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ISSN 1982-3541 Campinas-SP 2009, Vol. XI, nº 2, 329-345 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, nº 2, 329-345 O processo de adesão numa perspectiva analítico comportamental Adherence process from a behavioral analysis perspective Antonio Bento Alves de Moraes 30 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba Gustavo Sattolo Rolim 31 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas Aderson Luiz Costa Jr. 32 Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia Resumo Os comportamentos das pessoas e as situações em que vivem têm impacto sobre a qualidade de vida das pessoas. O indivíduo é concebido como um ser ativo, capaz de agir sobre o meio e que tem responsabilidades no seu processo de adoecer. Desta maneira, os indivíduos têm condições potenciais de adquirir e manter comportamentos saudáveis, aderindo a planos terapêuticos importantes a suas condições de desenvolvimento. Os comportamentos de profissionais da saúde e dos pacientes representam o eixo central do processo de comunicação que deve ser descrito para uma compreensão ampla da análise da adesão em saúde. A adesão não pode ser reduzida ao cumprimento das recomendações, mas ao resultado da exposição a situações de aprendizagem e de enfrentamento. Palavras-chave: Adesão, Comunicação, Aprendizagem, Promoção da saúde. Abstract People’s behavior and their contexts have an impact on their quality of life. Adherence behavior patterns involve patients as active subjects, capable of involvement in the process of health and illness. Individuals may learn and maintain effective health behavior, showing adherence to treatment that promotes well-being. A comprehensive understanding of adherence or compliance requires a description of the behavioral relationship between professionals and patients which, in turn, represents the central issue of what is referred to as the communication process. Adherence 30 Professor Doutor, Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Av. Limeira, 901, 13 414-903, Areião, Piracicaba, SP, Brasil. E-mail: [email protected] 31 Doutorando, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Ciências Médicas, Campinas, SP, Braisl. E-mail: [email protected] 3 Professor Doutor, Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia. Brasília, DF, Brasil. E-mail: [email protected]

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  • ISSN 1982-3541 Campinas-SP 2009, Vol. XI, n 2, 329-345

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, n 2, 329-345

    O processo de adeso numa perspectiva analtico comportamental

    Adherence process from a behavioral analysis perspective

    Antonio Bento Alves de Moraes30 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Odontologia de Piracicaba

    Gustavo Sattolo Rolim31 Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Cincias Mdicas

    Aderson Luiz Costa Jr.32 Universidade de Braslia, Instituto de Psicologia

    Resumo

    Os comportamentos das pessoas e as situaes em que vivem tm impacto sobre a qualidade de vida das pessoas. O indivduo concebido como um ser ativo, capaz de agir sobre o meio e que tem responsabilidades no seu processo de adoecer. Desta maneira, os indivduos tm condies potenciais de adquirir e manter comportamentos saudveis, aderindo a planos teraputicos importantes a suas condies de desenvolvimento. Os comportamentos de profissionais da sade e dos pacientes representam o eixo central do processo de comunicao que deve ser descrito para uma compreenso ampla da anlise da adeso em sade. A adeso no pode ser reduzida ao cumprimento das recomendaes, mas ao resultado da exposio a situaes de aprendizagem e de enfrentamento.

    Palavras-chave: Adeso, Comunicao, Aprendizagem, Promoo da sade.

    Abstract

    Peoples behavior and their contexts have an impact on their quality of life. Adherence behavior patterns involve patients as active subjects, capable of involvement in the process of health and illness. Individuals may learn and maintain effective health behavior, showing adherence to treatment that promotes well-being. A comprehensive understanding of adherence or compliance requires a description of the behavioral relationship between professionals and patients which, in turn, represents the central issue of what is referred to as the communication process. Adherence

    30 Professor Doutor, Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Av. Limeira, 901, 13 414-903, Areio, Piracicaba, SP, Brasil. E-mail: [email protected]

    31 Doutorando, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Cincias Mdicas, Campinas, SP, Braisl. E-mail: [email protected]

    3 Professor Doutor, Universidade de Braslia, Instituto de Psicologia. Braslia, DF, Brasil. E-mail: [email protected]

    VicenteHighlight

  • Antonio Bento Alves de Moraes - Gustavo Sattolo Rolim - Aderson Luiz Costa Jr.

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    may be understood as compliance with instructions but it is mainly the result of learning coping responses.

    Keywords: Adherence, Communication, Learning, Health Promotion

    Introduo

    As condies de sade e de doena

    dos indivduos so resultantes de um

    complexo processo de interao entre

    fatores biolgicos, psicolgicos e sociais

    que podem ser analisadas em funo dos

    comportamentos adquiridos e mantidos

    ao longo do tempo em determinados

    contextos. Atualmente, reconhece-se que

    as crenas e aes das pessoas e as

    situaes em que estas vivem tm

    impacto, benfico ou adverso, sobre a

    qualidade de vida das pessoas (Bennet &

    Murphy, 1999).

