355tulo 1].docx) · pdf file · 2016-02-206 yahari ore no seishun love come wa...
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Yahari OrYahari OrYahari OrYahari Ore no Seishun Love Come wa Machigatteirue no Seishun Love Come wa Machigatteirue no Seishun Love Come wa Machigatteirue no Seishun Love Come wa Machigatteiru
Volume 3Volume 3Volume 3Volume 3
Capítulo 1: Assim, Hiratsuka-sensei inicia um novo conflito.
1 - 1
Eu atirei uma pilha de papéis contra a mesa. Seu conteúdo despertava tanta curiosidade
quanto os Pergaminhos do Mar Morto.
– ...O que diabos é isso?
Era de manhã cedo. Assim que meus olhos recaíram sobre as palavras na página, um
estranho calafrio percorreu minha espinha. O motivo dessa desconfortável sensação de déjà
vu foi, obviamente, o esboço do próximo volume da história de Zaimokuza Yoshiteru, no qual
ele pôs detalhes dolorosos de ler. O mataria terminar o primeiro volume antes de começar o
próximo?
A história não fazia sentido nenhum e o esboço possuía falhas evidentes na trama. A única
coisa que eu gostei nela foi o fato de que o protagonista era um espadachim solitário.
Aqueles que estão acima de todos são, por definição, solitários. Verdadeiros heróis são
solitários. Ser solitário é ter força. Não ter afeto por outros significa não ter nada para
proteger. A necessidade de proteger não é nada além de fraqueza. Aquiles, o antigo herói
Grego, e Benkei, o monge guerreiro mais poderoso de todos, foram ambos derrotados
justamente por terem uma fraqueza. Se eles não tivessem fraquezas, eles indubitavelmente
seriam lembrados como os vencedores.
É uma questão lógica que alguém que não tenha fraquezas, como o fardo de proteger e o
apego aos outros seja mais forte justamente por esses motivos.
Em outras palavras, eu sou o mais forte.
O péssimo cenário que Zaimokuza criou girava em torno apenas de seu espadachim apelão,
ao ponto de que este acabou ficando forte demais. Todo o resto era uma bosta, então eu
escrevi isso em vermelho. Isso. É. Uma. Bosta. ...pronto, tudo certo.
Assim que um feliz sentimento de satisfação tomou conta de mim por cumprir minha
função, minha irmãzinha, Komachi, terminou de preparar o café-da-manhã. Uma vez que
nossos pais já haviam saído para trabalhar, restavam apenas Komachi e eu na sala de estar.
Uma Komachi de avental serviu duas porções do café da manhã ruidosamente. Na minha
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opinião, usar um avental sobre uma regata e um shorts não é uma boa ideia. Dava a impressão
de que ela estava nua sob o avental.
Ela colocou os scones1 dourados e o café na minha frente. Ah, e uma jarra de geleia foi
colocada próxima a eles. O cheiro tentador de scones perfeitamente preparados e o aroma de
café bem feito ressoaram maravilhosamente, como uma composição musical. Os vários tipos
de geleias estavam docemente compostos (sacou?) Era um café-da-manhã de Pretty Cure2.
– Itadakimasu– Eu disse.
– Sim sim, hora do show– cantou Komachi.
– Itadakimasu para mim também.
Ambos batemos palmas simultaneamente e enchemos a boca de scones.
– Eu tentei fazer algo um pouco mais exótico hoje. Scones são engreses, não são?
– ...o que é 'engrês'? Um novo movimento assassino?
– Não, significa super inglesado.
1 Scone é um pão de origem escocesa, geralmente servido com manteiga e geleia. 2 Referência ao anime Sweet Pretty Cure, um anime de garotas mágicas que tem como público alvo
garotas jovens.
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– É sério? Eu tinha certeza que era britânico.
– Sem chance, onii-chan. Não existe um país chamado Britânia.
– ...Inglaterra faz parte da Grã-Bretanha, que é conhecida internacionalmente como o
Reino Unido. Então, aos moldes do Reino Unido, isso significa Britânico. Um pouco de
conhecimento para você.
– Tan-Tanto faz! Engrês é uma palavra japonesa agora! Como great-o day-o3!
...Great-o day-o não soou nada Inglês ou Japonês para mim.
Ignorando as lamentáveis desculpas da Komachi, eu peguei o leite condensado. Aquilo me
lembrou– você poderia dizer que colocar leite condensado na sua xícara e beber como uma
lata de MAX Coffe é Chibanês, ou Chibês para encurtar.
– Sabe– Eu disse.
– Quando você pensa em ingleses, não vem a ideia de chá Earl Grey?
– É, eu sei, mas você prefere café, onii-chan. Eu pensei que isso me daria pontos Komachi.
– Hm, eu admito que sua pontuação subiu um pouco. Quando se tem um sistema de
pontuação, é bom que ele seja fácil de entender.
Ainda melhor se as opções "sim" e "não" fossem mostradas claramente, junto com seus
níveis de afeição. Não haveriam confusões se você escolhesse "não" e pudesse facilmente ver
os níveis de afeição dela baixando, então desistir dela seria algo fácil. Eu tenho certeza que só
isso teria salvo inúmeros garotos infelizes.
Enquanto eu proferia minha resposta misturando meu (falso) MAX Coffe, Komachi deixou
cair seu scone. Seu rosto estava pálido e seus ombros tremiam.
– O-Onii-chan, você está agindo estranho...
– Huh?
– É estranho! Geralmente você se irrita e me trata como uma idiota quando eu digo esse
tipo de coisa. Eu sinto seu amor pela sua frieza!
– E você me chama de estranho?
Quão atenciosa ela é?
– De qualquer maneira, isso foi uma piada.
