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A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA GESTÃO PEDAGÓGICA ESCOLAR

DESTINADA AO PROCESSO FORMATIVO DE SEUS FILHOS

Marcia do Rocio Basso Mafra1

Gracialino da Silva Dias2

RESUMO

Este artigo, realizado no âmbito do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, 2012-2014, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, pela Universidade Federal do Paraná, busca analisar os processos que caracterizam a participação dos pais ou responsáveis dos alunos na concepção e desenvolvimento do projeto pedagógico destinado à formação dos seus filhos. Compreende que a participação dos pais na gestão escolar é um direito e parte substantiva do exercício da cidadania que a escola tem o dever de propiciar. Partindo da concepção dialética da educação, compreende a natureza do diálogo entre professores, educadores e pais de alunos do ponto de vista pedagógico, contendo, portanto, uma dimensão formativa, prenhe de aprendizagem para todos os sujeitos envolvidos no processo. Busca desse modo, caracterizar a forma como cada um desses segmentos concebem o processo de gestão participativa, em si, do projeto pedagógico da escola, e da sua participação, bem como a visão que tem com relação à participação dos outros segmentos nesse tipo de gestão. Tem o proposto de oferecer contribuições como fundamentos teórico-metodológicos e estratégias de caráter pedagógico que possam contribuir para uma maior participação dos pais no processo de gestão pedagógica da escola pública, tornando-a cada vez mais socialmente referenciada no cumprimento da sua função socializadora dos conhecimentos científicos e culturais acumulados pela humanidade. Palavras-chave: Gestão Democrática; Diálogo Pedagógico; Controle Social.

INTRODUÇÃO

A Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, LEI no9394, de 20 de

dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, em

seu Artigo Doze define as “incumbências dos estabelecimentos de ensino”, sendo

que especificamente no inciso VI, afirma que estes deverão “articular-se com as

famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a

escola”.

No inciso sexto do Artigo 13 de referida Lei fica estabelecido que “os docentes

incumbir-se-ão de colaborar com as atividades de articulação da escola com as

famílias e a comunidade”.

1 Pedagoga da Rede Estadual de Educação do Paraná; Especialista em Gestão Escolar, Supervisão

e Orientação Educacional. Integrante do PDE 2012.

2 Historiador; Mestre em Educação e Trabalho; Doutor em Educação: Estado, Política e Sociedade.

Professor Associado I do Departamento de Planejamento e Administração Escolar do Setor de

Educação da Universidade Federal do Paraná.

Observa-se que a legislação educacional brasileira tem proporcionado às

escolas a abertura de espaços para que se possa iniciar um processo de

participação na educação.

A partir dessa definição legal sobre o caráter organizativo da escola pública,

este trabalho desenvolvido na esfera do PDE (Programa de Desenvolvimento

Educacional), do Governo do Estado do Paraná, enquanto uma política pública de

formação continuada, para o qual fui selecionada, tendo como linha de estudo o

trabalho pedagógico e a articulação com os segmentos de gestão da escola e as

instâncias colegiadas, desenvolveu-se este artigo como parte dos estudos

realizados.

A sua construção do trabalho, além do seu amparo na definição legal, prende-

se à história de vida profissional da autora, pedagoga e educadora concursada da

rede pública de educação básica do Estado do Paraná, comprometida com a defesa

da educação pública de qualidade, e embasada cientificamente pelos

conhecimentos pedagógicos produzidos pela pedagogia histórico-crítica.

Essa concepção teórica tem na práxis teórica da organização do trabalho

pedagógico o eixo fundante para o cumprimento da função social da escola, a partir

da articulação coletiva do trabalho pedagógico entre os diferentes segmentos e

sujeitos no âmbito escolar, apresentando por temática específica a Participação dos

Pais na Gestão Educacional, que envolve a Gestão Escolar e a Gestão do Trabalho

Pedagógico.

O trabalho constitui-se de resultado de pesquisa teórica, análise de

documento e pesquisa de campo de caráter participativo, como pesquisa-ação, em

Escola Pública, associado à experiência da autora em processos de vivência e

trabalho pedagógicos por dentro da escola.

A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual Otalípio Pereira de Andrade,

situado na Estrada do Cerne, Km 29, no Distrito de Bateias, Município de Campo

Largo, que atende a uma clientela proveniente de famílias com média e baixa renda

financeira, e apesar do mesmo situar-se em zona rural, os pais ou responsáveis

pelos alunos desenvolvem atividades diversificadas, sendo que muitas delas não

estão ligadas a agricultura, como: comércio, transporte, indústria, funcionários

públicos, trabalho autônomo, aposentados e desempregados.

Nas condições desse Colégio o transporte escolar é de extrema importância

para os alunos, e sem o mesmo eles não teriam condições de frequentar as aulas,

pois, a maioria dos alunos reside há vários quilômetros de distância do Colégio. O

transporte escolar, porém é realizado apenas nos períodos da manhã e tarde, sendo

que no período noturno os alunos têm que pagar transporte coletivo comum ou ir a

pé ao Colégio para frequentar as aulas, fator que contribuiu significantemente para a

redução do número de alunos matriculados no período noturno.

De acordo com os objetivos definidos no Projeto de Intervenção3, optou-se

por conjugar o desenvolvimento de uma pesquisa de caráter exploratório a partir da

revisão de literatura e análise documentais, principalmente a partir dos instrumentos

legais que definem as políticas educacionais no país, e no estado do Paraná,

utilizando a legislação do PDE, conjugado com uma pesquisa empírica mediante um

estudo de campo, de caráter qualitativo realizada no Colégio supracitado, sob a

definição de pesquisa-ação.

