92752617 bhakti rasayana
TRANSCRIPT
Bhakti-rasāyana
O Néctar Tonificante da Devoção Pura
®r… Guru Gaurā‰gau Jayataƒ
®r…la Bhaktivedānta NārāyaŠa Gosvām…-vandanā
Outros títulos de ®r…la NārāyaŠa Mahārāja
* Livros em português
The r Lasting Relation* i
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l
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Going Beyond VaikuŠ˜ha*
Nectar Sprinkles on Australia
®r… Bhakti-rasām ta-sindhu-bindu*
Pinnacle of Devotion*
The Nectar of Govinda-l…lā*
Bhak i-rasāyana*
®r… Prabandhāva …
Venu-g…tā*
®r… Navadv…pa-maŠ�ala-parikramā
®r… Vraja-maŠ�a a-parikramā
®r… Manaƒ-�ik�ā*
®r… Upade�ām�ta*
Jaiva dharma
The Essence of All Advice*
The True Conception of Guru-ta tva
®r… ®r…mad Bhaktiprajñāna Ke�ava Gosvām… Mahārāja — His Life and Precepts*
®r…mad Bhagavad-g…tā*
Disponíveis em Inglês com:
Sri Keshavaji Gaudiya Math
Mathura (U.P.) 281001 INDIA
Bhakti-rasāyana
O Néctar Tonificante da Devoção Pura
®r… Guru Gaurā‰gau Jayataƒ
®r…la Bhaktivedānta NārāyaŠa Gosvām…-vandanā
namaƒ oˆ vi�Šupādāya rādhikāyai-priyātmane
�r…-�r…mad-bhaktivedānta nā āyaŠa iti nāmine (1) r
Ofereço praŠāma ao oˆ vi�Šupāda ®r… ®r…mad ®r…mad Bhaktivedanta NārāyaŠa
Mahārāja que é muito querido por ®r…mat… Rādhikā.
�r…-k��Ša-l…lā-kathane sudak�aˆ audārya-mādhurya guŠai� ca yuktaˆ
varaˆ varenyaˆ puru�aˆ mahāntaˆ nārāyaŠaˆ tvaˆ �irasā namāmi (2)
®r…la NārāyaŠa Mahārāja é perito em descrever k��Ša-l…lā. Ele está dotado com as
qualidades de magnanimidade e de doçura e ele é a melhor das grandes almas. Como ele está
sempre saboreando a doçura de K��Ša, ele é capaz de distribuí-la livremente aos outros. Eu
me prostro e coloco a minha cabeça os seus pés de lótus.
tridaŠ�…nāˆ bhakta-�iromaŠim ca �r…-k��Ša padābja dh taika-h di � �
r
-
r
�
caitanya-l…lām�ta-sāra sāraˆ nā āyāŠaˆ tvam satataˆ prapadye (3)
®r…la NārāyaŠa Mahārāja, a jóia mais preciosa entre os tridaŠ�…-sannyās…s, sempre
mantém em seu coração os pés de lótus de Rādhā e K��Ša, especialmente quando K��Ša serve
®r…mat… Rādhikā. Ele medita profundamente em ®r… Caitanya Mahāprabhu e nas razões
internas do Seu aparecimento. Eu me prostro aos pés de lótus de ®r…la NārāyaŠa Mahārāja
que possui inúmeras qualidades transcendentais.
Ma‰galācaraŠa
vande'haˆ �r… guroƒ �r…-yuta-pada-kamalaˆ �r…-gurun vai�Šavāˆ� ca
�r… r™paˆ sāgrajataˆ saha-gaŠa-raghunāthānvitaˆ taˆ sa-j…vam
sādvaitaˆ sāvadh™taˆ parijana-sahitaˆ k��Ša-caitanya-devam
�r…-rādhā-k��Ša-pādān saha-gaŠa-lalitā �r…-vi�ākhānvitāˆ� ca
Ofereço praŠāmas aos pés de lótus de ®r… Gurudeva (que inclui �r… d…k�ā-gu u e o
bhajana �ik�ā-guru), guru-varga (toda a nossa sucessão discipular) e a todos os demais
vai�Šavas, a ®r…la R™pa Gosvām…, ao seu irmão mais velho ®r…la Sanātana Gosvām…, ®r…la
Raghunātha dāsa Gosvām…, ®r… J…va Gosvām… e seus associados, a ®r… Advaita Prabhu, ®r…
Nityānanda Prabhu, ®r… K��Ša Caitanya Mahāprabhu e Seus associados e aos pés de lótus de
®r… Rādhā e K��Ša acompanhados por ®r… Lalitā, Vi�ākhā e todas as outras sakh…s.
namaƒ oˆ vi Šupādāya ācārya-siˆha-r™piŠe
�r…-�r…mad-bhakti prajñāna ke�ava iti nāmine
atimartya-caritrāya sva-�ritānāñca-pāline
j…va-duƒkhe sadārttāya �r…-nāma-prema-dāyine
Ofereço praŠāmas ao meu muito adorável Parama-gurudeva, o leonino ācārya, jagad-
guru oˆ vi�Šupāda a�˜ottara-�ata ®r… ®r…mad Bhakti Prajñāna Ke�ava Gosvām… Mahārāja, que
nutre com extrema afeição divina, como um guardião paternal, aqueles que se refugiam nele,
que está sempre genuinamente descontente ao ver o sofrimento das j…vas que se desviaram de
K��Ša e que lhes concede �r… nāma juntamente com prema.
vāñchā-kalpatarubya� ca k pā-sindhubhya eva ca �
patitānāˆ pāvanebhyo vai�Šavebhyo namo namaƒ
Ofereço praŠāmas aos vai�Šavas que são como árvores dos desejos, que são um oceano
de misericórdia e que liberam os caídos, as almas condicionadas.
namo mahā-vadānyāya k��Ša-prema-pradāya te
k��nāya k�sŠa-caitanya-nāmne gaura-tvi�e namaƒ
Ofereço praŠāma a ®r… K��Ša Caitanya, que é o próprio K��Ša. Tendo assumido o tom
dourado de ®r…mat… Rādhikā, Ele está distribuindo munificientemente o raro presente de
k��Ša-prema.
he k��Ša! karuŠā-sindho! d…na-bandho! jagat-pate!
gope�a! gopikā-kānta! rādhā-kānta! namo'stu te
Ofereço ilimitados praŠāmas a Você, ó K��Ša! Você é um oceano de misericórdia!
Amigo dos caídos! O Senhor da criação! Amo da comunidade de vaqueiros! Você é Gop…-
kānta, o amante das gop…s e acima de tudo Você é Rādhā-kānta, o amante de ®r…mat… Rādhikā!
tapta-kañcana-gaurā‰gi! rādhe! v�ndāvane�vari!
v��abhānu-sute! dev…! praŠamāmi hari-priye!
Ó Gaurā‰g…, cuja compleição é como a do ouro derretido! Ó Rādhe! Rainha de
V�ndāvana! Ó filha de V��abhānu Mahārāja! Ó Dev…! Ó mais querida de Hari! PraŠāmas a
Você repetidas vezes!
v�ndāyai tulas… devyai priyāyai ke�avasya ca
k��Ša-bhakti-prade dev…! satyavatyai namo namaƒ
Ofereço praŠāmas repetidas vezes a Tulas…-dev…, que é a mais querida de ®r… K��Ša e
que também é famosa como V�ndā-dev… e Satyavat…. Ó Dev…! Você está concedendo k��Ša-
bhakti para todo mundo!
�r… k��Ša-caitanya prabhu-nityānanda
�r… advaita gādhara �r…vāsādi-gaura-bhakta-v nda �
hare k��Ša hare k��Ša k��Ša k��Ša hare hare
hare rāma hare rāma rāma rāma hare hare
Capítulo I — A Terra se Torna Afortunada
No capítulo final do ®r… B�had-bhāgavatām�ta, depois que termina a história de
Gopakumāra, ®r…la Sanātana Gosvām… cita alguns versos do Décimo Canto do ®r…mad
Bhāgavatam, que Mahārāja Par…k�it falou para sua mãe, Uttarā. São versos de uma poesia
maravilhosa que estimulam o sentimento de bhakti. Ensartando esses versos, ®r…la Sanātana
Gosvām… fez uma guirlanda para o benefício de todos os sādhakas desse mundo, e quando
eles põem estes versos em seus corações, é como se usassem essa guirlanda em seus pescoços.
E se enquanto cantam harināma às vezes chamarem por estes versos, aumentarão a ānanda
do seu cantar. Esse conjunto de versos é chamado de bhakti-rasāyana, ou o néctar energizante
de bhakti-rasa. Quando o corpo material fica debilitado devido a uma doença, fica incapaz de
comer qualquer coisa, e por tomar algum tônico a digestão e o pulso ficam fortes novamente.
Analogamente, na plataforma de bhakti, para aqueles que anseiam por āgānugā-bhakti,
esses versos do capítulo final do B�had-bhāgavatām�ta agem como esse tônico nectáreo. Na
bhāva de Kamala-mañjar…, ®r…la Bhaktivinoda µhākura orava:
r
nāhaˆ vande tava caraŠayor-dvandvam advanda hetoƒ
k™mbh…pākaˆ gurum api hare nārakaˆ nāpanet™m
ramyā-rāmā-m�d™tan™latā nandane nābhirastuˆ
bhāve bhāve h�daya-bhavane bhāvayeˆ bhavantam
"Prabhu, não estou realizando bhajana para que Você me tire desse mundo miserável
que está me sufocando. Não estou orando aos Seus pés para entrar no jardim celestial de
Nandana-kānana, onde poderei desfrutar com maravilhosas mulheres por um longo tempo,
nem estou orando pela liberação para que não tenha que sofrer por nove meses no ventre de
uma mulher e nunca mais ser punido pelos mensageiros de Yamarāja. Oro, do âmago do meu
coração, que aumente a minha bhāva de V�ndāvana, onde Você perambula com as gop…s e
desfruta de passatempos amorosos. Meditando nas descrições desses passatempos logo
ficarei complemente perdido em prema — é por isso que estou orando. Estou orando para
que possa nascer como um gopa ou uma gop…, até mesmo como um pavão ou uma árvore, ou
qualquer outra coisa dentro das sessenta e quatro milhas quadradas de Vraja-maŠ�ala. Lá irei
alcançar a companhia de um devoto rasika que, cheio de bhāva de V�ndāvana, me descreverá
todos esses passatempos e então a minha vida será proveitosa."
Quando os sādhakas estudam e aprendem esses versos, meditando profundamente
nos seus significados enquanto cantam harināma, eles agirão como estímulo para
experimentar a bhāva descrita no verso anterior em sua plenitude. Então a mente não ficará
vagando por aí. Não devemos simplesmente ficar andando e falando com os outros enquanto
cantamos, e sim, levar a mālā e sentar num lugar isolado, concentrando a mente e entregando
o coração. Nossos ācāryas anteriores cantavam a noite inteira, meditando num verso atrás do
outro. As ondas de bhāva desencadeadas por um determinado verso podiam durar meia
hora. Às vezes eles ficavam complemente submersos nessas ondas, às vezes voltavam para a
superfície e flutuavam nessas ondas e então partiam para o �loka seguinte. Enquanto faziam
isso, a noite inteira passava e nem percebiam como. Esse é o método tradicional para fazer
bhajana.
Através desses versos, Par…k�it Mahārāja está fazendo o bhakti de sua mãe ficar firme e
fortalecendo a sua determinação por gop…-bhāva e, através desses mesmos versos, ®r…la
Sanātana Gosvām… está nos revigorando. Existe uma mescla de inúmeras bhāvas diferentes
em V�ndāvana, mas no final, dando algum polimento para esses sentimentos, ele dá ênfase a
gop…-bhāva. Aqui existem vários versos que são todos benéficos para o cultivo de bhajana.
Para desenvolver e fortalecer essa bhāva dentro de nós, estudaremos esses versos em
seqüência e com esse esforço, ansiando intensamente por essa bhāva, ela certamente
despontará dentro de nós.
dhanyeyam adya dharaŠ… t Ša-v…rudhas tvat- �
˜
�
pāda-so��o druma-latāƒ karajābhim�� āƒ
nadyo `drayaƒ khaga-m�gāƒ sadayāvalokair
gopyo `ntareŠa bhujayor api yat-sp hā �r…ƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.15.8 e B�had-bhāgavatām�ta 7.7.107
®r… K��Ša disse para Balarāma: "Hoje essa terra e toda a sua verde relva, se tornou
afortunada por receber o toque de Seus pés de lótus. E ao receberem o toque dos dedos de
Suas mãos de lótus, as árvores, trepadeiras e a vegetação estão considerando que alcançaram
o maior tesouro. Recebendo Seus olhares afetuosos, os rios, montanhas e animais estão se
sentindo complemente gratificados. As mais afortunadas de todos são as gop s de Vraja, que
abraçaram o Seu peito forte, um favor que até mesmo Lak�m…-dev… sempre deseja."
…
Esse verso descreve a ocasião quando K��Ša está na junção da Sua paugaŠ�a-l…lā (de
seis a dez anos) e ki�ora-l…lā (entre dez e dezesseis anos). Nessa época, Sua beleza e Seu
encanto estão se tornando mais evidentes e Seu corpo está se formando. Nessa idade Ele sente
vergonha se tiver que ficar nu. Agora desfruta levar as vacas para pastar, pulando e fazendo
travessuras com os amigos. Sua forma é como um botão que está começando a se abrir; ainda
não virou uma flor, mas está se abrindo e se tornando cada vez mais encantador. Antes não
havia nenhuma fragrância no botão e nenhuma abelha ficaria em volta dele. Mas à medida
em que vai se abrindo, a fragrância começa a surgir e o néctar se torna disponível para a
abelha. Quando ele se abre completamente e se torna plenamente maduro, isso indica que
K��Ša chegou à idade de ki�ora. Agora K��Ša e Baladeva tornaram-se um pouco mais velhos
e Suas formas se tornaram muito encantadoras. Seus pés também se tornaram um pouco
maiores, antes eram bem delgados desde o calcanhar até os dedos, mas agora são como
bananas maduras, estão grandes e macios. Antes, as solas eram amareladas, mas agora
começaram a ficar com um tom avermelhado. K��Ša se tornou um pouco mais habilidoso ao
falar. Em vez de falar diretamente, aprendeu a falar de maneira indireta. Esses são os
sintomas dessa idade.
Sua nova habilidade em falar fica evidente quando Ele diz esse verso. Para evitar se
elogiar, Ele usa a presença de Baladeva Prabhu como pretexto para expressar Seus
sentimentos. Como nessa idade Ele se "tornou" um pouco mais inteligente, realizou que
nunca deve se auto-elogiar. Auto-elogiar é como um suicídio. Aqui Ele deseja descrever como
V�ndāvana é mais gloriosa do que qualquer outro local nos três mundos, e ainda mais
gloriosa do que VaikuŠ˜ha. Ele começa dizendo que a Terra é afortunada. Por que a Terra é
afortunada? Por causa da presença da Índia. E por que a Índia é tão gloriosa? Devido à
presença de V�ndāvana. E por que V�ndāvana é tão gloriosa? Devido à presença dos gopas e
gop…s. Por que os gopas e gop…s são gloriosos? Por causa do prema mútuo que existe entre
eles e K��Ša e esse é o nosso maior objetivo. Se não for pelo prema amoroso de ®r… ®r… Rādhā e
K��Ša, então todos os nossos esforços serão inúteis. Isso é pedido em todas as preces dos
devotos elevados, e o prema de Rādhā é tão glorioso que sobrepuja o de K��Ša. Mas K��Ša
não descreve tudo isso diretamente, dizendo: "Sou o ornamento supremo que embeleza
V�ndāvana." Porque agora Ele está entrando na idade de ki�ora e quando fala, sabe como
ocultar a bhāva e como revelá-la com esperteza.
Juntos, K��Ša e Balarāma estão levando as vacas para pastar e ao verem a beleza e o
esplendor da floresta de V�ndāvana, logo K��Ša fica tomado de emoção. Qual é o significado
de v�ndāvana? Significa floresta de V�ndā ou tulas…. Lá são encontradas inúmeras outras
árvores e plantas maravilhosas, mas a árvore de tulas… é a principal. Essa palavra também
pode significar a floresta onde V�ndādev… é a rainha. Por que ela é conhecida como a rainha
de V�ndāvana? Porque é ela quem promove os encontros amorosos entre Rādhā e K��Ša.
Outro significado de v�ndā é `grupo,' indicando grupo de vacas, gopas e gop…s e avana pode
significar quem nutre e protege. Portanto, V�ndāvana também significa quem providencia o
estímulo que nutre e aumenta o prema de ®r… Govinda e as vacas, gopas e gop…s. Existem
outros significados, mas esses três são os principais.
Enquanto K��Ša falava esse verso, estava se lembrando dos Seus passatempos e ondas
de bhāva começaram a surgir dentro dEle. Conforme Ele estava seguindo com Seus amigos, a
ānanda que sentia não tinha limites, e disse:
— Meu caro irmão, hoje P�thiv…-dev… (a Terra) se tornou afortunada e os pelos do seu
corpo — que são a grama, trepadeiras, vinhas e árvores — estão eriçados devido ao êxtase
amoroso. A grama, as trepadeiras e vinhas, receberam o toque dos Seus pés de lótus e as
árvores, sendo tocadas por Suas mãos enquanto Você colhe frutas e flores, hoje tornaram-se
plenamente gratificadas. E os rios, montanhas, aves, veados e todos os outros animais,
recebendo Seus olhares afetuosos, hoje se tornaram especialmente afortunados. Mas as mais
afortunadas são as gop…s, que receberam o que até mesmo Lak�m…dev… deseja — ser abraçada
pelos Seus fortes braços.
P�thiv…-dev… vem servindo Bhagavān desde o início da criação. Sempre que Bhagavān
deseja assumir uma encarnação, desce a esta Terra e agracia a terra com suas pegadas. Vahāra
susteve a Terra em Suas presas e naquela época P�thiv…-dev… se tornou Sua esposa, eles
tiveram um filho, Narakāsura. E a Terra está sempre em contato com Bhagavān na Sua forma
como ®e�a, pois este a mantém sobre Sua cabeça. Desde tempos imemoriais ela tem recebido
essas boas oportunidades, mas K��Ša diz para Balarāma:
— Hoje, por receber o toque de Seus pés, a Terra se tornou especialmente afortunada.
Por que? Porque agora Você está na junção das idades paugaŠ�a e ki�ora e Seus pés de lótus
estão especialmente macios e uma agradável fragrância vem surgindo deles. Você está se
movendo pela Terra como um elefantinho intoxicado. Será que a Terra já recebeu essa
oportunidade antes? Hoje a Terra realmente tornou-se afortunada.
Aqui alguém pode destacar que naquela época K��Ša esteve em contato com a floresta
de V�ndāvana por apenas dez anos e meio, enquanto ®r… Rāmacandra vagou pela floresta de
DaŠ�akāraŠya por catorze anos. E com os pés descalços, também andou até o Sul da Índia
antes de entrar em La‰ka, então P�thiv…-dev… não se tornou tão afortunada naquela época
quanto durante na k��Ša-l…lā? Mas Rāma foi banido para a floresta, e quando no último ano
do Seu exílio RāvaŠa raptou S…tā, Ele vagou por todo canto chorando de angústia. Naquela
época P�thiv…-dev… certamente se tornou afortunada pelo toque de Seus pés, mas também
deve ter sentido tristeza. Ela realmente se tornou afortunada quando K��Ša veio numa forma
imensamente maravilhosa, com uma pena de pavão na coroa e sorridente ao ser decorado
pela manhã por Sua mãe, acompanhado por ®r…dāma, Subala e outros sakhās, levando as
vacas para pastar e pulando com os bezerros. Assim como os filhotes dos cervos pulam
alegremente, Ele acompanhava Seus amigos com muita felicidade no coração. Colhendo
flores, eles se divertiam fazendo guirlandas e se decorando, indo a locais como o Kusuma-
sarovara, Rādhā-kuŠ�a e ®yāma-kuŠ�ha, onde desfrutavam de passatempos que estavam
saturados de rasa. K��Ša tinha um cuidado especial de ensartar uma guirlanda que não era
para nenhum dos sakhās e sentia muita felicidade em pensar para quem era, e a deixava
separada. Quem pode imaginar a boa fortuna daquelas flores, que foram colhidas e
ensartadas numa guirlanda pelas próprias mãos maravilhosas de K��Ša? Quando, à noitinha,
Ele colocava aquela guirlanda numa certa devota, sentia-se supremamente bem-aventurado.
Será que alguma coisa assim aconteceu na rāma-l…lā? Os passatempos de Rāmacandra se
caracterizam por uma mágoa constante, em contraste com a k��Ša-l…lā onde há muita
felicidade despreocupada.
Da mesma maneira como acariciamos uma pessoa amada e lhe damos palmadinhas
amorosas, Bhagavān tocou a Terra de diferentes maneiras em Suas várias encarnações.
N�siˆhadeva também tocou a Terra. Assumindo uma forma medonha, N�siˆhadeva
apareceu extremamente irado e matou HiraŠyaka�ipu. Todos os residentes dos sistemas
planetários celestiais e inferiores ficaram petrificados de medo e naquela época a Terra não
sentiu ānanda. Mas quando K��Ša tocou a Terra com uma forma tão maravilhosa, ela
realmente se tornou afortunada.
Os rios, especialmente o Yamunā, também se tornaram afortunados. Naquela época o
Manas…-ga‰gā também era um rio, apesar de agora estar na forma de um kuŠ�a, e também se
tornou afortunado. Ele lançava olhares amorosos para os rios, porque nele brincava com as
gop…s e os sakhās. Os rios faziam um doce som enquanto fluíam gentilmente e as abelhas
zumbiam em volta dos lótus desabrochantes. Uma brisa suave levava a fragrância e a cena
inteira era muito linda. Através dos Seus olhares afetuosos, K��Ša também fazia jorrar o
néctar de Sua bondade sobre as colinas e montanhas, porque perto delas haviam kuñjas
muito atrativos, como a relva verdinha, e, sob o pretexto de ir levar as vacas para pastar, Ele
ia até lá. Sentado sobre grandes pedras com Seus amigos, eles se decoravam uns aos outros.
Esses kuñjas, tais como os próximos do Kusuma-sarovara, eram maravilhosos e era neles que
K��Ša brincava com as gop…s.
Esse verso descreve quatro bênçãos: receber os olhares afetuosos de K��Ša, receber o
toque de Seus pés, receber o toque de Suas mãos e ser abraçado por Seus braços, como as
gop…s foram. Quando K��Ša ia levar as vacas para pastar, as gop…s ficavam escondidas
olhando-O com seus olhares amorosos e Ele as olhava com tanta afeição que as imergia na
lembrança de Sua doçura. E dessa mesma maneira, Ele olhava para os diversos pássaros e
animais e com isso eles também se tornavam afortunados. Às vezes um pavão,
completamente enlouquecido de bhāva, se aproximava dEle e K��Ša o afagava gentilmente
com a mão. Às vezes Ele chamava um papagaio e quando este voava para Suas mãos, ao
acariciá-lo gentilmente, ensinava a repetir o que dizia. Os bezerros também recebiam o toque
de Suas mãos. Eram bezerrinhos novos, talvez com apenas alguns dias de vida. Eles se
esqueciam da companhia de suas mães e vinham saltitantes, acompanhando K��Ša até a
floresta. E conforme caminhavam e iam se cansando, K��Ša os pegava no colo e massageava
suas pernas com grande prema. Ele também falava com os bezerrinhos muito docemente.
Calculem o quanto esses bezerrinhos eram afortunados.
K��Ša também costumava carregar os sakhās no colo e dava umas palmadinhas neles,
e dessa maneira, Subala e os outros amiguinhos recebiam o toque das mãos de K��Ša.
Considerando os diferentes sentimentos dos residentes de V�ndāvana, Ele os tocava de
diferentes maneiras. Quando K��Ša levava as vacas e os amigos para tomarem água e brincar
nos rios, os rios tinham um determinado tipo de sentimento e quando ia se encontrar com as
gop…s, elas tinham um outro tipo de bhāva. Ao receberem o toque dos pés de K��Ša, os rios
transbordavam de ānanda. As árvores tinham o sentimento dos sakhās e recebiam o toque
tanto das mãos quanto dos pés de K��Ša. As vacas tinham sentimentos maternais e os
bezerros sentimentos de sakhās. As trepadeiras tinham a bhāva das sakh…s e quando K��Ša
colhia flores, era como se estivesse arreliando as gop…s com Seu toque. As gop…s também
recebiam o toque dos pés de lótus de K��Ša:
yat te sujāta-caraŠāmburuhaˆ s ane�u t
bh…tāƒ �anaiƒ priya daddh…mahi karka�e�u
tenā˜av…m a˜asi tad vyathate na k…rtanaˆ svit
k™rpādibhir bhamati dh…r bhavad-āyu�āˆ naƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.31.19
"Ó meu querido! Seus pés de lótus são tão suaves que os colocamos gentilmente sobre
nossos seios, temendo que eles possam se machucar. Nossa vida só repousa em Você e nossas
mentes estão cheias de ansiedade, temendo que Seus pés delicados possam ser feridos pelos
pedregulhos enquanto perambulam pelas trilhas da floresta."
As gop…s estão argumentando com suas próprias mentes. Suas mentes lhes dizem:
— Por que você está preocupada com K��Ša? Não há necessidade disso.
Mas do fundo de seus corações, bem do ātmā, elas respondem:
— Estou preocupada porque os pés de K��Ša são muito delicados e temo que eles
sejam feridos pelos espinhos e pedregulhos. Desejo que Ele nunca sinta dor alguma.
— K��Ša é cego? Será que não vê onde pisa?
— Olha, mente, os bezerrinhos ficam pulando para todo lado, e será que eles só vão
para os lugares limpos e seguros? Eles correm pelas montanhas, rios e matagais, mas têm
cascos para protegê-los dos objetos pontiagudos. Mas se K��Ša for para esses lugares, Seus
pés serão queimados pela areia quente ou espetados pelos espinhos e pedregulhos. Ó mente,
você não possui inteligência?
— Mas em V�ndāvana não existem esses espinhos e pedregulhos. Ali tudo é vi�uddha-
sattva. Eles parecem ser espinhos ordinários, mas na verdade são como se fossem de
borracha. Será que espinhos de borracha podem espetar seu pé? Eles só dão um toque muito
delicado nos tenros pés de K��Ša. E os pedregulhos são mais macios do que manteiga! Pela
influência de vi�uddha-sattva, P�thiv…-dev… decorou sua paisagem com esses pedregulhos
macios e dourados, para que K��Ša nunca sentisse dor alguma.
E assim elas ficam argumentando com suas mentes. As gop…s receberam o toque desses
pés na āsa-l…lā, uma bênção que até mesmo Lak�m…dev… deseja e em quem Brahmā vive
meditando:
r
�
…
āhu� ca te nalina-nābhāva padāravindaˆ
yoge�varair h di vicintyam agādha-bodhaiƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.80.48
Grandes reservatórios de conhecimento como Brahmā, ®a‰kara, os Kumāras e
®ukadeva Gosvām… estão sempre tentando lembrar dos pés de lótus de K��Ša, mas é com
grande dificuldade que esses pés aparecem em suas meditações.
Respondendo às provocações de K��Ša com ira de ciúmes, as gop s dizem:
— Você nos instruiu para meditar, mas a realização Sua raramente ocorre com a
meditação, mesmo quando ela é praticada pelos devotos mais eruditos! Queremos que volte
para V�ndāvana. E que aqueles pés, em quem tanta gente medita, possam atender nossos
desejos de brincar com eles. Não queremos tê-los em nossos cérebros enquanto meditamos,
desejamos segurá-los bem junto do coração. Meditação não nos satisfaz, não queremos saber
disso!
Elas decidiram receber o toque de Seus pés enquanto O estavam decorando e então
também receberiam o toque de Suas mãos. Finalmente iriam receber a bênção de serem
abraçadas por Seus fortes braços. E K��Ša iria até mesmo tocar nos pés delas enquanto
exibissem māna (ira de ciúmes) e Ele tentasse acalmá-las. Então tudo se inverte e até mesmo
Lak�m… deseja tudo isso.
Capítulo II — Os Pavões Dançam com a Melodia da Flauta de K��Ša
Depois de preparar o almoço para K��Šacandra e Baladeva, Ya�oda, juntamente com
Nanda Bābā, Os seguem por uma grande distância, enquanto Eles vão cuidar das vacas o dia
todo. Finalmente, depois de se despedirem, Seus pais voltam para casa. Depois de
cozinharem para K��Ša, ®r…mat… Rādhikā e Suas sakh…s voltam para Yāvata. Quando as sakh…s
de Rādhikā se sentam perto dEla, cada uma, nos seus devidos grupos como ta˜astha
(neutras), svapak�a (as do grupo de Rādhikā) e suh�da (amistosas), começam a meditar em
K��Ša. Elas ficam profundamente encantadas e às vezes Ele aparece em Suas visões interiores
e se envolvem em virahara-rasa. Vendo como Rādhikā está especialmente absorta em viraha-
rasa e indiferente a todas as considerações externas, as sakh…s A chamam e fazem-nA lembrar
ainda mais dos passatempos de K��Ša, falando esses versos:
v�ndāvanaˆ sakhi bhuvo vitanoti k…rtiˆ
yad devak…-suta-padāmbuja labdha-lak�mi -
govinda-veŠum anu matta-may™ra-n�tyam
prek�yādri-sānv-avaratānya-samasta-sattvaˆ
®r…mad Bhāgavatam 10.21.10 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.108
"Ó sakh… Rādhe! V�ndāvana é mais gloriosa do que o céu, VaikuŠ˜ha e mais gloriosa
até do que Ayodhya e Dvārāka-pur…, porque foi agraciada com as pegadas de Davak…-suta. E
somente nessa V�ndāvana os pavões dançam no ritmo da melodia da flauta de Govinda. Ao
ouvirem o som da flauta e os pavões dançando, todas as aves, animais e as outras entidades
vivas ficam atônitas."
Aqui `Devak…' se refere a outro nome de Ya�oda, portanto nesse verso `Devak…-suta'
significa Ya�oda-nandana K��Ša e Suas pegadas estão embelezando V�ndāvana. Quando
Akr™ra e depois Uddhava foram para Nanda-grāma, viram aquelas pegadas em todo lugar.
Ao vê-las, Akr™ra caiu prostrado, ofereceu reverências e rolou no chão, chorando muito e
dizendo:
— Hoje sou muito afortunado de ter tido o dar�ana dos pés de lótus de K��Ša!
Tocando notas muito profundas em Sua flauta, Govinda entra na floresta perto de
Govardhana. Imediatamente todos os pavões se aproximam fazendo o som `ke-kah' por
verem que Ele se parece com uma nuvem carregada. Como Ele usa os furos do final da flauta
para produzir notas muito profundas, o som emitido se parece com um trovão e as vestes
amarelas parecem relâmpagos. Os pavões enlouquecem e formam um círculo em volta de
K��Ša, começam a dançar com grande bhāva acompanhando a melodia da flauta.
Ao ouvirem a melodia da flauta, toda sattva — significando as entidades vivas —
ficam atônitas e abandonam suas atividades costumeiras. Animais como os tigres e ursos
abandonam sua natureza violenta. Sattva também pode significar que tudo no mundo
espiritual é vi�uddha-sattva (composto de pura energia espiritual). Não há nenhuma mácula
dos modos da natureza material (sattva, rajas e tamasa) na realidade espiritual. Existem
inúmeros objetos em VaikuŠ˜ha e todos estão em vi�uddha-sattva. Isso é conhecido
especificamente como a essência da combinação das potências hlādin… e samvit…, que é
encontrada nos corações dos devotos eternos rāgātmikā que ali vivem. Se no coração de uma
j…va surgir a avidez em ter os sentimentos desses devotos e se ela realizar bhajana seguindo
seus passos, então, mesmo se uma molécula da devoção deles refletir em seu coração, isso
pode ser chamado sattva. Existem três tipos de sattva: vi uddha-sattva, sattva e mi�ra-sattva,
uma sattva misturada que existe nas almas condicionadas. Sattva existe nas almas liberadas
que ainda não desenvolveram bhakti e vi�uddha-sattva existe no dhāma e nos associados
eternos de Bhagavān.
�
Aqui, com um pouco de ira de ciúmes, as gop…s estão revelando os sentimentos de seus
corações:
— Todos os animais, aves, insetos e tudo mais em V�ndāvana, tornaram-se
afortunados. K��Ša de uma maneira independente está lhes concedendo Seu toque. Quando
Ele sobe as colinas, Seus pés são postos em diversos pontos e até mesmo as árvores e flores
estão recebendo Seus toques. Mas não é possível que recebamos essa bênção e, portanto, em
V�ndāvana, somos as pessoas mais desafortunadas.
Como já mencionamos, também existem espinhos em V�ndāvana, mas ante os passos
de K��Ša, eles se tornam mais macios do que manteiga. Experimentando o toque de Seus pés,
eles se derretem de bem-aventurança divina. Com ira de ciúmes as gop…s estão dizendo:
— No entanto, nossos corações ainda não se derreteram de k��Ša-prema; por isso
deveríamos nos tornar espinhos ou a folhas de grama em V�ndāvana, aí então as nossas vidas
seriam bem-sucedidas. Para nós existem tantos obstáculos. Não somos capazes de estar perto
dEle, tocar Seus pés e falar com Ele. Não somos capazes de abaná-lO ou de servi-lO de
alguma maneira durante o dia; existem tantas restrições para nós, mas elas não existem para
as outras entidades vivas de V�ndāvana. Se nos tornarmos folhas de grama, espinhos, vinhas,
lagos, ou a poeira de V�ndāvana, poderemos receber Seu toque, mas na forma que temos isso
não é possível.
Aqui, expressando sua ira de ciúmes, elas estão descrevendo a boa fortuna da terra de
V�ndāvana. E continuam dizendo que Bhagavān também está presente no céu, na forma de
Vāmana, numa forma com milhares de cabeças e em outras formas. Apesar de também estar
presente nessas formas, Elas são formas parciais; as encarnações não são iguais. As
encarnações que possuem maior quantidade das qualidades de Bhagavān, mais potências e
rasa são superiores. K��Ša, Rāma e N�siˆha possuem maior quantidade dessas qualidades
quando comparados a outras encarnações e por isso são conhecidos como paravāsthā
avatāras. Mas entre essas três formas, K��Ša é o avatār…, a fonte de todas as encarnações e a
própria base de toda rasa; Ele é raso vai saƒ. Portanto, como é lá que Ele está brincando,
V�ndāvana é o lugar mais glorioso.
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Em seu comentário sobre esse verso, Sanātana Gosvām… diz que K��Ša tocou m du-
mandra na flauta. Qual é o significado de m du-mandra? Quando as nuvens carregadas
começam a se reunir, o céu fica escuro e surgem trovoadas com um som abafado, suave.
Quando as nuvens colidem violentamente, o trovão é bem alto e os raios são bem fortes, e é
isso o que se chama mandra. K��Ša produz um som semelhante com a flauta, mas com m�du,
doçura. O pavão tem por natureza dançar enlouquecido assim que vê o céu ficar escuro e
trovoar. Quando K��Ša entrou na floresta viu Girirāja Govardhana resplandecente com as
trepadeiras, flores desabrochando e frutas maduras. A brisa estava soprando muito
gentilmente, parecendo incapaz de transportar todo peso da fragrância das flores. Vendo esse
esplendor natural, surgiu em K��Ša um desejo de desfrutar e então Ele tocou Sua flauta muito
suavemente. Ao ouvirem essa vibração profunda, os pavões ficaram loucos, dançando no
ritmo da flauta com o leque de suas caudas completamente aberto. Todos os animais, aves e
insetos de V�ndāvana se reuniram nas veredas de Govardhana para apreciar a cena.
Os pavões pensam: "Ele está tocando uma melodia maravilhosa e ao dançarmos com
ela, sentimos grande ānanda, mas nada temos para oferecer-Lhe em troca."
Depois que atores profissionais encenam alguns dos passatempos de Bhagavān,
colocam uma m™rti de K��Ša ou de Rāmacandra numa travessa e se aproximam da audiência
para coletar contribuições. Ao verem isso, os outros atores colocam algum dinheiro na
travessa e todos sentem-se na obrigação de fazê-lo. Existe alguma intimidação ou efeito
psicológico ao se usar esse método. Mas quando alguém deseja contribuir espontaneamente
porque realmente apreciou a apresentação, irá ver o que tem no bolso e não importa se a nota
que encontrar primeiro — seja de duas, cinco ou dez rúpias — seja dada imediatamente. Por
isso, um desses pavões pensou: "Não tenho nada de valor para Lhe dar. Nenhum colar de
ouro nem vestes valiosas. Sou apenas uma ave, mas as penas da minha cauda são valiosas!
Não existe nada nesse mundo que possa se comparar à sua beleza e ao vê-las todo mundo fica
satisfeito. Elas são tão atrativas com as suas sete cores, então por que não oferecer-Lhe uma
delas?"
Desta maneira, o pavão deixou cair uma de suas penas. Ao vê-la K��Ša pensou: "Esse
pavão é muito amável; apreciou muito a Minha apresentação tocando flauta e Me ofereceu
uma de suas penas. Não há nada de artificial nessa sua oferenda."
K��Ša pegou a pena do chão e a colocou sobre a cabeça, pensando: "Assim como a
flauta Me é muito querida, agora essa será a Minha pena de estimação. Ao andar, descansar,
sonhar, sentar ou posar, nunca irei deixá-la. Para onde for em Vraja, nunca abandonarei a
flauta ou essa pena de pavão."
Essa é a origem do ornamento mais célebre de K��Ša, a pena de pavão.
O pavão notou: "Oh, deixei essa pena para Ele, mas Ele não a pôs só no bolso! Ele a
colocou sobre a cabeça, a parte mais valiosa do corpo! Hoje minha vida tornou-se
completamente bem-sucedida."
Se desejarmos oferecer um presente ao nosso Guru, aos vai�Šavas ou a Bhagavān, mas
ao recebê-lo, eles disserem:
— Por que iria precisar disso? Tenho milhões de coisas muito mais valiosas.
Ficaremos muito sentidos. Mas se, em vez disso, aceitarem e disserem:
— Ora, que coisa linda você me trouxe!
Certamente ficaremos muito contentes. Analogamente, Sudāmā Vipra levou para
K��Ša um pouco de arroz cru quebrado e, ao ver sua oferenda, K��Ša a arrancou das mãos do
brāhmaŠa e disse:
— Olha! Que petisco gostoso você Me trouxe!
E mesmo cru, seco e sem gosto, Ele imediatamente mastigou e disse:
— RukmiŠ… e Satyābhamā nunca Me ofereceram nada igual!
Ao ouvir isso, Sudāmā Vipra ficou completamente satisfeito.
E assim, o pavão viu que oferecera a K��Ša uma coisa bem trivial, no entanto, K��Ša a
colocou sobre a cabeça. Então K��Ša tocou a flauta com tanto prema que até mesmo Ele ficou
louco, dançando com os pavões.
Antes disso, nesse verso, anu matta se refere aos pavões ficando intoxicados, mas
também pode se referir ao próprio K��Ša. E depois, Ele tocou a flauta com mais prema,
deixando os pavões completamente loucos e Ele próprio mais enlouquecido e dessa maneira
houve uma competição entre eles. Se alguém oferece algo com prema, e isso também é aceito
com prema, ambas as partes desfrutam desse prema, e foi precisamente isso o que aconteceu
aqui.
Enquanto K��Ša estava tocando a flauta dessa maneira e acontecia a dança, todos os
sattva, significando as aves e animais, ficaram imóveis, vendo e ouvindo. Mas não fiquem
imaginando que eram aves e animais como os desse mundo. Os animais e aves de Goloka são
todos vi�uddha-sattva e lá não existe nenhum traço de tamasa, rajasa ou de sattva material.
Mesmo quando a j…va se torna muito elevada, talvez imediatamente antes da liberação, ainda
existe nela algum traço de sattva material. Nesse mundo a maioria das pessoas são tamásicas,
o que significa que vivem sendo afetadas pelos atributos inferiores como ódio, inveja, ira e a
tendência de enganar. Além disso há a contaminação rajásica, caracterizada pela imensa
ansiedade em desfrutar. Por isso mesmo quando surge sattva, de início ela está misturada
com tamas e rajas. Como no caso do Mahārāja Hariscandra, que deu um monte de caridade, o
que é sattvico, mas que ainda está misturado com rajas. KarŠa era muito caridoso, sempre
dizia a verdade e fazia o bem aos outros, o que são qualidades sattvicas — mas era afetado
pela ira, inveja e tendia para a violência, que indica contaminação com tamas. Bharata
Mahārāja mostrou afeição por um animal, o que é sattvico, mas ainda assim não é �uddha-
sattva. Somente depois que as j…vas alcançam svar™pa-siddhi na iminência de entrar em
vastu-siddhi é que se pode dizer que ela está em vi�uddha-sattva. Bhagavān e todos os
devotos de VaikuŠ˜ha, quer sejam pavões, macacos ou outros seres, estão situados em
vi�uddha-sattva.
Para poderem ver K��Ša tocando a flauta e a dança dos pavões, inúmeras outras aves
se reuniram nos galhos da árvores de Govardhana. Na floresta, os gamos também estavam
olhando, mas com os olhos fechados, como se estivessem meditando. E como eles poderiam
ver de olhos fechados? Pela sañcār…, o que significa que estavam experimentando
interiormente a sua sthāy…-bhāva, ou sentimento permanente no qual se situavam. Havia
inúmeras espécies de aves e animais olhando nas veredas de Govardhana e todos exibiam a
natureza dos munis. Govinda-veŠum anu matta-may™ra-n�tyaˆ — o nome Govinda vem das
palavras go e indate. Go significa gopas, gop…s, vacas e bezerros. Também significa Veda,
brāhmaŠa, jñāna, sentidos e muitas outras coisas. Indate significa indra, que significa amo.
Portanto, Govinda significa aquele que aumenta a ānanda de todo mundo em Vraja, com as
notas que toca na flauta. Ao ouvir esse som divino, todas as entidades vivas se esquecem do
que estão fazendo. Nessa hora do dia, geralmente as aves emitem diferentes sons ao cantarem
como che-cha e kala-rava, mas todas essas atividades cessam e elas esquecem até de seus
corpos. Esse é o significado de avararānya. E assim, todos ficam imóveis, só ouvindo e
observando, pensando: "Olha! Isso só pode acontecer em V�ndāvana! Bhagavān também está
presente em VaikuŠ˜ha, mas lá não se ouve o som. Em Ayodhyā e Dvārāka não se vê pavões
dançando assim. Isso só acontece em V�ndāvana e em nenhum outro lugar."
Vitanoti significa que V�ndāvana é mais gloriosa do que o céu ou do que VaikuŠ˜ha. Ali
K��Ša exibe quatro qualidades especiais: r™pa-mādhur…, veŠu-mādhur…, l…lā-mādhur… e
prema-mādhur…, o amor especialmente doce que Seus companheiros em Vraja têm por Ele.
Como Govinda está tocando flauta ali, o esplendor e as glórias de V�ndāvana estão sendo
proclamadas como sendo as melhores de todas.
Como K��Ša era notado pelos pavões enquanto tocava flauta? Ele tinha uma pena de
pavão na Sua coroa e posava na Sua postura curvada em três pontos, com o pé direito
trançado sobre o esquerdo. Ao verem isso, de imediato a ānanda dos pavões aumentou.
K��Ša estava adornado com uma guñja-mā ā, que também tinha flores kadamba e mañjar…s de
tulas…, que chegava até os joelhos. Uma suave fragrância estava vindo e as abelhas
enxameavam em volta dela. K��Ša estava usando pulseiras e Seus membros estavam
decorados com aranhas. Dessa maneira, Nanda-nandana estava decorado com Seus
ornamentos florestais e segurava a flauta, que era chamada de querida sakh…. Ele nunca a
abandona; a flauta está sempre com Ele. Às vezes, para incrementar as ondas da l…lā e para o
prazer das gop…s, K��Ša entra num kuñja e "cai no sono". Notando que Ele deixa a flauta
caindo das mãos (mas na verdade Ele não está dormindo), as gop…s, que O veêm escondidas,
acham que K��Ša dormiu e dizem:
l
— Agora vamos pegar a flauta!
Então Rādhikā diz para as outras gop…s:
— Quem está preparada para fazer isso? Se Ele acordar via agarrar vocês!
Todas elas ficam com medo. Simulando dormir, K��Ša certamente tem alguma
intenção especial. Se existe alguém que pode pegar a flauta, é Rādhikā. Todas as outras gop…s
propõem que Ela o faça e Ela concorda. Sorrindo e observando-O com muita atenção, Ela se
aproxima bem de mansinho, como uma gata. Ao chegar bem perto, verifica se realmente Ele
está dormindo e então surrupia a flauta e sai do kuñja bem depressa. Então KuŠ�alatā vem e
cutuca K��Ša:
— Tudo o que Você tinha foi roubado! Você estava dormindo?
Levantando-se e dando uma olhada pelos arredores, K��Ša diz:
— Ei! Onde está a Minha flauta?
