2014 aula cinco karl marx

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KARL MARX (1818-1883) - A análise socioeconômica do capitalismo Karl Marx (1818-1883) nasceu na cidade de Treves, na Alemanha, em 1818. Em 1836, matriculou-se na Universidade de Berlim, doutorando-se em filosofia em Jena (Iena). Mudou-se para Paris em 1842, onde conheceu Friedrich Engels, seu companheiro de idéias e publicações por toda a vida. Expulso da França em 1845, foi para Bruxelas participar da récem- fundada Liga dos Comunistas. Em 1848 escreveu com Engels o Manifesto Comunista, obra fundadora do ‘marxismo’ enquanto movimento político e social a favor do proletariado. Com o malogro das revoluções sociais de 1848, muda-se para Londres, onde se dedicou a um minucioso estudo crítico de economia política, O Capital. Foi um dos fundadores da Primeira Internacional. Morreu em 1883, após intensa vida política e intelectual.

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KARL MARX (1818-1883) - A análise socioeconômica do capitalismo

• Karl Marx (1818-1883) nasceu na cidade de Treves, na Alemanha, em 1818. Em 1836, matriculou-se na Universidade de Berlim, doutorando-se em filosofia em Jena (Iena).

• Mudou-se para Paris em 1842, onde conheceu Friedrich Engels, seu companheiro de idéias e publicações por toda a vida. Expulso da França em 1845, foi para Bruxelas participar da récem-fundada Liga dos Comunistas.

• Em 1848 escreveu com Engels o Manifesto Comunista, obra fundadora do ‘marxismo’ enquanto movimento político e social a favor do proletariado.

• Com o malogro das revoluções sociais de 1848, muda-se para Londres, onde se dedicou a um minucioso estudo crítico de economia política, O Capital.

• Foi um dos fundadores da Primeira Internacional. Morreu em 1883, após intensa vida política e intelectual.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Principais obras: A ideologia Alemã, Miséria da filosofia (em resposta a Filosofia da miséria, de Pierre-Joseph Proudhon), Contribuição para a crítica da economia política, A luta de classes em França, O 18 Brumário de Luís Bonaparte, O capital.

• A teoria marxista (materialismo histórico dialético), não buscava somente contribuir para o desenvolvimento científico, bem como propor uma transformação radical da sociedade capitalista. Pela revolução proletária, a ordem liberal-capitalista seria superada, dando lugar a uma sociedade igualitária, primeiro com a ditadura do proletariado, fase anterior a sociedade comunista.

• O que caracteriza as formulações de Marx é que adquiriram dimensões de ideal revolucionário e ação política efetiva.

• Podemos apontar algumas influências básicas no desenvolvimento do pensamento marxista:

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• Em primeiro lugar coloca-se a leitura crítica da filosofia de Hegel, de quem Marx absorveu e aplicou, de modo peculiar, o método do materialismo histórico dialético. Também, significativo foi seu contato com o pensamento socialista francês do século XIX.

• Marx reconhece que a construção de sua teoria teria sido impossível, sem a dialética (idealista) de Hegel, a economia política inglesa ( Adam Smith e David Ricardo) e o socialismo utópico de Claude Henri de Saint-Simon e Charles Fourier, bem como a contribuição de Pierre Joseph Proudhon, pensador anarquista.

• Esta trajetória é marcada pelo desenvolvimento de conceitos importantes: alienação, ideologia, classes sociais, trabalho, mais-valia, modos de produção, meios de produção, relações de produção, luta de classes (materialismo histórico dialético), infra-estrutura e superestrutura.

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• Para Marx o homem é nas origens, um ser integralmente comunitário; a individuação é uma construção histórica, associada a divisão social do trabalho cada vez mais complexa e especializada.

• A discussão marxista sobre a origem (gênese) e a lógica de funcionamento da sociedade capitalista orienta-se pelo estudo do conflito de classes. Seu método explicativo dos fenômenos sociais concentra-se na análise das estruturas econômicas da sociedade.