A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento, os dados coletados são predominantemente descritivos, a preocupação com o processo é maior do que com o produto, o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador e a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo (LUDKE e ANDRÉ, 1986, p.44).

E ainda

Tratar-se-ia, assim, de uma pesquisa que articula a relação entre teoria e prática no processo mesmo de construção do conhecimento, ou seja, a dimensão da prática – que é constitutiva da educação – seria fonte e lugar privilegiado da pesquisa. Além disso, a própria investigação se converteria em ação, em intervenção social, possibilitando ao pesquisador uma atuação efetiva sobre a realidade estudada. Reflexão e prática, ação e pensamento, pólos antes contrapostos, agora seriam acolhidos em uma modalidade de pesquisa que considera a intervenção social na prática como seu princípio e seu fim último (MIRANDA, RESENDE, 2006, p.511).

A escolha pela pesquisa-ação está perfeitamente articulada com os objetivos

do PDE, pois, como afirma OLIVEIRA, apud PARO (2007, p. 18)

O pesquisador coloca-se como elemento que faz parte da situação que está sendo estudada, não pretendendo ter uma posição de observador neutro. Sua ação no ambiente e os efeitos dessa ação são, também, material relevante para a pesquisa. Como a situação escolar é um processo permanentemente em movimento, e a transformação é justamente o resultado desejável desse processo, métodos de pesquisa que permitam captar transformações são os métodos mais adequados para pesquisa educacional.

3 A participação dos pais na Gestão Pedagógica Escolar destinada ao processo formativo de seus

filhos (PDE-2012).

A escolha pela pesquisa-ação visou também, produzir análises teóricas sobre

a realidade educacional do estado do Paraná, indicando estratégias de ação, de

caráter prático, para enfrentamento de problemas específicos e busca de solução

dos mesmos no âmbito local da realidade escolar.

O trabalho realizado buscou desenvolver fundamentos teórico-metodológicos

e indicar estratégias de caráter prático que contribuam para assegurar uma maior

participação dos pais de alunos, de modo qualificado, nos processos democráticos

de gestão do Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual Otalípio Pereira de

Andrade, visando desenvolver uma formação humana integral de seus filhos, tanto

no que diz respeito à formação para o mundo do trabalho quanto para o exercício da

cidadania plena na sociedade democrática.

O trabalho foi desenvolvido também com o objetivo de oportunizar uma

reflexão com os pais sobre a importância da participação deles na vida escolar de

seus filhos; identificar e questionar o domínio de conhecimento que os pais têm em

relação à participação deles na vida escolar dos filhos; desenvolver estratégias de

comunicação e de gestão pedagógica que contribuam para uma maior participação

dos pais nos processos de definição, planejamento, acompanhamento e avaliação

do projeto pedagógico destinado à formação dos seus filhos; identificar e questionar

o domínio de conhecimento que os professores têm em relação à participação dos

pais na vida escolar dos alunos; identificar e questionar o domínio de conhecimento

que os alunos têm em relação à participação dos pais e professores na vida escolar

deles; identificar a existência de experiências positivas na participação dos pais na

vida escolar dos filhos; oferecer subsídios teóricos aos pais, professores, equipe

pedagógica e funcionários, proporcionando a melhor compreensão sobre a

participação e de como esta se caracteriza e se efetiva na vida escolar dos filhos e

discentes; sugerir metas para o Plano de Ação do Colégio para o ano de 2014,

visando à gestão democrática e a participação de todos os segmentos da

comunidade escolar.

Visando caracterizar a realidade educativa da instituição investigada, sob a

mediação do diálogo escola e comunidade: pais e educadores, o levantamento dos

indicadores socioeducativos aconteceu através de técnicas de investigação, que

envolveram a utilização da observação participante; foram aplicados questionários

com questões abertas, mas também com questões fechadas, com o objetivo de

colher dados que pudessem revelar a compreensão dos sujeitos da pesquisa,

visando colher à percepção dos agentes sociais alvos da pesquisa, sobre a

concepção de educação, escola, formação de seus filhos e principalmente da

participação dos pais na vida escolar de seus filhos; e finalmente com entrevistas

semiestruturadas com questões abertas.

A elaboração das estratégias de ação visou solucionar as falhas existentes no

processo de diálogo entre pais e escola, primeiramente, através de um levantamento

de dados com a utilização de questionários, buscando entender qual seria a visão

que os pais têm da escola e qual seria a visão que os professores, a equipe

pedagógica e funcionários têm dos pais (ou de sua participação na escola).

Num segundo momento foram oportunizados momentos de reflexão para o

envolvimento dos pais na escola, tais como: grupos de pais, professores e alunos

(eventualmente) reunidos para discutir questões comuns na escola; palestras para

os pais, e quando possível, com a participação de professores e funcionários;

comunicação com os pais, mantendo os canais sempre abertos, à aceitação e

valorização do processo de formação da escola, para isso foram utilizados

instrumentos como folheto informativo, agenda escolar, painéis e outros; foram

realizadas também atividades culturais e pedagógicas articuladas com as

confraternizações que fazem parte dos valores da comunidade.

O trabalho desenvolvido exigiu, no início, uma articulação de estudos de 480

horas, em seguida uma força moral e dedicação constante, sem deixar de citar o

acompanhamento e apoio do professor orientador que sempre demonstrou sua

autenticidade e paixão pela escola pública de qualidade, onde direção, equipe

pedagógica, professores, funcionários, pais e alunos sejam comprometidos com o

conhecimento.