E diz muito perturbado:
— Quem a levou? Você viu quem a levou?
Então Ele se aproxima das gop…s e diz:
— Vocês viram a Minha flauta?
E desse jeito, permite que Sua flauta seja levada embora, só para poder desfrutar de
alguma rasa especial; caso contrário Ele nunca a abandonaria. No Brahma-saˆhitā está
declarado que a flauta é Sua priya-sakhi. A vibração da flauta pode derreter tudo, até mesmo
montanhas duríssimas e também é capaz de entrar no corpo dos devotos e roubar-lhes o
coração. Se a flauta não estiver presente, então muitas das Suas l…lās e vilāsas não terão
sentido, tamanha é a importância da flauta. Segurada perto dos lábios, ela sorve a rasa e fica
intoxicada, inspirando as gop…s a dizer no VeŠu-g…tā:
— Esse pedaço de bambu, inanimado, está desfrutando da nossa propriedade — o
néctar de Seus lábios!
Nesse verso que estamos explicando, foi usado o nome Devak…-suta. Uma vez, Devak…-
suta, Dvārākadh…�a, foi até os planetas celestiais. O Vrajendra-nandana K��Ša não vai para lá.
Dvārākadh…�a foi até lá para arranjar uma flor pārijāta para acalmar o coração de
Satyābhamā, e ao se aproximar de Indra, Ele disse:
— Amigo, sempre você foi muito afetuoso coMigo, por isso vim pedir-lhe uma flor
pārijāta.
Quando Indra se recusou a dar uma única flor, K��Ša arrancou uma árvore inteira e
sentou-se no dorso de Garu�a com Satyābhamā, pronto para se retirar de lá. Indra e os
semideuses tentaram detê-lO e, depois de derrotá-los, Ele regressou a Dvārāka e plantou a
maravilhosa pārijāta no jardim de Satyābhamā. Esse era o Devak…-suta, Dvārākadh…�a K��Ša,
que abençoou os planetas celestiais com o toque de Seus pés, mas vocês nunca O verão
dançando com uma pena de pavão na cabeça. Ele não usa flauta e nada mais além do que o
búzio e o disco, poderá ser visto em Suas mãos. Lá, Ele não porta flauta e nem exibe os quatro
aspectos especiais de Sua doçura, que só são encontrados em V�ndāvana. Por isso a fama de
Vraja é maior do que a dos planetas celestiais, VaikuŠ˜ha ou Dvārāka.
Em VaikuŠ˜ha, Lak�m… recebe o toque dos pés de NārāyaŠa, uma expansão de K��Ša
que possui todas as seis opulências, mas que não apresenta os quatro tipos de mādhur…, que
não se encontram em VaikuŠ˜ha. Em VaikuŠ˜ha vocês não verão pavões dançando com a
melodia da flauta. Portanto, quando a palavra Devak… é usada nesse verso, podemos
compreender que esse é um outro nome de Ya�oda, porque é V�ndāvana-K��Ša, ou Govinda,
que toca flauta. E quando Ele toca flauta, todas as entidades vivas se esquecem de suas
atividades cotidianas e ficam imóveis, em silêncio, ouvindo. Como as gop…s ouvem o som da
flauta e contemplam a dança dos pavões? Sentadas em seus lares, elas ouvem e observam
tudo meditando. Elas dizem:
— Vejam, os pavões estão descendo para a vereda, para dançar com a melodia da
flauta de K��Ša, mas será que nós poderemos ir a té lá? Também desejamos cantar e dançar
com Ele, mas existem tantas restrições para nós. Nossos tutores vivem nos olhando. Para nós
isso não é possível. Somos muito desafortunadas.
Capítulo III — O Melhor Servo de Hari
No próximo verso, as gop…s glorificam a colina de Govardhana, que não somente é a
coroa de V�ndāvana, é a coroa de todo o Universo.
hantāyam adrir abalā hari-dāsa-varyo
yad-rāma-k �Ša-caraŠa-spara�a-pramodaƒ r
-mānaˆ tanoti saha-go gaŠayos tayor yat
pān…ya-s™yavasa-kandara-kandam™laiƒ
®r…mad Bhāgavatam 10. 21.18 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.109
"Essa colina de Govardhana é a melhor de todos aqueles que são conhecidos como
hari-dāsa, porque sente grande prazer e júbilo com o toque dos pés de lótus de K��Ša e
Balarāma. Govardhana a adora com grande respeito providenciando tudo o que necessitam
como grutas, frutas, flores e água para o prazer dEles e de Seus amigos vaqueirinhos, das
vacas e dos bezerros."
V�ndāvana é gloriosa porque ali K��Ša está tocando Sua flauta nas veredas de
Govardhana e os pavões estão dançando, aturdidos, e os animais e as aves estão ouvindo e
olhando. As gop…s dizem hantāyam, o que significa que estão expressando seus sentimentos
de tristeza e, no entanto, há muita ānanda nele. Elas estão desapontadas porque não podem
ter o dar�ana de K��Ša e juntarem-se às festividades externamente, entretanto, estão sentindo
uma crescente ānanda interiormente, em sua meditação.
— Somos abalā (desprovidas de força). Por que? Quando as corças se aproximam de
K��Ša com seus esposos atrás delas, não há nada nesse mundo que possa impedi-las. Mas,
quanto a nós, todos são obstáculos — os nossos esposos, sogras, sogros, irmãos e amigas. E
qual é o maior de todos os obstáculos? As restrições que existem em nossas mentes: o medo
de ficarmos desgraçadas na sociedade. Portanto somos abalā.
Prema-bhakti tem algo dessa anugatya — sem a misericórdia do guru, ela nunca pode
ser alcançada.
�r…-guru-caraŠa-padma kevala-bhakati-sadma
bando mui sāvadhāna mate
Os pés de lótus do guru são a padma, o abrigo, para este �r…, o prema-bhakti por K��Ša,
que existe no coração do guru. Ele é a fonte. Sem a devoção pelo guru, sem o serviço a ele,
sem a rendição incondicional a ele, bhakti nunca aparecerá. A menos que se alcance a
misericórdia do guru, jamais será possível experimentar bhakti e jamais se receberá o dar�ana
de K��Ša.
Portanto, aqui as gop…s estão dizendo:
— Sakh…, por um longo tempo tivemos o desejo de nos encontrarmos com K��Ša, mas
nossos pés são incapazes de ir até lá, nossos olhos são incapazes de vê-lO e nossas mãos são
incapazes de tocá-lO. Em nossa condição desperada não podemos ter o Seu dar�ana. As aves,
os animais, todo mundo tem permissão de receber o Seu toque e de servi-lO, mas não
podemos. No entanto, aqui perto está Girirāja, que é hari-dāsa-varya — o melhor dos hari-
dāsas e Ele é guru-tattva. Se nos rendermos a Ele, se formos oferecer-Lhe p™jā e servi-lO,
então certamente receberemos a boa oportunidade de servir a K��Ša.
Essa é a natureza do guru:
sāk�ād-dharitvena samasta-�āstrair
uktas tathā bhāvyata eva sadbhir
kintu prabhor yah priya eva tasya
vande guroƒ �r…-caraŠāravindam
®r… Gurva�˜akam 7
O guru é especialmente querido por K��Ša. Todas as j…vas Lhe são queridas, mas por
servir e receber a misericórdia de um guru que possa realmente controlar K��Ša
com prema, poderemos nos encontrar com Ele; caso contrário jamais conseguiremos.
Ao realizar o parikramā de Govardhana, todos os devotos devem primeiro ter um dar�ana de
Harideva, ou não receberão o benefício integral em realizar o parikramā. Por isso as gop…s
estão dizendo:
— Com o pretexto de nos banharmos no Mānas…-ga‰gā, vamos primeiro ter um
dar�ana de Harideva, e depois iremos até Girirāja Govardhana onde os desejos de nossos
corações serão completamente satisfeitos porque K��Ša está em algum lugar no alto de
Govardhana, levando as vacas para pastar e brincando com Seus amigos. Ali seremos capazes
de receber Seu dar�ana, receber Seu toque e nos associarmos livremente com Ele — este é o
principal objetivo de nossas vidas.
Esse também deve ser o objetivo principal de nossas vidas. Encontrarmos K��Ša e
alcançarmos o serviço a K��Ša — este é o único propósito de realizarmos sādhana. A
finalidade do sādhana e do ādhya (meta) de bhakti é a mesma. Por exemplo, quando há
�ravaŠam, o que devemos ouvir? Bhagava -tattva, e devemos compreender especialmente
bem māyā-tattva: "O que estamos vendo agora que nos faz ficar apegados devido aos nossos
interesses egoístas, só nos causa infelicidade". Até que nos rendamos aos pés de lótus do guru
e seguirmos o sādhana como ele prescreve, devemos seguir o conselho que nos é dado pela
mente. Quando buscamos abrigo exclusivo no guru, ele irá nos salvar de nossa própria
independência. Então devemos esvaziar nossos corações e aceitar as instruções do guru.
Devemos tornar nossos corações idênticos com o guru, com os vai�Šavas e com nossos
ācāryas anteriores, como ®r…la Visvanātha Cakravart… µhākura, ®r…la Bhaktivinoda µhākura e
®r…la Bhaktisiddhānta Sarasvat… µhākura. Se mantivermos nossos corações separados deles,
com certeza māyā irá nos engolir. Se não entregarmos a eles a nossa independência, então
estaremos agindo apenas de acordo com nossos desejos. Devemos depender exclusivamente
deles: "O que eles instruírem eu farei. Vou usar toda a minha inteligência para cumprir suas
ordens". E assim seremos bem-sucedidos, caso contrário bhakti, que é cinmaya e tem a sua
natureza independente, não virá facilmente.
s
t
Por isso, aqui as gop…s estão dizendo:
— Apesar de todo tipo de esforço pessoal, jamais superaremos os obstáculos que nos
impedem de nos encontrarmos com K��Ša, como o medo das pessoas mais velhas e a adesão
às regulações do sistema varnā�rama-dharma. Só superaremos isso tudo quando alcançarmos
a misericórdia de Girirāja.
E aqueles que estiverem no estágio de sādhana, nunca devem deixar a companhia do
vai�Šava que está verdadeiramente qualificado para ser seguido. Podem surgir inúmeras
distrações, mas nunca devemos abandonar esse vai�Šava — essa é a principal instrução.
Agiremos conforme o desejo dele e teremos assegurado o progresso no reinado de bhajana.
Mas se, em vez disso, ficarmos dando atenção aos ditames da mente, cairemos até Rasātala. O
que nos diz a mente?
— Olha, veja se cuida bem do seu corpo! Viva sempre confortavelmente e só se esforce
pela felicidade que é alcançada com facilidade.
E ao seguirmos essas instruções acabaremos enredados nas reações que causam
desfrute e sofrimento. Por isso, em vez de aceitarmos as instruções da mente, devemos aceitar
as instruções do guru , dos vai�Šavas e dos �āstras. Como as gop…s estão dizendo nesse verso,
somos abalā — não temos vitalidade em nossa associação com os sādhus.
Se estivermos morando num templo, mas nunca falamos com ninguém, não temos
amor nem pelo guru nem pelos vai�Šavas, então o que irá acontecer? Acabaremos isolados e
desencorajados. Precisamos ter um relacionamento amável com eles, perguntar, ouvir suas
respostas com atenção e ter um humor de oferecer e aceitar o que nos oferecem. Sem eles
somos abalā — não temos força espiritual.
prāc…nānāˆ bhajanamatulaˆ du�karaˆ s�Švato me
nairāsyena jvalati h dayaˆ bhakti-le�ālasasya �
Stava-mālā
Como as grandes personalidades do passado alcançaram seus objetivos mais
acalentados? Ka�yapa ¬�i e Aditi ficaram de braços erguidos por 60 mil anos, sem comer,
beber e nem sequer respirar. Depois de terem se submetido a essas austeridades, NārāyaŠa
apareceu diante deles e lhes ofereceu uma bênção. Ka�yapa ¬�i disse:
— Desejamos ter um filho como Você.
NārāyaŠa respondeu:
— Onde poderá haver um filho como Eu? Eu mesmo serei filho de vocês.
E como eles haviam feito esse pedido três vezes, NārāyaŠa se tornou filho deles três
vezes seguidas. Podemos observar que austeridades severas HiraŠyaka�ipu se submeteu para
só alcançar coisas materiais. Para obter o seu próprio planeta, Dhruva Mahārāja realizou
severas austeridades.
Alguém ofereceu a Sanātana Gosvām… uma coberta, mas com medo de dormir demais,
ele disse:
— Queime isso!
Mas o que fazemos? Comemos o dia todo, dormimos, brincamos, rimos, discutimos e
se sobrar algum tempo cantamos harināma. É relativamente fácil nos livrarmos dos apegos
mundanos, mas o raro prema que ansiamos ter nunca virá se agirmos desse jeito. Devemos
ter muita avidez por ele, sempre pensando: "Como irei me encontrar com K��Ša?"
Uma vez Bhagavān deu um dar�ana para Nārada e depois desapareceu
imediatamente. Nārada começou a chorar profusamente. Por que Ele desapareceu?
— Você ainda não está muito ávido. Por isso vim só para aumentar sua avidez em ter a
Minha associação. Na sua forma atual você não poderá permanecer coMigo o tempo todo,
mas quando a sua avidez em estar coMigo se tornar suficientemente intensa, você
abandonará esse corpo automaticamente e então será capaz de Me ver o tempo todo.
Nosso bhajana não está dotado de avidez e de intensidade. Se nossos corações não se
derreterem completamente nunca nos encontraremos com K��Ša. Por isso só nos resta uma
esperança: "Estamos na praia do oceano de Sua bondade e se mesmo uma só gota desse
oceano cair sobre nós, então nossas vidas serão bem-sucedidas."
Nossa única esperança é que algum dia nos encontraremos com Ele.
Por isso, se formos afortunados o bastante para conseguir a companhia de um
verdadeiro vai�Šava, devemos permanecer com ele e adotar sua conduta, esperando um dia
receber a misericórdia direta de K��Ša. As gop…s estão dizendo:
— Somos abalā, porque nossos pés não podem nos conduzir até K��Ša. Milhares de
pessoas irão nos ver e perguntar: "O que estão fazendo?" Ou irão perguntar para nossos pais:
"Onde sua filha está indo? Ela vai se tornar a desgraça para sua família!"
Nos dias de hoje também acontece isso se algum membro da família resolver se
dedicar ao bhajana. Se um filho ou filha bebe ou fuma, se vai ao cinema e se mantém
relacionamento sexual ilícito com algum parceiro, o resto da família acha que isso é normal.
Mas se alguém larga tudo e resolve fazer bhajana, todos dirão que se tornou a desgraça da
família. Mas, se um sādhu ficar sabendo disso, o que irá dizer?
— Como essa pessoa resolveu fazer bhajana tornou-se a iluminação da família.
E ao ficarem sabendo disso, todos os antepassados desse felizardo, estejam eles em
Pit�iloka ou em qualquer outro lugar, começarão a dançar:
— Agora apareceu um devoto em nossa família!
As gop…s estão dizendo hari-dāsa-varyo — Govardhana é o melhor hari-dāsa. Em
quem K��Ša investe todas as Suas qualidades, é considerado um devoto de Bhagavān e essa
pessoa é hari-dāsa. Três personalidades têm sido consideradas hari-dāsas: Mahārāja
Yudhi�˜hira, Uddhava e Girirāja Govardhana. Mahārāja Yudhi�˜hira tem três tipos de
relacionamento com K��Ša: em vātsalya-bhāva, sakhya-bhāva e dāsya-bhāva. Ele serve K��Ša
com esses três sentimentos, de acordo com a necessidade. Ele ama K��Ša como do mesmo
modo que Arjuna e Sahadeva, como um irmão mais novo. Como amigo de K��Ša, ri e brinca
com Ele. E por considerar que tudo o que possui — reino, riqueza, esposa, filhos — é para o
serviço de K��Ša, age como servo. Depois que K��Ša saiu de Hastināpura, Mahārāja
Yudhi�˜hira sentiu que seu reino e nada mais tinha valor algum, mas enquanto K��Ša esteve
ali presente, sentia que todas as suas posses eram para o serviço a K��Ša. Sempre que K��Ša
desejava ir embora de lá e voltar para Dvārāka, Yudhi�˜hira Mahārāja se aproximava de
Kunt… e dizia:
— Minha querida mãe, K��Ša não irá me dar ouvidos, mas ouvirá você. Por favor, fale
com Ele.
Para Draupad…, ele dizia:
— K��Ša não vai me ouvir, deixa cair algumas lágrimas de seus olhos. Ele não me ouve
porque não choro, mas chorando um pouco você O cativa.
E assim, como elas começaram a chorar, K��Ša não pôde ir embora. Dessa maneira, às
vezes usando algum truque, Mahārāja Yudhi�˜hira servia a K��Ša. Mesmo vai�Šavas rasikas
como Nārada, oram para Mahārāja Yudhi�˜hira:
— Você é hari-dāsa. K��Ša vai ao seu palácio acompanhado de Suas rainhas e muitos
sādhus também vão vê-lo. Os sādhus vão porque desejam experimentar as glórias de K��Ša,
mas não viemos por esse motivo. Viemos para ter o seu dar�ana, o seu prema é tão elevado
que controla K��Ša.
Uddhava é ministro, amigo e servo de K��Ša e até mesmo exerceu a função de um
priya-narma sakha quando foi entregar a mensagem de K��Ša para as gop…s. Yudhi�˜hira
Mahārāja é exemplo de hari-dāsa p™rŠa (completo), Uddhava é o hari-dāsa p™rŠater (mais
completo) e Girirāja Govardhana é p™rŠatam (completíssimo). Girirāja Govinda está sempre
pronto para servir K��Ša em qualquer rasa que Ele desejar desfrutar. Seja em �ānta, dāsya,
sakhya, vātsalya, mādhurya e sumādhurya rasas, Govardhana faz todos os arranjos que
K��Ša desejar e por isso é conhecido como o melhor dos hari-dāsas. Por saberem disso, as
gop…s estão pensando: "Vamos para Girirāja, oferecer-lhe p™jā e prestar-lhe serviço e depois
alcançaremos o dar�ana de K��Ša levando as vacas para pastar."
Em seu comentário desse verso, ®r…la Sanātana Gosvām… explica que as gop…s estão
pensando: "Não temos força para superar os obstáculos que nos impedem de nos
encontrarmos com K��Ša. Estamos sentadas em nossos lares e se aparecerem quaisquer
outros inconvenientes, podemos suportá-los com paciência; mas não conseguimos ter
paciência para nos encontrarmos com K��Ša. Mas se abandonarmos tudo, o que acontecerá?
Nossas vidas estarão destruídas. Sabemos que K��Ša foi levar as vacas para pastar, mas se
formos até lá isso não será apropriado para mocinhas como nós. Se formos até lá nossas
sogras, sogros e todas as pessoas da vila irão nos criticar. Por isso temos que ser pacientes. Se
ao menos tivermos a esperança de ter a companhia de K��Ša, o medo que temos de ser
degradadas na sociedade, o medo que sentimos de nossos tutores e o medo que temos de
transgredir nosso dharma deverá persistir. Por isso somos abalā — não podemos abandonar
nossa paciência; não temos força para isso. Somos incapazes de ir até lá."
Nesse mundo também existem essas considerações. Podemos sentir medo da reação da
sociedade se formos abandonar o lar, esposa, filhos e o emprego para nos dedicarmos ao
bhajana. E em nosso k��Ša-bhajana, nossa falta de força também é um obstáculo. Somos
preguiçosos e estamos sempre pensando nos confortos para o corpo. E especialmente os que
são g�hasthas, têm inúmeras responsabilidades com a sociedade e com a família que são
impedimentos para o bhajana.
Assim que nasceu, ®ukadeva Gosvām… deixou o lar e entrou na floresta. Ele deixou seu
pai, Vyāsadeva, chorando:
— Meu filho! Meu filho querido!
Mas ®ukadeva nem sequer respondeu. Quem respondeu? Somente o eco da floresta. O
chamado de Vyāsadeva nem sequer chegou aos ouvidos de ®ukadeva. Se não conseguimos
isso hoje, quem sabe algum dia nosso anseio por k��Ša-bhajana possa ser parecido com o de
®ukadeva e então nosso sentimento de abalā desapareça. Quando realmente desejarmos
superar todos os obstáculos para o bhajana, onde arrumaremos força para isso? As gop…s
estão dizendo:
— Para isso devemos ir a Girirāja Govardhana, porque ele é o melhor hari-dāsa. Por
que? Porque não apenas serve K��Ša, mas mānaˆ tanot saha-go-gaŠayos tayor yat — K��Ša
tem inúmeros companheiros e Govardhana também os serve. Ele providencia água pura e
perfumada para as vacas e para os sakhās beberem e para K��Ša lavar os pés.
i
t
Por providenciar tudo que K��Ša necessita, Girirāja Govardhana não apenas presta
respeitos a K��Ša, mas também a todos os seus companheiros. Muita gente se dedica ao guru-
sevā, mas são poucos os que oferecem respeitos aos servos do guru; mas quando alguém
presta serviço respeitando os servos do guru, este fica ainda mais satisfeito. Analogamente,
muitos devotos estão servindo K��Ša, mas se alguém serve os devotos de K��Ša e os deixa
satisfeitos, então automaticamente K��Ša irá ficar satisfeito. Govardhana não só providencia
água pura, como também maravilhosa e grama macia. Comendo a grama as vacas ficam
fortes, dão bastante leite que satisfaz K��Ša. E para os sakhās, Govardhana não só providencia
água, como também todo tipo de frutas que simplesmente ao vê-las, aumenta a felicidade
deles: bananas, limões, romãs, cocos e āla, que é especialmente perfumada.
Govardhana também providencia cavernas para os sakhās que descansam quando
ficam cansados de pastorear as vacas. Nos dias quentes, as cavernas são mais frescas e nos
dias frios são mais quentes, e dentro delas existem kuñjas com espelhos feitos de jóias. Nesses
kuñjas existe todo tipo de cosméticos e dessa maneira, também são locais para os encontros
de K��Ša com as gop…s. Ali perto estão locais como o Dāna-gati e Dāna-nivartana-kuŠ�a, onde
K��Ša, Rādhikā e Suas sakh…s cobram taxas de pedágio um dos outros. Por isso as gop…s estão
orando:
"Ó Girirāja Govardhana, você é testemunha de todos os passatempos de K��Ša. Nos dê
um local onde também possamos assistir esses passatempos."
Ao ouvir essas palavras das gop…s, um sādhaka ficará com mais avidez e irá pensar:
"Quando esse dia chegará? Qando poderei ir a Girirāja Govardhana com esses sentimentos
das gop…s fluindo em meu coração? Também tenho desejo de assistir os passatempos de
K��Ša durante o dia."
Esse desejo é o principal objetivo de nossas vidas e o auge do bhajana.
Capítulo IV — Nuvens, Rios e Árvores Servem K��Ša
Se alguém é inimigo de Bhagavān, deverá sofrer muito e ser muito infeliz. Terá que se
submeter a inúmeros nascimentos nesse mundo material e nunca será feliz em nenhuma
dessas vidas. A j…va é parte de Bhagavān; sua forma intrínseca é de serva de Bhagavān. Ao
abandonar essa compreensão, a j…va se torna oposta a Bhagavān e pensa: "Sou o desfrutador
desse mundo. Sou o dono de tudo e tudo foi criado para o meu desfrute."
Essa é a ilusão de uma j…va opositora. Quando K��Ša desapareceu da visão das gop…s,
em loucura divina, elas saíram a procurá-lO. Na verdade Ele nunca se afastou delas; pelo
contrário, fomos nós quem nos afastamos dEle. Se em nossa procura por Bhagavān
estivermos tão ansiosos quanto as gop…s, seguramente iremos encontrá-lO. Mas sem essa
avidez, nunca nos encontraremos com Ele.
As gop…s possuem uma avidez extrema em se encontrar com K��Ša e se mesmo uma
fração dessa avidez surgir dentro de nós, então pode-se dizer que realmente estamos em
busca de K��Ša em nosso sādhana-bhajana. Mas de onde virá essa avidez? K��Ša e ®r…mat…
Rādhikā assumem formas que são facilmente acessíveis para as almas condicionadas. Para
poder atrair as j…vas, K��Ša se torna a �ālagrama-�ilā e Sua querida consorte se torna tulas….
K��Ša também entrou nesse mundo na forma de Girirāja Govardhana e Sua mais querida
amante na forma do Yamunāj…. Podemos ver como Bhagavān é misericordioso; tanto que Ele
tomou providências para que todos possam alcançá-lO. Govardhana é acessível a todos e é
capaz de conceder k��Ša-prema. Diz-se que Govardhana satisfaz todos os desejos de quem
dela se aproximar e fez uma bela armadilha para todos os seus visitantes. Se alguém desejar
um filho, riqueza, um filho ou filha se casem, se quiser um emprego melhor, pode ir a
Govardhana e pedir a ela, que ela concederá todas essas coisas. E é assim que ela vai
capturando as pessoas, vai pegando um dedo e logo toma a mão, e acaba agarrando tudo.
Quem viaja nos trens da Índia pode notar como vão cheios e como não se encontram
assentos vagos. Ao entrar num trem as pessoas primeiro chegam perto de um banco, colocam
a mão afastando um pouco os outros e vão forçando a entrada devagar, até que acabam se
espremendo no assento. E é dessa mesma maneira que Girirāja, o guru e os vai�Šavas vão
gradualmente trazendo as almas condicionadas para bhakti.
Depois de ficarem separadas de K��Ša, as gop…s então pensando: "K��Ša é tudo para
nós, mas, como iremos nos encontrar com Ele? Temos que receber a misericórdia de um
vai�Šava e quem é o melhor dos vai�Šavas? Yudhi�˜hira, Uddhava e Girirāja Govardhana. E
dentre eles, Girirāja é o melhor. Procurar Yudhi�˜hira ou Uddhava não vai adiantar nada, eles
não podem nos dar o que desejamos. Só Girirāja pode nos dar."
Dessa maneira, se realmente sentirmos que Bhagavān é tudo o que necessitamos,
teremos essa avidez que nos levará a perguntar a um vai�Šava:
— Como poderei me encontrar com K��Ša? Como superar esse meu desespero?
É assim que reconhecemos nossa necessidade de ter um guru. Não é necessário ter um guru
para se alcançar um objeto material qualquer, mas para assuntos espirituais é necessário se
aproximar de um guru. Girirāja irá nos dar misericórdia, Yamunā-dev… nos dará misericórdia,
V�ndāvana-dhāma nos dará misericórdia e devemos orar para elas.
Aqui, as gop…s, através dos olhos de vipralambha-bhāva em separação de K��Ša, estão
vendo prema em todos os residentes de V�ndāvana e só não o vêem em si mesmas. Esse é um
sintoma dos vai�Šavas uttama-adhikar…s. Existem três níveis de vai�Šavas. O primeiro é o
kani�˜ha-adhikar… e seus sintomas são que mesmo oferecendo p™jā para Deidade e aceitando
a água dos locais sagrados e a que foi oferecida à Deidade como sagradas, não detecta a
presença de Bhagavān nos corações das outras j…vas. Ele considera o corpo como sendo o eu e
não tem respeito pelos devotos de Bhagavān. Também não acredita que o guru conhece todas
as coisas; acha que o guru deve ter mais conhecimento do que ele mesmo possui, mas que
certamente não sabe de tudo. Por isso acha que não tem necessidade de aceitar o conselho do
guru. Se não conseguir o resultado material que deseja com a sua prática de bhajana, fica
insatisfeito e abandona seu bhajana.
Um vai�Šava madhyama-adhikār… é descrito como alguém que sente amor por
Bhagavān, é amigo dos outros devotos, misericordioso com aqueles que são fervorosos e
indiferente com aqueles que se opõem a Bhagavān. Ele deseja conceder sua misericórdia a
todo mundo, mas não é possível que ame todo mundo; isso é impróprio nessa condição. Não
se pode amar uma cobra ou um tigre — eles o atacarão. Por isso o madhyama se comporta de
acordo com a qualificação dos outros.
O vai�Šava utttama-adhikar… vê a presença do seu amo nos corações de todas as j…vas e
acredita que todos têm o mesmo sentimento por Bhagavān que ele mesmo possui. Prahlāda
Mahārāja viu que sua Deidade adorável estava nos corações de todas as entidades vivas e que
até mesmo as árvores tinham o mesmo sentimento de �ānta e dāsya-rasa que ele tinha por
Bhagavān. Analogamente, as gop…s viram seus próprios sentimentos às vezes em Girirāja,
outras nos gamos de V�ndāvana e às vezes até nas nuvens. E também viam que K��Ša as
amava e também aos outros residentes de V�ndāvana da mesma maneira. Portanto, o uttama-
adhikār… não vê em lugar algum nesse mundo uma j…va que não esteja dedicada ao bhajana e
que não tenha o mesmo sentimento por K��Ša que ele tem.
mama vartmānuvartante
manu�yāh pārtha sarva�aƒ
Bhagavad-g…tā 4.11
"Todos seguem o Meu caminho em todos os aspectos, ó filho de P�thā."
Os devotos avançados realmente vêem que todo mundo está servindo Bhagavān —
não pensem que esta declaração é um exagero. As gop…s realmente vêem: "Assim como
amamos K��Ša, todas as árvores, trepadeiras, aves, montanhas e rios de V�ndāvana são
completamente conscientes e estão servindo K��Ša."
Elas estão planejando ir para Govardhana com o pretexto de irem tomar banho no
Mānas…-ga‰gā e ter um dar�ana de Harideva que fica ali perto, enquanto K��Ša está
pastoreando as vacas. Assim com certeza terão o Seu dar�ana. E dessa maneira, com os olhos
fechados e cantando harināma, é que um uttama-adhikār… medita na l…lā de K��Ša,
especialmente na sua a�˜akāla-l…lā. Ao meditar cada vez mais, o objeto de sua meditação
acaba aparecendo para ele e ele se torna absorto neste fluxo: "Estou em Govardhana e estou
fazendo meu serviço."
Então sua visão começa a se dissipar e ele começa a se lamentar:
— Hāya! Hāya!
E nesse verso, conforme o dia vai avançando e as gop…s estão sentadas em seus lares
conversando, a absorção que elas tinham na bhāva anterior começa a diminuir e uma sakh…
diz a Rādhikā:
d��˜vātape vraja-pa�un saha rāma-gopaiƒ
sañcārayantam anu veŠum ud…rayantam
prema-prav�ddha uditaƒ kusumāval…bhiƒ
sakhyur vyadhāt sva-vapu�āmbuda ātapatram
®r…mad Bhāgavatam 10.21.16 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.110
"Vendo K��Ša e Balarāma tocando Suas flautas no sol da tarde e levando as vacas e os
bezerros para pastar, as nuvens se enchem de amor divino e como um guarda-sol, escoltam
seu amigo K��Ša protegendo-O do sol, fazendo cair uma garoa que mais parece uma chuva
de flores."
Agora é o período da tarde e, acompanhado por Baladeva e pelos gopas, K��Ša está
entrando na floresta. Desejando grama fresca para comer, as vacas vão pastando até que
chegam nas rochas de Govardhana. As pedras estão muito quentes no sol da tarde e a areia e
a terra no sopé da colina também estão muito quentes. Achando que as vacas e Seus amigos
estão sentindo algum desconforto com esse calor, K��Ša toca a flauta de uma maneira tal, que
logo as nuvens se reúnem e fazem cair uma chuva amena.
Na Índia existem inúmeras rāgas que são bem conhecidas por produzirem diferentes
efeitos. Uma vez havia um guru chamado Haridāsaj…, que era mestre nos rāgas e que tinha
dois discípulos, um chamado Baijubāvara e outro Tanasena, que era cantor na corte real. A
política era que se alguém fosse a Deli cantar, era obrigado a desafiá-lo lá na corte — se fosse
derrotado, teria que enfrentar uma punição do rei. Ao ficar sabendo disso, Baijubāvara foi até
Deli e começou a cantar diferentes melodias com muita perícia, e logo uma grande multidão
se reuniu para ouvi-lo. A notícia chegou ao rei, que disse:
— Quem é esse cantor ousado? Isso é um grande insulto a Tanasena!
E assim, o rei chamou Baijubāvara e disse:
— Você tem que ter a devida qualificação, caso contrário não será permitido que cante
em Deli.
Baijubāvara respondeu:
— Está bem, vamos fazer uma competição. Onde ela acontecerá?
— Será na corte.
— E quem irá decidir quem é o vencedor? Quem poderá decidir quem cantou mais
doce e maravilhosamente?
— Ora, as minhas rainhas decidirão.
— Não, não posso confiar nelas. Quero que os animais da floresta tomem essa decisão
e só assim irei aceitá-la. As rainhas certamente serão preconceituosas. Vamos para a floresta
para ver quem consegue cantar e deixar os animais mais satisfeitos.
— Está bem. Vamos lá.
A corte inteira foi para a floresta e primeiro Tanasena cantou. E quando Baijubāvara
cantou, os diversos grupos de gamos imediatamente se reuniram ali perto. Os gamos ficaram
tão absortos com o seu canto que ele pôde se aproximar e colocar uma guirlanda de flores em
volta do pescoço de um deles. E logo que parou de cantar, todos os gamos fugiram
apressadamente. Baijubāvara disse:
— Se Tanasena canta melhor do que eu, então deve chamar esses gamos de volta com o
seu canto, e assim que eles ficarem bem absortos, que retire a guirlanda do gamo que a está
usando.
Tanasena começou a cantar, cantou com tanto esforço que estava transpirando
profusamente, mas o gamo não apareceu e ele não pôde retirar a guirlanda. Então
Baijubāvara cantou novamente e ainda mais gamos vieram e ficaram absortos no seu canto.
Ele se aproximou do gamo que usava a guirlanda e a pegou de volta, e assim que parou de
cantar, todos os gamos fugiram novamente.
Antigamente existiam cantores e músicos assim, que podiam criar efeitos como fazer
chover, ou até mesmo acender fogo com a música, sem usar fósforos ou qualquer outra coisa.
Por isso mal podemos conceber os efeitos que o toque da flauta de K��Ša pode produzir.
Depois de entrar na floresta, K��Ša tocou a flauta de tal maneira, que todos ficaram
confusos e as nuvens viram que: "Nosso amigo chegou! Precisamos saber alguma coisa a
respeito do nosso a migo."
Por que eles eram amigos? Porque os dois tinham a mesma cor, �yāma. O sol da tarde
havia feito as pedras e o chão ficarem muito quentes e quando K��Ša tocou um determinado
rāga em Sua flauta, todos os sakhās e as vacas ficaram atônitos, ouvindo bem quietos e as
nuvens começaram a se reunir. Mas elas não vieram só por causa de K��Ša, onde quer que
houvesse gopas, vacas e bezerros reunidos, as nuvens vinham com o desejo de prestar-lhes
serviço, cobrindo o sol forte como um guarda-sol. Ao prestarem este serviço seu prema
aumentava e vinham-lhes lágrimas de alegria. Essas lágrimas assumiam a forma de
refrescantes gotas de chuva, que caíam suavemente do céu como se fossem pétalas de flores.
As gop…s estavam dizendo:
— Essas nuvens são tão afortunadas! Não podemos nos igualar a elas; não podemos
prestar nenhum serviço assim para K��Ša. Ninguém é tão desafortunado quanto nós.
Os sādhakas devem ter esse sentimento:
— Todo mundo está servindo a K��Ša, mas eu não.
Se um sādhaka sente-se assim, então seguramente fará progresso em seu sādhana.
Caso contrário, se ficar vendo defeitos nos outros, todos esses defeitos virão para cima dele.
Por isso nunca devemos encontrar defeitos nos devotos, e sim estar sempre tentando
reconhecer as suas qualidades.
nadyas tadā tad upadhārya mukunda-g…tam
āvarta-lak�ita-manobhava-bhagna-vegāƒ
āli‰gana-sthagitam-™rmi-bhujair murārer
g�hŠanti pāda-yugalaˆ kamalopahā āƒ r
®r…mad Bhāgavatam 10.21.15 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.11
"Ó sakh…s, quando os rios de V�ndāvana, liderados pelo Yamunā, ouviram a vibração
da flauta de K��Ša, suas correntes pararam completamente e as águas começaram a subir,
como se estivessem tomadas de desejo, com seus braços erguidos formando as ondas que se
agitavam para tocar e oferecer flores aos Seus pés de lótus."
Esses versos descrevem os sentimentos dos devotos avançados, mas podem não
ocorrer em todos os devotos avançados; eles são os sentimentos exclusivos das gop…s. Então
por que estão sendo revelados no ®r…mad Bhāgavatam? Esses versos são para o benefício dos
sādhakas que têm um tipo de avidez semelhante ao das gop…s. Por se lembrarem semrpe
desses versos, um dia, em alguma vida, essa maravilhosa bhāva dos anseios das gop…s em se
encontrarem com K��Ša entrará em seus corações.
Enquanto as gop…s estão sentadas em seus lares, surge dentro delas uma bhāva e
quando esta diminui, imediatamente surge outra. Isso é chamado bhāva-�ābalya, onde uma
bhāva é saboreada inteiramente e depois aparece outra. O significado desse verso é que
enquanto as gop…s estão olhando o Yamunā, elas dizem:
— Ó sakh…! Ao ouvir a canção da flauta de Mukunda, o rio vai levar-Lhe os lótus como
presentes, com os seus milhares de braços, e oferecê-los como pu�pāñjali aos pés de lótus de
K��Ša. As ondas do rio pararam de surgir e foram criados rodamoinhos. O rodamoinho é um
símbolo de manobhāva, o rio de prema por K��Ša.
Quem é o esposo de Yamunā, de Mānas…-ga‰gā e de todas as ribeiras de Vraja? É o
Oceano, porque elas seguem para se encontrar com ele. Mas essas ribeiras não seguem tão
facilmente até seu esposo. A melhor delas é aquela que é a mais querida de Bhagavān:
Kālind…, aquela que nasce da montanha Kālinda. Kālind… é aquela cuja água, por receber o
toque de K��Ša ou o anjana das gop…s, assumiu a cor �yāma de K��Ša. Como seu coração foi
roubado pelo som da flauta de K��Ša, as ondas de seu bhāva eram como se fossem suas mãos
levando o presente de lótus — kamalopahā āƒ — para ser oferecido aos pés de lótus de
K��Ša. As ondas foram consideradas os longos braços de Kālind…, e não havia só dois braços,
mas milhares deles em torno dos pés de K��Ša. Por que? Para agarrar aqueles pés, para que
Ele não pudesse sair de lá. Dessa maneira, depois de oferecer o presente de todo seu
esplendor — os lótus — ela imergiu os pés de K��Ša com suas ondas, para agarrá-los,
colocando-os em seu coração.
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As gop…s estão dizendo:
— Como poderemos agarrar os pés de K��Ša desse jeito?
Temos muito medo de ficarmos desgraçadas na sociedade e por isso não podemos ir.
Somos incapazes de abandonar nossa situação atual para ir nos encontrar com K��Ša. Mas
esse rio está nos indicando: "Vocês são incapazes de fazer o que fiz? Ao ficarem atraídas pela
flauta de K��Ša não foram capazes de largar tudo, como fiz, deixando de correr para meu
esposo, o oceano, e colocar todo meu esplendor aos pés dEle? Vocês não tem essa coragem?
Estão com medo de ficar desgraçadas na sociedade?"
Não podemos fazer isso e não existe ninguém nesse mundo que seja tão desafortunado
quanto nós. Como nascemos nessa condição, somos incapazes de ir nos encontrar com K��Ša,
para falar com Ele, para servi-lO, porque estamos sempre ocupadas com os afazeres
domésticos. Mas esse rio abandonou tudo, até mesmo a sua correnteza, e foi abraçar os pés de
lótus de K��Ša.
Para nós é a mesma coisa; somos incapazes de nos dedicar a sādhana-bhajana. Do
mesmo jeito que o rio oferece o presente de lótus aos pés de K��Ša, devemos oferecer nossos
corações ao guru e aos vai�Šavas. Podemos ter a associação do guru e dos vai�Šavas mas não
temos essa avidez para poder fazer com que nossas mentes percam a tendência de se desviar
em direção ao desfrute material e se volte exclusivamente para K��Ša. Esta é a mensagem que
está sendo levada pelo rio e essa instrução está sendo dada por meio das gop…s.
A seguir vem o verso:
vana-latās tarava ātmani vi�Šuˆ
vyañjayantya iva pu�pa-phalā�hyāƒ
praŠata-bhāra-vi˜apā madhu-dhā āƒ r
prema-h��˜a-tanavo vav��uh sma
®r…mad Bhāgavatam 10.35.9 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.112
"Vejam como as trepadeiras e os galhos das árvores de V�ndāvana estão pendendo
devido ao peso! Eles também devem ter posto ®r… K��Ša dentro de seus corações, porque
lágrimas de amor na forma de correntes de mel estão gotejando deles e os frutos e flores que
neles surgiram, denotam o seu êxtase amoroso."
Os versos anteriores são do VeŠu-g…tā do ®r…mad Bhāgavatam, mas esse verso é do
Yugala-g…tā. O que significa Yugala-g…tā? As gop…s estão cantando umas para as outras o que
sentem em separação de K��Ša. No VeŠu-g…tā existe mais p™rva- āga (atração preliminar),
mas aqui, depois do encontro, elas estão falando sobre o seu estado agitado de vipralambha-
bhāva. Quem possui este anseio que as gop…s estão expressando aqui, será capaz de encontrar
K��Ša e Seus entes queridos.
r
-r
O sistema de iluminação espiritual só é arranjado por K��Ša e mais ninguém. Alguém
pode indagar:
— Existem tantas j…vas no mundo, será que todas estão em mādhurya asa? Existem
tantos devotos fazendo bhajana nas sampradayas de Nimbārka, Rāmānuja e Vi�Šusvām… e
tem gente como os yavanas que não faz nenhum tipo de bhajana. Por que eles não são
atraídos por mādhurya-rasa?
A resposta é que Bhagavān é tão misericordioso que todos os sistemas desse mundo
estão em Suas mãos. De acordo com as atividades de uma pessoa, o fruto lhe é concedido.
Claro que cada j…va tem a sua rasa intrínseca individual. São descritos cinco tipos de
sentimentos primários: �ānta, dāsya, sakhya, vātsalya e mādhurya, e cada j…va está
enquadrada numa dessas categorias. No entanto, desde tempos imemoriais a j…va vem
nascendo, morrendo, às vezes alcançando sistemas planetários superiores e depois
regressando novamente para cá, vagando em todas as direções.
Aqueles que foram mais afortunados nasceram na Satya-yuga, onde a maioria das
pessoas adoravam Bhagavān em �ānta-rasa, como fazem os quatro Kumāras e os sábios Nara
e NārāyaŠa. Depois disso veio ®r… Rāmacandra e enfatizou as glórias de dāsya-rasa e para
pregar esse ideal, Hanumān permanece no mundo desde o desaparecimento de Rāma. Depois
veio K��Ša no final da Dvāpara-yuga e deu prema até para as trepadeiras. Ele realizou
passatempos tão maravilhosos que simplesmente por ouvi-los e cantar sobre eles,
especialmente por meio do ®r…mad Bhāgavatam, uma j…va pode ficar atraída e gradualmente
atingir esta bhāva. Mas algumas j…vas foram contemporâneas de K��Ša e no entanto não
puderam compreender a Sua l…lā. ®i�upāla, Kaˆsa, Duƒ�āsana e Jarāsandha criticaram essa
bhāva:
— Ora, em Vraja apareceu esse menino sem nenhuma casta em particular e que
ninguém sabe ao certo quem são os Seus verdadeiros pais e agora Ele se tornou um rei em
Dvārāka e quer nos dominar?
No ®r…mad Bhāgavatam está declarado que K��Ša é Svayam Bhagavān, que todos os
tipos de bhāva estão incluídas nEle e, no entanto, a bhāva que Ele exibe em Vraja não é vista
em nenhum outro lugar. Muito pouca gente fora de Vraja realmente aceitou esta bhāva
naquela ocasião e só criticou K��Ša por causa dessa exibição. Por esse motivo, K��Ša inspirou
®ukadeva Gosvām…:
— Por favor, manifeste o brilhante sol do ®r…mad Bhāgavatam. Ninguém mais é capaz
disso, você é o l…lā-�uka e conhece todas as nossas l…lās.
Então, sob o pretexto da maldição de Mahārāja Par…k�it morrer picado por uma
serpente alada, o ®r…mad Bhāgavatam foi manifesto por ®ukadeva Gosvām…. Mas naquela
época pouca gente estava qualificada para aceitá-lo. Depois veio ®a‰karācārya, depois
Madhva e então Rāmānuja e outros ācāryas, que vieram dar dāsya-rasa e quem sabe um
pouco de sakhya-rasa. Finalmente veio ®r… Caitanya Mahāprabhu com Seus associados
eternos e através do ®r…mad Bhāgavatam fez valer esta vraja-bhāva especial e deu prema para
o mundo. O ideal que está sendo descrito nesses versos do ®r…mad Bhāgavatam é o encontro
com a encarnação de Bhagavān denominada Vrajendra-nandana.
