21-at inter.- eclesiastes (1)

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    DIGITALIZADO POR: PRESBTERO

    (TELOGO APOLOGISTA) PROJETO SEMEADORES DA PALAVRA

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    ECLESIASTES 2701

    INTRODUO

    Esboo:I. Caracterizao GeralII. Autor III. IntegridadeIV. Inspirao Histrica da ObraV. DataVI. Canonicidade

    VII. Uso e Atitudes CristsVIII. ContedoIX. Bibliografia

    I. Caracterizao GeralEste livro representa um tipo pessimista de literatura de sabedo-

    ria oriental, que mistura declaraes otimistas que sugerem que umsegundo autor pudesse ter estado envolvido, ou que um compilador posterior misturou os sentimentos expressos por dois autores dife-rentes. O titulo, no hebraico Qoheleth,que significa Pregador ouOrador da Assemblia, foi traduzido por ecciesiastes,no grego(Septuaginta), de onde tambm deriva o ttulo em portugus. basedo vocbulo hebraico temos o substantivo kahai, assemblia.Presumivelmente, foi o prprio Salomo quem convocou a assem-

    blia para entregar seus discursos de grande sabedoria. Este livrocontm uma coleo um tanto frouxa de material, sendo difcil esta-belecer um estrito esboo do seu contedo. O trecho de Ecl. 9.17 10.20 poderia ser includo no livro de Provrbios. Algumas poresapresentam o autor refletindo sobre suas prprias experincias ouadmoestando outras pessoas, em vez de dirigir um discurso formal aalgum tipo de assemblia. A integridadedo livro difcil de ser defen-dida. Quanto a peas literrias, este vocbulo aponta para o conceitode que o livro foi produzido essencialmente por um nico autor, e queexiste at hoje conforme foi originalmente escrito. Ver sob esse ttulo.

    II. Autor Precisamos lembrar que, nos tempos antigos, atribuir um livro a

    um autor famoso era considerado uma honra prestada a esse autor,especialmente se algumas de suas idias estivessem sendo perpetu-adas. Porm, muitas obras antigas eram atribudas a pessoas bemconhecidas com o propsito prprio de promover certas idias oufilosofias e com a esperana de que o nome vinculado ao livro aju-dasse em sua distribuio. Os antigos simplesmente no pensavamcomo ns, no que concerne a essas prticas. Portanto, a afirmaode que certa pessoa declarada autora de um antigo livro no ga-rante que assim realmente tenha sucedido. Um exemplo notrio des-sa atividade aparece nos livros chamados pseudepgrafos(ver a res-peito no Dicionrio),uma coleo que tem vrios nomes de profetasdo Antigo Testamento ou lderes espirituais, como se eles fossemseus autores, embora a realidade tivesse sido outra. significativoque os Manuscritos do Mar Morto incluam partes de vrios desteslivros, mostrando que as pessoas, bem ao lado da entrada de Jeru-salm, consideravam nos escritos sagrados. No nos deveria surpre-

    ender, portanto, que alguns poucos dos livros cannicosda Bblia, no Antigo e no Novo Testamento, tenham a eles nomes vinculados comoautores, embora a realidade fosse outra.

    O trecho de Eclesiastes 1.1 atribui o livro a Salomo. Mas Luteronegava a veracidade dessa afirmativa. De modo geral os eruditosliberais concordam com a avaliao de Lutero, e seguro dizer quemuitos intrpretes conservadores tambm o fazem. Unger afirma quepoucos estudiosos conservadores de nossos dias continuam defen-dendo a tese de que Salomo foi o autor do livro.

    Em favor de Salomo com o autor do l ivro ,temos a considerar os pontos seguintes:

    1. Eclesiastes 1.1 atribui o livro a Salomo e 1.12,13 quase certa-mente tambm o faz.

    2. A sabedoria da Salomo refletida em vrios textos, com

    declaraes que mostram Salomo a falar. Ver Ecl. 1.16; 2.3 6 e2.7,8.

    3. O trecho de Ecl. 9.1710.20 contm muitos provrbios, o quesugere que o autor do livro de Provrbios (Salomo) tambm foi oautor de Eclesiastes.

    4. O carter mpar da linguagem e do estilo do livro parecemsepar lo das obras do perodo ps exlico, conforme alguns acredi-tam ser sua data. Isso poderia ser explicado como o desenvolvimen-to, por parte de Salomo, de uma espcie de gnero de linguagem e

    expresso literria. H alguma similaridade com os escritos cananeuse fencios antigos, o que sugere que Salomo poderia ter tiradoproveito dessa literatura, com adaptaes prprias. M. J. Dahood, emseu artigo Influncia Cananeu Fencia no QoheietH, Bblica,33,1952,defende essa comparao. Ele examinou inscries e escritos quedatam do sculo XIV A.C., os tabletes de Ugarite, o Corpus Inscriptionum Semiticarume inscries fencias e pnicas. Tentoudefender sua teoria com base em fatores como a ortografia fencia, ainflexo dos pronomes e das partculas, a sintaxe e emprstimoslxicos, termos especiais referentes a itens comerciais e um vocabu-lrio comercial. Os trechos de I Reis 9.26 28 e 10.28,29 mostram queSalomo pode ter tido contato com a lngua fencia, tendo usadotermos e expresses comerciais e estilos literrios empregados pelosfencios.

    Contra Salomo como autor do l ivro ,tm sido sugeridos osseguintes argumentos:

    1. Coisa alguma mais clara, nos documentos antigos, do que ofato de que as declaraes que afirmam autoria com freqncia soesprias.

    2. O autor sagrado pode ter sido um admirador de Salomo e desua sabedoria, pelo que incluiu referncias pessoais a ele, bem comocircunstncias de sua vida, embora esse autor no fosse o prprioSalomo. O que nos admira que no existam ainda mais livrosatribudos a Salomo. O livro apcrifo, Sabedoria de Salomo, outro exemplo do nome desse monarca judeu sendo usado para dar prestgio a um livro.

    3. Um autor posterior poderia ter imitado os Provrbios deSalomo, tendo includo no livro (Ecl. 9.1710.20) uma breve compi-lao, chegando a tomar por emprstimo certos pensamentos, semque ele mesmo fosse Salomo.

    4. Os argumentos de natureza lingstica poderiam provar umadata antiga para o livro de Eclesiastes, mas tambm demonstrariamque o autor dificilmente poderia ter sido o mesmo autor do livro deProvrbios. Ademais, um autor antigo, que tivesse escrito em umestilo bastante distinto, poderia ter tomado por emprstimo algunselementos fencios, sem que tivesse alguma conexo pessoal comSalomo. De fato, a verdadeira natureza distintiva deste livro parecemilitar mais contra Salomo, como seu autor, do que em favor dele, amenos que suponhamos que ele conseguisse escrever de duas ma-neiras inteiramente diferentes, quando passava de um livro para ou-tro, algo que sabemos ser contrrio ao que conhecemos a respeitodos autores e seus livros. A linguagem e o estilo literrio so asimpresses digitais dos autores, o que no se modifica facilmente de

    um livro para outro seno custa dos mais ingentes esforos. Exem-plos histricos disso so dificlimos de achar.5. Certas idias so contrrias afirmao de que Salomo es-

    creveu o livro de Eclesiastes. Alguns eruditos simplesmente no po-dem entender como um homem com a sabedoria de Salomo, comuma postura judaica ortodoxa, poderia ter escrito um livro to pessi-mista quanto Eclesiastes. Paralelos egpcios e babilnios demons-tram que tal livro poderia ter sido escrito na poca de Salomo, mas inteiramente possvel que aquilo que achamos neste livro sejaminvases do pensamento helenista ctico.

    De fato, o propsito central do livro de Eclesiastes foi demonstrar que TUDO VAIDADE ou inutilidade; que no existem valores per-manentes, e que um jovem deveria cuidar para desfrutar o mximode sua vida (hedonismo!).(Ver Ecl. 1.2; 3.13 ss.; 11.9 12.8.) Outros

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    sim, o jovem que fizer isso ter pairando sobre a sua cabea o juzodivino, outro elemento da tese de que tudo vaidade. "Faze o quebem entenderes; mas sabe que ters de pagar por isso." Esse umconselho muito difcil de seguir. possvel que Salomo, no declnioe apostasia que caracterizaram sua idade avanada, na verdade,tenha cado nesse tipo de armadilha; e, nesse caso, isso poderiarefletir a autoria de Salomo.

    6. Alguns lingistas detectam no livro de Eclesiastes um hebraicoposterior, bastante diferente do hebraico da poca de Salomo e

    mais prprio dos tempos helenistas.7. O pregador mostrou ser muito mais um filsofo e suas atitudesforam bastante similares s atitudes dos filsofos epicureus gregos,aps o perodo da guerra do Peloponeso (404 A.C.). A atitude nega-tiva dos gregos contra a religio judaica reflete se em livros como IMacabeus e o Livro da Sabedoria, e o autor do livro de Eclesiastesparece ser um reflexo similar. O autor sagrado teria chegado aomesmo tipo de concluses a que chegaram seus vizinhos pagos. Olivro, pois, representa uma espcie de meio caminho na direo dopaganismo, embora com o desejo de manter a posio da antiga f.Por esse motivo, a leicontinua sendo um elemento importante, e atmesmo o dever do homem (Ecl. 12.13), mas ela no conseguiuimpedir que o autor sagrado chegasse a concluses to pessimistas.

    8. Finalmente, h a questo da canonicidade. Ver a seguir a

    seo Canonicidade.Os prprios judeus no sabiam ao certo o quefazer como livro de Eclesiastes. Se eles tinham certeza de queSalomo era o seu autor, no provvel que tivessem precisado detanto tempo para inclu lo no cnon do Antigo Testamento. Acanonicidade do livro algo que continuava sendo disputado nasescolas judaicas dos dias de Jesus Cristo.

    Aps o exame da evidncias disponveis, parece que a autoriasalomnica repousa mais sobre o desejo de conservar a tradio doque sobre a considerao dos fatos envolvidos. As evidnciasinclinam se em favor de uma produo helenista, e no de umaproduo que antecede a quase 1000 A.C.

    III. Integridade Alguns eruditos argumentam em favor de dois autores distintos

    que teriam estado envolvidos na escrita do livro de Eclesiastes, emvista de contradies nele encontradas. Outros estudiosos, porm,supem que isso possa ser explicado pela atividade de algum editor.H tentativas para atribuir ao Koheleth dois, trs ou mais autores;mas as evidncias em favor dessa forma de atividade esto longe deser convincentes. Por outra parte, patente que algum editor procu-rou corrigir a incredulidade expressa pelo autor. Esse autor tem sidochamado de o maior herege da antiga literatura dos hebreus, ealgumas de suas declaraes deixam consternados os eruditos daBblia, desde que o livro de Eclesiastes foi escrito. Para comear, suafilosofia bsica de que tudo vaidade (Ecl. 1.2) uma atitude pessi-mista que no concorda com o pensamento comum dos hebreus. Oseu hedonismo (Ecl. 2.24 ss.; 11.9 12.8) dificilmente concorda coma tica dos hebreus. Uma mesma sorte atinge o sbio e o insensato(Ecl. 2.12 17), de acordo com ele, o que contrrio essncia da

    teologia hebria. Ele chega mesmo ao extremo de dizer: "Pelo queaborreci a vida... sim, tudo vaidade e correr atrs do vento (Ecl.2.17). Ele nega qualquer vantagem sabedoria e ao conhecimento,pois essas coisas tambm produzem no homem o desespero (Ecl.1.17,18). O sbio morre como o insensato, e ambos acabam noolvido (Ecl. 2.16,17). Ele tambm nega a imortalidade da alma, pois odestino do homem seria o mesmo que o destino de um animal irraci-onal (Ecl. 3.18 20). O versculo que se segue especula que podehaver certa diferena entre um homem e um animal irracional oesprito do primeiro subiria (para alguma outra forma de vida), aopasso que o esprito do segundo desceria, presumivelmente para ser esquecido o que aparece sob a forma de uma indagao. O autor demonstra esperana, mas no exibe muita f. Contudo, o trecho deEcl. 12.7 afirma categoricamente que o esprito volta a Deus". A

    maioria dos eruditos pensa que em tudo isso h a obra de um editor,ou de um segundo autor, que procurou suavizar o ceticismo do autor original. Ou o autor original, ao chegar ao final do livro, apesar do seudesespero, resolveu deixar a sua sorte nas mos de Deus emanifestou se em favor da imortalidade como um meio de reverter odilema humano?