• Há controvérsias em relação às definições de classe social usadas por Marx. O capítulo As Classes, parte do livro III de O Capital, em que o tema seria discutido, jamais foi concluído, deixando espaço para interpretações distintas (Marx, 1975, livro III, p. 1.012-1.013). (Marcelo Medeiros IPEA)

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Como todo debate de caráter interpretativo, esse é um cuja conclusão não é simples, pois o próprio Marx usa o termo classe com várias conotações. É inequívoco, porém, que, em O Capital, a posição dos indivíduos na estrutura de produção é uma peça-chave para definir sua situação de classe.

• O grupo mais rico da sociedade é constituído pela classe capitalista, que monopoliza os meios de produção e acumula riqueza por meio da exploração dos trabalhadores.

• Essa exploração consiste em remunerar os trabalhadores com salários cujo valor é inferior ao daquilo que eles produzem. Os capitalistas apropriam-se de parte do valor do trabalho de seus empregados (mais-valia) e a investem no processo produtivo, expandindo a riqueza por meio da reprodução de seu capital.

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• As classes sociais: Os pressupostos liberais (capitalistas) consideram que os homens são, por natureza, iguais política e juridicamente. Liberdade e igualdade são direitos inalienáveis de todo cidadão.

• Marx afirma que inexiste tal igualdade natural e observa que o liberalismo define os indivíduos como átomos, como esses estivessem livres das desigualdades estabelecidas pela divisão social do trabalho.

• Para Marx, as classes são formações derivadas do grau de desenvolvimento das forças produtivas e do conjunto das relações de produção.

• As duas principais classes, em conflito intermitente no sistema capitalista são: os proprietários dos meios de produção (os donos do capital) e os proletários (os trabalhadores assalariados que vendem sua força de trabalho em troca de um salário).

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• Além das duas principais classes, temos:• Os estratos de classe, que são constituídos por aqueles que

mantém uma relação de dependência funcional com uma das classes e tendem a estabelecer uma identificação com a classes à qual se associa.

• Por fim, o lúmpen-proletariado, é aquele grupo social à margem do sistema de classes, pois sequer participa da divisão social do trabalho. Por exemplo: as prostitutas, os marginais, os mendigos.

• As desigualdades sociais são provocadas pelas relações de produção de um modo específico de produção, aquele baseado na propriedade privada dos meios de produção, o modo de produção capitalista. As desigualdades sociais são a base da formação das classes sociais.

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• Os interesses de classe são antagônicos e baseados na exploração entre as classes sociais, pois o capitalista, ou reduzindo o salário ou aumentando a jornada de trabalho de seus vendedores de força de trabalho, visa o lucro. Já o proletário (trabalhador), procura diminuir a exploração ao lutar por menor jornada de trabalho, melhores salários e participação nos lucros.

• A história do homem é, segundo Marx, a história da luta de classes, uma luta constante entre interesses opostos, embora nem sempre se manifeste socialmente sob a forma de uma luta declarada. Os antagonismos de classes estão subjacentes a toda relação social, nos diferentes níveis da sociedade, em todos os tempos, desde a instituição da propriedade privada.

• O materialismo histórico dialético, considera que todos os grandes movimentos políticos, sociais e da história do pensamento têm sido determinados pela maneira como os homens organizam e distribuem a produção de bens. (interessava a Marx a base material das sociedades).

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• O materialismo histórico dialético seria então a totalidade daquilo a que damos o nome de história universal não é senão a história da criação do homem pelo trabalho humano. (Giddens: 49).

• “A consciência humana é condicionada pela relação dialética entre o sujeito e o objeto, na qual o homem dá forma ao mundo em que vive, sendo por outro lado por ele também formado.” (Giddens: 52)

• “Os homens fazem a História, mas o fazem em condições determinadas”. (Chauí: 172)

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• Alienação (em latim outro se diz alienus): Marx baseou-se no conceito de alienação elaborado por Ludwig Andreas Feuerbach.

• Feuerbach cria a noção de alienação religiosa: os homens criam as religiões (Deus ou Deuses), dão poder à elas e, esquecem que foram eles (os homens) que os criaram (Deus ou Deuses), passando a submeter-se ao poder desse Deus/Deuses, representados pelas religiões, não se reconhecendo nesse outro que criaram.

