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A PRODUÇÃO DE SENTIDO NA LEITURA DE CONTOS
Ruth Raquel Pesavento1
Antônio Carlos Aleixo2
RESUMO
Este artigo focaliza alguns aspectos embasados em pesquisas sobre a formação de leitores e tem como finalidade a produção de sentido na leitura de contos. O projeto em torno de uma proposta em forma de Unidade Didática foi desenvolvido com alunos do último ano do ensino fundamental no Colégio Estadual Carlos Gomes, período vespertino (contraturno). A proposta vinculada à práxis conduz o aluno na aquisição de sentido como impulsionador da produtividade escolar enquanto leitor da ficção e da realidade, tendo o professor como mediador constante no desenvolvimento do processo. O método utilizado para a leitura baseia-se na Estética da Recepção ou Método Recepcional, proposto pelas professoras Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar, na obra “Formação do Leitor” (1993), e prevê cinco etapas relacionadas ao horizonte de expectativas do aluno: determinação, atendimento, ruptura, questionamento e ampliação. O maior lançador da chamada Estética da Recepção foi Hans Robert Jauss, professor de Ciência da Literatura na Escola de Constança (Alemanha).
Palavras-chave: Leitura. Produção de sentido. Contos.
ABSTRACT
This paper focuses on some aspects grounded about the reader formation and has as finality the reading of the genre tale. The project developed with students of 8ª grade of Elementary Instruction at Carlos Gomes State College, in the afternoon
1 Graduada em Letras pela FECILCAM, Pós-graduada em Metodologia da Língua Portuguesa e em Educação Especial - Professora de Língua Portuguesa do Colégio Estadual Carlos Gomes de Ubiratã, professora PDE, 2010. 2 Graduado em Letras pela FECILCAM, Mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual
Júlio de Mesquita Filho; professor assistente do Departamento de Letras da UEPR, diretor do Campus de Campo Mourão.
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(after/before classes). The proposal entailed the praxis conducts the student in the acquisition of sense while reader of the reality and fiction but given the fact is the teacher mediator constant and persistent in the developed of the process. The method used for reading serve as base the Reception Aesthetic or Reception Method, proposed by teachers Maria da Gloria Bordini and Vera Teixeira Aguiar in the book “The Formation of the Reader”(1993) and foresees five stages related to the student’s expectation horizon: determination, the supply, the rupture, the discussion and the enlargement of the expectation horizon. The biggest thrower of the Aesthetic Skills was Hans Robert Jauss, teacher and science literature of the Constança School (Germany).
Key words: Reading. Production of sense. Tale.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma reflexão em torno de
uma proposta Didática direcionada ao último ano do Ensino Fundamental sobre a
produção de sentido na leitura de contos, desenvolvida durante a participação no
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria de
Educação do Estado do Paraná no período de 2010 a 2012. Sua fundamentação
teórica tem como base a Estética da Recepção, cujo lançador Hans Robert Jauss,
professor na Escola de Constança na Alemanha.
A estética da recepção é um método que, dentre suas várias peculiaridades,
é de privilegiar o leitor e a leitura, ou seja, o leitor é o elemento fundamental no
processo da leitura, pois o mesmo é responsável na atribuição de sentido, no qual
também se articula tanto a recepção atual de um texto (aspecto sincrônico), quanto
sua recepção ao longo da história (aspecto diacrônico), e visa sobretudo o horizonte
de expectativa dos alunos.
Como se sabe, a disciplina de Língua Portuguesa e seu ensino em sala de
aula é extremamente importante para a compreensão de mundo e de todos os
aspectos da vida humana, pois além da sua função de estabelecer contatos sociais,
esta, como sistema, acompanha de perto o desenvolvimento da sociedade em
constante transformação.
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Contudo, dentre todos os questionamentos recorrentes sobre os muitos
problemas da educação no Brasil, a mais contundente é, muito provavelmente, a
precária situação da leitura do estudante brasileiro no que diz respeito à produção
de sentido em suas leituras. Considerando a importância dessa prática na vida dos
alunos e a necessidade de produção de significado para que se apropriem dos
conhecimentos, é que há uma luta constante dos pesquisadores e professores em
busca de metodologias a fim de amenizar o problema que permeia as escolas.
Diversas áreas do conhecimento têm se preocupado em responder os
processos que se desencadeiam quando se lê.
É importante atentar-se, no entanto, que o leitor precisa se representar como
sujeito principal no ato da leitura, pois certamente é sua experiência que o fará
perceber a mensagem transmitida naquilo que leu; ele poderá familiarizar-se com o
texto, ser – lhe indiferente, ou seja, é o sujeito quem elege os elementos que são
importantes para ele. O autor não é dono absoluto do sentido. Embora seja o autor
do texto, ele não comanda todos os sentidos que seu texto venha provocar. Logo, o
leitor, com sua nova autonomia, é o principal elemento da Estética da Recepção em
que este artigo e o trabalho se baseiam.
Como se sabe, por muito tempo a leitura foi usada para dela serem retiradas
simples informações, reduzindo sua capacidade interpretativa e compreensiva, ou
seja, os alunos não liam o texto na íntegra, em sua totalidade, pois as questões
relacionadas ao texto eram tão banais e fúteis que eles buscavam apenas
fragmentos para então respondê-las. Acredita-se que a escola desconhecia a leitura
como atividade interativa, dialógica e plena de significados.
Obviamente que toda essa problemática se instalou no Brasil, por ser um país
onde a educação deveria estar ligada à política do ponto de vista crítico; porém, ela
foi reprodutora da ideologia dominante, valorizando a paráfrase e a forma mecânica
dos conteúdos. A leitura é extremamente necessária e obviamente a escola deve
oportunizar reais situações de leitura aos seus alunos, pois crianças de baixa renda
não têm o privilégio de usufruir de bons livros que lhes permitam experiências
interpessoais e leituras significativas.
Diante disso, percebe-se a importância de se trabalhar a leitura de conto, por
ser um gênero literário interessante, de menor extensão, recente do ponto de vista
da história da literatura e obviamente leva os sujeitos-leitores a uma expectativa, a
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um suspense que lhes permitem fazer previsões e inferências, mexe com o
emocional, despertando, assim, curiosidade.
Um dos fatores relevantes de todo trabalho com texto é o professor que,
atento sobre sua práxis, estabelece um tempo de preparação para a atividade a ser
realizada. É primordial que se tragam à tona os conhecimentos prévios do aluno
sobre o tema e o tipo de texto a ser explorado.
As inquietações a respeito da aquisição de sentido no texto continuam e o
desafio dos professores é imenso em fazer com que os alunos compartilhem a
experiência dialógica de interação entre autor, obra e leitor para que se tornem
sujeitos ativos, capazes de refletirem, emitirem juízos, compreenderem e, sobretudo,
interpretarem de maneira eficaz. Seegguunnddoo FFrreeiirree ((11998811)),, nnããoo éé aa qquuaannttiiddaaddee ddee
tteexxttooss aa sseerreemm mmuuiittoo mmaaiiss ddeevvoorraaddooss ddoo qquuee rreeaallmmeennttee lliiddooss qquuee ffaarrããoo ddooss aalluunnooss
bboonnss lleeiittoorreess.. AAss iinnúúmmeerraass lleeiittuurraass sseemm uummaa bbooaa pprreeppaarraaççããoo nnuunnccaa rreessuullttaarráá eemm
pprroodduuççããoo ddee sseennttiiddoo.. ÉÉ pprreecciissoo qquuee hhaajjaa rreefflleexxããoo ee eessttíímmuulloo ppaarraa qquuee oo aalluunnoo nnããoo
vveennhhaa aa ddeessiissttiirr nnoo iinníícciioo ddoo tteexxttoo,, ppooiiss,, nnaa vveerrddaaddee,, ooss aalluunnooss ffiinnggeemm lleerr ee,, qquuaannddoo
oo ffaazzeemm,, ssããoo ttããoo ssoommeennttee lleeiittuurraass ddee ffrraaggmmeennttooss aa ffiimm ddee bbuussccaarreemm rreessppoossttaass ffúútteeiiss
ee sseemm iinntteerrpprreettaaççããoo qquuee rreessuulltteemm eemm lleeiittuurraa ttoottaalliizzaannttee..