    A promoo da sade envolve tanto

    os comportamentos de pessoas como de

    seus familiares e grupos mais amplos,

    bem como as polticas pblicas,

    relacionadas a aes que tenham como

    objetivo implementar uma melhor

    qualidade de vida e, conseqentemente,

    de desenvolvimento (Jenkins, 2007). A

    compreenso sistemtica sobre como as

    pessoas se comportam quando esto

    saudveis, ou doentes, uma das tarefas

    do profissional da sade interessado em

    promoo de sade. Informaes sobre

    crenas, valores e repertrio de

    comportamentos de indivduos em

    diferentes contextos de tratamento, por

    exemplo, permitem planejar, divulgar e

    implementar aes que ensinem as

    pessoas a enfrentarem situaes adversas

    durante o perodo de adoecimento e no

    dia-a-dia em geral. Neste sentido,

    estratgias de ensino devem ser

    entendidas como parte integrante do

    processo de adeso s exigncias dos

    tratamentos.

    Devemos destacar que o processo de

    ensino, no contexto de tratamentos de

    sade, envolve algumas premissas: (a)

    uma valorizao da interao

    profissional-paciente, como um processo

    de disponibilizao, ou transposio, de

    informao de um indivduo habilitado

    formalmente para cuidar da sade de

    outro indivduo que necessita de

    cuidados; (b) um incentivo participao

    ativa de pacientes e familiares em todas

    as etapas do tratamento; (c) uma

    perspectiva filosfica e tica de ateno

    integral s necessidades de pacientes e

    familiares, sem priorizao de

    necessidades biolgicas em detrimentos

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    de demandas psicossociais ou outras

    especficas de cada contexto (Jenkins,

    2007). Entretanto, a prtica clnica, em

    diferentes reas da sade, aponta para a

    existncia de um descompasso entre as

    polticas de promoo de sade e a

    formao oferecida nas escolas que

    formam os profissionais da sade,

    calcadas ainda, na especificidade e na

    especializao de tcnicas destinadas ao

    cuidado de fatores biolgicos.

    Embora a preocupao com a

    relao da sade e doena acompanhe o

    homem desde os primrdios de nossa

    histria, a concepo de sade e de

    doena em termos de parmetros fsicos e

    indicadores biolgicos mantm sua

    supremacia em relao s teorias

    multidimensionais, que consideram o

    processo sade doena como influenciado

    por variveis biolgicas, psicolgicas,

    sociais, geogrficas, etc. (Costa Junior,

    2005). Discusses filosficas em

    disciplinas de cincias humanas e

    biolgicas, a partir da dcada de 60 do

    sculo XX, passaram a questionar a

    nfase tradicional na orientao

    biomdica da assistncia sade e

    apontaram uma necessria ampliao da

    perspectiva social da medicina. Os

    avanos no conhecimento cientfico e o

    aprimoramento tcnico dos profissionais

    de sade, especialmente em algumas

    reas da medicina e da odontologia,

    sugerem que os profissionais ainda

    apresentam um treinamento insuficiente

    de habilidades sociais, tcnicas de

    comunicao e avaliao de repertrios

    comportamentais e cognitivos

    relacionados ao enfrentamento e adeso

    ao tratamento dos pacientes.

    O Conceito de Adeso

    O desenvolvimento cientfico da

    psicologia da sade, enquanto rea de

    conhecimento e de aplicao da

    psicologia, conforme concebida por

    Matarazzo (1980) tem incentivado uma

    ampliao dos modelos explicativos de

    diversos transtornos de sade,

    especialmente aqueles de natureza

    crnica, passando a considerar a relao

    do indivduo com a doena e a

    participao de fatores sociais e

    psicolgicos, alm daqueles biolgicos,

    sobre a etiologia, a manifestao

    sintomtica e a perspectiva de

    reabilitao (Martins, 2001; Ogden, 1996;

    Straub, 2005; Zannon, 1991).

    Neste sentido, a incorporao de

    modelos mais abrangentes,

    multidisciplinares e interdisciplinares, em

    sade trouxe consigo uma mudana na

    forma de se compreender o indivduo e

    suas relaes com o mundo. O indivduo

    passa a ser concebido como um ser ativo,

    capaz de agir sobre o meio e que,

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    portanto, deve assumir responsabilidades

    no processo de adoecer e tratar a doena

    (Ogden, 1996; Zannon, 1991; Straub,

    2005). Desta maneira, o profissional de

    sade torna-se, antes de tudo, um

    educador que utiliza tcnicas psicolgicas

    para incentivar o paciente a participar, a

    aderir, efetivamente, s decises e aes

    de seu tratamento (Costa Junior, 2005).