• Para Marx, a alienação é o fenômeno pelo qual os homens criam ou produzem alguma coisa, dão independência a essa criatura como se ela existisse por si mesma e em si mesma, deixam-se governar por ela como se ela tivesse poder em si mesma e por si mesma, não se reconhecem na obra que criaram. Fazendo-a um ser-outro, separado dos homens, superior a eles e com poder sobre eles.

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• Marx investigou sobretudo a alienação social, apesar de ter se interessado também pela alienação religiosa (ver seu texto A questão judaica). No entanto, seu interesse está em compreender as causas pelas quais os homens ignoram que são criadores da sociedade, da política, da cultura e agentes da História.

• Porque os homens se deixam dominar pela sua própria obra ou criação histórica?

• Porque os filósofos, teólogos e cientistas elaboram teorias que reforçam a alienação?

• Para compreender o fenômeno da alienação, Marx estudou o modo como às sociedades são produzidas historicamente pela práxis dos homens.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Verificou que, historicamente, uma sociedade se estrutura a partir da divisão social do trabalho e que essa divisão organiza todas as relações sociais, trata-se da divisão social do trabalho (nos primórdios por gênero (feminino-masculino) e daí por diante, evoluindo e transformando a organização dos homens em sociedade.

• Daí toda e qualquer sociedade estar dividida entre diferentes grupos sociais, alguns irão deter o poder, que expresso de diferentes formas, irá se reproduzir e se legitimar por meio de um discurso ideológico. (Chauí: 170)

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• O conceito de alienação: • Para Marx, o capitalismo alienou economicamente, isto é, separou o

trabalhador dos seus meios de produção - as ferramentas, as matérias-primas, a terra e as máquinas -, que se tornaram propriedade privada do capitalista. O trabalhador, no sistema capitalista de produção, perdeu ainda o controle do produto de seu trabalho, também apropriado pelo capitalista. A industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separaram o trabalhador dos meios de produção e do fruto de seu trabalho. Essa é a base da alienação econômica do homem sob o capital.

• Politicamente, o homem também está alienado, pois o princípio de representatividade, base do Estado liberal, difunde a ideia de um Estado imparcial, capaz de representar TODA a sociedade (que inexiste, já que é dividida em classes antagônicas) e dirigi-la por meio do poder delegado pelos indivíduos (cidadãos ou súditos).

• O Estado (por meio dos governos) atua no interesse da classe dominante, pois o Estado e suas instituições são comandadas pelos representantes das classes dominantes.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Alienação social (produção do conhecimento): A divisão social do trabalho tornou a atividade científica pertencente a um determinado grupo (os estratos de classe).

• A divisão social do trabalho tornou a atividade do filósofo e do cientista pertencente a um determinado grupo. Essa parcialidade e o fato de que o Estado se torna legítimo a partir dessas reflexões parciais - como, por exemplo, os pressupostos do liberalismo - transformaram a ciência e o pensamento, em ‘conhecimento do Estado’.

• Assim, alienado, o homem só pode recuperar sua condição humana através da crítica radical ao sistema econômico, pois a política, a economia, a ciência e a filosofia o excluíram da participação efetiva da vida social. Essa crítica radical só se efetiva na práxis, isto é, a ação política consciente e transformadora.

• É exatamente por esse princípio que os marxistas vinculam a crítica da sociedade à ação política. Marx propôs não apenas um novo método de interpretar a realidade mas também um projeto para a ação. O método marxista não aponta para soluções parciais e intermediárias, mas pressupõe a transformação radical da sociedade.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• As três grandes formas da alienação (política, econômica e no âmbito do conhecimento) são a causa do surgimento, da implantação e do fortalecimento da ideologia.

• O conceito de ideologia: é o processo pelo qual as ideias da classe dominante (em qualquer época) se tornam ideias de todas as classes sociais, se tornam as ideias dominantes (válidas, verdadeiras e racionais).