PPaarraa ZZiillbbeerrmmaann ee SSiillvvaa ((22000055)),, aa ppaarrttiirr ddee mmeeaaddooss ddaa ddééccaaddaa ddee 11997700,, nnoo
BBrraassiill,, aa lleeiittuurraa ffooii eelleevvaaddaa,, aannaalliissaaddaa ee eexxaammiinnaaddaa tteeóórriiccaa ee mmeettooddoollooggiiccaammeennttee..
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ppeessqquuiissaass ee ddiissccuussssõõeess ddee pprroobblleemmaass rreellaacciioonnaaddooss aaoo eennssiinnoo ddaa lleeiittuurraa.. CCoonnttuuddoo,,
nnooss úúllttiimmooss aannooss,, oo ddeesseennvvoollvviimmeennttoo ddaass cciiêênncciiaass ddaa lliinngguuaaggeemm ggeerroouu uummaa nnoovvaa
iimmppoorrttâânncciiaa aa eessssaa pprrááttiiccaa,, ddee uumm llaaddoo lliibbeerraannddoo--aa ddee sseeuuss lliiaammeess mmaaiiss iinnssttaannttâânneeooss
ccoomm aa aallffaabbeettiizzaaççããoo ee aapprreennddiizzaaggeemm,, ppoorr oouuttrroo llaaddoo iinntteennssiiffiiccaannddoo sseeuu ccaammppoo ddee
aabbrraannggêênncciiaa,, jjáá qquuee ppaassssoouu aa iinncclluuiirr aass ccoonnttrriibbuuiiççõõeess ddaa ppssiiccoolliinngguuííssttiiccaa,,
ssoocciioolliinngguuííssttiiccaa ee aannáálliissee ddoo ddiissccuurrssoo.. PPoorréémm,, aa ccrriissee ddaa lleeiittuurraa ccoonnttiinnuuaa ee sseemmpprree
ggeerraannddoo ppoollêêmmiiccaass,, qquueessttiioonnaammeennttooss,, ccuullppaabbiilliiddaaddeess ee aaffiirrmmaaççõõeess..
AAllgguunnss eessttuuddooss eevviiddeenncciiaarraamm aa ccrriissee ddaa lleeiittuurraa ppoorr pprroobblleemmaass ppaarrttiiccuullaarreess ddee
nnoossssaa ssoocciieeddaaddee ccaappiittaalliissttaa,, qquuee nnããoo pprriioorriizzaa aa eedduuccaaççããoo ddee qquuaalliiddaaddee.. UUmmaa eessccoollaa
qquuee aacceeiittaa ppoossiittiivvaammeennttee oo ssiisstteemmaa vviiggeennttee,, sseemm qquueerreerr qquueessttiioonnáá--lloo,, aassssuummiinnddoo aa
lleeiittuurraa eennqquuaannttoo rreepprroodduuççããoo,, iinncceennttiivvaannddoo aa rreecceeppççããoo ppaassssiivvaa ee mmeeccâânniiccaa ddoo tteexxttoo,,
nnuunnccaa uuttiilliizzaarráá aa lleeiittuurraa ccoommoo uumm mmeeiioo ddee lliibbeerrttaaççããoo ssoocciiaall..
ÉÉ ssaalluuttaarr ee uurrggeennttee qquuee ssee tteennhhaa nnoo BBrraassiill uummaa eessccoollaa qquuee aallmmeejjaa aa mmuuddaannççaa
ssoocciiaall,, ttrraannssffoorrmmaannddoo oo lleeiittoorr eemm ssuujjeeiittoo ccrrííttiiccoo,, ccrriiaattiivvoo ppaarraa qquuee ssee ccoommpprreeeennddaamm
6
aass ccoonnttrraaddiiççõõeess ddaa ssoocciieeddaaddee bbrraassiilleeiirraa ccoomm oo pprrooffeessssoorr,, oobbvviiaammeennttee,, sseemmpprree
rreevveennddoo ssuuaa pprrááxxiiss eemm ssaallaa ddee aauullaa,, sseemm eessqquueecceerr--ssee ddooss ddiirreettoorreess qquuee pprreecciissaamm
eessttaarr iimmbbuuííddooss eemm ffaazzeerr ccaammppaannhhaass ppaarraa aassssiimm eessttaarreemm ssuubbssiiddiiaannddoo aass bbiibblliiootteeccaass
ccoomm ooss mmaaiiss vvaarriiaaddooss ttiippooss ddee lliivvrrooss,, rreevviissttaass,, pprrooppiicciiaannddoo ttooddoo ttiippoo ddee iinnffoorrmmaaççããoo
aaooss ssuujjeeiittooss -- lleeiittoorreess..
EEmmbboorraa aallgguummaass ppeessqquuiissaass aappoonntteemm ccrreesscciimmeennttoo nnaa vveennddaa ddee lliivvrrooss nnoo
BBrraassiill,, ttaannttoo ppaaiiss qquuaannttoo pprrooffeessssoorreess iinnssiisstteemm eemm ddiizzeerr qquuee oo jjoovveemm nnããoo ggoossttaa mmaaiiss
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aaccoorrddoo ccoomm oo IIDDEEBB ((ÍÍnnddiiccee ddee DDeesseennvvoollvviimmeennttoo ddaa EEdduuccaaççããoo BBáássiiccaa)),, ppooddee--ssee ddiizzeerr
qquuee hhoouuvvee uummaa mmeellhhoorriiaa aattéé ccoonnssiiddeerráávveell eemm ccoommppaarraaççããoo ccoomm 22000055 ee 22000077;; eemm
22000099 qquuaassee ttooddooss ooss eessttaaddooss ddoo BBrraassiill aavvaannççaarraamm,, eennttrreettaannttoo nnããoo ssee ppooddee ppeennssaarr
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ssee ppooddee ddeeiixxaarr ppeerrddeerr aallggoo iimmppoorrttaannttee qquuee ppoossiittiivvaammeennttee aaccoonntteecceeuu nnaa eedduuccaaççããoo
bbrraassiilleeiirraa..
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Além da abordagem metodológica usada neste artigo para o ensino da leitura,
explorar-se-ão outras teorias de estudiosos que contribuíram para o
desenvolvimento de uma boa produção de sentido na leitura.
A metodologia baseada na Estética da Recepção e o Método Recepcional,
proposto por Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira de Aguiar na obra “A Formação
do Leitor” (1993), ressalta que a obra literária pode sofrer transformações diferentes
pelo leitor nos vários contextos em que ocorreu e no momento em que lê, pois é
importante constatar que o leitor é um coautor, por conseguinte perceberá as
mensagens contidas no texto e, com certeza, preencherá algum vazio que vier
existir.
Segundo Bordini e Aguiar (1993), um texto perdura enquanto puder oferecer
contribuições para a ampliação dos horizontes de expectativas de sucessivos
períodos no tempo.