    Quase todos os estudiosos acreditam que o trecho de Ecl. 12.914 consiste em adies editoriais. De fato, o nono versculo foi escri-to na terceira pessoa do singular. Ele fala sobre o pregador como

    uma pessoa diferente dele mesmo. Outras provas de que houve umeditor ou um segundo autor encontram se em Ecl. 2.26, onde se fazclara distino entre o sbio e o insensato. Ali l se que ao homembom so conferidos sabedoria, conhecimento e alegria, ao passo queo mpio coberto de vexames. Isso suaviza um tanto a filosofia dolivro: Tudo vaidade". O trecho de Ecl. 3.17 parece ser outra adi-o, visto que o autor apela para o julgamento divino como meio deestabelecer diferena entre o homem bom e o homem mau. O trechode Ecl. 12.12 provavelmente constitui uma critica ao autor original,por parte do editor, louvando as declaraes do homem sbio, queaparece comoum Pastor (vs. 11), e adverte contra passar da, o que,como evidente, ele pensava que o autor fizera em seu pessimismo.No vs. 14, ele apela novamente para o juzo divino e indica que este importante, apesar das declaraes pessimistas do autor, pois se-remos julgados de acordo comaquilo que tivermos praticado. Defato, a passagem de Ecl. 12.9 14 uma espcie de adio, onde soacrescidos valores e limitaes ao livro, segundo o esprito de orto-doxia. Se algum editor esteve atarefado nisso, provvel que otenha feito mediante declaraes mais otimistas e ortodoxas.

    Em favor da integridade do livro,alguns estudiosos pensamque as declaraes contraditrias podem ser explicadas mediante asuposio de que um nico autor ficou divagando em seus pensa-mentos, defendendo ora uma posio ora outra, mostrando se assimautocontraditrio, e isto sem se importar em procurar harmonizar idias mais pessimistas com idias mais otimistas. Alem disso, mui-tos pensam ser estranho que um editor tentasse salvar uma obrahertica, cuja publicao s serviria para prejudicar o judasmo emsua corrente central. A primeira dessas sugestes possvel. Eumesmo falo nesses termos, algumas vezes. A segunda dessas su-gestes constitui uma boa resposta, at onde posso ver as coisas.Qualquer pessoa que raciocine sobre o livro, apesar de seu pessi-mismo, fica impressionada pelo fato de que ele uma excelentepea literria. Suas declaraes so sucintas e precisas, curiosas, svezes, dotadas de penetrante discernimento. H muitas boas cita-es, que so freqentemente ouvidas, extradas desse livro. Umeditor qualquer, fascinado pela beleza do livro, contentar se ia emprocurar corrigir alguns pontos falhos, em vez de descart lo inteira-mente. Sua excelncia como pea literria to inequvoca que aque-les que finalmente fixaram o cnon hebreu (embora ortodoxo) nopuderam deixar de inclu lo, embora a questo h sculos viessesendo debatida entre os judeus.

    Minha concluso a respeito que temos apenas um autor princi-pal do Eclesiastes, que um editor posterior procurou tirar as arestas

    da obra original, e que o trecho de Ecl. 12.9 14 sua nota de rodap,como uma sua concluso sobre a obra do autor. Mas exatamentequanto material foi adicionado, algo que ter de permanecer emdvida.

    IV. Inspirao Histrica da ObraSe procurarmos entender o esprito deste livro, descobriremos

    que o autor era um filsofoque, embora judeu, havia sido influencia-do pela pessimista filosofia dos gregos, especialmente da variedadeepicuria. Os epicureus sentiam fortemente a inutilidade das coisas,objetando s ameaas de deuses imaginrios, que receberiam ho-mens que j teriam vivido de modo miservel, para faz los sentir semais miserveis ainda, com seus mltiplos e horrendos julgamentos.Eles preferiam o olvido imortalidade, como maneira de pr fim a

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    tanto sofrimento, e reduziam os poderes divinos, a entidades destas,Se eles realmente existiam, ento no teriam interesse nem pelohomem bom nem pelo homem mau. Devemos lembrar que nemtodos os judeus ofereciam resistncia helenizao. Nem todos os

    judeus retiveram sua f ortodoxa em face de inimigos que avana-vam destruindo e dispersando, e assim expunham filosofias que po-dem ter sido consideradas uma avaliao mais justa da vida do que aavaliao apresentada pelo judasmo, embora essas outras filosofiasfossem mais pessimistas. Se o livro de Eclesiastes foi escrito em

    torno de 225 A.C., ento consiste em uma espcie de reafirmaodaquilo que restou da f judaica, visando algumas pessoas, fora dacorrente principal do judasmo, mas que continuavam judias. Muitos

    judeus haviam comeado a duvidar da doutrina dos galardes divi-nos em favor dos piedosos e dos julgamentos divinos contra osinquos. Eles chegavam a sentir que, afinal de contas, no h distin-es fundamentais entre uns e outros. Nesta vida, a tragdia desabasobre uns e sobre outros, igualmente; agora ambos vivem na inutili-dade; e ambos entram no olvido, aps a morte fsica. No obstante, oautor sagrado exibe saudvel respeito pela lei de Deus. Ele no sebandeara inteiramente para o pensamento pago. Ver o quinto cap-tulo do livro, do comeo ao fim. Esse foi o elemento que o editor enfatizou, em sua concluso (Ecl. 12.13,14).

    V. DataSe partirmos do pressuposto de que os argumentos em favor de

    Salomo como autor do livro de Eclesiastes so fortes, ento teremosde pensar que a data de sua composio gira em torno da poca deSalomo, cerca de 990 A.C. Impressiona nos o carter mpar da lin-guagem usada e suas afinidades com as expresses fencias, mesmoque no aceitemos Salomo como o autor do livro. E podemos supor que este livro seja bastante antigo, se que sofreu a influncia fencia.Mas, se ficarmos impressionados pela similaridade de idias com cer-tas idias helenistas, ento talvez devamos pensar numa data de com-posio em torno de 225 A.C. A maneira como os prprios judeusdisputaram sobre o livro, tendo o includo no seu cnon sagrado so-mente aps muita relutncia, a despeito de ele prprio reivindicar haver sido escrito por Salomo, pesa em favor da data posterior.

    VI. CanonicidadeVer no Dicionrioo artigo geral sobre Cnon,do Antigo e do

    Novo Testamento.Quando foi definido o cnon da Bblia hebraica, por ocasio do

    concilio de Jamnia, em cerca do ano 90 D.C., muitos judeus opuseramse ao livro de Eclesiastes, alegando que ele no era digno de se posicionar entre os Escritos Sagrados. E mesmo mais tarde, quando o livro jestava fisicamente presente na coletnea sagrada, supostamente investi-do de autoridade, muitos rabinos continuaram opondo se a eie. Quandoum judeu piedoso segurava algum livro sagrado, lavava as mos emseguida, em demonstrao de respeito. Mas muitos deles, aps manuse-arem o livro de Eclesiastes, no pensavam que essa providncia serianecessria, por no considerarem o livro uma obra inspirada. Seria ape-nas uma habilidosa pea filosfica, e no um dom do Esprito. Ver a

    Mishinah, Yadaim3.5. Jernimo, to tarde quanto 389 D.C., conhecia judeus que se sentiam insatisfeitos com a incluso do livro de Eclesiastesentre as Escrituras do Antigo Testamento. No obstante, o livro temencontrado um uso devido no seio do judasmo. O livro de Eclesiastes lido no terceiro dia dos Sukkoth(Tabemculos), a tradicional festa dacolheita entre os hebreus, com o propsito de lembrar aos homens anatureza transitria desta vida, e como uma advertncia contra a cobiapelas riquezas e vantagens materiais, alm de servir para reiterar oimportantssimo princpio da necessidade de obedecer lei de Deuscomo o maior e mais solene dos deveres humanos.

    VII. Uso e Atitudes CristsOs eruditos liberaisno podem perceber o motivo para tantos

    debates. O livro volta se contra certas crenas ortodoxas. E da?

    H pontos bons no texto: o livro exibe bons discernimentos;confere nos uma melhor compreenso sobre certos desenvolvi-mentos do judasmo... De que mais precisaramos? E os conser-vadores, que tm de defender a idia da inspirao a qualquer custo, para todos os livros do cnon, so forados a acomodar seao livro, provendo razes pelas quais o Esprito Santo teria acha-do apropriado inclu lo no cnon. As respostas quanto a essasquestes so similares quelas que acabo de frisar acerca docnon. O livro diz algumas coisas boas sobre a natureza transit-

    ria da vida humana, sobre a vaidade das coisas e atividadesterrenas, e contm alguns versculos que servem de excelentescitaes. Mas que dizer sobre a sua falta de ortodoxia? At hojelembro me de uma noite quando eu estava no escritrio do presi-dente de uma das escolas teolgicas que freqentei, quando elefora chamado ao telefone. Algum telefonara para fazer uma per-gunta sobre o livro de Eclesiastes. Como que declaraes da-quela ordem podem ter penetrado na Bblia? Ele replicou dizendoque o Esprito deixou que esse livro fizesse parte da Bblia a fimde mostrar nos o que o homem natural pensa e como ele chega aconcluses negativas, enquanto no recebeu ainda a f apropria-da. Em outras palavras, o livro, em sua poro no ortodoxa,serviria como uma espcie de exemplo ao contrrio, mostrandonos as coisas que devem ser evitadas, que precisam ser observa-das e repelidas. Esse tipo de raciocnio parece atrativo para amente ortodoxa. E no digo que uma posio intil, embora, decerta, maneira seja uma resposta superficial.

    C. I. Scofield, em sua Bblia anotada, diz in loc., afirmando aposio conservadora da melhor maneira possvel; Este o livro dohomem debaixo do sol, que raciocina sobre a vida; o melhor que ohomem pode fazer com o conhecimento de que existe um Deussanto, e que ele levar tudo a juzo. As expresses chaves so de-baixo do sol, percebi e disse em meu corao. A inspirao mostrouacuradamente o que sucede, mas a concluso e o raciocnio, afinal,so do homem. Sua concluso de que tudo vaidade, em face do

    julgamento, pelo que o homem no deve consagrar sua vida scoisas terrenas, certamente verdadeira; mas a concluso(12.13) legal, o melhor a que o homem pode chegar, parte da redeno,sem antecipar o evangelho.

    Essa uma boa declarao, mas mesmo assim continua sendocurioso que um livro hertico encontrasse caminho at o cnon do

    Antigo Testamento, por causa de seu estranho encanto. No hexplicao que possa alterar a estranheza desse acontecimento.

    VIII. Contedo A discusso anterior nos prov a natureza essencial do contedo

    do livro de Eclesiastes. Abaixo damos um esboo acompanhandoidias bem gerais:

    I. A Vaidade de Todas as Coisas(1.1 3)II. Demonstrao da Tese Bsica da Vaidade(1.4 3.22)1. Todas as coisas na vida so transitrias (1.4 11)2. O mal provado por seus resultados (1.12 18)3. H inutilidade no lucro, no trabalho e nos prazeres (2.1 26)4. A morte mostra que tudo intil (3,1 22)III. Um Desenvolvimento Mais Detalhado do Tema(4.1 12.8)1. As injustias da vida mostram a inutilidade das coisas (4.1 16)2. As riquezas para nada servem (5.1 20)3. A brevidade e futilidade da vida do homem provam a inutilida-

    de das coisas (6.1 12)4. A inescrutvel providncia divina prova a inutilidade das coisas

    (7.1 9.18)5. As desordens e frustraes da vida ilustram a vaidade (10.1 20)6. Jovens e idosos demonstram a inutilidade das coisas (11.1 12.8)IV. Concluso (12.9 14)O dever inteiro do homem: guardar a lei na esperana de receber

    um bom julgamento divino.