Komachi disse isso, mas o assustador era o fato de que eu não conseguia dizer qual parte
disso foi realmente uma piada. Se minha irmãzinha fosse uma pervertida que se excitava
quando era tratada mal, eu não teria a mínima ideia de como interagir com ela. Isso me
incomodou. Parece que repreendê-la todos os dias fez com que seus pontos aumentassem
constantemente. O que havia com esse amor deformado entre irmãos?
3 Komachi tentou "japonesar" as palavras Great(Grande/Ótimo) e Day(Dia)
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– Onii-chan, você tem agido estranho ultimamente, sabe? Você não tem ambições...?
Apesar de que isso é normal pra você. Já sei... seus olhos parecem distantes... mas eles sempre
foram assim. Uh, suas réplicas estão meia-boca...? Isso é de nascença também. Hm. De
qualquer modo, você está agindo estranho!
– Insulte-me ou preocupe-se comigo. Escolha um.
Eu não conseguia decidir se ela me amava ou me odiava.
– De qualquer maneira, está bem úmido ultimamente. Fica fácil para esse tipo coisa
acontecer... como seu olhar e sua natureza.
– Ooh, o que você disse é bem verdadeiro!
A demonstração clara de admiração da Komachi meio que me incomodou um pouco. Eu
estufei o peito e soltei um orgulhoso riso abafado, mas quando eu pensei sobre isso, ela disse
algo bem maldoso sobre mim, não?
– Mas, sabe, é horrível em Junho– Eu continuei.
– Sem feriados, chove muito e é meio úmido. Eles chamam Junho de o mês da alegria, mas
não tem nada de alegre nele. Por que isso?
– Você é horrível.
– E-Entendo...
O julgamento da Komachi foi estranhamente rígido. Era estranho ver algo que foi dito com
tanto orgulho ser completamente negado. Acho que agora eu entendo melhor os sentimentos
da Hiratsuka-sensei.
Por falar nela, lembrei que eu devia me aprontar para a escola. Eu seria submetido ao seu
punho de ferro novamente se eu me atrasasse. Eu devorei o que restava do meu scone e
tomei o meu café Chibanês.
– Eu vou indo– Disse a Komachi.
– Ah, espera, eu vou com você.
As bochechas dela recheadas de scone se assemelhavam à cara de um esquilo, Komachi
começou a se trocar apressadamente. Eu já disse isso para ela, mas será que ela poderia não
se trocar na minha frente?
– Eu vou na frente.
Enquanto eu ouvia o grunhido de Komachi, passei pela entrada e fui para o mundo externo,
onde a atmosfera sufocante da estação chuvosa me envolvia como uma serpente.
Desde o tour ao meu local de trabalho, eu não conseguia lembrar de ter visto um céu azul e
limpo.
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1-2
Custava ao ar pesado deixar o prédio da escola. O desconforto foi agravado pela multidão
que se formava na entrada durante o avanço matinal para as aulas.
A palavra ‘solitário’ faz você pensar em alguém se escondendo em um canto escuro, mas
quando você atinge o meu nível de solidão, você preferiria manter-se assim quando possível. E
também, enquanto eu ficava sozinho na escola, os meus arredores formavam um bolsão de ar
como no olho de um furacão.
Deve ser difícil para as pessoas com amigos. Ser cercado por tantas pessoas com toda essa
umidade deve fazer com que as proteínas em seus corpos fiquem com temperaturas
superiores a 36°.
Alguém solitário poderia passar toda a estação chuvosa no verão com um nível de conforto
acima do normal. Com boa ventilação, eles poderiam viver uma vida escolar pacífica.
Enquanto eu colocava meus sapatos no armário, olhei para cima e encontrei um rosto
familiar.
– Oh...
Yuigahama, que estava olhando para um par de mocassins, desviou o olhar. Parecia
terrivelmente perdida.
Eu não virei o rosto.
– Yo...
Eu disse com meu tom de voz de sempre.
– ...um, olá.
E sem dizer mais nada, eu coloquei a alça da minha mochila no ombro.
Cá entre nós, apenas um par de passos soaram contra o chão de linóleo. E aqueles passos
foram engolidos pelos sons dos passos de todos os outros.
A situação delicada entre Yuigahama e eu não mudou ao longo do sábado e do domingo,
mantendo-se assim por alguns dias e, antes que pudéssemos perceber, já era sexta.
Ela não me cumprimentou calorosamente e nós também não andamos lado a lado durante
todo o caminho para a sala. Nós retornamos para uma vida excessivamente monótona, assim
como era antes.
Ok. Eu fiquei de boa. Tudo havia voltado à estaca zero.
A princípio, um solitário existia para não ficar no caminho das pessoas. Eles não podiam
ferir pessoas com quem nunca se envolveram. Eles eram organismos limpos, ecológicos e com
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o selo LOHAS4 de aprovação.
Retomei minha paz interior ao apertar o botão de reiniciar e Yuigahama estava livre para
retornar à sua vida riajuu, não mais impedida pelo seu senso de culpa. Levando tudo em conta,
não era a escolha errada. Você até poderia dizer que era a escolha certa.
Não havia necessidade alguma de ela ser legal comigo por eu ter salvo o cachorro dela.
Aquilo foi apenas obra do acaso. É igual a devolver uma carteira perdida ou dar seu assento à
um idoso. No fim, você sorriria consigo mesmo e diria, "Wow! Eu fiz um ato muito bom! Agora
eu sei como aqueles idiotas exibidos se sentem!" Significava apenas isso.
Não havia motivo para ficar se preocupando com uma coincidência desse tipo e já que eu
estava destinado a tornar-me um solitário após a inscrição, esse era o maior motivo para ela
não se importar comigo.
