a i - tema 9_1 - ficha # 1

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UNIÃO EUROPEIA Fundo Social Europeu DIREÇÃO DE SERVIÇOS DA REGIÃO NORTE AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE VILA FLOR  CÓD. 151841 ESCOLA E.B. 2,3 / S DE VILA FLOR - CÓD. 346184 C. Prof.  Técnico de Turismo Ambiental e Rural Disciplina de Área de Integração Ano Letivo 2013/2014  Página 1 de 5 Módulo 6 Tema/problema: 9.1  Os fins e os meios: que ética para a vida humana Ficha nº 1 OS VALORES E O MUNDO  1  VALORES E ESCOLHA Em todos os momentos da nossa vida temos que fazer opções e é a partir delas que construímos as nossas decisões. Por mais fáceis ou difíceis que sejam, certas ou erradas, discutíveis ou indiscutíveis, são elas que, numa determinada altura ou situação, consideramos as melhores, independentemente de o serem ou não. É a partir das experiências que temos que descobrimos preferir umas coisas em detrimento de outras e a razão que nos leva a optar por elas. O mundo deixa de nos ser indiferente e, em função disso, determinamos o que é mais e menos importante para nós e para o mundo, justamente porque temos a faculdade de atribuir valores. A tudo aquilo que existe atribuímos um valor, de outro modo não poderíamos preferir, escolher ou julgar. O que nos leva a preferir sair à noite com os amigos ou a ficar em casa, escolher um filme em detrimento de outro, um estilo de música ou um desporto, por que razão gostamos mais de umas pessoas do que de outras? Os valores são uma característica humana que funciona como uma espécie de luz orientadora, que nos leva a julgar e a estabelecer preferências entre aquilo que é justo e injusto, certo ou errado, desejável ou indesejável. São eles que dão cor à vida, que fazem com que a realidade não nos passe despercebida e não sejamos apenas meros espectadores do mundo circundante. A vida humana não teria sentido sem valores, pois são eles que enriquecem as nossas experiências, nos fazem agir e constroem, ao mesmo tempo, a nossa individualidade. [valorar é reconhecer] alguma coisa como valiosa, no sentido de sermos s a atribuir-lhe um valorjulgando e apreciand o, emitindo um juízo de valor. (…)  Valoramos as mais diferentes coisas. O nosso valor recai sobre todos os objetos possíveis: água, pão, vestuário, saúde, livros, homens, opiniões , atos. Tudo isso é objeto das nossas apreciações. E nelas encontramos já duas direções possíveis de todas as nossas valorações. Isto é: os nossos “juízos” de valor ora são positivos, ora negativos; umas coisas parecem-nos valiosas, outras sem valor.  J. Hessen, Filosofia dos Valores A partir do text o, é possível retirar as seguintes conclusões: - Tudo quanto existe está sujeito a valores, desde os objetos mais simples (água, pão, vestuário) até aos conceitos mais complexos (opiniões, atos); - Os valores não são propriedades dos obje tos mas um instrumento para as nossas apreciações (juízos de val or);

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  • 5/28/2018 A I - Tema 9_1 - Ficha # 1

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    UNIO EUROPEIAFundo Social Europeu

    DIREO DE SERVIOS DA REGIO NORTEAGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE VILA FLOR CD. 151841

    ESCOLA E.B. 2, 3 / S DE VILA FLOR - CD. 346184C. Prof. Tcnico de Turismo Ambiental e Rural Disciplina de rea de Integrao Ano Letivo 2013/2014

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    Mdulo 6Tema/problema: 9.1 Os fins e os meios:

    que tica para a vida humanaFicha n 1

    OS VALORES E O MUNDO1

    VALORES E ESCOLHA

    Em todos os momentos da nossa vida temos que fazer opes e a partir delas que construmos

    as nossas decises. Por mais fceis ou difceis que sejam, certas ou erradas, discutveis ou

    indiscutveis, so elas que, numa determinada altura ou situao, consideramos as melhores,

    independentemente de o serem ou no. a partir das experincias que temos que descobrimos

    preferir umas coisas em detrimento de outras e a razo que nos leva a optar por elas. O mundo

    deixa de nos ser indiferente e, em funo disso, determinamos o que mais e menos importante

    para ns e para o mundo, justamente porque temos a faculdade de atribuir valores.