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    EXPOSIO

    Captulo Um

    mpossvel traar o esboo deste livro, j que ele no segue nenhumaordem ou diviso de apresentao dos temas. O meihor que podemos fazer fornecer uma essncia de cada captulo. So tratados tantos assuntos diferentes,que podemos apenas apontar, aqui e ali, grupos de versculos que seguem, por algum tempo, um tema comum.

    Literatura de Sabedoria. Quanto a uma discusso sobre a literatura de sabe-doria cannica e no cannica, ver no Dicionrio o artigo chamado Sabedoria, seo III. O livro de Eclesiastes um membro cannico desse tipo de literatura.

    Essncia do Captulo 1. Koheleth (o pregador) assevera que o curso da naturezano se altera. O presente como o passado; coisa alguma nova, e essa etemaigualdade continua a ser a natureza da existncia humana. O autor teve uma experin-cia de vida bem ampla e j havia aprendido que isso no nos conduz a nenhumavantagem duradoura. A sabedoria que ele possua no fazia diferena alguma emsuas condies, exceto pelo fato de que isso aprofundava a tristeza causada por suacompreenso da utilidade da vida (O. S. Rankin, introduo ao livro).

    O autor sagrado no acreditava em um ps vida com castigos pelo mal erecompensas pelo bem, e essa era a base real de seu pessimismo sobre a vida.Ver na Enciclopdia de Bblia, Teologia e Filosofia o artigo chamado Pessimismo.

    A primeira definio do pessimismo que a prpria existncia um mal, sendoessa, essencialmente, a posio que o autor do livro de Eclesiastes (de modo tocontrrio ao restante do Antigo Testamento) tomava. A concluso ortodoxa doltimo captulo do livro, provavelmente escrita por algum editor, reverte tal posi-o, mas esse no o princpio orientador do livro de Eclesiastes.

    Introduo: Futilidade de Todo o Empreendimento Humano (1.1-11)

    A Vaidade de Todas as Coisas (1.1-3)

    O autor identificou se (vs. 1), afirmou seu tema inicial (vs. 2) e defendeu o.

    1.1

    Palavra do Pregador, filho de Davi. No hebraico original, pregador traduode koheleth, termo que tambm tem sido traduzido por filsofo, visto que o livro como o discurso de um filsofo pessimista, e no tanto como a pregao de umrabino ou de um homem sbio. O autor chamou a si mesmo de filho de Davi, rei de

    Jerusalm, o que nos d razes para compreender que se tratava de Salomo. Amaior parte dos crticos, entretanto, pensa tratar se de uma conveno literria, eno de uma declarao sria de que Salomo tenha sido o verdadeiro autor deEclesiastes. Os costumes antigos, no tocante autoria de um livro, permitiam esseponto de vista, j que um homem podia escrever no nome de outrem; o que se dno caso presente, no qual Salomo, o mais sbio dos homens, aparece como oautor sagrado, honrandoo como tal, ou, pelo menos, assim o verdadeiro autor sacroo apresentou. Os antigos estavam acostumados a essa espcie de autoria", embo-ra a questo fosse anacrnica. Em outras palavras, no podemos aplicar nossasidias sobre a alegada imoralidade de tais reivindicaes. Os antigos nada viam deerrado nessa prtica, a qual refletia uma forma literria generalizada, como tambmum costume usual. Lutero negava a veracidade da reivindicao da autoria deSalomo, e muitos outros estudiosos emitem a mesma opinio, com base no con-tedo do livro, que, segundo eles sentiam, no poderia ser atribudo ao mais famososbio de Israel. Ver esse assunto, com opinies a favor e contra, na Introduo, seo II. Quanto a uma nota mais detalhada sobre a palavra hebraica koheleth, ver a seo I da Introduo, I, Caracterizao Geral.

    1.2

    Vaidade de vaidades! diz o Pregador. O pregador continuava a pregar, ou,ento, o filsofo continuava o seu discurso pessimista, lanando seu fundamento:tudo vaidade (no hebraico, hebhel, isto , mero sopro, um bafo de vento). O bafode vento vai e vem, mas coisa alguma acontece; coisa alguma importante; coisaalguma se reveste de relevncia; coisa alguma tem substncia; a vida humana v e intil: essa a posio do pessimismo (ver a respeito na Enciclopdia de Bblia, Teologia e Filosofia).

    Os montes gemeram nas dores do parlo;Grandes expectativas encheram a terra.E eis! um ratinho nasceu.

    (Fedro, Fbulas, IV.22.1)

    Vaidade, sopro, indicando a natureza infrutfera, a falta de alvo, o vazio e atransitoriedade de tudo quanto sucede face da terra (cf. Eclesiastes 2.26) (O. S.Rankin, in loc.).

    Note o leitor que a palavra hebraica hebhel foi usada cinco vezes nesteversculo. Quatro dessas vezes so a dupla repetio de uma construo nosuperlativo, no hebraico, que poderia ser traduzida por vaidade de vaidades'(King James Version); sem sentido, sem sentido!(Donald R. Glenn, in loc., queconseguiu assim comunicar a natureza enftica da declarao).

    Tudo vaidade. Isto , toda a vida e todos os empreendimentos humanos,incluindo a obteno de sabedoria, to valorizada entre os sbios do Oriente.Todavia, esse sbio apresentava uma sabedoria canhestra, eloqente, sim, mastotalmente pessimista.

    Este versculo apresenta a nota chave do livro inteiro de Eclesiastes. O voc-bulo vaidade ocorre 37 vezes aqui, e somente 33 vezes no restante do AntigoTestamento.

    O propsito do livro de Eclesiastes ensinar a natureza insatisfatria de todasas coisas terrenas, e tambm que, por todos os lados, abundam necessidades,tristezas e temores (Fausset, in loc.). O eplogo ortodoxo procura redimir tudo isso,mas, sem dvida, foi feito por um editor posterior que tentou tornar o livro maisaceitvel aos ouvidos dos judeus. O eplogo (captulo 12) encontra valor em Deus; eisso exprime uma verdade, embora essa no seja a luz orientadora do livro. De fato,o princpio normativo do livro de Eclesiastes so as trevas, e no a luz. Ver Eclesiastes12.8, que uma duplicata deste versculo e encerra as palavras do triste filsofo. Hali mais detalhes sobre o vazio. Ver tambm Eclesiastes 2.24,25.

    1.3

    Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho. . .?O autor sacroataca aqui o trabalho do homem, para ilustrar a sua tese e, contra o restante do

    Antigo Testamento, descobre que essa apenas uma das muitas formas devaidade, inutilidade e vazio; nada seno sopro, a brisa que passa e se vai em uminstante, sem ter conseguido realizar nada de novo.

    Que proveito...? Algo que nos concede alguma vantagem ou algo de valor.Esta palavra aparece nove vezes no livro, sempre em contextos negativos:Eclesiastes 1.3; 2.11,13; 3.9; 5.9,16; 7.11; 10.10,11. Todo proveito, porm, intil,visto que no h proveito genuno em coisa alguma que os homens faam faceda terra.

    Debaixo do sol.Em todos os lugares, por toda a parte, face da terra,os homens trabalham em alguma coisa, levando a srio a si mesmos e a seutrabalho. Muitos homens fazem de seu labor a prpria vida, como se fosseuma esposa; eles casam com o trabalho e dedicam a ele toda a energia. Mas,sob um escrutnio mais acurado, o autor sacro descobriu que todo o labor eraignorante, estpido e intil. Trabalhar ou no trabalhar, tudo se reduz aonada.

    Os vss. 3 8 foram escritos como uma composio potica, cuja substncia a de que a natureza revela uma monotonia mortfera, que termina em nada. Oautor sagrado apresenta vrias ilustraes dessa mesma espantosa vaidade: noh proveito final no labor humano. Os homens trabalham a fim de ganhar algumacoisa, fixando sua ateno nisso, mas um vcuo espera por toda essa labuta. Por outro lado, no trabalhar conduz os seres humanos ao mesmo alvo: o nada. Selevssemos a srio o que disse o autor sagrado, todos pararamos de trabalhar para desfrutar os prazeres, que tambm so inteis, mas, pelo menos, divertem eenchem de alegria nossa mente.

    Demonstrao da Tese Bsica da Vaidade(1.4 3.22)

    Todas as Coisas da Vida So Transitrias(1.4 11)

    Existem as trocas incessantes e inteis das geraes (vs. 4); os intermin-veis ciclos sem proveito da natureza (vss. 5 7); o labor humano que, emboracansativo, nada produz de satisfatrio ou permanente (vss. 8 11). Ademais, todasessas coisas trazem a mais terrvel fadiga e o pior enfado. Isso o pessimismo. Ver esse termo na Enciclopdia de Bblia, Teologia e Filosofia.

    1.4

    Gerao vai, e gerao vem.Cada indivduo levado a pensar que perten-ce a algo especial, ou que tem algo especial a fazer. Mas cada indivduo passa,conforme acontece e aconteceu a todos os outros. No h vida alm do sepulcroque redima esse desperdcio. Alm disso, no h reencarnao que d continui-dade existncia ou crie propsito para ligar as geraes, cooperando paraalguma espcie de benefcio. O autor sacro nada descobriu de remidor na vidahumana. A nica coisa permanente so as mudanas, mas essa uma falsapermanncia.

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    2706 ECLESIASTES

    Cf. este versculo com Eclesistico 14.19, que contm algo similar. Este livrotem, realmente, como autor, um homem que tateia seu caminho luz do dia, que, narealidade, so trevas. O livro no redimido pela revelao divina seno no eplogo (captulo 12), o qual, sem dvida, foi escrito por outro autor, como apndice editorial.Os escritores judeus posteriores e intrpretes cristos no cessam de injetar, nestesversculos, esperana e luz divina, querendo que fixemos nossos olhos no alto,embora o prprio autor sacro no tenha feito isso. Que o homem anuncie suapesada mensagem e se volte para outro lugar, para dali receber iluminao.

    1.5

    Levanta-se o sol. A prpria natureza est pasmada na mesma rotina mort-fera que termina em nada. O sol aparece e desaparece, aparece e desaparece,subindo e descendo no mesmo lugar; produzindo luz e, ento, ocultando sua luz.E da? Que bem se deriva de tudo isso? O maior crime do homem foi ter nascidoe se misturado a toda essa insensatez e nulidade. A morte, porm, pe fim futilidade, substituindo a pelo eterno nada. A incessante repetio da natureza,quanto s mesmas coisas, to intil como a labuta sem alvo do homem (vs. 3).Nenhum hebreu ortodoxo teria falado sobre os cus de Deus em termos seme-lhantes. Temos aqui p discurso de um filsofo oriental pessimista. Portanto, comoseu livropenetrou no cnon do Antigo Testamento? Ver a seo VI da Introduo e tambm o pargrafo intitulado Ao Leitor, imediatamente antes da introduo aocaptulo 1. O que convm admitir que o livro de Eclesiastes uma produoliterria aguda e eloqente, qualidades que, sem dvida, obtiveram votos quandoa eleio ocorreu.

    Volta ao seu lugar.No hebraico temos, literalmente, a palavra que significa

    arfa, como se estivesse correndo e respirando com dificuldade para cumprir seucircuito. Mas a pressa demonstrada pelo sol significa apenas outra repetiodamesma futilidade csmica. O sol arfa, ou seja, cansa se tal e qual acontece aoshomens em seu trabalho: por nada.