A autora não se isenta em fase aos objetos estudados, pois ao mesmo tempo

em que buscou a pesquisa analítica, também se envolveu, embora compreendendo

o caráter do trabalho acadêmico de cunho analítico, ela não se isenta do

envolvimento pessoal, da paixão, do compromisso social, para além da análise

distante, com o desejo “de ver a escola em que atuo melhorar” (grifo meu).

Este trabalho está constituído por três partes, sendo que na primeira parte

dissertou-se sobre a literatura e os instrumentos legais que normatizam o estudo

sobre o tema; na segunda parte são apresentados os resultados da pesquisa e do

estudo desenvolvidos qualitativamente no estudo de caso do Colégio e finalmente a

terceira parte com as considerações finais, onde a autora além de apresentar uma

análise dos resultados da pesquisa, ousa propor algumas estratégias de ação, tanto

do ponto de vista da mantenedora, no que diz respeito às políticas Públicas, quanto

no que diz respeito ao Projeto Político Pedagógico do Colégio.

1. DETERMINANTES SOCIAIS DA EDUCAÇÃO: O TRABALHO

PEDAGÓGICO NÃO PODE SER COMPREENDIDO FORA DA

TOTALIDADE SOCIAL NA QUAL A ESCOLA ESTÁ INSERIDA

Dissertamos uma breve análise sobre a situação atual que caracteriza o modo

de produção da nossa sociedade, levando em conta que a pedagogia crítica não

analisa a educação ou a escola de modo dissociado do seu tempo histórico e da

sociedade na qual ela está inserida.

A sociedade atual pode ser caracterizada como a sociedade dos

descartáveis. Todos estão imersos em uma cultura do consumo rápido e frenético. A

futilidade dos relacionamentos contemporâneos e a velocidade em que um número

exorbitante deles tem se desfeito é uma marcante característica dessa

descartabilidade. Conforme K. Marx e F. Engels em seu materialismo histórico

(1980)

São as condições materiais da vida concreta do homem que moldam a sua forma de ser e pensar. A produção de ideias está diretamente ligada à atividade material humana, sendo que a consciência é um produto social, como um reflexo do contexto social mais próximo.

Pode-se encontrar na vida concreta, material, os elementos que moldam

nossa forma de conceber e viver os relacionamentos. A cultura da descartabilidade

está presente desde o refrigerante que compramos em uma embalagem descartável

até nos aparelhos eletrônicos que apresentam um tempo de vida reduzido, para que

sejam descartados e substituídos dentro de poucos anos ou meses, devido ao alto

custo de uma eventual manutenção ou ao se tornarem obsoletos precocemente.

As coisas não são mais consertadas quando se estragam, com exceção de

produtos muito caros, prefere-se comprar tudo novo. Quase não se encontra mais

sapateiros, alfaiates, técnicos em eletrônica e outros. Tudo é usado, aproveitado

para em seguida ser descartado e substituído.

Essa condição material de descartabilidade atingiu o próprio homem e seus

relacionamentos que estão se tornando cada vez mais descartáveis. Se não dá

certo, ele é descartado. Não se tenta consertar, pois não vale a pena pagar o preço

por isso, arruma-se um novo parceiro então.

A evolução dos tempos e do homem é constante, e a juventude de hoje já não

é o que era nas décadas passadas. Os jovens da atualidade têm alterado alguns

valores morais, considerados importantes pelas gerações anteriores. Parecem tão

comprometidos com algumas coisas, porém tão negligentes com outras. Boa parte

dos jovens parece não querer assumir a maturidade que vem com a vida adulta.

Segundo Maria Rita Kehl

Quem não se considera jovem hoje em dia? O conceito de juventude é bem elástico: dos 18 aos 40, todos os adultos são jovens (grifo do autor). A juventude é um estado de espírito, é um jeito de corpo, é um sinal de saúde e disposição, é um perfil do consumidor, uma fatia do mercado onde todos querem se incluir. (...) Passamos de uma longa, longuíssima juventude, direto para a velhice, deixando vazio o lugar que deveria ser ocupado pelo adulto. (KEHL, 2004, p. 89-90)

Mas, segundo a mesma autora, “o prestígio da juventude é recente”, pois em

meados do século XX “todo moço tinha pressa em ostentar sinais de

responsabilidade e seriedade, tanto na postura quanto na maneira de se vestir” está

atitude identificava os rapazes de 18 anos com os homens de 50, valorizando-os

para o ingresso no mercado de trabalho e na vida social.

Para KEHL (2004) com a modernidade e a industrialização “os adolescentes e

jovens começaram a sair de certa obscuridade culposa e obediente, (...) para se

transformarem em uma faixa da população privilegiada pela indústria cultural”. A

autora considera que a adolescência tem o sentido de uma moratória, período

dilatado (que em certos países se estende até o final da juventude) de espera, vivido

pelos que já não são crianças, mas ainda não se incorporaram à vida adulta.

Diante desse contexto, a adolescência se transforma em uma idade crítica,

pois segundo KEHL

O aumento progressivo do período de formação escolar, a alta competitividade do mercado de trabalho nos países capitalistas e, mais recentemente, a escassez de empregos obrigam o jovem adulto a viver cada vez mais tempo na condição de adolescente (grifo do autor), dependente da família, apartado das decisões e responsabilidades da vida pública, incapaz de decidir seu destino. (KEHL, 2004, p. 91).

Ainda para a autora “o adolescente pós-moderno desfruta de todas as

liberdades da vida adulta, mas é poupado de todas as responsabilidades, tentando

ultrapassar as referências familiares”. (KEHL, 2004, p. 93 e 112).