    Alguns pesquisadores e clnicos

    afirmam que a adeso pode ser

    compreendida como um conjunto de

    categorias de respostas cuja caracterstica

    comum o seguimento de orientaes

    proporcionadas pelos profissionais de

    sade, tais como: tomar medicamentos,

    realizar exerccios fsicos, regular o tipo e

    a quantidade de alimentos ingeridos,

    entre outros (Bennett & Murph, 1999).

    Outros autores propem que este

    conceito se relaciona a comportamentos

    de sade que vo alm destas aes, de

    seguimento de orientaes, devendo

    envolver mudanas no repertrio

    comportamental e cognitivo de indivduos

    e grupos, tais como: deixar de fumar,

    beber moderadamente, identificar ou

    prevenir situaes evocadoras de estresse,

    conhecer os efeitos colaterais dos

    medicamentos recomendados, adquirir

    hbitos seguros de relacionamento

    sexual, usar cinto de segurana em

    veculos automotivos, aprender a

    descrever estados corporais que sugiram

    alguma disfuno orgnica, entre outros

    (Ogden, 1996).

    Na literatura, observa-se que o

    conceito de adeso utilizado de

    mltiplas formas, aparentemente

    distintas. Os termos adeso (adherence) e

    obedincia (compliance) tm sido usados

    para designar o grau de coincidncia

    entre os comportamentos do indivduo

    (paciente ou cliente) e as recomendaes

    teraputicas do profissional da sade

    (Epstein & Cluss, 1982). O termo

    obedincia, no entanto, geralmente

    adotado por profissionais que consideram

    a pessoa enferma como passiva frente ao

    tratamento, no sendo co-responsvel

    pelo estabelecimento do prprio plano de

    tratamento. Nesse caso, o no seguimento

    das recomendaes profissionais

    entendido como uma desobedincia s

    prescries, um desvio de conduta do

    paciente.

    Alguns estudos apontam que os

    profissionais que concordam com esta

    concepo de desobedincia tm

    caracterizado suas prticas com aes

    coercitivas, nas quais os episdios de

    esquecimentos e falhas dos pacientes so

    valorizados no estabelecimento das

    relaes sociais entre profissional e

    usurios de servios de sade, com status

    de superioridade ao profissional e de

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    inferioridade ao paciente (de Oliveira et.

    al., 2005; Klein & Gonalves, 2005;

    Cardoso & Galera, 2006). Caracterizar a

    falta de adeso como um problema de

    desobedincia e atribuir sua

    funcionalidade s caractersticas pessoais

    do paciente, desconsiderando variveis

    ambientais, sustenta intervenes

    calcadas em controle aversivo, que

    realam a culpa do paciente pela sua

    condio de sade e vo na direo oposta

    s concepes integrais de ateno

    sade, preconizadas pela psicologia da

    sade.

    Segundo Leventhal, Zimmerman e

    Gutmann (1984), embora os resultados

    dos estudos sobre adeso correlacionem

    fatores como a complexidade de alguns

    regimes de tratamento, o tempo

    prolongado de tratamento e algumas

    especificidades de doenas, com

    determinados traos de

    personalidade; a pesquisa sobre o

    ensino de estratgias comportamentais

    adequadas ao paciente em ambientes de

    cuidados tem apontado que os indivduos

    tm condies potenciais de adquirir e

    manter comportamentos de sade,

    aderindo a planos teraputicos

    reconhecidos como importantes a suas

    condies de desenvolvimento e de

    interao com diferentes ambientes

    scio-histricos.

    Na proposta da Organizao

    Mundial de Sade (OMS), a adeso

    caracterizada pelo conjunto de aes que

    podem incluir: tomar medicamentos,

    obter imunizao, comparecer s

    consultas agendadas e adotar hbitos

    saudveis de vida; a OMS destaca que a

    adeso envolve, necessariamente, a

    participao de uma equipe

    multiprofissional como estabelecedora e

    mantenedora de acordos com o paciente

    para realizao do tratamento (WHO,

    2003).

    Deste modo, o conceito de adeso

    pressupe uma parceria entre quem cuida

    e quem cuidado. Nesta parceria, devem-

    se considerar algumas variveis: os nveis

    de informao dos usurios, a atualizao

    de conhecimentos dos profissionais de

    sade, a especificidade dos proce-

    dimentos teraputicos e seus efeitos

    colaterais, a durao dos tratamentos e a

    noo de sade-doena do paciente e do

    cuidador. Esta mudana de perspectiva

    insere o cuidado com o paciente como

    ponto central para uma interveno

    participativa de ensino e

    acompanhamento do processo sade-

    doena do paciente (Friberg & Scherman,

    2005).