    1.6

    O vento vai para... volve-se e revolve-se.Os ventos so coisas misterio-sas. Mas at onde podemos discernir, eles correm para o sul, ento para o norte,volvendo se e revolvendo se em circuitos insensatos, que resultam em absoluta-mente nada, servindo a propsito nenhum. Hoje eles se pem em sua carreiralouca, e amanh a dose se repete. Que diferena faz aos ventos soprar ou nosoprar, soprar para o sul ou para o norte, ou no soprar de maneira alguma? Onorte e o sul eram as direes mais constantes que tomavam os ventos naPalestina. Por isso mesmo, so as direes citadas na Bblia. Portanto, alm davaidade humana (vs. 3) e da vaidade csmica (vs. 5), temos tambm a vaidadeatmosfrica (vs. 6). Essa foi a maneira pela qual o triste filsofo sumariou ascoisas para provar sua tese da inutilidade total. No faz diferena alguma, entre-tanto, se ele provou ou no sua tese, nem se escreveu este livro ou no. Por outraparte, ele no tinha mais o que fazer, pelo que foi o autor do livro. Escrever umlivro um tdio, e no escrever um livro maante, e ambas as coisas somanifestaes da vaidade.

    1.7

    Todos os rios correm para o mar.Chegamos agora inutilidade dos ciclosterrenos. A evaporao retira gua do mar, forma nuvens e deposita gua emterra firme; ali, a gua torma rios que, obedientemente, correm de novo para suaorigem, o mar, e o mesmo processo desanimador acontece seguidamente. Asguas poderiam permanecer no mar. verdade que, na terra, as guas promo-vem vida, mas a vida v. Mas, se as guas tivessem permanecido no mar, pelomenos seriam tranqilas, e, se todas as coisas morressem, ento teramos aserenidade, em vez de todo esse correr frentico e sem propsito. No obstante,a calmaria uma manifestao do nada, da mesma maneira que o a agitao.Somente os perdedores jogam esse jogo, pois todos os homens so perdedores.

    Note se como o autor sacro deixa Deus do lado de fora de tudo isso, o queum judeu ortodoxo jamais faria. O autor sacro um filsofo mecanicista. que v anatureza como uma espcie de engrenagem. Ele no encontra no homem e nanatureza nenhuma operao divina ou propsito.

    A despeito de todos os esforos frenticos dos rios, como se quisessemencher os mares, eles fracassam. Os mares mantm seu nvel, mas. mesmoque isso no ocorresse e eles transbordassem, tambm nada significaria. To-das as atividades da natureza so montonas; a natureza toca uma nica msi-ca e, sem dvida, o filsofo estava cansado dessa msica. Cf. Eclesistico40.11.

    1.8

    Todas as cousas so canse iras .Todas as cousas significam tudo quan-to o filsofo havia descrito: os labores do homem; os movimentos inteis do

    sol e dos ventos: os ciclos inteis pelos quais passam as guas; tudo isso buicio que leva exausto. Tanto o homem quanto a natureza se cansam damonotonia e da repetio intil das coisas. A situao to sinistra, que umhomem no pode encontrar palavras adequadas para descrev la, o que apenas mais uma falha, em meio falncia geral. Seus olhos continuamvendo, seus ouvidos continuam ouvindo, mas a percepo dos sentidos apenas outra forma de vazio, despropositada, pois ver a mesma coisa queno ver, ouvir o mesmo que no ouvir. O esprito do homem torna secansado de tanto ver e ouvir. Afinal, que diferena faz se um homem est vivoou morto, usando sua percepo dos sentidos ou no? Todas as coisas

    esto enfadadas em seus respectivos cursos. Ningum pode descrever tudoisso. No vive o olho farto de tanto ver e o ouvido sobrecarregado de tantoouvir?" (0. S. Rankin, in oc.). "Este versculo enseja outra traduo, com oseguinte sentido: outras instncias da mesma espcie poderiam ser mencio-nadas, mas so to numerosas que seria uma canseira cont las uma a uma"(Ellicott, in loc.. o qual, entretanto, rejeita essa traduo como sendo boa). OTargum d nos a idia da incapacidade do homem de ver e ouvir tudo. Mas,se um indivduo pudesse ver e ouvir tudo, prestando contas perfeitas de todasas coisas, isso tambm faria parte da mesma vaidade geral. As ilustraes eargumentos do autor so suficientes para provar sua tese de vazio generali-zado.

    1.9

    O que foi, o que h de ser.O que foi feito, o ser novamente; nada denovo acontece debaixo do sol. Tremenda monotonia assinala a existncia inteira,e a monotonia a prpria essncia de toda vida e de toda a existncia. Os vss. 9

    11 formam uma espcie de concluso dos vss. 38. por isso que perguntamos:Se houvesse algo novo sob o sol, seria de alguma utilidade?". O autor sagradoteria apresentado uma dzia de argumentos para mostrar que as coisas novas seriam to vs como as antigas. Ademais, as coisas novas logo seriam interminavelmente repetidas e tornar se iam antigas.

    Numa poca em que a cincia era muito primitiva, verdadeiramentepouqussimo surgia que pudesse ser chamado de novo. Mas mesmo nestes dias,de coisas verdadeiramente novas, ouso dizer que nosso triste filsofo no teriamodificado suas declaraes pessimistas.

    Que o leitor contraste este versculo com Jer. 31.22; Isa. 43.18; 65.17. Coisasnovas nos excitam a mente e aliviam o enfado. Mas estar ou no enfadadorepresenta sempre igual futilidade, embora sejam plos opostos da mesma coisa.Sneca, embora no fosse pessimista, observou as repeties interminveis dascoisas: Nada de novo eu vejo; nada de novo eu fao' (Epst. 24). Trazer baila,aqui, a novidade do Novo Testamento anacronismo. Sabemos que o tristefilsofo tinha uma filosofia inadequada, mas deixemos que ele diga o que tinhapara dizer, sem interromp io continuamente.

    1.10

    H alguma co usa de que se po ssa dizer; V, is to novo?Este versculoreitera essencialmente as idias do anterior. O filsofo desafia a que se apre-sente um exemplo de coisa nova. Ele estava certo de que qualquer coisa quefosse mencionada facilmente poderia parecer antiga e, portanto, tediosa e intil.Certas coisas poderiam ser esquecidas, como se estivessem fora da existncia,como se nunca tivessem acontecido. Mas um pouco de investigao demons-traria que, l atrs, no passado", aquela coisa tinha existido, ou tal aconteci-mento ocorrera. A expresso "j foi" significa um passado indefinido e ocorreoito vezes no livro de Eclesiastes: 1.10; 2.12,16; 3.15; 4.2; 6,10; 9.6,7. Issoaparecia com freqncia no hebraico posterior. Ao convocar testemunhas, oautor universalizou as declaraes pessoais que j tinham sido proferidas ante-riormente.

    1.11

    J no h lembrana das cousas que precederam. As coisas que acon-teceram so iogo esquecidas. O mesmo se aplica a coisas que ainda iroacontecer. Grande inundao, de certa feita, atingiu um dos estados orientaisdos Estados Unidos da Amrica. Entre outros atos de destruio, a inundaoalcanou um ou mais cemitrios. Um esquife de bronze foi encontrado a flutuar em um no e neie havia o corpo bem preservado de uma bela e jovem mulher.Ela tinha longos cabelos ruivos, que lhe desciam pelos ombros. O esquife tinhamais de cem anos. Sabia se onde e em que poca esses esquifes eram fabrica-dos, mas ningum sabia quem era aquela mulher e de onde o esquife viera.Podemos imaginar que. qjando ela morreu, tenha havido choro e lamentaes,nas no restou ningum para continuar chorando. Tudo seria realmente intil, amenos que houvesse uma vida para alm da vida biolgica. O triste filsofo queescreveu essas linhas no acreditava em reverso, de espcie alguma, em umps vida.

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    ECLESIASTES 2707

    O Mal Provado por Seus Resultados (1.12-18)

    A Vida Humana No Tem Propsito.O pregador (filsofo) apresenta agoraseu juzo sobre o valor da vida, tese inerente ao material escrito antes desteponto. E ele acaba brindando nos com certo nmero de julgamentos de valor. Ofilsofo era um triste homem mecanicista, mas isso no quer dizer que no encon-trasse mal no mundo. Ele no era moralmente neutro, mas que diferena faz amoralidade?

    1.12

    Eu, o Pregador.O triste filsofo reafirma sua identidade salomnica eassim obtm prestgio para suas declaraes. Ele era rei de Israel e operavaem Jerusalm, pelo que no lhe faltavam credenciais; sobejavam lhe oportuni-dades de observar as coisas, grandes e pequenas, importantes e sem importn-cia. Ver o vs. 1, quanto a uma discusso sobre a autoria do livro, e a seo II daintroduo.

    O autor retrata se como Salomo considerando suas experincias devida anteriores, com muitas coisas a dizer. Infelizmente, porm, tudo quantoele tinha para dizer era negativo e intil, simplesmente nada. O autor sacromostrou se um tanto descuidado, porquanto retratou Salomo como se ain-da estivesse vivo, considerando o seu passado, mas falando como se nofosse mais rei. Em Eclesiastes 2.7,9, o autor sacro falou sobre outros reisque viveram antes dele; mas s houve, em Israel, dois monarcas anterioresa Salomo: Saul e Davi. Havia um costume, entre os reis do Egito, de fazer discursos de sabedoria quando capitulavam,e o presente versculo podeser um reflexo desse costume. Seja como for, o pseudo Salomo triste

    filsofo pode ser um reflexo desse costume antigo, dando prosseguimento aseus discursos pessimistas, a fim de atrair a ateno das pessoas, fazendodrapejar a bandeira de Salomo. Esta seo est repleta dos termos semsentido, ou algum sinnimo, dificilmente usados pelo mais sbio de todosos homens.

    1.13

    Apliquei o corao a esquadrinhar.O pseudo Saiomo triste filsofojtinha visto todas as coisas; aquilo que ele no tinha visto pessoalmente, investiga-ra detalhadamente com os prprios olhos.Ele perscrutou a questo da sabedoria humana,investigou por toda parte e leu muitos livros, para ver o que poderiadescobrir. Ele sondou a sabedoria e aplicou toda a sabedoria de que dispunhaemsuas investigaes. Erasmo de Roterd teria gostado do autor sagrado, porquan-to tambm apreciava a livre investigao.O pregador procurava tirar algum senti-do do que acontece neste mundo, mas ficou amargamente desapontado. "Deus s tem dado aos homens uma atividade infeliz(Revised Standard Version) ou umdoloridolabor (King James Version). Os homens, ao tentar trabalhar com omaterial dado por Deus, s tm encontrado desapontamentos. O filsofo identifi-cou Deus como a Causa nica e inventou uma providncia divina toda negativa,do que resultariam apenas pesadas cargaspara os homens, conforme algunstraduzem o original hebraico. A palavra assim traduzida(nyan ra')tambm apare-ce em Eclesiastes 2.23,26; 3.10; 4.8; 5.3,14 e 8.16, mas no figura em nenhumaoutra passagem do Antigo Testamento. Essa palavra comum entre os rabinoshebreus. Deus retratado a infligir aos homens suas cargas pesadas. Ele afonte originria de toda a calamidade. A teologia dos hebreus era fraca quanto acausas secundrias, e isso passou para o Novo Testamento em passagens comoo capitulo 9 da epstola aos Romanos, bem como na teologia calvinista, que fazde Deus a origem do mal, e no meramente do bem, porquanto tambm nessesistema Deus a Causa nica.

    Algumas teologias asseveram ser o homem motivo de desapontamento paraDeus, mas aqui Deus figura como a causa do desapontamento para os homens. Deusno tratava os homens com justia. Essa era, igualmente, uma declarao de J, um

    dos problemas sobre os quais ele meditou e sobre o qual muitos tm meditado, desdeento. Por que os homens sofrem, e por que sofrem da maneira como sofrem? Essa a essncia do Problema do Mal (ver no Dicionrioa respeito, quanto a explicaes).