Neste sentido faz-se necessário o apoio da família no processo de adaptação

do jovem para a vida em sociedade, tornando-se a principal responsável pela

formação de sua consciência cidadã, tornando-se também segundo a professora

Cynthia Andersen Sarti (2004) “um campo privilegiado para se pensar a relação

entre o indivíduo e a sociedade, o subjetivo e o objetivo, o biológico e o social”.

Seguindo a premissa de SARTI, que se preocupa com as dificuldades que o

tema da família encerra, faz-se necessário um cuidado especial devido à excessiva

proximidade afetiva do tema, como afirma a autora

Por se referir a uma realidade que nos é muito próxima e com a qual tendemos a nos confundir, observa-se uma autorreferência nas abordagens da família, tanto nas ações teóricas quanto nas ações decorrentes. Pela forte identificação da família com o que somos, tendemos a confundir facilmente família com a nossa (grifo da autora) família. (SARTI, 2004, p. 115).

Além da família, outra instância socializadora que assume função educativa é

a escola, sendo fundamental a aproximação de ambas.

A aproximação dos familiares com a instituição escolar pode derivar no fortalecimento de uma ação conjunta para tratar das eventualidades cotidianas, as quais muitas vezes atingem as duas esferas e a elas imprime uma série de dificuldades. (...) Apesar do reconhecimento da necessidade dessa parceria, não é difícil constatar que muitas vezes o diálogo tende a ser confundido por uma série de incompreensões como, por exemplo, a comum postura de culpabilização mútua da escola e da família. (ABRAMOVAY, CUNHA e CALAF, 2009, p. 153).

Conforme ABRAMOVAY, CUNHA e CALAF (2009), não são raros os

discursos no interior da escola, que transferem para a família a responsabilidade dos

conflitos existentes, tornando-se frequente a queixa da “falta de interesse da família

que, na percepção de vários professores e equipes de direção, acaba pouco

interagindo com a vida escolar dos alunos”.

No entanto, segundo Virgínio Sá, “seria profundamente errado deduzir-se a

partir daí que estes pais não se interessam pela educação dos filhos”. O que ocorre

segundo o autor é que não faz parte “das suas representações de pai responsável

(grifo do autor) qualquer forma de intervenção no domínio da instrução,

nomeadamente nos trabalhos de casa”. (SÁ, 2002, p. 140).

O interesse e a dedicação pessoal que investem na educação dos filhos desenvolve-se à margem de qualquer participação ativa nos assuntos da escola. Aliás, para estes pais, chegar ao final do ano letivo sem nunca terem tido necessidade de se deslocar até à escola constitui o melhor indicador de que tudo correu dentro da normalidade, sendo até apresentado como motivo de orgulho. (SÁ, 2002, p.140).

Por esta razão, a escola necessita, cada vez mais, incentivar a participação

no seu cotidiano, com encontros não apenas para reclamar do aluno que não se

saiu bem nas avaliações, mas para compartilhar dificuldades e avanços.

Nesse sentido o professor Vitor Paro (2007) faz alusão ao fato de que

dificilmente será conseguida “alguma mudança se não se partir de uma postura

positiva da instituição com relação aos usuários, em especial pais e responsáveis

pelos estudantes”.

Oferecendo ocasiões de diálogo, de convivência verdadeiramente humana, numa palavra, da participação na vida da escola. Levar o aluno a querer aprender implica um acordo tanto com educandos, fazendo-os sujeitos, quanto com seus pais, trazendo-os para o convívio da escola, mostrando-lhes quão importante é sua participação e fazendo uma escola pública de acordo com seus interesses de cidadãos. (PARO, 2007, p.17).

Pais e escola isolados sabem que não darão conta de tantos desafios. A

solidariedade e o respeito mútuo são valores necessários para o estabelecimento de

um vínculo entre a escola e a família, que para ser mantido necessita de

investimento efetivo de ambas, fortalecendo e estimulando sua manutenção,

melhorando consequentemente o processo de aprendizagem dos estudantes.

Sob esse contexto associado à realidade concreta de onde a escola se

localiza na atualidade, do ponto de vista de sua legitimidade e do apoio que recebe

da sociedade, foi realizado este trabalho no intuito de investigar a relação da

instituição escolar com a comunidade para a qual ela se destina, primando pela

caracterização da participação dos pais de alunos na concepção e no

desenvolvimento do Projeto Pedagógico.

2. TRABALHO E EDUCAÇÃO: CONTRADIÇÕES PRODUZIDAS PELA

LÓGICA DA MERCADORIA NA SOCIEDADE CAPITALISTA

O trabalho está intimamente relacionado à educação, constituindo-se um

fenômeno básico para compreendê-la. Seguindo esse raciocínio pode-se indagar

que relação é essa?

Nessa perspectiva Saviani (1993) afirma que

Toda educação organizada se dá a partir do conceito e do fato do trabalho, portanto, do entendimento da realidade do trabalho (...), o que define a existência humana, o que caracteriza a realidade humana é exatamente o trabalho. O homem se constitui como tal à medida que necessita produzir continuamente sua própria existência. (...) ele se constitui no momento em que necessita adaptar a natureza a si, não sendo mais suficiente adaptar-se à natureza. Ajustar a natureza às necessidades, às finalidades humanas, é o que se faz pelo trabalho. Trabalhar não é outra coisa senão agir sobre a natureza e transformá-la. (SAVIANI, 2003, p. 132-133)

Percebe-se que, pelo trabalho, o homem se autoproduz, alterando sua visão

de mundo e de si mesmo, e nas palavras de Saviani (2003, p. 133) “essa ação é

guiada por objetivos que são o diferenciador da ação humana”.

