a detec˙ˆo de sinais e sintomas da viol˚ncia na fase...

194
S˝LVIA SUELY DE SOUZA MAIA A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE DIAGNSTICA DA PSICOTERAPIA BREVE UNIVERSIDADE METODISTA DE SˆO PAULO 2007

Upload: others

Post on 26-Nov-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

SÍLVIA SUELY DE SOUZA MAIA

A DETECÇÃO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOLÊNCIA NA FASE

DIAGNÓSTICA DA PSICOTERAPIA BREVE

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

2007

id26213531 pdfMachine by Broadgun Software - a great PDF writer! - a great PDF creator! - http://www.pdfmachine.com http://www.broadgun.com

Page 2: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

PÓS � GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE

A DETECÇÃO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOLÊNCIA NA FASE

DIAGNÓSTICA DA PSICOTERAPIA BREVE SÍLVIA SUELY DE SOUZA MAIA

ORIENTADOR: PROF. DR JOSÉ TOLENTINO ROSA

Dissertação apresentada como exigência

parcial para obtenção do título de Mestre do

curso de Pós-Graduação em Psicologia da

Saúde, à Comissão Examinadora da

Universidade Metodista de São Paulo.

São Paulo

2007

Page 3: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

COMISSÃO EXAMINADORA ______________________________

______________________________

______________________________

Page 4: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

À minha mãe, pela lição de vida e pela força

desmedida com que sempre enfrentou e venceu os

obstáculos.

Ao meu pai, amigo tão especial, que nunca se deixou

abater pela desesperança e sempre teve uma palavra

de apoio nos momentos mais difíceis.

Page 5: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

AGRADECIMENTOS

Para a realização de um trabalho como este necessitamos, antes de tudo, do

carinho das pessoas que nos querem bem. Deste modo, quero registrar a minha mais

profunda gratidão por todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que este

trabalho pudesse ser realizado.

Aos meus filhos, Juliana, Fernando e Guilherme que puderam, com carinho e

paciência, compreender meus longos períodos de ausência.

Ao meu marido, pelo constante apoio, compreensão e incentivo, tanto em

minha vida pessoal quanto profissional.

Aos meus irmãos, amigos tão leais, pelo carinho, união, pelo apoio

incondicional, pela confiança que sempre em mim depositaram e pelo amor que sempre

me dedicaram.

Ao meu orientador, Professor Doutor José Tolentino Rosa, pela orientação

segura, pela disponibilidade constante e pela inegável riqueza de conhecimentos, que

me conduziram à realização deste trabalho.

Aos professores e amigos Armando Rocha Júnior e Paulo Francisco de

Castro, que na convivência acadêmica e amizade sincera, sempre me incentivaram

para a concretização deste estudo. À Professora Doutora Jumara Sílvia Van de Velde

Vieira, pelo incentivo para realização deste trabalho e pelo apoio profissional a mim

concedido.

Às professoras e amigas Eliana Ferrante Pires, Regina Célia Duarte e

Solange Rodrigues Martins Camargo Santos, pela companhia sempre prazerosa,

amizade e apoio constantes no período da realização do Mestrado.

Page 6: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

À funcionária e estagiária de Psicologia da Universidade Guarulhos,

Christiane Ribeiro Rodrigues pelo carinho, amizade e por compreender este momento

de minha vida.

Aos pacientes atendidos em Psicoterapia Breve Infantil, durante o ano de

2006, na clínica-escola de Psicologia da Universidade Guarulhos, que possibilitaram,

através de seus tratamentos, a realização do presente estudo.

Page 7: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

RESUMO

Investiga as interferências da violência doméstica na fase diagnóstica, que antecede a

Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico apresentado pelo paciente, se a

violência foi verbalizada pelo paciente e a forma como ela foi captada pelo terapeuta e

levada em consideração na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil. Foram

investigados sinais e sintomas de 29 pacientes de Psicoterapia Breve Infantil. A

avaliação das entrevistas iniciais que compõem a fase diagnóstica da Psicoterapia

Breve, foi realizada por dois juizes independentes, com índice de concordância igual a

0,87. Foram detectados sinais e sintomas de violência doméstica em 24 dos 29 casos

analisados, o que corresponde a 83% do total de pacientes. A violência doméstica foi

considerada significativa para uma situação-problema a ser trabalhada em análise em

54% dos casos, o que mostra que é uma situação de limiar, em que 50% das

percepções são verdadeiras e a outra metade são falsas. Dos 13 casos em que a

violência doméstica foi significativa pelos juízes, apenas 54% estavam incluídas na

compreensão psicodinâmica da queixa, pelo terapeuta. A inclusão da violência

doméstica no foco da Psicoterapia Breve foi observada somente em 2 casos, o que

corresponde a 07% da amostra geral, muito perto da incidência de mecanismos

psicóticos que prejudicam a socialização (08%). Os resultados obtidos foram discutidos

segundo a literatura psicanalítica, que considera a violência como a parte agressiva do

self que ainda não está integrada ao self, permanecendo dissociada do conluio da

família e às vezes do próprio psicoterapeuta. Tais resistências em lidar com a violência

não permitem que a agressividade seja usada de forma construtiva pelo self,

promovendo a socialização da criança pelo fortalecimento dos sentimentos de amizade

e favorecendo o desenvolvimento de vínculos emocionais saudáveis na dupla criança e

psioterapeuta.

Descritores: Psicoterapia Breve Infantil, violência doméstica, fase diagnóstica.

Page 8: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

ABSTRACT

The present work seeks to investigate, the interferences of domestic violence in the

diagnostic phase that precedes the brief psychotherapy, and her importance in the

clinical image showed for the patient, if the violence was verbalize by the patient and the

conditions how it was captivate for therapist and to lead in consideration in the

diagnostic diagnostic phase of Childish Brief Psychotherapy.

The sample of the present investigation to consist of 29 patient of Childish Brief

Psychotherapy. The work consist from one Analysis of 03 or 04 initials interviews with

constitute the diagnostic phase of the Brief Psychotherapy, accomplished for two

judges. It was prove the presence of domestic violence into 24 of the 29 cases

analyzed, that corresponds at 83% of the whole of patient. The domestic violence was

considered significant into 13, of the 24 cases that was to evidence occurrence of

domestic violence, that correspond to 54% of the whole cases of domestic violence. Of

the 13 cases that the domestic violence was significant, about 54% it was include in the

psychodynamic comprehension of the protest, by the therapist. The insert og domestic

violence in the focus was observed in only 2 cases, that correspond to 15% of the cases

that the domestic violence was significant. The results obtained were debate on the

shine of the biography and was related with the question of the collusion of the family

and the proper therapist. This collusion dificult the inclusion of violence in the protest by

family, and otherwise, her investigation in the comprehension of the psychodynsmic of

the protest, from the therapist. Such resistences to struggle with violence have hers

refex in the evolution of the process psychotherapeutic.

Descriptors: Childish Brief Psychotherapy, domestic violence, diagnostic phase.

Page 9: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

SUMÁRIO Introdução ................................................................................................. 11 Capítulo I � Entrevista Psicológica.................................................. 17 Capítulo II � Considerações sobre Psicoterapia Breve ........... 22 1.1. Escorço histórico................................................................... 22 1.2. Princípios e conceitos básicos .......................................... 29 1.3. Critérios de indicação e contra-indicação para Psicoterapia

Breve................................................................ 39

Capítulo III � Psicoterapia Breve Infantil........................................ 41 Capítulo IV � Violência: problemas relativos ao seu conceito e à sua

abrangência 55

Capítulo V � Violência Doméstica....................................................... 63 5.1. Conceito e abrangência de violência doméstica ....... 63 5.2. Raízes da violência doméstica ............................................ 71 5.3. Classificação da violência doméstica ............................ 79 5.4. Repercussões para a criança: efeitos do pacto do silêncio sobre a violência na família ..............................

86

5.5. Uma proposta de classificação para os tipos de violência doméstica................................................................

89

Problema e objetivos da presente pesquisa 92 Problema 92 Objetivos 92 Capítulo VI � A clínica-escola onde foi realizada a pesquisa 93 6.1. Linha de trabalho ..................................................................... 93 6.2. Variáveis sócio demográficas dos participantes...... 94 6.3. Os atendimentos em psicoterapia breve infantil realizados em 2006 ................................................................... 95 Capítulo VII � Método............................................................................. 96 7.1. Características demográficas dos participantes... 96 7.2. Critérios utilizados na análise da ocorrência da violência e da

forma como ela foi abordada no tratamento clínico.................................................................

98

7.3 Protocolo para a classificação da violência doméstica 100 7.4. Providencias éticas................................................................. 102 Capítulo VIII � Apresentação e analise dos dados........................ 103

Page 10: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Capitulo IX � Discussão dos resultados.......................................... 113 Capítulo X � Considerações finais e Conclusões............................................. 118 Referências Bibliográficas ................................................................. 123 Apêndices............................................................................................................ 135

Page 11: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Introdução

Quando assumi a Coordenação da Clínica-escola de Psicologia da

Universidade Guarulhos, em 1982, deparei-me com a utilização da técnica de

Psicoterapia Breve que, com características bem definidas, incluindo o tempo limitado,

a delimitação do foco e planejamento estratégico, atendia as necessidades de um

trabalho de clínica-escola em curso de graduação. Por essa técnica pretendia-se

atender um número maior de pessoas, num menor espaço de tempo. Criar uma técnica

menos elitista, mais condizente com a realidade brasileira era prioridade do trabalho

proposto, o que possibilitaria a formação de profissionais que utilizariam recursos para

comungar suas experiências com a necessidade da comunidade. Meu interesse pela

técnica intensificava-se.

O trabalho parecia inovador, ao menos a realidade de que dispúnhamos, de

como eram realizados os atendimentos em clínicas-escola. Nessa mesma época tomei

conhecimento do trabalho instituído pelo Dr Ryad Simon, junto à Sociedade de

Psicologia Clínica Preventiva. Durante dois anos, no intuito de adquirir conhecimentos

teórico-práticos acerca da técnica de Psicoterapia Breve, realizei o curso proposto nesta

Sociedade, que tinha a Psicoterapia Breve como linha de atuação, num trabalho

realizado no próprio domicílio do paciente. Tive a oportunidade de conciliar a teoria com

a atividade prática de atendimento, conduzindo-me, cada vez mais, para o

aprimoramento e reconhecimento da técnica como instrumento sólido daquilo que se

propunha e pretendia desenvolver. Anos mais tarde, ainda na Universidade Guarulhos,

assumi a função de supervisora de estágio em Psicologia Clínica, estando cada vez

mais envolvida, imbuída e certa de que a técnica atendia, com adequação, as

necessidades da clientela e do alunado. Deparei-me com resultados satisfatórios,

desde que os casos concluídos fossem passíveis de serem atendidos em Psicoterapia

Breve, já que se tratava de técnica muito específica, com restrições e contra-indicações

que precisavam ser consideradas.

A partir de 1982 venho realizando entrevistas de triagem na Clínica

Psicológica da Universidade Guarulhos. Em média, cerca de sessenta entrevistas são

por mim realizadas mensalmente. Este mesmo serviço também comecei desenvolver

Page 12: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

na Clínica Psicológica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a partir de 1993, além

de supervisionar, nesta instituição, entrevistas de triagem no Estágio Eletivo de

Técnicas de Triagem em Psicologia Clínica.

Ao longo desta experiência, nestes últimos anos, embora sem nenhum

levantamento sistemático, venho observando rápidas e intensas transformações, com

mudanças significativas nas funções e relações dentro da família, especialmente sinais

de violência, nem sempre pontuados como queixa central, nem tampouco trazidos de

forma manifesta pelo entrevistado (a figura materna, no geral). Através da realização

das entrevistas de triagem pude perceber que, embora as queixas não estivessem

diretamente relacionadas a situações de violência, estas estiveram presentes nas

relações familiares, ainda que, muitas vezes, não fossem claramente mencionadas.

Constatei que os membros da família detectavam que algo impossibilitava o

bom funcionamento da organização familiar, o que provavelmente os conduzia a

realizar inscrição para atendimento psicológico, para um dos elementos daquela família,

tornando-o responsável pelo desequilíbrio e desordem emocional da mesma, quando,

na verdade, não conseguiam enxergar, nem lidar com a violência, já inerente no

contexto familiar.

Tive também a oportunidade de realizar, em 1996, um estudo sobre o Perfil

de Dez Famílias atendidas em Psicoterapia Breve Infantil. Neste estudo verificou-se que

indícios de violência surgiam com relativa freqüência nos relatos efetuados pelos

pacientes no trabalho de acompanhamento psicológico, embora os referidos pacientes

não se queixavam da violência propriamente dita.

A violência doméstica é um dos mais graves problemas a serem enfrentados

pela sociedade contemporânea. É uma forma de violência que não obedece fronteiras,

princípios ou leis. Ocorre diariamente no Brasil e em outros países apesar de existirem

inúmeros mecanismos constitucionais de proteção aos direitos humanos.

Por essa razão, em 17 de junho de 2004, foi sancionada a lei n. 10.886/04,

acrescentando um novo tipo ao artigo 129 do Código Penal, a violência doméstica,

como meio de conter o avanço dessa manifestação de violência na família.

A situação de violência doméstica demonstra estar mascarada pelo complô

familiar. Ninguém evidencia o conflito. O silêncio se faz presente e necessário, deixando

Page 13: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

evidente a existência da relação de poder que está sendo instituída. (Guerra e

Azevedo, 1993).

Quando o agressor é um membro da família, a criança fica mais

desamparada do que se fosse uma pessoa desconhecida à unidade familiar. Quando a

criança, de alguma forma, é agredida por uma pessoa que não faz parte do meio no

qual está inserida, pode contar com a proteção e o apoio dos familiares, que buscam

todo tipo de ajuda necessária, incluindo a psicoterapia, para fazer com que a situação

traumática possa ser ao menos minimizada. Quando o agressor é um membro da

família, ou alguém bem próximo, de inteira confiança do grupo familiar, a criança não

tem a quem recorrer, além de se sentir muito confusa, posto que aquele que deveria

constituir um porto seguro é o que acaba por direcioná-la à insegurança e instabilidade

nas relações. (Guerra e Azevedo, 1993).

Quando atacada por desconhecido, a criança tem melhores condições de

superar o trauma, o que dificilmente ocorre quando atacada em casa. No caso de ser

atacada pelo membro da família a criança acaba sendo envolvida pelo agressor e,

enquanto vítima, nunca mais será a mesma pessoa. (Guerra e Azevedo, 1993).

Estes dados podem ser mais facilmente entendidos diante do que postulam

os terapeutas familiares que garantem que �a violência doméstica contra as crianças

tem como objetivo manter as famílias unidas enquanto um meio de solução de seus

problemas emocionais, já que a rotina da violência contra a criança tem sido a forma

mais efetiva encontrada pela sociedade em termos de manter a sua homeostase

emocional coletiva�. (Guerra e Azevedo, 1993).

As pessoas sofrem constantes atos de violência e estão expostas a

diferentes formas e ações da mesma, o que os conduz à frustração. As humilhações a

que se submetem pelas desigualdades sociais, as relações patrão�empregado, o temor

de não poderem suprir as necessidades básicas de seus familiares, etc., fazem com

que dificilmente consigam externalizar fidedignamente o que se instituiu de maneira

inadequada dentro de si, de forma a não propiciar�lhes plena adaptabilidade em termos

das respostas que um organismo vivo apresentaria, se pudesse agir com maior

autenticidade. De algum modo, o que foi incorporado pelo indivíduo que antes sofrera

pressão pela forma da violência, surgirá. Na maioria das vezes deslocadas para

Page 14: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

situações ou pessoas que não partilharam do movimento violento. (Azevedo e Guerra,

1995).

Em geral, o único lugar em que este indivíduo é detentor de algum poder é

dentro da dinâmica de sua própria família, e é aqui que ele começa agir, numa relação

de abuso de poder, de domínio pela força, onde as relações do agressor com os filhos

vítimas, caracteriza-se por ser uma relação sujeito�objeto, sendo que os filhos devem

satisfazer as necessidades dos pais. (Azevedo e Guerra, 1995).

Estes filhos, vítimas das mais variadas formas de violência, aprendem que

são �responsáveis� por estes quadros de violência, ou seja, as causas dos problemas

são individuais e jamais as questões são remetidas de forma que se interliguem a

problemas familiares, ou seja, as crianças buscam os erros em si mesmas. O trabalho

do psicólogo deveria se constituir de maneira profilática, discutindo e orientando os pais

acerca da importância de serem estabelecidos limites para os filhos, de forma a levá-los

à conscientização e à cidadania, e não à violência. Ao espancar os filhos os pais

ensinam a reproduzir a violência. (Azevedo e Guerra, 1995).

A violência é, segundo Guerra e Azevedo (1993), um tabu, um dos �temas

malditos�, porque se tenta desvendar uma questão que a família tem todo interesse de

manter oculta, na lutas pela preservação do mito, de que ela representa um lugar de

proteção para a criança, mito este que não só a família como a sociedade tem-se

esforçado em perpetuar.

Vivemos em uma sociedade que aceita, com naturalidade, imagens de

violência. Estamos acostumados a ver pessoas serem humilhadas, a ouvir gritos

abafados através das paredes, sem dizer nada. (Azevedo e Guerra, 1995).

As camadas mais pobres da população parecem não ter perdido totalmente

o contato com alguns dos valores fundamentais da vida; a compaixão e a solidariedade,

por exemplo. Portanto, a grande maioria de registros de denúncias de espancamentos

ou outros maus�tratos com crianças é constituída por pessoas das classes sociais�

econômicas mais baixas. Isso cria a falsa impressão de que, especialmente, o pobre

maltrata seu filho. (Guerra e Azevedo, 1993).

As mudanças nas funções e relações familiares, a meu ver, sofreram

influência das transformações sócio-econômicas e culturais, que vêm colaborando para

Page 15: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

uma maior incidência da violência na dinâmica familiar. Além disso, provocam, entre

outras coisas, uma crescente incorporação da mulher no mercado de trabalho que

decorre, fundamentalmente, da necessidade da mulher contribuir para o sustento

financeiro da família. A mulher, então, passa a fazer parte integrante do orçamento

familiar, fora os cuidados com a casa, filhos, educação e saúde. (Azevedo e Guerra,

1995).

Neste contexto, torna-se inevitável à ocorrência das referidas transformações

sócio-econômicas, que certamente alteram a estrutura familiar, com diminuição no

número de seus elementos, um maior distanciamento físico e psicológico entre os

membros da família. Estas transformações fazem com que a família busque alternativas

para conciliar a formação e educação de suas crianças, nem sempre gerando

adequação nas formas das pessoas de um mesmo grupo familiar lidarem entre si,

possibilitando com isso o surgimento de sinais de violência na dinâmica familiar.

(Azevedo e Guerra, 1995).

Diante do contexto da realidade sócio-econômica e cultural brasileira, para

Azevedo e Guerra (1995), não consideram viável um processo de atendimento de

duração indeterminada. Estabelece-se uma situação muito complexa. De um lado, a

necessidade de ajuda psíquica, de outro, uma realidade que impede que a população

se beneficie com o acompanhamento psicológico. Há de se pensar em conciliar a

necessidade da população e a carência de recursos econômicos e sociais. Não

podemos buscar uma formação de terapeutas para uma realidade distante da nossa.

O treinamento oferecido ao psicólogo clínico deve estar voltado às condições

atuais reais da sociedade. BENKÖ (1970) faz uma crítica severa ao se referir a um

preparo inadequado do profissional psicólogo, contestando ironicamente o modo como

este profissional lida com sua atuação. Afirma ele que:

�pelo menos no Rio de Janeiro começa a fixar-se uma imagem esteriotipada do psicólogo clínico que, sem muita ironia, pode ser

descrita como a de uma senhorita (ou senhora, raramente um senhor), doutora, à espera dos clientes com o Rorschach debaixo do braço, ou

com um sofá para fazer sessão de Psicoterapia duas ou três vezes por

semana. E, se por acaso, (mas um acaso que ocorre talvez em 50 ou 95% dos casos), aquele grupo de adolescentes desajustados que moram na encosta do morro não têm recursos, nem tempo, nem

estrutura mental para vir três vezes por semana ao consultório, quem irá

atende-los? Ela não sabe responder!� (p.29).

Page 16: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

�Somente queremos que ele (o futuro psicólogo clínico) não fique preso

a uma concepção já bastante ultrapassada das atribuições da Psicologia

Clínica. Desejamos que ele receba uma formação correspondente à

nossa realidade social, às necessidades verdadeiras das pessoas�.

(Benko, p.30).

Estamos diante da interligação entre a técnica de Psicoterapia Breve e a

Violência Doméstica, o que parece ser o ponto culminante dentro da proposta deste

trabalho. É possível dizer que com o objetivo de aumentar a eficiência das psicoterapias

e ainda o de se atingir um número maior de pacientes em processo psicoterápico, nota-

se que há um movimento crescente ao redor da utilização e da eficácia do trabalho de

Psicoterapia Breve, que surge como uma forma segura de prestar ajuda a quem

procura um psicólogo.

Face aos dados acima referidos, que vêm sendo constatados, passei a me

interessar em investigar como a violência que ocorre na dinâmica familiar, é trazida pelo

paciente na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve e como ela é trabalhada. A violência

está presente na queixa? De que forma ela é observada e incluída na psicodinâmica

da queixa? A violência foi incluída no foco? Como foi trabalhada no processo

psicoterápico? À medida que não foi incluída no processo, a violência cria um obstáculo

para o bom encaminhamento da Psicoterapia Breve?

Com base nos questionamentos descritos acima, o problema desta pesquisa

refere-se às interferências da violência doméstica na fase diagnóstica que antecede a

Psicoterapia Breve. O objetivo geral da pesquisa visa investigar a presença de dados

inferidos sobre a violência doméstica na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil.

Além do objetivo geral, a pesquisa tem objetivos específicos, apresentados no capítulo

VI.

Page 17: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Capítulo I

A ENTREVISTA PSICOLÓGICA

Com o propósito de investigar a presença de dados inferidos sobre a

Violência Doméstica na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil, para a

realização do presente estudo, faz-se necessário conhecer os aspectos essenciais

desta fase e sua importância para a compreensão do quadro clínico da criança e do

funcionamento da dinâmica familiar, na qual está inserida.

Segundo Mito e Oliveira (1997), duas fases complementam a Psicoterapia

Breve: a fase inicial, denominada diagnóstica, e a fase terapêutica. A fase diagnóstica é

constituída por algumas entrevistas com os pais e contato com a criança, (de dois a três

encontros) através das horas lúdicas e, se necessário, com a utilização de material

lúdico ou de testes psicológicos específicos.

Antes de abordar os aspectos específicos da entrevista, na fase diagnóstica

da Psicoterapia Breve, torna-se imprescindível que se apresente uma compreensão

sobre entrevista psicológica, já que é o recurso técnico mais utilizado nesta importante

etapa da Psicoterapia Breve Infantil.

Para Nahoum (1978), a entrevista psicológica pode ser compreendida em

dois sentidos diferentes; entrevista conduzida psicologicamente, que visa resolver um

problema de ordem emocional ; a entrevista é psicológica pelo seu objeto, é uma

técnica de estudo e de observação do comportamento humano com o fim de solucionar

problemas que se prendem à psicologia, à sociologia ou à higiene mental.

Segundo Ocampo (1981), a entrevista inicial é caracterizada como

semidirigida e nela o entrevistador intervêm, a fim de: �assinalar alguns vetores quando

o entrevistado não sabe como começar ou continuar; assinalar situações de bloqueio

ou paralisação por incremento da angústia para assegurar o cumprimento dos objetivos

da entrevista; indagar acerca de aspecto da conduta do entrevistado, aos quais este

não se referiu espontaneamente, acerca de lacunas na informação do paciente e que

Page 18: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

são consideradas de especial importância, ou acerca de contradições, ambigüidades e

verbalizações obscuras� (Ocampo, 1981, p.23).

Ainda para esta autora a entrevista clínica é insubstituível no cumprimento de

objetivos do processo psicodiagnóstico. Durante a entrevista psicológica, por necessitar

de mais informações, o entrevistador mobiliza o paciente e inclui s critérios gerais para

interpretar a entrevista clínica, a saber: avaliar as primeiras impressões que o paciente

desperta e verificar se são mantidas ou se alteram; considerar e avaliar as

características de sua linguagem; esclarecer o grau de coerência e discrepância entre

tudo que foi verbalizado e o que foi captado através de sua linguagem; estabelecer um

bom rapport com o paciente para reduzir a possibilidade de bloqueios; captar o que o

paciente nos transfere e o que isto nos provoca; detectar qual é o vínculo que une os

pais, entre eles e o filho, o de cada um com o filho, o deste último com cada um deles e

com o casal, o do casal com o entrevistador. Por fim, é importante avaliar a capacidade

dos pais de elaboração da situação diagnóstica atual e potencial. (Ocampo, 1981).

Na entrevista psicológica é necessário avaliar o motivo da consulta e deve-se

discriminar entre o motivo manifesto e o motivo latente. O motivo manifesto, no geral, é

o mais fácil e o mais inócuo de ser dito ao psicólogo e o motivo latente é aquele

considerado mais subjacente e mais profundo da consulta. (Ocampo, 1981). Para

Aberastury (1986), na entrevista inicial com os pais é importante a presença de ambos,

embora, muitas vezes, a mãe é quem comparece. Os aspectos básicos considerados

por Aberastury (1986), para realização da entrevista com os pais são: o motivo da

consulta; a história da criança; como transcorre um dia de sua vida atual; como é a

relação dos pais entre si, com os filhos e com o meio familiar imediato.

Para Aberastury (1986), é necessário que a entrevista seja dirigida e limitada

de acordo com um plano previamente estabelecido. A entrevista tem como objetivo que

os pais falem sobre a criança e sua relação com ela, critério que não deve ser

abandonado durante todo o tratamento.

Cabe aqui sinalizar a importância do contato que o psicólogo estabelece com

a criança, que mantém e estabelece a relação por meio da hora do jogo diagnóstica.

�Trata-se de um recurso técnico, utilizado no processo psicodiagnóstico com a

finalidade de conhecer a realidade da criança que foi trazida à consulta. A atividade

Page 19: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

lúdica é sua forma de expressão própria. A hora de jogo diagnóstica é um processo que

tem começo, desenvolvimento e fim em si mesma, opera como unidade e deve ser

interpretada como tal.� (Ocampo, 1981, p. 169).

�Na atividade lúdica o mediador é, predominantemente, o brinquedo

oferecido, que expressa o que a criança está vivenciando no momento. A hora de jogo

diagnóstica é precedida das entrevistas realizadas com os pais e significa o

estabelecimento de um vínculo transferencial breve, cujo objetivo é o conhecimento e a

compreensão da criança� (Ocampo, 1981, p. 170). Todos os aspectos da hora de jogo

diagnóstica são importantes como facilitadores da empatia e do estabelecimento do

vínculo, na relação terapeuta/cliente.

Com base nas informações acima apresentadas, é possível avaliar a

relevância da entrevista psicológica na fase diagnóstica, que precede a Psicoterapia

Breve Infantil. Igualmente relevante é a formação do psicoterapeuta como entrevistador,

já que compreende-se que a psicoterapia psicanalítica, que fundamenta a Psicoterapia

Breve, requer a realização de uma ou duas entrevistas iniciais, para obter os conteúdos

mais latentes do paciente, que esclarecem o funcionamento de seu dinamismo mais

inconsciente. (Simon, 2005).

A entrevista em Psicoterapia Breve, para Simon (2005), é concebida para ter

curta duração e busca detectar as situações-problema por setor de adaptação: Afetivo-

Relacional (A-R), Produtividade (PR), Sócio-Cultural (S-C) e Orgânico (Or).

Assim como na entrevista clínica habitual, o primeiro passo na entrevista em

Psicoterapia Breve é o conhecimento da queixa, seguido da anamnese que permite

conhecer as situações-problema. Segue-se à proposta de Simon (2005), conhecer

aspectos sobre a história de vida do cliente para verificar possíveis interferências na

sua vida atual.

Por se tratar de situação angustiante, é importante que o cliente tenha

conhecimento de que sua privacidade está resguardada sob o sigilo e ética

profissionais, aspectos estes considerados relevantes para Simon (1989, 2005).

Por motivos alheios ao manejo do entrevistador, por vezes, aspectos

significativos da entrevista não são colhidos, sendo necessário que o entrevistador

Page 20: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

conduza a entrevista, para garantir a obtenção de informações sobre o conjunto da

adaptação (Simon, 2005).

Caso tal medida tenha que ser adotada, é importante que se conduza a

entrevista partindo dos aspectos menos ansiogênicos para os mais angustiantes, dos

periféricos para os centrais. Nesta ordem, caso o entrevistador tenha que conduzir a

entrevista, é recomendável que se inicie pelo Setor da Produtividade, em seguida o

Sócio-Cultural, Orgânico e, por fim, o Afetivo-Relacional, considerado o mais difícil, não

de indagar, mas devido às suas implicações emocionais (Simon, 1989).

Havendo um bom rapport, segundo Simon, da metade para o final da

entrevista a probabilidade de obter conteúdos mais significativos é maior.

Estas entrevistas compõem o alicerce do processo psicoterápico e são

imprescindíveis na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve.

O objetivo da fase diagnóstica é investigar a queixa de forma mais completa

e conhecer a história, tanto da criança quanto de seus pais, sempre buscando uma

compreensão do funcionamento psíquico do paciente. A etapa diagnóstica,

dependendo das condições dos pacientes e dos recursos disponíveis, permite definir a

possibilidade do atendimento em psicoterapia psicodinâmica breve, através do

estabelecimento do foco, objetivos e estratégias para este caso (Segre, 1997).

É na fase diagnóstica que se encontram todos os dados necessários para o

planejamento terapêutico. Portanto, trata-se de um momento de vital significado na

compreensão da sintomatologia do quadro clínico do paciente. Nesta fase são

delineados os objetivos do atendimento, bem como quais serão as estratégias mais

adequadas para se chegar aos objetivos propostos. (Oliveira, I. T., 2006).

Nesta fase o paciente ou seus pais, tendo, finalmente, dado início ao

atendimento, acaba trazendo queixas variadas. Especificamente no caso do

atendimento infantil, a queixa, na maioria das vezes, está diretamente relacionada à

defasagem escolar.

Após a fase diagnóstica, que visa principalmente avaliar a queixa e entender

a dinâmica da criança e de seus pais (história), para que se tenha uma compreensão

mais integrada do quadro clínico do paciente, delimita-se o foco, que permite e

possibilita a proposta de um objetivo a ser atingido, o terapeuta prossegue na avaliação

Page 21: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

de seu trabalho, dando início à segunda etapa, designada fase terapêutica, sempre

baseada no que foi definido como foco, que permite o redirecionamento do trabalho,

através de intervenções que possibilitam a compreensão dos dinamismos mais

inconscientes dos pacientes (Segre, 1997).

No capítulo III, que versa sobre a Psicoterapia Breve Infantil, a fase inicial,

denominada diagnóstica, será abordada com maior profundidade.

Page 22: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Capítulo II

CONSIDERAÇÕES SOBRE PSICOTERAPIA BREVE

1.1. ESCORÇO HISTÓRICO

A Psicoterapia que pode ser entendida como um processo de interação

verbal entre um terapeuta e um paciente, remonta a muitos séculos. Durante muitos

anos o psicólogo trabalhou com um modelo similar ao do médico clínico, que toma a

maior distância possível do paciente com a finalidade de não estabelecer um vínculo

afetivo que lhe impeça de trabalhar com a tranqüilidade e objetividade necessárias.

Em vista da extensão e complexidade frente a um pleno desenvolvimento do

conhecimento e da técnica médica, acrescida de um aumento de especialidades

clínicas, pouco a pouco, constituiu -se uma ideologia que sustenta uma identidade

médica comprometida com um tecnicismo, que propõe o predomínio da técnica sobre a

totalidade da ação médica e seus efeitos no paciente, caracterizando a já conhecida

distância entre médico e paciente.

O psicólogo por carecer de uma identidade profissional sólida assumiu

passivamente o modelo médico. Os diagnósticos psicológicos, a princípio pouco

diferiam dos psiquiátricos. Gradualmente a Psicologia começou a diferenciar-se,

formando uma identidade própria, apoiando-se nas diferentes linhas de pensamento e

atuação no campo da Psicologia Clínica. Sofreu significativa influência da Psicanálise,

haja visto o fato de alguns psicanalistas, dentre eles destaca-se Michael Balint, se

Page 23: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

empenharem na tentativa de consolidar uma nova forma de relação dos médicos com o

saber médico e com a prática derivada desse saber.

Neste sentido, a Psicanálise difundiu-se de forma crescente, sendo adotada

como quadro de referência nos meios universitários, aceita pelos psicólogos como

modelo de trabalho, diante da necessidade de encontrar uma imagem de identificação

que lhes permitisse crescer. Esta aquisição, sem dúvida, significou um grande

progresso. A Psicanálise surgiu da necessidade de se lidar com as neuroses e seus

sintomas, dando um sentido que a medicina e a psicologia não alcançavam. Para Freud

os sintomas estão ligados a problemas inconscientes ocorridos durante seu

desenvolvimento, principalmente na infância, no evoluir da sexualidade- complicações

no desenrolar do que ele chamou de Complexo de Édipo.

Em seu trabalho o psicólogo supervalorizou a técnica de entrevista livre,

condicionando sua atitude frente ao paciente ao modelo analítico, permitindo que a

conduta surgisse espontaneamente a cada sessão, interpretando com base em tal

conduta, contando com um tempo prolongado para alcançar seu objetivo. Passou-se,

então, a se considerar os aspectos dinâmicos da personalidade, valorizando a técnica

de entrevista livre e a continência do psicólogo a certas condutas do paciente.

Como marco de referência, este foi um passo fundamental na diferenciação

em relação ao modelo médico. Tratava-se de um período de adaptação, de

reconstrução da identidade do psicólogo.

Sem dúvida, a teoria e a técnica psicanalíticas ofereceram ao psicólogo um

quadro de referência imprescindível que o ajudou a entender corretamente o que

acontecia em seu contato com o paciente. No entanto, sentiu-se necessidade de

encontrar formas de lidar com os conflitos dos pacientes, que buscavam ajuda

psicológica para problemas específicos, de modo que possibilitasse uma melhor

utilização do tempo, visto que a demanda dos pacientes, muitas vezes, não estava

voltada, geralmente por dificuldades financeiras ou até por falta de tempo, a um

processo de longa duração.

No período pós-guerra esta necessidade aparece de forma mais incisiva,

surgindo, assim, a Psicoterapia Breve, oriunda da tentativa de alguns psicanalistas que

Page 24: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

questionavam a Psicanálise como única técnica utilizada para diferentes tipos de

pacientes.

As seguras contribuições da Psicanálise deram retaguarda às Psicoterapias

Breves e sua qualificação psicodinâmica ocorreu porque as intervenções derivavam

dessa abordagem, que conduziam os pacientes a ter insights sobre as causas

inconscientes de seus sintomas. (Malan, 1979, 1983).

Os primeiros trabalhos das Psicoterapias Psicodinâmicas Breves

caracterizam-se pela defesa de maior atividade do terapeuta buscando o atendimento

de pessoas em crise, mas também respeitam e se baseiam nos princípios psicanalíticos

de associação livre, neutralidade e reconstrução genética do sintoma subjacente ao

foco, mesmo em trabalhos de curta duração (Gilliéron, 1986, 1993).

A Psicoterapia Breve, segundo Lemgruber (1984), surge como o único

tratamento novo adequado às necessidades da guerra, com objetivos específicos

ligados à remoção ou melhoria dos sintomas podendo atender mais prontamente à

demanda da população gerada pelo aumento da necessidade de serviços

psicoterápicos.

Embora esta técnica tivesse obtido impulso no período pós-guerra é sabido

que a partir do início da segunda década deste século alguns psicanalistas

despontavam com sua utilização, como Sandor Ferenczi (1926), que é visto como um

dos precursores da Psicoterapia Breve, mas inegavelmente vimos em Freud o grande

precursor da técnica ativa quando, mesmo buscando a compreensão da natureza do

inconsciente e da personalidade, não deixou de tratar pacientes com queixas

específicas, onde buscava a remissão dos sintomas, em tempo expressivamente curto.

(Yoshida, 1990).

É sabido que Sigmund Freud (1920), inicialmente não estendia os

tratamentos de seus pacientes por um período muito longo, chegando a casos de

pacientes cujos atendimentos variavam de uma única sessão a, no máximo, um ano de

tratamento. (Yoshida, 1990).

Partindo das contribuições de Freud, a teoria psicodinâmica entende que a

pessoa tem seu funcionamento regido por aspectos psíquicos inconscientes, pré-

Page 25: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

conscientes e conscientes. Os desejos, sentimentos que são ameaçadores ou

inaceitáveis para o indivíduo, são reprimidos no inconsciente gerando conflitos.

Dessa forma, o indivíduo utiliza mecanismos de defesa inconscientes para

lidar com as ansiedades resultantes das reprimidas de um lado e as proibições

impostas pelos aspectos conscientes de outro. (Yoshida, 1990).

No entanto, apesar de apresentar uma postura ativa, Freud não levou este

trabalho adiante, aprofundando-se na busca e compreensão do inconsciente, o que

certamente conduziu ao método mais prolongado de tratamento. (Yoshida, 1990).

Apesar disto, cada vez mais tornava�se evidente e necessária a utilização de uma

técnica ativa, havendo expressivo interesse em buscar novas formas de trabalho que

melhor atendessem a demanda dos pacientes que necessitavam dos serviços

psicológicos, expostas que estavam a pressões sociais e econômicas.

A credibilidade aplicada a esta teoria foi dando à técnica corpo e

consistência, ampliando pesquisas, aprofundando conhecimentos, intensificando

estudos, surgindo novas propostas, tendo em alguns de seus principais representantes

os nomes de Otto Rank, Franz Alexander, Thomas M. French, Hector Fiorini, tidos

como precursores da referida proposta. (Yoshida, 1990).

A contribuição mais conhecida de Rank, segundo Yoshida (1990), refere-se

ao �trauma do nascimento�, fator determinante para toda e qualquer relação conflitiva

que o indivíduo venha experenciar, podendo constituir-se numa situação traumática.

Posteriormente abordou com ênfase, a mobilização do paciente para o trabalho

terapêutico como tentativa de acelerá-lo. Na proporção do envolvimento do paciente

com o processo psicoterápico, lidamos diretamente com sua motivação, sendo

atualmente reconhecida como condição essencial para o trabalho em Psicoterapia

Breve.

Alguns especialistas consideram que a Psicoterapia Breve teve realmente

seu início registrado pelas contribuições de French e Alexander, que resultaram no livro

Terapêutica Psicoanalítica (1946, 1956). Abordaram a Experiência Emocional Corretiva,

vista como a maior contribuição fornecida à Psicoterapia Breve por estes autores.

Consiste em possibilitar ao paciente ser reconduzido a situações conflitivas, de modo

mais favorável, havendo sempre uma relação envolvida, representa, assim, a

Page 26: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

�possibilidade do paciente reviver situações traumáticas do passado penosamente

reprimidas, reexperimentando-as na relação com o terapeuta, num contexto relacional

de segurança, aceitação e ausência de censura�. (Lemgruber, 1984).

Neste sentido intencionava-se uma maior integração do ego, visto que,

exposto a novas experiências emocionais, objetivando maior equilíbrio das relações, o

paciente estaria mais próximo de atingir sucesso em seu processo psicoterápico.

Parece evidenciar-se que pessoas que encontram dificuldades em se

depararem com situações conflitivas, não enfrentam seus problemas, afastam-se de um

posicionamento mais efetivo, evitam tomar decisões e iniciativas, delegando aos outros

a responsabilidade sobre seus atos. Estes aspectos certamente estão mais

relacionados à psicodinâmica atual do paciente, do que simplesmente afirmar que

rememorização de traumas infantis causam profundo desconforto e sofrimento.

Estes autores ousaram ainda avaliar pressupostos da Psicanálise jamais

questionados por outros estudiosos, ao menos de forma tão incisiva, referindo-se à

duração e freqüência das sessões como sinônimo de profundidade de tratamento e à

noção de que em Psicoterapia Breve somente os aspectos superficiais da

psicodinâmica do paciente possam ser verdadeiramente atingidos. (Yoshida, 1993).

Assim como a maioria dos estudiosos que se destacaram com propostas

dentro do enfoque psicodinâmico breve de tratamento, Hector Fiorini (1982), também

defendia a necessidade da utilização de uma técnica com características próprias que

possibilitasse um papel ativo para o terapeuta.

A Psicoterapia Breve foi se garantindo como uma técnica com características

e objetivos terapêuticos satisfatórios. Estudos ingleses e argentinos também

impulsionaram esta técnica. (Lemgruber, 1984).

Segundo Lemgruber (1984), os ingleses com formação psicanalítica

consideram haver êxito no trabalho quando a psicoterapia estiver baseada nas

interpretações transferenciais. Ainda segundo esta autora, os argentinos denominam a

Psicoterapia Breve de �terapias não regressivas�, caracterizando a técnica como

possuidora de uma identidade própria, não a relacionando ao fator tempo.

Recebem profundas críticas na medida em que propõem maior ênfase em

aspectos intelectuais e cognitivos. A crítica contrapõe o fato de que ter conhecimento

Page 27: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

intelectualizado acerca de situações traumáticas não é suficiente para resolver ou

minimizar os conflitos emocionais. Por outro lado, as dificuldades emocionais impedem

a formação simbólica e o desempenho.

Os termos Psicoterapia Breve ou Psicoterapia de Tempo Curto são termos

usualmente empregados, apesar de não serem hoje os mais adequados para designar

a técnica de Psicoterapia Breve, em referência a um tipo de tratamento psicoterapêutico

que tenha uma abordagem psicodinâmica com orientação de base psicanalítica.

(Lemgruber, 1984).

Os estudos referentes à técnica de Psicoterapia Breve seguem seu curso na

busca de um aprimoramento. Dentro de uma visão mais contemporânea, inúmeros são

os estudiosos que reconhecem a Psicoterapia Breve como uma técnica que melhor

possibilita o acesso das pessoas ao trabalho de atendimento clínico, sendo possível

referirmo-nos a alguns nomes.

Nesta ordem, podemos dizer que foi a partir da década de 70, que os

trabalhos de Malan (1963) e Wolberg (1965), foram introduzidos no plano de saúde

mental da Coordenadoria de Saúde Mental, da Secretaria do Estado de São Paulo, sob

o comando do Dr Walter Leser.

No Brasil, a técnica teve repercussão muito favorável, principalmente em se

tratando de clínicas-escola de Psicologia e de Psiquiatria, pois surge para minimizar o

grave problema da interrupção dos atendimentos, haja visto tratar-se de um trabalho

que segue um calendário escolar, que envolve o ano letivo, havendo portanto trocas

constantes de terapeutas, o que não configura atender as necessidades de um trabalho

de atendimento clínico.

A maior utilidade da técnica de Psicoterapia Breve parece residir na

contribuição da formação de terapeutas, na medida em que oferece um planejamento

que possibilita uma descrição precisa dos procedimentos técnicos adotados. (Yoshida,

1997).

O trabalho prossegue e ganha impulso significativo com as publicações das

últimas três décadas: Fiorini (1982), Lemgruber (1984), Malan (1979), Knobel (1986),

Simon (1989), Yoshida (1990), Gilliéron (1993), entre outros.

Page 28: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Para Wolberg (1965; 1979), o processo de Psicoterapia Breve baseado no

modelo psicodinâmico consiste em:

�utilizar a situação de relação com o terapeuta como meio para ajudar o

paciente a adquirir uma compreensão de si próprio, fazendo-lhe ver como suas reações correntes e envolvimentos interpessoais estão

relacionados com as experiências formativas de seu passado� (p.148 -149).

Contribuições preciosas também são encontradas nos estudos de D. Malan

(1976; 1979), referindo-se à técnica da Psicoterapia Breve como sendo indicada para

pacientes com conflitos atuais agudos, sendo que a elaboração de tais conflitos pode

levar a uma mudança permanente, possibilitando um crescimento psíquico constante,

podendo ser denominado como �conflito focal�.

Segundo Ferraz, Dewelk e Hegenberg (1993), para Gilliéron �as indicações

de Psicoterapia Breve são fundadas nas organizações da personalidade do sujeito�. As

Psicoterapias Breves, segundo Gilliéron, �oferecem a possibilidade de refletir sobre o

funcionamento psíquico, considerando-as como um método experimental que pode ser

comparado à psicanálise ou a outras formas de tratamento� (Ferraz et al, 1993, p.71).