As gop…s, estando extremamente agitadas para encontrar K��Ša, esquecem-se até
mesmo de seus corpos. Qual K��Ša elas estão desejando? Sakhā-K��Ša, o K��Ša que é querido
para elas. Se alguém fica assim agitado para ter K��Ša como amigo, filho ou ente querido,
procura um devoto elevado e ouve dele k��Ša-kathā, alcançará k��Ša-prema com muita
facilidade. Caso contrário, não encontrará outro jeito de obtê-lo. Foi o próprio ®r… Caitanya
Mahāprabhu que veio mostrar o caminho. E quem O acompanhava? Svar™pa Dāmodara,
Rāya Rāmānanda, R™pa e Sanātana e Raghunātha dāsa Gosvām…s. Ele concedeu toda Sua
misericórdia a Svar™pa Dāmodara e a Rāya Rāmānanda por saborear kathā com eles todas as
noites, mas investiu Sua �akti diretamente para os corações de R™pa, em Prayāga e de
Sanātana, em VārāŠas…. Foi através deles que essa bhāva se manifestou no mundo e todos
ficaram imersos num oceano de bhakti-rasa. Antes do aparecimento de Mahāprabhu essas
coisas não eram conhecidas, ninguém podia sequer imaginá-las. Onde quer que Mahāprabhu
visse uma floresta, a considerava como sendo V�ndāvana, onde quer que visse um corpo
d'água considerava ser o Yamunā e onde quer que visse uma colina qualquer acreditava ser
Govardhana. Essa é a bhāva de um uttama-adhikār….
Portanto, nesse verso as gop…s estão dizendo:
— Vejam! K��Ša continua tocando Sua flauta e parece que todas as árvores, trepadeiras
e montanhas de V�ndāvana estão revelando seus corações para Ele. As trepadeiras têm
grandes flores e as árvores, grandes frutos, e parece que ao verem K��Ša começaram a rir em
êxtase. O prema dentro delas se manifestou externamente na forma de seus frutos maduros e
flores abertas. E quando K��Ša passa por elas, essas árvores e trepadeiras pendem e os frutos
que normalmente ficam à altura de Sua cabeça são oferecidos como pu�pāñjali aos Seus pés. E
expressando seu prema para Ele, há um fluxo incessante de correntes de mel que delas
emana. Mas somos tão desafortunadas que somos incapazes de nos encontrar com K��Ša.
Essas trepadeiras e árvores têm tanto prema para K��Ša em seus corações que ele se manifesta
na forma de frutos, flores e correntes de mel, que são como lágrimas fluindo de seus olhos.
Podemos nós levar alguma flor ou fruto para K��Ša? O que as pessoas irão dizer? Como
temos medo de ficar desgraçadas na sociedade, somos incapazes de ir até lá.
Mas quem sabe, na próxima vida, teremos uma forma de árvores ou de trepadeiras e
assim poderemos ser capazes de servir a K��Ša.
Capítulo V — Felicidade na Separação
As árvores e trepadeiras de V�ndāvana parecem ser plantas comuns, mas ao verem
K��Ša elas ficam tomadas de bhāva. Oferecem praŠāma aos pés de lótus de K��Ša com
grande alegria, oferecendo seus frutos e flores, derramando lágrimas de amor na forma de
correntes de mel. Até mesmo as árvores e plantas desse mundo têm sentimentos, são
conscientes como nós. Não são capazes de expressar seus sentimentos em palavras, mas
podem expressá-los de outras maneiras. Especialmente as árvores e trepadeiras de
V�ndāvana, que são todas vi�uddha-sattva, o que significa que são superiores àqueles que
entre nós, estão situados nos modos da bondade misturada. Portanto, o que elas não serão
capazes de compreender? Elas podem compreender e experimentar de tudo. E assim,
oferecendo seus frutos e flores em êxtase amoroso, oferecem praŠāma para K��Ša.
Em seu comentário, ®r…la Sanātana Gosvām… está dizendo que essas árvores e
trepadeiras são mais conscientes do que as nuvens. As gop…s sentiam que todos os residentes
de V�ndāvana e estavam servindo K��Ša, só elas que não estavam. Viram que até as nuvens
estavam servindo K��Ša formando um guarda-sol sobre Sua cabeça e fazendo cair uma chuva
refrescante. Por isso as árvores e trepadeiras eram mais conscientes do que as nuvens e
podemos ver a condição delas ao ouvirem a vibração da flauta de K��Ša e receber o Seu
dar�ana.
No que diz respeito a ®r… Caitanya Mahāprabhu, Narottama µhākura escreveu:
pa�u pākh… jhure, pā�āŠa vidare,
�uni' jāra guŠa-gāthā
Ao presenciar a l…lā de Mahāprabhu, as aves, animais e insetos se derretiam de amor
divino. Quando Mahāprabhu estava em Alālanātha, ao ouvir Seu pranto, uma pedra derreteu
e Suas impressões ficaram marcadas depois que Ele caiu inconsciente sobre ela. Quando
Rāmacandra e Bharata se encontraram em Citraku˜a, ao sentirem o amor que os dois irmãos
tinham um pelo outro, as pedras de lá derreteram. Quando K��Ša tocava flauta em
CaraŠapahār… em Kāmyavana, as pedras derreteram e Ele deixou mais de cinqüenta pegadas
ali. Essas pegadas são seguramente de K��Ša — não foram feitas por mais ninguém. Portanto
até as pedras, nuvens, árvores e animais podem derreter de emoção. Ainda não
desenvolvemos nem a intensa avidez em nos dedicarmos em k��Ša-bhajana.
No verso que começamos a descrever no capítulo anterior, encontramos a linha vana-
latāsa tarava que significa "as trepadeiras e as árvores da floresta," mas por que as trepadeiras
estão sendo citadas antes das árvores? Parece que seria mais apropriado mencionar primeiro
as árvores porque elas são as principais, sem elas as trepadeiras não teriam onde subir. Mas
as trepadeiras são do mesmo gênero que as gop…s e seus sentimentos são semelhantes.
— Essas trepadeiras são femininas como nós, os homens não têm sentimentos como os
nossos.
Pensando assim, as gop…s primeiro mencionaram a palavra latā nesse verso e depois
tarava. Elas dizem ātmani vi�Šuˆ, que significa aquele que está dentro de tudo, se referindo
ao bhakta-vātsalya Bhagavān. Vyañjayantya significa revelado de maneira especial para esse
Nanda-ki�ora, Ya�oda-nandana, K��Šacandra ou Gop…-kānta. Essas trepadeiras têm um
tesouro escondido em seus corações, mas ao ouvirem o som da flauta de K��Ša,
imediatamente o revelam na forma de frutos e flores. Prostrando-se aos pés de K��Ša,
oferecem o tesouro de seus corações como praŠāma.
Existem duas maneiras de se oferecer praŠāma a alguém. Quem tem pouca fé irá
oferecer praŠāma pateticamente apenas com as mãos, uma única vez, e irá sair. Mas quem
tem forte fé irá se prostrar e oferecer praŠāma repetidas vezes com grande amor e humildade.
Irá olhar para seu mestre com grande afeição, desejando suas bênçãos. As árvores ofereceram
praŠāmas para K��Ša dessa maneira, com grande prema. K��Ša veio, elas ofereceram
praŠāma e depois que K��Ša foi embora, permaneceram abaixadas, porque havia muito
prema em seus corações.
E estando imersas no oceano da felicidade da separação de K��Ša, como foi que as
gop…s passaram o dia? Depois de cozinhar para K��Ša na casa de Ya�oda e de ver que K��Ša
saíra para levar as vacas para pastar na floresta, as gop…s voltaram para seus lares e aquelas
que são svapak�a (que pertencem ao grupo de Rādhikā) ficaram com Rādhikā. Quando
alguém está feliz parece que o dia passa num minuto; dessa maneira, separadas de K��Ša,
como as gop…s irão suportar passar o dia? Dizem que elas se dedicam ao sa‰k…rtana — cantam
esses versos que estamos lendo — mas elas passam o dia felizes ou infelizes? Elas estavam
lembrando a l…lā de K��Ša e a descrevendo, e revelavam seus sentimentos íntimos uma para
as outras, mas sentiam felicidade ou infelicidade? Ao ouvirem as descrições sobre a Sua l…lā,
elas ficavam absortas e sentiam que realmente O viam, mas quando diminuía a excitação
dessa visão, elas entravam no mais profundo desespero.
Para as gop…s, felicidade e infelicidade se tornaram um oceano. O ®r… Caitanya-
caritām�ta diz: vi�ām�ta ekata milana — o veneno e o néctar de tornaram a mesma coisa. Não
sou capaz de explicar isso de uma maneira compreensível, pois nem eu mesmo compreendo
inteiramente. Isto por que por hora estamos na plataforma de māyā, enredados em desfrute
material e não podemos compreender isso. Então, por que ouvimos esse assunto? Isso é como
uma cobertura de cera. Se estiverem mexendo com velas acesas, um pouco da cera escorre em
suas mãos e faz uma cobertura.
Analogamente, se um sādhaka lê, ouve e fala sobre esse assunto, então seguramente
algo irá surgir — virá um pequeno sentimento de bhāva. Assim, praticando sādhana cada vez
mais, depois de algum tempo esse sentimento ficará tão intenso que nunca mais irá se
interromper.
Aqui as gop…s estão ouvindo e descrevendo l…lā-kathā entre si e conforme vão surgindo
as lembranças começam a ver K��Ša com os olhos de bhāva. Parece que elas estão sofrendo
com a separação, mas interiormente estão sentindo grande felicidade.
evaˆ vraja-striyo rājan
k��Ša-l…lānugāyat…ƒ
remire `haƒsu tac-cittās
tan-manaskā mahodayāƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.35.26
"Ó rei, durante o dia as mulheres de Vraja sentiam prazer em cantar o tempo todo
sobre os passatempos de K��Ša e seus corações estavam completamente absortos nEle."
As mulheres de Vraja haviam oferecido seus corações a K��Ša. Observamos no Vana-
vihāra-g…tā e no VeŠu-g…tā que as gop…s estão absortas em ānanda suprema: mesmo separadas
dEle, continuam felizes por meditarem em Seus passatempos. No entanto, em outro local está
escrito que, por estarem muito infelizes, passam o dia todo cantando sobre Suas l…lās. Elas só
se abrigavam no cantar sobre os passatempos de K��Ša. De outra maneira seriam incapazes
de passar o dia. Será que as gop…s estavam felizes ou estavam infelizes enquanto cantavam
Seus passatempos? Isso é harmonizado da seguinte maneira: se vemos uma pessoa chorar de
verdade e gemer de saudades de K��Ša, assim como fez ®r… Caitanya Mahāprabhu, que tipo
de sentimento surgirá dentro de nós? Será que iremos pensar: "Nunca desejarei estar assim!"?
Ou será que iremos pensar que se apenas uma pequena fração desta bhāva entrar em nós,
nossas vidas serão completamente bem-sucedidas? A peculiaridade aqui é se realmente
desejamos chorar dessa maneira. Os versos do ®r…mad Bhāgavatam que descrevem o choro
das gop…s serão lidos mais pelos devotos rasikas. No Bhramara-g…tā, as gop…s estão em
vipralambha-bhāva e falam como um abelhão, expressando seus sentimentos. É algo muito
triste, mas os devotos gostam muito.
O VeŠu-g…tā, Gop…-g…tā, Yugala-g…tā e outros capítulos do ®r…mad Bhāgavatam versam
apenas sobre os temas de saudades de K��Ša. Os devotos apreciam todos eles, mesmo se
chorarem; eles também gostam de chorar. Portanto aqui felicidade inclui o choro e as gop…s
são descritas nesse verso como estando mahodayāƒ — experimentando um grande festival.
Cantando sobre os passatempos de K��Ša durante o dia, elas estavam supremamente felizes.
Ao se encontrarem com K��Ša durante a noite ficavam completamente gratificadas e,
meditando durante o dia, suas mentes corriam atrás dEle enquanto Ele perambulava pela
floresta. Esse é o significado de bhajana. Se um devoto está absorto meditando em k��Ša-l…lā,
então essa meditação é bhajana.
— Quando irei me encontrar com K��Ša? Já se passaram tantas vidas e eu ainda não O
encontrei.
Apesar de exteriormente este prema parecer ser infelicidade, interiormente, na
meditação, isso provoca uma felicidade imensa. Quando K��Ša deixa V�ndāvana e vai para
Mathurā ou Dvārāka, e as gop…s ficam chorando de tristeza em Nandagrāma ou Uddhava-
Kyār…, por que elas não param de meditar em K��Ša? Será que podem deixar de meditar nEle?
S™rya dāsa escreveu que as gop…s colocavam a poeira dos pés de K��Ša sobre seus sār…s e
sobre seus corpos e quando as lágrimas de saudades de K��Ša se misturavam com essa
poeira, elas ficavam muito sujas; mas será que alguma delas ia trocar de sār…? Portanto essa
meditação é, na verdade, causa de grande felicidade, e apenas externamente parece ser causa
de infelicidade.
Está escrito no Caitanya-caritām�ta que a felicidade sentida por alguém que se
encontra com K��Ša supera a felicidade sentida por todos os residentes de milhões de
universos materiais reunidos. E que a infelicidade sentida pelos moradores de V�ndāvana
excede a dor provocada pelo veneno mais violento. ®r…la Sanātana Gosvām…, ®r… J…va Gosvām…
e ®r…la Visvanātha Cakravart… µhākura escreveram em seus comentários que nesse estado de
separação, felicidade e infelicidade são a mesma coisa.
No final de sua explicação desse verso, ®r…la Sanātana Gosvām… diz que dessa maneira
K��Ša é a verdadeira corporificação de paramānanda: Ele é a svar™pa da rasa, Ele é sarva-
�aktimān, é todo-penetrante, conhece as mentes e os corações de todos e é o alicerce de todas
as rasas. Ele é tanto a própria rasa quanto o desfrutador da rasa. Realiza passatempos que O
estabelecem como a verdadeira corporificação de paramānanda. Não existe diferença entre
K��Ša e Sua l…lā, assim como não existe diferença entre K��Ša e Seu nome. Como é
misericordiosa, quando a l…lā vê que existe bhāva em nossos corações, então ela se manifesta
para nós. Se ficarmos nos esforçando intensamente ela nunca irá aparecer, mas quando ela se
torna misericordiosa conosco, num instante aparece por si mesma.
Assim como K��Ša é supremamente independente, Sua l…lā também é supremamente
independente. Ela sabe se um recipiente está qualificado ou não. Se vê que nossas preces são
cheias de humildade, então não interessa que qualificação possamos ter, irá aparecer. Ela
pode aparecer nos corações de pessoas qualificadas como os quatro Kumāras, ou em alguém
que teve um passado pecaminoso como Bilvama‰gala. A l…lā se manifestou no coração dele e
K��Ša em pessoa veio ajudá-lo a andar por Vraja e ouvia o seu doce canto. Por isso ®r…la
Sanātana Gosvām… está dizendo que assim como K��Ša é a corporificação de paramānanda, a
sua l…lā também é. Se alguém está simplesmente ouvindo as narrações de k��Ša-l…lā, então não
há necessidade de vairāgya ou qualquer outra coisa desse tipo.
jñāne prayāsam udapāsya namanta eva
j…vanti san-mukharitāˆ bhavad…ya-vārtām
sthāne sthitāƒ �ruti-gatāˆ tanu-vā‰-manobhir
ye prāya�o `jita jito `py asi tais tri-lokyām
®r…mad Bhāgavatam 10.14.3
Ninguém nesse mundo pode conquistar Bhagavān. No entanto, se alguém ouve
harikātha com fé, mesmo permanecendo em sua posição social estabelecida, a doença da
luxúria e todos os anarthas irão desaparecer de seu coração e ele controlará esse Bhagavān
inconsquitável — tamanha é a potência de l…lā-kathā. Mas uma vez que l…lā-kathā é
paramānanda-svar™pa, então por que razão as gop…s têm necessidade de se encontrar com
K��Ša? Elas não deveriam ficar satisfeitas só com l…lā-kathā? Elas não ficam satisfeitas. Por
que? ®r…la Sanātana Gosvām… dá a opinião que, apesar de K��Ša e l…lā-kathā serem a mesma
coisa, as gop…s não ficam satisfeitas só por se dedicarem a l…lā-kathā. O prema delas é tanto
que nunca poderá se conter de maneira alguma e elas nunca ficarão plenamente satisfeitas, ou
receberão ruci plenamente só por se dedicarem a l…lā-kathā sem se encontrarem com K��Ša.
Elas desejam entrar diretamente na l…lā onde K��Ša irá expressar sentimentos semelhantes aos
que Ele expressou por elas na rāsa-l…lā. Somente harikātha não satisfaz as gop…s, mas um
sādhaka deve ficar o tempo todo ouvindo harikātha, compreendendo que a infelicidade que
as gop…s sentem enquanto se dedicam ao harikātha é meramente uma manifestação de sua
felicidade indescritível. Está escrito que quando o l…lā-kathā entra no ouvido de um sādhaka e
vai para o coração, retira de lá toda a inauspiciosidade e o faz completamente puro. Então o
l…lā-kathā o leva para um lugar onde ele possa saborear uma vida de serviço a Rādhā e K��Ša
com os sakhās e sakh…s; por isso K��Ša e Seu l…lā-kathā são supremamente misericordiosos.
Em seguida vem esse verso:
ete `linas tava ya�o `khila-loka-t…rthaˆ
gāyanta ādi-puru�ānupathaˆ bhajante
prāyo am… muni-gaŠā bhavad…ya-mukhyā
g™�haˆ vane `pi na jahaty enaghātma-daivam
®r…mad Bhāgavatam 10.15.6 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.113
®r… K��Ša disse para Balarāma: "Ei šdi-puru�a! Apesar de Você estar mantendo escondidas as
Suas opulências e estar realizando passatempos como um jovenzinho aqui em V�ndāvana, os
munis, que estão entre os mais destacados dos Seus devotos, O reconheceram. Não desejando
estar separados de Você nem por um instante, assumiram as formas de abelhas e O estão
adorando cantando constantemente Suas glórias como o purificador desse mundo."
K��Ša e Baladeva Prabhu haviam levado as vacas para pastar e usando a presença de
Baladeva como pretexto, K��Ša na verdade está se auto-promovendo enquanto fala esses
versos. Aqui Ele glorifica Baladeva como sendo o ādi-puru�a, mas na realidade este é o
próprio K��Ša. Ele descreve inúmeras glórias de Baladeva, mas que na verdade são Suas
glórias pessoais. K��Ša diz:
— O zumbido das abelhas na floresta é na verdade o canto dos mantras védicos. As
abelhas são munis que, na forma de abelhas, estão glorificando-O com poemas e orações
enquanto vão atrás de Você. Você está usando uma vaijayant…-mā ā feita de vários tipos de
flores e mañjar…s de tulas…. Existe néctar nesses mañjar…s e às vezes essas abelhas pousam
nesses mañjar…s, nas flores da guirlanda e às vezes enxameiam em volta de Você, oferecendo
preces. O fato é que são munis que depois de realizar austeridades por milhares de anos
alcançaram a perfeição. Por serem munis, são capazes de discernir que na verdade Você é o
ādi-puru�a, mesmo permanecendo oculto com a forma de um jovenzinho na conjunção das
idades paugaŠ�a e ki�ora. Por isso, são incapazes de abandonar a Sua companhia e vão atrás
de Você oferecendo preces.
l
E qual é a natureza dessas preces? Existem tantos poemas e preces que podem ser
oferecidos a K��Ša, mas quais são os mais destacados? Existem incontáveis mantras nos
Vedas e suas formas personificadas dizem:
— Apesar de sermos mantras védicos, até hoje fizemos grandes austeridades com o
propósito de alcançar e ficar absortos na bhāva que Você compartilha com as gop…s. Por favor,
seja bondoso, faça com que essa bhāva surja dentro de nossos corações.
Existem tantos tipos de preces que podemos oferecer a K��Ša, mas se orarmos pela bhāva de
Vraja, Ele ficará mais satisfeito. E especialmente se orarmos pela bhāva das gop…s, que é
aquilo que mais O satisfaz.
O avô Bh…�ma orou:
— Ó Prabhu, foi por amizade que Você conduziu a quadriga de Arjuna e o Seu sangue
fluiu das feridas que Lhe causei com as minhas flechas. Nessa ocasião me lembrei de Você em
V�ndāvana, quando Seu corpo delicado poderia ter sido ferido pelos espinhos e o sangue
surgia das feridas. Ao vê-lO nessa condição, pude receber esta bhāva.
Em Vraja, a pele de K��Ša pode ter sido ferida enquanto Ele brincava com os sakhās,
mas na verdade Bh…�ma estava lembrando K��Ša com a pele arranhada pelas gop…s em seus
passatempos amorosos. Ao descrever essa bhāva, ®r…la Sanātana Gosvām… citou esse verso
aqui nesse seu comentário e deu uma explicação maravilhosa. Esse tipo de prece é a mais
elevada, se dissermos:
— Ó Prabhu, Ya�oda ralhou com Você e por isso Você está chorando. Ofereço-Lhe
meus repetidos praŠāmas a essa Sua condição.
Com isso K��Ša irá ficar satisfeito. Mas se melhor do que isso, orarmos:
— Ó Prabhu, Você é rasika. Em V�ndāvana, quando as gop…s estão fadigadas, Você
massageia os pés delas e as deixa calmas. Ofereço-Lhe meus repetidos praŠāmas. Assim não
será necessário dizer mais coisa alguma. K��Ša ficará tão satisfeito que irá se entregar
pessoalmente a quem faz uma oração como essa. Ele fica mais satisfeito com aqueles que
oram com essa bhāva elevada do que com as preces de Brahmā.
As descrições da l…lā de K��Ša são consideradas aqui como sendo akhila-loka-t…rthaˆ
— elas são as salvadoras e purificadoras do mundo inteiro. Uma pessoa pode ser purificada
por se banhar nos t…rthas, locais sagrados, mas por ouvir harikātha de um devoto elevado, irá
se purificar definitivamente e também terá condições de purificar os outros. Agindo como
guru, esse l…lā-kathā é o purificador de todo mundo, quer haja ou não qualificação ou
qualquer outra consideração. Ele concede o conhecimento das glórias de Bhagavān e é quem
faz a nossa travessia do oceano da existência material. Cantar sobre a l…lā de Bhagavān irá nos
purificar e também purificará o mundo inteiro.
Os locais sagrados ficaram muito contaminados e até mesmo começaram a desejar que
as pessoas pecadoras não se banhassem em suas águas, mas se alguém ouve harikātha de
Nārada, será que por isso Nārada irá ficar contaminado? Quem quer que lhe faça perguntas, e
quem quer que ouça suas respostas irá se purificar. Nārada está sempre cantando l…lā-kathā
de Bhagavān e às vezes até cria alguns passatempos por conta própria, como daquela vez que
foi para Dvārāka acompanhado por Uddhava e foi providenciada a construção de Nava-
v�ndāvana. Ele inspira inúmeros passatempos diferentes e depois canta sobre eles. Ninguém
conhece as glórias de l…lā-kathā melhor do que Nārada. Se alguém ouve ou canta essas
descrições, especialmente as descrições da l…lā encontradas no ®r…mad Bhāgavatam,
seguramente K��Ša, acompanhado pelos Seus associados, irá aparecer no coração dessa
pessoa.
Capítulo VI — As Gop…s Desejam se Tornar Aves e Corças
Depois de fazer a narrativa do ®r… B�had-bhāgavatām�ta, ®r…la Sanātana Gosvām… está
nos dando um pouco de rasāyana, o néctar tonificante que se destina especialmente àqueles
que se livraram da doença, mas ainda estão um pouco fracos. Por tomar esse remédio durante
algum tempo, o corpo ficará novamente forte, o que significa que será capaz de progredir no
sādhana na direção de prema-bhakti.
Primeiro tratamos a nossa doença, mas não adiantou muito, se continuamos fracos.
Depois que nossa �raddhā aumentou e se transformou em ni�˜hā, a partir daí teremos que
enfrentar inúmeros anarthas. Esse tônico nectáreo se destina especialmente a quem está nesse
estágio. Se ouvirmos de maneira regular esses versos finais do B�had-bhāgavatām�ta e
meditarmos profundamente neles, o amor por Bhagavān seguramente aumentará. Mas se
depois de ouvir esses versos, não meditarmos neles, então, na hora de cantar harināma a
mente ficará absorta em pensamentos voltados para o desfrute do mundo material. Enquanto
cantarmos a mente ficará instável, lembrando de eventos da vida que levávamos antes de
começar o caminho de bhakti. Nela ocorrerão vários tipos de sa‰kalpa e vikalpa, atração e
repulsão pelos objetos materiais e não receberemos o benefício integral desse néctar
tonificante. Mas se meditarmos nesses versos ao cantar harināma, então bhakti seguramente
aumentará. Esse é o método para aumentarmos nosso bhakti.
Enquanto sonhamos, aquilo que ocupou nossas mentes e que ficamos meditando o
tempo todo durante a vigília, será objeto de nossa visão. Às vezes coisas que estão
completamente fora das relações do dia-a-dia aparecem em nossos sonhos; vem tudo
misturado e não há nem mesmo uma realidade contínua. Se nossas mentes não estiverem
controladas, então a mesma coisa ocorrerá na hora de cantar harināma. Durante um certo
período, diariamente ouvimos um pouco de harikātha, mas considerem o que fazem nas
outras horas do dia. Se meditarmos plenamente em Bhagavān durante essas horas que
sobram, a mente ficará o tempo todo absorta nEle.
O foco de nossa mente será determinado por aquilo que pensamos durante nossas
horas de vigília. Se, nessas horas, a mente fica pensando em desfrute para os sentidos, como
as providências que deveremos tomar para comer e beber e em como solucionar os problemas
mundanos — então como seremos capazes de pensar decididamente em Bhagavān? Será que
nossas mentes permanecerão fixas enquanto cantamos ou enquanto ouvimos talvez uma hora
de harikātha? Na certa ela permanecerá absorta naquilo que pensamos durante a maior parte
do tempo de vigília e mesmo enquanto dormimos iremos nos lembrar das mesmas coisas.
Mas se permanecermos em sādhu-sa‰ga e se durante essas horas de vigília usarmos a nossa
mente em ouvir harikātha, ler o �āstra e dedicada em bhagavat-sevā, sem nos preocuparmos
com nenhum outro problema, certamente a mente ficará firme.
Portanto, o sādhaka que deseja elevar sua mente deve meditar nos passatempos
descritos nesses versos enquanto canta harināma. Devemos fazer esse esforço, eliminando os
pensamentos que visam a gratificação dos sentidos e coletar posses de boa qualidade, e
gradualmente, no devido tempo, nossas mentes irão permanecer fixas na meditação da l…lā de
Bhagavān.
Para esse propósito a l…lā de ®r… Caitanya Mahāprabhu é supremamente misericordiosa
e generosa. Quando Mahāprabhu estava no Sul da Índia, encontrou-se com Rāya Rāmānanda
e sua conversa, o Rāmānanda-samvāda, é apreciada unanimemente por todos os mais
elevados devotos desse mundo. Se lerem verão por quê. Nela, a cada verso eles vão
desvendando os segredos mais profundos e, ao fazerem a leitura, ficarão tão encantados que
não conseguirão interrompê-la.
Enquanto cantamos harināma, devemos meditar nesses três tipos de narrativas dos
�āstras. Mas se estivermos desatentos ao cantar harināma, não teremos qualquer benefício.
Primeiro devemos tentar alcançar ni�˜hā e depois virá ruci. Depois virá āsakti e devemos
tentar transformá-lo em bhāva. No l… ā-kathā que aqui estamos ouvindo de ®r…la Sanātana
Gosvām… existem instruções para todos os tipos de devotos. Aqueles que estão no nível de
�raddhā compreenderão esses versos de uma maneira em particular, aqueles que estão em
ni�˜hā irão compreendê-los de outra maneira. Quem estiver em āsakti compreenderá de outro
modo e quem está em bhāva de outro.
l
Falando entre si, as gop…s disseram que quando todas as plantas, trepadeiras e árvores
de V�ndāvana estavam sendo agitadas pela brisa, como se estivessem sentido sintomas de
êxtase e que estavam se inclinando apenas para oferecer tudo o que possuíam para K��Ša
enquanto Ele ia passando.
Um sādhaka também deve tentar oferecer tudo o que possui para K��Ša e quando
assim procede, pode-se dizer que está realmente dedicado ao sādhana. As gop…s lembraram
como as abelhas pousavam na guirlanda de K��Ša feita de flores silvestres e não O deixavam,
e com às vezes enxameavam em volta dEle oferecendo suas preces.
Em seguida as gop…s descrevem como as aves são ainda mais elevadas, e como
reagiram ante à doce melodia da flauta de K��Ša. Existem aves como os pavões, papagaios,
pombos e rolinhas que vivem no chão, mas primeiro elas descreveram as aves que residem na
água:
sarais sārasa-haˆsa-viha‰gā�
cāru-g…ta-h�da-cetasa etya
harim upāsata te yata-cittā
hanta m…lita-d��o dh ta-maunāƒ �
®r…mad Bhāgavatam 10.35.11 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.114
As gop…s disseram: "É muito surpreendente que K��Ša fique aí roubando os corações
dos gansos, grous e outras aves aquáticas e que assim que Ele se aproxima, elas pousam e O
adoram com os olhos fechados, concentrando completamente suas mentes nEle."
Nesse verso do Yugala-g…tā, as gop…s estão dizendo:
— Esqueça essas abelhas, esses pássaros aquáticos são mais inteligentes do que elas.
Quando K��Ša chegou na floresta, o que aconteceu de surpreendente? Hanta significa
surpresa, e maravilhadas as gop…s agora estão vendo esses pássaros.
— Quando os gansos e os grous do lago ouviram a maravilhosa canção que K��Ša
estava tocando em Sua flauta, ficaram completamente encantados! Com os ouvidos, puseram
K��Ša em seus corações. Normalmente, quando vêem alguém, voam imediatamente; mas em
vez disso eles vieram se aproximando para adorar K��Ša.
Upāsata significa adorar com a mente, corpo e palavras, tudo de uma vez. Enquanto
uma j…va for condicionada, não é capaz de realizar a verdadeira upāsana.
Só é capaz de se esforçar por upāsana, porque isso significa estar perto de Bhagavān,
diante de Sua presença pessoal. Quando oferecemos p™jā para a Deidade, isso é chamado
upāsana, mas na verdade o que é upāsana? Onde está a Deidade e onde estamos? Somos
almas condicionadas e Ele é todo-penetrante, a forma solidificada de sac-cid-ānanda. Portanto
não somos capazes de estar perto dEle de verdade, mas quando nossos corações se purificam
o bastante e alcançamos uma forma espiritual, podemos nos aproximar dEle e isso se chama
upāsana. Mas enquanto estivermos na condição de almas condicionadas, cheios de anarthas,
não podemos oferecer-Lhe arcana de verdade.
Esses pássaros vieram de longe e se aproximaram de K��Ša com yata-cittā — com as
mentes completamente controladas, mas na nossa condição atual, nossas mentes não estão
controladas. Na meditação, existem os estágios de yama, niyama, āsana, prāŠāyāma, dhyāna,
dhruvāsm�ti e finalmente samādhi, e quando se alcança esse estado, a meditação pode ser
chamada de upāsana verdadeira.
Quando aqueles pássaros ouviram K��Ša tocando a flauta e viram Sua forma
exuberante, ficaram yata-cittā — completamente auto-controlados. Esse é um sintoma de um
sādhu e mais dois estão descritos nesse verso: m…lita-d��o — de olhos fechados, e dh�ta-
maunāƒ — em silêncio. Normalmente essas aves vivem gorjeando, mas ficaram silenciosas.
A fala é causa de inúmeros defeitos. Se alguém fala de uma maneira ardilosa, ou não
benéfica, sua mente ficará contaminada e, portanto, inquieta. Mas se a fala é controlada, não
será capaz de ofender nenhum vai�Šava. A mente inquieta e descontrolada é a causa das
brigas e discórdias. Por isso a primeira instrução do Upade�ām�ta é vāco-vegaˆ — controlar
a fala. E aqui nesse verso, dh�ta-maunāƒ, indica que as línguas dos pássaros aquáticos, que
geralmente fazem tanto barulho, ficaram em silêncio. Se alguém deseja se dedicar ao bhajana,
deve praticar o silêncio, o que significa não falar nada além de k��Ša-nāma ou k��Ša-kathā.
Isso será o verdadeiro sādhana-bhajana. E também m…lita-d��o — aqueles pássaros fecharam
os olhos. Eles deram uma olhada em K��Ša e imediatamente fecharam os olhos. O que isso
quer dizer? Através dos olhos eles levaram K��Ša aos seus corações e não tinham o desejo de
ver mais nenhum objeto mundano. E yata-cittā: permaneceram em silêncio com os olhos
fechados, com as mentes totalmente controladas. Caso se fique olhando para todos os lados
falando sem nenhum controle, a mente ficará inquieta. Foi por esse motivo que Bilvama‰gala
furou seus olhos e manteve o silêncio, para só falar k��Ša-kathā. Mas não é preciso lesar
nossos olhos ou nossas línguas, devemos simplesmente controlá-los e automaticamente nossa
mente ficará controlada.
Aqui as gop…s estão dizendo:
— Isso é muito surpreendente! Esses pássaros que normalmente ficam o tempo todo
cantando, hoje estão em silêncio, de olhos fechados colocaram K��Ša em seus corações. Agora
suas mentes ficarão controladas automaticamente e eles já não terão desejo de permanecer
nesse mundo.
Se alguém deseja se dedicar ao bhajana, deve proceder assim. Essa instrução é para os
devotos de todos os níveis e eles serão capazes de proceder assim de acordo com o seu nível.
No entanto, no Yugala-g…tā encontramos:
— Ora sakh…s, não somos capazes de fazer isso! Nossas mentes estão o tempo todo
inquietas. Não somos capazes de ficar com os olhos fechados e ficamos conversando o tempo
todo; somos incapazes de permanecer em silêncio. Os gansos e os grous podem se aproximar
de K��Ša e receber seu dar ana direto, mas não podemos ter essa oportunidade. Seguramente
eles são mais avançados do que nós.
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Essa é a visão de uttama-adhikār… das gop…s: mesmo levando em conta que os olhos delas só
vivem abertos por estarem sempre em busca de K��Ša e mesmo que sejam incapazes de
permanecer em silêncio porque estão o tempo todo falando sobre K��Ša, consideram que todo
mundo é mais afortunado do que elas e estão recebendo instruções de todos em todas as
situações.
®r…la Sanātana Gosvām… também dá outro significado para esse verso que estamos
discutindo. Esses pássaros, ao ficarem atraídos pelo som da flauta de K��Ša, aproximaram-se
dEle, mas não puderam ficar em silêncio. Eles cantaram suavemente: K��Ša, K��Ša, K��Ša. E
apesar de ficarem com os olhos fechados, suas mentes não puderam ficar sob controle,
porque ondas de êxtase estavam fluindo dentro deles. Quando K��Ša atraiu as gop…s à noite,
tocando a flauta, elas ficaram diante dEle em silêncio. Algumas delas poderiam estar de olhos
fechados, mas isso significa que suas mentes estavam calmas? Pelo contrário, elas sentiam em
seus corações incontáveis variedades de bhāva! Se alguém se aproxima de K��Ša, será capaz
de manter-se em silêncio? Não, ficará o tempo todo cantando k��Ša-kathā ou k��Ša-nāma. E
será capaz de ficar com os olhos fechados? Não, ficará com os olhos agitados, procurando
encontrar o local de onde vem o hipnotizante som da flauta de K��Ša. E suas mentes ficarão
estáveis? Não, suas mentes certamente ficarão extremamente agitadas no estado de êxtase
divino!
prāyo batāmba vihagā munayo vane `smin
k��Šek�itaˆ tad-uditaˆ kala-veŠu-g…tam
āruhya ye druma-bhujān rucira-pravā ān l
�rŠvanti m…lita-d��o vigatānya-vācaƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.21.14 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.115
"Ó amiga, as aves de V�ndāvana na verdade são sábios. Elas pousam nos galhos das
árvores que têm folhas novas e de onde podem ter o dar�ana de ®r… K��Ša com facilidade. Ali
pousadas e ouvindo a doce vibração de Sua flauta, elas fecham os olhos e se imergem em
bem-aventurança divina."
K��Ša e Baladeva estavam decorados como se fossem atores entrando num palco para
fazer uma exibição. Estavam adornados com flores da floresta e saltitavam como gamos
jovens. Esse verso diz vigatānya-vacāƒ — os pássaros ficaram silenciosos — o que
corresponde ao que foi mencionado no verso anterior. K��Ša tocou Sua flauta
maravilhosamente e os pavões se reuniram. Eles estavam pousados na árvore kadamba no
topo da montanha e desceram até a vereda onde K��Ša estava. Várias espécies de aves se
aproximaram para ver K��Ša tocar Sua flauta e os pavões dançarem.
Nesse momento, vendo através dos olhos de bhāva, as gop…s falaram esse verso. Muito
surpresas, elas disseram — prāyo batāmba. Amba geralmente significa mãe, mas isso quer
dizer que elas estavam falando com Mãe Ya�oda? Será que elas teriam esses sentimentos
diante de Mãe Ya�oda? Não, essa bhāva deveria ser dissimulada. Os sentimentos de vātsalya
e de madhurya são completamente opostos um do outro e não podem permanecer um diante
do outro. Dessa maneira, aqui amba significa uma outra sakh….
— Ó sakh…, as aves da floresta na verdade são munis, porque ao ouvirem a doce
melodia que K��Ša está tocando na flauta fecharam os olhos e simplesmente permanecem em
silêncio. Eles desceram das árvores da vereda e estão pousando nos galhos de tal maneira que
não há obstáculo para que vejam K��Ša e K��Ša também pode vê-las afetuosamente.
Druma-bhujan significa galhos das árvores e também pode se referir à árvore dos
Vedas. A árvore dos Vedas tem milhares de grandes galhos e pousados nos galhos, de acordo
com sua classificação, estão os ka m…s, jñān…s, yog…s e tapas…s. O abutre senta-se onde não
existem folhas e a rolinha senta-se onde estão caindo os brotos de manga. E cantam enquanto
comem esses brotos e folhas: ku-hu, ku-hu. Os pavões costumam pousar no alto das árvores
kadamba, são maravilhosos na aparência e muito bons dançarinos. No ramos dos Vedas
também estão pousados vários tipos de munis. Num galho está pousado Patañjali ¬�i, noutro
Jaimini ¬�i e noutro Gautama ¬�i. Mas as aves de V�ndāvana são diferentes deles, e em que
ramo da árvore védica alegórica estão pousados? No ramo onde a fruta não tem caroço, onde
se encontra a fruta madura dos PurāŠas e todas as escrituras. O fruto maduro é o ®r…mad
Bhāgavatam e pousados nesse galho podem saborear o ®r…mad Bhāgavatam, ter um dar�ana
de K��Ša e K��Ša os olha afetuosamente.
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Por isso, as gop…s estão dizendo:
— Certos munis se tornaram aves em V�ndāvana e ao ouvirem o som maravilhoso da
flauta de K��Ša ficaram em silêncio e estão pousados tranqüilos, com as mentes controladas.
Vejam como são afortunados e como somos desafortunadas. Sendo aves, podem ouvir a
melodia da flauta de K��Ša e se aproximar dEle, sentindo ānanda, mas não podemos ouvir a
Sua flauta ou nos aproximarmos dEle. Se pudéssemos nos transformar em rolinhas, em
papagaios ou em outro pássaro qualquer e ir ouvir a flauta de K��Ša em Govardhana para ver
os pavões dançar, então nossas vidas seriam o maior sucesso.
dhanyāƒ sma m™�ha-gatayo `pi hariŠya etā
yā nanda-nandanam upātta-vicitra-ve�am
ākarŠya veŠu-raŠitaˆ saha-k��Ša-sā āƒ
p™jāˆ dadhur viracitāˆ praŠayāvalokaiƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.21.11 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.116
"Essas corças ignorantes também são afortunadas, porque acompanhadas pelos seus
esposos, estão imóveis, ouvindo a vibração da flauta de K��Ša. É como se estivessem
oferecendo p™jā para o elegantemente vestido filho de Nanda com olhares amorosos."
A meditação das gop…s se desviou e novamente a visão interna delas se voltou para
outro grupo de entidades vivas. Elas consideraram que as abelhas era mais afortunadas do
que elas e os gansos e grous superiores às abelhas, as aves que vivem no chão como mais
afortunados do que ao pássaros aquáticos e os gamos mais afortunados do que as aves.
— Mais afortunados de todos são esses gamos, porque não apenas logo se
aproximaram de K��Ša e receberam Seus olhares amorosos, como também reciprocaram esses
olhares com a maior afeição.
M™�ha-gatayo — as pessoas consideram os gamos animais tolos porque eles caem nas
armadilhas com muita facilidade. Podem ser capturados facilmente com um simples engodo.
Ouvimos dizer que às vezes os caçadores fazem alguém tocar uma flauta docemente e os
gamos são atraídos até a armadilha. Mas as gop…s dizem:
— Não consideramos os gamos tolos! Ao ouvirem o som da flauta de K��Ša e ao
verem-nO vestido tão maravilhosamente, se aproximam dEle.
Upātta-vicitra-ve�am — significa que K��Ša está decorado com flores silvestres e folhas
fragrantes como as da mangueira. Está adornado com um pó vermelho em várias partes do
corpo e desenhou aranhas nas faces e sobre o corpo de Govardhana parece mais maravilhoso
do que milhões de ornamentos.
Saha-k��Ša-sārāƒ — significa as fêmeas do gamo, que estão em busca de K��Ša e seus
esposos as seguem para protegê-las.
P™jāˆ dadhur viracitāˆ praŠayāvalokaiƒ — significa que elas contemplam a
maravilhosa face de K��Ša com grande amor, como se oferecessem-Lhe p™jā com seus olhares
de soslaio. Ao perceber isso, K��Ša também as olha afetuosamente. E ao verem como é grande
o amor mútuo entre eles, as gop…s disseram:
— Elas receberam uma oportunidade esplêndida, mas quando será que teremos uma
oportunidade assim? Quando poderemos nos aproximar de K��Ša e oferecer-Lhe arcana com
nossos olhos? Não somos tão afortunadas. Depois de abandonarmos esses corpos poderemos
nos tornar corças e teremos a oportunidade de adorá-lO assim e nossas vidas serão bem-
sucedidas.
Capítulo VII — Os Animais de Vraja Ficam Aturdidos
gāva� ca k��Ša-mukha-nirgata-veŠu-gitā-
p…y™�am uttabhita-karŠa-pu˜aiƒ pibantyaƒ
�āvāƒ snuta-stana-payaƒ-kavalāƒ sma tasthur
govindam ātmani d��ā�ru-kalāƒ sp��antyaƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.21.13 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.117
"Para poder beber a vibração nectárea da canção da flauta que emana da boca de lótus
de ®r… K��Ša, as vacas levantaram as orelhas. A grama que elas estavam mastigando ficou
parada em suas bocas e o leite começou a gotejar de seus úberes. Os bezerros logo pararam de
mamar, como se abraçassem K��Ša em seus corações, lágrimas de amor começaram a cair
sobre suas faces."
As gop…s estão conversando sobre K��Ša em seus lares, à luz do dia. Mas nós agimos
de maneira diferente; ao acordarmos logo começamos a pensar em como resolver todos os
nossos problemas mundanos. Exceto muito poucas pessoas, ninguém tem fé ou tempo livre
para fazer harināma e mesmo que alguém tenha fé e tempo, não canta harināma da maneira
que deveria cantar. Os sādhakas devem aprender com a vida das gop…s, que ao acordarem
pela manhã, começam a meditar em K��Ša, o que significa que elas começam a arder de
saudades de K��Ša. Elas vão tomar banho e se decorar — para quem? Somente para K��Ša. O
tema da conversa delas é:
— Como poderemos nos encontrar com K��Ša? Como poderemos servi-lO?
Elas vão para Nandagrāma para receber o dar�ana de K��Ša e cozinhar para Ele.
Quando K��Ša vai para a floresta durante o dia, elas voltam para suas casas e conversam
sobre Ele o resto do dia. Em cada grupo uma gop… estará falando e muitas outras gop…s
estarão ouvindo, e existem milhares desses grupos. De acordo com as suas naturezas
individuais, elas estarão sentadas em grupos e estarão cantando sobre a l…lā de K��Ša.
Pegamos a nossa mālā e sentamos para cantar, mas nossas mentes ficam vagando por aí.
Chega outro devoto, senta-se perto de nós e começamos a conversar sobre alguma coisa
qualquer. Paramos de cantar harināma. Mas as gop…s não fazem isso. Uma gop… diz para a
outra:
— Ouçam! Vem surgindo o som da boca de lótus de K��Ša! Ouçam a flauta! O som
atravessou a brahmāŠda inteira, atravessou Sidddhaloka, VaikuŠ˜ha, Ayodhyā, Mathurā e
Dvārāka e agora entrou em V�ndāvana. Ao pastarem, as vacas ouviram essa vibração
hipnótica e logo levantaram as orelhas. A melodia da flauta de K��Ša é como néctar celestial e
é como se elas estivessem bebendo esse néctar com seus ouvidos. E a grama que elas
acabaram de pôr na boca ainda está lá! Elas não estão engolindo e ela também não está
voltando de suas bocas. Elas só ficam paradas, imóveis, e ouvindo.