Quando um leitor escolhe uma obra, seu horizonte de expectativa é
confortável; por outro lado, os textos chamados “difíceis” por se afastarem do que é
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esperado pelo leitor, frequentemente são deixados de lado. Entretanto, é
imprescindível que se tire o aluno de sua zona de conforto, pois acredita-se que a
obra emancipatória perdure mais no tempo do que a chamada obra fácil. Desta
forma, uma obra mais complexa, além de oferecer mais desafios, necessita adotar
uma maior disposição, por meio de estratégias bem criativas e mediadas pelo
professor. Acredita-se que a obra mais complexa é desafiadora, imprescindível e
pode ser uma marca indelével na atividade da leitura.
O Método Recepcional articula tanto a recepção atual de um texto (aspecto
sincrônico) quanto sua recepção ao longo da história e que diz respeito às evoluções
(aspecto diacrônico).
Para Jauss (1994), a categoria estética de um texto é resultante dos critérios
de recepção, do efeito produzido pelo texto e de sua fama junto às gerações futuras.
Exemplo disso é “A Cartomante”, de Machado de Assis, que foi escrito em 1884 e
sua fama se perpetua em qualquer época, até porque se compararmos os textos de
notícias jornalísticas do momento, elencam muito bem que o ser humano é sempre o
mesmo em sua essência e independe de época em que a obra foi escrita.
O método recepcional é assegurado na medida em que seus objetivos com
relação ao aluno sejam evidenciados, como elenca Zappone:
1) Efetuar leituras compreensivas e críticas; 2) Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem; 3) Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte cultural; 4) Transformar os próprios horizontes de expectativas, bem como os do professor, da escola, da comunidade familiar e social. Uma das funções do método recepcional é a comparação entre o familiar e o novo, entre o próximo e o distante no espaço e no tempo. (ZAPPONE, 2009, p.9).
Desta forma, a recepção textual implica a participação ativa do sujeito que lê,
sem deturpar a ideia do autor. O sujeito – leitor com seu conhecimento linguístico e
social deve agir a partir das provocações e lacunas que a obra lhe apresenta.
Nesse sentido o texto não oprime seu receptor, fica uma relação democrática
entre ambos, pois o leitor modifica seu horizonte lidando com temas contestadores
de forma verdadeira e coerente.
Para Zappone, as etapas do Método Recepcional são:
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1) Determinação do horizonte de expectativas; 2) Atendimento do horizonte de expectativas; 3) Ruptura do horizonte de expectativas; 4) Questionamento do horizonte de expectativas; 5) Ampliação do horizonte de expectativas. (ZAPPONE, 2009, p.11)
Elenca-se abaixo um pequeno viés sobre as cinco etapas relevantes na
aplicação do Método:
No primeiro item o professor deve perceber através de observação,
comentários, investigações e opiniões dos alunos sobre suas preferências, valores
no que tange a leitura;
Na segunda etapa, organização dos textos e livros de acordo com as
aspirações dos alunos e início dos trabalhos com leitura que satisfaçam as
necessidades dos sujeitos – leitores, usando as estratégias necessárias para
efetivar o processo de produção de sentido;
Em se tratando da ruptura do horizonte de expectativas, na terceira etapa, o
professor trabalha com os alunos dando continuidade à etapa anterior através do
oferecimento de textos que se assemelhem aos anteriores em algum aspecto: o
tema, a estrutura ou a linguagem, o tratamento de forma gradativa, a complexidade
dos textos, ora trabalhando um texto confortável, ora tirando os alunos de sua zona
de conforto e, à medida que os leitores forem rompendo com as dificuldades, ou
seja, dos mais acessíveis para os que oferecem um pouco mais de complexidade,
eles, obviamente, vão amadurecendo e ampliando o horizonte de expectativas. É
importante que se promova debates sobre os textos lidos e as questões relativas ao
conteúdo das histórias, as intenções e ações, as soluções encontradas, com a
manifestação dos alunos sobre suas impressões diante das situações narrativas:
como se sentiram durante as leituras; o que fariam no lugar dos personagens; que
sentimentos lhes despertaram e muitas outras questões;
A quarta etapa do trabalho do professor relembra a atividade inicial: é a
comparação sobre o material trabalhado, os alunos fazem análise, verificando quais
textos, através de seus temas e construção, exigiram um nível mais alto de reflexão.
Quinta e última etapa, por exemplo, o professor verifica se as leituras levaram
os alunos à maturação e ao domínio da aquisição de sentido, à constatação de que
as diferenças básicas entre os problemas e comportamentos dos personagens das
histórias estão relacionadas à posição social, à educação. Como a sociedade
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determina o comportamento das pessoas? Que outros problemas sociais interferem
no comportamento dos sujeitos? Nesta etapa os alunos tornam-se uma espécie de
agentes da aprendizagem, determinando eles mesmos a continuidade do processo
de leitura, num constante enriquecimento social e cultural. Diante da possibilidade
de superar os desafios e de aumentar o horizonte de expectativas dos leitores,
aponta-se como importante a ajuda da professora e dos colegas. Considerando os
textos escolhidos e lidos apura-se que os contos são textos mais elaborados ou
não? Quais textos exigem mais a mediação do professor?
Esta foi uma breve consideração sobre o Método Recepcional.
Para Silva e Zilberman (2005), a divulgação da escola e a valorização da
leitura, imprescindível ao ensino, coincidiram com a forma plena da economia
capitalista e da sociedade burguesa. Esta depositará à educação uma importância
até então desconhecida.
Na Grécia, a Paideia, que significa formação em Língua Portuguesa, visava
principalmente ao aristocrata, que aprendia e se sobressaía. Logo, a leitura
diferenciava e afirmava a posição superior de uma classe elitizada em detrimento
das outras, que não tinham o privilégio de apropriar-se de conhecimentos.
No Brasil tem-se visto diferentes valores atribuídos à leitura. Geralmente as
pessoas de baixa renda, ou melhor, das camadas populares, veem a aprendizagem
desta como um instrumento para a melhoria das condições de vida, ou seja, a leitura
como meio utilitário. Em contrapartida, crianças e pais das classes favorecidas a
veem como alternativa de expressão, de boa comunicação, acesso ao saber, à
diversidade do conhecimento, prazer, lazer e enriquecimento cultural.
Acredita-se que são necessárias muitas mudanças para que a leitura no
Brasil se constitua de forma totalizante.
Para Orlandi (1983), é preciso verificar as condições de produção de sentido
de um texto, pois o mesmo se dá através da sua interação com os interlocutores.
Autor e leitor confrontados definem suas condições de produção e os fatores que
vão contribuir, constituir e configurar o processo de sentido que ocorre no espaço
dialético. Logo, de um só texto podem-se realizar outras leituras, pois não existe no
ato de ler uma aceitação passiva, mas uma construção ativa e muito peculiar de
cada sujeito-leitor.
Face a essa perspectiva de leitura, autor, obra e leitor, esquecem um pouco o
gráfico e o sonoro para obviamente constituir sentido, dialogia e interação.
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Segundo Marcuschi (2005), acredita-se que alunos e acadêmicos podem
realizar excelentes leituras com o texto falado do professor, pois esses alunos estão
submetidos em mais de 80% do tempo à condição de ouvintes, logo, deve-se
valorizar, prestar muita atenção, sobretudo nos macromarcadores que o mestre
utiliza em suas aulas. Grande número de micromarcadores conversacionais, pausas,
hesitações, autocorreções constantes, dão um menor rendimento do que uma aula
com uma variação grande de macromarcadores do tipo “como vimos acima”,
“passamos para o próximo assunto”, “em primeiro lugar”, etc. Entretanto, uma aula
sem marcador algum também ofereceria baixo rendimento.
Desta forma pode-se perceber que uma aula expositiva bem elaborada
contribui também para a organização do pensamento do aluno e consequentemente
o faz produzir sentido, pois, se o aluno consegue interpretar a linguagem culta do
mestre, significa que a produção de significado está acontecendo. Diante disso,
percebe-se que é interessante enfatizar que o professor deve estabelecer uma boa
oralidade com seus alunos.
