linhas editoriais unidas em um ponto: o pensamento da busca pelo aperfeiçoamento das
mulheres e consequentemente de seus filhos.
Embora por um lado observamos que certas publicações tentam aproximar a
mulher do mundo material, tratando de assuntos como sua saúde, educação, de seus
direitos, do trabalho feminino, de sua conscientização, informação e contato com o
mundo proletário, o modelo proposto ainda é o de uma mulher etérea, cultivadora de
valores espirituais.
∗ Década de 1930
Em 1932 finalmente foi dado às mulheres do Brasil o direito ao voto, por decreto
- do então presidente – Getúlio Vargas. A Revolução Constitucionalista, o caminho
democrático e a Constituição de 1934, que incorporou à lei o voto feminino. Em
seguida houve o Estado Novo, que interrompeu a democracia alcançada nos anos
anteriores, e que fez nascer o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) que
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cerceava a cultura no Brasil. A crítica política abranda-se e a caricatura começa a
declinar.
Em relação à imprensa direcionada à mulher podemos observar que o jornalismo
feminino não encontrara ainda formas “mais jornalísticas” de tratar a realidade, isso
quer dizer que não faz muito uso de maneiras de investigação que ajudam a melhor
caracterizar as reportagens e entrevistas publicadas. Esta imprensa estava limitada à
abordagem de assuntos tradicionais: moda, beleza, crianças etc. Além, como já citado,
de textos literários, contos, crônicas, poesias, provérbios, ou – no máximo – artigos
sobre problemas atuais ou outros assuntos. Ainda esses artigos eram escritos em
linguagem formal, pretensamente literária. Reportagens e entrevistas raramente eram
veiculadas, portanto a relação da imprensa feminina com o fato da atualidade era (e em
alguns momentos até hoje é) menos presente.
A realidade não surge narrada, descrita ou revivida nas páginas dos impressos
femininos. Em geral as matérias neles publicadas apenas dissertavam sobre um tema
atual qualquer e essa era uma das poucas formas de o “real” inserir-se na imprensa
dedicada às mulheres: como editorial ou um artigo.
∗ Década de 1940
Nesta década, expande-se o jornalismo Norte Americano. As agências enviavammaterial jornalístico que era traduzido e dificilmente adaptado. As assinaturas dos textos
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eram de nomes estrangeiros bem como as fotografias. Esta era uma época em que
Hollywood pregava o otimismo, ainda que em tempos de guerra. Mesmo revistas como
“O Cruzeiro”(fundada em 29 de Março de 1930) que possuíam boa dose de sentimento
nacional, com reportagens escritas e fotografadas em nosso país e muitas ilustrações de
autores brasileiros, não escaparam à influencia que os Estados Unidos impuseram aos
meios de comunicação de massa, principalmente no que dizia respeito ao cinema.
Nomes importantes como Fox, Columbia, Warner etc. emitiam fotos e textos a respeito
de artistas ou pequenas histórias por eles protagonizadas.
A Guerra aparece muito pouco nas páginas das revistas, em algumas surgia
apenas sob a forma de votos de paz. A Indústria cinematográfica de Hollywood
predominava. Em “O Cruzeiro” um exemplo das poucas seções nacionais: “Garotas”,
com desenhos de Alceu e legendas (em verso) de Millôr, e a série “Queria ser...” que
reflete o desejo das moças brasileiras em tornarem-se estrelas internacionais como as
que lhes eram apresentadas nos cinemas da época.
Percebemos, portanto, que o padrão desta década era a atriz estrangeira. As
seções de moda e beleza são ilustradas com fotos de celebridades como Deanna Durbin,
Ana Pavlova, Eleonora Duse,Betty Grable. A atriz Eleanor Powell ditava normas de
etiqueta para debutantes que vão ao primeiro baile em uma das seções.
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Já na segunda metade da década de 40 surge um produto que apontaria uma
nova direção, diferente das existentes até o momento e que ganharia, mais tarde, uma
boa parte do mercado: As Fotonovelas. No Brasil a pioneira foi Grande Hotel, lançada
em 1947, pela editora Vecchi, no Rio de Janeiro, que publicava histórias de amor em
quadrinhos. Ainda não era a fotonovela verdadeira, que possuía fotos (e foi publicada
pela mesma editora em 1951), mas era o início do gênero.
Grande Hotel já nasceu como veículo destinado exclusivamente às mulheres,
que trazia relatos “verdadeiros” de conflitos amorosos, o que o fez um dos maiores
sucessos editoriais de seu tempo, ultrapassando rapidamente um milhão de exemplares
semanais. Este veículo faz uma exploração tônica do romantismo, trazendo seções como
“Problemas do coração – problemas de amor expostos pelos próprios interessados”,
testes: “Estará você realmente amando?” e “Que Mulher é você?”, resumos de filmes
em “O Amor nos filmes” e frases amorosas. Eram pequenas doses de romantismo que
garantiam a compra da revista semanalmente.
∗ Década de 1950
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A década de 50 marca uma maior evolução na industrialização da imprensa
brasileira, refletida mais intensamente nas revistas, porque elas estavam entrando em
fase de produção industrial, especificamente as femininas e as denominadas ilustradas.
As seções femininas dos jornais, que custavam a modernizar suas formas e seus
conteúdos, estavam sempre atrasadas em relação às revistas. A diagramação e ilustração
dos conteúdos dedicados às mulheres nos jornais eram pouco trabalhadas; a mulher,
como público, era bem pouco considerada, o que dava a impressão de que os jornais
possuíam as folhas femininas somente para constar. O Estado de S. Paulo publicava as
Sextas-Feiras uma página para o público feminino, nesse formato, desde 1940. Na
década de 50, graças às exigências criadas pela urbanização crescente e pela
concorrência, a seção feminina foi transformada em suplemento, o “Suplemento
Feminino”, de 1953, de dezesseis páginas em tamanho tablóide. Sua diagramação não
apresentava nada de novo.