    A tudo aquilo que existe atribumos um valor, de outro modo no poderamos preferir,

    escolher ou julgar. O que nos leva a preferir sair noite com os amigos ou a ficar em casa, escolher

    um filme em detrimento de outro, um estilo de msica ou um desporto, por que razo gostamos

    mais de umas pessoas do que de outras?

    Os valores so uma caracterstica humana que funciona como uma espcie de luz orientadora,

    que nos leva a julgar e a estabelecer preferncias entre aquilo que justo e injusto, certo ou errado,

    desejvel ou indesejvel. So eles que do cor vida, que fazem com que a realidade no nos passe

    despercebida e no sejamos apenas meros espectadores do mundo circundante. A vida humana no

    teria sentido sem valores, pois so eles que enriquecem as nossas experincias, nos fazem agir e

    constroem, ao mesmo tempo, a nossa individualidade.

    [valorar reconhecer] alguma coisa como valiosa, no sentido de sermos ns a

    atribuir-lhe um valor, julgando e apreciando, emitindo um juzo de valor. ()

    Valoramos as mais diferentes coisas. O nosso valor recai sobre todos os objetospossveis: gua, po, vesturio, sade, livros, homens, opinies, atos. Tudo isso objeto

    das nossas apreciaes. E nelas encontramos j duas direes possveis de todas as

    nossas valoraes. Isto : os nossos juzosde valor ora so positivos, ora negativos;

    umas coisas parecem-nos valiosas, outras sem valor.J. Hessen, Filosofia dos Valores

    A partir do texto, possvel retirar as seguintes concluses:

    - Tudo quanto existe est sujeito a valores, desde os objetos mais simples (gua, po,vesturio) at aos conceitos mais complexos (opinies, atos);

    - Os valores no so propriedades dos objetos mas um instrumento para as nossasapreciaes (juzos de valor);

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    - Os valores so bipolares, isto , oscilam entre dois pelos, um afirma um valor positivo, ooutro, um valor negativo;

    - H valores mais importantes que outros, ou seja, h uma hierarquia de valores.- Julgamos a realidade a partir dos valores (juzos de valor) que traduzem as nossas

    escolhas e preferncias.

    Questionrio 1:

    1. Que relao existe entre a intimidade da nossa experincia e valor?

    2. A vida humana no teria sentido sem valores. Porqu?

    3. Indique algumas caractersticas dos valores.

    VALOR -DEFINIO E CARACTERSTICAS

    Podemos, ento, definir os valores como uma caracterstica interna que permite a cada um de

    ns avaliar a realidade exterior, atribuindo-lhe uma importncia, de acordo com aquilo que

    desejvel ou indesejvel, funcionando, deste modo, como guia de ao.

    No entanto, apesar de a tudo atribuirmos uma importncia, convm fazer a distino entre

    valor e preo. Geralmente falamos do valor da moeda, do valor das aes na Bolsa de Valores, ou

    ainda do valor dos objetos que encontramos no mercado e que tm um preo. Neste domnio, valor e

    preo podero ser sinnimos, uma vez que conferida uma importncia numrica ao objeto, mas de

    modo algum poderemos consider-los idnticos ou equivalentes. Se no, veja-se: por que razo

    consideramos um objeto caro ou barato, depois de verificarmos o seu preo? Por que razo existem

    objetos que no conseguimos vender por lhes estarmos apegados afetivamente?

    Essa explicao poder ser dada justamente porque sobre o preo do objeto existe ainda um

    valor - valor esse diferente, relacionado no com o objeto propriamente dito, mas antes com o

    conjunto de afetos, experincias e significados ao qual cada sujeito atribui para si uma significao

    pessoal e nica no quantificvel.

    PREO VALOR

    - Expresso monetria do valor deum bem ou serviotransacionado no mercado.