É preciso fazer uma reflexão a respeito de todos os aspectos que foram
nocivos à leitura.
Perini (2005) ressalta que, em se tratando da qualidade dos textos didáticos
examinados ultimamente, esta tem sido um problema, pois os textos não são
adequados às respectivas séries. Existem textos de quinta, sexta ou sétima série
que são tão difíceis quanto textos universitários. O autor enfatiza ser este mais um
dos fatores que prejudicam a leitura, pois o sujeito- leitor não consegue a aquisição
de sentido; logo o aluno chega à conclusão de que não vale a pena tentar ler,
recorrer ao livro para buscar informações necessárias e, obviamente, desiste no
segundo parágrafo. Entretanto, propostas técnicas e relevantes poderão auxiliar os
educadores.
Perini esclarece:
a) A aquisição da leitura funcional é a tarefa primordial da escola, no sentido de que é um pré-requisito para o sucesso escolar em todas as outras disciplinas; b) Portanto, a tarefa de alfabetizar funcionalmente os alunos não pode limitar-se à disciplina de Língua Portuguesa, mas é responsabilidade da escola como um todo, e de todos os professores;
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c) O livro didático, um instrumento crucial como apoio na aquisição da leitura funcional; portanto, ele deve ser planejado tendo em vista também essa finalidade. d) O terceiro ponto nos leva a uma última tarefa, que eu formularia assim: é necessário agir junto a autores, editoras e escolas no sentido de conscientizá-los da necessidade de planejar o texto didático de maneira a otimizar seu efeito como instrumento de alfabetização funcional; e é necessário desenvolver critérios que permitam criticar e reformular tais textos de acordo com essa finalidade. Enquanto não se fizer a tentativa, não poderá dizer se essas idéias serão favoráveis. (PERINI, 2005, p.84-85).
Para Silva e Zilberman (2005), a sociedade não pode se dividir em classes
opostas, pois assim a leitura pode se apresentar como um instrumento de controle
pelos poderosos; neste caso, ela será elemento auxiliar do processo de
manipulação, colaborando para a permanência da situação privilegiada dos que
detêm o poder.
Entretanto, quando se compreende a leitura de maneira dialética, ela pode se
apresentar como um instrumento de conscientização. A leitura passa a ser o elo de
aproximação entre as pessoas de um país, podendo ter a possibilidade concreta de
acesso ao conhecimento e o poder de crítica por parte do público leitor.
Segundo Freire (1981), a produção de sentido do texto é resultante de uma
leitura bem trabalhada e supõe perceber as relações estabelecidas entre o texto e o
contexto numa dimensão de possibilidades.
Para Geraldi (1991), os livros didáticos não possibilitam a interlocução entre
autor e leitor. Simplesmente se lê para encontrar respostas para perguntas óbvias
que não levam o aluno a produzir conhecimento. O momento, que poderia ser de
diálogo com o aluno, operando mentalmente para construir significado, não existe.
Ele sugere que se criem motivações para a leitura, que haja discussões sobre
tópicos relevantes do texto em questão a fim de que o aluno possa, contrapondo
suas idéias às do autor, construir significados.
E por que se vai ao texto, isto é, por que se lê? A esta pergunta, Geraldi
(1991) esclarece:
- Leitura- busca de informações: é levada pela vontade de querer saber mais;
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- Leitura- estudo do texto: é a busca pelo “escutar” o texto com a intenção de
dele se retirar todas as informações; é o confronto da palavra do autor com a do
leitor;
-Leitura- pretexto: é a leitura em que se usa o texto na produção de outras
obras;
Leitura-fruição: é aquela leitura gratuita, por prazer.
Obviamente que essas alternativas não são as únicas, todavia alguns
exemplos de ensino aprendizagem de leitura centrada na produção, que ampliam o
que temos a dizer.
É extremamente importante que o professor, mesmo com dificuldade, procure
selecionar textos sugestivos para os alunos, como crônicas, contos, piadas, letras de
músicas, resenhas de filmes, até pelo fato de as pessoas gostarem de narrar, cantar
e ouvir histórias.
O conto, por exemplo, é um gênero textual moderno que contribui para a
aprendizagem e produção de sentido dos sujeitos-leitores, sobretudo aquelas
crianças que cresceram ouvindo narrações protagonizadas pelas avós.
Claro que esse gênero é típico da prosa, embora eventualmente apareça,
hibridamente, na forma de um poema e de letra de música sertaneja. Essas
narrativas são preciosas para o modo como a cultura rural se vê e dos elementos
que valoriza.
Alguns exemplos desses causos são: a música “Prato do dia,” cujo autor é
Geraldinho e gravada por Sérgio Reis. Marcando Estrada. Gravadora Continental
em 1995, o poema “Papai Noel às avessas” de Carlos Drummond de Andrade; as
músicas, O menino da porteira; Chico Mineiro; Rastros na Areia gravada por Duduca
e Dalvan; Cabocla Tereza gravada também por Sérgio Reis; Construção gravada
por Chico Buarque de Holanda e outras. A canção é gênero híbrido, e o resultado da
conjugação de dois tipos de linguagens, a verbal e a musical promove uma
atmosfera dialógica e descontraída.
Segundo Benemann e Cadore (1980), conto pode significar história, historieta,
fábula, ”causo” ou “caso”, e todas elas possuem os ingredientes peculiares de uma
narrativa, bem como enredo, personagens, espaço, tempo, foco narrativo, clímax e
desfecho.
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Ao ler esse gênero textual é necessário que observemos como acontece a
situação inicial, o aparecimento do problema, a fase de resolução do problema,
aparece o clímax, situação conflitante e situação final.
A modalidade de narrar através de contos evoluiu com a cultura da
humanidade. Em meados do século XIX, o conto conheceu seu apogeu. Além de se
tornar gênero literário importantíssimo ao lado das demais até então consideradas,
sobretudo, as poéticas, passa a ser abrangente e seriamente cultivada. Chega-se a
um tempo em que esse gênero abandona seu estágio empírico, indeciso, folclórico,
para ingressar numa fase em que se torna produto tipicamente literário, sem as
antigas implicações. Mais tarde, ganha estrutura e desenvolvimento característicos,
compatíveis com sua essência e desenvolvimento histórico.
Segundo Busatto (2005), os alunos podem fazer novas leituras de um mesmo
conto e traduzi-lo através de diversas linguagens, como poema, teatro, histórias em
quadrinhos, reportagem jornalística, ou seja, o conto com sua versatilidade pode ser
um estímulo para que o aluno aprenda também outras disciplinas como Geografia,
História, construindo mapas, observando as características da região que lhe dá
origem.
As inovações tecnológicas promovidas especialmente nas últimas três
décadas provocaram mudanças na cultura e isso proporcionou novas práticas
cotidianas, como por exemplo, acesso dos alunos aos computadores, tv pendrive,
telecursos, data-show, ou seja, tais tecnologias tornaram as aulas muito mais
versáteis e dinâmicas.
Hoje, os jovens estão rodeados de uma gama de informações mais rápidas,
mais coloridas e, na opinião de muitos, mais atraentes do que os livros. "Concorrer"
com as tecnologias decididamente não é fácil, por isso tem-se um árduo trabalho a
realizar. O conto como gênero a ser trabalhado no contexto atual, a primeira grande
vantagem que ele oferece é a rapidez. Sua leitura pode ser realizada em toda sala
de aula, num trabalho dinâmico. Além disso, os contos são como uma espécie de
"flashes” de nossa própria vida, ou seja, cada indivíduo pode se encontrar num
conto; os conflitos, os anseios, os sonhos e angústias estão ali, desfilando nas
palavras de Machado de Assis, Clarice Lispector, e tantos outros contistas. Dessa
forma, a literatura se aproxima da vida das pessoas, o sujeito se reconhece nos
personagens das histórias que leem e fica mais fácil trazer o jovem para esse
14
mundo. Os alunos não precisam protagonizar a diegese de Machado de Assis,
todavia, servir-se dela apenas como plano de fundo.