Os bezerros que estão mamando, ao ouvirem o som da flauta de K��Ša ficam com o
leite parado na boca! Normalmente eles o engolem imediatamente, mas nesse instante o leite
permanecia em suas bocas e começava a escorrer pelos cantos. Para não dizer só das vacas e
dos bezerros, todos os habitantes de Vraja ficaram absortos na melodia da flauta de K��Ša.
Mas não somos tão afortunadas. Essas vacas e bezerros também estão derramando lágrimas
de prema por K��Ša, mas para nossa grande infelicidade, temos um coração tão duro que não
deixamos logo os nossos lares para ir onde K��Ša está tocando Sua flauta e não ficamos
aturdidas. Isso acontece porque temos medo de ficar desgraçadas na sociedade, mantemos a
paciência e não vamos até lá, levando em conta que existem tantos obstáculos pela frente.
Mas se algum dia o som da flauta realmente entrar em nossos corações, logo essa paciência
irá embora e correremos imediatamente atrás de K��Ša. Se pudéssemos abandonar esses
corpos imediatamente e nascer como bezerros, isso seria ótimo! Assim, sempre que
ouvíssemos o som da flauta de K��Ša sairíamos correndo até lá! Estaríamos sob Sua proteção
e enquanto o contemplássemos, nos esqueceríamos de tudo!
É assim que as gop…s estão falando. Vejam só a natureza da condição delas, dos seus
sentimentos. Para receber o dar�ana de K��Ša e para ouvir a melodia de Sua flauta, um
sādhaka dever ter essa vipralambha-bhāva em seu coração e assim irá se dedicar ao
verdadeiro bhajana. Se o sādhaka não se estabelece no conhecimento de tattva e se liberta das
tendências de karma, jñāna, preguiça, loucura, críticas a outros devotos, aparādhas e
anarthas, então Bhagavān não estará distante do sādhaka. Bhagavān está sempre perto de
nós, nunca está distante. O ātmā e o Paramātmā estão sempre juntos; eles não são separados.
K��Ša está junto de nossa alma, bem dentro de nós, mas no momento não podemos vê-lO
porque não temos fé suficiente.
Se uma pessoa grita em desespero, será que algum parente ou amigo não virá acudi-la?
Mesmo se houver um filho que tenha causado tantos problemas à sua mãe, mesmo que tenha
chegado ao ponto de tentar matá-la, quando ele chora, sofrendo, será que sua mãe não virá
socorrê-lo? Será que existem pais que possam ignorar as súplicas de seus filhos? Talvez não
possam socorrê-los se não conseguirem ouvi-los — mas K��Ša está sempre por perto e se
chamarmos por Ele, será que Ele não ouvirá? Ele é muito mais misericordioso do que os pais
mundanos. Não existe nenhum lugar onde K��Ša não esteja; Ele está sempre bem perto de
nós, dentro de nossos corações. Se O chamarmos com sinceridade, é possível que não nos
ouça? Será que K��Ša não irá nos ouvir se estivermos gritando, chamando por Ele? No
momento não temos fé suficiente, mas quando oramos do âmago de nossos corações com
grande fé e com lágrimas caindo dos olhos:
— Gop…nātha! Mama nivedana �uno!
Será que Ele não irá nos ouvir? Seguramente irá; caso contrário o nome dEle deveria ser
mudado. Quando tivermos essa bhāva, então aquilo a que nos dedicarmos poderá realmente
ser chamado de bhajana.
v�nda�o vraja-v��ā m�ga-gāvo
veŠu-vādya-h ta-cetasa ārāt �
it r
danta-da�˜a-kavalā dh�ta-karŠā
nidritā kikh a-cit am ivāsan
®r…mad Bhāgavatam 10.35.5 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.118
"Ao ouvirem a vibração da flauta de ®r… K��Ša, os touros, vacas e gamos de V�ndāvana
se aproximaram dEle. Incapazes de engolir a grama que tinham na boca, ficaram silenciosos
com as orelhas erguidas e pareciam animais de uma gravura."
O verso anterior é do VeŠu-g…tā e esse verso é do Yugala-g…tā.
— Ei sakh…! Ao ouvirem o som da flauta de K��Ša e ao verem Sua forma atraente, as
vacas, touros e gamos de Vraja ficaram aturdidos e se esqueceram de tudo mais. Pararam de
pastar abruptamente e a grama que mastigavam meramente permaneceu em suas bocas. Eles
abaixaram as caudas e ergueram as orelhas, tentando discernir de qual direção vinha o som.
Quando perceberam a direção de onde vinha o som, seguiram atrás dele, lentamente, até que
se aproximaram de K��Ša. Foi como se a vibração da flauta tivesse entrado em seus ouvidos,
roubado seus corações e depois excitado seus corpos novamente. Portanto, o que eles
poderiam fazer? Tiveram que seguir aquele som até que chegaram perto de K��Ša e uma vez
que seus corações já não estavam consigo, pareciam animais de uma gravura, imóveis. A
flauta de K��Ša havia roubado seus corações e sentindo-se sem nenhuma posse,
aproximaram-se dEle como se para pedir esmola.
Dh ta-karŠā — as orelhas daqueles animais, que normalmente ficam abaixadas, se
ergueram ao ouvir o som da música da flauta de K��Ša. De início estavam ouvindo, mas
então, como num ato reflexo, desviaram suas orelhas daquele som para que ele não pudesse
mais entrar em suas orelhas. Por que? Estavam pensando: "Não vamos permitir que esse som
entre em nossos corações, porque irá roubá-los e pode até mesmo roubar nossas vidas!
Poderemos morrer e por isso não iremos permitir que essa vibração entre!"
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O aparecimento de K��Ša e a vibração de Sua flauta são simultaneamente como o néctar
e veneno — visām ta ekatra-milana. Não podemos definir se k��Ša-prema é néctar ou
veneno, assim como o gelo quando colocado na mão parece queimar. Não podemos definir se
a mão está queimando ou congelando. Analogamente, ao entrar em contato com k��Ša-
prema, não podemos definir se estamos sentindo ānanda ou tristeza. A sacarina tem um gosto
amargo, mas quando misturada com a água se torna doce. E se chuparmos uma fruta como a
groselha, de início ela parecerá ser azeda, mas quando fizermos suco ela se tornará doce.
Dessa maneira, externamente k��Ša-prema parece ser cheio de tristeza, e às vezes
internamente parece cheio de algo semelhante à tristeza, mas na realidade é a maior
felicidade.
E então as vacas fecharam os ouvidos e ao abrirem um só um instante a vibração da
flauta entrou e elas ficaram preocupadas com suas vidas. Não sabiam se deveriam aceitá-la
ou rejeitá-la. Da mesma maneira, algumas pessoas dizem:
— Meu amigo, não há necessidade de todo esse bhakti. Quem pratica bhakti na
verdade nunca tem felicidade. Até no estágio de sādhana, vive chorando.
As pessoas pensam que ao se dedicarem ao bhajana farão todos os familiares chorar,
pois já não serão capazes de viver com eles. E vejam o que está nas escrituras:
nayanaˆ galad-a�ru-dhārayā
vadanaˆ gadgada-ruddhayā girā
pulakair nicitaˆ vapuƒ kadā
tava nāma-grahaŠe bhavi yati �
®ik�ā�˜aka 6
"Ó Prabhu! Quando meus olhos ficarão cheios com uma corrente de lágrimas? Quando
minha voz ficará sufocada? E quando meu corpo ficará arrepiado de êxtase assim que cantar
Seu santo nome?"
E assim concluem que os devotos ficam orando para que chegue o dia em que não
parem de chorar e desejam estar sempre se lamuriando por k��Ša-prema. E acham que na
verdade não é muito surpreendente que desejem chorar no estágio de sādhana, porque se a
criança não chorar, sua mãe não virá amamentá-la. Está bem, então eles devem chorar na fase
de sādhana — mas, vejam só, eles choram ainda mais no estágio da perfeição! Uddhava e
Akr™ra eram almas perfeitas e ouvimos dizer que quando viram as pegadas de K��Ša no
chão, começaram a chorar, caíram e começaram a escrever no chão! E até que as gop…s se
encontrassem com K��Ša em Kuruk�etra, viviam o tempo todo chorando. E quando foram
novamente embora, choraram mais ainda! E chegam à conclusão que todo esse bhakti é só
uma comoção desnecessária.
Mas para as pessoas que dizem isso, respondemos — yayātma supras…dati (S.B. 1.2.6)
— bhakti satisfaz completamente a alma com ānanda. Sem a dedicação ao bhajana ninguém
pode ser feliz. Bater água nunca irá produzir manteiga. Mesmo que todas as pessoas do
universo digam que bater água produz manteiga, será que isso acontecerá? Não, jamais. E
sem se dedicar a hari-bhajana, ninguém alcança a felicidade ou atravessa esse oceano da
existência material. Esse ponto não pode ser refutado, assim como o fato de que o sol irá
decididamente se pôr no Ocidente. Isso é confirmado nos Vedas, no RāmāyaŠa e em todos os
PurāŠas e não pode ser refutado.
O encontro com K��Ša e a separação dEle são simultaneamente como néctar e veneno e
suas características não podem ser distinguidas uma da outra. Eles se tornam a mesma coisa.
Portanto, esses animais de Vraja ficaram aturdidos e preocupados com suas vidas, enquanto
que, ao mesmo tempo, as gop…s estavam dizendo:
— Em Vraja somos as mais desafortunadas. Todo mundo está ficando cheio de bem-
aventurança por receber o dar�ana de K��Ša, mas temos que ficar aqui em nossas casas.
Capítulo VIII — As Gop…s Glorificam a Moça Pulinda
Durante o dia as gop…s estavam sentadas juntas, em seus lares, revelando seus
sentimentos íntimos uma para as outras. Uma delas disse:
— Depois de abandonar esse corpo desejo nascer como uma corça para receber o
dar�ana de K��Ša facilmente.
Outra diz:
— Desejo nascer como uma vaca ou um bezerro. Quem pode impedi-los de se
aproximar de K��Ša? Quando ouvir a vibração da flauta de K��Ša, me aproximarei dEle e
ficarei aturdida, assim como fazem as vacas e os bezerros. Irei ter os dar�ana dEle sem que
ninguém me impeça.
E assim, algumas gop…s desejam se tornar nuvens, outras abelhas, aves e rios. Agora
nesse verso do final do VeŠu-g…tā, elas começam a falar de quem possui a forma humana:
p™rŠāƒ pulindya urugāya-padābja-rāga-
�r…-ku‰kumena dayitā-stana-maŠ�itena
tad-dar�ana-smara-rujas t�Ša-r™�itena
limpantya ānana-kuce�u jahus tad-ādhim
®r…mad Bhāgavatam 10.21.17 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.119
"Ó sakh…, consideramos que as moças pulinda, que coletam palha e madeira, são
grandemente afortunadas pois, por passar em seus corpos e faces a ku‰kuma que está na
palha, os desejos que surgem em seus corações por verem essa mesma ku‰kuma se acalmam.
Na verdade, esta ku‰kuma é dos seios de ®r…mat… Rādhikā, que na hora de desfrutar de Seus
passatempos com ®r… K��Ša, se espalhou sobre os pés de lótus dEle. E assim, enquanto
perambulam pela floresta, cai de Seus pés para a grama."
Outrora havia em V�ndāvana uma tribo chamada pulinda, que construía pequenas
choupanas onde vivia por algum tempo e depois se mudava. As mulheres coletavam madeira
e ervas secas para vender e manter a subsistência, ou costumavam levar água para as pessoas.
Também eram artistas, e assim, costumavam ir até a casa das pessoas para vender suas
mercadorias. As gop…s estão dizendo:
— Vejam! Todas as entidades vivas que até agora descrevemos são certamente bastante
afortunadas, mas essa moça da tribo pulinda é p™rŠāƒ — completamente afortunada. Por
que? De manhã, ao chegar nos vales de Govardhana para coletar a madeira, nota que a
ku‰kuma está misturada com o sereno sobre a grama. Ao ver isso, o seu coração começa a
arder.
Um anseio intenso em se encontrar com K��Ša surgiu em seu coração, porque veio à
lembrança um incidente passado. No dia anterior, num kuñja em Govardhana, K��Ša e Seus
amigos estavam jogando dados com as gop…s. Lá havia dois grupos: o grupo de K��Ša e o de
®r…mat… Rādhikā que eram os principais jogadores. Subala, Madhuma‰gala e outros sakhās
estavam do lado de K��Ša, enquanto que Lalitā, Vi�ākhā e outras sakh…s estavam do lado de
Rādhikā. K��Ša colocou algo como aposta e perdeu. Então Rādhikā disse:
— Agora Você vai apostar o que? Por que não aposta a Sua flauta?
K��Ša respondeu:
— Vou apostar a Minha flauta, mas o que Você vai apostar? Você tem que apostar algo
que valha tanto quanto a Minha flauta. O valor de Minha flauta é tanto quanto o de Minha
vida, mas posso apostá-la se Você apostar algo que tenha o mesmo valor.
— Então diga o que devo apostar.
— Está bem, aposta uma das amigas de Suas sakh…s.
Muito contente, Rādhikā concordou e sussurrou com uma de Suas sakh…s:
— Numa vila aqui perto tem uma moça da tribo pulinda. Vá chamá-la.
Elas trouxeram a moça e esta ficou muito envergonhada ao entrar naquela assembléia.
Ela se envergonhou porque era de uma classe muito baixa, e com muita relutância foi sentar-
se no fundo. Ao vê-la, K��Ša disse:
— Não vou apostar Minha flauta contra ela! O que isso significa?
Então todas as gop…s começaram a rir e a aplaudir. Naquele instante, a moça pulinda
viu a beleza de K��Ša. Antes descrevemos como todas as aves e animais ficaram aturdidos ao
verem K��Ša, mas essa moça se considerava uma criada de Rādhikā e ao ver K��Ša, ficou
ainda mais atônita.
Dessa maneira, na manhã seguinte, enquanto essa moça aborígene estava coletando
madeira e outras plantas, viu a ku‰kuma sobre a grama e automaticamente soube de onde
havia vindo — dos seios de Rādhā. Será que as aves, gamos ou aborígenes de V�ndāvana são
seres comuns? Por exemplo, como eles sabem que K��Ša está vindo em sua direção quando
está levando as vacas para pastar? Todos reconhecem a Sua fragrância intoxicante. É
esperado que as gop…s reconheçam naturalmente essa fragrância que, no entanto, é familiar
até para os animais e aves. Quando a pulinda viu essa ku‰kuma, surgiu em seu coração um
desejo intenso em se encontrar com K��Ša e ela era incapaz de contê-lo.
Quando K��Ša está saindo de Nanda-bhavana para levar as vacas para a floresta
durante o dia, todos os homens, mulheres e crianças de Vraja se reúnem na estrada para dar
uma olhada nEle. Ficam todos ao longo do caminho e K��Ša vai tocando Sua flauta. Nessa
hora também aparecem algumas jovenzinhas que vêm vê-lO e que estão em �ānta-rati.
Existem muitos tipos de �ānta-rati, como samanya (geral) e svaccha. A moça aborígene era
svaccha, o que significa que esse rati havia surgido dentro dela, mas não como sthāy…-rati, o
seu sentimento interior permanente. Depois que a semente é plantada, começa a surgir uma
trepadeira dela. Na hora em que surgem as primeiras folhas não podemos determinar ainda
qual é o tipo de planta. Mas quando as folhas estão bem formadas, podemos afirmar qual é o
tipo de planta. Com rati é a mesma coisa e o rati dessa moça pulinda é descrito como svaccha.
Sempre que ela notava K��Ša reciprocando com Seus devotos numa doçura particular, deseja
compartilhar com Ele aquela mesma doçura.
Por exemplo, quando ela viu Mãe Ya�oda alimentando K��Ša, recitando mantras para
nada Lhe acontecer de mau e enxugando Sua face com a aba do sār…, ficou fascinada. Ficou
contemplando sem conseguir piscar os olhos, só admirando, pensando: "Quero ser a mãe
dEle, igual a ela."
Isso é svaccha-rati. Quando, um pouco mais tarde, ela viu K��Ša tocando Sua flauta,
correndo, brincando e comendo com Seus amigos com grande prazer, ficou novamente
fascinada, imaginando: "Gostaria de tornar-me um sakhā para poder correr e brincar com Ele
assim."
E depois, quando viu K��Ša posando na Sua postura curvada em três pontos, tocando
flauta e olhando para as gop…s, com a coroa pendendo para um lado e com Sua veste amarela
escorregando, ela pensou: "Quero ser como uma amiga de Rādhā e servi-lO de maneira
semelhante."
Isso é o que se chama svaccha-rati. E assim, essa moça pulinda, em comparação com as
trepadeiras, abelhas, nuvens e corças, é muito superior. Por ter visto realizar Seus
passatempos e especialmente por servi-lO como na véspera, ela desenvolveu gradualmente o
desejo de entrar para o grupo das serviçais de Rādhā, ser capaz de servi-lO como elas servem.
Por isso, quando viu a ku‰kuma sobre a grama, surgiu nela smara-rujas — um desejo intenso
em se encontrar com K��Ša. Se a avidez em se encontrar com K��Ša surge até mesmo nas aves
e animais, então é muito mais natural que tenha surgido nela. Se essa avidez surge no
sādhana, pode se dizer que realmente ele está dedicado ao sādhana-bhajana. Mas no
momento não temos essa avidez de encontrá-lO; em vez disso estamos muito determinados
em obter desfrute material. Como ainda não temos a verdadeira avidez por bhakti, devemos
nos esforçar para obtê-la, pois ela é o alicerce, a própria vida do bhajana.
A moça pulinda olhou para a ku‰kuma e começou a analisá-la: "De onde veio essa
ku‰kuma? Será que veio dos pés de K��Ša ou dos pés das gop…s? A ku‰kuma não é aplicada
em K��Ša; somente as gop…s é que aplicam ku‰kuma em seus corpos, então como ela veio
parar aqui? Isso não é difícil de entender. Creio que ela deve ter vindo dos pés de K��Ša, mas
como foi parar nos pés dEle? Oh, já sei! As gop…s têm medo que os pés de K��Ša fique
machucado com espinhos e pedregulhos enquanto Ele perambula, e assim elas colocam os
pés dEle sobre seus seios. Por isso essa ku‰kuma deve ter vindo dos pés de K��Ša enquanto
Ele voltava dos Seus encontros amorosos com as gop…s.
Compreendendo a situação, ela ficou intoxicada, colocou um pouco daquela ku‰kuma sobre
a cabeça e por espalhá-la por todo corpo, seu kāma foi acalmado.
O ®r…mad Bhāgavatam diz que esse kāma, ou luxúria, existe no coração da alma
condicionada como uma doença. Esse fogo da luxúria arde dentro da alma condicionada
assim que ela se desvia de Bhagavān e dirige sua visão para māyā. A alma condicionada fica
atraída pelo sexo oposto, pelo dinheiro e em ser louvada pelos outros.
Alguns abandonam a vida material e deixam o lar para ir viver numa ma˜ha para se
dedicar ao bhajana e até mesmo adquirem um pouco de ruci em cantar harināma e ouvir
harikātha, então caem e deixam a ma˜ha. Por que? Porque ficaram atraídos por māyā, não é
mesmo? Seguramente ficaram muito atraídos; se tivessem essa atração por Bhagavān, em
primeiro lugar não teriam entrado no mundo material. A atração por māyā é muito, mas
muito forte e relacionada com isso há a história de Kālā K��Šadāsa, um menino de dezesseis
anos de idade. Nityānanda Prabhu, Rāya Rāmānanda e Svar™pa Dāmodara disseram para ®r…
Caitanya Mahāprabhu:
— Prabhu, por favor, não vá para o Sul da Índia sozinho. Um de nós deverá
acompanhá-lO.
Mahāprabhu respondeu:
— Se levar algum de vocês, então os outros irão dizer: `Por que Você está levando-o e
não me leva?' Eu poderia discriminar alguém, por isso irei sozinho.
— Está bem, então vamos mandar alguém com quem Você não está muito ligado, esse
simples e honesto filho de um brāhmaŠa. Leve-o junto, pois não podemos compreender como
a Sua mente funciona. Às vezes Você se esquece de tudo, até mesmo de Suas necessidades
corporais. Você precisa de kaup…ns e de um pote d'água, e quem irá carregá-los? Às vezes
Você os joga num canto qualquer e vai embora, outras vezes, quando está chorando: `Onde
está o Senhor da Minha vida?' Você rola no chão, e mesmo que Suas roupas caiam, Você nem
nota! Você vai viver chorando em Sua jornada e precisará de alguém que colete água e
esmolas para mantê-lO, assim, por favor, leve esse Kālā K��Šadāsa.
Mahāprabhu concordou e Kālā K��Šadāsa O acompanhou até que chegaram em
Kanyākumār…, onde estava um grupo de ciganos chamado bha˜˜athāris, que viajavam como
nômades com seus asnos, touros e pertences. O negócio deles era seduzir os jovens para que
se juntassem a eles e mostravam para um rapaz uma moça e para uma moça um rapaz. Uma
vez que estivessem seduzidos, imediatamente se deslocavam e as pessoas da vila ficavam
sem saber para onde o filho havia ido. Era assim que armavam armadilhas para capturar
jovens inocentes e lá perto de onde Mahāprabhu estava, havia um grupo muito grande desses
ciganos.
Um dia Mahāprabhu saiu para esmolar, deixando Kālā K��Šadāsa sentado sob uma
árvore. Um desses ciganos se aproximou do jovem e depois de conversar um pouco, disse:
— Parece que você foi meu filho há muito tempo! Olha, vamos casar você com essa
moça e sua vida vai ser uma grande felicidade! Você vai acabar virando um rei da nossa tribo.
O pobre rapaz foi seduzido e decidiu acompanhá-los.
Quando Mahāprabhu voltou, não o viu e pensou: "Onde foi parar aquele rapaz? Oh, os
ciganos o devem tê-lo levado!"
Mahāprabhu entrou no acampamento deles, localizou Kālā K��Šadāsa, o agarrou pela
�ikhā, dizendo:
— Seu patife! Você Me deixou e veio para cá?
E teve que arrastar de volta Kālā K��Šadāsa, que não queria mais sair de lá! Então
vejam como até mesmo alguém que está associado com o próprio Bhagavān pode ser atraído
por māyā. E o que dizer de nós? Māyā é extremamente perigosa e escapar de suas inúmeras
armadilhas é muito difícil. Mesmo que alguém abandone tudo, até mesmo a esposa e a
família, ainda assim pode não ser capaz de abandonar o desejo de prathi�˜hā. Isso funciona
como se o desejo corresse em nossas veias. Mas se recebermos uma misericórdia especial do
guru, dos vai�Šavas e de Bhagavān, então seremos capazes de abandonar esse desejo; caso
contrário não conseguiremos nos livrar muito facilmente. Devemos nos esforçar para
abandoná-lo, mas também devemos receber essa misericórdia, as duas coisas.
vikr…�itaˆ vraja-vadh™bhir idaˆ ca vi�Šoƒ
�raddhānvito `nu��Šuyād atha varŠayed yaƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.33.39
Se alguém ouve com fé os cinco capítulos do ®r…mad Bhāgavatam que descrevem a rāsa
— os passatempos transcendentais de K��Ša com as gop s — a doença do coração
denominada luxúria será eliminada. Mas devemos ouvi-los com a verdadeira fé, que é
recebida do guru e dos vai�Šavas. Se alguém gosta de ler novelas e considera esses
passatempos de K��Ša com as gop…s como mera ficção, então não terá o efeito desejado. Antes
havia essa luxúria no coração da moça pulinda mas, pela misericórdia da grande bhāva das
gop…s, que são a hlādin…-�akti de K��Ša, todos os anarthas puderam ser destruídos.
…
Aquela ku‰kuma era das gop…s e havia sido esfregada nos pés de K��Ša e agora estava sobre
a grama investida de alguma �akti poderosa. Ao entrar em contato com as gop…s e com K��Ša,
ela tornou-se muito poderosa.
Quanta �akti pode haver na poeira dos pés? Uma vez ®r… Rāmacandra estava andando
pela floresta e passou pelo local onde Gautama ¬�i havia amaldiçoado sua esposa, Ahalya, a
se transformar numa pedra. Quando Rāma tocou aquela pedra com Seus pés, ela
imediatamente assumiu sua forma original como uma semideusa muito bela. Ela O
circunambulou e ofereceu-Lhe orações, depois despediu-se e partiu com o esposo. Portanto,
essa ku‰kuma das gop…s misturada com a poeira dos pés de K��Ša tem uma �akti enorme. No
coração daquela pulinda havia a doença da luxúria, mas ao tocar essa ku‰kuma seu coração
se tornou supremamente puro e foi carregado com k��Ša-prema. Seus sentimentos tornaram-
se iguais aos das gop…s e por seguirem-nas, ela começou a servir K��Ša. Por isso nesse verso
as gop…s estão dizendo:
— Para uma moça aborígene, ela é muito afortunada! Mais do que as corças. O que ela
poderia compreender a respeito dessa ku‰kuma? Mas pôde compreender que essa ku‰kuma
não era uma coisa comum; por tocá-la, os passatempos de ®r… Rādhā e K��Ša surgiram em seu
coração.
Se um sādhaka aplica a ku‰kuma dessas descrições através do processo de ouvir —
mesmo que seja em abhāsa, a semelhança do verdadeiro ouvir —seu coração também ficará
supremamente purificado e todos os desejos materiais serão destruídos. Aqui as gop…s estão
realmente cantando suas próprias glórias, mas não estão pensando assim. De quem era a
ku‰kuma? Era delas, no entanto aqui, pela influência de Yogamāyā, elas se esqueceram disso
e estão cantando as glórias da moça aborígene.
Devoto é aquele que se considera extremamente caído. Se estivermos pensando: "Sou
um devoto avançado, melhor que os outros. Posso atrair as pessoas dando vários significados
dos versos em sânscrito, possuo muito bhakti e muita gente vem me prestar reverências."
Então ainda não poderemos nos considerar devotos. Quando até mesmo um
pouquinho de bhakti tiver entrado no coração de alguém, seguramente a humildade também
estará presente. Quando não há humildade podemos depreender que não há bhakti. Quem
tiver se tornado um devoto mais avançado evidenciará um aumento da humildade. Quando a
humildade existe em sua forma plena, bhakti também terá atingido sua forma plena. E onde
não houver humildade, não haverá nenhum traço de bhakti. Um devoto madhyama-adhikār…
apresentará mais humildade do que um kani�˜ha-adhikār… e o devoto uttama-adhikār… terá
mais do que um madhyama-adhikār…. Portanto a humildade é mais encontrada nos residentes
de Goloka-Vraja do que na classe dos uttama-adh…kar…s comuns e dentre os vrajavās…s, a
maior humildade será exibida pelas gop…s e dentre todas as gop…s, ®r…mat… Rādhikā é quem
exibe a maior humildade. Ela é o auge da humildade. Onde quer que Ela encontre apenas um
traço de bhakti, considerará quem o possui como sendo alguém digno de Suas reverências.
Ela irá prestar Suas reverências a essa pessoa, pensando: " Devo tentar ser como ele."
Essa é a visão de um devoto uttama:
— Oh, Kaˆsa é tão afortunado! Bhagavān veio para matar Kaˆsa numa forma tão
atraente! Ele não veio matar a alma de Kaˆsa e sim conceder-lhe Sua misericórdia ao liberá-
lo daquele corpo. E ao mesmo tempo, veio abençoar esse mundo com passatempos que são
cheios de uma potência purificadora ilimitada. Se não fosse por Kaˆsa, K��Ša não teria
aparecido e Suas glórias nos seriam desconhecidas. Foi apenas por medo de Kaˆsa que K��Ša
foi levado para Gokula. E Ele regressou para Mathurā somente para matar Kaˆsa e partiu
para Dvārāka por causa de Kaˆsa. Por que? As filhas de Jarāsandha eram casadas com
Kaˆsa, por isso, quando Kaˆsa foi morto, elas foram correndo chorar para o pai:
— K��Ša matou seu genro sem nenhum motivo!
E reunindo um exército, Jarāsandha atacou K��Ša dezessete vezes, e K��Ša pensou:
"Toda hora está havendo uma luta por aqui, por isso é melhor ir embora."
E assim, Ele partiu para Dvārāka. Isso também foi por causa de Kaˆsa. Kaˆsa não era
uma pessoa comum e foi por isso que um vai�Šava mahā-bhāgavata como Nārada irá sempre
vê-lo.
Um devoto madhyama-adhykār… pode sentir um certo ódio por Kaˆsa, mas um
devoto uttama-adhikār… não irá. De uma maneira semelhante, as gop…s estão considerando a
moça pulinda como sendo superior a elas e a estão glorificando:
— Se tivéssemos nascido como uma pulinda nossos pais e irmãos não iriam nos
impedir de ir ver K��Ša durante o dia. Poderíamos passar o dia todo na floresta coletando
madeira, mas como somos de famílias elevadas, isso agora não nos é permitido.
Se um sādhaka entra em bhakti, deverá ter essa humildade e se o fizer, então realmente
poderá ser considerado um sādhaka.
No verso que estamos discutindo, por que está dito �r…-ku‰kuma? Isso pode significar
que essa ku‰kuma tem um esplendor especial, ou pode significar que é vermelha, como os
pés de lótus de K��Ša. K��Ša tem uma compleição �yāma, mas as palmas de Suas mãos e as
plantas dos Seus pés são de uma avermelhado profundo. Essa ku‰kuma tem o mesmo tom e
quando entra em contato com os pés de K��Ša, assume um esplendor especial e também uma
�akti especial. Se uma comida é preparada para ser oferecida a K��Ša, essa �akti entra nela —
a �akti plena de K��Ša está na mahā-prasāda. Ao ser tocada pela boca de K��Ša ela se torna
sac-cid-ānanda, assim como Ele. Portanto, antes de as gop…s usarem essa ku‰kuma ela não era
�r…, mas ao entrar em contato com os pés de lótus de K��Ša, toda a �akti e esplendor dos Seus
pés de lótus entraram nela e ela se tornou extraordinariamente bela. E de onde veio a
ku‰kuma? Dayatā-stana-maŠ�itena — de Rādhikā e por isso também pode se dizer que a
palavra �r… veio dEla.
Ao verem essa ku‰kuma sobre a grama pela manhã, smara-rujas — surgiu a luxúria no
coração da moça pulinda. Mas quando ela esfregou essa ku‰kuma no corpo, sua luxúria
aumentou ou diminuiu? Todas as j…vas de V�ndāvana, os insetos, aves, animais e pessoas,
estão sempre irrequietas para verem K��Ša; e quando O viam, a avidez delas aumentava ou
diminuía? Seguramente aumentava, mas quando recebiam o toque de K��Ša, ficavam um
pouco mais calmas. Portanto essa �r… ku‰kuma é não-diferente do próprio K��Ša; ao vê-la a
avidez da pulinda aumentou, mas ao espalhá-la pelo corpo, ela ficou plenamente satisfeita e
se acalmou novamente.
Ao falarem esse verso as gop…s consideraram a moça pulinda como estando p™rŠāƒ —
completamente satisfeita, mais do que as aves e animais de Vraja. Ela não era tão divinamente
bela quanto as gop…s e estava desqualificada para participar dos passatempos amorosos com
K��Ša, mas ao considerarem-na mais afortunada do que elas, as gop…s exibiram um sintoma
de mādama, que é o estágio superior de mahābhāva. Isso ocorre quando se considera uma
pessoa desqualificada, ou mesmo um objeto inanimado, como sendo superior a si mesmo e
até chegando a dar uma explicação do porquê. A flauta é um objeto inanimado, mas como
vive sempre nos lábios de K��Ša e nunca se separa dEle, mesmo sendo do gênero masculino,
as gop…s sentem que a flauta é mais afortunada do que elas. Seus sentimentos pela flauta são
como se ela fosse a segunda esposa de K��Ša.
Por isso, esse sentimento do estágio superior de mahābhāva surgiu nas gop…s devido à
moça pulinda. Não é possível que outros devotos tenham esse sentimento elevado e portanto,
em lugares como Dvārāka, ele não se manifesta. Essa bhāva maravilhosa só é encontrada em
Vraja. Mesmo que essa moça não tenha nenhum relacionamento com K��Ša, ao ver como ela
começou a ficar arrepiada e com lágrimas nos olhos quando notou a ku‰kuma dos pés de
K��Ša sobre a grama, as gop…s desejaram experimentar os sentimentos dela. ®r…mat… Rādhikā
disse:
— Nunca tivemos essa bhāva!
Aqui a própria Rādhikā está cantando as glórias da moça pulinda e não está levando
em conta o verdadeiro estado elevado das gop…s de Vraja. Ela não está pensando nisso. A
quem antes pertencia a ku‰kuma? Era dEla, mas Ela estava considerando que a moça
aborígene era mais afortunada do que Ela! Isso é um sintoma de mahābhāva:
— Ela é tão afortunada! Se na próxima vida puder nascer como uma pulinda, então
ninguém Me proibirá de ver K��Ša e também serei capaz de experimentar essa bhāva
maravilhosa.
Capítulo IX — K��Ša Se Diverte com Seus Amigos
Os sakhās são superiores à moça pulinda que estávamos discutindo e sobre eles,
®ukadeva Gosvām… diz:
yadi d™raˆ gataƒ k��Šo
vana-�obha-k�aŠāya tam
ahaˆ p™rvam ahaˆ p™rvam
iti saˆsp��ya remire
®r…mad Bhāgavatam 10.12.6 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.120
Durante o dia, enquanto se diverte e brinca com Seus sakhās, se K��Ša desejar ver o
esplendor da floresta, irá a um local distante, e então logo os sakhās irão correndo até onde
Ele está, dizendo:
— Vou tocá-lO primeiro! Vou tocá-lO primeiro!
E assim desfrutam a vida. Eles poderão abraçar K��Ša e K��Ša também irá abraçá-los.
Eles se tratam como "sakhā, sakhā!" e até levam uns aos outros nas costas. Como podem
brincar com K��Ša de maneira tão irrestrita, em qualquer lugar, esses jovens gopas são
superiores à moça pulinda.
De manhã cedo, enquanto K��Ša ainda pode estar dormindo, Subala, Madhuma‰gala e
outros amigos podem vir pular na cama dEle para acordá-lO. Mãe Ya�oda fica hesitante em
acordá-lO, porque geralmente uma criança sonolenta não deve ser despertada. Se Ele dormir
até muito tarde, ela possivelmente irá despertá-lO com alguma doce canção, ou gentilmente
irá borrifar um pouco d'água em Seu rosto. Mas os sakhās irão simplesmente pular na cama
dEle e depois irão acompanhá-lO na floresta o dia todo. Enquanto comem e bebem, enquanto
estão dentro ou fora de casa, indo ou voltando de algum lugar, eles estarão sempre na
companhia de K��Ša. Ao verem isso as gop…s dizem:
— Esses sakhās são muito afortunados! O dia inteiro, o tempo todo e em todos os
lugares estão sempre brincando com K��Ša! Se pudéssemos nos tornar sakhās, viveríamos
sempre felizes! Poderíamos estar sempre ao lado dEle. Às vezes Mãe Ya�oda os alimenta
enquanto alimenta K��Ša e depois passam o dia inteiro brincando. E por isso estão o tempo
todo completamente satisfeitos.
Notando as glórias dos gopa-kumāras, as gop…s ficam absortas em bhāva. Essa é a
natureza de prema e especialmente a natureza de mahābhāva. Ao perceberem um leve traço
de prema nos outros, as gop…s os consideram mais satisfeitos que elas. Quando ®r… Caitanya
Mahāprabhu estava em Pur…, cercado de devotos prêmicos, um cão se aproximou dEle. O cão
estava gemendo e lágrimas começaram a cair dos seus olhos. Mahāprabhu estava comendo
um coco e deu-lhe um pouco de Sua prasāda. No dia seguinte o cão sumiu e todo mundo
compreendeu que ele havia ido para VaikuŠ˜ha. Quem não teria o desejo de se tornar esse cão
e ser capaz de se aproximar de Mahāprabhu para receber um pouco de Sua prasāda? E rolar
no chão em êxtase, abandonar o corpo material e se tornar um associado eterno de Bhagavān
em VaikuŠ˜ha — quem não deseja uma bênção assim? Especialmente aqueles que têm prema
irão desejá-la. Analogamente, ao ver alguém recebendo a bondade e afeição de K��Ša — quer
seja qualificado ou não — Rādhikā fica intoxicada e pensa: "Ele é mais afortunado do que Eu;
queria ser afortunada assim."
Acompanhado por incontáveis sakhās, K��Ša leva os bezerros para pastar durante o dia.
Quando os bezerros crescem e param de mamar, K��Ša leva algo como novecentos mil
bezerros para pastar. Nisso vem ®r…dāma e todos os bezerros se reúnem numa procissão.
Então chegam Madhuma‰gala, Subala, Stokak��Ša, Arjuna e incontáveis sakhās com
incontáveis bezerros para se reunir a eles. Nessa procissão existem inúmeros grupos, como
quando ocorre uma procissão de k…rtana. Um grupo leva um estandarte com os dizeres:
"Ke�avaj… Gau�…ya Ma˜ha," outro leva um estandarte com os dizeres: "R™pa-Sanātana
Gau�…ya Ma˜ha," e outro grupo vai levando um estandarte exibindo o nome de outra ma˜ha.
Analogamente, os sakhās seguem juntos, mas em grupos separados. Às vezes aqueles que
desejam se separar durante o dia o fazem, mas no final da tarde, quando K��Ša toca uma
determinada melodia em Sua flauta indica que está na hora de votar, todos se reúnem
novamente. Ao regressar, novamente seguem caminhos separados, quando cada sakhā pega
seus bezerros e vai para a casa do pai.
Enquanto vão levando seus milhões de bezerros, os sakhās tocam suas flautas e
berrantes de chifre, cantando e fazendo muitas brincadeiras. Nesse verso está dito remire, que
vem da palavra ramanā, que significa desfrutar. Desfrutando com Seus sakhās, K��Ša entra
na floresta, onde irão se decorar com muitas variedades de flores, folhas e penas de pavão.
K��Ša será decorado como o rei dos dançarinos e irá decorar os outros meninos. Então eles
começam a brincar. ®r…dāma rouba um dos queridos la��us de Madhuma‰gala e dá para um
outro menino, que o passa para outro, e este para outro, e logo ninguém sabe mais onde o
doce foi parar. Madhuma‰gala vai perguntando para todo mundo:
— Você viu meu la��u?
E se alguém está com ele, trata de esconder. Um gopa rouba do outro a flauta, o
berrante, ou o bastão e o dono persegue o larápio, que joga fora o que roubou, vem outro,
pega e sai correndo. E é assim que eles se divertem na sua atrativa bāla-l…lā.
Os meninos vão rindo e K��Ša sorri, mas se K��Ša não sorri, então tudo fica
prejudicado. Tudo ocorre exclusivamente para o prazer de K��Ša. Nessa hora esses meninos
se esquecem de suas casas, de suas famílias e até mesmo das necessidades corpóreas —
esquecem-se de tudo. Um menino está tocando flauta, outro cantando como um passarinho,
outro imita um macaco e outro vai imitando o coaxar das rãs. Com a intenção de incrementar
a avidez deles, às vezes K��Ša se esconde e incapazes de saber onde K��Ša foi, começam a
procurar por Ele. Se algum deles O vê, todos saem correndo atrás dEle. Cada um abraça
K��Ša e depois volta.
Quando às vezes K��Ša vai para um local um pouco mais distante para ver o esplendor
da floresta, ao perderem a paramānanda que sentem ao brincarem com Ele, os sakhās ficam
muito infelizes. ®r…la Sanātana Gosvām… diz em seu comentário que K��Ša brinca com os
sakhās nove horas por dia, enquanto leva as vacas e bezerros para pastar. Quando as gop…s
recebem a oportunidade de ficar mais tempo com Ele? Nessa ocasião, por arranjo de
Yogamāyā, K��Ša assume duas formas. Numa forma Ele permanece brincando com os gopas
e na outra desfruta com as gop…s no Kusuma-sarovara ou no Rādhā-kuŠ�a. Ou sob algum
pretexto, Ele diz para os sakhās:
— Estou indo para o Kusuma-sarovara beber água.
Mas, por influência de Yogamāyā, parece que Ele volta em um segundo apenas. Os
gopas não sabem quanto tempo passou, assim como ocorreu uma noite inteira de Brahmā
então acontecia a āsa-l…lā. Durante a āsa-l…lā, será que alguém mais velho da família de r r
K��Ša ou das gop…s ficou sabendo onde eles estavam? Eles só imaginaram que aquela havia
sido uma noite comum, que só durou oito horas. Portanto, quer assumindo duas formas, quer
permanecendo numa única forma, K��Ša às vezes também desfruta com as gop…s durante o
dia. Em seguida vem esse verso:
itthaˆ satāˆ brahma-sukhānubh™tyā
dāsyaˆ gatānāˆ para-daivatena
māyā�ritānāˆ nara-dārakeŠa
sārdhaˆ vijahruƒ k ta-puŠya-puñjaƒ �
®r…mad Bhāgavatam 10.12.11 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.121
"E assim, os muito afortunados vaqueirinhos desfrutam de várias maneiras com ®r…
K��Ša, que os jñān…s vêem como sendo a refulgência Brahman, que Seus servos vêem como a
Deidade supremamente adorável e que as pessoas comuns vêem como um menino qualquer
(ou alternativamente, māyā�ritā também significa aqueles que receberam a Sua maior
misericórdia, por estarem desprovidos do sentimento de opulência e O viram apenas como o
filho de Nanda.)
K��Ša havia matado Aghāsura e enquanto levava as vacas e os bezerros para pastar
durante o dia, os sakhās ficaram brincando com o couro e os ossos do demônio. Não havia
mal cheiro vindo do corpo do demônio e os sakhās pensaram: "Como ele foi ficar seco assim
tão rápidamente?"
Isso porque K��Ša havia assumido as formas daqueles vaqueirinhos durante um ano,
imediatamente após ter matado Aghāsura, e eles imaginaram que só havia se passado um dia
desde que o demônio fora morto. Brahmā os escondeu numa caverna por um ano, sob transe
ióguico, mas quando K��Ša olhou para eles, os meninos reviveram e Sua forma expandida
como os vaqueirinhos entrou de volta na Sua forma original. Quando K��Ša matou Aghāsura,
a refulgência da alma do demônio imergiu no pé de K��Ša. Brahmā e inúmeros yog…s estavam
assistindo isso no seu transe místico e pensaram: "Quem é esse? Ele parecia ser um menino
comum, como isso foi possível?"
Esse verso diz satāˆ, o que significa santos que estão sempre fixos na meditação. Para
eles K��Ša é a personificação da ānanda do Brahman impessoal e para os devotos que se
consideram Seus servos, Ele é para-daivatena — o Deus Supremo. Quando K��Ša entrou na
arena de luta livre de Kaˆsa, quem O viu como para-devatā? Os V��Šis, que O consideravam
como a sua Deidade adorável, mas as gop…s e outros residentes de Vraja não O viram dessa
maneira. Alguns O viram como amigo, como filho e outras como amante. Māyā�ritānāˆ
nara-dārakeŠa — e quem estava sob a influência de māyā O viu como um menino comum. Os
vaqueirinhos estavam brincando com Ele, porque k�ta-punya-puñjaƒ — devido ao seu
"acúmulo de atividades piedosas," eram capazes de desfrutar com Ele dessa maneira.
Existem três significados para a palavra puŠya. Primeiro ela pode significar atividades
piedosas convencionais, mas a realização desse tipo de puŠya não qualifica alguém para se
encontrar com K��Ša. Segundo, pode significar suk ti e pelo acúmulo de suk ti a pessoa
alcança sādhu-sa‰ga e então pode aceitar abrigo num guru e desenvolver bhakti. Quando
bhakti atinge a sua forma perfeita, então vem o prema, e quando alcança esse prema, pode se
encontrar com K��Ša. Será que alguém pode alcançar Bhagavān com o puŠya do tipo de
Mahārāja Hariscandra, Dadh…ci ¬�i ou Mahārāja ®ibi? Não. Pela prática de sādhana-bhakti
ninguém pode encontrar Bhagavān e nem mesmo possuindo bhāva-bhakti é possível alguém
se encontrar com Ele. Só quando se possui prema-bhakti é que é possível se encontrar com
K��Ša. Não considerem que todos os tipos de bhakti são iguais. O cultivo de sādhana-bhakti
irá nos elevando gradualmente, em bhāva-bhakti talvez possamos receber um dar�ana de
K��Ša, mas é só em prema-bhakti que podemos controlá-lO. Pode ser que nem mesmo
possuindo prema-bhakti possamos nos tornar um sakhā e viver com K��Ša caso não
tenhamos a bhāva de Vraja. Esses sakhās possuem esse tipo de prema-bhakti com vraja-bhāva
e esse é o significado de k�ta-puŠya-puñjaƒ.