A eficácia da técnica de Psicoterapia Breve vem sendo instrumentalizada e

prossegue defendendo a flexibilidade do terapeuta, bem como sua rapidez de ação.

Segundo Lemgruber (1995), um grande avanço e êxito da técnica de Psicoterapia

Breve se deve ao uso da Experiência Emocional Corretiva, já definida neste capítulo.

Estudos valorosos possibilitam o aprimoramento e a utilização adequada da

técnica de Psicoterapia Breve, atribuindo à abordagem o reconhecimento e a

importância do alcance nos processos terapêuticos.

Lemgruber ainda propõe o Efeito Carambola como meio de provocar

mudanças mais amplas na personalidade do paciente. O efeito Carambola representa

�o mecanismo de potencialização dos ganhos terapêuticos obtidos pela técnica focal,

que se baseia na possibilidade do paciente vivenciar EECs intra e extraterapêuticas

num mecanismo de feedback positivo (Lemgruber, 1995, p.81).

Em 1995, Vera Lemgruber é convidada a dirigir o Setor de Psicoterapia no

Serviço de Psiquiatria do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de

Janeiro, a fim de desenvolver a abordagem psicoterapêutica focal (in Enéas; Yoshida,

2004), trabalho que apresenta em seu livro Psicoterapia Breve Integrada, publicado em

Page 29: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

1997, onde viabiliza a integração de técnica focal com a psicofarmacologia, bem como

com outras técnicas, que não só a psicodinâmica. (Lemgruber, 1997).

Estes estudos que engendram e fundamentam o trabalho da Psicoterapia

Focal Breve permitem integrá-la com a neurociências e com a Teoria das Emoções, que

é resultante das características individuais do ser humano com o seu meio ambiente.

(Lemgruber, 2000).

Como sabemos o modelo de psicoterapia para este 3º milênio deve ser

integrativo e a Psicoterapia Psicodinâmica Breve Integrada alcança esta abordagem

teórico-clínica. Trata-se de uma técnica ativa, com foco definido, com planejamento

terapêutico, que tem como estratégias a avaliação diagnóstica e psicodinâmica do

indivíduo. (Lemgruber & Junqueira, 2002).

Enéas e Yoshida afirmam que:

�as emoções são processos relacionais inatos de tendência à saúde

com a função de orientar as negociações das pessoas com seu meio ambiente, potencializando o desenvolvimento de capacidades que facilitam a adaptação indispensável à nossa sobrevivência�. (2004,

p.176).

Estudos e pesquisas prosseguem e aprimoram a técnica de Psicoterapia

Breve, revelando outros nomes, profissionais igualmente comprometidos como os que

já aqui foram citados.

1.2 PRINCÍPIOS E CONCEITOS BÁSICOS

A maioria dos autores que faz suas propostas em Psicoterapia Breve

percorreu um caminho que teve início com a formação em Psicanálise e a propõe como

uma forma mais segura de obter um bom conhecimento do funcionamento psíquico do

paciente, o que permite uma rápida compreensão e intervenção. A Psicoterapia

Psicodinâmica Breve baseia-se no modelo psicanalítico, e leva em conta conceitos tais

como; ego, pulsão, objetos, self.

Para Fiorini (1978), �uma avaliação dinâmica continuamente atualizada leva

a efetuar reajustamentos, por tentativas e erros, até obter o rendimento máximo do

arsenal terapêutico disponível� (p.32). Este autor acrescenta que a �iniciativa pessoal do

terapeuta, individualização, planificação, focalização, flexibilidade definem parâmetros

Page 30: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

específicos da Psicoterapia Breve� (p.32) e conferem a esta técnica uma estrutura

própria, diferente da técnica psicanalítica.

A Psicoterapia Breve adquiriu particularidades que passaram a identificá-la.

São essas características específicas que tornam possível o atingimento dos objetivos

terapêuticos em prazo bem mais curto, pois não é nem o número pequeno de sessões,

nem a duração mais curta do tratamento que define a técnica da Psicoterapia Breve. O

que distingue esta técnica são, portanto, os seus conceitos fundamentais como foco,

objetivos limitados, tempo, flexibilidade, atividade do terapeuta, que vão se

configurando como parte da técnica de Psicoterapia Breve. (Lemgruber, 1984).

ATIVIDADE

Quando se trata de Psicoterapia Breve um ponto de concordância entre os

autores é a necessidade de um papel mais ativo por parte do terapeuta. O terapeuta, ao

atuar em Psicoterapia Breve estará optando por maior atividade utilizando, segundo

Lemgruber (1984), atitudes como: avaliar e diagnosticar as condições internas do

paciente, estabelecer um foco a ser trabalhado durante o processo terapêutico,

combinar com o paciente um contrato terapêutico discutindo o foco estabelecido,

planejar a estratégia básica a ser seguida durante o processo terapêutico, estabelecer

metas e objetivos terapêuticos a serem atingidos ao término do processo de

Psicoterapia Breve.

Sandor Ferenczi (1926), foi considerado um transgressor porque já propunha

uma �técnica ativa� que se opunha à atitude de passividade terapêutica. Este autor

buscava em seu trabalho não só a fala do paciente, mas também a linguagem não

verbalizada, referindo-se à entonação de voz, respiração alterada, ruborização, tontura,

etc. Diante do que acreditava este autor, esta atitude por parte do terapeuta facilitava a

percepção de qualquer mudança de expressão ou qualquer sinal de ansiedade, seja

verbal ou postural, do paciente.

Hector Fiorini (1978), defendia a utilização de uma técnica que possibilitasse

um papel ativo para o terapeuta, que consiste numa seqüência de ação, a saber:

�depois de avaliar a situação total do paciente, compreendendo a estrutura dinâmica

Page 31: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

essencial de sua problemática, o terapeuta elabora um plano de abordagem

individualizado� (p.31).

Alexander e French (1946), consideravam imprescindível a atitude ativa por

parte do terapeuta. Nesta técnica, também para Malan (1981), evidencia-se a

necessidade de maior atividade, que consiste em orientar o paciente durante o

processo, através de interpretações, atenção e negligência seletivas. Neste trabalho o

terapeuta deve estar atento e redobrar esforços para manter o tratamento direcionado

para a área que foi focalizada, devendo utilizar o material relacionado ao foco.

Na abordagem terapêutica focal o psicoterapeuta sempre atento às

manifestações verbais, à postura e reações do paciente, tem um papel eminentemente

ativo que acaba por constituir um dos aspectos essenciais da técnica de Psicoterapia

Breve. O terapeuta não se limita apenas às informações trazidas pelo paciente, embora

tenha como base a queixa, o conflito ou a dificuldade específica que levou o paciente a

procurar ajuda psicoterápica. (Lemgruber, 1984).

Na Psicoterapia Breve não há lugar para uma atitude passiva por parte do

terapeuta. O terapeuta deverá ter em mente o foco, manter este foco como objetivo

central do trabalho, evitando atenção flutuante.

Nesta técnica o terapeuta não deverá ser diretivo, mas deverá evitar

trabalhar com material que não esteja diretamente relacionado ao objetivo da terapia,

visto que, muitas vezes, a utilização de material feita pelo paciente pode estar

relacionada a defesas, na tentativa de evitar o contato com conflitos mais difíceis. Para

Davanloo (1994), �as defesas devem ser gentilmente, mas inflexivelmente,

confrontadas�, possibilitando reações por parte do paciente.

A técnica de Psicoterapia Breve, por ser mais ativa, segundo Lemgruber

(1984), é vista como uma posição de poder do terapeuta frente ao paciente por muitos

autores. No entanto, para Lemgruber este poder mencionado por muitos estudiosos

parece maior na linha psicanalítica clássica, onde o paciente é levado a uma postura de

regressão e dependência.

Como o terapeuta tem um papel ativo, tem um objetivo a atingir e um tempo

limitado para desenvolver o processo de atendimento, é preciso que esteja

adequadamente preparado do ponto de vista do conhecimento da técnica utilizada e em

Page 32: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

condições pessoais satisfatórias, como enfatiza Yoshida (1990) quando cita que os

critérios psicodiagnósticos incluem, além das características do paciente, as do

terapeuta, referindo-se particularmente à sua formação, experiência profissional e

características de personalidade.

FLEXIBILIDADE

Outro conceito básico da Psicoterapia Breve refere-se à flexibilidade por

parte do terapeuta. Alexander e French propuseram dois princípios modificadores da

técnica: o princípio da flexibilidade e o princípio da experiência emocional corretiva.

Neste sentido a técnica torna-se mais dinâmica, o terapeuta torna-se mais ativo.

Alexander e French (1946), defendiam a idéia de que a Psicoterapia Breve e

a Psicanálise seguiam os mesmos princípios, levando-se em conta que as maneiras de

lidar do terapeuta deveriam ser compatíveis às necessidades do paciente, ou seja, a

adaptabilidade não seria exclusividade do paciente, mas haveria um esforço do

profissional para buscar um procedimento mais adequado para cada caso clínico, o que

se configuraria no princípio da flexibilidade.

Estes autores não se preocuparam em apontar a Psicoterapia Breve como

uma técnica independente, mas insistiam em interrelacioná-la com a Psicanálise,

dificultaram uma visualização mais clara e mais aceitável das Psicoterapias Breves,

retardando seu reconhecimento.

Assim como Franz Alexander e Thomas French (1946), Fiorini (1978), propôs

a utilização do �princípio da flexibilidade�, afirmando que �pacientes diferentes requerem

tratamentos diferentes� (p.32), com também na remodelação periódica da estratégia e

das táticas, em função da evolução do tratamento.

Page 33: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Com base nos princípios propostos por F. Alexander, de dinamização do

processo através de uma flexibilidade e maior atividade por parte do terapeuta e do

planejamento do tratamento, principalmente com o auxílio dos triângulos de

interpretação, que permitem ao terapeuta uma melhor compreensão dos conflitos

psicodinâmicos do paciente e, com isso, a possibilidade de planejar o processo

terapêutico de forma a aumentar a probabilidade de ocorrerem Experiências

Emocionais Corretivas (Lemgruber, 1984).

A flexibilidade do terapeuta tem relevante significado no encaminhamento

adequado e imediato do paciente. É de expressiva importância acolher o paciente e

mobilizá-lo para um tratamento que melhor atende suas necessidades. A simples

sugestão pode não garantir a procura. Auxilia-lo a identificar sua situação e a perceber

a utilidade de uma intervenção que se adeque ao seu quadro clínico, poderá ajudá-lo a

ter uma percepção mais adequada a respeito de si. Este apoio, bem como alguma

informação, poderá representar uma melhora mais abrangente para o indivíduo.

(Enéas, 1999a)

A flexibilidade exige rigor, do ponto de vista teórico, técnico e ético, é preciso,

portanto, que o terapeuta tenha bastante conhecimento das estratégias pelas quais um

processo terapêutico possa ser útil (Enéas, 1999c).

DURAÇÃO

Dentre os autores que utilizam a técnica da Psicoterapia Breve há os que

estabelecem o número de sessões e a data do término do tratamento, há os que

demarcam uma data para o término, mas não estabelecem o número de sessões e

ainda aqueles que, embora admitam que a duração do atendimento deva ser breve,

não fixam o número de sessões.

Tem importância significativa estabelecer a duração do processo terapêutico,

pois além de dar limites aos pacientes, permite facilitar sua participação mais madura,

na medida em que tem uma percepção mais consciente de seu tempo real. (Mann,

1973).

Page 34: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Segundo Sifneos (1979, 1989), pode-se deixar a duração do atendimento em

aberto, até que os objetivos estejam próximos de serem atingidos, ou estabelecer o

término desde o início do processo, em termos do número de sessões ou de uma data

para o término do atendimento. As duas propostas podem ser utilizadas, cabe analisar

qual a mais recomendável, de acordo em função da situação.

Mann (1973), associava a questão da alta a um limite de doze sessões e

dava a entender ao paciente que a alta tem um caráter definitivo.

Malan (1981), mantinha em seu trabalho a proposta de um limite máximo de

quarenta sessões. Com o passar do tempo passou a utilizar um critério de vinte

sessões em se tratando de terapeutas experientes e trinta para terapeutas em

treinamento. Para este autor um limite de duração fixado no início do tratamento é mais

benéfico, principalmente porque a questão da alta é salientada desde o início.

Segundo Ferraz, Dewelk e Hegenberg (1993), para Gilliéron:

�os princípios de base da psicoterapia breve são: a limitação da duração

que varia de três meses a um ano, a disposição face-a-face, a regra da associação livre para o paciente, e a análise das resistências e dos

conteúdos das associações, levando-se em consideração as interações

paciente/terapeuta� (p.70).

De acordo com Yoshida (1990), não há um consenso nem unanimidade

sobre o tempo proposto para a terapia para a maioria dos estudiosos.

PLANEJAMENTO

Dentre as exigências mínimas para o êxito em um trabalho de atendimento

em Psicoterapia Breve está o planejamento terapêutico. A possibilidade de planejar e

estabelecer antecipadamente os objetivos que se pretende atingir é condição para que

se obtenha resultados mais satisfatórios na utilização desta abordagem.

Um planejamento terapêutico deve ser, segundo Lemgruber (1984),

necessariamente flexível. A correta avaliação do paciente é um elemento básico no

planejamento terapêutico. Após esta avaliação, ainda segundo Lemgruber (1984), o

terapeuta deverá estabelecer projeto de trabalho, seguido de uma devolução

diagnóstica, onde será discutida a elaboração do foco para a terapia.

Page 35: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Alexander e French (1946), tinham uma proposta que se constituía no

planejamento do trabalho terapêutico em Psicoterapia Breve. O terapeuta a partir da

queixa faz um levantamento minucioso da história de vida do paciente. Nesta

comunhão de dados avalia-se a situação do paciente, obtendo-se assim uma

compreensão clínica mais ampla e completa de sua problemática, uma compreensão

psicodinâmica da queixa, o que possibilita a delimitação do foco, através da elaboração

de um plano de trabalho individual.

Partindo do planejamento terapêutico, é possível obter uma compreensão

psicodinâmica da queixa e sua importância para o êxito do trabalho. Esta compreensão

por parte do terapeuta deverá ser acrescida do entendimento, pelo paciente, de suas

atitudes e conflitos. Há de se ater a um aspecto que comumente ocorre, o da queixa

latente. No início de todo trabalho de atendimento psicológico, partimos da queixa

manifesta, tendo como determinação que é a partir da situação-problema trazida pelo

paciente que se inicia o trabalho com o mesmo. (Enéas & Yoshida, 2004).

No planejamento é importante a escolha da estratégia terapêutica, que

permite saber qual a melhor forma e mais produtiva de se chegar ao objetivo pretendido

(Enéas e Yoshida, 2004).

Mantendo o problema principal como foco central do processo, o tratamento

é desenvolvido de forma a levar o próprio paciente a identificar e correlacionar suas

dificuldades com situações de sua vida cotidiana. Dentre os conceitos peculiares à

técnica da Psicoterapia Breve destacamos alguns que são básicos: Experiências

Emocionais Corretivas (E.E.C.), Aliança Terapêutica, Foco, Atividade e Planejamento.

(Enéas e Yoshida, 2004).

De acordo com Bloom (1992), o planejamento descreve o tratamento breve

que tem a intenção de realizar um conjunto de objetivos terapêuticos dentro de um

limite circunscrito de tempo.

O planejamento em Psicoterapia Breve permite a obtenção de objetivos

mínimos, dependendo das condições do paciente ou mesmo do terapeuta, bem como

das expectativas que são trazidas para o atendimento, demanda, outrossim, a

hierarquização dos objetivos (Enéas, 1999b).

Page 36: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

FOCALIDADE E MOTIVAÇÃO

A Psicoterapia Breve é designada Técnica Focal, já que se considera que o

cerne dela é o trabalho em cima de um foco circunscrito, que pode levar a mudanças

em várias áreas da personalidade do paciente.

Foco, então, pode ser entendido como ponto central do trabalho em que é

utilizada a técnica de Psicoterapia Breve, intencionalmente a priorização dos aspectos

diretamente relacionados com o objetivo do trabalho. (Lemgruber, 1984).

Nesta técnica, o foco é o objetivo central do terapeuta, é o que dá

sustentação a todo processo de tratamento psicoterápico. Qualquer material que se

distancie do objeto central do processo � foco � deverá ser desprezado, ainda que

sinalize �a focalização da terapia breve é sua condição essencial de eficácia�. Via de

regra, quando um paciente recorre a um trabalho de acompanhamento psicoterápico, é

presumível que tenha uma queixa, o motivo da consulta, que muitas vezes se

transforma no eixo do trabalho. (Enéas e Yoshida, 2004).

O próprio paciente é um facilitador na busca do delineamento do foco a ser

utilizado como eixo no processo psicoterápico, posto que, desde que preservadas as

funções do ego, o indivíduo é capaz de organizar seu discurso, de seguir uma linha de

pensamento lógico, que certamente determinará a ação básica.

Segundo Fiorini (1978):

�a focalização parece expressar necessidades de delimitar a busca, de

modo a concentrar nela atenção, percepção, memória, todo um conjunto

de funções egóicas, levando a trabalhar sobre associações

intencionalmente guiadas� (p.90).

O terapeuta vai atuar tendo sempre em mente o foco que precisa ser

trabalhado. Todo o trabalho é norteado por este foco, cabendo ao profissional

discernimento para não se deixar envolver por colocações por parte do paciente que

não estejam vinculadas ao foco, já que esta é a condição para que o trabalho seja

eficaz.

Para Castro (1997), o estabelecimento do foco faz parte do contato

terapêutico e quanto mais delimitado o foco, maior é a chance de sucesso da terapia.

Page 37: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Segundo Malan (1981), �a escolha do foco, que está relacionada à técnica,

dependerá tanto da seleção (tipo de paciente ou problema considerado adequado) e o

tipo de resultado considerado desejado ou revisto como possível� (p.46).

Este autor prossegue dentro da classificação da Psicoterapia Breve,

referindo-se ao fato de que a �profundidade do foco dependerá tanto da profundidade

do conflito nuclear quanto da possibilidade do próprio conflito nuclear (ou de somente

partes ou derivados deste) ser considerado como foco� (p.46).

Por fim Malan (1981, 1976), propõe que seja realizado um diagnóstico, onde

são incluídas entrevistas e testes psicológicos, com a finalidade de estabelecer uma

hipótese psicodinâmica de base, onde é realizado o planejamento sobre o trabalho

terapêutico, que ocorre através de interpretação, com tempo e objetivos delimitado. A

hipótese psicodinâmica de base tem como idéia identificar o conflito primário, reeditado

na problemática atual do paciente.

A terapia focal, da forma como é compreendida por Castro (1997), é aquela

que delineia uma área específica. Esse é um dos aspectos que mais diferenciam a

psicoterapia psicodinâmica breve da psicanálise.

�O foco é o conflito psicodinâmico relacionado à queixa. O

entrevistador, por meio das informações obtidas na avaliação, tenta

correlacionar o conflito atual com o conflito nuclear que está subjacente

às dificuldades psicológicas. A partir disto, o entrevistador tem

possibilidade de delimitar a direção do processo terapêutico. O paciente

participa dessa escolha à medida que o avaliador evoca sua

concordância com o trabalho proposto. Quando o paciente mostra mais

de uma possibilidade de trabalho pede-se que opte por um tema, e esse será o foco da terapia� (in Segre, p.87).

Sifneos (1989), afirma que a questão da focalização em Terapia Breve é

crucial para o desenvolvimento do processo, cita também que �há um consenso geral�

de que conflitos edipianos não resolvidos, reações de luto e separação são em si focos

que, quando bem trabalhados, dão origem aos melhores resultados terapêuticos. Nota-

se que a técnica de Sifneos dirige-se essencialmente a conflitos edipianos.

Knobel (1986), faz uma boa referência ao conceito de foco:

�Foco ou conflito focal refere-se ao conflito da situação atual do

paciente, subjacente ao qual existe o conflito nuclear exacerbado. Então,

Page 38: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

o que traz o paciente à consulta é o choque entre as dificuldades

inerentes a uma tarefa vital específica que ele deve enfrentar e o conflito

infantil não resolvido�. (p. 39).

Cabe, então, ao terapeuta estabelecer o foco, e, após isto, a duração

presumível do tratamento e/ou os objetivos do processo terapêutico e trabalhar de

forma ativa para atingi-los. Enfatiza-se a tríade da Psicoterapia Breve, qual seja, maior

atividade do terapeuta, a focalização e o planejamento do tratamento, através do uso

dos �Triângulos de Interpretação e do Conceito da E.E.C�. (Lemgruber, 1884).

O estabelecimento do foco faz parte do contrato terapêutico. Quanto mais

delimitado o foco, maior a chance de sucesso na terapia. Foco, portanto, pode ser

entendido como a área a ser trabalhada no processo terapêutico através de avaliação e

planejamento prévios. (Lemgruber, 1884).

Para Ferraz, Dewelb e Hegenberg (1993), Gilliéron afirma que:

�além da limitação temporal, acrescentava às psicoterapias breves a

focalização, tratando-se de uma maneira de escolher um problema psicológico central e ater-se apenas a ele. Para ele a Psicoterapia Breve permite simplificar o tratamento e possibilita abreviá-lo. Considera que a Psicoterapia Breve aplica-se a formas específicas de psicopatologia�

(p.70)

Gillierón prossegue propondo uma técnica que está muito próxima da

Psicanálise clássica, ou seja, o paciente faz associações livres, tal como na psicanálise,

e escolhe-se como foco as motivações que o trouxeram à consulta, o que implica em

dizer que o foco é escolhido inconscientemente pelo próprio paciente.

Segundo os autores,

�a primeira tarefa é determinar a influência de um dado contexto

relacional sobre a crise que mobiliza o paciente a buscar tratamento, e a segunda, é de clarificar a maneira pela qual as mudanças psíquicas

podem ocorrer em uma relação psicoterapêutica, e é isto que diz

respeito à questão da interpretação� (p.70).

Gilliéron (1994), é o idealizador da �Técnica das Quatro Sessões� que,

segundo ele, é uma inversão total na postura tradicional, tratando-se de uma

investigação com finalidade terapêutica (p.08). Para Gilliéron �nas quatro sessões

procura-se adaptar as possibilidades do terapeuta e do paciente. Marca-se a sessão a

cada vez, esta é a técnica� (p.10).

Page 39: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Wolberg (1979), o menos teórico, porém o mais prático entre os autores, ao

definir foco menciona que compete mais ou menos ao paciente escolher a área

particular de seu problema que deve ser abordada. Freqüentemente, isto envolve a

�situação precipitadora de tensão�, cuja exploração pode aliviar a tensão e servir para

que o indivíduo recupere equilíbrio adaptativo. Neste ponto, procede-se a uma tentativa

para identificar a origem do distúrbio imediato e relaciona-la com o conflito subjetivo do

paciente.

Ainda segundo Wolberg (1979),

�desenvolve-se um esforço para penetrar, pelo menos parcialmente, nos

conflitos desencadeados pela situação de tensão, tratando-os como fontes autônomas de ansiedade, ainda que derivem e se correlacionem com certos conflitos nucleares subjacentes e fixos. O material histórico

só é levado em conta quando se relaciona com os problemas correntes�

(p.153).

1.3 CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO E CONTRA-INDICAÇÃO PARA PSICOTERAPIA

BREVE

Os critérios de indicação de pacientes para uma psicoterapia de curta

duração variam de acordo com os autores. Sifneos (1977), atém-se a critérios

rigorosamente psicanalíticos e aceita apenas pacientes cujos problemas são edipianos.

Trata-se de pacientes evoluídos, com ego estruturado.

Os critérios adotados por Malan (1976), baseiam-se, sobretudo, na demanda

do paciente e na possibilidade de focalizar o tratamento em uma �hipótese

psicodinâmica básica�, passível de explicar a maior parte das dificuldades.

As indicações para Psicoterapia Breve, segundo Gilliéron (1994), são

relativas, no sentido de dependerem do desejo do paciente e da técnica do terapeuta.

As contra-indicações são vistas por este autor como absolutas, por estarem

estreitamente ligadas à questão da �motivação� dos pacientes. Refere-se à distinção

entre dois tipos de pacientes: aqueles cujas motivações são progressivas, eu buscam

uma verdadeira mudança; e aqueles que apresentam motivações regressivas, que

buscam uma compensação para suas dificuldades.

Para Braier (1981), todas as pessoas podem se beneficiar com a proposta de

atendimento em Psicoterapia Breve. Para este autor, a psicoterapia de tempo e

objetivos limitados, em alguns casos, satisfaz, ao menos, a necessidade assistencial.

Page 40: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Recomenda, no entanto, que os casos indicados para Psicoterapia Breve apresentem

condições de ter insight e ego estruturado.

Segundo Braier (1981), a contra-indicação para Psicoterapia Breve destina-

se aos casos crônicos de psicose, enfermidades psicossomáticas, psicopatias,

perversões toxicomanias e os estados fronteiriços.

Para Enéas e Yoshida (2004), os critérios de indicação e contra-indicação,

vinculam-se à utilização variável de técnicas suportivas e expressivas. Para Luborsky &

Mark (1991), as técnicas suportivas são utilizadas para pacientes mais comprometidos

e as expressivas são utilizadas mais continuamente para pacientes que apresentam

organização egóica.

Estes autores contra-indicam a Psicoterapia Breve para pacientes psicóticos

e com organização de personalidade de tipo borderline, assim como para pacientes

com dificuldade para tolerar a dependência e separação, principalmente quando esta

dificuldade aparece como tendência ao suicídio.

Para Szajnbok (1997), no caso da Psicoterapia Breve, as contra-indicações

delinearam-se antes das indicações, já que nem todos os pacientes que demandam

psicoterapia podem se beneficiar da técnica da psicoterapia focal. Para esta autora são

contra-indicados os quadros psicóticos, distúrbios graves de personalidade, baixa

capacidade de abstração e risco de suicídio.

Neste contexto, a autora indica um grupo bastante amplo para Psicoterapia

Breve, sobretudo os casos de estrutura neurótica. Uma proposta mais minuciosa destes

quadros inclui pacientes com potencial de tolerância à angústia, boa capacidade de

abstração e capacidade para auto-reflexão em termos psicológicos, capacidade de

estabelecer aliança terapêutica em curto prazo, motivação para mudança e com

razoável estrutura egóica.

Page 41: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

CAPÍTULO III

PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL

Uma área bastante expressiva em Psicoterapia Breve é a que envolve o

trabalho realizado com crianças. Esta área está carente de estudos e é oportuna para a

elaboração deste trabalho, principalmente pela ligação direta com o tema da violência

doméstica, propondo-se a obter maior compreensão da dinâmica da família e do

processo terapêutico com crianças.

No que se refere à pesquisa sobre a Psicoterapia Breve Infantil algumas

limitações foram sentidas, mais particularmente quanto à literatura, especialmente a

brasileira.

Um aumento na literatura foi visivelmente sentido a partir das décadas de 70

e 80 quanto ao número de estudos visando as intervenções a pais e crianças, a

exemplo dos trabalhos de Cramer, 1974; 1993, 1997; Cramer e Palacio-Espasa (1993).

Na década de 70, Aberastury (1972) e Knobel (1977) propuseram um

trabalho de tempo e objetivos limitados e desenvolveram uma técnica que considerou

os componentes familiares e ambientais como objeto de tratamento.

Page 42: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Mais especificamente no Brasil, os trabalhos de Simon (1981), trouxeram

contribuições expressivas, propondo que terapeutas inexperientes, também podem

ajudar no trabalho psicoterapêutico com crianças, se não pretenderem assumir o papel

de psicanalistas infantis.

No início do capítulo sobre Psicoterapia Breve, fez-se referência à intensa

influência que a Psicologia sofreu da Psicanálise. A Psicoterapia Breve, neste caso,

especificamente a Psicoterapia Breve Infantil, também sofreu inegável influência da

Psicanálise Infantil. Melanie Klein (Hinshelwwot, 1992) em 1952, buscou inovar técnicas

dirigidas ao grupo familiar, resultando em estudos que evidenciam as psicoterapias

breves.

É importante ressaltar que na década de 80, profissionais da área da

Psicologia deixaram seus consultórios e iniciaram um trabalho voltado ao atendimento

clínico em instituições. Houve, portanto, uma transposição do modelo tradicional de

duração prolongada para o atendimento institucional.

Nesta ocasião, a demanda por atendimento psicológico era

consideravelmente maior que os serviços de acompanhamento oferecidos à população

mais carente, o que resultou em filas intermináveis de espera e no alto índice de

desistência. (Santiago e Jubelini, 1986).

Os atendimentos eram prestados à população, mas não houve uma

preocupação com a qualidade, nem mesmo com a adequação do que estava sendo

oferecido. Não se obteve uma caracterização sistemática da clientela, não sendo

garantido um trabalho que se ajustasse às suas necessidades. (Ancona-Lopez, 1981).

O trabalho de alguns teóricos, nesta ocasião, que se propuseram encontrar

novas alternativas de atendimento foram de grande relevância e registram o movimento

de passagem: as descobertas e novas propostas na área de atendimento infantil, em

contraposição às insatisfações vividas anteriormente (Macedo, 1986).

Estudiosos como Ryad Simon, que organizou a Sociedade de Psicologia

Clínica Preventiva, possibilitaram atendimento psicológico à comunidade, por meio das

arrojadas modificações técnicas feitas à Psicanálise (Simon, 1989), apoiados em

teóricos igualmente comprometidos com o momento histórico e único pelo qual os

Page 43: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

processos psicoterápicos vivenciavam. (Wolberg,1965/1979; Malan, 1976/1981; Fiorini,

1978,1982).

A Psicoterapia Breve, por meio do enfoque preventivo de atendimento

institucional e domiciliar alcançou resultados significativos como aponta Yamamoto

(1990) em estudos realizados.

Todas as etapas do processo de atendimento psicológico tiveram que ser

repensadas, como é o caso das entrevistas iniciais de triagem, que registra o momento

de entrada do paciente, onde muitas instituições passaram a oferecer ajuda imediata a

partir do primeiro contato do paciente com os serviços prestados (Ancona-Lopez & Mito,

1997; Mito, Lee, Albertini e Provedel, 1999).

O psicodiagnóstico foi notoriamente reformulado e passou a integrar a

avaliação da criança e a intervenção feita com os pais (Ancona-Lopez, 1995;

Yehia,1995).

Na Psicoterapia Breve Infantil, como técnica no trabalho de tempo limitado,

Allen (1942), considera imprescindível a orientação de pais, num trabalho paralelo ao

da criança. Este autor concentra seu trabalho na produção presente da criança e a

respeita como ser individualizado. Para Knobel (1968), se os pais não participam de

alguma maneira do processo, é muito difícil que a psicoterapia breve seja eficaz na

infância.

No atendimento de crianças é comum a procura pela ajuda psicológica partir

dos pais, que não conseguem lidar adequadamente com as dificuldades apresentadas

pelos filhos, buscando, muitas vezes, o atendimento por já terem sido encaminhados

por outros profissionais (professores, médicos, etc) e, na maioria das vezes, entregam o

filho para o trabalho psicoterápico e não se perguntam se eles têm algo a ver com o

sintoma apresentado pelo filho. (Segre, 1997).

A busca de ajuda psicológica, que via de regra, advém dos pais, se dá,

segundo Catafesta (1992), por três razões básicas: algum sintoma apresentado pela

criança; um momento crítico vivenciado pelos pais ou pela família; e pela presença de

angústia acentuada por um dos pais, ou ambos, no vínculo com um dos filhos ou com

os filhos em geral.

Page 44: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

É unânime entre os autores a posição de que é fundamental a participação

dos pais, sendo esta a base para uma intervenção com crianças (Mito, 1996). A área do

funcionamento psíquico relativo tanto aos pais quanto à criança é denominada de foco,

e chamada por Cramer (1974), de �área de conflito mútuo�, já que é resultante de

identificações entre os pais e a criança. �Este autor considera que o sintoma da criança

expressa um conflito familiar� (Cramer, 1974).

Para Cramer (1974) os sintomas apresentados pela criança refletem

dificuldades não resolvidas dos pais, principalmente da mãe. Este autor refere-se a uma

área de conflito comum aos pais e à criança (em geral à mãe e à criança) que se

manifesta através de um sintoma na criança e é chamada de �área de mutualidade

psíquica�.

Palacio-Espasa (1984), também adota a �área de conflito mútuo�, e

considera que é preciso que se leve em conta o funcionamento dinâmico da criança e a

conjunção deste com a organização psíquica dos pais, sendo necessário avaliar as

condições psíquicas da própria criança para se tentar uma psicoterapia breve

focalizada numa área conflitiva responsável pelo sintoma.

Pode-se concluir, portanto que, no caso da criança, o foco é a área de

intersecção, uma área de conflito pertencente aos pais e à criança, manifestada como

um sintoma na criança a partir da relação que se estabelece nesta díade. (Cramer &

Palácio�Espasa; 1993).

Quanto aos objetivos do trabalho em Psicoterapia Breve Infantil, devem ser

estabelecidos de acordo com os resultados disponíveis para cada caso e com as

condições dos pacientes. Podem visar modificações mais profundas ou mais

periféricas, mudanças de atitudes ou ambientais que levem à minimização do

sofrimento. Dependendo dos objetivos, as estratégias serão definidas quanto ao

número e freqüência das sessões: se forem realizadas em conjunto com os pais e a

criança ou separadamente; aos tipos principais de intervenções que serão utilizadas: se

interpretações, esclarecimentos, orientações, etc. (Segre, 1997).

O objetivo da intervenção breve é devolver aos pais os aspectos projetados

sobre a criança e liberá-la desta carga para que retome o processo de

desenvolvimento, possibilitando discriminar o que é conteúdo da criança e o que é de

Page 45: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

seus pais. Logo, tem-se que é de primordial relevância o acompanhamento dos pais, no

processo de atendimento do filho. (Segre, 1997).

Em função da ligação do trabalho realizado com criança e com seus pais,

alguns autores, como Mito e Oliveira (in Segre, 1997), passaram a denominar a

Psicoterapia Breve Infantil, de Psicoterapia Breve com crianças e pais, tendo como

contribuições mais significativas: critérios de indicação, objetivos e estratégia.

Para Mito (1996) Psicoterapia Breve com crianças e pais pode ser definida

como:

�Um processo psicoterápico realizado com crianças e seus pais,

indicados para Psicoterapia Breve através de critérios definidos de

seleção, que transcorre em um tempo delimitado, tem um foco definido em conjunto com os pais; é planejado de forma a atingir determinados

objetivos, através de estratégias flexíveis, pensadas pelo terapeuta

como adequadas ao caso, e que é passível de avaliação� (p.20).

Segundo Oliveira (2006), a Psicoterapia Breve Infantil (P.B.I.), pode ser

compreendida como uma modalidade de intervenção terapêutica com duração limitada

e objetivos circunscritos, dirigida a crianças e pais. Tem sido adotada como método de

trabalho psicoterápico. Apesar disso, e de seu potencial preventivo, tem sido alvo de

um número restrito de estudos.

No caso de crianças, o atendimento em Psicoterapia Breve necessita que

uma adaptação da proposta de trabalho às características individuais leve em conta o

referencial do desenvolvimento infantil. Nesta direção, a Psicoterapia Breve Infantil

Psicodinâmica, possibilita elaborar parâmetros que auxiliem na organização do

raciocínio clínico para a compreensão diagnóstica dos casos e para o planejamento do

processo psicoterápico. (Oliveira, 2006).

A organização e integração da Psicoterapia Breve Infantil, mostra-se

possível e efetiva, facilitando a identificação de conflitos centrais e possibilita a

organização do planejamento terapêutico, em especial no que diz respeito à construção

do foco e das estratégias de intervenção, e ao papel do terapeuta. (Lemgruber &

Junqueira, 2002).

A Psicoterapia Breve Infantil apresenta credibilidade no campo atuação

profissional, e vem sendo adotada por um número significativo de instituições que

Page 46: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

prestam atendimento à comunidade, principalmente nos centros de formação de

psicólogo (Oliveira, 2001).

A herança psíquica e os valores familiares, que possibilitam o

desenvolvimento da criança, são transmitidos a ela por seus pais. O desenvolvimento

psíquico da criança depende das relações estabelecidas com seus pais. O

desenvolvimento psíquico se realiza por meio do interjogo de projeções, introjeções e

identificações entre mãe e criança. (Cramer & Palácio-Espasa, 1993).

Segundo Mito e Oliveira (1997), duas fases complementam o trabalho de

atendimento em Psicoterapia Breve. A fase inicial, denominada diagnóstica, é

constituída, por algumas entrevistas com os pais e contato com a criança, (de dois a

três encontros) através das horas lúdicas e, se necessário, com a utilização de material

lúdico ou de testes psicológicos específicos, conforme apresentado no capítulo I.

O objetivo da fase diagnóstica é investigar a queixa de forma mais completa

e conhecer a história, tanto da criança quanto de seus pais, sempre buscando uma

compreensão do funcionamento psíquico do paciente. A etapa diagnóstica,

dependendo das condições dos pacientes e dos recursos disponíveis, permite definir a

possibilidade do atendimento em psicoterapia psicodinâmica breve, através do

estabelecimento do foco, objetivos e estratégias para este caso. (Mito e Oliveira,1997).

É na fase diagnóstica que se encontram todos os dados necessários para o

planejamento terapêutico. Portanto, trata-se de um momento de vital significado na

compreensão da sintomatologia do quadro clínico do paciente.

Nesta fase são delineados os objetivos do atendimento, bem como quais

serão as estratégias mais adequadas para se chegar aos objetivos propostos. (Mito e

Oliveira, 1997).

Nesta fase, segundo Mito e Oliveira (1997), o paciente ou seus pais, tendo,

finalmente, dado início ao atendimento, acaba trazendo queixas variadas.

Especificamente no caso do atendimento infantil, a queixa, na maioria das vezes, está

diretamente relacionada à defasagem escolar.

Após a fase diagnóstica, que visa principalmente avaliar a queixa e entender

a dinâmica da criança e de seus pais (história), para que se tenha uma compreensão

mais integrada do quadro clínico do paciente, delimita-se o foco, que permite e

Page 47: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

possibilita a proposta de um objetivo a ser atingido, o terapeuta prossegue na avaliação

de seu trabalho, dando início à segunda etapa, designada fase terapêutica, sempre

baseada no que foi definido como foco, que permite o redirecionamento do trabalho,

através de intervenções que possibilitam a compreensão dos dinamismos mais

inconscientes dos pacientes. (Mito e Oliveira, 1997).

É notoriamente significativa a contribuição de Ackerman (1958) dentro deste

enfoque, pois já propunha que se retirasse o foco de atenção do indivíduo para colocá-

lo no grupo familiar, para que o funcionamento deste grupo pudesse ser entendido e

avaliado na plenitude de sua dinâmica. É sabido que a família é a unidade básica,

através da qual a pessoa organiza e estrutura sua personalidade. Portanto, sempre que

uma criança for conduzida a um processo psicoterápico, seus pais deverão ser

orientados, já que precisamos levar em conta que os conflitos com as crianças

certamente evidenciam dificuldades na dinâmica familiar.

Para Ackerman (1958) os conflitos entre o casal, nem sempre considerados

graves, muitas vezes são deslocados para a criança. A organização familiar, depois de

instalado o conflito na criança, é difícil de ser atingida, principalmente porque os

membros de uma família acabam por eleger um elemento do grupo para ser o detentor

dos sintomas e, assim, não necessitarem lidar, nem se aprofundar nos conflitos daquela

unidade.

É preciso ter muita cautela e maturidade profissional para possibilitar e

conscientizar a família da necessidade de um trabalho com o grupo, a fim de que, em

face da resistência, não interrompa o processo. Pode-se, portanto, considerar que a

inserção da família no tratamento da criança, é essencial, haja visto o papel primordial

dos pais na dinâmica do filho, especialmente pela dependência emocional deste.

(Ackerman, 1958).

Dentro da proposta de atendimento em Psicoterapia Breve Infantil torna-se

imprescindível que a focalização do trabalho também incorpore o conflito do casal.

Entende-se, a partir das contribuições de Mito (1996), que a focalização sobre o

problema dos pais serve para libertar a criança para que ela possa retomar o processo

normal do crescimento. A compreensão da existência de problemas através das

Page 48: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

entrevistas familiares é relatada como um fator que desperta nos pais a prontidão para

aceitar ajuda.

A dificuldade dos pais em assumirem seu papel, de se inserirem nesta

problemática, já constitui um obstáculo de se atingir resultados favoráveis em

Psicoterapia Breve. O problema se agrava em Psicoterapia Breve Infantil e ainda mais a

Psicoterapia Breve Infantil desenvolvida em clínica-escola, sujeita a um regime

semestral. Se o reconhecimento da violência e a consciência sobre suas implicações já

são difíceis por parte da família, nesta situação, de Psicoterapia Breve Infantil

desenvolvida em clínica-escola, as dificuldades se tornam ainda maiores.

Com a possibilidade da ocorrência do pacto do silêncio (de que se tratará no

capítulo V, item 5.4), o paciente poderá não fazer referência à violência na queixa.

Quando a violência não é trazida na queixa, não será captada na compreensão

psicodinâmica da queixa e, conseqüentemente, não será incluída no foco, portanto, não

será trabalhada, o que pode caracterizar no fracasso da Psicoterapia Breve. Entende-

se que o fracasso se dê não em função da técnica, mas em virtude deste pacto de

silêncio, que incorpora o processo psicoterápico.

Antes de encerrarmos o presente capítulo, faz-se necessário uma ressalva.

Trata-se de constituir uma distinção entre a proposta de Psicoterapia Breve Infantil e o

trabalho de atendimento familiar. Em Psicoterapia Breve Infantil, a raiz do problema

está na relação mãe-criança, pai-criança. Nesta abordagem, as dificuldades do casal

podem ser traduzidas em sintomas na criança. Há de se estar atento, em se tratando de

Psicoterapia Breve Infantil, se os pais podem tolerar as modificações pelas quais,

certamente, a criança passará, o que pode significar que eles retomarão para si

aspectos que haviam sido projetados na criança, ocasionando mudanças na dinâmica

familiar. (Segre, 1997).

O atendimento familiar determina o envolvimento de outros membros na

relação (como avós, tios, etc), refere-se aos objetivos do trabalho e não

necessariamente ao foco. Neste caso, cada paciente precisa reagir a um determinado

número de pessoas, não apenas ao terapeuta, como ocorre no tratamento individual,

onde o terapeuta é um confidente seguro e o paciente espera que ele seja

compreensivo e receptivo. (Satir, 1964).

Page 49: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Assim como a Psicoterapia Breve, a Psicoterapia Familiar, através de alguns

psicanalistas, questionava a Psicanálise como única técnica utilizada para diferentes

tipos de pacientes. Surgem, assim, os dissidentes do movimento psicanalítico, tendo

Satir como uma de seus representantes. Reconhecida mundialmente, apesar da

tradição psicanalítica, esta autora, por avaliar que a psicanálise não estava sendo

suficiente, começa fazer uma leitura do trabalho com famílias sem tanta ênfase na visão

ortodoxa. Faz uso da terapia sistêmica, que é focada nos papéis familiares.

Satir (1964) desempenhou um papel importante no desenvolvimento da

terapia familiar. Esta autora via os membros perturbados da família como confinados

em papéis familiares estreitos como vítima, conciliador, desafiador e salvador. Seu

principal enfoque era sempre o indivíduo. Tinha como preocupação, identificar os

papéis familiares que constringem a vida e libertar os membros da família de seu

domínio.

Satir (1972) descreveu os papéis familiares como o de conciliador ou o de

desagradável. O indivíduo poderá conseguir reconhecer que desempenhou um papel

bastante previsível, crescendo em sua família. A dificuldade consistia em que, uma vez

aprendidos, os papéis familiares são difíceis de serem descartados.

Satir (1980), procurava liberar cada elemento do grupo familiar do papel

instituído pela família. Era uma força humanizadora, mesmo nos primórdios da terapia

familiar. Em seu trabalho com famílias procurava concentrar-se em melhorar a

comunicação, expressar os sentimentos, e em estimular um clima de aceitação mútua e

cordialidade. Satir ajudou a popularizar o movimento da terapia familiar.