    1.14

    Atendei para todas as obras que se fazem debaixo do sol.O triste filsofofoi capaz de obter uma viso panormica de todas as obras que oshomens fazem debaixo do sol, e tambm, presumivelmente, detodas as obras da natureza. Sua avaliao foi totalmente negativa: tudo no passa de umabaforada de fumaa, de uma brisa soprada pela vaidade,que vazia e repre-senta o nada. Ver o vs. 2 deste captulo, onde a tese ousadamente proferida,sendo agora confirmada, aps longa e diligente investigao. Ele procurou por toda parte debaixo do sol, isto , na terra, e no encontrou razo alguma paramodificar sua mente pessimista a respeito da sombria inutilidade da vida huma-na. As obras do homem so moralmente boas ou ms (e a lei que asdetermi-na), mas igualmente inteis.

    A vida cavada a ferro na melancolia central,E aquecida at ficar em brasa com temores requeimantes.Mergulhada em banhos de lgrimas profusas,Espancada com os choques da condenao.

    (Tennyson, In Memoriam)

    E correr atrs do vento.H uma frase parecida com essa, em Os. 12.1:persegue o vento". Trata se de uma fotografia grfica de esforos gastos sem aobteno de resultados, pois ningum pode apanhar o vento em suas mos. Essaexpresso usada nove vezes em Eclesiastes: 1.14,17; 2.11,17,26; 4.4,6,17 e6.9 (Donald R. Glenn,in loc.).

    1.15

    Aquilo que torto no se pode endireitar.Quando o filsofo fala sobrecoisas tortas, quase certamente est fazendo um julgamento de valor. H coisastortas neste mundo, pois os homens praticam o mal e a natureza os aflige. Tortotambm significa, nesta passagem bblica, algo escuro, errado, as cargas pesa-das do vs. 13: coisas boas e ms, mas sem conserto. E, ainda que houvesseremdios, elas tomariam formas de inutilidade. As coisas foram determinadas,precisam acontecer da maneira como so; mas, de qualquer modo, so erradas.

    As coisas so incompletas,como se no pudessem ser numeradas. Portanto, haquilo que bom e aquilo que mal, coisas incompletas, coisas que corremerradas, tudo manifestando o problema do mal. Existem imperfeies e sofrimen-tos inexplicveis; existem desastres, enfermidades, assassinatos e ultrajes. Equem pode fazer alguma coisa a esse respeito? A sabedoria do Koheleth

    tristemente incompleta (Gaus Glenn Atkins,in loc.).

    1.16-17

    Disse comigo: Eis que me engrandeci e sobrepujei. Ogrande Salomo, que tinha obtido toda aquela fantstica sabedoria, mais que qualquer homemem Jerusalm, antes ou depois dele, e que tinha vastssima experincia econhecimento, chegou concluso de que at mesmo isso era correr atrs dovento" (vs. 17). Por que deveria haver algo to completamente intil? Por ser incompleto?Em parte, mas no somente por essa razo: porque em si mesmo nada valia. Isso contradiz toda a literatura do tipo positivo, onde a sabedoria otesouro que deve ser obtido, para uma vidaplena, feliz e til (Pro. 4.13). Toda aliteratura de sabedoria esfora se por convencer os homens de que obter sabe-doria uma experincia til e recompensadora, muito desejvel e digna de ser buscada. Ademais, a sabedoria est alicerada na lei, e isso era tudo para oshebreus. Por conseguinte, temos aqui o espetculo de um sbio a descobrir, nofim, que a lei no era to boa assim, algo inconcebvel para a mentalidade doshebreus.

    O Poeta Sacro Fez Julgame ntos de Valores.Ele descobriu tanto a insensatezquanto a sabedoria, e veio a compreender ambas as coisas, mas isso no lhe fezbem algum, nem o levou a nenhuma finalidade; no resolveu problemas para ele,porquanto a busca inteira era ftil. Se um homem no acredita na existncia psvida, o que acontecia com o autor sagrado, fcil saber por que ele terminachegando a tal concluso.

    No existe mtodo para distinguir, de modo absoluto, a verdade do erro, asabedoria da insensatez. Poderia haver iluso no processo inteiro. O que pare-cesse sabedoria, na realidade, poderia ser apenas insensatez disfarada. Se essaera uma das posies defendidas pelo triste filsofo, ento ele terminou em umpessimismo relativo. Ver na Enciclopdia de Bblia, Teologia e Filosofiaos artigosdenominados felativismo e Pessimismo.

    1.18

    Porque na muita sabedoria h muito enfado.Supostamente, a sabedorianos diz como as coisas devem ser,mas vemos que elas no so daquela maneirae nos sentimos vexados. A sabedoria traz consigo uma espcie de fraqueza ederrota, antes da sorte, o que nos maltrata a despeito do que sabemos. Suaaquisio, longe de aliviar a depresso criada por um ponto de vista mundialpessimista, na realidade aumenta a angstia mental (a tristeza) e o abatimento decorao. O conhecimento o aliado da sabedoria e produz o mesmo efeito queela. Quantomais conhecemos sobre nosso prprioeu e sobre o dos outros,mais pessimistas nos tornamos quanto aos ideais.

    Quatro Mximas dosl/ss. 15 18:1. O homem sbio, com sua doutrina de Deus como Causa nica, amargura se

    perante o que a sorte faz, e no v recurso contra isso (vs. 15).2. O sbio busca um guia infalvel para a vida e a existncia, e, quando no

    descobre nenhum gula, amargura se e sente se abandonado (vs. 16). Suasabedoria acaba decepcionando o, pois promete mais que entrega.

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    3. O aumento da sabedoria e do conhecimento traz maior senso de fraqueza efracasso. A sabedoria no oferece soluo para o problema da tragdia hu-mana (vs. 17).

    4. Aplicar sabedoria vida , no mnimo, incerto. Nisso, manifesta se a tristeza(vs. 18).

    Captulo Dois

    A Inutilidade dos Prazeres, do Lucro e do Trabalho(2.1 26)

    Os Prazeres e a Busca pelos Prazeres So Inteis(2.1 11)

    A experincia com os prazeres: vss. 12. Como a experincia foi usada naprtica: vss. 3 10. A futilidade de qualquer coisa dessa ordem: vs. 11. No bastaaplicar meras teorias. Um homem precisa experimentar para compreender ascoisas. Portanto, o filsofo decidiu verificar com o que se parecia a vida dohedonista, para ento fazer sua prpria avaliao. Assim, adotou o vinho, asmulheres e as canes como estilo de vida, durante algum tempo. Os reis orien-tais tinham todas essas coisas em abundncia, e o filsofo continuou a apresentar seu caso como se fosse o caso de Salomo. Tendo experimentado a sabedoria ea investigao filosfica, ele prosseguiu a fim de averiguar de que forma umaprazimento jubiloso contribuiria para tornar um homem feliz" (Ellicott,in loc.). Portanto, ele se tornou um eudemonista em sua posio filosfica. Em outraspalavras, hedonisticamente, ele passou a buscar a felicidade por meio dos praze-res, talvez o mais comum de todos os empreendimentos humanos. Ver na Enci-

    clopdia de Bblia, Teologia e Filosofia os verbetes chamados Eudemonismo e Hedonismo.

    2.1

    Disse comigo: Vamos! eu te provarei com a alegria. A triste filosofia assim se tornou por suas falsas presunes acerca do valor do trabalho (vs.3), e por causa do enfado de atos repetitivos no cosmo, na natureza e nohomem (vss. 4 8); todas as coisas so antigas, vexatrias e enfadonhas (vss.9 11). A prpria sabedoria desapontadora e somente acrescenta mais triste-za vida (vss. 13 18). Por conseguinte, experimentemos os prazeres que oshomens tanto apreciam, para ver se esses descobriram algum segredo que ossbios esqueceram.

    O filsofo comungou com o prprio corao, dizendo: Vamos testar os pra-zeres. Divertir me ei vontade para tentar obter a felicidade e algo digno de sefalar. Sendo assim, o homem bom iniciou uma campanha em busca dos praze-res. Ele visitou todos os lugares onde havia bebidas e comidas; visitou tambmcada baile onde se danava, cada bordel onde havia mulheres. Mas, logo nocomeo de suas experincias, ele j tinha aprendido a mesma antiga lio: esseestilo de vida vazio, como um hlito, uma brisa que sopra, um nada Exata-mente como todas as outras coisas que ele j tinha experimentado.

    Evita a estrada spera e espinhenta da sabedoria,Essa vereda paga pouco peia tua labuta.Vai agora para as veredas floridas do prazer;Vai, enche te de alegria. s paixesEntrega te de corao. No permitas que um pensamentosrioEntre em tua cabea. Faze o que a juventude e Os ricos te dizem para fazeres.

    (Adam Clarke)

    2.2

    Do riso disse: loucura.Elementos da Insensatez. 1. O homem bom achouque o riso era uma forma de loucura. 2. Acerca dos prazeres, ele disse, depois deter experimentado cada um deles: Isso no tem utilidade". O triste filsofo noestava falando sobre o uso moderado e legtimo dos prazeres. Falava dos exces-sos da desgraa. A idia da experincia era saciar se e saturar se com os praze-res. O homem no seria contido em sua experincia.

    At no riso tem dor o corao, e o fim da alegria tristeza.

    (Provrbios 14.13)

    ... o riso, oriundo dos aprazimentos sensuais" (Fausset, in loc.). Os prazeresde todos os tipos, em um mesmo pacote, so mais difanos que a prpria respira-o. O saco est vazio, embora carregado com deleites sensuais. Os prazeresnada realizam. No esse o caminho da felicidade.

    2.3

    Resolvi no meu corao dar-me ao vinho.Os elementos da insensatez continuam aqui: 3. Em seguida, nosso homem experimentou muito vinho eembriaguez. Se puoesse obter algum bem da bebida, o triste filsofo certa-mente o faria. O homem "refrigeraria" (Etzsche com um paralelo talmdico) oseu corpo com o vinno. Ele se deixaria atrair pelo vinho e cederia diante deseus encantos. Sua mente, treinada a buscar a sabedoria, verificaria se erasbio intoxicar se pela bebida alcolica. Uma vez embriagado, ele se entrega-ria a toda a espcie de insensatez. As prostitutas eram suas companheiras debebedeira, com quem ele se deitavam no leito. E, ento, ele descobriria se oshomens que agem dessa maneira, durante os poucos dias de sua existncia,teriam descoberto algum segredo que sua mente filosfica teria negligencia-do. O homem estava fazendo experincias com os prazeres sexuais, tornan-do o corpo o seu deus, em lugar da mente. Ele queria testar os efeitos dabusca pelos prazeres, para ver se realmente eram dignos de valor" (DonaldR. Glenn, in loc.). Ele sempre fora um homem moderado, mas agora perderao controle. Misturou se ao mais profano bando, pois queria estar onde ascoisas aconteciam. Ele usava os poderes da mente para gui lo a pecados detodas as espcies. A lei mosaica no era mais o seu guia. Suas paixes lhediziam o que fazer. Se antes ele tinha abraado a sabedoria, agora seusbraos desvairados se estendiam para a insensatez. Seria a insensatez dasensualidade melhor que a sabedoria da restrio? Nosso homem descobririaque o summum bonum prazeroso? Haveria felicidade? Muito paradoxalmen-te. "ele usou a sua sabedoria para valer se da insensatez" (Gaius Glenn

    Atkins, in loc.).