Então eu vou encerrar o assunto aqui. Apertar o reiniciar e retomar nossas vidas ordinárias
era o melhor a ser feito. A vida não tinha um botão de reset, mas você poderia restaurar suas
relações. Fonte: Eu. Nenhum colega de classe do Fundamental me contatou uma vez sequer...
Espera, isso foi uma deleção, não uma restauração. Heh.
1-3
O sexto período finalmente terminou após me matar de tédio.
Por ser um aluno firme e aplicado, eu não falei com ninguém durante a aula e passei o
tempo em silêncio. Falando nisso, o sexto período era uma aula de conversação em Inglês,
então eu fui forçado a conversar em Inglês com a pessoa sentada próxima a mim. Mas, no
momento que íamos conversar, a garota do meu lado começou a jogar no celular. Eu pensei
que eu seria repreendido pela professora que estava observando a sala, mas ela não me notou
devido à minha habilidade única de apagar minha presença, então eu pude relaxar. Não
esperava menos de mim mesmo.
...exceto que eu não conseguia desligar aquela habilidade.
Mesmo após a Homeroom5, minha habilidade funcionava impecavelmente e ninguém
notou minha existência enquanto eu arrumava minha mochila discretamente. Eu sou o quê?
Um espião?
Droga. Aqueles olheiros da CIA podem acabar vindo me buscar. Se eu estivesse errado e os
4 LOHAS = Lifestyles of Health and Sustainability ou Estilos de Vida Saudáveis e Sustentáveis. Refere-se à consumidores que buscam estilos de vida amigáveis com o meio-ambiente. 5 Homeroom é uma ‘sala’ em que um professor realiza a chamada e faz anúncios. Os alunos se reúnem
nela e depois vão para outras salas.
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olheiros da AIC6 viessem em vez dos da CIA, eu não ficaria reclamando– Eu faria um OVA de
Tenchi Muyo.7
Enquanto esses pensamentos passavam através da minha mente, uma comoção idiota se
desdobrava atrás de mim, como se dissessem, "Isso é a juventude!"
Os membros dos clubes de esporte se enchiam de si falando merda sobre os membros mais
velhos e sobre os conselheiros enquanto preguiçosamente se preparavam para as atividades
de clube.
Os membros de clubes culturais trocavam simpáticos sorrisos e conversavam sobre o que
trouxeram de lanche.
E também haviam aqueles que não pertenciam há nenhum clube, falando relaxadamente
sobre como eles planejavam passar seu tempo livre.
Entre eles havia uma pessoa com uma voz visivelmente alta.
– O conselheiro do clube de futebol está tirando um dia de folga. Tô com inveja!
Casualmente observando, eu notei Hayama e seus amigos, um grupo de meninos e meninas
que consistia em sete pessoas. Eles estavam todos juntos e sentados em círculo, tagarelando.
Entre eles, Ooka, do clube de baseball (O Virgem Indeciso), revelou seu descontentamento.
Yamato, do clube de rúgbi (O que vive no mundo das nuvens), balançou a cabeça,
concordando.
Tobe (O que se empolga fácil) prontamente irrompeu em um tumulto sobre aquilo.
– Que bosta, mas vocês e suas atividades de clube me dividem! Droga. O que eu faço? O
que eu faço?
– Vou deixar a seu critério.
Enquanto Miura mexia em seu celular na mão direita com um desinteresse óbvio, ela
enrolava seu cabelo encaracolado com a mão esquerda, enquanto ignorava Tobe. Ebina-san e
Yuigahama vagueavam atrás dela. A rainha governava com seu punho de ferro como sempre.
Tobe subitamente disse enquanto era maltratado por Miura.
– Ah! Então não há nada de bom na Baskin-Robbins8 ou algo assim? Ou há algo de bom?
Naquele momento, Miura fechou seu celular abruptamente.
– Hm? Nem.
...ela não estava deixando nem um pouco a critério dele!
Sem pensar, eu fiz um tsukkomi mental sobre a conversa deles. Todo dia, eu aprimorava
6 AIC = Anime International Company ou Companhia Internacional de Anime, é um estúdio de animação. 7 Tenchi Muyo é um anime clássico de harém. 8 É uma grande empresa de sorvetes e seus derivados,
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minhas habilidades de tsukkomi solitário.
Inadvertidamente, meus olhos recaíram sobre Miura e os outros. Quando eu fiz isso, meus
olhos se encontraram com os de Yuigahama, que estava no meio deles.
Ela não disse nada. Eu não disse nada.
Mesmo que estejamos cientes da presença um do outro, nenhuma palavra era dita e nós
furtivamente olhávamos de relance um para o outro.
Era bem parecido com chegar na estação de metrô da sua cidade natal e encontrar um
colega de sala do Fundamental do outro lado da plataforma.
Você se dá conta, "Que droga, é o Oofuna-kun..." e o outro cara diz, "Uh... quem é você
mesmo...? Hi-Hiki... ah, que se dane." Ele apenas desiste de tentar lembrar meu nome,
desgraçado.
Continuando, era assim que as coisas eram. Nã-Não era como se a outra pessoa não
soubesse quem eu era– Eu apenas tenho boa memória. Meu cérebro é excepcional. Pessoas
solitárias são excepcionais em lembrar nomes. O motivo é que sempre que falam com elas,
seus corações disparam.
Minha memória era tão boa que uma vez eu lembrei o nome de uma garota com quem eu
nunca conversei. Quando eu falei o nome dela, seu rosto se contorceu de medo. "Como esse
cara sabe meu nome...? Estou assustada..." Mas chega dessa história.
De qualquer maneira, naquele momento, minha relação com a Yuigahama era como a de
esgrimistas profissionais estimando a distância um do outro. A atmosfera era de um empate
temporário.