    O reconhecimento, no entanto, de

    que as orientaes do profissional de

    sade e os comportamentos do paciente

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    so mediados por uma variedade de

    eventos que podem dificultar ou facilitar a

    comunicao, constitui-se como um

    requisito essencial para a maior

    probabilidade do estabelecimento de

    nveis interessantes de adeso ao

    tratamento. Inerente a tal

    reconhecimento est a premissa de que o

    profissional de sade deve disponibilizar

    ateno incondicional positiva ao

    paciente, identificando as necessidades

    sob a perspectiva do prprio paciente.

    Dados sociodemogrficos, caractersticas

    individuais, condies de desen-

    volvimento, crenas e valores, constituem

    elementos essenciais ao estabelecimento

    do plano de cuidados a ser apresentado e

    discutido com o paciente e seus

    familiares.

    Os Componentes da Adeso

    O processo de adeso tem incio

    quando paciente e profissional fazem o

    primeiro contato/contrato, que agrega

    um amplo conjunto de respostas e

    contextos como procurar auxlio, seguir

    prescries, tomar medicamentos

    apropriadamente, retornar s consultas

    de acompanhamento (follow-up),

    modificar respostas e contextos de risco,

    implementar aes de higiene, seguir

    dietas, seguir orientaes de restries ou

    indicaes para atividades fsicas, entre

    outros. Estas mltiplas aes e

    recomendaes podem sobrecarregar os

    recursos pessoais do paciente/cliente, que

    se encontra vulnervel, no perodo em

    que est acometido por uma doena

    (Jonhson, 1994; WHO, 2003).

    Desta maneira h, pelo menos,

    quatro componentes importantes na

    caracterizao de adeso: (a) as aes do

    paciente - que envolvem seu nvel de

    conhecimento e habilidades; (b) a

    comunicao, pelo profissional, das aes

    que se espera que o paciente apresente

    em determinada condio ou contexto;

    (c) as caractersticas da doena, crnica

    ou aguda, que relaciona tempo e

    investimento dispensado a tratamentos

    especficos; e (d) as questes relacionadas

    famlia, rede de apoio social na qual o

    paciente est inserido, a estrutura dos

    servios de sade e polticas pblicas de

    promoo e preveno, que podem

    facilitar, ou dificultar, as respostas de

    adeso (Malerbi, 2001; DiMatteo, 2004).

    Considerando tais componentes, a

    adeso representa mais do que a

    manuteno de respostas compatveis a

    uma agncia de controle (um profissional

    de sade, por exemplo). O indivduo, ao

    longo de seu desenvolvimento, aprende

    que determinadas regras devem ser

    seguidas para obteno de consequncias

    reforadoras. Em outras palavras, as

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    respostas do indivduo relacionam-se

    tanto com as gradaes nos seus estados

    de sade, que decorrem de condies

    biolgicas e ambientais, e de como os

    contextos de cuidado e ensino de hbitos

    saudveis permitem a pessoa sentir-se

    bem, ou livre de dor e desconforto

    (Skinner, 1995).

    Um bom exemplo o

    comportamento de auto-cuidado,

    mantido por suas consequncias.

    Respostas relacionadas aos cuidados com

    a higiene pessoal, uso de cinto de

    segurana, realizar exerccios fsicos,

    buscar auxlio de um profissional, fumar,

    beber, entre outras, so classes de

    respostas que foram aprendidas e

    possuem uma funo para aquele que as

    emite. Estas respostas podem relacionar-

    se a um processo de esquiva a uma

    provvel doena ou perigo, ou a

    diminuio da ansiedade e do estresse

    dirio, ou busca por suporte/apoio social

    frente a um contexto adverso/aversivo.

    Isso significa que para se compreender a

    resposta de adeso deve-se observar e

    analisar a interao entre a aprendizagem

    de regras e as contingncias estabelecidas

    entre contextos de tratamento e a histria

    do paciente (Matos, 2001).

    Nos estudos sobre adeso em sade,

    observa-se uma preocupao com a falta

    de concordncia entre as orientaes dos

    profissionais de sade e os

    comportamentos dos usurios do servio

    de sade. Nesta discrepncia, entre o dito

    (pelo profissional) e o feito (pelo

    paciente) h uma variedade de posturas,

    explicaes e intervenes para modificar

    os comportamentos de risco de

    indivduos (DiMatteo, 2004; Perini et al.,

    1999).

