A Guerra dos Conceitos

“Os Rosseaus, Marxes, Tolstois — homens de idéias, veja só, “pouco

práticos” e idealistas — fizeram mais para

definir o que você come e o que você pensa do

que os milhões dos Roosevelts e Rockfellers.”

F. Scott Fitzgerald

Conceito é “...um juízo sintético a

priori".

Immanuel Kant (Crítica da Razão

Pura).

Conceitos determinam os mais importantes comportamentos

humanos e seus desdobramentos sociais e econômicos,

… assim como o rumo das inovações tecnológicas, dos movimentos políticos e artísticos, da mídia, das religiões, e da gestão e marketing das empresas.

Conceitos fortes, no lugar certo, na hora certa, fazem as idéias pipocarem

nas nossas mentes,

… deflagrando mudanças importantes nos rumos da

civilização.

Democracia, socialismo, colonização, nacionalismo, sionismo, orientalismo, autodeterminação, fundamentalismo…

deflagraram guerras e revoluções.

Multiculturalismo, sustentabilidade, diluição das fronteiras nacionais,

estados falido, entre outros, causarão transformações ainda imprevisíveis...

...enquanto, no mundo dos negócios , cloud computing, branding, outsourcing,

trendwatching, redes sociais, nano e biotecnologia, micropagamentos, cauda

longa, trabalho remoto…

… já estão gerando mudanças econômicas drásticas e disrupções em modelos de negócios (disrupção é, em

si, um conceito novo e assustador).

Por sua natureza racional abstrata, muitas vezes é difícil entender a complexidade das estruturas e

escopos da construção conceitual.

Por sorte, os designers estão ai para nos ajudar,

… mas às vezes nem os mais talentosos entre eles dão conta!

Conceitos querem fazer com que você veja o mundo de um jeito diferente, graças a eles;

… competem em importância, urgência, inovação e valor nas diversas dimensões sociais;

… às vezes se sobrepõem - parcial ou totalmente -, tentam ser elásticos e,

ao mesmo tempo, definitivos;

… formam uma complexa hierarquia onde os grandes subordinam os

demais na disputa por segmentos ideológicos e de mercados;

… disputando arduamente um bom lugar ao sol, ou melhor, no

cérebro e bolso das pessoas.

Por trás, sempre estão os interesses de corporações, universidades, grupos editoriais, nações e igrejas,

… defendidos por suas brigadas de jornalistas, economistas,

autores, consultores, artistas, cientistas, historiadores etc.

Os conceitos dominantes compõe o quadro socio-econômico-

cultural que reflete a estrutura de poder da sociedade;

… e, para “autores”, emplacar um conceito vitorioso é o caminho certo para glória e fortuna.

(*) Jim O´Neil, ‘inventor’ dos BRICs, em 2002

Efeitos colaterais

Conceitos, como articuladores sofisticados de linguagem, são essenciais ao desenvolvimento humano como o conhecemos,

… mas os concorrência entre eles por atenção e adoção pelas pessoas

podem ter efeitos colaterais devastadores nas nossas vidas:

ficamos confusos e ansiosos, intolerantes, paranóicos, preconcei-tuosos e até violentos, entre outros

danos psíquicos causados pelo consumo excessivo e indiscriminado

desses coquetéis de idéias...

… que são às vezes interesseiros, manipuladores, contraditórios - intrinsecamente ou entre si - e,

eventualmente, maliciosos e mentirosos.

Sinal dos tempos

O surgimento da internet está no cerne da questão: a sua velocidade e

arquitetura multifacetada (“de-muitos-para-muitos”) possibilita a

difusão conceitual frenética e caótica.

Apesar da aparente ordem formal, com as tags, índices e listas, o web design

está mais a serviço da própria web que do equilíbrio mental das pessoas.

Servidores, motores e infraestruturas cloud fazem da web uma sangrenta

arena de UFC global onde só os conceitos mais fortes ou espertos triunfam.

Para os produtores de conteúdo a web é como um CEASA ideológica: haja

conversa para preencher os espaços que se multiplicam sem parar!

Mas para o consumidor, coitado, a internet mais parece um

gigantesco restaurante por quilo:

… dá a maior indigestão!

Conceitos, modo de usar.

Conceitos são fundamentais na sociedade da hiperinformação e saber lidar de forma crítica é crucial para o crescimento pessoal e profissional,

… mas ser subjugado é uma receita infalível para o fracasso e a frustração.

O objetivo deste discurso é tranquilizar o leitor mostrando que a culpa não é

nossa - estamos apenas sofrendo dos sintomas da hiperinformação,

… e que podemos conseguir ao menos um “empate honroso” e um pouco de paz de espírito, se conhecermos mais

sobre a natureza da ameaça.

Para quem gosta de dicas, aqui vão algumas bem simples, a partir de experiências e reflexões pessoais:

1- O colecionador Colecione, no dia-a-dia, conceitos que

te ajudem a enxergar e compreender um mundo mais coerente;

2- O trigo e o joio Compare novos conceitos com os

previamente adotados; se achá-los contraditórios, descarte um deles;

3- Menos é mais Nunca compre conceitos por

impulso, afinal nem sempre o gratuito sai barato;

4- Somos todos designers Desenhe a estrutura que melhor

organize a tua coleção: pode ser um fluxograma, árvore, mind map, etc.;

5- Wall Street Conceitos só fazem sentido em uma

hierarquia - em nossa era, quase sempre subordinados a “capitalismo”;

6- Moto-contínuo Revise e reordene constantemente a

sua coleção conceitual. O norte deve estar sempre voltado para coerência.

Boa sorte

www.eitanrosenthal.com