A proposta desta autora parece convergir, em alguns aspectos, com o

trabalho desenvolvido em Psicoterapia Breve Infantil. Tanto na Psicoterapia Familiar,

como na Psicoterapia Breve Infantil, há a preocupação em possibilitar à criança a

descaracterização de sua responsabilidade sobre os conflitos que afligem a dinâmica

familiar, permitindo que os papéis familiares sejam revistos e reavaliados, conduzindo a

criança à retomada de um processo natural de crescimento.

3.1 O ATENDIMENTO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL REALIZADO NA

Page 50: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE GUARULHOS.

PROTOCOLO DOS ATENDIMENTOS

Na clínica-escola da Universidade Guarulhos o atendimento psicoterápico faz

parte das atividades obrigatórias para a formação de psicólogos no curso de graduação

em Psicologia. Tem�se como preocupação básica a formação profissional dos

estagiários, no que diz respeito à postura ética e à sua orientação teórico�prática. O

atendimento a pacientes trata�se da primeira experiência vivenciada pelo aluno.

Na clínica de Psicologia da Universidade Guarulhos, onde foi realizado todo

o levantamento que direcionou este trabalho, a modalidade de estágio utilizada é a

técnica da Psicoterapia Psicodinâmica Breve. Não se pretende, porém, formar

profissionais especialistas em Psicoterapia Breve, mas procurar adequar a técnica à

realidade vivenciada pela população.

Os centros de formação dos cursos de psicologia têm adotado a Psicoterapia

Breve Infantil (PBI) como modalidade de intervenção terapêutica, uma vez que ela se

mostra compatível com as possibilidades desse tipo de serviço e atinge resultados

satisfatórios. Esta utilização na prática tem sido acompanhada de um número

significativo de pesquisas, no entanto, o que se percebe é uma grande variedade de

formas de atuação nomeadas como psicoterapias breves, nem sempre respaldadas por

um referencial teórico coerente.

A Psicoterapia Breve Infantil psicodinâmica pressupõe o atendimento tanto

dos pais quanto da criança e fundamenta-se na idéia de que eles compartilham uma

área de conflito definida pela qualidade da relação entre eles e que contribui para o

aparecimento de perturbações no desenvolvimento infantil. Diversamente do trabalho

com adultos, lida com uma trama mais complexa de relações e exige uma abordagem

mais flexível que possa ser ajustada às diversas faixas etárias, bem como aos tipos de

dificuldades apresentadas pela criança e pelos pais. Pretende-se apresentar as

especificidades do atendimento breve infantil, verificadas em estudo que abrangeu três

diferentes situações, e tecer considerações sobre cada uma delas, além de ilustrá-los

com casos clínicos.

Page 51: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

O objetivo do trabalho realizado na clínica-escola de Psicologia da

Universidade Guarulhos é oferecer aos pacientes um atendimento que conta, desde o

princípio, com objetivos bem definidos, que possa garantir-lhes uma maior

adaptabilidade e adequação para lidar com os conflitos que os aflige.

Quanto à modalidade terapêutica mais usualmente desenvolvida pelos

estagiários, insere-se na definição de Fiorini (1981) de Psicoterapia de Esclarecimento.

Incluem�se entre seus objetivos o alívio de sintomas, além de acrescentar e

desenvolver no paciente uma atitude de auto�observação e um modo de compreender

suas dificuldades mais próximo do nível de suas motivações e de seus conflitos.

A Psicoterapia de Esclarecimento supõe uma atitude ativa por parte do

estagiário, a partir das hipóteses psicodinâmicas levantadas em supervisão.

Nesta ordem supõem-se êxito no processo de atendimento, as expectativas

positivas, por parte do paciente, bem como o entusiasmo e a vontade de ajudar o

paciente, por parte do estagiário.

Por se tratar de curso de formação, desenvolvido em clínica-escola, a técnica

da Psicoterapia Breve precisa se adequar ao período letivo, tempo tido como disponível

para a realização do estágio e, conseqüentemente, para o atendimento dos pacientes.

Um dos fatores que confere a esta técnica a especificidade é a limitação do tempo. A

Psicoterapia Breve poderá permitir que o pouco tempo de que o terapeuta dispõe, por

se tratar de estágio de duração limitada, possa ser bastante adequado e plenamente

satisfatório para o atendimento, visto tratar-se de um trabalho com objetivos definidos.

Neste sentido pode-se atender um número maior de pessoas num menor

espaço de tempo. O próprio estagiário atinge um crescimento profissional mais seguro,

haja visto poder realizar um trabalho mais completo, dando a ele algum sentido em tudo

que fez.

Para a realização de um trabalho em clínica-escola conta-se com

profissionais em formação, que necessitam do auxílio do trabalho de supervisão, em

geral semanal, tendo uma compreensão clínica mais restrita dos quadros dos pacientes

em atendimento.

Page 52: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

As supervisões, devido à inexperiência dos alunos, têm um papel

fundamental no atendimento das Psicoterapias, mas no geral, apesar do despreparo

dos alunos, muitas vezes prevalece o movimento empático, que acaba por tornar

produtivos muitos processos psicoterapêuticos realizados nas clínicas-escola de

Psicologia.

Na prática profissional, vinculados a instituições do tipo clínicas-escola de

Psicologia, detectam-se casos de atendimento clínico, com queixas variadas, as quais

permitem buscar uma orientação, que esteja calcada em procedimentos previamente

conhecidos, que se ajustam na busca do estabelecimento do foco, dos objetivos e das

estratégias para cada caso.

Quando o paciente procura uma clínica-escola e realiza inscrição, que pode

ser feita por telefone ou pessoalmente, para um trabalho de atendimento psicológico é

marcada, e posteriormente realizada, uma entrevista de triagem. Na entrevista de

triagem, em se tratando de atendimento de crianças, somente os pais são convocados.

Algumas destas entrevistas de triagem são realizadas pelo profissional em formação,

são estes os estagiários do quarto ano do curso de Psicologia, como parte das

atividades obrigatórias da disciplina de Psicodiagnóstico.

A entrevista psicológica de triagem tem o objetivo de avaliar se os serviços

prestados pela clínica vêm de encontro com as necessidades sofridas e detectadas nos

quadros clínicos dos pacientes.

Durante o atendimento em Psicoterapia Breve Infantil, e muitas vezes, ainda

na entrevista de triagem, surgem conteúdos que configuram uma desorganização

familiar, mesmo que a queixa central não esteja diretamente relacionada a dificuldades

dessa ordem. Muitas discussões, desentendimentos, ameaças e agressões são

percebidas no mundo em que estas pessoas estão inseridas no mundo familiar. Sinais

evidentes de violência doméstica têm sido vivenciados pelas famílias. (Azevedo e

Guerra, 1995). Esta violência que ocorre na dinâmica familiar, nas dificuldades das

crianças, nas queixas encontra-se, muitas vezes, mascarada, pois, de certo modo,

todos estão diretamente envolvidos com ela.

Freqüentemente a violência doméstica não é detectada durante o tratamento

em Psicoterapia Breve Infantil. Isto não ocorre em função da técnica utilizada, mas pela

Page 53: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

dificuldade que todos, em geral, têm em lidar com situações de violência. A família não

considera a violência como conflito central que aflige a dinâmica. A violência é

silenciada pela família como um segredo e, no atendimento psicológico, acaba por

constituir um pacto do terapeuta com os pais, para que o psicólogo não se conscientize

desta violência.

Direta ou indiretamente as pessoas vivem situações de violência doméstica,

seja ela física, verbal ou psicológica e nem sempre estão preparadas para lidarem com

situações que envolvam uma sobrecarga emocional intensa, deslocando, nesta ordem,

os conflitos para conteúdos que melhor possam organizar.

Nem sempre tais aspectos são trazidos como queixas, priorizando-se, por

exemplo, o declínio no rendimento escolar, originariamente apresentado como queixa

pelos pais. Os dados que configuram uma desorganização familiar nem sempre são

facilmente detectados, visto que incluem situações onde a violência doméstica está

presente.

Invariavelmente, as situações vistas como inadequadas, em certa ordem, são

relevadas. As queixas mais continentes nem sempre são pontuadas, tanto com relação

ao paciente, trazendo uma queixa não direcionada para o conflito central; quanto no

que se refere ao terapeuta, nem sempre capaz de relacionar a queixa com conflitos

mais profundos. Ambos, paciente e terapeuta, circundam a dinâmica do paciente e

lidam, muitas vezes, apenas com aspectos periféricos.

Redobram-se aqui, os cuidados com os pais, pois não é raro desistirem do

atendimento, uma vez que buscaram um atendimento psicológico já tendo eleito um

membro �doente� na dinâmica familiar. Nem sempre os pais estão preparados para se

depararem com seus próprios conflitos, com suas dificuldades, deslocadas para a

criança.

Na entrevista de triagem, que precede a fase diagnóstica da Psicoterapia

Breve verifica-se se a queixa manifesta trazida pelo paciente é passível de ser

abordada num trabalho como o que é proposto em Psicoterapia Breve, dentro e sob o

enfoque de critérios de aceitação ou exclusão do quadro que se apresenta.

O critério de inclusão ou de exclusão do paciente, no atendimento na clínica-

escola de Psicologia da Universidade Guarulhos, está vinculado à verificação se o

Page 54: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

quadro clínico do paciente é indicado ou contra-indicado para Psicoterapia Breve,

conforme descrito na página 38, capítulo II deste trabalho. Se indicado para

Psicoterapia Breve, o paciente aguarda sua convocação numa fila da espera, para dar

início ao processo, na própria clínica.

Estas entrevistas, em sua maioria, são realizadas pela autora da presente

pesquisa, que tenta avaliar se o paciente é indicado ou contra-indicado para um

processo de Psicoterapia Breve. Em caso de contra-indicação o paciente, em se

tratando de adulto, ou os pais, em se tratando de criança, é reconvocado. Procede-se,

então, seu encaminhamento externo para uma instituição que possa prestar o tipo de

acompanhamento mais condizente ao quadro clínico do paciente.

Nos casos em que os pacientes permanecem na Clínica-escola de

Psicologia, após a entrevista de triagem, são conduzidos para uma das três áreas que

dão corpo à clínica;- Psicoterapia Breve de Adulto, Psicoterapia Breve Infantil e

Psicodiagnóstico, dependendo da necessidade do paciente. Por se tratar de clínica-

escola, portanto regida por um calendário escolar, as convocações dos pacientes

ocorrem sempre no início de cada semestre e, no decorrer de quatro meses, ou

dezesseis sessões, aproximadamente, é desenvolvido o trabalho de atendimento

psicológico.

Após a inscrição para atendimento, muitas vezes o paciente, dependendo da

época do ano, aguarda um período razoável na fila de espera, em qualquer uma das

três áreas já mencionadas. Em se tratando da presente pesquisa, por abordar

especificamente casos de atendimentos realizados em Psicoterapia Breve Infantil,

doravante serão mencionados aspectos mais diretamente relacionados a esta

modalidade de atendimento.

Em Psicoterapia Breve Infantil há situações em que os pais desistem do

atendimento alegando a demora, ou até comparecem no atendimento apesar da

demora, mas desistem em seguida, utilizando qualquer argumentação, quando na

verdade parece claro a dificuldade em lidarem com seus próprios conteúdos.

Dá-se, assim, início ao atendimento em Psicoterapia. Os atendimentos são

realizados individualmente por estagiários do quinto ano do curso de Psicologia, os

quais atendem as crianças e acompanham seus pais em Orientação de Pais.

Page 55: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Tanto as entrevistas iniciais quanto as sessões psicoterápicas são

registradas semanalmente, pelos estagiários quintanistas do curso de Psicologia, em

folhas de registro de processo, que irão compor o prontuário do paciente, acrescido das

fichas de inscrição e de atendimento, do relatório final e da folha de encerramento.

Findo o processo, o paciente tem seu prontuário arquivado, no caso de ter

tido seu atendimento concluído, e, no caso do paciente ter sido reconduzido, retornará

à fila de espera para ser reconvocado no semestre seguinte, tendo prioridade sobre os

demais pacientes, por já ter recebido algum tipo de atendimento.

Tais aspectos conduzem ao pensamento de que, de

maneira geral, o ser humano tem muita dificuldade de lidar com questões e situações

em que a violência esteja atuando.

Capítulo IV

VIOLÊNCIA: PROBLEMAS RELATIVOS

AO SEU CONCEITO E À SUA ABRANGÊNCIA.

Com o propósito de criar um alicerce teórico conceitual sobre o qual será

possível desenvolver alguns argumentos a respeito da violência pretende-se,

inicialmente, fazer uma breve revisão dos postulados da Psicanálise, que impliquem, de

alguma forma, relativa compreensão acerca deste tema.

Para Damergian (in Steiner, 1986), a violência humana pode ser

compreendida através de alguns conceitos da Psicanálise, sobretudo a violência

praticada contra crianças.

Para Freud (1920),

�a violência, referida por muitos adultos e que, na maioria das vezes é

vivida só na fantasia, tem origem em desvios e transformações da libido

para ocultar desejos e prazeres libidinosos que são considerados

proibidos. Poderíamos dizer que, para Freud, violência e civilização têm

o mesmo berço. O destino de cada indivíduo depende de como ele pode

usar, ou interpretar, a sua herança, seus aspectos constitucionais e as características do ambiente� (p.259).

Page 56: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Hinshelwoot (1992), afirma que entre outros psicanalistas, Melanie Klein

tende a dar uma maior ênfase à conjunção pessoa x ambiente, como fonte de vida e

desenvolvimento. Assim, a violência do ódio, da inveja e da onipotência pode ser

matizada por um ambiente amoroso, protetor e cooperador, verdadeiro e real.

É muito difícil definir violência. Muitos autores procuram defini-la e aqui serão

pontuados alguns dos dados encontrados na literatura. No entanto, as referidas

definições, mesmo que clarifiquem nossa compreensão, não complementam

plenamente o conceito de violência.

Num primeiro momento, tudo parece constituir uma grande incoerência. A

violência é definida como uma manifestação da agressividade, como instrumento de

que se servem os homens para implantarem a ordem da lei e do direito e, segundo

Freud (1920), �há a existência de uma espécie de instinto de paz�. O instinto agressivo

pode perfeitamente coexistir com a possibilidade do homem desejar a paz e com a

possibilidade do homem empregar a violência.

Para Costa (1986), as definições dadas à violência são provisórias e

operacionais. Este autor questiona a dificuldade em sistematizar a violência, atribuindo

à teoria psicanalítica parte da responsabilidade sobre este aspecto. Parece não querer

apenas filiar-se a uma já conhecida corrente de idéias sobre violência, procurando

conduzir o leitor a um processo reflexivo e não a definições sintéticas e prontas. As

contribuições de Costa são vistas como importantes para um melhor entendimento da

violência à luz da teoria psicanalítica.

Segundo Costa (1986), pode-se dizer que na concepção da Psicanálise, a

violência é associada à agressividade instintiva, ou seja, a violência nasce da

agressividade do homem, da possibilidade de matar ou de fazer sofrer os seus

semelhantes. A partir desta concepção, a violência surge como uma conseqüência do

conflito de interesses. Tornar-se um instrumento utilizado pelo homem para

organizarem os conflitos. Por fim, a violência articula-se em meio à paz.

Pesquisadores que estudam a relação violência-saúde têm definido a

violência como um fenômeno gerado nos processos sociais, levando as pessoas,

grupo, instituições e sociedades a se agredirem mutuamente, a se dominarem, a

tomarem à força a vida, o psiquismo, os bens e/ou patrimônio alheio. (Gelles, 1979).

Page 57: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Dessa forma e, para efeito de maior compreensão, pode�se dizer que existe

uma violência estrutural, que se apóia sócio-econômica e politicamente nas

desigualdades, apropriações e expropriações das classes e grupos sociais; uma

violência cultural que se expressa a partir da violência estrutural, mas a transcende e se

manifesta nas relações de dominação raciais, étnicas, dos grupos etários e familiares;

uma violência da delinqüência, que se manifesta naquilo que a sociedade considera

crime, e que tem que ser articulada, para ser entendida, à violência da resistência que

marca a reação das pessoas e grupos submetidos e subjugados por outros, de alguma

forma (Minayo e Assis, 1993).

Para Bergeret (1990), diante da necessidade de sobreviver, a criança

pequena apresenta espontaneamente uma tendência de projetar sua violência sobre o

adulto, que, por sua vez, desperta como um eco, as partes forçosamente mal

integradas de sua própria violência primitiva.

As contribuições de Bergeret (1990), sobre violência parecem bastante

expressivas. O autor classifica a violência como violência fundamental porque se refere

aos fundamentos de toda estrutura da personalidade. Enfatiza que embora atualmente

se fale muito sobre violência, ela ocorre em todos os ambientes, em todas as épocas e

em todas as relações, surgem dos registros latentes e das angústias criadas pelas

lacunas, pelos fracassos, pelas carências e pelas impossibilidades de elaboração

mental. Refere-se à preocupação maior dos estudiosos estar voltada para os aspectos

quantitativos da violência, intensificada pelo fato da violência estar interligada ao meio

externo, mais essencialmente ao aumento dos meios de repressão.

Na verdade, esse autor propõe a todos que querem se ocupar da violência,

que o façam através de processos reflexivos, de intercâmbio de conhecimentos e de

diálogos sobre a natureza de uma parte importante da violência primitiva que não

consegue encontrar vias espontâneas e positivas de integração. Para este autor a

violência humana fundamental deve realizar-se dentro de um processo integrador.

Muito se tem falado acerca da violência, mas poucos são os que a definem

ou que tratam deste tema de forma explícita. A violência pode ser considerada um

fenômeno muito difícil de se conceituar, muito polêmico, tornou-se um dos problemas

Page 58: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

mais debatidos atualmente, sendo um tema essencialmente vasto, como bem

argumenta Sá, (1999).

Este autor aborda a violência sob os mais diferentes enfoques e baseado

numa literatura vasta e expressiva conclui que:

�trata-se de um impulso, de um movimento cuja força é dotada de

intensidade e �irresistibilidade� que, embora variem de caso para caso,

garantirão a esta força uma capacidade mínima de coerção, de

penetração, de vencimento de barreias e de destruição, como condição

para que se concretize o ato violento�.( p. 55).

Para Sá (1999), o ato violento tem como objetivo final causar danos a outros.

Estes danos estão interligados a um núcleo central, que pode ser entendido como:

privação. Neste sentido e do ponto de vista do autor a violência será mais ou menos

grave dependendo da natureza das privações impostas.

Ainda segundo Sá (1999),

�a violência tem uma face explícita, manifesta, por todos reconhecida por seu caráter de estarrecedora dramaticidade. A violência tem também

uma face oculta, que penetra subrepticiamente as relações humanas e

pode estar presente às vezes até nas nossas relações com as pessoas

que nos são mais próximas�. (p. 56).

Dentro da proposta deste trabalho a face oculta da violência terá um

significado expressivo. A face oculta refere-se a tudo que supostamente está

interferindo no crescimento psíquico dos membros de uma família, que impede que as

relações sejam autênticas entre seus membros, que mina e impossibilita que se

fortaleçam os vínculos afetivos, mas que não é passível de ser caracterizado, de ser

percebido claramente. É oculto, mas extirpa e empobrece as relações impossibilitando

a ocorrência de unidades familiares constituídas de indivíduos plenamente integrados.

Para Winnicott (1983), de todas as tendências humanas, a agressividade, em

especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos e quando se

manifesta é sempre uma tarefa difícil de identificar suas origens.

Segundo Winnicott, todo o bem e o mal encontrados no mundo das relações

humanas serão encontrados no âmago do ser humano.

Page 59: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Reconhece-se, pois, que a natureza ativa e determinante dos seres humanos

estrutura a personalidade e seu papel potencial em explicar a variedade e expressões

comportamentais. (Oliveira, 2006).

O ser humano dispõe de mecanismos que permitem a compreensão de sua

história de vida, construída por meio de imagens mentais, formando sistemas

dinâmicos, que ao manter uma troca constante com o meio, possibilita que o homem

desenvolva a interatividade, que lhe permitirá melhor acomodação e equilíbrio de suas

reações impulsivas. (Oliveira, 2006).

Assim, mesmo no bebê, admite-se a existência de uma inibição dos impulsos

agressivos, facilitando a proteção do que é amado e que pode estar em perigo. É

verdade que a criança tem uma grande capacidade para a destruição, mas também é

verdadeiro que tem capacidade para proteger o que ama de sua própria destrutividade,

e a principal destruição existe, necessariamente, em sua fantasia. (Winnicott, 1987).

Para Winnicott (1987), a agressão tem dois significados: por uma lado,

constitui direta ou indiretamente uma reação à frustração e, por outro, é uma das muitas

fontes de energia de um indivíduo.

Além das contribuições dos pressupostos da Psicanálise, encontra-se na

Sociologia, estudiosos que se dedicaram à compreensão do fenômeno da violência,

alguns dos quais aqui serão mencionados.

O sociólogo Nieburg (1963), define a violência como �uma ação direta ou

indireta, destinada a limitar, ferir ou destruir as pessoas ou bens�. Graham e Gurr

(1969), afirmam que �a violência se define, no sentido estrito, como um comportamento

que visa causar ferimentos a pessoas ou prejuízos aos bens�.

Para Michaud (1989)

�há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores

agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos

a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade

física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais� (p.11).

Ainda segundo este autor a violência é assimilada ao imprevisível, à

ausência de forma, ao desregramento absoluto. Não é de se espantar se não se pode

defini-la. Ela, com efeito, envolve a idéia de uma distância em relação às normas e às

regras que governam as situações ditas naturais, normais ou legais.

Page 60: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Segundo Michaud (1989),

�embora subsistam explosões de raiva cega e de revolta desesperada, a

violência, como muitos aspectos da vida social e política, está submetida

à racionalização e ao cálculo. Por isso, é preciso entender que ela entra

na perspectiva de uma ação instrumental onde é um meio racional entre

outros, com vistas a finalidades colocadas por outra via. Por princípio

não é recomendada nem excluída, tudo depende de sua eficiência, bem

pensada�. (p.55).

Michaud (1989), �entende que a violência designa fatos e ações, mas

também se constitui numa maneira de ser da força, do sentimento, ou de um elemento

natural� (p.07), e prossegue �A violência pode ser definida como o fato de agir sobre

alguém ou de fazê-lo agir contra sua vontade empregando a força ou a intimidação�

(p.07). Encontra-se no âmago da noção de violência, a idéia de uma força, de uma

potência natural cujo exercício contra alguma coisa ou contra alguém torna o caráter

violento.

Segundo Maffesoli (1987), a violência deve ser considerada não apenas em

seu aspecto de transgressão de normas e preceitos, mas também em seu caráter

polivalente de resistência e confronto. Em lugar de tomar a violência como violação e

transgressão das normas, regras e leis, Chauí (1985), prefere considera-la como uma

realização determinada das relações de força, tanto em termos de classes sociais,

quanto em termos interpessoais.

Para Maffesoli (1987), �a violência é reveladora de uma desestruturação

social relativamente manifesta, que ela invoca numa nova construção�, embora

apresente duplo movimento: construção e destruição.

Essa construção monopolizada, que pretende ser a negação da violência

julgada demasiadamente natural, conduz a uma existência pacificada e satisfeita que

fundamenta a ideologia da tranquilização da vida social. Maffesoli (1987), afirma:

�Dentro deste contexto a violência não deve ser concebida como fator de desequilíbrio

na sociedade, mas como elemento estruturador do fato social, estrutura constante do

fenômeno humano, presente em toda e qualquer civilização� (p.50).

Ainda segundo Maffesoli (1987),

�a violência como força, potência construtiva, permite uma simbiose de forças possibilitando a criação e a renovação da estrutura social�,

expressão da fundação social�. Monopolizada pelo Estado, perde seu

caráter construtivo e passa a ser legalmente exercida por algumas

Page 61: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

pessoas, grupos ou instituições, objetivando o exercício da obediência

em função da garantia do poder� (p.53).

Outras concepções sobre violência podem ser vistas como significativas.

Para Adorno (1989), �a violência não é um fenômeno estranho à sociedade.

O senso comum tem uma idéia sobre violência que algumas vezes é vista no

chamado senso crítico ou científico, de que a violência é alguma coisa externa aos

homens de que ela existe como se fosse algo estranho a todos nós, quase uma

anomalia, uma patologia que, como tal tem que ser tratada. (Maffesoli, 1987).

Segundo Maffesoli (1987), Weber �analisou a questão da violência não como

um fato anacrônico, uma sobrevivência de períodos bárbaros ou pré-civilizados, mas

sim como a manifestação maior do antagonismo existente entre vontade e

necessidade� (p.14). Este autor concebia a existência da violência estreitamente

vinculada a uma articulação estabelecida em momento de grande confronto de valor.

Coser (1956),

�considera as funções do conflito e da violência na mudança social: a

violência pode operar como realização de si e do indivíduo que entra

num grupo. Ela pode atuar como sinal de perigo e, sobretudo, é

regularmente um meio de resolver bem conflitos e problemas, os motins violentos e até mesmo o terrorismo são meios de obrigar a levar em

conta as reivindicações de grupos marginais e de conseguir ganhos

significativos� (p.93).

Estudando o emprego da violência nas sociedades contemporâneas,

detecta-se que até um certo ponto, a violência pode ser considerada como um

instrumento legítimo de gestão pragmática dos conflitos. As análises de Parsons,

(Roure, 1996), sobre o lugar da força no processo social vão no mesmo sentido.

Parsons considera a força como uma modalidade de interação social que visa a

dissuasão, a punição ou a demonstração da dominação. Ela é o último instrumento da

coerção e da obrigação, o último recurso do poder.

A concepção de Roure (1996), sobre a questão da violência contrapõe�se

aos conceitos que a concebem apenas como transgressão de princípios e normas, cuja

finalidade é destruir e ofender. Para esta autora a violência é considerada �como

elemento estrutural do fato social, como um fenômeno constante da história humana�.

Em relação à própria história de crianças e adolescentes na sociedade

brasileira, segundo Roure (1996), �pode-se verificar que ela foi sempre permeada por

Page 62: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

diferentes práticas de violência e morte, culminando na maioria das vezes no

silenciamento e extermínio destas crianças e adolescentes� (p. 48). A violência está

para esta autora, no princípio da vida e da evolução concebida como luta pela vida e

seleção dos mais capazes.

Com base nas citações dos autores aqui descritos, a violência pode ser

entendida como sendo inerente a todo ser humano, de importância vital desde o

nascimento e deve ser integrada no ser.

É verdade que o homem evoluiu através do processo civilizatório, que influiu

no sentido de um controle dos impulsos destrutivos. Também é verdade que quando

esse processo atravessa momentos de intensa crise e stress, há um desnudamento do

homem civilizado, emergindo sob a sua pele o homem primitivo, com seus modelos

primitivos de existência, incapaz de controlar seus impulsos, seus medos, seus

rancores, seu desejo de destruir o inimigo oculto que o persegue. (Maffesoli, 1987).

Tendo em vista a precisão metodológica, a violência pode ser conceituada a

partir de seu papel no sistema social. Este deve ser concebido como uma unidade

funcional que permite diversos graus de integração; nele as formas sociais e culturais

têm conseqüências funcionais ou disfuncionais, e existem equivalentes e substitutos

funcionais capazes de satisfazer uma dada exigência funcional. (Roure, 1996).

A violência existe tanto no mundo interno como no meio social. A violência,

então, além de fazer parte do ser humano, é necessária para a sua sobrevivência, uma

vez que lhe permitiu e permite defender-se e manter-se vivo, além de ser

impulsionadora da ação, da iniciativa construtiva. Importa saber quais as condições que

favorecem o seu controle e seu uso construtivo e quais as que se conjugam no sentido

de produzirem aumento ou atuação descontrolada dessa violência. (Michaud, 1989).

Estamos cercados pela violência. Ela não é privilégio dos grandes centros

urbanos, mas nestes aparece com muito mais intensidade medida que aumenta a

concentração demográfica, a composição heterogênea da população já serviria para

explicar que nos grandes centros a violência é maior, principalmente contra as crianças.

Esta característica da vida urbana, que muitas vezes priva o indivíduo da oportunidade

da auto-afirmação agressiva, pode levá-lo a reviver os antigos sentimentos de

desamparo e fraqueza que tinha como criança. (Michaud, 1989).

Page 63: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Como agravante dessa situação entra em cena a permissividade social.

Nossa sociedade é permissiva para com a violência, incorpora-a a seu cotidiano de

forma a que não nos espantemos mais com as notícias de assassinatos e brutalidades

cometidos indiscriminadamente contra adultos, velhos e crianças que inundam os

jornais e noticiários cotidianos. Nós somos permissivos para com a violência.

Complacentes. Acomodados. Às vezes, cúmplices. Nós nos esquecemos: vemos,

ouvimos, lemos e esquecemos. Nossa memória, defensivamente, perde a sua

capacidade de reter fatos que nos incomodam. Temos que nos defender da angústia,

mas não a ponto de negá-las assim. Tornamo-nos cúmplices passivos de fatos que são

aceitos como fazendo parte do destino trágico da humanidade.

Capítulo V

Violência Doméstica

5.1 CONCEITO E ABRANGÊNCIA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Atualmente a grande incidência dos fatos violentos fazem parte do cotidiano

da sociedade. Diariamente se tem notícia de algum tipo de violência sofrido por alguém

em algum lugar. No momento em que recebem a notícia de alguma situação onde a

violência foi empregada, as pessoas, no geral, ficam chocadas. No entanto, em pouco

tempo, as pessoas assimilam o problema e voltam à vida normal, muito embora aqueles

que sofrem violência freqüentemente, presenciando diariamente atos hostis em seu

ambiente doméstico, não conseguem esquecer-se tão rapidamente da violência.

(Gabarino e col., 1992).

A violência doméstica abrange as relações dos pais com os filhos, dos filhos

com os pais, dos maridos com as esposas, enfim abrange todas as relações familiares.

Quando do levantamento da referência bibliográfica para a realização deste trabalho

verificou-se que, em se tratando de violência doméstica, a grande preocupação da

maioria dos autores é com relação à violência dos pais contra os filhos. Por este motivo,

Page 64: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

na confecção deste capítulo, embora buscando uma compreensão mais ampla acerca

da violência doméstica, a violência dos pais contra os filhos será, inevitavelmente,

abordada com maior ênfase. (Gabarino e col., 1992).

A violência doméstica nem sempre é tão facilmente identificada. Farinatti,

Biazus e Leite (1993) apontam para a necessidade de um cuidadoso processo de

avaliação para o diagnóstico. Garbarino e colaboradores (1992), enfatizam a

necessidade de se avaliarem os indicadores da violência dentro do contexto de uma

família, sugerindo que esta avaliação pode ser feita através de um trabalho ético

minucioso.

A dinâmica familiar não raras vezes é permeada por situações de violência

que se manifestam de diferentes formas, tais como o modo de ser da família ou

meramente ocasionais. Na medida em que surgem como caracterização familiar,

podem causar danos, muitas vezes irreparáveis, a todos os membros de uma mesma

família. (Farinatti, Biazus e Leite, 1993).

Cada pessoa vai lidar com a violência de um modo muito pessoal, sendo via

de regra, necessário que cada indivíduo busque sua própria organização interna, que

poderá possibilitar um equilíbrio geral. É este equilíbrio que dará aos elementos

diretamente envolvidos em situações de violência, condições mais adequadas de

conviverem e até de se adaptarem a estas situações. (Farinatti, Biazus e Leite, 1993).

Diante da violência, especialmente a doméstica, muitas vezes as pessoas se

omitem, não evidenciando seus sentimentos, não se julgando no direito ou em

condições de expressar seu pensamento. Nesta ordem, acaba por ocorrer um

afastamento natural entre os elementos de uma mesma unidade familiar. Com este

afastamento os vínculos afetivos poderão ficar mais estremecidos, permeados por

mágoas, ressentimentos, medo, revolta, podendo gerar novas situações de violência.

(Adorno, 1991).

A violência doméstica está, segundo Adorno (1989), relacionada com a

violência estrutural (violência entre classes sociais, inerentes ao modo de produção das

sociedades desiguais). É um tipo de violência que permeia todas as classes sociais

(interclasses sociais) como violência de natureza interpessoal.

Page 65: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Como violência intersubjetiva, a violência doméstica consiste, ainda segundo

Adorno (1989):

a) Numa transgressão do poder disciplinador do adulto, convertendo a diferença de

idade, adulto-criança/adolescente, numa desigualdade de poder intergeracional;

b) Numa negação do valor liberdade: ela exige que a criança ou adolescente sejam

cúmplices do adulto, num pacto de silêncio;

c) Num processo de vitimização como forma de aprisionar a vontade e o desejo da

criança ou do adolescente, de submetê�la ao poder do adulto a fim de coagi-la a

satisfazer os interesses, as expectativas e as paixões deste.

Hoje em dia, a violência estrutural tem sido, considerada como

desencadeante de outras violências mais específicas, como a delinqüência, o crime, a

institucionalização de menores, a existência de meninos vivendo nas ruas. (Adorno,

1989).

A violência estrutural, característica de sociedade como a brasileira, é

marcada por profundas desigualdades na distribuição da riqueza social, como a

violação dos direitos humanos mais elementares: direito à vida, à saúde, à alimentação,

à educação, à segurança, ao lazer, entre outros. (Adorno, 1989).

A violência doméstica pode ser compreendida como a manifestação da

distribuição desigual do poder. Poder físico, econômico, psicológico, social e, sobretudo

emocional do homem. (Adorno, 1989).

No Brasil, segundo o levantamento da Sociedade Mundial de Vitimologia,

sediada na Holanda, 23% das mulheres estão sujeitas à violência doméstica.

Especificamente no Rio de Janeiro, segundo o Conselho Estadual dos Direitos da

Mulher (CEDIM, 1999), a cada hora sete mulheres encontram-se envolvidas em

situações de violência doméstica.

Segundo dados mundiais (CEDIM, 1999), o risco de uma mulher ser

agredida em sua própria casa é nove vezes maior do que o de sofrer uma agressão na

rua, fora do ambiente familiar. A mulher é vítima de violência física do pai de seus filhos,

do ex-marido ou atual companheiro. O homem agressor também sofre por não

conseguir se controlar. Não consegue atuar de uma maneira socialmente aceita.

Dificilmente suporta frustrações.

Page 66: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Os homens que espancam suas parceiras, no geral, também são violentos

com as crianças da casa. Segundo o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher

(CEDIM, 1999), um terço das crianças que sofrem violência doméstica pelo pai ou

padrasto tende a perpetuar a agressividade quando crescer.

Como já foi mencionado no início deste capítulo, haverá uma tendência de

se abordar aspectos que estejam mais diretamente relacionados com a violência que os

pais exercem sobre seus filhos, pois além de todos os autores pesquisados estarem

mais familiarizados com este tipo de violência, o fato deste trabalho estar mais

direcionado para a detecção da violência na fase diagnóstica dos pacientes atendidos

em Psicoterapia Breve Infantil, conduz a autora a desenvolver sua pesquisa dentro de

um enfoque mais específico.

A violência praticada contra a infância e, principalmente, aquela que é

exercida pelos próprios pais contra os seus filhos: filicídio, presente em todos os

momentos da história da humanidade, não é um fato novo e nem privilégio dos povos

civilizados. Rascovsky (1974) nos mostra que as agressões e destruições, físicas ou

mentais, parciais ou totais, dirigidas pelos pais aos seus próprios filhos são universais.

A Constituição Federal (art. 227) e o Estatuto da Criança e do Adolescente,

criado pela Lei n° 8.069 de 13 de julho de 1990, garantem o direito à vida, saúde,

liberdade, respeito, dignidade, convivência familiar e comunitária, educação, cultura,

esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho para todas as crianças e

adolescentes. Foi a partir daí, que esses passaram no Brasil a ser juridicamente

considerados sujeitos de direitos, e não mais menores incapazes, objetos de tutela, de

obediência e de submissão. A construção de novas relações adultos-jovens, baseada

em relações afetivas, de proteção e de socialização, implica em denúncia e

responsabilização dos violadores desses direitos.

Para Azevedo (1990),

�as sociedades têm submetido crianças e adolescentes a inúmeros tipos

de violência, sendo a de cunho doméstico uma das mais comuns. Trata-se de violência intraclasses sociais e que permeia todas as classes sociais� (p.11).

Ainda segundo a autora (1990; 1992), a violência doméstica contra crianças

e adolescentes:

Page 67: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

�- É uma violência interpessoal e intersubjetiva; - É um abuso do poder disciplinar e coercitivo dos pais ou responsáveis; - É um processo de vitimização que pode se prolongar por meses e até

anos; - É um processo de completa objetalização e sujeição da vítima,

reduzindo�a a condição de objeto de maus�tratos; - É uma forma de violação dos direitos essenciais da criança e do

adolescente enquanto pessoas e, portanto, uma negação de valores

humanos fundamentais como a vida, a liberdade, a segurança; - Tem na família sua ecologia privilegiada. Como esta pertence à esfera

do privado, a violência doméstica acaba se revestindo da tradicional característica de sigilo �( p.11; 74).

Portanto, segundo Azevedo (1990),

�as violências domésticas contra crianças e adolescentes representam

todo ato ou omissão praticada por pais, parentes ou responsáveis contra

crianças e/ou adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico,

sexual e/ou psicológico à vítima, implica, de um lado, uma transgressão

do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisificação da

infância, isto é, uma negação do direito que crianças e adolescentes têm

de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de

desenvolvimento�.(p.63).

A violência contra a criança vem sendo abordada de forma mais incisiva e

sistemática, além de estar despertando o interesse de pesquisadores, principalmente a

partir das duas últimas décadas. Tem revelado, entre outros dados, que é no âmbito

familiar que a violência ocorre com maior freqüência. (Azevedo, 1990).

A criança, desde o nascimento, está sujeita a determinações sociais e

necessita que sejam supridas não só suas necessidades básicas, como também as

afetivas. (Azevedo, 1990).

A compreensão adequada da violência contra crianças exige que se dê

visibilidade ao contexto familiar, visto que, na maioria das vezes, é no seio familiar que

a violência ocorre, demonstrando o seu caráter social e desnudando as relações sociais

que lhe dão sentido. (Adorno, 1989).

Segundo Ruiz (1981), �a família é o agente socializador primário onde a

criança aprende a viver; aprende a defender-se e a lutar; a competir e a sobreviver; e

mais que nada, aprende a tolerar a frustração e a amar� (p.41).

Quando dizemos família, nos referimos àquele conjunto de pessoas que

interrelacionam por um tempo prolongado com o indivíduo e formam um sistema psico-

Page 68: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

social constante; não somente a família nuclear. Ruiz (1981), classifica a família na qual

se verifica um ou vários casos de abuso e maltrato aos filhos, como uma família

disfuncional.

A influência da família no psicodinamismo da criança ocorre em todo seu

desenvolvimento, atuando como elemento facilitador ou inibidor de seu

desenvolvimento normal, sendo vista como um elemento de força a que as crianças

estão sujeitas, num âmbito mais particular, assim como a escola e a própria natureza da

criança, e a sociedade, num âmbito mais amplo. A sociedade estaria, de certo modo,

estimulando a violência, talvez como resposta à frustração, omitindo referências de

negociação em conflitos, de estímulo ao diálogo, promovendo o consumo desenfreado

e restringindo a cada dia possibilidades de usufruir dele. (Ruiz , 1981).

Para Ruiz (1981), quando faltam referências próximas de modelos de

diálogo, cooperação e negociação, as crianças buscam estas referências em objetos

inadequados, que podem gerar mais violência e impedi-las de um crescimento saudável

e adequado, reforçando a experiência negativa e propondo ações ainda mais

delinqüências. Qualquer ameaça ao desejo, um limite, uma frustração em qualquer

empreendimento, uma contrariedade... E a resposta é a violência. Violência contra os

outros, contra si mesmos (como a droga, o suicídio ou sua tentativa), um triste caminho

de desesperança em relação à qualidade melhor e mais gratificante.

O que há de comum às crianças de todo o mundo que lhes rouba as

brincadeiras de infância, a alegria de viver, a possibilidade de elaborar a dor e a

rejeição através de jogos, de leitura ou da conversa? Que lhes tira a capacidade de

pensar o novo, de ousar, de se relacionar com amigos, de refazer a auto-estima quando

abalada? (Jornal do C.F.P., 1997).

É preciso ver o contexto:- desestrutura familiar acirrada pelo desemprego,

reações violentas no lar, alcoolismo, etc. E uma cultura de massa que se apóia no

estímulo ao consumo e na solução violenta de conflitos.

Emprego, diálogo familiar, escola de qualidade, centros da juventude,

programas sociais, de cultura, esporte e lazer, prevenção ao uso de drogas ilícitas,

combate explícito ao uso de armas e aos modelos violentos de solução de conflitos,

diminuição do apelo ao consumo, TV de qualidade, já que a televisão vem se

Page 69: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

solidificando como orientadora e companheira das crianças, invadindo seu espaço com

estímulos sexuais, face aos quais essas crianças ainda não tem condições próprias de

se defender, influenciando, certamente, o desenvolvimento infanto - juvenil, na

formação das mentalidades... Um quadro a reconstruir. Distante da realidade em que

vivemos. (C.F.P., 1997).

A família é a principal responsável pela segurança física e emocional da

criança, cabendo a ela, inclusive em termos legais, a maioria dos direitos e deveres

sobre a criança. Os pais são, praticamente, �proprietários� de seus filhos. (Scott et al,

1991).

A violência doméstica, bem como o mau relacionamento familiar, influem de

maneira acentuada na formação da personalidade da criança. Scott et al (1991)

consideram que o autoconceito da criança depende muito do modo como é tratada

pelos outros, acrescentando que a rebeldia do adolescente está associada à

infelicidade conjugal dos pais.

O fenômeno da Violência Doméstica engloba toda forma de violência física e

psicológica (Guerra e Azevedo, 1993), praticada contra crianças e mostra que isso não

é uma questão de classe econômica ou social, acontece de forma generalizada. A

violência contra a criança praticada pela família é hoje considerada patologia.

Um dos aspectos mais dolorosos é que as atrocidades praticadas pelos pais

contra seus próprios filhos têm muitas vezes como testemunhas mudas e passivas

apenas a quatro paredes que encerram a vida familiar. Além de indefesa e

desprotegida, a criança é também condenada a sofrer em silêncio, temendo a

represálias por parte de seus próprios pais. (Guerra e Azevedo, 1993).

Quantos casos não se conhecem de crianças que, necessitando de

atendimento médico, são obrigadas (ou pelos pais ou pelo medo) a dizer que caíram e

se machucaram. A agressão então dói duplamente, fora e dentro, no psiquismo infantil,

no incremento do medo, na insegurança, no sentimento cada vez mais agudo de

desamparo e desamor. (Guerra e Azevedo, 1993).

Segundo Caminha (1998), o comportamento da criança vítima de violência

doméstica é muito fácil de se diagnosticar, desde que estejamos atentos para percebê-

lo. São crianças que resistem ao contato físico com o adulto, resistem para tirar a roupa

Page 70: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

diante da necessidade de um exame físico, apresentam retardo no desenvolvimento por

carência psico-social, medo dos pais ou adultos de um modo geral. (Caminha, 1998).

Segundo Caminha (1998), trata-se de criança isolada do ambiente, triste,

ansiosa, com baixa auto-estima, com comportamentos extremos de agressividade ou

timidez. Está freqüentemente ausente da escola e, quando presente mostra sinais

claros de maus-tratos.

A criança está cercada pela violência. Sofre dentro de casa, calada e

passivamente, toda sorte de sevícias físicas, mentais e muitas vezes também sexuais,

por parte de seus pais que permanecem impunes e anônimos em sua destrutividade.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância chama a atenção para as

graves repercussões da violência doméstica nas crianças que são expostas a ela.

Baseado em dados mundiais do estudo do Secretário Geral das Nações Unidas sobre a

violência contra crianças e adolescentes, o informe calcula, de maneira conservadora,

que até 275 milhões de crianças estão expostas, atualmente, à violência doméstica.

O estudo mundial, publicado pelo UNICEF e The Body Shop International, destaca o

devastador e duradouro impacto da violência doméstica nas crianças.

Ao definir a violência doméstica como a agressão física, sexual ou mental por

parte de um progenitor ou de uma pessoa que dispensa cuidados, a Unicef conclui que

observar ou escutar episódios de violência doméstica ou, de algum modo, estar

consciente da ocorrência desse tipo de experiências, pode deixar lacunas no

desenvolvimento físico, emocional e social das crianças, tanto durante a infância, como

mais tarde na vida.