    - objetivo e universalmentevlido.

    - Qualidade atribuda aos objetos peloindivduo ou sociedade de carcterdesejvel.

    - No tem preo e a sua apreciao variaentre os indivduos e sociedades.

    Por preo podemos definir o elemento monetrio expresso numericamente que atribudo a

    uma mercadoria, servio ou patrimnio. E, a, surge-nos imediatamente uma questo: poderemos

    quantificar o valor da amizade, da honra, ou do respeito? Ser que a experincia de namorar, ter um

    filho, viajar, tem um preo igual para todos? A resposta , naturalmente, no. Uma vez que cada um

    tem uma vivncia nica e pessoal, sujeita a interpretaes prprias, atribumos-lhe importncia de

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    acordo com o modo como a vivemos e o significado que lhe reconhecemos. por isso que o valor

    transcende, isto , ultrapassa e supera o facto. Em vez de se situar no plano da realidade, entra

    tambm no campo da idealidade, do desejvel, do dever ser.

    Tal como uma sociedade relativamente a outras, um grupo em relao a outro, cada um forma

    para si uma escala hierarquizada de valores. Deste modo, situamos os valores uns em relao aos

    outros e cada indivduo atribui a certos valores uma especial importncia e a partir deles rege a sua

    vida. Perante uma dada situao, temos de decidir quais os valores mais importantes e por quais

    devemos optar. Ser o dinheiro mais importante que a amizade? Ser o aspeto fsico mais

    importante que a sade? Ser a beleza fsica mais importante que a beleza intelectual? A formulao

    por parte de cada indivduo de uma escala hierarquizada de valores possibilita-lhe, deste modo, o

    esclarecimento e uma maior facilidade em tomar decises e fazer aquilo que verdadeiramente

    pretende; optar pelo dinheiro, se for a isso que d mais importncia, ou optar pela amizade, se for

    isso o prefervel

    Questionrio 2:

    1. Elabore uma lista hierarquizada de valores, evidenciando aqueles que para si so mais

    importantes e depois confronte-a com a lista dos seus colegas. Poder indicar objetos,

    comportamentos, atividades, hobbies preferidos, estilos de msica ou filmes, etc.

    2. Verifique se existe ou se ser possvel construir uma escala de valores consensual entre toda

    a turma.

    3. Qual a vantagem de possuir uma escala hierarquizada de valores?

    ADIMENSO PESSOAL E SOCIAL DOS VALORES

    Se, por um lado, os valores dizem respeito individualidade de cada pessoa, por outro, tambm

    esto intimamente relacionados com o contexto social em que cada um se insere. O ser humano

    por natureza um ser social, mas viver em sociedade e ser aceite nela implica necessariamente a

    adoo de um conjunto de regras e valores pelo qual essa sociedade se rege.Como afirma Edgar Morin, filsofo e socilogo francs do sculo XX, o indivduo que faz a

    sociedade, a sociedade que faz o indivduo. Da ser impossvel separar estes dois elementos. no

    contexto social que construmos e encontramos o nosso prprio eu em funo do tempo e do espao

    em que vivemos, daquilo que nos oferecido e em funo dos modelos com que nos identificamos.

    No contexto social, encontra-se j uma cultura que delimita o nosso agir, cabendo-nos moldar a

    nossa identidade em funo das alternativas que nos so dadas. Apesar de escolhermos o nosso

    clube, no fomos ns que o crimos, o estilo de msica de que gostamos, o hbito de ir discoteca,

    ou o estilo de moda que adotamos, so modelos j existentes na sociedade.

    Dito deste modo, fica a ideia de que o ser humano apenas um instrumento ou um produto dasociedade, onde a liberdade no tem o seu lugar. Mas ser mesmo assim?Estar o indivduo sujeito na

    sua totalidade cultura e aos padres sociais?

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    A imagem de cada um determinada pela sociedade ou criada por opo de

    cada indivduo? Ser que compreendemos e aceitamos os seus valores?