    Uma anlise da adeso deve

    identificar os resultados de sade, as

    condies sob as quais o comportamento

    ocorre e o planejamento e implementao

    de estratgias realistas para a modificao

    do comportamento. Ou seja, cabe a

    pergunta - entre o dito (pelo profissional)

    e o feito (pelo paciente) qual foi o

    resultado? Como o indivduo avalia e lida

    com o objetivo de sentir-se saudvel? O

    indivduo tem motivao para cuidar de

    sua sade? Qual o custo para obteno

    desta meta?.

    Em outras palavras, no h

    "cumpridores" (ou obedientes) e "no-

    cumpridores" (ou desobedientes), mas

    momentos em que o paciente apresenta

    uma maior tendncia para um ou outro

    comportamento de cuidado. Essas

    alternativas interferem sobre a resposta

    de busca por um tipo de cuidado ou

    tratamento. Por exemplo, a busca por

    profissionais e por cuidados pode estar

    relacionada a duas condies: (a) a ajuda

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    para o alvio de um sofrimento especfico;

    ou (b) o reconhecimento de que alguns

    aspectos de seu modo de vida do paciente

    podem ser alterados para obteno de

    uma melhor qualidade de vida (Perini et

    al., 1999).

    Neste sentido, a adeso constitui um

    vnculo que deve ser estabelecido e no h

    uma nica forma, ou padro, para o seu

    estabelecimento, como tambm no h

    formatos que permitam caracterizaes

    absolutas para situaes de riscos, quer

    seja baseado em indicadores de risco

    epidemiolgico e/ou psicolgico. Do

    ponto de vista epidemiolgico a ao de

    adeso do indivduo pode basear-se em

    informaes sobre o perfil de morbidade

    e mortalidade de grupos populacionais

    em determinados contextos. Por outro

    lado, a psicologia valoriza o conhecimento

    do desenvolvimento do prprio indivduo

    em um dado contexto. Estes dois campos

    de conhecimento oferecem informaes

    relevantes, distintas e complementares

    sobre o processo de sade-doena, mas

    no oferecem respostas definitivas

    (Johnson, 1994; Ferreira, 2006).

    A busca por apoio e suporte para o

    cuidado, ou a experincia de sofrimento e

    dor, no so variveis que mobilizam

    todas as pessoas e nem interferem do

    mesmo modo em todos os contextos de

    desenvolvimento. Ou seja, o que controla

    a resposta de um indivduo em uma

    situao pode variar dada a percepo de

    vulnerabilidade (suscetibilidade) que o

    indivduo elabora (Becker & Maiman,

    1975), o que significa que o modo como as

    pessoas avaliam e aderem a

    recomendaes varivel. Alguns estudos

    indicam que estimativas de adeso

    variam de 7% a 85% em relao s

    recomendaes efetuadas pelos

    profissionais de sade. Dados apontam

    que de 50 a 60% dos pacientes tendem a

    no seguir as orientaes quando estas

    esto relacionadas a modificaes em

    hbitos de sade. Mais de 80% dos

    pacientes que receberam recomendaes

    voltadas mudana de hbitos de fumar

    no seguiam as orientaes. Mesmo

    pacientes com problemas cardacos, que

    passaram por cirurgia, apresentam taxa

    de adeso de 65 a 75% das orientaes

    (Taylor, 2007).

    Deve-se ressaltar que estes estudos

    destacam apenas valores percentuais, de

    pessoas ou de recomendaes, que no

    so seguidas; porm, no discutem as

    contingncias relacionadas manuteno

    dos comportamentos de risco. Por

    exemplo, para uma pessoa idosa,

    aposentada e socialmente isolada, o

    hbito de fumar mais do que uma

    dependncia qumica, pode ser uma

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    forma de lidar com a percepo de

    sofrimento e abandono.

    Abordagem Psicolgica da Adeso

    O enfrentamento como um conjunto

    de respostas aprendidas em situaes

    adversas/estressantes um processo

    histrico que afetado por variveis

    contextuais. Ou seja, o modo como os

    pacientes lidam com situaes adversas

    em sade, suas crenas e seus hbitos, so

    variveis que afetam o responder do

    indivduo e estes comportamentos devem

    ser descritos e analisados em cada

    situao. Cabe aos profissionais de sade

    a anlise dos comportamentos dos

    pacientes, definindo-se as modalidades

    de manejo mais adequadas para cada

    situao. Por exemplo, os profissionais de

    sade podem estimular a aquisio de

    comportamentos de auto-cuidados entre

    seus pacientes, especificando regras e/ou

    contingncias ambientais que ajudem o

    paciente a manter tais respostas (Malerbi,

    2001).