As mulheres continuam sendo as principais vítimas da violência doméstica.

Esta violência pode ter efeitos negativos duradouros, segundo afirma Ann M. Veneman,

diretora executiva do UNICEF.

Segundo o informe, as crianças, em cujos lares ou famílias há violência,

não apenas sofrem com a angústia de viver nessas circunstâncias, mas têm uma

probabilidade mais alta de se converter em vítimas de abuso. Calcula-se que 40% das

vítimas de maltrato infantil também sofreram violência doméstica no lar.

Ainda que as crianças não sejam submetidas diretamente a maltrato físico,

estar expostas a episódios de violência doméstica pode ter efeitos graves e duradouros.

Page 71: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

As repercussões começam a se manifestar cedo na vida. De fato, as investigações

mostram que as crianças menores estão mais expostas a este tipo de violência do que

as crianças maiores, e que essas experiências podem alterar seu crescimento mental e

emocional numa etapa crítica do seu desenvolvimento.

O informe também revela que o fator que melhor permite pré-dizer se as

crianças perpetuarão o ciclo da violência doméstica, como perpetradores ou como

vítimas, é ter crescido, ou não, num lar marcado pelo abuso. As investigações indicam

que as mulheres mais maltratadas são aquelas cujos cônjuges sofreram maltrato

quando pequenos ou presenciaram atos de violência contra suas mães. Muitos estudos

também descobriram que as crianças de lares violentos exibem comportamentos mais

agressivos e têm uma probabilidade de se envolver em brigas até três vezes mais

elevada.

O Brasil é campeão da violência doméstica num ranking de 54 países

(Sociedade Mundial de Vitimologia, ONU). A ActionAid é uma ONG que atua há mais

de 34 anos e está presente em 47 países. Incentiva a luta pela eliminação da violência

contra a mulher. Debates sobre a implementação e o cumprimento da Lei Maria da

Penha (Lei 11.340), são realizados, buscando compreender e minimizar as relações de

violência instituída contra a mulher.

Segundo o "Relatório Mundial sobre Violência e Saúde" (Organização

Mundial da Saúde - OMS, Genebra, 2002), estudos mostram que, das mulheres vítimas

de assassinato, de 40 a 70% foram mortas por seus maridos ou namorados,

normalmente no contexto de um relacionamento de abusos constantes". Esse fato

contrasta totalmente com a situação dos homens vítimas de assassinato. Nos Estados

Unidos, por exemplo, apenas 4% dos homens assassinados entre 1976 e 1996, foram

mortos por suas esposas, ex-esposas ou namoradas.

5.2 RAÍZES DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

De acordo com o enfoque psicanalítico, constatados na teoria de Freud, cada

ser humano carrega, na vida adulta, os padrões determinantes de seu comportamento

Page 72: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

afetivo instituídos nos primeiros anos de vida. Pressupõe -se que, ao nascer, o

indivíduo dispõe de um passado na história familiar, do qual sofre conseqüências, que

certamente terá influência na formação de sua personalidade.

O que impulsiona o indivíduo no sentido da integração de sua personalidade,

sob o enfoque da Psicanálise, é o conflito e a inter-relação entre o instinto de vida e o

instinto de morte (Freud, 1920). Ao abrigo deste instinto estão as tendências tanáticas

ou agressivas do homem, coexistindo com um instinto de vida, que abriga as

tendências eróticas, amorosas e construtivas.

A manutenção da vida tem como condição essencial essa inter-relação entre

as duas forças opostas, das quais derivam todas as sensações, emoções, desejos e

atividades. Eros e Tânatos são indispensáveis à sobrevivência do homem.

À medida que o indivíduo se desenvolve espera-se que as tendências

destrutivas que caracterizam o instinto da morte evoluam para as atividades não

destrutivas, que possam ser orientadas socialmente. Tânatos pode ser colocado a

serviço da vida e não da destruição. Freud (1920), nos mostra o homem em conflito

com estes dois instintos básicos: o instinto da vida e o instinto da morte.

Segundo Freud (1920), o homem tem dificuldades em aceitar que tem

pulsões agressivas, capaz, portanto, de praticar ações agressivas contra outros seres

humanos, mais difícil ainda se faz aceitar o fato de que essa agressividade seja voltada

contra a infância. Seres absolutamente indefesos, que se voltam para nós, adultos, em

busca de proteção e amor pode ter como resposta o abandono, o ódio, a destruição.

Para Guerra e Azevedo (1993), essa agressividade natural, que foi

evolucionariamente útil ao homem, perdeu sua utilidade evolucionaria e se transformou,

conjugada com uma série de fatores, em arma muitas vezes mortiferamente usada

contra outros homens. A história tem nos mostrado o homem sucumbindo a toda sorte

de crueldades e massacres, indicando ai um fracasso no desenvolvimento de

comportamentos que possam controlar a destrutividade. Nos momentos de crise social

há um incremento dessa destrutividade. Nessas circunstâncias, condições sociais

adversas, caracterizadas pela miséria, desemprego, fome, falta de perspectivas, etc...

combinam-se, numa alquimia mortífera, com as naturais pulsões agressivas do homem.

O resultado é um aumento da agressividade.

Page 73: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Uma sociedade profundamente em crise, como a nossa, acaba por gerar as

formas mais intensas de violência. O ser humano, com suas pulsões agressivas, com

sua sede de poder, está incrustado nesta crise, está na base dela. A sua capacidade

empática diante do outro diminui, as relações humanas se coisificam e tornam-se cada

vez menos humanas.

Segundo Guerra e Azevedo (1993), uma outra inquietação bastante

freqüente ao se lidar com a violência, reside na forma pela qual se pode explicar a sua

ocorrência. Não existe uma explicação unívoca para o fenômeno, sendo que a

abundante literatura sobre ele registra basicamente o surgimento de três teorias

explicativas: as psicodinâmicas, as de aprendizagem social e as sócias-psicológicas.

As teorias de aprendizagem sociais resgatam a idéia fundamental de que o

comportamento violento pode ser aprendido. Há trabalhos que descrevem os maus�

tratos em três gerações de crianças da mesma família. Nesta teoria, pode�se identificar

o estudo de Steele e Pollock (1968), psiquiatras americanos, que durante pouco mais

de cinco anos acompanharam 60 (sessenta) famílias de classes sociais diversas nas

quais haviam ocorrido agressões significativas em bebês e em crianças pequenas.

Os autores discordam do perfil geralmente formulado dos pais agressores,

no sentido de que sejam considerados como �imaturos�, �levados por impulso�,

�dependentes�, �sadomasoquistas�, �egocêntricos� �narcisistas�. Eles colocam que tais

objetivos são aplicados a agressores de crianças, mas que podem prevalecer e para

todas as pessoas de modo geral, acrescentando pouco a uma compreensão específica

do problema.

A violência doméstica pode ter diversos fatores, das mais diferentes ordens,

dependendo do tipo de hipótese que se estabelece. Estes fatores podem ser de ordem

psicodinâmica, sócio-econômico-cultural. A seguir vai se discorrer sobre cada uma

destas ordens.

O ENFOQUE PSICODINÂMICO DA VIOLÊNCIA E COMPAIXÃO NA FAMÍLIA

As teorias psicodinâmicas �são aquelas que presumem que o

comportamento deve ser primariamente o resultado da interação de forças

Page 74: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

intrapsíquicas�. Estas forças são descritas em termos de traços de personalidade e

estados, medidas através de testes psicológicos ou identificadas por julgamento clínico.

Observa-se que, na literatura de maus-tratos contra a criança, há uma

preocupação excessiva de alguns autores quanto à descrição dos pais agressores em

termos de tipos de personalidade e de traços. Segundo ainda estes autores, as

descrições de personalidade dos perpetradores de violência auxiliariam na prevenção

do problema, identificando-se com antecedência os agressores em potencial.

Ao se familiarizar com este tipo de literatura, onde são abundantes as

descrições da patologia dos pais, tem-se a impressão de que todas as pessoas que

maltratam crianças são portadoras de doenças mentais. Entretanto o ponto de vista

atual é que talvez apenas 10% dos pais que maltratam crianças mostrem desordens

severas de personalidade ou psicoses.

Cabe ao ser humano, no decurso de seu desenvolvimento, passar por

estágios ou fases, que configurariam formas diferentes de organização da libido e que

determinariam as condições de contato com o mundo interno e externo. Duas formas

principais presidem essa organização: na primeira, ou na do princípio primário, há a

supremacia do princípio do prazer sobre o da realidade. Na segunda, ou na do princípio

secundário, ocorre o contrário. (Freud, 1920).

Klein explicita que, uma mente só pode funcionar segundo o princípio do

prazer, a mente vive intensos sentimentos e fantasias de medo e aniquilação, porque o

mundo externo é vivido como se tivesse ficado tão perseguidor quanto às fantasias que

para ele foram expelidas.

Por causa dessa situação, a mente imatura não consegue estabelecer

contato com a realidade externa (porque também não o faz com a interna), não

estabelece uma relação de troca satisfatória; apenas é possível uma relação de

domínio x submissão. Tanto Freud (1920), quanto Melanie Klein (Hinshelwoot, 1992),

mostram que as vivências emocionais nessas formas de organização mental são

violentas. Por isso, para a Psicanálise uma das formas de se pensar a violência é

ligando-a àqueles estados primitivos da mente, nos quais a forma de organização

mental promove as vivências acima descritas. A violência passa a ser vista de dois

ângulos diferentes: o do ataque e o da defesa.

Page 75: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Vários autores acreditam que as condições nas quais ocorre o

desenvolvimento do ser humano determinam uma intricada série de relações

intersubjetivas, estruturando redes de fantasias e de significados que só podem ser

corretamente avaliados se incluídos em uma psicodinâmica familiar.

Costa (1986), refere-se a três tópicos da teoria freudiana na legitimação do

papel da violência (1913, 1920), a saber: a teoria do trauma infantil, a teoria da pulsão

de morte e o estudo sobre totem e tabu. Torna-se evidente que o problema da

violência, em Freud, não se esgota, nestes três tópicos, mas eles contêm o essencial

da teoria psicodinâmica sobre violência.

O primeiro suporte da noção de violência na teoria freudiana é o trauma

infantil, já que para Freud a sexualidade infantil é resultado de três fatores: o estímulo

biológico, o estímulo ligado ao exercício das funções vitais e o estímulo exógeno,

determinado pela excitação da criança pelos pais. Nesta ordem, pode-se qualificar de

violenta a ação do ambiente ou do mundo externo sobre o psiquismo infantil.

A teoria psicanalítica, aos poucos, deixou a concepção da natureza

traumática da sexualidade para uma concepção da natureza violenta deste

traumatismo.

É sabido que em 1920, Freud escreve �Além do princípio do prazer�, onde

cria a noção de pulsão e de morte, que constitui o segundo suporte da noção da

destrutividade na abordagem freudiana. A pulsão de morte coloca no primeiro plano da

vida psíquica, a tendência à destruição do sujeito e do objeto. Ao lado da sexualidade a

destruição passa a ser considerada um dos elementos primordiais no destino da vida

psíquica e social do homem.

O terceiro suporte da noção de violência para Freud, apresentado no estudo

sobre totem e tabu (1913), onde insere a violência como uma conseqüência do �conflito

de interesses�.

Para Freud, a violência é um instrumento de que se servem os homens para

arbitrarem os conflitos de interesse e diz: É, pois, um princípio geral que o conflito de

interesses entre os homens são resolvidos pelo uso da violência.

Page 76: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Segundo Freud (1933), �as guerras só serão evitadas, com certeza, se a

humanidade se unir para estabelecer uma autoridade central a que será conferido o

direito de arbitrar todos os conflitos de interesses�. (p.253).

O reconhecimento de uma identidade de interesses possibilita o surgimento

de vínculos emocionais entre os membros de um grupo de pessoas unidas com

sentimentos comuns, que são a verdadeira fonte de sua força.

Para Freud (1913), a comunidade dos homens se mantém unida por duas

coisas: a força coercitiva da destrutividade e os vínculos emocionais entre seus

membros (Totem e tabu e Psicologia das massas e análise do eu).

INFLUÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-CULTURAL

Os meios da violência também dependem do nível de desenvolvimento

econômico e cultural. Assim como é quase inegável que as interações sociais são

profundamente antagônicas e que nelas a violência circula senão abertamente, ao

menos de modo fiduciário. Considera-se que a violência nasça dos desequilíbrios ou

dos esforços de adaptação dos sistemas, sendo vista como o efeito da marcha

irresistível das forças econômicas.

O grupo representado pelas teorias sócio�psicológicas encontra no sociólogo

Richard Gelles (1979), um grande defensor. Ele propõe uma multiplicidade de fatores

para explicar a violência contra a criança. Analisa basicamente as características

sociais dos agressores, as da vítima e a situação contextual do próprio ato violento.

Gelles (1979), explica que dentre estes fatores podem ser destacados a

posição social dos pais (idade, sexo, situação econômica), seus valores e normas, sua

socialização anterior (principalmente em termos de um aprendizado de violência no

próprio lar), seus traços de personalidade, problemas de ordem neurológica, eventuais

situações de stress que estejam vivendo (tanto ao nível do próprio matrimônio quanto

em termos sócio�econômico como desemprego, isolamento social, problemas

financeiros, etc.).

Estas teorias resgatam fundamentalmente a contribuição da criança para o

ato agressivo. Muitas vezes ela apresenta problemas de saúde (retardo mental, motor,

Page 77: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

mau formações, prematuridade, enurese, encoprese, distúrbios neurológicos, etc.), que

demandam cuidados intensivos dos pais ou, até mesmo pode ser uma criança com

sérios problemas disciplinares, que a família tenta resolver através da imposição de

violência. (Gelles, 1979).

Mais de dois milhões de crianças brasileiras vivem na miséria absoluta e se

confrontam, dia a dia com um mundo de tragédias pessoais e familiares. O abuso e o

maltrato das crianças é um efeito de fatores sócio-econômicos como: o desemprego (já

citado), a marginalidade e a delinqüência. A delinqüência fala do coletivo, dos modos de

organização da sociedade, e também da singularidade do autor do ato infracional, sua

história pessoal, as violências que o vitimaram, a ruptura com o pacto interno com a lei,

seu sofrimento. (C.F.P., 1997).

Outras, mais aquinhoadas, podem estudar, comer e até se verem cheias de

cursos e atividades no dia a dia, com acesso a tecnologia que as pode beneficiar, mas

também confrontar com tudo o que há no mundo, onde sobressaem o consumismo

estimulado, a precariedade de opções no futuro e a dificuldade de relações

interpessoais prazerosas e harmoniosas. Baixa tolerância aos conflitos e frustrações.

(C.F.P., 1997).

Em cinco séculos de história, o Brasil evoluiu econômica e tecnologicamente,

mas perpetua um quadro inaceitável de desigualdade social. É um fenômeno histórico

em nosso país, que se torna transversal na sociedade, isto é, atravessa todas as

classes sociais. (C.F.P., 1997).

Com uma crise econômica acentuada, com elevados índices de

desemprego, a criança e o adolescente pobres são chamados a desempenhar o papel

de contribuidores da renda familiar. O papel da infância e da adolescência dos filhos do

trabalhador pobre continua sendo diferente ao dos pertencentes aos grupos

dominantes. O pobre tem pouca participação futura no desenvolvimento da sociedade.

O pobre está mais no aqui e no agora. A contribuição do pobre está na sobrevivência

imediata dos seus, e não na construção da amanhã, de uma vida melhor, que pertence

aos elementos de uma classe dominante. (Gelles, 1979).

O problema da violência contra a infância não pode ser pensado sem que se

leve em conta à problemática econômico-social, principalmente nos grandes centros

Page 78: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

urbanos. Nestes, como já foi dito, a luta pelo poder, a estimulação constante para o

consumo, as explorações do homem convivem com o desemprego, com a fome, com o

aviltamento do trabalho, o anonimato, a sensação de desamparo, com os grandes

contingentes de migrantes marginalizados da estrutura social e ocupacional. (Gelles,

1979).

A combinação destes fatores, mais a presença de estímulos como o álcool e

as drogas produzem as condições estimuladoras que despertam a violência, levando o

homem a comportar-se de forma regredida e primitiva. (Cordeiro, 1986).

O equilíbrio entre as tendências amorosas e construtivas do homem e suas

tendências destrutivas é, às vezes, extremamente frágil e fácil de ser rompido. As

condições econômicas�sociais que presidem a vida nos grandes centros urbanos

facilitam este rompimento. O social e o psicológico interagem neste cenário de violência

que presenciamos cotidianamente. (Cordeiro, 1986).

Segundo Cordeiro (1986), temos que o agressor seja ele pobre, rico, homem,

mulher, alcoólatra, culto, ignorante, etc., vive no limiar de explosões de violência. Sem

estar preparado para os riscos que implicam em se ter um filho, sente-se acuado diante

das múltiplas exigências que essa criança faz e representa para ele. Exigências que,

além da criança, podem surgir de várias fontes: das expectativas da família, da relação

com o companheiro, da divisão inevitável de tempo e espaço, da energia despendida

na manutenção dos limites mínimos de sobrevivência, das suas próprias expectativas a

respeito de seu desempenho como pessoa e como pai, etc.

A criança acaba se transformando no �símbolo� das pressões que o agressor

vive e no único objeto sobre o qual ainda pode exercer seu poder. Sua impotência é

descarregada sobre a criança que, no momento, representa seu oponente, alguém que

deve ser vencido, o que, em geral, acontece. (Cordeiro, 1986).

Ainda segundo Cordeiro (1986), o tipo de cultura que nós vivemos contribui

enormemente para isso. Não só por ser geradora de tensões para o indivíduo, como

por conceder aos pais o poder absoluto sobre seus filhos. Aí surge outra fonte profunda

de conflito: esse �poder� também significa �dever�. O pai �pode�deve� educar seu filho.

Esse dever pode transformar�se em outra fonte de tensão, aumentando o sentimento

Page 79: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

de impotência. Esta é uma contradição trágica: o agressor só encontra significação

destruindo aquilo que pode gerar.

Num passado, não muito longínquo, cabia ao homem o sustento da família e

o papel profissional, sendo função da mulher o cuidado dos filhos. Hoje, a mulher se vê

diante de uma sobrecarga de funções, acumulando os cuidados com família e a

atividade profissional, pois ela já constitui uma das fontes de renda da família, atuando

como provedora emocional desta, o que acarreta, sem dúvida, a sua indisponibilidade

para a função materna. A mãe insatisfeita e em conflito em virtude das exigências

sociais e pessoais, além dos problemas de ordem sócio-econômica, talvez não consiga

desenvolver sua função materna. (Guerra, 1993).

Essa condição sócio-cultural é reveladora de um processo destrutivo que

impossibilita a organização do núcleo familiar e debilita relações, impedindo que o

desenvolvimento individual de seus membros seja satisfatório. Pode decorrer daí, por

exemplo, o delito que o adolescente comete diante de muitas situações.

O delito do adolescente revela múltiplas determinações: a distribuição

desigual de rendas e de direitos de cidadania, a precariedade das políticas assistenciais

para a criança, a comunidade de convivência, que não se responsabiliza pelas suas

crianças, a escola expulsiva, os meios de comunicação que banalizam a violência, a

família, que inscrita na mesma base material e cultural da sociedade não é um lugar de

cuidados e fracassa no controle da conduta dos filhos. Muitas vezes o ato infracional do

adolescente pode estar revelando histórias de abandono, de trabalho precoce, de

violência doméstica, de fracasso escolar, de erotização da infância, do uso de drogas,

de ausência de perspectivas para o futuro... Revela a ruptura do pacto social, o

rompimento de valores da coletividade, a existência de uma cultura de violência que

produz esse adolescente também agente de violência. (Gelles, 1979).

5.3 CLASSIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A violência contra a criança que varia da psicológica, que não deixa marcas

no corpo, à agressão física, que pode levar à morte, não é um fato recente, criado no

Page 80: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

nosso século. No entanto, apenas há alguns anos ela tem sido vista com mais realismo

e merecido as atenções da ciência.

Para Guerra e Azevedo (1993), a violência perpetrada pelos pais contra os

filhos, com fins pretensamente disciplinadores, no exercício de sua função

socializadora, ou com outros objetivos, assume três facetas principais: física, sexual e

psicológica.

A estas, Koller (1998), acrescenta a negligência, que Azevedo acaba por

incluir na violência física. Ao procurar absorver a essência do que estas duas

especialistas tratam acerca dos tipos de violência tem-se:

FÍSICA

O fenômeno da Violência Física Doméstica foi melhor definido

cientificamente em 1962, a partir de um trabalho publicado por F. Silverman e pelo

neuro-pediatra Henry Kemp, da Sociedade de Pediatria dos EUA, no qual apresentam

749 casos (com 78 mortes) de crianças vitimas do que eles batizam, segundo Ruiz

(1981), de Síndrome da Criança Espancada (The Battered Child Syndrome), que

passou a ser referência e fazer parte do CID - Código Internacional da Doença, da

Organização Mundial de Saúde (p.71).

A partir de 1974, passou-se a registrar com freqüência casos de violência

física em que a maior responsável era a família. Falava-se em fome, em miséria, mas,

quando se analisava profundamente os casos, ficava claro que a violência começava

em casa. Cerca de 90 % dos casos de violência contra a criança são praticados por

cidadãos considerados �normais� pela medicina. (Koller, 1998).

A violência dentro da sociedade brasileira vem atingindo principalmente

crianças e adolescentes pobres de forma cruel e infame. Os assassinatos, torturas e

maus-tratos a que estes são violentamente submetidos têm-se apresentado com um

certo caráter de normalidade. Tais ações não são cometidas de forma individual,

permitindo que a violência seja concebida como um elemento estruturador e

organizador das relações sociais e da suspensão dos conflitos sociais. (Koller, 1998).

Page 81: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Na violência, surgem dois aspectos, um elemento de força física identificável

com seus efeitos, e um outro, mais imaterial, de transgressão vinculada ao dano a uma

ordem normativa. Como dano físico a violência é facilmente identificável; como violação

de normas, quase qualquer coisa pode ser considerada violência. (Koller, 1998).

A intervenção física de um indivíduo ou grupo contra outro grupo (ou também

contra si mesmo) é um sinal de violência. Para que haja violência é preciso que a

intervenção física seja voluntária. Além disso, a intervenção física tem por finalidade

destruir, ofender, e coagir. (Koller, 1998).

Para Koller (1998), a violência física é a forma mais fácil e mais comum de

diagnosticar, visto que está associada a uma forma de punição ou disciplina. Para esta

especialista a punição física pode ser extremamente danosa para a criança do ponto de

vista emocional. Pesquisas nesta área demonstram que esta forma de disciplina conduz

a criança a um estado de extrema confusão, principalmente entre amor e dor, ódio com

submissão. Outras pesquisas, segundo Koller, têm enfatizado que agressão gera

agressão.

Torna-se evidente que crianças submetidas à violência física acabam por

agir de igual forma, ou seja, reproduzem com outras crianças e mesmo com adultos o

que foi aplicado a elas. Aprendem que a violência é uma verdade e que o seu uso é

natural. Esta situação é muito complexa, pois estas pessoas poderão se tornar adultos

anti-sociais, além de reproduzirem a mesma violência em seus relacionamentos

afetivos, incluindo a forma de lidar com seus cônjuges e com seus filhos. (Azevedo e

Guerra, 1993).

Segundo Azevedo e Guerra (1993), é violência física quando a coação se

processa através de maus�tratos corporais (espancamentos, queimaduras, etc.), ou

negligência em termos de cuidados básicos (alimentação, vestuário, segurança, etc.).

Corresponde ao uso de força física no relacionamento com a criança ou o adolescente

por parte de seus pais ou por quem exerce de autoridade no âmbito familiar. Esta

relação de força baseia-se no poder disciplinador do adulto e na desigualdade adulto�

criança.

Pode-se acrescentar o que Gelles (1979) define por violência física, que é

considerada como um ato executado com intenção, ou intenção percebida, de causar

Page 82: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

dano físico à outra pessoa. O dano físico pode ir desde a imposição de uma leve dor,

passando por um tapa até o assassinato. A motivação para este ato pode ir desde uma

preocupação com a segurança da criança até uma hostilidade tão intensa que a morte

da criança é desejada.

O ABUSO SEXUAL

Segundo Azevedo (1988; 1989; 1993), configura-se como

�todo ato ou jogo sexual, relação hétero ou homossexual, entre um ou

mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou utilizá�los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa�

(p.75).

Para Koller (1998), o abuso sexual é definido como qualquer interação

contato ou envolvimento da criança ou adolescente em atividades sexuais que ela não

compreende, não consente, violando assim as regras sociais e legais da sociedade.

Segundo esta especialista as investidas contra criança começam na mais

tenra idade com um contato físico superficial até, por fim, chegar à penetração total.

Neste tipo de violência as meninas costumam ser as vítimas mais freqüentes

e, via de regra, sofrem violência sexual por pessoas bastante conhecidas, incluindo

entre elas a figura paterna. (Koller, 1998).

A VIOLÊNCIA MORAL E EMOCIONAL: REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS NA

CRIANÇA

Para Azevedo (1993),

�a violência é psicológica quando a coação é feita através de ameaças,

humilhações, privação emocional. Apresenta - se sob variadas formas. Também designada como �tortura psicológica�, evidencia -se como a interferência negativa do adulto sobre a criança e sua competência

social, conformando um padrão de comportamento destrutivo� (p.13) Como quando um adulto deprecia uma criança, bloqueia seus esforços de

auto-aceitação, causando-lhe grande sofrimento mental.

Para Koller (1998), este tipo de violência está presente em todas as demais,

podendo variar desde a desatenção até a rejeição total. Por não ser visível é muito

Page 83: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

difícil de ser detectada, não sendo comumente localizada nos levantamentos de que se

tem informação.

Garbarino (1992), refere-se ao abuso emocional �como uma corrupção que

leva a criança a modelos de conduta não aceitáveis pela sociedade, rejeição,

degradação, exploração, isolamento, terrorismo e indisponibilidade emocional� (p.67).

Esta forma de violência psicológica é prejudicial à criança, posto que pode conduzi-las

a conseqüências drásticas como baixa auto-estima, introspecção e depressão.

A violência psicológica apresenta-se associada a outros tipos de violência.

Seis são as formas mais constantemente estudadas (Garbarino e cols.,1992;

Ruiz,1981):

1) Rejeição:- quando o adulto não reconhece o valor da criança nem a legitimidade de

suas necessidades;

2) Isolamento:- o adulto afasta a criança de experiências sociais normais, impede-a de

ter amigos e a faz crer que está só no mundo;

3) Terror:- agressões verbais à criança, onde o agressor instaura clima de medo,

atemoriza e a faz crer que o mundo é hostil a ela;

4) Abandono:- o adulto não estimula o crescimento emocional e intelectual da criança;

5) Cobrança:- expectativas irreais ou extremadas exigências sobre o rendimento

(escolar, intelectual, esportivo), que têm sido mais relacionados com crianças

oriundas de classe média ou alta;

6) Corrupção:- ato de o adulto corromper a criança à prostituição, ao crime ao uso de

drogas.

Como já foi dito o abandono pode ser considerado uma violência psicológica

e pode estar dentro de casa. Para a maioria das pessoas o abandono é sinônimo de

crianças largadas nas ruas ou criadas em entidades assistenciais. No nosso entender o

abandono mais preocupante é o emocional, no qual toda e qualquer criança pode ser

esquecida. Os vínculos afetivos são muito importantes e possibilitam o referencial para

o adulto do futuro. O ser humano precisa de vínculos anteriores para determinar sua

própria vida. (Garbarino e cols.,1992; Ruiz,1981):

Dentro de uma proposta de vida moderna e tendo condições de possibilitar

um equilíbrio financeiro mais satisfatório, muitos pais �esquecem� seus filhos em

Page 84: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

escolas, cursos e outras atividades, impossibilitando a formação de vínculos afetivos de

qualidade. Muitas vezes os pais acreditam que a educação é o bastante para a criação

dos filhos. Estes dados não deixam de constituir uma violência psicológica. (Garbarino e

cols.,1992).

A exploração do trabalho infantil não deixa de ser uma violência psicológica,

muitas vezes inevitável, tendo em vista a complexidade das causas do trabalho infantil,

que podem incluir a pobreza, exploração econômica, valores sociais e circunstâncias

culturais. Sabe-se que o correto seria a garantia da educação gratuita e obrigatória,

além da proteção legal mais ampla. No entanto, o fato da família, na maioria dos casos,

necessitar do trabalho de seus filhos para complementar a renda familiar, faz com que

muito pouco seja feito para reverter este processo. (Floriani, 1998).

Floriani (1998), que também é psicanalista, chama atenção para o fato da

utilização prematura dessa mão de obra trazer conseqüências muito sérias para o

desenvolvimento de garotos. �Se esses meninos perdem o direito de brincar,

certamente tornarão adultos com menos capacidades cognitivas e afetivas�, argumenta.

Este movimento ainda pretende proteger e promover os direitos de todas as crianças,

principalmente no que diz respeito à educação gratuita e de qualidade e ao

compromisso de libertá-las da exploração econômica.

Fala-se que a exploração do trabalho infantil constitui-se em violência contra

criança, porém, cabe-nos ressaltar que, dependendo do tipo de violência, o

desenvolvimento infantil pode ser prejudicado de forma irreparável. Em muitos casos, a

saúde é afetada de modo geral. As conseqüências podem ser detectadas de diferentes

maneiras, podendo afetar a coordenação resistência física, a visão e a audição. A

dificuldade no aprendizado, por exemplo, a alfabetização, indica a dificuldade do

desenvolvimento cognitivo. (Floriani, 1998).

Para este autor, emocionalmente, a criança pode chegar a perder a auto-

estima e os sentimentos de amor e de aceitação. Perder ou ter reduzido os sentimentos

de identidade de grupo, a habilidade de cooperar com outros e a capacidade de

distinguir entre o certo e o errado, são alguns exemplos de dificuldade do

desenvolvimento social e moral. A sociedade, como estrutura estruturante não pode

Page 85: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

mais admitir este tipo de situação, onde crianças são expostas e submetidas às mais

diversas formas de exploração e violência.

Não podemos nos esquecer da pobreza que pode ser entendida como um

tipo de violência. O impacto e as conseqüências psicológicas que a pobreza e a

miséria, como sua forma limite, podem causar na população infanto - juvenil, não

podem ser desprezados, considerando todas as formas de violação de direito que

sofrem as crianças pobres e os que vivem em condições que ultrapassam a linha da

pobreza e os conduzem à miséria. A pobreza e a miséria podem conduzir ao

desentendimento e afastamento natural das pessoas, havendo um distanciamento da

afetividade, tão necessário ara a interação e integração dos membros de uma família.

(Rojas, 1991).

Rojas (1991), define uma forma de violência na família que é, antes de tudo,

violência de um discurso. Designa como discurso familiar os intercâmbios da linguagem

produzidos como circuito grupal. Discurso predominantemente verbal, mas ao mesmo

tempo composto dos elementos não verbais. Assinala como discurso violento àquela

que tem como efeito à anulação do outro como sujeito diferenciado. Define violência

como um exercício absoluto do poder de um ou mais sujeitos sobre outro, não

reconhecido como sujeito do desejo e reduzido, em sua forma externa, a puro objeto.

Ocupou-se de um dos tipos de discurso-violento familiar, ao qual chamou de

sagrado, tratando-se de uns discursos inquestionáveis, caracterizados por certezas

compartilhadas, que impedem as diferenças e a singularidade. É transmitido através

das gerações, tendendo a manter-se tão sólido e estável como os dogmas religiosos e

a perpetuar-se por via de repetição. Carrega assim a marca da irracionalidade e

apodera-se dos sujeitos, restringindo sua liberdade, até a do pensamento. Desta forma,

a família se formula como uma organização estável que tende a preservar seus

integrantes da dor vinculada à consciência da finitude colocando-se como unidade

fusional, fonte de todo amparo e saber. (Rojas, 1991).

A Psicanálise do discurso sagrado tende à remoção da suposta �verdade�,

penumbra contraposta a todo descobrimento. Trata-se de possibilitar que aquilo que se

repete perca sua univocidade quer dizer, possua pelo menos dois significados

diferentes.

Page 86: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

O discurso sagrado apresenta a palavra não no lugar do ato violento, mas,

sim, ela mesma, em função violenta, separando o sujeito do seu desejo e empurrando

cada integrante da família para um lugar fixo e imutável. Esta palavra configura um ato

de violência psicológica.

NEGLIGÊNCIA FAMILIAR

Azevedo (1993), inclui esta forma de violência na condição de violência

física, já mencionada anteriormente. Para Koller (1998), a negligência constitui-se

numa falha dos pais nos cuidados com seus filhos seja na assistência ou no suprimento

das necessidades básicas da criança, como saúde, alimentação, respeito, afeto e

educação.

Compreende-se por negligência o fato da família se omitir em prover as

necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente. Configura-se no

comportamento dos pais ou responsáveis quando falham em alimentar, vestir

adequadamente seus filhos, medicar, educar e evitar acidentes. Tais falhas só podem

ser consideradas como abusivas quando não são devidas à carência de recursos sócio-

econômicos (Azevedo e Guerra, 1988).

A negligência acaba por ser responsável por mais de 50% dos casos em que

a violência é notificada. Koller (1998), ainda se refere à negligência como um grave

problema de saúde pública, que deve ser acompanhado de perto por uma equipe

multiprofissional, acreditando que os efeitos deste tipo de violência, a longo prazo, pode

ser mais nocivo à criança.

5.4 REPERCUSSÕES PARA A CRIANÇA: EFEITOS DO PACTO DO SILÊNCIO

SOBRE A VIOLÊNCIA NA FAMÍLIA

Page 87: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

No que se refere ao âmbito familiar, a Psicologia Social vem questionando os

esteriótipos a respeito da família, principalmente no que tange às famílias de classes

populares tidas como desorganizadas, com pais pouco afetivos, violentos,

desinteressados por seus filhos.

Pesquisas apontam o contrário a esse respeito; a luta pela sobrevivência, a

ajuda da vizinhança, a luta pela escolarização de seus filhos dentre outras questões

(Mello, 1998). Tem-se detectado que os pais de crianças pobres têm procurado a ajuda

de especialistas na tentativa de resolução de suas dificuldades, enfrentando, no geral,

dias, semanas, meses, aguardando em longas filas de espera ou passando por

diversos encaminhamentos até conseguir um atendimento em um serviço escola ou

público da saúde mental. Parece tratar-se de preocupação com as crianças e de busca

de melhores condições de vida e de saúde nas classes populares.

Krestan e Bepko (1994) referem-se aos segredos e silêncio que ocorrem na

dinâmica familiar. Afirmam que as crianças podem manter segredos letais relacionados

a incesto ou abuso sexual, que configuram a violência praticada contra seres indefesos,

fazendo com que cada vez mais a família avance para níveis mais profundos de

disfunção, fazendo com que a necessidade de manter o segredo torne-se mais

vigorosa, já que a ameaça de desabar torna-se demasiadamente forte. Os membros da

família sabem que jamais devem revelar o segredo do problema a qualquer um de fora

ou mesmo a cada um de dentro da família.

A manutenção desses segredos alimenta a negação: o que está escondido

não existe realmente e não precisa ser discutido.

O silêncio impera na vida familiar. O segredo emocional entre e dentro dos

membros da família torna-se a norma. Black (1981), comenta sobre esta dinâmica ao

referir-se pela primeira vez às mensagens do �não falar, confiar ou sentir� que

predominam na família adictiva. O segredo ou a negação é mantido pelo silêncio.

Todos os membros da família retraem-se emocionalmente uns dos outros. No processo,

a capacidade para a mútua satisfação das necessidades e para o crescimento tem seu

desenvolvimento paralisado. A família oscila entre extremos de profundo silêncio e falta

de engajamento e períodos de extrema reatividade que mascaram a emoção autêntica.

Page 88: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Uma emoção é expressa como algo mais: a raiva torna-se violência, a

tristeza torna-se cólera, o medo torna-se fúria, o desespero torna-se uma profunda

necessidade de controlar, a dependência torna-se vergonha. Os sentimentos reais

tornam-se escondidos e não�manifestados.

As famílias desenvolvem o processo de negação tanto interna como

interacionalmente e o segredo é mantido em muitos �locais� e por muitas dinâmicas

diferentes. A violência pode ser negada por um ou mais membros da família. (Krestan e

Bepko, 1994).

À medida que a família luta para manter o problema em segredo, ocorre o

aumento no isolamento social. A auto�estima na família é corroída, e uma atmosfera

crescente de vergonha e medo contribui para um maior silêncio. Eventualmente

tentativas para controlar os problemas são abandonadas, e o cônjuge e os filhos

reorganizam-se como uma unidade, da qual o agressor é excluído. O problema jamais é

discutido, ou é reconhecido apenas entre certas díades na família, com o resultado da

formação de intensos triângulos, abalando ainda mais a estabilidade familiar. (Krestan e

Bepko, 1994).

Krestan e Bepko, (1994), afirmam que os membros da famíliaassumem um

posicionamento de Não falar sobre o comportamento problemático, o que dificulta os

recursos de relacionamento e mantém os segredos. O segredo priva a família de

informações que lhe permitiria assumir uma ação. Em algumas famílias, a exigência por

segredo é uma extensão de regras ou padrões entre as gerações e pode ser afetada

pelas normas étnicas ou culturais.

As pessoas escondem informações porque sentem que seria desleal ou uma

traição expô-las. Em famílias em ascenção social, a emotividade frequentemente é

altamente contida, a presença de um segredo vergonhoso apenas intensifica o silêncio.

As pessoas estão sendo seriamente privadas de seu próprio senso de self. (Krestan e

Bepko, 1994).

Dentro de um trabalho de atendimento psicológico, a situação não é

diferente, nem menos grave. No caso específico de atendimento infantil, os pais

buscam atendimento na firme intenção de encontrar ajuda para alguma queixa que

Page 89: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

julgam significativa e, muitas vezes, sentem-se incapazes de lidar com a situação de

crise, já instalada.

Quando uma criança é conduzida a um trabalho de atendimento psicológico,

em geral, carrega uma queixa específica. Algo incomoda seus pais, que realizaram sua

inscrição para atendimento psicológico. No relato, a queixa surge espontaneamente.

Os pais acreditam que o que apresentam como queixa é realmente o motivo pelo qual

se dirigem ao processo de tratamento. Não estão preparados para se depararem com

seus próprios conflitos, deslocados para as pessoas de seus filhos. (Segre, 1997).

É freqüente ocorrerem desistências por parte dos pais, encontrando muitas

justificativas para poderem encobrir a realidade dos fatos, ou seja, não se sentem

preparados para romperem ou para se depararem com os segredos da família. (Krestan

e Bepko, 1994).

É fato que muitas situações, ao longo do atendimento, não são

mencionadas. As situações de violência também são tidas como inatingíveis. Ninguém

fala a respeito. O paciente, seus pais, o estagiário que efetua o atendimento, o

supervisor tecnicamente responsável pelo caso, ninguém parece detectar a violência

propriamente dita.

De forma consciente todos demonstram muito interesse em lidar com os

conteúdos mais profundos dos pacientes, porém poucos são os que conseguem

transpor a regra já instituída. A família parece estar protegida por uma imensa couraça,

que permite que algo seja feito, desde que o que está previamente estabelecido não

sofra qualquer condição de ameaça.

Como há um pacto de silêncio a violência pode não estar implícita na queixa

que vem trazendo a criança para a clínica. O pacto do silêncio acaba sendo um

problema da sociedade. O terapeuta faz parte da sociedade. Nesta ordem, O próprio

terapeuta pode, inconscientemente, não captar a violência. A violência não captada é

expurgada do foco, o que, certamente, trará influência na psicoterapia.

5.5 UMA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO PARA OS TIPOS DE VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA

Page 90: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Quando é possível avaliar a ocorrência da violência doméstica, pode-se ater-

se ao seu modo de funcionamento e à intensidade de sua interferência na dinâmica

familiar. Para tanto, avalia-se a freqüência e o grau de conflitividade da ocorrência da

violência doméstica, levando-se em conta seus tipos, com o propósito de sua

caracterização.

A violência física, designada como um dos tipos de violência, ocorre com

maior freqüência e é mais facilmente identificada, face aos danos que pode causar às

pessoas, embora nem sempre possa ser percebida claramente. A violência física é vista

por Koller (1998), como o tipo mais fácil e mais comum de ser diagnosticada, estando

associado a uma forma de punição ou disciplina.

Segundo Azevedo (1993), ocorre violência física quando a coação se

processa através de maus-tratos corporais (espancamentos, queimaduras, etc.), ou

negligência em termos de cuidados básicos (alimentação, vestuário, segurança, etc.).

Corresponde ao uso de força física no relacionamento com a criança ou o adolescente

por parte de seus pais ou por quem exerce autoridade no âmbito familiar.

A violência física é considerada, segundo Gelles (1979), como um ato

executado com intenção real, ou intenção percebida pelo outro, de causar dano físico à

outra pessoa. O dano físico pode ir desde a imposição de uma leve dor, passando por

um tapa até o assassinato.

Outro tipo de violência é a sexual que, segundo Azevedo (1993), configura-

se como:

�todo ato ou jogo sexual, relação hétero ou homossexual, entre um

ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por

finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou utilizá�los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de

outra pessoa� (p.75).

Para Koller (1998), o abuso sexual é definido como qualquer interação,

contato ou envolvimento da criança ou adolescente em atividades sexuais que ela não

compreende, com as quais ela não consente, violando assim as regras sociais e legais

da sociedade.

O terceiro tipo de violência é a psicológica, que pode apresentar-se sob

variadas formas. Segundo Azevedo (1993), a violência é psicológica quando a coação

Page 91: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

é feita através de ameaças, humilhações, privação emocional. Também designada

como �tortura psicológica�, evidencia -se como a interferência negativa do adulto sobre

a criança. A violência psicológica também pode ser demarcada quando um adulto

deprecia uma criança, bloqueia seus esforços de auto - aceitação, causando-lhe grande

sofrimento mental.

Para Koller (1998), este tipo de violência está presente em todas as demais,

podendo variar desde a desatenção até a rejeição. Segundo Garbarino, (1988), são

seis as formas mais constantemente estudadas: Rejeição, Isolamento, Terror,

Abandono, Cobrança, Corrupção.

Por fim, tem-se a negligência que, para Koller (1998), constitui-se numa falha

dos pais nos cuidados com seus filhos, seja na assistência ou no suprimento das

necessidades básicas da criança, como saúde, alimentação, respeito, afeto e

educação. Compreende-se por negligência o fato da família se omitir em prover as

necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente.

Os capítulos sobre Entrevista Psicológica, Violência Doméstica e

Psicoterapia Breve foram escritos para dar sustentação teórica ao trabalho. Os temas

centrais abordados, Violência Doméstica e Psicoterapia Breve, a princípio parecem

constituir pólos antagônicos. No entanto, podem, em um dado momento, compartilhar

um mesmo processo, já que a especificidade da técnica de Psicoterapia Psicodinâmica

Breve supõe dispor de recursos específicos bastante adequados para lidar com

situações onde são evidenciados sinais de violência, sobretudo violência doméstica.

Page 92: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

PROBLEMA E OBJETIVOS DA PRESENTE PESQUISA

PROBLEMA

O problema do presente estudo refere-se às interferências da violência

doméstica na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil. O atendimento em

Psicoterapia Breve exige que o terapeuta estabeleça um papel ativo, que avalie a

situação do paciente, compreenda a essência de sua problemática, elabore um plano

de abordagem, sempre levando em conta a duração do trabalho, dentro de uma

flexibilidade que permita se adequar à necessidade de cada quadro clínico. O terapeuta

deverá estar alerta aos sinais de violência doméstica apresentados pela criança, na

fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil.

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Investigar a presença de dados inferidos sobre violência doméstica na fase diagnóstica

da Psicoterapia Breve.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Investigar, nos casos em que se observa a violência doméstica num grau de

intensidade significativo, em quantos deles ela se mostra relevante para a

compreensão do quadro clínico apresentado pelo paciente, na fase

diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil.

Page 93: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

b) Investigar com que freqüência observa-se a violência doméstica na dinâmica

familiar, na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil, através das

seguintes formas de manifestação: física, sexual, psicológica e negligência.

c) Investigar, nos casos em que se observa a violência doméstica, em quantos

deles ela foi incluída, pelo terapeuta, na queixa, bem como na compreensão

psicodinâmica da mesma e no foco.