Quem quebrou essa atmosfera peculiar foi Miura.
– Eu acredito que devíamos mesmo ir ao boliche.
Sem nenhum motivo lógico, Ebina concordou com a proposta de Miura dizendo "Eu
entendi! Os pinos definitivamente parecem pê..."
– Ebina, cala a boca. Limpe a sua hemorragia nasal.
Uma Miura enojada disse enquanto entregava um lenço à Ebina.
– Cubra isso ou algo assim.
Oferecer um lenço foi um gesto surpreendentemente gentil da parte da Miura, mas não
importava como você olhasse para isso, aquele era um desses lenços que as pessoas davam na
rua, como publicidade de agências de namoro, então essa era uma situação um tanto quanto
delicada.
– Boliche é incrível! Cara, eu não consigo pensar em nada além de boliche!
– Eu sei, né?
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Miura rodopiou vitoriosamente o dedo em seus cabelos ao ver que Tobe concordava com
ela.
Mas Hayama acariciou o queixo de maneira pensativa, como se não pensasse o mesmo.
– Mas nós também fomos ao boliche semana passada... por que não jogamos dardos ou
algo assim, alguma coisa que faça tempo que não jogamos?
Miura mudou seu tom em um instante.
– Se você diz, Hayato– ela entoou. O quão duas-caras você consegue ser?
– Devemos ir então?
Hayama disse enquanto se levantava da cadeira e começava a caminhar.
– Me digam antes se algum de vocês nunca jogou para que eu possa ensiná-los.
Miura, Tobe e Ebina-san o seguiram. Mas, ao notar que alguém estava andando devagar,
Miura virou e a chamou.
– Yui, tá fazendo o que? Vem logo!
– ...oh, uh... um, ok! Tô indo!
Yuigahama, que fora uma participante passiva da conversa até agora, agarrou sua bolsa
como se tivesse sido intimada a se mover. Ela levantou-se e irrompeu em uma quase corrida,
mas quando passou do meu lado, os passos dela ficaram mais lentos.
Ela foi pega em uma indecisão, talvez? Se ela deveria ir com Miura e os outros como estava
fazendo agora ou se, em vez disso, deveria ir para o Clube de Serviços? Não me surpreenderia–
ela é uma boa garota. Mesmo que ela não tenha motivos para importar-se comigo.
E ainda assim, apesar de eu dizer a ela para não se preocupar, aqui estava ela, presa no
precipício entre seus dois mundos e agonizando por isso.
Não era assim que as coisas deviam acontecer. Solitários nunca causaram problemas para
outras pessoas.
Eu decidi abandonar o lugar à frente dela. Hikigaya Hachiman retira-se friamente9. Eu era
legal demais para a escola, se você quiser saber o quão legal eu era.
LEGAL! LEGAL! LEGAL!
Enquanto fazia o meu melhor para evitar olhar na direção da Yuigahama, eu furtivamente
deslizei para fora da sala.
1-4
Na sala especial no quarto andar, Yukinoshita Yukino estava sentada no seu lugar habitual,
bem no coração do Clube de Serviços, com sua expressão fria e imutável.
9 Referência à um meme de Jojo's Bizarre Adventure.
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O que havia de diferente nela é que ela estava lendo uma revista de moda em vez de seu
habitual livro de bolso. Que incaracterístico.
Se fosse para apontar outra coisa que mudou, era que ela havia mudado para o código de
vestimenta de verão. Em vez de seu casaco, ela estava vestindo o colete estabelecido pela
escola. Estabelecido pela escola é sinônimo de brega, mas Yukinoshita exalava um ar refinado
vestindo-o e ela ficava misteriosamente bem de colete.
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– Yo...
Eu disse.
Yukinoshita soltou um pequeno e conciso suspiro.
– Oh, é você, Hikigaya-kun.
Os olhos dela instantaneamente se voltaram para a revista.
– Um, você poderia parar de reagir como uma garota com quem eu acabei de ser designado
a sentar próximo? Isso meio que machuca.
Não há nenhum outro evento escolar que gera tantos traumas quanto a troca de assentos.
Ela faz emergirem traumas no seu calmo e normal estilo de vida. Não, na verdade ela não cria
dramas, mas é desagradável pois revela a verdadeira natureza das pessoas.
A mudança de assentos mensal é a prova viva disso.
– Sério, por que me tratam como se eu tivesse mau cheiro se eu nunca fiz nada de errado?
Eles realizam sorteios e quando acabam sentando próximos a mim, murmuram sobre sua má
sorte, caramba.
– Então você admite que o assento próximo a você é o menos atraente...
– Eu não disse que era o menos atraente, por si. Isso foi por sua conta.
– Eu peço desculpas. Eu acredito que não estava pensando.
Yukinoshita disse com uma risadinha.
“Embora a sua falta de percepção tenha sido o que causou tanta dor desnecessária...”
– Eu disse novamente sem pensar, então por favor não se incomode. Eu tinha certeza de
que você estava falando sobre a Yuigahama-san.
– Ah, então é assim, hein?
Yukinoshita tinha uma boa razão para pensar isso. Yuigahama não deu as caras no clube
nos últimos dias. Talvez Yukinoshita esperasse que a Yuigahama viesse hoje.
– Anteontem ela levou seu cachorro para um exame físico no veterinário e ontem ela tinha
algumas tarefas para fazer em casa...
Yukinoshita murmurou serenamente enquanto olhava fixamente para a tela do seu celular.
Ela provavelmente estava olhando as mensagens de texto que Yuigahama enviou para ela– as
mensagens que nunca chegaram a mim.
Como um relógio, me peguei imaginando se Yuigahama viria ao clube hoje. Se viesse, não
há dúvidas de que ela agiria firme perto de mim, assim como fez de manhã.