Outro aspecto muito interessante é a introdução do estudo de letras de
músicas. Isso também atrai os alunos, desperta seu interesse pela leitura. Ao
mesmo tempo, resgata-se a música sertaneja tradicional. Pensa-se que esse é
verdadeiramente o papel do professor: oferecer aos alunos o que há de mais
interessante, despertar-lhes o gosto pela leitura e pela busca de sentido nos textos
que leem.
Dessa forma, mesmo que vagarosamente, os alunos poderão ultrapassar o
limite da leitura superficial, rasa, para a verdadeira leitura que produz sentidos.
As atividades de leitura devem considerar, sobretudo, o diálogo dos
estudantes com o texto. Desta forma, a formação de leitores contará com atividades
que contemplem os ingredientes que auxiliam na produção da leitura. Assim Yunes
aponta que sejam:
- Memória: o ato de ler, quando pede a atitude responsiva do leitor, suscita suas memórias, que guardam seus sonhos, suas opiniões, sua visão de mundo; - Intersubjetividade: o ato de leitura é interação não apenas do leitor com o texto, mas com as vozes presentes nos textos, marcas do uso que os falantes fazem da língua, discursos que atravessam os textos e os leitores; - Interpretação: a leitura não acontece no vazio. O encontro de subjetividades e memórias resulta na interpretação. As perguntas de interpretação de textos, que tradicionalmente dirigimos aos alunos, buscam desvendar um possível mistério do texto e esquecem o mistério do leitor; - Fruição: o ato de ler não se esgota ao final da leitura e das sensações. A leitura permanece ao prazer que ela proporciona. (YUNES, 2206, p.33).
O último item dessa sequência é a intertextualidade: diz respeito à recepção
de um texto quando uma leitura faz lembrar outros textos, com os quais ele, de
alguma forma, se relaciona. E isso se dá mediante o conhecimento e cria uma rede
de referências que suscitam: palavras, sons, cores, imagens, versos, ritmos, gestos,
vozes.
Como já foi elencada acima, a leitura é um processo de interação e por que
não dizer uma transação entre autor, obra e leitor. Entretanto, para que haja
15
realmente esse diálogo, essa aproximação, é necessário que o professor selecione
textos mais acessíveis, que venham ao encontro dos horizontes dos alunos. Logo, é
primordial que o professor discuta, conheça as expectativas dos sujeitos - leitores,
pois na velocidade em que as coisas se transformam é necessário um professor
criativo, caso contrário não haverá interação entre o texto e público.
A leitura é muito importante no ensino aprendizagem, pois conduz o leitor a
encontrar caminhos até para a superação de um fracasso. Como esclarece Lajolo:
AA lliitteerraattuurraa éé ppoorrttaa ppaarraa vvaarriiaaddooss mmuunnddooss qquuee nnaasscceemm ddaass vváárriiaass lleeiittuurraass
qquuee ddeellaa ssee ffaazzeemm.. OOss mmuunnddooss qquuee eellaa ccrriiaa nnããoo ssee ddeessffaazzeemm nnaa úúllttiimmaa
ppáággiinnaa ddoo lliivvrroo,, nnaa úúllttiimmaa ffrraassee ddaa ccaannççããoo,, nnaa úúllttiimmaa ffaallaa ddaa rreepprreesseennttaaççããoo
nneemm nnaa úúllttiimmaa tteellaa ddoo hhiippeerrtteexxttoo.. PPeerrmmaanneecceemm nnoo lleeiittoorr,, iinnccoorrppoorraaddooss ccoommoo
vviivvêênncciiaa,, mmaarrccooss ddaa hhiissttóórriiaa ddee lleeiittuurraa ddee ccaaddaa uumm.. TTuuddoo oo qquuee lleemmooss nnooss
mmaarrccaa.. ((LLAAJJOOLLOO,, 22000011,, pp..4444))..
Brandão e Micheletti (1997) ressaltam que, ao promover o diálogo entre
indivíduos, a leitura, compreendida não só como leitura de mundo, deve ser
atividade constitutiva de pessoas capazes de inteligir o mundo e nele atuar como
cidadãos.
É necessário persistência para que o aluno se constitua um sujeito - leitor.
Para Barbosa (1991), “em se tratando de leitura, não existe uma metodologia de
ensino absolutamente perfeita”. A aprendizagem se dá mediante observação atenta
e contínua do professor a cada aula para obviamente perceber os avanços e as
mudanças na aprendizagem dos alunos.
3 APRESENTAÇÃO DO CORPUS E BREVE ANÁLISE
Início da Implementação: 24/08/2011
16
1º Momento: conversa com os alunos. Exposição e explanação sobre o
objetivo do Projeto de Implementação na escola, realizado no Colégio Carlos
Gomes, em contraturno, mediante autorização dos pais.
O objetivo da primeira aula foi levar os alunos a aderir à proposta, uma vez
que o interesse seria essencial para uma leitura profícua. Em seguida, a professora
acompanhou os alunos à sala de aula e observou os comportamentos espontâneos
da turma em seus contatos com livros; circulou entre os grupos fazendo a
verificação dos títulos; atentou-se a comentários da turma ao escolherem os textos;
ouviu opiniões emitidas durante a leitura das obras. O que mais os alunos gostam de
ler são histórias curtas com temas trágicos, piadas, resenhas de filmes, contos,
críticas bem humoradas e sobre esporte em geral. Obviamente que sobre a mesa
para a escolha havia contos, crônicas de vários autores, pois os alunos já estavam
cientes de que o trabalho a ser realizado seria o gênero narrativo conto.
Os primeiros procedimentos foram estes. Os demais momentos ocorreram
naturalmente e contribuíram sobremaneira para o desenvolvimento das discussões
em torno do objeto de estudo - A produção de sentido na leitura de conto.
Esta foi a determinação do horizonte de expectativa dos alunos.
2º Momento: Foi trabalhado o conhecimento prévio dos alunos sobre o autor
Luís Fernando Veríssimo, ressaltando as características das suas obras, levantando
hipóteses, inferências, suscitando memórias para facilitar a vida dos sujeitos-leitores.
Na seqüência, foi distribuído o texto do gênero narrativo crônica: Boca a boca.
Em seguida foi perguntado aos alunos, que expectativa era gerada pelo título
do texto?
Uns disseram fofoca, outros polêmica, dois jovens argumentaram ser alguma
coisa espalhada pela população; uma aluna disse:- “Já que o cara é irônico e crítico
ele deve estar tirando um sarrinho de alguém!” Houve alunos que nada disseram.
Após o diálogo com os alunos, foi explicado sobre o poeta português BOCCAGE
citado no texto. Foram feitas: leitura autônoma, leitura colaborativa e leitura em voz
alta pela professora; trabalharam oralmente os aspectos semânticos em questão.
Segundo alguns autores, a leitura em voz alta feita pelo professor não é prática
comum na escola. E quanto mais avançam as séries, mais incomum se torna, o que
não deveria acontecer, pois são os alunos maiores que mais precisam de bons
17
modelos de leitores. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa.
(Brasília, 1998).
Após as leituras, alguns alunos refutaram a ideia de crítica ao ex- presidente
Lula. As características peculiares da crônica foram exploradas de maneira que não
ficassem dúvidas no momento em que fosse apresentado o gênero conto.