Ao passo que as revistas femininas desta década iam adquirindo formato mais
industrializado, obedecendo a metas empresariais. A primeira revista de fotonovela no
Brasil foi a “Encanto” de 1951 – da Artes Gráficas do Brasil. Embora a “Grande Hotel”
já existisse desde 1947, suas histórias eram em formato de quadrinhos, ou seja, ela só
inaugura o verídico estilo ‘fotonovela’ em 1951.
As fotonovelas desertam para uma realidade urbana, que, entretanto, só é
trabalhada em sua superfície. Da mesma maneira que mostra a mulher trabalhadora,
mantém a ideia de que a felicidade suprema se realiza no lar, com marido e filhos. A
Mulher é chamada para trabalhar fora; mas é chamada com mais ênfase para ficar em
casa. Em síntese: Atrás de toda a apologia ao amor, resta um conformismo nutrido por
diversas histórias erguidas exatamente no mesmo modelo.
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Surge então, em 1952, a revista “Capricho”, da Editora Abril. Precedendo o
lançamento da mesma ocorreu uma grande campanha publicitária, com anúncios no
rádio e em páginas inteiras de outros veículos impressos de grande tiragem, como “O
Cruzeiro. A partir de então surge no Brasil uma nova fase no mercado editorial.
“Capricho” foi a primeira revista que a Abril lançou dedicada ao público feminino. Em
novembro, a revista passou a ser mensal, por decisão do proprietário da Abril, Victor
Civita, e esta periodicidade vale até hoje, apesar de eventuais períodos em que a revista
era publicada quinzenalmente.
Em paralelo ao nascimento de revistas femininas e revistas ilustradas mais
modernas, formava-se com o passar do tempo uma galeria de ídolos nacionais,
auxiliados pelo processo de difusão ocorrido devido a meios como rádio e televisão, que
começava uma progressiva inserção. Em meados dos anos 40 predominavam os artistas
de Hollywood e apenas alguns poucos artistas brasileiros eram focalizados pelos
‘media’. Um fator que poderia ser apontado como auxiliador na formação de estrelas
nacionais foi o colunismo social, gênero jornalístico que cresceu bastante neste
momento de crescimento econômico da era juscelinista, que atendia à ideologia otimista
da burguesia ascendente.
Geralmente todos os meios de comunicação existentes espelhavam tal espírito
progressista superficial, e criavam o embrião do jornalismo de televisão, através da
sedimentação de algumas estrelas em fotonovelas cujas características eram bem mais
nacionais e fazia uso do prestígio dos novos ídolos.
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*Década de 1960
Neste momento adentramos a história mais próxima, que figura na memória de
algumas brasileiras que viveram este contexto, não mais somente dependendo da análise
de livros. A mulher já havia sido introduzida na sociedade do consumo. As revistas
traziam cada vez mais anúncios, como querendo testar a capacidade compradora do
público ao qual se destinavam e, sendo assim, o projeto editorial desses impressos
dirigidos às mulheres focavam, primeiramente, o consumo. Conselhos de beleza,
contos, psicologia e culinária não são selecionados por si mesmos; tudo que está
inserido em uma revista feminina está diretamente ligado ao produto ou serve para atrair
a consumidora a comprar a revista e ser “bombardeada” com a publicidade nela contida.
Em suma: o conteúdo é instrumental e serve a interesses bem específicos das empresas.
Neste momento, aparece em 1966, a grande e inigualável revista brasileira de
reportagem: Realidade, da Editora Abril. Ela contava com jornalistas e fotógrafos
conceituados que produziam reportagens pesquisadas durante meses e nos lugares maisdiferentes do Brasil e do mundo. Então, o nº 10, de Janeiro de 1967, inteiramente sobre
a mulher brasileira, foi apreendido/censurado.
Segundo matéria publicada na revista Edição Veja Especial Mulher (da mesma
Editora Abril) de Junho de 2010 o contexto histórico no qual nasceu a revista
Realidade, terceiro ano da ditadura militar no Brasil, era relativamente mais tranquilo –
se comparados aos momentos vividos após o Ato Institucional número 5 (AI-5) de 1968
- embora houvesse sinais de fechamento de alguns dos meios de comunicação.
Em meros seis meses desde o seu lançamento a revista já alcançara a marca de
venda de 475 mil exemplares. Não havia tema que escapasse do crivo dos trabalhadores
da revista: Divórcio (chamado “desquite” naquele tempo), celibato na Igreja,juventude,
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homossexualidade, drogas, sexo e tantos outros assuntos tabu geralmente omitidos de
outros impressos.
Para a edição nº 10, correspondente a Janeiro do ano 1967 os editores
pretendiam realizar o mais completo retrato da mulher brasileira, jamais publicado.
Foram seis meses de trabalho em cima das reportagens e foi encomendada uma pesquisa
ao INESE, instituto mais respeitado da época, que ouviu mais de 1200 mulheres para
apresentar um panorama bastante amplo do pensamento feminino. A chamada principal
da capa era “Edição Especial – A Mulher Brasileira, hoje”.
Poucas horas depois de ter chegado às bancas (No dia 30 de Dezembro de 1966)
e terem sido distribuídos mais de 400 mil exemplares, a Realidade foi recolhida das
bancas por viaturas da polícia, com o apoio da Delegacia de Costumes de São Paulo. No
despacho, o juiz Artur de Oliveira Costa afirmava que a publicação possuía “algumas
reportagens obscenas e profundamente ofensivas à dignidade e à honra da mulher,
ferindo o pudor e, ao mesmo tempo, ofendendo a moral comum, com graves
inconvenientes e incalculáveis prejuízos para a moral e os bons costumes”.