Eu sabia muito bem o resultado de tal interação. Nós acabaríamos meio que nos afastando
e não verdadeiramente nos comunicando e, eventualmente, nós deixaríamos completamente
de olhar um para o outro. Fonte: Eu.
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Meus colegas do Primário, meus colegas do Fundamental– foi assim que eu parei de vê-los.
O mesmo provavelmente aconteceria com a Yuigahama.
Estava silencioso na sala do clube.
O único barulho audível era o fraco som da Yukinoshita virando as folhas de sua revista.
Isso me lembrou. Nosso clube esteve cheio de tumultos ultimamente. No começo, quando
havia apenas Yukinoshita e eu, o silêncio reinava. E quando não reinava, nós dois apenas
maltratávamos um ao outro.
Em um ou dois meses, tudo isso virou coisa do passado e, enquanto eu olhava distraído
para a porta, Yukinoshita abriu a boca como se pudesse ler minha mente.
– Se você está esperando a Yuigahama-san, ela não virá hoje. Eu acabei de receber uma
mensagem dela.
– E-Entendo... nã-não que eu estivesse preocupado com a Yuigahama ou algo do tipo!
– Eu não entendo a sua entoação negativa...
Assim que o alívio tomou conta de mim, eu tirei minha atenção da porta e olhei para
Yukinoshita. Ela estava suspirando suavemente.
– Me pergunto se a Yuigahama-san não pretende mais vir...
– Por que não pergunta a ela?
Yuigahama mantinha contato com Yukinoshita, então ela provavelmente responderia se a
Yukinoshita perguntasse.
Mas Yukinoshita sacudiu a cabeça levemente.
– Eu não vou tão longe. Se eu perguntasse, ela provavelmente diria que viria. Mesmo que,
talvez, ela não queira... ela provavelmente virá de qualquer maneira.
– É, suponho que sim...
Yuigaham Yui era esse tipo de pessoa. Ela priorizava outras coisas sobre os próprios
sentimentos. Então ela até mesmo falaria com um solitário e viria até você se você mandasse
uma mensagem para ela.
Mas isso era gentileza, simpatia e mera obrigação. E ainda assim, foi tudo o que foi preciso
para um rapaz com pouca experiência a compreender mal.
“H-Huh? Se-Será que ela gosta de mim?”
Era muito fácil se tornar um fardo para ela. Eu definitivamente queria que essas coisas
fossem mais fáceis de se chegar à um acordo.
Talvez todos estaríamos em uma situação melhor se mensagens de garotas fossem geradas
por um programa automatizado e escrito em um Japonês inflexível e formal. Nesse caso,
garotos não agonizariam por expectativas irreais.
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...Espera. Eu definitivamente conseguiria lucrar com isso.
Enquanto eu fantasiava sobre fazer minha fortuna de uma vez, Yukinoshita me encarou
silenciosamente. Ser encarado tão intensamente fez meu coração pulsar. De medo.
– Vo-Você quer alguma coisa?
– ...algo aconteceu entre você e a Yuigahama-san?
– Nah, nada– Eu respondi prontamente.
– Se não fosse nada, eu acredito que a Yuigahama-san não deixaria de vir. Vocês
discutiram?
– Não, nós não discutimos. Eu acho.
Eu me calei inadvertidamente sobre o que Yukinoshita disse.
Só que isso não era uma mentira. Eu não tinha como julgar se aquilo foi uma discussão ou
não. Eu nunca fui próximo o suficiente de alguém para discutir com eles, para começar.
Solitários são pacifistas, entende. Antes de não-resistir vem não-ter-contato. Se você pensar
nisso de uma perspectiva histórica, eu sou bem parecido com Gandhi.
O único tipo de discussão que eu conhecia era uma disputa entre irmãos e isso é história
desde que eu terminei a escola primária. Komachi sempre me deduraria para nosso pai, que
acabaria com meu HP antes mesmo da briga começar. Se brigássemos quando nosso pai não
estava por perto, ela ativaria sua carta armadilha10 (lê-se: nossa mãe), e eu perderia de
qualquer jeito.
Meus pais me dariam um sermão e então, no jantar, faríamos as pazes, sentaríamos
próximos e esse seria o fim da nossa disputa entre irmãos.
Enquanto eu contemplava tudo isso, Yukinoshita abriu sua boca novamente, como se
aproveitasse a deixa.
– Yuigahama-san é indiscreta e não tem dignidade. Ela fala coisas sem pensar, ela
constantemente invade o espaço pessoal dos outros, ela mente para se livrar de problemas e
ela é barulhenta.
– É você quem parece que está brigada com ela...
Yuigahama provavelmente choraria se ouvisse tudo isso.
– Não me interrompa. Ela tem muitos defeitos, mas... mas ela não é uma má pessoa.
Previsível, ela estava listando os defeitos da Yuigahama antes de concluir que ela não é uma
má pessoa e que as falhas dela não são sérias. Porém, quando eu vi como ela corou e virou o
rosto furtivamente enquanto sua voz murmurante desaparecia no silêncio, eu entendi que
10 Carta armadilha é uma referência ao anime Yu-Gi-Oh!
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esse foi o maior elogio que Yukinoshita já fez. Yuigahama provavelmente choraria se ouvisse
tudo isso... de felicidade.
– Nah, eu também entendo. Nós não brigamos de verdade. Você só pode brigar com
alguém se você for próximo da pessoa, para começar. Então não foi uma briga, foi mais um...
Enquanto eu pensava e coçava minha cabeça freneticamente, Yukinoshita colocou uma
mão no queixo, pensativa.
–Um desentendimento, talvez?
– Ah, perto, mas sem cigarros11. Não foi um mal palpite, eu suponho.