    Destaca-se que difcil estabelecer

    exatamente quais contingncias mantm

    o comportamento de busca pela

    recuperao da sade, por exemplo, o

    comportamento de implementar

    melhores condies de higiene pessoal e

    dieta. Estudos observacionais tm

    apontado dficits significativos de

    habilidade tanto em crianas como em

    adultos no que se refere a manter

    comportamentos de sade. Esses dficits

    nem sempre so reconhecidos pelo

    paciente e nem pelo profissional de

    sade. Mesmo quando se detectam erros

    de conduta por parte do paciente,

    profissionais e pacientes tendem a manter

    o desempenho, atribuindo os erros a

    situaes espordicas (Johnson et al.,

    1982; Sergis-Deavenport & Varni, 1983).

    Um exemplo clssico desta dificuldade se

    refere baixa adeso e manuteno de

    comportamentos alimentares adequados

    em um esquema de dieta nutricional.

    O estabelecimento de um bom

    vnculo teraputico, em que as queixas do

    paciente so analisadas luz de sua

    histria de vida, passada e atual,

    diretamente relacionada ao seu processo

    sade-doena ou, simplesmente,

    referente sua condio de vida e seus

    hbitos, poder interferir e possivelmente

    aumentar a probabilidade de maior

    adeso ao tratamento. Deve-se

    considerar, tambm, a durao e a

    diversidade de cuidados e recomendaes

    como variveis que influenciam as

    mudanas de atitudes e comportamentos

    de sade que devem ser realizadas (Perini

    et al., 1999). Processos prolongados de

    tratamento, por exemplo, devem incluir a

    liberao de reforamentos positivos

    VicenteHighlight

    VicenteHighlight

    VicenteHighlight

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    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, n 2, 329-345

    338

    peridicos, por parte dos profissionais de

    sade, como incentivo manuteno da

    adeso.

    Nas atividades clnicas de rotina, o

    profissional de sade deve analisar

    continuamente as estratgias de

    enfrentamento adotadas pelo paciente

    frente s adversidades dos tratamentos.

    Desta maneira, uma tarefa necessria

    observar e descrever como o paciente se

    comporta e percebe o prprio tratamento

    e seu problema de sade, segundo as

    contingncias que lhe so colocadas em

    seu ambiente de convvio dirio.

    Portanto, a histria de um paciente

    merece, em qualquer caso, ser

    considerada como um todo e como uma

    sequncia lgica (Perini et al., 1999). O

    paciente deve ser incentivado a relatar

    sua histria de vida, aumentando seu

    autoconhecimento e tendo oportunidade

    de reformular conceitos e crenas.

    Reconhecer as histrias, os hbitos e

    as habilidades dos pacientes enquanto

    variveis funcionalmente relevantes

    adeso, relaciona-se a analisar e

    implementar estratgias para o

    enfrentamento de situaes adversas em

    sade. Esta proposta coloca os

    comportamentos do paciente como foco

    da interveno e do cuidado em sade,

    por considerar que estes constituem os

    melhores indicadores de sade do

    indivduo. Kaplan (1990), por exemplo,

    argumentou que o estado de sade uma

    varivel diretamente relacionada s

    condies de morbidade e mortalidade de

    indivduos e grupos.

    Morbidade e mortalidade so

    resultados inerentemente

    comportamentais. Mortalidade, ou morte,

    a ausncia de todo comportamento e

    morbidade relaciona-se disfuno, um

    constructo inerentemente

    comportamental. Doenas e

    incapacidades podem causar disfunes

    comportamentais, assim como outros

    sintomas desagradveis qualidade de

    vida. Na perspectiva de Kaplan, deve-se

    estudar no apenas estes sinais e

    sintomas, mas identificar como estas

    pessoas vivem e como se comportam

    quando adoeceram. Em outras palavras, o

    comportamento (contextualizado a uma

    determinada situao) e deveria ser o

    resultado central dos cuidados em sade

    (Kaplan, 1990).

    O segundo componente para uma

    anlise da adeso - as aes do

    profissional de sade - indicam os

    esforos do profissional para comunicar

    recomendaes de cuidados com a sade,

    embora, na verdade, evidenciem

    inmeros problemas nesta comunicao.

    Com frequncia, no possvel

    determinar se o paciente , ou no,

    VicenteHighlight

    VicenteHighlight

  • O processo de adeso numa perspectiva analtico comportamental

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, n 2, 329-345

    339

    aderente porque a prescrio mdica no

    existe, ou extremamente complexa

    compreenso do paciente, ou, ainda, to

    vaga ao ponto de ser intil (Johnson,

    1994). Por exemplo, profissionais de

    sade costumam recomendar que seus

    pacientes faam algum exerccio fsico

    periodicamente, mas freqentemente

    permanecem no ditos os detalhes quanto

    ao tipo, periodicidade e durao dos

    exerccios. Da mesma forma, advertem o

    paciente para evitar doces concentrados e

    alimentos com alto teor de gordura, no

    entanto, no explicitam: (a) a

    especificao de tais doces; (b) a

    descrio de quantidades possveis, ou

    no; e (c) a freqncia e sob quais

    condies podem, ou no, ingeri-los.