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®r…la Sanātana Gosvām… descreve como os sakhās brincavam juntos com grande
intimidade. Às vezes podiam correr e brincar com K��Ša sem nenhuma roupa. Podiam comer
no mesmo prato que Ele e tirar a comida um da boca do outro e não tinham medo de serem
repreendidos por seus responsáveis ou por mais ninguém. Ao falar esse verso, ®ukadeva
Gosvām… sentiu grande ānanda, apesar de não poder continuar somente nesse tópico por
muito tempo. Ele é o papagaio de Rādhikā e não há nada que possa imergi-lo completamente
em ānanda que não contenha o nome dEla. Mas aqui ele ficou aturdido em sakhya-rasa e essa
bhāva extravasou de seu coração na forma dessas palavras. Nesse verso ele usou a palavra
satāˆ que significa `santo,' e aqui ela se refere àqueles que viram K��Ša como a
personificação de brahmānanda. Ela se refere àqueles que estão adornados com as vinte e seis
qualidades de um devoto e que são jñān…-bhaktas como os quatro Kumāras. Mas se R™pa e
Sanātana Gosvām…s tivessem descrito pessoalmente um santo, com a definição deles, teriam
se referido àqueles que têm a bhāva de Vraja e entre eles, aqueles que possuem a bhāva das
gop…s, de dentre elas, as que possuem a bhāva de ser uma dās… de Rādhikā.
Uma vez, Durvāsā Muni veio ver K��Ša brincando com Seus amigos. Os meninos
estavam colocando terra sobre a cabeça de K��Ša que revidava pondo terra na cabeça deles.
Às vezes eles se abraçavam, outras cantavam e outras vezes xingavam uns aos outros como
fazem as crianças. Durvāsā pensou: "O que é isso? Aquele que é a própria corporificação do
Brahman nasceu na casa de Nanda?"
Ao olhar na direção de K��Ša ele ficou atônito e se quedou imóvel. K��Ša o viu de longe
e logo largou Sua brincadeira e se aproximou dele dizendo:
— Bābā, Eu derrotei Subala!
Então Subala veio e disse:
— Fui eu quem derrotou Kanhaiyā!
Veio um outro menino e disse:
— Eu derrotei K��Ša!
Então K��Ša falou:
— Não bābā, fui Eu quem o derrotou!
Durvāsā ficou só olhando K��Ša em silêncio e depois sentou. Não podia determinar
quem tinha derrotado quem e era incapaz de lhes dar um veredicto. Então K��Ša sentou-se no
colo dele e agarrando sua barba, disse:
— Bābā, você não pode falar? É surdo e mudo?
Depois, sentido-se inquieto, K��Ša correu de lá sorridente e começou a brincar
novamente. Durvāsā não havia entrado em Vraja só depois de uma jornada de um ou dois
dias. Havia vagado por milhões de anos e havia visto incontáveis universos, incontáveis
Brahmās e ®a‰karas — só depois disso é que entrou em Vraja. Completamente atônito, ele
pensou: "A personificação de brahmānanda está aqui, brincando com esses meninos?"
Ele ofereceu praŠāma à distância para que não perturbasse a l…lā de K��Ša e foi embora
dali. Essa é a visão de K��Ša a que se refere esse verso na linha onde está: ittahaˆ satāˆ
brahma-sukhānubh™tyā.
A linha seguinte se refere aos devotos que vêem K��Ša como para-devatā, a sua
Deidade adorável suprema. E a terceira linha diz: māyā�ritānāˆ nara-dākena — que significa
aqueles que estão sob a influência de māyā vêem K��Ša como uma criança comum. Mas aqui
foi dado mais um significado: se ele fosse se referir às almas enredadas pela ilusão material,
então a seqüência seria inconsistente. Primeiro foi descrito como os ��is vêem K��Ša e depois
como os devotos O vêem, portanto aqui māyā�titānāˆ deve ser referir àqueles que estão sob
a influência de Yogamāyā. ®r…la Sanātana Gosvām… cita esse verso:
kātyāyani mahā-māye
mahā-yoginy adh…�vari
nanda-gopa-sutaˆ devi
patim me kuru te namaƒ
"Ó Kātyāyan…, ó possuidora da potência yogamāyā ! Por favor nos dê a bênção de ter
K��Ša como nosso esposo."
Por isso, no verso que estamos discutindo, nara significa aqueles que se abrigaram em
Yogamāyā viram o filho de Nanda Mahārāja como um menino comum. Eles não o viram com
ai�varya-bhāva, mas com mādhurya-bhāva. Eles sempre brincam com K��Ša na nara-l…lā,
nunca considerando que Ele é Bhagavān, as gop…s iram começar a caçoar de K��Ša e diriam:
— O que? Você é Bhagavān? Você é só um mentiroso e vive querendo enganar os
outros, quando está com fome quebra os potes de iogurte da Sua mãe!
Por isso nesse verso, māyā�ritānāˆ deve se referir às gop s que por recitarem esse
siddha-mantra e oferecerem p™jā para Kātyāyan…, receberam K��Ša como seu amante. Caso
contrário a seqüência do verso estaria incorreta. E nas palavras nara-dārakeŠa, dāra também
significa esposa, e aqui ela também se refere às gop…s, que sempre vêem K��Ša como ki�ora,
muito bem decorado como um noivo e parecendo supremamente atraente como o rei dos
dançarinos. Esse verso está dizendo que os sakhās passam o dia inteiro brincando com esse
amante querido das gop…s e como devem ser afortunados por isso?
…
Capítulo X — As Glórias de Sakhya-rasa
yat-pāda-paˆ�ur bahu-janma-k�cchrato
dh ātmabhir yogibhir apy alābhyaƒ �t
�sa eva yād g vi�ayaƒ svayaˆ sthitaƒ
k…rtanaˆ varŠyate di�tam aho vrajaukasām
®r…mad Bhāgavatam 10.12.12 3 B�had-bhāgavatām�ta 2.7.122
"Os grandes yog…s realizam severas austeridades por inúmeras vidas, mas mesmo se
controlarem suas mentes com grande dificuldade, ainda assim não podem alcançar sequer
uma partícula da poeira dos pés de lótus de ®r… K��Ša. Como poderei descrever a boa fortuna
dos vrajavās…s, que diariamente recebem o Seu dar�ana?"
Os yog…s, apesar de praticarem yama, niyama, āsana, prāŠāyāma, dhyāna, dhāraŠā,
pratyāhāra e sāmadhi por inúmeros nascimentos, são incapazes de sequer tocarem uma
partícula de poeira dos pés de lótus de K��Ša. Eles realizam austeridades severas mas são
incapazes de alcançá-lO e isso também se refere a Brahmā. Brahmā tem um período de vida
muito longo e até mesmo vê K��Ša de vez em quando, mas quando se aproxima de K��Ša,
por acaso recebe a poeira de Seus pés? Quando Brahmā foi para V�ndāvana, K��Ša estava
absorto brincando com Seus amigos. Quando Brahmā chegou, K��Ša olhou para ele, mas logo
voltou a brincar. Brahmā só pôde oferecer preces e não recebeu a poeira dos pés de lótus de
K��Ša diretamente. O que dizer dos yog…s comuns? Mas este mesmo Vrajendra-nandana,
apesar de ser o próprio Bhagavān, fica junto desses vrajavās…s e até brinca com eles. Até
mesmo as crianças mais novas do que K��Ša desejam ficar em companhia dEle enquanto Ele
leva as vacas para pastar. Seguramente essas crianças não irão querer ficar em casa! Então as
mães dessas crianças dizem para K��Ša:
— Cuide do meu filho!
E K��Ša toma conta dessas criancinhas. Ele não apenas brinca com elas, mas depois de
andar um pouco, Ele pergunta:
— Vocês estão cansados?
E amorosamente, as coloca no colo e massageia seus pés.
Nesse verso ®ukadeva Gosvām… diz:
— Vejam! Enquanto leva as vacas para pastar K��Ša às vezes decora os pés desses
menininhos! Ele decora esses bāla-gopālas com Suas próprias mãos e eles também O
decoram! Brincam juntos, e quando K��Ša sai vitorioso, sorri com grande ānanda. Comem
juntos e fazem brincadeiras uns com os outros — quem pode descrever a boa fortuna dos
vrajavās…s? A pāda-paˆ�ur, a poeira dos pés de lótus de K��Ša que mesmo as gop…s estão
buscando em suas meditações, cai dos Seus pés e se espalha por todo lado enquanto Ele se
diverte, Seus amigos massageiam Seus pés e quando Ele sobe nas árvores kadamba. E Ya�oda
elimina a poeira da face de K��Ša e aplica añjana fresco nos Seus olhos. E quando Ele dança
com as gop…s, retira a poeira da face de lótus delas e a aplica sobre Sua cabeça. Diga-me, o
quanto essa poeira é gloriosa? Quem pode descrevê-la?
Citando esses versos do B�had-bhāgavatām�ta, ānanda vai inundando o coração de
®r…la Sanātana Gosvām…, como se ele estivesse batendo a nata e saboreando a sua essência.
Então surge outro sentimento e ele cita esse verso:
kvacit pallava-talpe u �
niyuddha-�rama-kar�itaƒ
v�k�a-m™lā�rayaƒ �ete
gopotsa‰gopabarhaŠaƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.15.16 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.123
Ao ficar fadigado de lutar e brincar, K��Ša estende Seus pés e um sakhā, com o coração
derretido de amor e afeição por Ele, põe os pés de K��Ša no colo. Milhões de sakhās arrumam
milhões de camas feitas flores para o conforto dEle. E sem nem mesmo saber de si, por
arranjo de Yogamāyā, K��Ša se expande em milhões de formas e aceita o serviço de cada um
daqueles sakhās. De outra maneira, se milhões de sakhās viessem todos massagear Seus pés,
haveria uma competição e grande comoção. Por isso Yogamāyā arranja tudo de maneira
maravilhosa para que não haja nenhum conflito. Debaixo da sombra refrescante de uma
árvore, os sakhās usam seus colos como travesseiro para K��Ša e O fazem dormir
gentilmente.
pāda-saˆvāhanaˆ cakruƒ
kecit tasya mahātmanaƒ
apare hata-pāpmāno
vyajanaiƒ samav…jayan
®r…mad Bhāgavatam 10.15.17 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.124
"Nesse momento, um sakhā muito afortunado massageia Seus pés enquanto outro
abana Seu corpo com um abano feito de folhas."
Existem milhões de sakhās e todos são elevados. Uns O abanam, mas não com uma
cāmara; com um abano feito de flores e de penas de pavão, e com grande amor. Eles servem
K��Ša ajeitando suas pernas como travesseiro. Essa boa fortuna pode ser vista em algum
outro lugar? Sua afeição por K��Ša é supremamente natural no humor de nara-l…lā,
considerando-nO como sendo uma criança comum. Ao verem como K��Ša se cansou ao lutar
com eles e ao cuidar das vacas, os sakhās O servem com grande afeição para eliminar o Seu
cansaço. Quando K��Ša estava dirigindo a quadriga de Arjuna e as pontiagudas flechas de
Bh…�ma O estavam atingindo, será que alguém no campo de batalha sentiu-se realmente
condoído com aquilo? Mas os sakhās agem assim? Para removerem uma única gota de suor
do senho de K��Ša eles estão preparados para deixarem suas vidas.
Como os sakhās estão se dedicando a massagear as pernas de K��Ša, eles são descritos
como mahātmas. Mahātma significa grande alma e quando alguém se torna uma grande
alma? Quando atinge o serviço a K��Ša — caso contrário não. Aqui a palavra mahātmanaƒ
também pode ser um adjetivo para K��Ša, que é pleno de opulências e que apesar de ser
ātmā āma e āptakāma ainda assim deseja aceitar serviço dos outros. Como na verdade Ele
nunca fica cansado, não tem necessidade de travesseiros e camas de flores providenciados
pelos sakhās. Se depois de lutar com tantos asuras e de erguer a colina de Govardhana
durante sete dias Ele não se cansou, como ficaria cansado só por ter brincado com algumas
crianças pequenas? Pensando: "Eles têm o desejo sincero em Me servir e é por isso que estão
correndo atrás de Mim."
r
E assim, apesar de ser o Parabrahma e āptakāma, se derrete de emoção e deita
naquelas camas e dorme. É por esse motivo que Ele é considerado um mahātma. Mahātma
também pode significar glórias e as glórias de K��Ša são as seis opulências que Ele possui.
Apesar de aparentemente essas glórias não serem exibidas enquanto Ele brinca fazendo
o papel de um menino comum na nara-l…lā, K��Ša manifesta essas opulências expandindo-se
em milhões de formas para aceitar serviço de cada sakhā individualmente e nenhum sakhā
fica sabendo disso. Se K��Ša fosse exibir-lhes como o possuidor de todas as opulências e com
a capacidade de assumir ilimitadas formas, os meninos ficariam aturdidos e poderiam
começar a oferecer-Lhe preces e não haveria serviço para K��Ša poder aceitar. Por isso Ele é
mahātmanaƒ.
É como se alguém desse milhões de rúpias em caridade, mas estivesse indiferente a
isso. Essa é a glória de dar caridade. Mas se alguém dá alguma coisa e depois diz para os
outros:
— Você pode calcular quanto eu doei?
Então isso não é glorioso. Sudāmā não considerou que o que ele deu para K��Ša fosse
algo importante, sua esposa também não e ninguém nesse mundo iria considerar que aquilo
fosse algo substancial; mas essa oferta foi a mais gloriosa. Da mesma maneira, os sakhās estão
dando tudo o que possuem, o seu prema, e manifestando Suas opulências K��Ša dá a todos a
oportunidade de servi-lO, e assim, Ele é mahātmanaƒ. Na āsa-l…lā Ele deu oportunidade a
todas as gop…s e no Brahma-vimohana-l…lā, deu a todas as vacas e às gop…s mais velhas a
oportunidade de se tornarem Sua mãe, expandindo-se em inúmeras outras formas e em
ambas as l…lās ninguém soube disso. Portanto nesse verso, o adjetivo mahātmanaƒ é mais
apropriado ao se referir a K��Ša.
r
Existem incontáveis grupos de sakhās que têm seus respectivos líderes e assim como
existem vários tipos de gop…s, também existem cinco tipos de sakhās: sakhā, priya sakhā,
pre�˜ha sakhā, para-pre�˜ha sakhā e priya-narma sakhā. Entre os sakhās existem inúmeros
grupos, mas nunca há um conflito em seu serviço. Quando aparece o primeiro ministro,
inúmeros congressitas vêm dizendo:
— Serei o primeiro a colocar a guirlanda no primeiro ministro!
Existe disputa. Mas existem milhões de sakhās e nunca há conflito por que a ai�varya
de K��Ša é maravilhosa. Cada um dos sakhās pensa: "Hoje sou o mais afortunado; K��Ša me
deu essa boa oportunidade só para mim, porque me ama muito!"
Yogamāyā faz os arranjos para que K��Ša nem os sakhās saibam o que está
acontecendo, caso contrário K��Ša não poderá desfrutar de sakhya-rasa. E com esse arranjo
Ele pode continuar brincando com os meninos e saboreando a rasa.
Nesse verso as palavras hata-pāpmāno não significam `sem pecados', porque não
existe possibilidade de pecado em nenhum sakhā. Elas significam que eles servem K��Ša com
os corações derretidos e com grande afeição. Às vezes servimos com amor, mas na maior
parte das vezes servimos porque sentimos que esse é o nosso dever. Mas se o serviço for feito
com afeição pura, Bhagavān desejará realmente o nosso serviço. Portanto, hata-pāpmāno
significa que o serviço dos sakhās estava livre de qualquer sentimento de dever e que eles
abanavam K��Ša com abanos feitos de flores perfumadas e de penas de pavão, só para
aliviar-Lhe a fadiga. Mas elas também podem ter outro significado: por ouvir as descrições
das vidas dos grandes devotos como esses sakhās, todos os nossos pecados serão eliminados
e para aqueles cuja forma interior é a de sakhās, surgirá uma avidez intensa por esse tipo de
serviço.
Vendo isso tudo na sua forma de Lava‰ga-mañjar…, ®r…la Sanātana Gosvām… está imerso
em sakhya-rasa, pensando: "Também desejo me tornar um sakhā e servir K��Ša dessa
maneira tão íntima."
Então ele cita o verso seguinte:
anye tad-anur™pāŠi
manojñāni mahātmanaƒ
gāyanti sma mahā-rāja
sneha-klinna-dhiyaƒ �anaiƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.15.18 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.125
"Meu querido Mahārāja, outros sakhās cantam canções atrativas, apropriadas para a
hora de descansar e todos os corações dos vaqueirinhos se derretem de afeição por K��Ša."
Outros meninos começam a cantar canções encantadoras, que K��Ša gosta muito.
Cantam canções sobre a l…lā da infância de K��Ša que são manojñāni — tão cheias de rasa que
fazem o coração de K��Ša transbordar de ānanda. Aqui a palavra mahā āja se refere a Par…k�it
Mahārāja, um grande rasika que faz com que ®ukadeva Gosvām… fale sobre essas coisas
maravilhosas.
r
Se ®r…la Sanātana Gosvām… não tivesse vindo a esse mundo, as explicações tão simples,
doces e maravilhosas desses versos jamais seriam dadas. Nem mesmo ®r…dhara Svām…, o
famoso comentarista do ®r…mad Bhāgavatam, deu explicações como as de Sanātana Gosvām.
As explicações de ®r…dhara Svām… eram mais voltadas para vaidhi-bhakti e exibiam a
diferença entre nossa filosofia e a filosofia de Advaitavāda. ®r… Caitanya Mahāprabhu
respeitou o comentário de ®r…dhara Svām… e, usando-o como base, ®r…la Sanātana Gosvām…
estabeleceu a maravilhosa bhāva do bhakti de Mahāprabhu no seu comentário do Décimo
Canto. Quando J…va Gosvām… posteriormente iluminou essa explicação no seu comentário
Vai�Šava-to�an…, aceitando ambos os comentários como prasāda, ®r…la Visvanātha Cakravart…
µhākura extraiu-lhes o néctar da rasa e compôs o seu próprio comentário. Foram escritos
centenas de comentários sobre o ®r…mad Bhāgavatam, mas nenhum deles possui a beleza do
comentário de ®r…la Visvanātha Cakravart… µhākura.
As gop…s, com o coração derretido de grande afeição, cantam canções maravilhosas
para o prazer de K��Ša. Ao verem que K��Ša estava fadigado, os sakhās fizeram travesseiros
com seus colos e ali colocaram a cabeça de K��Ša. Na verdade K��Ša nunca fica cansado, mas
ao ver o desejo deles em prestar serviço, Ele ficou fadigado. Enquanto K��Ša estava deitado
dessa maneira, outros vieram massagear-Lhe as pernas, outros esfregar-Lhe as costas, outros
esfregar-Lhe a cabeça e ao olhar a face dEle, parecia que Ele estava descansando
confortavelmente e que a fadiga estava indo embora.
Sneha-klinn-dhiyaƒ — significa que com lágrimas nos olhos e com o coração derretido,
os gopas cantavam docemente, como que para embalar o sono de K��Ša. Eles cantavam
canções relacionadas exclusivamente com os passatempos da infância de K��Ša que dão o
maior prazer a Ele. ®r…la Sanātana Gosvām… diz no seu comentário que a voz desses meninos
era tão maravilhosa quanto o arrulho das rolinhas. Além do mais, eles são associados eternos
de K��Ša e claro que deveriam ser muito peritos em cantar, quase tanto quanto K��Ša.
Madhuma‰gala e Subala podiam cantar tão docemente quanto K��Ša, assim como os
associados de Mahāprabhu também podiam cantar muito docemente. Eles cantam doce e
ternamente para incrementar a ānanda de K��Ša e cantam numa melodia que é adequada ao
período da tarde.
Uma vez, antes de Nārada aprender a arte de cantar, ele foi até os planetas celestiais e
começou a cantar. A letra da canção era boa, mas ele estava fora do ritmo e a melodia não
estava correta. Lá nos planetas celestiais estava o semideus da música, Sura, que ao ouvir a
canção de Nārada fora do tom ficou deformado. Todos os que ouviam Nārada cantar estavam
com pena. Então alguém se aproximou e disse:
— Meu amigo, sua canção fez Sura e todos os cantores celestiais aqui presentes ficarem
deformados e feios, por isso, trate de ir até Brahmā e aprenda com ele a arte de cantar.
E assim, Nārada foi até Brahmā e este lhe disse:
— Você deve ir procurar Sarasvat… e aprender com ela.
Sarasvat… ensinou-lhe a cantar as melodias apropriadamente e quando Nārada voltou
para os planetas celestiais e cantou novamente, todos os residentes voltaram às suas formas
originais. E Nārada tornou-se o maior pregador de maravilhosas canções devocionais. Se
num k…rtana não é cantada a melodia certa no momento apropriado, ela será inauspiciosa. De
manhã cantamos uma certa melodia e à noite cantaremos outra diferente. Se não cantarmos as
melodias apropriadas de acordo com a hora, Sura, o semideus da melodia, irá sofrer muito. E
quem ouvir se sentirá mal, todos nos sentiremos mal.
Como conhecem as canções apropriadas e as melodias, os sakhās eram todos mestres
na arte de cantar. E da mesma maneira, Lalitā, Vi�ākhā, T™‰gavidyā e todas as outras sakh…s
também são peritas em cantar e em todas as outras artes. Os sakhās não são menos hábeis que
K��Ša na arte de cantar e têm a habilidade de elevar e diminuir o tom para criar melodias
maravilhosas. Essa habilidade não pode ser obtida só em uma vida; se alguém a possui, pode-
se concluir que ela vem de vidas pregressas.
K��Ša estava descansando com os olhos fechados e ouvindo como os sakhās faziam
coisas maravilhosas com suaves ondas sonoras. Nesse momento K��Ša estava mais sereno do
que milhões de oceanos e para Seu prazer, os sakhās cantavam docemente canções saturadas
de bhakti que Lhe eram muito agradáveis. Eles cantavam canções descrevendo as glórias das
Suas atividades brincalhonas, as glórias de mãe Ya�oda e as glórias das gop…s. E dessa
maneira, com seus corações cheios de rasa, cantavam docemente para K��Ša durante a tarde e
ouvindo com ānanda suprema cada vez mais intensa, K��Ša fechava os olhos e ficava tomado
de prema.
Quando oferecemos comida a K��Ša, o que sentimos? Cantamos o mantra, mas será que
é preciso bhāva ou não? Nossos sentimentos devem ser como os de mãe Ya�oda, que faz
K��Ša se sentar, deixa-O mimado e depois diz:
— Coma um pouquinho disso aqui, isso é muito gostoso... Olha aqui, coma mais um
pouquinho disso agora, isso também está uma delícia...
Então digam-me, com quanto prema ela está alimentando o filho? Devemos tentar
oferecer a K��Ša com esses sentimentos e cantar o k…rtana para essa hora com os sentimentos
de ®r…la Bhaktivinoda µhākura. Quando fazemos uma oferenda, cantamos as canções que ele
escreveu — bhaja bhakata-vatsala e ya�omat…-nandana — mas geralmente nós apenas a
gravamos na memória e não levamos em conta os magníficos sentimentos que elas exprimem.
Existem vários sentimentos maravilhosos nessas canções e é assim que os sakhās servem
K��Ša — massageando-O com grande afeição e servindo-O com grande bhāva. Seus corações
se derretem e enquanto K��Ša ouve, Seu coração também se derrete.
Portanto, como ®ukadeva Gosvām… era rasika, disse: sneha-klinna-dhiyaƒ — K��Ša
estava tomado de prema e quedou-se imóvel. Depois que a canção começou, mesmo que
alguém quisesse que K��Ša se levantasse, Ele não poderia fazê-lo; estava aturdido, encantado
e só podia permanecer na mesma posição, com o coração derretido e lágrimas rolando por
Suas faces. Ao ver K��Ša assim, ®ukadeva Gosvām… neste verso O descreveu usando a palavra
mahātmanaƒ.
®r…la Sanātana Gosvām… ainda deu outro significado: mahātmanaƒ também pode
significar lampa˜a-�ekhara, o rei dos libertinos. Enquanto K��Ša parece dormir, ouve as
canções dos sakhās sobre Seus passatempos que são cheios de Suas artimanhas. Ele pega as
roupas das gop…s e sobe numa árvore, deixando as pobres meninas tremendo de frio na água,
pedindo pelas roupas. Ele disse:
— Todas vocês cometeram ofensas, por isso devem aproximar-se de Mim e pedir
desculpas.
Os gopas cantam com uma voz suave e melodiosa, canções que descrevem
passatempos como esse e a ānanda de K��Ša aumenta novamente.
K��Ša é o rasika supremo e é sarvajña, o conhecedor de tudo. Mesmo assim, sabendo o
que os sakhās cantariam em seguida, quando ouve fica tomado de prema e começam a cair
lágrimas de Seus olhos. E Ele recebe muito mais ānanda das canções do que as massagens. O
canto é que realmente O faz repousar confortavelmente e com isso podemos entender que o
k…rtana é o melhor serviço. Apesar de todos os gopas estarem massageando-O, o que
seguramente aumenta o Seu prema, quando esse serviço inclui k…rtana, que é bhagavat-priya,
o serviço que é mais querido para K��Ša, vejam em que condição maravilhosa Ele fica! Seu
prema aumenta até que K��Ša fique completamente saturado.
Nesse verso aparece a palavra mahārāja. Qual é o significado dela? Mahān-r™pena-
rājate: Aquele que está radiante com um esplendor especial. E quem não possui em mente o
desejo de desfrute material e que, em vez disso, está sempre pensando em bhagavat-bhakti, é
denominado mahārāja. Aqui esta palavra pode se referir ao Mahārāja Par…k�it e também pode
significar os mais encantadores passatempos de K��Ša com os sakhās, ou a melhor das l…lās.
Se alguém ouve e canta as descrições desses passatempos onde K��Ša está brincando em toda
Sua glória com os sakhās, então também irá se tornar plenamente glorioso e poderá ser
chamado de Mahārāja.
Ao ouvir como ®ukadeva Gosvām… descreveu os sakhās relaxando K��Ša, como o
coração de K��Ša se derreteu de afeição e como Ele ficou tão saturado que era incapaz de se
mover, o Mahārāja Par…ksit disse:
— Vejam só! Quem é capaz de conceber essa boa fortuna?
Essa descrição o deixou tão influenciado que as lágrimas começaram a rolar por suas
faces e o seu coração também se derreteu. É por isso que nesse verso ®ukadeva Gosvām… se
refere a ele como mahārāja.
Mahā āja também pode se referir aos passatempos que são os melhores de todos. Com
o seu cantar, os gopas estão fazendo K��Ša lembrar-se das gop…s. Ficando muito satisfeito,
K��Ša sorri de um canto ao outro da face e os sakhās também começam a sorrir, pensando:
"Ele está gostando da nossa canção."
r
Mahā āja também pode ser um adjetivo para descrever os vaqueirinhos, cujos corações
estão sempre saturados com uma sakhya-bhāva natural e simples. Estando arrebatados com o
seu serviço íntimo para K��Ša, eles experimentam anurāga e às vezes até mahābhāva. Na sua
vātsalya, às vezes Mãe Ya�oda pode experimentar anurāga, mas ela nunca experimenta
mahābhāva. Às vezes esse sentimento ocorre a Subala, ®r…dāmā, Madhuma‰gala, Arjuna e
outros priya-narma-sakhās. Os corações resplandecem com a exuberância da rasa e eles
cantam doces canções que aumentam a ānanda tanto de K��Ša quanto deles próprios.
r
Capítulo XI — O Amor de Nanda e Ya�oda por K��Ša
A seguir, no coração de ®r…la Sanātana Gosvām… começaram a surgir sentimentos de
vātsalya-rasa e ele começa a citar versos que descrevem esse sentimento:
nandaƒ kim akarod brahmana
�reya eva mahodayam
ya�oda vā mahā-bhāga
pāpau yasyāƒ stanaˆ hariƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.8.46 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.126
®r… Par…k�it Mahārāja perguntou:
— Meu querido brāhmaŠa, que sādhana supremamente auspicioso Nanda realizou e a
que austeridades se submeteu a supremamente afortunada Ya�oda para ter o seu seio sugado
por ®r… Hari?
Uma vez, depois que K��Ša comeu um pouco de terra, Mãe Ya�oda forçou-O a abrir a
boca e, quando o fez, viu a criação inteira dentro dela. Ao ver tantos universos com inúmeros
®a‰karas e Vi�Šus, ela pensou: "O que é isso?"
Quando K��Ša revelou Sua vi�va-r™pa (forma universal) para Arjuna, Arjuna pensou:
"Esse é Bhagavān!"
E de mãos postas, começou a oferecer preces, mas Ya�oda não fez isso. Tremendo, ela
pensou: "Será que algum fantasma me possuiu? Será que alguém jogou um mau-olhado no
meu filho? Será que essa é a māyā dos semideuses, ou o que será? O que aconteceu com o
meu filho?"
Esfregando os olhos, aturdida, ela olhou novamente e tudo desapareceu. Ela pensou:
"De quem é essa māyā? Como isso aconteceu?"
Ela não considerou: "Oh, Ele é Bhagavān!"
Continuou a vê-lO apenas como uma criancinha. Assustada, pegou K��Ša e foi até o
sacerdote da família e disse:
— Vi uma coisa assustadora na boca do meu filho! Por favor, livre-O dessa maldição!
O sacerdote da família disse:
— Não fique com medo, vou fazê-lO ficar bom imediatamente. Traga um pouco de
ouro, algumas roupas, um pouco de excremento de vaca e também algumas vacas para dar
de caridade aos brāhmaŠas.
Depois que ela trouxe todas essas coisas, o sacerdote cantou os mantras apropriados e
a mente de Mãe Ya�oda logo se tranqüilizou.
Nesse verso Par…k�it Mahārāja diz:
— Nanda Bābā considera que K��Ša é o seu filho e O ama muito. Ele põe K��Ša no colo
e diz: "Meu filho querido! Meu filho querido!" E por esse motivo ele é mahodaya. Mais
elevada do que ele é Mãe Ya�oda, que é mahā-bhāga — a mais afortunada! Apesar de Hari
roubar os corações de todos, ela o carrega no colo e dá os seios para Ele mamar! Que
atividades piedosas eles realizaram nas vidas anteriores para poderem receber essas bênçãos?
Agora ®r…la Sanātana Gosvām… começará a descrever a boa fortuna de Ya�oda e Nanda
Bābā, para que o humor de serviço que eles possuem possa começar a surgir dentro de nós.
Por ouvir as descrições desses passatempos, todas as contaminações dos nossos corações
serão erradicadas e os sentimentos de amor espontâneo por K��Ša ficará perpetuamente
estabelecido dentro deles. Se ouvirmos essas descrições durante o dia e se meditarmos nelas
durante a noite, isso será chamado smaraŠa e dela poderá surgir samādhi, e será que existe
um sādhana mais elevado que esse? Enquanto ouvia o ®r…mad Bhāgavatam de ®ukadeva
Gosvām…, Mahārāja Par…k�it só continuava atento e raramente falava alguma coisa. Por ouvir
harikātha o nosso coração ficará completamente purificado, enquanto que por praticar
qualquer outro processo de vaidh…-bhakti, isso não ocorrerá tão facilmente.
A vi�va-r™pa é um aspecto da ai�varya de Bhagavān, mas ao vê-la, Mãe Ya�oda não
sentiu nem um traço de ai�varya-bhāva. Pelo contrário, o seu prema por K��Ša aumentou e
ela continuou a vê-lO meramente como uma criancinha, banhando-O com excremento e urina
de vaca para conceder-Lhe auspiciosidade. Bhagavān é a personificação da auspiciosidade e,
no entanto, para trazer-Lhe ainda mais auspiciosidade, ela cantou mantras e deu caridade aos
brāhmaŠas! ®r…la Sanātana Gosvām… diz aqui no seu comentário que se alguém ouve essas
descrições de Ya�oda, se esforçando para trazer auspiciosidade a K��Ša, muito em breve essa
mesma auspiciosidade o atingirá. Se um sādhaka ouve essas descrições com amor e medita
profundamente nelas, sua tendência por ai�varya-bhāva será impedida e ele poderá sentir a
pura vātsalya-bhāva. Por isso, Ya�odama…yā não ficou encoberta por ai�varya-bhāva, devido
aos préstimos de Yogamāyā e ela foi capaz de saborear mādhurya-bhāva (onde o devoto
nunca considera K��Ša como sendo o próprio Bhagavān, mas apenas o seu amigo, filho ou
amante). Ficando muito surpreso, Par…k�it Mahārāja disse:
— Vejam! Ya�oda possui mais boa fortuna que Nanda! Nanda certamente é
afortunado, isso é verdade. Mas Ya�oda é ainda mais do que ele, porque conseguiu até
amarrar K��Ša, enquanto que Nanda só pôde desamarrá-lO mais tarde.
Nesse verso Par…k�it Mahārāja se refere a ®ukadeva Gosvām… como brāhmaŠa e ®r…la
Sanātana Gosvām… diz em seu comentário que ®ukadeva Gosvām… é a encarnação do
Parabrahma. Geralmente não dizemos isso de um devoto, mas ele o fez porque aqui brahma
significa aquele que fala harikātha num nível tão elevado que aumenta o prema dos outros. A
j…va é parte integrante do Parabrahma, mas quando se refugia no Parabrahma, experimenta
prema como parte do todo. Como ®ukadeva Gosvām… aumenta esse prema, ele foi aqui
considerado a própria m™rti do Parabrahma.
Par…k�it Mahārāja está indagando:
— Que atividades auspiciosas Nanda e Ya�oda realizaram para receber K��Ša como
filho? Que atividades Prahlāda Mahārāja realizou para receber bhakti de Bhagavān? Ele, sem
o saber, jejuou e fez vigília durante a noite inteira durante o N�siˆha Caturda�… e na sua
próxima vida, enquanto estava no ventre de sua mãe, ouviu bhagavat-tattva de Nārada por
sessenta mil anos e quando nasceu tornou-se o grande devoto Prahlāda Mahārāja. Por ficar
em companhia do guru e dos vai�Šavas, uma pessoa pode se tornar assim. Isso também vale
para nós: se observarmos Janmā�˜am…, Gaura-p™rŠimā ou N�siˆha-caturda�…, jejuando e
ouvindo harikātha o dia todo, servindo ao guru e aos vai�Šavas com grande entusiasmo e
amor — mesmo que não seja por sessenta mil anos, e nem mesmo por sessenta anos, mas
apenas por seis meses ou até por seis dias — então isso é sādhana.
Nas vidas de grandes devotos como R™pa e Sanātana esse espírito entusiástico pode ser
observado. Mas ao ficar aturdido e sentindo que nesse mundo é impossível realizar
atividades que propiciem ter K��Ša como filho, Par…k�it Mahārāja fez essa pergunta. Ele ficou
atônito com esse vātsalya-prema elevado que Ya�oda e Nanda possuem por K��Ša.
Bhagavān teve inúmeros pais, mas nem Vasudeva e Devak…, nem Da�aratha e
Kau�alyā, nem Ka�yapa e Aditi, possuíram esses sentimentos maravilhosos por Ele como
tiveram Ya�oda e Nanda. Vasudeva e Devak… foram incapazes de saborear a rasa da l…lā de
K��Ša. Imediatamente após o nascimento de K��Ša, Vasudeva O levou para Gokula e foi lá
que Sua l…lā começou. Na primeira manhã Ya�oda foi despertada pelo choro de K��Ša e um
imenso festival de bem-aventurança teve início. A notícia do nascimento de K��Ša se
espalhou por todas as direções e as pessoas vieram de todos os rincões para vê-lO. Os
residentes de Gokula saborearam a rasa da bāla-l…lā de K��Ša, mas Vasudeva e Devak… foram
incapazes de saborear uma única gota dessa rasa.
Em suas vidas anteriores, Nanda fora o semideus Vasu DroŠa e Ya�oda fora a sua
esposa Dharā, com o propósito de obterem um filho maravilhoso, realizaram austeridades
muito severas. Depois de algum tempo, Brahmā apareceu diante deles e disse:
— Vocês podem me pedir qualquer bênção.
Eles disseram:
— Assim como os pais amam o filho, desejamos ter esse tipo de amor por Bhagavān.
Brahmā respondeu:
— Que assim seja.
®r…la Sanātana Gosvām… também diz que Vasudeva e Devak… em suas vidas passadas
foram Ka�yapa e Aditi e que eles realizaram austeridades até que Bhagavān apareceu diante e
perguntou o que eles desejavam. Eles responderam:
— Desejamos um filho como você.
Bhagavān disse:
— Não existe ninguém como Eu, por isso Eu mesmo serei filho de vocês.
Bhagavān deu essa bênção pessoalmente e antes disso Brahmā havia dado esta bênção.
Mas se Brahmā não possui vātsalya-prema, como foi que ele pôde dá-la? A resposta é que
Bhagavān protege as palavras de Seus devotos, e também porque Brahmā conhece o presente,
passado e futuro, e sabia que em breve Bhagavān iria nascer em Gokula e realizaria
passatempos infantis, por isso ele deu suas bênçãos para DroŠa e Dharā e mais tarde
Bhagavān cumpriu as palavras de Brahmā e apareceu como filho deles.
DroŠa e Dharā eram j…vas comuns? Não; eles eram porções plenárias de Nanda e
Ya�oda que, com o propósito de mostrar às pessoas desse mundo o tipo de sādhana
necessário para conquistar completamente Bhagavān, realizaram austeridades severas para
receberem a bênção de ter Bhagavān como filho. Tanto Bhagavān quanto Seus devotos
podem conceder bênçãos, mas seguramente a bênção do devoto será mais poderosa e mais
plena de rasa. Portanto Bhagavān cumpriu a bênção dada a DroŠa e Dharā que na vida
seguinte eles apareceram em suas formas originais como Nanda e Ya�oda e receberam K��Ša
como filho.
Em comparação com as bênçãos dadas por Bhagavān, a bênção dada pelo devoto será
superior e irá conceder mais sabor. Se Rāmacandra fizer um voto e Hanumān também e se
seus votos forem conflitantes, qual voto será triunfante? Uma vez, ao ver as ofensas de um
certo homem, Rāmacandraj… lhe disse:
— Amanhã de manhã pode estar certo que irei matá-lo.
Como seria possível salvá-lo? Ninguém mais poderia salvar esse homem. Mais tarde
naquele dia, enquanto Nārada estava passando por lá, notou aquele homem e ao ver a sua
face, disse:
— Meu amigo, o que há de errado? Por que sua face espelha o desespero?
O homem respondeu:
— Rāmacandra fez o voto de me matar amanhã.
Agarrando nos pés de Nārada, ele implorou:
— Prabhu, por favor, me proteja!
Nārada disse:
— Eu? Não sou capaz de salvá-lo, mas você pode fazer o seguinte: vá agarrar-se aos
pés de Hanumān e não deixe-o ir embora! Não lhe diga o motivo pelo qual você se agarrou
aos seus pés, apenas implore a ele que faça um voto de sempre protegê-lo. Depois disso, você
pode revelar-lhe a natureza do seu dilema.
E assim esse homem se aproximou de Hanumān e, caindo aos seus pés, agarrou-os e
implorou:
— Ó Prabhu! Por favor me proteja, por favor me proteja!
Hanumān respondeu:
— Ei! O que você quer? Largue meus pés!
— Não Prabhu, nunca os deixarei! Somente quando você fizer o voto de sempre
proteger-me é que o deixarei partir!
— Está bem, está bem, eu sempre protegerei você, mas por que tudo isso?
— É que Rāmacandra fez o voto de me matar antes do nascer do sol amanhã e
seguramente Ele irá me matar.
— Ora, então é isso! E quem foi que lhe disse para fazer o que fez? Você deve ter
encontrado alguém muito inteligente... ou você tem um guru?
— Foi Nārada.
Essa é a natureza de Nārada, às vezes ele provoca discórdia entre Bhagavān e Seus
servos. E quando chegou a manhã, Hanumān disse para o homem:
— Fique atrás de mim e tudo vai dar certo.
Ao ver que Rāma ia chegando, Hanumān pegou sua maça e assumiu uma pose de
guerreiro. Fixando uma flecha no Seu arco, Rāma disse:
— Agora vou matar esse ofensor.
Hanumān respondeu:
— Prabhu, se Você tem o desejo de matá-lo, só poderá fazê-lo se passar sobre meu
cadáver! Fiz o voto de sempre protegê-lo.
Então Rāma retraiu o arco, retirou Seu voto e honrou o voto de Hanumān. Dentre
todas as Suas qualidades, a afeição especial de Bhagavān por Seus devotos é a qualidade
suprema. Por isso Ele cumpriu a bênção que Brahmā havia dado para DroŠa e Dharā.
Estamos mais interessados em nos abrigar nos devotos parama-prem… de Bhagavān.
Essa é a característica daqueles que estão na nossa Gau�…ya sampradāya — na verdade não
buscamos refúgio em K��Ša. Mesmo sabendo que é Ele quem possui todas as �aktis, e que é
um oceano ilimitado de rasa, supremamente misericordioso, e que tem afeição especial por
Seus devotos, que é ilimitado e que é a causa de todas as causas — em quem nos refugiamos?
Em ®r…mat… Rādhikā e se não nos refugiamos diretamente nEla, o fazemos em Lalitā ou em
Vi�ākhā e temos o anseio de nos tornarmos uma dās… de uma dās… de uma dās… de Rādhikā.
Devemos sempre nos considerar um devoto de um devoto de um devoto e então K��Ša ficará
mais satisfeito conosco. Ele disse:
— Quem diz que é Meu devoto na verdade não é Meu devoto. Mas quem diz que é
devoto do Meu devoto está mais próximo de Mim.
Em seguida vem o verso:
tato bhaktir bhagavati
putr…-bh™te janārdane
dam-patyor nitarām ās…d
gopa-gop…�u bhārata
®r…mad Bhāgavatam 10.8.51 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.127
®r… ®ukadeva Gosvām… respondeu: "Ó Bharata, para cumprir a promessa de Seu devoto
querido, Brahmā, o destruidor do mal, Svayam Bhagavān ®r… K��Ša, apareceu como filho de
Nanda e Ya�oda. Em comparação com os outros gopas e gop…s, esse casal tinha o maior amor
por Ele."
Nesse verso, ®ukadeva Gosvām… se dirige a Par…k�it Mahārāja como bharata. O
significado comum dessa palavra é indicar que Mahārāja Par…k�it era o líder de sua dinastia
depois da grande batalha de Kuruk�etra, mas a palavra bharata também pode ser
interpretada assim: bhā pode significar bhāvati, e rata pode significar rati. Assim, o
verdadeiro significado é indicar aquele que possui um rati ou prema especial pelos pés de
Bhagavān. Vejam o respeito que ®ukadeva Gosvām… está lhe dando! Esse verso diz que em
Vraja havia inúmeros casais de gopas e gop…s que tiveram filhos, e todos eles tinham vātsalya-
prema por K��Ša. Ao desejar saborear o amor paterno deles, K��Ša expandiu-se em inúmeros
vaqueirinhos e tornou-se filho deles por um ano, e durante esse período, saboreou esta
vātsalya-rasa e todos os pais que O nutriram nessa época também o sentiram. Mas entre todos
esses casais, Ya�oda e Nanda ainda eram os que tinham os sentimentos mais intensos de
vātsalya por Ele.
Os outros casais amavam K��Ša até mais do que aos seus filhos e somente quando Ele
se expandiu como seus filhos durante a Brahma-vimohana-l…lā é que eles mostraram a mesma
afeição que tinham por K��Ša a seus filhos.
Ele também se expandiu nos bezerros para que as vacas pudessem saborear vātsalya-
rasa e claro que também Ele era filho de Devak… e Vasudeva. Mas como foi descrito no verso
anterior, ninguém mais experimentou o êxtase que Ya�oda sentia enquanto K��Ša sugava
seus seios. Devak… pode ter experimentado isso durante alguns segundos, porque
imediatamente após o nascimento K��Ša foi levado para Gokula. Nessa ocasião o leite surgiu
em seus seios e K��Ša era um bebezinho que estaria apto a mamar seu leite, mas Ele foi
levado embora. Assim que K��Ša surgiu diante deles na prisão, eles ofereceram-Lhe suas
preces de mãos postas; mais tarde, quando K��Ša regressou para Mathurā e os libertou, K��Ša
encobriu essa ai�varya-bhāva com Sua Yogamāyā. Ele sentou-se no colo de Devak… e chorou:
— Mãe, Mãe!
Mas naquela ocasião ela não poderia tê-lO amamentado. Já haviam se passado onze
anos e a oportunidade de amamentar K��Ša já havia sido perdida há muito tempo.