    2.4Empreendi grandes obras. Ainda buscando prazeres, para alm das concu

    piscncias mais crassas, o filsofo fez grandes obras, todas calculadas paraaumentar seus confortos. Edificou vrias residncias para sua convenincia epiantou vinhedos particulares para garantir um bom suprimento de vinho. Os ricosno precisam transportar maletas em viagens, porquanto tm casas que lhespertencem, em vrios lugares, cada uma equipada com todas as coisas necess-rias para a vida diria: mveis, roupas, utenslios etc. Devemos pensar aqui empropriedades, e no meramente em casas em uma agradvel vizinhana. Salomonaturalmente ser^e nos de exemplo: ele possua uma casa na floresta do Lbano(ver I Reis 7.1); uma residncia separada para a rainha; o templo de Jerusalm, etantas outras moradias. Ver I Reis 5.1; 9.10; 10.18; II Cr. 8.1,4. Todas essasedificaes apelavam para a concupiscncia dos olhos e para o orgulho da vida (IJoo 2.16).

    2.5

    Fiz jardins e pomares para mim.O homem aumentou a extenso e belezade suas propriedades com ja rd ins (pa rdes im),"parasos", palavra tomada por emprstimo do idioma persa) e pomares. A Revised Standard Version diz aqui"parques". Ele plantou grandes pomares que produziam vrias espcies de frutos.O triste filsofo conseguiu criar um paraso na face da terra. Ele testava se taiscercanias lhe trariam felicidade, atravs dos prazeres que haveriam de fornecer.Ele vivia em meio ao luxo real, em harmonia com o costume do conceito orientalda realeza. Ele tinha alimentos em grande abundncia, bebidas e medicamentos em seus pomares, conforme diz o Targum.

    2.6

    Fiz para mim audes.Para certificar se de que seus pomares implantadosmedrassem bem. mesmo quando no chovesse, o autor sagrado construiu reser-vatrios para efeito de irrigao. Construes que serviam como audes foramencontradas a sudeste da cidade de Belm, sendo chamados de reservatrios deSalomo", mas os cientistas demonstraram que essas construes so do tempodos romanos. No h razo para duvidarmos, contudo, que aquele homem tives-se reservatrios similares, conforme relata Josefo (Ant. vii.7.3; Guerras v. 4.2). Otriste filsofo sabia da existncia de tais projetos, tendo os citado em suas descri-es sobre uma vida luxuosa, da qual, supostamente, as pessoas derivavam oprazer que leva felicidade.

    2. 7-8

    Comprei servos e servas.Uma multido de escravos foi adquirida comotrabalho barato para cuidar das propriedades, executar tarefas domsticas e irri-gar terras. Alm dos escravos adquiridos, havia aqueles nascidos na casa (nassuas propriedades), o que aumentava ainda mais o nmero deles. O nosso ho-mem tinha sob seu controle pessoai cidades virtuais, que lhe pertenciam e au-mentavam suas riquezas e prazeres. Quanto grande quantidade de escravos deSalomo, cf. I Reis 10.5.

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    ECLESIASTES 2709

    Para aprimorar o lado esttico da vida e aumentar o aprazimento das coisas,homens e mulheres cantores, alm de tangedores de instrumentos musicais, tor-naram se parte da vida diria (vs. 8). O triste filsofo tinha orquestras, coros esolistas bem conhecidos que tocavam msica em dias especiais e msica nacorte, alm de msica ambiente, para todos quantos estivessem trabalhando nacorte. Quanto aos usos da msica, cf. Isa. 5.12; Ams 6.6; Ecl. 32.5 e 49.1. Issodeve ser comparado ao uso que Davi fez de cantores profissionais (II Sam.19.35). Uma famlia inteira de levitas recebeu a incumbncia de tocar msicasacra para o culto do templo (ver I Cr. 25) e isso mostra a nfase que os hebreusdavam questo. O rei filsofo ultrapassou tudo isso, porm, para entretenimento

    pessoal, visando a alegria profana, e no o culto religioso.Para aumentar suas riquezas, o autor sagrado possua vastos rebanhos deanimais domesticados (vs. 7), acima de tudo que jamais fora criado em Jerusa-lm. Exagero era o seu lema. Ele experimentava o esplendor terreno, utilizandose de coisas que trariam prazer, o que levaria felicidade.

    Das delcias dos filhos dos homens; mulheres e mulheres.Onde nossaverso portuguesa diz mulheres e mulheres", a Revised Standard Version traduzcerta palavra hebraica, de sentido duvidoso, como em grande nmero. Na mo-narquia dos hebreus, Salomo estabeleceu o recorde em seu harm, com 700esposas e 300 concubinas (ver I Reis 11.1 3). Mas estamos informados de quealguns reis persas nunca faziam sexo com uma mulher por mais de uma vez, peloque, com a passagem dos anos, alguns deles devem ter excedido a prodigiosaatividade sexual de Salomo. Esse um prazer usufrudo tanto por ricos quantopor pobres, e o rei filsofo certificava se de saciar nesse aspecto, buscando con-cluir se isso era suficiente para trazer lhe a felicidade. A Septuaginta traduz afrase por copeiros machos e fmeas, mas essa traduo arruina toda a diverso

    tornando o autor sagrado um hedonista menor do que realmente foi.

    2.9

    Engrandeci-me e sobrepujei a todos os que viv eram antes de mim.Esta uma breve nota de sumrio. O homem era grande e sobrepujou a todos quantostinham vivido antes dele, em Jerusalm, o que nos permite concluir que ele efetuouuma experincia completa e exaustiva, para checar se a felicidade poderia ser achadanessas atividades. Suas experincias no falhariam por falta de informes. Ele tinhatoda a espcie de riquezas, todo o tipo de prazer, toda a modalidade de prestgio e,durante esse excesso, sua sabedoria no o abandonou; portanto, no podemos dizer que ele trocou a sabedoria pelas experincias, razo pela qual teria terminado infeliz.O vs. 3 mostra nos que ele empregou sua sabedoria para aumentar sua insensatez,pelo que a usou para uma tarefa pervertida, mas podemos supor que sua sabedoriatenha continuado a servi lo sempre. Isso posto, podemos presumir que um homemcomo esse fosse o mais contente e feliz de todos os homens; mas as experinciasdele azedaram, conforme somos informados mais adiante. O Targum diz nos que asua sabedoria o ajudou, e que o homem teve uma vida plena e produtiva, e noapenas luxuosa. Ele foi o homem mximo. Portanto, o homem estava feliz?

    2.10

    Tudo quanto desejaram os meus olhos no lhes neguei.Nosso homemnada negava a si mesmo, pois tinha dinheiro e poder para adquirir qualquer coisaque atrasse seu olhar. Alm disso, ele satisfazia qualquer alegria que seu cora-o desejasse e tambm descobriu que conseguia deleitar se com todos os seuslabores, realizaes e prazeres. Ele recebia amplas recompensas por suas labu-tas elaboradas e por seus preparativos. Estava percorrendo um vasto caminhocom tudo isso; parece que suas experincias no campo dos prazeres tinhamprovado que o tipo de homem em que ele se transformara era o homem feliz,donde se conclui que os prazeres conduzem felicidade. Mas, quando lhe ocor-reu o segundo pensamento sbrio, tudo se despedaou (vs. 11).

    2.11Considerei todas as obras que fizeram as minhas mos.Conforme dizi-

    am os gregos: Pensamentos sbrios tornam se, de alguma maneira, ainda maissbrios. A sabedoria do autor sagrado ergueu se e gritou para ele: Toda essavida que voc est levando vaidade. E ele sabia que essa era a avaliaocorreta. O homem passou em revista todas as suas propriedades; todos os seusluxos; visitou seu vasto harm; revisou e classificou suas obras magnficas, mas,como j havia constatado, tudo era como seguir aps o vento". Ele no tinha sidocapaz de reter o vento em suas mos, embora tivesse se esforado para tanto.Lamentavelmente, a felicidade o tinha iludido novamente. Ele tinha provado, atra-vs de grande experimentao, que a felicidade no nos chega atravs dos pra-zeres, conforme afirmam alguns indivduos. Quando todos os seus informes jestavam recolhidos, ficou demonstrado que ele estivera envolvido em uma grandefarsa. Ao refletir sobre os valores reais de todas as suas atividades, descobriu quetudo era destitudo de significado e "mero correr atrs do vento, Cf. Eclesiastes1.14,17; 2.17,26; 4.4,6,16; 6.9, No houve vantagem real ou final (vs. 3) em todas

    as suas realizaes debaixo do sol (ver Eclesiastes 1.3) (Donald R. Glenn, in ioc.). A questo inteira s deixava ainda mais agoniado o seu esprito, porquantoele fez um esforo herico para provar que os prazeres trazem a felicidade, esomente constatou (o que ele j sabia) que isso era mentira. Seja como for, eleprecisava eliminar essa opo, razo que tambm nos leva a agir de determina-das maneiras, algumas vezes. A opo dos prazeres estava agora eliminada, e ofilsofo continuou na sua infelicidade.

    A Busca da Sabedoria Torna-se Ftii, Mediante o Reflexo sobre a Mo(2.12 17)

    Nosso homem, cansado de todos aqueles prazeres, riquezas e pompa,retornou sua sabedoria, mas, dessa vez, sem os excessos, para verificar sepoderia achar a felicidade nisso, encontrando algo digno pelo que viver. Ele secansou do hedonismo bizarro que o cercou, quando estava experimentando osprazeres (vss, 1 11), e descambou para o extremo oposto. Agora, ele era umhomem sbio e sbrio, piedoso e diligente. Encontraria assim a felicidade?

    2.12

    Ento passei a considerar a sabedoria e a loucura e a estultcia. Ao iniciar aleitura do versculo, encontramos uma diferena de opinio quanto ao seu significado.

    Alguns dizem que o homem diligentemente procurou a sabedoria, a loucura e aestultcia, como opes na busca da felicidade. Mas, conforme Gordis, isso poderiasignificar: Volteime para considerar a sabedoria, mas notei ser ela estupidez e estultcia.Essa uma declarao radical para um homem sbio, porquanto se supunha queele encontrasse a o significado da vida (Pro. 4.13), pois a sabedoria prometia dar vida.

    Lembremos de que a sabedoria vem atravs do estudo e da prtica da lei mosaica,dentro de um contexto hebreu. Assim sendo, esse homem sbio assegurava que atisso totalmente vo, uma forma de loucura e insensatez, algo que um hebreuortodoxo jamais teria dito. Pura blasfmia! Nos vss. 1617, ele haver de segredarnosa grande razo de seu pessimismo acerca de tudo: um sbio morre da mesma formaque um tolo; a morte o fim de tudo; portanto, como pode alguma coisa ser til?Pensando no haver esperana para almtmulo, dentre todos os homens, ele omais miservel (I Cor. 15.19). As experincias feitas pelo nosso homem foram tocompletas, que qualquer outro, depois dele, ao fazer as mesmas experincias, teriaobtido idnticos resultados. Seria intil se algum outro homem, aps o escritor sagra-do, repetisse as mesmas experincias. Os informes estavam recolhidos. O caso forasolucionado e a concluso fora a mais lamentvel possvel: tudo era vo e vexatriopara o esprito. Na experimentao das coisas vs da vida, quaisquer outros esforosseriam ridculos. A resposta definitiva j fora colhida.

    2.13

    Ento vi que a sabedoria mais proveitosa do que a estultcia. A sabe-doria tem decisiva vantagem sobre a estultcia (os prazeres insensatos). A sabe-doria fornece mais luz sobre a verdadeira natureza das coisas. Mas essa vanta-ge m termina sendo uma desvantagem, pois, quanto maior for a luz, mais fteissero vistas as coisas. Portanto, para que adquirir maior luz? A sabedoria temuma vantagem sobre a insensatez, mas quo repleta de vaidade essa vanta-gem? Que o sbio adquira a sua sabedoria, mas logo a morte chega e ele esquecido, e tudo quanto ele tiver obtido com seu labor se apaga (Ellicott, in Ioc).

    um erro injetar neste texto a idia de sbio mundano", como se um homemverdadeiramente sbio pudesse encontrar qualquer coisa diferente disso. O triste fil-sofo no estava fazendo distino quanto a tipos de sabedoria. Isso j um anacronis-mo cristo. O Pentateuco no tem declaraes sobre um ps vida. A lei mosaica noameaava os mpios com uma punio ps morte nem prometia recompensa para ospiedosos, em uma vida futura. No entanto, guardar a lei e obter uma longa vida fsica,evitando assim a morte prematura, era tido como algo a ser diligentemente buscado.