• É concebida para fazer com que os homens creiam que suas vidas são o que são em decorrência da ação de certas entidades (a Natureza, os Deuses ou Deus, a Razão ou a Ciência, o Estado) que existem em si e por si e às quais é legítimo e legal que se submetam.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• No livro a Ideologia Alemã, Marx afirma que: “as ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material (econômico, social e político) dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual (das ideias) dominante (...) Na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que o façam em toda a sua extensão e, consequentemente, entre outras coisas, dominem também como pensadores, como produtores de ideias; que regulem a produção e distribuição das ideias de seu tempo e que suas ideias sejam, por isso mesmo, as ideias dominantes da época.” (Ideologia Alemã: 56-7)

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Karl Marx - A análise socioeconômica

do capitalismo• E COMO A IDEOLOGIA, enquanto um mecanismo de difusão de

ideias comuns à todos se estabelece?• Para entendermos como a ideologia se traduz em ‘ideias de toda à

sociedade’; comum à todos, ela se difunde por meio da educação, da religião, dos costumes, dos meios de comunicação. Como tais ideias não exprimem a realidade real, mas representam a aparência social, as imagens das coisas e dos homens, é possível passar a considerá-las como independentes da realidade.

• Essa universalidade das ideias é abstrata porque não corresponde a nada real e concreto, visto que no real existem concretamente classes específicas (antagônicas no que concerne aos seus interesses) e não a universalidade social. Portanto, as ideias que a ideologia circunscreve são universais abstratos.

• A ideologia é, pois, um instrumento de dominação de classe e, como tal, sua origem é a existência da divisão da sociedade em classes contraditórias e em conflito.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Em outros termos, o modo de produção da vida material (a base econômica: quem produz, como produz, com o que produz, para quem produz) condiciona o conjunto dos processos da vida social, política e cultural, enfim, o sistema de valores, a IDEOLOGIA (em sentido geral, aqui aplicado, sistema de ideias e costumes).

• No modo de produção capitalista o indivíduo destituído dos meios de produção é obrigado a vender sua força de trabalho em troca de um salário, que torna-se, nesse sistema, uma mercadoria. O salário é, assim, o valor da força de trabalho, considerada como mercadoria. o cálculo do salário é determinado pelos bens necessários à subsistência do trabalhador.

• Marx afirmou que a estrutura de uma sociedade depende da forma como os homens organizam a produção social de bens. A produção social, segundo Marx, engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• As forças produtivas constituem as condições materiais (objetos + instrumentos: meios de produção) de toda a produção. Qualquer processo de trabalho pressupõe: determinados objetos, isto é, matérias-primas identificadas e extraídas da natureza; e determinados instrumentos, conjuntos de forças naturais já transformadas e adaptadas pelo homem, como ferramentas ou máquinas.

• Os objetos e instrumentos - aos quais Marx se referia, em conjunto, como meios de produção -, variam conforme as necessidades e finalidades sociais a que se destinam. Os meios de produção englobam o conjunto formado por clima, solo, água, matérias-primas e conhecimento (máquinas, ferramentas).

• O modo de produção é a forma pela qual as forças produtivas e as relações de produção existem e são reproduzidas em uma determinada sociedade.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Elas podem ser cooperativistas (como no comunismo primitivo), escravistas (como na Antiguidade), servis (como no Medievo) e de classes (como no sistema capitalista).

• As relações de produção são as formas pelas quais os homens se organizam para executar a atividade produtiva. Forças produtivas e relações de produção são condições naturais e históricas de toda atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pela qual ambas existem e são reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que Marx denominou de modo de produção.

• Para Marx, o estudo do modo de produção é fundamental para se compreender como se organiza e funciona a sociedade. As relações de produção, nesse sentido, são consideradas as mais importantes relações sociais.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Em cada modo de produção, a desigualdade de propriedade, como fundamento das relações de produção, cria contradições básicas com o desenvolvimento das forças produtivas. Essas contradições se acirram até provocar uma ruptura, com a derrocada do modo de produção vigente e a ascensão de outro.

• Para Marx a história do homem é portanto, a história do desenvolvimento e do colapso de diferentes modos de produção.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Os conceitos de infra-estrutura e superestrutura:• Infra-estrutura: É a base econômica de toda e qualquer

sociedade, que engloba o nível de desenvolvimento das forças produtivas e de suas relações de produção.