No dia seguinte ao embargo em São Paulo foi decretada a apreensão da revista
também no Rio de Janeiro. A revista recolhida virou peça de colecionador, sua
apreensão serviu para torná-la ainda mais querida entre aqueles que a liam.
A Edição Especial Mulher de 1967 foi como um cânone do modo de fazer
jornalístico que mescla jornalismo e literatura. Seus textos extremamente bem escritos
causaram posições como a de Cláudia Andujar, fotógrafa do parto que foi uma das
causas da apreensão da revista, por ser extremamente “chocante”, que afirmou haver
uma palavra que serviria de sinônimo à Realidade: Liberdade.
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∗ Década de 1970
O auge do consumo nas revistas brasileiras acontece nesta década. Antes de
serem lançadas as revistas, ocorriam diversas pesquisas que serviam para determinar alguns assuntos, a linguagem a ser utilizada, o tamanho da publicação, a disposição dos
assuntos e as fotos da capa e outros fatores.
As revistas que já existiam passaram a se adaptar em termos de publicações e formatos
aos interesses e demandas do público. Ou seja, elas passaram a ser, a priori, um produto
industrial e a questão cultural é relegada ao segundo plano. As necessidades reais vêm
depois das necessidades artificialmente produzidas pelos meios de comunicação de
massa.
As revistas femininas de classe média, a exemplo da Cláudia (cuja edição mais
recente analisaremos posteriormente), são praticamente catálogos comerciais de
diversos produtos com uma ou outra matéria fielmente jornalística.
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Notamos a existência de muitas páginas coloridas que demonstra o espírito desta
década, A parte majoritária dessas revistas constitui-se, além dos anúncios, de matérias
sobre moda, beleza, decorações – todas elas com indicações de nomes, endereços e até
preços de alguns prestadores destes tipos de serviço e de muitos desses artigos.
Pretextando veicular “reportagens de serviço”, davam prioridade à fabricantes
que faziam anúncios em suas páginas. A revista vende a leitora para o anunciante e o
conteúdo anunciado vende a revista para a leitora (ou chama sua atenção).
Enquanto a edição das revistas vai se aperfeiçoando, os jornais, preocupados
muito mais com outras editorias do que com a especificamente feminina, vão ficando
em atraso se comparados com esta imprensa específica.
O “Suplemento Feminino”, enquanto produto para grande circulação, não estava bem
dimensionado, por não ser capaz de cumprir funções básicas como os outros veículos,
mesmo que sejam totalmente comerciais.
O fato é que o produto mais veiculado nas revistas gerais desta época era o sexo.
Este era o principal e mais vendido produto editorial nos anos 70.
A repressão política dos primeiros anos acabou por canalizar as insatisfações para
outros aspectos. Nas revistas femininas, assuntos sexuais foram conquistando pouco a
pouco o seu espaço. Desde referências às insatisfações de mulheres casadas, começaram
a ser publicadas matérias sobre virgindade, orgasmo, masturbação, etc. Mais no final da
década as edições de revistas femininas publicavam, na íntegra, nomes dos órgãos
sexuais, o que era impensável dez anos antes. É preciso ressaltar que esse avanço não
foi uniforme em todas as revistas femininas. ‘Cláudia’ e ‘Capricho’ foram bastante
cautelosas e vagarosas para tratar de temas sexuais em suas páginas, a primeira por ser
considerada mais comportada e a segunda por ser dedicada a um público mais jovem.
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A inovação no que diz respeito À destinação foi protagonizada pela revista
“Nova” que, ao contrário das revistas femininas da época que se destinavam à dona de
casa ou à jovem moça, passou a direcionar-se à mulher adulta, casada ou não, com
poucas preocupações dentro do lar e muitas preocupações sexuais; Uma mulher mais
“liberada” que não pensa necessariamente em casamento.
Paralelamente à esses produtos industriais bem trabalhados surgiam impressos
modestos, tentativas artesanais de jornais e publicações que visavam promover a mulher
como ser humano, buscando identificação com as classes populares, a exemplo do
tablóide de 1976 “Nós Mulheres”.
∗ Década de 1980
As fotonovelas deixam de fazer parte das publicações femininas, a segmentação
inicia um processo de crescimento e a beleza passa a ter ser foco direcionado para a
estética corporal. Os anos 80 apresentaram crise econômica e daí nasceram as revistas
de “serviços”, que sugeriam às leitoras seções de “Faça Você mesma”. As adolescentes
ganharam importância definitiva enquanto público e nicho mercadológico.
Sobretudo esta época foi extremamente importante no tocante à luta para
conquistar a democracia.
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Em 1981, o governador do Estado de São Paulo - Franco Montoro, criou o
primeiro Conselho Estadual da Condição Feminina; a primeira Delegacia da Mulher
começou a funcionar em São Paulo em Agosto de 1985.
A nova Constituição, promulgada em 1988, previa que “Mulheres e Homens são
iguais em direitos e obrigações” e “Os Direitos e deveres referentes à sociedade
conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”, o sistema já não era
mais patriarcal. Também foi aprovado o voto aos 16 anos de idade e começava a ser
tratada a questão do meio ambiente.
Os anos 80 começaram a apresentar os resultados das lutas e reivindicações
femininas, iniciadas na década anterior. O mercado de Trabalho se abria cada vez mais
para representantes do sexo feminino; as mulheres chegavam em número cada vez
maior às universidades e aumentava gradativamente a atuação da mulher na política.