    As declaraes da sabedoria fomentavam e interpretavam a lei, e a mesma atitude era

    mantida. Considerava se uma grande calamidade sofrer morte prematura. Mas o tristefilsofo, que no acreditava em um ps vida, no via vantagem em guardar ou no alei, pois a morte vinha igualmente para os bons e os maus, os sbios e os insensatos,marcando o fim da existncia do indivduo. Nosso homem era definitivamente contra aortodoxia de seus dias. A noo da imortalidade comeou a aflorar nos tempos dossalmos e dos profetas, mas claro que o triste filsofo ainda no havia adotado taldoutrina. O eplogo (captulo 12) traz luz essa possibilidade, mas o autor desseeplogo no parece ser o mesmo que aqui escrevia.

    2.14

    Os olhos do s bio esto na sua cabea.Um sbio tem os oihos na cabe-a, ou seja, ele capaz de discernir a luz das trevas e, assim, caminhar pelavereda da luz, quer dizer, pelo caminho da lei, obedecendo a tudo quanto elarecomenda. O estulto, entreianto, caminha ao longo de sua prpria vereda escura,ignorando a lei de Moiss. Isso, de conformidade com a ortodoxia da poca, umadistino vital, e o caminho do homem bom devia ser buscado com diligncia, ao

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    passo que a senda do homem mau devia ser evitada. A sabedoria conduz vida(ver Pro. 4.13), mas nosso triste filsofo no ortodoxo rejeitava essa verdade, poisvia com seus olhos de sabedoria que a mesma sorte (por ocasio da morte) captu-raria os dois tipos de homens. Eie tambm percebeu que ambos os caminhosdesembocariam no mesmo nada. Alm disso, ele estava trabalhando com a teoriaque dizia: Deus a Causa nica", e foi Deus quem decretou, de antemo, totenebroso fim para ambos. Assim sendo, para que combater essa sorte inevitvel?

    A vida no boa. De fato, ela m. O pior crime de um homem foi ele ter nascido.Ver na Enciclopdia de Bblia, Teologia e Filosofia o verbete chamado Pessimismo.

    Embora grande seja a diferena entre As duas veredas, o que vi muito claramente.Contudo, um s evento espera todos, bons e maus,E a sabedoria no pode proteger do perigo,Nem dos desapontamentos, nem da tristeza,Nem da dor, nem daquele ponto final: a morte.

    Cf. J 21.26. ridculo tentar harmonizar isso com o judasmo posterior e seuponto de vista mais iluminado da vida, e ridculo tentar fazer o nosso homemser, em qualquer sentido, uma voz do judasmo ortodoxo de seus dias. Ele era,antes, um pensador pessimista independente.

    2.15

    Peloque disse eu comigo.O hornem sbio" percebeu, no fim, que ele noera diferente de um estulto qualquer, quando a vida deixada para trs, no sepul-cro. Em seus raciocnios internos, ele chegou concluso de que no havia diferen-

    a entre ele e um insensato, visto que ambos terminariam no mesmo nada. Por conseguinte, a vida humana seria uma piada; ento, por que tom la a srio, comose importasse aquilo que uma pessoa faz ou deixa de fazer? A vida somente umatragicomdia, e aqueles que a levam a srio tero de pagar elevado preo por suaspretenses. Nosso homem foi o pai espiritual e mental de Schopenhauer. A sabedo-ria pode parecer um ponto vantajoso, mas, de fato, apenas aumenta a dor. Por quetanto me esforcei para obter a sabedoria? Em que me tornei melhor, por causa dasabedoria? Que felicidade ela me trouxe? Ela no me trouxe vantagens sobre ostolos (John Gill,in loc.). Nosso homem estava atolado no sofrimento e na futilidadehumana. Ver no Dicionrio o verbete intituladoProblema do Mal: por que os homenssofrem e por que sofrem da maneira como sofrem? Este livro de Eclesiastes at separece com as passagens pessimistas do livro de J.

    2.16

    Pois assim do sbio co mo do estulto , a memria no durar para sempre.Quando o triste filsofo fala em no restar lembrana do sbio, mais do que a doestulto, no est considerando meramente se outros se lembraro dele ou no. Elese referia conscincia. No h mais lembrana porque o sbio cessou de existir,em sentido absoluto. O registro das memrias completamente obliterado. Por certo, outros seres humanos esquecero o homem, mas Deus tambm o esquece-r. Nada haver o que chame a ateno para ele. O tempo varre totalmente tanto asmemrias como as entidades capazes de ter alguma memria, pelo que nadarestar. O sbio morre tal qual o insensato, e ambos caem no esquecimento.

    2.17

    Pelo que aborreci a vida.Disse o triste filsofo: "Aborreci a vida", pois eletinha observado que ela era to bruta, to intil, to insensata, to ftil, toenganadora, to dolorosa que, finalmente, levava a nada. Mas, pelo menos, eleera honesto. Ele nem procurava ajustar sua teoria para adaptar se ortodoxia,nem tentava agradar os ortodoxos, mediante a adio de declaraes suavizadoras,para torn los mais felizes. Todas as obras humanas, realizadas durante algum

    tempo, tornaram se amargas para ele. Tudo no passava de vaidade e pobrezade esprito. Tudo quanto ele tinha feito era "seguir o vento", mas no fora capazde reter a brisa que vinha ao seu encontro. A morte, a grande niveladora. tinhaarruinado tudo, lanando suas sombras sobre o homem bom, no menos quesobre o homem mau, Cf. J. 10.1.

    A morte o grande Nivelador.

    (Provrbio do sculo XVIII)

    Os Frutos Preciosos do Labor de um Homem Sero Desperdiados por Outros (2.18-21)

    O triste filsofo agora imaginava as riquezas de Salomo sendo deixadaspara um homem menor, como Roboo, seu sucessor, que desperdiaria os frutosde seu labor. Portanto, que vantagem haveria em ter ele feito o que fez. e em ter desperdiado sua vida em todo aquele esforo por excelncia?

    2.18

    Tambm aborreci todo o m eu trabalho.O autor chegou a aborrecer tanto aprpria vida (vs. 17) quanto o seu trabalho (vs. 18). Haveria algo de duradouronessas coisas? Absolutamente, no. Em primeiro lugar, seus sucessores reduziri-am tudo a nada. E, caso no o fizessem, mesmo assim tudo era intil, conformeele mesmo j havia demonstrado em 1.3. Certamente os estultos herdariam todasas riquezas caquele homem, incluindo suas propriedades e qualquer outra coisaque ele deixasse para trs. Por outra parte, visto que os insensatos e os sbios soa mesma coisa, no fim, ele no teria vantagem alguma se todos os seus bens

    caissem nas mos dos sbios. Compare se isso sabedoria superior de GeorgeFrederic Watts: "O que gastei, perdi; o que economizei, perdi; o que dei, conservei.Temos a considerar um antigo ditado: "No podemos levar deste mundo o que

    nele ganhamos". Eis por que um moribundo verteu tudo quanto tinha em cheques deviagem", a fim de carreg los consigo; esperemos que ele tenha assinado direitinho osseus cheques! Talvez algumas das obras dos homens bons terminem em museus,para serem admiradas, mas o triste filsofo no veria nisso nenhuma vantagem. Cf.este versculo com Eclesistico 9.19. O tolo usufrui o resultado dos labores do sbio.Isso ridculo. Na verdade, porm, assim eram a vida e seus frutos, no parecer destepessimista, O Targum lembra nos de que Salomo deixou suas riquezas materiaispara seu filho insensato, Roboo, e, devido a certas circunstncias, tambm para oselvagem Jeroboo. Esses dois insensatos dividiram o reino de Israel. Eles repartiramos despojos do sbio que tinha dado a Israel sua poca urea.

    2.19

    E quem pode dizer se ser sbio ou estulto?Este versculo repete essen-

    cialmente as idias do vs. 18. Um sbio pode amealhar riquezas; um insensatotambm pode amealh las; mas o resultado ser o mesmo. Um homem bom seesforaria por acumular bens, mas chegariam tolos que passariam a desperdilos e, mesmo que no os desperdiassem, os bens seriam deles, e no de quemos acumulou. Por conseguinte, o homem bom perderia tudo quanto se tivesseesforado por alcanar, nesta terra que est debaixo do cu. Portanto, que podeser dito depois de tudo isso? Tudo vaidade. contrrio ao bom senso que uminsensato ou mesmo um sbio fique com os bens materiais de um homem queacabou de morrer. Tambm uma incongruncia que a morte oblitere o sbio. claro, portanto, que a vida inteira no se reveste de sentido. A vida, para o tristefilsofo, era o "incongruente". De nada adiantava tentar extrair dela algum sentido.

    2.20

    Ento me empenhei por que o corao se desesperasse.O autor sagra-do perdera a coragem enquanto pensava na vaidade da vida; desencorajado,desprezou a prpria vida, bem como suas obras, e tambm se entristeceu por haver nascido. No teve um nico pensamento remidor. Todas as suas teorias seazedaram. Estava tudo errado, e no havia remdio para nada. Todas as coisasque ele antes considerara virtudes conhecer e praticar a lei de Moiss, obter conhecimento e sabedoria, trabalhar arduamente e ajuntar bens materiais, esfor-ar se por realizar grandes projetos, tentar ser um grande homem todas essascoisas boas. juntamente com qualquer outra que se possa imaginar, foram lanadasna lata de lixo filosfica. Esse homem tornouse to negativo, que nenhuma escolafilosfica decente haveria de querer que ele ali ensinasse, e nenhuma igreja abririaas portas para ele. Ele era um pria, lanado fora por si mesmo e pelo prximo; masa aceitao por parte de outras pessoas apenas outro falso valor.

    Nosso homem cessou a busca pela sabedoria, abandonou a busca pelesprazeres, interrompeu os labores diligentes e terminou como um nada que nadafazia, apenas outra forma de vaidade, A vida era uma piada doentia, cujo centroera ele prprio.

    2.21

    Porque h homem cujo trabalho feito com sabedoria. Alm disso, haqueles indivduos cujo trabalho no envolve questes materiais, mas obras deretido e promoo da justia na sociedade. At mesmo essas obras, entreguesaos insensatos, so logo desfeitas e terminam em nada. Note se que tais qualida-des so requeridas pela lei; mas que bem isso faz aos que obedecem lei, nestavida sem significado? No existe nenhuma lei de justia, exata e bem equilibrada,que d a cada pessoa o que ela merece, garantindo o bem para os bons. Umhomem pode deixar uma herana moral e espiritual, em vez de uma heranamaterial: mas que bem isso faz? Essas coisas no so melhores que as materiaisque outros poderiam deixar. Os que surgem em cena mais tarde garantem quetudo se reduza mesma inutilidade. Tudo vaidade, tudo um grande mal. ARevised Standard Version diz habilidade, como traduo do termo hebraico kishron, que nossa verso portuguesa traduz como destreza, uma compreenso legtimado termo. Nesse caso. o versculo simplesmente repete o que j tinha sido ditoantes, sem apontar nenhuma espcie de herana espiritual ou moral que umhomem possa deixar. Um homem trabalha com destreza por ser treinado e sbio,

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    DESOLADO

    Aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se fazdebaixo do sol; sim, tudo vaidade e correr atrs do vento.Tambm aborreci todo o meu trabalho, com queme afadiguei debaixo do sol, visto que o seu ganho eu ohavia de deixar a quem viesse depois de mim.

    Ento me empenhei por que o coraose desesperasse de todo trabalhoque me afadigara debaixo do sol.