    Deve-se destacar que, alm destas

    especificaes, essencial que essa

    comunicao seja seguida de uma

    explicao detalhada que justifique as

    recomendaes e que se garanta que o

    paciente compreendeu a explicao.

    Sano et al. (2002) realizaram um

    estudo para estabelecer a relao entre o

    nvel de compreenso da prescrio

    peditrica pela me, ou outro

    acompanhante, e os possveis fatores

    causais da no-adeso ao tratamento. Os

    autores concluram que os fatores

    relacionados com a no compreenso da

    prescrio peditrica incluam o baixo

    nvel socioeconmico e cultural do

    acompanhante/responsvel e fatores

    relacionados a interao com o

    profissional, tais como: a utilizao de

    smbolos/abreviaturas, letra ilegvel e

    orientaes fornecidas apenas

    verbalmente e em linguagem tcnica.

    Ressalta-se que o baixo nvel

    socioeconmico no pode constituir um

    argumento do profissional de sade para

    justificar a baixa adeso a tratamentos.

    Os profissionais de sade devem ser

    incentivados a adotar estratgias de

    comunicao e recursos didticos que

    auxiliem pacientes e acompanhantes a

    compreender e aderir s recomendaes

    mdicas (Silva, 2005).

    At que os profissionais aprendam

    como comunicar efetivamente a

    informao relevante sobre o

    comportamento de cuidar da sade, os

    pacientes permanecero no aderentes e

    continuaro a ter dificuldades para

    compreender a relao entre

    comportamento e sade. Os profissionais

    no podem inferir que o paciente j tem o

    conhecimento e as habilidades

    necessrias, ou, pior, que no tem

    condies de adquiri-los. Mesmo quando

    o paciente diz que sabe o que fazer, ainda

    assim deve ser ensinado sobre os

    conhecimentos e/ou habilidades para

    desempenhar as tarefas com sucesso

    (Jonhson, 1994). Alm disso, os

    profissionais de sade devem,

  • Antonio Bento Alves de Moraes - Gustavo Sattolo Rolim - Aderson Luiz Costa Jr.

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, n 2, 329-345

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    continuamente, oferecer oportunidades

    para que seus pacientes expressem a

    compreenso das informaes que

    receberam, cabendo ao profissional a

    reformulao de informaes no

    compreendidas ou insuficientemente

    adquiridas (Silva, 2005).

    O profissional de sade tambm

    deve saber identificar variveis

    contextuais que facilitam ou dificultam a

    adeso dos indivduos. Seidl et al. (2005),

    por exemplo, analisaram estratgias de

    enfrentamento adotadas pelos cuidadores

    de crianas e adolescentes soropositivos

    infectados pela transmisso vertical. Do

    total de casos em uso de terapia anti-

    retroviral (n =39), 28 cuidadores no

    relataram problemas ou dificuldades na

    administrao dos medicamentos, no

    apresentando queixas sobre o

    comportamento de adeso da

    criana/adolescente ao tratamento. Nos

    11 casos com problema de adeso, quatro

    categorias de dificuldades foram

    identificadas: horrios de administrao

    da medicao, gosto da medicao e/ou

    presena de efeitos colaterais,

    comportamento oposicionista e

    dificuldade de acesso regular ao servio

    de sade. A maior concentrao de

    queixas foi referente administrao da

    medicao em horrios inconvenientes e

    em locais pblicos, como a escola.

    Considerando a complexidade do

    tratamento, seu carter prolongado e a

    exigncia quanto ao alto nvel de adeso

    para alcance de eficcia, fundamental

    que as equipes identifiquem esses

    problemas, busquem prescrever

    esquemas teraputicos simplificados,

    orientando e auxiliando os cuidadores,

    crianas e jovens no manejo

    comportamental da adeso.

    Pesquisas relacionadas ao modelo

    comportamental enfatizam a elaborao

    de estratgias que contemplem a

    interao entre as respostas do indivduo

    e o ambiente de cuidados com a sade. Os

    estudos de Fordyce (1990), Sternbach

    (1974), Vanderbergue, Cruz e Ferro

    (2003) apresentam dados e anlise sobre

    o alvio e controle da dor em pacientes

    que se submetem a tratamento e a

    intervenes psicolgicas. Estes estudos

    apontam que intervenes

    comportamentais realizadas

    concomitantemente a tratamentos

    mdicos auxiliaram os pacientes no alvio

    da dor, seja por oferecimento de suporte

    social ou por treinamento de habilidades.

