12 guardar tenencia simples
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Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda...
Odes de RiobaldoMosaico de GCiro
Na travessia, guardar tenência simples e
constância miúda
� Para cair em si, ser você mesmo, divergir, ser maior do que você mesmo.
� Para experimentar que um ainda não é um:quando ainda faz parte com todos.
� Para não querer mesmo nada, de tanto querer ser só tudo.
Uma coisa, a coisa, esta coisa: somente querer é ficar sendo!
� Para ser que nem o rio que não quer ir a nenhuma parte,Ele quer é chegar a ser mais grosso, mais fundo.
� Para garrar constante em uma coisa: que vai ser!
Na travessia, guardar tenência simples e
constância miúda
� Para remar vida solta, saber patavim e desconfiar de muita coisa.
� Para versar viagem a cavalo sem ter estradas, se entreter na travessia.
� Para entreter as idéias.
� Para ter menos juízo e versar no safado comum.
� Para provar uma safra razoável de bizarrices.
� Para sonhar a esmo; se sonha, já se fez!
Na travessia, guardar tenência
simples
e constância miúda� Para aceitar que tudo sobrevém do influimento
comum e do tempo de todos.Espírito da gente é cavalo que escolhe estrada: Quando ruma para tristeza e mortevai não vendo o que é bonito e bom.
� Para aceitar que caminho certo é nem pra frente nem pra traz:Só pra cima ou para curto quieto.
� Para aceitar que as coisas acontecem,é porque já estavam ficando prontas, noutro ar.Tudo é grátis quando sucede, no reles do momento.
� Para aceitar que tudo o que já está escrito tem constante reforma –mas a gente não sabe em que rumo está –em bem ou mal, todo o tempo reformando.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda
� Para gozar a alegria, feito nuvem de abelhas em flor de araçá.
� Para gozar vida assoprada, vivida por cima.
� Para gozar banho no redondo azul da lagoa, rir e gozar seu exato.
� Para gozar coração que cresce de todo lado.Coração que vige feito riacho colominhandoPor entre serras e varjas, matas e campinas. Coração que mistura amores. Que tudo cabe.
Na travessia, guardar tenência simples e
constância miúda
� Para aceitar que Deus existindo tudo dáesperança:
Sempre um milagre é possível,O mundo se resolve.Deus não existindo é o aberto perigo das grandes e pequenas horas,Não se podendo facilitar – é todos contra os acasos.
Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho,
Pois no fim dá certo.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda
� Para não viver o repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto,Em que já está empurrado noutro galho.
� Para aumentar a cabeça, para o total,Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente – que produz os ventos.
� Para aceitar que cair não prejudica demais:A gente levanta, a gente sobe, a gente volta!
� Para lavar o corpo na cachoeira branca dum riacho,Vestir terno novo,Sair de tudo o que era,Para entrar num destino melhor: sair do grande orvalho!
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda,
�Para viver amizade acontecida simples,No comum, sem encalço.
Amizade dada é amor.
�Para achar um valor viável em tudo que é cordato e correntio.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda,
�Para aceitar que quando se curte raiva de alguém,É a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente:
Falta de soberania e farta bobice!
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda,
�Para se viver outros movimentos,Sem os erros e volteios da vida em sua lerdeza de sarrafaçar.
�Para reparar que o real não estána saída nem na chegada:
Ele se dispõe para gente é no meio da travessia.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda
� Para aceitar que no real da vida as coisas acabam com menos formato, nem acabam.
Pelejar por exato, dá erro contra a gente.
Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda
� Para aceitar que sempre que se começa a ter amor a alguém,No ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando;
Mas quando é destino dado, maior que o miúdo,A gente ama é inteiriço fatal, carecendo de querer,E é um só facear com as surpresas.
Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda
� Para aceitar que julgamento é sempre defeituoso,Porque o que a gente julga é o passado.
� Para aceitar que passado é passado: não voga
Despedir da febre.
Para traz não há paz.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda
� Para aceitar que o correr da vida embrulha tudo, a vida é assim:
Esquenta e esfria,aperta e daí afrouxa,Sossega e depois desinquieta.O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais,no meio da alegria,e ainda mais alegre ainda no meio da tristeza!
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda,
� Para aceitar que só nos olhos das pessoas é que se procura o macio interno delas.
� Para aceitar que conselho de amigo sómerece por ser livre, feito aragem de tardinha palmeando em lume d’ água.
O amor dá as costas a toda reprovação.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda
� Para aceitar que as coisas influentes da vida chegam assim sorrateiras, ladroalmente.
� Para aceitar que a vida inventa!A gente principia as coisas, mas não sabe por que,E desde aí a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.
Na travessia, guardar tenência
simples e constância miúda
� Para aceitar que as coisas não tem hoje e ant ‘ontem amanhã; é sempre.
Que o real roda e põe diante. Essas são as horas da gente.As outras, de todo tempo, são as horas de todos.
� Para aceitar que os fatos passados obedecem a gente;Os em vir, também.Só o poder do presente é que é furiável? Não. Esse obedece igual – e é o que é.
� Para aceitar o tempo que o mediu.Se as pessoas esbarrassem, para pensar: tem uma coisa!:ver o puro tempo vindo de baixo,Quieto mole, como a enchente duma água...
Tempo é a vida da morte: imperfeição!