– Uma batalha então?
– Esfriando.
– Um massacre então.
– Não prestou atenção? Passou longe.
Por que ela estava pensando em situações progressivamente mais violentas? Os instintos
dela se assemelham demais aos de Oda Nobunaga.
– Então... vocês estavam tendo problemas de comunicação, talvez?
– Mm, mais ou menos.
Era isso. Nós estávamos pegando o mapa Masayuki12. Teve uma vez no Fundamental II que
a sala estava usando comunicações sem fio e todos estavam tipo, "Quem é esse 8man13?"
Mas cara, eu realmente gostaria que eles abandonassem a ideia de comunicação sem fio
nos games. Não tenho problemas em jogar competitivamente na rede, mas um jogo baseado
em comunicação cara a cara certamente era a "morte para os solitários". Graças a isso, eu não
consegui evoluir meu Pokémon e completar minha Pokédex.
– Entendo. Então não há nada a se fazer.
Yukinoshita fechou sua revista com um pequeno suspiro. Por trás de suas palavras
desinteressadas, sua atitude era conformada e ela parecia muito frágil.
Com isso, ela parou de fazer perguntas. Yukinoshita e eu mantivemos nossa distância usual.
O jeito que sustentávamos nossa distância emocional era provavelmente um tanto similar.
Era bem raro para ela invadir a privacidade de alguém com fofocas ou focando em apenas um
aspecto dessa pessoa. "Qual sua idade?" "Onde você mora?" "Quando é seu aniversário?"
"Tem irmãos?" "Onde seus pais trabalham?" Eu nunca vi ela perguntar esse tipo de coisa.
11 A frase e sua variante "Boa tentativa, mas sem cigarros" são provavelmente oriundas dos Estados Unidos na metade do século 20. Barracas de Feirantes davam cigarros como prêmios. 12 Um mapa repleto de monstros raros em Dragon Quest IX, que os jogadores poderiam obter usando a
comunicação sem fio do Nintendo DS. 13 8 = Hachi. 8man, portanto, significa Hachiman
22
Eu poderia supor inúmeras razões para isso. Talvez ela não se interesse pelos hobbies dos
outros, ou talvez ela não quisesse cometer nenhum deslize. Ou talvez ela fosse apenas ruim
em fazer perguntas, assim como os solitários tendem a ser. Sem um motivo lógico, fazer
perguntas os deixam extremamente desconfortáveis.
Sem intrometer-se ou pisar nos dedos de ninguém, eles opinam uns sobre os outros como
esgrimistas em um duelo.
– Você sabe como é nessas situações. É um daqueles encontros que só acontecem uma vez
na vida. Se há um encontro, sempre haverá uma separação.
– Bonitas palavras, mas você se confundiu no significado...
Yukinoshita disse desgostosamente, mas sério, a vida está cheia desses encontros únicos.
É como aquela vez no Fundamental I, quando alguns dos meus colegas de sala estavam se
transferindo para outra escola. Mesmo quando eles prometeram enviar cartas, eu fui o único a
quem eles não responderam e eu nunca mais mandei nenhuma carta a eles. Apesar de que eu
ter recebido uma do Kenji-kun...
Um homem sábio não corteja o perigo; não prolonga sua estadia. Esse era provavelmente o
único jeito de não correr riscos.
– Entretanto... manter relações com as pessoas é de fato surpreendentemente difícil–
Yukinoshita sussurrou. – Vínculos podem ser quebrados a partir de algo tão trivial.
Seus olhos se encheram de dor dirigida a ela mesma.
Naquele momento, a porta subitamente foi aberta com um rangido.
– Mas você também pode consertar essas coisas triviais, Yukinoshita. Não é hora de se
render.
A pessoa jorrando falas legais enquanto caminhava em nossa direção, em seu jaleco branco
esvoaçante, era ninguém menos que minha inimiga jurada, Hiratsuka-sensei.
– Sensei, bata na porta antes...
Ignorando completamente o pedido de Yukinoshita, Hiratsuka-sensei inspecionou a sala.
– Hm. Então a Yuigahama não dá as caras faz uma semana, huh... eu imaginei que vocês já
teriam feito algo sobre isso. Não me diga que você tem uma doença grave agora. Isso é tão
você– ela disse com uma admiração mal orientada.
– Um, sensei... O que você quer– Eu perguntei.
– Ah, certo, Hikigaya, eu te disse antes... sobre as condições para sua 'competição'
hipotética.
Ouvir a palavra competição refrescou minha memória. De fato, tinha algo a ver com quem
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era melhor ajudando pessoas: Yukinoshita ou Eu. Robattle14!
Esse tipo de coisa... não Robonpon15. De uma maneira bem rememorativa de uma
companhia de jogos, Hiratsuka-sensei anunciou que queria mudar parte das regras. Seus
afazeres de hoje provavelmente estavam relacionados com essas novas regras dela.
– Eu vim apresentar as novas regras.
Hiratsuka-sensei cruzou os braços e ergueu-se sobre nós. Yukinoshita e eu corrigimos
nossas posturas e sentamos com atenção.
Olhando para nós dois por sua vez, Hiratsuka-sensei suspirou satisfeita. O comportamento
descontraído dela despertou uma sensação de ansiedade em mim. Estava tão quieto que você
poderia ouvir uma agulha caindo no chão.
A fim de quebrar o silêncio esmagador, Hiratsuka-sensei abriu a boca solenemente.
– Vocês vão se digladiar até que reste apenas um.
1-5
– ...Que antiquado.
Você não veria isso hoje nem em Friday Roadshows16. Além disso, por que eles continuam
reprisando Laputa? Eu já tenho o DVD. Ged oh Ged17. (Na verdade eu não comprei esse filme.)