CAPÍTULO VI

A CLÍNICA � ESCOLA ONDE FOI REALIZADA A PESQUISA

6.1. LINHA DE TRABALHO

Na Clínica Psicológica onde foi realizada a pesquisa os estágios se norteiam

por uma concepção básica sobre a forma de atuação do psicólogo, ou que seja, até

mesmo à luz de uma filosofia básica de ação, inclusive quanto ao tipo de profissional

que se pretende formar, conforme vem explicitado nos seguintes aspectos:

1) Em relação ao estagiário

a) Proporcionar ao aluno condições de ter reais e efetivas experiências profissionais,

devidamente refletidas.

b) Embora não se despreze o fator intensidade e/ou profundidade da experiência, o

que se pretende não é, em primeiro lugar, levar o aluno a se centralizar numa

única experiência, mas a vivenciar uma diversidade maior de situações. Trata-se

de curso de formação e não de especialização.

c) Dar ao aluno uma visão de Psicologia Clínica menos elitista, talvez até menos

�pretensiosa�, e mais condizente com a realidade de nossa comunidade.

d) Desenvolver no aluno uma atitude favorável e um preparo técnico adequado ao

atendimento de pessoas que, por condições culturais e sócio - econômicas, ficam

à margem da assistência psicológica.

e) Desenvolver no aluno uma atitude preventivista.

Page 94: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

2) Em relação à comunidade

a) Em termos dos estágios a serem oferecidos e dos serviços a serem prestados, a

clínica tem como preocupação básica o atendimento às necessidades da

comunidade.

b) Sem desconsiderar a qualidade do trabalho e, inclusive, dentro do enfoque

preventivista, estender tais serviços a um maior número possível de clientes.

6.2. VARIÁVEIS SÓCIO DEMOGRÁFICAS DOS PARTICIPANTES

A referência feita ao trabalho realizado em uma clínica-escola possibilita um

esclarecimento acerca dos procedimentos que conduzem um paciente, a partir do

momento da inscrição, aos serviços psicológicos.

Messer e Warren (1995), sugerem uma atenção cuidadosa na seleção de

pacientes que possam se beneficiar do trabalho em Psicoterapia Breve. Estes

pacientes necessitam de uma organização egóica e, segundo Oliveira (1999), Messer e

Warren �dão ênfase à importância da experiência real do paciente na relação

terapêutica� (p.11), de modo a possibilitar ao paciente lidar adequadamente com as

intervenções feitas pelos terapeutas, já que estes têm um papel bastante ativo.Da

mesma forma deverá proceder uma seleção de terapeutas com condições pessoais e

técnicas, e com motivação para o trabalho.

Szajnbok (1997), refere-se ao paciente ideal para a Psicoterapia Breve

�como sendo um neurótico, inteligente e auto-reflexivo, no qual a demanda (discurso explícito, consciente, expresso na chamada

motivação para mudança) se articule ao desejo (inconsciente, referente à situação edípica, expresso na transferência), de modo que ambos se

refiram a um ponto específico de estrutura (foco), passível de ser

trabalhado dentro das limitações de tempo e dos demais aspectos

conjunturais a que estamos submetidos� (p.51).

O paciente que busca atendimento psicológico em uma clínica-escola, em

geral, é desprovido de recursos financeiros que possibilitem subsidiar seu tratamento.

Page 95: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

As condições sócio-econômicas a que estão expostos geralmente são

precárias, constituindo uma realidade própria, distante do que se supõe necessário para

a organização e integração de um indivíduo no contexto social.

A realidade da clínica-escola da Universidade Guarulhos não é diferente. Via

de regra, são pessoas que residem em bairros periféricos, com baixa renda, com nível

mínimo de instrução, apresentando precárias condições de subsistência. Muitas vezes,

são jogadas de instituição em instituição, na busca de uma vaga, difícil de ser

conseguida.

Sem nenhum esclarecimento, mal sabem dizer o que os trouxe à clínica, ou

por que �alguém� os teriam encaminhado. Tratam-se de pessoas carentes, que buscam

na orientação psicológica uma forma de melhor direcionar suas vidas.

6.3. OS ATENDIMENTOS EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL REALIZADOS

EM 2006

Ao longo do ano de 2006, na Clínica-escola de Psicologia da Universidade

Guarulhos, 67 crianças foram atendidas em Psicoterapia Breve Infantil, assim como

seus pais foram trabalhados em um processo de Orientação de Pais. Deste total, 30

tiveram seus atendimentos concluídos, 25 foram reconduzidas à Psicoterapia Breve

Infantil, a maioria com proposta de um novo foco a ser trabalhado e 12 pacientes foram

encaminhados a outras instituições, para um trabalho de duração prolongada.

Page 96: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

CAPÍTULO VII

MÉTODO

7.1. CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DOS PARTICIPANTES

A amostra da presente pesquisa constituiu-se a partir das 67 crianças que

foram atendidas em Psicoterapia Breve Infantil (P.B.I.) durante o ano de 2006, na

Clínica-escola de Psicologia da Universidade Guarulhos. Foram sujeitos da amostra

todos os pacientes que tiveram seus atendimentos considerados concluídos por alta,

num total de 30. Das 37 crianças que não concluíram o atendimento e que, portanto,

não foram incluídas na amostra, 25 foram reconduzidas para atendimento em

Psicoterapia Breve Infantil, com proposta de delimitação de um novo foco, e 12 foram

encaminhadas para outras instituições com proposta de atendimento a longo prazo.

Dos 30 pacientes que integram a amostra, 16 são do sexo feminino e 14 são

do sexo masculino. Os 16 sujeitos do sexo feminino estão com idades que variam de 05

a 12 anos, partindo de crianças sem escolaridade até as que cursavam o 8º ano do

Ensino Fundamental. Os 14 sujeitos do sexo masculino têm idades que variam de 05 a

10 anos, com escolaridade que corresponde da Educação Infantil até o 6º ano do

Ensino Fundamental.

Quanto à idade dos sujeitos da amostra, considerou-se a idade completa da

criança até cinco meses, arredondando-se para um ano acima, para as crianças com

idade igual ou superior a seis meses, por exemplo: uma criança de sete anos, é

Page 97: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

considerada entre 6,6 a 7,5 anos, uma criança de oito anos, entre 7,6 a 8,5

anos.

Quanto à escolaridade, os sujeitos da amostra encontram-se numa faixa que

vai do nível da Educação infantil ao 8º ano do Ensino Fundamental, estando

distribuídas da seguinte forma: 02 na Educação Infantil, 06 no 2º ano, 02 no 3º ano, 09

no 4º ano, 03 no 5º ano, 05 no 6º ano, 01 no 8º ano, estando duas crianças sem

escolaridade.

No quadro I, a seguir, pode se verificar a constituição da amostra de acordo

com a idade, escolaridade e o sexo.

Quadro I

Distribuição da Amostra quanto ao sexo, idade e escolaridade

Idade Escolaridade Feminino Masculino TOTAL

05 S/escolaridade. 02 00 02

05 Ed. Infantil 01 01 02

06 2º ano 00 01 01

07 2º ano 01 04 05

08-09 3º ano 00 02 02

08-10 4º ano 05 04 09

10-12 5º ano 02 01 03

10-11 6º ano 04 01 05

12 8º ano 01 00 01

T O T A L 16 14 30

Page 98: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Quanto à queixa, quando um paciente recorre a um trabalho de

acompanhamento psicoterápico, é presumível que tenha uma ou várias, que se refere

ao motivo da consulta, que muitas vezes se transforma no eixo do trabalho.

Quanto à compreensão psicodinâmica da queixa, vimos como significativo

investigar a queixa de forma mais completa e conhecer a história, tanto da criança

quanto de seus pais, sempre buscando uma compreensão do funcionamento psíquico

do paciente. Esta etapa visa avaliar a queixa e entender a dinâmica da criança e de

seus pais (história), para que se tenha uma compreensão mais integrada do quadro

clínico do paciente. Trata-se de um momento de vital significado na compreensão da

sintomatologia do quadro clínico do paciente.

Quanto ao foco, considerou-se como o ponto central a ser trabalhado, o

objetivo central do terapeuta, é o que dá sustentação a todo processo de tratamento

psicoterápico e quanto mais delimitado o foco, maior é a chance de sucesso da terapia.

No caso do atendimento em Psicoterapia Breve Infantil, o foco é a área de

intersecção, uma área de conflito pertencente aos pais e à criança, manifestada como

um sintoma na criança a partir da relação que se estabelece com os pais.

O tempo médio da terapia (P.B.I.) a que foram submetidos os sujeitos da

pesquisa, foi de 03 meses, o que corresponde, aproximadamente a 12 sessões, tendo

sido o atendimento realizado semanalmente.

7.2. CRITÉRIOS UTILIZADOS NA ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DA VIOLÊNCIA

E DA FORMA COMO ELA FOI ABORDADA NO TRATAMENTO CLÍNICO.

Para a definição dos critérios de análise da violência doméstica, tomou-se

por base a sua compreensão e caracterização para fins da presente pesquisa,

conforme consta do capítulo V, item 5.5, página 89. A análise foi feita a partir de uma

leitura criteriosa dos relatórios dos atendimentos realizados na fase diagnóstica da

Psicoterapia Breve Infantil, orientando-se por um roteiro, que contém as seguintes

questões e na seguinte ordem:

1ª) A violência está presente na dinâmica familiar? Se estiver, assinale a sua categoria:

F (física), P (psicológica), S (sexual), N (negligência). Em caso negativo, ficaram

Page 99: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

prejudicadas as questões seguintes. Em caso afirmativo, deu-se prosseguimento à

análise, nos seguintes termos:

2ª) A violência doméstica foi significativa para o quadro clínico do paciente?

3ª) A violência doméstica foi incluída na queixa?

4ª) A violência doméstica foi incluída na compreensão psicodinâmica da queixa?

5ª) A violência doméstica foi incluída no foco?

Para a análise da ocorrência da violência doméstica, de acordo com as

questões definidas acima, utilizaram-se dois juízes. No caso de discordância entre os

dois, recorreu-se a um terceiro, mantendo-se a opinião sobre a qual houve acordo entre

dois juízes. A escolha dos juízes se deu mediante a qualificação profissional específica

de cada um que, antes de mais nada, está vinculada à técnica de Psicoterapia Breve

Infantil. Um dos juízes (Juiz A) atua como supervisor de estágio em Psicoterapia Breve

Infantil em clínicas-escola. O segundo juiz (juiz B) é supervisor de estágio na disciplina

de Exploração e Diagnose em Psicologia Clínica, etapa que antecede a Psicoterapia

Breve, que pode corresponder à fase diagnóstica, mencionada e utilizada na realização

dentro deste trabalho. O terceiro juiz (Juiz C), convidado a intervir somente nos casos

de discordância entre os juizes A e B, é supervisor de Estágio em Psicoterapia Breve

Infantil em Clínicas-escola.

Os juízes receberão instruções quanto ao preenchimento de uma planilha,

para lançamentos dos dados da análise. Na primeira coluna da planilha, serão lançados

os dados da ocorrência da violência doméstica, na segunda coluna, os dados

computarão se a violência doméstica na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil

detectada foi significativa, na terceira coluna, serão lançados os dados da violência

doméstica que foi incluída na queixa, na seqüência, na quarta coluna, lançar-se-ão os

dados da violência doméstica que foi incluída na compreensão psicodinâmica da queixa

e, por fim, na quinta coluna, serão lançados os dados da violência doméstica que foi

incluída no foco trabalhado no processo terapêutico.

Procurou-se detalhar aos juizes o conceito de violência, bem como o

conceito e abrangência da violência doméstica. A explanação foi feita oralmente em dia

e horário previamente agendados com os juízes.

Page 100: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Explicitou-se aos juízes que a violência é associada à agressividade

instintiva, que nasce da agressividade do homem, surge como uma conseqüência do

conflito de interesses. Torna-se um instrumento utilizado pelo homem para organizarem

os conflitos. Pesquisadores que estudam a relação violência-saúde têm definido a

violência como um fenômeno gerado nos processos sociais, levando as pessoas a se

agredirem mutuamente, a se dominarem, a tomarem à força a vida, o psiquismo, os

bens e/ou patrimônio alheio. Existe uma violência estrutural, que se apóia sócio-

econômica e politicamente nas desigualdades, apropriações das classes e grupos

sociais; uma violência cultural que se expressa a partir da violência estrutural, mas a

transcende e se manifesta nas relações de dominação raciais, étnicas, dos grupos

etários e familiares; uma violência da delinqüência, que se manifesta naquilo que a

sociedade considera crime, e que tem que ser articulada, para ser entendida, à

violência da resistência que marca a reação das pessoas e grupos submetidos e

subjugados por outros, de alguma forma.

A violência se manifesta como violência fundamental porque se refere aos

fundamentos de toda estrutura da personalidade. A violência ocorre em todos os

ambientes, em todas as épocas e em todas as relações, surgem dos registros latentes

e das angústias criadas pelas lacunas, pelos fracassos, pelas carências e pelas

impossibilidades de elaboração mental.

Neste estudo, a violência se ateve a um roteiro de critério de análise, o qual

obedece aos objetivos específicos definidos no capítulo VI, página 80, bem como as

questões acima formuladas. Vem a seguir o roteiro de critério de análise.

7.3 PROTOCOLO PARA CLASSIFICAÇÃO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Pacientes que apresentaram Violência Doméstica � Considerar que houve violência

doméstica quando se observa com relativa persistência ou, ainda que poucas vezes,

mas com intensidade significativa, a ocorrência de condutas violentas, entre marido e

mulher, ou entre pais e filhos, que impliquem alguma forma de ação intencional de

Page 101: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

causar dano à outra pessoa. Estas condutas devem ser classificadas numa das

seguintes modalidades: Física, Sexual, Psicológica e Negligência. Somente as iniciais

do tipo de violência doméstica deverão ser incluídas na planilha para lançamento dos

dados da análise da referida violência, ou seja, F, S, P, N.

Violência Corporal: Corresponde ao uso da força física no relacionamento entre pais,

dos pais com a criança ou adolescente. Maus-tratos corporais

(espancamentos, queimaduras, etc).

Violência por Conduta

Sexual Impulsiva: Todo ato ou jogo sexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou

adolescente, com o propósito de estimular sexualmente esta

criança ou o adolescente ou utilizá-los para obter estimulação sobre

sua pessoa ou de outra pessoa.

Violência por assédio

psicológico e moral: Varia desde a desatenção até a rejeição total.Isolamento,

abandono, terror, cobrança, corrupção. Coação feita através de

ameaças, humilhações, privação emocional.

Negligência: Falha dos pais nos cuidados com os filhos seja na assistência ou no

suprimento das necessidades básicas da criança: saúde, alimentação,

vestuário, segurança, respeito, afeto e educação.

Ocorrência da Violência Doméstica significativa: Considera-se a violência doméstica

significativa para o quadro clínico quando, independentemente do paciente tê-la

explicitado ou não, tê-la incluído na queixa ou não, verifica-se que a violência doméstica

teve reflexo no quadro clínico apresentado pelo paciente no atendimento que está

sendo objeto de análise.

Page 102: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Inclusão da Violência Doméstica na queixa: Considera-se a violência doméstica

incluída na queixa quando o paciente explicita esta violência na sua queixa, como

fazendo parte dela ou como sendo objeto da queixa ou estando associada ao núcleo da

sua queixa. A análise é feita a partir das primeiras entrevistas realizadas pelo estagiário

e não a partir da folha de encerramento.

Inclusão da Violência Doméstica na compreensão psicodinâmica da queixa:

Considera-se que houve inclusão da violência doméstica na compreensão

psicodinâmica da queixa quando esta violência fizer parte integrante da compreensão

que o estagiário e o supervisor tiveram da queixa, conforme consta da folha de

encerramento.

Inclusão da Violência Doméstica no foco: Considera-se que houve inclusão da

violência doméstica no foco, quando esta violência doméstica que se pretendeu

trabalhar, foi explicitamente incluída no foco, conforme consta da folha de

encerramento, nos termos em que o foco se encontra definido.

Tendo sido prestados todos os esclarecimentos necessários, um dos juizes

(juiz A) recebeu a remessa de 30 prontuários a serem analisados, constando, em cada

um deles, a ficha de inscrição do paciente, a entrevista de triagem, as entrevistas que

compõem a fase diagnóstica e a folha de encerramento. Assim que o juiz A entregou a

análise dos 30 prontuários, procedeu-se a entrega da remessa ao juiz B. Constatadas

as divergências entre os juizes A e B, o juiz C foi convidado a dar seu parecer sobre os

prontuários em que foram pontuadas as discordâncias.

7.3. PROVIDÊNCIAS ÉTICAS

Para a realização desta pesquisa as providências éticas estão diretamente

relacionadas ao sigilo profissional em que impliquem garantir e preservar a identidade

dos trinta pacientes que constituíram a amostra.

Os pacientes foram identificados por números.

Page 103: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

CAPÍTULO VIII

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Conforme previsto no capítulo sobre Método, todos os sujeitos tiveram seu

material (entrevistas diagnósticas) analisado pelos juízes A e B. Nos casos em que

houve discordância entre esses dois juízes, ainda que em uma só questão, o material

também foi analisado por um terceiro juiz, (juiz C). Considerou-se nesses casos, para

fins de tabulação dos resultados, o julgamento em cada uma das questões propostas

sobre o qual houve acordo entre dois juízes.

Os resultados gerais de todas as análises feitas pelos juízes podem ser

vistos no quadro II, página 104. O quadro é apresentado em 05 colunas, referentes aos

dados levantados na análise feita pelos juízes.

Os lançamentos dos resultados gerais no Quadro II, se fez de acordo com os

seguintes critérios:

1) Na primeira coluna, foram lançados os dados de violência doméstica analisados

pelos juizes A e B (em casos de discordância, foram incluídas as análises do juiz

C). Para estes dados, utilizaram-se as siglas: F,P,N,S, para os tipos de violência

doméstica detectados, a saber, respectivamente: física, psicológica, negligência

e sexual.

2) Na segunda coluna, foram lançadas as letras �S� ou �N�, conforme o juiz tenha

considerado a violência doméstica como significativa (S) ou não (N).

Page 104: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

3) Na terceira coluna, foram lançadas as letras �S� ou �N�, para os casos em que se

considerou que houve ou não inclusão da violência doméstica na queixa.

4) Na quarta coluna, foram lançadas as letras �S� ou �N�, para os casos em que se

considerou que houve ou não inclusão da violência doméstica na compreensão

psicodinâmica da queixa.

5) Na quinta coluna, foram lançadas as letras �S� ou �N�, para os casos em que se

considerou que houve ou não inclusão da violência doméstica no foco.

QUADRO II: RESULTADOS GERAIS DE TODAS AS ANÁLISES FEITAS PELOS

JUÍZES A, B e C .

CASO VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA

SIGNIFICATIVA

INCLUSÃO

NA QUEIXA INCLUSÃO NA

C.P.Q. INCLUSÃO

NO FOCO

A B C A B C A B C A B C A B C

01 F F S S S S N N N N

02 P,N P,N P,N S S S N N N N N N S N S

03 F,P,N F,P,N S S N N N N N N

04 F,P,N F,P,N S S N N S S N N

05 - - - - - - - - - -

06 P,N P,N N N N N N N N N

07 P P N N N N N N N N

08 P,S,N P,S,N S S N N N N N N

09 P,N P,N F,P,N N N S N N N S N N N N N

10 P P N N N N N N N N

11 P P N N N N N N N N

12 - - - - - - - - - -

13 P,N P,N N N N N N N N N

14 P,N P,N S S N N S S N N

15 P,N P,N S S N N S S N N

16 P,N P,N N N N N N N N N

17 P,F P,F N N N N N N N N

18 P,N P,N F,P S N S N N N N S N N N N

19 P,N P,N F,P,N S S S S N S S S S N N N

20 - - - - - - - - - -

21 - - - - - - - - - -

22 P,N P,N S S N N N N N N

23 P P N N N N N N N N

24 - - - - - - - - - -

25 P P N N N N N N N N

Page 105: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

26 P P N N N N N N N N

27 P - P N - S N - N N - N N - S

28 F,P F,P S S S S S S N N

29 P P S S S S S S S S

30 F,P,N F,P,N S S S S S S N N

Legenda da coluna �Violência Doméstica�:

F: violência física; P: violência psicológica; S: violência sexual; N: negligência.

Obs: onde não consta nenhum tipo de violência é porque na análise feita pelos juízes,

não foi detectada a ocorrência de violência doméstica).

Legenda das demais colunas: S: sim; N: não.

Pode-se considerar que houve boa consistência entre as análises dos dois

juízes, havendo concordância em 25 dos 30 casos analisados. As discordâncias entre

os 05 sujeitos ocorreram da seguinte forma: uma, na inclusão da violência doméstica no

foco; duas, na inclusão da violência doméstica na compreensão psicodinâmica da

queixa; uma, ao se constatar se a violência doméstica foi significativa; uma, na inclusão

da violência doméstica na queixa e uma, ao se verificar se houve violência doméstica,

totalizando 06 discordâncias, em 05 casos analisados. Observa-se, portanto, que foi

baixo o índice de discordância, além do que, não houve nenhuma tendência, maior ou

menor, em termos de predomínio de discordância em nenhum dos dados analisados.

Quanto à presença do tipo de violência doméstica, houve discordância em

apenas um caso, no que se refere à inclusão da violência doméstica do tipo psicológico

no caso de número 27. Cabe agora uma observação especial quanto a este caso.

Enquanto o Juiz A entendeu haver violência doméstica do tipo psicológico, o Juiz B não

detectou haver violência doméstica. Recorreu-se ao Juiz C que julgou haver violência

doméstica psicológica, portanto o julgamento a ser computado é o de violência

doméstica do tipo psicológico, conseqüentemente, a partir daí, teríamos dois

julgamentos (os dos juízes A e C). O julgamento do Juiz B não pode mais ser levado

em conta em termos de concordância ou não, ou seja, as demais questões estão

prejudicadas para este juiz, uma vez que, na primeira, ele não reconheceu a existência

da violência doméstica. Ocorre que, entre os juizes A e C houve discordância quanto a

dois dos outros quatro aspectos analisados. Frente a esta situação, julgou-se

necessário desconsiderar o sujeito de número 27, já que se inviabiliza aplicar-se a ele o

Page 106: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

critério de se adotar para o cômputo o julgamento, em cada uma das questões, sobre a

qual houve acordo entre dois juízes.

A partir do Quadro II, os resultados foram tabulados e estão lançados nas

Tabelas I e II (p. 106). De se lembrar que, face à exclusão do sujeito de número 27,

pelos motivos acima apresentados, a amostra passou a se compor de 29 sujeitos. Os

resultados das Tabelas I e II também podem ser visualmente observados no Gráfico I �

Distribuição dos dados conforme itens analisados (p. 107).

TABELA I: TABULAÇÃO PARCIAL DOS RESULTADOS

S (sim) N (não) %

Presença de Violência Doméstica 24 05 83

Presença de Violência Doméstica

Significativa

13 16 45

54

Violência Doméstica incluída na queixa 05 24 17

21

Violência Doméstica incluída na com- 07 22 24

preensão psicodinâmica da queixa 29

Violência Doméstica incluída no foco 02 27 07

08

TABELA II: TABULAÇÃO GERAL DOS RESULTADOS

Porcentagem

Freqüências

Questões Analisadas

(Variáveis estudadas)

Freq.

Bruta

Em rel. ao

total de

pacientes

(N=29)

Em rel. aos

casos de

presença de

V.D.*¹

(24 casos)

Em rel. aos

casos de

pres. de

V.D.S.*²

(13 casos)

Presença de Violência Doméstica 24 83% - -

Presença de Violência Doméstica 13 45% 54% -

Page 107: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Significativa

Violência Doméstica incluída na queixa

(pelo paciente)

05 17% 21% 38%

Violência Doméstica incluída na com-

preensão psicodinâmica da queixa

(pelo terapeuta)

07 24% 29% 54%

Violência Doméstica incluída no foco

(pelo terapeuta)

02 07% 08% 15%

*¹ V.D. � Violência Doméstica

*² V.D. S. � Violência Doméstica Significativa

Gráfico I

Distribuição dos dados conforme itens

analisados

29 (100%)

24 (83%)

13 (54%)

Inclusão da

violência

na queixa (pelo paciente).

Inclusão da vio-lência na com-preensão/queixa (pelo terapeuta).

Inclusão da

violência

no foco (pelo terapeuta).

Page 108: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Tendo como base a análise realizada pelos dois juizes e a partir da

tabulação geral dos resultados apresentada na Tabela II, observa-se que a ocorrência

da violência doméstica esteve fortemente presente na maioria dos casos dos pacientes

que tiveram seus atendimentos em Psicoterapia Breve Infantil concluídos, durante o

ano de 2006, na Clínica-escola de Psicologia da Universidade Guarulhos. Foi

observada sua ocorrência em 24, dos 29 sujeitos considerados na amostra. Ou seja,

83% dos casos analisados apresentaram violência doméstica.

Considera-se que houve violência doméstica quando se observa com relativa

persistência ou, ainda que poucas vezes, mas com intensidade significativa, a

ocorrência de condutas violentas, entre marido e mulher, ou entre pais e filhos, que

impliquem alguma forma de ação intencional de causar dano à outra pessoa. Estas

condutas devem ser classificadas numa das seguintes modalidades: Física, Sexual,

Psicológica e Negligência. Somente as iniciais do tipo de violência doméstica deverão

ser incluídas na planilha para lançamento dos dados da análise da referida violência, ou

seja, F, S, P, N.

Dos 24 casos em que foi constatada a presença de violência doméstica, em

13 ela foi considerada significativa, o que corresponde a 45% do total de casos

atendidos, e a 54% se considerarmos os 24 casos onde constatou-se a presença de

violência doméstica. Portanto, em 54% dos casos que apresentaram violência

doméstica, esta teve interferência no caso clínico apresentado pelo paciente no

Total de pacientes atendidos.

Número de pacientes que apresentaram violência doméstica.

Número de pacientes que apresentaram violência doméstica significativa.

Page 109: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

atendimento que está sendo objeto de análise, independentemente do paciente tê-la

explicitado ou não na queixa.

Considera-se a violência doméstica significativa para o quadro clínico

quando, independentemente do paciente tê-la explicitado ou não, tê-la incluído na

queixa ou não, verifica-se que a violência doméstica teve reflexo no quadro clínico

apresentado pelo paciente na fase diagnóstica da Psicoterapia Breve Infantil que está

sendo objeto de análise.

Em outros estudos consultados por esta autora, como os de Azevedo (1998,

1997, 1995, 1990, 1988); Guerra (1998, 1997, 1995, 1988), Roure (1996), Koller (1998),

Caminha (1998), Pires (1998), não foram encontrados dados que indicassem um

percentual de ocorrência da violência doméstica. No entanto, a psicóloga e educadora

Maria Amélia Azevedo, em 1998, fez um estudo que abrangeu o período de 1936 a

1993, em que constatou que, em mais de meio século, somente 0,16% dos estudos se

referem à violência doméstica, sendo que apenas um terço destes se ocupa da

violência como tema principal.

Sabe-se ainda, através de pesquisas realizadas pela referida educadora, que

o número de denúncias sobre violência doméstica, em outros países, não ultrapassa a

marca de 05% a 10% do total real de casos em que houve o emprego da violência. Este

percentual, segundo Azevedo (1990), é ainda menor no Brasil, onde menos de 05% dos

casos submetidos à violência doméstica são denunciados.

Por conseguinte, considera-se que o índice de violência doméstica

encontrado neste estudo é considerado alto, o que implica em dizer que a dinâmica

interna das famílias que se submeteram a esta análise está permeada por intensos

sinais de violência. Esta violência acaba por interferir no quadro clínico dos pacientes

que buscam um trabalho de acompanhamento psicoterápico.

Dando prosseguimento à análise, verficou-se que, dos 13 casos em que a

violência doméstica foi considerada significativa, 05 tiveram a violência doméstica

incluída na queixa, por parte do paciente, o que corresponde a 17% do total da amostra

e a 21% quando comparado ao número de casos em que presença da violência

doméstica foi constatada.

Page 110: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Considera-se a violência doméstica incluída na queixa quando o paciente

explicita esta violência na sua queixa, como fazendo parte dela ou como sendo objeto

da queixa ou estando associada ao núcleo da sua queixa. A análise é feita a partir das

primeiras entrevistas realizadas pelo estagiário e não a partir da folha de encerramento.

Observa-se ainda que dos 13 casos em que a violência doméstica foi

considerada significativa, em sete ela foi incluída na compreensão psicodinâmica da

queixa. Ou seja, 24% com relação ao número total da amostra e a 29% em relação aos

24 casos em que a presença de violência doméstica foi observada. Destes sete casos,

somente em quatro a violência doméstica foi incluída na queixa apresentada pelo

paciente, e, embora em três casos a violência não tenha sido apresentada como queixa

pelos pacientes, foram incluídos na compreensão psicodinâmica da queixa, o que pode

caracterizar uma compreensão mais profunda por parte do estagiário/terapeuta. Dito de

outra forma, em 43% dos casos o terapeuta não incluiu a violência doméstica na

compreensão psicodinâmica da queixa.

Considera-se que houve inclusão da violência doméstica na

compreensão psicodinâmica da queixa quando esta violência fizer parte integrante da

compreensão que o estagiário e o supervisor tiveram da queixa, conforme consta da

folha de encerramento.

Do total de casos que compõem este estudo, somente dois tiveram a

violência doméstica incluída no foco, o que significa 07% em relação ao total geral e a

08% em relação ao número de casos de violência doméstica, ou seja, somente em 08%

em que a violência doméstica interferiu no quadro clínico do paciente, o terapeuta

incluiu-a no seu planejamento terapêutico, como elemento ingrediente do foco.

Considera-se que houve inclusão da violência doméstica no foco, quando

esta violência doméstica que se pretendeu trabalhar, foi explicitamente incluída no foco,

conforme consta da folha de encerramento, nos termos em que o foco se encontra

definido.

O foco deve ser formulado como o eixo da psicoterapia e o paciente deve ser

conduzido ao foco através de intervenções parciais. O foco refere-se ao conflito da

situação atual do paciente. Pode-se afirmar que a focalização é acondição essencial de

eficácia da Psicoterapia Breve.

Page 111: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

É importante notar que somente 01, dos 29 casos analisados, atingiu todos

os níveis que compõem este estudo. Ou seja, o caso foi considerado como tendo a

presença de violência doméstica, esta violência foi considerada significativa, o paciente

a incluiu na queixa, o terapeuta fez referência a ela na compreensão psicodinâmica da

queixa e a incluiu no foco. Todos os demais casos foram incluídos num ou noutro item,

sem que todos os aspectos da violência doméstica fossem compreendidos.

Há, portanto, uma considerável discrepância entre o número de casos onde

foi detectada a ocorrência da violência doméstica (24), da violência doméstica

significativa (13) e o número de casos em que a violência doméstica foi incluída no foco

(dois).

Mostrou-se também de interesse fazer uma tabela e uma análise dos tipos

de violência doméstica observados, ou seja, P, N, F, S, cruzando-os com as demais

variáveis, ou seja, violência doméstica significativa, inclusão na queixa, inclusão na

compreensão psicodinâmica da queixa e inclusão no foco, embora esta questão não

esteja diretamente relacionada com os objetivos do trabalho. Os dados referentes aos

cruzamentos acima estão descritos no Quadro III.

QUADRO III

TIPOS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: SUA FREQUÊNCIA E SUA DISTRIBUIÇÃO DE

ACORDO COM AS VARIÁVEIS ESTUDADAS

Tipo de

violência

Nº de

casos de

violência

doméstica

Violência

Doméstica

Significat.

Inclusão

na

Queixa

Inclusão na

Comp.

Psicod.

Queixa

Inclusão

no

Foco

Psicológica 24 12 04 07 02

Física 06 05 03 03 -

Negligência 14 10 02 05 01

Page 112: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Sexual 01 01 - - -

Quanto ao tipo de violência doméstica foi registrada a presença de 24 casos

de violência do tipo psicológico, 14 por negligência, 06 do tipo físico, e em um caso

ocorreu violência doméstica do tipo sexual. Dos 04 tipos de violência propostos neste

estudo (psicológica, física, negligência, sexual), observou-se que, dentre os 24

prontuários onde a violência doméstica esteve presente, em 08, ocorreu uma única

forma de violência, em 12 casos ocorreram 02 tipos de violência e em 04 casos

ocorreram 03 tipos de violência doméstica.

Ainda quanto ao tipo de violência doméstica que foi observado, há de se

ressaltar que o psicológico esteve presente em todos os casos em que se constatou a

ocorrência da violência doméstica, seguido de violência doméstica do tipo negligência,

encontrada em 14 casos.

É interessante notar que a violência doméstica do tipo psicológico, que

ocorre nos 24 casos em que foram registrados sinais de violência, não deixa marcas no

corpo, sendo, portanto, difícil de identificar. Assim como a negligência e embora mais

difícil de ser detectada, a violência doméstica do tipo psicológico aparece com mais

freqüência neste estudo.

Os abusos intrafamiliares do tipo psicológico ou por negligência, geralmente

ferem a integridade e violam os direitos básicos da criança. Estas situações abalam a

auto-estima das crianças, as quais poderão ter seus desempenhos, nas mais diversas

atividades a que se propuserem realizar, prejudicados.

Page 113: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

CAPÍTULO IX

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A Violência Doméstica e a Psicoterapia Breve que constituem pólos

antagônicos podem, em um dado momento, compartilhar um mesmo processo, já que a

especificidade da técnica de Psicoterapia Breve supõe dispor de recursos para lidar

com situações onde são evidenciados sinais de violência.

No presente estudo, a violência doméstica foi constatada em 24 dos 29

casos analisados. Ou seja, 83% dos casos analisados apresentaram violência

doméstica. Dos 24 casos, 13 acusaram violência doméstica significativa a, que

corresponde a 45% do total dos casos atendidos, e a 54% dos casos em que se

constatava presença da violência doméstica. Na maioria dos casos, o paciente não

incluiu a violência em sua queixa, tendo sido incluída em somente 05 dos 13 casos em

que foi considerada significativa.

A violência doméstica, que é um fenômeno que nasce da agressividade do

homem e perpassa as relações familiares, manteve-se freqüente, tendo sido expressiva

e significativa em grande porcentagem dos casos que constituíram o presente estudo.

Cabe, portanto, ressaltar a necessidade de se estar atento á ocorrência da

violência doméstica, à importância de sua interferência no desenvolvimento de uma

Page 114: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

criança que busca atendimento psicológico, independentemente de ter sido verbalizada,

de ter ficado explícita na queixa do paciente.

As situações de violência doméstica não foram apresentadas pelos pacientes

como queixa central, não se constituindo como motivo que os conduziu à busca de

atendimento psicológico. Muitos dos pacientes não conseguem enxergar os evidentes

sinais de violência doméstica nas relações familiares nas quais estão envolvidos, não a

incluindo na queixa.

Numa clínica voltada para um trabalho de assistência à saúde publica, para

um atendimento comunitário e preventivo, é muito importante estar atento ao fenômeno

da violência doméstica, avaliando a sua freqüência, a sua ocorrência, à constatação de

sua manifestação, sob os mais diferentes tipos, sobretudo no atendimento clínico, mais

especificamente num trabalho de promoção de saúde mental.

Dentre as barreiras encontradas para se detectar a ocorrência da violência

doméstica verifica-se, que a existência de silêncios e segredos existentes na dinâmica

familiar comprometem o satisfatório funcionamento da família. Na maioria das vezes os

segredos mantidos entre os membros da família jamais são revelados a outras pessoas

ou até mesmo entre a própria família.

A manutenção dos segredos e do silêncio na dinâmica familiar pode impedir

que a família tenha uma relação de equilíbrio, uma relação segura, que possibilite o

desenvolvimento e o crescimento adequado de seus membros.

Estes segredos e silêncios sobre a violência parecem poder contar com uma

força intensa, uma vez que não só a família está atrelada a eles, o terapeuta

(estagiário) e o supervisor, além do grupo de supervisão, também podem fazer com que

a necessidade de manter o segredo impere na relação terapêutica, já que o que não se

tem conhecimento não precisa ser avaliado ou discutido.

O psicólogo acaba por não captar a relação de violência doméstica, o que o

impossibilita de ter uma compreensão psicodinâmica mais profunda do quadro clínico

do paciente. Esta violência certamente não será incluída no foco, portanto, não será

trabalhada no processo psicoterápico. Observa-se que a eficácia da Psicoterapia Breve

pode estar ameaçada. Saber diferenciar as reais causas de um fracasso de um

Page 115: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

acompanhamento psicoterápico deve ser cuidadosamente avaliado e não apenas

vincula-lo à utilização de uma técnica específica.

Quanto ao tipo de violência doméstica, foi observado no preente estudo, que

o psicológico esteve presente nos 24 casos em que se constatou a ocorrência da

violência doméstica, seguido de violência doméstica por negligência, encontrada em 14

casos. A violência doméstica do tipo psicológico, assim como a negligência, não deixam

marcas no corpo, não sendo facilmente percebidas, portanto, difíceis de se

identificarem e de se diagnosticarem, por não deixarem nenhum sinal visível.

A violência doméstica do tipo psicológico age intensamente, gera conflitos

intrapsíquicos, mas nem sempre permite identificar seus agressores, nem mesmo

avaliar as conseqüências ou intensidade dos danos causados. Este tipo de violência é

encontrado em todas as demais formas de violência e varia desde uma simples

desatenção até uma total rejeição. É uma forma de abuso que acaba por gerar

conseqüências severas para as crianças, como a baixa-estima, o retraimento, entre

outras. Estes dados vêm sendo mais freqüentemente observados e fazem parte da

experiência clínica desta autora, bem como vêm sendo mencionados por outros

autores, como Caminha (1988).

Embora com profundas implicações no comportamento humano, a violência

doméstica não foi freqüentemente detectada pelos profissionais, uma vez que, neste

estudo, poucos foram os casos de inclusão da violência doméstica, seja na queixa, na

compreensão psicodinâmica da queixa ou no foco.

No presente trabalho, verificou-se que, entre os 13 casos em que se

constatou a presença de violência doméstica significativa, ela não foi incluída pelo

terapeuta na compreensão psicodinâmica da queixa em 46% deles. Tal constatação é

compreensível, uma vez que, em muitos casos, a violência doméstica não ficou

explícita na queixa. A violência doméstica significativa não foi incluída, pelo terapeuta,

no foco em 85% dos casos, logo, não foi incluída no planejamento terapêutico.

A presença da violência doméstica detectada neste estudo não foi, na

maioria dos casos, constatada pelo profissional durante o atendimento psicoterápico ao

qual as crianças foram submetidas. Freqüentemente, os sinais de violência doméstica

Page 116: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

apresentados no quadro clínico dos pacientes não são incluídos pelo terapeuta na

compreensão psicodinâmica da queixa, nem tampouco são por ele incluídos no foco.

Para Azevedo (1993), as universidades formam profissionais do silêncio, que

são considerados pela educadora como cúmplices que vitima diariamente crianças e

adolescentes no lar.

Como já foi ressaltado neste capítulo, a violência não foi incluída na queixa

pela maioria dos pacientes que integraram a presente pesquisa. Estas famílias que,

apesar de conviverem diretamente com a violência, não a evidenciaram, demonstram

encontrar dificuldades, na maioria das vezes, para constatarem a violência. O fato de a

violência doméstica estar entrelaçada a um conluio parece constituir uma forte razão

para se perpetuarem as dificuldades que as pessoas apresentam em lidar com

situações de violência, com as quais estão envolvidas. A família, devido a este conluio,

não verbaliza a violência, não lhe sendo permitido que entre em contato com a mesma,

havendo, pois uma normalização da violência. O conluio acaba por se estender ao

terapeuta que, talvez por resistência ou por outras razões não detecta a violência.

Os membros de uma família lidam com situações de violência como se

houvesse sido estabelecido um contrato, um acordo entre eles. Deste modo, as

pessoas de uma mesma família estariam, de alguma forma, impedidas de falar a

respeito. Estes segredos que são determinados e mantidos entre os membros de uma

família impedem que a violência, que é praticada contra seres indefesos, se configure,

impelindo a família para um avanço mais profundo de disfunção.

A manutenção desses segredos torna-se demasiadamente forte e o silêncio

impera na dinâmica familiar. Neste processo, ocorre a paralisação para a capacidade

de satisfação das necessidades e para o crescimento e organização da dinâmica

familiar, havendo um aumento no isolamento social.

A compreensão da violência doméstica, bem como a inegável necessidade

de se encontrarem formas mais atuantes de combate-la tornam-se cada vez mais

imprescindíveis na busca do equilíbrio das relações familiares, já que os segredos

privam os membros da família de informações que lhes permitiriam assumir uma ação.

Aliados a esta notória preocupação com a violência doméstica, evidencia-se,

por parte da autora, um grande interesse pela técnica de Psicoterapia Breve. É possível

Page 117: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

que esta técnica, por conta de sua especificidade, possa atingir objetivos

psicoterapêuticos em prazos bem mais curtos, podendo, na fase do diagnóstico breve,

identificar a ocorrência da violência doméstica de forma mais imediata.

No entanto, mesmo diante de uma técnica com objetivos definidos, que vem

operando modificações eficazes nas formas de intervenção do psicoterapeuta, a

ocorrência de casos em que a violência doméstica esteve presente, neste estudo, é

altamente expressiva, na marca de 83% dos casos estudados.

A técnica de Psicoterapia Breve pode não se apresentar suficientemente

satisfatória para lidar com quadros clínicos onde impera a violência doméstica, não por

se tratar de um procedimento ineficaz, mas, por necessitar que a violência doméstica

seja detectada em tempo hábil. Caso se constate que a Psicoterapia Breve que se

sucedeu ao diagnóstico se mostre ineficaz, não seria permitido concluir que a técnica

da Psicoterapia Breve é inadequada para casos como estes. Os terapeutas e

profissionais que se dedicam à saúde pública devem ter todo cuidado e atenção em

detectar a tempo a violência e sua interferência no quadro clínico. Tal atenção e

cuidado se devem ao fato do conluio da família em não verbalizara violência, bem como

à resistência do terapeuta em lidar com os evidentes sinais de violência doméstica.

De certa forma, um grande número de pessoas está envolvido com a

violência doméstica, especialmente com as formas veladas de violência. Muitas vezes

estes conteúdos não são conscientes e os conflitos, certamente, estão deslocados para

outras situações que envolvem as pessoas, de maneira geral. Com os estagiários-

terapeutas e os supervisores, a situação não seria diferente. Estas pessoas podem

encontrar dificuldades para detectar a ocorrência da violência doméstica durante os

atendimentos que realizaram ou que supervisionaram, por não conseguirem lidar com

situações de violência com as quais estão diretamente envolvidas.

Em se tratando de Psicoterapia Breve, a não inclusão da violência doméstica

na compreensão psicodinâmica da queixa é bastante grave, já que o tempo que

demanda o processo psicoterápico não será suficiente para que a violência doméstica

seja captada posteriormente. A Psicoterapia Breve supõe uma postura mais ativa do

psicólogo frente a uma demanda de ajuda, a uma demanda específica. (Lemgruber,

1984). De tal sorte que, caso a Psicoterapia Breve não tenha sido avaliada como eficaz,

Page 118: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

não se deve debitar o fracasso à técnica. A violência doméstica não incluída na queixa

pelo paciente corre um risco maior de não ser incluída na compreensão psicodinâmica

da queixa pelo terapeuta, que certamente criará obstáculos para sua inclusão no foco,

fosse este o caso. Conseqüentemente, não será trabalhada na Psicoterapia Breve,

estando a psicoterapia, com maior probabilidade, fadada ao fracasso, não devido à

técnica, mas a uma desatenção ao fenômeno da violência doméstica. Realça-se, por

conseguinte, a importância da atenção que se deve ter para a questão da violência

doméstica.

CAPÍTULO X

CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES

A violência é um tema bastante polêmico e essencialmente complexo. Vasto

por excelência, é proposto como um dos assuntos mais debatidos atualmente. Tem-se

registro de situações de violência em todas as épocas, ambientes, relações entre

pessoas e nações. A violência integra a própria estrutura da personalidade do indivíduo

sendo, portanto, inerente a todo ser humano. Ela até pode ser entendida como

necessária para a sobrevivência do ser humano, impulsionando-o para uma ação que

pode caracterizar uma iniciativa construtiva. O seu controle e seu uso construtivo é que

devem ser avaliados.