As discussões foram ampliadas de modo que uns ouviram como o outro vê
tais questões.
Essa é a ideia, o diálogo do texto com os interlocutores. Aceitar ou refutar as
informações contidas no texto.
Questões trabalhadas acerca da crônica:
1)Luís Fernando Veríssimo joga com palavras e expressões conotativas e o
faz com muito humor para transmitir sua mensagem.
a) Qual é a palavra chave nessa construção lúdica do texto?
2) Que expectativa é gerada pelo título?
3) Além das expressões usadas pelas pessoas, há outra que se remete a tal
palavra apenas pelo som: Boccage. Quanto ao significado, elas não se ligam, pois
Boccage, como vimos, é o nome de um poeta português. Porém, tal palavra não
está no texto aleatoriamente; o poeta escreveu textos satíricos, de humor, crítico e
deboche.
Partindo desta constatação, responda:
a) O texto de Veríssimo é satírico, ou seja, de humor e crítico? Comente.
b) A palavra “Boccage” contribui para esse aspecto do texto? Por quê?
c) Pode-se dizer que o conhecimento prévio, ou seja, o conhecimento anterior
à leitura,sobre o poeta português contribui para a melhor compreensão do humor no
texto de Veríssimo?
d) No Brasil sempre houve muita corrupção. Este é um texto de descrença
ante a política nacional. O que você sugere para que não haja mais corrupção em
nosso país?
Referência: VERISSIMO, Luís Fernando. Boca a boca. Tudo dá Trama Tudo
da Trama. v.3. LOPES, Vera; LARA, Anésia. Belo Horizonte: Dimensão. p.15 -16.
Ao término das atividades, os alunos leram as respostas acerca das questões
e 90% dos alunos chegaram às mesmas conclusões: de que no Brasil sempre houve
e haverá corrupção, as pessoas prevalecem das situações e tudo acaba em pizza;
as CPIs existem para apurar os fatos, porém ninguém devolve o dinheiro. Mesmo
18
assim, há escritores que conseguem com muito bom humor tirar proveito da situação
divertindo as pessoas, satirizando tudo em seus textos.
Foi gratificante o trabalho com esta crônica, pois além dos alunos se
identificarem com o assunto por serem situações políticas vividas no Brasil, puderam
emitir opiniões a respeito, dizendo de suas descrenças ante a política nacional, ora
aceitando, ora discordando sobre a crítica.
“A leitura é engajamento e é nessa dimensão de significados que a Língua
Portuguesa possui que proporciona aos nossos alunos compreensão, interpretação
do festival de palavras contidas no texto. Entretanto, é essencialmente necessária a
mediação do professor para encorajar, sobretudo aqueles alunos que não gostam de
ler.”
3º Momento: Foi explicado o que eram os gêneros textuais. Em seguida
passamos para o gênero textual conto.
Os alunos entenderam sobremaneira a distinção entre os dois gêneros, pois
quando o professor apresenta crônica, sobretudo de Luís Fernando Veríssimo, que
tem uma linguagem irreverente e engraçada fica evidente a crítica e a sátira como
elementos que a diferenciam do conto.
INTERDISCIPLINARIDADE
Foi trabalhado nesse momento o conto “Rastros na areia”, cujos intérpretes
são Duduca e Dalvan. Foram usados recursos ilustrativos durante a aula, bem como
tv pendrive, , data- show, internet, DVD e o material distribuído a eles.
Remetemo-nos à questão “Religiosa”, sempre suscitando nossas memórias e
observando as vozes presentes no texto, usando todas as estratégias de leitura que
são pertinentes como: leitura colaborativa, quando o professor lê um texto com a
classe e, durante a leitura questiona os alunos sobre os índices linguísticos que dão
sustentação aos sentidos atribuídos; alguns alunos fizeram relação com algumas
passagens contadas pelos pais.
Os alunos já conheciam a canção, porém desconheciam o desfecho. Logo, se
percebe que a produção de sentido acontece numa conexão constante do aluno
durante a leitura, pois muitas vezes ao ouvir a canção o sujeito não se atém ao
enredo da história, canalizando toda sua sensibilidade para a música e ignora o
conteúdo das informações. Desta maneira conclui-se que o trabalho com música
19
requer primeiramente muita leitura. O cantar pode ser o último procedimento a ser
executado com os alunos.
Além da leitura colaborativa que foi realizada, a leitura em voz alta pela
professora; leitura individual; leitura coletiva; assistimos ao vídeo e cantamos muito,
pois a canção é linda!
RASTROS NA AREIA (fragmento)
O sonho que tive esta noite Foi um exemplo de amor Sonhei que na praia deserta Eu caminhava com Nosso Senhor Ao longo da praia deserta Quis o Senhor me mostrar Cenas por mim esquecidas De tudo que fiz nesta vida Ele me fez recordar Ficaram dois passos de rastros na areia... [...] Fonte: Disponível em: http://letras.terra .com.br/duduca-e-dalvan/144954>
Atividades:
1) Que expectativa é gerada pelo título e pelas primeiras estrofes?
2)O texto nos dá pistas sobre as personagens, tempo, espaço, época que
retrata?
3)Nesse conto você notou a presença de muitas ou poucas personagens que
interagem por meio da dúvida e da fé?
4) Em que momento o personagem sentiu que o Senhor o tinha abandonado?
Foi gratificante os alunos se aterem para a fé e compreensão entre as
pessoas para que exista paz e menos violência no mundo e concluíram que os
valores como a fé, o respeito, a tolerância levam à formação de um bom caráter e
estabeleceram relações com os textos comumente usados pelos pais e avós durante
as conversas em seus universos familiares.
A respeito da importância da releitura de um texto, Martins ressalta:
A releitura traz muitos benefícios, oferece subsídios consideráveis, principalmente a nível racional. Pode apontar novas direções de modo a esclarecer dúvidas, evidenciar aspectos antes despercebidos ou
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subestimados, apurar a consciência crítica acerca do texto, propiciar novos elementos de comparação. (MARTINS, 1994, p. 85).
4° Momento: Releitura dos textos trabalhados anteriormente e mais
questionamentos. Pôde-se observar que os alunos em geral (embora com algumas
limitações individuais), à medida que realizavam as atividades ficavam mais atentos
aos elementos do texto, com senso crítico demonstraram, portanto, crescimento e
amadurecimento como leitores.
Em seguida o embalo no horizonte da leitura foi com Machado de Assis.
O 4º momento foi a 3ª etapa, ruptura do horizonte de expectativas. Machado
de Assis foi o astro maior dos comentários, o Machado foi “O CARA”.
- “A cartomante”, do grande Machado de Assis, não é para qualquer um ler,
somente pessoas muito inteligentes e especiais para entender e interpretar seus
textos.
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908), nasceu e morreu no Rio de
Janeiro e fez do Rio palco para suas obras. De origem humilde, era inteligentíssimo.
Foi tipógrafo, revisor, redator e colaborador de diversos jornais. Consta que só
frequentou o primário. Sua produção intelectual foi iniciada com a crônica e o teatro.
Seus contos constituem mais de duzentos e o estudo desse gênero constitui uma
base profícua para que entendamos a formação do escritor. Suas obras o
consagraram como um dos maiores escritores da Língua Portuguesa. Em 1869
casou-se com a portuguesa Carolina Xavier de Novais, mulher muito culta, que
influenciaria bastante sua carreira literária. Foi eleito presidente da Academia
Brasileira de Letras.
Sabemos que para uma boa leitura é preciso que conheçamos as
características peculiares das obras do autor. Pode parecer redundante, todavia a
compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de
alguns conhecimentos: o conhecimento prévio, o conhecimento estruturado, o
estabelecimento de objetivos para a leitura, a materialização linguística e o
conhecimento de mundo.