Nesta época, graças às dificuldades econômicas, surgem revistas cujo objetivo
era serem úteis à leitora, algumas dando “dicas” para que se conseguisse uma renda
complementar a partir de trabalhos artesanais. Outro tema que começava a ser tratado
com frequência era “Cuidados com a saúde e com a alimentação”; a difusão de
academias de ginástica dava conta de que o físico ganhava mais relevância.
No tocante à interação com os leitores (ou a ideia de interação amistosa que as
revistas pretendiam transmitir) as revistas femininas recebiam inúmeras
correspondências enviadas pelo público ao qual se destinavam nas seções de cartas –
onde algumas delas eram publicadas. Sugestões, consultas sobre temas como
relacionamentos, direito, saúde e outros estão presentes desde sempre na imprensa
feminina. Em tempos pré-internet o volume de cartas recebido pelas revistas indicava a
necessidade de interação das mulheres com a revista que elas compram e na qual
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confiam. Mais e mais a leitora ganha voz ativa nas publicações que se dirigem a ela,
dando início a um tempo de jornalismo colaborativo.
∗ Década de 1990
Grande parte das revistas brasileiras de grande circulação dedicou-se, nesta
década, ao consumo e culto às celebridades (neste momento podemos enxergar uma
intertextualidade com a obra de Edgar Morin acerca da Imagem Olimpiana, que será
analisada neste mesmo trabalho depois.), em especial as que figuravam na Televisão.Todo o direcionamento para o mercado que a imprensa feminina realizou desde os
primeiros momentos de sua existência chega ao ápice no fim do século XX.
As revistas destinadas às mulheres são fundamentais para a concretização da
sociedade de consumo e, desta forma, o corpo assume o sentido de elemento
fundamental na elaboração da imagem das pessoas.
A produção de imagens cresceu significativamente: Televisões, vídeos, câmeras
de segurança, outdoors, indoors, circuitos internos, imagens nos computadores etc. A
pressão exercida por essa enxurrada de imagens femininas é muito intensa.
Os anos 90 viram ascender os setores das classes denominadas C e D na
sociedade. Com o plano Real de 1994, a população voltou a ter maior poder aquisitivo,
possibilitando o lançamento das chamadas revistas populares. Descobriu-se que muitas
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mulheres comprariam revistas semanais cujo preço era de R$1,50. Estas traziam
informações úteis ao cotidiano, celebridades e respondiam às necessidades de suas
leitoras.
A característica principal desta década é o auge da divinização das celebridades.
A Revista “Caras” é um exemplo significativo deste fato; a fórmula dessas publicações
que são destinadas à classe A e B, também atrai leitores da classe C, que enxergam
nestas pessoas “célebres” modelos a serem copiados.
Quase não há lugar para matérias críticas ou para assuntos tristes. Muito raro, vê-se o
depoimento de algum famoso acerca de superação de um momento mais amargo de sua
vida, que é apresentada ao público como algo próximo da perfeição vista em
divindades.
O tema “televisão” movimenta um mercado crescente, que se pronuncia com a
questão da representação da imagem feminina. Em outros termos: as mulheres da tela
da TV são as referencias principais para as mulheres brasileiras.
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Análise Sociológica acerca da Imprensa Feminina
Edgar Morin, sociólogo francês que desenvolveu trabalhos envolvendo a cultura
de massa, produziu uma tese de que os mass media criam no imaginário de seus
espectadores o que ele denomina imagem “Olimpiana”. Olimpianos, na mitologia grega,
eram os deuses que habitavam o monte Olimpo e, apesar de serem divinos,
apresentavam características humanas. Neles, as pessoas se inspiravam, procurando
viver à sua semelhança. Desta forma, tais entidades foram consideradas centrais na
sociedade, apresentando-se, portanto, como referência para a vida e conduta de todo o
povo grego.
A tese dos Olimpianos de Morin afirma que os meios de comunicação de massa,
semelhante ao que ocorria com estes, transformam artistas em pessoas de destaque na
sociedade, a ponto de tornarem-se referências para comportamento, aparência e até no
modo de ser.
De acordo com esta perspectiva e tomando por base as capas de revistas
destinadas ao público feminino, torna-se possível inferirmos que as modelos e
celebridades que as estampam exibem corpos aparentemente perfeitos – entendemos por
perfeitos aqueles que são assim julgados e moldados pela mídia. Em sua maioria, estas
mulheres aparecem seminuas ou, ainda, com belíssimas roupas, além de cabelo e pele
invejáveis. Estas figuras podem ser consideradas olimpianas que, em detrimento de se
tratarem de seres humanos, acabaram por ser divinizadas, exaltadas, colocadas em
pedestal e que, através do veículo impresso – não somente – são impostas à sociedade
como padrão de beleza a ser invejado e seguido.
Figuras como as que estampam as capas destas revistas correspondem a uma
afirmação de Morin: “(...) as estrelas em suas vidas de lazer, de jogo, de espetáculos, de
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amor, de luxo, e na sua busca incessante da felicidade simbolizam tipos ideais da cultura
de massa.”
As edições destinadas às mulheres geralmente dedicam espaço para sessões de
moda, onde são oferecidos padrões que moldam o perfil de como a leitora deve se vestir
e se arrumar para ser considerada realmente bonita e atraente. Por mais que não se
avalie determinada peça como, de fato, bonita, certamente, a mulher procurará se vestir
de forma semelhante pelo simples fato de que “saiu na revista”.