A violência doméstica que abrange todas as relações familiares também faz

parte de um contexto de ordem social. Não raramente a dinâmica familiar é permeada

por relações de violência, a qual pode causar danos, muitas vezes, irreversíveis, que

comprometem o equilíbrio geral da família, bem como a organização interna de cada

um de seus membros. Freqüentemente oculta, penetra de forma devastadora e, muitas

vezes, silenciosa nas relações humanas, mais especificamente na dinâmica familiar, de

forma a dificultar que ela seja devidamente detectada, diagnosticada e avaliada.

Page 119: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Quando este estudo ainda constituía uma etapa embrionária,

questionávamo-nos sobre a realização de um trabalho que tivesse, em seu cerne, um

tema tão absolutamente doloroso e complexo, como é o da violência, sobretudo, a

violência doméstica.

Embora polêmica e difícil de ser estudada, por tudo quanto está

interelacionada, a violência tem implicações profundas no comportamento humano e na

forma de agir de uma comunidade social. Trata-se de um tema atual, que merece todo

nosso respeito e preocupação, que vem apresentando um crescimento avassalador,

especialmente nos grandes centros urbanos, e que seu controle ou alguma forma de

atuação preventiva, parece estar longe de ser atingido ou de ser o alvo de ação de uma

política de promoção de saúde.

Preocupadas com as estatísticas alarmantes da ocorrência dos delitos

domésticos, instituições públicas e organizações não-governamentais discutem o

problema e tentam contribuir para a minimização dos efeitos avassaladores que a

violência na família acarreta aos seres humanos, especialmente mulheres e crianças.

Os números alarmantes relativos à violência doméstica levaram a

Organização Mundial de Saúde a reconhecer a gravidade que o fenômeno representa

para a saúde pública e recomendar a necessidade de efetivação de campanhas

nacionais de alerta e prevenção.

A violência contra crianças e adolescentes é um fenômeno mundial. Visível

ou invisível, suas causas são múltiplas e de difíceis definições. As suas conseqüências

são devastadoras para as crianças e adolescentes, vítimas diretas de seus agressores.

Ao contrário do que se pensa, as desigualdades sociais não são fatores

determinantes da violência doméstica, pois esta se encontra dividida em todas as

classes sociais.

Debates, palestras, encontros e congressos sobre Psicoterapia Breve estão

sendo realizados no Brasil e no mundo, como é o caso do Primeiro Simpósio

Internacional de Pesquisas em Psicoterapia Breve, promovido pela Pontifícia

Universidade Católica de Campinas, realizado em 2006, que abrigou, entre seus focos,

a Psicoterapia Breve Infantil. O primeiro Congresso latino americano, realizado em São

Page 120: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paulo, em abril de 2005, tratou, entre seus eixos temáticos, das Estratégias de

Intervenção em Psicoterapia Breve Infantil.

Nesta modalidade psicoterápica é possível abordar o fenômeno da violência

praticada contra crianças e adolescentes, que pode ser definido como sendo todo ato

ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e/ou

adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima,

implica de um lado, numa transgressão do direito que crianças e adolescentes têm de

serem tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.

A situação torna-se mais agravante quando se trata de violência doméstica,

posto que abrange todas as relações humanas e nem sempre é tão facilmente

identificada, especialmente quando está relacionada com maus-tratos dirigidos à

criança. A violência contra a criança seria menos danosa se não houvesse tanta

cumplicidade. Os especialistas em saúde, seja física ou mental, parecem estarem mais

distantes da possibilidade de denúncias.

Nos Estados Unidos da América, onde o espancamento é a maior causa de

morte de criança, foram acordados, através de determinações legais, a obrigatoriedade

de denunciar, por parte dos profissionais da saúde, quando julgam ou desconfiam que

uma criança está sendo agredida por seus pais ou responsáveis.

As crianças que são submetidas a situações de violência doméstica

certamente vão chamar a atenção, seja dos familiares ou de outras pessoas da

comunidade, sempre procurando, por comportamentos radicais e extremos, a condição

que elas precisaram no começo da vida e que não tiveram dos pais, que é a

compreensão, com justiça, a firmeza, a segurança, com confiança e afeto.

A violência doméstica parece estar entrelaçada a um conluio, como se

houvesse sido estabelecido um contrato, um acordo, onde os membros de uma mesma

família estariam, de alguma forma, impedidos de falar a respeito. Estes segredos que

são determinados e mantidos entre os membros de uma mesma família, impedem que

a violência, que é praticada contra seres indefesos, se configure, impelindo-os para um

avanço mais profundo da disfunção, não promovendo a caracterização e identificação

do papel familiar.

Page 121: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

A manutenção desses segredos torna-se demasiadamente forte e o silêncio

impera na dinâmica familiar. Neste processo, ocorre a paralisação para a capacidade

de satisfação das necessidades e para o crescimento e organização da dinâmica

familiar, havendo um aumento no isolamento social.

A compreensão da violência doméstica, bem como a inegável necessidade

de se encontrar formas mais atuantes de combatê-la, tornam-se cada vez mais

imprescindíveis na busca do equilíbrio das relações familiares, já que os segredos

privam os membros da família de informações que lhes permitiriam assumir uma ação.

Aliado a esta notória preocupação com a violência doméstica, evidencia-se,

por parte da autora, um interesse profundo sobre a utilização da técnica de Psicoterapia

Breve. É possível que a especificidade desta técnica, que tem como conceitos

fundamentais, estabelecer um foco de trabalho terapêutico, com objetivos limitados, um

tempo determinado, maior flexibilidade e atividade do terapeuta, possa atingir objetivos

psicoterapêuticos em prazos bem mais curtos, podendo identificar a ocorrência da

violência doméstica de forma mais imediata.

No entanto, mesmo diante de uma técnica com objetivos definidos, que vem

operando modificações eficazes nas formas de intervenção do psicoterapeuta, a

ocorrência de casos em que a violência doméstica esteve presente, neste estudo, é

altamente expressiva, na marca de 83% dos casos estudados.

Afirmar que a técnica de Psicoterapia Breve não é suficientemente

satisfatória para lidar com quadros clínicos onde impera a violência doméstica, além de

constituir uma avaliação precipitada, demonstra uma consciência profissional precária e

um desconhecimento quanto ao caráter científico que este estudo apresenta.

De certa forma um grande número de pessoas está envolvido com a

violência doméstica, especialmente com as formas veladas de violência. Muitas vezes

estes conteúdos não são conscientes e os conflitos, certamente, estão deslocados para

outras situações que envolvem as pessoas, de maneira geral. Com os estagiários-

terapeutas e os supervisores a situação não seria diferente. Estas pessoas acabam por

não detectar a ocorrência da violência doméstica durante os atendimentos que

realizaram ou que supervisionaram, por encontrarem dificuldades em lidar com

situações de violência com as quais estão diretamente envolvidas.

Page 122: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Com base na explanação do referencial teórico que deu sustentação ao

conceito de violência e à abrangência da violência doméstica no presente trabalho,

pode-se concluir que, estando freqüentemente presente nas relações familiares, a

violência doméstica, muitas vezes, apresenta-se de forma manifesta, atuante, sendo,

em determinadas situações, percebida e dificilmente esquecida por aqueles que lidam

com ela e que a enfrentam diretamente. Há, no entanto, situações em que a violência

doméstica é oculta, mantendo-se em torno dela segredos intransponíveis.

O segredo mantido na base da família acaba por tomar uma amplitude que

perpassa a unidade familiar. Além de constituir uma marca inabalável, impede, de

alguma forma, que outras pessoas, alheias a esta dinâmica, mas envolvidas por alguma

razão, permeiem a relação e tomem conhecimento sobre a maneira de lidar da família.

Para concluir o presente item e o capítulo, pode-se dizer que dentro de uma

visão de síntese, violência doméstica caracteriza-se por uma conduta hostil, que pode

causar danos a todos os membros de uma família. Esta conduta, em algumas

situações, chega ao plano da verbalização, torna-se manifesta, facilmente detectada,

em todos os seus tipos; violência física, psicológica, sexual e negligência. A violência

doméstica, no entanto, pode não ser facilmente percebida, ela mantém certos segredos

que não são transpostos, que dificultam o acesso às necessidades da família, a

violência torna-se oculta, mas avassaladora, destrói as relações humanas, não

propiciando o crescimento e o envolvimento afetivo dos membros de uma família.

Page 123: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERASTURY, A. (1972). El Psicoanalisis de ninõs y sus aplicaciones. Buenos Aires: Paidos. ______(1986). Psicanálise da Criança: teoria e técnica. 4 ed. Porto Alegre: Artes Médicas. ACKERMAN, N.W. (1958) Diagnóstico e tratamento das relações familiares. Trad. de Maria Cristina R. Goulart. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. ADORNO, S. (1989). Violência e Educação. São Paulo. Mimeografado. ______ (1991). A Experiência precoce da punição. In O Massacre dos inocentes: a

criança sem infância no Brasil. São Paulo: Hucitec. ALEXANDER, F.; FRENCH, T. M. (1956) Terapêutica Psicoanalítica: princípio y

aplicacion. ( Luis Fabricant, Trad.). Buenos Aires: Paidós. (Original publicado em

1946). ALLEN, F. G. (1945) Psicoterapia Breve Infantil. Ed. Rosário: Rosário.

Page 124: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

ANCONA-LOPEZ, M.(1981). Avaliação dos serviços de psicologia clínica. Dissertação de mestrado não publicada, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

São Paulo. ______(1995). Psicodiagnóstico: processo de intervenção? In M. Ancona Lopez (Org.)

Psicodiagnóstico: processo de intervenção (pp 26-36). São Paulo: Cortez. ANCONA-LOPEZ, S, & MITO, T. I. H. (1997). Reflexos sobre as mudanças no

procedimento de entrada do paciente na Clínica Psicológica São Marcos. Anais do I

Encontro de Psicologia Clínica, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo,

90-92. AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. A. (1988). Pele de Asno não é só História: um

estudo sobre a vitimização sexual de crianças e adolescentes em família. São

Paulo: Roca. ______(1995) A Violência Doméstica na Infância e na Adolescência. Série

Encontros com a Psicologia. São Paulo: Robe Editorial. ______(1997) A Infância e Violência Doméstica: fronteiras do conhecimento. 2 ed. São Paulo: Cortez Editora.

______ (1998) Violência de pais contra filhos: a tarefa revisitada. 3 ed. São Paulo:

Cortez Editora. ______ (1998). Infância e Violência Fatal em Família. São Paulo: Iglu Editora. AZEVEDO, M. A. (1990). A Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes no

Município de São Paulo. (Projeto de Pesquisa). mimeografado. BENKO, Pe A. (1970). Como se tem feito e como deverá ser feito o treinamento

do psicólogo clínico? Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, 21-31.

BERGERET, J. (1990). La Violência Fundamental El inagotable Edipo. México-Madrid - Buenos Aires. Fondo de Cultura Económica.

Page 125: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

BLACK, E. I. (cols) (1994). Os Segredos na Família e na Terapia Familiar, Porto Alegre: Editora Artes Médicas. BLOOM, B.L. (1992). Planned Short-Term Psychotherapy: A Clinical Hand-book.

Boston, Ally & Bacon. BRAIER, E. A. (1981). Psicoterapia breve de orientación psicoanalítica. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión. CAMINHA, R.M. (1998) Violência Doméstica. (p. 43-60). Porto Alegre: Artes Médicas. CARVALHO, R.M.L.L. (1998). A violência na educação formal � Revista Psicologia

escolar e Educacional � v. ll, n 03 � Publicação Quadrimestral Abrapee, (p. 259-264). CATAFESTA, I.F.M. (1992) Intervenções no desenvolvimento psicológico: um

trabalho preventivo. São Paulo. p. 224. Tese (Doutorado) � Instituto de Psicologia � Universidade de São Paulo. CEDIM, (1999). Conselho Estadual dos Direitos da Mulher. CHAUÍ, M. (1985). Participando do debate sobre mulher e violência, in Perspectivas

Antropológicas da Mulher. Rio de Janeiro. Zahar Editora. CORDEIRO, A. M. (1986). A Criança e seus Pais: Amada ou Violada. Quando a

criança não tem vez- Violência e Desamor. In STEINER, M.H.F. (org.) Série

Cadernos da Educação. Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais. São Paulo. Livraria

Pioneira Editora. COSER, L.A. (1956). The functions of social conflict. New York. The Free Press. COSTA, J. F. (1986). Violência e Psicanálise. Biblioteca de Psicanálise e Sociedade.

v. n. 3 � Graal.

Page 126: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

CRAMER, B. (1974). Interventions thérapeutiques brèves avec parents et enfants. Psychiatrie de I�Enfant. 17(1): 53-117. ______ (1993). Profissão bebê (M. Stahel, Trad.) São Paulo: Martins Fontes. (Original

publicado em 1989). ______ (1997). Segredos femininos de mãe para filha (P. C. Ramos, Trad.). Porto

Alegre: Artes Médicas. (Original publicado em 1996). CRAMER, B. & PALACIO�ESPASA, F. (1993). Técnicas Psicoterápicas mãe-bebê. (Francisco Franke Settiner, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas. DAWANLOO, H. (1994) Basic Principles and Techniques in short-term Dynamic

Psychotherapy. USA, Spectrum Publications. ENÉAS, M. L. E. (1999 a). Psicoterapia breve e prevenção: Flexibilidade da técnica

para ampliar sua indicação. Cadernos de Psicologia da SPB, 5 (1), 87-97. ENÉAS, M. L. E. (1999 b). Uso da escala Rutgers de Progresso em Psicoterapia na

exploração de processos psicoterápicos breves. Tese de doutorado não publicada,

Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas. ENÉAS, M. L. E. (1999 c). Considerações sobre o emprego da psicoterapia breve

psicodinâmica. Psicologia: Teoria e Prática, 1 (1), 19-23 FARINATTI, J; BIAZUS, D.B.; & LEITE, M.B. (1993). Pediatria Social: a criança

maltratada. Rio de Janeiro: Medsi. FERENCZI, S. (1926). The further development of an active therapy in psycho-analysis [1920]; in Ferenczi, S., Further comtributions to the theory and thechinic of psycho-

analysis, cap. 16. Trad. Jane Isabel Suttie. Brunner/Mazel. New York, 1980. FERRAZ, F. C.; DEWELK, M. S.; HEGENBERG, M. (1993). Psicanálise e Psicoterapia:

breve? � Revista Percurso - (Entrevista/Debate com o Psicanalista E. Gilliéron). n. 11.

Page 127: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

FIORINI, H.J. (1982). Teoria e Técnica de Psicoterapias. (C. Sussekind,Trad.). 5 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Original publicado em 1973). FLORIANI (1998). Jornal do Conselho Federal de Psicologia. (Entrevista). FREUD, S. (1913). Totem e tabu. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora. ______ (1920). Além do princípio do prazer. Obras Completas. 3 ed. (1990). Rio de Janeiro: Imago Editora. GARBARINO, J; STOTT, F.M. & Faculty of the Erikson Institute. (1992). What children

can tell us:eliciting, interpreting and evaluating critical information from

children. San Francisco: Jossey- Bass. GELLES, R. (1979). Family Violence. London: Sage. GILLIÉRON, E. (1986). As psicoterapias breves (V. Ribeiro, Trad.) Rio de Janeiro: Jorge Zahar. (Original publicado em 1983). ______ (1993). Introdução às psicoterapias breves (M.F.Tanis, Trad.). São Paulo:

Martins Fontes. (Original publicado em 1983). ______ (1994). Uma visão das Psicoterapias Breves�Revista Insight (Entrevista realizada em Lauzane - Suiça). ______ (1994). As psicoterapias breves. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora. GRAHAM, H. D.; GURR T. R. (1969). The history of violence in America. New York: Bantam Books. GUERRA, V. N. A.; AZEVEDO, M. A. (1993). Violência contra criança e adolescente. (p.11-13). São Paulo: Ed. Cortez. ______ (1989). Crianças Vitimizadas: A Síndrome do Pequeno Poder. São Paulo:

Iglu.

Page 128: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

GUERRA, V. N. A.; SANTORO JR., M.; AZEVEDO, M. A. (1992). Violência Doméstica

contra crianças e adolescentes e políticas de atendimento: Do Silêncio ao

Compromisso. Rev. Bras. Cresc. Des. Hum. II (1). (p.74). São Paulo. HINSHELWOOT, R. D. (1992). Dicionário de pensamento Kleiniano. Trad. José

Octávio de Aguiar Abreu. Porto Alegre: Artes Médicas. KNOBEL, M. (1968). Psicoterapia Breve em la infância. Conferência pronunciada na

Sociedade Argentina de Medicina Psicossomática. Buenos Aires. ______ (1977). Psiquiatria infantil psicodinâmica. Buenos Aires: Paidos. ______ (1986). Psicoterapia Breve. São Paulo: EPU. KOLLER, S.H. (1998). Aspectos psicossociais da infância e da adolescência na rua;

uma visão ecológica. In: NOTO, R, (org.). A droga na infância e na adolescência em

situação de rua no Brasil. (cap. 2, p. 3�11). São Paulo: UNIFESP. KRESTAN, J. A.; BEPKO, C. (1994). Mentiras, Segredos e Silêncio: Os Múltiplos Níveis

da Negação em Famílias Adictivas. Cap. 8 (p.147-153). In BLACK, E. I. (Col.). Os

Segredos na Família e na Terapia Familiar. Porto Alegre: Editora Artes Médicas. LEMGRUBER, V. B. (1984). Psicoterapia Breve: A Técnica Focal. Porto Alegre: Artes Médicas. ______ (1995). Psicoterapia focal: O Efeito Carambola. Rio de Janeiro: Revinter ______ (1997). Psicoterapia breve integrada. Porto Alegre: Artes Médicas. ______ (Org.) (2000) O futuro da integração. Porto Alegre: Artes Médicas. LEMGRUBER, V. B. & JUNQUEIRA, A. (2002). Psicoterapia Psicodinâmica Breve

Integrada: A Psicoterapia do 3º milênio. Arquivos brasileiros de psiquiatria, neurologia e medicina legal, 82, (83), 13-20.

Page 129: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

LUBORSKY, L., & MARK, D. (1991). Short-term supportive-expressive psychoanalytic psychotherapy. In. P. Crits-Christoph & J.P.Barber (Eds.), Handbook of short-term

dynamic psychotherapy (pp. 110-134). New York: Basic Books. MACEDO, R.M. (1986). Psicologia e Instituição: Novas formas de atendimento. 2 ed. São Paulo: Cortez MADANES, C. (1993). Sexo, Amor Y Violência: Estratégias de transformación. 1ª

ed. Paidós Terapia Familiar. Barcelona, Buenos Aires, México. (1986). MAFFESOLI, M. (1987). Dinâmica da violência. São Paulo: Revista dos Tribunais.

Edições Vértice. MALAN, D. H. (1963). A study of Brief Psychotherapy. London: Tavistock Publcs. ______ (1981). As Fronteiras da Psicoterapia Breve. (L. Knijnik & M. E. Z. Schestatsky, Trads.). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1976). ______ (1983). Psicoterapia Individual e a Ciência da Psicodinâmica. (Maria Clarissa Juchem, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1979). MANN, J. (1973). Time-limited psychotherapy. Cambridge, MA: Harvard University Press. MARQUES, M. A. B. (org) (1994). Violência Doméstica contra crianças e adolescentes � Petrópolis, Rio de Janeiro: Editora Vozes. MELLO, S. L. (1998). Trabalho e Sobrevivência: mulheres do campo e da periferia

de São Paulo. São Paulo: Editora Ática. MICHAUD, Y. (1989). A violência. Tradução de L. Garcia. São Paulo: Editora Ática. MINAYO & ASSIS (1993). Violência contra Criança e Adolescente. A Problemática

da Violência contra Crianças e Adolescentes no Brasil. Proposta Preliminar de

Prevenção e Assistência à Violência Doméstica. Brasília. Miniostério da Saúde.

Page 130: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

MITO, T.I.H. (1996). Psicoterapia Breve Infantil: Contribuição para o delineamento

do processo. Tese de doutoramento. Pontifícia Universidade Católica: São Paulo. MITO, T. I. H., LEE, L. C., ALBERTINI, M. R. B. & PROVEDEL, V. L. S. (1999). Caracterização da clientela infantil na clínica-escola: Reflexões sobre o atendimento na

área de intervenções breves. Resumos de Comunicação Científica da XXIX Reunião

Anual de Psicologia, Sociedade Brasileira de Psicologia, p.91. MUSSEN, P.H.; CONGER, J.J.; KAGAN, J. (1977). Desenvolvimento e personalidade

da criança. São Paulo: Editora Harper & Row do Brasil Ltda. NAHOUM, C (1978). A Entrevista Psicológica. Trad. De Evangelina Leivas. 2 ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora. NIEBURG, H. L. (1963). Uses of violence, in Journal of Conflict Resolution, v. VII, p. 43. OLIVEIRA, I.T. (1999). Revista�Psicologia: Teoria e Prática. Psicoterapia Psicodinâmica Breve: Dos Precursores aos Modelos Atuais. Universidade Presbiteriana

Mackenzie. v. 1 n. 2. (p. 9-19). ______ (2001). Estudo do mecanismo de tranmissão de heranças psíquicas como uma

contribuição ao diagnóstico psicológico. Anais do I Congresso de Psicologia Clínica,

v.1. Universidade presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 25-9. ______ (2006). O planejamento da Psicoterapia Breve Infantil a partir do referencial do desenvolvimento. Tese de doutoramento. Universidade São Paulo. OLIVEIRA (2006). Rituais e brincadeiras. Rio de Janeiro: Editora Vozes. OCAMPO, M.L.S. de & cols. (1981). O processo psicodiagnóstico e as técnicas

projetivas.Tradução de Miriam Felzenszwalb. 1 ed. São Paulo: Editora Martins Fontes.

Page 131: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

PALACIO-ESPASA, F. (1984). Indications et contre-indications des approaches psychothérapeutiques brèves des enfants d�âge préscolaire et de leurs parents. Neuropsychiatrie de I�Enfance et de I�Adolescence. Percurso � Revista de Psicanálise. (1991). ano lll. n. 07. Psicoterapia e Interação � Mudanças. (1993). Psicoterapia e Estudos Psicossociais. Ano 01. n 01. Diretora Responsável: Eda Marconi Custódio Editor: José Tolentino Rosa.

Editora Associada: Marilia Martins Vizzotto.

Psique � Revistas do Departamento de Psicologia Geral e Aplicada da Faculdade

de Ciências Humanas e Letras � FAHL FaculdadesIntegradas Newton Paiva. Ano 07. n10. Maio 1997. Minas Gerais (Mestrado em Psicologia Social��Moleques, Aprendizes,

Cidadãs�). Representações Infância em Jogos, Brinquedos e Brincadeiras. (1935 � 1995). RASCOVSKY, A (1974). O Filicídio. Rio de Janeiro: Editora Artenova. Revista � Psicologia Ciência e Profissão. (1999). Ano 19. n 02. ROJAS, M. C. (1991). Violência Familiar e Discurso Sagrado. Porto Alegre: Editora Artes Médicas. ROSENBERG, M. (1965). Society and the adolescente self-imagem Princeton University Press Princeton: New Jersey. ROURE, G. Q. (1996). Vidas Silenciadas: A violência com crianças e adolescentes.

Campinas � São Paulo: Editora da Unicamp. (p. 14; 48; 50-53). RUIZ, Z. A. (1981). Terapia Familiar. Publicaciones Universidad Nacional Pedro Henríquez Ureña. Santo Domingo. República Dominicana. SÁ, A. A. (1999). Revista � Psicologia: Teoria e Prática. Algumas Questões Polêmicas

Relativas à Psicologia da Violência. Universidade Presbiteriana Mackenzie. v. 1. n

2. (p. 53-63).

Page 132: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

SANTIAGO, M. D. E. & JUBELINI, S. R. (1986). Uma modalidade alternativa de atendimento psicodiagnóstico em instituições. In R. M. Macedo (Org.) Psicologia e

instituição: Novas formas de atendimento (2 ed.) (pp. 86-98). São Paulo: Cortez. SATIR, V. (1964). Conjoint family therapy Palo Alto. CA: Science and Behavior BooKs. ______ (1972). Peoplemaking. Palo Alto. CA: Science and Behavior BooKs. ______ (1980). Terapia do Grupo Familiar. Rio de Janeiro: Ed. Francisco Alves. SCOTT, W.A.; SCOTT, R. (1991). Family relationships and children�s personality:A

cross-cultural, cross-source comparison. British Journal of Social Psychology. v.30, p.120. SEGRE, C.D. (org.) (1997). Psicoterapia Breve. São Paulo: Lemos Editoral. SIFNEOS, P. E. (1977). Psychothérapie brève et crise émotionnelle. Psychologie, Bruxelas, Mardaga. ______ (1989). Psicoterapia dinâmica breve: Avaliação e técnica. Porto Alegre: Artes Médicas. (Original publicado em 1979). SIMON, R. (1981). Formação do psicoterapeuta para a realidade brasileira. Boletim de

Psicologia, 33 (81), 67-73. ______ (1989). Psicologia Clínica Preventiva: Novos fundamentos. São Paulo: EPU

(Original publicado em 1983, pela Vetor). ______ (1996). Do diagnóstico à psicoterapia breve. Jornal Brasileiro de Psiquiatria,

445, 403-408. ______ (2005). Psicoterapia Breve Operacionalizada: Teoria e Técnica. 1 ed. São

Paulo: Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda.

Page 133: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

STALLIBRASS. (1992). A criança autoconfiante. São Paulo: Martins Fontes. STEINER, M.H.F. (org.) (1986). Quando a criança não tem vez - Violência e

Desamor. Série Cadernos da Educação. Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais. São

Paulo: Livraria Pioneira Editora. STEELE, B. F.; POLLOCK, C. B. (1968). Violência de Pais contra Filhos: Algumas

Indagações, in STEINER, M. H. F. (org.). Quando a criança não tem vez - Violência e

Desamor. Série Cadernos da Educação. Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais. São

Paulo: Livraria Pioneira Editora. Trad, V. (1997). Psicoterapia Breve Pais/Bebê. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas. WINNICOTT, D.W. (1983). O ambiente e os processos de maturação-estudos

sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas. ______ (1983). A família e o desenvolvimento individual. São Paulo: Martins Fontes. ______ (1987). Agressão e suas raízes (1939). Cap. X, in Privação e Delinqüência. São Paulo: Editora Martins Fontes. ______ (1987). O desenvolvimento da capacidade de envolvimento (1963). Cap. XI, in Privação e Delinqüência. São Paulo: Editora Martins Fontes. ______ (1987). A ausência de um sentimento de culpa (1966). CAP XII, in Privação e

Delinqüência. São Paulo: Editora Martins Fontes. WOLBERG, L.R. (1965).Técnica da Psicoterapia Breve; in Wolberg, L. R. (org.)

Psicoterapia Breve. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Ed. Mestre Jou. 1979. ______ (1979). Psicoterapia breve (A. Cabral, Trad.). São Paulo: Mestre Jou.

(Original publicado em 1965). p. 148-153. YAMAMOTO, K. (1990). Estudo do método e resultados da psicoterapia preventiva

da família. Tese de doutorado não-publicada, Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo.

Page 134: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

YEHIA, G. Y. (1995). Reformulação do papel do psicólogo no psicodiagnóstico

fenomenológico existencial e sua repercussão sobre os pais. In M. Ancona-Lopez (Org), Psicodiagnóstico: Processo de intervenção (pp.115-134). São Paulo: Cortez. YOSHIDA, E. M. P. (1990). Psicoterapias Psicodinâmicas Breves e Critérios

Psicodiagnósticos. São Paulo: EPU. ______ (1997). Psicoterapia psicodinâmica breve: Estado da arte. Cadernos de Psicologia, I, 105-113. _________(1993). A psicoterapia breve na realidade brasileira. (cap. 2). Psicoterapia e

Interação. Mudanças. Instituto Metodista de Ensino Superior. São Bernardo do

Campo. São Paulo. YOSHIDA, E. M. P.e ENÉAS, M. L. E. (2004). Psicoterapias Psicodinâmicas breves:

propostas atuais. São Paulo: Alínea Editora. Estatísticas e epidemiologia da violência Estatuto da Criança e do Adolescente.

Disponível em: http://br.monografias.com/trabalhos2/estatisticas-epidemiologia-violencia/estatisticas-epidemiologia-violencia.shtml. Acesso em 27 de outubro de 2007. Violência doméstica. Disponível em:

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=23778. Acesso em: 27 de outubro de 2007. Brasil é campeão da violência doméstica num ranking de 54 países. Disponível em:

http://www.actionaid.org.br/Portals/0/Releases/DireitoMulheres/Mulheres_2006.pdf. Acesso em 27 de outubro de 2007. A violência doméstica como violação dos direitos humanos. Disponível em:

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7753. Acesso e: 27 de outubro de 2007.

Page 135: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Apêndices

Page 136: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Apêndice 01

CLÍNICA-ESCOLA DE PSICOLOGIA Planilha de Atendimento de P.B.I

Nome do Cliente:______________________________________ N.ºdo pront:_______

Nome do(s) pai(s) que recebeu (receberam) atendimento:

______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________ FASE DIAGNÓSTICA

01. Sumário da

Queixa:________________________________________________________________

____________________________________________________________

02. N.º de entrevistas diagnosticas realizadas:

a) com a criança: _________ Data da 1ª: _____/_____/_____

b) com os pais: ___________ Data da 1ª: _____/_____/_____

03. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:

a) referente à dinâmica familiar:____________________________________________

______________________________________________________________________

b) referente à criança: ____________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 137: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

04. Foco para a terapia:

a) da P.B.I.: ____________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) da O. de Pais: ________________________________________________________

______________________________________________________________________

05. Objetivo para a criança: _______________________________________________

______________________________________________________________________

Objetivo para os pais:_____________________________________________________ ______________________________________________________________________

6.Motivação (predisposição para a realização do trabalho terapêutico):

Por parte da criança:

______________________________________________________________________

_______________________________________________________________

Por parte dos pais:_______________________________________________________

_____________________________________________________________________

FASE TERAPÊUTICA

07. N.º de sessões:

a) em P.B.I.:

- Previstas: _______ ; - Realizadas: _______ ;

(Data da 1ª:_____/_____/_____; da última: _____/_____/_____ )

b) Em O.P.:

- Previstas: _______ ; - Realizadas: _______ ;

(Data da 1ª:_____/_____/_____; da última: _____/_____/_____ )

08. Motivação (envolvimento durante o trabalho terapêutico):

Por parte da criança:_____________________________________________________

______________________________________________________________________

Por parte dos pais:_______________________________________________________

______________________________________________________________________

09. Conclusão do Trabalho e a questão do encaminhamento:

( ) a)o atendimento chegou ao término e não houve reencaminhamento interno e nem

encaminhahamento externo.

( ) b) o atendimento chegou ao término e o cliente foi reencaminhado

para:_______________

Obs.: neste caso, o estagiário deverá preencher a ficha de encaminhamento interno,

entregar a 1ª via à secretaria, e a 2ª via ao paciente, ambas assinadas por ele

(estagiário) e pelo supervisor, a fim de que providências para a nova convocação

possam ser tomadas).

( ) c) o atendimento chegou ao término e foi realizado encaminhamento externo

para:__________________________________________________________________

(dizer a modalidade do novo atendimento proposto). (Obs.: neste caso, se for preferível

ou necessário formalizar o encaminhamento, deverá ser feita uma carta ao Diretor da

Clínica, com a proposta do novo atendimento e, se possível, com sugestões de locais).

( ) d) o atendimento foi interrompido por motivo de:_____________________________

Page 138: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

_____________________________________________________________________.

Obs.: Caso os pais venham a ter algum tipo de encaminhamento interno ou externo,

que independa do reencaminhamento ou encaminhamento externo da criança,

especificar no espaço acima das alíneas "b" ou "c", adotando então os mesmos

procedimentos ai definidos.

10. Evolução do Atendimento e avaliação do trabalho (Avaliar em função do foco: se os

objetivos foram ou não atingidos, como e porque; no caso de desistência, apreciar o

fato, etc).

a) com a criança (Avaliar em função do foco: se os objetivos foram ou não atingidos,

como e porque: no caso de desistência, apreciar o fato, relação paciente-terapeuta,

motivação, etc.)

Quando Concluído:______________________________________________________

______________________________________________________________________

Quando Interrompido:____________________________________________________

______________________________________________________________________

b) com os pais (Avaliar em função do foco: se os objetivos foram ou não atingidos,

como e porque; no caso de desistência, apreciar o fato, relação paciente-terapeuta,

motivação, etc.)

Quando Concluído:_____________________________________________________

______________________________________________________________________

Quando Interrompido:____________________________________________________

11.O cliente aceita ser reconvocado futuramente para uma avaliação do trabalho?

( ) Sim ( ) Não ( ) Não foi perguntado

Nome do(a) Estagiário(a): _________________________________ R.A. Nº

_______________________________________________________R.A. Nº _________

Nome do(a)

Supervisor(a):______________________________________________________

Guarulhos, ______ de ________________________de 20____.

______________________ ___________________________________

Assinatura do(a) Estagiário(a) Assinatura do(a) Supervisor(a)

______________________________________________________________________

Breve Relato da Entrevista de Follow � Up : ___________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

_________________________

Data: _____/______/______

______________________________ _______________________________

Assinatura do(a) Estagiário(a) Assinatura do(a) Supervisor(a)

Page 139: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Apêndice 02

Síntese dos Registros dos

Prontuários

dos Pacientes atendidos em P.B.I em

Page 140: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

2006, na Clínica-escola de

Psicologia da

Universidade Guarulhos

Paciente nº 01:- (Prontuário - 674 � 1)

Idade:- 07 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso

A inscrição do paciente para atendimento psicológico deve-se a uma solicitação

da escola. A queixa trazida pelos pais refere-se a problemas de aprendizagem, não

realiza as atividades propostas pela professora, apresentando comportamento comprometido, dispersando-se facilmente em sala de aula. A queixa ainda abrange atitudes agressivas do paciente, geralmente direcionada aos pais, incluindo a agressão

física e verbal. Trata �se de uma criança adotada. O pai não pode ter filhos. A mãe tem

uma filha mais velha, filha de sua primeira união, tendo resolvido adotar o paciente para

agradar o marido. Não tiveram qualquer contato com a mãe biológica, que tivera 05 filhos e que dera todos para adoção. O paciente é mais próximo da figura materna e

sente muito ciúmes desta com a irmã mais velha. Dorme no quarto dos pais, por não

aceitar ficar com a irmã, em seu quarto e pelo fato do pai trabalhar durante a noite, como motorista. O contato do paciente com a irmã é restrito e, no geral, conflitivo.

Agridem-se verbal e fisicamente. Os pais demonstram ser superprotetores e apresentam dificuldades em estabelecer limites quanto ao comportamento do paciente. Por ser filho adotivo tem tratamento diferenciado. Queixa-se de que em casa ninguém

brinca com ele, tendo necessidade de estar na rua com seus colegas. A dinâmica

familiar não é totalmente favorecida. O pai não tem paciência com o paciente e o agride

fisicamente, aplicando-lhe corretivos (�cintadas�) quase diariamente, além de colocá-lo de castigo, diante de comportamentos de birra. Por duas vezes o menino agrediu fisicamente a mãe. Apresenta dificuldades em estabelecer limites em seu

Page 141: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

comportamento. A criança solicita carinho e a participação de seus pais em sua vida.

Os pais suprem a falta de carinho e paciência com coisas materiais.

Compreensão Psicodinâmica da Queixa que consta da folha de encerramento:-

a) referente à dinâmica familiar: Pais superprotetores. Dificuldades em estabelecer limites em seu comportamento, tratamento diferenciado por motivo da adoção, suprem a falta de carinho e paciência

com coisas materiais (brinquedos, doces...). b) referente à criança:

Está em fase de adaptação ao uso dos óculos, tendo momentos de dores de cabeça, que podem estar prejudicando a aprendizagem. Necessidade de chamar

atenção das pessoas com comportamentos inadequados ( Não fazer a lição,

agressivo). Torna-se agressivo diante de situações que lhe causam frustração

(perda). Foco:-

a) da P.B.I. Mostrar e fazer com que a criança perceba seu potencial e que é capaz de

aprender como qualquer outra criança, não existindo diferença entre elas. b) da Orientação de pais

Sensibilizar os pais no sentido de estabelecer uma conduta mais adequada, quanto a limites e regras. Sensibilizar os pais quanto aos problemas de aprendizagem do filho; sensibilizar os pais quanto a própria realidade da adoção da criança.

Relação com sintomas psicopatológicos:-

A criança demonstra vivenciar sentimentos de rejeição e impotência diante da

indiferença de seus pais. Súmula / Núcleo de Violência:-

A dinâmica familiar não é favorecida. O pai não tem paciência com o paciente e o

agride fisicamente, além de colocá-lo de castigo, diante de comportamentos de birra. O paciente manifesta desejos de fazer seus deveres escolares com o pai, que não tem

paciência e acaba por lhe aplicar corretivos (�cintadas�) quase diariamente. Por duas

vezes o paciente agrediu fisicamente sua mãe. Apresenta dificuldades em estabelecer limites, especialmente no que se refere ao comportamento. A criança solicita carinho e

a participação dos pais em sua vida. Os pais suprem a falta de carinho e paciência com

coisas materiais. Tipo de violência � Violência Física.

Page 142: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 02:- (Prontuário 1188 � 1)

Idade:- 10 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental.

Súmula do Caso

A mãe traz como queixa a preocupação com relação aos filhos, por acreditar que a

separação dos pais possa estar afetando emocionalmente as crianças. A família

apresenta intensos conflitos e necessita de maior entrosamento, para que a dinâmica

familiar possa se organizar favoravelmente. Por dificuldades de relacionamento com o marido, a mãe deixou o lar e levou os filhos consigo. A dinâmica familiar pode ser

entendida como bastante comprometida.O casal, por fim, optou pela separação. Antes

da separação, as discussões eram freqüentes, permeadas por agressões verbais e

físicas, tendo o pai chegado a utilizar objetos cortantes, como facas, ou armas para ameaçar a mãe, sempre na presença dos filhos, que nunca foram poupados ou

respeitados. Logo após a separação, mãe e filho mudaram-se para Presidente Prudente, para a casa de um tio materno do paciente. Pouco tempo depois, dirigiram-se para Coxim, em Mato Grosso, para a casa de uns amigos. Seguiram viagem para Rondônia, onde residem os avós maternos, além de familiares do paciente. A família

retornou para são Paulo por ocasião da oficialização do desquite e aqui fixaram

residência. A cada 15 dias, o paciente vai à casa do pai, de onde retorna muito rebelde.

O paciente procura omitir e, por vezes, negar as agressões que sofria (ou que ainda

sofre), por parte do pai. A mãe casou-se novamente, apresentando-se como satisfatória

a relação do paciente com o padrasto, visto por ele como o �pai do coração�. A

dinâmica familiar se constitui de forma comprometida, havendo forte tensão emocional.

Ocorrem constantes ameaças de agressões físicas e psicológicas, principalmente por

parte do pai contra a mãe, o que é assistido pelos filhos. Esta situação sempre gerou

muitas discussões. Durante o ano de 1995 optaram pela separação. Vários problemas

Page 143: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

ocorreram durante este período, devido ao fato do pai não aceitar a separação. O pai

passou ameaçar a mãe de morte (amolava facas e procurava revólver durante a

madrugada).

Compreensão Psicodinâmica da Queixa:- a) referente à dinâmica familiar:

Apesar da mãe manter um diálogo aberto com seus filhos, orientando-os a respeito de drogas e sexo, este meio familiar carece de afeto, portanto as crianças são

independentes e passam a maior parte do tempo com os seus coleguinhas, sem importar-se com a presença de seus pais.

b) referente à criança: A paciente apesar de ter dez anos de idade, age com certa naturalidade no que diz respeito aos problemas que lhe são trazidos através do meio familiar, respeitando as

opiniões de seus pais e também no meio escolar. Prefere estar na maioria das

vezes na companhia de seus amiguinhos. Foco:-

a) da P.B.I. A paciente é uma criança que carece de afeto familiar, busca suprir esta ausência

através de seus amiguinhos, solucionando os problemas dos mesmos, para sentir-se útil e reconhecida.

b) da Orientação de Pais Nada consta da folha de encerramento. Relação com sintomas psicopatológicos:-

Abandono, solidão, medo. Súmula/Núcleo de Violência;-

A dinâmica familiar se constitui de forma comprometida, havendo forte tensão

emocional. Ocorrem constantes ameaças de agressões físicas e psicológicas,

especialmente por parte do pai contra a mãe, o que é assistido pelos filhos. Esta

situação sempre gerou muitas discussões. Durante o ano de 1995 os pais optaram pela

separação. Vários problemas ocorreram durante este período, devido ao fato do pai não

aceitar a separação. O pai passou a ameaçar a mãe de morte (amolava facas e

procurava revólver durante as madrugadas).

Tipo de violência � Violência Física e Psicológica.

Page 144: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 03:- (Prontuário 1188 � 2)

Idade:- 05 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- Educação Infantil.

Súmula do Caso

Tendo em vista a separação conjugal e diante de um novo relacionamento amoroso, a

mãe manifestou preocupação em estar atingindo o lado emocional e desenvolvimento

escolar e social do seu filho.Teme os danos que poderão ser causados no paciente em

virtude da falta da figura masculina. Por dificuldades de relacionamento conjugal, a mãe

deixou o lar e levou os filhos consigo. A dinâmica familiar pode ser entendida como

comprometida, havendo forte tensão emocional. O casal encontra-se separado atualmente. Antes de concretizarem a separação, ocorrida durante o ano de 1995, as

discussões eram freqüentes e presenciadas pelos filhos. Várias agressões físicas,

verbais, além de ameaças constantes foram vivenciadas pelo paciente. O pai parece não aceitar a separação e utilizava objetos cortantes (como facas) ou armas, para

ameaçar a esposa. Logo após a separação, mãe e filhos mudaram-se para Presidente Prudente, para a casa de um tio materno do paciente. Pouco tempo depois, dirigiu-se para Coxim, em Mato Grosso, para a casa de uns amigos e, por fim, seguiram viagem para Rondônia, onde residem os avós maternos, além de familiares do paciente. A

família retornou para São Paulo por ocasião da oficialização do desquite e aqui fixaram

residência. A cada 15 dias, o paciente vai à casa do pai, de onde retorna muito rebelde.

O paciente procura omitir e, por vezes, negar as agressões que sofria (ou que ainda

sofre), por parte do pai. A mãe casou-se novamente, apresentando-se como satisfatória a relação do paciente com o padrasto, visto por ele como o �pai do coração�. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A criança demonstrou estar bem interagida com a situação da dinâmica familiar,

aceitando os fatos com boa compreensão. b) referente à criança:

Page 145: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

É uma criança dinâmica, ativa, dispondo de boa criatividade, com boa comunicação

e participação geral de todas as atividades desenvolvidas, tanto lúdica como verbal. Foco:- O foco não foi delimitado durante o período de terapia.

Relação com sintomas psicopatológicos:-

Abandono, solidão, desamparo.

Súmula/Núcleo de Violência:- A dinâmica familiar se constitui de forma comprometida, havendo forte tensão

emocional. Ocorrem constantes ameaças de agressões físicas e psicológicas,

principalmente por parte do pai contra a mãe, o que é assistido pelos filhos. Esta

situação sempre gerou muitas discussões. O casal optou pela separação, que ocorreu

durante o ano de 1995. Tipo de violência:- Violência física e psicológica Paciente nº 04 (Prontuário:- 1345 � 1)

Idade:- 05 anos Sexo:- Feminino

Escolaridade:- Educação Infantil.