    Inmeros trabalhos avaliam os

    efeitos de intervenes comportamentais

    para melhorar a adeso, sendo possvel

    agrup-las em, pelo menos, trs

    categorias: (a) intervenes

    informacionais; (b) intervenes de

  • O processo de adeso numa perspectiva analtico comportamental

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, n 2, 329-345

    341

    treinamento; e (c) intervenes afetivas.

    Inseridas nas estratgias informacionais

    esto as aes destinadas a orientaes e

    recomendaes que devem ser oferecidas

    pessoalmente, por telefone, pelo correio,

    em grupos educativos de pacientes e

    familiares, ou por meio de jornal ou

    televiso. Pode-se considerar o papel da

    mdia escrita, falada ou televisiva, como

    um importante recurso para a

    sensibilizao da populao para

    preocupaes com hbitos de risco ou

    situaes de risco. A informao bem

    apresentada pode ser o primeiro passo

    para o estabelecimento de uma adeso

    (Bennet & Murphy, 1999).

    Com relao s intervenes

    focalizadas em treino de competncias e

    de habilidades especficas, pode-se

    destacar o uso de tcnicas como

    modelagem, modelao, uso de

    lembretes, dirios, cartas, grficos de

    ocorrncia da adeso e contrato

    comportamental (Ferreira, 2006). Little

    et al. (1997), por exemplo, avaliaram o

    efeito de intervenes comportamentais

    sobre habilidades de higiene oral, adeso

    e resultados clnicos para grupos de

    pacientes idosos (107 pacientes de 50 a 70

    anos) com doenas periodontais. O

    estudo dividiu os participantes em dois

    grupos (um grupo de controle GC, com

    apenas terapia de manuteno

    periodontal, e um grupo de interveno

    GI, com terapia de manuteno

    periodontal, treinamento de habilidades,

    automonitorao, feedback semanal

    sobre sangramento gengival e suporte

    social para mudanas de hbitos a longo

    prazo). Os resultados, aps o follow-up

    do grupo de interveno, apontaram

    melhores indicadores clnicos de sade

    bucal do que os obtidos pelo grupo de

    controle na avaliao geral da sade bucal

    para as variveis (a) sangramento da

    gengiva (4% GI e 10% GC), e (b) nos

    ndices de placa (76% GI e 80% GC). Este

    estudo demonstrou que intervenes

    comportamentais grupais so estratgias

    eficazes e pouco custosas para auxiliar

    usurios aquisio e manuteno de

    habilidades de autocuidados e melhoria

    em seus estados de sade bucal.

    Consideraes finais

    O comportamento de cuidar da

    sade deve ser analisado

    independentemente do estado de sade.

    Infelizmente, a prtica comum

    exatamente o oposto. Grande parte dos

    profissionais de sade infere o

    comportamento de cuidar da sade a

    partir de exames laboratoriais de estado

    de sade e no se detm a conduzir uma

    avaliao comportamental. A adeso no

    pode ser reduzida ao cumprimento das

    recomendaes profissionais, mas ao

  • Antonio Bento Alves de Moraes - Gustavo Sattolo Rolim - Aderson Luiz Costa Jr.

    Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Campinas-SP, 2009, Vol. XI, n 2, 329-345

    342

    resultado da exposio a situaes de

    aprendizagem e de enfrentamento que

    interferem na qualidade de vida dos

    indivduos e dos profissionais.

    A adeso ao tratamento parece ser

    um campo promissor para estudos em

    Anlise do Comportamento, abordagem

    terica que se baseia fundamentalmente

    em estudos sobre processos e mtodos de

    aprendizagem, ressaltando a importncia

    de ajudar o indivduo a construir novos

    repertrios comportamentais ou forta-

    lecer repertrios adequados j adquiridos.

    Os trabalhos apontam que as

    estratgias desenvolvidas para ampliar a

    adeso devem considerar as precrias

    condies socioeconmicas da

    populao. O conhecimento das

    dimenses de vulnerabilidade estabelece

    um espao de interveno para o

    incentivo de comportamentos de adeso.

    Os profissio-nais de sade devem

    possibilitar aos pacientes o acesso a

    um cuidado integral, um canal

    aberto no somente para a

    abordagem de questes relacionadas ao

    tratamento como tambm de apoio

    queles com baixa expectativa para

    adeso.

    Referncias Bibliogrficas

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    Recebido em: 07/08/2008

    Aceito para publicao em: 21/08/2009