Por isso esse verso diz que esse dam-patyor, esse casal Ya�oda e Nanda, eram
superiores a todos os outros casais de gopas e gop…s de Vraja. Eles experimentaram inúmeros
sentimentos maravilhosos de amor paternal, mas muito poucos foram relatados no ®r…mad
Bhāgavatam. O passatempos onde Dāmodara foi amarrado por Ya�oda está descrito e o
®r…mad Bhāgavatam também descreve a época em que K��Ša era bem pequenino, pulou do
colo de Ya�oda e começou a engatinhar até a porta. Mas ao ouvir o som de tilintar, Ele se
voltou para ver de onde vinha aquele som e ficou atônico ao notar que ele vinha das Suas
próprias tornozeleiras. Então Ya�oda logo pegou-O e colocou de volta no colo. Devak… nunca
pôde experimentar nada disso e nenhuma outra gop… de Vraja pôde experimentar tantos
sentimentos de vātsalya. O ®r…mad Bhāgavatam descreveu apenas alguns desses
passatempos, mas Ya�oda sentiu incontáveis sentimentos maravilhosos, tais como os que
sentiu quando K��Ša brincava e mamava seus seios. E compreender seus sentimentos
elevados é muito difícil.
Quando Uddhava visitou V�ndāvana, viu Nanda e Ya�oda. Nanda estava chorando
amargamente e Uddhava não podia entender por que ele estava chorando. Até quase o final
da sua estadia em Vraja, Uddhava não pôde entender completamente por que Nanda estava
chorando tão amargamente. Uddhava pensou: "K��Ša é o Parabrahma, na verdade Ele não
pode ser o filho de alguém! Como Nanda pode ter esses sentimentos por Ele? Isso é algum
tipo de ilusão? Sei perfeitamente bem que K��Ša é Bhagavān, então como posso conceber a
idéia de que Ele é meu amigo?"
Uddhava só podia sentir ai�varya-bhāva por Bhagavān, por isso ao ver a bhāva de
Nanda Bābā ele não pôde compreendê-la. Foi assim que ele se sentiu ao ver a grandeza da
mādhurya-bhāva de Nanda Bābā. Quando olhamos um prédio de uma andar, nossa cabeça
pode ser mantida no mesmo nível que olhamos para frente. Mas quando olhamos para um
prédio de sete andares, então devemos inclinar ligeiramente a cabeça para trás. E quando
olhamos de uma montanha muito alta, devemos inclinar a cabeça bem mais, tanto que se
estivermos usando chapéu, ele cairá. Portanto ao olhar para a enorme montanha de
mādhurya-bhāva de Nanda Bābā, foi como se o chapéu de ai�varya-bhāva de Uddhava
tivesse caído! Ainda que muito inteligente, um paŠ�ita, e discípulo de B�haspati, Uddhava
não podia compreender.
"Por que ele está chorando assim? Seguramente é um indício de boa fortuna que K��Ša
tenha aparecido em sua casa! Está bem, mas K��Ša pediu que viesse consolar Seus pais. E o
que vou dizer a ele? Vou dizer: `Nanda Bābā, você é tão afortunado! Não há ninguém nesse
universo mais afortunado do que Você! Por favor, chore mais, muito mais! Dizem que uma
única lágrima vertida por Bhagavān traz o pleno sucesso à vida de qualquer pessoa!' Os
devotos oram para que chegue o dia em que, ao ouvirem as narrativas dos passatempos de
Bhagavān, ao cantarem Seu nome e ao verem os locais onde Bhagavān realizou Seus
passatempos, possam derramar lágrimas e suas vozes fiquem embargadas a ponto de não
poderem sequer ser proferir Seu nome adequadamente! E agora estou vendo Nanda Bābā
chorando e ele está chorando tão amargamente que acho que nunca mais vai parar!"
Diz-se que se alguém derrama uma lágrima de amor por Bhagavān sua vida
automaticamente se torna bem-sucedida e ele se torna o purificador dos três mundos. Há um
verso onde Uddhava diz:
vande nanda-vraja-str…Šāˆ
pāda-reŠum abh…k�Ša�aƒ
yāsāˆ hari-kathodg…taˆ
punāti bhuvana-trayam
®r…mad Bhāgavatam 10.47.63
"Ofereço as minhas repetidas reverências à poeira dos pés das mulheres da vila
pastoril de Nanda Mahārāja. Quando elas cantam em voz alta as glórias de ®r… K��Ša, a
vibração purifica os três mundos."
Por que o kathā delas purifica os três mundos? As canções chorosas, profundamente
emotivas que elas cantam umas para as outras se tornaram os �lokas do Décimo Canto do
®r…mad Bhāgavatam e as escrituras dizem que quando alguém obtém um dar�ana de uma
grande personalidade que está chorando assim, a sua vida se torna bem-sucedida. Mas será
que alguma vez já choramos ao ouvir a descrição dos passatempos de K��Ša ou enquanto
cantamos o santo nome? Portanto, digam-me o quão afortunado é Nanda Bābā para estar
chorando, pensando que K��Ša é o seu filho?
Por isso Uddhava estava pensando: "Será que devo dizer: `Nanda Mahārāja, você é
muito afortunado, por favor, chore cada vez mais, porque hoje, por ter recebido o seu
dar�ana, minha vida se tornou bem-sucedida?' Isso vai ser como jogar gh… no fogo! Mas se eu
disser: `Nanda Mahārāja, por favor, não chore, se acalme', isso estará em desacordo com as
escrituras."
Esse era o dilema curioso de Uddhava e era como se ele estivesse numa cilada.
"Se eu disser para ele não chorar, isso estará em desacordo com as escrituras e serei
punido. Se eu disser para ele chorar mais, não poderei cumprir o que K��Ša me mandou
fazer. Devo dizer pra ele chorar mais ou devo dizer que pare de chorar?"
Uddhava era incapaz de tomar uma decisão, então ele misturou as duas alternativas e
disse:
— Nanda Mahārāja, você é a pessoa mais afortunada, mas não chore por favor.
Uddhava ficou confuso porque K��Ša havia pedido que fosse para Vraja consolar Seus
pais.
Sentada ali perto estava Ya�oda, outra alma afortunada. Suas lágrimas já haviam
secado há bastante tempo e ela já nem podia mais chorar. Seus olhos estavam com uma
grande olheira e ela parecia um esqueleto. Num certo sentido ela morreu no dia em que
Akr™ra levou K��Ša para Mathurā e mais tarde ela mandou uma mensagem para K��Ša: "Não
tenho sequer qualificação para chamá-lO de `meu filho'. Agora Você foi para Mathurā e
aceitou Devak… e Vasudeva como Seus pais. Enquanto por onze anos Você e Baladeva
estiveram aqui, foram as nossas vidas. Como Sua dhātri — como quem criou Vocês — eu os
segurei no colo e Os protegi, fiz tudo o que poderia se esperar de uma dhātri. Os cucos põem
seus ovos nos ninhos dos corvos e os corvos os chocam até que eles ecludam. Quando eles
eclodem, então a mãe cuco volta e pega os filhotes, levando-os para o ninho para criá-los, e os
corvos ficam só olhando admirados. Nossa situação é exatamente essa."
Então K��Ša mandou uma mensagem de volta a Ya�oda através de Uddhava: "Como
você usou a palavra dhātri para se descrever, Eu e Baladeva vamos abandonar Nossas vidas
imediatamente! Só estou mantendo Minha vida para vê-la novamente; de outra maneira
deveria morrer agora mesmo. Esteja certa que estaremos de volta o mais breve possível,
porque além de vocês, não temos outros pais. Por isso, Mãe, por favor, faça o seguinte: Papai
deve estar chorando, as vacas e os bezerros também, as plantas que plantei devem estar
secando e os bezerros que costumávamos levar para pastar já não querem sair e devem estar
morrendo. Por favor, cuide deles enquanto isso; eles pararam de comer por sentirem muitas
saudades de Mim."
Ao presenciar e ouvir tudo isso, Uddhava ficou atônito. Ya�oda era incapaz de falar; só
podia gaguejar baixinho. A afeição de Ya�oda por K��Ša, seu vātsalya-prema, era ilimitado,
como um oceano insondável. Uddhava não era capaz de consolá-la. Nossos Gosvām…s não
descreveram muito essa vātsalya-bhāva, porque pouquíssima gente estaria qualificada para
ouvir sobre isso. Por isso elas a mantiveram oculta.
A palavra janārdane que aparece nesse verso tem dois significados. Aquele que destrói
tudo que se opõe à devoção e que estabelece bhakti é chamado Janārdana e ardana também
significa prece. Por isso ela pode se referir a DroŠa e Dharā, que oraram para Brahmā para
receberem este Janārdana como filho, cujas preces foram plenamente satisfeitas e que
saborearam o mais alto grau de vātsalya-bhāva. A bhāva de Nanda e Ya�oda é mais elevada
do que a vātsalya-bhāva de todos os demais gopas e gop…s de Vraja e esse é o significado
desse verso.
Capítulo XII — O Bhakti de Mãe Ya�oda é Indescritível
O fato de DroŠa e Dharā terem recebido a bênção de Brahmā de terem amor paternal
por K��Ša é semelhante ao fato de K��Ša ter recebido a bênção de ®a‰kara de ter Sāmba como
Seu filho. Naquela ocasião, em Dvārāka, K��Ša realizou grandes austeridades para instruir as
pessoas como, com a adoração de ®a‰kara, pode-se obter toda fortuna material. Na realidade
ninguém pode ser filho de K��Ša — Pradyumna, Anirudha, Sāmba —todos são porções
plenárias de Bhagavān, mas apareceram como filhos dEle. Ya�oda e Nanda Bābā são os pais
eternos de K��Ša, mas para mostrar que é necessário um pouco de austeridade para alcançar
prema por K��Ša foi dada essa bênção a DroŠa e Dharā. Todas as encarnações em VaikuŠ˜ha
são porções plenárias de NārāyaŠa e de maneira análoga, DroŠa e Dharā, Vasudeva e Devak…,
Da�aratha e Kau�alya e Ka�yapa e Aditi são todos expansões de Nanda e Ya�oda. No entanto,
dentre todos os associados eternos de Bhagavān, os associados de K��Ša são os melhores.
nandaƒ sva putram ādāya -
pro�yāgata udāra-dh…ƒ
m™rdhny avaghrāya paramaˆ
mudaˆ lebhe kur™dvaha
®r…mad Bhāgavatam 10.6.43 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.128
"Quando o magnânimo Nanda regressou de Mathurā, pegou seu filho K��Ša no colo e
sentia um prazer imenso ao repetidamente cheirar Sua cabeça."
Antes de K��Ša nascer Nanda Bābā era muito desapegado da vida mundana, mas
depois que K��Ša "nasceu" ele se tornou alucinado de tanto apego por Ele. Antes do
nascimento de K��Ša, Nanda Bābā nunca viu nenhuma necessidade de ir ao reino de Kaˆsa.
Mas depois que Ele nasceu, era necessário algum dinheiro para o Seu sustento e foi por esse
motivo que Nanda Bābā foi até Mathurā. Lá ele conversou com Vasudeva, que lhe disse:
— Por favor, volte depressa para Gokula! Os demônios irão criar perturbações em todas
as direções! Kaˆsa está decidido a matar todas as crianças que nasceram nesses últimos dez
dias. Por isso, por favor, volte depressa!
Enquanto Nanda Bābā voltava para Gokula viu à beira da estrada o corpo enorme de
P™tanā e, preocupado com o bem-estar de K��Ša, voltou rapidamente para casa.
Ao chegar lá e verificar que K��Ša estava bem, foi como se a própria vida houvesse
regressado ao seu corpo. Seus antigos sentimentos de desapego já não poderiam mais
subsistir. Ao pegar K��Ša no colo, o magnânimo Nanda Mahārāja cheirava o tempo todo a
Sua cabeça, dizendo:
— Bhagavān salvou Você de uma catástrofe!
Então ele ouviu seu irmão, Upananda e os outros gopas contarem como a āk�as…
P™tanā pegou K��Ša no colo e forçou-O a pôr a boca em seus seios. Ela havia colocado veneno
nos seios e assim, como foi possível que K��Ša se salvasse? Em seguida ela subiu ao céu
porque K��Ša havia se agarrado nela e não a deixava ir embora pois achava que assim com
essa manobra chegaria onde Kaˆsa estava e K��Ša iria se desgrudar dela. Ela achou que iria
chegar lá em um minuto, mas K��Ša sugou-lhe o seio com tanta força que não apenas sugou
todo o veneno que ali havia, como também a própria vida dela. Ao ouvir como K��Ša fora
salvo das garras da morte, as lágrimas de Nanda molharam o corpo de K��Ša.
r
Nesse verso estão as palavras sva-putra, que significa que K��Ša era filho de Nanda e
também pro�yāgata, que quer dizer que Nanda não era o pai verdadeiro de K��Ša, e sim
aquele que o sustinha. A maioria das pessoas acredita que Nanda Mahārāja era o pro�yāgata
de K��Ša, o pai adotivo, e que Seus pais verdadeiros eram Vasudeva e Devak…. Vasudeva
levou K��Ša para Gokula e lá Nanda O criou. Mas Nanda Bābā confiava naquilo que havia
visto com seus próprios olhos — que K��Ša havia nascido do ventre de Ya�oda dentro de sua
casa. Ele não tinha dúvida alguma em sua mente, mas Vasudeva por sua vez também não
tinha a menor dúvida de que K��Ša era seu filho. Se K��Ša houvesse nascido na casa de
Nanda, como Ele poderia ter seus relacionamentos com as meninas de lá? Elas eram filhas
dos irmãos de Nanda e portanto seriam primas de K��Ša. Como seria possível que K��Ša
tivesse relacionamentos amorosos com Suas próprias primas? Na verdade, as gop…s são a
hlādin…-�akti de K��Ša, mas para evitar que as pessoas comuns ficassem criticando que Ele
praticava a rāsa com próprias primas Ele resolveu nascer em Mathurā para evitar esse
falatório. Por isso dizem que K��Ša é, na verdade, filho de Vasudeva mas nesse verso Ele é
considerado como sva-putra de Nanda, o seu filho. Que evidência maior pode haver?
Nandaƒ sva-putra ādāya pro�yāgata udāra-dh…ƒ — com sentimentos puros, naturais, de
grande afeição partenal, Nanda pegou seu filho no colo e O nutriu. Aqui, o significado da
palavra pro�yāgata é nutrir.
Depois de matar Kaˆsa, Nanda ficou em sua residência em Mathurā aguardando, e
estava muito infeliz pensando: "Já passaram mais de vinte e quatro horas desde que Kaˆsa
foi morto e até agora ninguém veio me trazer qualquer notícia de K��Ša e Balarāma, nem
Vasudeva, nem Ugrasena e nem Akr™ra. K��Ša e Balarāma também não vieram; mas como
Eles são crianças, não faz mal, mas por que os outros não vieram? Ouvi dizer que as pessoas
andam comentando que na verdade Eles são filhos de Vasudeva."
Como ninguém aparecia para lhe dar qualquer notícia, Nanda Bābā estava chorando,
solitário, pensando: "O que irei fazer? Será que devo ir até o palácio de Vasudeva para me
encontrar com ele?"
Logo que escureceu K��Ša e Balarāma vieram vê-lo. Vieram a sós. Viram que Seu pai
estava muito triste, com a cabeça prostrada entre as mãos. Eles sentaram-se no colo dele e
ergueram o queixo de Seu pai, K��Ša disse:
— Pai, por que você está triste assim, solitário e cabisbaixo?
Olhando para Baladeva, Nanda disse:
— Meu filho, por que Você não veio mais cedo?
Baladeva respondeu:
— Pai aconteceu uma coisa muito estranha! Muitas pessoas estão dizendo que somos
na verdade filhos de Vasudeva, mas Eu não aceitei isso. Mesmo se fôssemos filhos de
Vasudeva não conhecemos nenhum outro pai além de você! Se por algum motivo os pais
renunciam ao filho, então quem o cria são os verdadeiros pais. Existem vários tipos diferentes
de pais: aqueles que concebem, aqueles que criam, o rei, o guru, o sogro e o sacerdote da
família. Mas dentre eles, o melhor é aquele que cria e protege. Portanto sou seu filho e não
conheço outro pai além de você. Não desejo ficar em Mathurā nem mais um segundo; quero
acompanhar você e K��Ša imediatamente até Vraja!
Nanda Bābā disse:
— Meu filho, não fale assim! Se meu irmão mais novo Vasudeva ouvir Você falar isso,
irá morrer e Devak… também!
Nanda Bābā disse isso por que sabia que eles poderiam morrer de verdade e por isso
ele é mais magnânimo que Vasudeva e Devak…, que não estavam lá muito preocupados com
os sentimentos dos vrajavās…s enquanto K��Ša estava em Mathurā. Ele disse para Baladeva:
— Seis filhos deles foram mortos e foi com grande dificuldade que foram capazes de
salvá-lOs. Se Vocês não tivessem sido levados para Gokula, também teriam sido mortos.
Portanto estão eternamente endividados com Vasudeva e por isso Você deve ficar aqui! Eu
levarei K��Ša e voltarei para Gokula.
Baladeva respondeu:
— Não ficarei sem K��Ša nem por um segundo! Eu o considero meu único pai e K��Ša
o meu único irmão!
Então Nanda Bābā olhou para K��Ša, porque na Sua infância K��Ša havia sempre dado
bons conselhos a Nanda, e perguntou o que devia fazer. K��Ša respondeu:
— Na Minha opinião não seria muito auspicioso que Baladeva Prabhu fosse para Vraja
deixando Vasudeva e Devak… numa situação difícil. Se Eu for, então ele também deve ir. Por
isso, se nos der permissão, ficaremos por aqui mais alguns dias e mais tarde voltaremos
juntos.
O que Ele dizia estava influenciando um pouco Nanda Bābā que se manteve em
silêncio. K��Ša continuou:
— Estou pronto para acompanhá-lo agora, mas se o fizer, irão dizer: "Nanda Bābā é
muito cruel! Mesmo sabendo que todos os filhos de Vasudeva e Devak… foram mortos, ele
levou K��Ša e Balarama para Gokula, deixando-os para morrerem desamparados!" Por favor,
não faça isso. Já que Kaˆsa foi morto, só precisamos de alguns dias para completarmos nosso
trabalho aqui, matando todos os demônios que sobraram. Por favor, volte para casa.
Comentando esse evento, ®r…la Visvanātha Cakravart… µhākura diz que uma pessoa
ficará onde receber mais afeição, seja de onde for. Toda j…va, até mesmo um cão, está sedento
de amor. É verdade que K��Ša não poderia receber o prema de Vraja em nenhum outro lugar.
Não seria capaz de obter sequer uma fração do amor que Ya�oda e Nanda tinham por Ele,
nem em Mathurā e nem em Dvārāka. E o prema que as gop…s tinham por Ele era tão puro que
em nenhum outro local do universo seria encontrado. Será que Ele iria abandonar esse prema
para viver em Mathurā? ®r…la Visvanātha Cakravart… µhākura diz:
— Não temos nenhuma fé nisso. As pessoas podem dizer que Ele saiu de Vraja e foi
para Mathurā, mas isso não é possível! Ele permaneceu em Vraja numa forma imanifesta.
Ninguém podia vê-lO, mas Ele estava lá. Quando Akr™ra levou K��Ša e Baladeva de carro
para Mathurā, na verdade levou Suas expansões no modo de ai�varya como os filhos de
Devak… e RohiŠ… e estes que foram para Mathurā. Mas Suas formas originais permaneceram
em Vraja, e ninguém sabia disso. Como isso foi possível? Devido à atividade de yogamāyā
�akti, que faz o impossível se tornar possível.
-
Portanto K��Ša permanece sempre em V�ndāvana; essa é a concepção especial dada
pelos Gosvām…s. Se K��Ša fosse capaz de sair de Vraja, isso indicaria que os residentes de
Vraja não O amavam de maneira suprema e que K��Ša também não os amava de maneira
suprema, mas essa idéia é impossível. Portanto K��Ša nunca deixa V�ndāvana.
Em seguida K��Ša começou a viver em Mathurā e todos os membros da dinastia Yadu
regressaram. Eles haviam debandado por medo das atrocidades de Kaˆsa, mas depois que
este foi morto, voltaram a viver em Mathurā com muita alegria. Enquanto isso, Ast… e Prāpt…,
as filhas de Jarāsandha que haviam se casado com Kaˆsa, foram reclamar com o seu pai:
— Oh, seu genro era uma pessoa impecável! Eles o arremessaram ao solo e o mataram
desarmado e indefeso!
Jarāsandha ficou muito irado e atacou Mathurā dezessete vezes com exércitos enormes.
K��Ša estava pensando: "Será que agora posso voltar para Vraja?"
Mas Ele não pôde ir, porque Vasudeva viu que K��Ša não havia sido educado
adequadamente; só havia levado as vacas pastar a vida toda. Então primeiro desejava que
K��Ša recebesse o saˆskāra do cordão sagrado e chamou Gargācārya até sua casa.
Todas as pessoas, quer próximas, quer de locais distantes, foram convidadas para a
cerimônia, mas vrajavās…s como Nanda e seu irmão Upananda não foram convidados de
propósito. Vasudeva e Devak… foram pedir conselho aos membros mais velhos da dinastia,
como Uddhava e Akr™ra e diante da assembléia de Ugrasena, foi decidido:
— Se convidarmos os moradores de Vraja para essa cerimônia a bhāva de Vraja ficará
estimulada dentro de K��Ša e seguramente Ele irá desejar voltar para Vraja com eles. Se essa
bhāva surgir dentro dEle, nenhum de nós será capaz de contê-la, portanto é melhor não
convidá-los.
K��Ša teve a cabeça raspada para essa cerimônia, deixando somente a �ikhā. Usando
sandálias de madeira e levando uma vara, Ele assumiu as vestes de um brahmacār…. Então
Gargamuni Lhe deu o gāyatr…-mantra e o cordão sagrado, e colocando as vestes de esmolar
em volta do pescoço, Gargamuni disse:
— Meu querido filho, agora vá pedir esmolas.
Algum tempo antes, em Vraja, Ya�oda havia dito a K��Ša:
— Quando Você receber o cordão sagrado, nós encheremos sua sacola de esmolar com
jóias.
Agora K��Ša estava se lembrando dessa ocasião e naquela grande assembléia, começou
a olhar ansioso para todas as direções:
— Onde está a Minha mãe?
Devak… estava toda ornamentada no melhor estilo, sentada diante de K��Ša para dar
esmola. E K��Ša estava ansioso, olhando e procurando em todos os lados:
— Onde está a Minha mãe? Onde está a Minha mãe?
Mas quando não a viu, foi acometido de uma aguda lembrança de Ya�oda e Ele
pensou: "Em algum lugar em Nanda-bhavana, Minha mãe está prostrada na soleira da porta.
Às vezes ela olhará para dentro de casa, outras olhará para fora. Estará chorando, não
sabendo onde estou e imaginando: `O que o meu filho estará fazendo nesse momento?' E Eu
estou aqui, aceitando esse cordão sagrado nessa celebração tão festiva."
Em prantos:
— Mãe! Mãe!
K��Ša caiu no chão inconsciente. Toda a excitação da ocasião e a coleta de esmolas
acabou na mesma hora, todos correram para acudir K��Ša e O levantaram. Ao testemunhar
esse espetáculo, os membros da dinastia Yadu disseram:
— Vejam só como é grande o apego que Ele tem por Vraja! Ele deve ser mandado para
um lugar bem distante para ser educado! Devemos mandá-lO para Ujjain e lá Ele poderá
começar a seguir Seus votos estritamente e as instruções do Seu guru. Ele deverá permanecer
por lá até quando o guru decidir que está apto e, ao regressar, Sua natureza estará mudada e
compreenderá que realmente é o filho de Vasudeva.
Por isso, eles O mandaram para lá. Os vrajavās…s de alguma maneira ficaram sabendo
disso e disseram:
— Eles Lhe deram o cordão sagrado por que acham que K��Ša é filho deles? Forçaram-
nO a se tornar um k�atriya através da cerimônia do cordão sagrado? E cruelmente O
mandaram para Ujjain para ser educado por Sānd…pani Muni que usa marcas horizontais na
testa, é um māyāvād… adorador de ®a‰kara! Por que mandaram K��Ša para ele?
Yogamāyā havia feito um arranjo para mandar K��Ša para Sānd…pani, porque se fosse
mandado para um vai�Šava, o vai�Šava iria reconhecê-lO. Por isso O enviaram para um
devoto de ®iva que não O reconheceria pois Sua identidade não deveria ser revelada. K��Ša
foi enviado para Ujjain e depois de sessenta e quatro dias aprendeu as sessenta e quatro artes.
Quando regressou de lá, mandou Uddhava para Vraja. Depois de falar com Uddhava,
uma das gop…s começou a falar com uma abelha, considerando-a uma mensageira de K��Ša:
api bata madhu-puryām ārya-putro `dhunāste
smarati sa pit�-gehān saumya bandh™ˆ� ca gopān
kvacid api sa kathā naƒ ki‰kar…Šāˆ g Š…te �
bhujam aguru-sugandhaˆ m™rdhny adhāsyat kadā nu
®r…mad Bhāgavatam 10.47.21
"Agora que K��Ša terminou Seus estudos no a�rama de Sānd…pani, será que voltará
para cá? Certamente não será capaz de permanecer em Mathurā! Será que está na estrada
voltando para cá agora? Ele Me disse há dois meses que voltaria `depois de amanhã,' mas
ainda assim não voltou. Será que ainda se lembra de nós? Será que se lembra de quem
colocava lindas guirlandas no Seu pescoço? Será que se lembra `Oh, a beleza da gop…s derrota
até a das mulheres mais belas do mundo? Será que se lembra de nós dessa maneira? Ou se
lembra de nós num sentido pejorativo? Pensando: `Ora, essas gop…s são umas meninas tolas
que trabalham com laticínios e não sabem nada.' Quando Ele ouve uma canção, ou vê alguém
dançar, será que se lembra de nós e dos sentimentos que compartilhamos, do prema dessas
dās…s insignificantes? Quando Ele voltará e nos fará destemidas ao colocar Suas mãos
perfumadas com aguru sobre as nossas cabeças, colocando Seus longos braços em volta de
nossos pescoços como fez na rāsa-l…lā?"
Analogamente Nanda Bābā e todos os residentes de Vraja tinham sentimentos muito
intensos por K��Ša desde a Sua infância, e apesar de Ele não mandar notícias de Mathurā ou
de Dvārāka, no final, na época apropriada para o s™rya-p™jā em Kuruk�etra, depois da guerra
que houve ali, sem serem chamados, Nanda Bābā, Ya�oda, as gop…s e todos os residentes de
Vraja foram para lá e encontraram-se com Ele novamente.
No verso que estamos discutindo está declarado sva-putram. A palavra sva, significa `o
próprio filho' e está sendo usada porque senão a palavra putra poderia significar que K��Ša
era o filho adotivo de Nanda. Portanto esse verso diz: "Pegando o seu próprio filho" — não
pegando o filho de Vasudeva — "ele O abraçava e beijava repetidamente". E devido à sua
grande afeição por K��Ša, Nanda experimentou paramaˆ, a suprema ānanda que nem
mesmo Vasudeva jamais sentiu. Ou outro significado de paramaˆ mudam pode ser que
Nanda sentia uma ānanda que nem sequer Mahā-Lak�m…, que é adorada por todos os
devotos, poderia ter.
Uddhavaāra-dh…ƒ — Nanda Bābā era muito generoso e magnânimo. No dia do festival
de aniversário de K��Ša ele doou vacas, jóias, vestuário e tudo o que tinha em caridade aos
brāhmaŠas. Uddhavaāra também pode significar muito inteligente. Se não fosse bem
inteligente, não teria pedido a Brahmā pela bênção de ter o mais elevado vātsalya-prema por
Bhagavān. Ele não havia pedido um filho comum, nem mesmo pretendia ter Bhagavān como
filho, só pediu por bhagavad-bhakti. Esse é o anseio apropriado — pedir por bhakti, por
prema. Os ācāryas na nossa sampradāya não consideram que alcançar k��Ša-prema seja a
meta final. Consideram que a meta é o k��Ša-prema dos vrajavās…s e, nessa modalidade,
especificamente o prema das gop…s. E nesse prema, o prema de Rādhā tem sido enfatizado.
Portanto a meta final é ter prema por K��Ša como Rādhā-vallabha.
Nanda implorou somente por bhagavad-bhakti e não para ter um filho. Já Vasudeva
orou: "Desejamos ter um filho como Você."
Nanda orou: "Desejamos ter vātsalya-prema por Você."
Quando Brahmā ofereceu a bênção a DroŠa e Dharā, DroŠa disse:
— Por favor, primeiro pergunte à minha esposa o que ela deseja.
Dharā respondeu:
— Quando o Parabrahma em pessoa nascer nesse mundo e for realizar Seus
passatempos humanóides maravilhosos, desejamos ter parama-bhakti por Ele.
Tanto a mãe quanto o pai amarão o filho, mas a mãe o amará mais. É a mãe quem
realmente nutre o filho, enquanto o pai providencia todas as necessidades, como vestuário e
alimentos. Se durante a noite o pai acordar com o choro da criança, ele poderá até desejar pôr
o filho para fora de casa! Mas a mãe ficará acordada a noite toda se for preciso amamentar,
confortar o filho e niná-lo. A mãe está pronta para enfrentar qualquer dificuldade e cuida do
filho de tal maneira que seria impossível para o pai.
Nanda uma vez foi a Mathurā para se encontrar com Vasudeva, falar sobre as taxas
que deveriam ser pagas a Kaˆsa e passou o dia inteiro fora de Vraja. Mas Ya�oda não iria
tolerar ficar longe de K��Ša nem por um instante, portanto a afeição de Ya�oda por K��Ša era
maior que a de Nanda. Quando Uddhava visitou Vraja, Nanda Bābā foi capaz de conversar
um pouco com ele, mas Ya�oda não pôde. Ela não poderia conversar na situação em que
estava; simplesmente ficou deitada no chão ali perto, chorando o tempo todo.
Quando Brahmā roubou os vaqueirinhos e os bezerros K��Ša assumiu as formas de
todos eles por um ano e bebeu o leite das gop…s mais velhas e das vacas. Descrever as glórias
dessas gop…s maternais e das vacas é muito difícil, o que dizer então de descrever as glórias
de Ya�oda? Ela amamentou K��Ša com muito prema durante o tempo todo em que Ele
residiu em V�ndāvana, e suas glórias são ilimitadas e insondáveis. Se alguém alcançar até
mesmo uma pequena partícula de bhakti por K��Ša, sentirá que sua vida tornou-se
completamente bem-sucedida. O que dizer então de Ya�oda? Não sei se teremos coragem de
tentar descrever o bhakti dela.
Depois que K��Ša foi embora de V�ndāvana, Mãe Ya�oda parou de fazer todo e
qualquer serviço doméstico. A cozinha vivia suja, as panelas de cabeça para baixo e havia
detritos por toda parte. Para quem ela iria cozinhar? Quando K��Ša estava presente ela
cozinhava com muita alegria para Ele, mas desanimou completamente quando K��Ša partiu.
Sentia que sem K��Ša não havia ninguém para quem cozinhar. Começou a exibir as
características de alguém que está chegando na velhice e numa tarde muito quente, enquanto
sentia uma grande infelicidade, lembrando-se dos inúmeros passatempos da infância de
K��Ša, ela imergiu em bhāva. Lá dentro de casa estavam os brinquedos de K��Ša, Suas
roupinhas, a flautinha de bambu o Seu bezerrinho de brinquedo... Ela pegou tudo aquilo e fez
uma trouxa, saiu de casa e começou a andar a esmo. Uma de suas amigas, que morava ali
perto, se aproximou dela e perguntou:
— Sakh…, onde você está indo?
Notando que ela estava indo para algum lugar, as outras comadres se reuniram em
volta dela e perguntaram:
— Mãe, onde você está indo?
Antes ela seria incapaz de falar, mesmo que o desejasse, ficaria com a voz embargada
de emoção e só poderia chorar. Mas agora ela disse:
— Vou onde quer que esteja o meu Kanhaiyā.
— O que? Onde está o seu Kanhaiyā? Aqui é Nandagrāma e Ele está em Mathurā! A
tarde está muito quente, o sol escaldante e o chão seguramente irá queimar seus pés, então
como poderá ir a algum lugar?
— Não posso viver sem Ele.
— E se for para Mathurā, o que irá fazer lá?
— Irei para lá e ao chegar no saguão de entrada, irei dizer: "Quero ver a rainha
Devak…." E se alguém me levar até ela, cairei aos seus pés e direi: "Serei sua dās… (criada) vida
após vida. Servirei o seu filho — Ele não é meu filho — e cozinharei para os dois. Serei sua
criada o tempo todo. Por favor, deixe que eu fique aqui no seu palácio, só irei comer suas
sobras e sempre servirei você. Essa é a única coisa que desejo.
Ao dizer isso, ficou tomada de emoção e caiu. Vejam o quanto ela amava Bhagavān na
forma de seu filho!
Os devotos de Vraja têm o mais elevado nível de amor por K��Ša. O amor deles nunca
vem e vai como o amor desse mundo; eles são todos associados eternos de K��Ša e o prema
deles é como um oceano insondável. Nos dias de chuva, mesmo que os rios transbordem e
fluam violentamente para o oceano, este nunca transborda. E nos dias quentes ele nunca
diminui; portanto para o oceano ilimitado, trasbordamento e diminuição nunca ocorrem. E a
mesma coisa ocorre com o amor desses devotos, e o prema de Nanda e Ya�oda por K��Ša está
sempre assumindo formas novas e variadas.
Capítulo XIII — Mãe Ya�oda Amarra K��Ša
sa mātuƒ svinna-gātrāya
visrasta-kavara-srajaƒ
d��˜va pari�ramaˆ k��Šaƒ
k�payās…t sva-bandhane
®r…mad Bhāgavatam 10.9.18 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.129
"Quando K��Ša viu Ya�oda labutando tão desesperadamente que o seu corpo todo
estava pingando de transpirar e que a guirlanda de flores que estava enfeitando as tranças do
seu cabelo haviam caído, Ele misericordiosamente permitiu-se ser amarrado por ela."
®r…la Sanātana Gosvām… diz que ao descrever a vida de Ya�oda, ®ukadeva Gosvām…
ficou tomado de felicidade e aturdido. A vātsalya de Ya�oda é mais especial que a de
qualquer outro devoto, mais até do que a de Nanda, porque K��Ša não fica completamente
controlado pela afeição paternal de mais ninguém como fica com a dela. K��Ša é que desata
os laços da afeição nesse universo material, mesmo de quem se aproximar dEle como inimigo.
Ele é quem concede os cinco tipos de liberação: sāyujya, sālokya, sām…pya, sār�˜i e sār™pya e
além disso também dá um tipo especial de mukti conhecido como prema. Este prema Ele deu
até para P™tanā, que aproximou-se dEle disfarçada de mãe para matá-lO. Ela recebeu uma
posição maternal em Goloka, apesar de ser inimiga e do seu parentesco com Aghāsura e
Bakāsaura. Mesmo sendo inimigos, eles receberam sā okya. No entanto, vemos este mesmo
concessor de liberação atado por Ya�oda. Olhem só que passatempo!
l
Do lado de fora de casa, Ya�oda encheu uma panela de leite e acendeu o fogão a
estrume de vaca e a fumaça se espalhava por todas as direções. Então ela entrou para bater
manteiga. Era de manhã bem cedinho, um dia depois de D…vāl…, e enquanto realizava seus
deveres matinais todos os criados da casa cantavam e lembravam os passatempos de K��Ša.
Naquela hora K��Ša acordou e não vendo Sua mãe, saiu da cama e ficou chorando bem alto.
Quando Ya�oda deu uma olhada e viu aquele menininho sem roupa, colocou-O no colo e
começou a amamentá-lO. Nesse momento, sentiu ondas tão fortes de ānanda que as lágrimas
começaram a cair dos olhos e o leite a vir aos seios. O leite então fluía automaticamente e
K��Ša o bebia sem esforço.
Nisso Ya�oda viu que o leite que havia colocado no fogo estava fervendo e saiu
correndo para acudir. Há um instante só desejava pegar K��Ša no colo e amamentá-lO, e
agora só estava preocupada com o leite fervendo e esparramando. Nesse momento não
pensou se K��Ša estava satisfeito ou não, e mesmo enquanto K��Ša estava agarrando-a com as
duas mãos e com a boca, ela O deixou para trás e foi cuidar do leite. A poderosa āk�as…
P™tanā tentou escapar desesperadamente das mãos daquele mesmo K��Ša, mas não pôde. E
mesmo ascendendo ao céu e tentando voar para Mathurā, K��Ša agarrou-a com tanta força e
com tanta ferocidade que ela foi arrojada ao solo. Sem qualquer esforço, K��Ša foi capaz de
conter P™tanā, entretanto, quando K��Ša decidiu que Sua mãe não deveria deixá-lO, mesmo
empregando toda Sua �akti, ainda assim ela foi cuidar do leite e deixou-O ali sentado. K��Ša
ficou muito irado e começou a chorar, Seus olhos ficaram vermelhos. Mordendo os lábios,
como fazem as crianças. Ele pensou: "Mamãe Me deixou e não Me deu leite."
r
Então Ele pegou uma pedra e quebrou um pote de manteiga.
Ya�oda estava dizendo para o leite:
— Não transborde! Quero você para preparar doces para K��Ša!
Mas o leite deveria estar sentindo: "Para que você precisa de mim? Qual é a natureza
do estômago de K��Ša? Ele nunca poderá ficar satisfeito. E nem o seu suprimento de leite
jamais acabará. K��Ša poderá tomá-lo para sempre que ele nunca se esgotará. Portanto a
minha vida é inútil. Nunca serei capaz de satisfazer K��Ša, então irei abandonar a minha vida
transbordando e caindo no fogo."
Vendo que o leite havia subido e estava transbordando, Ya�oda disse para ele:
— Não abandone a vida! Preciso você para preparar os doces para K��Ša!
Depois de jogar um pouco de água fria sobre o leite para impedi-lo de transbordar,
Ya�oda voltou e viu o pote de manteiga quebrado. Não vendo K��Ša, ela começou a procurá-
lO até que percebeu Suas pegadas indo em direção a casa e sorriu ao vê-lO dando iogurte aos
macacos e tomando um pouco dele. Ela pensou: "K��Ša é muito amigo desses macacos! Vou
ter que discipliná-lO por causa disso, mas isso acabará com a brincadeira. E além do mais,
jamais fiz isso antes."
Então sorrindo, ela pegou uma vara para assustá-lO e ficou escondida espreitando, de
maneira que Ele não podia vê-la. Ela pensou: "Se Ele olhar para cá e perceber que estou
olhando terei que ir depressa para pegá-lO."
E K��Ša também estava alerta, pensando: "Se mamãe vier ou se vier alguém, tenho que
sair correndo."
Ya�oda viu que também havia um grupo de corvos juntamente com os macacos. Todos
eles outrora estiveram na āma-l…lā — os corvos eram da dinastia de Kākabhu�uŠ�… e os
macacos eram da dinastia de Hanumān e Sugr…va. K��Ša estava endividado com todos eles,
por isso Ele estava alimentando-os. Os corvos estavam pegando as gotas do iogurte que
caíam no chão e os macacos estavam ao lado de K��Ša pegando o iogurte diretamente das
mãos dEle.
r
De início ela riu, mas então, devagarinho, como uma gata, foi se aproximando dEle e
Ele ao vê-la ficou apavorado.
— Aquele cujo nome elimina a influência de māyā sobre as pessoas desse mundo e as
salva dos Yamad™tas — olhou para ela com um olhar de medo. De quem Ele poderia ter
medo? Será que Ele teve medo de Kaˆsa? Há quem diga que Ele foi para Gokula por ter
medo de Kaˆsa, mas na verdade Ele foi lá para saborear prema. Ele nunca teve medo de
ninguém, no entanto, ao ver Ya�oda, deu um pulo e saiu correndo.
Ya�oda saiu correndo atrás dEle e nós também queremos pegar Bhagavān com o nosso
bhakti, todavia, diferentes dela, não O pegamos.
Já se passaram tantos dias e tenho cantado harināma diariamente. No entanto, até hoje
ainda não tive a experiência direta de Bhagavān. Meu coração ainda não se derreteu nem
derramei lágrimas por Ele e nunca senti nenhum êxtase ao cantar harināma. Como meu
coração mudará? Não posso avistar a luz no fim do túnel. Será que algum dia alcançarei
bhakti?
Devemos considerar essas cosias. Enquanto permanecer um resquício de visão
mundana dentro de nós, não seremos capazes de alcançá-lO. Pela realização do plano sutil
não seremos capazes de agarrá-lO e pela realização do plano nirguŠa também não. Nossa
mentalidade deve ser como a dos vrajabās…s, como a de Ya�oda e das outras gop…s e então
seremos capazes de alcançá-lO; caso contrário não. Mas estamos correndo atrás dEle e
também temos alguma avidez. Talvez tenhamos realizado algum sacrifício a serviço do nosso
guru e quando ouvimos harikātha sentimos alguns sentimentos devocionais, mas será que
temos esse prema que controla Bhagavān? Até mesmo os yog…s de coração muito puro não
podem sequer ter um relance da sombra de Bhagavān em seus samādhis!
Ya�oda está realmente caçando K��Ša — a pé e não usando a velocidade da mente. E
tem mais: ela não está atrás dEle com a velocidade da mente, está a pé e tentando agarrar
K��Ša na Sua forma manifesta. Às vezes ela se aproximava dEle, mas Ele escapava e assim ia
brincando com Sua mãe. Se possuirmos esse bhakti que nos faça chegar perto de K��Ša, será
que ficará fácil agarrá-lO? Ainda assim será muito difícil. Mesmo se "chegarmos perto dEle",
o quão longe Ele ainda poderá estar? Apesar de Ele estar sempre perto, presente dentro dos
nossos corações, não somos capazes de vê-lO.
Ya�oda O vê, sai para agarrá-lO e O agarra, mas, e nós? Não realizamos o sādhana
necessário ou o bhajana para agarrá-lO. Só o agarraremos se tivermos avidez suficiente para
tanto, mas primeiro é imprescindível que nos esqueçamos completamente dos prazeres
mundanos. K��Ša está correndo e Ya�oda também está, mas ela terá que correr no dobro da
velocidade de K��Ša para pegá-lo.
O irmão de Sugr…va, Vāli, adorou S™rya realizando austeridades e S™rya apareceu
diante dele e perguntou qual a bênção que ele desejava.
Vāli respondeu:
— Desejo a bênção de manterei toda minha força e metade da força de quem quer que
se aproximar de mim para lutar.
Um dia depois de ter recebido essa bênção, Vāli estava na beira de um rio oferecendo
p™jā a S™ryadeva quando RāvaŠa se aproximou dele. Rāvana imaginava que era a pessoa
mais forte do universo e começou a perturbar Vāli borrifando água sobre ele com as suas
vinte mãos. Mas Vāli simplesmente continuou oferecendo p™jā com uma só mão e com a
outra agarrou RāvaŠa e o colou embaixo do braço. Vāli nem sequer olhou para RāvaŠa, como
alguém que mata um mosquito nas costas.
Além de Bhagavān ninguém mais poderia matar Vāli e mesmo assim, Bhagavān teve
que empregar uma artimanha para matá-lo. Rāma o matou escondido atrás de uma árvore.
Caso contrário, se tivesse aparecido diante de Vāli, ele teria pego a metade de Sua força e
Rāma também não seria capaz de derrotá-lo! De maneira similar, podemos ver que para
agarrar K��Ša é necessário o dobro da velocidade; então Ele pode ser pego. O dobro da
velocidade significa que devemos ter nossos esforços sinceros e K��Ša deve ter misericórdia
de nós. Ele ama todas as j…vas, mas nós devemos amá-lO duas vezes mais e então
conseguiremos agarrá-lO.
Às vezes K��Ša lembra de Sua bhagavattā (Sua natureza suprema), mas o tempo todo
Ya�oda O ama com a idéia de que Ele é meramente uma criança comum e é ela quem dá tudo
para Ele. Nesse estágio de prema pode parecer haver até mais afeição pelas posses do amado
do que pelo amado em si. Podemos ter muita afeição por nosso pai, mas se colocarmos as
sandálias do nosso pai e formos usá-las, isso é devoção verdadeira? Devemos respeitar as
sandálias do nosso pai o tanto quanto o respeitamos, assim como Bharata prestou serviço às
sandálias de Rāmacandra. Essa é a perspectiva correta, este é o verdadeiro prema. Mas se
formos indiferentes quanto às posses do nosso amado, isso não é prema e se as usarmos para
nossa gratificação pessoal, isso também não é prema. As roupas de K��Ša, Sua flauta, Seus
brinquedos, o leite e a manteiga se destinam a Ele — um verdadeiro devoto às vezes pode
parecer que tem mais amor por essas coisas porque elas são queridas por K��Ša.
Ya�oda dá leite para K��Ša com grande afeição, será que ela tem mais afeição por
K��Ša ou pelo leite? Claro que por K��Ša, mas se o leite começa a ferver e vai ser perdido, ela
ficará muito contrariada e pensará: "Se K��Ša tomar esse leite terá saúde e viverá bastante.