Súmula do Caso

A queixa apresentada pelos pais refere-se à masturbação, desobediência, teimosia,

falta de limites. Os pais não possibilitam a organização da dinâmica familiar, nem

favorecem o crescimento e amadurecimento da paciente. São omissos na relação com

a paciente e no que se refere ao atendimento de suas necessidades. O casamento ocorreu há 09 anos, e o casal considera satisfatória e sem conflitos a relação que se

estabelece entre ambos. A família é constituída pelo casal, a paciente, de 05 anos, e a

filha caçula, de 08 meses. Os pais encontram dificuldade em lidarem com a paciente,

gritam com a mesma e não têm tempo para brincar ou conversar com a criança, que

acaba por receber pouca atenção ou cuidado.Parece difícil estabelecer relacionamento

satisfatório entre a paciente e sua mãe. Ambas discutem com freqüência, tendo, tal

atitude, intensificado-se com o nascimento da irmã caçula. A mãe informa que irritava-se e sentia-se incomodada ao amamentar a paciente. Mãe sente-se desafiada pela filha, julgando-na teimosa. O pai quando está com a caçula no colo, empurra e chuta a

paciente para que ela não se aproxime. A criança aceita a indiferença da mãe, mas

sofre com o destrato do pai. A insatisfação no casamento recai sobre a paciente que

acaba excluída da relação familiar. Não sobra afetividade para ela, apenas a tensão

desse ambiente que sobrecarrega seu relacionamento com a família, como se ela fosse

o pára -raios do casamento. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: Durante a fase diagnóstica, pode-se notar que a família da paciente colabora para

que a criança sinta - se rejeitada e manifeste, como defesa, comportamentos inadequados que desagradam os pais e foram trazidos como queixa (masturbação,

desobediência). Pode-se perceber que os pais contribuem para que essa situação

não se organize, na medida em que são omissos em relação à criança e procuram

Page 146: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

transferir para outras pessoas relacionadas à criança, como terapeuta e professora,

a responsabilidade de compreender e resolver sua problemática, isentando-se, eles próprios, de tomar uma atitude, já que negam ter problemas no relacionamento conjugal. Essa insatisfação no casamento recaí sobre a paciente que acaba

excluída da relação familiar. Não sobra afetividade para ela, apenas a tensão desse

ambiente que sobrecarrega seu relacionamento com a família, como se ela fosse o pára-raios do casamento.

b) referente à criança: Quanto à paciente percebe-se que é uma criança inteligente, sensível, carinhosa,

mas autoritária, não sabe negociar.Tem sentimentos de agressividade, raiva,

revelados através dos testes e mesmo pelas atitudes manifestas nas sessões.

Possui ainda uma ansiedade e sentimento de rejeição, trazidos de uma fase ainda

primitiva do desenvolvimento (a da alimentação), mas que têm se confirmado para

ela, diante de seu relacionamento com os pais. Através dos desenhos detectou-se que a paciente não encontrou um lugar nessa família em que possa aterrizar com

segurança. A chegada da irmã mais nova à ameaça e faz com que sinta-se cada vez mais preterida. Diante a rejeição dos pais, a criança, ansiosa, utiliza-se, ainda, da onipotência como mecanismo de defesa e a masturbação, foi o modo que

encontrou para sentir-se presente, sentir-se sua existência. Atualmente, passa por

conflitos edipianos que estão difíceis de serem superados, já que o relacionamento

e afetividade com os pais estão prejudicados.

Foco:-

a) da P.B.I. Trabalhar para que a criança entre em contato com seus sentimentos, a fim de baixar sua ansiedade. b) da Orientação de Pais

Tentar leva-los a perceber que são omissos em relação à criança, a qual necessita de uma maior aproximação com eles. Levar a família a refletir sobre suas atitudes

para com a criança, tentando conscientiza-los da necessidade de atenção que a

criança tem.

Relação com sintomas psicopatológicos:-

Rivalidade, hostilidade, medo e angústia.

Súmula / Núcleo de Violência:-

Parece difícil estabelecer relacionamento satisfatório entre a paciente e sua mãe.

Ambas discutem com freqüência, tendo, tal atitude, intensificado-se com o nascimento da irmã caçula. A mãe informa que irritava-se e sentia-se incomodada ao amamentar a paciente. Mãe sente-se desafiada pela filha, julgando-na teimosa. O pai quando está

com a caçula no colo, empurra e chuta a paciente para que ela não se aproxime. A

criança aceita a indiferença da mãe, mas sofre com o destrato do pai. A insatisfação no

casamento recai sobre a paciente que acaba excluída da relação familiar. Não sobra

afetividade para ela, apenas a tensão desse ambiente que sobrecarrega seu

relacionamento com a família, como se ela fosse o pára -raios do casamento.

Tipo de violência:- Violência física e psicológica

Page 147: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 05 (Prontuário :- 1375 � 1)

Idade:- 10 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 4ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso

Os pais trazem como queixa o fato da paciente não gostar da matéria de Educação

Artística. Apresenta enurese noturna, enxaqueca, brigas com a irmã, muito nervosa. A

família é constituída pelo casal, a paciente e uma filha caçula, de 06 anos. A mãe não a

repreende com freqüência, principalmente quanto à queixa central, enurese noturna. A

dinâmica familiar é tida como favorável, não havendo discussões. O pai não se

apresenta como uma pessoa exigente e rígida, ao contrário, é bastante afetivo com a

família, demonstrando muito carinho e respeito pela paciente. A mãe relata que durante

02 anos fez tratamento para engravidar, tendo a paciente sido uma filha desejada. O casal vive em harmonia. A criança apresenta bom comportamento e rendimento

escolar de maneira geral, apesar dos resultados não serem satisfatórios na disciplina

de Educação Artística., preferindo estabelecer contato com crianças mais velhas.

Apresenta dificuldades em externalizar os seus sentimentos e de interagir mais adequadamente. É obediente com seus pais. É percebida como uma criança amorosa e

procura obedecer os pais. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A criança apresentava inibição, sendo que todas as coisas que a criança faziam

irritavam sua mãe, recebendo elogios do pai. b) referente à criança:

A criança informa ter muito sono devido ao medicamento que toma e não consegue

acordar durante a noite. É bastante autocrítica e acaba sendo muito exigente com

as demais pessoas. Tem conflitos com crianças da mesma idade com dificuldades

de externalizar os conflitos e interagir melhor.

Page 148: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Foco:-

a) da P.B.I. Em função de não conseguir externalizar os conflitos internos que é o mesmo motivo

que a leva a ter dor de cabeça. Medo de ser abandonada com vivências traumáticas. b) da Orientação de Pais

Teriam que aproveitar a meninice da paciente senão iriam desperdiçar esse tempo

com estes ciúmes e porque esta fase não volta mais; serem mais solidários,

compreensivos e não competitivos (principalmente por parte da mãe e da irmã). Relação com sintomas psicopatológicos:-

Ambivalência de sentimentos: amor e ódio. Súmula / Núcleo de Violência:-

Não foram detectados registros de sinais de violência. Tipo de violência:- Não foram registrados indícios de violência Paciente nº 06 � (Prontuário 1408 � 1)

Idade:- 09 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:-

A queixa apresentada pela mãe é de indisciplina, desatentação, nervosismo,

agressividade. A figura materna apresenta sentimentos ambivalentes com relação ao

futuro do paciente, incluindo sua opção profissional e vocação religiosa. As atitudes

instáveis da mãe comprometem a organização interna do paciente, apresentando-se confuso diante das situações a que é exposto, acabando por manifestar desejo de ter

acesso às suas raízes. A dinâmica familiar não é percebida como facilitadora de uma

ação adequada de seus membros. A mãe apresenta-se de forma confusa e ambivalente, ora querendo que seu filho seja padre, afastando-o dos amigos e de todos os interesses de uma criança, ora dizendo que não deseja que ele se torne um padre. A

mãe nunca se casou e resolveu adotar o paciente, o qual sempre teve muito temor de

perder. A mãe sempre se percebeu muito vigiada, submetendo-se às vontades de sua

mãe. Percebe � se que o paciente é muito importante para sua mãe, que acaba por não

saber como orientá-lo, tornando-se confusa e ambivalente, apresentando uma dinâmica

instável e insatisfatória. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: Nesta família a mãe mostra-se ambivalente e confusa. Há ocasiões em que a figura

materna protege o paciente em demasia. Em determinadas situações cobra-lhe uma postura adulta e amadurecida, expressando dificuldade em aceitar a idade real de seu filho. A mãe não oferece oportunidades para que a criança estabeleça

relacionamento com meninos de sua faixa etária. Em alguns momentos a mãe

dificulta tal contato, não permitindo aproximação e diversão com seus amigos,

conduzindo seu filho a freqüentar a igreja e com os adultos que o rodeiam,

Page 149: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

afastando-o de seu mundo infantil. Porém há uma ambivalência por parte da mãe

que demonstra não querer que seu filho seja padre. b) referente à criança:

Demonstra agitação, falta de atenção, certa ansiedade e confusão. Ao tratar do

desenho que se refere a uma família desejada insere a figura paterna, expressando

a falta de tal presença para ele. Ao tratar do desenho de uma família qualquer o

paciente fornece dados ao futuro, colocando-se como o pai. Ao relatar uma história

sua demonstra desejos de ter amigos, conhecer os pais biológicos tornando o seu

relato confuso. Tenta elaborar tal curiosidade estabelecendo um contato maior com a igreja não se deixando envolver emocionalmente com outras pessoas, colocando-se em uma posição de defesa. Busca elaborar o desejo de conhecer os pais, estabelecendo um contato maior com a igreja. Não consegue relacionar-se com o sexo oposto, demonstrando possuir conflitos, encontra dificuldades para internalizar seu papel, especialmente no que se refere à sua dinâmica social.

Foco:-

a) da P.B.I. Trabalhar com a criança o objetivo de levar a tomar consciência do momento de

sua explosão. b) da Orientação de Pais Levar a mãe à compreender a importância de sua dinâmica familiar e os temores de

perda do seu filho. Relação com sintomas psicopatológicos:-

Sentimentos de ambivalência, medo, angústia, desapontamento. Súmula / Núcleo de Violência:-

A dinâmica familiar não é percebida como facilitadora de uma ação adequada de seus

membros. A mãe apresenta-se de forma confusa e ambivalente, ora querendo que seu filho seja padre, afastando-o dos amigos e de todos os interesses de uma criança, ora

dizendo que não deseja que ele se torne um padre. A mãe nunca se casou e resolveu

adotar o paciente, o qual sempre teve muito temor de perder. A mãe sempre se

percebeu muito vigiada, submetendo-se às vontades de sua mãe. Percebe � se que o paciente é muito importante para sua mãe, que acaba por não saber como orientá-lo, tornando-se confusa e ambivalente, apresentando uma dinâmica instável e insatisfatória. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 150: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 07 � (Prontuário � 1430-1)

Idade; - 07 anos.

Sexo; - masculino.

Escolaridade; - 1ª série do Ensino Fundamental.

Súmula do Caso

A queixa apresentada pelos pais é a de que o paciente não associa letras, é

desobediente, desatento, com constantes reclamações dirigidas aos pais pela escola.

Dificuldades mais acentuadas em Matemática, denotando significativa dificuldade em

expressar seus sentimentos, não atendendo às orientações de seus pais e professores.

Os pais reclamam que o paciente é muito agitado, não pára quieto e briga muito com o

irmão. O paciente é visto por todos os membros da família como uma criança que não

coopera. Os pais queixam-se principalmente da desobediência e esclarecem que, após

o trabalho realizado em Psicoterapia Breve, no semestre anterior, o paciente passou a expressar com espontaneidade tudo o que sente. A mãe acrescenta que sempre se

preocupou muito com seu filho, com receio de perdê-lo, como ocorrera com a primeira filha , preocupação esta agravada pelos problemas de otite e sinusite que o paciente

apresentava até os três anos de idade. Durante o trabalho de acompanhamento

psicológico com o menor e de Orientação realizado com seus pais foi detectado não se

tratar de uma dinâmica familiar com sérios comprometimentos. A família parece

constituir uma dinâmica parcialmente organizada. O casal se preocupa com o bem-estar e o pleno desenvolvimento de seus filhos. Devido a morte da filha mais velha, foram muitos os cuidados e a preocupação dos pais com o paciente, até o nascimento

do irmão caçula, quando então deslocaram plena atenção para o menor, o que

acarretou muito medo, insegurança e ciúmes, com os quais o paciente não conseguia

lidar de forma adequada. O pai parece ser uma pessoa compreensiva, não

apresentando maiores conflitos no contato com seus filhos. A mãe, no entanto, articula

com maior dificuldade o relacionamento com os membros da família. A figura materna

surge como uma pessoa mais insatisfeita, insegura, que não consegue lidar mais

adequadamente com seus filhos, o que impossibilita a organização interna da dinâmica

Page 151: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

familiar. Admite que retoma a atividade de sua vida produtiva para se desobrigar da responsabilidade dos cuidados direto com os filhos, pois irrita-se constantemente com os mesmos, o que provavelmente caracteriza a necessidade que o paciente apresenta em manter-se dependente, não efetivando conquistas, com provável objetivo e

necessidade de obter uma atenção diferenciada, provavelmente dos pais. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A família é composta pelos pais e dois filhos, sendo o paciente o filho mais velho.

Antes do nascimento do paciente existe o fato da mãe perder uma filha após o

nascimento que associa a um assalto ocorrido nas vésperas do parto. O irmão

caçula está com três anos. Os pais trabalham fora, na residência do casal mora

uma tia materna que toam conta das crianças. Na entrevista realizada com a mãe

percebi que a mesma não sabe lidar muito bem com as crianças, mostra-se uma pessoa ansiosa. Ela própria menciona que logo após o nascimento do caçula tinha

parado de trabalhar pois ele teve alguns problemas de saúde, inclusive fez uma

cirurgia, ficou internado quase dois meses. Passado algum tempo precisou trabalhar pois não tinha muita paciência, ficava nervosa, foi quando sua irmã veio

para auxiliá-la. O pai mostra-se mais tranqüilo, fala de maneira pausada. De modo

geral, dentro de suas condições esses pais propiciam às crianças passeios nos fins

de semana. Há certa preocupações por parte dos pais em dar atenção em

igualdade às crianças, um aspecto a ser trabalhado durante o processo. b) referente à criança:-

O paciente está com 07 anos, está cursando a 1ª série, mostra-se educado e sensível. Durante as sessões, exames de seus cadernos, jogo de palavras, não há

evidências de que tenha problemas de aprendizagem, mostra-se um tanto dependente, solicitando auxílio para abrir vidros de guache, no manuseio de objetos

percebi não ter muita habilidade, que pode estar relacionada a dificuldades de coordenação motora. O paciente é canhoto. Tem ansiedade e agitação como

defesas, mostra-se capaz de se conter, é contido, mas vive como se não fosse

capaz, nas primeiras sessões em determinados momentos morde os lábios, esfrega

os olhos, muda de idéia quanto a uma atividade e outra. Pude perceber certa

angústia relacionada à morte, na primeira sessão em que se propôs a fazer um

desenho livre toda a temática versava sobre fantasmas, monstros e casas mal assombradas com história muito confusa, demonstrando ainda dificuldades em

elaborar, sintetizar e organizar seus pensamentos e sentimentos, que estariam relacionados a fatores emocionais. Portanto podemos levantar a hipótese de que o

paciente tenha necessidade de se manter dependente e não efetiva conquistas que

já poderia ter alcançado dentro de sua faixa etária. Podemos supor que o paciente

mantêm-se numa posição de excessiva dependência, com o objetivo de obter uma

atenção especial. Foco:-

a) da P.B.I. Trabalhar com a criança suas dificuldades em fazer sínteses, organização de

pensamentos e sentimentos. b) da Orientação de Pais

Page 152: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Trabalhar com os pais a questão da atenção que o paciente precisa como forma de

alívio da ansiedade, o que possibilitará um melhor modo de orientação e organização

psíquica. Relação com sintomas psicopatológicos:-

Incapacidade, inadequação, Medo. Súmula / Núcleo de Violência:-

Durante o trabalho de acompanhamento psicológico com o menor e de Orientação

realizado com seus pais foi detectado não tratar-se de uma dinâmica familiar com sérios

comprometimentos. A família parece constituir uma dinâmica parcialmente organizada.

O casal se preocupa com o bem-estar e o pleno desenvolvimento de seus filhos. Devido a morte da filha mais velha, foram muitos os cuidados e a preocupação dos pais

com o paciente, até o nascimento do irmão caçula, quando então deslocaram plena

atenção para o menor, o que acarretou muito medo, insegurança e ciúmes, com os

quais o paciente não conseguia lidar de forma adequada. O pai parece ser uma pessoa tranquila, não apresentando maiores conflitos no contato com seus filhos. A mãe, no

entanto, articula com maior dificuldade o relacionamento com os membros da família.

Surge como uma pessoa mais insatisfeita, insegura, que não consegue lidar mais

adequadamente com seus filhos, o que impossibilita a organização interna da dinâmica

familiar. Admite que retoma a atividade de sua vida produtiva para se desobrigar da responsabilidade dos cuidados direto com os filhos, pois irrita-se constantemente com os mesmos, o que provavelmente caracteriza a necessidade que o paciente apresenta em manter-se dependente, não efetivando conquistas, com provável objetivo e

necessidade de obter uma atenção especial. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 153: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 08 (Prontuário:- 1448 � 1)

Idade:- 09 anos Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso

A inscrição para atendimento psicológico ocorreu mediante um encaminhamento do Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da Comarca de Guarulhos.A queixa deve-se ao medo excessivo que a paciente sente. Trata-se de criança agressiva, reservada, que não

expõe o que sente, sendo muito apegada à mãe.A dinâmica familiar sempre foi muito conturbada, não propiciando à paciente a organização interna de seus conteúdos.Os

pais optaram pela separação quando a paciente estava com 04 anos. As discussões

eram freqüentes e na presença da criança. Inconformado com a separação, o pai

passou agir de forma mais agressiva, chegando a jogar pedras contra a casa em que a paciente residia com sua mãe. Cinco meses após a separação, a paciente passou

apresentar graves distúrbios emocionais, tendo como uma das causas o fato do pai

fazer com que a paciente o masturbasse, além de levar a paciente a locais pouco

recomendáveis, trazendo-a, no retorno das visitas, sempre suja e faminta. Este dado impeliu a mãe a entrar com recurso junto à Vara da Infância do Juizado de Menores de

Guarulhos, que restringiu a visita do pai à casa em que a paciente residia e na

presença da figura materna. Apesar da separação, antes da paciente receber as visitas

de seu pai, seu comportamento mantinha,-se inalterado, alegre e fluído, em todos os

setores quais sejam individuais, sociais, escolares, familiares, amistosos, higiênicos,

motores, emocionais, etc, tendo sido avaliado que os conflitos da paciente decorriam a partir da retirada freqüente da paciente da companhia da mãe. A paciente é vista pela

mãe como uma criança muito retraída em relação aos seus sentimentos, não fala sobre

eles. Apresenta muita restrição ao falar sobre o pai. Durante o atendimento verificou-se que a queixa não procede. A criança tem um comportamento normal para sua idade.

Sua agressividade é percebida dentro do limite tolerável, pois só agride quando é

insultada e de forma não exagerada emocionais. Os próprios argumentos e fatos

vividos pela paciente desde a decisão de seus pais em separarem-se, até o curso final

Page 154: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

de tal vontade, parecem constituir elementos imperativos contra o seu equilíbrio

psíquico, mas as causas estão em aspectos bem mais sombrios, sólidos e penosos. A

partir do momento em que a criança teve que se afastar da companhia da mãe e de seu

lar para acompanhar o pai nas visitas, a situação de violência pôde ser registrada de

forma mais clara, tendo, a paciente, mostrado-se calada, medrosa, rebelde, angustiada, chorona e apática. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A queixa não teve fundamento, a criança tem um comportamento normal para sua

idade. Sua agressividade é normal pois só agride quando é insultada e de forma não

exagerada. b) referente à criança:

Tranqüila, fala com �naturalidade� o que lembra do pai, uma vez que os pais se

separaram há vários anos e ela não teve mais contato com o pai. Foco:-

a) da P.B.I. Foi constatado que a criança não demonstra mais ter medo, ou agressividade além

do normal. b) da Orientação de Pais

Lidar com a relação com os pais e com sua própria figura feminina. Precisa trabalhar sua idéia de inferioridade e o complexo de sai mesma em relação à obesidade.

Relação com sintomas psicopatológicos:-

Medo, insegurança, angústia. Súmula / Núcleo de Violência:-

Os pais se separaram quando a paciente estava com 04 anos. Cinco meses após a

separação a paciente passou a apresentar graves distúrbios emocionais. Os próprios

argumentos e fatos vividos pela paciente desde a decisão de seus pais em separarem-se, até o curso final de tal vontade, parecem constituírem elementos imperativos contra o seu equilíbrio psíquico, mas as causas estão em aspectos bem mais sombrios,

sólidos e penosos. A partir do momento em que a criança teve que afastar-se da companhia da mãe e de seu lar para acompanhar o pai nas visitas, a situação de

violência pôde ser registrada de forma mais clara, tendo, a paciente, mostrado-se calada, medrosa, rebelde, angustiada, chorona e apática. Tipo de violência:- Violência psicológica e sexual

Page 155: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 09 (Prontuário:- 1450 � 1)

Idade:- 09 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 2ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso

A inscrição para atendimento psicológico ocorreu por solicitação da escola. O paciente

apresenta dificuldade de memorização, pois não consegue reter informações acerca

das matérias dadas em sala de aula, denotando falta de interesse. Os pais atualmente

estão separados. A separação ocorreu devido ao fato do pai beber em demasia e em

decorrência da bebida, terem surgido muitas brigas. Na época o paciente tinha 04 anos.

A criança sempre presenciou várias discussões. Após a separação, durante 01 ano e

04 meses, o paciente viveu com a mãe. O paciente vivia com a mãe e 03 irmãs, já

adultas. Todas trabalhavam e o paciente ficava sempre muito só, aproveitando para

fugir de casa. Desde então e, a seu pedido, passou a viver com o pai. A princípio a mãe

foi contrária a esta idéia. O pai relata que, às vezes, o paciente sente saudades da

mãe, mas a visita sempre que deseja vê-la. A dinâmica familiar não possibilita a

organização da criança. Reside com pai e madrasta, a qual é muito rígida com o

paciente, não demonstrando afetividade, sendo hostil e distante. A criança não se

percebe aceita e amada em seu lar. Sente-se confusa, não conseguindo lidar e

reconhecer o próprio espaço nesta família. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: Os pais verdadeiros do paciente são separados. Atualmente o paciente mora com

seu pai e sua madrasta. Essa, por sua vez, mantém uma conduta rígida com relação

ao paciente, impossibilitando uma relação familiar mais adequada. b) referente à criança:

Diante desse contexto familiar o paciente sente-se confuso de modo que impossibilita sua adequação no contexto escolar.

Page 156: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Foco:-

a) da P.B.I. Trabalhar o emocional ajudando o paciente a lidar com o seu espaço na atual

família, com isso melhorar seu desempenho escolar. b) da Orientação de Pais

Sensibilizar os pais a uma maior flexibilidade principalmente na conduta rígida de

sua madrasta, viabilizando uma maior adequação ao contexto familiar com relação

ao paciente e conseqüentemente maior adequação no seu desempenho escolar Relação com sintomas psicopatológicos:-

Instabilidade, defensivo, impotência. Súmula / Núcleo de Violência:-

A dinâmica familiar não possibilita a organização da criança. Reside com pai e madrasta, a qual é muito rígida com o paciente, não demonstrando afetividade, sendo

hostil e distante. A criança não se percebe aceita e amada em seu lar. Sente-se confusa, não conseguindo lidar e reconhecer o próprio espaço nesta família.

Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 157: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 10 (Prontuário:- 1504 � 1)

Idade:- 09 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula da Caso

A criança apresenta dificuldades no processo de aprendizagem, sendo aprovada todo ano após intensa recuperação. Apresenta problemas quanto à memorização, a não

acompanhar o ritmo dos colegas de classe e desleixo com seu material.A família é

constituída pelo casal e três filhas: a mais velha com 13 anos e duas com 09 anos, sendo a paciente filha adotiva. Casados há 19 anos, sempre desejaram ter um filho

adotivo, mas com muitas dificuldades a mãe conseguiu engravidar. A mãe apresenta

problemas uterinos, tendo permanecido em repouso durante as duas gestações. A mãe

informa que estava no 6º mês de gestação de sua segunda filha quando optaram pela

adoção. No início, com 03 crianças pequenas e com um acúmulo de atribuições,

sofreram uma certa desorganização na dinâmica familiar, embora considerem satisfatório o relacionamento atual entre os membros da família. A mãe informa que a

queixa teve início quando uma professora de Educação Física contou à paciente que

ela é adotiva, sem qualquer intenção de ajuda, prejudicando seu rendimento escolar.

Desde então, vem enfrentando dificuldades para lidar com a filha, que alega que a mãe

lhe mentiu. Os pais não a recebem como adotiva e procuram atender às suas

expectativas. A criança apresenta dificuldades no processo de aprendizagem. Seu rendimento

escolar é precário, não conseguindo memorizar os conteúdos programáticos

desenvolvidos em sala de aula, além de desperdiçar seus materiais escolares. Segundo

a mãe, a paciente nunca manifestou interesse por atividades escolares, sendo

promovida anualmente após intensa recuperação. As dificuldades escolares coincidem

com a época da descoberta da adoção. Trata-se de criança carinhosa, que apresenta

sinais de agressividade em determinadas situações, não conseguindo manter um

relacionamento muito próximo, com elogios e troca de afetos, com as pessoas. Os pais demonstram uma exigência muito intensa com relação às atividades exercidas pela

Page 158: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

paciente, não permitindo que a criança tenha um ritmo próprio. A paciente foi

surpreendida com a informação, dada por uma professora na escola, de que é adotiva.

A partir desta informação, o relacionamento, da paciente com a família, especialmente

com a mãe, tem se tornado hostil, não havendo confiança. A mãe mantém

comportamento inadequado, em desenvolver atitudes de comparação entre suas filhas. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A mãe da criança associa todos os problemas ao fato de ser adotiva e ter descoberto

na escola, os pais demonstram uma exigência muito grande, não permitindo que a

criança tenha um ritmo próprio. b) referente à criança:

Tem conhecimento da queixa, embora durante os atendimentos traga conteúdos que

diferem da mesma. Encontra-se sem estimulação positiva e motivação quanto aos

estudos. Foco:-

a) da P.B.I. Problemas de aprendizagem relacionados à dinâmica familiar e conteúdos internos

da criança. b) da Orientação de Pais

Sensibilização referente à conduta familiar, especialmente materna, que indica

comportamento inadequado na elaboração de atitudes relacionados ao foco e em desenvolver sentimentos de comparatividade ente seus filhos.

Relação com sintomas psicopatológicos:-

Rivalidade, depreciação. Súmula / Núcleo de Violência:-

Os pais demonstram uma exigência muito intensa com relação às atividades exercidas

pela paciente, não permitindo que a criança tenha um ritmo próprio. A paciente foi

surpreendida com a informação, dada por uma professora na escola, de que é adotiva.

A partir desta informação, o relacionamento, da paciente com a família, especialmente

com a mãe, tem se tornado hostil, não havendo confiança. A mãe mantém

comportamento inadequado, em desenvolver atitudes de comparação entre suas filhas. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 159: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 11 (Prontuário:- 1534 � 1)

Idade:- 08 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso

Os pais realizaram inscrição do paciente para acompanhamento psicológico por

indicação da escola. A queixa refere-se às dificuldades de aprendizado, que repercute em déficit no rendimento escolar. Apresenta dificuldades para reter informações,

dispersa-se facilmente, é preguiçoso e lento na execução das atividades de maneira

geral. O casamento ocorreu há 09 anos. No relacionamento há poucos atritos, evitam

discussões, especialmente na presença da criança. O paciente é filho único, sua mãe

não pretende ter mais filhos, diz que não tem paciência com crianças. O pai diz que

está difícil para ter mais um filho e ambos afirmam que o paciente é muito arteiro. O pai

refere-se ao paciente como sendo uma criança que reage com naturalidade às

situações a que é exposto, enfrentando a necessidade de tomar injeção, por exemplo,

sem esboçar qualquer reação contrária. Os pais informaram que, em virtude de processos alérgicos desenvolvidos pelo paciente, a família fez uma série de adaptações

em casa, (exclusão do uso de cortinas, carpetes, cobertores, bichos de pelúcia, etc.) na

tentativa de propiciarem melhores condições de vida para a criança. Apesar da tentativa de ajuste ao convívio familiar, os pais apresentam atitudes de intensa cobrança com

relação ao comportamento do paciente. O paciente sente-se muito sozinho, diz que gostaria muito de ter um irmão e que por

isso faz artes. Não é compreendido pelos pais, que procuram limitar suas ações. No

contato com crianças menores ou com pessoas indefesas (uma tia materna, com

problemas de rebaixamento mental), o paciente acaba por agredi-las ou provoca-las, instituindo uma relação de poder. Apesar de reconhecer no paciente uma criança que não lhes desobedece, que é bom,

os pais queixam-se do fato do paciente ser preguiçoso e lento, especialmente nas

atividades escolares, julgam-no teimoso. Os pais nunca estão disponíveis para as

Page 160: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

necessidades do paciente. Nunca estão ao seu lado. Sempre ocupados e sem

paciência, acabam por serem responsáveis pelas atitudes inadequadas do paciente. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A família demonstra ter uma certa harmonia no relacionamento, porém há uma

atenção e cobrança dirigida ao comportamento do filho (único). O pai também não

trabalha atualmente, assumindo as prendas domésticas e a inversão de papéis. b) referente à criança:

Apesar de sentir algumas dificuldades em algumas matérias, o paciente está na

série adequada para sua idade ( 09 anos � 4 série). Foco:-

a) da P.B.I. Baixo rendimento escolar b) da Orientação de Pais

Diminuir a ansiedade com relação ao comportamento do filho �criticar� menos e

motivar, quando necessário. Solicitação de alguns documentos: Relatório Escolar e

Médico do paciente. Relação com sintomas psicopatológicos:-

Medo, angústia, solidão, impotência. Súmula / Núcleo de Violência:-

Apesar de reconhecer no paciente uma criança que não lhes desobedece, que é bom,

os pais queixam-se do fato do paciente ser preguiçoso e lento, especialmente nas

atividades escolares, julgam-no teimoso. Os pais nunca estão disponíveis para as

necessidades do paciente. Nunca estão ao seu lado. Sempre ocupados e sem

paciência, acabam por serem responsáveis pelas atitudes inadequadas do paciente. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 161: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 12 (Prontuário:- 1571 � 1)

Idade:- 11 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso Os pais queixam-se que a paciente mente bastante, principalmente em relação a

situações na escola, no que diz respeito a bilhetes que têm que ser entregues aos pais

e a mesma os esconde. Apresenta bom comportamento na escola. Não expressa seus sentimentos. É bastante reservada. É sociável, contactua facilmente com as pessoas,

mantendo constantes suas amizades, conseguindo estreitar com o pai uma relação de

muito afeto e compreensão. É carinhosa, obediente, prestativa, preocupada e

demonstra sentir muito medo diante de situações trágicas. A família convive há 15 anos

e é constituída pelo casal, a paciente e uma filha de 09 anos, com a qual a paciente

mantém bom contato. Por ter tido 02 abortos espontâneos, a mãe fez um tratamento

rigoroso e acabou engravidando da paciente. A família demonstra viver em harmonia,

procurando constituir uma unidade. Procuram dialogar sempre que se deparam com situações que constituem em impasse. Não estão conseguindo lidar com o fato da

paciente �mentir� e estão encontrando dificuldade em aceitar que a mesma é uma pré-adolescente e que os limites são necessários. Denota um ajuste na dinâmica familiar,

sendo que aparentemente vivem dentro de um clima positivo, embora não consigam

aceitar que a paciente cresceu e que precisam instituir limites. Apesar do bom contato atual do casal, já passaram por situações conflitivas, discutindo na presença das filhas. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A família da paciente mostra-se um tanto quanto ajustada, sendo que aparentemente vivem dentro de um clima positivo, apenas ainda não conseguem

aceitar que a paciente já é uma adolescente e assim precisam colocar limites. b) referente à criança:

A criança traz seu problema com muita naturalidade e espontaneidade referindo-se aos pais como pessoas que não exigem assim não estabelecem limites.

Page 162: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Foco:-

a) da P.B.I. Trabalhar o �mentir� que faz com que a paciente esconda situações que a

comprometam. b) da Orientação de Pais

Mostrar aos pais que é necessário a colocação de limites para que a paciente

comece a mudar determinados comportamentos. Relação com sintomas psicopatológicos: Dependência, angústia. Súmula/Núcleo de Violência:-

Não foram detectados sinais de violência na dinâmica familiar. Tipo de violência:-Não foram registrados indícios de violência Paciente nº 13 (Prontuário:- 1578 � 1)

Idade:- 10 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 4ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso Os pais trouxeram como queixa tarefas escolares inacabadas, por ser lento, disperso e distante. Sente-se só por não ter irmãos, apresenta momentos de agressividade verbal.

A dinâmica familiar apresenta-se comprometida por não haver união, a valorização dos

papéis e por não funcionar de forma que não prejudique as relações emocionais. A mãe

é dominadora e sufoca o relacionamento familiar, propiciando e facilitando o

distanciamento entre pai e filho, fazendo prevalecer o que julga estar correto. O trabalho da mãe exige um tempo extenso, impedindo um convívio mais próximo e diário

com a família. O paciente sente dificuldade em lidar com esta situação, propiciando a

ocorrência de conflitos. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: Através de dados obtidos com os pais, percebe-se que a dinâmica familiar apresenta-se dispersa. A família necessita de mais união, um maior contato diário

entre seus membros. A mãe nesta família é dominadora, acabando por sufocar o

relacionamento entre todos, pois não permite que a criança passe a semana em

casa com o pai. A mãe possui uma ligação afetiva excessiva com o filho, tem um

grande medo de perdê-lo, acabando por distanciar o pai do relacionamento com o filho. O pai pouco se posiciona na família, deixando a resolução das dificuldades nas

mãos da mãe. A família encontra dificuldades pelo fato da mãe trabalhar demais e

dedicar a maior parte do seu tempo aos afazeres do emprego, existindo uma cobrança para que a mãe permaneça mais tempo em casa, convivendo com o pai e

o filho. Dentro de uma estrutura familiar falta a união de todos para que não se

sintam distantes e possam conviver mais tempo unidos. b) referente à criança:

Page 163: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Lento, disperso e agressivo quando colocado em contato com situações onde sentia-se pressionado pelas atividades a serem realizadas, não tolerando a frustração. A

criança exige muito de si mesma e acaba não aceitando o fato de que possa cometer

erros. Sente-se confuso pelo fato de conviver com duas famílias de dinâmicas

diferenciadas. Sente falta do convívio com a figura paterna, sentindo que não há

união familiar. Sente ódio ao ser colocado em situações onde existem limites.

Necessita mostrar sua superioridade nas atividades realizadas, não estabelecendo

um equilíbrio entre o �ganhar e o perder�. A criança sente-se muito só, pois não

convive na companhia de outras crianças e pouco sae com os amigos do colégio.

Com relação às fases do seu desenvolvimento, atravessou mal pelas fases e sua

fase edípica não foi suficientemente elaborada.

Foco:-

a) da P.B.I. Trabalhar para que a criança possa diminuir seu sadismo, por sentir-se ora frágil, ora

superior, possibilitando encontrar o equilíbrio nas relações, estabelecendo-se condições de lidar com o poder e os limites.

b) da Orientação de Pais Trabalhar e levar a família a compreender que a união é importante na dinâmica

familiar, a valorização dos papéis e a funcionar de forma que não prejudique as

relações emocionais da família.

Relação com sintomas psicopatológicos Impotência, hostilidade, fragilidade. Súmula / Núcleo de Violência:- A dinâmica familiar apresenta-se comprometida por não haver união, a valorização dos papéis e por não funcionar de forma que não

prejudique as relações emocionais. A mãe é dominadora e sufoca o relacionamento

familiar. O trabalho da mãe exige um tempo extenso, impedindo um convívio mais

próximo e diário com a família. O paciente sente dificuldade em lidar com esta situação,

propiciando a ocorrência de conflitos. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 164: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 14 (Prontuário:- 1579 � 1)

Idade:- 10 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso A inscrição para atendimento psicológico ocorreu por solicitação da professora, por

afirmar ser a paciente uma criança desligada, desinteressada, calada, não interage com as pessoas e na escola muito desatenta, apresentando caligrafia irregular e ilegível. O

paciente é filho de mãe solteira, tendo residido com a mãe, na casa da avó materna, até

os 07 anos de idade. Ainda solteira a mãe teve 02 filhos; uma menina de 12 anos, e o paciente, com 10 anos, ambos de pais diferentes. O paciente não conhece seu pai

biológico. Passou a residir com a mãe após seu casamento. Deste casamento a mãe

teve mais 02 filhos; um menino de 04 anos e uma menina de 03 anos. Duas foram às tentativas, infrutíferas, de viver com a mãe, retornando à casa da avó. Atualmente a

criança reside com 09 pessoas: os avós maternos, um casal de tios maternos e 05

primos. A criança sempre se queixou de desatenção e falta de afeto por parte da mãe.

A avó o julga como uma pessoa irresponsável, especialmente no que se refere às

atribuições da escola. A avó é manipuladora e tudo é feito do jeito e por determinação

dela, constituindo-se em uma família dominada pelas imposições da avó. Apresenta-se tímido e reservado, não expressando seus sentimentos. Procura manter um contato

superficial com as pessoas. A criança apresenta sinais intensos da carência de afeto,

sofre pela indiferença da mãe, não se sentindo parte integrante de sua vida, não tendo

encontrado lugar seu lugar nesta família. A avó é dominadora e acredita que esta é a

forma correta de educar o paciente, que não se sente compreendido e, por vezes,

apresenta-se de forma hostil diante das situações a que se submete. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A mãe da criança não se submete às ordens da avó materna e por isto existe um

clima de rivalidade. Também percebemos que a avó é manipuladora, tudo tem que

ser do jeito dela. É uma família dominada pelos gostos e imposições da avó. b) referente à criança:

Page 165: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

A criança é carente de afeto, de carinho, sente-se diferente, pois só ela é que não

mora com a mãe. Por essa ausência da mãe, a criança apresenta tais

comportamentos, como uma forma de chamar a atenção. Foco:-

a) da P.B.I. Dificuldade de expressar alguns de seus sentimentos, dificultando assim seu relacionamento. A ausência da mãe faz com que ele se comporte diferente para

chamar atenção. b) da Orientação de Pais

Orientar a avó quanto a dificuldade que tem de se relacionar com a filha e a sua maneira de dominar as pessoas e situações.

Relação com sintomas psicopatológicos Incapacidade, hostilidade, desamparo, solidão, impotência. Súmula / Núcleo de Violência:-

A criança apresenta sinais intensos da carência de afeto, sofre pela indiferença da mãe,

não se sentindo parte integrante de sua vida, não tendo encontrado lugar seu lugar

nesta família. A avó é dominadora e acredita que esta é a forma correta de educar o

paciente, que não se sente compreendido e, por vezes, apresenta-se de forma hostil diante das situações a que se submete. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 166: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 15 (Prontuário:- 1587 � 1)

Idade:- 12 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 4ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso A criança está apresentando problemas de aprendizagem por não se dedicar aos

estudos, não demonstrando interesse, estando sempre alheia às orientações fornecidas

em sala de aula. É muito desligada. Foi retida na 1ª e 4ª séries. A dinâmica familiar sempre foi prejudicada pelos constantes desentendimentos

ocorridos entre o casal. A paciente é a filha mais nova de três irmãos, estando os

demais com 20 anos (sexo feminino) e 17 anos (sexo masculino), com os quais estabelece um relacionamento satisfatório. A gravidez da paciente foi indesejada,

devido ao fato do pai ser um alcoólatra. A separação vista como inevitável, ocorreu há

aproximadamente 12 anos. Na ocasião a paciente estava com 03 meses de vida. A

criança nunca queixou-se da ausência do pai. Esporadicamente o pai os visita e,

quando o faz, geralmente está embriagado, faz escândalo e todos acabam sendo

expostos a um profundo constrangimento. É possível que a criança apresente o

comportamento de ser desligada para não entrar em contato com a dificuldade em

estabelecer uma relação mais efetiva com o pai. A figura paterna apresenta-se bastante comprometida. O problema central de aprendizagem está relacionado a aspectos

emocionais. A criança lida muito com a realidade, mostrando - se melancólica e

depressiva. Difícil contato com o pai, que coloca em dúvida a paternidade da paciente. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: Entrevista com a mãe: A mãe traz como queixa que a criança é aérea, distraída, sem interesse escolar e

este comportamento está lhe trazendo problemas de aprendizagem. Existe a

preocupação da mãe com o futuro da criança e também com o sustento dela, pelo

fato dela (mãe) ser sozinha, mas a mãe não percebe que o problema não é só de

aprendizagem, e sim emocional relacionado à família e no relacionamento com o pai. Entrevista com o pai:

Page 167: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Pai separado da mãe, alcoólatra, que se apresenta mal, cheira mal, veio à entrevista

em estado de embriaguez e apresenta dúvidas da criança ser sua filha ou não. b) referente a criança:

A criança tem dificuldade de entrar em contato com o mundo imaginativo, questão

que aparece quando a criança tem que escrever, colocar para fora o seu interior,

dificuldades essas ligadas ao relacionamento que a criança tem com o pai. Criança

que lida muito com a realidade mostrando-se melancólica, depressiva. Traz como

uma queixa a questão do roubo, onde somem coisas em sua casa e depois aparece

em suas gavetas e não sabe como isso acontece.Pelo estilo da paciente se colocar na sessão, revela que tem todos os requisitos para ir bem na aprendizagem, mas

devido aos seus problemas emocionais está encontrando dificuldades. Foco:-

a) da P.B.I. Levar a criança a compreender que é necessário entrar em contato com sua imaginação, e com suas fantasias a fim de que possa lidar melhor com sua própria

realidade. Proporcionar espaço onde ela se sinta à vontade para estar falando deste

mundo interno. b) da Orientação de Pais

Levar a mãe a refletir sobre as dificuldades emocionais vividas pela criança em

função da problemática familiar e do seu difícil relacionamento com o pai. Ajudar a

mãe a buscar um contato mais próximo com a criança, a fim de a mesma sinta-se mais confiante para estar falando de suas dificuldades.

Relação com sintomas psicopatológicos

Depreciação, desvalorização, auto-estima rebaixada. Súmula / Núcleo de Violência:-

Pais separados. Difícil contato com o pai, que coloca em dúvida a paternidade da

paciente. É alcoólatra. É provável que a criança apresente-se distante para não entrar

em contato com a dificuldade de relacionamento com o pai. Problemas de aprendizagem ligados a problemas emocionais. Criança apresenta-se melancólica e

depressiva. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 168: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 16 (Prontuário:- 1589 � 1)

Idade:- 07 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso A inscrição para atendimento psicológico deve-se ao fato de ter sido encaminhada pela pedagoga da escola. A queixa refere-se a problemas escolares de fixação de atenção e

comportamento rebelde. A dispersão e o fato de estar distante em sala de aula podem

estar relacionados às perguntas que a paciente faz sobre o falecimento de sua mãe. A

paciente sempre viveu com o pai e uma irmã mais velha, que a criou como se fosse sua

filha, em virtude de sua mãe ter falecido em função de complicações em seu parto.

Passou a residir com o pai, quando este, dois anos antes de dar início ao atendimento

psicológico, contraiu matrimônio. No entanto, em virtude da separação de seu pai,

ocorrida há cinco meses, a paciente passou a residir com a irmã, hoje casada e com 23

anos de idade. Era impedida pela irmã de ir à casa de seu pai, devido ao fato de

acreditar que a madrasta influenciava negativamente a paciente com relação aos

familiares. A paciente sempre demonstrou um sofrimento intenso, visto que sentia muito a falta do pai. Tem noção que os problemas são mais de ordem psicológica do que de

inteligência. Demonstra sentir muito ciúmes das pessoas com quem tem contato. A paciente tem informações e solicita detalhes acerca da morte da mãe, tendo

conhecimento que a mãe morreu por ocasião de seu nascimento. A irmã diz ter

sacrificado sua adolescência para cuidar da paciente. Pai casa-se novamente, rompendo a união após seis meses do casamento. A paciente permanece confusa e

passa a falar mais constantemente acerca da morte da mãe. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar:- Têm noção que os problemas são mais de ordem psicológica do que de inteligência.

A paciente tem noção que os problemas começaram com a separação da paciente

com seu pai, enquanto estava casado. b) referente a criança:

Compreende que tem problemas, mas ainda não percebe porque ocorrem e o que

pode ser feito para a melhora dos mesmos.