São características das obras machadianas:
- O ciúme;
- A transitoriedade da vida;
- O tédio, a loucura, a ironia;
21
- A predominância do mal sobre o bem;
- A vaidade e o humor;
- A traição;
- O adultério;
- A dissimulação da personagem;
- Análise psicológica;
- Denúncia da cobiça;
- A inconstância do ser humano;
- Hipocrisia;
- A mentira.
Machado de Assis muitas vezes interfere na história, para interagir, conversar,
opinar e esclarecer acerca da história. Às vezes, ele rompe com a narrativa
cronológica, linear, ora começando pelo fim, ora pelo meio, além de pequenos cortes
para alguma reflexão com o leitor.
5º Momento: Em “A Cartomante”, Machado de Assis faz uma alusão, ou seja,
uma referência a William Shakespeare, poeta inglês famoso que escreveu “Romeu e
Juliet”, “Hamlet”, “Sonho de Uma Noite de Verão”, entre outras.
Neste conto, procurou-se tirar os alunos de sua zona de conforto, oferecendo-
lhes um conto de Machado de Assis. Tendo em vista que a linguagem machadiana é
um tanto quanto desafiadora para os alunos, dado o fato de sua complexidade, pois
o texto não é linear, faz digressão temporal no 14º parágrafo, falando de suas
origens e no 21º parágrafo retoma a narrativa e parte para o desfecho. Entretanto,
os alunos perceberam a riqueza do texto e, obviamente, ficaram aptos a novas
possibilidades de leitura.
A CARTOMANTE – TEXTO III
Após estes conhecimentos, partimos para a leitura Colaborativa ou Partilhada
e à medida que íamos lendo, a professora ia perguntando se eles estavam
entendendo e, conforme a leitura ia acontecendo iam se fazendo pausas para
resumir o que se leu, solicitar esclarecimentos e fazer novas previsões. Estas
previsões consistem em levantar hipóteses ajustadas ao desenrolar da leitura,
baseando-se na interpretação que está sendo construída sobre o que já se leu e
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obviamente sobre a bagagem de conhecimentos e experiências do leitor. Esta é a
oportunidade de interrogar o texto.
Que pistas linguísticas foram possíveis para se obter tais inferências,
antecipar acontecimentos?
Em certa altura do texto, Machado faz uma alusão à Bíblia quando diz no
texto: Rita pingou o veneno na boca de Camilo, como uma serpente!
O texto foi lido em voz alta fazendo as pausas; a professora sempre
questionando os alunos acerca dos acontecimentos; verificação de elementos que
vinculem preconceitos, recursos de persuasão, interpretação de sentido figurado,
inferência sobre a intenção do autor. Na seqüência, cada aluno leu em voz alta um
trecho da história até chegarmos à conclusão e interpretá-lo de maneira prazerosa.
6º Momento: Discussão sobre a importância do conhecimento prévio e
releitura do texto através da leitura silenciosa, pois este também é um tipo de leitura
que mais o aluno vai utilizar. É na leitura individual, autor, texto e leitor interagindo,
que o aluno vai demonstrar se as estratégias trabalhadas pelo professor surtiram o
efeito desejado de tornar o aluno capaz de compreender e interpretar de maneira
eficaz. Nesta atividade o aluno tem a oportunidade de pôr em prática o que
aprendeu, prevê, interpreta, erra, recapitula, faz perguntas, infere, volta a prever e
vai preenchendo as lacunas que surgirem, articulando as estratégias, tornando a
leitura algo significativo.
Leitura dramatizada. Dois garotos representaram Camilo e Vilela, uma menina
a cartomante e a outra interpretou a fala da Rita.
Esta encenação abrangeu toda a turma seguindo um pouco a diegese de
Machado de Assis. Em seguida os alunos assistiram as versões do conto no “You
Tube”.
Acredita-se que um texto bem trabalhado torna-se motivador para os alunos,
pois quando eles forem para as questões, não sentirão dificuldades para
compreendê-las e interpretá-las. Os alunos sentiram-se envaidecidos por terem
estudado o conto “A cartomante”, de Machado de Assis.
Atividades em grupo:
1) Identifique as personagens, caracterizando- as.
2) Qual é o tema do conto?
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3) Estabeleça o ambiente a cada espaço físico.
4) O início do conto é realmente o início da história? Explique.
5) Estabeleça os vários níveis de tempo:
a) Época em que se passa a história;
b) Duração da história.
6)Transcreva do texto um exemplo de:
a) Discurso direto;
b) Discurso indireto.
7) Descreva o momento mais tenso da história.
8) Identifique o clímax do conto.
9) Este conto fez você lembrar outras histórias ou eventos semelhantes ?
Comente.
Os alunos lembraram-se do episódio da ex namorada do jogador Bruno do
time Flamengo; do caso Eloá, e outros eventos semelhantes.
7º Momento: Correção das atividades oralmente. A questão nº 2 gerou uma
conversinha, pois o tema é traição e não adultério, pois o adultério não abraçaria os
quatro personagens do conto.
As aulas muitas vezes não fluem exatamente como queremos. Mesmo assim
foi prazeroso ter trabalhado este conto com os alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental, pois logo no início da leitura eles já puderam desvendar um possível
mistério do texto – um triângulo amoroso!
8º Momento: Questionamento e ampliação do horizonte de expectativas e
Intertextualidade. Foram os mesmos procedimentos de leitura dos outros textos,
porém, com menos trabalho, pois o texto é de fácil compreensão. Este conto nos
remeteu a outras histórias semelhantes. Com este conto foi trabalhada a Leitura
Autônoma, que envolve a oportunidade do aluno poder ler silenciosamente textos
para os quais já tenha desenvolvido certa proficiência. Vivenciando situações de
leitura com crescente independência da mediação do professor, o aluno aumenta a
confiança que tem em si enquanto leitor, encorajando-se para aceitar desafios mais
complexos.
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Após o estudo do mesmo, suscitamos nossas memórias. Uma parte da
música é declamada, a outra é cantada. Estudamos o texto, assistimos ao vídeo e
cantamos a bela canção.
Conto sertanejo: CABOCLA TEREZA - texto IV (fragmento) Há tempos fiz um ranchinho Pra minha cabocla morá Pois era ali nosso ninho Bem longe deste lugá No alto lá da montanha Perto da luz do luar Vivi um ano feliz Sem nunca isso esperar Pus meu sonho neste olhar Paguei caro meu amor Pra morde de outro caboclo Meu rancho ela abandonou. [...] Fonte: disponível em<http://www.letras.terra.com.br/sérgio-reis/549214.
OBS: Com este texto fizemos leitura dramatizada: um narrando, outros
colaborando.
Segundo Silva (2002) ressalta que há muito preconceito em se tratando do
dialeto rural e seus falantes. A autora cita as falas de Chico Bento e Zé Lelé num
livro didático como uma forma contra a linguagem padrão. No livro pede-se aos
alunos que reescrevam as formas empregadas de acordo com a língua padrão. No
manual da 8ª série/9º ano acontece o mesmo, só que a questão é pronome. O que
se vê no livro não é a aceitação das variedades, e sim a ÊNFASE em regras
gramaticais. Certamente a autora quer esclarecer que, embora os autores façam o
uso da terminologia que liga à variação, na prática permanece o preconceito com as
variantes de menor prestígio social.
Sobre algumas variações linguísticas existentes no conto Cabocla Tereza
houve polêmica na sala de aula. Contudo, a questão foi trabalhada e os alunos
entenderam que as variantes sempre fizeram parte da natureza da linguagem da
humanidade e, por conseguinte, devemos respeitá-las.
Ampliação do horizonte de expectativas.