Parando para pensar, alunos do ensino médio de hoje sequer devem conhecer esse filme,
eu pensei enquanto observava Yukinoshita. Yukinoshita olhava para Hiratsuka-sensei com o
tipo de olhar que você destinaria a lixo na beira da estrada.
Consciente do que o olhar perfurante de Yukinoshita significava, Hiratsuka-sensei tossiu
timidamente.
– Ahem. Co-Continuando! Em termos simples, serão usadas as regras de uma Battle Royale.
Uma batalha entre três pessoas é um método infalível de estender um mangá de batalha.
Basicamente, é assim que funcionam os arcos em Y@iba18.
– E mais um título clássico...
– Por ser uma disputa entre três pessoas, naturalmente haverão alianças. Vocês não só vão
ter que se defender como também vão ter que emprestar sua força uns para os outros.
Entendi. É verdade que conspirar com os combatentes mais fracos e mata-los depois é uma
tática consagrada em um Battle Royale.
14 Uma referência ao grito de guerra em Medabots, na dublagem em inglês. 15 Uma série de jogos de Gameboy Color com um sistema de batalha similar à Pokemon. 16 Um programa de TV dedicado a filmes de final de semana. 17 Uma referência à Tales of Earthsea, um filme do Estúdio Ghibli, o mesmo estúdio que fez Laputa. 18 Uma referência à Yaiba, um antiga manga shonen sobre um samurai.
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– Então você está dizendo que o Hikigaya-kun sempre estará em desvantagem...
– Praticamente.
Eu aceitei aquilo sem nenhuma resistência. Não importa como você visse, terminaria em
uma disputa "Eu contra Duas".
Mas, contrapondo-se a minha atitude conformada, Hiratsuka-sensei deu um sorriso
destemido.
– Não se preocupe. Dessa vez, novos membros podem ser recrutados à vontade. Claro que
vocês farão o recrutamento. Em outras palavras, você pode aumentar o seu número de
companheiros por meio das suas ações. Temos que pegar! Busque os 151!19
Hiratsuka-sensei falou confiante no assunto, mas o número de companheiros que ela
mencionou revelava a idade dela. Já são uns 500 hoje em dia, sabe.
Mas fala sério, era mais fácil falar do que fazer.
– De qualquer maneira, essas regras deixam o Hikigaya-kun em desvantagem– disse
Yukinoshita. – Ele é inapto para recrutar.
– Meio hipócrita da sua parte– Eu disse.
– Qual o problema? Estou apenas pedindo para você recrutar uma pessoa– insistiu
Hiratsuka-sensei.
– Não pense demais nisso.
Bom, vendo por esse lado ela estava certa. Não era sobre ser o melhor, como ninguém
nunca foi igual.
Na verdade, a melhor nesse tipo de coisa era a Yuigahama, que não estava mais presente. E
como quem se deu conta disso também, Hiratsuka-sensei fez uma expressão levemente
preocupada.
– Parando para pensar, aquela Yuigahama não aparece aqui faz uns dias... essa é uma boa
oportunidade. Mesmo que signifique preencher um cargo desocupado, vocês devem abraçar
essa chance para adquirir um novo membro para o clube– disse Hiratsuka-sensei, incitando
Yukinoshita a levantar seu rosto em surpresa.
– Espere um instante. Não é como se Yuigahama-san tivesse de...
– É a mesma coisa se ela nunca aparece. Eu, pelo menos, não tenho nenhum uso para um
membro fantasma.
No momento que eu vi a expressão dela, a atmosfera agradável de antes sumiu.
Yukinoshita e eu recuamos do olhar frio e firme da Hiratsuka-sensei.
– Vocês entenderam algo errado, não?
19 Uma referência a Pokémon.
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Ela não disse isso como uma pergunta. Pelo jeito que ela falou, era uma represália implícita
com a intenção de fomentar culpa em nós.
Yukinoshita e eu nos calamos sem resposta e Hiratsuka-sensei continuou.
– Esse não é um clube para vocês fazerem amiguinhos. Vão para outro lugar para fazer
essas tolices de adolescente. Vocês estão nesse clube para mudarem a si mesmos para melhor.
Aqui não é lugar de se satisfazerem com pouco e mentirem para si mesmos.
Silêncio.
Seus lábios prosseguiram resolutos, Yukinoshita furtivamente evitou o olhar da Hiratsuka-
sensei.
– O Clube de Serviços não é um jogo. É um clube reconhecido no Colégio Soubu. E, como
vocês sabem, você só lida com pessoas desmotivadas até o ensino obrigatório acabar. As
pessoas vêm até aqui pela própria vontade e aqueles sem dedicação não têm escolha senão ir
embora.
Motivação e dedicação, huh...?
– Co-Com licença... eu posso, por favor, ir embora já que eu não tenho nem motivação nem
dedicação...?
– Você acha que tem direito de escolha quando está sendo punido?
Hiratsuka-sensei fechou o punho e me encarou.
– E-Eu imaginei...
Então eu não podia evitar isso, huh...
Após me submeter à sua leve intimidação, Hiratsuka-sensei se virou para Yukinoshita.
Apesar de sua expressão impassível, era fácil perceber o quão descontente ela estava.
Notando isso, Hiratsuka-sensei sorriu meio sem jeito.
– Mas sabe, graças à Yuigahama, agora eu sei que há uma correlação positiva entre
atividades do clube e quantidade de membros. Seria bom ter mais um membro para equilibrar
as coisas. Com isso em mente... vocês têm até Segunda-feira para encontrar um substituto
com a motivação e dedicação para estar nesse clube.
– Uma pessoa motivada e dedicada até segunda... nem parece impossível... ei, isso não vai
acabar comigo sendo devorado por um animal selvagem?