Page 169: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Foco:-

a) da P.B.I. Tolerância à frustração, problemas com ciúmes. b) da Orientação de Pais

Problemas com ciúmes com referência relação à irmã (papel de mãe), pois a

paciente é criada por ela e portanto convive a maior parte do tempo com ela e o

marido e não com o pai verdadeiro ( que veio na entrevista inicial com os pais), e

também tolerância à frustração, �chantagem emocional� Relação com sintomas psicopatológicos

Sofrimento, desamparo, angústia. Súmula / Núcleo de Violência:-

A paciente tem informações e solicita detalhes acerca da morte da mãe, tendo

conhecimento que a mãe morreu por ocasião de seu nascimento. A irmã diz ter

sacrificado sua adolescência para cuidar da paciente. Pai casa-se novamente, rompendo a união após seis meses do casamento. A paciente permanece confusa e

passa a falar mais constantemente acerca da morte da mãe. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 170: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 17 (Prontuário:- 1606 � 1)

Idade:- 08 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 2ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- Por indicação da escola foi realizada inscrição do paciente para um trabalho de

acompanhamento psicológico. O paciente não é alfabetizado e apresenta assimilação

lenta do conteúdo dado. Não consegue bom desempenho em Leitura e Gramática,

apresentando dificuldades na junção de letras para a formação das palavras e em

interpretação de textos, embora apresente rendimento favorável em Matemática.

Disperso, desatento, desobediente, despreocupado, agressivo, não realiza as tarefas

propostas. O casal iniciou um compromisso de namoro há 18 anos. Na ocasião a mãe

contava 13 anos e o pai 19 anos. Três anos mais tarde a mãe engravidou, o que acabou por antecipar o casamento. No início do casamento, o casal passou por

dificuldades financeiras com os filhos pequenos, por crises de desemprego do marido, o que provocou um período de turbulências na relação familiar. Atualmente procuram

manter bom nível de relacionamento. No entanto, ambos trabalham, têm pouco tempo

para os filhos, os quais nem sempre podem ser assistidos no que necessitam. Apesar das dificuldades a mãe garante que a família vive em harmonia e que o relacionamento

entre o casal é muito satisfatório. O casal tem 03 filhos, uma menina de 13 anos e dois

meninos, um de 08 e outro de 07 anos. O paciente agride fisicamente seu irmão. As

brigas entre os irmãos ocorrem por ciúmes, provavelmente por terem idades tão

próximas. Por estas atitudes, via de regra, o paciente é repreendido pela irmã e, por

vezes, punido fisicamente por ela, que acaba por ter a responsabilidade de manter a ordem e o controle da dinâmica interna familiar. O compromisso da casa parece ficar ao

encargo da filha mais velha. A família busca uma melhor organização interna, mas

enfrentam dificuldades em muitos aspectos, até mesmo para tirar um período anual de

férias, por exemplo, onde casal nunca conseguiu tirar na mesma época do ano, o que

nunca lhes possibilitou ter alguma atividade em que toda a família pudesse estar

envolvida. Apresenta ciúmes do irmão, rivalidade natural, mas que deve ser amenizado

pelos pais no dia-a-dia. Pais comprometidos com o crescimento saudável do paciente.

Diante de uma dinâmica familiar comprometida percebe-se que a forma que o paciente encontrou de enfrentar suas dificuldades foi tornando-se passivo, não tomando

Page 171: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

iniciativa e não emitindo opiniões. Tem uma mãe autoritária, o pai é mais flexível, mas

permanecem pouco tempo juntos. A figura materna acaba por determinar como a dinâmica geral da família deve funcionar. Como o paciente percebe-se impotente diante desta situação, acaba por deslocar para que os pais tragam como queixa;

principalmente a dispersão e desatenção. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A queixa não precede, pelo contrário, a criança não toma iniciativas, sem muitas

opiniões, um pouco passiva. A mãe é uma pessoa um pouco autoritária, e acredito

que possa ser decorrente disso a passividade. O pai, por sua vez, é mais maleável.

A família fica pouco tempo junta, e a criança expressou isso no atendimento. b) referente a criança:

A criança não apresentou, em nenhum momento, características com relação a

queixa dos pais. Em todos as sessões mostrou-se tranqüila, obedecendo os

limites e principalmente sem nenhum traço de agressividade. Foco:-

a) da P.B.I. O foco proposto foi o de trabalhar a questão da sua passividade. b) da Orientação de Pais

Foi colocado aos pais que os motivos pelos quais a criança estava em atendimento

era provavelmente para que o outro irmão não ficasse sozinho. Relação com sintomas psicopatológicos

Agressividade, rivalidade, abandono Súmula / Núcleo de Violência:- Diante de uma dinâmica familiar comprometida percebe-se que a forma que o paciente encontrou de enfrentar suas dificuldades foi tornando-se passivo, não tomando

iniciativa e não emitindo opiniões. Tem uma mãe autoritária, o pai é mais flexível, mas

permanecem pouco tempo juntos. A figura materna acaba por determinar como a dinâmica geral da família deve funcionar. Como o paciente percebe-se impotente diante desta situação, acaba por deslocar para que os pais tragam como queixa;

principalmente a dispersão e desatenção. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 172: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 18 (Prontuário:- 1613 � 1)

Idade:- 11 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- Por sugestão da professora, os pais realizaram inscrição da paciente para atendimento psicológico. A criança apresenta atitudes inadequadas, como rasgar cadernos e livros

de colegas. A criança mente, pega dinheiro escondido de outros colegas, briga com a

irmã e responde para a mãe, faz muitas travessuras e na escola tem estado mais

distraída e desinteressada. Esquece-se facilmente do que lhe é explicado.Tem se

tornado bastante agressiva, malcriada, nem sempre atendendo às solicitações da mãe.

Após 05 anos de namoro, casaram-se, há 13 anos, numa cidade do interior de Minas

Gerais. A paciente nasceu 01 ano e 04 meses após o casamento. Em determinadas

ocasiões o pai chegava alcoolizado em casa e acabava por provocar discussões e

desentendimentos. Estas atitudes do pai incomodavam a todos. A paciente não

aceitava a situação imposta ao convívio familiar e, muitas de suas atitudes, vistas como mais inadequadas, especialmente na escola, ocorreram em decorrência do

comportamento questionável de seu pai. Segundo o pai trata-se de criança inteligente.

Quando pequena obedecia seus pais, tendo atitudes favoráveis que possibilitava o

relacionamento com as pessoas de maneira geral. Dentro da dinâmica familiar existem

formas distintas de lidar com os filhos. A paciente sente-se incompreendida pelos pais, que valorizam as ações da filha mais nova. Não tem conseguido lidar com esta indiferença e acaba por apresentar comportamento infantilizado, nervosismo, mal

humor e as demais queixas apresentadas pelos pais. Sem que de dessem conta, os pais acabavam, por suas ações, contribuindo para a conduta anti-social apresentada pela paciente, intensificando o ciúmes que sentia da irmã. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: Os pais valorizam a filha mais nova e a paciente sente-se rejeitada e tem muitas atitudes infantilizadas, propiciando o comportamento de reclamações, reforçando a

queixa e condutas anti-sociais associadas mais a ciúmes. b) referente à criança:

Page 173: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

A criança irrita-se facilmente, briga com a irmã mais nova, apresenta conduta

infantilizada, provavelmente ocasionado pela falta de atenção dos pais e ciúmes da

irmã menor. Foco:-

a) da P.B.I. O relacionamento com os pais e a irmã.

b) da Orientação dos Pais Orientação aos pais quanto a forma adequada e inadequada de agirem com a

paciente. Relação com sintomas psicopatológicos

Agressividade, indiferença, hostilidade, angústia. Súmula / Núcleo de Violência:-

Dentro da dinâmica familiar existem formas distintas de lidar com os filhos. A paciente

sente-se incompreendida pelos pais, que valorizam as ações da filha mais nova. Não tem conseguido lidar com esta indiferença e acaba por apresentar comportamento

infantilizado, nervosismo, mal humor e as demais queixas apresentadas pelos pais. Sem que de dessem conta, os pais acabavam, por suas ações, contribuindo para a

conduta anti-social apresentada pela paciente, intensificando o ciúmes que sentia da

irmã. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 174: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 19 (Prontuário:- 1666 � 0)

Idade:- 10 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- Por solicitação e exigência do Diretor da escola em que o paciente estuda foi realizada

sua inscrição para um trabalho de atendimento psicológico. A queixa central é a de que

o paciente apresenta comportamentos agressivos com os colegas e professores. As agressões são verbais e físicas e vêm comprometendo o trabalho dos educadores.

Trata-se de família sem estrutura. A criança reside com a avó paterna. Sua mãe faleceu

quando o paciente tinha 01 ano e 05 meses de vida. A mãe faleceu no parto do 4º filho,

juntamente com a criança. O paciente nunca pergunta pela mãe. O pai casou-se novamente. O paciente visita seu pai, mas não aceita residir com ele. O paciente tem

duas irmãs: uma de 17 anos, já casada, que reside numa cidade do interior nordestino, a outra, de 15 anos, reside com uma tia, nas imediações da casa em que o paciente

mora, o que possibilita um contato mais constante entre eles. A avó teme pelo futuro do

paciente, principalmente por residirem em uma favela. Segundo informações da

professora, trata-se de criança impulsiva, que apresenta grande dificuldade em

controlar-se. Seu comportamento prejudica seu processo de aprendizagem e compromete o rendimento geral da sala, dificultando o trabalho dos educadores. Não

apresenta restrições quanto ao seu potencial intelectual, tendo sido verificado que

apresenta condições satisfatórias para o aprendizado. Não é tolerante com os colegas

de classe, solicitando constante atenção dos adultos. Ressente-se e magoa-se facilmente com as pessoas. A criança não dispõe de uma orientação necessária para

sua formação. A família não tem estrutura e não consegue organizar e controlar a vida

do paciente. Apresenta sérias dificuldades de ajuste social, com comportamentos

agressivos. Não pergunta pela mãe, falecida durante o parto do 4º filho, mas aponta

para ela em todas as fotografias. Parece sofrer a dor desta perda, recolhida e deslocada para comportamento violentos e agressivos. Age de forma violenta, chegando a agredir fisicamente a avó paterna, com quem reside. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar:

Page 175: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

É uma família sem estrutura, onde a criança mora com a avó. Sua mãe faleceu e o

pai e irmão moram em outras casas. A avó não possui nenhum controle sobre o

comportamento da criança. b) referente à criança:

É uma criança agressiva, carente e com grande dificuldade em estabelecer vínculos

com as pessoas devido a desestrutura da família onde vive. Foco:-

a) da P.B.I. Mostrar à criança o motivo de sua agressividade e carência e estabelecer

vínculo com a mesma. b) da Orientação de Pais Orientar e mostrar ao pai e avó da criança o motivo da agressividade.

Relação com sintomas psicopatológicos

Agressividade, abandono, solidão, impulsividade. Súmula / Núcleo de Violência:-

A criança não dispõe de uma orientação necessária para sua formação. A família não

tem estrutura e não consegue organizar e controlar a vida do paciente. Apresenta

sérias dificuldades de ajuste social, com comportamentos agressivos. Não pergunta

pela mãe, falecida durante o parto do 4º filho, mas aponta para ela em todas as

fotografias. Parece sofrer a dor desta perda, recolhida e deslocada para comportamento violentos e agressivos. Age de forma violenta, chegando a agredir fisicamente a avó

paterna, com quem reside. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 176: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 20 (Prontuário:- 1679 � 1)

Idade:- 05 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- sem escolaridade

Súmula do Caso:- A queixa refere-se ao medo de tudo que está diretamente relacionado à paciente: medo

de shopping, chuva, de estar só de animais e morte. À medida que a paciente está se

desenvolvendo, o medo vem se intensificando. A dinâmica familiar é tida como

favorável. O casal raramente discute. Eles procuram organizar suas vidas e a de seus filhos.. A mãe tem um pequeno comércio e a criança a acompanha diariamente.

Relatam que a criança possui um medo excessivo de tudo o que está ao seu redor.

Este medo, que a acompanha desde pequena, os impede lidar mais espontaneamente com a criança. Com seu crescimento julgaram que o medo diminuiria, no entanto vem

ocorrendo o contrário, com o passar do tempo seu temor se intensifica. Julga que todos

que envelhecem correm risco de morrer, teme pela vida dos avós, não quer que os pais envelheçam, não quer crescer para não correr o risco de morrer. Na escola é vista

como uma criança afetiva, alegre e independente. Brinca com todas as crianças de

maneira geral, sendo bem aceita no grupo. Realiza todas as atividades propostas pela professora e tem rendimento escolar satisfatório. No entanto, não conseguem impor

limites e acabam permitindo que a paciente manifesta seus medos, sem se sentir segura e protegida pelos pais. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: Relatam que a criança possui um medo excessivo, o qual atrapalha seu

desenvolvimento. b) referente à criança:

A criança traz como queixa o medo da chuva, de ficar sozinha e do escuro. Foco:-

a) da P.B.I. Aceitar os limites impostos.

Page 177: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

b) da Orientação de Pais Aprender a impor limites para a criança aceitar os limites impostos. Relação com sintomas psicopatológicos

Medo, angústia, dependência. Súmula / Núcleo de Violência:-

Não detectamos grandes conflitos no que tange à dinâmica da família. O casal

demonstra viver em harmonia, procuram organizar suas vidas e a de seus filhos. No entanto, não conseguem impor limites e acabam permitindo que a paciente manifesta

seus medos, sem se sentir segura e protegida pelos pais. Tipo de violência:-Não foram registrados indícios de violência Paciente 21 (Prontuário:- 1692 � 1)

Idade:- 06 anos

Sexo:- masculino

Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- Os pais trazem como queixa a dificuldade de memorização detectadas pela escola,

além de não conseguir assimilar, com facilidade, os conteúdos desenvolvidos na

escola, o que o impede de acompanhar outras crianças da mesma série escolar.

Segundo a professora, consegue aprender o que lhe é ensinado, mas não retém as

informações recebidas. A relação que permeia a dinâmica familiar na qual o paciente

está inserido parece estruturada. A família é constituída pelos pais e três filhos. A filha

mais velha tem 18 anos, um rapaz de 16 anos e o paciente, caçula, com 06 anos. O

pai, provedor, demonstra necessitar muito da participação da mãe em suas atividades

em geral, incluindo a profissional. Denotou muito compromisso e seriedade no trato com seus familiares, mas pouco confiante na sua atual condição como pessoa. Este dado

torna-se mais claro, quando, em uma das sessões em que o pai esteve ausente, a mãe

menciona um problema de saúde do marido, que incluiu tratamento psiquiátrico e

psicológico, mas que seu marido não gosta que se mencione nada a este respeito. Por este motivo, a mãe precisa se ausentar muito do lar, deixando os cuidados com o

paciente, muitas vezes, ao encargo da filha mais velha, vista pela mãe como uma filha

mais rebelde. É provável que o paciente sinta esta ausência da mãe, não consiga lidar

com ela e esteja fazendo um desdobramento para as dificuldades que vem apresentando na escola. Em dados momentos, a mãe menciona que o paciente

também tem um gênio difícil, assim como a irmã. O paciente é percebido como uma

criança muito amável e educada, raramente briga com outras crianças, ao contrário,

está sempre protegendo as crianças menores. Segundo os pais, o paciente sempre foi

uma criança esperta e atenciosa, aprende tudo com muita facilidade, sendo comparado

muitas vezes com um adulto, no que se refere à sua postura. Os especialistas que

lidam com saúde pública devem ficar atentos às queixas trazidas como pedido de

ajuda, porque nem sempre a violência surge como motivo da consulta. No entanto,

quando detectada, quando a sociedade reconhecer que o problema é dela,

provavelmente estará muito mais próximo de minimizar estas questões.

Page 178: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar:- Estável, não trouxeram nada diferente do normal, afetivamente não há uma ligação

afetiva muito intensa entre os familiares. b) referente à criança:-

Não sabia o motivo do encaminhamento, a queixa não ficou clara, não foi

confirmada. Os pais foram orientados a prestar atenção no comportamento da

criança, voltando ao atendimento se houver algo de diferente nesse comportamento. Foco:-

Não foi delimitado, em função de não ter sido caracterizada a queixa que os conduziu à

procura de atendimento psicológico. Relação com sintomas psicopatológicos

Dependência, medo, angústia, desamparo. Súmula/ Núcleo de Violência:-

Durante o processo de atendimento psicológico não foi detectado sinais de violência

nesta dinâmica familiar, muito embora, em função de problemas de saúde da figura

paterna, houve necessidade de relativa ausência da figura materna, que passa boa parte do tempo acompanhando o pai, para facilitar seu acesso (pai), principalmente, ao trabalho. É provável que o paciente sinta esta ausência da mãe, não consiga lidar com

ela e esteja fazendo um desdobramento para as dificuldades que vem apresentando na escola. Tipo de violência:- Não foram registrados indícios de violência

Page 179: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 22 (Prontuário:- 1713 � 1)

Idade:- 08 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- Os pais queixam-se da imaturidade emocional da paciente. Apresenta dificuldades escolares ligadas à dispersão e desorganização, causando irritabilidade na mãe. A

família apresenta uma dinâmica conturbada. Esta desarmonia, segundo a mãe, é

proveniente do fato de seu marido beber com relativa freqüência, fato que lhe causa

muito incômodo. A mãe ainda alega que a paciente demonstra dificuldades em lidar

com seu crescimento, salientando que a própria criança menciona o fato de que vai

continuar sendo o �bebezinho� dos pais, insistindo e, por vezes, dormindo entre o casal.

Procura estar sempre entre os pais quando estes se aproximam fisicamente.A inconstância e a desarmonia da dinâmica familiar conduzem à inabilidade do casal em

organizar e resolver suas dificuldades conjugais. O ambiente familiar conturbado causa desorganização geral e inadequação quanto as atitudes da paciente. Confusa, não

consegue lidar com o ciúmes que a mãe sente de si, principalmente pelas dificuldades

do casal serem direcionados para a paciente, ocasionando-lhe baixa auto- estima. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: O casal apresenta desarmonia na dinâmica familiar e demonstra inabilidade em lidar

com as dificuldades em geral. A mãe sente ciúmes da filha e manipula a mesma para

tentar solucionar suas dificuldades conjugais. b) referente à criança:

Possui boa compreensão quanto aos conteúdos escolares sendo que em alguns

momentos dispersa-se, pois está com interesse em adquirir outros conhecimentos e novas descobertas. Denota certa �desorganização� causada pelo ambiente familiar

em relação a seus materiais e vestimentas. Foco:-

a) da P.B.I.

Page 180: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Trabalhar baixa auto-estima e auxiliar na organização da mesma em relação às

atividades e coisas. b) da Orientação de Pais

Procurar propiciar orientações para que os mesmos saibam descentralizar suas

dificuldades conjugais direcionadas para a filha.

Relação com sintomas psicopatológicos

Dependência, impotência, desestrutura, desorganização.

Súmula / Núcleo de Violência:-

A inconstância e a desarmonia da dinâmica familiar conduzem à inabilidade do casal

em organizar e resolver suas dificuldades conjugais. O ambiente familiar conturbado causa desorganização geral e inadequação quanto as atitudes da paciente. Confusa, não consegue lidar com o ciúmes que a mãe sente de si, principalmente pelas

dificuldades do casal serem direcionados para a paciente, ocasionando-lhe baixa auto- estima. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 181: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 23 (Prontuário:- 1741 � 1)

Idade:- 10 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- Os pais buscam atendimento psicológico queixando-se de dispersão, desobediência e

demonstração de preguiça para fazer as lições de casa. É dependente e imatura, não

tem nenhum pudor, comporta-se como criança em relação ao corpo. Às vezes, tem

dificuldades em manter constantes suas amizades na escola, não sendo raro ter que

fazer trabalhos sozinha por não ser aceita nos grupos. A inconstância e a desarmonia

da dinâmica familiar conduzem à inabilidade do casal em organizar e resolver suas

dificuldades conjugais. O ambiente familiar conturbado causa desorganização geral e

inadequação quanto as atitudes da paciente. Confusa, não consegue lidar com o

ciúmes que a mãe sente de si, principalmente pelas dificuldades do casal serem

direcionados para a paciente, ocasionando-lhe baixa auto- estima, subestimando tudo que faz e supervalorizando o que os outros fazem, incluindo o que é realizado pela

figura materna. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A paciente é filha única e é bastante protegida pelos pais. Por um lado os pais

exigem comportamentos mais maduros e, em outros momentos, a superprotegem, como se não quisessem que ela realmente cresça. Observamos que o pai fica

afastado da educação da paciente, deixando à mãe a incumbência de tomar

decisões sozinha, com relação à criança. A mãe é bastante ativa e ansiosa e há três

parou de trabalhar, ficando em casa para cuidar da paciente, o que faz com que exija mais da paciente e ao mesmo tempo tenha uma atitude ambivalente de superproteção para com a filha.

b) referente à criança: A paciente apresenta-se bem dentro de seu desenvolvimento, conseguindo vir para as sessões sozinha iniciando conversas com a terapeuta. Apresenta mecanismos de

defesa obsessivos preocupando-se em não sujar, não estragar nada, como se

Page 182: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

sentisse incomodando, sendo um peso para as pessoas. Apresenta dificuldades em lidar com seus impulsos de agressividade, já que tem que exibir sempre

comportamentos �certinhos� e adequados. A paciente sente falta da figura do pai e

de uma participação mais ativa de sua parte. A paciente gostava da escola e agora

não gosta mais, devido a não poder brincar mais na escola, sendo as matérias de

�escrever� (sic), muitas lições de casa. Na verdade a paciente vive uma contradição

de sentimentos, ora quer crescer, gosta da escola, sente-se bem com as mudanças

que estão ocorrendo em seu corpo; ora tem medo de crescer, apresentando comportamentos infantis, como de birra, sem pudor com relação ao seu corpo,

ficando, às vezes, nua ou trocando roupas na frente de outras pessoas, como se não

tivesse um corpo já desenvolvido. Existem sentimentos de baixa auto-estima, achando que tudo o que faz não é bonito e o que as suas colegas fazem é melhor.

Existe uma competição com a figura materna, a paciente pensa que tudo que sua

mãe faz é bonito e melhor do que ela pode fazer. Foco:-

a) da P.B.I. Trabalhar com a criança os seguintes aspectos: sua agressividade e impulsos que

não consegue controlar, seus sentimentos contraditórios de ora querer ora não

querer crescer. a baixa auto-estima e auxiliar na organização da mesma em relação

às atitudes e coisas. b) da Orientação de Pais

Maior participação do pai na dinâmica familiar,sentimentos contraditórios dos pais de

quererem ou não que a paciente cresça, ansiedade da mãe para com os resultados

da paciente na escola. Relação com sintomas psicopatológicos

Imaturidade, dependência, inadequação, desvalorização, angústia. Súmula / Núcleo de Violência:-

A inconstância e a desarmonia da dinâmica familiar conduzem à inabilidade do casal

em organizar e resolver suas dificuldades conjugais. O ambiente familiar conturbado causa desorganização geral e inadequação quanto as atitudes da paciente. Confusa,

não consegue lidar com o ciúmes que a mãe sente de si, principalmente pelas

dificuldades do casal serem direcionados para a paciente, ocasionando-lhe baixa auto- estima. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 183: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 24 (Prontuário :- 1771 � 1)

Idade:- 07 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- A inscrição para atendimento psicológico ocorreu por solicitação da escola. A criança

apresenta dificuldades em relacionar-se, resistência em freqüentar a escola, não tem

elaboração e consciência sobre sua adoção e por isso não consegue separar-se da mãe. A família é constituída pelo casal, o paciente, que está com 07 anos e uma filha,

de 05 anos. O paciente é uma criança adotiva. O casal sempre quis ter filhos. A mãe

tinha dificuldades para engravidar. Antes do paciente ser adotado, a mãe chegou a

engravidar, mas acabou por abortar, no 3º mês de gestação. Optaram pela adoção e

sempre mantiveram com o paciente uma relação de profundo afeto e respeito. Na

presença da mãe, o paciente mantém atitudes inadequadas, chora em demasia,

principalmente para não ficar na escola, onde teria que conviver com a ausência da mãe. Os pais precisam propiciar condições adequadas para que o paciente não lide de

maneira insegura diante de suas necessidades e dificuldades. Com o pai o vínculo

também se constitui solidamente, apresentando forte ligação afetiva com o mesmo,

sendo tratado por este com muito carinho. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A mãe tem dificuldades em estar falando sobre a adoção do paciente e o pai reforça

essa dificuldade, não deixando a mãe falar com a criança sobre esse assunto. b) referente à criança:

O paciente não consegue elaborar a questão de sua adoção, busca na mãe

segurança e resposta sobre isso, e ainda apresenta dificuldades em estar separando

- se dela e, conseqüentemente, por medo de perder essa mãe, apresenta dificuldades em relacionar-se com outras pessoas.

Foco:-

a) da P.B.I.

Page 184: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Fazer com que a criança supere as dificuldades ao nível de relacionamento,

conseguindo elaborar de maneira adequada suas trocas afetivas e emocionais. b) da Orientação de Pais

Fazer com que os pais proporcionem condições adequadas e se sensibilizem perante

as necessidades e dificuldades que fazem com que o paciente mostre-se inseguro. Relação com sintomas psicopatológicos

Dependência, inadequação, solidão, impotência. Súmula / Núcleo de Violência:-

Não foram registrados sinais de violência quanto à dinâmica familiar. Tipo de violência:-Não foram registrados indícios de violência Paciente nº 25 (Prontuário :- 1773 �1)

Idade:- 07 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 1ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- Os pais trazem como queixa o fato do paciente ser desligado, fala bobagens, referindo-se ao medo que a criança sente dos pais morrerem. Sente medo do escuro. Os pais se

casaram há 07 anos. Vivem em harmonia, raramente ocorrem discussões. O paciente é

filho adotivo, tendo sido adotado 30 horas após seu nascimento. O casal sempre quis

ter filhos, porém o pai é estéril. O paciente soube que era adotivo aos 03 anos de idade.

Na pré-escola apresentava rendimento satisfatório, estabelecendo uma relação

adequada com a professora, além de conseguir juntar algumas letras e formar palavras.

Nesta época seu caderno manteve-se sempre impecável. Por ser dedicado e

inteligente, seu pai resolveu matriculá-lo no Sesi, por ser considerada uma escola mais forte. No entanto, ao ingressar na 1ª série, passou a apresentar dificuldades,

especialmente por não conseguir passar da letra de forma para a cursiva. Quando

passou a ser assistido por professora particular, seu rendimento melhorou sensivelmente, mas nunca dentro do Instituto Sesi, o que fez com que os pais o transferisse de escola. Nesta família encontramos pais muito rígidos e exigentes,

especialmente se nos voltarmos para a figura materna, muito dominadora, procurando fazer com que suas idéias e vontades prevaleçam sobre todos os membros da família.

Os pais percebem a criança como sendo muito inteligente e dedicada, sempre

organizado com seus pertences, materiais e atividades escolares impecáveis,

garantindo e recebendo elogios de seus pais. Tais aspectos contribuíram para os

dados discorridos como queixa, ou seja, ser desligado e falar bobagem, significa não

receber total influência de seus pais, ter ou poder encontrar seu próprio espaço, que lhe

garanta e possibilite seu crescimento. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) refere à dinâmica familiar:

Page 185: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Os pais são muito fechados, podam o paciente de muitas coisas. A mãe mostra-se mais dominadora e o pai mais flexível, sendo bem discutida essa questão e uma

promessa de melhorar esse comportamento. b) referente a criança:

O paciente é bastante distraído e desligado. No decorrer da terapia mostrou-se comprometido. Foi ao neurologista e com a terapia melhorou sensivelmente, manifestando somente curiosidade sexual, que é um aspecto difícil para a família.

Foco:

a) da P.B.I.- Lidar com sua agitação e não falar coisas sem sentido. b) da Orientação de Pais Serem mais abertos e dialogar mais com o paciente. Relação com sintomas psicopatológicos

Medo, insegurança, angústia, impotência. Súmula / Núcleo de Violência:-

Nesta família encontramos pais muito rígidos e exigentes, especialmente se nos

voltarmos para a figura materna, muito dominadora, procurando fazer com que suas idéias e vontades prevaleçam sobre todos os membros da família. Os pais percebem a

criança como sendo muito inteligente e dedicada, sempre organizado com seus

pertences, materiais e atividades escolares impecáveis, garantindo e recebendo elogios

de seus pais. Tais aspectos contribuíram para os dados discorridos como queixa, ou seja, ser desligado e falar bobagem, significa não receber total influência de seus pais,

ter ou poder encontrar seu próprio espaço, que lhe garanta e possibilite seu

crescimento. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 186: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 26 (Prontuário:- 1776 � 1)

Idade:- 09 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- Os pais apresentam a queixa de lentidão em todas as atividades que a paciente realiza:

comer, escola... A paciente é filha adotiva, tendo três irmãos, duas do sexo feminino: 23

e 20 e um do sexo masculino: 22 anos, que são filhos do primeiro casamento da mãe,

que atualmente é separada. A paciente não conhece sua mãe biológica. A mãe adotiva

da paciente viveu um segundo relacionamento afetivo com o pai biológico da criança.

Por ser alcoólatra, optou por separar-se do segundo companheiro. Algum tempo depois da separação, foi procurada pelo companheiro que havia se envolvido com uma mulher

e, desta relação, a paciente havia nascido. Durante algum tempo reataram o relacionamento, tendo sido nesta época que resolveram adotar a criança, a qual foi

registrada como filha legítima da mãe adotiva. Em vista do relacionamento ter

prosseguido de forma insatisfatória, a separação definitiva fez-se inevitável. Desde

então, o pai passou a visitar a criança mensalmente. Durante o período em que viveram

juntos ocorreram discussões freqüentes, tendo sido enfatizado, como motivo central, o

alcoolismo do companheiro. Resolveu adotar a criança. A paciente soube que era

adotiva aos 04 anos. Demonstra ser insegura quanto à realização das tarefas a que se

propõe fazer, não demonstrando convicção quando abordada sobre o tema estudado. A

família não dispõe de uma unidade sólida que possa conferir uma dinâmica familiar

organizada e satisfatória. A mãe procura fazer pela paciente, o que dispõe em termos

de recursos pessoais e condições, embora reconheça não ter muita paciência com sua

filha. A menina nada questiona, mas sente-se confusa diante de sua história pessoal,

além de ter que lidar com a incompreensão de sua mãe quanto ao seu ritmo próprio. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A paciente é filha de um homem que foi namorado de sua mãe. Esta que é mãe é

adotiva e registrou a paciente como filha legítima. A paciente tem três irmãos que

Page 187: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

são do primeiro casamento da mãe, que agora é separada. A paciente não conhece

sua mãe legítima. b) referente a criança:

A paciente é muito calma, faz tudo que lhe é solicitado, mas muito devagar. Na escola apresenta algumas dificuldades, apesar de ter notas razoáveis. Com relação

a mãe biológica a paciente demonstra ter curiosidades.

Foco:- a) da P.B.I. A figura paterna é algo confuso para a paciente. b) da Orientação de Pais Motivar a mãe a compreender a criança com seu ritmo próprio. Relação com sintomas psicopatológicos

Insegurança, desorganização, dependência. Súmula / Núcleo de Violência:-

A família não dispõe de uma unidade sólida que possa conferir uma dinâmica familiar

organizada e satisfatória. A mãe procura fazer pela paciente, o que dispõe em termos

de recursos pessoais e condições, embora reconheça não ter muita paciência com sua

filha. A menina nada questiona, mas sente-se confusa diante de sua história pessoal,

além de ter que lidar com a incompreensão de sua mãe quanto ao seu ritmo próprio. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 188: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 27 (Prontuário:- 1782 � 1). ESTE CASO FOI EXCLUÍDO DA AMOSTRA

Idade:- 09 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 3ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- A queixa apresentada refere-se a comportamentos infantis da paciente como chupar chupeta, fala de forma inadequada (como uma criança com faixa etária inferior à sua),

enurese noturna, além de solicitar atenção constante de sua mãe. Antes do nascimento

da paciente, a família perdeu outro filho. A mãe estava fazendo tratamento

quimioterápico, não sabia que estava grávida e perdeu o bebê. A mãe desenvolveu o

Mal de Rodkegrin no sangue. Por ter sido acometida por um câncer, a família acabou

por sofrer forte tensão emocional, porém, com o passar do tempo, conseguiram

adaptar-se à nova condição de vida e, atualmente, a família vem conseguindo viver em

harmonia. A paciente é vista pelos pais como alguém que estaria substituindo o filho

que perderam. Este medo de perdê-la, intensificava as atitudes infantis da paciente. É

uma boa aluna, apresentando rendimento satisfatório na escola. Mantém bom contato

com as demais crianças. Provoca brigas constantes com os irmãos. Apresenta-se infantilizada. Este comportamento é mantido e reforçado pelos pais, o qual acabava por

prejudicar e inibir seu crescimento, por medo de perdê-la. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A mãe procurou atendimento por estar preocupada com os comportamentos infantis

da paciente, com 09 anos usava fraldas, chupava chupeta e, às vezes, falava como

criança e o pai, no início, não concordava dizendo que era da idade. b) referente a criança:

A criança não sabia o motivo da queixa, mas depois de esclarecida ela concordou e

ajudou muito nas sessões.

Foco:-

a) da P.B.I.

Page 189: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Comportamentos infantis (xixi na cama, chupar chupeta e fala infantil). b) da Orientação de Pais

Poder perceber que estavam substituindo o filho que perderam pela paciente e com o medo de perdê-la estavam reforçando o comportamento da criança e estavam

inibindo e prejudicando seu crescimento. Relação com sintomas psicopatológicos: Imaturidade, dependência, medo. Súmula / Núcleo de Violência:-

No geral não foram detectados sinais de violência na dinâmica familiar, somente a

manutenção do comportamento infantilizado assumido pela paciente, por temerem

perde-la como, no passado, aconteceu com um filho.

Tipo de violência � Não foram registrados indícios de violência. Paciente nº 28 (Prontuário:- 1791 � 1)

Idade:- 12 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- 7ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- A queixa refere-se às brigas constantes e a agressividade que a paciente tem com o irmão. A família é constituída pelo casal, dois filhos (um menino de 15 anos e uma

menina de 12 anos) e a avó materna, que está com 80 anos e apresenta um quadro de

esclerose, ocupando boa parte do tempo e da paciência da figura materna. Durante o dia, além dos cuidados com a casa, filhos, avó materna, a mãe ainda tem uma atividade

produtiva, referindo-se a um bazar de sua propriedade. Nesta ordem, o tempo que pode dedicar a cada um dos elementos da família é restrito. O filho, de 15 anos, é visto como

mais maduro e compreensivo o que, inevitavelmente, faz com que haja maior proximidade entre ele e a mãe. O pai, mais distante e omisso, faz valer sua autoridade

de forma objetiva, muitas vezes, com um �simples olhar�, o que também não garante

um relacionamento mais próximo entre ele e os filhos. A paciente ressente-se desta situação, e agride a todos verbalmente, incluindo agressões físicas direcionadas à mãe

e ao irmão. Com freqüência a paciente agride verbal e fisicamente o irmão e algumas

vezes já agrediu a mãe. A paciente percebe-se só e incompreendida, não conseguindo

se fortalecer diante de uma dinâmica pouco afetiva. A família não apresenta

organização satisfatória que constitui a unidade para integração de seus membros. Os pais estão separados, embora vivam na mesma casa. Divergem em opiniões e atitudes. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A criança usa o irmão e a escola para provocar a mãe, que ressalta o bom

comportamento do filho diante das dificuldades da paciente. O pai, frente a toda e qualquer situação, mantém-se ausente, além de estar separado da esposa, apesar

de viverem na mesma casa. b) referente à criança:

Page 190: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

A criança sente-se presa pela mãe que não demonstra confiança e a poda de, principalmente sair, sente-se inferior ao irmão e ressalta que ele é protegido da mãe.

Foco:-

a) da P.B.I. Conflito com a mãe, dificuldade escolar. b) da Orientação de Pais

Conflito com a filha, não aceita o crescimento da filha, não vê qualidades na filha. Relação com sintomas psicopatológicos

Agressividade, violência, impulsividade, abandono. Sumula / Núcleo de Violência:-

A família não apresenta organização satisfatória que constitui a unidade para integração de seus membros. Detecta-se dificuldades no relacionamento da paciente com sua mãe e irmão, havendo agressões físicas e verbais entre os três. O pai

apresenta-se sempre omisso. Estão separados, embora vivam na mesma casa.

Divergem em opiniões e atitudes. A paciente percebe-se só e incompreendida, não

conseguindo se fortalecer diante de uma dinâmica pouco afetiva. Tipo de violência:- Violência física e psicológica

Page 191: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 29 (Prontuário:- 1804 � 1)

Idade:- 10 anos

Sexo:- Masculino

Escolaridade:- 5ª série do Ensino Fundamental

Súmula do Caso:- O paciente tem comportamento agressivo com os irmãos, principalmente com a mãe,

apresentando mau comportamento e aproveitamento escolar. A mãe relata que vem encontrando sérias dificuldades para lidar com o paciente, que vem apresentando

intensos sinais de violência contra seus dois irmãos: uma menina de 08 anos e um

menino de 04 anos. A mãe é o alvo central das manifestações de violência do paciente, o que vem .prejudicando o estabelecimento de um vínculo que possa proporcionar a

estabilidade afetiva entre mãe e filho, o que vem dificultando intensamente o

relacionamento entre ambos.Trata-se de uma família que vive uma dinâmica pouco

estruturada. Os pais são separados, tendo o pai constituído nova família. O paciente

não aceita esta situação, que limitou a vida dos membros da família, em todos os

aspectos; quais sejam financeiro, social, psicológico, etc. A criança não tem, nem pode

fazer tudo o que fazia antes. Julga a mãe como responsável pela separação e pela

atual situação da família. Distanciou-se da mesma que tenta conduzir o relacionamento, de modo a propiciar mais união. O paciente passou a apresentar dificuldade de se

comunicar, além de sinais de agressividade, aumentando a distância entre as pessoas

e prejudicando seu relacionamento afetivo de maneira geral. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: Os pais são separados e o comportamento do paciente mudou após a separação. A

criança acusa a mãe de ser a responsável pela separação, embora o pai já tenha

constituído outra família. A vida econômica da família mudou muito devido à

separação, e o paciente não aceita não poder ter tudo o que tinha antes, pois no

momento a família passa por privações. b) referente a criança:

Page 192: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

É uma criança inteligente, carinhosa, mas não consegue elaborar seus sentimentos,

atuando de forma hostil com o meio. Manifesta sinais de muita revolta e rebeldia, responsabilizando sua mãe por seu pai ter ido embora de casa. Não entende porque

não pode ter tudo o que quer e por isso torna-se agressivo.

Foco:-

a) da P.B.I. Levar a criança a perceber que sua situação de filho de pais separados é vivida por

outras crianças e que mesmo sendo separados não deixarão de ser seus pais e que

seu relacionamento com sua mãe deve ser de maior respeito e afetividade, pois

acima de todas as dificuldades, eles estão juntos, e têm que se posicionar como mãe

e filho para um melhor relacionamento. b) da Orientação de Pais

A mãe, apesar de estar em constante depressão, não se afasta dos filhos, e se

preocupa muito com o paciente. Quer melhorar o relacionamento entre eles, pois teme que seu filho resolva ir morar com o pai. Percebe sua dificuldade em se comunicar com o paciente e, por esse motivo, acaba sendo agressiva, o que aumenta ainda mais a distância entre na sua afetividade e dificulta o relacionamento

entre ambos. Relação com sintomas psicopatológicos

Agressividade, violência, desestrutura, impulsividade. Súmula / Núcleo de Violência:-

Trata-se de uma família que vive uma dinâmica pouco estruturada. Os pais são

separados, tendo o pai constituído nova família. O paciente não aceita esta situação,

que limitou a vida dos membros da família, em todos os aspectos; quais sejam financeiro, social, psicológico, etc. A criança não tem, nem pode fazer tudo o que fazia

antes. Julga a mãe como responsável pela separação e pela atual situação da família.

Distanciou-se da mesma que tenta conduzir o relacionamento, de modo a propiciar mais união. O paciente passou a apresentar dificuldade de se comunicar, além de

sinais de agressividade, aumentando a distância entre as pessoas e prejudicando seu

relacionamento afetivo de maneira geral. Tipo de violência:- Violência psicológica

Page 193: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

Paciente nº 30 (Prontuário:- 1822 � 1)

Idade:- 05 anos

Sexo:- Feminino

Escolaridade:- sem escolaridade

Súmula do Caso:- A queixa trazida pelos pais é de que trata-se de uma criança deprimida, dividida entre o

pai e a mãe que são separados. Presenciou várias brigas dos pais, inclusive com

agressões físicas. Ainda chupa chupeta e apresenta tamanho de uma criança de 03

anos.A paciente tinha 03 anos quando os pais optaram pela separação. Ambos

refizeram suas vidas e encontraram, cada um, com um novo companheiro, muito embora não tenha ficado claro se residem com seus novos parceiros. A família de

origem dos pais apresenta severos comprometimentos quanto à estabilidade do núcleo

familiar. A mãe já freqüentou casas de prostituição, apresentando-se de maneira irresponsável diante de todas as situações às quais é exposta.O pai já agrediu

fisicamente a mãe, na presença da criança. As discussões sempre foram muito

freqüentes e a paciente nunca foi poupada ou respeitada quando das intercorrências

entre o casal. Demonstrava excessivo sofrimento diante do impasse criado pelos desentendimentos de seus pais, externalizando toda sua angústia e insegurança

através de desenhos e da recusa de falar dos assuntos que envolvem a discórdia e

desestrutura da dinâmica familiar. A criança chegou a presenciar e ser testemunha da

traição da mãe com relação ao pai, visto que era levada pela mãe, que a utilizava para

evitar suspeitas a respeito de sua improvável fidelidade. Após a separação a criança

adoecera e mantinha evidente desejo de estar na companhia da avó paterna. Sentindo-se ameaçadas, a mãe e a avó materna criaram uma situação que acabou por proibir a

visita do pai e da avó paterna. O quadro clínico da paciente se agravou havendo

suspeita de apendicite, que acabou por levar a paciente ao Centro de Terapia Intensiva e quase a óbito. Nesta ocasião as visitas do pai e da avó paterna foram liberadas e, ao

menos organicamente, a paciente encontra-se em condições adequadas. A dinâmica

familiar apresenta-se bastante desestruturada. A paciente sempre presenciou intensas e dolorosas discussões entre pais, hoje separados, inclusive agressões físicas. Os pais

Page 194: A DETEC˙ˆO DE SINAIS E SINTOMAS DA VIOL˚NCIA NA FASE ...tede.metodista.br/jspui/bitstream/tede/1402/1/SILVIA SUELY DE SOU… · Psicoterapia Breve, sua importância no quadro clínico

vivem com novos companheiros. As relações afetivas nesta família sempre foram

conflituosas, denotando muita instabilidade emocional, o que fazia com que a paciente encontrasse maior dificuldade para aceitar a separação de seus pais. Compreensão Psicodinâmica da Queixa:-

a) referente à dinâmica familiar: A família é desestruturada, pais separados, cada qual com seu novo companheiro. Os dois já vêm de famílias desestruturadas. A mãe teve pai e avô alcoólatras,

mantendo pouco contato com ambos. O pai vive com a avó paterna e com uma

irmã, que se intromete bastante na vida pessoal do mesmo. a) referente à criança:

A paciente apresenta-se bastante confusa, sendo considerada uma criança

inteligente e pareça ter potencial. Está a par das brigas e relacionamentos dos pais,

sofre com tudo isso, externalizando toda a sua angústia e insegurança através dos

desenhos e da recusa de falar dos assuntos problemáticos durante as sessões. Foco:-

a) da P.B.I. Aceitação da separação dos pais. b) da Orientação de Pais. Relações afetivas conflituosas, imaturidade emocional. Relação com sintomas psicopatológicos

Agressividade, depressão, violência, sofrimento, solidão, desorganização psíquica. Súmula / Núcleo de Violência:-

A dinâmica familiar apresenta-se bastante desestruturada. A paciente sempre presenciou intensas e dolorosas discussões entre pais, hoje separados, inclusive

agressões físicas. Os pais vivem com novos companheiros. As relações afetivas nesta

família sempre foram conflituosas, denotando muita instabilidade emocional, o que fazia

com que a paciente encontrasse maior dificuldade para aceitar a separação de seus

pais. Tipo de violência: Violência física e psicológica