Artigo: Quem foi Maria da Penha Fernandes
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Sobre o texto abaixo, os alunos já tinham opinião formada sobre o assunto,
pois o mesmo foi muito difundido pelos meios de comunicação. O efeito “catártico”
produzido pela leitura foi evidenciado quando um aluno disse que a Maria da Penha
pelo menos teve a sorte de não ter sido morta, diferentemente da Rita da obra de
Machado de Assis “A cartomant”e; da Elisa Samúdio do caso Bruno jogador do
Flamengo; do caso Eloá, que também fora morta pelo ex-namorado inconformado
com a separação; da cabocla Tereza, interpretada pelo cantor Sérgio Reis e dos
inúmeros outros casos evidenciados ultimamente. Os alunos constataram que os
comportamentos e problemas dos protagonistas das histórias, tanto da diegese
ficcional de Machado de Assis quanto dos eventos reais mostram que o ciúme
doentio leva o indivíduo ao desequilíbrio, ao assassinato e que a sociedade
determina o comportamento das pessoas. Uma aluna acrescentou que o machismo
no Brasil é uma questão cultural e que a lei Maria da Penha precisa ser mais
rigorosa. Um aluno disse em tom de brincadeira que tem mulher que é safada e
necessita de um corretivo.
Com este texto foi trabalhada a leitura autônoma, visto que os alunos já
tinham desenvolvido certa proficiência, vivenciando situações de leitura com
crescente independência da mediação do professor.
Com esta estratégia os alunos aumentam a confiança que tem em si
enquanto leitores, aceitando desafios mais complexo,s o que não é o caso do texto
Maria da Penha, pois embora seja de fácil compreensão, ele leva o aluno não só a
refletir, mas também a ter uma mudança de conduta, provocada por processos
mentais de tomada de consciência para lidar com várias situações na vida.
Texto V
Quem foi Maria da Penha Fernandes Maria da Penha quase foi assassinada por seu então marido. Os fatos aconteceram em 1983, a primeira tentativa foi com O uso de uma arma de fogo e a segunda por eletrocussão e afogamento. Esses episódios causaram lesões irreversíveis à saúde de Maria da Penha. Apesar de condenado em dois julgamentos, o autor da violência não havia sido preso devido aos sucessivos recursos de apelação. Em 2001, após 18 anos da prática do crime, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação à violência doméstica. [...] CUT- A Lei Maria da Penha. Uma Conquista Novos Desafios. São Paulo. 2007, p. 8.
26
1) Os textos III – IV - V mostram pistas sobre as personagens, espaços,
tempo, época em que retratam?
2) Em se tratando da Lei Maria da Penha:
a) Na sociedade brasileira, o que é garantido em lei, é de fato, cumprido pela
justiça?
b) Você, caro aluno, o que acha que deve ser feito para que a violência
doméstica seja evitada?
3) Em relação ao conto sertanejo “Rastros na areia”, vocês perceberam que
ele é escrito numa linguagem dentro do padrão culto da Língua Portuguesa e no
outro conto, também sertanejo, “Cabocla Tereza”, houve certa variação linguística,
pois a linguagem estabelecida foi mais coloquial, simples, como os sertanejos
comumente a utilizam. Mesmo assim, podemos afirmar que o autor de Cabocla
Tereza conseguiu transmitir a mensagem de forma clara, compreensível? Comente.
4) Vocês certamente conseguiram estabelecer uma relação entre o artigo
sobre a Lei Maria da Penha com os outros textos trabalhados até aqui. Esses textos
suscitam nossas memórias, nos fazem lembrar acontecimentos vários e
semelhantes. Nos textos trabalhados foi muito claro um aspecto deixado pelos
autores, o que é um assunto muito peculiar de nossa sociedade, o machismo.
Partindo desta constatação, qual foi o trágico estabelecido entre os textos III – IV -
V?
“Não devemos ter pressa no trabalho com leitura, pois o texto nos dá infinitas
possibilidades de trabalho e fazer releitura com pausas, questionando as inferências
ajuda na atribuição de sentido.”
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo aqui apresentado procurou trazer para debate algumas sugestões e
reflexões de trabalho para professores e alunos, no sentido de esclarecer e
despertar o interesse acerca da produção de sentido em relação à leitura dos
alunos, bem como ler usando algumas estratégias na busca de significados. O
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trabalho visou o aspecto qualitativo. Nosso objeto de estudo foi o gênero narrativo
conto e a abordagem metodológica baseou-se na Estética da Recepção, que dentre
os vários pressupostos teóricos ressalta a importância da trilogia autor, obra e leitor,
privilegiando o leitor como elemento principal no ato da leitura.
O esforço empenhado para o desenvolvimento da Unidade Didática
demonstrou, portanto, crescimento e certo amadurecimento dos alunos como
leitores.
Constatou-se, obviamente, que em todo trabalho com leitura o professor deve
estabelecer um tempo de preparação, pois é necessário que se tragam à tona os
conhecimentos prévios sobre o autor, o título, o tema e o tipo de texto trabalhado,
que através de leituras desafiadoras passa da leitura linear, ingênua para uma
leitura crítica, sinalizando para a formação do leitor maduro.
Para Busatto (2003, p.17), é importante que os alunos percebam a
musicalidade imprimida pelo narrador, que embalando o espírito do leitor e do
ouvinte provoca prazer e encantamento.
Partindo dessa constatação, percebe-se que o conto tem a peculiaridade de
mexer com nosso sentimento. Contudo, precisamos estar dispostos para recebê-lo.
Conclui-se também que numa realidade dinâmica como a que vivemos hoje,
que se transforma na mesma velocidade com que as informações são
disseminadas, necessitamos usar todas as ferramentas e estratégias para que
nosso aluno leia. Tem-se que levar o aluno a se sentir instigado, desafiado a
conhecer o novo e ler nas mais diferentes situações.
A atividade de leitura precisa ser contínua e permanente, visto que é através
dela que se compreende o desempenho escolar, porém é primordial que o professor
seja um leitor apaixonado por livros para incentivar o aluno a ler e experimentar as
diferentes formas de leitura.
A releitura foi um dos aspectos constantes nas aulas de leitura, pois a mesma
reforça efetivamente a interação autor, texto e leitor. Nessa relação existe uma
dimensão de elementos extratextuais e intratextuais que comungam no processo da
leitura e que, muitas vezes, somente a releitura poderá evidenciar os aspectos que
foram ignorados pelo sujeito-leitor e que só a retomada da leitura é que permite a
coexistência do mutuamente exclusivo e dialógico, sobretudo textos que se
distanciem do nível de autonomia dos alunos.
28
Além disso, acredita-se que, como professores de Língua Portuguesa, somos
os primeiros responsáveis por apresentar aos alunos o maravilhoso mundo das
palavras e de suas significações. Claro, entendemos que os professores de todas as
outras disciplinas também têm a função de levar os alunos à boa interpretação, mas
como professores de Língua Portuguesa nós conhecemos as palavras muito além
de seu sentido literal, objetivo, científico e, por isso, temos uma possibilidade que é
só nossa: provocar o encantamento nos alunos.
REFERÊNCIAS ASSIS, Machado de. A Cartomante (Várias Histórias). In: Obra Completa. v. 2. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.
BARBOSA, José J. Alfabetização e leitura. São Paulo: Cortez, 1991.
BENEMANN, Milton; CADORE, Luís Agostinho. Estudo Dirigido de Português. São Paulo: Ática, 1980.
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: a formação do leitor - alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
BRANDÃO, H. e MICHELETTI, G. (orgs.) Teoria e prática de leitura. In: Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. São Paulo: Cortez, 1997.
BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: Pequenos segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
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ANEXO
Foto: Os alunos estudando A CARTOMANTE, de Machado de Assis