– Você realmente gosta de Miyazawa Kenji20– comentou Yukinoshita.
Era uma troca que só poderia ocorrer entre o terceiro e o primeiro colocado em Japonês
respectivamente.
20 Miyazawa Kenji é um autor popular entre as crianças. A referência é sobre The Restaurant of Many
Orders ou O Restaurante de Muitos Pedidos, uma história curta.
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Mas se Segunda-feira era o limite, então nós tínhamos apenas quatro dias se incluíssemos
hoje e a própria segunda. Encontrar alguém motivado para se juntar ao Clube de Serviços e
dedicado a mudar a si mesmo nesse tempo era uma tarefa extremamente difícil, na minha
opinião. O que era isso? O Conto do Cortador de Bambu? Ah, deve ser por isso que a
Hiratsuka-sensei não consegue se casar. Assim como Kaguya-hime, ela teria que abandonar o
lar cedo ou tarde.21
– Sua tirana...
Eu disse amargamente. As palavras saíram com facilidade.
Hiratsuka-sensei deu um sorriso largo.
– Que pena que pensa assim. Esse é meu jeito de ser gentil com você.
– Eu não vejo nenhuma gentileza...
– Não tem problema se você não vê. Certo, as atividades do clube hoje terminaram. Hora
de pensar em como cumprir a tarefa– Hiratsuka-sensei disse enquanto empurrava Yukinoshita
e eu para fora da sala. Enquanto ela batia a porta, nossas bolsas caíram no chão do lado de
fora da sala.
Ela prontamente trancou a porta e começou a andar alegremente.
Yukinoshita chamou-a de volta.
– Hiratsuka sensei. Eu quero confirmar uma coisa. Isso seria se nos é permitido preencher a
vaga com qualquer pessoa ou não.
– Certamente, Yukinoshita.
E com uma única curta afirmação, Hiratsuka-sensei foi embora.
Apenas quando ela olhou para trás por cima do ombro eu pude ver uma espécie de sorriso
no rosto dela.
Enquanto acenávamos para Hiratsuka-sensei, Yukinoshita e eu nos olhamos.
– Então, como você pretende preencher a vaga– Eu perguntei.
– Quem sabe. Eu nunca, nem sequer uma vez, convidei alguém, então eu não saberia. Mas
eu sei de alguém que está próxima de se juntar ao clube.
– Quem? Totsuka? É o Totsuka, né? Tem que ser o Totsuka.
Não veio mais ninguém à cabeça. Não pensava em nada senão o Totsuka.
Yukinoshita fitou minha paixão sem limites pelo Totsuka com tédio.
– Errado. Apesar de que ele talvez se juntasse caso pedissem– ela disse num devaneio.
21 O Conto do Cortador de Bambu é uma popular narrativa japonesa do século X, considerada a mais antiga narrativa japonesa existente. Ela fala sobre a vida da Princesa Kaguya, que veio da Lua. Ela eventualmente tem que retornar para lá, então ela recusa pedidos de casamento de lordes e até do imperador. Para isso, ela pede que cumpram tarefas impossíveis.
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– Não tem um jeito mais simples?
Foi o que Yukinoshita disse, mas não haviam muitas pessoas que falavam com a gente.
Quando eu parei para pensar, supus que havia o Hayama Hayato, um dos raros puros riajuu.
Ele podia nos ajudar se pedirmos, eu acho. Mas eu duvidei que ele preenchesse as categorias
motivado e dedicado. Eu realmente não conseguia pensar em ninguém. Hm? Zaimokuza? Que
jeito engraçado de soletrar um nome. Quem era esse mesmo?
Enquanto eu perdia o interesse nessa linha de raciocínio, Yukinoshita olhou para mim e
soltou um leve suspiro.
– Você não entendeu? Eu estou falando da Yuigahama-san.
– Hã? Mas ela não desistiu? –Eu disse.
Yukinoshita jogou os cabelos por cima do ombro e me olhou com um olhar inegavelmente
impassível. Nele eu não podia ver nada da resignação que ela mostrou até agora.
– E? –Ela perguntou.
– Nós apenas temos que fazer ela se juntar novamente. Hiratsuka-sensei disse que não
tinha problema contanto que a vaga seja preenchida.
– É, eu acho...
Realmente, preencher a vaga resolveria o problema. Mas, a falta de motivação era uma
pedra no sapato. De qualquer modo, Yuigahama nunca voltaria à sala do clube se não
conseguíssemos motivá-la de novo.
Yukinoshita parecia ter se dado conta disso, porque ela torceu o queixo, incerta.
– De qualquer maneira– ela disse após uma pausa.
– Eu vou tentar bolar um jeito de fazer a Yuigahama-san voltar a ser quem era.
– Ela era bem motivada– Eu disse, incitando Yukinoshita a sorrir amargamente para si
mesma.
– De fato– Ela ficou em silêncio por um momento.
– Eu apenas me dei conta disso agora, mas eu me afeiçoei a essa parte dela nesses últimos
dois meses.
Eu encarei-a boquiaberto. Para Yukinoshita dizer algo assim...
Afligida pelo meu silêncio, o rosto de Yukinoshita corou levemente.
– Qu-Que foi? Você está com uma expressão estranha.
– Oh, nah. Não é nada. E eu não fiz nenhuma expressão estranha, sério.
– Sim, você fez.
– Não, eu não fiz.
– Permita-me que eu me corrija. Você está com uma expressão estranha neste momento."
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Yukinoshita começou a andar como se dissesse a si mesma para seguir em frente. Pelo seu
perfil, eu não podia ver nada da depressão de antes, apenas a expressão de uma total
autoconfiança. Yukinoshita voltou.
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