    Eclesiastes 2.17,18,20

    FUTILIDADES

    Perecem, e ningum indaga

    Quem ou o que foram eles,Mais do que indaga quais ondasNa solido do luar,No meio do oceano, se empolaram,Espumejaram por um momento edesapareceram.

    A maioria dos homens chega beira do abismo Aqui e ali comem e bebem,Conversam, amam e odeiam.Colhem e dilapidam; so elevadosNo alto, so lanados no p.Esforandose cegamente, realizamNada; e ento morrem.

    Matthew Arnold

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    2712 ECLESIASTES

    mas os insensatos sem treinamento obtm o mesmo pelo que os sbios tantotrabalham para adquirir.

    2.22

    Pois, que tem o homem de todo o seu trabalho...?O filsofo repete osmesmos sentimentos que j tinham sido ventilados, embora com um fraseadolevemente diferente. O que um homem consegue mediante todo o seu labor diligente? Sua esfera de labor era a terra, debaixo do sol. e todas as coisas feitasali se reduziram a nada; o que ele ganhou com tudo isso? Nada. essa a

    verdade. Ele obteve somente vexaono corao. Ele labutou diligentemente,quase chegando exausto.Mas, visto que pensamos ser isso uma virtude,continuamos na mesma lida, dia aps dia. Jactamo nos de quo duro trabalha-mos, e esperamos que outras pessoas nos elogiem. O triste filsofo chama taishomens de estultos. Antes, ele mesmo havia trabalhado segundo esse mtodo,mas j abandonara a vereda do trabalho duro, por consider lo vo. tal comoqualquer outra vereda intil. Todas as veredas so vaidade: a prpria vida uma vaidade; a morte aniquiladora a grande verdade, e a nica questo aparen-tementeimportante se cometeremos suicdio ou no. Esse homem definitiva-mente tinha um problema de atitude.

    2.23

    Porque todos os seus dias so dores.Visto que o homem era um traba-lhador duro, todos o elogiavam. Mas, na verdade, o que estava acontecendo? pergunta nos o triste filsofo. Ele trabalhava arduamente, mas tudo estava eivadode dores; seu prprio trabalho se tornara uma vexao. Ele realmente desfrutava

    todo o labor rduo? Nesse caso, nosso homem responde: "Desfrutar tambm vaidade. Mesmo noite, aquele homem enlouquecido no descansava. Ele con-tinuava preocupando se em como faria seu trabalho, mas viveria o suficiente paracomplet lo? Ele perdeu o sono, em sua ansiedade, e essa era outra parte ridcu-la de seu estilo de vida. Existe algo de irracional e arbitrrio na prpria vida.Schopenhauer chamava o seu deus de Insano" e supunha que essa fosse arazo pela qual existem tantas coisas loucas nesta vida. O "deus do nossofilsofo no estava distante da avaliao de Schopenhauer sobre a divindade.

    2.24

    Nada h melhor para o homem do que comer.Provavelmente, esteversculo irnico. E se no irnico, apenas uma nota de desespero. Ofilsofo j nos havia dito, com detalhes, que o prazer no bom nem vale oesforo para desfrut lo (Eclesiastes 2.1 11). De fato. aps efetuar uma experi-ncia complexa, por ser hedonista, ele concluiu que tudo era vaidade. Assim,como poderia estar recomendando o prazer, moderado ou excessivo, como onico bema ser buscado? Ele afirmou que nada existe melhor do que isso,ento, entre outros males, tome se esse que o menor. Aparentemente, eleinclui Deus no ato prazeroso, ao dizer que isso era tudo quanto Deus lhe haviadado. Em outras palavras, Deus, como a Causa nica, no pensara em algomais digno que a vida de prazeres. Se Deus no pudesse pensar em coisa demaior valor que isso, ento nada deve haver mais digno de valor. Portanto, quecada qual aceite o que puder. Foi Deus quem ps a humanidade nessa vidaintil, com seus prazeres inteis! O texto massortico e a Septuaginta adicio-nam aqui um no: No bom, da parte do homem, que ele coma... ". Issosalva a ortodoxia, mas j aprendemos que, usualmente, o texto difcil o corre-to. Os escribas costumam trocar textos difceis por textos fceis. Por conseguin-te, pode se calcular que a mensagem do triste filsofo : "Os prazeres, ao quetudo indica, so a nica coisa digna que Deus nos deu, mas isso tambm no bom, como tudo mais.

    A Vulgata Latina e os comentrios de Jarchi transformam esta afirmaoem uma interrogao: Ser bom um homem adotar a vida de prazeres?. E.

    naturalmente, a resposta esperada : No!". Essa apenas outra fuga paralonge de um texto difcil. Cf. Eclesiastes 3.12,22; 5.17: 8.15; 9.7 10: 10.19:11.7,9,11 e 12.1.

    2.25

    Pois, separado deste, quem pode comer, ou quem pode alegrar-se? Ofilsofo insiste em sua idia de predestinao. Deus determinou todas as coisas.Portanto, se nada existe melhor que os prazeres, e estes no so bons. entotemos de aceit los. A teologia dos hebreus era fraca quanto s causas secund-rias, pelo que o autor sacro no via outra causa para explicar a total futilidade detudo. Em outras palavras, Deus o autor da vaidade; a vaidade combina com aSua vontade, e tudo continuar sendo dominado pela vaidade. Deus quemconcede os prazeres: Ele a fonte originria desse nico falso bem, Isso tudoquanto poderemos obter; portanto, faa de voc mesmo um insensato, sendo umhedonista! Esse raciocnio, naturalmente, est distorcido. O triste filsofo haviacomeado com ms premissas e tambm terminou com ms concluses.

    O autor sagrado, pois, cometeu a falcia naturalque diz "O que , direito.Mas existem muitas coisas que so, e no deveriam ser. Aquilo que existe, como bvio, no o que Deus quer, em muitos casos. O triste filsofo fez de cadaestrada um beco sem sada e. ento, lanou sobre Deus a culpa disso, como se oSenhor s planejasse becos sem sada para a vida humana.

    Epicursmo?Diversos intrpretes pensam que podemos descobrir, no vs. 25,a verdadeira filosofia do autor sagrado, o epicursmo.Em contraste com ohedonismo espalhafatoso (a busca enrgica pelos prazeres como o summum bonumda vida humana), o epicurismo defendia os prazeres fsicos moderados,

    acompanhados de prazeres mentais (que so at superiores), os quais constituiri-am o supra sumo da vida humana. O hedonismo, pelo contrrio, favorecia osprazeres isicos crassos. Ver na Enciclopdia de Bbiia, Teologia e Filosofiaosartigos chamados Hedonismoe Epicurismo,quanto a amplas explicaes. Ver osvss. 3.12.22 e 8.15, que parecem indicar isso Ou, estaria o triste filsofo lanandono ridculo qualquer teoria e tomando uma posio niilista?Portanto, ele disse:"V adiante, e seja um epicureu. Nada existe de melhor a fazer. Mas, se fizer isso,voc ser um too!". Pode se supor que nosso homem fosse niilista. Ele veio adesprezar qualquer vereda, como se fosse um homem bom, visto que, emborasendo insensato, sem importar o que se venha a fazer, sempre haver algunsprazeres ao longo do caminho. Visto que Deus determinou o niilismo, Sua divin-dade deve ser niilista. Essa era uma "bela posio teolgico filosfica para atingir aps tanta busca!Talvez o niilismo, afinal, seja olema do livro, excetuando se oseu eplogo (captulo 12). que foi adicionado por outra mo, na tentativa de salvar o livro com uma injeo de ortodoxia. Ver na Enciclopdia de Bblia, Teologia e Filosofiao artigo intituladoNiilismo,especialmente o terceiro ponto, Niilismo tico. No existem valores genunos.

    2.26

    Porque Deus d sabedoria, conhecimento e prazer ao homem.Vrioseruditos tomam este versculo como se fosse uma espcie de glosa ortodoxa, adicionada para tentar salvar o livro das tendncias radicais pelas quais o autor sagrado enveredou. Deus continua sendo a Causa nica, mas agora Ele no dmais aos homens, como seu summum bonum,somente os prazeres (vs. 25), mastambm lhes concede outras coisas realmente boas, como sabedoria, conheci-mento e alegria. Aos homens bonsEle d essas coisas, mas aos mpios Eleconfere trabalho duro. nasemeadura, na colheita e no recolhimento em celeiros (isto . em todas as atividades da vida). O homem mau, embora engajado emtodo esse trabalho, termina entregando todas essas coisas a outras pessoas, ou,ento, atravs das circunstncias, todas as coisas lhe so tiradas e entregues aoutros, Isso reflete um pensamento ortodoxo e totalmente contraditrio ao que oautor disse momentos antes. Assim, o homem mau aquele que termina navaidade, a correr atrs do vento; mas, at agora, isso se referia a todos oshomens. Ver Eclesiastes 1.2.3,8 e, de fato, todo o primeiro captulo do livro. Otriste filsofo no tinha falado da divina retribuio contra os homens maus, massomente da avassaladora futilidade lanada sobre todos os homens pela Causanica, At onde se pode concluir, este versculo no se reconcilia com o que foivisto at agora, sendo muito provavelmente uma glosa ortodoxa. Parece ridculotentar imputar ao livro de Eclesiastes as mesmas coisas expressas pelos livros deSamos ou de Provrbios, que so ortodoxias da antiga f dos hebreus. SeEciesiastes concorda com eles, ento no um livro diferente. Mas, at agora,tem sido muito diferente.

    O Targum diz nos, corretamente, que a vaidade aqui referida se aplica aopecador. Mas, at este ponto, ela tem sido aplicada a todos os homens de todosos lugares. Alguns supem que o filsofo tenha falado aqui ironicamente,noesperando que os leitores (depois de terem lido at este ponto) o levassem asrio. Ele no escorregou,assim de repente, para a ortodoxia.

    Captulo TrsA Morte Mostra que Tudo Intil(3.122)

    A doutrina dos hebreus, segundo a lei. conseguiu criar uma vida til, sem aesperana da imortalidade. As declaraes da sabedoria, que fomentam e inter-pretam a lei. tambm encontravam uma vida digna de ser vivida, mesmosem aesperana de uma "vida alm desta. Mas o triste filsofo viu a falcianesse tipode crena. O homem morre como os animais, e cessa sua existncia (vss. 1920).

    Alguns vem um vislumbre de esperana no vs. 21, como se o autor tivesseolhado para o alto. por um momento, encontrando uma esperana de algo melhor para a vida humana. O autor via um lugar de julgamento temporal na vida huma-na. tanto para os bons quanto para os maus, mas no interpretava essa doutrinacomo sendo uma administrao sria de retribuio divina, a fim de que houvesseuma prestao de contas. Certamente, ele no projetava idias de uma vida psmorte. Antes, ele defendeu sua noo de Deus como a Causa nica, vendoo

  • 7/30/2019 21-At Inter.- Eclesiastes (1)

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    ECLESIASTES 2713

    atuar em todas as coisas e at permitindo a ao da injustia (vss. 16 17). Tudo faria parte da providncia eterna, imutvel (vs. 14) e inescrutvel (vs. 11) daCausa nica, o que tambm torna inteiramente sem proveito o labor de todohomem (vs. 9). O autor continua com seus pontos de vista niilistas (ver Eclesiastes2.25, quanto a uma definio), fazendo de Deus a causa do nada que ele obser-vava no mundo. ridculo pretender que este capitulo apresente um judasmoortodoxo e certamente tambm nada h de cristo no captulo. Todos os tempos esto nas mos de Deus, mas ficamos boquiabertos diante daquilo que atribu-do ao Senhor, enquanto Ele controla tudo.

    A histria do mundo um ciclo de eventos e de seus opostos, que ocorreminterminavelmente. Contra essa corrente de acontecimentos de ordem dual, deter-minada por Deus, o homem nada pode fazer. Ele est cercado e amarrado, emtodas as coisas e em todos os lugares, por uma premente necessidade.