Segundo o mesmo autor (2003) “se é o trabalho que constitui a realidade

humana, e se a formação do homem está centrada no trabalho, é também o trabalho

que define a existência histórica dos homens”.

Numa resposta aos desafios da natureza o trabalho é considerado como ação

transformadora das realidades sociais, com isso abre-se o caminho à consciência da

liberdade para todo o ser humano, sem distinção de classe econômica, raça, religião

ou posição social.

Nessa perspectiva, DIAS (2007) afirma que

A caminhada para libertar a condição humana do fetichismo da mercadoria é também a caminhada para libertar a coisificação da ciência e da sua redução à condição de mercadoria que o capital lhe impõe. É sabido que essa libertação não se dará sem uma luta muito dura e longa contra todas as formas de alienação da qual a atividade vital humana – o trabalho – foi também alienada, na medida em que a economia política – os feiticeiros na interpretação da crítica do materialismo histórico – só considera trabalho, o trabalho alienado produtor sob a forma de mercadoria e produtor de mercadorias e de mais-valia. (DIAS, 2007, p. 7)

Com a chegada do capitalismo, na sociedade moderna, fez-se necessária a

universalização da escola, como maneira de acesso aos códigos escritos para o

desenvolvimento da industrialização.

A sociedade capitalista, cujo eixo passa a girar em torno da cidade, incorpora, na própria forma de organização, os códigos escritos, gerando a necessidade de que todos possam dominá-los. Decorre daí a proposta de universalização da escola e é sobre essa base que vão se estruturar os currículos escolares. (...) O currículo escolar, desde a escola elementar, guia-se pelo princípio do trabalho como o processo através do qual o homem transforma a natureza. (SAVIANI, 2003, p.135)

Marx (citado por CIAVATTA, 1990) afirma que o trabalho tem seu campo

específico de discussão teórica no materialismo histórico, em que se parte do

trabalho como produtor dos meios de vida, tanto nos aspectos materiais como

culturais, ou seja, de conhecimento, de criação material e simbólica, e de formas de

sociabilidade.

Sendo o trabalho entendido como princípio educativo Ciavatta, (1990) relata

que “a afirmação remete à relação entre o trabalho e a educação, no qual se afirma

o caráter formativo do trabalho e da educação como ação humanizadora por meio

do desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano”.

Saviani afirma que

Aprender a ler, escrever e contar, além dos rudimentos das ciências naturais e sociais, constituem pré-requisitos para compreender o mundo em que se vive, inclusive para entender a própria incorporação, pelo trabalho, dos conhecimentos científicos no âmbito da vida e da sociedade. (SAVIANI, 2003, p. 136).

Nessa concepção, na medida em que o processo escolar se desenvolve,

surge à exigência de explicitar os mecanismos que caracterizam o processo do

trabalho, o modo como o trabalho se desenvolve e está organizado na sociedade

moderna.

Associada a discussão sobre o trabalho como princípio educativo, está

presente a questão da politecnia, relatada por Saviani (2003 p. 136) a qual “se

encaminha na direção da superação da dicotomia entre trabalho manual e trabalho

intelectual, entre instrução profissional e instrução geral”.

Nesse sentido, Ciavatta (1990) comenta que essa experiência socialista do

início do século XX, “introduz a educação politécnica com o objetivo de formação

humana em todos os seus aspectos, físico, mental, intelectual, prático, laboral,

estético, político; combinando estudo e trabalho”.

Saviani (citado por CIAVATTA, 1990) opõe-se à concepção capitalista

burguesa que tem por base a fragmentação do trabalho em funções especializadas

e autônomas, defende a politecnia que

... postula que o processo de trabalho desenvolva, numa unidade indissolúvel, os aspectos manuais e intelectuais. (...) Todo trabalho humano envolve a concomitância do exercício dos membros, das mãos e do exercício mental, intelectual. Isso está na própria origem do entendimento da realidade humana, enquanto constituída pelo trabalho. A ideia de politecnia envolve a articulação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, implicando uma formação que, a partir do próprio trabalho social, desenvolva a compreensão das bases da organização do trabalho na nossa sociedade e que, portanto, nos permite compreender o seu funcionamento. (SAVIANI, 2003, p. 138-142)

Sob este ponto de vista Ciavatta (1990) afirma que

A introdução do trabalho como princípio educativo na atividade escolar (...), supõe recuperar para todos a dimensão do conhecimento científico-tecnológico da escola unitária e politécnica, introduzir nos currículos a crítica histórico-social do trabalho no sistema capitalista, os direitos do trabalho e o sentido das lutas históricas no trabalho, na saúde e na educação. (CIAVATTA, 1990, p. 413)

Considerar o trabalho como princípio educativo equivale a dizer que o ser

humano é produtor de sua realidade e, por isso, se apropria dela e pode transformá-

la. Equivale dizer, ainda, que as pessoas são sujeitos de suas histórias e de suas

realidades.

A adoção desse referencial para o desenvolvimento do trabalho pedagógico

implica, necessariamente, em colocar a escola, isto é, o seu currículo, como

referencial de estudos e análise científicos para a compreensão e transformação da

realidade.

Esse colocar implica, por sua vez, legitimar a escola com intelectual orgânico

coletivo da comunidade, ou seja, uma escola viva, organizada e mobilizada pela

comunidade, cujo processo não se dará sem uma efetiva participação consciente

dos pais e do conjunto da comunidade, objeto de interesse deste artigo.