• Superestrutura: são os valores, as estruturas simbólicas que os homens criam para possibilitar a vida em sociedade, ou seja, as estruturas jurídicas (as leis), a organização familiar, a religião, as instituições políticas, que dependem do grau de desenvolvimento das forças produtivas, da infra-estrutura.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Para Marx a ordem jurídica e a organização política são epifenômenos (fenômeno secundário, que não altera o fenômeno principal, do qual depende) da economia.

• Isto quer dizer que as manifestações de ordem sociocultural + a estrutura jurídico-política são determinados pela infra-estrutura econômica, e além disso não têm existência própria. A dominação de classe decorre das relações de produção, o que torna a consciência reflexo dessa posição submissa, produzindo assim, uma ideologia baseada na relação mando-obediência, numa ideologia da submissão.

• Marx busca compreender o conjunto das sociedades a partir de sua infra-estrutura (o desenvolvimento das forças produtivas, dos conhecimentos científicos e técnicos, da indústria e da organização do trabalho).

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Karl Marx - As controvérsias da sociologia marxista (R. ARON)

• Na análise marxista não há espaço para contingências (eventualidades, incertezas, possibilidade de que algo aconteça ou não). A definição de um regime social é realizada a partir de um pequeno número de fatos considerados decisivos, a saber, o estado das forças produtivas, as formas de propriedades e as relações de produção.

• Para Marx o Estado é considerado essencialmente como instrumento da dominação de uma classe. Em consequência, um regime político é definido pela classe que exerce o poder. Os regimes da democracia burguesa são àqueles em que a classe capitalista exerce o poder, embora mantenham instituições livres, que aparentam e legitimam um sistema essencialmente excludente.

• Dessa perspectiva, Marx concebe um regime econômico-social em que não haja mais dominação de classe. Por isso, por definição, o Estado desaparecerá, pois ele só existe na medida em que uma classe necessita dele para explorar as outras.

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Karl Marx - As controvérsias da sociologia marxista (R. ARON)

• Entre a sociedade antagônica e a sociedade não-antagônica do futuro interpõe-se o que é chamado de ditadura do proletariado, expressão que encontramos em particular num texto célebre de 1875, a Crítica do Programa do Partido Operário Alemão, ou Crítica do Programa de Gotha. A ditadura do proletariado é o fortalecimento do Estado, antes do momento crucial de seu desaparecimento. Antes de desaparecer, o Estado atingirá sua expansão máxima.

• A questão que se coloca é: COMO E QUEM irá administrar numa sociedade complexa como a sociedade moderna? Ninguém pode pensar, de modo razoável, que uma sociedade industrial complexa como a nossa possa dispensar uma administração sob certos aspectos, centralizada.

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Karl Marx - As controvérsias da sociologia marxista (R. ARON)

• As ideias de planificação da economia (própria do modo de produção socialista) e de enfraquecimento do Estado são contraditórias para o futuro previsível, enquanto for importante produzir em larga escala, produzir em função das diretrizes do plano, e de distribuir a produção entre as classes sociais segundo as ideias dos governantes.

• Desse modo, o desaparecimento do Estado não pode ocorrer a não ser num sentido simbólico. O que desaparece é o caráter de classe do Estado considerado. Pode-se de fato, pensar que, a partir do momento em que desaparece a rivalidade das classes, as funções administrativa e de direção, em vez de expressarem a intenção egoísta de um grupo particular, tornam-se a expressão de toda a sociedade.

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Karl Marx - As controvérsias da sociologia marxista (R. ARON)

• Entretanto, a garantia do desaparecimento dos antagonismos implicaria que as rivalidades entre os grupos se originassem exclusivamente na propriedade privada dos meios de produção. Não há razão para que todos os interesses dos membros de uma coletividade passem a ser harmônicos no momento em que os meios de produção deixam de ser passíveis de apropriação individual.