Tais dicas de moda e exposição de determinadas tendências, assim como
modelos de comportamento, apresentam-se como sendo uma perpétua busca do novo
(novo estilo, novo cabelo, novo visual); o que, segundo Morin, “corresponde a uma
dupla necessidade: a da reestimulação sedutora, a da afirmação individual (ser diferente
dos outros).” Estas matérias trazem consigo uma constante “reciclagem” do visual com
o intuito de combater e anular o já visto e, portanto, ultrapassado. Também propõem a
originalidade, o estilo próprio; porém tal “desejo de originalidade, desde que a moda se
espalhou [por meio dos veículos de comunicação de massa] se transforma em seu
contrário; o único, multiplicando-se, vira padrão.” (MORIN, 1977). Entramos desta
forma num ciclo vicioso de renovação e busca do diferenciado, sem, no entanto,
perceber que, uma vez massificados, os aspectos estilísticos divulgados nunca levarão à
originalidade objetivada.
“A mulher modelo desenvolvida pela cultura de massa tem aparência de boneca
do amor”. Cria-se um modelo feminino constantemente pintado, impecável, o que,
segundo Morin, segue um ritual permanente que é um convite ao amor.
Um comentário relevante do sociólogo francês é o que compara a mulher
ocidental com a mulher soviética, que não vive em uma sociedade de consumo e que,
portanto, não vive esta busca incessante pela beleza. De acordo com o autor, “essa
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mulher normal das grandes cidades ocidentais aparece como meretriz aos olhos das
mulheres de Moscou ou de Gorki.”.
Ainda segundo Edgar Morin: “um rosto de mulher reina sobre as capas das
revistas, sejam elas femininas ou não (...). Se o rosto da mulher e não do homem impera
na revista feminina é porque o essencial é o modelo identificador da mulher sedutora, e
não o objeto a seduzir. Se na grande imprensa periódica a mulher eclipsa igualmente o
homem, é porque ela ainda é sujeito identificador para as leitoras, enquanto ela aparece
como objeto de desejo para os leitores. Essa coincidência da mulher-sujeito e da
mulher-objetivo assegura a hegemonia do rosto feminino.”
A Atualidade como Cenário
Pretendemos neste item elaborar uma síntese da forma com que a figura
feminina está sendo retratada no período atual. Esboçaremos sobre todos os aspectos
que consideramos relevantes, os quais visualizamos constantemente nas edições em
questão, além de suas possíveis intenções, implícitas a olhos relativamente ingênuos.
Considerando pesquisas realizadas por Tânia Navarro Swain e Michelle
Bronstein, é possível afirmarmos que ambas concordam entre si no que diz respeito à
presença de aspectos masculinos nas revistas femininas. Não estamos tratando
propriamente da figura do homem nas publicações, mas da abordagem de assuntos quevisam instruir a leitora a “agradar” e alcançar o público masculino.
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Segundo Swain, “as revistas são construídas em função de um personagem cuja
presença é incontornável e em torno da qual giram as mulheres incansavelmente: o
homem”. Isto é perceptível em matérias que estão no grupo classificado “Amor e Sexo”.
Ocorrem, geralmente, intituladas, por exemplo, como “Ele gosta mesmo de você?”,
“Como os homens realmente veem você?”. Podemos a partir disto destacar a ocorrência
de testes que objetivam, como citado anteriormente, a análise da vida da mulher
relacionada à figura masculina, além de questionários que buscam o autoconhecimento
da leitora e seu desempenho na vida pessoal e profissional.
"Com a promessa de educar as mulheres para a conquista amorosa e sexual, as
revistas dão inteligibilidade à aquilo que é desejável neste período histórico e indicam
os caminhos serem seguidos para alcançar os objetivos propostos por elas mesmas."
Gabriela Boemler Hollenbach
Notamos que ao conter matérias voltadas para a sexualidade, as edições revelam
a emancipação da mulher. Contudo, ao mesmo instante em que a mulher moderna se
encontra neste nível de independência, ela também mantém certos valores tradicionais
que, desde sempre, são esperados de sua parte: a sedução a fim de agradar ao homem; o
que confirma a opinião de Tânia Swain.
Outro aspecto importante verificado nos dias de hoje trata-se da presença de
orientações para confecção de produtos artesanais e culinários. São divulgados manuais
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de “como ganhar o seu próprio dinheiro” instruindo a trabalhos que exigem habilidade,
o que é pressuposto ser um dom feminino. A partir disto, podemos inferir que, apesar
das publicações incentivarem o desenvolvimento de uma renda própria, ela não
incentiva a ruptura com o modelo doméstico e sim a conciliação com o mesmo.
Assuntos como decoração também se fazem presentes nas revistas, o que nos
permite alcançar a ideia de que a mulher deve, sobretudo, se voltar para o ambiente
familiar, sabendo torná-lo mais agradável e bonito para uma melhor convivência com a
família. A mulher, neste aspecto, deve demonstrar um caráter mais inovador e moderno,
deixando transparecer certa autonomia e maior personalidade ao decidir, por exemplo,
ousar na constituição decorativa de sua casa.
"A decoração de uma casa pode torná-la tranquila e agradável para quem mora nela
ou pode se transformar no último lugar para o qual seus moradores desejam ir."
Acompanhada deste poder de autonomia, a figura feminina tende a ser tratada de
modo gradativamente independente sem, no entanto, alcançar o ápice desta proposta.
Ela ocorre como detentora do poder de opinião e com parcela de participação na renda
da casa, uma vez que as revistas retratam a mulher como aquela que, além de cuidar do
lar também trabalha fora e consegue, ainda assim, manter sua classe e beleza. O período
atual tende a enfatizar este modo independente, bem mais explícito se comparado aos
períodos anteriores expostos em nossa pesquisa. A figura feminina já não se faz tão
dependente do companheiro, daí a sensação de maior liberdade.