3. O TRABALHO PEDAGÓGICO E A GESTÃO DEMOCRÁTICA

A organização da escola e do trabalho pedagógico no seu interior só podem

ser analisados a partir da compreensão das relações políticas, econômicas e de

trabalho no âmbito da sociedade em geral e da realidade social na qual a escola

está inserida. Esse foi o esforço teórico empreendido nas duas primeiras partes

deste trabalho.

Isto posto parte-se da compreensão que a relação entre o capital e o trabalho

que atravessa a forma de produção da vida material, atravessa igualmente a forma

de organização do ensinar e do aprender, isto é, o trabalho pedagógico.

Para compreender os processos de ensino e de aprendizagem e a natureza

do trabalho pedagógico no interior da escola, precisa-se compreender a natureza do

trabalho na sociedade em geral bem como a sua natureza específica, como

mercadoria que é, no capitalismo.

Não se pode analisar o trabalho pedagógico sem levar em conta as

determinações de classes sociais que o afetam.

Neste sentido, DIAS (2009) afirma que

A história brasileira demonstra que a educação nunca foi prioridade dos governos, porque a ação governamental reflete o seu condicionamento às bases da produção. Em outras palavras, foram as mudanças econômicas que determinaram as necessidades educacionais. (...) Do ponto de vista dos interesses da classe trabalhadora, essa nova realidade do sistema educacional exige um preparo maior da escola e dos educadores, no sentido de garantir as condições para uma formação humana de caráter emancipador. (DIAS, 2009, p. 25)

Para Vitor Paro (2004, p. 30 e 31) quando se transpõe esses conceitos para o

trabalho pedagógico, algumas novas especificações precisam ser feitas, por se

tratar de um trabalho não material, onde seu produto não é um objeto tangível, mas

um serviço (grifo do autor). Citando Marx, classifica o trabalho do professor na sala

de aula, como trabalho não-material, cuja produção e consumo se dão

simultaneamente.

Saviani (citado por PARO, 2004, p.31) supõe “a atividade de ensino, a aula

(grifo do autor), como o produto da educação escolar que não se separa de seu

consumo pelos alunos”.

Paro vai além, afirmando que “um exame mais acurado irá revelar que a aula

consiste tão-somente na atividade que dá origem ao produto do ensino. Ela não é o

produto do trabalho, mas o próprio trabalho pedagógico” (grifo meu). Portando, uma

educação de qualidade está também condicionada ao fato do professor

compreender que o seu trabalho pedagógico está intimamente ligado ao seu papel

na sociedade.

Partindo dos pressupostos teóricos de Paro, compreende-se que sendo a

educação a apropriação de um saber historicamente produzido e/ou acumulado pela

sociedade e a escola uma das instâncias que proveem educação, não se pode

restringir o seu produto ao ato de aprender. (PARO, 2004, p. 32).

Seguindo esse raciocínio “o papel do educando no processo de produção

pedagógico se dá não apenas na condição de consumidor e de objeto de trabalho,

mas também na de sujeito, portanto de produtor (ou coprodutor), (grifo do autor) em

tal atividade”. (PARO, 20004, p. 32).

No que se refere ao papel do professor neste processo, o autor comenta que:

O professor, pela natureza do trabalho que exerce e pelos fins a que serve a educação, precisa avançar mais, atingindo um nível de consciência e de prática política que contemplem sua articulação com os interesses dos usuários de seus serviços. (PARO, 2004, p. 37)

Não se pode esperar que uma sociedade mais justa surgisse naturalmente,

mas sim por meio de uma educação que caminhe com a prática política do povo.

Sendo assim, o professor assume um papel, sobretudo político e social.

Professores e professoras precisam engajar-se social e politicamente,

percebendo as possibilidades da ação social e cultural, na luta pela transformação

das estruturas opressivas da sociedade brasileira. Para isso, é necessário que

conheçam a comunidade e atuem em nível social, econômico e cultural de seus

alunos e alunas.

Neste sentido faz-se necessária a construção de um ambiente escolar

democrático que “conceba a comunidade como o real substrato de um processo de

democratização das relações na escola”, pois sem incluir a participação da

comunidade, dificilmente irá se atender os interesses da população usuária. (PARO

2004, p.15-16).

Paulo Freire ao fazer uma análise entre a compreensão crítica da prática

educativa e da participação comunitária (grifos do autor), afirma que

(...) fazendo educação numa perspectiva crítica, progressista, nos obrigamos, por coerência, a engendrar, a estimular, a favorecer, na própria

prática educativa, o exercício do direito à participação por parte de quem esteja direta ou indiretamente ligado ao fazer educativo. (FREIRE 1993, p.65)

A participação de pais e membros da comunidade nas decisões da escola

permite a troca de informações relevantes entre escola e família, além de contribuir

para elevar o engajamento da comunidade na manutenção da unidade escolar,

porém, como afirma Paro “a participação da comunidade, como todo processo

democrático, é um caminho que se faz ao caminhar” (grifo meu) e necessita de uma

reflexão previa a respeito dos “obstáculos e potencialidades que a realidade

apresenta para a ação” (PARO 2004, p. 17).

Uma vez que, segundo PARO (2004) “a gestão democrática deve implicar

necessariamente a participação da comunidade”, faz-se aqui uma reflexão sobre o

conceito de participação (grifo meu), pois para o autor existe a preocupação no limite

com a participação nas decisões, afirmando que

Isto não elimina, obviamente, a participação na execução; mas também não a tem como fim e sim como meio, quando necessário, para a participação propriamente dita, que é a partilha do poder, a participação na tomada de decisões. (PARO, 2004, p. 16).