• Desaparecerá um tipo de antagonismo, mas outros tipos de antagonismo poderão subsistir. Por outro lado, no momento em que subsistem as funções administrativas ou de direção, existe, por definição, o risco de que as pessoas que as exerçam sejam injustas, insensatas, ou que estejam mal informadas; em consequência, que os governados não se satisfaçam com as decisões tomadas pelos governantes.

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Karl Marx - As controvérsias da sociologia marxista (R. ARON)

• Outro ponto a ser ressaltado é sobre a ordem política. Ela nos parece tão essencial e autônoma quanto a ordem econômica. As duas ordens estão imbricadas, porém mantém princípios distintos.

• Em outras palavras, qualquer que seja o regime econômico e social, o problema político persistirá, porque ele consiste em determinar quem governa, como são recrutados os governantes, como o poder é exercido, ou qual a relação de consentimento ou revolta entre governantes e governados.

• Desse modo, nos parece falso pensar que uma determinada organização da produção e da repartição dos recursos resolve automaticamente o problema do comando, suprimindo-o.

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Karl Marx - As controvérsias da sociologia marxista (R. ARON)

• Posto de outra forma, nos parece que uma economia planificada reforça o papel do Estado; e mesmo que não fosse assim numa sociedade moderna (complexa), o problema do comando, isto é, do exercício da autoridade, sempre estará presente.

• Não é possível definir um regime político simplesmente pela classe que se presume estar exercendo o poder. No regime capitalista, não são os capitalistas que, pessoalmente, exercem o poder; no regime socialista, não é o proletariado, como um grupo, que exerce o poder (haverá àqueles que representarão o proletariado e, por conseguinte, a questão da representação persistirá).

• Nos dois casos trata-se de determinar QUEM EXERCERÁ as funções políticas? COMO recrutá-las (quais os critérios?)?; de que forma devem exercer a autoridade? qual é a relação entre governantes e governados?

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ANEXOS

• ANEXOS (TEXTO COMPLEMENTAR SOBRE IDEOLOGIA)• SLIDES SEGUINTES: tratam de anexos sobre ideologia e

uma análise mais aprofundada de classes sociais e de alienação social

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IDEOLOGIA (J. A. Guilhon Albuquerque)

- ANEXOS• A função da ideologia no Estado Moderno: • O Dicionário de Política de Norberto Bobbio adota uma

distinção no significado do conceito ideologia: uma forte e uma fraca.

• No seu significado fraco, ideologia significa: sistemas de crenças políticas; um conjunto de ideias e de valores a respeito da ordem pública, tendo como função orientar os comportamentos políticos coletivos, ou dito de outro modo: um conjunto de ideias que orienta a ação política de um grupo social (conceito liberal de ideologia).

• O significado forte tem origem no conceito de ideologia de Marx, entendido como falsa consciência das relações de dominação entre as classes, tendo no próprio centro a noção de falsidade: a ideologia é uma falsa crença.

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IDEOLOGIA (J. A. Guilhon Albuquerque)

• Para Marx todo Estado é o modelo acabado de um sistema de dominação entre classes sociais. Embora se estruture, em última instância, sobre a violência, o Estado tem sua legitimidade acima das classes e dos indivíduos, como representante inquestionável do interesse geral. Esse reconhecimento da neutralidade do Estado com relação aos interesses de classes, quando de fato o Estado nada mais é do que a forma acabada da dominação entre as classes, fato ao qual Marx irá denominar ideologia.

• A ideologia consiste, portanto, em se deixar levar pela aparência de neutralidade do Estado, quando se é submetido à violência política e à exploração econômica.

• Os interesses da classe dominante são aceitos na sua aparência de universalidade por meio da ideologia. A ideologia, por sua vez, é produto da própria violência e exploração de classe, mas é concebida na aparência de uma livre expressão da razão universal.

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IDEOLOGIA (J. A. Guilhon Albuquerque)

• Para Marx, a ideologia é o instrumento de hegemonia por meio do qual uma classe obtém o consentimento ativo das demais classes para exercer a direção da sociedade por meio do Estado.

• Marx acreditava na superioridade da ciência e esperava que, por meio do conhecimento da Economia Política, as falsas aparências da ideologia dessem lugar ao conhecimento verdadeiro - para Marx há uma verdade, e não diversas interpretações do que seja a ‘verdade’ - da história.