    Parece no haver dvidas quanto existncia de fatores sociais que moldam a identidade dos

    indivduos, os seus valores e os seus comportamentos. Eis alguns, talvez os mais significativos:

    - Educao - transmite os valores da sociedade indispensveis para tornar o indivduo apto sua integrao;

    - Hbitos/tradies - evocam determinados valores prprios da sociedade, envolvendo oindivduo na sua participao e defesa;

    - Ideologias/crenas - induzem o indivduo a acreditar em determinados dogmas,indispensveis para a sua participao ativa na sociedade;

    - leis - definem certos comportamentos em funo de princpios fundamentais, permitindoo uso da fora para quem no as adotar;

    - Media - os meios de comunicao representam uma realidade de acordo com a visosocial ou a forma ideal que pretende ser retratada. Criam novos valores e

    comportamentos.

    Uma pessoa, enquanto

    indivduo, vive num determinadotempo inserida num determinado

    contexto, cuja cultura a marca nas

    suas caractersticas gerais. Ser difcil

    encontrar um indivduo que no

    saiba falar a lngua do seu pas, que

    no defina o sistema poltico que

    configura a sociedade em que vive,

    que no identifique um estilo de

    msica ou os hbitos da sociedade em que nasceu, independentemente de os aprovar ou no.No entanto, isso no implica que perca a sua individualidade. a partir da que ele se

    constri, na medida em que se identifica com alguns modelos que tem como referncia, dos quais se

    aproxima e se afasta, prope a mudana e a sua evoluo, cria laos afetivos com uns ou de

    conflituosidade com outros e, por mais limitada que seja, a escolha ser sempre dele.

    Todos os homens e, possivelmente, todos os animais enfrentam conflitos devalores. Estes podem ser internos, interpessoais ou intergrupais. Um indivduo enfrentaum conflito interno de valores quando est dividido entre valores incompatveis, tais

    como envolver-se numa ocupao agradvel e cumprir um dever doloroso. Doisindivduos entram em conflito interpessoal de valores quando tm valoresincompatveis ou quando tm os mesmos valores, mas os meios disponveis para osrealizar so escassos. E dois grupos sociais podem entrar em conflito intergrupal devalores quando os seus respetivos sistemas de valores esto em desacordo entre si ouquando partilham os mesmos valores, mas competem pelos recursos para os realizar.

    Os conflitos de valores esto to generalizados que difcil imaginar indivduos esociedades totalmente livres deles.

    M. Bunge, Treatise on Basic Philosophy

    A diversidade cultural implica que cada grupo ou sociedade tenha a sua cultura prpriasuportada em valores que assume como os melhores ou mais importantes para si. difcil portanto

    por vezes compreender ou aceitar numa sociedade os gostos e os hbitos to dspares ou noutra, que

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    a mulher, por exemplo, no tenha os mesmos direitos que o homem. Os conflitos sociais surgem a

    partir da, quando pretendemos impor aos outros os nossos valores, porque consideramos os

    melhores. No entanto, pelo facto de cada indivduo pertencer a uma sociedade no significa que seja

    totalmente absorvido por ela. Cada um decide o seu caminho, caminho esse feito atravs de

    escolhas individuais. Escolhemos o grupo a que queremos pertencer, os nossos amigos, o clube

    desportivo, o partido poltico, mas, porque existe a possibilidade de fazer opes, a individualidade

    de cada um fica assegurada, bem como a existncia da liberdade.

    Questionrio 3:

    1. Quais so os fatores sociais mais significativos que moldam a identidade dos indivduos,

    seus valores e comportamentos?

    2. Considera que a diversidade cultural geradora de conflitos sociais? Justifique a sua opinio.

    3. Apresente elementos que demonstrem a existncia de uma determinao ou de liberdade na

    escolha da sua identidade e valores.

    1 Ficha elaborada com adaptaes a partir de: MANZARRA, Antnio & GALA, Elsio (2013).rea de Integrao O Mundo. Adescoberta da crtica: o universo dos valores. Unidade temtica 9. Lisboa: Raiz Editora, pp. 6-11.