Para Virgínio Sá (2002) “a problemática da democracia e da participação

constitui um campo de estudo e de reflexão que, não constituindo uma questão

nova, mantém, contudo plena atualidade”.

Baptista Machado (1982), citado por Virgínio Sá (2002), afirma que

A distinção entre diferentes níveis de profundidade (grifo do autor) da participação (preparação da tomada de decisão, tomada de decisão, execução da decisão tomada) representa um primeiro contributo que permite discriminar graus diferenciados de partilha do poder e denunciar até o caráter meramente instrumental de boa parte das ofertas participativas, frequentemente situadas ao nível da simples consulta e, portanto, susceptíveis de serem utilizadas para legitimar decisões eventualmente já tomadas. (SÁ 2002, p. 135).

De acordo com a concepção de PARO

A escola que toma como objeto de preocupação levar o aluno a querer aprender precisa ter presente a continuidade entre a educação familiar e a escolar, buscando formas de conseguir a adesão da família para sua tarefa de desenvolver nos educandos atitudes positivas e duradouras com relação ao aprender e ao estudar. (PARO, 2007, p. 16).

Cada vez mais se caminha para a tomada de decisões coletivas, para o

trabalho em equipe, como oportunidade de crescimento coletivo. A participação,

porém, inclui discussão e divergência, inclui saber ouvir e o respeito aos pontos de

vista diferenciados dos diferentes segmentos da comunidade escolar.

4. CATEGORIAS PEDAGÓGICAS NASCIDAS DA PESQUISA EMPÍRICA

4.1. Contribuições do Grupo de Trabalho em Rede - GTR

Gostaria de destacar a importância do diálogo com colegas educadores(as)

como parte da pesquisa de campo. Das atividades realizadas no decorrer do GTR,

quero destacar as contribuições trazidas por duas colegas pedagogas que

sintetizam os comentários realizados pelas demais:

“É preciso desenvolver um trabalho contínuo para sensibilização sobre o papel dos pais no aspecto educacional. A maior dificuldade é o entendimento da importância do envolvimento na vida do filho. Os motivos são muitos, o mais citado é a falta de tempo e conhecimento. A função da escola é trabalhar essa necessidade fundamental, o entendimento do papel da escola e sua função, para a melhoria dos resultados. A escola por muito tempo apresentou pontos negativos dos filhos. Ela precisa apresentar os pontos positivos, que são muitos. Isso se torna possível através de encontros periódicos, palestras, vídeos, leituras, circulares, feiras, entre outros... Outro aspecto importante é o esclarecimento sobre o significado da Educação, na vida de cada indivíduo. As práticas pedagógicas devem estar aliadas ao favorecimento da ampliação compreensiva do mundo, do indivíduo, dos outros e das relações sociais. Na medida em que conseguir a participação de todos os setores da instituição, nas decisões a respeito de seus objetivos e funcionamentos, a escola tem melhores condições para atingir a sua função social. Timidamente bons exemplos de envolvimento dos pais vão aparecendo, nas atividades da escola, no acompanhamento individual e consequentemente no rendimento escolar. As pesquisas comprovam que pais presentes, oportunizam melhores aprendizagens e resultados escolares positivos para os filhos.” (Dorotea Aparecida Merchiori Stoco).

“Sabemos que uma escola só será democrática, a partir do momento em que a comunidade escolar, representada pelos professores, funcionários, alunos e pais, tomarem consciência da importância de seu papel na construção dessa democracia. Para isso a escola deve motivar os pais para que participem, efetivamente, acreditando que é muito importante manter um bom relacionamento com a escola, e que a sua participação não pode ser restrita em ouvir reclamações sobre o comportamento do seu filho. Podemos observar que a comunidade ainda não percebeu a importância que a escola tem como fator de transformação do ser humano e social. A integração entre escola e família é fundamental para o desenvolvimento social e cognitivo e o sucesso escolar do aluno. Sabe-se que a estrutura familiar tem um forte impacto na permanência do aluno na escola. Embora a escola tente achar alternativas para reverter os aspectos negativos faz-se necessário que conte com a colaboração da família, pois só assim atingirá os objetivos propostos.” (Eliane do Rocio Netzel).

4.2. CONTRIBUIÇÕES DOS PAIS ATRAVÉS DOS QUESTIONÁRIOS

No âmbito das famílias a coleta de dados deu-se através da realização de

questionário enviado através dos estudantes, sendo privilegiado o contato com os

membros adultos, especialmente pais e responsáveis, focando nas relações entre as

crianças e seus cuidadores (grifo meu), no que se referia às questões escolares e

também nas relações de convívio social.

Através dos questionários pudemos perceber a preocupação dos pais com

relação à indisciplina e respeito com os professores, equiparando-se a

aprendizagem e mensurações de notas. Observamos também a satisfação dos pais

com as melhorias realizadas na qualidade da merenda servida aos alunos, fato que

foi mencionado em vários questionários.

Os apontamentos dos pais estão ligados diretamente ao estilo de vida e a

cultura da comunidade onde o Colégio está inserido, de característica comunitária

bem definida pelas relações de vizinhança.

Sob essa situação o respeito associa-se com a autoridade que a escola é

depositária o que confronta diretamente com o desrespeito e a indisciplina em

sociedade de caráter massivo onde os sujeitos se conhecem menos. O Colégio

onde a pesquisa foi desenvolvida propicia, portanto, análise a ser comparada com

os Colégios em comunidades mais estáveis. Nessa situação julgamos ser mais

favorável trazer os pais para participarem da discussão sobre o trabalho pedagógico

destinado à formação dos seus filhos do que em Colégio em comunidades muito

grande e de instabilidade demográfica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A baixa escolarização dos pais e pequeno conhecimento dos seus direitos à

cidadania, entre eles os direitos sociais (a educação e a saúde), não permite a estes

mesmos pais uma participação crítica e autônoma no processo de formação de seus

filhos.