As publicações da atualidade geralmente dispõem, ainda, uma sessão de “carta
da leitora”, destacando o espaço e a participação do público alvo, seja para sugerir,
elogiar ou, até mesmo criticar. Poderíamos, a partir desta observação, constar o
pensamento errôneo de Theodor Adorno ao afirmar que o público aceitaria de forma
acrítica os produtos culturais da chamada Indústria Cultural. Os veículos impressos
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possibilitam a retroalimentação ou feedback através deste espaço, o que destaca o
equívoco cometido pelo autor.
Um ponto muito explorado nas revistas consiste no estímulo, cada vez maior, ao
uso de próteses, as quais deteriam o poder de moldar o corpo da forma desejada. Este
padrão de desejo é, portanto, imposto pela própria mídia em que rege a ideia de que o
corpo só será suficientemente bonito se for invadido por uma prótese que o transforme.
As publicações encarnam verdadeiras portas de publicidade incentivando o consumo de
produtos ao mesmo tempo em que oferece o ideal de beleza desejado desde sempre. As
revistas passam a invadir o espaço de instituições como família, igreja e escola, ditando
também regras a serem seguidas.
Como caráter diversional, podemos destacar nas publicações a presença dos
contos de amor. As mulheres buscam nestes textos se identificar com tais situações e,
possivelmente, associá-las ao seu cotidiano e convívio com o parceiro. Buscam neles,
de repente, alguma solução para um problema que estejam enfrentando no
relacionamento.
Com relação ao material jornalístico disponível nestas publicações, podemos
salientar a predominância do jornalismo interpretativo. Geralmente as revistas não se
atêm em conteúdo informativo, até porque suas edições ocorrem quinzenal ou
mensalmente, o que dificulta muito o acompanhamento dos fatos da atualidade. Já o
jornalismo interpretativo constitui um modelo que oferece mais atenção, tanto ao fato,
quanto ao leitor, neste caso, à leitora porque busca meios para que esta compreenda, a
seu tempo, as causas e as origens dos fenômenos, além de suas conseqüências no
futuro.
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Para Beltrão, (1976) interpretar, no sentido jornalístico, significa buscar a
essência do fato para entender seu sentido através da identificação de causas e motivos,
de análises, comparações e previsões.
Esta modalidade de informação também pode ser entendida como detentora da
função de deixar a mulher inserida no que ocorre no mundo, porém, de uma forma mais
aprofundada, o que nos auxilia visualizar uma mulher provida de mais conteúdo. É
como se isto fizesse parte da construção do “mundo delas”, compreendido à maneira
mais delicada e inteligente da mulher, visivelmente mais perfeccionista e detalhista, se
comparado à maneira masculina.
Não diferente das edições comentadas até o momento, as revistas dedicadas ao
público adolescente trata de assuntos como moda, beleza, sexo e conquista de homens,
porém de um modo inerente ao processo vivido na adolescência. A exemplo, podemos
tratar do que diz respeito aos relacionamentos; em vez de falarem sobre como agradar
um homem sexualmente, estas revistas instruem as meninas a como beijar
satisfatoriamente além de oferecer dicas para alcançar um relacionamento "com aquele
carinha" e não "pagar um mico" nas baladas quando se aproximar do "gato". Este tipo
de linguagem é utilizado, uma vez que se pretende alcançar o entendimento das
adolescentes e jovens que buscam suas respostas para este confuso período de suas
vidas. Estas ocorrem sedentas de um apoio, ou alguém que as entenda e dê conselhos;
assumindo este papel de cupido, a revista adolescente vem ampará-las de tais
inquietações.
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Em geral, estas edições destinam-se a garotas de dez a dezenove anos, idade em
que os padrões comportamentais ainda não se encontram bem definidos. A partir disto,
estes “folheteens” se apresentam como verdadeiros manuais de comportamento para que
as garotas se insiram nos grupos sociais. Este tipo de discurso se faz mais eficiente dada
a pretensão de pessoas desta faixa etária de serem aceitas socialmente.
A imprensa feminina, desta forma, pode ser considerada como o ponto máximo
dos valores estabelecidos pela cultura de massa: afirmação da individualidade privada, o
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bem-estar, o amor e a felicidade, uma vez que ela leva as mulheres a uma obsessão
consumidora de roupas e acessórios a fim de nivelarem-se às referências explícitas e
oferecidas pela própria imprensa. Padrões de vida e modos de se comportar diante das
várias situações do cotidiano são oferecidos a fim de nortear a figura feminina na
sociedade; de acordo com esta perspectiva e finalidade da imprensa, portanto mídia, o
conteúdo tende a ser totalmente inerente aos processos, vivências e problemas pelos
quais a mulher passa, se aproximando dela, cumprindo papel de representante e apoio.
Análise da Revista Cláudia – Ano 49 nº. 7
Para melhor enxergarmos as observações que fizemos acerca da representação feminina nos impressos
que foram surgindo ao longo do século XX no Brasil, decidimos analisar o exemplar mais recente,
publicado em Julho de 2010, da Revista Cláudia.
Tal revista, como já vimos anteriormente, está disponível nas bancas de todo o país desde o ano 1961 –
década marcada por profundas mudanças no tocante aos veículos direcionados às mulheres – e destina-se
mais especificamente ao público feminino adulto de classe média alta. Tal fato pode ser percebido através
dos anúncios de artigos de beleza, decoração e culinária de luxo e da veiculação de imagens e reportagens
que apresentam mulheres socialmente “bem posicionadas” e de sucesso profissional comprovado. Outro
fator decisivo para esta observação acerca da destinação da Cláudia é o seu preço, atualmente do valor de
Dez Reais. Partimos da suposição que mulheres cujas posses são limitadas não tenderão, em sua maioria,
a dispor frequentemente desta quantia em prol das leituras proporcionadas por aquela revista.