Com esse leite farei sande�a, rava …, kh…ra, malpura e muitas preparações que K��Ša gosta. �
Outras vezes, quando mãe Ya�oda faz roupas novas de seda para K��Ša e as veste
nEle, K��Ša sai e vai brincar em algum lugar sujo de lama e ao vê-lO, Ya�oda diz:
— Ei! Olha o que Você fez com a Sua roupa nova!
Então K��Ša pensa: "Será que Minha mãe gosta mais de Mim ou das Minhas roupas?"
Às vezes os devotos podem mostrar mais consideração pela parafernália de K��Ša do
que pelo próprio K��Ša; esse é um sintoma de prema. E do que K��Ša gosta mais além dos
Seus devotos? É por isso que mesmo depois de realizar bhajana por milhares de vidas, quem
não respeita os devotos acaba não conseguindo absolutamente nada.
E assim, Ya�oda foi proteger o leite para que este não se perdesse, e quando K��Ša
quebrou o pote de manteiga, ela saiu correndo atrás dEle para corrigi-lO. Levantando a vara
para bater nEle que, apavorado, pedia:
— Mãe, não Me bata!
— Então me diga, por que Você quebrou o pote?
— Eu não quebrei o pote!
— Então quem quebrou?
— Você que deve ter quebrado sem querer enquanto estava correndo! Você estava tão
furiosa que nem percebeu!
Ya�oda ficou ainda mais irada e disse:
— E por que Você anda roubando? Não existe nenhum ladrão do lado da minha
família! Você é o único ladrão da nossa família!
K��Ša saiu correndo de novo e ela com a vara erguida para castigá-lO. Enquanto corria
o cabelo dela se soltou e ela ficou fadigada, mas estava decidida a agarrá-lO. Finalmente, com
a ajuda de criados da casa, Ele foi pego e ela O levou para dentro.
— Agora Você vai apanhar, seu macaquinho! Você fica roubando a casa dos outros e
até mesmo a Sua casa! Você acha que isso está certo?
K��Ša respondeu:
— Mãe, não Me bata! Não adianta Me bater!
Ela então pôs a vara de lado e disse:
— Está bem, não vou bater em Você, mas vou amarrá-lO.
Ela pegou uma cordinha que prendia os cabelos e tentou amarrá-lO. A cinturinha dEle
estava muito bem decorada com ornamentos de ouro e ao tentar colocar a corda em volta
dela, notou que era curta. Ela pediu que as gop…s trouxessem mais corda. Mesmo juntando
outra corda, não conseguiu amarrá-lO. Yogamāyā foi quem notou: "Meu amo não quer ser
amarrado agora."
A cintura de K��Ša continuava do mesmo tamanho, mas pela influência de Yogamāyā,
a corda ficava sempre dois dedos mais curta. Como Ya�oda ainda não tinha a determinação
suficiente, ela não pôde amarrá-lO e todos ficaram atônitos.
Qual seria a dificuldade em amarrar uma cinturinha tão pequena? Isso é como aqueles
que atualmente estão praticando sādhana-bhajana. Em geral acreditamos que Bhagavān é
muito misericordioso, mas às vezes nossa fé esmorece.
Existe mesmo tanta �akti no nome de Bhagavān, ou não? Será que um dia me
encontrarei com Bhagavān? Será que o nome pode dar bhakti ou não?
Se durante o processo de cantar harināma todas as dificuldades não forem eliminadas,
poderemos começar a pensar: "Será que Bhagavān está presente, ou não?"
Podemos sentir que não estamos conseguindo nada, a nossa infelicidade não é mitigada, a
pobreza não é aliviada e depois de fazer bhajana a vida inteira, podemos simplesmente
morrer chorando de desapontamento. Mas devemos continuar cantando com uma grande fé,
sempre pensando: "Meu esforço seguramente será bem-sucedido."
Mas às vezes nossa determinação não é firme e muitos sādhakas caem na armadilha de
começarem novamente a tentar desfrutar de māyā, pensando: "Vou trabalhar bastante,
ganhar muito dinheiro, construir uma casa e viver confortavelmente."
Mas acabam se esquecendo que um dia irão morrer e terão que abandonar tudo isso.
Primeiro Ya�oda pensou que poderia amarrar a corda em volta da cintura de K��Ša
com muita facilidade, mas o que aconteceu? Analogamente, quando iniciamos a vida
devocional, pensamos que alcançar Bhagavān não é muito difícil; mas ao saber a realidade
sobre isso, não devemos ficar desapontados. Muitos devotos ficam desesperançosos, mas
devemos sempre permanecer ávidos e determinados.
Algum tempo depois as gop…s ficaram surpresas e Ya�oda ficou aturdida quando
notou que mesmo atando milhares de cordas seu filhinho não podia ser atado. Ya�oda
pensou: "Estou tentando amarrá-lO desde cedo e até agora ainda não consegui! A corda ficou
tão longa e ainda assim não consigo dar a volta na cintura dEle. Toda vez ficam faltando dois
dedos de comprimento. Não é um, não são três, quatro ou cinco dedos mais curta.O tempo
todo fica faltando precisamente dois dedos de comprimento! Por que isso?"
Existiam duas razões para a corda ficar curta. Primeiro, Yogamāyā viu que K��Ša não
desejava ser atado, portanto não havia a sanção de K��Ša e, segundo, não havia a avidez
suficiente de Ya�oda. Existe a k pa de K��Ša e a avidez do devoto por bhajana. Quando as
duas coisas estão juntas, poderemos nos encontrar com Bhagavān e controlá-lO com prema .
�
Enquanto Ya�oda não teve avidez suficiente, não pôde atá-lO. Só conseguiu quando ela ficou
mais determinada, pensando: "Esse é o meu filhinho e eu aqui, diante de todas as minhas
amigas, não consigo amarrá-lO? Agora tenho que amarrá-lO, caso contrário vou abandonar a
vida!"
Ela começou a transpirar e sua face ficou vermelha e k�payās…t sva-bandhane —
observando o seu esforço para amarrá-lO, o coração dEle se derreteu. A influência de
Yogamāyā diminuiu e por fim Ele permitiu que ela o amarrasse.
Aqui ®r…la Sanātana Gosvām… diz que existem dois tipos de devotos: aqueles que
desejam alcançar Bhagavān pela prática de sādhana-bhajana e aqueles que só confiam na
k pa de K��Ša. Mahāprabhu disse que as duas coisas são necessárias. Os gatinhos não fazem
nenhum esforço, a gata os amamenta, cuida deles e os carrega com a boca. Os macaquinhos
têm que segurar firme na barriga de suas mães; caso não o façam estarão liquidados. Quando
a macaca vai pular de um telhado ou de uma árvore para outra, o macaquinho vem se agarrar
na sua barriga, ou nas costas e assim é levado de um lugar para o outro. Ela mesmo nunca
segura os filhotes e se eles não se agarrarem bem, ela vai sem eles, pensando:
�
"Para que serve esse filhote imprestável?"
E assim, o que é mais importante: sādhana ou k�pa? Mahāprabhu disse que os dois são
importantes. Ninguém pode amarrar Bhagavān só pela força do sādhana, mas por se dedicar
cada vez mais até que ocorra uma grande determinação a ponto de se esquecer de todas as
necessidades corporais e de todos os apegos mundanos. Então o coração de Bhagavān se
derrete e Ele concede Sua misericórdia especial. A k�pa de Bhagavān é concedida o tempo
todo para as j…vas, mas não aquela misericórdia especial que realmente O faz ficar amarrado.
Ele só concede esse tipo de misericórdia ao verificar o esforço intenso de Seus devotos, como
a vairāgya de ®r…la Raghunātha dāsa Gosvām…. Como ele fazia bhajana o dia inteiro? Os
Gosvām…s viviam sem abrigo, na floresta, em lugares como Nandagrāma, ou perto do
Pāvana-sarovara onde sempre sopra uma brisa fresca. Viviam sob as árvores, onde havia
cobras, escorpiões e inúmeros animais selvagens. Comiam muito pouco e faziam um bhajana
extremamente estrito.
Com esse tipo de bhajana podemos encontrar Bhagavān, mas onde está esta
determinação e intensidade de sādhana? Queremos ficar comendo bem, com todo conforto,
temos travesseiros, colchões e cādaras. Nos dias frios temos comida quente e nunca temos
qualquer deficiência para dormir. Portanto a k�pa de Bhagavān nos está sendo concedida,
para nosso infortúnio não temos a mesma intensidade de sādhana que os Gosvām…s.
Aturdido e sentindo os sintomas de êxtase com a sua descrição das glórias de Ya�oda,
em seguida ®ukadeva Gosvām… sentiu esses sentimentos surgindo em seu coração:
nenaˆ viriñco na bhavo
na r…r apy a‰ga-saˆ�rayā �
prasādaˆ lebhire gop…
yat tat prāpa vimuktidāt
®r…mad Bhāgavatam 10.9.20 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.130
"Nem Brahmā. nem ®iva, nem mesmo Lak�m…dev… — que reside eternamente no peito
de K��Ša na forma de uma linha dourada — jamais receberam tanta misericórdia quanto
Ya�oda recebeu dEle, que é quem concede a liberação."
Apesar de ser filho de Bhagavān, nem mesmo Brahmā obteve tanta misericórdia
quanto Ya�oda. Brahmā nasceu do lótus do umbigo de Bhagavān. Geralmente um pai é muito
benevolente com o filho a despeito da natureza deste, mesmo que seja ele um criminoso. E
usualmente o filho é o herdeiro do pai, mas mesmo um filho tão qualificado quanto Brahmā
não recebeu a misericórdia que Ya�oda recebeu.
Ao vir para Vraja, Brahmā notou: "Primeiro esse aparādhi Aghāsura tentou engolir
K��Ša e depois vi que K��Ša concedeu-lhe mukti! Vi uma luz sair do corpo de Aghāsura, voar
para o céu e então imergir nos pés de K��Ša! Aquela não era uma luz qualquer; com certeza
era a ātmā de Aghāsura!"
Muitos não foram capazes de reconhecer os sintomas divinos de K��Ša e só O viam
como um ser humano comum. Enquanto K��Ša se preparava para abandonar esse mundo e
voltar para Goloka na Sua forma como Dvarakādh…�a, as pessoas comuns viram que K��Ša foi
flechado por um caçador, começou a sangrar e morreu naquele local. Outros viram uma luz
saindo do corpo de K��Ša e subindo para o céu. Brahmā, ®a‰kara e outros viram K��Ša voltar
para Goloka na Sua própria forma enquanto Seus associados eternos ofereciam-Lhe preces. E
os devotos de Dvārāka viram que K��Ša não foi para lugar algum; que permaneceu em
Dvārāka. Portanto, devido aos diferentes níveis de desenvolvimento íntimo, as pessoas O
viram de maneiras diferentes.
Quando Brahmā viu o passatempo de K��Ša de dar a liberação para Aghāsura, ficou
muito surpreso e pensou: "Como poderei ver mais passatempos como esse?"
Enquanto isso, K��Ša lembrou que tinha o desejo de se tornar todos aqueles
vaqueirinhos e bezerros, e que aquela era uma oportunidade de realizar todos os Seus
objetivos em um único passatempo no qual poderia também se casar com todas as gop…s,
porque se tivesse relações com elas de outra maneira, as pessoas de consciência mundana
iriam criticá-lO. Em seguida Yogamāyā inspirou o coração de Brahmā e ele pensou: "Vamos
ver o que acontece se eu roubar os vaqueirinhos e os bezerros."
No final, vendo como K��Ša se expandiu em todos os vaqueirinhos e bezerros, como
todos os bastões, acessórios e como tudo aparecia como NārāyaŠas de quatro braços, e como
inúmeros semideuses estavam oferecendo orações a Eles, Brahmā ficou abismado e caiu
imediatamente ao solo, como uma vara, aos pés de lótus de K��Ša. Quando olhou novamente,
tudo havia desaparecido e somente permanecia a forma original de K��Ša, posando na Sua
postura curvada em três pontos, sorridente.
Na-bhava — ®a‰kara também não recebeu tanta misericórdia quanto Ya�oda. ®a‰kara
e Hari são a mesma alma. Com o propósito de mostrar o padrão ideal de adorar ®a‰kara para
os residentes desse mundo, K��Ša uma vez adorou ®a‰kara. Brahmā pode ser ofendido, mas
®a‰kara nunca aceita uma ofensa. E K��Ša designa a ®a‰kara tarefas muito difíceis, como
confundir as j…vas na sua encarnação como ®a‰karācārya e ®a‰kara sempre realiza essas
tarefas. Portanto seguramente ele é recipiente da misericórdia de K��Ša, mas não da prasāda,
da misericórdia especial falada nesse verso.
Na �r… — e nem mesmo Lak�m…, que sempre reside no peito do Senhor e que realizou
austeridades e p™jā em Belavana, recebeu essa misericórdia que Ya�oda recebeu.
Vimuktidāta — K��Ša é quem concede a liberação. Para alguns Ele concede a
residência em VaikuŠ˜ha e para outros residência em Goloka-V�ndāvana, mas para Ya�oda
Ele concedeu essa misericórdia especial, que não foi dada a mais ninguém, de ter sido
amarrada por ela.
Capítulo XIV — P™rva- āga ou Atração Preliminar r
gop…nāˆ paramānanda
ās…d govinda-dar�ane
k�aŠaˆ yuga-�atam iva
yāsāˆ yena vinābhavat
®r…mad Bhāgavatam 10.19.16 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.133
"As vraja-gop…s desfrutavam de um prazer imenso ao receberem o dar�ana de ®r…
Govinda, mas consideravam um único momento da Sua ausência como sendo igual a
centenas de yugas."
K��Ša e os sakhās levaram as vacas para pastar na floresta de MuñjāraŠya quando
começou um incêndio e, como um condutor de uma quadriga, o vento levou o fogo que
cercou os meninos e as vacas por todos os lados. Nisso os sakhās começaram a gritar:
— K��Ša! Baladeva! Salvem-nos!
Vendo que eles estavam em apuros, K��Ša mandou que eles fechassem os olhos e abriu
a boca e engoliu aquele fogo medonho. Então K��Ša disse para os meninos abrirem os olhos.
Se eles vissem K��Ša engolindo o fogo teriam ficado apavorados. Mas os sakhās viram que
tudo estava como antes e que as vacas haviam ido descansar calmamente sob a árvore
BhāŠ�…ra. Eles pensaram: "Como é que agora estamos aqui? Tudo estava pegando fogo! Será
que foi só um sonho, ou era realidade?"
E depois eles alegremente começaram a almoçar juntos.
Da mesma maneira quando, pelo cultivo de bhagavad-bhajana e pela misericórdia do
guru e de Bhagavān nos livramos do fogo ardente da energia material, pensamos na
eliminação da dor que vinha nos atormentando desde tempos imemoráveis e indagamos:
"Para onde aquilo foi assim tão rápido? Era real?"
Na verdade não seremos capazes de nos lembrar.
Depois disso K��Ša levou as vacas de volta para Vraja e as gop…s estavam sedentas pelo
Seu dar�ana e isso está sendo descritos nesse verso falado por ®ukadeva Gosvām…. Quando
K��Ša se aproximou delas, sua ānanda aumentou. Apesar de elas ainda não estarem
estabelecidas num relacionamento com Ele, apenas por terem-nO visto ou ouvido falar dEle
estavam muito atraídas por Ele e isso é o que se chama p™rva-rāga. Isso pode ocorrer tanto no
vi�aya ou o supremo objeto de amor — K��Ša — quanto no ā�raya, ou o receptáculo supremo
do amor — as gop…s.
Sentir esse p™rva- āga no estágio de sādhana não é fácil; o p™rva- āga descrito nos
textos de Vidyāpati, CaŠ�…dāsa, no Gop…-g…tā e em outros locais do ®r…mad Bhāgavatam não
pode ser obtido por um sādhana qualquer. Somente quando se alcança svar™pa-siddhi — ou
seja, quando o estado de bhāva alcança a perfeição de sua svar™pa eterna — é que essa
inquietude por querer ver K��Ša pode ser sentida. Apenas alguns poucos devotos, como
Bilvama‰gala, experimentaram esse tipo de sentimento durante o mesmo período de vida.
Mas k�aŠaˆ yuga-�atam iva — sentir um momento da ausência de K��Ša como se durasse
milênios — é um sentimento de que natureza? Apesar de aqui existir p™rva- āga, isso
também pode ser mahābhāva, como nesse verso:
r r
r
�
yugāyitaˆ nime�eŠa
cak�u�ā prāv sāyaitam
�™nyāyitaˆ jagat sarvaˆ
govinda-viraheŠa me
®r… ®ik�ā�˜aka 7
"Ó sakh…, na separação de Govinda, até mesmo um segundo aprece durar milênios. As
lágrimas caem dos meus olhos como um aguaceiro das nuvens e o mundo inteiro parece estar
vazio."
Isso também é mahābhāva; isso não é um sentimento qualquer. CaŠ�…dāsa escreveu:
sai! kebā sunāile �yāma nāma?
kānera bhitara diyā marame pasila go
ākula karila mora prāŠa
Apesar de externamente ter sido por ordem de Nanda e Ya�oda que K��Ša se reunia
com os outros meninos para levar as vacas para pastar durante o dia — Ele sabe que esse é o
dharma para Sua classe social — na verdade é com uma bhāva imensa que Ele o faz. Ele
acabara de superar Sua idade paugaŠ�a e agora estava entrando na idade ki�ora. K��Ša
estava falando com Subala e alguns outros vaqueirinhos e as sakh…s estavam conversando
entre si. Sai é uma palavra muito simples e doce para sakh…. Elas dizem:
— Sai, por que tivemos que ouvir o nome de ®yāma? Esse nome entrou nos nossos
ouvidos e tocou o âmago de nossos corações, confundindo nossas vidas.
As gop…s ficaram perplexas pela ansiedade de alcançar K��Ša e isso é o propósito de se
ouvir as escrituras. Por ouvir as glórias de nossa Deidade adorável por meio dos ouvidos,
nosso coração deve se tornar apegado a Ele dia e noite e não faremos mais nada além de
meditar na Sua doçura. As gop…s não somente completaram o sādhana como alcançaram
svar™pa-siddhi, mas na verdade elas são manifestações da hlādin…- akti. Essa meditação não é
possível para as pessoas comuns. Mas assim como uma pessoa que trabalha numa fábrica de
óleo acaba ficando com uma camada de óleo nas mãos, da mesma maneira, quando o
sādhaka ouve e fala sobre esses temas, "suas mãos ficam untadas," o que significa que um
pouco de bhāva surgirá nele e com isso sua vida será bem-sucedida.
�
Nossos sentimentos espirituais devem ser tão profundos que não seremos capazes de
esquecê-los sequer por um instante, mas, infelizmente, estamos acostumados a fazer quase
sempre exatamente o oposto. A lembrança do desfrute material vai nos consumindo.
Cantamos harināma, estudamos os �lokas, fazemos leituras espirituais, mas onde está nossa
mente? Assim como quando colocamos um pote vazio num rio e ele imediatamente se enche
d'água, logo que começamos a ouvir um pouco desse bhagavat-kathā nossa mente fica
novamente cheia de pensamentos de como gratificar os sentidos, com o que estamos
acostumados desde tempos imemoráveis. Devemos tentar manter a mente livre desses
pensamentos, mesmo se ela nem sempre permanecer estável. Devemos freqüentar qualquer
local onde se fale harikātha e encher completamente a mente com ele, não deixando espaço
para pensamentos sobre gratificação dos sentidos.
Na verdade, não há nada mais favorável do que ouvir harikātha e essa deve ser a nossa
alimentação. Devemos sentir amor pelo harikātha e se não o temos, então devemos pelo
menos considerar que é nosso dever ouvi-lo, compreendendo que isso irá nos conceder a
maior boa fortuna. Aqueles cujos corações já foram completamente purificados, que nunca
pensam em gratificação sensorial — quando ouvem esse kathā desenvolvem sentimentos
profundos que tocam o âmago de seus corações e eles permanecem absortos nesses
sentimentos o tempo todo.
Em outro local, CaŠ�…dāsa escreveu que a jovem ki�or… filha de Mahārāja V��abhānu
senta-se sozinha, perplexa, não falava com ninguém e um dos Seus tutores diz a Ela:
— Minha filha, o que Você está fazendo? Por que está sentada assim? Venha para cá e
faça essa tarefa.
Mas Ela nem ouve; é incapaz de compreender o que acontece dentro de si. Seus olhos
estão abertos, o que é um sintoma de consciência, mas Ela não está olhando para nada. Ela
viu ®yāma uma vez, mas Ele partiu e agora Ela apenas fica silenciosa e imóvel. Não tem
desejo de comer e está vestindo uma roupa vermelha — por que? Para ajudá-lA a esquecer
Sua compleição corpórea, para que não fique mais confusa e que Sua condição não seja
detectada pelos mais velhos. Ela atou flores brancas no cabelo com uma presilha, para que a
cor negra de Seus cabelos não A faça lembrar-se de ®yāma, mas desde que Ele capturou o
âmago de Seu coração, como seria possível impedi-lA de lembrar-se dEle?
Então Ela começou a contemplar uma nuvem que possuía a mesma compleição de
®yāma. Às vezes Ela entra em casa, outras sai de casa; dá longos suspiros e Sua mente não se
fixa em mais nada. Os mais velhos dizem:
— Por que Você foi para lá? Era preciso? Cuidado! Jamais olhe novamente para aquele
menino! Não concentre Sua mente nEle nem por um instante, ou não será capaz de fazer Seus
serviços domésticos! Você não está me escutando, agora também perdeu o respeito pelos
mais velhos? Será que está possessa por algum semideus ou fantasma?
Ela não liga para nada, cai no chão e quando A levantam e A colocam em um outro
lugar qualquer, cai novamente. Como Ela perdeu o temor pelos mais velhos, eles até já
abandonaram a idéia de encontrar um esposo para Ela. Mas CaŠ�…dāsa diz:
— Sim, eu compreendo. Ela não está louca, não está possessa, nada disso.
Simplesmente caiu na armadilha da cobra negra, ®yāma.
Isso é p™rva-rāga.
Mas como um sādhaka pode experimentar isso? Geralmente as nossas mentes andam
cheias de ilimitados tipos de desejos materiais, mas quando já não existir nenhum desses
desejos significa que encontramos a companhia de um guru elevado e recebemos a
misericórdia incondicional de Bhagavān, então virá uma sombra de bhāva. Por cantarem o
extraordinariamente belo �yāma-nāma e o Hare K��Ša mantra, R™pa Gosvām…, Raghunātha
dāsa Gosvām… e Nārada ficaram loucos de êxtase. Digam-me quanta bhāva está contida
nesses nomes? E ®r…la Bhaktivinoda µhākura também escreveu muitos versos saturados de
bhāva, como:
vibhāvar… �e�a, āloka-prave�a,
nidrā chāri' u˜ho j…va
Isso se refere à meditação nos passatempos que K��Ša realiza no final da noite
enquanto as j…vas comuns estão dormindo. Nessa mesma canção, phula-�ara-jojaka kāma —
®r… K��Ša utiliza flechas de flores para aumentar o desejo das gop…s. Até que tenhamos
compreendido bem a concepção delineada no Ujjvala-nilamaŠ…, não seremos capazes de
compreender essa linha do verso. Ou se o kāma-gāyatr… se revelar para alguém, então essa
pessoa irá compreender algo desse significado, mas sem a misericórdia do kāma-gāyatr… isso
não pode ser compreendido. A bhāva de um vai�Šava mahā-bhāgavata vem junto com essa
linha, mas mesmo que cantemos essa linha todas as manhãs, o que podemos captar nela?
Portanto a diferença entre o cantar dos santos nomes feito por um sādhaka e o do cantar feito
por uma alma perfeita é como a diferença entre a terra e o céu. Quando se realiza
completamente a doçura de harināma a língua não será capaz de parar de cantá-lo. Por
exemplo, quando Caitanya Mahāprabhu ia urinar, Ele segurava a língua com a mão
firmemente. Ao ver isso, o Seu jovem servo, Gopāla, perguntou:
— Prabhu, por que Você está fazendo isso?
Mahāprabhu respondeu:
— Minha língua não Me obedece. Não devemos cantar o nome de Govinda num lugar
contaminado, mas ela não Me obedece.
Gopāla respondeu:
— Mas Prabhu, na hora da morte é provável que a pessoa urine e defeque e se ela não
cantar o Nome nessa hora, a vida estará perdida!
Satisfeito com o argumento, Mahāprabhu disse:
— Quer dizer que hoje você virou guru? Está certo, o Nome também deve ser cantado
nessas horas.
Ele soltou a língua e cantava o tempo todo, mesmo enquanto ia ao banheiro. Durante a
noite o servo de Mahāprabhu, Govinda dāsa, pensava que Ele estava só dormindo, mas Ele
ficava acordado cantando k��Ša-nāma, chorando e às vezes esfregando a face na parede. E
quando Rāya Rāmānanda e Svar™pa Dāmodara vinham, Govinda dāsa ficava triste, e
pensava: "Por que eles vieram? Eles irão fazê-lO chorar e não será capaz de dormir a noite.
Quando vier esse tipo de bhāva intensa ao se cantar harināma, a compostura será perdida e
iremos pensar: "Sem ver K��Ša já não posso mais viver! Como poderei encontrá-lO? O que
farei?"
O temor pelos mais velhos, o temor de ficar desgraçado na sociedade e toda a auto-
restrição estarão perdidos. Existem certas inibições que reprimem o amor, mas quando forem
todas eliminadas, o auto-controle estará perdido. Nem mesmo RukmiŠ… e Satyābhamā são
capazes disso, o que dizer então dos demais? Na noite anterior ao seu casamento, RukmiŠ…
mandou uma mensagem para K��Ša através de um brāhmaŠa, dizendo:
"Amanhã irei me casar. Se Você não vier me salvar desse casamento, abandonarei
minha vida. Estou com muita vergonha de escrever-Lhe isso, sou uma moça culta e não
deveria escrever essas coisas, mas despudoradamente escrevo-Lhe essa mensagem pois se
não o fizer, um chacal ficará com a parte do leão."
Portanto, mesmo enquanto manifesta esses tipos de sentimentos profundos, RukmiŠ…
sente um pouco de vergonha; mas as gop…s não sentem vergonha e por isso a bhāva delas é
muito mais profunda. Quando as gop…s viam K��Ša voltando depois de levar as vacas para
pastar, elas O contemplavam com os olhos cheios de avidez e a ānanda aumentava. Mas
quando não podiam vê-lO, até um único momento parecia durar milhões de yugas que nunca
passavam. Isso é p™rva-rāga e incontáveis sentimentos maravilhosos se incluem nele.
As gop…s sentiam que o tempo que passava durante um piscar de olhos era como o
infinito e elas descreveram isso no ®r…mad Bhāgavatam (10.31.15):
a˜ati yad bhavān ahni kānanaˆ
tru˜i yugāyate tvām apa�yatām
ku˜ila-kuntalaˆ �r…-mukhaˆ ca te
ja�a ud…k�atāˆ pak�ma-k�d d��am
Quando K��Ša passava o dia perambulando na floresta com os sakhās, as gop…s,
impossibilitadas de verem Sua maravilhosa face adornada com lindos tufos de cabelos,
ficavam angustiadas de saudades dEle. E o que falar disto, se até mesmo quando K��Ša
estava diante delas, elas consideravam uma minúscula fração de tempo como um piscar de
olhos, como se durasse milênios e amaldiçoavam Brahmā, o criador, por ter sido um tolo ao
criar olhos que precisam piscar. Nosso tempo é gasto mais em brincadeiras, mas comparem
com o bhajana que é realizado por essas grandes personalidades.
Lemos que uma única vez em toda a sua vida ®r…la Raghunātha dāsa Gosvām… deu
uma risada. Enquanto lia o Vidagdha-mādhava-nā˜aka, de ®r…la R™pa Gosvām…, suas lágrimas
caiam e borravam as páginas, esparramando a tinta. Ao ver isso, ®r…la R™pa Gosvām… pediu o
livro de volta, mas ®r…la Raghunātha dāsa Gosvām… o agarrou bem junto ao peito e se recusou
a devolvê-lo. Então ®r…la R™pa Gosvām… compôs o Dāna-keli-kaumud… bem depressa, e
depois de ler só alguns versos ®r…la Raghunātha dāsa Gosvām… começou a rir. De outra
maneira permaneceria chorando por K��Ša a vida inteira. Se houver esse choro por K��Ša,
esse será o verdadeiro sādhana e quem o faz seguramente receberá Seu dar�ana, como foi o
caso de Bilvama‰gala. No momento estamos apenas nos dedicando a uma semelhança do
verdadeiro sādhana, uma abhāsa, mas se mesmo nesse estágio de sādhana-abhāsa sentirmos
alegria ao ouvir e narrar esse harikātha, então imaginem quanta ānanda sentiremos quando
entrarmos no verdadeiro ādhana! s
Capítulo XV — A Beleza de K��Ša é Insuperável
tan-manaskās tad-ā āpās l
˜tad-vice� ās tad-ātmikāƒ
tad-guŠān eva gāyantyo
nātêmāgārāŠi sasmaruƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.30.43 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.134
"Aquelas vraja-gop…s que entregaram seus corações completamente a ®r… K��Ša
imitavam a Sua maneira de falar e Suas atividades. Uma vez que ofereceram suas almas a Ele
e sempre cantavam Suas glórias, elas esqueceram-se totalmente de si mesmas e dos interesses
de suas famílias."
No desenvolvimento gradual de bhakti, de ni�˜hā surge ruci, onde bhakti se torna
saboroso. De ruci surge āsakti, onde não ocorre o desejo de deixá-lo. Então vem bhāva e
depois prema, sneha, māna, praŠaya, rāga e anurāga, e em alguns casos até mahābhāva, onde
se chega ao auge da experiência de K��Ša.
Como possuem mahābhāva, as mentes e os corações das gop…s ficam tão absortos nEle
que já nem podem mais considerar nada como sendo de sua posse. Se colocarmos num
chumaço de algodão algumas gotas d'água, a água irá ser absorvida pelo algodão
imediatamente. Analogamente, a água dos corações das gop…s foi absorvida imediatamente
pelo algodão K��Ša de uma maneira tal que parecia que suas existências individuais haviam
sido perdidas. Se alguém é afortunado o bastante para receber o dar�ana direto de K��Ša, ou
de ouvir sobre Ele de um vai�Šava rasika, então poderá experimentar essa mesma absorção.
Cantando sempre e cada vez mais sobre as Suas virtudes, logo se tornará tad-ātmikāƒ —
completamente esquecido do corpo, das relações corpóreas, do lar e de tudo mais.
Se tivermos uma tarefa a fazer e, devido a algum impedimento não podemos realizá-la,
simplesmente voltamos para casa. Mas as gop…s estavam procurando K��Ša em todo lado,
perguntando para as vinhas, árvores, tulas… e para a corça, se alguém O tinha visto. Não
puderam encontrá-lO em lugar algum. Mas por acaso elas voltaram para suas casas? Mesmo
sem encontrá-lO, haviam se esquecido completamente de suas casas e famílias. Ficaram tão
absortas pensando nEle que era como se estivessem possessas por fantasmas. Assumindo a
identidade de K��Ša, começaram a imitar Suas atividades e dizer uma para as outras:
— Estou com o jeito dEle? Toco flauta como Ele?
Nesse momento elas não sabiam o que estavam fazendo e esse é o significado de tan-
manaskās. Elas ficaram tão absortas em K��Ša que suas naturezas mudaram como o ferro
quando é posto no fogo, e assim elas se esqueceram de tudo.
Conforme as gop…s procuravam K��Ša, lembraram-se das virtudes dEle e de Seus
passatempos com elas. Enquanto vivemos pensando no conforto material e com isso somos
capazes de esquecer bhakti, agindo de maneira oposta.
Devemos nos esforçar para nos tornarmos como os associados eternos de Caitanya
Mahāprabhu, como Mādhavendra Pur…, que passava dias sem comer e sem esmolar, sempre
absorto em lembrar de K��Ša. À medida que nosso bhakti vai aumentando, iremos nos
esquecer cada vez mais das exigências do corpo e dos nossos relacionamentos corpóreos e
essa lembrança de K��Ša também irá aumentar. K��Ša havia deixado as gop…s, mas elas não
ficaram pensando: "K��Ša é muito cruel porque nos deixou!"
Se pensassem assim não teriam ido procurá-lO e teriam voltado para casa, mas não foi
isso que elas fizeram. Elas continuaram a procurá-lO e a cantar as glórias das virtudes dEle,
especialmente da Sua bondade:
praŠata-dehināˆ pāpa-kar aŠaˆ �
�
t�Ša-carānugaˆ �r…-niketanam
phaŠi-phāŠārpitaˆ te padāmbujaˆ
k�Šu kuce�u naƒ k�ndhi h c-chayam
®r…mad Bhāgavatam 10.31.7
"Ó Prabhu, Você é muito misericordioso. Por que está com medo de que possa haver
alguma reação pecaminosa se colocar Suas mãos em nossos seios? Meramente por se lembrar
do Seu nome, todos os pecados são eliminados..."
PraŠata significa que se alguém entregar tudo a Bhagavān, incluindo o falso ego, então
todos os pecados são destruídos e quando estiverem destruídos, logo em seguida receberá o
dar�ana direto de Bhagavān. Gajendra, o elefante, lutou contra um crocodilo por milhares de
anos até que, estando parcialmente submerso na água, apanhou uma flor de lótus com a
tromba, a ergueu e ofereceu a Bhagavān, orando silenciosamente: "Prabhu, agora estou
rendido a Você e já não estou nem preocupado se vai me salvar ou morrerei."
Pelo poder dessa rendição, todo tipo de anarthas e aparādhas de inúmeras vidas foram
destruídos e logo Bhagavān veio, matou o crocodilo com a Sua cakra e Gajendra foi liberado.
Se alguém se rende de fato a Bhagavān esta rendição destruirá todos os seus defeitos.
Será que somos rendidos assim? Será que todos os nossos defeitos e ofensas foram
erradicados? Essa é a avaliação que devemos fazer. A maior parte do sofrimento que estamos
sentindo e os obstáculos que vão surgindo no bhajana são reações das atividades malévolas
que praticamos em vidas passadas. Não importa para onde se vá, essas reações do karma
anterior e das ofensas não desaparecerão e por isso as pessoa inteligentes deverão
permanecer na companhia de sādhus que gradualmente o levarão a Bhagavān.
As gop…s oram — praŠata-dehināˆ pāpa-kar�aŠaˆ — Ó Govinda, Você é tão
misericordioso que destrói os pecados daqueles que se rendem a Você. Somos rendidas a
Você, então será que é devido aos pecados que cometemos nas vidas anteriores que Você
permanece escondido de nós e não nos dá o Seu dar�ana? Estamos chorando de saudades e
hoje, nesse mundo, não há ninguém tão infeliz quanto nós. Abandonamos definitivamente os
nossos lares e famílias e agora não temos nenhum outro refúgio além de Você! Então será que
não seria possível que Você destruísse os nossos pecados?
Esses são os sentimentos íntimos de uma gop…. Existem muitos tipos de gop…s com
diferentes sentimentos, e uma outra está dizendo:
— Você destrói os pecados de quem é rendido. Até esta noite não fomos capazes de
nos render, mas depois que abandonamos nossos lares, esposos, filhos e o medo de ficarmos
desgraçadas na sociedade, viemos até Você. Então, o que faltou em nossa rendição? Agora
por favor, nos dê o Seu dar�ana e, colocando Seus pés de lótus sobre nossas cabeças, nos dê a
bênção de aliviar o medo que sentimos pela cobra da saudades de Você. Será que ficaremos
privadas de poder servir aos pés que são servidos eternamente por ®r… Lak�m… só porque
nascemos nas famílias dos vaqueiros de Gokula? Esses pés seguem as vacas no pasto e Você é
tão misericordioso que até mesmo sem um guarda-sol sobre Sua cabeça e sem sapatos nos
pés, leva para pastar essas vacas que são apenas animais ignorantes, quem poderia ser mais
bondoso que Você?
E assim, mesmo angustiadas, elas continuam a cantar as glórias dos pés de lótus de
K��Ša. No ®r…mad Bhāgavatam vemos as gop…s zombando de K��Ša e acusando-O de ser
cruel e enganador, mas ainda assim suas mentes não O deixam:
m gayur iva kap…ndraˆ vivyadhe lubdha-dharmā �
l
˜
t
®r…mad Bhāgavatam 10.47.17
"Na vida anterior K��Ša em vez de matar o inocente Vāli como um k�atriya deveria ter
feito, matou-o escondido, como faz um caçador. E quando uma mulher se aproximou dEle
com desejos amorosos, como k�atriya era, Seu dever satisfazê-la; mas, apesar de ter ficado
excitado com a beleza dela, desejou preservar o voto de S…tā e a tornou desfigurada ao cortar-
lhe as orelhas e o nariz. Ele estava ansioso em mostrar que não poderia ser conquistado por
uma mulher, mas nesse episódio podemos ver claramente que foi conquistado por uma
mulher."
Mesmo acusando K��Ša, será que as gop…s poderiam deixar de pensar nEle e começar a
falar de outra coisa?
No verso que estamos discutindo, tad-ā āpā significa que as gop…s cantavam notas
melodiosas glorificando nāma, guŠa, r™pa e l…lā de K��Ša. Isso é sintoma de bhakti. No
estágio de sādhana, onde quer que a mente esteja, ela deve ser conduzida de volta ao nāma,
guŠa, r™pa e l…lā de Bhagavān, esse é o verdadeiro sādhana. Não há maior sādhana do que
esse. Mas o esforço de retirar os pensamentos do desfrute mundano não é necessário. A
mente que tem a tendência de pensar sobre a gratificação dos sentidos deve simplesmente ser
dedicada em ouvir e descrever nāma, guŠa, r™pa e l…lā de Bhagavān e isso é tudo o que é
necessário. Empenhando a mente nessas atividades cada vez mais, então esses temas
acabarão se tornando completamente saborosos.
Tad-vice� ā — significa que as gop…s cantam as atividades de K��Ša que se relacionam
com elas: como elas se encontraram com Ele e deram-Lhe āmb™la, como ataram sininhos em
seus tornozelos, como Ele aceitou as guirlandas que elas fizeram e, quando ficaram cansadas,
como Ele retirou a poeira das faces e dos corpos delas e fez uma cama de flores para
descansarem.
Então elas ficaram tad-ātmikā — tanto interna quanto externamente começam a
glorificá-lO e se esqueceram de seus lares e até mesmo de si próprias. Não querem voltar para
seus lares e nem mesmo a lembrança do lar vinha às suas mentes. Glorificando K��Ša cada
vez mais na sua separação, as gop…s se esquecem completamente de tudo o que se refere ao
mundo.
Os nirguŠa-yog…s não meditam em coisa alguma; suas mentes ficam apegadas ao
vazio. Eles não meditam no ātmā, no Paramātmā ou em qualquer objeto material. Eles são
nirā�raya, sem refúgio e, portanto, podem cair a qualquer momento. Mas os devotos, que
seguem os passos das gop…s e meditam nos atributos de K��Ša constantemente são ā�raya,
abrigados, e não existe nenhuma possibilidade de queda.
A seguir vem o verso:
gopyas tapaƒ kim acaran yad amu�ya r™paˆ
l rāvaŠya-sāram asamo dhvam ananya-siddham
d�gbhiƒ pibanty anusavābhinavam durāpam
ekānta-dhāma ya�asaƒ �riya ai�varasya
®r…mad Bhāgavatam 10.44.14 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.135
As mulheres de Mathurā disseram: "Que austeridades fizeram as gop…s de Vraja para
poderem sempre beber com os olhos o néctar da forma de ®r… K��Ša — que é a própria
essência da amabilidade, que é inigualável e insuperável, que é a própria perfeição e que
sempre parece nova e recente, que é extremamente rara de ser vista e é sempre o refúgio
exclusivo de toda fama, esplendor e opulência?"
Quando K��Šacandraj… entrou na arena de luta com Balarāma, as mulheres de Mathurā
falaram esse verso para glorificar as gop…s:
— Nessa assembléia, adharma assumiu o posto, e não devemos ficar por aqui.
Não devemos ficar num lugar onde estejam sendo cometidas atividades pecaminosas.
Quando foi feita a tentativa de despir Draupad…, aquela também foi uma assembléia adhrama
e os homens virtuosos não deveriam ter ficado ali. Mas como o avô Bh…�ma permaneceu ali? E
ao mesmo tempo ele não foi afetado pela reação pecaminosa porque conhecia a grandeza de
Bhagavān e de Seus devotos. Ele permaneceu em silêncio para que a grandeza deles pudesse
ser exibida. Poderia ter tomado alguma atitude para evitar que os homens maléficos
ofendessem Draupad… e seguramente era capaz de matar todos eles com apenas uma das
mãos; mas mesmo Draupad… implorando ajuda, ele permaneceu em silêncio. Ele era um jñān…-
bhakta e sabia que Bhagavān protege quem é rendido a Ele. Isso era o que ele estava
pensando, mas o que aqueles homens maléficos pensavam: "O que Bhagavān poderá fazer?
Ele não tem poder para nos deter, por isso vamos fazer o que acharmos melhor."
E tentaram despi-la. Os quatro PāŠ�avas estavam furiosos, mas Mahārāja Yudhi�˜hira
permaneceu em silêncio. Como também era um jñān…-bhakta, sabia que K��Ša iria proteger
Draupad… apropriadamente. Bh…ma e Arjuna estavam menos preocupados com a divindade
de K��Ša e O viam mais como amigo em sakhya-bhāva, e estavam furiosos.
Na arena de luta, as mulheres de Mathurā viram como aqueles lutadores corpulentos e
medonhos, que mais pareciam montanhas de ferro, desejavam matar K��Ša que era meigo e
delicado. Viram como a face de Baladeva ficou vermelha de ira e como K��Ša estava sorrindo,
mesmo tão irado. Considerando que naquele local ocorreria uma grande injustiça, acharam
que seria vergonhoso permanecerem ali. Não havia ninguém ali presente que pudesse
impedir aquilo. Ugrasena estava aprisionado e as outras pessoas mais velhas como Akr™ra
permaneciam escondidas.
O significado desse verso é: "Que austeridades as gop…s realizaram para poderem ver a
forma doce e maravilhosa de ®r… K��Ša enquanto Ele perambula livremente pelas florestas e
kuñjas de Vraja com muita alegria?"
Ali as gop…s recebiam o dar�ana do K��Ša jovial, rasika, tocando flauta e usando uma
pena de pavão na Sua coroa. Mas na arena de luta, as mulheres de Mathurā não podiam ver
aquela forma maravilhosa de K��Ša; mas O viam num humor de contenda, pronto para lutar,
depois de ter quebrado as presas de um elefante e estando decorado com gotas de sangue.
Qual é a natureza da forma de K��Ša? LāvaŠya-sāram asamordhvam — essa é própria
essência da amabilidade e sua beleza é inigualável e insuperável. Rāma é maravilhoso,
NārāyaŠa é maravilhoso e todas as outras encarnações de Bhagavān são maravilhosas, mas a
beleza de todas elas não supera nem iguala a de K��Ša.
Anannya-siddham — se K��Ša está usando um ornamento, se torna ainda mais belo e
se Ele o retira, fica ainda mais maravilhoso. Então se Ele está decorado com poeira, se torna
mais belo novamente. Em todas as circunstâncias Ele é o mais belo; não é necessário que use
qualquer ornamento como um brinco ou uma flor para incrementar a Sua beleza. Sentimos a
necessidade de tornar a nossa aparência mais bela — como nos parecemos quando não
estamos usando tilaka ou quando estamos usando roupas esfarrapadas? Mas como K��Ša não
tem necessidade de tentar aumentar a Sua beleza, Ele é ananya-siddham.
D ghiƒ pibanty anusavābhinavam — as mulhes de Mathurā estão dizendo: �
— Essa maravilhosa forma de K��Ša, que nunca vimos, é vista pelas gop…s em Vraja.
Suponham que temos o desejo de ver alguém cuja aparência é maravilhosa. Ao ver a sua face
apenas uma única vez ficamos satisfeitos e não há necessidade de vê-lo novamente. Mas ao
ver K��Ša, não teremos a possibilidade de desviar o olhar dEle, porque Sua aparência se
renova a cada instante e Ele fica cada vez mais belo. Ficaremos eternamente sedentos de ver
Sua beleza nectárea e jamais desejaremos desviar o olhar. Sua forma é ekānta-dhāma — o
refúgio exclusivo da fama, beleza e opulência, bem como das outras três qualidades de
Bhagavān que não estão citadas nesse verso. Por isso as mulheres de Mathurā estão dizendo:
— Olhem! Que austeridades as gop…s fizeram para receberem dar�ana dessa forma de
®r… K��Ša? Estamos vendo K��Ša enquanto está irado, atacando os inimigos, mas elas O vêem
como o atrator do próprio Cupido.
Elas desejam saber quais austeridades as gop…s fizeram para terem dar�ana desta forma,
mas apenas por desejarmos servir K��Ša com o humor das gop…s, isso pode ser alcançado.