Para que a integração dos pais com a escola se efetive de fato, é

indispensável que, além da boa vontade e disponibilidade dos pais, a direção,

equipe pedagógica, equipe docente e funcionários da escola estejam dispostos a se

abrir para a comunidade. Tal parceria cria um compromisso com a instituição de

ensino, que sente a necessidade de modernizar-se, a reestruturar as atividades mais

abrangentes, que vão além do currículo obrigatório. Quando cada um conhece a

importância de seu papel dentro da escola, o resultado é o crescimento pessoal de

todos os envolvidos.

Deve-se levar em conta também que a participação da comunidade é

imprescindível e só é possível porque há um modo de agir e de pensar favorável a

tal participação por parte das pessoas que atuam no espaço escolar, pois a postura

dessas pessoas pode dificultar ou facilitar a participação dos pais na escola, pois se

sabe que apesar de se observarem inúmeras vantagens na participação da

comunidade na escola, sabe-se que existem vários obstáculos e dificuldades em

relação a tal participação.

Como afirma FEIGES (2013)

(...) os desafios da gestão democrática perpassam dois aspectos interdependentes: buscar a igualdade de resultados quanto à qualidade social da educação pela apropriação dos espaços de participação por parte dos pais, com vistas à construção do caráter democrático da função do diretor como dirigente do Projeto Político-Pedagógico da escola pública, consubstanciado no elemento participativo como força propulsora dos avanços democráticos e mobilização do coletivo de educadores, para práticas efetivamente socializadoras do direito à apropriação do conhecimento como ferramenta de emancipação social. (FEIGES, 2013, p. 179)

Neste sentido, cabe à escola aproveitar todas as oportunidades de contato

com os pais para repassar a eles informações sobre os seus objetivos, recursos,

problemas e sobre as questões pedagógicas que se apresentarem. Somente deste

modo eles irão sentir-se comprometidos com a melhoria da qualidade do ensino de

seus filhos.

Para concluir pode-se afirmar que a partir dos estudos realizados durante a

pesquisa e durante todo o desenvolvimento das atividades da autora, bem como do

desenvolvimento das atividades teóricas no PDE, estudo de campo realizado,

revisão da literatura e experiência profissional da autora, propomos a discussão de

dois blocos de questões:

1º - Diz respeito à necessidade de mais estudos e análises, referentes à

importância das questões da temática da participação dos pais na gestão

pedagógica escolar destinada ao processo formativo de seus filhos

Investigação de como ocorre atualmente na Formação Inicial a relação

da escola com as famílias

2º - Diz respeito a medidas que podem ser implementadas em dois níveis:

a) No âmbito das políticas educacionais

O Estado, enquanto mantenedora, assegurasse a Formação

Continuada para todos os profissionais da educação, para a

compreensão e formulação de estratégias para o diálogo entre a

escola e a comunidade, através da realização de cursos específicos

para os diversos setores da escola, abordando a temática da

participação dos pais na construção do Projeto Político Pedagógico da

escola.

Elaboração e desenvolvimento do projeto que possibilite manter

abertas as escolas estaduais do Paraná, durante os finais de semana e

horários noturnos, desenvolvendo atividades culturais e desportivas,

em seus diversos ambientes como: salas de aula, quadra esportiva,

biblioteca, laboratório de informática, possibilitando também a criação

de videotecas com apresentações de filmes para a comunidade.

b) No âmbito da organização do trabalho pedagógico dentro da escola

Assegurar no tempo e espaço escolar o desenvolvimento de

estratégias de caráter prático e reflexivo constituído segundo modelo

da Escola de Pais, assegurando o diálogo de modo a aperfeiçoar o

Projeto Pedagógico que contribuam para o efetivo cumprimento da

Função Social da Escola, bem como a garantia do diálogo enquanto

projeto pedagógico, que esteja aberto para receber os conhecimentos

e os saberes desses mesmos pais.

Criação do Clube de Mães da Escola a fim de promover a integração

entre a Escola e as famílias, incentivando as mães a darem

continuidade no lar ao processo de desenvolvimento do aluno,

proporcionando momentos de troca de experiências e estimulando a

amizade entre as participantes. Além de ensinar atividades manuais,

com a confecção de artesanato para reverter em benefício do Clube,

da Escola, dos alunos e/ou sua família, poderão ser realizados círculos

de estudo e reflexão com o grupo, através do desenvolvimento de

atividades que favoreçam a qualidade de vida das mães e por

consequência de todo o núcleo familiar envolvido.

Criação e implementação da Horta Escolar, em terreno que pode ser

“adotado” pela escola, visando uma aprendizagem ativa e integrada a

um plano de estudos de conhecimentos teóricos e práticos sobre os

conteúdos das diversas disciplinas, visando exercitar a cooperação e o

trabalho em equipe pra assim fortalecer o convívio escola e

comunidade.

REFERÊNCIAS

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DIAS, Gracialino da Silva. Defender as Ciências da Saúde e da Educação: superar os limites da formação tecnicista e garantir a formação científica e popular. São Luís, 2007

FEIGES, M. M. F. Eleição de diretores no Paraná: uma análise dos planos de ação

na gestão das escolas estaduais de Curitiba - triênio 2012-2014. Tese de Doutorado - UFPR. Curitiba, 2013.

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