Na capa do mês analisado nos deparamos com a figura muito bem vestida e maquiada de Malu Mader,
nos remetendo à analise de Edgar Morin sobre Imagem Olimpiana. A atriz se apresenta bela e sorridente
(sua imagem obviamente retocada pelo programa Photoshop, afim de ocultar os sinais evidentes de seus
43 anos de idade) como uma espécie de divindade e, na matéria que contém sua entrevista, de título “Fala
Maria de Lourdes” (tratando a celebridade como se fosse qualquer outra mulher, ou leitora), ela vem falar
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do enfrentamento e superação que teve - em suas palavras “Enfrentei tudo com o amor da minha
família”- de uma cirurgia na cabeça em 2005. Malu também fala de seu casamento, tido como perfeito,
com o guitarrista da Banda Titãs – Tony Belloto; e de sua volta ao cenário televisivo na nova novela
global das 19 horas. Todas as páginas a ela dedicadas nos remetem à tudo aquilo que vimos sobre as
celebridades da televisão brasileira começarem a ser os novos padrões de imagem e comportamento a
partir da década de 70, nos demonstrando modelos a serem seguidos.
Voltando às manchetes da capa, vimos uma menção ao conceito de “novo” da imprensa feminina:
“Cabelo novo”. Este ‘novo’ não é a novidade da notícia, mas a volatilidade com que lidam as mulheres no
que diz respeito a toda a formação de sua imagem e, por vezes, de seu comportamento. Esta manchete nos
apresenta “Cortes que diminuem dois manequins, rejuvenescem cinco anos, atualizam a sua imagem.
Colorações da moda que valem por uma transformação de beleza.” E demonstra claramente a
valorização e o culto exacerbado à figura física da mulher, a importância dada à aparência externa como
se ela fosse realmente capaz de alterar sentimentos subjetivos e situações cotidianas.
A Capa também traz uma chamada para reportagem sobre o assunto saúde, que passou a ser destaque
neste tipo de publicação desde a década de 80.
Além disso, conta com uma matéria que sugere um questionamento feito na capa: “O Sexo foi para o fim
da fila”. É o assunto que foi produto editorial mais vendido na década de 70 aparecendo agora sob outra
perspectiva: As mulheres atualmente preocupam-se com tantas outras questões: estudo (seja a
Universidade, a Pós Graduação, o Mestrado), trabalho, saúde, viagens, lazer e filhos – não
necessariamente nesta ordem. Isto faz com que o apetite sexual acabe se tornando uma questão secundárianas mentes femininas, hoje. A Revista constrói um panorama etário que apresenta a evolução paralela do
desejo de homens e mulheres ao longo da vida; informando também que há algumas décadas as mulheres
tinham duas vezes mais relações sexuais por semana do que tem hoje. A Crítica que temos a fazer
especificamente para esta matéria é que o sexo foi nela tratado, ainda que de maneira bastante “diluída”,
como uma preocupação que a mulher deve manter sempre entre suas prioridades, e chega ao ponto de
afirmar, com o depoimento de dois ginecologistas (homens) que esta seleção de outros aspectos do
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cotidiano que ocupam nossos pensamentos é bastante negativa, porque ocupa o espaço do prazer. A
“redenção” destas páginas foi a frase de uma leitora, que afirma que agora a mulher é capaz de encontrar
prazer em diversas áreas, que não somente as da libido sexual.
A Cláudia de Julho trouxe também “Os 7 pilares da autoestima”, nos revivendo na memória que as
publicações femininas sempre tentam imputar regras e padrões de pensamentos, comportamentos,
imagem etc. Utilizando-se de linguagem informal que lhes confere uma relação extremamente íntima -
de quase amiga - com suas leitoras, as revistas inserem em suas mentes muitas idéias cristalizadas que
representam padrões genéricos quase sempre inalcançáveis, como se a felicidade das mulheres
dependesse exclusivamente deste ou daquele “pilar”.
Por fim nos deparamos com o fator místico que circunda o chamado “Universo Feminino”. Cláudia traz
um “Guia da Lua” com 365 dias de previsões, visando nortear as atitudes das leitoras de acordo com o
signo regente de cada Lua vigente nestes dias todos.
Ainda que tenha evoluído e muito em seus 49 anos de existência, Cláudia (e a enorme maioria das
publicações dedicadas à representar a mulher) claramente mantém padrões esquadrinhados de
predefinição feminina, visões bastante consolidadas não de “como é”, mas de “como aparenta e deseja
ser” a mulher brasileira atualmente.
Assim como Dulcília Buitoni, buscamos ainda a nossa representação no papel, porque os impressos que
nos dedicam apesar de estarem lançados há muito tempo não nos alcançaram em nossa plenitude e
essência.
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“Mulher de papel” ao final do percurso
Nossa pesquisa pretendeu discorrer desde os primórdios, no qual a figura
feminina iniciava sua representação na imprensa, passando por uma análise do
momento em que nos encontramos, também prosseguindo o âmbito desta finalidade,
sendo ilustrada de maneira dinâmica pela análise da edição mais recente da revista
Cláudia, da Editora Abril. Baseamos-nos, ainda mais adiante, em proposições
desenvolvidas pelo sociólogo Edgar Morin relacionado-as com as meios pelos quais e
com os quais a mulher está sendo retratada pela mídia impressa.