Sem uma avidez intensa, isso será dificílimo. Nenhuma austeridade comum pode conceder o
dar�ana desta forma de K��Ša que foi vista pelas gop…s. Muitos de nós cantamos cem mil
harināmas todos os dias e ainda não tivemos este dar�ana e o que dizer dos outros? Existem
muitas austeridades renomadas, mas nenhuma delas pode conceder esse fruto. Algumas
pessoas sentam-se junto a fogueiras durante a estação quente e outras vão tomar banho no
Yamunā durante a estação fria, às quatro horas da madrugada e ainda voltam com as roupas
molhadas, sem considerar se está ventando, chovendo, nevando etc. Mas existe alguma
austeridade que possa nos levar a alcançar Bhagavān?
ārādhito yadi haristapasā tataƒ kiˆ
nā ādhito yadi haristapasā tataƒ kiˆ r
t
� …
l
antarbahiryadi naristapasā tataƒ kiˆ
nāntarbahiryadi haris apasā tataƒ kiˆ
Nārada-pañcarātra
Qual o valor de austeridades realizadas por sábios como Durvāsā se eles não adoraram
Bhagavān e não podem vê-lO em lugar algum? E se uma pessoa não vê Bhagavān dentro de
cada entidade viva e também fora delas, então para que servem outras austeridades além
desta forma de adoração? Para os devotos não há necessidade de realizar nenhuma
austeridade além de observar votos devocionais como o de ekāda …, janmā�˜am , etc. Além de
cantar harināma e de ouvir e meditar em harikātha, não existe outro método de se obter o
dar�ana de K��Ša. O objetivo da tapasyā é o de concentrar a mente, mas tentar agarrar o
vento é mais fácil do que tentar subjugar a mente, então como realizar essa façanha? Isso
pode ser conseguido com o serviço aos vai�Šavas, ouvindo harikātha, cantando harināma em
voz alta e meditando em Bhagavān.
Como as mulheres de Mathurā estavam vendo K��Ša com prema, Ele pareceu sempre
renovado a cada instante. Haviam outras pessoas presentes na arena, como os lutadores, mas
eles não O viram da mesma maneira. Eles não estavam satisfeitos ao vê-lO e estavam irados.
Será que HiraŠyaka�ipu ficava satisfeito ao ouvir o nome de Bhagavān, que é mais doce do
que a própria doçura? Por isso as mulheres de Mathurā estão dizendo que as gop…s bebiam a
sempre renovada forma encantadora de K��Ša com os olhos assim como alguém bebe o
néctar com a boca. Sua forma é a própria essência de āvaŠya, amabilidade. É como se Ele
fosse a corporificação de toda amabilidade.
Um leão que é mantido numa jaula não aparenta ser muito belo, mas quando está solto
na floresta, toda sua beleza e força tornam-se aparentes. Analogamente, toda a beleza de
K��Ša e a Sua doçura são exibidas apenas na "floresta" de Vraja. Lá na arena de Kaˆsa Ele
não estava tão belo com as gotas do sangue do elefante espalhadas no rosto. Quanto a isso
®r…la Sanātana Gosvām… cita esse verso do ®r…mad Bhāgavatam (3.2.12):
yan-martya-l…laupayikaˆ sva-yoga-
māyā-balaˆ dar�ayatā g h…tam �
vismāpanaˆ svasya ca saubhagarddheƒ
paraˆ padām bh™�aŠa-bh™�aŠā‰gam
"Através da Sua potência Yogamāyā, Bhagavān ®r… K��Ša apareceu nesse mundo para
conduzir as almas condicionadas de volta para Ele e exibiu uma forma que ao ser visualizada,
encanta todas elas. Esta forma é a melhor de todas, o ornamento de todos os ornamentos e vê-
lA é o auge da boa fortuna."
Capítulo VVI — A Natureza da Mahābhāva das Gop…s
Ninguém pode saborear a beleza de K��Ša como as gop…s o fazem. E qual é a razão
disso? É somente em Vraja que estão presentes a r™pa-mādhur…, l… ā-mādhur…, veŠu-mādhu …
e prema-mādhur… de K��Ša e Ele está saturado pelo prema de Seus associados. Dos inúmeros
devotos que ali estão, ninguém o satura tanto quanto as gop…s e, dentre todas elas, ®r…mat…
Rādhikā é quem o deixa mais saturado. No que tange a esse ponto, ®r…la Sanātana Gosvām…
escreveu uma conclusão filosófica especial no seu comentário sobre esse verso. Como ele
disse antes, ®r… K��Ša, a fonte de todas as encarnações, realiza passatempos ilimitados em
ilimitados dhāmas, mas o auge de Sua mādhur… flui em Vraja e em nenhum outro lugar.
Como a anurāga dos residentes de Vraja está sempre aumentando, a plenitude de Sua doçura
é exibida ali. K��Ša é mādhurya, doce, mas se as gop…s não estão presentes, Sua doçura não
alcançará o ponto mais elevado. Nenhum dos outros devotos pode experimentar
yāvadā�raya-v�tti, que é uma característica especial da mahābhāva das gop…s.
l r
�
O amor pode ser desfrutado na proporção em que está presente, se não houver amor,
ele não pode ser desfrutado. O significado de yāvadā�raya-v�tti é que o prema das gop…s
alcança o ponto mais elevado e que não é possível descrever nada além dele. Se esticarmos
uma tira de borracha, ela irá esticar até um certo ponto, mas o prema delas, e somente o delas,
pode se expandir ilimitadamente. Portanto, somente elas podem saborear a rasa de K��Ša de
quatro tipos de mādhur… em sua plenitude.
A tendência de saborear a insuperável beleza da forma de K��Ša é yāvadā�raya-v tti, e
outro nome para isso é mahābhāva. K��Ša é rasarāja e as gop…s são mahābhāva, e quando eles
se encontram as gop…s saboreiam aquele que é a corporificação da rasa. Mas a natureza
dinâmica desse encontro é que às vezes K��Ša se torna yāvadā�raya-v�tti e as gop…s se tornam
rasarājas. Isso não é possível para mais ninguém a não ser as gop…s; ficando saturadas pelo
prema delas, K��Ša começa servi-las e atendê-las.
Suponham que haja um moço que é aleijado, feio e incapaz de falar direito. É duvidoso
que alguém possa ficar muito afeiçoado por ele, mas a sua mãe o amará sempre porque ela
possui anurāga, ou amor espontâneo por ele e apesar desse ser apenas um reflexo do
sentimento de anurāga puro, anurāga é a base desse amor. Como a anurāga das gop…s por
K��Ša se expande ilimitadamente, isso é chamado yāvadā�raya-v�tti. Ao receber o dar�ana de
K��Ša, o prema das gop…s se multiplica por milhões de vezes — essa é a v tti, ou tendência de
sua anurāga. Mas isso só ocorre quando elas vêem a insuperável mādhurya da forma de
K��Ša; isso não ocorre quando elas vêem mais ninguém, incluindo Uddhava, que se parece
muito com K��Ša.
�
As mulheres de Mathurā lamentavam que apesar de estarem vendo K��Ša, não
possuíam a qualidade de prema por Ele exigida para poderem ver a Sua forma de beleza
insuperável que as gop…s sempre vêem. Quando está com fome, uma pessoa come com
grande prazer. Mas se não está com fome, pode pegar um bocado da comida, examiná-la e irá
encontrar defeito, não terá desejo de comê-la. Mas quando alguém está faminto, acha que
toda preparação é saborosa, mesmo que não seja. E o que dizer se a preparação for de uma
doçura ilimitada? E dessa maneira, as gop…s vivem "famintas" por K��Ša e quando elas
saboreiam a mādhurya de K��Ša, a sua mahābhāva aumenta tanto que não tem limite.
Mesmo que não haja espaço para ela aumentar mais, ainda assim aumenta. Nos estágios
superiores de mahābhāva, conhecidos como mādana e modana, isso aumenta infinitamente e
é sempre renovado a cada instante.
Na nossa condição atual, não podemos estimar o que seja sequer uma fração desse
sentimento, mas quando nossa fé no guru, vai�Šava e Bhagavān se desenvolver o suficiente,
então nos livraremos da influência dos anarthas e virá ni�˜hā. Mesmo se possuirmos alguma
�raddhā e ni�˜hā numa forma parcial, ainda assim nossa ruci precisa se aprofundar mais. No
momento nossas mentes ainda não permanecem fixas, mas algum dia bhāva virá e
precisamente quando virá, isso está fora do nosso alcance. Isso depende apenas de Bhagavān
e dos devotos que possuem essa bhāva e somente quando eles nos concedem a sua
misericórdia é que bhāva fica ao nosso alcance. Nessa oportunidade até mesmo a experiência
de mahābhāva virá a ser desfrutada pela alma automaticamente, mesmo que nada saibamos
sobre essa tendência. Pode parecer que não haja qualquer esperança que isso aconteça, ou que
não haja espaço em nosso coração para tanto, mas ainda assim virá automaticamente. Então,
pela influência maravilhosa de mahābhāva, atravessaremos facilmente os obstáculos
aparentemente intransponíveis que possam existir nesse mundo.
As mulheres de Mathurā falam do mādhurya K��Ša que veio de V�ndāvana. Por que
K��Ša não trouxe Sua flauta para Mathurā? Porque se Ele tocasse flauta em Mathurā,
nenhuma moça sairia de seu lar e deixaria a família na calada da noite para se encontrar com
Ele. Em Mathurā ninguém é um recipiente apropriado para a canção da flauta. As mulheres
de lá viram a Sua forma encantadora, mas não seriam capazes de abandonar seus esposos
para se encontrar com Ele. Isso também não iria ocorrer em Dvārāka. Elas ficariam com medo
de transgredir o dharma mundano e ficarem desgraçadas perante a sociedade. Como nesses
locais não existe mahābhāva e yāvadā�raya-v tti, ninguém viria se encontrar com K��Ša se
Ele tocasse Sua flauta.
�
No que diz respeito a esse tema, ®r…la Sanātana Gosvām… comenta que um devoto
poderá fazer k…rtana e ouvir harikātha da sua Deidade adorável, mas a experiência direta
dEle só será possível no dhāma. Um devoto pode meditar em K��Ša, ficar absorto na
lembrança e obter algum apego pela bhāva de Vraja, mas a experiência direta de K��Ša só
virá em V�ndāvana, quer em Gokula quer em Goloka. Em outros locais a meditação e a
lembrança são possíveis, mas a experiência direta dEle, somente em V�ndāvana. Por isso os
associados eternos de K��Ša em Dvārāka e em Mathurā podem ser capazes de estimar a
mādhurya de K��Ša em Vraja até um certo ponto, mas será que podem ter a experiência
direta dela? Será que serão capazes de abandonar tudo para irem se encontrar com K��Ša na
calada da noite? Não, e nem K��Ša jamais entraria na assembléia de Dvārāka com Suas
vestimentas de Vraja.
Mahābhāva é de uma variedade ilimitada mas geralmente se diz que mahābhāva é de
duas variedades: ru�ha e adhiru�ha, e existem milhares de variações de cada uma delas,
algumas em encontro e outras em separação. Mas todas as variedades de mahābhāva estão
corporificadas em ®r…mat… Rādhikā, ou estão manifestas em Suas expansões como as sakh…s.
Ela é a svayama-r™pa de mahābhāva, assim como K��Ša é a svayam-r™pa e a fonte de tad-
ekātma, svāˆ�aka, vilāsa, āve�a, prābhava-prakā�a, vaibhava-prakā�a e as expansões guŠa.
Os guŠa-avatāras são Brahmā, Vi�Šu e ®a‰ka e os āve�a-avatāras incluem P�thu, Nārada,
Vyāsa, Kapila e Para�urāma. Todos Eles possuem naturezas ou poderes específicos. E quando
K��Ša se expande em formas que são plenas de sac-cid-ānanda e sarva-�aktimān, isso se
denomina tad-ekātma-r™pa.
Assim como todas essas personalidades se expandem dEle e existem eternamente
dentro dEle, Rādhā corporifica todas as trezentas e sessenta variedades de heroínas. Por isso é
que Ela sempre atrai a mente de K��Ša. Se K��Ša deseja uma bhāva específica e numa gop… ela
é encontrada de forma insuficiente, Ele pode obter essa bhāva associando-se com outra gop….
Mas nenhuma delas pode mistificar e encantar K��Ša completamente como apenas Rādhikā
pode fazer.
Como sentimentos e desejos ilimitados surgem dentro de K��Ša, como o melhor herói
de todas as mulheres, Ele às vezes é dh…rodātta (sério e gentil), às vezes dh…ra anta (tranqüilo
e tolerante), outras dh…ra-lalita (despreocupado e jovial) e outras vezes dh…roddhata
(orgulhoso e inquieto). Ele é tudo isso ao mesmo tempo e quando há necessidade de
manifestar apenas um desses humores, Ele o manifesta. Da mesma maneira ®r…mat… Rādhikā
manifesta qualquer humor que seja necessário, às vezes ficando dh…ra (séria), às vezes mānan…
(fazendo beicinho) e outras dak�iŠa (astuta). Como a jóia mais valiosa e a verdadeira
corporificação desses trezentos e sessenta tipos de heroínas, Ela saboreia a doçura de K��Ša
até o grau mais elevado. Como Ela pode manifestar todas as qualidades e variedades de
heroínas, Ela é conhecida como mādanākhya-bhavati.
-�
Ao se encontrar com K��Ša Ela experimenta mādana, e quando separada dEle,
experimenta mohana. ®r… Caitanya Mahāprabhu exibia algo desses sabores elevados de
Rādhikā para esse mundo, e além dEle ninguém mais nesse mundo poderia exibir essas
coisas. No entanto, quando Ele estava exibindo estes estados, Rāya Rāmānanda e Svar™pa
Dāmodara, Seus associados íntimos, também podiam desfrutar um pouco desses
sentimentos. Além deles ninguém mais podia compreender esses sentimentos, mas depois
Mahāprabhu investiu Sua �akti para que eles fossem compreendidos, diretamente ao coração
de ®r…la R™pa Gosvām…, dizendo:
— Ele irá manifestar a Minha bhāva nesse mundo através de seus escritos.
Quando Rādhikā experimenta passatempos ilimitados, as vinte variedades de
sintomas de êxtase, começando com kila-kiñcita, surgem nEla espontaneamente. Nem mesmo
Ela pode compreender todos esses sentimentos e o sentimento apropriado está sempre
manifesto nEla no momento certo para o prazer de K��Ša. Por causa disso, Ela é eternamente
a amante de K��Ša na Sua svayam-r™pa. K��Ša nunca aparece diante de Rādhā em nenhuma
de Suas expansões kāya-vy™has, ou simplesmente como sph™rti (uma aparição durante a
meditação), e sim está sempre com Ela na Sua forma original — tanto no encontro quanto na
separação.
Uma vez Rādhikā estava sentada num certo local em Vraja meditando em K��Ša cada
vez com mais intensidade, até que de repente ficou completamente saturada. Então alguém
pôs as mãos em Seus olhos, ficando por detrás dEla. Ela perguntou:
— Lalitā?
Mas as mãos não foram retiradas; somente quando Ela falasse o nome certo da pessoa
é que as mãos seriam retiradas.
— Vi�ākhā? Citrā? Kundalatā?
Ela falou o nome de todas as sakh…s, mas ainda assim as mãos não foram retiradas.
Então Ela disse:
— ®yāmasundara!
E Ele retirou Suas mãos com muita jovialidade e sentou-se ao lado dEla. ®r…la Sanātana
Gosvām… comenta sobre essa l…lā que Rādhikā pensou que K��Ša aparecera numa sph™rti —
na meditação dEla, como naquela ocasião Ele estava em Mathurā ou Dvārāka na Sua forma
original, Ele deveria ter assumido uma expansão kāya-vy™ha. Mas ®r…la Sanātana Gosvām…
concluiu que K��Ša deveria ter aparecido ali na Sua svayam-r™pa, porque de outra maneira
Rādhikā não ficaria satisfeita. Essa é a maravilhosa concepção de ®r…la Sanātana Gosvām….
Se Mahāprabhu está em Pur…, mas em Navad…pa Mãe ®ac… está em prantos enquanto
Lhe oferece algo, será que ela ficaria satisfeita se Ele aparecesse ali numa mera expansão
kāya-vy™ha? Sabendo que ela só ficaria satisfeita se Ele viesse na Sua forma original,
Mahāprabhu faz exatamente isso, e com ®r…mat… Rādhikā Ele age da mesma maneira. Na Sua
forma original K��Ša sempre permanece ao lado de Rādhikā e jamais é capaz de se separar
dEla. ®r…la Sanātana Gosvām… diz que como as vraja-dev…s possuem a mahābhāva-
yāvadā�raya-v�tti mais elevada, como seria possível K��Ša abandoná-las? Enquanto residia
numa outra terra, as visitava em V�ndāvana na Sua forma original — e só visitava as gop…s, e
nem mesmo os sakhās sabiam disso.
rākhite tomāra j…vana, sevi āmi nā āyaŠa, r
t �
t
�
ā‰ra aktye āsi niti-niti
tomā-sane kr…�ā kari', niti yāi yadu-pur…,
āhā tumi mānaha mora sph™rti
mora bhāgya mo-vasaye, tomāra ye prema haye,
sei prema-parama prabala
lukāñā āmā ane, sa‰ga karāya tomā-sane,
praka˜eha ānibe satvara
Caitanya-caritām�ta, Madhya, 13.154-5
Sentado a sós com Rādhā em Vraja, K��Ša diz:
— Minha queridíssima ®r…mat… Rādhikā, lá na distante Dvārāka Me casei com muitas
senhoras, mas na realidade não amo nenhuma delas tanto quanto amo Você. Procurei em
todo universo por uma ki or… que fosse tão bela e com a mesma natureza que Você. Encontrei
Satyābhamā, mas só fico com ela porque ela Me faz lembrar você; e analogamente, casei-Me
com dezesseis mil rainhas porque cada uma delas fazia-Me lembrar de uma gop…. Se alguma
vez elas perderem essa semelhança com você Eu as abandonarei na mesma hora. Você diz
que quando está longe de Mim sente como se fosse morrer, mas Eu vivo o tempo todo
meditando em como fazer para salvar Sua vida e para tanto adoro NārāyaŠa . É pela
misericórdia e poder dEle que sou capaz de vir a V�ndāvana todos os dias para poder
desfrutar de Sua companhia. Você acha que Minha aparição na Sua meditação é uma forma
kāya-vy™ha, mas Eu venho a V�ndāvana na Minha forma original. Minha grande fortuna é o
imenso amor que Você tem por Mim. Sem que ninguém de Dvārāka e de V�ndāvana saiba
disso, venho aqui ver você e espero que logo também seja visível para todos os demais.
No verso que estamos discutindo estão as palavras amu�ya-r™paˆ, que significam
"esta mesma forma". As mulheres de Mathurā estão dizendo:
— Estamos vendo K��Ša, mas por que não estamos sentindo o prema mais elevado?
Que austeridades as gop…s realizaram para serem capazes de ver com seus olhos de
mahābhāva a forma original de K��Ša adornado com uma pena de pavão em Sua coroa e a
essência da amabilidade?
Incapazes de ver a forma a forma de K��Ša que as gop…s vêem e incapazes de
experimentar a mahābhāva das gop…s, elas desejam saber que tipo de austeridade as gop…s
fizeram para ter uma boa fortuna como esta.
Nem todos serão capazes de sentir uma bhāva tão elevada. Quando nosso Gurudeva
®r… ®r…mad Bhakti Prajñāna Ke�ava Gosvām… Mahārāja dançava, movimentava-se de uma
maneira excepcionalmente doce e amável. Com os olhos voltados para cima e segurando sua
daŠ�a de sannyās… na mão, dançava imerso em bhāva. Nunca vi alguém dançar como ele em
toda minha vida. Sempre que ouvia os passatempos de K��Ša, ele ficava emocionado e
começava a chorar e se nós fazíamos bhajana sinceramente com firme determinação, também
podíamos experimentar um pouco dessa bhāva. Desejávamos esses sentimentos como as
mulheres de Mathurā, que se lamentavam:
— Hāya! Hāya! Estamos vendo K��Ša diretamente e no entanto não podemos
experimentar a bhāva das gop…s. Nossas vidas são inúteis.
®r…la Sanātana Gosvām… diz que somente em Vraja é que a forma doce de K��Ša como a
essência da amabilidade e o reservatório de toda rasa pode ser vista e somente em Vraja essa
bhāva tão doce pode ser experimentada. Fora de Vraja a forma original de K��Ša não pode ser
vista diretamente e essa bhāva não pode ser saboreada diretamente. Em outros locais é
possível ver K��Ša através da meditação, ou em uma de Suas expansões, mas experimentá-lO
diretamente não é possível.
Em seguida vem o verso:
yā dohane `vahanane mathanopalepa-
pre‰khe‰khanārbha-ruditok�ana-mārjanādau
gāyanti cainam anurakta-dhiyo `�ru-kaŠ˜hyo
dhanyā vraja-striya urukrama-citta-yānāƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.44.15 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.136
"As gop…s são extremamente afortunadas porque seus corações estão sempre tão
absortos em K��Ša que enquanto ordenham as vacas, batem iogurte, aplicam candana e
outras decorações em seus corpos, embalam as crianças que choram, lavam o chão e realizam
outras atividades domésticas, lágrimas de amor caem de seus olhos enquanto elas cantam
continuamente sobre Sua fama purificante."
Geralmente, quando um kani�˜ha-adh…kar… vai visitar um vai�Šava mahā-bhāgavata,
ele primeiro pensa: "Este é um kani�˜ha-adh…kar… como eu."
De início Sarvabhauma Bha˜˜ācārya ridicularizou Rāya Rāmānanda, achando que ele
só falava de mulheres — Sarvabhauma considerava as gop…s como sendo mulheres comuns.
Ele só respeitava o jñāna dos quatro Kumāras, a vairāgya de ®ukadeva Gosvām… e a
concepção de nirvi�e�a de ®a‰karācārya. Portanto, se alguém não está numa posição elevada
não pode ser capaz de compreender a bhāva dos devotos elevados. E somente uma grande
personalidade, perfeita, que é rāgātmikā, ou um devoto que está no estágio final de rāgānugā-
sādhana, compreenderá o prema das gop…s. Até mesmo devotos como Bh…�ma, que foram
contemporâneos delas, não puderam compreender completamente a natureza elevada do
prema que as gop…s possuíam. Somente aqueles que estavam próximos a elas é que poderiam
compreender algo sobre isso. Por exemplo, Uddhava teve que deixar Dvārāka e ir para Vraja
para compreender como as gop…s eram elevadas — se permanecesse em Dvārāka jamais teria
compreendido.
Esse verso e o anterior foram falados pelas mulheres de Mathurā e como Mathurā só
está a dez quilômetros de V�ndāvana, às vezes a avidez espiritual dos devotos de Vraja pode
chegar a Mathurā. Além de Uddhava, às vezes alguns comerciantes e outras pessoas
viajavam entre Mathurā e V�ndāvana e dessa maneira os residentes de Mathurā podiam
compreender algo sobre a bhāva de Vraja; mas aqueles que viviam distantes de Vraja não
podiam compreender nada.
Mesmo em separação de K��Ša as gop…s estão sempre se encontrando com Ele.
Enquanto cuidam de seus filhos, ordenham as vacas, batem iogurte, aplicam candana e
fazem os serviços domésticos, elas estão sempre recebendo Seu da �ana direto por cantarem
sobre Ele. Portanto, o k…rtana é a melhor atividade devocional. Cantando juntas numa doce
rāga matinal, elas viam K��Ša com os olhos de bhāva, mesmo não abandonando seus deveres.
Analogamente, um sādhaka deve observar as regras e regulações de vaidh…-bhakti, mas
r
internamente sua bhāva deve ser de rāgānugā-bhakti. Externamente deve aparentar ser o
mesmo, mas internamente sua bhāva será diferente.
A avidez por rāgānugā nos levará para Vraja, enquanto vaidh…-bhakti só nos levará
para VaikuŠ˜ha. Como as mulheres de Mathurā estão perto de Vraja e da bhāva de Vraja, elas
oram para que também possam experimentar a bhāva das gop…s.
Na ocasião da āsa-l…lā, K��Ša e as gop…s estavam sentados juntos. Com melodias
maravilhosas, saturadas de rasa, as gop…s derrotaram K��Ša cantando:
r
— K��Ša sādhu, K��Ša sādhu!
Numa nota tão alta que K��Ša não conseguia alcançar. Enquanto as mulheres de
Mathurā contemplavam passatempos como esses que as gop…s desfrutavam com K��Ša, elas
diziam:
— Nós só podemos ver K��Ša aqui numa arena num humor belicoso, enquanto as
gop…s O vêem perpetuamente na Sua forma como a jóia mais valiosa de vidagdha. Nunca
tivemos uma boa fortuna assim!
Vidagdha significa gracioso e engenhoso, mas quando aplicada a K��Ša seu significado
é rasika-catura — supremamente astuto e perito em saborear rasa. Essas mulheres de
Mathurā não eram sequer tão afortunadas quanto a moça pulinda, que costumava ouvir a
vibração da flauta de K��Ša. Até mesmo os gamos de Vraja ouviam a melodia da flauta de
K��Ša, mas as mulheres de Mathurā não podiam imaginá-la.
Todos os nossos deveres devem ser realizados enquanto cantamos nāma-sa‰k…rtana.
Imaginem que haja um pote cheio de água. Se simplesmente adicionarmos um pouco de
limão e um pouco de açúcar, na mesma hora teremos néctar. Analogamente, devemos
realizar inúmeros deveres mundanos, mas se, seguindo a bhāva de nosso guru, meditarmos
em Bhagavān enquanto os desempenhamos, eles se tornarão como néctar. No estado
condicionado, estamos sempre considerando o que é favorável para o nosso bhakti. Como
estamos no estágio inicial, tudo parece ser desfavorável para nós e nossas mentes estão
perturbadas. Mas à medida que progredimos em sādhana-bhajana vamos notando que nossa
visão do que é desfavorável vai diminuindo. E quando alcançamos o estágio de bhāva,
percebemos que tudo o que antes considerávamos desfavorável é favorável.
Na verdade, nada nesse mundo é desfavorável para nós; isso só ocorre devido à nossa
atual debilidade e anarthas e por isso vemos nosso ambiente como desfavorável. Quaisquer
obstáculos que enfrentamos são devido às nossas atividades equivocadas passadas e não é
por defeito de nenhuma outra pessoa.
Nesse verso, as mulheres rasikas de Mathurā dizem urukrama-citta-yānāƒ — as mentes
das gop…s fluem espontaneamente para Urukrama K��Ša. Uru significa "corrente forte,
contínua", e como as mentes delas fluem para K��Ša espontaneamente com grande força e
velocidade, elas são afortunadas e assim K��Ša vai até elas diretamente, enquanto elas
cantam. Por isso se enquanto desempenhamos nossos deveres domésticos nossas mentes e
corações ficarem absortos no nāma, guŠa, r™pa e l…lā de K��Ša, então muito em breve iremos
receber o Seu dar�ana direto.
®lokas Bhakti-rasāyana
dhanyeyam adya dharaŠ… t Ša-v…rudhas tvat- �
�
�
pāda-sp��o druma-latāƒ karajābhim��tāƒ
sadyo `drayaƒ khaga-m gāƒ sadayāvalokair
gopyo `ntarena bhujayor api yat-sp hā �r…ƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.15.8 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.107
®r… K��Ša disse para Balarāma: "Hoje essa terra e toda a sua verde relva se tornaram
afortunadas por receber o toque de Seus pés de lótus. E ao receberem o toque dos dedos de
Suas mãos de lótus, as árvores, trepadeiras e a vegetação estão considerando que alcançaram
o maior tesouro. Recebendo Seus olhares afetuosos, os rios, montanhas, aves e animais estão
se sentindo completamente gratificados. Mas as mais afortunadas de todos são as gop…s de
Vraja que abraçaram o Seu peito forte, um favor que até mesmo Lak�m…-dev… sempre deseja."
v�ndāvanaˆ sakhi bhuvo vitanoti k…rtiˆ
yad devak… -suta-padāmbuja-labdha-lak�mi
govinda-veŠum anu matta-may™ra-n�tyam
prek�yādri-sānv-avaratānya-samasta-sattvaˆ
®r…mad Bhāgavatam 10.21.10 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.108
"Ó sakh… Rādhe! V�ndāvana é mais gloriosa que o céu, VaikuŠ˜ha e mais gloriosa que
Ayodhya e Dvārāka-pur… porque foi agraciada com as pegadas de Davak…-suta. E somente
nessa V�ndāvana os pavões dançam no ritmo da melodia da flauta de Govinda. Ao ouvirem o
som da flauta e os pavões dançando, todas as aves, animais e as outras entidades vivas ficam
atônitas."
hantāyam adrir abalā hari-dāsa-varyo
yad-rāma-k �Ša-caraŠa-spara�a-pramodaƒ r
-mānaˆ tanoti saha-go gaŠayos tayor yat
pān…ya-s™yavasa-kandara-kandam™laiƒ
®r…mad Bhāgavatam 10. 21.18 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.109
"Essa colina de Govardhana é a melhor de todos aqueles que são conhecidos como
hari-dāsa, porque sente grande prazer e júbilo com o toque dos pés de lótus de K��Ša e
Balarāma. Govardhana Os adora com grande respeito providenciando tudo o que necessitam,
como grutas, frutas, flores e água para o prazer dEles e de Seus amigos vaqueirinhos, das
vacas e dos bezerros."
d��˜vātape vraja-pa�un saha rāma-gopaiƒ
sañcārayantam anu veŠum ud…rayantam
prema-prav�ddha uditaƒ kusumāval…bhiƒ
sakhyur vyadhāt sva-vapu�āmbuda ātapatram
®r…mad Bhāgavatam 10.21.16 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.110
"Vendo K��Ša e Balarāma tocando Suas flautas ao sol da tarde e levando as vacas e os
bezerros para pastar, as nuvens se enchem de amor divino e como um guarda-sol escoltam
seu amigo K��Ša protegendo-O do sol, fazendo cair uma garoa que mais parece uma chuva
de flores."
nadyas tadā tad upadhārya mukunda-g…tam
āvarta-lak�ita-manobhava-bhagna-vegāƒ
āli‰gana-sthagitam-™rmi-bhujair murārer
g�hŠanti pāda-yugalaˆ kamalopahā āƒ r
r
®r…mad Bhāgavatam 10.21.15 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.11
"Ó sakh…s, quando os rios de V�ndāvana, liderados pelo Yamunā, ouviram a vibração
da flauta de K��Ša, suas correntes pararam completamente e as águas começaram a subir,
como se estivessem tomadas de desejo, com seus braços erguidos formando as ondas, que se
agitavam para tocar e oferecer flores aos Seus pés de lótus."
vana-latās tarava ātmani vi�Šuˆ
vyañjayantya iva pu�pa-phalā�hyāƒ
praŠata-bhāra-vi˜apā madhu-dhā āƒ
prema-h��˜a-tanavo vav��uh sma
®r…mad Bhāgavatam 10.35.9 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.112
" Vejam como as trepadeiras e os galhos das árvores de V�ndāvana estão pendendo
devido ao peso! Eles também devem ter posto ®r… K��Ša dentro de seus corações, porque
lágrimas de amor na forma de correntes de mel estão gotejando deles e os frutos e flores que
neles surgiram denotam o seu êxtase amoroso."
ete `linas tava ya�o `khila-loka-t…rthaˆ
gāyanta ādi-puru�ānupathaˆ bhajante
prāyo am… muni-gaŠā bhavad…ya-mukhyā
g™�haˆ vane `pi na jahaty enaghātma-daivam
®r…mad Bhāgavatam 10.15.6 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.113
®r… K��Ša disse para Balarāma: "Ei šdi-puru�a! Apesar de Você estar mantendo
escondidas as Suas opulências e estar realizando passatempos como um jovenzinho aqui em
V�ndāvana, os munis, que estão entre os mais destacados dos Seus devotos, O reconheceram.
Não desejando estar separados de Você nem por um instante, assumiram as formas de
abelhas e O estão adorando cantando constantemente Suas glórias como o purificador desse
mundo."
sarasi sārasa-haˆsa-viha‰gā�
cāru-g…ta-h�da-cetasa etya
harim upāsata te yata-cittā
hanta m…lita-d��o dh ta-maunāƒ �
l
r
®r…mad Bhāgavatam 10.35.11 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.114
As gop…s disseram: "É muito surpreendente que K��Ša fique aí roubando os corações
dos gansos, grous e outras aves aquáticas e que assim que Ele se aproxima delas, elas pousam
e O adoram com os olhos fechados, concentrando completamente suas mentes nEle."
prāyo batāmba vihagā munayo vane `smin
k��Šek�itaˆ tad-uditaˆ kala-veŠu-g…tam
āruhya ye druma-bhujān rucira-pravā ān
�rŠvanti m…lita-d��o vigatānya-vācaƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.21.14 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.115
"Ó amiga, as aves de V�ndāvana na verdade são sábios. Elas pousam nos galhos das
árvores que têm folhas novas e de onde podem ter o dar�ana de ®r… K��Ša com facilidade. Ali
pousadas e ouvindo a doce vibração de Sua flauta, elas fecham os olhos e se imergem em
bem-aventurança divina."
dhanyāƒ sma m™�ha-gatayo `pi hariŠya etā
yā nanda-nandanam upātta-vicitra-ve�am
ākarŠya veŠu-raŠitaˆ saha-k��Ša-sā āƒ
p™jāˆ dadhur viracitāˆ praŠayāvalokaiƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.21.11 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.116
"Essas corças ignorantes também são afortunadas, porque acompanhadas pelos seus
esposos, estão imóveis, ouvindo a vibração da flauta de K��Ša. É como se estivessem
oferecendo p™jā para o elegantemente vestido filho de Nanda com olhares amorosos."
gāva� ca k��Ša-mukha-nirgata-veŠu-gitā-
p…y™�am uttabhita-karŠa-pu˜aiƒ pibantyaƒ
�āvāƒ snuta-stana-payaƒ-kavalāƒ sma tasthur
govindam ātmani d��ā�ru-kalāƒ sp��antyaƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.21.13 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.117
"Para poder beber a vibração nectárea da canção da flauta que emana da boca de lótus
de ®r… K��Ša, as vacas levantaram suas orelhas. A grama que elas estavam mastigando ficou
parada em suas bocas e o leite começou a gotejar de seus úberes. Os bezerros logo pararam de
mamar, como se abraçassem K��Ša em seus corações, lágrimas de amor começaram a cair
sobre suas faces."
v�nda�o vraja-v��ā m�ga-gāvo
veŠu-vādya-h ta-cetasa ārāt �
it r
danta-da�˜a-kavalā dh�ta-karŠā
nidritā kikh a-cit am ivāsan
®r…mad Bhāgavatam 10.35.5 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.118
"Ao ouvirem a vibração da flauta de ®r… K��Ša, os touros, vacas e gamos de V�ndāvana
se aproximaram dEle. Incapazes de engolir a grama que tinham na boca, ficaram silenciosos
com as orelhas erguidas e pareciam animais de uma gravura."
p™rŠāƒ pulindya urugāya-padābja-rāga-
�r…-ku‰kumena dayitā-stana-maŠ�itena
tad-dar�ana-smara-rujas t�Ša-r™�itena
limpantya ānana-kuce�u jahus tad-ādhim
®r…mad Bhāgavatam 10.21.17 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.119
"Ó sakh…, consideramos que as moças pulindas, que coletam palha e madeira, são
grandemente afortunadas, pois, por passarem a ku‰kuma que está na palha em seus corpos e
em suas faces, os desejos que surgem em seus corações por verem essa mesma ku‰kuma se
acalmam.
Na verdade, esta ku‰kuma é dos seios de ®r…mat… Rādhikā, que na hora de desfrutar de
Seus passatempos com ®r… K��Ša, se espalhou sobre os pés de lótus dEle. E assim, enquanto
perambulam pela floresta, ela cai de Seus pés para a grama."
yadi d™raˆ gataƒ k��Šo
vana-�obha-k�aŠāya tam
ahaˆ p™rvam ahaˆ p™rvam
iti saˆsp��ya remire
®r…mad Bhāgavatam 10.12.6 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.120
"Ó sakh…, consideramos as moças pulindas que coletam palha e madeira como sendo
muito afortunadas porque, por espalharem a ku‰kuma que está sobre a grama em suas faces
e nos seus corpos, os desejos que surgem em seus corações por verem esta mesma ku‰kuma,
são acalmados. Na verdade esta ku‰kuma é dos seios de ®r…mat… Rādhikā e na hora em que
desfrutava de passatempos com ®r… K��Ša, ela se espalhou nos pés de lótus de ®r… K��Ša.
Então enquanto vagam pela floresta, ela cai dos Seus pés para a grama."
itthaˆ satāˆ brahma-sukhānubh™tyā
dāsyaˆ gatānāˆ para-daivatena
māyā�ritānāˆ nara-dārakeŠa
sārdhaˆ vijahruƒ k ta-puŠya-puñjaƒ �
®r…mad Bhāgavatam 10.12.11 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.121
"E assim, os muito afortunados vaqueirinhos desfrutam de várias maneiras com ®r…
K��Ša, que os jñān…s vêem como sendo a refulgência Brahman, que Seus servos vêem como a
Deidade supremamente adorável e que as pessoas comuns vêem como um menino qualquer.
(ou alternativamente, māyā�ritā também significa aqueles que receberam a Sua maior
misericórdia, por estarem desprovidos do sentimento de opulência e O viram apenas como o
filho de Nanda.)
yat-pāda-paˆ�ur bahu-janma-k�cchrato
dh ātmabhir yogibhir apy alābhyaƒ �t
�
�
sa eva yād g vi�ayaƒ svayaˆ sthitaƒ
k…rtanaˆ varŠyate di�tam aho vrajaukasām
®r…mad Bhāgavatam 10.12.12 3 B�had-bhāgavatām�ta 2.7.122
"Os grandes yog…s realizam severas austeridades por inúmeras vidas, mas mesmo se
controlarem suas mentes com grande dificuldade, ainda assim não podem alcançar sequer
uma partícula da poeira dos pés de lótus de ®r… K��Ša. Como poderei descrever a boa fortuna
dos vraja-vās…s, que diariamente recebem o Seu dar�ana?"
kvacit pallava-talpe u
niyuddha-�rama-kar�itaƒ
v�k�a-m™lā�rayaƒ �ete
gopotsa‰gopabarhaŠaƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.15.16 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.123
"Ao ficar fadigado de lutar e brincar com os vaqueirinhos, K��Ša aceitava o colo de um
dos Seus amigos como travesseiro e deitava-se sob uma árvore numa cama ricamente
decorada com flores e folhas."
pāda-saˆvāhanaˆ cakruƒ
kecit tasya mahātmanaƒ
apare hata-pāpmāno
vyajanaiƒ samav…jayan
®r…mad Bhāgavatam 10.15.17 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.124
"Nesse momento, um sakhā muito afortunado massageia Seus pés enquanto outro
abana Seu corpo com um abano feito de folhas."
anye tad-anur™pāŠi
manojñāni mahātmanaƒ
gāyanti sma mahā-rāja
sneha-klinna-dhiyaƒ �anaiƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.15.18 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.125
"Meu querido Mahārāja, outros sakhās cantam canções atrativas, apropriadas para a
hora de descansar, e todos os corações dos vaqueirinhos se derretem de afeição por K��Ša."
nandaƒ kim akarod brahmana
�reya eva mahodayam
ya�oda vā mahā-bhāga
pāpau yasyāƒ stanaˆ hariƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.8.46 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.126
®r… Par…k�it Mahārāja perguntou: "Meu querido brāhmaŠa, que sādhana supremamente
auspicioso Nanda realizou e a que austeridades se submeteu a supremamente afortunada
Ya�oda para ter o seu seio sugado por ®r… Hari?"
tato bhaktir bhagavati
putr…-bh™te janārdane
dam-patyor nitarām ās…d
gopa-gop…�u bhārata
®r…mad Bhāgavatam 10.8.51 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.127
®r… ®ukadeva Gosvām… respondeu: "Ó Bharata, para cumprir a promessa do Seu devoto
querido, Brahmā, o destruidor do mal, Svayam Bhagavān ®r… K��Ša, apareceu como filho de
Nanda e Ya�oda. Em comparação com os outros gopas e gop…s, esse casal tinha o maior amor
por Ele."
nandaƒ sva putram ādāya -
�
pro�yāgata udāra-dh…ƒ
m™rdhny avaghrāya paramaˆ
mudaˆ lebhe kur™dvaha
®r…mad Bhāgavatam 10.6.43 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.128
"Quando o magnânimo Nanda regressou de Mathurā, pegou seu filho K��Ša no colo e
sentia um prazer imenso ao repetidamente cheirar Sua cabeça."
sa mātuƒ svinna-gātrāya
visrasta-kavara-srajaƒ
d��˜va pari�ramaˆ k��Šaƒ
k�payās…t sva-bandhane
®r…mad Bhāgavatam 10.9.18 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.129
"Quando K��Ša viu Ya�oda labutando tão desesperadamente que o seu corpo todo
estava pingando de transpirar e que a guirlanda de flores que estava enfeitando os tranças do
seu cabelo havia caído, Ele misericordiosamente permitiu-se ser amarrado por ela."
nenaˆ viriñco na bhavo
na r…r apy a‰ga-saˆ�rayā
prasādaˆ lebhire gop…
yat tat prāpa vimuktidāt
®r…mad Bhāgavatam 10.9.20 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.130
"Nem Brahmā, ®iva, nem mesmo Lak�m…dev… — que reside eternamente no peito de
K��Ša na forma de uma linha dourada — jamais receberam tanta misericórdia quanto Ya�oda
recebeu dEle, que é quem concede a liberação."
payaˆsi yāsām apibat
putra-sneha-snutāny alam
bhagavān devak…-putraƒ
kaivalādy-akhilārtha-daƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.6.39 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.131
Bhagavān ®r… K��Ša, o concessor de todos os objetivos do propósito da vida humana
incluindo todas as variedades de liberação, bebendo com plena satisfação o leite de todas as
gop…s maternais e das vacas que gotejavam leite devido à afeição materna por Ele."
tāsām avirataˆ k��Še
kurvat…nāˆ sutek�aŠam
na punaƒ kalpate rājan
saˆsāro `jñāna-sambhavaƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.6.40 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.132
"Ó rei, aquelas gop…s e vacas estavam sempre sentindo amor materno por K��Ša e,
portanto, depois de abandonarem seus corpos não poderiam jamais reingressar no ciclo de
nascimento e morte, a calamidade que é imposta àqueles que são ignorantes."
gop…nāˆ paramānanda
ās…d govinda-dar�ane
k�aŠaˆ yuga-�atam iva
yāsāˆ yena vinābhavat
®r…mad Bhāgavatam 10.19.16 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.133
"As vraja-gop…s desfrutavam de um prazer imenso ao receberem o dar�ana de ®r…
Govinda, mas consideravam um único momento da Sua ausência como sendo igual a
centenas de yugas."
tan-manaskās tad-ā āpās l
˜
l r
tad-vice� ās tad-ātmikāƒ
tad-guŠān eva gāyantyo
nātêmāgārāŠi sasmaruƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.30.43 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.134
"Aquelas vraja-gop…s que entregaram completamente seus corações a ®r… K��Ša
imitavam a Sua maneira de falar e Suas atividades. Uma vez que ofereceram suas almas a Ele
e sempre cantavam Suas glórias, elas esqueceram-se totalmente de si mesmas e dos interesses
de suas famílias."
gopyas tapaƒ kim acaran yad amu�ya r™paˆ
āvaŠya-sāram asamo dhvam ananya-siddham
d�gbhiƒ pibanty anusavābhinavam durāpam
ekānta-dhāma ya�asaƒ �riya ai�varasya
®r…mad Bhāgavatam 10.44.14 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.135
As mulheres de Mathurā disseram: "Que austeridades fizeram as gop…s de Vraja para
poderem sempre beber com os olhos o néctar da forma de ®r… K��Ša — que é a própria
essência da amabilidade, que é inigualável e insuperável, que é a própria perfeição e que
sempre parece nova e recente, que é extremamente rara de ser vista e é sempre o refúgio
exclusivo de toda a fama, esplendor e opulência?"
yā dohane `vahanane mathanopalepa-
pre‰khe‰khanārbha-ruditok�ana-mārjanādau
gāyanti cainam anurakta-dhiyo `�ru-kaŠ˜hyo
dhanyā vraja-striya urukrama-citta-yānāƒ
®r…mad Bhāgavatam 10.44.15 e B�had-bhāgavatām�ta 2.7.136
"As gop…s são extremamente afortunadas, porque seus corações estão sempre tão
absortos em K��Ša que enquanto ordenham as vacas, batem iogurte, aplicam candana e
outras decorações em seus corpos, embalam as crianças que choram, lavam o chão e realizam
outras atividades domésticas, lágrimas de amor caem de seus olhos enquanto elas cantam
continuamente sobre Sua fama purificante."
®r… Gaura ±a�bhuja bhajana-ku˜ir,
Publicado no auspicioso ®r… Radhā�˜am… de 2000.