• Marx esperava que a correção da ideologia pela ciência (a economia política) trouxesse a guerra revolucionária contra a ordem vigente. Dessa forma, depositava suas esperanças na ciência e não na ideologia, como desencadeadora do processo revolucionário.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo -

ANEXOS• Marx afirma, em diversos momentos de sua obra, que os

indivíduos nas classes são apenas portadores de relações sociais.

• Em O Capital, por exemplo, a dinâmica das sociedades capitalistas é explicada por uma teoria construída em termos de relações entre CAPITAL E FORÇA DE TRABALHO e não entre indivíduos capitalistas e trabalhadores.

• A diferenciação, que pode parecer preciosismo, pois as últimas categorias são personificação das duas primeiras, não deve ser subestimada. Ela implica que os motivos que fazem de um determinado indivíduo um capitalista ocupam um papel de menor relevância nas preocupações de Marx.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo -

ANEXOS• Em última instância, o capitalista possui poder de comandar o

trabalho não por suas qualidades pessoais ou humanas, mas porque é proprietário do capital (Marx, 1978, v. 5, p. 322).

• Marx discorre extensivamente sobre a origem histórica do capitalismo ao tratar da acumulação primitiva do capital. Esta é resultado, em grande parte, da violência e da fraude, mas ele mesmo reconhece que parte dessa acumulação se deu independentemente da exploração, por meio do trabalho acumulado ao longo de gerações (Marx, 1975, livro I, p. 662, 677, e 1973, caderno IV, p. 459).

• Isso não o impede de rejeitar, recorrentemente, aquilo que ele chama de Teoria da Abstinência, ou seja, a justificativa moral da riqueza por meio do argumento de que os capitalistas são capazes de acumular suas propriedades porque optaram por uma vida de consumo frugal e trabalho duro.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo -

ANEXOS• Há pouca informação em sua obra que contribua para definir a

origem da situação de um capitalista individual, ao contrário do volume representativo de informações que tratam da origem histórica da classe capitalista.

• Embora existam menções de sua parte ao assunto, sua teoria confere poucos instrumentos para relacionar os atributos de um indivíduo à sua posição na estrutura social, o que não impede, porém, a realização de algumas inferências a partir de sua teoria.

• Pode-se concluir, por exemplo, que as heranças têm papel importante na transmissão intergeracional da situação de classe.

• A sucessão familiar, que é destacada nas análises sobre a reprodução da classe trabalhadora, pode ser usada para explicar como a acumulação de capital realizada em um determinado momento da história se propaga até as sociedades capitalistas.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo

• Marx registra, nos Manuscritos de Paris, que é pelo “direito positivo”, isto é, pelo direito de sucessão, que alguém se converte em proprietário de fundos produtivos, nos casos em que o capital não é fruto do roubo ou da fraude (Marx, 1978, v. 5, p. 321), e repete algo muito semelhante em uma carta dirigida a Adolf Cluss (Marx, 1981, v. 39, p. 378).

• Em O Capital, escreve que a divisão das fortunas das famílias determina, entre outros fatores, o número de capitalistas na sociedade (Marx, 1975, livro I, p. 726).

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo -

ANEXOS• A alienação no âmbito do conhecimento, resultante da separação

social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz ideias/conhecimento). A divisão social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o trabalho material é uma tarefa que não exige conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam.

• Sua alienação é tripla:• Primeiro, esquecem ou ignoram que suas ideias estão ligadas às

opiniões e pontos de vista da classe a que pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao contrário, que são ideias universais, válidas para todos, em todos os tempos e lugares.

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Karl Marx - A análise socioeconômica do capitalismo -

ANEXOS• Segundo, esquecem ou ignoram que as ideias são produzidas por

eles para explicar a realidade e passam a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais.

• Terceiro, esquecendo ou ignorando a origem social das ideias e seu próprio trabalho para criá-las, acreditam que as ideias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar que as ideias se produzem umas as outras, são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas. As ideias se tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro (discurso ideológico).