Pudemos notar que os trajetos das mudanças de visão que figura feminina
percorreu por parte da imprensa são consideráveis até certo ponto pois, apesar do
conteúdo das edições ser alterado, modificado e aprimorado ao longo do tempo, de
acordo com cada cenário histórico, também explicitado nesta pesquisa, a mulher ainda
não se faz totalmente representada de forma independente. Claramente, esta questão de
independência evolui consideravelmente, porém, não de forma a alcançar total
plenitude, como podemos notar na análise que toma por pano-de-fundo a atualidade em
que, ao mesmo tempo em que a mulher é estimulada a desenvolver sua própria renda, os
laços com o ambiente doméstico não é plenamente dissolvido. A figura masculina ainda
se faz muito presente nas publicações como se fosse um objetivo constante da vida
feminina.
De textos essencialmente literários, as revistas e folhas dirigidas às mulheres
passaram a conteúdos de cunho mais interpretativo, mas que tratam, ao mesmo tempo,
de assuntos da atualidade. Notamos neste ponto a inserção da mulher no mundo dos
fatos, donde se visualiza uma figura mais informada e atualizada, com poder de debate
de ideias, já que há uma fonte de onde se pode ter acesso às bases de tais
acontecimentos com uma linguagem detalhista, característica predominantemente
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feminina. Esta presença de textos envolvendo a atualidade trata-se de uma conquista
recente; no princípio da linha que segue nossa pesquisa, é possível inferir que não havia
qualquer preocupação em se moldar uma mulher com mais conteúdo, vigorava a ideia
da manutenção de uma entidade mais romântica, sensível e intrínseca ao ambiente
familiar. Confirmando esta ideia, vale relembrar que mesmo até 1950, os jornais
mantinham folhas femininas apenas para constar que não estavam negando tal sessão.
De páginas predominantemente criativas que visavam entretenimento até a
implantação do germe da sociedade de consumo; a partir de 1960, podemos notar que as
edições estavam invadidas pela publicidade que incentiva a mulher a se sentir mais bela
e mais bonita. O capitalismo assume posição de destaque oferecendo a felicidade
feminina (corpos perfeitos, roupas, pele, cabelo) em troca de seus produtos. Esta
perspectiva se faz tal como enxergamos no momento presente; uma acelerada busca do
perfeito que custa a constante manutenção do modelo econômico capitalista.
Assim como se observou a exaltação de atrizes estrangeiras na década de 40, vemos este
fato se corresponder com a busca cada vez maior de atingir os padrões de beleza
impostos pela mídia das modelos e atrizes atuais, o que Morin compararia com a já
citada “imagem Olimpiana”. A mídia é basicamente composta destas entidades que
acabam por ser exaltadas em razão de sua visibilidade dentro da sociedade. As capas
que estas entidades estampam geralmente pretendem chamar a atenção. Como diria
Morin, na imprensa não-feminina a mulher é considerada mulher-objeto, já na capa
feminina é considerada mulher-sujeito. Na primeira, a mulher funciona como meio de
seduzir o público que irá consumir, pois aparece como objeto de desejo masculino. Já
na segunda, a mulher funciona como sujeito identificador para as leitoras, e como objeto
de desejo para os homens.
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É interessante notar também que, nas revistas dedicadas ao público feminino,
existe a substituição do feminismo pela feminilidade. Ao invés de defender valores
puramente dedicados à mulher, elas a retratam de um modo geral, de uma forma
doméstica, ainda parcialmente submissa ao homem, o que nos confirma a ideia inicial
de que ainda não houve o total desprendimento da mulher com relação ao ambiente
familiar.
Basicamente as mesmas bases são seguidas pela imprensa dedicada às jovens e
adolescentes. Esta instituição passa a dividir espaço com outras tantas, tais como
família, escola e igreja pra ditar normas comportamentais. Podemos observar que estes
veículos aproveitam-se da relativa ingenuidade das garotas que ainda não definiram
com clareza sua personalidade e ideias a serem seguidas para ditar e instruir da forma
com a qual o veículo julga melhor.
Podemos concluir, ao final deste estudo que houve, de fato, uma evolução no
modo pelo qual a figura feminina é retratada pela imprensa, contudo, muitos conceitos
precisam ser revistos e padrões reavaliados, uma vez que entendemos como ideal a
mulher refletida como entidade mais forte e independente. A sociedade de consumo é
algo que perdurará, já que vivemos em mundo capitalista e globalizado; o que se deve é
dosar a forma com a qual isto penetra em nosso cotidiano, a fim de não nos
escravizarmos pelos padrões e produtos que nos são impostos constantemente. A
mulher é figura forte. Tanto que se faz objeto de estudo a todo o momento bem como
estamos observando. A tendência é que esta força aumente cada vez mais pois a
evolução, assim como apresentamos ao longo do século, tende a ser gradativa e
acreditamos que ela não parará neste momento, ao contrário, ela continuará seu percurso
até que poderemos constatar que a hegemonia da independência e libertação de valores
tradicionais alcançará seu topo mais alto.
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REFERÊNCIAS:
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HOLLENBACH, Gabriela Boemler. Sexualidade em Revista: As posições de sujeitoem Nova e TPM. Disponível em:< http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/5526/000516351.pdf?sequence=1 >acesso em 25 Jun. 2010.
BUITONI, Dulcília Helena Schoroeder. Mulher de Papel – a representação da mulher pela imprensa feminina brasileira. 2ª Edição revista. Editora Summus,2009;
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CLÁUDIA, Revista. Ano 49, nº. 7. Editora Abril, Julho 2010
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A REPRESENTAÇÃO DA MULHER PELAIMPRENSA FEMININA
Universidade Federal de Juiz de Fora
Patrícia LaniniVanessa Queiroz
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Trabalho entregue à disciplina ComunicaçãoE Expressão Escrita II
Professora Marise MendesFaculdade de Comunicação Social
Turno Noturno